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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” A CONTRIBUIÇÃO DO LÚDICO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL Maria Helena da Silva Orientadora: Professora Maria Poppe Rio de Janeiro Setembro/2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

A CONTRIBUIÇÃO DO LÚDICO NO PROCESSO DE

APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Maria Helena da Silva

Orientadora:

Professora Maria Poppe

Rio de Janeiro

Setembro/2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

A CONTRIBUIÇÃO DO LÚDICO NO PROCESSO DE

APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Maria Helena da Silva

Apresentação de monografia à Universidade Cândido Mendes como requisito parcial para obtenção do Grau de Especialista em Psicomotricidade.

Rio de Janeiro

Setembro/2004

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos os professores do Curso Pós Graduação

em Psicomotricidade. Por sua competência e dedicação

que tiveram no decorrer do Curso.

Obrigado meu Deus! Por tudo que tens me dado até hoje.

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DEDICATÓRIA

Aos meus queridos alunos que sempre me impulsionaram

a buscar recursos para melhor ensiná-los.

Amo vocês!

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“ O ato transforma o pensamento, o

gesto transforma a palavra e o corpo

transforma a consciência.

- Explosão Mental”.

Vitor da Fonseca

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RESUMO

Esta monografia trata do tema lúdico e procura enfatizar sua utilização na

Psicomotricidade como recurso facilitador do processo de aprendizagem.

Na introdução foi feito um breve histórico da educação e falou-se

também das diferentes visões de infância ao longo dos tempos. Já no segundo

capítulo procurou-se enfatizar o papel da Educação Infantil tendo como base a LDB

(Lei de Diretrizes e Base), no capítulo três falou-se do brinquedo e sua importância

para a criança e a educação. E ainda no capítulo quatro foi abordado as contribuições

que a Psicomotricidade pode oferecer no processo de desenvolvimento da criança.

Finalizando procurou-se na conclusão passar para o leitor um breve

resumo das conclusões e aprendizagens a que se chegou.

Palavras-chave:

• Educação;

• Lúdico;

• Brincadeiras;

• Atividades Lúdicas;

• Infância;

• Psicomotricidade.

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METODOLOGIA

Visando a otimização desse trabalho, a pesquisa será qualitativa e por ela

deve entender-se que é aquela que procura intervir em situações insatisfatórias,

mudar condições percebidas como transformáveis, onde pesquisador e pesquisados

como: paulo Nunes, Philippe Aries, Demerval Saviani, Sonia Kramer, Le Boulch,

Luise Weiss, Aurouturier, Coste, Costallat, ABNT, Brougére, Vitor da Fonseca e

outros citados na bibliografia, assumem voluntariamente uma posição relativa. No

desenvolvimento da pesquisa, os dados colhidos em diversas etapas são

constantemente analisados e avaliados. Os aspectos particulares novos descobertos

no processo de análise são investigados para orientar uma ação que modifique as

condições e as circunstâncias indesejadas.

A pesquisa qualitativa não faz uso de análises matemático-estatísticas dos

resultados obtidos.

Na pesquisa serão usadas as seguintes técnicas de coleta de dados:

- Pesquisa documental consta naquela onde os dados são obtidos a partir de análise

de documentos;

- Pesquisa bibliográfica é feita a partir de um exame acurado de livros científicos,

dicionários, enciclopédias, anuários, publicações periódicas e impressos diversos.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 9 CAPÍTULO I 19

O PAPEL DA PRÉ-ESCOLA 20

CAPÍTULO II 26

A CRIANÇA, A EDUCAÇÃO E O BRINQUEDO 27

CAPÍTULO III 32

PSICOMOTRICIDADE 33

CONCLUSÃO 52

BIBLIOGRAFIA 54

INTRODUÇÃO

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O interesse pelo tema A Contribuição do Lúdico no Processo de

Aprendizagem na Educação Infantil, partiu da prática educacional com crianças na

faixa etária de 4 a 5 anos. Na prática observou-se que, a maior parte das crianças,

aprendia com maior facilidade através de jogos e brincadeiras.

Por esse motivo o trabalho com jogos tornou-se fundamental na medida que

sua estrutura e dinâmica estão presentes em todos os períodos do desenvolvimento e

socialização do ser humano enquanto cidadão. Jogar representa momentos de

elaboração de hipóteses, construção de diferentes pontos de vista, socialização,

possibilidade de exploração e apropriação do espaço e tempo.

Considera-se também o jogo como sustentação e fundamentação cultural-

social, bem como forma de atividade que permite o ingresso do sujeito no mundo

das regras. O brincar faz parte da natureza infantil, não uma natureza biológica, mas

social. E através da brincadeira, do jogo, que a criança, utilizando-se de um processo

imaginativo, mediatiza os conflitos gerados pela tensão entre a realidade que ela vai

se apresentando e as frustrações de nem sempre poder realizar seus desejos. O jogo

lúdico e a ação da criança sobre o mundo. Acredita-se que quando brincamos com a

criança não perdemos tempo e sim o ganhamos, pois é a melhor forma de iniciar a

formação dos seres humanos.

Desejando auxiliar o desenvolvimento pleno das crianças utilizando-se o

lúdico, essa pesquisa está inserida na área da psicomotricidade e voltada para a

Educação Infantil II. Ela está relacionada ao papel que o lúdico pode desempenhar,

quando aplicado aos processos de aprendizagem. Espera-se, desse estudo que ele

possa contribuir para um melhor aproveitamento dos recursos lúdicos quando

aplicados ao processo de aprendizagem. Igualmente espera-se que , tanto educadores

quanto professores possam partindo dessa pesquisa levantar informações que levem a

otimização do seu trabalho.

Por esse motivo essa pesquisa tem como objetivo geral analisar, identificar e

caracterizar a importância de se utilizar recursos lúdicos, no processo de

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aprendizagem de crianças de educação infantil, na faixa etária compreendida entre 4

e 5 anos de idade.

Especificando ainda mais o objetivo dessa pesquisa foram levantadas as

seguintes questões:

• O que podemos entender como recursos lúdicos?

• Pode o lúdico auxiliar no processo de aprendizagem?

• Quais as vantagens e desvantagens que se obtém ao utilizar-se do lúdico na

educação infantil?

• Quais as principais dificuldades encontradas quando aplicamos o lúdico no

processo de aprendizagem?

Na busca às respostas dos questionamentos levantados essa monografia está

direcionada para as atividades lúdicas inseridas no processo de aprendizagem na

educação infantil. Para melhor entendermos a importância do lúdico, faz-se

necessário saber qual a visão da criança que se tem.

O senso comum, ao definir o conceito da criança, parte do referencial do

adulto. Aurélio (1993) define como criança àquele “ ser de pouca idade, menino ou

menina, pessoa ingênua”. Será que esta definição serve para caracterizar qualquer

criança? Será que só se pode entender o significado de criança tomando como

indicativo a figura do adulto?

A maioria das pessoas ao conceituar a criança, refere-se a realidade mais

próxima de si, e ao faze-lo, a concepção de infância fica descontextualizada e

desvinculada da estrutura sócio-política-cultural na qual ela está inserida. Entender a

criança, sem levar em conta a sua história sócio-cultural, é reduzi-la a um ser único e

daí acabam ocorrendo generalizações. Então, como elaborar um conceito de criança?

Em breve retrospectiva histórica, tendo como ponto de partida a sociedade medieval

dos séculos XI e XII, serão apontadas as modificações mais relevantes do sentindo

de criança.

A medicina do século Xi não possuis a mesma estrutura dos dias atuais, a

humanidade em função do desconhecimento da tecnologia científica, tinha uma

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expectativa de vida baixa. Ora, o não avanço nas técnicas medicinais aliados a falta

de higiene foram os principais responsáveis pelo alto índice de mortalidade infantil.

As crianças da sociedade medieval, quando conseguiam vencer a “barreira da

morte”, eram vistas como “adultos em miniatura”. Áries (1981), em suas pesquisas,

conseguiu captar esta visão infantil, a partir das obras artísticas da época.

(...) Uma miniatura otoniana do século XI, nos dá uma idéia impressionante

de deformação que o artista impunha então aos corpos das crianças, num sentido que

nos parece muito distante de nosso sentimento e de nossa visão. O tema e a cena do

Evangelho em que Jesus pede que se deixe vir a ele as criancinhas, sendo o texto

latino claro Parvulli. Ora, o miniaturista agrupou em torno de Jesus oito verdadeiros

homens, sem nenhuma característica de infância: eles foram simplesmente reduzidos

numa escala menor. Apenas seu tamanho os distingue dos adultos. Muna miniatura

francesa do século XI, as três crianças que São Nicolau ressuscita estão representadas

numa escala mais reduzida que os adultos, sem nenhuma diferença de expressão ou

traços. (Áries, 1981. P. 50).

As crianças medievais eram apenas consideradas um ser em dimensões

reduzidas, mas também inacabadas e inferiores. Este estereotipo, colocava adultos

em condições de superioridade, tornando-as submissas as suas vontades. Como se

pode perceber, as crianças eram reduzidas a “nada” e, por conta disto, a sociedade da

época acreditava que elas não possuiam almas, podendo assim, ser enterradas em

qualquer lugar, pois não voltariam para importunar os vivos. E ainda Áries quem

afirma e questiona: “...As crianças mortas muito cedo eram enterradas em qualquer

lugar. Como hoje se enterra um animal doméstico, um gato ou um cachorro?”

Cabe aqui destacar que as crianças desta época, quando conseguiam viver

sem auxílio de amas ou mães, eram introduzidas no mundo dos adultos. Essa

passagem rápida do mundo infantil para o mundo adulto, restringia e negava as

necessidades infantis de uma convivência mais prolongada com os brinquedos,

brincadeiras e com as crianças da mesma faixa etária como um bloco homogêneo,

com dimensões e funções sociais pré determinadas.

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O aumento da expectativa de vida do homem na sociedade feudal, a partir

das grandes descobertas científicas dos meados do século XVI, simultaneamente com

a atuação dos pedagogos humanistas e médicos iluministas, proporcionou uma

mudança no sentimento de família, até então quase inexistente, dando origem a

“família nuclear”. Contudo, não foi apenas a organização familiar que mudou, mas

também a forma de ver a criança e o sentimento por estas que até então vigorava.

O novo sentimento de infância, que estava surgindo fez com que a criança

fosse vista por outro ângulo. A forma de agir espontânea e sua gentileza davam um

enfoque nas relações sociais. A partir destas mudanças surge o primeiro sentimento

de infância dominado pelo paparico. Este primeiro sentimento de infância fez com

que as crianças da idade média ficassem mais próximas de suas famílias. Enfim o

reconhecimento da natureza infantil intensificou a interação criança-criança, ao

mesmo tempo os brinquedos e as brincadeiras começaram a ter um caráter infantil.

A Revolução Industrial foi outro marco de mudanças sociais. O cercamento

dos campos fez com que houvesse um grande deslocamento do trabalhador do meio

rural para o centro industrial-urbano. Esta mudança se deu sem que as áreas urbanas

estivessem preparadas para receber esta grande “massa humana”. A ambição

capitalista por obtenção de lucro, impunha aos trabalhadores, neste estavam incluídas

mulheres e crianças, uma jornada de trabalho de 14 horas por dia.

A exploração da mão de obra atingiu patamares insustentáveis, dando

margens à conflitos sociais de grandes proporções. Para estabelecimento da ordem

social, surge a concepção filosófica do francês Augusto Comte denominada

sociologia. devido ao caráter de urgência, a Sociologia estruturou-se para colocar

“ordem na casa”. Nesta perspectiva, a família nuclear ganha força,

concomitantemente a visão de criança toma outro direcionamento.

Em nome de uma necessidade eminentemente burguesa, de moralizar e

proteger as crianças dos males oriundos da nova realidade capitalista foi imposto,

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gradualmente, a sociedade moderna, o segundo sentimento de infância baseado na

moralização, associado à higiene e saúde física.

“Tudo o que se referia às crianças e a família torna-se um assunto sério e digno de atenção. Não apenas o futuro das crianças, mas também sua simples presença e existência eram dignas de preocupação – a criança havia assumido um lugar central dentro da família” (Áries, 1981, p.164).

Diante desta valorização crescente da criança no seio da família, a educação

infantil ganhou fôlego. Determinados pensadores e educadores da crença das

necessidades infantis direcionaram seus estudos e pesquisas para o desenvolvimento

da criança, entre eles Montessori (1994) e Vygotsky (1995).

O significado histórico da Revolução Industrial, no que tange aos

brinquedos, esta na medida da substituição gradativa do trabalho do artesão pelas

máquinas. Por conta desta substituição muitos produtos adquiriram novos formatos e

texturas, dentre estes os brinquedos (fabricados em escalas industriais) e, por

conseguinte, as brincadeiras oriundas do manuseio deles. A partir de uma análise

reflexiva e histórica, pode-se perceber que apesar do “salto” que a humanidade deu, a

concepção de infância ficou muito restrita a “natureza infantil”, isto é, desvinculada

do contexto social.

Educadores e pesquisadores do século XX realizaram estudos e pesquisas

direcionadas ao novo papel que a criança vem exercendo na sociedade

contemporânea. Hoje a criança deixou de ser um ser pequeno e ingênua que deve ser

protegido dos males da sociedade para se transformar em um ser entendido a partir

da condição histórica-política-social. Esta mudança de eixo da origem ao terceiro

sentimento de infância com caráter histórico-social.

Fazer com que a sociedade contemporânea tenha um entendimento de

infância a partir da sua condição de ser histórico, político e sócio-cultural, representa

um grande desafio para grandes teóricos e educadores deste século, principalmente

os profissionais ligados à educação infantil. Costuma-se pensar que a origem dos

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brinquedos e brincadeiras está relacionada historicamente com as atividades

essencialmente infantis, visão esta baseada na realidade lúdica das crianças

contemporâneas, onde os brinquedos são projetados para atender as necessidades

eminentemente infantis. Mas nem sempre foi assim. Primitivamente, as brincadeiras

eram usadas por adultos, com nitidamente religiosos ou de entretenimento.

Tentar buscar a origem dos brinquedos e brincadeiras tradicionais é, ao

mesmo tempo mergulhar nas raízes históricas da humanidade ou de um povo. Áries

(1981) aponta justificativas que levaram as brincadeiras a serem reservadas

atualmente as crianças. Tais justificativas partem do pressuposto de que o processo

de apropriação das brincadeiras pelas crianças esta diretamente ligado às mudanças

de concepção de infância (adulto em miniatura para ser histórico) e o processo de

evolução da sociedade (agrária/rural para urbana/industrial).

É impossível definir com precisão a origem dos brinquedos e brincadeiras

tradicionais, mas sabe-se que, na sociedade antiga, estes representavam o principal

mecanismo de interação social. Entretanto, as brincadeiras não se restringiram

apenas ao caráter socializador, mas também sinalizaram para as relações de trabalho

da sociedade da época. As sociedades antigas não atribuíam os mesmos valores ao

trabalho como a sociedade contemporânea, os homens desta época dedicavam poucas

horas do seu dia para realização do mesmo. Na sociedade medieval, os jogos

representavam mais do que um entretenimento, mas a forma pela qual os homens

poderiam preencher o tempo vago.

No entanto, não se pode associar apenas a origem das brincadeiras as

necessidades do mundo dos adultos. Algumas delas nasceram da vontade das

crianças imitarem os adultos. Vontades essas provenientes da expectativa que a

sociedade impunha as crianças (adultos em miniatura) e a participação destas em

eventos sociais e religiosos.

Vygotsky (1995), por sua vez, afirma que as brincadeiras constituem um

acervo da cultura infantil, que auxiliam a criança em seu processo de generalização e

interação social. Para ele, a criança quando brinca entra em contato com a

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experiência sócio-histórica criada pelo seu meio social. Este contato vai possibilitar

desenvolver sua imaginação, elaborar regras, organizar, categorizar e trocar

experiência com o outro. Segundo Wajskop (1995), para Vygotsky;

(...) a criança desenvolve-se pela experiência social, nas interações que estabelece, desde cedo, com a experiência sócio-histórica dos adultos e do mundo por eles crido. Dessa forma, a brincadeira é uma atividade na qual as crianças são introduzidas constituindo-se em um modo de assimilar e re-criar a experiência sócio-cultural dos adultos. (p.25)

Entretanto é importante ressaltar que Vygotsky não restringiu suas pesquisas

as funções da linguagem e do pensamento no desenvolvimento humano e a ação das

brincadeiras no processo de socialização e generalização. Seus estudos foram além.

Ele constatou que o pensamento e a linguagem são de origens diferentes. Apesar de

se desenvolverem segundo trajetórias diferentes e independentes, o pensamento e

alinguagem numa certa altura, graças à interação da criança nos grupos culturais, se

encontram e dão origem ao modo de funcionamento psicológico mais complexo.

Através de estudos e pesquisas, Vygotsky constatou que antes do

pensamento e da linguagem se associarem já existem formas de linguagem e de

pensamento, que foram denominadas fase pré-verbal do pensamento e pré-intelectual

da linguagem.

A fase pré-verbal, na espécie humana, é caracterizada pelo fato da criança

conseguir resolver problema práticos. A criança, de aproximadamente dois anos e

seis meses, é capaz de empurrar uma cadeira ou pegar uma vassoura, para atingir um

objetivo que esta fora de seu alcance. Isso, sem utilizar a linguagem como

instrumento mediador. Entretanto, caso não consiga, mesmo desconhecendo a

linguagem enquanto sistema simbólico, poe-se a chorar, como forma de demonstrar

seu descontentamento. Essa forma de demonstrar os seus sentimentos, através de

sons e expressões corporais Vygotsky denominou de pré-intelectual da linguagem.

Conforme a criança vai crescendo, ela interage com os adultos. Essa interação

proporciona-lhe um contato com a cultura de seu povo.

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Finalmente é preciso dizer que Vygotsky, em sua teoria, enfatizava a

importância das brincadeiras no processo de aquisição da linguagem verbal e do

pensamento intelectual. A brincadeira é um mecanismo social infantil, que

proporciona uma gama de situações, onde a criança aos poucos, internaliza e entende

o significado dos gestos, postura e expressões culturais. Portanto permitir que a

criança brinque é, ao mesmo tempo permitir que ela tenha contato mais prolongado

com a história do seu povo.

Mediante as perspectivas do valor da ação cultural na formação do

indivíduo, Vygotsky elaborou uma das mais complexas análises das relações entre

aprendizado e desenvolvimento. Segundo ele, essa relação pode ser esclarecida

através da compreensão de três conceitos básicos fundamentais : nível de

desenvolvimento real, nível de desenvolvimento potencial e zono de

desenvolvimento proximal.

O nível de desenvolvimento real pode ser entendido como sendo as

atividades que uma pessoa tem condições de realizar sem auxílio de outro indivíduo

ou instrumentos. Já a nível potencial estão as tarefas que o indivíduo pode realizar,

só que para isso necessita de ajuda.

E finalmente, segundo Rego (1996), para Vygotsky, a zona de

desenvolvimento proximal constituía-se de: “a distância entre aquilo que ele é capaz

de fazer de forma autônoma (nível de desenvolvimento real) e aquilo que ele realiza

em colaboração com os outros elementos de seu grupo social (nível de

desenvolvimento potencial)... (p.73)”.

Compreende-se então zona de desenvolvimento proximal tudo aquilo que

está no meio termo entre realizar atividades com ajuda e realizá-las sozinho. É o

caminho que se seguirá para chegar na independência.

Retornando a questão do desenvolvimento infantil na concepção

Vigotskiana fica uma questão: Qual a relação do brinquedo e da brincadeira com a

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zona de desenvolvimento proximal? Wajskop (1995), em sua obra sobre a

brincadeira na pré-escola, ressalta a importância da ação dos brinquedos e das

brincadeiras na zona de desenvolvimento proximal. Segundo a autora:

“A brincadeira é uma situação privilegiada de aprendizagem infantil onde o desenvolvimento pode alcançar níveis mais complexos, exatamente pela possibilidade de interação entre os pares em uma situação imaginária e pela negociação de regras de convivência e de conteúdos temáticos (...). (...) É por essa razão que Vygotsky considera que a brincadeira cria para as crianças uma zona de brincadeira de desenvolvimento proximal que não é outra coisa senão à distância entre o nível atual de desenvolvimento, determinado pela capacidade de resolver problemas. É determinado pela capacidade potencial, determinado através da resolução de problemas sob orientação de um adulto ou com a colaboração de um companheiro mais capaz (p.35)”.

Assim sendo, para Vygotsky, a contribuição da brincadeira ao campo

educacional esta relacionada às atividades, as quais o professor pode

deliberadamente realizar pra promover o desenvolvimento cognitivo infantil

Maria Montessori (1994), em sua prática educacional desenvolveu uma

pedagogia científica. A educação científica baseia-se na observação e anotações do

comportamento do educando. Ela acreditava que, a partir do conhecimento da

natureza infantil, o educador teria condições de oferecer estímulos que favorecessem

o aprimoramento do desenvolvimento físico, psiquico, mental e espiritual dos seus

alunos.

Outro ponto interessante para ser analisado, no trabalho desenvolvido por

ela, é em relação à aquisição do conhecimento. Para Montessori, o conhecimento é

obtido a partir de relações externas, isto é, de fora para dentro. Os sentidos são as

principais “portas” de entrada de informações. Dentro desta perspectiva, o objetivo

central de seu trabalho é uma educação voltada para a capacitação e aproveitamento

máximo da natureza sensorial infantil. A criança aprende experimentando,

vivenciando, em suma, sendo agente ativo no processo de ensino-apredizagem.

Embora, na visão montessoriana, a ação infantil sobre o meio ambiente seja a

principal alavanca para o desenvolvimento da inteligência, a construção desta se

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daria em fases. Segundo Lagoa e Malheiros (1994) na reportagem publicada na

Revista Nova Escola, estas fases são: de 0 a 6 anos – fase em que se formam a

intelig6encia e o complexo das faculdades psíquicas, por isso a mais importante da

vida. Subdividi-se em duas fases:

De 0 a 3 anos – a criança age por impulsos, observa-se e absorve através dos

sentidos, identificando, introjetando e imitando. É o momento da formação do

caráter. Cabe ao adulto ajudá-la, criar condições ideais, mas não ensinar.

De 3 a 6 anos – a capacidade natural de observar continua, mas a criança

torna mais suscetível a aprendizagem sob influência do adulto. As funções criadas

em seu sistema psíquico na fase anterior evoluem, ela aperfeiçoa conquistas,

manifesta consciência, memória e busca respostas dos adultos.

De 6 a 12 anos – a mentalidade das criança cresce, se transforma, mas é

também uma fase de estabilidade, serenidade, calma, força e saúde.

De 12 a 18 anos – grandes e definitivas transformações no corpo. Daí para

frente apenas aumento de idade.

Maria Montessori acreditava que os jogos e brincadeiras representam uma

grande fonte de estímulo nestas fases do desenvolvimento. A criança quando brinca

esta internalizando, através dos sentidos, vários tipos de conhecimento. Mediante o

reconhecimento do valor dos brinquedos no desenvolvimento infantil, Montessori

elaborou materiais didáticos objetivando, sobretudo estimular a natureza observadora

da criança.

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CAPÍTULO I

O PAPEL DA PRÉ-ESCOLA

O PAPEL DA PRÉ-ESCOLA

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O ato de busca, de troca, de interação é chamado de educação (tem como

objetivo primacial o de realizar em cada indivíduo, levando-os ao mais alto grau de

perfeição possível, os atributos constitutivos da espécie humana).

“O homem que a educação deve realizar em cada um de nós, não é o homem que a natureza fez, mas o homem que a sociedade quer que ele seja; e ela o quer conforme o reclame a sua economia interna e os eu equilíbrio” (Parkleim p.75e 81).

Esta não existe por si, é uma ação contínua entre as pessoas que cooperam,

comunicam-se e comungam de um mesmo saber. Realizando uma pequena

retrospectiva da história da educação no Brasil chegamos a uma impressionante

revelação. Segundo Kramer (1998) no contexto brasileiro a educação passou a ser

encarada como dever do estado e direito de todos os cidadãos à cinquenta anos, isso

em se falando da educação elementar. Em se falando da história do atendimento às

crianças de 0 a 6 anos até muito recente esse atendimento era visto como tendo

caráter assistencial e médico. Só a partir da década de 70 que a educação das crianças

nessa faixa etária é reconhecida e as políticas governamentais ampliam o

atendimento. No entanto por ainda não estar assegurada pela legislação houve a

dificuldade de expansão com qualidade.

Com a chegada da nova carta constitucional reconhecendo o dever do

Estado de oferecer creches e pré-escola para todas as crianças de 0 a 6 anos, ocorreu

a necessidade de que houvesse legislação e recursos específicos estabelecidos pela

nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), mas também pelas

constituições Estaduais.

No texto da lei no. 9.394/96 no seu Artigo 1º le-se que:

“A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. § 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente por meio do ensino, em instituições próprias. § 2º a educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e a prática social”. (LDB 96 apud Dermeval. p158. 1998).

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A nova LDB reconhece a Educação Infantil como parte integrante da

educação básica que também é composta pelo ensino fundamental e médio. Possui

como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em

seus aspectos físicos, psicológico, intelectual e social complementando a ação da

família e da comunidade. Refere-se ainda aos locais de atendimento que serão: em

creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade e em pré-

escolas, para crianças de quatro a seis anos de idade..

A LDB se refere ainda a forma de avaliaçào que deve ser feita na educação

infantil em seu artigo 31 estabelece que na educação infantil a avaliação far-se-á

mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem objetivo de

promoção mesmo para acesso ao ensino fundamental”.

Ainda por essa lei a educação infantil terá por objetivo:

“Dar condições materiais, pedagógicas, culturais, sociais, humanas, alimentares, espaciais para que a criança viva como sujeito de direitos, se experimente ela mesma sujeito de direitos. Permita ter todas as dimensões, ações, informações, construções e vivências” (Barreto et all, 1994, p.91).

Levando-se em consideração esse objetivo, falaremos um pouco de algumas

tendências pedagógicas que influenciaram ou ainda influenciam e embasam a nossa

educação infantil. Antes de qualquer retrospectiva é preciso reconhecer que a função

pedagógica do trabalho com crianças de 0 a 6 anos, seja capaz de favorecer o

desenvolvimento infantil e a aquisição de conhecimentos. Falaremos então das

principais tendências pedagógicas.

Segundo Kramer (1998) a primeira tendência que surgiu juntamente com a

educação pré-escolar foi a romântica, onde a pré-escola é um jardim, as crianças são

as flores ou sementes e a professora a jardineira. Possui como objetivo favorecer o

desenvolvimento natural baseada nos princípios básicos como a valorização dos

interesses e necessidades das crianças, a defesa da idéia do desenvolvimento natural,

a ênfase no caráter lúdico das atividades infantis é a crítica à escola tradicional,

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porque os objetivos dessa estão baseados na aquisição de conteúdos. Alguns teóricos

que fizeram parte dessa tendências foram: Froebel (1782-1852), defendia a idéia da

evolução natural da criança e enfatizava a importância do simbolismo infantil.

Decoly (1871-1932) por sua vez destacava o caráter global da atividade infantil e a

função da globalização do ensino. Dizia que a necessidade gera o interesse,

verdadeiro móvel em direção ao conhecimento. E ainda Montessori (1870-1952) que

se baseava no ritmo próprio da criança, a construção da personalidade através do

trabalho, a liberdade, a ordem, o respeito e a normalização. Houve uma grande

contribuição trazida por essa tendência, mas é importante ressaltar e perceber seus

limites, em especial por não levar em consideração a heterogeneidade no contexto

mais amplo da educação e da sociedade.

“A criança, em ser em criação. Cada ato é para ela uma ocasião de explorar e de tomar posse de si mesma, ou melhor dizer, a cada extensão a ampliação de si mesma. E esta operação, executa-a com veemência, com fé: um jogo contínuo. A importância decorre de conquista em conquista, uma vibração incessante” (Montessori apud Almeida, 1992 p.19).

Outra tendência é a chamada cognitiva, onde a criança é o sujeito que

pensa, e a pré-escola o lugar de tornar as crianças inteligentes. Tem como

pressupostos básicos o interacionalismo, a idéia de construtivismo sequencial e os

fatores que interferem no desenvolvimento. Possui como principal teórico Jean

Piaget que diz:

“Os principais objetivos da educação consistem na formação de homens criativos, inventivos e descobridores na formação de pessoas críticas e ativas e, fundamentalmente na construção da autonomia. A interdisciplinaridade é considerada central, ao contrário da fragmentação dos conteúdos existentes nos currículos da pedagogia tradicional e racionalista” (Kramer, 1998, p.30).

Como principais ensinamentos para a educação infantil deixado por Piaget

destacam-se:

• Tudo começa na ação;

• Toda atividade deve ser representada;

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• Realizar atividades em grupo;

• Organização;

• O professor é desafiador, ele cria dificuldades e problemas;

• O clima deve ser de expectativas positivas em relação às crianças;

• Interdisciplinaridade.

Uma terceira tendência mais recente é aquela chamada de crítica onde a pré-

escola é o lugar de trabalho, a criança e o professor são cidadãos, sujeitos ativos,

cooperativos e responsáveis. O teórico desta tendência é Celestin Freinet (1896-

1966) e tem por objetivo básico desenvolver uma escola popular. O movimento

pedagógico por ele fundado caraterizava-se por sua dimensão social, demonstrada

através da defesa de uma escola centrada na criança, vista como indivíduo isolado,

mas fazendo parte de uma comunidade a que ela serve e que a serve, e que possui

direitos e deveres, dentre os quais o direito ao erro. Freinet foi um dos pedagogos que

mais contribui, por esta preocupado com a construção de uma escola ativa, dinâmica

e contextualizada do ponto de vista social e cultura. Atualmente e após grandes

contribuições de muitos teóricos fica uma pergunta no ar. Como fica delimitada a

proposta pedagógica dos tempos atuais, após a regulamentação da Educação Infantil?

“Nossa proposta pode ser considerada como tendência crítica com fundamentação psicocultural (...) (...) nossa meta básica é implementar uma pré-escola de qualidade, que reconheça e valorize as diferenças existentes entre as crianças e dessa forma beneficie a todas no que diz respeito ao seu desenvolvimento e a construção dos seus conhecimentos” (Kramer, 1998. p.36 e 37).

Precisamos tem em mente antes de aplicarmos qualquer tipo de tendência,

qual o tipo de infância que estaremos trabalhando. “A infância não existe como

categoria estática, como algo sempre igual. A infância é algo que, está em

permanente construção”. Deve-se entender que a criança está inserida num meio

social e que ao chegar a escola já traz uma bagagem de coisas aprendidas

anteriormente. Uma criança que nasceu e vive num meio rural nunca será igual à

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outra que nasceu e vive no centro urbano, ambas terão grandes aprendizagens, mas

cada uma de acordo com o seu meio social.

É preciso lembrar também que em relação à idade cronológica, cada um tem

suas especificidades, pois:

“Cada idade não está em função da outra idade. Cada idade em, em si mesma, a identidade própria , que exige uma educação própria, uma realização própria enquanto idade e não enquanto preparo para outra idade (...). cada fase da idade tem sua identidade própria, suas finalidades próprias, têm que ser vivida na totalidade dela mesma e não submetida a futuras vivências que muitas vezes não chegam. Em nome de um dia chegar a ser um grande homem, um adulto perfeito formado, , sacrificamos a infância, a adolescência, à juventude. Hoje não é esta a visão. A visão e que a totalidade da vivência tem de estar em cada fase de nossa construção enquanto seres humanos”. (Barreto et all, 1994. P.90.)

Ter uma visão das crianças como seres sociais, indivíduos que vivem em

sociedade, cidadãs e cidadãos. Possuindo diferentes características, não só em termos

de história de vida ou de região geográfica, mas também de classe social, etnia e

sexo. Devemos reconhecer as crianças como seres sociais e levarmos em conta as

diferenças e os conflitos que possam surgir a partir delas. Levando-se em conta

todos os aspectos acima citados, percebemos que a educação infantil vem trazer

grandes ganhos para as crianças de 0 a 6 anos, pois elas terão espaço definido e

garantido por lei onde poderão obter conhecimentos e aprendizagens como a

construção da autonomia e da cooperação, o enfrentamento e a solução dos

problemas, a responsabilidade, a criatividade, a formação do auto conceito estável e

positivo, a comunicação e a expressão em todas as formas, particularmente ao nível

da linguagem. Os professores devem ter em mente que a melhor forma de educação

pode ser levando a criança há um desenvolvimento pleno e a aquisição de

conhecimentos simultaneamente, se o caminho seguido for no sentido da construção

da autonomia, a cooperação e a atuação crítica e criativa.

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Espera-se que o trabalho da educação infantil ganhe ainda mais espaço e

fique cada vez mais otimizado, pois desde a nova LDB o espaço para as crianças de 0

a 6 anos só tende a crescer e delimitar-se.

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CAPÍTULO II

A CRIANÇA, A EDUCAÇÃO E O BRINQUEDO

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A CRIANÇA, A EDUCAÇÃO E O BRINQUEDO

Na sociedade em que vivemos existe uma confusão muito grande em

relação à natureza do jogo, seja ele fruto de uma prática social, fenômeno psicológico

ou cultural. Em nosso cotidiano estamos sobrecarregados de trabalho, problemas,

preocupações e nossas crianças acabam sendo as maiores sofredoras, pois os pais

andam tão ocupados que não lhes sobra tempo para a brincadeira e divertimentos

junto aos filhos. As pessoas são fruto dessa corrida desenfreada que é a vida

tornando-se alienadas, descomprometidas sem iniciativa e aceitando passivamente

tudo os que lhes é imposto

“Dessa forma a criança, o jovem e mesmo o adulto neutralizados em sua consciência de “ser” no mundo são bombardeados por um “falso” jogo que lhes promete alegrias, poder, riqueza, prazer, descanso, associados à idéia de consumo, cujo conceito-chave se define no esbanjamento, redundância e alienação” (Almeida 1992. p.34).

Esse falso jogo ao que o autor se refere se veste de brinquedos, programas

de TV e rádios, computadores, esporte de massa, carnaval e são usados para desviar

o ser humano dos problemas que o ocupam. “ O falso jogo não visa a formação, à

educação, mas a doutrina consumista, cuja meta é a imposição do produto a

qualquer preço e neutralização das pessoas nos aspectos mais essenciais”. Com

tudo isso a criança sem saber o porquê das coisas, é capaz de sorrir, brincar e

acreditar num mundo melhor. Sem saber do destino que lhe foi designado e daquilo

que lhe será cobrado mais tarde.

Como se não fosse suficiente o desencontro da família, a cobrança por parte

da escola, a criança ainda é vítima da televisão. Esta procura seduzir com desenhos,

comerciais, filmes e desde de cedo as levando a uma imposição dos valores de

consumo, submissão, sonhos, ilusões, assim preparando-se para serem cidadãs de

amanhã. Analisando os meios de comunicação percebemos como pode ser perigoso

se a criança for envolvida pelos conteúdos da programação e pela forma dominadora

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que a falsa alegria proporcionada nas pessoas em geral. O que poderá causar nas

crianças?

“Considerando a realidade em que vive a criança e a interação do adulto para com ela, não se pode esquecer que o brinquedo torna-se hoje um objeto numa sociedade que propõe qualquer objeto para ser consumido como brinquedo. Esse objeto se traveste de falso jogo e traz a superfície à oposição entre o jogo e o trabalho. O objeto lúdico (brinquedo) comprado tem como destino satisfazer a necessidades imediatas (tão logo preenchidas essas necessidades, vai-se em busca de outro objeto que satisfaça a uma necessidade” (Almeida, 1992. p.37).

Absorvida pelo brinquedo a criança não joga mais, não explora mais, não

cria mais nem representa concretamente seu pensamento, valores, mas torna-se

objeto do verdadeiro objeto. É fundamental compreender que o conteúdo do

brinquedo não determina a brincadeira da criança. Ao contrário, o ato de brincar

(jogar, participar) é que revela o conteúdo do brinquedo. A criança, ao puxar alguma

coisa, torna-se cavalo; ao brincar com areia, torna-se padeiro; ao se esconder, torna-

se guarda. Nada é mais adequado à criança do que o manuseio de materiais como:

pedras, bolinhas, papéis, madeira, pois ela estará construindo seu pensamento e

raciocínio lógico através de materiais que fazem parte da sua vida.

Falaremos um pouco do papeldo brincar no decorrer das fases de

crescimento das crianças. Segundo Almeida (1992), existem quatro fases que

compõem o desenvolvimento humano, são elas: a fase sensório-motora (1 a 2 anos

aproximadamente) nessa fase ocorre o desenvolvimento dos sentidos, dos

movimentos, músculos, da percepção e do cérebro. Nessa fase o jogo é pura

assimilação do real, porque ao olhar, pegar, ouvir, apalpar, mexer em tudo o que

encontra ao seu redor, a criança se diverte e conquista novas realidades.

Na fase simbólica (2 a 4 anos aproximadamente) está a fase dos

movimentos básicos, a criança passa a exercitar intencionalmente movimentos

motores mais específicos, utilizando-se para isso das mãos. Adora rasgar, pegar no

lápis, mexer com as coisas, encaixar objetos nos lugares, montar e desmontar coisas.

Durante suas brincadeiras usa muito o simbolismo, representado na mente, brinca de

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casinha, motorista, cavalo-de-pau, como forma de expressar o mundo que viu e

interiorizou.

As brincadeiras mais simples de que participa são verdadeiros estímulos ao

desenvolvimento intelectual.

A fase intuitiva (4 a 6/7 anos aproximadamente) é a fase em que, sob a

forma de exercícios psicomotores e simbolismos, a criança transforma o real em

função das múltiplas necessidades do “eu”. Os jogos passam a ter uma sociedade

absoluta na vida das crianças e um sentido funcional e utilitário. Nessa fase ela imita

tudo e tudo quer saber (fase do porquê). Adora também atividades onde possa

movimentar o corpo. Cecília Meireles se referiu a essa fase em um de seus poemas

chamado, Na Idade dos Porquês:

“Professor, diz-me, por quê? Por que voa o papagaio Que solto no ar Tão alto no vento Que meu pensamento não pode alcançar? Professor, diz-me, por quê? Por que roda o meu pião? Ele não tem nenhuma roda E roda, roda, gira, rodopia E cai morto no chão... Tenho nove anos, professor E há tanto mistério à minha volta Que eu queria desvendar... Por que o céu é azul? Por quê marulha o mar? Tanto porquê que eu queria saber E tu, tu não queres me responder! (...)” (Meireles apud Almeida 1992, p.15).

a última fase e a operação concreta (6/8 à 11/12 anos aproximadamente), é a

fase escolar onde a criança incorpora os conhecimentos sistematizados, tomará

consciência dos seus atos e despertará para um mundo em cooperação com seus

semelhantes. Os exercícios físicos funcionais ao desenvolvimento transformam-se,

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aos poucos, em práticas esportivas, pois passam a compreender finalidades por meio

de esforços conjuntos.

Sabendo-se que o brincar faz parte da vida da criança desde o nascimento,

qual a função pedagógica do jogo?

“Conduzir a criança à busca, ao domínio de um conhecimento mais abstrato misturando habilmente uma parcela de trabalho (esforço) com uma boa dose de brincadeira transformaria o trabalho, o aprendizado, num jogo bem sucedido, momento este em que a criança pode mergulhar plenamente sem se dar conta disso” (Almeida 1992, p.60).

O jogo é o resultado das relações interindividuais da cultura. Pressupõem

uma aprendizagem social, aprendemos a jogar. Sabe-se que a criança pequena é

iniciada no jogo pelas pessoas que se ocupam dela. “Dizer que um criança de alguns

dias ou semanas joga por sua própria iniciativa não tem sentido”(Brougére, p.190).

Porém uma educação baseada simplesmente no jogo (diversão) seria

suficiente, pois isolaria o homem, transformando o viver num mundo ilusório. Por

outro lado uma educação baseada simplesmente no trabalho, no sentido de produzir

resultados, criaria um ser formal, técnico, destruindo dentro de si o sentido da vida,

da participação, da construção e da satisfação do próprio viver. O trabalho

desenvolvimento na escola deve ser o equilíbrio entre as duas concepções, isto é, a

criança habituada ao esforço (produto do saber), ao instruir, ao divertir-se penetra em

todas as relações de vida enquanto se desenvolve e se define, no momento em que se

prepara para o trabalho real (que lhe dará a sobrevivência e sua condição de ser e de

cidadania na sociedade).

“(...) é preciso compreender claramente que o trabalho escolar deve ser mais que um jogo e menos que um trabalho (restrito). É um equilíbrio entre o esforço e o prazer, instrução e diversão, educação e vida nas escolas materiais e jardins, será ainda quase um jogo, um divertimento, um desafio, nas séries mais avançadas, estará próximo do trabalho (produção, elaboração, esforço, busca, descoberta do conhecimento)” (Almeida 1992, p.61).

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Podemos entender como recursos lúdicos todos os materiais pertencentes ao

cotidiano da criança, que esteja inserido em seu meio social e, onde os utilizando, ela

seja capaz de construir idéias, pensamentos, obter raciocínios lógicos, chegar a

resolução de problemas, enfim descobrir e querer transformar sua realidade. Muitas

vezes fica a dúvida de quais materiais que se possui em sala de aula são recursos

lúdicos realmente, é preciso observar e identificar quais os “brinquedos” mais

significativos para as crianças e assim utilizá-los como recursos didáticos.

Utilizar os recursos lúdicos não significa apenas brincar e sim desenvolver

nas crianças a criticidade, criatividade, consciência, torná-las transformadoras, torná-

las aptas a escolherem por si mesmas os conteúdos interessantes que desejem estudar

e construam prazerosamente o conhecimento e ainda serem capazes de vivenciar

atitudes de vida coletiva, solidária e de participação democrática.

“A educação lúdica está distante da concepção ingênua de passatempo, brincadeira vulgar, diversão superficial. Ela é uma ação incrente na criança, no adolescente, no jovem e no adulto e aparece sempre com forma transacional em direção a algum conhecimento, que se define na elaboração constante do pensamento individual em permutações com o pensamento coletivo”(Almeida 1992, p.13)

As escolas que adotam o lúdico tem por finalidade promover a interação

social, o desenvolvimento das habilidades físicas e intelectivas dos alunos, formar a

postura de estudante, levando-o a organizar e preparar seu material, viver em grupo,

trocar idéias, saber ouvir e participar, descobrir coisas novas, participar de jogos

variados de forma ordenada, interiorizar regras do convívio em grupo e muitas outras

habilidades. Sabendo-se das características de uma educação que utilize o brinquedo

como recurso didático, com o qual faz com que as crianças se desenvolvam sem

perceber, cabe aos educadores de educação infantil saber que:

“É preciso dúvida reencontrar caminhos novos para a prática pedagógica escolar, uma espécie de libertação, de desafio, uma luz na escuridão... A educação lúdica pode ser uma boa alternativa”(Almeida 1992, p.62).

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CAPÍTULO III

PSICOMOTRICIDADE

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PSICOMOTRICIDADE

Conceitos:

“A Psicomotricidade consiste na unidade dinâmica das atividades, dos gestos das atitudes e posturas, enquanto sistema expressivo, realizador e representativo do “ser-em-ação” e da “coexistência” com outrem” (Jacques Chazaud).

A psicomotricidade envolve toda a ação realizada pelo indivíduo, que

represente suas necessidades e permitem sua relação com os demais. É a integração

psiquismo-motricidade.

De uma maneira estática,a motricidade pode ser definida como o resultado

da ação do sistema nervoso sobre a musculatura, como resposta à estimulação

sensorial.

Psiquismo poderia ser considerado como o conjunto de sensações,

percepções, imagens, pensamentos, afetos, etc.

A mobilidade deve ser compreendida em sua evolução, a partir dos

movimentos reflexos e incoordenados até os movimentos coordenados que têm

finalidade e os gestos, de valor simbólico.

A função psicomotora, no entanto, não pode ser estudada senão como uma

unidade onde se integram a incitação, a preparação, a organização temporal, a

memória, a motivação, a atenção, etc.

Cada elemento da motricidade deve ser considerada no conjunto e na

história que lhe dá significação.

A psicomotricidade deve ser compreendida em sua integridade, partindo de

fenômenos que envolvem o desejar e o querer.

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O mundo psicomotor surge na escola. O mesmo material – corda - libera a

expressão afetiva, seja da agressividade, disputa e luta, seja da busca da interação, do

contato dual afetivo e prazeroso.

No momento da verbalização, o grupo se expressa, as crianças sentam-se

relaxadas, juntas umas das outras, livres posturalmente, relacionado-se com o

professor de uma maneira.

Na sala de aula, cria-se um espaço para o corpo: o movimento, o dinamismo

e a liberdade são vividos intensamente pelas crianças.

A inibição e bloqueio psicomotor podem levar ao isolamento, a criança se

torna “observadora” do mundo ativo e espontâneo dos companheiros.

A estrutura topológica criada espontaneamente por uma criança pode ser o

ponto de partida para o estudo da matemática.

3.1 – A Psicomotricidade no Desenvolvimento da Criança

O movimento, assim como o exercício é de fundamental importância no

desenvolvimento físico, intelectual e emocional da criança. Estimula a respiração e a

circulação, de modo que, nutre as células e promove a eliminação de detritos

celulares.

Graças ao exercício físico são fortalecidos os músculos e ossos.

O movimento permite à criança explorar o mundo exterior através de

experiências concretas, sobre as quais são construídas as noções básicas para o

desenvolvimento intelectual.

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É a exploração que desenvolve na criança a consciência de si mesmo e do

mundo exterior.

O desenvolvimento é contínuo. A criança se desenvolve de maneira

contínua, desde os primeiros dias de vida.

A harmonia do desenvolvimento com todos os seus componentes é tão

importante quanto a aquisição de tantas performances numa determinada idade, ou

de tantos centímetros. Não se trata para a criança de realizar uma corrida de

obstáculos, o mais rapidamente possível, mas desenvolver seu corpo e sua mente de

maneira equilibrada. Entretanto, no momento em que certas aquisições, tais como a

linguagem, por exemplo, se desenvolvem rapidamente os progressos em outras áreas

estacionam, é preciso compreender que a criança não pode centrar seus esforços em

todos os setores ao mesmo tempo.

Cada criança é única. O esquema do desenvolvimento é comum a todas as

crianças, mas as diferenças de caráter, as possibilidades físicas, o meio e o ambiente

familiar explicam que com a mesma idade crianças perfeitamente “normais” possam

comportar-se de maneiras diferentes, o bebê que anda com 11 meses não está mais

perto do normal do que aquele que anda com 16 meses. A criança que progrediu

inicialmente muito rápido vai reduzir o rítmo de suas aquisições e vai ser alcançada

por aquela criança que parecia “atrasada” alguns meses antes.

Desta maneira, julgar um bom desenvolvimento de uma criança é muito

mais complexo do que parece: não é suficientemente apreciar, baseado num manual,

a conformidade ou não de referenciais indicados, é preciso ter em vista o conjunto da

criança e de suas condições de ida familiar e não se preocupar com uma anomalia

isolada.

O que caracteriza uma criança inadaptada, seja qual for o tipo ou

inadaptação, é a falta por razões constitucionais, acidentais, afetivas, etc, de certas

etapas de elaboração de seu Ego corporal.

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A educação deve ser pensada em função da criança, de sua idade,

necessidades e interesses e não tendo em vista apenas um objetivo particular, por

exemplo, a aprendizagem da leitura e da escrita ou em função de uma filosofia e

ainda menos em função de uma tradição.

As necessidades e interesses da criança podem ser estabelecidos através da

observação objetiva dos estágios de desenvolvimento e do comportamento nas

diferentes idades.

A determinação do estágio de desenvolvimento da criança são

indispensáveis para que se estabeleçam as condutas educativas que poderão

favorecer os diversos aspectos de desenvolvimento e do conhecimento e, portanto,

simplificar a adaptação da criança ao meio em que vive.

Como critérios de avaliação, podemos sugerir:

Observação do desenvolvimento psicomotor;

O desenho, em especial, da figura humana, que está intimamente ligado à evolução

do esquema corporal;

O comportamento social.

Os primeiros anos de vida têm uma importância capital: o desenvolvimento

da inteligência, da afetividade, das relações sociais é tão rápido que sua realização

determinará em grande parte as capacidades futuras. Qualquer perturbação poderá

também, se não foi detectada a tempo e tratada de maneira adequada, diminuir

consideravelmente as capacidades futuras.

O meio ambiente terá de ser favorável para que a criança tenha uma

maturação normal fazendo com que sua inteligência seja desenvolvida.

É muito importante saber que a escola irá recebe-la para implantar e reforçar

a sabedoria, mas que o bom desempenho da criança dependerá como ela foi

preparada anteriormente no meio familiar.

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Nos primeiros anos de vida, os principais educadores são os pais, ou aqueles

que, as vezes, os substituem. Os pais devem estar conscientes da importância da

influência do meio sobre a evolução de sues filhos.

Numerosas anomalias de desenvolvimento de uma criança de família

desfavorecida são atribuídas à hereditariedade, embora sejam resultados das

condições desfavoráveis de vida, antes e logo após o nascimento. Tais crianças, se

recebessem cuidados e afeição necessária de sua família, teriam as mesmas

oportunidades que as outras crianças.

3.2 – O Exame Psicomotor

No exame psicomotor temos a distinguir três fases de desenvolvimento:

– 0 à 2 anos – atividades reflexas em respostas à estimulação sensorial. Evolução

das posturas: sentada, de pé e de marcha.

– 2 à 5 anos – estágio global e sincrético: atingindo, no final, a representação do

corpo. Nesta fase devem ser observados os seguintes comportamentos:

1. Coordenação óculo manual;

2. Coordenação dinâmica geral;

3. Equilíbrio;

4. Controle do próprio corpo;

5. Organização perceptiva;

6. Linguagem.

-- 6 à 12 anos – estágio de aperfeiçoamento e diferenciação:

1. Coordenação dinâmica manual;

2. Coordenação dinâmica geral;

3. Equilíbrio

4. Organização do espaço;

5. Rapidez de execução.

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• Coordenação motora fina:

1. envolve pequenos músculos;

2. coordenação óculo-motora;

3. coordenação facial;

4. coordenação digital;

5. prevalência do sistema piramidal na motricidade fina voluntária.

• Coordenação motora fina:

1. envolve grandes pares musculares;

2. envolve as atividades de arrastar, rolar, engatinhar, andar, correr e saltar;

3. prevalência do sistema piramidal.

• Equilíbrio:

- Quando a criança consegue manter-se em bom equilíbrio estático e dinâmico,

conseguindo manter-se normalmente sobre um pé durante algum tempo.

Trepa, pula, salta e sofre bem poucas quedas. Pode acontecer da criança ter

enorme deficiência postural de equilíbrio estático e dinâmico. Não

conseguindo manter-se sobre um pé só, pular, saltar e sofrer várias quedas

contínuas.

• Lateralidade:

- A lateralidade é importante na evolução da criança. “Influi na idéia que a

criança tem de si mesma, na formação do seu esquema corporal, na percepção

as simetria de seu corpo; contribui, para determinar a estruturação espacial,

percebendo o eixo do seu corpo, a criança percebe também seu meio

ambiente em relação a esse eixo – o banco está do lado da mão que desenha”.

- A lateralidade pode ser:

ö Homogênea: a criança é destra ou canhota do olho, da mão e do pé.

ö Cruzada: a criança é destra da mão e do olho, canhota do pé.

ö Ambidestra: a criança é tão forte e destra do olho esquerdo quanto do olho

direito.

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Dominância Lateral:

Uma criança cuja lateralidade não está bem definida encontra problemas de

ordem espacial, não percebe diferença entre a esquerda e a direita, é incapaz de

seguir a direção gráfica (leitura começando pela esquerda). Igualmente não consegue

reconhecer a ordem em um quadro. Como nessas condições poderia colocar

corretamente um título ou a data em seu caderno?

Ex.: A criança percebe que seus membros não reagem da mesma forma. “Pode pular

em um só pé, com o pé esquerdo mas não com o direito”.

OBS.: Não é aconselhável empregar os termos “esquerda” e “direita” sem que a

lateralidade esteja bem definida.

• Esquema Corporal:

A formação do “eu”, da personalidade da criança, isto é, o desenvolvimento

do esquema corporal, a criança toma consciência de seu corpo e das possibilidades

de expressar-se por meio desse corpo.

Ter conhecimento do próprio corpo, ter imagem de si mesmo (Rossel 1971).

Esta área se refere a percepção e ao controle do corpo.

O corpo vivido – até 3 anos prevalecem as sensações:

Ü Interesses voltados para o mundo exterior (atividade exploratória). Não que haja

uma construção do mundo externo. Parte da atividade de exploração do mundo

externo para formar o mundo inteiro.

Ü Função do ajustamento (adaptação ao mundo exterior);

Ü Internacionalidade práxica;

Ü Exploração do corpo – ligadas a experiências afetivo-emocionais;

Ü Corpo entra como objeto global na relação;

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Ü Experiências motoras vividas globalmente (ainda em bloco);

Ü Condutas motoras (há necessidade do motor para a construção);

Ü Maturação práxica com prevalência sobre maturação gnóstica;

Ü Consciência do próprio corpo, da relação das partes entre si, das possibilidades

de movimento, com referência aos dados do mundo exterior.

• Imagem Corporal

Percepção é o sentimento que o indivíduo tem de seu próprio corpo. Ligada

a aspectos relacionais e envolve experiências interiores, expectativas sociais e

emoções.

A imagem é tudo aquilo que foi vivida.

Descobrir a imagem corporal para trabalhar o esquema corporal.

• Noção Espaço-Temporal:

A maneira como a criança se localiza no espaço que a circunda.

Ex.: “Estou atrás da cadeira”, “a bola está debaixo da mesa” e como situa as coisas,

umas em relação às outras.

A orientação temporal diz respeito como a criança se situa no tempo (ontem,

amanhã...). os problemas quanto à orientação espacial e orientação temporal, como

por exemplo com a noção “antes-depois”, acarretam principalmente confusão na

ordenação dos elementos de uma sílaba. A criança sente dificuldade em reconstruir

uma frase cujas palavras estejam misturadas, sendo a análise gramatical um quebra-

cabeça para ela.

Uma má organização espacial ou temporal acarreta fracasso em matemática.

Para calcular, a criança deve Ter pontos de referência, colocar números

corretamente, possuir noção de “fileira” e “coluna”, deve conseguir combinar as

formas para fazer construções geométricas.

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3.3 – A Educação Psicomotora

A educação psicomotora é uma ação psicopedagógica que tem como

objetivos:

1. Normalizar ou melhorar o comportamento da criança;

2. Facilitar as aprendizagens escolares;

3. Promover o desenvolvimento de habilidades que serão solicitadas nas

aprendizagens escolares.

Para que tais objetivos sejam atingidos será necessário que os exercícios

psicomotores não se restrinjam à estimulação e desenvolvimento de funções

fisiológicas, mas devem proporcionar ao aluno as possibilidades de exploração do

seu próprio corpo e do mundo.

Na atividade corporal há efetivamente, três aspectos complementares:

1. O aspecto funcional – objeto da educação física;

2. O desenvolvimento do Ego corporal;

3. A organização progressiva do conhecimento do mundo exterior através deste Ego

corporal.

Estes aspectos são absolutamente inseparáveis e, principalmente, na

primeira infância, é necessário pensar-se em termos de unidade e globalidade da

pessoa.

Conduzimos assim a criança a integrar-se às seguintes noções, que são

indispensáveis ao seu desenvolvimento integral:

• O próprio corpo;

• Os objetos

• Os demais

¬ Conceito

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¬ Objetivo

¬ Formas de atuação

¬ Elementos intermediadores

¬ Processos.

A educação psicomotora para Lapierre, é “uma ação psicopedagógica que

utiliza os meios da educação física, com a finalidade de normalizar ou melhorar o

comportamento do indivíduo”.

A educação psicomotora tem sido empregada nas turmas da pré-escola onde

a criança aprende a conhecer o seu próprio corpo, a nomear cada parte dele, a usá-lo

livremente, a se expressar com ele, a saber colocá-lo de uma maneira positiva, a

manusear instrumentos que exigem sua coordenação motora fina. Tem-se, então,

simultaneamente as melhores condições de aprendizagem e de autoconhecimento.

Sempre que necessário, a criança busca inicialmente o conhecimento de si

mesma, do outro e do mundo, utilizando sempre materiais concretos, tentando a

verbalização em seguida, tendo como objetivo a conscientizaço e partindo depois,

para o exercício gráfico, feito no papel.

Estas são as bases concretas que a levarão à abstração.

É necessário que a criança tenha integridade psicomotora, sendo

imprescindível ao interpretar a compreensão inteligente, por meio da expressão

motora, sobretudo durante o processo de aprendizagem da leitura e da escrita.

A educação psicomotora deve ser desenvolvida, abrangendo o seguinte:

Esquema Corporal

1.1 – Percepção global do corpo, de sua unidade, de sua posição no espaço;

1.2 – Primeiras relações espaciais que só deverão ser apresentadas após a criança

ter assimilado os dados anteriores:

- “ inventário” do corpo;

- intervenção do eixo corporal.

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Relaxação

2.1 – Relaxação generalizada;

2.2 – Relaxação segmentar.

Coordenação Geral

3.1 – Coordenação estática

3.2 – Coordenação dinâmica global e manual.

Equilíbrio

4.1 – Educação das sensações (dos pés);

4.2 – Treinamento do equilíbrio simples, na vertical;

4.3 – Adaptação à altura;

4.4 – Treinamento do equilíbrio, mais complexo na vertical;

4.5 – Equilíbrio estático;

4.6 – Educação na posição sentada.

Ritmo

• Associando, intrinsicamente, os elementos estudados à atividade do próprio

corpo.

• Multiplicando as sensações cinestésicas, visuais, auditivas, etc.

• Da mesma forma que nos primeiros estágios de desenvolvimento, o tempo

confunde-se com a ordem espacial, pode-se transpor o espaço nas diferentes

noções.

• Finalmente para reforçar mais ainda a impregnação das diferentes sensações ou

associações para visualizá-las e memorizá-las convém associar, intimamente a

transição gráfica que é meio pedagógico essencial ao ecercício que se trata.

5.1 – Adaptação ao tempo;

5.2 – Intervenção do ritmo no trabalho de movimentos complexos;

• Trabalho dos membros superiores movimentos contínuos (balanceamento,

rotação);

• Trabalho dos membros inferiores, marcha, saltos, etc

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• Trabalho dos membros superiores e inferiores;

• Descobrimento do companheiro.

Relações têmporo-espaciais:

6.1 – Orientação e estruturação temporal;

6.2 – Orientação e estruturação espacial.

Relações intelectuais

7.1 – Requisitos para todo exercício mental profundo.

• Atenção

• Interesse

7.2 – A educação das faculdades sensoriais

• Sensação

• Percepção

O desenvolvimento na percepção visual

• Posição no espaço

• Relações espaciais

• Coordenação isomotora

• Constância da percepção

• Figura fundo

7.3 – As faculdades representativas

• Imaginação

• Memória

7.4 – A educação do entendimento

• Entendimento

• Juízo

• Raciocínio

7.5 – desenvolvimento global das funções intelectuais

Musculatura orofacial

8.1 – de lábios;

8.2 – de língua;

8.3 – de bochechas;

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8.4 – de mandíbula;

8.5 – do véu do paladar

Linguagem

• Comparação;

• Análise;

• Síntese;

• Generalização;

• Abstração.

9.1 – Linguagem oral

• Ao enriquecimento de experiências, pois é importante que a criança entre em

contato com a natureza, ouça relatos passeios, excursione, procure

informações sobre assuntos de seu unteresse.

• Ao desenolvimento da fala, uma vez que depois de introjetadas as

experiências, é necessário externá-las, sendo a linguagem oral um dos

melhores veículos.

9.2 – Linguagem escrita

• A ideação e produtividade, no início, conversa sobre experiências, idéias e

sentimentos, depois, estas expressões audio-verbais são transportadas para a

escrita. Apesar de que o objetivo principal é capacitar o indivíduo a converter

pensamentos em linguagem escrita, é essencial seguir a seguinte progressão

“experiência”, “linguagem auditiva”, “linguagem escrita”.

Leitura, escrita e cálculo

10.1 – Preparação para a leitura;

10.2 – Preparação para a escrita;

10.3 – preparação para o cálculo.

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3.4 – A Importância do Esquema Corporal

O esquema corporal é o elemento básico para a formação da personalidade

da criança e se desenvolverá graças a uma progressiva tomada de consciência de seu

corpo e de suas possibilidades, na relação com o meio ambiente que vive.

Vayer afirma: “Todas as experiências da criança (o prazer e a dor, o

sucesso ou o fracasso) são sempre vividos corporalmente. Se acrescentarmos valores

sociais que o meio dá ao corpo e a certas de suas partes, este corpo termina por ser

investido de significações de sentimentos e de valores muito particulares e

absolutamente pessoais”. Vemos portanto, que o corpo não é somente algo biológico

e orgânico, mas que também expressa emoções e está repleto de significados que são

adquiridos através da relação da criança com o meio. Esses valores aos quais Vayer

se refere, influenciarão na formação do esquema corporal e principalmente na

imagem corporal. Para Morais (1998) e Santos (1987) a imagem “é uma impressão

que se tem de si mesmo, subjetivamente, “e o esquema corporal” resulta das

experiências que possuímos, provenientes do corpo e das sensações que

experimentamos. Por exemplo: andar, sentar-se, segurar o lápis e a caneta de modo

correto, com equilíbrio e com movimentos coordenados depende de uma noção

adequada do esquema corporal. O esquema corporal, portanto, regula a postura e o

equilíbrio”.

É através do corpo que a criança vai descobrir o mundo, experimentar

sensações e situações, expressar-se, perceber-se e perceber as coisas que a cercam.

À medida que a criança se desenvolve, quanto mais o meio permitir, ela vai

ampliando suas percepções e controlando seu corpo através da interiorização das

sensações. Com isso ela vai conhecendo seu corpo e ampliando suas possibilidades

de ação. O corpo é portanto “o ponto de referência que o ser humano possui para

conhecer e interagir com o mundo”. Ele servirá de base para o desenvolvimento

cognitivo, para aquisição de conceitos referentes ao espaço e o tempo, para um maior

domínio de seus gestos e harmonia de movimentos.

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A experiência do espelho também auxilia no processo de identificação e

conscientização progressiva do “eu”. Alguns autores, como Guillarme por exemplo,

atribuem grande importância a essa fase na formação do esquema corporal.

Etapas de desenvolvimento do esquema corporal:

1ª etapa – corpo vivido (até 3 anos de idade) – corresponde à fase da inteligência

sensório-motora de Piaget. Imitação.

2ª etapa – corpo percebido ou descoberto (de 3 a 7 anos) – corresponde a organização

do esquema corporal devido à função de interiorização.

3ª etapa – corpo representado ( de 7 a 12 anos) – observa-se a estruturação do

esquema corporal, pois já apresenta noção do todo e das partes de seu corpo, conhece

as posições e mantém um maior controle e domínio corporal. A partir daí, ela amplia

e organiza seu esquema corporal.

Crianças que não apresentam consciência de seu corpo, podem experimentar

dificuldades de percepção, controle e equilíbrio de seu corpo.

As crianças que têm um conhecimento empobrecido de seu corpo,podem

apresentar confusão em localizar as partes de seu corpo, emperceber a posição de

seus membros, em orientar-se no espaço e no tempo, além da dificuldade de

coordenação dos movimentos, o que a torna lenta na execução de atividades como

abotoar uma roupa, andar de bicicleta, jogar bola, etc.

Pode acontecer também da criança com perturbação do esquema corporal,

apresentar dificuldade no aspecto visomotor e ter consequências na leitura escrita.

Além disso, esta falta de conhecimento de sua presença no mundo pode levar a uma

dificuldade de contato com as pessoas e a um mau desenvolvimento da linguagem.

Desenvolvimento perceptivo e motor, segundo Arnold Gesell:

A – Até à 4ª semana:

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Durante a vigilia o bebê apresenta uma atitude denominada de reflexo

tônico-cervical, que se caracteriza por extensão do braço para onde está voltada a

cabeça e flexão do outro braço.

As vezes o bebê apresenta reações bruscas, levantando momentaneamente a

cabeça. Algumas vezes pode mover os braços, mais ou menos simetricamente, porém

a atitude assimétrica do reflexo tônico-cervical é a base da maior parte de sua

postura.

VISÃO: permanece com a vista imóvel durante longos períodos. Seu campo

visual é limitado pela reação tônico-cervical. É capaz de acompanhar um estímulo

colocado em seu campo visual comum movimento combinado de olhos e cabeça. A

apreensão ocular precede a preensão manual

ATIVIDADE MANUAL: a preensão manual pode ser observada pelo

toque da mão com um objeto; a atividade do braço aumenta e a mão se fecha e se

abre.

B – Até 16 semanas:

A reação tônico-cervical começa a perder sua preponderância. A cabeça

ocupa com maior frequência a linha média. A musculatura do tronco vai se

organizando; senta-se com apoio e levanta a cabeça.

VISÃO: o desenvolvimento crescente de redes neuronais permite uma maior

atuação da musculatura ocular. É capaz de olhar um objeto colocado em seu redor;

olha preferencialmente para as suas mãos, como também as mãos do adulto.

ATIVIDADE MANUAL: é capaz de tocar o objeto. Ante o estímulo visual,

sua mão livre se aproxima do objeto, como se estivesse também envolvida na

manipulação.

C. Até 28 semanas:

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Aperfeiçoamento da posição sentada. Somente necessita de um pequeno

apoio dos braços da cadeira, ou do adulto.

VISÃO: A acomodação ocular é mais avançada que a manual. Segura uma

bolinha que rola, mas quando a quer apanhar, coloca a mão levemente sobre ela e

não consegue pegá-la. Olhos e mãos funcionam em estreita relação, reforçando-se e

guiando-se mutuamente.

ATIVIDADE MANUAL: A criança inclina-se para o objeto, segurando-o

com um movimento de preensão de toda a mão, com o lado radial, que prepara a

oposição do polegar.

D – Até 40 semanas:

As pernas já sustentam o peso do corpo, mas ainda necessita de apoio.

Domina o equilíbrio na posição sentada.

VISÃO: manifesta grande interesse tátil e visual pelos detalhes.

ATIVIDADE MANUAL: é capaz de pegar uma bolinha em movimento de

pinça, de tipo inferior.

E – Com 1 ano:

Engatinha com grande agilidade, podendo fazê-lo de joelhos ou na planta

dos pés. Pode erguer-se para sem ajuda, mas ainda é falho o seu equilíbrio estático.

F – Com 18 meses:

Caminha com maior facilidade e desenvoltura. Sobe uma cadeira, sobe

escada com auxílio, para descer o faz só, engatinhando ou sentando-se a cada degrau.

Pode caminhar arrastando um brinquedo de rodas (coordenação entre as condutas

posturais e manuais).

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PERCEPÇÃO: alguns comportamentos já demonstram uma discriminação

de espaço e forma. Sonda a terceira dimensão com o dedo indicador ou um objeto,

isto é, introduzindo objetos em espaços. O sentido da verticalidade é presente, já

empilha dois ou três cubos.

PREENSÃO: seu “soltar” é exagerado o que dificulta a manipulação de

elementos consecutivos. É capaz de arremessar uma bola. O cotovelo é mais livre, o

que permite virar folhas de um livro, de duas à três de uma só vez.

G – Com 2 anos:

Maior flexibilidade dos joelhos e calcanhar permite um equilíbrio superior.

Pode andar mais rapidamente sem perder o equilíbrio, mas não pode correr,, efetuar

voltas rápidas ou parar bruscamente.

PERCEPÇÃO: pode-se, nesta ocasião, observar a estreita interdependência

entre o desenvolvimento mental e o motos. A criança parece pensar com seus

músculos. Interpreta motoramente o que vê e ouve.

PREENSÃO: vira páginas de um livro de uma a uma. Constrói torre de 6

cubos, corta com tesoura, enfia contas com uma agulha.

H – Com 3 anos:

Gosta de atividade motora ampla, mas pode permanecer em uma brincadeira

sentada por um período maior.

Demonstra uma maior capacidade de inibir e delimitar movimentos.

Pode construir torres de até 10 cubos.

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Maior domínio da direção vertical, mas ainda grande inabilidade nos planos

oblíquos. Pode dobrar um papel ao largo e ao comprido, mas não o faz na diagonal,

mesmo com molde.

Maior coordenação na marcha e na corrida, aumentando ou diminuindo a

velocidade, dando voltas ou parando, com maior facilidade.

Sobe escadas alternando os pés, salta do último degrau com os dois pés de

uma altura de 30cm. Pedala velocipede.

I – Com 4 anos

Pode manter-se sobre um pé durante segundos e, aos 6 anos é capaz de

saltar em um só pé.

Há uma maior independência da musculatura das pernas e dos membro

superiores.

Abotoa roupas, dá laço em cordões de sapatos.

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CONCLUSÃO

As leituras realizadas durante o estudo do tema dessa pesquisa permitem

que sejam apontados alguns aspectos importantes da história da humanidade, direta

ou indiretamente estão relacionados com a trajetória e com a importância da

brincadeira na vida da criança.

A História da humanidade nos últimos séculos mudou drasticamente. A

sociedade da Idade Média era bastante diferente da dos dias atuais. Uma notícia que

levava dias, meses ou até anos para chegar, hoje no entanto, é recebida quase

simultaneamente. O homem que dedicava sua vida a terra, família e religião hoje está

voltado para o seu trabalho. As casas com grandes quintais, viraram apartamentos

que, de modo geral são “minúsculos”. As crianças levavam meses explorando um

brinquedo, hoje os consomem como fazem com um sanduíche ou uma Coca-Cola.

Os brinquedos viraram produtos descartáveis, da mesma forma os amigos de

infância.

É! Não podemos negar a sociedade mudou. Há alguns séculos passados a

Europa ficou “pequena”, não em dimensões territoriais, mas no desejo do homem de

conhecer o mundo. Assim o continente americano foi descoberto. Foi o período das

grandes navegações. Não nas redes da internet, mas nas grandes caravelas. A

Revolução Industrial foi outra grande propulsora dessas mudanças. Hoje quem sabe,

serão as viagens a Marte que proporcionarão outra grande mudança na vida do

homem.

Ainda em relação às mudanças sociais enfocadas neste trabalho

monográfico, que estão relacionadas com a trajetória do valor do brincar no

desenvolvimento infantil, é importante registrar que as brincadeiras da sociedade

medieval eram direcionadas para o público adulto como mecanismo socialisador.

Hoje no entanto, servem para deixar as crianças entretidas para que esses mesmos

adultos realizem suas atividades de trabalho. Os brinquedos produzidos

artesanalmente foram industrializados. Os espaços públicos reservados às

brincadeiras nos centros urbanos quase não existem mais. As molecagens infantis

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foram substituídas por jogos e filmes de violência. As cantigas de roda surgem como

lembranças do passado. As brincadeiras de chicotinho queimado, de carrinhos de

rolimã e de queimados estão em via de extinção. Por outro lado, no campo

educacional houve grandes avanços que não se pode negar. O processo ensino

aprendizagem, antes todo calcado nos exercícios repetitivos e memorização do

conhecimento, hoje tem novos aliados: as atividades lúdicas. A grande meta é educar

com prazer. Nas últimas décadas foram muitos teóricos dedicados a fornecer

pressupostos teóricos para a prática do brincar no contexto escolar.

Enfim, é refletindo sobre todo esse processo de mudanças enfocados neste

trabalho que as instituições formadoras de profissionais da educação, em particular

as direcionadas na especialização da Psicomotricidade devem priorizar e estruturar

seus currículos baseados em pressupostos teóricos direcionados para a importância

do lúdico no desenvolvimento cognitivo no processo de socialização e na construção

de uma personalidade mais firme e reflexiva.

Como foi percebido no conteúdo do trabalho, a base para o

desenvolvimento da criança é o brincar nele a criança alcança seus aspectos motores,

cognitivos, sensoriais e afetivos.

A motricidade em termos evolutivos é uma ação finalizada no meio, é uma

ação com objetivos internos e externos, resultando progressivas libertações

anatômicas, libertações geradoras de variadas modificações funcionais operadoras no

sistema nervoso do recém-nascido ao adulto.

Conclui-se então, que o corpo é uma estrutura interna fundamental ao

desenvolvimento integral da criança e a psicomotricidade é essencial para que esse

processo seja alcançado.

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