Programa Juventudes e Direitos na Cidade” · candomblé e a negritude – indicando possíveis...

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Programa "Juventudes e Direitos na Cidade” 2011-2015 Ação Educativa / Diaconia / Fase / Ibase / Koinonia / Viva Rio Relatório da Avaliação de Meio 2011-2013 Consultores Fátima Nascimento Leandro Lamas Valarelli Versão final Novembro/2013

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Programa "Juventudes e Direitos na Cidade”

2011-2015

Ação Educativa / Diaconia / Fase / Ibase / Koinonia / Viva Rio

Relatório da Avaliação de Meio

2011-2013

Consultores

Fátima Nascimento

Leandro Lamas Valarelli

Versão final

Novembro/2013

Sumário

SIGLAS E ABREVIAÇÕES .............................................................................................................................................. 1

RECOMENDAÇÕES ...................................................................................................................................................... 2

PARA O PROGRAMA ............................................................................................................................................................ 2 ESPECÍFICAS PARA CADA PROJETO .......................................................................................................................................... 2

RESUMO EXECUTIVO .................................................................................................................................................. 4

1. DESENHO DA AVALIAÇÃO ....................................................................................................................................... 9

1.1. ANTECEDENTES ............................................................................................................................................................ 9 1.2. OBJETIVOS DA AVALIAÇÃO ............................................................................................................................................. 9 1.3. ENFOQUE METODOLÓGICO ............................................................................................................................................ 9

2. O PROJETO .............................................................................................................................................................11

2.1. CONTEXTO ................................................................................................................................................................ 11 2.2. OBJETIVOS E EIXOS DE ATUAÇÃO ................................................................................................................................... 13 2.3. CARACTERIZAÇÃO DOS PROJETOS E SUAS ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO .............................................................................. 14

3. PRINCIPAIS RESULTADOS .......................................................................................................................................23

3.1. IMPLEMENTAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS .............................................................................................................................. 23 3.2. ALCANCE DOS PÚBLICOS .............................................................................................................................................. 29 3.3. PARTICIPAÇÃO E EMPODERAMENTO DOS JOVENS NO PROJETO ........................................................................................... 30 3.4. PRESENÇA DE TEMAS E ENFOQUES TRANSVERSAIS ............................................................................................................ 31 3.5. SINERGIAS ENTRE AS ORGANIZAÇÕES ............................................................................................................................. 34 3.6. GESTÃO DO PROGRAMA .............................................................................................................................................. 35

4. EFEITOS E AVANÇOS NA DIREÇÃO DOS OBJETIVOS ................................................................................................36

FORTALECIMENTO DOS GRUPOS E ORGANIZAÇÕES DE JOVENS ................................................................................................... 36 ALCANCE E EFEITO MULTIPLICADOR ...................................................................................................................................... 36 AMPLIAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO POLÍTICA ............................................................................................................................... 36 SUSTENTABILIDADE ........................................................................................................................................................... 37

5. ALGUMAS LIÇÕES EMERGENTES ............................................................................................................................38

ANEXOS .....................................................................................................................................................................40

I – RELAÇÃO DE ENTREVISTADOS .......................................................................................................................................... 41 II – ROTEIROS DE ENTREVISTA ............................................................................................................................................. 44

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Siglas e Abreviações

AIN Ajuda da Igreja da Noruega

Camtra Casa da Mulher Trabalhadora

CCJ Fortaleza Coletivo de Culturas Juvenis

CCJ Recife Centro de Comunicação e Juventudes

Ceac Centro de Arte, Educação e Cultura

Conjuve Conselho Nacional de Juventude

Coppabacs Cooperativa dos Pequenos Produtores Agrícolas dos Bancos Comunitários de Sementes, município de Delmiro Gouveia, AL

Escuta Espaço Cultural Frei Tito de Alencar

Faor Fórum da Amazônia Oriental

Fase Federação de Órgãos de Assistência Social e Educacional

FJRJ Fórum de Juventudes do Rio de Janeiro

Fojupe Fórum das Juventudes de Pernambuco

LGBT Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais

Ibase Instituto Brasileiro de Análise Sociais e Econômicas

Ifhep Instituto de Formação Humana e Educação Popular

IPJ Instituto Paulista de Juventude

Jade Jovens Agentes pelo Direito à Educação

MAC Movimento de Crianças e Adolescentes, município de Delmiro Gouveia, AL

OD Operasjon Dagsverk - Campanha “Operação Dia de Trabalho” dos Estudantes da Noruega

ONG Organização Não Governamental

OS Organização Social

Oscip Organização da Sociedade Civil de Interesse Público

PJ Pastoral da Juventude

PJMP Pastoral da Juventude do Meio Popular

PPCA Programa de Promoção à Criança e Adolescente

PUPDH Programa Universidade Popular em Direitos Humanos, da Universidade Federal do Pará

Reajan Rede de Articulação de Jangurussu e Acuri – Fortaleza/CE

Reju Rede Ecumênica de Juventude

RMB Região Metropolitana de Belém

RMR Região Metropolitana de Recife, PE

RNSP Rede Nossa São Paulo

TdR Termo de Referência

Unipop Instituto Universidade Popular, Belém/PA

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RECOMENDAÇÕES

Para o Programa

Troca e sinergia

1. Elaborar e socializar memórias dos encontros de parceiros e dos momentos coletivos envolvendo várias das organizações parceiras.

2. Para além dos momentos de aprofundamento de um tema comum entre todos os parceiros, apoiar a realização de diálogos e intercâmbios horizontais (bi ou trilaterais, por exemplo), não pontuais, a partir de identidades, interesses e preocupações existentes entre as organizações e os jovens integrantes do programa. Diferenciar áreas de interesse (temas, experiências, produções, etc.) dos jovens daquelas outras que podem ser de interesse das organizações (temas, metodologias, etc.). Deste modo, espera-se ampliar a consistência destes momentos de diálogo, bem como o interesse, a perspectiva de acúmulo e o aprendizado mútuo entre as organizações e jovens.

Documentação e sistematização

3. Buscar formas de apoiar iniciativas de sistematização de algumas das metodologias e estratégias em curso no Programa, pressupondo não apenas o seu mero registro, mas também a análise de seus resultados. Neste sentido, sugere-se a circulação de materiais relativos à sistematização de experiências, bem como o apoio e o fomento de oportunidades na direção de desenvolvimento de capacidades em sistematização, para a definição de estratégias e para o planejamento de produtos de sistematização.

4. Sugere-se, de modo geral, que os projetos/programa explorem mais o recurso das campanhas pelas redes sociais. Ou seja, construir formas para os conceitos debatidos nos projetos sejam expressados em textos, charges, desenhos, vídeos, clips, animações, posts nas redes sociais.

Participação dos jovens com Deficiência

5. Propor aos projetos, e aos jovens que deles participam, a realização de levantamentos, mapeamentos, diagnósticos e/ou rodas de conversa sobre a situação dos jovens com deficiência nos territórios de atuação (levantando dados como quantidade, condição, desejos, problemas, aspirações, dificuldades, demandas, propostas, capacidades), como forma de superar a falta de informação coletiva – nos projetos e fora dele – sobre esta situação e apoiar a definição de estratégias de atuação, envolvimento e participação mais consistentes e efetivas.

Específicas para cada Projeto

Diaconia

1. Sistematizar a metodologia do “Museu da Juventude” implementada junto aos jovens do CCJ Fortaleza.

2. Sistematizar a experiência das Caravanas (Fortaleza) e da Sexta na Praça (Recife)

3. Investir na articulação dos CCJs com experiências de economia colaborativa, a partir da cultura, desenvolvidas por outros grupos de jovens.

4. Investir na análise de viabilidade das produtoras dos CCJs, tendo em vista que há, por parte dos jovens, uma expectativa quando ao seu sustento econômico a partir das iniciativas.

Fase

1. Considerando a importância da criação/consolidação dos vínculos com os jovens e da melhor instrumentalização dos mesmos para as ações de multiplicação, recomenda-se que a Fase reveja a periodicidade dos encontros formativos.

2. Sugere-se que se explore mais elementos lúdico-didáticos, de educomunicação e intervenções urbanas, aliando dinâmica e conteúdo em sua metodologia de formação.

3. Envolver os jovens na elaboração do material didático, permitindo uma melhor adequação de linguagem, possibilitando que estes se tornem sujeitos do processo de produção de conhecimento.

4. A estratégia de constituição dos Comitês Juvenis no PA e especialmente em PE tem se mostrado eficaz e, nesse sentido, sugere-se que a Fase Rio discuta a possibilidade de constituição deste para a segunda metade do projeto.

5. No caso das Fase PA e PE, recomenda-se que haja uma maior articulação com as organizações locais que trabalham com formação de jovens, no sentido de socializar as agendas e conteúdos, evitando possíveis superposições e fortalecendo a sinergia.

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Koinonia

1. Procurar replicar em Paulo Afonso a mesma estratégia de mapeamento ampliado dos grupos de jovens e seu envolvimento nos processos de formação promovidos por Koinonia e Repensar. Talvez isto implique em discutir junto ao Repensar uma estratégia mais ampla de interlocução com as juventudes no município. Ao mesmo tempo, garantir o permanente suporte e capacitação metodológica das facilitadoras de Paulo Afonso, em fase inicial na função.

2. Consolidar uma proposta mais explícita de formação e acompanhamento do grupo de Capoeira Arte Brasil – provavelmente a partir dos elementos culturais que circundam a própria capoeira, o candomblé e a negritude – indicando possíveis temas, formatos e frequência.

3. Debater e definir um perfil de comunicação mais claro à Campanha Agô: quais os temas, para quem, por que e a partir de que ações, iniciativas ou informações.

4. Garantir o registro e a elaboração de uma memória sintética das atividades (reuniões e encontros) realizadas junto aos jovens de Salvador.

5. Promover internamente a discussão de padrões e formatos de registro e sistematizações das atividades (encontros e formação) realizados com os jovens a fim de possibilitar, posteriormente, o resgate e a análise da implementação da metodologia de formação de agentes culturais jovens.

6. Avaliar as possibilidades de, junto às oficinas promovidas pelo MAC, mobilizar recursos locais (políticas públicas locais de emprego e cultura, setor privado, etc.) para a concessão de bolsas ou ajudas de custo para monitores e participantes e para construir alternativas de inserção dos jovens no mercado de trabalho.

Ação Educativa

1. Sistematizar a experiência de formação dos JADEs, indicando seus pressupostos, critérios, procedimentos e percursos de modo a alimentar a experiência de outras organizações.

2. Disseminar as informações existentes sobre os processos que levaram à aprovação do VAI, VAI 2, VAI Esporte, suas implementações e seus efeitos/impactos, para circulação, subsídio e possível inspiração do diálogo, entre os jovens, sobre políticas públicas de apoio à ações culturais nos outros territórios.

Viva Rio

1. Retomada dos canais de diálogo com os antigos colaboradores do Viva Favela para explicitação dos sentidos das mudanças realizadas, redução de tensões e avaliação das possibilidades de qualificação (presencial ou à distância) e contribuição na nova dinâmica e no novo formato do Site. Ao mesmo tempo, avaliar as possibilidades de realização de ajustes no site de modo a poder garantir a melhor recuperação das postagens antigas e recuperar a identificação dos antigos colaboradores com o site.

2. Definir e formular as perspectivas da realização das atividades de formação em Correspondentes comunitários Multimídias para os/as jovens do projeto Casa Viva. A mudança de público não é insignificante e talvez requeira cuidados metodológicos diferenciados no processo de convocação, adesão, implementação e suporte após a finalização do curso.

3. Aprimorar os processos de registro e sistematização de informações sobre os cursos e seus participantes, na perspectiva de possuir um quadro mais detalhado e consistente do público alcançado pelo projeto.

Ibase

1. Sistematizar a experiência de elaboração dos mapas territoriais, ampliando a possibilidade de replicação desta em outros territórios e por outros grupos.

2. Garantir uma maior intensidade de debates sobre juventudes nos territórios onde atua.

3. Intensificar a promoção de intercâmbios entre os jovens dos territórios onde atua e destes com jovens de outros bairros e realidade, de forma a ampliar a sinergia e fortalecer a atuação juvenil na cidade.

4. A propósito das campanhas, elaborar e implementar estratégias de comunicação e mobilização que possibilite um maior engajamento dos jovens e a ampliação do debate sobre as temáticas a que se referem, nos territórios onde atua.

5. Talvez o Ibase, assim como a Fase/RJ, tenham um papel importante para fortalecimento do FJRJ e, consequentemente, no diálogo deste com as juventudes do Rio de Janeiro.

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RESUMO EXECUTIVO

A AVALIAÇÃO

1. Este é o relatório da avaliação intermediária do Programa “Juventudes e Direitos nas Cidades” para o período 2011-2015, apoiado pela Campanha Dia de Trabalho (OD), coordenado pela Ajuda da Igreja da Noruega (AIN) e envolvendo seis organizações brasileiras: Fase, Ibase, Diaconia, Koinonia, Ação Educativa e Viva Rio. O propósito do Programa é o de “ampliar processos de organização e de participação política de jovens do sexo masculino e feminino de famílias de baixa renda de oito regiões metropolitanas brasileiras, criando alternativas de melhorias em suas condições e perspectivas de vida respeitando suas diferenças socioculturais, escolhas e preferências”.

2. A avaliação intermediária teve como objetivos principais: i) Avaliar o estado de implementação do Programa OD 2011-2015 e os resultados alcançados até o momento; ii) fornecer subsídios e recomendações sobre alterações que podem ser feitas nos projetos, a fim de alcançar os objetivos. Os aspectos centrais verificados foram: i) a capacidade dos parceiros em planejar e implementar os projetos; ii) o alcance dos resultados no estágio de desenvolvimento dos projetos; iii) a participação e o empoderamento de jovens; iv) a incorporação da diversidade de gênero e dos/das jovens com deficiência; v) a sustentabilidade social, política e econômica das ações; vi) a sinergia e o valor agregado entre os parceiros.

3. O enfoque metodológico adotado foi qualitativo e participativo, tendo como referências a análise documental, a coleta de informações junto aos atores institucionais, com destaque para os jovens. A avaliação foi realizada no período de maio a outubro de 2013 e se constituiu das seguintes etapas: 1) Leitura e análise da documentação do Programa e projetos (projetos, planos anuais 2011, 2012 e 2013, relatórios anuais 2011 e 2012 e do primeiro semestre de 2013, publicações e vídeos produzidos no contexto do programa); 2) Leitura de análises relativas a temáticas pertinentes ao programa, em especial sobre juventude. 3) Trabalho de campo por meio de entrevistas presenciais e por skype. 4) Reuniões de devolutivas com alguns dos parceiros. 5) Apresentação do relatório preliminar em encontro das organizações parceiras. 5) Elaboração do relatório final

ANDAMENTO DAS ESTRATÉGIAS

Formação voltada para a qualificação técnica e sócio-política dos jovens para ações em torno de seus direitos

4. Este é um dos eixos de atuação mais fortes do programa e, no geral com sólido desenvolvimento. A Formação dos JADEs, pela Ação Educativa, consiste em um programa de longo prazo que prevê a qualificação de jovens como agentes da luta por direito à educação. O JADEs está em sua terceira e última turma. Ao longo do seu desenvolvimento tem qualificado e motivado os jovens para atuação em torno dos direitos à educação e à juventude em geral e gerado produtos de disseminação para outros jovens. Em Belém e Pernambuco, as ações implementadas pela FASE resultaram na constituição de Comitês Juvenis, com jovens oriundos de várias organizações e grupos sociais, que vêm se reunindo periodicamente para se capacitarem em torno das questões ligadas ao direito à cidade e à justiça ambiental e climática. A partir dos Comitês vem sendo deflagradas ações de disseminação de conteúdos – em vídeos, cartilhas e fanzines. Bem como têm sido realizadas ações na esfera pública, junto aos fóruns de juventude como: campanhas pelo fim do extermínio da juventude negra e pobre, ampliação do diálogo com atores políticos em torno de plataformas para a juventude, promoção de discussões sobre políticas urbanas e ambientais. No caso da ação no Rio de Janeiro, o trabalho da FASE sofreu sucessivas mudanças de território e ora se reinicia no Complexo de favelas da Maré, em parceria com grupo conexão G, para uma formação em torno do tema direito à cidade e mudanças climáticas.

5. Em Fortaleza e Recife, no projeto desenvolvido por Diaconia, os coletivos de jovens, denominado CCJs, estão em fase de consolidação, cada um com características próprias. Em Recife o foco central é a formação por meio de cursos (teatro, comunicação, design e fotografia). Em Fortaleza o trabalho com a juventude que integra o CCJ se dá a partir da metodologia “Museu da Juventude”, baseada na sistematização das histórias de vida, na produção cultural e artística e, a partir delas, na construção de projetos de vida. Também vem sendo realizadas Caravanas de Comunicação e Juventudes, que são visitas de jovens a outros territórios no quais promovem intercâmbios e debate, e as Semanas de Meio ambiente, que mobilizam jovens e moradores para refletir sobre o direito à cidade e o Meio Ambiente.

6. Em Campo Grande e na favela de Santa Marta, no Rio de Janeiro, foram concluídos os diagnósticos Ambientais Participativos, implementados pelo Ibase em parceria com organizações locais que atuam com jovens. Em cada território foram definidos causas prioritárias em torno das quais estão sendo planejadas campanhas para mobilização local: lixo é a causa no Santa Marta, e Mobilidade a de Campo Grande. Têm sido realizados encontros aglutinadores, promovendo a articulação e a troca de experiências entre os parceiros do programa e várias outras instituições que atuam junto aos jovens.

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7. Em Delmiro Gouveia (AL), Paulo Afonso e Salvador (BA), áreas de trabalho de Koinonia, foi realizada uma pesquisa sobre as percepções e condições de jovens que orientou o trabalho de articulação e convocação para os cursos de Formação de Agentes Culturais. Os cursos de formação sensibilizaram os jovens para temáticas novas, como a questão ambiental e da diversidade, e deflagram ações locais de caráter pontual. O chamado Encontrão, reunindo anualmente as turmas dos 3 territórios, tem se constituído em um momento marcante na trajetória dos jovens, em função dos contatos, das descobertas e das novas sensibilidades geradas. Em Delmiro Gouveia houve importante efeito de articulação, inédita entre os diferentes grupos, de jovens em torno de ações comuns no município. Em Paulo Afonso, as ações tem sido realizadas em Pareceria com a ONG Repensar, e se vem o superando as necessidades de alinhamento metodológico entre as instituições e de manutenção do corpo de facilitadores locais para a realização das atividades. Em Salvador, a estratégia dos cursos de formação de agentes culturais não se revelou mais adequada frente ao perfil dos jovens de terreiro de candomblé. A partir dessa análise estão sendo construídas novas estratégias tais como a Campanha Agô – Jovens de Terreiro contra a Intolerância Religiosa −, nas redes sociais, e a realização de encontros de jovens de terreiro.

8. No Rio de Janeiro, o projeto Viva Favela, implementado pelo Viva Rio, passou por mudanças significativas no formato do site de notícias colaborativo e no processo de capacitação, na direção de uma abordagem mais jornalística, menos adjetiva e mais original em relação ao noticiário sobre as favelas. Foi reformatado um Curso de Correspondente Comunitário Multimídia que, com nova abordagem e novas turmas, está sendo implementado junto a vários bairros. O sentido das mudanças e o seu processo de anúncio, discussão e implementação trouxe tensões na equipe e junto aos antigos correspondentes/colaboradores, que se sentiram menos participantes e com menor identificação com a proposta, embora ressaltassem as qualidades e os ganhos de habilidades promovidas pelo novo formato da capacitação. Houve também uma mudança no perfil do público prioritário, com alteração da faixa etária para acima dos 30 anos. No entanto, os alertas e questões identificadas por esta avaliação já foram internalizadas e já estão sendo objeto de ações que procuram amenizá-las ou superá-las.

Qualificação para intervenção em espaços de discussão e elaboração de políticas públicas direcionadas a jovens

9. O programa contém iniciativas que promovem ativamente o debate e a incidência em políticas públicas. Têm destaque as ações desenvolvidas pela Ação Educativa junto ao GT Juventude da Rede Nossa São Paulo e para a criação de encontros de diálogo e formulação de propostas com organizações da sociedade civil e públicas, avaliada como fundamental pelos demais atores, com a incorporação de propostas destes segmentos nas políticas públicas. Do mesmo modo, os jovens formados pelas atividades desenvolvidas pela Fase, Diaconia e Ibase têm: acompanhado os processos de articulação e debate dos fóruns de juventudes em Recife e Fortaleza, formulado propostas para políticas públicas, incentivado e promovido campanhas em torno de direitos, como a “Sou Jovem e tenho Direitos”, realizada em 2012 no Rio de Janeiro, e da elaboração de plataformas contendo propostas para candidatos a prefeitos em Pernambuco e Belém.

Formação voltada para a produção de alternativas das condições de vida desenvolvimento de perspectivas educativas e ou profissionais

10. Em Recife e Fortaleza, por meio das ações de Diaconia, está em fase inicial as construção de produtoras culturais, envolvendo ativamente os jovens na sua discussão e efetivação, como uma estratégia dupla de geração de renda para parte dos jovens formados e para difusão da produção dos grupos juvenis. Em São Paulo, a Ação Educativa consolidou a experiência de implementação da metodologia Tô no Rumo junto aos jovens do ensino médio de escolas públicas, a partir da capacitação de professores, que implementam metodologia. Um Guia Metodológico está em fase final de produção e é apoiado por um site, recém criado, que contém informações e análises, direcionado a jovens e educadores, em torno das opções relacionadas à educação, escolhas profissionais e trabalho. Está em curso a adoção da metodologia como política na rede pública de ensino de municípios da Região Metropolitana de São Paulo. Koinonia vem apoiando grupos locais na realização de atividades que combinam formação cultural e desenvolvimento de atividades produtivas, como as de construção de instrumentos de candomblé (Salvador), de corte e costura e de pintura (Delmiro Gouveia), voltadas para o desenvolvimento de habilidades e construção de opções de inserção profissional

RESULTADOS

11. Alcance dos públicos − Há indícios de que o alcance público das iniciativas seja bem maior do que a dos participantes diretos dos projetos, envolvidos/atingidos por meio de ações como seminários, caravanas, replicação de formações em seus grupos e circuitos pessoais, processo de investigação participativos, encontros e rodas de diálogo, além de sites, vídeos, campanhas midiáticas, exposições audiovisuais. De modo mais amplo, a repercussão e o alcance também se dá de maneira mais difusa a partir dos efeitos resultados das ações promovida nos espaços de articulação e de controle social de políticas públicas, tais como fóruns de juventudes, conselhos e comitês de juventudes.

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12. Participação e empoderamento dos jovens no projeto – O grau de participação dos jovens é diferenciado nos diferentes projetos. De modo geral os depoimentos indicam que as juventudes participam mais ativamente na definição de temas, na implementação e avaliação das atividades, mas em menor grau na concepção ou no planejamento delas, ação que em parte fica restrita aos membros das equipes gestoras e de facilitadores contratados no âmbito dos projetos, ainda que sejam eles mesmos jovens. A participação na gestão integral dos projetos está restrita a alguns pouco casos, como na FASE em Recife e Diaconia em Fortaleza, e o Ibase no Rio de Janeiro. As situações que inspiram cuidados são as relacionadas ao Viva Favela, cujo processo de mudança apresentou problemas de envolvimento e diálogo com os/as jovens correspondentes, e na intervenção da FASE no Rio de Janeiro, onde foram identificadas algumas dificuldades de envolvimento de parceiros e jovens na discussão metodológica do processo formativo em andamento.

13. Gênero – Os projetos têm garantido a presença e a sensibilização deste tema de várias formas e, de modo generalizado, a participação de jovens homens e mulheres é equilibrada em todos eles. Aspectos ligados às desigualdades de gênero no mundo do trabalho e no acesso à educação, à cultura vêm sendo debatidos em várias iniciativas, embora temas como violência contra a mulher e a maternidade/paternidade juvenil ainda encontrem pouca ressonância, apesar de serem situações bastante recorrentes nas juventudes que são públicos dos projetos.

14. Deficiência – Área de maior dificuldade das organizações, em função da invisibilidade da questão e dos próprios jovens com deficiência e da ausência de expertise em como abordar o tema e trabalhar com este público. Alguns convites junto a grupos que atuam com jovens com deficiência foram tentados, sem muito sucesso, talvez por estarem marcados mais pela tentativa de atração dos jovens para as atividades dos projetos do que em estabelecer um diálogo que pudesse gerar uma compreensão melhor das possibilidades de ação relevante para este grupo. No entanto, várias iniciativas de sensibilização dos demais jovens e de melhoria da acessibilidade às atividades e produtos merecem ser citadas, tais como: inserção do tema nos produtos que debatem o direito à cidade, realização de eventos com intérpretes de língua de sinais (Libras), dinâmicas de sensibilização de jovens em eventos de capacitação, legendagem de vídeos. Ainda que sem estratégias mais claras, há uma maior sensibilidade tanto entre as organizações quanto entre os jovens dos projetos sobre a questão da deficiência.

15. Diversidades − O respeito às diversidades está presente nos vários grupos e iniciativas visitadas. É generalizada a percepção de que os projetos possibilitaram uma maior convivência entre indivíduos e grupos muito diversos entre si do ponto de vista cultural, religioso, étnico e de orientação sexual. As diferenças vem sendo, de algum modo, debatidas explicitamente em todos os projetos, com ênfases distintas sobre uma ou outra dimensão destas diversidades.

16. Sustentabilidade ambiental − As atividades no âmbito do Programa promoveram maior abertura e sensibilidade das equipes para as questões ambientais, lato sensu, e para a percepção das conexões deste tema com as questões relativas ao direito à cidade e aos padrões de consumo. Ações ligadas a questões de lixo, saneamento, água e saúde, são comuns e expressam a conexão básica entre questões urbanas e ambientais. No entanto, a apropriação da temática das mudanças climáticas por parte dos projetos é desigual e se dá em razão tanto dos acúmulos anteriores, quanto das próprias condições dos territórios em que atuam. Em Recife e Belém, pela ação da FASE e Diaconia, as condições urbanas locais e os acúmulos da Fase têm propiciado a realização de debates específicos com jovens e a promoção de eventos públicos que disseminam informações e constroem pautas de ação em torno das questões socioambientais nos territórios, ligadas às mudanças climática e à justiça ambiental. Mas de modo geral, temas como o da mitigação, adaptação e justiça climática são desconhecidos e ainda distantes dos/as jovens e de seus grupos. A maior parte das organizações parceiras também tem poucos conhecimentos em aspectos específicos do temas relacionados às mudanças climáticas. Cabe ressaltar que o debate sobre este tema na sociedade brasileira refluiu significativamente nos últimos anos, em função da importância secundária ou terciária atribuída pelo atual governo federal.

17. Sinergias entre as organizações – No programa, existem três níveis de articulação: i) os encontros anuais de parceiros que combinam capacitação temática/metodológica, troca de experiências e monitoramento do programa; ii) encontros temáticos promovidos por uma ou mais organizações, nos quais outras parceiras são convidadas; iii) Iniciativas conjuntas realizadas nos territórios, tais como os encontros, debates e campanhas conjuntas. Estes processos têm, de modo geral, promovido a sensibilização para novos temas, ainda que com pouca influência imediata sobre suas estratégias de ação. Percebe-se, no formato atual, um potencial ainda pouco explorado de troca e aprendizado mútuo entre as organizações. A organização de eventos ou momentos que garantam espaços de trocas orientadas por interesses mútuos − de onde poderiam surgir propostas não pontuais de intercâmbio, aprofundamento e ações comuns − seriam mais efetivos do que se estiverem voltados para todos os parceiros. Por sua vez, a sistematização de metodologias e experiências no âmbito do programa cumpriria um papel relevante na disseminação de abordagens e metodologias, como um legado

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importante do programa para um conjunto amplo de organizações sociais, não apenas para aquelas envolvidas no Programa. Várias já podem ser mencionadas e poderiam ser objetos de esforços de sistematização.

18. Gestão do Programa − A relação entre o coordenador do programa pela AIN e os projetos têm sido ressaltada pela qualidade e fluidez do diálogo, pela franqueza e pela capacidade de compreensão da diversidade dos contextos de atuação e de organizações também bastante diferentes. As visitas de monitoramento têm contribuído na identificação dos problemas de implementação e no ajuste dos projetos. Os instrumentos de monitoramento são sucintos e objetivos, mas utilizado com qualidade de informação e análise diferenciado pelas organizações. Não há registros e sistematizações dos debates realizados nos encontros de parceiros, que pudessem informar sobre as reflexões e os compromissos comuns estabelecidos.

EFEITOS E AVANÇOS NA DIREÇÃO DOS OBJETIVOS

19. Fortalecimento dos grupos e organizações de jovens − Há três grandes vetores de fortalecimento dos grupos e organizações de jovens a partir das ações dos projetos. I) Efeitos indiretos nas organizações a partir das mudanças nos jovens participantes do programa em termos de ganhos de informação e aquisição de novas capacidades e habilidades técnicas e conversacionais, ampliação de percepções sobre as realidades juvenis e ampliação e diversificação de rede de contatos, identificação de novas possibilidades e formas de ação social, cultural e política, mudança de valores, despertar de vocações e criação de opções profissionais; ii) apoio direto à constituição, ao desenvolvimento dos grupos e ampliação de sua visibilidade e do seu acesso a espaços e oportunidades de desenvolvimento e demonstração pública de seus trabalhos, técnicas e metodologias; iii) impactos resultantes de políticas públicas que geraram a ampliação de oportunidades de acesso aos espaços públicos e recursos por parte dos grupos jovens.

20. Alcance e efeito multiplicador − São vários os depoimentos dos jovens relatando as práticas de repasse de informações e ferramentas adquiridas nos projetos para os demais jovens que circulam em seus coletivos e organizações. Existem várias iniciativas de disseminação ampla de conteúdos junto a outros jovens e seus grupos a partir da produção de vídeos, cartilhas, fanzines, blogs, reportagens, páginas nas redes sociais e ações em escolas públicas e eventos nas comunidades ou municípios, tais como festivais, semanas de debate, rodas de conversa, caravanas, seminários. Há poucos dados consolidados sobre este alcance, mas o desenho das iniciativas aponta que há um grupo maior de jovens que, de forma relativamente sistemática, é alcançado pelas ações e produtos gerados no âmbito do Programa.

21. Ampliação da participação política − A participação política dos jovens envolvidos no projeto tem se dado tanto no plano do território e município, como de maneira mais geral. No plano local, vários projetos promovem ações de incidência junto a jovens, moradores e envolvendo outros atores sociais e políticos como: eventos públicos em comunidades; campanhas e ações de mobilização visando a incidência em territórios e comunidades; reportagens sobre condições de vida e moradia. No plano municipal, existem várias iniciativas direcionadas para a solução de problemas que afetam a juventude ou a população como um todo, tais como: mobilizações em torno de problemas de lixo e saneamento municipais; elaboração das plataformas políticas de juventude apresentadas aos candidatos à prefeitura; a articulação em fóruns e comitês contra o genocídio/extermínio dos jovens negros; a elaboração de propostas e ações de lobby em torno de orçamentos públicos que contemplem políticas para juventude. No plano mais geral, destaca-se a participação de vários grupos de jovens ligados aos projetos na Cúpula dos Povos, durante a Rio+20 em 2012, e nas manifestações de junho de 2013, realizadas nas principais cidades do país.

22. Sustentabilidade – Por parte dos/as jovens, existe um alto grau de apropriação dos conteúdos das formações e capacitações, o que sugere sua internalização e incorporação na vida e nas práticas sociais e organizativas. A grande maioria das organizações e dos grupos de jovens existe antes dos projetos, não possuindo, portanto, forte dependência de recursos do Programa. Ao contrário, os novos contatos, conexões e articulações, novas capacidades de organização de informações e planejamento ampliam as possibilidades de estabelecimento de novas parcerias e de acesso a novos tipos de recursos e apoios por parte dos grupos. As organizações parceiras no programa também vem desenvolvendo estratégias consistentes de busca de recursos, de ampliação de escala e/ou de adaptação de formatos visando não apenas manter certas estratégias como ampliar seu alcance geográfico e o impacto de suas ações. Adicionalmente, desde janeiro de 2013, a AIN conta com um gerente financeiro no Brasil, que tem mapeado oportunidades com algum potencial relacionado aos parceiros da AIN, incluindo o programa OD, visando ampliar as possibilidades de continuidade dos projetos.

23. Algumas lições emergentes − Alguns aprendizados ou achados que emergem das experiências implementadas no âmbito do Programa são: 1) Juventude, mídia, cultura: parece claro que as iniciativas que combinam a discussão de temas de juventude com a geração de produtos e ações de natureza

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cultural têm forte poder de atração e de gerar comprometimento dos jovens, além de ampliar a capacidade de diálogo e interlocução com aqueles jovens que não participam das atividades. 2) Processos de formação baseados em métodos e instrumentos que remontam às experiências da educação da década de 70 e 80 – não alcançam o mesmo sucesso entre os jovens do que as vivências, os intercâmbios culturais e produtos/iniciativas no campo cultural. Estas têm se mostrado estratégias e linguagens mais eficazes e efetivas na atualidade. 3) Processos de formação de médio e longo prazo têm maiores e mais consistentes efeitos nos jovens quanto às suas percepções, seus valores, seus ganhos de conhecimento e de novas habilidades e ferramentas de interação e para a ação social, e são mais exigentes de recursos e de capacidades metodológicas e pedagógicas Os processos de curto prazo baseados em dois ou três encontros, provocam aproximações, contatos e novas sensibilidades, mas com menor poder de capacitação e mudança real, e são menos demandantes de recursos materiais, financeiros e capacidades pedagógicas. 4) As experiências de diagnóstico, combinada com a da representação visual/espacial (cartográfica, fotográfica, vídeo, etc.) dos problemas do bairro ou da cidade, ampliam as possibilidades de percepção concreta e poderosa da situação do direito à cidade. 5) As oportunidades de encontro, interação e diálogo entre diferentes grupos/tribos jovens têm mostrado importantes efeitos na desconstrução de imagens sobre as juventudes produzidas pela mídia e pela sociedade e que são também internalizadas pelos próprios jovens. Mapear os vários grupos e tipos de juventudes num determinado território e promover aproximações entre eles, produz, por si só, efeitos e desdobramentos surpreendentes.

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1. DESENHO DA AVALIAÇÃO

1.1. Antecedentes

O Programa “Juventudes e Direitos nas Cidades” foi elaborado em 2010 e apresentado pela Ajuda da Igreja da Noruega (AIN) à Coordenação da Campanha Dia de Trabalho (OD) para o período 2011-2015, envolvendo seis organizações brasileiras: Fase, Ibase, Diaconia, Koinonia, Ação Educativa e Viva Rio. Todas as organizações já atuavam no campo da juventude e dos direitos, em diferentes cidades e com abordagens específicas. Todas também eram parceiras de AIN.

O Programa apresentado por AIN pretende “ampliar processos de organização e de participação política de jovens do sexo masculino e feminino de famílias de baixa renda de oito regiões metropolitanas brasileiras, criando alternativas de melhorias em suas condições e perspectivas de vida respeitando suas diferenças socioculturais, escolhas e preferências”.

A fim de avaliar o andamento das estratégias propostas, foi prevista uma avaliação de meio termo para este que é o terceiro ano de implementação do Programa.

1.2. Objetivos da avaliação

O processo de avaliação de meio termo se desenvolveu com base nos Termos de Referência acordados entre a Ajuda da Igreja da Noruega (AIN), a Coordenação da Campanha Dia de Trabalho (OD) e as seis organizações parceiras no Brasil.

De acordo com os Termos de Referência, a avaliação tem como objetivos principais:

Avaliar o estado de implementação do Programa OD 2011-2015 e os resultados alcançados até o momento. Adotando uma perspectiva crítica, a avaliação deve olhar para as contribuições dos seis parceiros para atingir os resultados propostos, bem como o valor agregado que a AIN traz como coordenador da iniciativa, por meio de capacitação, facilitação de intercâmbios e de monitoramento.

Levando em conta o nível de desempenho do Programa e seus cenários futuros, fornecer subsídios e recomendações sobre alterações que podem ser feitas nos projetos, a fim de alcançar os objetivos.

A avaliação do Programa “Juventudes e Direitos nas Cidades” ocorre em um período em que os projetos apoiados estão completando dois anos e meio de execução, dos cinco previstos para sua realização. Neste sentido, tem como finalidade verificar:

i) a capacidade dos parceiros em planejar e implementar os projetos; ii) o alcance dos resultados no estágio de desenvolvimento dos projetos; iii) a participação e o empoderamento de jovens; iv) em que medida os projetos incorporam a diversidade de gênero e os/as jovens com deficiência; v) a sustentabilidade social, política e econômica das ações; vi) a sinergia e o valor agregado entre os parceiros.

1.3. Enfoque metodológico

O enfoque metodológico adotado foi qualitativo e participativo, tendo como referências a análise documental, a coleta de informações junto aos atores institucionais, sociais e políticos envolvidos na gestão e implementação do Programa, com destaque para os jovens, principais envolvidos nos processos.

Precedendo a avaliação foram feitos vários contatos entre o coordenador do Programa e os consultores contratados para a avaliação, no sentido de definir enfoque metodológico, roteiro de

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entrevistas dos diversos envolvidos no projeto e roteiro de relatório. Houve também a socialização dos projetos e relatórios elaborados no contexto do Programa em análise.

O período de execução da avaliação compreendeu os meses de maio a outubro de 2013 e se constituiu das seguintes etapas: 1) Leitura e análise da documentação do Programa e projetos (projetos, planos anuais 2011, 2012 e 2013, relatórios anuais 2011 e 2012 e do primeiro semestre de 2013, publicações e vídeos produzidos no contexto do programa); 2) Leitura de análises relativas a temáticas pertinentes ao projeto, em especial sobre juventude. 3) Trabalho de campo que obedeceu ao cronograma estabelecido com os parceiros. Este foi composto por: entrevistas com as equipes técnicas dos projetos; entrevista, por skype, com o coordenador do Programa; entrevistas com parceiros e entrevistas com grupos de jovens e jovens participantes e beneficiários dos projetos. Como parte do trabalho de campo, os consultores participaram do Seminário “Juventudes em Movimento: Direito à Cidade Para Quem?”, promovido pelo Ibase, Fase, Grupo Eco, IFHEP, Camtra, Cedap, Escola de Gente, Conexão G e Fórum de Juventudes do Rio de Janeiro. 4) Encontro entre os consultores para socializar informações e elaborar a análise conjunta dos resultados, conclusões e recomendações. 5) Elaboração do relatório preliminar.

Para concluir o processo de avaliação serão realizadas as seguintes etapas: 1) socialização deste Relatório Preliminar; 2) análise do Relatório pela AIN/OD e pelos parceiros; 3) elaboração do Relatório Final.

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2. O PROJETO

2.1. Contexto

Quem é e como vive a juventude brasileira

O artigo 227 da Constituição Brasileira e o recém-aprovado Estatuto da Juventude indicam que o segmento juvenil é aquele compreendido pelo grupo etário de 15 a 29 anos de idade. “Este arco de idade se justifica pela extensão do período de transição que constitui a etapa juvenil marcada na atual conjuntura histórica por trajetórias relativamente longas, intermitentes e muitas vezes não lineares de formação, inclusão e autonomia” (Participatório, 2013. pág. 10).

De acordo com Regina Novaes “esses limites de idade também não são fixos. Para os que não têm direito à infância, a juventude começa cedo. E, no outro extremo – com o aumento da expectativa de vida e as mudanças no mercado de trabalho -, uma parte 'deles' acaba por alargar o chamado 'tempo de juventude' até a casa dos 30 anos. Com efeito, qualquer que seja a faixa etária estabelecida, jovens com idades iguais vivem juventudes desiguais.

Conforme dados do Censo de 2010, estão nessa faixa de idade ¼ da população brasileira, ou seja, cerca de 50 milhões de pessoas. Destes, aproximadamente 47% se situam entre 18 e 24 anos. A faixa menor, de 20%, é composta pelo grupo que está entre 15 e 17 anos.

Pesquisa realizada pelo Participatório (2013) apresenta dados relevantes sobre a população juvenil e sua percepção política. Vejamos: cerca de 60% dos jovens entrevistados se declararam pretos ou pardos; as mulheres formam ligeira maioria com 50,4% do grupo etário em questão; 56% adeptos da religião católica; 85% vivem na cidade; cerca de 40% tem filhos; considerando a renda domiciliar per capita: 28% estão nos estratos mais baixos (até 290 reais mensais); 50% nos médios e 11% nos estratos altos, ou seja tem renda superior a R$ 1.018,00/mês; do total 53% trabalha (deste 14% trabalha e estuda); 21% está desempregada (8% estuda) e 26% não trabalha nem procura trabalho. Em relação à educação 35% estão com defasagem idade/série.

Com relação à comunicação e acesso a informação 83% declararam que se informam pela televisão aberta e 56% pela internet, 80% utiliza computador e/ou internet, 89% possuem celular (utilizado majoritariamente para fazer e receber ligações/mensagens). Dos jovens que utilizam celular, apenas 18% informou o seu uso para conectar-se as redes sociais.

Quanto à situação de violência, ¼ da população jovem do Brasil perdeu alguma pessoa próxima vítima de homicídio, o que talvez explique o peso que o tema da violência tem.

Em pesquisa espontânea, os 3 assuntos que mais preocupam os jovens são 1) segurança/violência, 2) emprego/profissão e 3) saúde.

Os três principais assuntos que gostariam de discutir em sociedade são: desigualdade e pobreza, drogas e violência, seguidos de perto por política, cidadania e direitos humanos e educação e futuro profissional.

Em relação ao país as principais questões que os incomoda são corrupção, o poder dos traficantes e a grande desigualdade entre ricos e pobres. A destruição do meio ambiente fica em 6o. Lugar entre os problemas do país que mais lhes preocupam em uma lista de 9 grandes temas.

Os jovens entrevistados acreditam que a garantia de seus direitos e a melhoria da qualidade de vida depende de quatro fatores: apoio da família, esforço pessoal, capacidade de inovação e a adoção de políticas do governo.

Entre os entrevistados 54% consideram a política muito importante e 91% creem na capacidade da juventude mudar o mundo. Dentre as principais formas de atuação para melhorar o país cerca de 46% mencionaram a participação em mobilização de rua, 45% em associação ou coletivos que se

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organizam de alguma forma e 36% destacaram os conselhos, conferências, audiências publicas ou outros canais de participação direta.

O índice de participação política entre os entrevistados é de aproximadamente 50%, mas, mostra uma elevada rejeição das formas clássicas de participação, tais como partidos políticos (88%), entidades e movimentos (81%) e cooperativa (74%). Entretanto, 51% dos entrevistados sem atuação em organização ou movimento, informaram que gostariam de participar de grupos de defesa do meio ambiente ou ecológicos, enquanto 42% de clubes, associação esportiva, recreativa ou de lazer.

Quanto as políticas para a juventude, 56% não conhecem as políticas para juventude em execução e 63% acreditam que o governo brasileiro conhece a necessidades do jovem mas não faz nada a respeito.

As políticas públicas para as juventudes e a tentativa de assegurar direitos

As demandas da juventude entraram na agenda pública muito recentemente e apenas em 2005 ganham repercussão com a elaboração da Política Nacional de Juventude (PNJ), seguida pela criação de órgãos e conselhos específicos nos estados e municípios e pela sanção do Estatuto da Juventude (Lei no. 12.852, de 5 de agosto de 2013)

Em texto de apresentação do Guia de Políticas Públicas de Juventude (www.juventudes.gov.br/guia), a Secretária Nacional de Juventude, Severine Carmem Macedo, argumenta que apesar das conquistas “o Brasil ainda precisa dar respostas a problemas não totalmente solucionados, como o desemprego juvenil... Nessa mesma pauta, incluímos o compromisso com a educação de qualidade, a saúde integral, o acesso à cultura, esporte e lazer, tempo livre e o direito à participação, além de um item que requer atenção ainda mais especial por parte do poder público, que é o enfrentamento à violência contra a juventude, em especial, contra os jovens negros, as principais vítimas da violência no país.”

São várias ações e projetos desenvolvidos por diferentes órgãos governamentais que busca atuar nas principais demandas da juventude como o ProJovem (inclusão no mundo do trabalho), o ProUni (possibilita o acesso de jovens de baixa renda à universidade), o Plano de Prevenção à Violência contra a Juventude Negra, o Observatório Participativo da Juventude (Participatório) que, inspirado nas redes sociais, se caracteriza como um espaço interativo de promoção da participação, produção do conhecimento, mobilização e divulgação de conteúdos, focado nos temas ligados às políticas de juventude.

Cidade, meio ambiente e violação de direitos

Um tema não tocado pela pesquisa do Participatório, mas sempre presente no debate com os jovens, é a mobilidade urbana. Essa questão levou a que milhões de jovens em todo o país (incluindo aqui aqueles participantes do projeto) se mobilizassem em grandes manifestações no final do primeiro semestre de 2013, tendo como estopim o aumento da tarifa de ônibus em algumas capitais como São Paulo, Recife, Belém, Rio de Janeiro. Mas, como afirmavam os cartazes e as postagens eletrônicas, o problema não se localizava apenas nos 20 centavos (valor do aumento de passagem proposto em São Paulo, que não foi efetivado após as mobilizações).

No cenário urbano observa-se o crescimento da exclusão social e da desigualdade com a expulsão dos moradores favorecida pelas grandes especulações imobiliárias e a consequente expansão das periferias carentes e de sua crescente distância com relação aos locais de trabalho, educação e serviços de saúde. Os bairros populares (em especial aqueles em que os projetos atuam ou de origem dos jovens que dele participam) seguem com toda a sorte de problemas. Falta saneamento ambiental (água de qualidade, esgotamento, coleta e destinação do lixo), falta equipamentos e iniciativas de lazer, esporte e cultura. As moradias, em boa medida, são ainda precárias, assim como as escolas e os serviços de saúde. Também são precárias as condições de iluminação e de segurança pública. Falta ainda arborização e os poucos parques e reservas verdes têm cedido lugar aos empreendimentos habitacionais ou comerciais e as suas respectivas vias de acesso (como a proposta de destruição do Parque Ecológico do Rio Cocó, para a construção de viadutos em Fortaleza). Os reflexos das mudanças climáticas são sentidos pelos que vivem as margens dos rios em Peixinhos (Olinda), Várzea (Recife), Maré (Rio de Janeiro) e em toda a Região Metropolitana de Belém.

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A mobilidade urbana está se tornando impossível com a explosão do automóvel individual, enquanto o transporte coletivo segue sendo indecente e indigno (jovens do projeto relataram casos como o de motoristas que não param no ponto de ônibus quando os veem com os uniformes, mulheres jovens relataram os constrangimentos e assédio que sofrem em ônibus lotados). A frota de trens metroviários, quando existe, é pequena, velha e mal conservada. Sem contar os eternos problemas da limitação das frotas entre centro e periferia e do limite de horário, em geral incompatível com a dinâmica dos jovens.

Os problemas são agravados quando se fala da população com deficiência, devido à falta de acessibilidade em nossas cidades: os postos de saúde e as escolas, em geral, não contam com profissionais preparados para atender essa população; a quantidade de transporte público adaptado é pequena e os profissionais em boa medida também não estão preparados para atender ao público; as vias públicas não consideram as necessidades; boa parte das edificações ainda não são adaptadas para recebê-los (embora a legislação atual determina que todos os espaços devem ser adequados).

E as drogas, bom, “a droga é tão presente, que a gente se esquece” (entrevistada, Fase/PE). Sem contar que o mercado da droga é menos exigente nas suas “contratações”, além do aparente dinheiro fácil e, consequentemente, da satisfação do desejo de consumo tão estimulado pela mídia.

É nesse contexto que os projetos participantes do programa são implementados.

2.2. Objetivos e eixos de atuação

Os objetivos do Programa foram assim definidos:

Objetivo Geral

Fortalecer jovens brasileiros/as como sujeitos de direito em suas lutas contra as desigualdades sociais e o seu papel como agentes capazes de influenciar o desenvolvimento de cidades mais sustentáveis e justas.

Objetivo Específico

Ampliar processos de organização e de participação política de jovens do sexo masculino e feminino de famílias de baixa renda de oito regiões metropolitanas brasileiras, criando alternativas de melhorias em suas condições e perspectivas de vida respeitando suas diferenças socioculturais, escolhas e preferências

A implementação do Programa se dá a partir de 4 eixos de atuação que articulam as diferentes organizações, em torno de resultados específicos a serem alcançados, tal como indicado no quadro abaixo.

Eixos e Resultados Ação

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1.1. Jovens e grupos juvenis organizados e mobilizados para reivindicar seus direitos ao desenvolvimento de cidades e para exercer sua cidadania

X X X X X X

1.2. Alternativas para a melhoria das condições de vida de jovens em grandes regiões metropolitanas são construídas/implementadas através de vários tipos de processos educacionais, incluindo treinamentos e guias vocacionais

X X X X X X

1.3. Mulheres jovens engajadas na mesma proporção de homens jovens nas múltiplas atividades do Programa, através da geração de oportunidades iguais para a participação de

X X X X X X

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Eixos e Resultados Ação

Educativa FASE Ibase

Viva

Rio Koinonia Diaconia

mulheres e jovens

1.4. Parceiros brasileiros têm competência específica para trabalhar com jovens com deficiência e envolvê-los em um conjunto de ações

X X X X X X

2 –

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2.1. Controle social de políticas públicas é usado por grupos juvenis e por comunidades como instrumento para promoção de bem estar e combate as desigualdades.

X X X X X X

2.2. Políticas públicas para a juventude criadas, desenvolvidas ou implementadas beneficiando jovens em grandes regiões metropolitanas brasileiras

X X X X X X

3 –

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ia 3.1. Estratégias e alternativas para

superar violência e criminalidade são criadas e implementadas por jovens e grupos juvenis X X X

4 –

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4.1. Jovens de 07 regiões metropolitanas são capacitados e treinados em questões sócio-ambientais a partir da perspectiva do direito à cidade

X X X X

4.2. Grupos juvenis e redes locais parceiras são ativos na defesa de políticas de adaptação e mitigação das mudanças climáticas em nível global, nacional e regional

X X X

4.3. Vulnerabilidades de comunidades urbanas pobres aos riscos de desastres são reduzidas a partir da implementação de novas iniciativas.

X

2.3. Caracterização dos projetos e suas estratégias de intervenção

Conforme mencionado anteriormente, todas as organizações já atuavam no campo da juventude e dos

direitos, em diferentes cidades e com abordagens específicas. As estratégias previstas no âmbito do

Programa já vinham sendo implementadas ou então foram resultado de redesenhos e adaptações em

função da definição dos jovens urbanos como público prioritário. Neste sentido, o Programa não

contém uma estratégia única, mas articula diversas estratégias, implementadas em diferentes

territórios, junto a jovens e grupos juvenis também eles bastante diversificados, como são as

juventudes brasileiras mencionadas anteriormente no item 2.1. Considerando a realidade brasileira,

esta diversidade nos parece antes de tudo uma riqueza do Programa, na medida em que pode permitir

a identificação de uma multiplicidade de metodologias e estratégias de ação, bem como lições sobre

os principais elementos a considerar nas ações voltadas para fortalecer o protagonismo juvenil.

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No entanto, cabe ressaltar que todos os projetos têm em comum:

I. o foco na participação juvenil e no direito à cidade como eixos que articulam o debate

de diversos temas relevantes para as juventudes urbanas;

II. a implementação de processos estruturados de formação e/ou capacitação com jovens.

No entanto, os temas são bastante diversos e vão desde o uso de mídias, tais como

fotografia, vídeo, produção gráfica, até temas mais gerais como direito à educação,

justiça ambiental, participação social.

A caracterização dos acúmulos e das estratégias de intervenção específicos de cada organização é

descrita a seguir.

Koinonia

A atuação de Koinonia toma como base o trabalho que realiza há anos em regiões do nordeste brasileiro, com públicos distintos, que formaram a base do projeto em curso:

Na região do sub-médio baixo São Francisco (estados de PE e AL), há mais de duas décadas, atua assessorando algumas pastorais católicas e o Pólo Sindical de Trabalhadores Rurais. Promove ações de debate e mobilização de jovens rurais das comunidades ligadas ao Pólo e articula estas iniciativas com outras redes, tais como a REJU (Rede Ecumênica de Juventude);

Junto às comunidades de Terreiros de Candomblé de Salvador, BA, desenvolve ações voltadas para a promoção da sua articulação e da assessoria jurídica para o enfrentamento do preconceito, discriminação e intolerância religiosa. Finalmente, apóia a regularização jurídica das comunidades e casas de terreiro;

No Baixo Sul da Bahia implementa ações de formação e articulação com mulheres quilombolas.

Com a proposição do projeto no âmbito do Programa "Juventudes e direitos na cidade” Koinonia se dispôs ao desafio de promover uma inflexão no trabalho anterior, de modo a focar sua atuação em grupos de jovens urbanos. Na prática isto implicou em:

Aproximar o trabalho já existente de grupos de jovens urbanos, abrindo uma frente inédita de atuação em Paulo Afonso (PE) e Delmiro Gouveia (AL);

Implementar atividades específicas junto aos jovens das comunidades de Terreiro de Candomblé em Salvador

Estratégia de intervenção

A estratégia de atuação pautou-se pelos seguintes elementos:

Realização inicial de uma pesquisa junto aos grupos de jovens destes territórios sobre juventudes, direitos e mudanças climáticas, buscando mapear os grupos existentes e suas percepções sobre os temas propostos e suas realidades locais.

Realização de um Curso de Formação de Agentes Culturais Jovens, organizado em 3 módulos de 2 dias cada, ao longo de 6 meses, para os jovens e os grupos juvenis identificados e mobilizados no processo de pesquisa.

O Curso de Formação é uma adaptação do programa desenvolvido anteriormente com jovens rurais para aprofundamento de temas, diagnóstico de problemas no território, planejamento e implementação de ações voltadas para seu enfrentamento, bem como para a avaliação de seus efeitos. Na versão deste curso para o Programa OD, o curso tem como características:

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Primeiro módulo: debater o que é ação cultural e direitos humanos e oferecer orientação metodológica para construção de ações socioculturais;

Segundo módulo: capacitação em um tema específico (mudança climática, RAP, etc.) e elaboração de um projeto de ação;

Terceiro módulo: reunindo os jovens dos três municípios em um “Encontrão”, aborda-se um terceiro tema de formação e faz-se a apresentação dos resultados das ações culturais realizadas pelos grupos.

Em Salvador e Delmiro Gouveia o trabalho de contato e mobilização é feito diretamente por facilitadores da equipe de Koinonia junto aos terreiros e aos grupos de jovens. Em Paulo Afonso, em que pese à existência de facilitadores, o trabalho se desenvolve a partir de uma parceria com a organização Repensar, que já desenvolvia ações de formação e mobilização cultural com os jovens do município.

Diaconia

A Diaconia, desde o final dos anos 90, adotou a questão das crianças e adolescentes como prioridade de seu trabalho. A ação com jovens foi intensificada a partir de 2006, quando iniciaram a participação no Programa OD AIN 2006-2010 (“Combatendo o Tráfico de Seres Humanos”). Para tanto, Diaconia ampliou sua equipe inserindo técnicos para trabalhar especificamente com este público.

Tanto em Fortaleza quanto em Recife, boa parte do público jovem do projeto (e mesmo dos técnicos que trabalham com os jovens em Recife) é remanescente do trabalho desenvolvido no âmbito do seu Programa de Promoção à Criança e Adolescente (PPCA) com crianças e adolescentes de organizações comunitárias diversificadas (grupos comunitários, culturais etc). Em Fortaleza, os jovens com os quais atuam, em sua maioria, estão em contato com a organização há aproximadamente 10 anos. Na região metropolitana de Recife os educadores do Peixearte foram adolescentes/jovens participantes do mesmo projeto, assim como o educador de fotografia do CCJ. O projeto atual, entretanto, possibilitou agregar novos jovens ao trabalho.

Estratégia de intervenção

A atuação se desenvolve em dois territórios:

Na Região Metropolitana de Recife (RMR), Pernambuco, nos município de Olinda (comunidade de Peixinhos) e em Recife (Morro da Conceição).

Na região metropolitana de Fortaleza, Ceará, junto aos jovens de periferia, especialmente as comunidades do Pici, Bom Jardim e Jangurussu.

Em ambos os pólos, o trabalho se organiza, em boa medida, em torno de CCJs que, assumem denominações diferentes: em Recife, trata-se do “Centro de Comunicação e Juventudes”. Já em Fortaleza, é chamado de “Coletivo de Culturas Juvenis”. São espaços coletivos, não institucionalizados, que operam em locais cedidos por organizações locais, em parceria com o projeto.

Na Região Metropolitana de Recife, a ação se desenvolve em cinco frentes:

Na comunidade de Peixinhos, em Olinda, desenvolve o Projeto Peixearte em Parceria com o Centro de Arte, Educação e Cultura (Ceaec), com adolescentes remanescentes do PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – que duas vezes por semana, no contraturno escolar, têm acesso a atividades de formação em comunicação e Teatro. As atividades didáticas e as produções abordam temas como o direito à cidade, mudanças climáticas e meio ambiente.

Também em Peixinhos, em parceira com as organizações locais, realiza-se a Semana de Meio Ambiente Urbana – Semeia – uma série de ações culturais, de debate e de intervenção no espaço da comunidade de Peixinhos, visando sensibilizar a população local e gestores em torno de questões ambientais relevantes.

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O Centro de Comunicação e Juventudes, atualmente sediado no Centro de Arte, Educação e Cultura (Ceaec), em Peixinhos, desenvolve curso de Fotografia e Design, com duração de 6 meses, para 10 alunos/as por semestre em cada turma. Também são realizadas oficinas pontuais de Elaboração de Projetos Culturais; Áudio + Fotografia + Carnaval; Jovem, Mídia e Consumo Consciente; Fotografia e Meio Ambiente. São atividades voltadas para jovens de 17 a 29 anos, vindos de toda região metropolitana. Os jovens se inscrevem nos cursos e arcam com suas despesas de transporte. Com alguns jovens formados nestes cursos está sendo debatida a possibilidade de constituição de uma produtora cultural que possa promover a sua inserção no mundo do trabalho. Entretanto, o debate sobre a criação da produtora parece estar ainda muito incipiente e restrito a poucos jovens, mesmo que parte dos equipamentos já tenha sido adquirido. Um dos problemas indicados foi a falta de um espaço físico para sua instalação.

Em Recife, o trabalho consiste no apoio à formação e articulação dos jovens do grupo Quebra Kabeça, bem como no apoio à realização de uma atividade desenvolvida por este no Morro da Conceição, conhecida como Sexta na Praça, que consiste em um evento – quatro ao ano – de difusão de um tema relacionado ao Programa junto aos moradores do bairro.

Atuação junto aos espaços de políticas públicas, tais como o FOJUPE, Conselho Municipal de Juventude e Fórum Estadual de Reforma Urbana.

Na Região Metropolitana de Fortaleza, as ações se desenvolvem junto aos grupos e coletivos culturais e de moradores dos Bairros do Pici, Bom Jardim e Jangurussu e consistem em:

Apoio as organizações e articulações comunitárias e culturais dos bairros de atuação, por meio do reforço às suas atividades e a participação dos jovens nestas.

Apoio a grupos culturais da cidade, dentre eles o ESCUTA, Banda Oco do Mundo e Grafite Cidade.

Assessoria e apoio na constituição e ações do CCJ que em Fortaleza foi definido como Coletivo de Culturas Juvenis. O CCJ se constitui em um espaço de articulação de jovens (atualmente cerca de 15 jovens permanentes) de grupos culturais e comunitários distintos, que desenvolvem ações de mobilização como as Caravanas de Comunicação e Juventudes pelas comunidades, cujos participantes circulam pelos bairros, promovendo oficinas, debates, cortejos, apresentações culturais e manifestações políticas que abordam a condição juvenil na periferia da cidade, as políticas públicas e as culturas juvenis; a promoção de oficinas e cursos de capacitação em torno de arte-cultura, direitos e novas tecnologias de comunicação; e a estruturação de uma produtora, que ficará sediada no Pici.

Realização de eventos tais como a Semana de Meio Ambiente Urbana – Semeia, que promove debates sobre as condições sociais e ambientais junto à população e às organizações das comunidades da periferia de Fortaleza.

Atuação em espaços de definição e disputa de políticas públicas (relativas a cidade, cultura, meio ambiente) e em fóruns de juventude.

Fase

A atuação da FASE no Programa se dá nas regiões metropolitanas de Recife (PE), Belém (PA) e Rio de Janeiro (RJ), junto às quais tem uma longa história de atuação com grupos, movimentos e organizações populares locais.

Desde 2003 a juventude tem se constituído enquanto público da Fase Rio e Pernambuco, com os quais a entidade tem trabalhado a questão da garantia de direitos e, mais particularmente, o direito à cidade. No Rio de Janeiro as ações junto aos jovens eram concentradas na Baixada Fluminense e tiveram como um de seus resultados a constituição do Fórum de Juventudes da Baixada, atualmente desativado. Em Pernambuco, as ações relacionadas à juventude, anteriores ao projeto com a OD, estavam concentradas em duas regiões: Zona da Mata e Região Metropolitana do Recife. A Fase Amazonas começa efetivamente a ter um trabalho voltado para a juventude urbana a partir do programa “Juventudes e Direitos nas Cidades”, embora já desenvolvesse ações com jovens rurais.

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A Fase, em todas as três regionais de realização do projeto, tem significativo acúmulo no debate sobre o direito à cidade e justiça ambiental, sendo presença importante em redes, fóruns e conselhos que tratam dessas questões. A equipe de Belém, adicionalmente, vem acumulando experiência de atuação em torno do tema das mudanças climáticas, atuando com organizações urbanas e rurais da Amazônia brasileira, notadamente, no Fórum da Amazônia Oriental (Faor).

Com base nestes acúmulos, a atuação da Fase no Programa implicaria, por um lado, na abertura de uma frente de atuação direta com jovens em Belém e, por outro, na articulação dos temas do direito à cidade e mudanças climáticas/justiça ambiental junto aos jovens, nos demais territórios de atuação.

Estratégia de intervenção

Nos três territórios, a estratégia básica de intervenção é semelhante, e tem como ponto de partida a constituição dos Comitês Juvenis, formado por jovens integrantes dos vários grupos e organizações, com os quais a FASE tem contato histórico, e da realização de atividades formativas (cursos/seminários/oficinas) em torno dos temas relacionados aos direitos, direito à cidade, justiça climática e ambiental, bem como de temas transversais como gênero e políticas públicas. Porém, há particularidades regionais, como será visto a seguir.

Em Pernambuco, o Comitê Juvenil pelo Direito à Cidade e Justiça é constituído por cerca de 20 jovens, que estão na faixa entre 18 e 28 anos. Destes, conforme informação do grupo, 5 são mais ativos (uma destas atualmente é contratada pela Fase/PE, onde exerce função administrativa). Alguns dos componentes do Comitê são remanescentes de projetos anteriormente desenvolvidos pela Fase junto a população juvenil do estado e, em sua maioria, são oriundos de grupos como a Rejuma, a PJMP, Reju, Fórum de Juventude Negra, ContinuArte, dentre outros. Os encontros de formação acontecem a cada dois meses. Entretanto, acabam por se reunir com muita mais frequência, na medida em que assumem a tarefa de multiplicação de conhecimentos (metodologia de pares), junto a adolescentes e jovens de escolas (Escola Municipal Dr. Rodolfo Aureliano e Pe. Antônio Henrique). A Escola Municipal Dr. Rodolfo Aureliano está localizada na Vila Arraes, comunidade às margens do rio Capibaribe, no grande bairro da Várzea, e é uma das que mais sofre com as enchentes. O trabalho desenvolvido junto ao alunato da Escola Municipal Dr. Rodolfo Aureliano é possível face ao compromisso de sua diretora, que por sua vez vem do trabalho de base da igreja católica, e de duas professoras que assumem a tarefa de mobilização do corpo discente e docente. Junto à essa escola são realizadas ações de educação ambiental e comunicação (montagem de uma rádio) com alunos/as do ensino fundamental. O trabalho junto a Escola Pe. Antônio Henrique, originalmente uma escola de surdos e que atualmente atende a um público misto, foi pontual e tem-se a expectativa de continuidade. A partir dessa última experiência, o grupo constatou seus próprios limites em trabalhar com o público com necessidades especiais, como a falta de conhecimento de libras.

Em Belém, o projeto começou um pouco mais tarde do que o previsto, devido a questões relacionadas ao pessoal local, e em um primeiro momento com as ações se localizando em uma escola estadual do bairro de Terra Firme. A definição por trabalhar a formação a partir de uma escola foi resultado do diálogo com os parceiros locais. Esta estratégia, de acordo com a equipe local, não funcionou, assim só foi adotada no primeiro ano. No segundo ano a Fase estabeleceu parceria com a Unipop e o PUPDH, da Universidade Federal do Pará, para realização de um programa de formação com o objetivo de “mobilizar a força da juventude da RMB, na construção de um caminho diferente, numa direção que não apenas fuja do caos que vivemos, mas que possibilite inovações praticáveis nas relações das pessoas com o meio ambiente”. A formatação do curso, dividido em quatro módulos, contou com a participação de alguns jovens. A formação é direcionada para jovens que tem entre 15 e 29 anos, em sua maioria oriundos de outros grupos, ongs e movimentos sociais urbanos e rurais. A turma de 2013, composta por aproximadamente 20 alunos/as, conta com alguns jovens remanescentes do ano anterior, em um processo de formação continuada. Além das aulas mensais (de oito horas, no último sábado do mês), o programa prevê ainda a realização de oficinas, seminário e a construção de um vídeo-processo sobre a problemática da água na Amazônia.

No Rio de Janeiro o projeto atua junto a jovens moradores de duas comunidades do Complexo da Maré - Timbau e Nova Holanda, e é desenvolvido em parceria com o Conexão G (jovens desse grupo participou de projetos anteriores desenvolvidos pela Fase junto à juventude) e acontece em uma sala cedida pela Redes de Desenvolvimento da Maré. As atividades formativas tiveram início no segundo semestre de 2013 e são realizadas quinzenalmente (turno da noite), reunido jovens de 14 a 21 anos, em sua maioria sem engajamentos anteriores (alguns são oriundos do trabalho sobre sexualidade e saúde realizado pelo Conexão G). Retrocedendo ao início do projeto, em 2011, a Fase ofereceu então

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um curso de formação, na área temática do programa, destinados a jovens de vários bairros, mas realizado em Manguinhos, em uma parceria com o hoje extinto Laboratório de Direitos Humanos (grupo ligado à Rede CCAP). Em 2012 as atividades formativas foram realizadas junto aos alunos/as de uma escola estadual sediada em Nova Iguaçu. Conforme relato da equipe, as estratégias adotadas no primeiro e segundo ano do projeto não se viabilizaram devido: a dificuldade de articular jovens para atividades de formação política; ao fato do tema do projeto não ser atraente para o público; à falta de disponibilidade para as formações frente a outras demandas juvenis como estudo e trabalho; à violência que limita a possibilidade de circulação; a grande oferta de projetos dirigidos aos jovens; aos poucos recursos do projeto, que não permite o pagamento de bolsa para os formandos.

Em todos os três regionais, há a colaboração dos jovens na definição da metodologia e da forma de funcionamento das formações. Mas há um certo desnível nessa colaboração, devido a origem e experiência dos participantes do projeto. Em Pernambuco tem-se efetivamente um Comitê Juvenil com capacidade teórico-metodológica de influir devido a bagagem formativa e experiência organizativa das pessoas que compões o grupo. No Pará, tem-se um núcleo de jovens que, em sua maioria, vem de outros grupos e movimentos, já tendo vivenciado outros processo formativos. Nestes dois regionais, há ainda a presença de jovens que aliam experiência com escolaridade de nível superior em áreas correlatas ao projeto, como pedagogia e biologia. Enquanto no Rio, a maioria dos jovens envolvidos no projeto é de uma faixa etária mais baixa e, portanto, ainda iniciando em processos formativos, com vistas a um futuro engajamento.

Na RMB e RMR são oferecidos suporte temático e apoio material adicionalmente para: i) ações de multiplicação, disseminação de informações e mobilização junto a outros públicos juvenis, desenvolvidas pelos jovens integrantes dos coletivos; ii) articulação e incidência junto aos espaços e processos de definição de políticas públicas de juventude, direito à cidade e justiça ambiental. Assim, os jovens participantes do projeto, dessas duas regiões, são incentivados e atuam em conferências (cidade, meio ambiente, juventude), fóruns juvenis (Fojupe, em Pernambuco, e Pacto pela Juventude, em Belém).

A Fase está institucionalmente presente no Conselho Nacional de Juventudes e nos fóruns estaduais da sede de cada regional (Fojupe, FJRJ e Pacto pela Juventude).

Ibase

Desde 2003 o Ibase tem uma atuação voltada para produção de conhecimento em torno da situação da juventude no Brasil e na América Latina, tendo participado e coordenado várias pesquisas em conjunto com outras organizações sobre os perfis, as percepções, aspirações e condições das juventudes. A partir desta produção de conhecimento, o Ibase foi chamado a apoiar a Secretaria Nacional de Juventude, ligada à Secretaria Geral da Presidência da República, além de integrar o Fórum de Juventude do Rio de Janeiro e o CONJUVE, como instituição do campo de pesquisa e assessoria.

Na formação do Programa, o Ibase foi desafiado a articular a sua experiência de pesquisa e incidência em uma intervenção mais territorializada. Foram escolhidos então dois territórios na região metropolitana do Rio com os quais membros da equipe do Ibase mantêm relações de articulação e engajamento social e político.

Estratégia de intervenção

A atuação do Ibase se dá em dois territórios da região metropolitana do Rio de Janeiro:

Na favela Santa Marta, localizada na região central do município Rio de Janeiro, com Grupo ECO, organizado por moradores da favela, que em mais de trinta anos de atuação na comunidade reúne jovens para formação e incidência política;

No bairro de Campo Grande, com os jovens integrantes e mobilizados pelo IFHEP - Instituto de Formação Humana e Educação Popular, grupo local que atua no campo da formação cidadã e do direito à educação.

Em ambos os locais, a partir dos coletivos de jovens já constituídos, desenvolveu-se uma metodologia de debate e mobilização que combina o diagnóstico participativo e a cartografia social em um processo

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de mapeamento socioambiental dos territórios nas quais os jovens vivem e circulam denominado “Tá no Mapa”. Esta metodologia consiste nas seguintes etapas:

Realização de um levantamento participativo de vários aspectos relacionados às condições sociais, econômicas, culturais e ambientais dos bairros;

Definição coletiva dos principais problemas, suas causas, agentes, principais atingidos e possíveis soluções;

Definição de uma causa prioritária para articular campanhas e ações de incidência nos territórios;

Planejamento, implementação e avaliação das ações.

Além desta intervenção nos territórios, o Ibase organiza, em parceira com as ongs CAMTRA (Casa da Mulher Trabalhadora) e Conexão G, Fórum de Juventudes do Rio de Janeiro, Escola de Gente e Fase e FEUC, os chamados “seminários aglutinadores” nos quais promove o encontro de jovens e o debate de temas relacionados à juventude e sua diversidade, o direito à cidade e as questões ambientais.

Viva Rio / Viva Favela

O Viva Rio tem uma atuação de muitos anos junto às comunidades pobres e favelas da região metropolitana do Rio de Janeiro. Atua, especialmente, em questões ligadas à segurança pública, à paz e aos direitos de suas populações. A partir deste trabalho, um grupo de lideranças de favelas identificou a necessidade da criação de um canal de expressão alternativo, capaz de disputar o processo de criminalização das favelas promovido pelas grandes mídias. O objetivo era disseminar informações sobre a vida nas favelas do ponto de vista de seus moradores.

Deste diálogo surgiu o site Viva Favela que, no seu início (ou versão 1.0), consistia em um site de notícias sobre as favelas do Rio de Janeiro. Uma equipe editorial identificava agendas de eventos e desenvolvia matérias e conteúdos a partir de pautas definidas em conjunto com as lideranças dos territórios. No site havia também espaço para a colaboração e “visitantes”, com artigos de opinião. Pelo ineditismo e qualidade virou referência de informação tanto para as próprias favelas quanto para a grande mídia, que mais tarde passou a copiar o modelo de contar com correspondentes locais.

Estratégia de intervenção

Em 2010 o Viva Favela assumiu uma nova configuração, eminentemente colaborativa (versão 2.0), com três grandes vertentes:

Um site totalmente colaborativo, no qual os colaboradores cadastrados de todo o Brasil – em sua maioria jovem – postavam matérias, vídeos, ensaios fotográficos e definiam por votação as postagens que teriam destaque na página inicial;

Uma revista digital abrigada no mesmo site, com temas definidos em conjunto com lideranças, com tratamento editorial caracterizado pelo convite a uma pessoa externa para realização da editoria de conteúdo, com a tarefa de selecionar e apoiar o desenvolvimento de matérias por parte de correspondentes comunitários e outros colaboradores.

Realização de oficinas de capacitação em várias mídias (fotografia, vídeo, produção cultural, etc.) oferecidas aos correspondentes comunitários das favelas, de modo a ampliar sua condição de produção e disseminação de materiais em torno da realidade das favelas.

Em 2013 implementa-se uma nova configuração, o Viva Favela (versão 3.0), visando acentuar o caráter jornalístico do site. Na análise feita pela direção do Viva Rio, havia um cenário em que o noticiário adjetivo o universo de correspondentes pouco representativo do universo das favelas e

periferias caminhavam na direção oposta a que o portal se propôs retratar desde a sua origem.

Avaliou-se que o site havia se tornado uma espécie de jornal mural e que havia uma perda de

importância do portal como publicação capaz de oferecer relato sobre a favela de ponto de

vista oposto ao da mídia tradicional.

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Em linhas gerais, ela possui as seguintes características:

No site, uma revista digital, cujas características e formas de produção se mantêm em relação à fase anterior;

Uma área com reportagens, ensaios e vídeos produzidos pela equipe do projeto e pelos correspondentes comunitários, cujas pautas e postagens passam pela avaliação editorial, a cargo da equipe do projeto.

Uma área de blogs, na qual cada correspondente comunitário pode realizar postagens pessoais sem passar pelo tratamento editorial da equipe do site.

Na ação junto às favelas

A oferta de um Curso de Correspondente Comunitário Multimídia, que articula e condensa os conteúdos de várias das oficinas promovidas na fase anterior e que privilegia a promoção de olhar e do tratamento jornalístico da informação e dos produtos, em oposição à produção de viés pessoal. O curso visa promover e qualificar os correspondentes comunitários na nova linha em curso no Viva Favela.

Ação Educativa

A Ação Educativa desenvolve, desde a sua fundação há 20 anos, ações voltadas para jovens no campo da educação de jovens e adultos, da produção de conhecimentos sobre as juventudes e suas conexões com o mundo do trabalho, da educação e cultura. Esta trajetória consolidou um programa de juventude com duas frentes: uma que trata das políticas públicas de juventude e da participação juvenil e outra, que se refere a “Trajetórias Juvenis”, na qual aborda as conexões entre educação e trabalho.

Ao longo destes anos, a Ação Educativa tem participado e coordenado pesquisas, publicações, seminários e conferências em torno de temas relacionados à juventude, tais como os perfis, as condições e percepções dos jovens sobre sua vida e as políticas públicas de juventude.

Na dimensão da ação cultural, criou um Centro de Mídia Juvenil que permitiu o acesso de diversos grupos juvenis da periferia a capacitações em mídias e produção digital bem como ao uso de equipamentos para suas próprias produções. Esta iniciativa reforçou o encontro de diversos grupos culturais, contribuindo para a transformação do espaço da Ação Educativa em um ponto de encontro e articulação de coletivos, fóruns e iniciativas culturais ligadas ao hip hop, ao teatro e à poesia. Mesmo após o fechamento do Centro de Mídia, tais grupos ainda fazem do espaço da Ação um ponto de encontro dos jovens da periferia no centro urbano de São Paulo.

No campo da formação de jovens, a partir de um processo de pesquisa envolvendo estudantes, professores, acadêmicos e gestores públicos em torno da situação do Ensino Médio, constatou-se que uma das fragilidades constatadas era a da sua incapacidade de oferecer elementos de apoio aos jovens na tomada de decisão sobre seu futuro profissional e educacional. A partir da escolha desta como uma questão chave, teve início um projeto envolvendo e formação de jovens de escolas públicas da periferia de São Paulo para a participação e a luta pelo direito à educação. Estes coletivos foram chamados de JADE – Jovens Agentes pelo Direito à Educação. Uma pesquisa em torno das expectativas dos jovens sobre o Ensino Médio constatou a demanda por orientações de caráter estratégico sobre as possibilidades de profissionalização e estudo após ensino médio. Um grupo de estudos concebeu o Projeto Tô no Rumo, que consistia em um conjunto de oficinas de formação e planejamento para orientação profissional aplicadas pelos JADEs junto a turmas de ensino médio. Este trabalho passou, posteriormente, a ser desenvolvido pelos professores das próprias escolas, após passarem por formação específica na aplicação da metodologia. Além disso, o trabalho evidenciou a necessidade de um canal de informações e reflexões para jovens e educadores, o que deu origem ao site “Tô no Rumo”.

Ao longo destes anos, a Ação Educativa também se fez presente nos processo de discussão de políticas de juventude no âmbito municipal, estadual e nacional, através da articulação dos Conselhos Nacional e Municipal da Juventude, Fórum de Juventude de São Paulo, organização das conferências de juventude e da participação na coordenação do GT Juventude da Rede Nossa São Paulo. Em

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2008, foi eleita para a Vice-Presidência da Conjuve e, nessa condição, co-presidiu a Etapa Nacional da 1ª Conferência Nacional de Juventude.

Estratégia de intervenção

A estratégia de intervenção da Ação Educativa no âmbito do Programa OD consiste nas seguintes linhas de ação:

Cessão de espaço e apoio à articulação e à realização de ações culturais por parte de grupos culturais jovens da periferia de São Paulo no centro de São Paulo. Recentemente a Ação Educativa decidiu não considerar mais esta linha como parte do programa OD, em função da progressiva elevação da idade média dos componentes dos grupos apoiados, que destoa do perfil do público apoiado pelo Programa.

Formação dos JADEs – programa de formação anual de um grupo de 20 jovens de perfil diversificado, ao longo de 8 meses, duas vezes por semana, envolvendo temas ligados ao direito à educação, participação e mobilização social, combinando temas pré definidos e outros definidos pelos jovens participantes. Os jovens participantes recebem bolsa de meio salário mínimo e um auxílio transporte da Ação Educativa.

Tô no Rumo – formação de professores para aplicação da metodologia de formação e orientação profissional junto a turmas do 3º ano do Ensino Médio em 4 escolas públicas da Zona Leste de São Paulo e consolidação e disseminação da metodologia em um guia; apoio material à realização das oficinas; site To no Rumo.

Políticas Públicas de Juventude – envolve a participação na coordenação do GT Juventude da Rede Nossa São Paulo, o acompanhamento dos processos e espaços de participação e formulação de políticas municipais de juventude e a promoção de rodas de conversa e encontros em torno de temas e de propostas de políticas públicas, envolvendo organizações, movimentos e grupos de jovens, academia e representantes do poder público.

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3. PRINCIPAIS RESULTADOS

3.1. Implementação das estratégias

De modo geral, as estratégias definidas no Programa estão sendo implementadas de forma consistente na direção dos objetivos estabelecidos. No entanto, algumas mudanças e problemas serão destacados mais adiante, em função de suas possíveis implicações para o alcance dos públicos e dos objetivos pretendidos.

A seguir, um panorama do estágio de implementação das principais estratégias do Programa.

3.1.1. Formação voltada para a qualificação técnica e sócio-política dos jovens para ações em torno de seus direitos

a) Formação dos JADEs, pela Ação Educativa, em São Paulo

Após duas turmas nos anos de 2011 e 2012, está em curso uma terceira turma de formação, com 19 jovens da zona Leste de São Paulo, a partir de seleção entre 140 jovens inscritos. A formação dá ênfase a temas ligados à luta pelo direito à educação, além dos temas eleitos como prioritários pelos jovens, entre os quais: o acesso ao ensino, legislação, lutas sociais pela educação e da juventude, Ensino Médio, escolhas profissionais, lei de cotas, redução da maioridade penal, manifestações de junho, entre outros. Além dos temas, os participantes são estimulados a definir um tema relevante, pesquisá-lo e gerar um produto (vídeo) que possa disseminar seus achados junto ao público jovem. Esta programação e sua condução metodológica têm promovido um alto grau de comprometimento e identificação dos jovens com o Programa. Notam-se relatos marcantes sobre os ganhos de consciência, informação e capacidade de intervenção social e política, mesmo entre os jovens que já estavam organizados em grupos antes da participação no projeto.

Em função da perspectiva de encerramento do apoio de um outro financiador e de revisão do apoio da prefeitura de São Paulo, que concedia a bolsa trabalho para os participantes do programa, esta será a última edição da formação do JADEs no formato atual. A rigor, a meta quantitativa estabelecida no Programa já foi alcançada. No entanto, a Ação Educativa estuda a continuidade desta formação através da realização de adaptações no seu formato e na sua localização, de modo a reduzir a dependência de recursos para transporte por parte dos jovens.

b) Formação do Coletivo de jovens em Pernambuco e Belém, organizado pela FASE

Em Pernambuco deu-se a constituição do coletivo a partir de jovens oriundos de vários grupos e organizações. A capacitação em torno das questões ligadas ao direito à cidade e à justiça ambiental e as reuniões mensais do coletivo vêm estimulando os jovens, dando suporte às ações coletivas de disseminação de conteúdos – através de vídeos, cartilhas e fanzines. A iniciativa apoia também com novos conteúdos os trabalhos nos grupos e organizações a que pertencem. Estimula, ainda, sua participação na esfera pública, junto aos fóruns de juventude, em campanhas públicas pelo fim do extermínio da juventude negra e pobre e no diálogo com atores políticos em torno de plataformas para a juventude, em discussões sobre políticas urbanas e ambientais.

Em Belém, a estratégia inicial de constituição de um coletivo de jovens no bairro “Terra Firme”, a partir das conexões com organizações, pastorais, associações comunitárias e gestores escolares, permitiu a realização de atividades formativas de curta duração com jovens de escolas públicas. Esta proposta, logo se mostrou inviável em função da ocorrência de greves e mudanças na gestão escolar. Já em 2001, estabeleceram-se parcerias com a UNIPOP – Universidade Popular e o Programa Universidade

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Popular e Direitos Humanos da Universidade Federal do Pará (PUPDH) para promover ações de formação em torno de temas ligados ao direito à cidade e à justiça climática (temas agregados pela FASE) e de articulação relativa a política de Juventude. Mensalmente um grupo de jovens participa de atividades formativas e desenvolve ações comunicacionais, com a produção, exibição e disseminação de vídeo sobre temas tais como o problema do acesso à água de qualidade no Pará.

No Rio de Janeiro, houve uma primeira tentativa de constituição de um coletivo de jovens na comunidade de Manguinhos, mas que produziu poucos resultados por conta da desmobilização causada pelo baixo interesse, dificuldades na mobilidade dos jovens e acirramento da violência na favela. Em 2012 as tentativas migraram para jovens de uma escola pública no município de Nova Iguaçu, para mapeamento de situação e formação em torno do direito à cidade. A iniciativa apoiava-se em contato com o vice-diretor da escola. No entanto, o baixo engajamento de professores, a ausência de contato direto com os jovens e a mudança na direção da escola provocaram a desarticulação da iniciativa. Em 2013, o trabalho passou a se desenvolver na favela da Maré, na comunidade de Nova Holanda, em parceria com a organização Conexão G. Foram convocados jovens para uma formação em torno do tema direito à cidade e mudanças climáticas, cujas atividades tiveram início recente.

Mesmo com o pouco tempo, há relatos sobre a importância da iniciativa e de como o programa tem contribuído para a ampliação da visão de cidade, para o contato com outros jovens, grupos, organizações e realidades possibilitados nesse início de trabalho.

Cabe ressaltar que nesta intervenção há um forte acúmulo da FASE em relação à abordagem do tema do direito à cidade e da justiça climática/ambiental. No entanto, ainda há pouca consolidação de estratégias, metodologias e ferramentas de trabalho e comunicação com jovens no interior da instituição.

c) Diagnósticos Ambientais Participativos, em Campo Grande e na favela de Santa Marta, no Rio de Janeiro, implementados pelo Ibase

Ambos os grupos concluíram seus diagnósticos participativos com um alto grau de adesão e comprometimento dos jovens com o processo e agora se preparam para planejar as ações de incidência a partir da mobilização da população local em torno das causas definidas como prioritárias em cada local. Em Campo Grande, a questão central é a da mobilidade urbana e na favela Santa Marta, a situação do lixo é o tema central. Uma das estratégias tem sido a de promoção do intercâmbio, potencializado pelo grupo criado no Facebook, e a realização do encontro anual de avaliação e planejamento tem sido muito valorizado por eles. Essa troca tem possibilitado aos jovens uma melhor apropriação do significado de cidade e seus conflitos.

Segue também a realização dos encontros aglutinadores, que têm por objetivo promover a sensibilização de um número maior de jovens para as temáticas do programa, bem como para a ampliação da articulação e da troca de experiências entre os parceiros do programa, tais como a CAMTRA, Cedaps, Conexão G, Escola de Gente, Fórum de Juventude do Rio de Janeiro, Fase Rio e Núcleo de Estudos Urbanos da Feuc. Participaram também destes encontros jovens e articuladores ligados à FASE PE, Diaconia CE, Ação Educativa, São Paulo. Eles têm contribuído para a sensibilização de um número maior de jovens para as temáticas do programa, bem como para a ampliação da articulação e da troca de experiências entre os parceiros do programa e com outros parceiros que atuam junto à juventude no Rio de Janeiro.

d) Formação de agentes culturais jovens em Delmiro Gouveia (AL), Paulo Afonso (BA) e Salvador (BA)

A pesquisa inicial nos três locais levantando as percepções de 1080 jovens em torno dos temas ligados aos direitos e às mudanças climáticas resultou em um bom mapeamento dos grupos e organizações de jovens existentes nos locais. O mapeamento serviu para orientar o trabalho de articulação e convocação para o curso de formação de agentes culturais. No entanto, foi possível ter acesso apenas a uma tabulação primária dos dados sem que tenha sido possível captar como foram aproveitadas na definição das estratégias de ação.

Em Delmiro Gouveia, a realização do mapeamento possibilitou que várias “tribos” e grupos de jovens fossem identificados e convocados para os cursos de formação, além de sensibilizá-los para temáticas

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novas, como a questão ambiental. Foram 3 edições da formação envolvendo jovens de grupos bastante diversificados tais como o Coppabacs, PJMP, MAC, Garagem Hip Rock e jovens do programa Pro-jovem no município. A iniciativa promoveu uma inédita articulação destes diferentes grupos em torno de ações culturais e políticas comuns no município. Ao final de cada segunda etapa são planejados projetos de ação pontuais relacionados aos temas debatidos: lixo, reciclagem, cultura, etc.

Em Paulo Afonso, a parceria com a Ong Repensar enfrentou dificuldades em função de diferentes abordagens metodológicas do trabalho com os jovens. Os jovens mobilizados pela organização para o processo de formação de agentes culturais tinham baixo comprometimento com a proposta do curso. Após avaliação, os processos e critérios de mobilização e convocação dos jovens que participam das atividades do Repensar para o curso foram revistos. As atividades em Paulo Afonso também sofreram em função de várias mudanças de articulador local de Koinonia, provocando descontinuidades e atrasos. O curso foi retomado e está sendo oferecido aos jovens que integram as oficinas culturais do Repensar e está sendo conduzido por articuladoras locais recém introduzidas na metodologia.

Cabe ressaltar que a estratégia bem sucedida de mapeamento e envolvimento de diferentes grupos de jovens em Delmiro Gouveia ainda não chegou a inspirar as ações em Paulo Afonso, apesar da existência de vários outros grupos jovens que poderiam ser contatados e envolvidos na proposta.

Em Salvador, a metodologia dos cursos de formação de agentes não teve bons resultados junto aos jovens de terreiros, em função de suas características diferenciadas: são jovens que possuem uma identidade religiosa, mas não territorial. Estão vinculados às casas de terreiro onde se configuram relações marcadas pela hierarquia dada pelos elementos religiosos, com menores possibilidades de intervenção no seu espaço ou na esfera pública. Diante deste quadro, os momentos de encontro têm focado aspectos de sua condição de jovens de terreiro, da discriminação religiosa e das possibilidades de enfrentamento através da comunicação junto a outros grupos sociais. Estas iniciativas deram origem à Campanha Agô - Jovens de Terreiro Contra Intolerância Religiosa, realizada através de blog e de perfil no facebook. Até o momento, no entanto, a campanha não tem um perfil claro: a página no facebook tem sido, sobretudo, um espaço de reprodução e disseminação de informações diversificadas que já circulam nas redes sociais sobre personalidades e iniciativas relacionadas ao universo do candomblé, afirmação da identidade negra, combate á discriminação racial e da situação dos negros e das mulheres negras no Brasil.

Em que pesem as diferenças de desenvolvimento da proposta metodológica, a realização de uma terceira etapa do curso reunindo todos os jovens dos 3 locais tem sido responsável pelas experiências mais marcantes vivenciadas pelos jovens. Isto ressaltar a importância dos momentos de troca e intercâmbio no processo pedagógico de sensibilização para as semelhanças e diferenças das suas condições de jovens.

e) Viva Favela e a formação de correspondentes comunitários Multimídia

Algumas mudanças de peso foram implementadas na atual versão 3.0 do projeto Viva Favela. Estas motivadas por uma avaliação da direção do Viva Rio de que o site havia se distanciado da sua proposta original e cujos pontos centrais foram os seguintes: i) era necessário imprimir um tom mais jornalístico e de conteúdo original, ao invés do caráter mais opinativo, adjetivo e de replicação de notícias de outros meios que estava caracterizando as postagens no site; ii) para promover este perfil jornalístico junto aos correspondentes comunitários se fazia necessário reformatar o Curso de Correspondente Comunitário Multimídia, de modo a garantir que os novos participantes fossem capacitados nesta nova perspectiva; iii) se fazia necessário articular as iniciativas do Viva Rio nos territórios onde atua, o que apontou para a possibilidade de transformar os agentes de saúde do Viva Rio nas comunidades no público prioritário dos cursos de correspondentes, potencializando suas ações e seu conhecimento das realidades locais.

Estas mudanças, embora atendam a desejos e necessidades institucionais do Viva Rio, geraram impactos bastantes significativos na equipe e nos antigos correspondentes/colaboradores da versão 2.0, tanto em função do caráter das mudanças quanto pela forma como foram implementados. No que diz respeito ao conteúdo, a maior editorialização do site reduziu o espaço de participação e as possibilidades de apropriação por parte dos correspondentes distribuídos em todo o país. O site era considerado um espaço de participação e colaboração apropriado pelos jovens das comunidades, com

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reforço das vozes individuais e dos seus grupos. Mobilizava, alcançava pessoas e promovia um contato horizontal e direto entre pessoas de várias favelas do Rio e do Brasil. No novo formato, as postagens são objeto de filtro e tratamento editorial por parte da equipe, que passa a determinar os conteúdos que serão postados como reportagens, ensaios e vídeos e a remunerar esta contribuição. A colaboração espontânea e voluntária ficou restrita aos Blogs. Ainda é cedo para afirmar se este espaço será retomado como espaço de participação ativa de correspondentes e colaboradores das várias favelas.

No que diz respeito à forma como as mudanças foram implementadas, embora a coordenação do projeto assegure que foram feitas seis iniciativas de comunicação formal aos colaboradores do site sobre as mudanças que seriam implementadas e suas motivações, vários depoimentos de antigos correspondentes indicam a surpresa com que receberam as mudanças e as perdas em termos de participação e identificação com o site. A Coordenação do Viva Favela também explica que o processo de migração de cadastros dos antigos correspondentes para o novo formato teve uma falha técnica e impediu o resgate dos cadastros já existentes, o que também gerou a sensação, para estes correspondentes, repentina exclusão.

Mesmo os que participaram do novo formato do curso de correspondentes comunitários e que valorizaram os ganhos trazidos pela abordagem mais jornalística dos temas, ressaltaram a necessidade de não perder os acúmulos existentes de conteúdo e de identificação com o site. No entanto, é ainda cedo para avaliar qual será o efeito desta versão 3.0 em termos de apropriação e valorização do site – por parte dos moradores e organizações das favelas do Rio de Janeiro – como instrumento de acesso e disseminação de informações, análises e opiniões sobre suas realidades.

Por sua vez, a priorização dos agentes de saúde como público alvo dos cursos de correspondentes comunitários reduziu a participação de jovens de 15 a 29 anos (apenas 37% dos inscritos). Há uma demanda da prefeitura do Rio de Janeiro de que o Viva Rio implemente o curso de correspondentes comunitários multimídia junto aos jovens do projeto Casa Viva, na qual a prefeitura e o Viva Rio já são parceiros no acolhimento de jovens que fazem uso abusivo de drogas, principalmente de crack. Tal opção, se confirmada, trará de volta um público na faixa etária definida no programa, mas implicará em enormes desafios metodológicos e de definição de objetivos específicos de inserção social e colaboração destes jovens de forma diferente do que até então foi concebido no programa.

Esta análise dos avaliadores foi apresentada pessoalmente à coordenação do Viva Favela e debatida no encontro dos parceiros que apresentou a avaliação. Posteriormente, a equipe do Viva Favela também teceu seus comentários por escrito aos avaliadores avaliação nos quais foram apresentadas informações adicionais e elencadas uma série de iniciativas para encarar os problemas apontados, cujo teor reproduzimos:

“Estamos aprimorando ações na área colaborativa. No curso dos ajustes, temos realizado reuniões com

alguns dos que se afastaram e programamos outras para breve. Mudanças editoriais estão em fase de implementação, seguindo sugestões de nossos correspondentes: uma maior repercussão dos conteúdos

dos blogs em nossas redes sociais, uma maior visibilidade da área de blogs na home (esta agora fica

acima do bloco reservado à revista).

Também a pedido de nossos correspondentes, estamos planejando oficinas dedicadas a eles. Os canais

de diálogo têm sido retomados de diversas formas: reativação de nosso grupo de correspondentes no Facebook, disponibilização de espaço de trabalho na redação para aqueles que expressaram o desejo,

convite a conferências temáticas junto a membros da Redação...

Iniciamos esta semana os trabalhos para retomar as Caravanas, paralisadas momentaneamente enquanto promovíamos ajustes. E também ajustamos as oficinas para a faixa etária mais adequada ao

programa, com a participação de moradores das comunidades.

A equipe está atualmente agendando três oficinas com este perfil que desejamos fechar ainda em 2013: uma em São Gonçalo, junto a jovens da agência comunitária Papagoiaba; uma no Complexo do Lins,

recentemente pacificado, por intermédio de um coletivo de grafiteiros; uma terceira enfim, que será nosso projeto piloto voltado para jovens residentes de nossas "Casas Vivas", aos quais oferecemos

oficina de "pinhole".

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f) A formação nos CCJs e a mobilização em Recife e Fortaleza promovida por Diaconia

A participação no novo Programa OD possibilitou à Diaconia incorporar ao seu trabalho temas que antes não estavam tão fortemente em sua ação, como o direito à cidade, o meio ambiente urbano e as mudanças climáticas. Em torno deles o trabalho é fundamentalmente de sensibilização e desnaturalização das condições de sua realidade local. A metodologia utilizada tem como referência a educação popular, que se baseia nas vivências e experiências formativas, no diálogo, na problematização da realidade social, na construção coletiva e valorização do saber popular. No entanto, em cada território as estratégias têm diferenciações relacionadas às necessidades específicas dos jovens e ao processo de reflexão de cada equipe.

Assim, enquanto em Recife o foco central é a formação por meio de cursos (teatro, comunicação, design e fotografia), em Fortaleza o trabalho com a juventude que integra o CCJ se dá a partir da metodologia “Museu da Juventude”. Baseia-se na sistematização das histórias de vida, na produção de cultural e artística a partir delas, na autorreflexão e na reflexão coletiva sobre as trajetórias individuais, na realização de encontros sistemáticos de diálogos denominados “auditório social” e na construção de projetos de vida.

As Caravanas de Comunicação e Juventudes consistem em visitas de jovens a outros territórios promovendo ações de debate, vivências, conhecimento, ação cultural e celebração, bem como seminários temáticos. Enquanto as Sextas na Praça se constituiu enquanto uma mobilização da comunidade do Morro da Conceição em torno dos temas do Programa e de outros que afetam a juventude do bairro.

Como evento anual aglutinador, a Diaconia promoveu nos anos de 2012 e 2013 em Recife, e em 2013 em Fortaleza o Semeia. Esse evento agrega vários sujeitos sociais presentes nos bairros onde a entidade atual, sejam eles juvenis, comunitários, ambientais, culturais, etc., com outras entidades públicas ou sociais que atuam nos territórios para debater e mobilizar as comunidades em torno dos principais problemas ambientais que impactam os moradores.

Estas têm se mostrado estratégias efetivas de mobilização e ampliação de públicos jovens sensíveis a temas e problemas da realidade local. Seu êxito se deve ao fato de estarem de acordo com linguagem que os jovens compreendem, bem como por possibilitar a realização de ações práticas comuns, tal como ocorreu recentemente com o engajamento dos jovens no movimento de defesa do Parque Ecológico do Rio Cocó.

3.1.2. Qualificação para intervenção em espaços de discussão e elaboração de políticas públicas direcionadas a jovens

a) Participação no GT Juventude da RNSP e promoção de rodas de conversas pela Ação Educativa

A presença da Ação Educativa no GT Juventude da Rede Nossa São Paulo é considerada como de fundamental importância na construção de processos de diálogo e articulação transparentes e eficazes no sentido da formulação, defesa e proposição de políticas de juventude no município. Têm destaque as suas ações de incidência e acompanhamento do orçamento municipal que contribuíram fortemente para a garantia do orçamento para o VAI – Valorização de Iniciativas Culturais, política pública garantida por lei voltada para o apoio de iniciativas culturais de jovens de baixa renda e grupos com precário acesso a recursos - a elaboração de uma proposta do VAI Esporte, a formulação de propostas para a Coordenadoria de Juventude de São Paulo.

Foram também promovidos pela Ação Educativa espaços de diálogo da sociedade civil sobre temas ligados às políticas para a juventude cujas reflexões e propostas eram disseminadas amplamente entre as organizações juvenis e gestores públicos.

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Consideramos importante também o fato de que espaços como o Conselho Municipal, a Câmara dos Vereadores e o Plano de governo Haddad, bem como o planejamento da Coordenadoria incorporam muitas das propostas que temos defendido, em alguns momentos claramente a partir da nossa ação.

b) Participação nos fóruns de juventude e nos conselhos de política pela Fase e Diaconia e Ibase

Os educadores e jovens formados pelas atividades dos projetos têm acompanhado os processos de articulação e debate dos fóruns de juventude em Recife e Fortaleza. Tal presença tem estimulado iniciativas de debate, formulação e apresentação de propostas de políticas, tais como a Plataforma da Juventude (em Pernambuco) e o Pacto pela Juventude (em Belém), que foram apresentadas aos candidatos a prefeito dos respectivos estado e cidades. Bem como da Campanha “Sou Jovem e tenho direitos” no Rio de Janeiro.

3.1.3. Formação voltada para a produção de alternativas das condições de vida desenvolvimento de perspectivas educativas e ou profissionais

a) Criação de Produtoras Culturais em Recife e Fortaleza por Diaconia

A partir dos jovens formados pelos CCJs de Fortaleza e Recife, Diaconia tem incentivado o debate a respeito da constituição de produtoras culturais, como uma estratégia dupla de geração de renda para parte dos jovens formados e para difusão da produção dos grupos juvenis. Há uma demanda significativa por incentivo a produção cultural local – inclusive em contraposição a cultura da discriminação e do medo. As favelas, comunidades e bairros onde vivem e atuam não contam com equipamentos nem incentivos para iniciativas dessa natureza por parte do poder público. Em Jangurussú entrevistados citaram casos de jovens talentos que acabaram por assumir trabalhos que exigem pouco de sua capacidade, frustrando suas expectativas. Esta proposta ainda está em fase de implantação, mas tem envolvido ativamente os jovens na sua discussão e efetivação.

b) Implementação e disseminação da Metodologia Tô no Rumo pela Ação Educativa

A implementação da metodologia Tô no Rumo junto aos jovens das escolas públicas demanda a adesão da direção escolar e do corpo docente das escolas, bem como sua capacitação e uma forte dose de acompanhamento pedagógico dos coletivos docentes. Neste sentido, é altamente vulnerável às mudanças na gestão do sistema educacional e muito exigente dos esforços da equipe, o que dificulta a sua expansão quantitativa. Neste contexto, ganha relevância a sistematização do Guia Metodológico, como base para sua adoção por parte de outras organizações e para a discussão de políticas e programas públicos que promovam a qualificação do debate sobre as perspectivas dos jovens no Ensino Médio. As exigências de acompanhamento da própria implementação, aliada às exigências de qualidade de um Guia Metodológico voltado para educadores, contribuíram para o constante adiamento da conclusão do Guia. Recentemente, foi obtido um apoio suplementar que garantiu os recursos humanos necessários para sua finalização. Do mesmo modo, a metodologia é apoiada por um site de referência com informações e análises relevantes para os educadores em torno das opções relacionadas à educação, escolhas profissionais e trabalho.

c) Oficinas produtivas de produção de instrumentos de Capoeira em Salvador apoiados Koinonia

A partir de seu trabalho com as casas de terreiro, Koinonia estabeleceu relação com dois grupos que tinham a perspectiva de fazer da produção de instrumentos um processo de reforço das identidades culturais dos jovens e, ao mesmo tempo, uma alternativa de geração de renda. No Terreiro Abassá de Ogum seriam promovidas oficinas de capoeira, percussão e confecção de berimbau e repique, tendo também por horizonte a possibilidade de formação de um afoxé1. Junto ao Terreiro Viva Deus Bisneto,

1 O afoxé é um cortejo de rua que sai durante o carnaval cujos integrantes são vinculados a um terreiro de candomblé. Vários instrumentos musicais de origem africana são usados para marcar o ritmo entre eles, podemos os agogôs e atabaques.

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onde há o grupo de Capoeira Arte Brasil, seriam apoiadas atividades de produção de berimbaus e atabaques, além de promover junto aos jovens capoeiristas momentos de discussão de temas ligados à sua condição de jovens de terreiro.

Em função de situações delicadas geradas pelas tentativas de relacionar a iniciativa às disputas político-eleitorais por parte da Mãe de Santo do Terreiro Abassá de Ogum, esta relação de parceria foi suspensa, mantendo-se apenas o trabalho com o grupo de capoeira Arte Brasil. Com este, Koinonia apoia a produção material dos instrumentos sob uma perspectiva de afirmação da identidade de jovens do candomblé e de resgate das tradições culturais de respeito com a natureza e os deuses, em função da forma e dos cuidados que perpassam a coleta dos materiais e a fabricação dos instrumentos. Está claro, tanto para Koinonia quanto para o mestre do grupo de capoeira, que a curto e médio prazo a atividade não tem nem a pretensão nem a condição de se transformar em alternativa de geração de renda. O desafio será combinar esta iniciativa com a de uma formação sócio-cultural regular.

d) Oficinas produtivas do MAC. Em Delmiro Gouveia, apoiadas por Koinonia

O MAC - Movimento de Adolescentes e Crianças de Delmiro Gouveia é um grupo que faz parte do Movimento Internacional de Apostolado das Crianças - MIDADEN, Organização Internacional Católica com sede em Paris, França. Está presente em 52 países e se denomina um movimento de Educação, Evangelização e Organização das crianças e adolescentes, conduzido por educadores jovens e adultos que são chamados de Acompanhantes. No Brasil, o MAC tem 45 anos de existência.

Em Delmiro Gouveia o MAC é coordenado pela Sra.Lurdes, profissional e ativista na área da educação de crianças e adolescentes, que leva à frente uma série de atividades voltados para adolescentes e jovens: uma escola de educação infantil, atividades culturais de dança e teatro, escola de pães, oficinas de artesanato (sabonete e bordados). O Projeto apóia especificamente as oficinas de corte e costura e de pintura, no projeto denominado “Pintando a Vida”, junto aos jovens dos grupos de base Capoeira Essência, Fundação Garagem Hip Rock e COPPABACS. Este projeto pretende desenvolver as potencialidades e habilidades dos jovens na pintura de modo a que tenham oportunidades de trabalho e profissionalização nesta área.

Um dos principais desafios mencionados é o de dar conta da profissionalização dos adolescentes e jovens. As pressões para a obtenção de emprego a qualquer custo são grandes, tanto por parte da família quanto pelo próprio desejo de maior autonomia dos jovens. Neste quadro, tanto a participação dos jovens nas oficinas quanto a dos monitores/facilitadores fica bastante ameaçada pela ausência de recursos (bolsa, ajuda de custo, etc.) que sirvam de apoio e estímulo e garantam a continuidade das atividades e da participação.

3.2. Alcance dos públicos

Há indícios de que o alcance público das iniciativas seja bem maior do que a dos participantes diretos dos projetos. A preocupação em atingir um número maior de pessoas está presente em todas as iniciativas, em especial os jovens das comunidades, bairros e favelas onde atuam e nas cidades onde estes estão inseridos. São exemplos de atividades que possibilitam este alcance:

Os seminários, as caravanas de cultura e comunicação e as Sextas na Praça (Diaconia). Nas caravanas os jovens circulam pelos bairros mergulhando no universo juvenil e realizando oficinas, debates, cortejos, apresentações culturais e manifestações políticas. “Os problemas comunitários são levantados e mediatizados pela leitura de seus mundos, pela história do lugar, por suas conquista e seus maiores desafios.”

O repasse para os grupos de origem dos jovens participantes das formações oferecidas pelos executores dos projetos tais como na formação dos JADEs e dos participantes dos cursos de formação de agentes culturais promovidos por Koinonia, os jovens formados nos coletivos de jovens da FASE PE e Belém;

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A realização de atividades específicas junto a públicos diversos (como no caso da Fase Pernambuco em que jovens do Comitê multiplicam seus aprendizados com estudantes da Escola Municipal Dr. Rodolfo Aureliano e Pe. Antônio Henrique);

O envolvimento de centenas de jovens na favela de Santa Marta e nas escolas de Campo Grande em função da metodologia de construção dos mapas territoriais desenvolvido pelo Ibase;

Nos seminários e rodas de conversa abertos promovidos pela Ação Educativa para a discussão de temas relevantes e políticas públicas para a juventude;

A construção de sites, blogs e páginas nas redes sociais que difundem, informações, análises e agendas de eventos, tais como o site To no Rumo, o Viva Favela, o blog da Campanha Agô; o blog www.maisjuventudes; o grupo do Facebook Cidades, mudanças climáticas e ação jovem, e mesmo o perfil dos grupos na mesma rede social.

Os projetos têm lançado mão de outros instrumentos para ampliar seu alcance, como a publicação de fanzines (Fase/PE e Diaconia/PE), difusão de campanhas (Ibase e Fase/RJ, na campanha “Sou Jovem e tenho direitos”), produção e disseminação de vídeos sobre as temáticas trabalhadas (Jade/Ação Educativa, Fase/PA, Viva Favela), realização de ações públicas e intervenções no território (Koinonia, Fase/PA e PE, Diaconia, Ibase), exposições fotográficas (Diaconia/PE, Fase/PA, Viva Favela).

A menor incidência percebida, neste sentido, foi quanto a Fase Rio de Janeiro, na medida em que não foi possível contatar os jovens dos dois anos anteriores do projeto. Os jovens que estão atualmente participando, estão em estágio inicial de formação, sem acúmulo temático e metodológico para tal.

Ainda neste aspecto, a participação em fóruns (juventude, cidade) também tem se constituído em um importante meio de multiplicação da ação junto a outros grupos e pessoas.

3.3. Participação e empoderamento dos jovens no projeto

Em geral, a percepção dos próprios parceiros é de que este é um processo em construção. Em alguns casos mais avançado, outros em processo. Sob o ponto de vista dos jovens, os depoimentos apontam que eles encontram espaço para participar ativamente na definição de temas, na implementação e avaliação das atividades. No entanto, participam em menor grau na concepção ou no planejamento delas, em geral restritos aos membros da equipe gestora e de facilitadores contratados no âmbito dos projetos, ainda que sejam eles mesmos jovens. A participação na gestão integral dos projetos está restrita a alguns pouco casos.

Nos projetos conduzidos pelo Ibase e pela FASE, o planejamento e a avaliação geral do desenvolvimento do projeto a cada ano/período é feito em conjunto com jovens e organizações parceiras. Nas iniciativas em torno das políticas públicas de juventude em São Paulo, a Ação Educativa tem uma relação horizontal com as demais organizações que integram os fóruns municipais e o GT de Juventude da RNSP.

No caso específico dos CCJ/Diaconia, os jovens são estimulados a assumir todo o processo de constituição dos coletivos e das produtoras, definindo eles próprios o formato institucional, a política e princípios, bem como a gestão das iniciativas.

A participação na definição de temas prioritários, na definição de ações e projetos comuns e na avaliação das iniciativas é uma constante nas atividades promovidas no âmbito da Formação dos JADEs, dos cursos de agentes de Koinonia em Salvador e Delmiro Gouveia

Quanto aos recursos financeiros, os grupos locais gerem aqueles que lhes são destinados pelo responsável pela execução do projeto. São esses os casos do Grupo Eco e IFHEP, com os recursos transferidos pelo Ibase; do Escuta, Ceaec, Quebra Kabeça e demais parceiros de Diaconia; do grupo de capoeira Arte Brasil, apoiado por Koinonia. No entanto, a gestão mais ampla do projeto – definição da equipe e gestão dos recursos mais geral, especialmente - é atribuição da organização executora do projeto junto a AIN/OD.

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O projeto em que foi identificada menor participação de jovens é o Viva Favela, na qual, tanto as decisões que produziram as mudanças do perfil e do formato do site, quanto as decisões sobre as postagens, passam por outros canais que não os jovens.

Quanto às alternativas de participação e envolvimento dos jovens promovidas pelos projetos, boa parte dos jovens que os integra atua em grupos e organizações, sejam eles ambientais, culturais, educacionais, comunitários, religiosos, específicos de jovens etc. Os que ainda não tem esse engajamento são estimulados a: i) participar de campanhas e ações de incidência no espaço público; ii) atuar em coletivos diversos, a participar de fóruns e redes de juventude onde geralmente são acompanhados pelas organizações (são exemplos disso a participação no Fojupe, FJRJ, Fórum de Juventudes de Belém, GT e Coletivos de SP) ou de espaços e redes que atuam no âmbito das temáticas do projeto como Conferência da Cidade, articulações que tratam da temática do meio ambiente (Faor e Rejuma, por exemplo), dentre outras; iii) participar das organizações e grupos de seu bairro (encontramos casos de jovens formados pelos projetos que atualmente estão na gestão de organizações).

3.4. Presença de temas e enfoques transversais

Gênero

De maneira geral, a sensibilização existe com o tema sendo abordado e incorporado no universo de trabalho com os/as jovens. Além da presença significativa e praticamente equiparada de mulheres e homens nos grupos e nas atividades desenvolvidas pelos projetos, vem se dando também a abordagem do tema das desigualdades de gênero no mundo do trabalho nas oficinas do Tô no Rumo e a valorização de grupos de mulheres em ambientes do hip hop. Isto se expressa, por exemplo, na organização de “creches” em alguns eventos que facilitam a participação de jovens mães, a exemplo do ocorrido no Seminário Juventude em Movimento, realizado no Rio de Janeiro.

Entretanto, foi observado que ainda há necessidade de aprofundamento do debate e das ações em especial quanto à violência contra a mulher e a maternidade/paternidade juvenil.

Deficiência

Os parceiros foram unânimes em afirmar que a introdução desse tema é mérito da AIN/OD, principalmente pelo fato de que há uma invisibilidade da questão e principalmente de jovens com deficiência. Mesmo assim, a questão tem sido pouco tematizada no desenvolvimento dos projetos, no que pese algumas medidas como o convite a grupos que agregam jovens com deficiência para participarem de eventos e de convite para trabalho – mesmo que isolado e localizado – com deficientes.

A partir da discussão do tema em um dos encontros de parceiros do Programa, algumas organizações passaram a adotar iniciativas de sensibilização e de ampliação do acesso a grupos de jovens com deficiências. Por exemplo:

Inclusão da questão dos jovens com deficiência em caderno da FASE sobre direito à cidade

Legendagem de vídeos realizada pelo Ibase e pela Fase Belém

Realização de parceria com organizações que trabalham com deficientes, tais como a Escola de Gente, no Rio de Janeiro, que possibilitou que no seminário aglutinador Juventudes em Movimento houvesse interpretação em Libras (Língua Brasileira de sinais) e uma sessão de áudio descrição, demonstrando as possibilidades de acesso de deficientes visuais ao teatro

Realização de dinâmicas e vivências junto a participantes do Etapão do curso de formação de agentes culturais de Koinonia, em Salvador, que os colocou com a tarefa de circularem pela cidade simulando condições de jovens com deficiência motora e visual.

Inclusão de tradução em libras nos debates e seminários promovidos pela Ação Educativa.

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O que se percebe é que há uma maior sensibilidade tanto entre as organizações quanto entre os jovens dos projetos, com o tema e um maior incômodo em relação a não se ter muito claro o que fazer, com quem fazer e como fazer.

Seria possível listarmos algumas alternativas de abordagem da questão da participação dos jovens com deficiência:

1. No primeiro nível, mais básico, seria o do envolvimento de jovens com deficiência nas atividades promovidas pelos projetos. Aqui as organizações e os jovens apontam que há problemas principalmente em localizar e identificar jovens com deficiência. Daí se seguem dificuldades adicionais para mobilizar, motivar e possibilitar o acesso às atividades

2. Um segundo nível seria o da realização de parcerias e contatos com grupos/organizações de jovens com deficiência ou que trabalham com o tema. As tentativas existentes serviram para promover ações de troca de informação sensibilização, mas não geraram frutos duradouros em torno de compartilhamento de atividades e de inclusão dos públicos nas atividades dos projetos.

3. Um terceiro nível seria o do diagnóstico ou mapeamento dos jovens com deficiência e de suas condições de vida, saúde, trabalho e lazer. Em todos os locais e níveis – favelas, bairros, municípios – há um profundo desconhecimento sobre quem são os jovens com deficiência, quantos são, como vivem, quais seus problemas, desejos, interesses, etc.

4. Um quarto nível seria o de tematizar o acesso dos jovens com deficiência a direitos (saúde, mobilidade, acessibilidade, lazer, educação cultura, etc.) nos territórios onde vivem e circulam, bem como as políticas públicas que poderiam garanti-los.

Consideramos que todos os projetos têm tanto a necessidade quanto os meios necessários para promover a construção de uma pergunta para os jovens com quem atuam sobre qual é a situação dos jovens com deficiência nos locais em que atuam, abrindo a possibilidade de que sejam deflagrados mapeamentos, diagnósticos, enquetes, rodas de conversa, etc. As informações geradas nestas atividades serviriam tanto para dar visibilidade às suas situações e problemas – o que por si só seria uma contribuição de grande relevância em face da segregação e do confinamento social auto-infligido e derivado da ação e das dificuldades das famílias e comunidades – como apoiar uma reflexão mais consistente sobre como chegar a eles, incorporar e difundir suas questões e propostas e envolvê-los nas atividades.

Diversidades

O respeito às diversidades está bastante presente nos vários grupos e iniciativas visitadas. É generalizada a percepção de que os projetos possibilitaram uma maior convivência entre indivíduos e grupos muito diversos entre si – adeptos do hip hop, roqueiros, skatistas, emos, católicos, evangélicos, protestantes, espíritas, candomblecistas, gays e lésbicas, capoeiristas, poetas, músicos, etc. – e a superação de seus preconceitos pessoais.

Em relação à diversidade de orientação sexual, existem parcerias com grupos do campo LGBT, tais como a existente entre Fase, Ibase e o Conexão G, Diaconia e o grupo Quebra Kabeça, em Recife. Há também a tematização do universo e das manifestações gays nas favelas do Rio de Janeiro, abordadas em matérias e ensaios fotográficos no site Viva Favela. Além disso, há vários integrantes gays nos grupos e coletivos de jovens. No entanto, fomos menos capazes de perceber se esta também seria a percepção das jovens lésbicas sobre os ambientes dos projetos.

Em relação à diversidade religiosa, merecem destaques as iniciativas nas áreas de trabalho de Koinonia que promove claramente o encontro, o diálogo e atuação conjunta de jovens de diferentes expressões religiosas.

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Sustentabilidade ambiental

As atividades de capacitação ocorridas no Programa em torno do tema das mudanças climáticas e justiça ambiental, voltadas para as organizações parceiras, promoveram uma maior abertura e sensibilidade das equipes para o tema. Contribuíram também para a percepção das conexões deste tema com as questões relativas ao direito à cidade e com a questão do consumo. No entanto, a apropriação desta temática por parte dos projetos é bastante desigual e se dá em razão tanto dos acúmulos anteriores quanto das próprias condições dos territórios em que atuam.

Nos trabalhos realizados nos bairros e comunidades em Recife e Belém pela FASE e Diaconia, as conexões entre as condições de moradia e as alterações geradas em função do clima e seus eventos extremos é vivida em toda a sua dramaticidade. Ali são constantes as casas palafitas, os mangues, as enchentes, os deslizamentos de morros, as águas contaminadas, o que torna muito mais visível a correlação entre os fenômenos climáticos e o direito à cidade. Nestes contextos, as organizações parceiras têm promovido debates específicos com os jovens dos projetos e apoiado eventos públicos (exposições, vídeos, semanas de meio ambiente, etc.) que disseminam informações e constroem pautas de ação em torno das questões socioambientais nos territórios.

Nos demais projetos, as capacitações e abordagens do tema junto aos jovens promoveram esta sensibilização geral para a importância das questões ambientais, que imediatamente são traduzidas em questões e ações bastante concretas vividas no território. Entre elas temas tais como lixo, aterro sanitário, saneamento básico e saúde. Várias iniciativas, na maioria delas pontuais, são realizadas em torno destes temas: reportagens, ensaios fotográficos, vídeos, ações de mobilização para coleta de lixo, oficinas de reciclagem, denúncias e reivindicações, etc.

Sob este ponto de vista, pode-se dizer que o olhar ambiental surge e se faz presente na maioria das iniciativas, mas temas como o da mitigação, adaptação e justiça climática são desconhecidos dos jovens e, portanto, distante de suas preocupações. Do mesmo modo, a conexão entre as questões ambientais, os modos de produção e consumo e as questões urbanas como mobilidade e acesso a bens e serviços também se constitui em um desafio para o futuro.

No encontro de parceiros em que foram apresentados os resultados desta avaliação, esta análise foi contestada por um dos parceiros, o que foi reforçado em observação por escrito posterior ao encontro. A avaliação foi considerada severa demais e sugeriu-se que se deveria apreciar as “atividades formativas e político-organizativas dos diferentes grupos como passos em favor de incidência nas políticas socioambientais e como ações de mitigação, adaptação e justiça climática”.

Após analisar e ponderar a contestação feita, nós avaliadores optamos por manter a análise feita. Consideramos que a positividade da sensibilização e da inclusão da questão ambiental junto às atividades e junto aos jovens já está claramente valorizada na avaliação. No entanto, se considerarmos o uso consagrado dos termos mitigação e adaptação em que se dá debate sobre as questões climáticas no Brasil e no mundo, bem como o que pudemos depreender das intenções expressas nos objetivos do programa, seria um uso extremamente alargado dos conceitos considerar que as atividades desenvolvidas pelos jovens ao lutar contra um aterro sanitário ou ao recolher lixo ou realizar uma oficina de reciclagem signifiquem um avanço na direção de resultados assim formulados:

“4.2. Grupos juvenis e redes locais parceiras são ativos na defesa de políticas de adaptação e mitigação das mudanças climáticas em nível global, nacional e regional”

(Resultado do ML do Programa)

Ao nosso ver, uma série de fatores convergem para dificultar o alcance deste objetivo.

O tema das mudanças climáticas, desde 2009, encontra-se em um momento de recuo e baixa no mundo e no Brasil. A PNMC – Política Nacional sobre Mudança do Clima tem se limitado a gerar planos setoriais com baixo grau de participação, transparência e consistência, com exceção ao Plano de Agricultura de Baixo Carbono. Este tema não é prioridade na agenda governamental, que tem enfatizado e direcionado políticas investimentos econômicos e produtivos na direção oposta à de redução de emissões, ou de uma economia de baixo carbono e muito menos de planejamento da adaptação aos efeitos das mudanças climáticas. É possível que o tema internacionalmente retome fôlego com o recente relatório do IPCC e com o anúncio conjunto feito pelos EUA e China em torno de compromissos de redução de emissões. No entanto, a agenda brasileira, que em 2014 estará centrada nas eleições

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presidenciais, indica que provavelmente este tema só será eventualmente retomado em 2015. Neste sentido, há um refluxo generalizado não só das políticas mas também da militância e dos financiamentos da cooperação internacional neste processos globais, nacionais e regionais

A incorporação do tema no programa, que atendeu aos critérios e às prioridades de AIN, não correspondeu às expectativas de crescimento de debate no Brasil, o que parecia que ocorreria após o Brasil ter promulgado a sua PNMC em 2009.

As organizações parceiras tinham poucos acúmulos temáticos (com exceção da FASE) e político-organizativos que pudessem sustentar o tipo de “entrega” (produto) anunciado no resultado. Por exemplo, não são muitas as organizações que conhecem e tenham tematizado junto com os seus jovens aspectos ligados à Política Nacional de Resíduos Sólidos, que poderiam embasar ações dos jovens junto aos governantes locais no sentido de exigir o desenvolvimento dos planos municipais obrigatórios, o que poderia ser uma ação consistente e de eficácia bastante ampla.

Sendo assim, entendemos que talvez o resultado tenha sido formulado muito além da governabilidade do programa e da capacidade existente nas organizações parceiras. Neste sentido, consideramos que não há avanços significativos além daqueles já mencionados em termos de sensibilização e de fomento a ações pontuais com temas relacionados a questões ambientais urbanas, tais como lixo, e reciclagem.

3.5. Sinergias entre as organizações

Existem no programa duas dinâmicas de promoção do diálogo e troca entre as organizações:

a. o encontro anual de parceiros, no qual se combinam objetivos de capacitação temática/metodológica, troca de experiências e monitoramento do programa;

b. encontros temáticos promovidos por uma ou mais organizações, nos quais algumas organizações do programa são convidadas ou motivadas a participar, tais como o evento Direito à Cidade e Justiça Ambiental promovido por ocasião da I SEMEIA Fortaleza, no qual estiveram presentes Diaconia (anfitriã), FASE, IBASE, Ação Educativa e Viva Rio, e o seminário Juventudes em Movimento: direito à cidade para quem?, ocorrido no Rio de Janeiro, que contou – além do Ibase e seus parceiros locais – com a presença de integrantes dos projetos de FASE Pernambuco, FASE Pará, Diaconia Fortaleza e Ação Educativa;

c. Iniciativas conjuntas realizadas nos territórios, tais como os encontros e debates realizados por FASE e Diaconia em Recife, ou o Ibase e a FASE no Rio de Janeiro.

Como resultado destes momentos mais gerais de encontro e troca, algumas organizações, tais como Diaconia, afirmam que se sentiram desafiadas a pensar novos temas e metodologias. Para as demais, há uma clara percepção de que foram sensibilizadas para estes novos temas, mas relatam terem pouca influência imediata sobre suas estratégias de ação. Para os jovens que deles participam, os depoimentos ressaltam a maior sensibilização, a motivação e o enriquecimento pessoal a partir dos novos contatos, informações e identidades em torno das diversas realidades da juventude brasileira.

Em que pesem estes ganhos, percebe-se que há um potencial ainda pouco explorado de troca e aprendizado mútuo entre as organizações no formato atual. Destacamos algumas possibilidades:

1. Os encontros anuais de parceiros poderiam combinar melhor momentos de monitoramento e gestão do programa com momentos de trocas e/ou aprofundamentos envolvendo equipes e jovens na base de sessões ou oficinas paralelas a partir de interesses manifestos entre as organizações. Destas sessões, vistas não apenas como eventos pontuais, poderiam emanar sugestões de ações comuns, de intercâmbio ou aprofundamento a serem incorporadas no planejamento anual do programa.

2. As sistematizações de metodologias cumprem um papel relevante na disseminação de abordagens e metodologias. No Programa, a única menção feita nos planos de trabalho é a da elaboração do Guia Tô no Rumo. No entanto, há experiências no programa cuja riqueza, consistência, inovação e/ou similaridade as tornam fortes candidatas a esforços adicionais de sistematização e de compartilhamento e aprofundamento metodológico. Selecionar algumas destas iniciativas e apoiar os esforços de registro, sistematização e diálogo em torno delas

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pode ser um grande legado do programa para um conjunto amplo de organizações sociais, não apenas para aquelas envolvidas no Programa. Entre as experiências, poderíamos destacar:

O diagnóstico ambiental participativo apoiado em cartografia social promovido pelo Ibase

A metodologia do Museu da juventude promovida por Diaconia

As estratégias de capacitação em mídias digitais e jornalismo comunitário promovidas tanto pelo Viva Favela quanto por Diaconia

A abordagem metodológica e as técnicas para sensibilização e vivência da diversidade religiosa promovida por Koinonia

A Metodologia Tô no Rumo desenvolvida pela ação Educativa

A política pública conquistada em São Paulo, de valorização de iniciativas culturais – VAI

A abordagem temática e metodológica do debate sobre direito à cidade promovida pela FASE

A abordagem metodológica e a grade temática das formações de jovens tais como o JADE (Ação Educativa), Formação de Agentes Culturais Jovens (Koinonia), e a formação junto aos coletivos de jovens pela FASE

3. Neste sentido, a coordenação do programa poderia construir, nos encontros e nas visitas de monitoramento, processos para ajudar a planejar e avaliar estes processo horizontais de troca, reflexão e produção de conhecimento conjunto entre as organizações

3.6. Gestão do Programa

Os depoimentos apontam para a existência de uma relação entre o coordenador do programa pela AIN e os projetos marcado pela qualidade e fluidez do diálogo, pela franqueza e pela capacidade de compreensão da diversidade dos contextos de atuação de organizações também bastante diferentes. As visitas de monitoramento têm contribuído na identificação dos problemas de implementação e no ajuste dos projetos.

No que diz respeito ao monitoramento, identificamos que, apesar dos instrumentos serem sucintos e objetivos, certamente facilitando a sua leitura e apropriação por parte da coordenação do programa, a sua apropriação por parte das organizações no fornecimento de informações relevantes e atualizadas, é desigual: alguns informes permitem captar as modificações de contexto e as mudanças nas implementação. Outros se limitam à reprodução de informações anteriores sobre o contexto e descrevem pouco as mudanças nas estratégias de intervenção.

Durante a avaliação sentimos falta de registros e sistematizações dos debates realizados nos encontros de parceiros, que nos pudessem dar uma ideia das informações compartilhadas e dos planejamentos comuns estabelecidos.

Do mesmo modo, não encontramos em nenhum documento (quadro Lógico, planos quinquenais e anuais ou relatórios) uma descrição mais qualitativa das estratégias de intervenção de cada projeto. O conjunto formado por objetivos um tanto gerais, resultados e indicadores e principais atividades não permite uma compreensão das lógicas que permeiam as estratégias e metodologias de cada projeto. Por isso, inclusive, a tentativa de recuperação desta lógica que está apresentada no item 2.3. do presente relatório.

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4. EFEITOS E AVANÇOS NA DIREÇÃO DOS OBJETIVOS

Fortalecimento dos grupos e organizações de jovens

Identificamos no programa três grandes vetores de fortalecimento dos grupos e organizações de jovens a partir das ações dos projetos.

O primeiro deles diz respeito aos efeitos indiretos nas organizações a partir das mudanças nos jovens participantes do programa. Os depoimentos dos jovens são claros em apontar que a participação nas ações dos projetos tem, no plano individual, trazido ganhos de informação e aquisição de novas capacidades e habilidades técnicas e conversacionais, ampliado percepções sobre outras realidades juvenis e desnaturalizado as condições da realidade em que eles mesmo vivem, ampliado e diversificado a rede de contatos, levado à identificação de novas possibilidades e gerado novas formas de ação social, cultural e política, despertado vocações e criado opções profissionais e gerado mudança de valores pessoais. A partir destas mudanças e ganhos pessoais, muitos destes jovens passaram a integrar coletivos e grupos, a atuar mais ativa e qualificadamente neles, além do efeito multiplicador gerado pelo repasse das informações, contatos e ferramentas adquiridas.

O segundo vetor diz respeito ao apoio direto à constituição e ao desenvolvimento dos grupos. Em alguns projetos os grupos recebem pequenos apoios materiais para a realização de atividades de debate e articulação. Mas de forma generalizada os relatos apontam, sobretudo, para os ganhos em termos de capacidade de acesso a informações, contatos e capacidade de articulação social e política e ação conjunta com outros grupos, capacidades de planejamento e organização de ações, acesso inédito a espaços e oportunidades de desenvolvimento e demonstração pública de seus trabalhos, técnicas e metodologias para trabalho com seus jovens e aumento de visibilidade nas regiões em que atuam.

O terceiro vetor diz respeito aos impactos resultantes de políticas públicas que, fruto de processos de articulação e incidência dos grupos de jovens junto ao poder público, geraram a ampliação de oportunidades de acesso aos espaços públicos por parte dos grupos jovens. Nesta direção podem ser mencionados a garantia do orçamento para a política do VAI, em São Paulo, e a aprovação pela Câmara Municipal de Belém de 14 das 18 propostas apresentada pelo Pacto pela Juventude, para o Plano Plurianual municipal em 2013.

Alcance e efeito multiplicador

São vários os depoimentos dos jovens relatando as práticas de repasse de informações e ferramentas adquiridas nos projetos para os demais jovens que circulam em seus coletivos e organizações. Mais além deste circuito direto, existem várias iniciativas de disseminação ampla de conteúdos junto a outros jovens e seus grupos a partir da produção de vídeos, cartilhas, fanzines, blogs, reportagens, páginas nas redes sociais e ações em escolas públicas e eventos públicos nas comunidades ou municípios, tais como festivais, semanas de debate, rodas de conversa, seminários. Há poucos dados consolidados sobre este alcance, mas o desenho das iniciativas aponta que há um grupo maior de jovens que de forma relativamente sistemática é alcançado pelas ações e produtos gerados no âmbito do Programa.

Ampliação da participação política

A participação política dos jovens envolvidos no projeto tem se dado tanto no plano do território, do município e nas questões mais gerais. No plano local, vários projetos promovem ações de incidência no território junto aos jovens, moradores e envolvendo outros atores sociais e políticos. São exemplos: as Semanas de Meio ambiente em Peixinhos, Olinda, e em Fortaleza; as ações de incidência que estão em fase de planejamento em Campo Grande e na favela Santa Marta, Rio de Janeiro; As reportagens sobre as condições de vida, saúde e segurança das favelas elaboradas pelos correspondentes comunitários do Viva Favela.

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No plano municipal, são várias as iniciativas endereçadas para problemas que afetam a juventude ou a população como um todo. São exemplos: as ações promovidas pelos agentes culturais jovens de Paulo Afonso e Delmiro Gouveia em torno de questões de lixo e aterro sanitário; a elaboração das plataformas políticas de juventude formuladas por articulações de jovens e apresentadas aos candidatos a prefeitura em São Paulo, Recife e Belém; a articulação em fóruns e comitês contra o genocídio/extermínio dos jovens negros, em São Paulo, Belém e Recife; a participação na manifestação pública pela integridade do Parque Ecológico do Rio Cocó, em Fortaleza; a formulação do Pacto pela Juventude, em Belém, com propostas para o orçamento público da cidade de Belém para o período 2014 a 2017; as articulações e ações de lobby junto aos parlamentares de São Paulo para garantia de recursos orçamentários para a política pública VAI- Valorização de Iniciativas culturais e para a elaboração de uma política semelhante voltada para o esporte: o VAI Esporte e de um VAI 2.

No plano mais geral, merecem destaques a participação de jovens na Rio+20, em 2012 e nas manifestações de junho de 2013, que tomaram inúmeras cidades do país. Na Rio+20, delegações, de diferentes tamanhos, de jovens dos projetos foram ao Rio de Janeiro e integraram atividades da Cúpula dos Povos com foco nas questões de juventude e meio ambiente; no período de sua preparação houve promoção de atividade em São Paulo no âmbito da Rio + Você. Por ocasião das manifestações em junho, foram vários os relatos dos jovens que, individualmente ou em grupos organizados, foram às ruas protestar e apresentar suas pautas e demandas, muitas delas construídas ou sendo discutidas no âmbito dos projetos. Bem como de produzir e expressar suas posições em publicações como na Revista Democracia Viva, do Ibase. Além disso, encontraram nos espaços promovidos pelos projetos a oportunidade de refletirem sobre as formas de ação política, os significados e as perspectivas abertas por estas manifestações.

Sustentabilidade

Existe por parte dos jovens e seus grupos envolvidos nos projetos um alto grau de apropriação geral dos conteúdos das formações e capacitações, o que sugere que sua internalização e a incorporação na vida e nas práticas sociais e organizativas também venham a ser significativas.

A grande maioria das organizações e dos grupos de jovens existe antes dos projetos, não possuindo, portanto, dependência de recursos do Programa. Tal situação oferece garantias de que os grupos terão sua continuidade determinada por outros fatores que não a existência dos projetos e das organizações executoras. Ao contrário, os novos contatos, conexões e articulações, bem como a aquisição de novas capacidades de organização de informações e planejamento adquiridos ao longo do período ampliam as possibilidades de estabelecimento de novas parcerias e acesso a novos tipos de recursos e apoios por parte dos grupos.

Este é o caso dos grupos de jovens, em Delmiro Gouveia, por exemplo, cujos grupos de jovens estão bastante familiarizados com os programas públicos que destinam recursos para ações junto aos jovens, como o ProJovem, e se articulam para apresentação de propostas visando acessar seus recursos.

No caso das organizações parceiras do Ibase, o Ifhep recebe contribuição financeira importante mas não determinante, e buscam formas próprias de se manterem. A apropriação das temáticas pelo Ifhep já se dá nos seus cursos. Por sua vez, o grupo Eco tem uma história longa de autonomia e aposta nas campanhas de ação pública e incidência como uma nova forma de presença política, visibilidade e de acesso a apoios. No caso do Conexão G, que também existe autonomamente e com apoios próprios, será necessário verificar no futuro o quanto que a agenda do direito à cidade terá sido internalizada e articulada com suas próprias pautas.

No caso dos coletivos acompanhados pela Fase, em Recife e Belém as relações entre os ativistas e os espaços comuns ocupados tendem a permanecer, na medida em que há um alto grau de autonomia por parte dos jovens que conduzem esta dinâmica. Em Belém, aposta-se na reconstituição do GT Juventude do FAOR a partir dos jovens das várias organizações com os quais o projeto tem contato, nas atividades promovidas em parceria com a Unipop e a UFPA. Deste modo, estaria garantido um espaço mais permanente de encontro e articulação dos jovens. No que diz respeito ao trabalho com jovens da Fase Rio, o trabalho está bastante incipiente e dependerá tanto de evolução da intervenção quanto da prioridade que o tema da juventude terá no programa da instituição.

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No caso dos CCJ acompanhados por Diaconia, há uma aposta de que construção das produtoras culturais garanta a sustentação econômica de alguns jovens e de suas atividades de formação e ativismo sociocultural nos territórios em que atuam. Além disso, há investimentos e esforços para manutenção e reprodução dos trabalhos com jovens, via mobilização de recursos de outras fontes. O trabalho está ancorado em organizações parceiras locais, elas mesmas realizando movimentos de busca de apoios além do projeto.

Em relação ao Viva Favela, a apropriação e a sustentação social e política por parte dos jovens moradores de favela ainda é uma aposta a ser checada na nova versão 3.0. No entanto, as medidas recentes que estão sendo implementadas como decorrência dos resultados da avaliação parecem apontar na direção do resgate e da promoção da participação ativa e colaborativa dos jovens. Além disso, existe a proposta de ampliação deste modelo para jovens usuários de drogas abrigados nas Casa Viva, bem como para outros municípios/territórios de ação do Viva Rio com lideranças e agentes comunitários, não necessariamente jovens.

No caso da formação dos JADEs, o modelo supõe uma condução metodológica a partir de um núcleo de educadores e um alto grau de disponibilidade e comprometimento dos jovens com o programa, no que a bolsa trabalho é um fator relevante para a redução de pressões sociais e familiares de ingresso imediato no mercado de trabalho. Neste sentido, a Ação Educativa vem estudando a possibilidade de alterar o formato, descentralizado-o e reduzindo as demandas por recursos para deslocamento e, consequentemente, viabilizando a concessão de bolsas que mantenham os jovens disponíveis para o programa e para a construção de suas alternativas profissionais e educacionais. Há uma busca de novos apoiadores para o programa, em fase de sondagens.

Com relação à metodologia Tô no Rumo, outros apoios estão viabilizando o processo de sistematização da metodologia, que fortalecerá a sua disseminação. Já está em curso a expansão da metodologia junto à rede escolar do município de Santo André, com apoio tanto público quanto de fundações privadas. A partir desta expansão e da disseminação da metodologia crescem as possibilidades de que ela venha a ser mais amplamente adotada como política pública. O esforço de transformar o Tô no Rumo em uma política publica e de incluí-lo nos planos plurianuais da Assessoria de juventude do município buscam diminuir as vulnerabilidades e dar escala ao modelo de intervenção.

No caso dos espaços de articulação e incidência como o GT Juventude da RNSP, há uma solidez no processo de articulação que garante a continuidade dos processos de diálogo e articulação. Cabe ressaltar, no entanto, que o Programa apoia a participação direta de um membro da equipe da Ação Educativa na função de secretaria executiva do GT Juventude, papel que tem sido considerado fundamental para a sua existência e para a sua qualidade. No entanto, a perda do apoio de outro financiador para esta atuação tem implicado na diminuição das horas dedicadas a essa secretaria executiva.

Por fim, cabe ressaltar que desde janeiro 2013, a AIN conta com um gerente financeiro no Brasil, que tem como parte do seu trabalho mapear oportunidades com algum potencial relacionado aos parceiros da AIN, incluindo o programa OD. Desde abril 2013, 8 editais foram identificadas na área de juventude, as informações sobre os quais foram repassadas aos parceiros relevantes em cada caso. Este serviço continuará como parte deste novo cargo, com vistas a ampliar as possibilidades de continuidade dos projetos.

5. Algumas lições emergentes

De modo muito preliminar, resgatamos sinteticamente alguns aprendizados ou achados que emergem das experiências implementadas no âmbito do Programa.

1. Juventude, mídia, cultura – Parece claro que as iniciativas que combinam a discussão de temas de juventude com a geração de produtos e ações de natureza cultural têm forte poder de atração e de gerar comprometimento dos jovens, além de ampliar a capacidade de diálogo e interlocução com aqueles jovens que não participam das atividades. Nesta direção estão também as capacitações em torno do universo digital.

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2. Alguns processos de formação baseados em apresentações, palestras e produtos do tipo apostilas e cartilhas – que remontam às experiências da educação da década de 70 e 80 – não alcançam o mesmo sucesso entre os jovens. Por outro lado, a promoção de vivências, intercâmbios culturais e produtos/iniciativas tais como fanzines, vídeos, videoclipes, posts em redes sociais, exposições, teatros, shows musicais, batalhas e intervenções culturais de modo mais geral têm se mostrado estratégias e linguagens mais eficazes e efetivas. Nesta perspectiva, várias experiências de formação poderiam explorar melhor o uso de plataformas e linguagens diferenciadas.

3. Processos de formação de médio e longo prazo têm maiores e mais consistentes efeitos nos jovens quanto às suas percepções, seus valores, seus ganhos de conhecimento e de novas habilidades e ferramentas de interação e para a ação social. Os processos de curto prazo baseados em dois ou três encontros, provocam aproximações, contatos e novas sensibilidades, mas com baixo poder de capacitação e mudança real. No entanto estes processos mais longos são mais exigentes em termos de recursos metodológicos, capacidades pedagógicas para a organização e condução dos processos de diálogo e reflexão e recursos materiais e financeiros.

4. Embora várias das estratégias educativas e metodológicas incorporem em seu interior a dimensão do diagnóstico da realidade local como parte do processo de reflexão e aprendizado e planejamento para a ação, a experiência de diagnóstico combinada com a da representação visual/espacial (cartográfica, fotográfica, vídeo, etc.) dos problemas do bairro ou da cidade amplia as possibilidades de percepção dos processos de distribuição desigual dos recursos, bens, serviços, capacidade de circulação na cidade, dando à discussão do direito à cidade uma expressão bastante concreta e poderosa, fixada em imagens carregadas de sentido, além de permitir a correlação entre diferentes aspectos e dimensões da realidade em um único instrumento síntese.

5. A promoção de oportunidades de encontro, interação e diálogo entre diferentes grupos/tribos jovens tem mostrado importantes efeitos na desconstrução de imagens sobre as juventudes produzidas pela mídia e pela sociedade mas que são também internalizadas pelos próprios jovens. Neste sentido, a experiência de mapear os vários grupos e tipos de juventude num determinado território e promover aproximações entre eles, produz por si só efeitos e desdobramentos surpreendentes.

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ANEXOS

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I – Relação de entrevistados

Ação Educativa Coordenação e equipe técnica

Magi Freitas – coordenadora do Programa de Juventude Raquel Souza – Coordenadora do Programa Trajetória Juvenis, Educação e Trabalho Gabriel di Pierro – responsável por políticas públicas Bárbara Lopes (Babi) – assessora de comunicação Natália Lago – formadora dos JADEs

Parceiros Desafio de Fio a Pavio – Bruna Tiengo Revolução RAP – Mano Zoio UNAS Heliópolis – Danilo GT Juventude Rede Nossa São Paulo – Patrícia Rodrigues (Associação MOSCA) e Marcos Dantas (IPJ – Instituto Paulista de Juventude) Escola Estadual Moacir Campos – Regina Hoshino

Jovens Monitores JADES - Bárbara Alves e Luís Felipe Formandos JADE – Arthur (18), Mariane (17), Rodrigo (18), Thayna (17), Lucas (18), Rebeca (19), Camila (19), Marcelo (17), Monique (16), Graziellenn (17), Igor (16), Igor (17), Wellison (18), Robson (16), Fernanda (17), Robson

Diaconia

Coordenação e equipe

Coordenador de Programas: Marcelino Equipe RMR: Gleisi, Camila, Joselito Equipe RMF: Eliane, Alessandra, Lúcia e João Paulo

Região Metropolitana de Recife

Parceiros Ceaec Peixinhos: Lúcia (coordenadora Geral), Juliana (Tesoureira e ex aluna do PeixeArte) Fojupe: Waneska Bonfim (Etapas), Janaína Ferraz (Centro Sabiá), Mariana Lima. Nascedouro de Peixinhos: Selma Vasconcelos (Gestora do CTCD)

Jovens Grupo Quebra Kabeça: Everton Antônio dos Santos (24 anos). Mailson de Souza (24 anos), Carlos Eduardo - Duda Pantera (32 anos), José Francisco dos Santos (26 anos). PeixeArte: Grupo Pedra Polida – Teatro: Elaine (26 anos, educadora de teatro), Ricardo, Alex Lopes, Daniely Oliveira, Marcela Alvez Barbosa, Renata Gomes dos Santos (todos os jovens tem entre 13 e 20 anos) PeixeArte: comunicação: Renato Barbosa - Tite (26 anos, educador de comunicação), Erika Santana (12 anos), Márcio Vicente (15 anos) Adriano Albuquerque (15 anos), Vitor Miguel (16 anos), Mikaellen Santana (12 anos), Taynara Andressa (15 anos). CCJ Recife: Carlos (educador de Fotografia), Gabriel (educador de Design), Wanderson, Lidiane, enata, Micaele, Elisabeth, André, Eliabe, Wagner e Talita (alunos dos cursos).

Mãe de aluna Luciene Mateus, 33 anos. Mãe de Renata, grupo de teatro do PeixeArte/RMR.

Região Metropolitana de Fortaleza

Parceiros Escuta – Espaço Cultural Frei Tito de Alencar: Lúcia (gestora) Coordenação colegiada da Reajan: Manuel, Márcia e Joana D'Arc.

Jovens Núcleo de Jovens da Reajan: Luana Batista, Pâmela Virginia e Ednaldo CCJ Fortaleza: Sávia, Murilo, José Soares, Henrique, Micinete, Djaci José, Dálvio e Jonas de Jesus. Escuta: Edvânia, Carla, Luan e Cadú.

Fase Coordenação e equipe técnica

Nacional: Joana Barros (assessora do Programa Direito à Cidade e coordenadora do Projeto) Pará: Aldebaran Moura e João Gomes Pernambuco: Adelmo Araujo Rio de Janeiro: Aércio Oliveira, Mônica Ponte e Rachel Barros.

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Parceiros

Pará: Aldalice Otterloo e Patrícia (Unipop), Carlos Gouveia (Coletivo de Jovens e Meio Ambiente) Pernambuco: Vilma Moraes Silva (Diretora da Escola Municipal Rodolfo Aureliano) Rio de Janeiro: Mauro (Conexão G)

Jovens Comitê Juvenil pelo direito à cidade e justiça ambiental na RMR: Felipe Bernardo (18 anos), participa da Reju; Verônica Sales (24 anos), é do coletivo de teatro ContinuArt; Paulinho (17 anos), é da PJMP; Renata Cibely (26 anos), professora da Escola Rodolfo Aureliano; Eliedson Machado da Silva – Léo (27 anos), é membro da Rejuma. Comitê Juvenil pelo Direito à Cidade e Justiça Ambiental da RMB: Ainá Gomes (24 anos), Luciano Santos (18 anos), Camile Rodrigues (20 anos), Francisco Pereira Filho – Primo (28 anos), Jairo (24 anos). Jovens da Maré: Otílio (20 anos), Roberto (16 anos), Alan (16 anos), Marciléia (21 anos), Davi (18 anos), Joana (17 anos), Ingrid (13 anos), Kevin (21 anos), Tainá (16 anos), Juliana (14 anos), Iasmim (14 anos), Bruna (19 anos).

Ibase Coordenação e equipe técnica

Coordenador: Itamar Santos Técnica: Marina Ribeiro

Parceiros IFHEP: Rose, Tobias e Daniel (todos membros da diretoria do Instituto) FEUC: Célia Regina Neves da Silva (coordenadora do curso de Ciências Sociais e fundadora do IFHEP) Grupo Eco: Dona Geralda, Luis Fernando, Jocélia, Dorlene e Simone.

Jovens IFHEP: Guilherme Alves (21 anos), Ana Carolina (24 anos), Monique (17 anos), Juliana (19 anos), Ana Paula (24 anos). Grupo ECO: Rodrigo (24 anos), Lilian (20 anos), Paulo Silas (21 anos), Bárbara (22 anos), Amauri (21 anos) e Edson (24 anos)

Koinonia Coordenação e equipe técnica

Rafael Soares de Oliveira – diretor executivo Jorge Atílio – Assessor

Delmiro Gouveia Equipe Quitéria Gonçalves da Silva – Articuladora Regional Delmiro Gouveia e Paulo

Afonso Josemar Soares – facilitador Delmiro Gouveia

Parceiros MAC – Lurdes Jovens MAC - Cosmo Soares (20), Jefferson (18), Thais (16), Neverton, Naria (15), Daniela

(16), Danete (19), Pastoral da Juventude PJ − Felipe (18), Josemar (22) Capoeira Essência − Hilton(22), Coletivo Cultural Macondo −Caio (18) Movimento Eucarístico Jovem MEJ -Juliana (14) Garage Hip Rock – Kani (15), Raise (13), Milena (15), Marcelle(13), Jacilene (14), Ueverton (20), Serginho (17), Pedro (17), Cassiano (15), Deivyson (25), Cleiston

Paulo Afonso Equipe Simone e Manoela (15) – facilitadoras em Paulo Afonso

Salvador Equipe Conceição – Assistente de Programa em Salvador

Laina – assessora jurídica - Salvador Vivian- articuladora de Juventude em Salvador Edjane Beto (ex articulador)

Parceiros Art Brasil Capoeira – Cesar Jovens Jovens de Terreiros - Naiara (16), Érica (25), Washington (14), Gleidson (16)

Art Brasil Capoeira – 18 jovens com idades variando de 13 a 18 anos

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Viva Rio Coordenação e equipe técnica

Ronaldo Lapa – Coordenador de comunicação do Viva Rio Xico Vargas – Coordenador do Viva Favela Virgínia Rigot-Muller – Editora do site Walter Mesquita – editor de fotografia e audiovisual Tamiris Barcellos - fotógrafa Francili Costa e Debora Pio – professoras de oficinas Paulo André Vieira – Web Designer Marciano Rodrigues - Designer de Artes Gráficas Lucas Almeida, Thathiana Gurgel e Mariana Alvim, Roberta - Estagiários

Parceiros Educap – Lúcia Cabral e João Jovens Guilherme (32), Willian de Oliveira (41), Fernando Mascote (20), Rodrigues Moura,

Wally Hermann (50), Viviane Ribeiro, Eli Geovane (24), Cláudia (30), Juliana Portella (22), Demerson Couto (24), Aparecida, Daniel

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II – Roteiros de Entrevista

1.1. Equipe Gestora dos Projetos

O Projeto na organização 1. Que interesses motivaram a proposta do projeto? 2. Que setores estão diretamente envolvidos na implementação do projeto? Quem está envolvido

na gestão e como ela se articula na organização? 3. Quais outros programas ou projetos da organização se articulam com o projeto e como se dá

esta articulação? Implementação

4. As atividades foram realizadas de acordo com o que foi planejado? Se não, por quê? Alguma/s atividade/s deixou/deixaram de ser executada/s? Qual/quais?

5. Quais das metas expressas no plano de ação e nos indicadores de resultado do projeto foram alcançadas ou com perspectiva de sê-lo e quais estão comprometidas ou ameaçadas? Por quê?

6. Existe alguma limitação, dificuldade ou risco para a implementação, o acompanhamento do projeto e o alcance dos seus resultados? São fatores ligados à gestão do projeto e da organização? Ou fatores ligados aos públicos e ao contexto?

7. Foram tomadas medidas para mitigar ou reduzir tais dificuldades ou riscos? Houve ajustes na implementação ou na estratégia do projeto? Quais?

8. Como tem se dado a relação de sua organização com as demais participantes do programa? Que atividades ou iniciativas realizaram em conjunto? Qual a avaliação destas ações? Que fatores têm facilitado ou dificultado a relação? Como aproveitar melhor o potencial de sinergias entre os parceiros?

9. Como a AIN pode melhorar a contribuição para o programa como um parceiro de diálogo e facilitador de sinergias e intercâmbios?

Engajamento dos jovens no projeto 10. De que forma os jovens envolvidos no programa têm participado do projeto? De que maneira

concreta e em quais momentos (fases) se deu esta participação (desenvolvimento, implementação, avaliação)?

11. Há diferenças de envolvimento entre o contingente de jovens até aos 19 anos e o outro acima dos 19 anos? Por quê?

12. Quais são/têm sido os principais desafios na mobilização dos jovens? Que dificuldades e quais aprendizados de vocês?

Temas transversais 13. Os projetos têm integrado questões transversais como igualdade de gênero e inclusão de

jovens com deficiência nos projetos? Quais as estratégias que foram usadas? 14. Caso não sejam questões integradas nos projetos, quais os esforços feitos para fortalecer esta

atuação? 15. A sustentabilidade ambiental tem sido tema integrado nos projetos? Qual a relevância deste

tema para os jovens? Como o formulam? Impacto

16. Em que medida o projeto propiciou mudanças na vida das/dos beneficiárias/os quanto: (a depender do enfoque do projeto) – Mencione exemplos:

i) ao conhecimento sobre seus direitos; ii) relação com a cidade; iii) participação política; iv) consciência ambiental; v) relação com a diversidade de gênero, deficiência.

17. Até que ponto os projetos têm alcançado jovens além dos diretamente envolvidos nas atividades principais?

18. Em que medida o projeto potencializou/fortaleceu a organização da juventude? Como isto pode ser observado? Que estratégias tem sido utilizadas? O que tem dado certo e o que não?

19. Quais são os espaços concretos apresentados/promovidos pelo projeto para o envolvimento e participação social e política dos jovens? Dê exemplos (Por exemplo, em organizações comunitárias, espaços públicos, atividades de advocacy, etc).

20. Quais são/têm sido os principais desafios na mobilização dos jovens? Que dificuldades e quais aprendizados de vocês?

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21. Os jovens envolvidos nas atividades têm tido um "efeito multiplicador" positivo para outros jovens em suas comunidades / redes? Como isto tem se dado?

22. Como se verifica a possibilidade de incidência das ações do projeto nas instituições e nas políticas setoriais / setores locais? Mencione alguns exemplos.

23. Quais são outros impactos (efeitos indiretos) existentes ou potenciais do projeto até o momento?

Sustentabilidade 24. Quais são, atualmente, as condições e os limites para que as organizações venham a assumir

a continuidade das atividades ou processos dos projetos? 25. O que está sendo feito no sentido de construir capacidades e competências para a

continuidade às atividades ou processos dos projetos? Considerar aspectos que apontem para a. Viabilidade econômica (capacidade financeira dos parceiros locais e dos beneficiários

para dar continuidade às ações, existência de outras fontes de recursos, etc). b. Apropriação social c. Capacidade técnica e de gestão (institucional e de manejo da realidade local). d. Apoio político-institucional e setorial.

26. Quais são as expectativas de continuação das ações do projeto depois do término do financiamento da OD/AIN? Quais ações ou benefícios deverão continuar e terão mais chance de se multiplicarem?

1.2. Responsável pelo Acompanhamento de AIN

1. Como se caracterizou o processo de acompanhamento / monitoramento do projeto? Foi criado algum mecanismo e algum instrumento de gestão específico para o acompanhamento? Quais foram as principais dificuldades encontradas no acompanhamento do projeto? Qual foi seu papel e sua participação no acompanhamento do projeto?

2. Como analisa os encontros coletivos do programa? Como analisa os contatos individuais com as organizações participantes? Na sua opinião, nesses espaços era possível fazer uma análise crítica do andamento do projeto e do alcance de resultados e objetivos? Que assuntos ou temas eram mais destacados? Todos participavam de maneira igualitária ou havia destaque de algum grupo ou setor?

3. Quais limitações ou riscos podem ter dificultado a execução do projeto e o alcance dos seus resultados? Foram tomadas medidas para mitigar ou reduzir tais riscos? De que tipo?

4. Na sua opinião, como têm se dado as relações entre os parceiros do projeto (AIN, OD, parceiros)? Que atividades ou iniciativas realizaram em conjunto? Qual a avaliação destas ações? Que fatores têm facilitado ou dificultado a relação? Como aproveitar melhor o potencial de sinergias entre os parceiros?

Implementação 1. As atividades foram realizadas de acordo com o que foi planejado? Se não, por quê? Alguma/s

atividade/s deixou/deixaram de ser executada/s? Qual/quais? 2. Quais das metas expressas no plano de ação e nos indicadores de resultado do projeto foram

alcançadas ou com perspectiva de sê-lo e quais estão comprometidas ou ameaçadas? Por quê?

3. Como avalia os mecanismos e procedimentos de gestão específicos das organizações parceiras para implementar e acompanhar / monitorar o projeto?

4. Identifica alguma limitação, dificuldade ou risco para a implementação, o acompanhamento dos projetos e o alcance dos seus resultados? São fatores ligados à gestão do projeto e da organização? Fatores ligados aos públicos e ao contexto?

5. Como avalia a tomada de medidas adequadas para mitigar ou reduzir as dificuldades ou riscos encontrados? Os ajustes foram adequados e/ou suficientes?

6. Como a AIN pode melhorar a contribuição para o programa como um parceiro de diálogo e facilitador de sinergias e intercâmbios?

Engajamento dos jovens no projeto 7. Como avalia o envolvimento dos jovens nos projetos, quanto à intensidade, às formas e aos

momentos (fases) desta participação (desenvolvimento, implementação, avaliação)? 8. Identifica diferenças de envolvimento entre o contingente de jovens até aos 19 anos e o outro

acima dos 19 anos? Por quê? 9. Quais são/têm sido os principais desafios na mobilização dos jovens? Que dificuldades e quais

aprendizados localiza?

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Temas transversais 10. Os projetos têm integrado questões transversais como igualdade de gênero e inclusão de

jovens com deficiência nos projetos? De que forma? Como avalia os esforços feitos nesta direção?

11. A sustentabilidade ambiental tem sido tema integrado nos projetos? Qual o peso e a relevância deste tema para os jovens e para as organizações parceiras?

Impacto 12. Identifica sinais ou evidências de que os projetos estejam propiciando mudanças na vida

das/dos beneficiárias/os? Em que dimensões/aspectos? (a depender do enfoque do projeto) – Mencione exemplos:

i) ao conhecimento sobre seus direitos; ii) relação com a cidade; iii) participação política; iv) consciência ambiental; v) relação com a diversidade de gênero, deficiência.

13. Até que ponto os projetos têm alcançado jovens além dos diretamente envolvidos nas atividades principais?

14. Em que medida os projetos potencializaram/fortaleceram a organização das juventudes? Como isto pode ser observado?

15. Diante das estratégias utilizadas, o que parece dar certo? E o que não? 16. Quais são os espaços concretos apresentados/promovidos pelos projetos para o envolvimento

e participação social e política dos jovens? Dê exemplos (Por exemplo, em organizações comunitárias, espaços públicos, atividades de advocacy, etc).

17. Quais são/têm sido os principais desafios na mobilização dos jovens? Que dificuldades e quais aprendizados que podem ser observados nos projetos?

18. Em que medida os jovens envolvidos nas atividades têm tido um "efeito multiplicador" positivo para outros jovens em suas comunidades / redes? Como isto tem se dado?

19. Quais são as possibilidades de incidência das ações dos projetos nas instituições e nas políticas setoriais / setores locais? Mencione alguns exemplos.

20. Quais são outros impactos (efeitos indiretos) existentes ou potenciais dos projetos até o momento?

Sustentabilidade 21. Quais parecem ser, atualmente, as condições e os limites para que as organizações venham a

assumir a continuidade das atividades ou processos dos projetos? 22. Como avalia os esforços feitos até o momento pelas organizações no sentido de construir

capacidades e competências para a continuidade às atividades ou processos dos projetos? Considerar aspectos que apontem para

a. Viabilidade econômica (capacidade financeira dos parceiros locais e dos beneficiários para dar continuidade às ações, existência de outras fontes de recursos, etc).

b. Apropriação social c. Capacidade técnica e de gestão (institucional e de manejo da realidade local). d. Apoio político-institucional e setorial.

1.3. Jovens e Grupos de jovens

Engajamento no projeto 1. Nomes e idades dos entrevistados/participantes da conversa 2. Como tomou conhecimento do Projeto? Desde quando está participando do Projeto? 3. De quais atividades ou oficinas você/s participaram? 4. Participaram da etapa que “pensou” ou elaborou o projeto? Participaram das ações?

Participaram de algum evento de balanço ou avaliação além deste aqui? 5. O que acharam mais legal, mais interessante nas atividades? 6. Quais os temas que vocês têm debatido ou aprofundado? [Identificar e provocar o grupo em

relação às questões de gênero (desigualdade e as relações entre homens e mulheres/feminino e masculino): tem sido abordadas? Como? E as questões ambientais? Quais questões e qual o peso e a importância no debate]

7. Tem diferença de envolvimento e de participação entre os jovens com menos de 19 anos e os com mais de 19 anos no projeto? Quais e por quê?

8. Como tem sido a participação das jovens? E dos jovens com deficiência? Como? Exemplos. Resultados e Impactos

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9. Além das atividades do projeto, em que outras organizações ou espaços vocês atuam ou participam? Já atuavam/participavam antes ou foi a partir do envolvimento com o projeto ou a organização [X,Y ou Z]?

10. Qual é o ganho que você/s tem no envolvimento com este projeto? A participação no projeto ajudou a mudar alguma coisa na/s sua/s vida/s? O que? (Questionar sobre as mudanças em relação ao conhecimento sobre seus direitos, ao acesso à cidade, a consciência ambiental, a participação política, as relações de gênero e sobre pessoas com deficiência)

11. E outros jovens que não participam diretamente do projeto? As coisas que vocês vive, experimentam e discutem chegam a eles? De que forma? Dê exemplos

12. [Para organizações juvenis] Quais são os ganhos que sua organização tem tido ao estar envolvida com este projeto?

Desafios 13. O projeto tem a intenção de apoiar a organização e a mobilização dos jovens em torno dos

seus direitos. Na sua opinião, quais são os desafios que existem hoje para fazer os jovens se mobilizarem e se engajarem? O que funciona/dá certo e o que não funciona? Você s acha que o projeto está conseguindo fazer isto bem? O que poderia ou deveria melhorar?

Sugestões/Recomendações 14. Tem algum tema que você gostaria de sugerir e alguma coisa que eu não perguntei mas que

você gostaria de dizer e comentar? O que não está bem, o que falta ou precisa melhorar? 1.4. Autoridades Locais

1. O que o(a) senhor(a) conhece do Projeto? Como vê o desempenho deste Projeto? 2. Qual sua opinião sobre a visibilidade do Projeto? É um projeto conhecido nas estruturas

institucionais do estado/município? 3. Como se caracteriza a participação, contribuição ou apoio ao Projeto por parte da instituição

(ou setor) que o senhor(a) representa? Que tipo de relação se estabelece? 4. Na sua opinião, em que o Projeto contribui para a melhoria da política ou da gestão da

instituição (ou setor) que o(a) senhor(a) representa? Há alguma mudança observada? 5. Na sua opinião, em que medida o projeto vem contribuindo ou poderá contribuir para...(tratar

das questões específicas de cada projeto) 6. O Projeto motivou ou facilitou a criação de algum tipo de serviço ou normativa na instituição ou

setor da sua atuação? Exemplifique. 7. Na sua opinião, em que medida o Projeto estimulou o diálogo e/ou a aproximação do poder

público com as organizações da sociedade civil em especial, com as organizações juvenis?