Projeto academia de historia
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Projeto Academia de História
Pedro Penafiel
ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING Programa de Pós-graduação em Design Estratégico
Pedro Penafiel
PROjETO ACADEMIA DE HISTóRIA
Projeto de conclusão de curso, entregue como requisito final para obtenção do título de pós-graduado em Design Estratégico.
Equipe docente de orientação: Profª Ellen Kiss Profª Martha Terenzzo
São Paulo, julho de 2012
Contato do aluno:[email protected]
“O livro, bem sabemos, é o tijolo com que se constrói o espírito”.
Darcy Ribeiro
Agradeço sinceramente às pessoas que responderam às mi-nhas três pesquisas. Em primeiro lugar, aos editores que me ofereceram, além do seu tempo, muitas valiosas informações e sugestões para o desenvolvimento deste trabalho. Em segundo lugar, aos colegas de graduação da Faculdade de História da USP, que conversaram comigo e me responderam às duas per-guntas que lhes fiz. E por fim, mas não menos importante, a mais de uma centena de pessoas que responderam de forma bastante comprometida ao questionário que postei no Googledocs.
Agradeço também às minhas duas orientadoras, Ellen Kiss e Martha Terenzzo, que me apoiaram, me incentivaram e gene-rosamente me ofereceram novos caminhos.
Agradeço também aos meus colegas da pós-graduação da ESPM, que nos momentos de desânimo me incentivaram a continuar adiante. Em especial aos que dialogaram comigo a respeito de possibilidades de trabalho, conhecimento e me su-geriram novas fontes de pesquisa.
Agradeço à Fundação Carlos Chagas, instituição que traba-lho, por ter financiado integralmente esta pós-graduação.
Agradeço ainda, por fim, à minha família pelo apoio e pa-ciência ao longo deste um ano e meio de curso e dois intensos meses de TCC.
Sumário
Introdução ..........................................................................11
Análise do setor ..................................................................13Mercado editorial brasileiro...........................................13Mercado internacional ...................................................29Pesquisa com editores ....................................................38
Análise do assunto ..............................................................47Principais autores para leigos .........................................47Graduados de História ...................................................52
O consumidor .....................................................................57Pesquisa com o público leitor .........................................57Pesquisa do Instituto Pró-livro .......................................68
Dados coletados ..................................................................77Forças ............................................................................78Oportunidades ..............................................................78Fraquezas ......................................................................79Ameaças .........................................................................79
O negócio ...........................................................................81Missão ...........................................................................83Objetivos .......................................................................83Público alvo ...................................................................84Pesquisa .........................................................................85Ilustrações ......................................................................86Redação .........................................................................86Referências ....................................................................87Livro impresso ...............................................................88Aplicativos para tablets ..................................................89E-readers ........................................................................90Site .................................................................................90Redes sociais ..................................................................92Equipe ...........................................................................92Remuneração .................................................................93Receitas .........................................................................94
Considerações finais ............................................................95
Bibliografia .........................................................................99
11
Introdução
Inicialmente pretendia fazer um Trabalho de Conclusão de Curso com um conteúdo mais acadêmico, mais alinhado à minha formação, em História. Mas prevaleceu o perfil da instituição em que faço o curso, a ESPM, que se avalia como uma escola de negócios. Minha idéia inicial era investigar a relação entre arte e design, como discurso, ou melhor, como História do discurso sobre o que seria um e outro e depois sua interelação.
Depois da recusa de minha primeira opção, precisava achar algo que se encaixasse no perfil de TCC da escola, algo que fosse um plano de negócio. Então me lembrei de que des-de o início da graduação em História desejava e pretendia aproximar o curso que fazia, e que adorava, com a profissão que tinha abraçado desde o início da vida adulta, o design, principalmente na área gráfica e editorial. Tive muitas idéias ao longo da graduação, mas nenhuma vingou. Principalmente por questões práticas de sobrevivência, pois sempre tive de focar mais esforços e meu tempo em atividades remuneradas. E todos sabemos que a vida de autor no Brasil é para poucos, pouquíssimos na verdade.
Desta forma acabei percebendo que seria uma excelente oportunidade aproveitar este TCC na ESPM para investigar a relação entre o mercado editorial e a disciplina História. Como estou próximo a estes dois “mercados” há bastante tempo, e tinha várias idéias a respeito da interligação destes temas, pre-cisei me segurar e elaborar as pesquisas de “cabeça aberta”. Não poderia contaminar meu projeto presumindo que sabia o resultado do que viria.
O resultado foi o que consegui alcançar nestes dois meses de trabalho. Usei aproximadamente 40 dias para a primeira parte, de pesquisa do mercado, do assunto, das pessoas envolvidas, o consumidor, e os demais 20 para desenvolver a idéia do produ-to, fruto do resultado do trabalho.
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Como ex-aluno de História, na parte da pesquisa me sen-ti em casa, confortável, mesmo neste exíguo tempo consegui fazer algo que pudesse me satisfazer. E mesmo na parte de criação do produto, embora estivesse mais distante de minha formação, não me foi difícil, pois trabalho há mais de 20 anos como designer gráfico, parte dele na área editorial, muitas ve-zes auxiliando na criação de novos produtos. A primeira parte, talvez por resquício dos tempos de graduação, tem muito texto. já a segunda, mais alinhada à pós, tem mais bullets.
Apenas uma breve observação àqueles que eventualmente forem ler este trabalho, além, é claro, de seus examinadores acadêmicos. Ele foi desenvolvido com um propósito já expli-citado, de conclusão de curso, portanto é muito mais extenso do que seria um plano de negócio convencional. E tem cer-tas características que também não estão presentes em planos de negócio, como bibliografia e uma busca de reflexão sobre o processo de trabalho. De qualquer forma, acho que a leitura do material pode contribuir para uma maior compreensão do mercado editorial, o assunto História e a relação entre ambos.
Boa leitura!
13
Análise do setor
Mercado editorial brasileiroA Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), em
conjunto com a CBL (Câmara Brasileira do Livro) e o SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livros), realiza pesquisa anual sobre o mercado editorial brasileiro. Na edição de 2010, descobriu-se que existem 750 editoras no país, sendo que ape-nas 498 alcançam a meta definida pela Unesco para uma em-presa editorial, de cinco títulos e cinco mil exemplares por ano. Destas, 231 faturam até R$ 1 milhão; 189 entre R$ 1 milhão e R$ 10 milhões; 62 entre R$ 10 milhões e R$ 50 milhões; e 16 editoras faturam acima de R$ 50 milhões por ano.
O tamanho do mercado editorial brasileiro cresceu de R$ 3,3 bilhões em 2008 para R$ 4,1 bilhões em 2009 (8,12% ou 2,63% se descontarmos a inflação), sendo que aproximadamen-te R$ 1 bilhão é a participação do Governo. E se desconside-rarmos as compras governamentais, o mercado cresceu 2,99% (ou caiu 2,24%, se descontarmos a inflação). O faturamento do setor pode ser visto de forma mais detalhada na tabela 1.
Quanto ao número de exemplares vendidos, houve um cres-cimento de 13,12% (contando o Governo), o que significa que o preço médio do livro manteve a tendência de queda, o que ocorre desde 2004 (33,42% em preços médios reais, conside-rando-se a inflação do período). Nas tabelas 2 e 3 vemos que os dados não batem, embora tenham sido gerados pelo mes-mo instituto. Parece-me que os valores da tabela 3 estão mais próximos da realidade, pois livros didáticos não devem ter um valor médio próximo de R$ 10,00, mesmo levando-se em conta que o Governo é o maior comprador, conseguindo desconto de até 90%. O fato é que o valor do livro no Brasil é caro, tanto em valores absolutos, quando o comparamos com o restante do mundo, e mais ainda em valores proporcionais ao nosso padrão de renda. Mas esta realidade vale para todo o varejo, não sendo exclusividade do setor. Tudo no Brasil é caro.
Existem 750
editoras no
país, sendo que
apenas 498
alcançam a meta
definida pela
Unesco para
uma empresa
editorial, de
cinco títulos
e cinco mil
exemplares por
ano.
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De 2009 para 2010, o preço médio caiu 4,37% (contando o Governo). Em algumas tabelas os valores são absolutos e em outras se precisa considerar a inflação do período. Não me deti exaustivamente nesta questão porque ela não é central ao meu trabalho. De qualquer forma, existem algumas novidades para acontecer brevemente no setor, com a chegada de grupos inter-nacionais de monitoramento de vendas de livros, como a alemã GfK e a americana Nielsen.
Mais recentemente tem havido um movimento de concen-tração das grandes editoras e livrarias, além de maior presença
Tabela 1 • Produção e vendas do setor editorial brasileiro Produção
(1º edição e reedição) Vendas
Ano Títulos Exemplares Exemplares Faturamento
1990 22.479 239.392.000 212.206.449 901.503.687
1991 28.450 303.492.000 289.957.634 871.640.216
1992 27.561 189.892.128 159.678.277 803.271.282
1993 33.509 222.522.318 277.619.986 930.959.670
1994 38.253 245.986.312 267.004.691 1.261.373.858
1995 40.503 330.834.320 374.626.262 1.857.377.029
1996 43.315 376.747.137 389.151.085 1.896.211.487
1997 51.460 381.870.374 348.152.034 1.845.467.967
1998 49.746 369.186.474 410.334.641 2.083.338.907
1999 43.697 295.442.356 289.679.546 1.817.826.339
2000 45.111 329.519.650 334.235.160 2.060.386.759
2001 40.900 331.100.000 299.400.000 2.267.000.000
2002 39.800 338.700.000 320.600.000 2.181.000.000
2003 35.590 299.400.000 255.830.000 2.363.580.000
2004 34.858 320.094.027 288.675.136 2.477.031.850
2005 41.528 306.463.687 270.386.729 2.572.534.074
2006 46.026 320.636.824 310.374.033 2.880.450.427
2007 45.092 351.396.288 329.197.305 3.013.413.692,53
2008 51.129 340.274.195 333.264.519 3.305.957.488,25
2009 43.814 401.390.391 387.149.234 4.167.594.601,40
2010 54.754 492.579.094 437.945.286 4.505.918.296,76
Fonte: SNEL e CBL (2011)
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Tabela 2 • Preços médios constantes por unidade vendida 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Didáticos (mercado) 14,54 12,63 11,48 10,88 10,98 9,29
Obras gerais (mercado) 10,50 9,17 9,03 8,90 8,15 8,28
Religiosos (mercado) 8,31 6,07 5,76 5,30 5,15 4,58
CTP (mercado) 20,53 17,98 17,10 15,79 15,73 13,50
Total (mercado) 12,68 10,85 10,20 9,63 9,29 8,44
Governo 3,92 4,77 5,13 4,75 5,76 4,46
Total (mercado + Governo) 8,58 8,88 8,15 7,72 8,00 6,92
Fonte: Produção e Vendas do Mercado editorial Brasileiro (2009)
Tabela 3 • Preços Médios (mercado) Tipos de Venda 2009 2010 Var. %
Didáticos 21,14 18,92 -10,50
Obras Gerais 10,57 10,07 -4,73
Religiosos 6,36 6,70 5,35
CTP 28,85 28,64 -0,73
Total 13,61 12,94 -4,92
Mercado 3,92 4,77 5,13
Total (mercado + Governo) 8,58 8,88 8,15
Fonte: Produção e Vendas do Mercado editorial Brasileiro (2010)
de grupos estrangeiros, fenômeno semelhante ao que ocorre no restante da economia. O grupo espanhol Santillana investiu R$ 150 milhões para comprar a Moderna, que detém 30% do mer-cado didático; e a Abril comprou em 2004 a Ática e a Scipione. E aqui cabe uma pequena observação, a Moderna foi a editora que mais vendeu livros no último PNLEM (Programa Nacional do Livro Didático para o Ensimo Médio), com 7,6 milhões de exemplares, que o representa R$ 50,4 milhões (um custo por unidade de R$ 6,63).
As editoras portuguesas Leya, Babel e Tinta da China já entraram no país. A Leya é particularmente importante para nosso tema porque edita o “Guia politicamente incorreto da História do Brasil” e o novo livro do Eduardo Bueno, “Bra-sil: uma História”. Segundo Pascoal Soto, diretor da editora no
Mais
recentemente
tem havido um
movimento de
concentração
das grandes
editoras e
livrarias,
além de maior
presença
de grupos
estrangeiros.
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Tabela 4 • Faturamento e exemplares vendidos para o Governo
Tipos de Venda
Faturamento em milhões de R$ Exemplares vendidos (milhões)
2009 2010 Var. % 2009 2010 Var. %
PNLD 534 742 39,02 110 120 9,43
PNLD EM/PNLEM 126 151 19,34 12 17 40,34
PNBE 60 70 17,53 10 13 30,90
PNLD EJA/PNLA 18 15 -15,23 2,8 2,1 -24,90
Outros Órgãos de Governo
176 164 -6,65 12 10 -22,27
Total Governo 916 1.145 24,97 148 163 10,01
Fonte: Produção e Vendas do Mercado editorial Brasileiro (2010)
Tabela 5 • Preços Médios (Governo) Tipos de Venda 2009 2010 Var. %
PNLD 4,85 6,16 27,01
PNLD EM/PNLEM 10,44 8,87 -15,04
PNBE 5,90 5,30 -10,17
PNLD EJA/PNLA 6,60 7,45 12,88
Outros Órgãos de Governo 13,66 16,41 20,13
Total Governo 6,18 7,02 13,59
Fonte: Produção e Vendas do Mercado editorial Brasileiro (2010)
Brasil, primeiro tentaram comprar a Nova Fronteira e a Ediou-ro, sem sucesso. Mais recentemente a Penguim Books, uma das seis maiores editoras do mercado americano, comprou 45% da Companhia das Letras.
O Governo Federal atua no mercado editorial de forma determinante, sendo o principal comprador, entre os didáti-cos é praticamente um oligopsônio, pois inclsuive normatiza os currículos nacionais. O principal programa é o Programa Nacional do Livro Didático, que tem modalidades para o en-sino Fundamental, Médio e para jovens e Adultos. Outro é o Programa Nacional da Biblioteca Escolar, que contou com o
O Governo
Federal atua
no mercado
editorial
de forma
determinante,
sendo o
principal
comprador.
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Tabela 6 • Produção de livros por área temática Primeira edição e reedição
Educação Básica (Didáticos) 45,72%
Religião 10,30%
Literatura Juvenil 8,89%
Literatura Adulta 8,05%
Literatura Infantil 5,38%
Auto-ajuda 2,87%
Direito 1,59%
Dicionários e Atlas Escolares 1,25%
Línguas e Linguística 1,25%
Economia, Administração e Negócios 0,83% Fonte: CBL, SNEL e Fipe (2010)
investimento de R$ 70,9 milhões apenas em 2010 (tabela 4). Na tabela 5 podemos ver que o valor médio por exemplar subiu de R$ 6,18 para R$ 7,02 (13,59%).
Os livros para o Ensino Fundamental custam para o Governo, em média, R$ 6,00; e para o Ensino Médio, R$ 10,00. Estima-se que, por causa da escala, este valor seja por volta de 10% do que é vendido no mercado. Além disso, a produção é feita por encomen-da e é o Governo o responsável pela distribuição dos livros pelo país, com um alto custo. Para o mercado, a produção é sempre um risco, é necessário distribuí-lo (aos atacadistas ou às lojas) e há o custo do estoque (espaço e manutenção custam caro).
Essa forte participação é em decorrência ao que determina a Constituição, que impõe ao Estado a obrigação de garantir o direito ao educando de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde em todas as etapas da educa-ção básica, por meio de programas suplementares.
Os programas do livro didático funcionam com as seguintes etapas: 1. publicação do edital com os critérios para inscrição das obras pelas editoras; 2. triagem das obras inscritas pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, para verifi-car a conformidade técnica e física dos livros com o edital; 3. avaliação pedagógica das obras, coordenada pela Secretaria de Educação Básica do MEC, e inclusão das aprovadas no Guia do
Essa forte
participação é
em decorrência
ao que
determina a
Constituição,
que impõe
ao Estado a
obrigação de
garantir o direito
ao educando
de material
didático escolar.
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Livro Didático, que é distribuído para todas as escolas do país; 4. os professores escolhem qualquer título que conste no guia; 5. a escola encaminha pedido ao FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) com primeira e segunda opção; 6. o FNDE negocia a compra com as editoras por inexigibili-dade de licitação, considerando que as escolhas dos livros são feitas pelos próprios professores; 7. o FNDE firma um contrato com cada editora; 8. se não houver acordo, contrata a obra da segunda opção; 9. se persistir o impasse, adquire a obra mais escolhida na região da escola; 10. a distribuição é feita a partir das editoras, pelos Correios.
Os critérios pelos quais as obras são avaliadas podem ser en-contrados em detalhes nos editais dos programas, todos desen-volvidos a partir dos Parâmetros Currriculares Nacionais. Even-tualmente aparecem críticas na imprensa aos livros que constam no guia, mas geralmente com um simples exame às obras em questão pode-se avaliar que são motivadas por questões polí-ticas, ideológicas ou preconceitos. E, afinal, são os professores quem afinal escolhem as obras que preferem trabalhar em sala de aula. E também não podemos deixar de mencionar que o grupo Abril, um dos principais adversários políticos dos dois últimos Governos, detém o controle do maior grupo editorial didático do país, com a Ática, Scipione, Anglo, entre outros. Entre 1998 e 2006, 90% das compras do FNDE foram feitas em dezessete editoras: FTD, Ática, Saraiva/Atual, Scipione, Moderna, IBEP, Brasil, Nova Geração, Dimensão, Victor Civita, Base, Nova Fronteira, Quinteto, Nacional, Ediouro, Schwarcz e Formato.
Esta participação tem, é claro, uma dimensão comercial e fi-nanceira importante. Mas também é importante ter em mente que em muitas regiões do país, e em algumas classes sociais, às vezes este é o único tipo de livro que o aluno tem acesso. Neste ano foi anunciado o Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), que sob a coordenação da Fundação Biblioteca Nacional, pro-move 42 projetos, com verba total de R$ 373 milhões para 2012. Um deles é o Projeto Livraria Popular, que pretende criar 700 pontos de venda de livros de baixo preço e formar 1.300 micros e pequenos varejistas do livro em cursos de educação à distância. Inicialmente a idéia era criar um catálogo de pelo menos mil livros em mil pontos de venda espalhados pelo país e visava prin-
Em muitas
regiões do país,
e em algumas
classes sociais,
às vezes este é
o único tipo de
livro que o aluno
tem acesso.
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cipalmente atuar para o barateamento do valor dos livros (até R$ 10,00) e, conseqüentemente, facilitar o seu acesso à população.
Em 2010, o Ministério da Cultura lançou o “Cultura em Números”, com um balanço dos dados brasileiros do setor. Lá podemos ver alguns números interessantes para o mercado edi-torial: 89,05% dos municípios têm biblioteca pública; 16,4% realizam feiras de livros; 16,9% realizam concursos literários; e 34% têm livraria.
Outra forma do Estado participar do mercado é por meio de financiamento a partir de seus diversos órgãos. O BNDES, por exemplo, criou um cartão para oferecer R$ 74,1 milhões para micro, pequenas e médias editoras e livrarias. Segundo informações do próprio banco, imprimiu-se 3,7 milhões de exemplares com estes recursos. Atualmente empresta-se a par-tir de R$ 1 milhão, o que desagrada aos pequenos empresários, que pleiteiam, por meio da Associação Nacional de Livrarias (ANL), que o piso seja reduzido para R$ 300 mil.
Além disso, tanto o Governo Federal, como muitos estados e municípios têm programas de incentivo à cultura, onde o livro também é contemplado. Por fim, mas não menos importante, várias das estatais, centros de cultura, órgãos ligados à indústria e ao comércio, e até algumas empresas privadas (às vezes em for-ma de doação, às vezes em forma de patrocínio, incentivado por lei ou não), têm editais voltados a projetos culturais, inclusive livros. São todas ferramentas importantes para o auxílio à publi-cação e de facilitação de acesso do livro à população.
Como se não bastasse, desde 2005 o Governo Federal isen-ta as editoras de contribuírem para o PIS, Confins e Pasep. O setor já era imune de impostos diretos, graças à Constituição. Na época, a estimativa é que deixaria de arrecadar cerca de R$ 160 milhões por ano.
E-books
A vida do e-book no Brasil começou com a Gato Sabido, em 2010, com apenas 150 títulos. Em 2012 já temos quase uma dezena de sites de grande porte no mercado brasileiro (entre elas a Saraiva, Cultura, Ponto Frio e Grioti). E mais de dez mil títulos disponíveis formalmente.
Várias das
estatais, centros
de cultura,
órgãos ligados
à indústria e
ao comércio,
e até algumas
empresas
privadas (às
vezes em forma
de doação, às
vezes em forma
de patrocínio,
incentivado por
lei ou não), têm
editais voltados
a projetos
culturais,
inclusive livros.
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Contamos ainda com três distribuidoras digitais: a DLD (consórcio da Rocco, Record, Sextante, L&PM, Planeta e Ob-jetiva); a Xeriph (da Gato Sabido); e a Singular (da Ediouro). Há ainda a Minha Biblioteca, que promove acordos entre as editoras Atlas, Saraiva, Gen e Grupo A Educação com univer-sidades. Paga-se uma tarifa mensal e os estudantes têm acesso aos livros. Funciona como a antiga pasta de textos dos profes-sores, só que totalmente legalizado. Entretanto, a participação do e-book ainda é uma promessa para o mercado, pois repre-senta entre 1% e 3% de seu faturamento.
Esses números ainda não são significativos porque o bra-sileiro associa a leitura de livros digitais ao computador, que não é muito amigável a textos longos e não é portátil. Mas, ao mesmo tempo, o setor está se preparando para este cenário mudar, pois cada vez mais o consumidor estará familiarizado com os e-readers e os tablets, que permitem uma leitura mais agradável e é portátil.
Três dos principais empecilhos para o crescimento dos e-books no Brasil são o valor do exemplar, que ainda é considera-do salgado pelo consumidor. A baixa quantidade de títulos dis-poníveis (Carlos Eduardo Ernanny, da Gato Sabido, sintetiza o problema da seguinte forma: “No modelo físico, temos muito livro para pouca prateleira. No digital, temos muita pratelei-ra para pouco livro”). E, por último, a anorme diversidade de plataformas e formatos do e-book, contra a padronização do modelo antigo, baseado no papel impresso.
Os valores dos e-books são em torno de 25% dos impressos e há incidência de impostos de venda, embora exista uma forte tendência para que se torne isento, como no impresso. O mer-cado procura ampliar esta vantagem competitiva ao meio digi-tal também, por analogia. O preço dos e-books ainda não pode ser mais baixo no país porque há pouca demanda e o custo de sua adaptação é diluido em poucos exemplares. Outro proble-ma é que sua adaptação envolve uma série de negociações, de contratos com autores, revisores, editoras estrangeiras etc. Essa demora acaba estimulando a pirataria, pois o tempo da editora é diferente do da cópia, que é instantânea.
O site Revolução E-Book fez uma pesquisa sobre os valores para o livro “Steve jobs – A Biografia”, em diferentes plata-
A participação
do e-book ainda
é uma promessa
para o mercado
brasileiro, pois
representa entre
1% e 3% de seu
faturamento.
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formas e distribuidores, e chegou a resultados interessantes. O preço oscilava entre R$ 26,80 e R$ 49,90. O valor mais baixo foi encontrado na Fnac, na versão impressa! Embora, na média, o valor do impresso no mercado como um todo foi de R$ 37,73, contra R$ 32,10 da versão digital (14% mais barata).
jorge Viveiros, editor da 7 Letras, por exemplo, afirma que todos seus livros digitais estão à venda por R$ 17,00, valor que considera acessível. Enquanto que suas versões físicas estão entre R$ 25,00 e R$ 35,00. Ao mesmo tempo, Pedro Hertz, proprietário da Livraria Cultura, diz que a receita com e-books ainda é insignificante.
Existe também um grande debate entre Governo, educadores, escritores e o mercado a respeito de como a plataforma digital entrará na sala de aula. Parte da turma pensa que será mais uma distração do que uma ferramenta de aprendizado e outras, mais tecnofílica, que aposta em novas tecnologias. O Governo Fede-ral anunciou a compra da tablets para distribuir em um plano piloto, com grande repercussão tanto positiva como negativa. É um assunto muito polêmico, pois os valores dos aparelhos ainda são salgados e ainda não se tem clareza de como esses disposi-tivos serão realmente aproveitados. Entretanto, fatalmente em algum momento os e-books estarão disponíveis, pois os custos de impressão e distribuição dos livros didáticos por todo o país são imensos, pois é um universo entre 40 e 50 milhões de alunos assistidos pelos programas. Existe inclusive a promessa do Mi-nistério da Educação de lançar o PNLD digital em 2014.
Quanto ao uso do livro didático em e-readers e tablets, é pre-ciso algum tempo para avaliar como será a sua utilização de fato. Uma das opções que se abre é uma interação maior do aluno com o material. No livro físico há um espaço reservado para a intervenção do aluno, o de exercícios, no material digital essa participação pode ser muito mais vasta e criativa. Seria muito mais ágil para um professor reportar um erro de informação para a editora e ela fazer a correção em todos os exemplares, sem custos adicionais. Além disso, o conhecimento que o pró-prio livro traz poderia oferecer oportunidades de interação com os demais alunos, professores, escolas, como por exemplo ativi-dades e links com resultados de todo o país. A relação entre autor (ativo) e leitor (passivo) poderia ser mais próxima, em benefício
Existe também
um grande
debate entre
Governo,
educadores,
escritores e
o mercado a
respeito de como
a plataforma
digital entrará na
sala de aula.
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dos alunos. Talvez os meios digitais como um todo facilitem o que todo educador deseja, que seus alunos se tornem agentes de sua própria vida. E há também a questão do peso dos livros em papel que os alunos carregam nas costas, que os fisioterapeutas tanto recriminam. Em um pequeno dispositivo cabem milhares de obras, o suficiente para toda uma vida de estudos.
Em relação à chegada da Amazon, o mercado brasileiro ain-da está aguardando os acontecimentos. Ainda é cedo para saber como será exatamente sua vinda ao país. Entretanto, seu movi-mento por aqui não tem sido fácil, pois, segundo reportagem da IstoÉ Dinheiro de março de 2012, apenas dez selos têm acordos assinados com eles, sendo que apenas um de editora grande. O jornalista da matéria apurou que seria a rede de livrarias Saraiva quem está pressionando as editoras a não fecharem acordos com a Amazon. Acusação que a rede nega. A estratégia da varejista americana seria, segundo rumores do mercado, apostar forte-mente no formato digital, ofertando seu dispositivo de leitura, o Kindle, por até R$ 200,00, quebrando um paradigma em re-lação ao e-book, que ainda não deslanchou por aqui. Os demais leitores disponíveis no mercado custam a partir de R$ 600,00.
Ela tem encontrado dificuldades principalmente por causa de seu modelo de negócio, que muitas editoras vêem como desvanta-joso. Aqui no Brasil são as editoras que definem o preço de capa, e a plataforma de auto-publicação da empresa com certeza não as agrada. Essa relação direta entre a Amazon e o autor é um tiro no pé a longo prazo para as editoras. E elas sabem muito bem disso, pois assistiram ao exemplo do que ocorreu nos Estados Unidos.
Como bem observa Stella Dauer, do Revolução E-book, os edi-tores brasileiros perceberam os perigos desta relação e, se “somos conhecidos pela nossa simpatia, mas também por não gostarmos quando não levamos vantagem em alguma coisa”. Os editores a acusam de requer ganhar o mercado às custas deles. Como nos Estados Unidos, a relação com a Apple é muito mais amigável, pois continuam a definir o preço de capa e a pagar uma margem à distruidora (30%), o que já é tradicional no mercado daqui.
Um conceito interessante que pode ser aplicado ao mercado de livros, principalmente em sua versão digital, é o de cauda longa. Mesmo na versão física o fenômeno ocorre, por meio dos sebos. E o que seria isso? Alguns produtos têm uma vida
A Amazon tem
encontrado
dificuldades
principalmente
por causa de
seu modelo de
negócio, que
muitas editoras
vêem como
desvantajoso.
Talvez os
meios digitais
como um todo
facilitem o que
todo educador
deseja, que seus
alunos se tornem
agentes de sua
própria vida.
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útil, não apenas como unidade, mas também como tipo, de curta duração. Alguns produtos são rapidamente perecíveis. Outros são modismos. O livro pode ser vendido por um longo período, ganhando ou não novas roupagens. É claro que exis-tem livros que são esquecidos pelo público quase instantânea-mente, enquanto outros encontram mercado por séculos. Mas conceitualmente é um produto que pode ter uma vida infinita.
No livro “A Cauda Longa”, de Chris Anderson, é citado o caso da Amazon. Em uma grande livraria americana há aproximada-mente 100 mil títulos, enquanto a Amazon tem três milhões. Mui-tos títulos não estão à venda nas livrarias porque vendem pouco, mas em seu conjunto geram uma enorme receita para o site. A ven-da por Internet estaria transformando o marketing de massa para o de nichos. Isso se explica porque o custo do estoque é ínfimo para os sites de venda, além de suas prateleiras serem infinitas.
E mesmo as livrarias, que teoricamente poderiam estar mais assustadas com o surgimento do e-book, dizem que não estão. Roberto Guedes, da Travessa, em entrevista ao jornal Valor, afirma que “o livro digital pode ser positivo por popularizar o hábito de ler. (...) Tudo o que se referir a livro, nós vamos trabalhar. Um dos diferenciais da Travessa é a escolha, a cura-doria”, diz Guedes. A livraria tem sete lojas no Rio de janeiro, comércio virtual, e cresceu 20% em 2011.
Sérgio Milano, diretor da Nobel, aborda em outros termos o efeito da cauda longa. “É um mercado complementar, muito útil para solucionar a questão dos livros esgotados e de bai-xo giro. Do ponto de vista de vendas não interferiu em nada”, afirma. O caso da Cultura, de São Paulo, é curioso. Segundo a matéria do Valor, a venda de DVDs e CDs cresceu 14% e 15% entre 2010 e 2011, apesar da pirataria e dos downloads legais. Lá, os livros representam 61% da receita, contra 28% de DVDs e CDs e 11% de jogos, revistas e outros.
Pirataria
Com a ida dos livros para o formato digital, houve também uma migração de sua pirataria. Antigamente havia as pastas dos professores nas fotocopiadoras, hoje existem sites que ilegalmente disponibilizam livros na Internet sem custo para o consumidor. A
“O livro digital
pode ser positivo
por popularizar
o hábito de
ler. (...) Tudo o
que se referir a
livro, nós vamos
trabalhar”.
A venda por
Internet estaria
transformando
o marketing de
massa para o de
nichos.
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Associação Brasileira de Direitos Reprográficos (ABDR) atua há algum tempo para coibir tal prática, com muita dificuldade, em função de sua capilaridade. Recentemente conseguiu que a jus-tiça fechasse o blog Livros de Humanas, que congregava livros piratas de cursos de ciências sociais. Esta é uma questão bastante polêmica e ambos os lados têm muitas boas razões. Inclusive in-telectuais publicaram uma carta contra a ação da ABDR, muitos deles professores universitários que têm seus textos pirateados. A tabela 7, desenvolvida pelo SNEL, traz alguns números de 2011. A disparidade do volume por mês (em fevereiro tem mais de 40 mil e em março apenas 311 unidades) indica que sua elaboração é precária. Uma informação adicional: o título mais baixado do ano, da Artmed, custa R$ 130,00 e não tem versão para e-book.
Vejamos os argumentos a favor do blog:
muitos destes alunos têm dificuldade de consumir regu-•larmente os livros, que são muitos, e na média caros;
Tabela 7 • Livros mais pirateados no Brasil em 2011 (por mês) Mês Obra Links Downloads
Janeiro Fundamentos de física (LTC) 105 698
Fevereiro Oracle database (Artmed) 96 40.346
Março Valores de A a Z (Iemar) 785 311
Abril De marré de si (lemar) 275 630
Maio Uma introdução ao estudo da psicologia (Saraiva) 95 30.124
Junho Cartas entre amigos – Sobre medos contemporâneos (Ediouro) 88 12.947
Julho Treinando a emoção para ser feliz (Ediouro) 120 34.173
Agosto A hora das bruxas (Rocco) 146 8.359
Setembro Fundamentos da matemática elementar (Saraiva) 135 11.624
Outubro English Vocabulary In Use Advanced (Cambridge) 90 34.484
Novembro Vontade de potência (Vozes) 59 5.406
Dezembro Fundamentos da matemática elementar (Saraiva) 41 18.895
Fonte: SNEL (2011)
Antigamente
havia as
pastas dos
professores nas
fotocopiadoras,
hoje existem
sites que
ilegalmente
disponibilizam
livros na
Internet sem
custo para o
consumidor.
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as bibliotecas universitárias não têm exemplares sufi-•cientes para oferecer a todos os alunos; muitas das edições são antigas e não mais disponíeis no •mercado;a educação é um direito garantido pela Constituição;•a repressão à pirataria é usualmente feita à margem da •justiça;o conteúdo dos livros de humanas são, em sua origem, •na maioria das vezes, projetos financiados com dinheiro público, e/ou de autores que trabalham em dedicação exclusiva ao setor público;o valor que os autores efetivamente recebem de direitos •autorais é irrelevante, sendo que o mais comum é rece-berem apenas cópias dos livros;muitas vezes os leitores, principalmente os acadêmicos, •estão interessados em trechos, no máximo em capítulos, e não no livro inteiro;por fim, o principal interesse do autor é ser lido.•
Mas há também argumentos contrários:
é função do Estado prover acesso aos livros à população •por meio de bibliotecas públicas;sem venda não há editoras, sem editoras não há merca-•do, sem mercado não há livros;sem o trabalho das editoras, a qualidade dos livros ten-•deriam a diminuir, pois ela agrega trabalho ao texto e, principalmente, em sua formatação;muitos livros exigem dedicação de anos por parte do •autor, eventualmente patrocinados pelas editoras, e pre-cisam ser remunerados;já existem muitos livros disponíveis gratuitamente para •download;muitos dos títulos baixados ilegalmente podem ser en-•contrados no mercado;se comparado com outros itens de consumo, o livro não •é caro;os grandes beneficiados com o conteúdo grátis na In-•ternet seriam grandes empresas provedoras de acesso à rede e companhias de telecomunicações.
O título mais
baixado do ano,
da Artmed, custa
R$ 130,00 e não
tem versão para
e-book.
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Logo após o fechamento do blog, duas editoras, que justa-mente eram “alvo” preferencial do site clandestino, pois têm em seu catálogo basicamente livros das “humanas”, a Boitempo e a Contexto, pediram a sua desfiliação da ABDR por não concor-darem com sua ação. Ela teve seu início inclusive em função de um livro de lingüística do professor josé Luiz Fiorin, publicado pela Contexto, que imediatamente desautorizou que qualquer atitude jurídica de repressão fosse feita em seu nome.
jaime Pinsky, professor universitário de História, com mais de 20 livros publicados e proprietário da Contexto, divulgou nota ao mercado reiterando o compromisso da editora em “promover a circulação do saber” e que não concordava em participar da repressão ao site. É um problema difícil de ser resolvido porque as editoras vivem justamente de seu bom relacionamento com o público, e a universidade é um grande formador de leitores. Então, apesar de depender financeiramente da receita de vendas dos livros, e deixar de ganhar quando o mesmo é ilegalmente distribuído, entrar em rota de colisão com seu público consumi-dor, seja ele atual ou futuro, é também dar um tiro no pé.
A Boitempo toca na questão central em sua nota ao merca-do: “(...) desde a sua criação, sempre lutou pela democratização do conhecimento, inclusive daquele viabilizado por ela mes-ma (...). Dessa forma, seria no mínimo contraditório reprimir nossos leitores por buscarem exatamente o que defendemos. Responsabilizar o leitor, a parte mais frágil e também a mais importante da cadeia editorial, é uma covardia”.
Um exemplo interessante é o do Paulo Coelho, que disponibi-lizou e estimulou que baixassem seus textos via torrent, de graça, na Internet. Para ele, quanto mais pessoas pudessem ler seus tex-tos, melhor. Mais recentemente convenceu sua editora nos EUA a vender seus títulos a US$ 0,99, no formato e-book. Seu argumento é que “se os livros forem muito baratos, as pessoas serão encoraja-das a pagar por isso, ao invés de baixá-lo gratuitamente”.
O mercado precisa logo descobrir uma solução para esta equação de prover o acesso ao livro, em condições de consumo pelo público, pois este é um bem de valor central na formação do país que todos desejamos, e remunerar de forma justa os editores, aqueles que investem e constroem dia-a-dia o merca-do editorial do país. Os exemplos das indústrias fono e cinema-
É um problema
difícil de ser
resolvido porque
as editoras vivem
justamente
de seu bom
relacionamento
com o público,
e a universidade
é um grande
formador de
leitores.
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tográfica estão muito próximos para que sejam esquecidos. E até os defensores da ação da ABDR reconhecem que esta é uma luta fadada ao fracasso.
Apesar de ainda não se ter claro qual será a solução para o problema, há um consenso que haverá alguma revisão da Con-venção de Berna, da qual o Brasil é signatário, que garante os direitos do autor por 70 anos a partir de 1º de janeiro do ano posterior à sua morte. É muito tempo. Além disso, precisaria haver uma regulação para obras não mais editadas, ou quando o autor não é encontrado. A garantia de autoria, conceito cria-do no Ilumismo e que propiciou a criação de um forte mercado de livros, é com certeza um avanço que toda a humanidade usufrui. Mas certamente precisará passar por uma revisão para se adequar aos novos tempos, às novas plataformas de leitura. A França inovou ao reformular o Código de Propriedade In-telectual, permitindo a exploração por meio digital de obras anteriores a 2001 e que estejam comercialmente indisponíveis.
Robert Darnton, historiador americano especialista na His-tória do livro e do Iluminismo e diretor da biblioteca de Har-vard, esteve no Brasil recentemente e, em entrevista à Folha de S.Paulo, deixou claro que “o futuro do livro é o acesso aberto”. Para ele, a lei de direito autoral deve mudar, voltando ao que era quando foi criada, em 1790 nos EUA, que garantia exclusi-vidade por 14 anos renováveis por mais 14.
Uma iniciativa interessante é a da SciELO Livros, que disponi-bilizada gratuitamente livros produzidos pelas editoras da Unesp, UFBA e Fiocruz. josé Castilho Marques Neto, presidente da edi-tora da Unesp, afirma que atualmente existe um acerto de 148 e-books gratuitos (pouco menos de 10% do catálogo), mas acredita que chegará a 25% ao fim desta década. A questão central, para ele, é que “pesquisa feita com dinheiro público, de instituição pu-blica, deve ter acesso gratuito”. Conta ainda que na Associação das Editoras Universitárias existe essa discussão de abrir o quanto possível o acesso aos livros, sem perder de vista que elas precisam ao menos serem sustentáveis economicamente.
Por fim, é importante observar os dados de pesquisa de-senvolvida pelo Revolução E-Book. Segundo foi apurado por eles, a partir do acervo do blog Livros de Humanas, 90% das obras não tinham versão e-book, ou seja, foram escaneadas e
Para Robert
Darnton, a lei de
direito autoral
deve mudar,
voltando ao
que era quando
foi criada, em
1790 nos EUA,
que garantia
exclusividade
por 14 anos
renováveis por
mais 14.
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transformadas em pdf. Talvez ainda seja cedo para afirmar, ou se precisaria fazer mais pesquisas, mas a hipótese de que os livros digitais incentivam a pirataria parece não ter comprova-ção, quando se leva em conta os dados empíricos. De qualquer forma, se as editoras não correrem para colocar seus livros dis-poníveis em meio digital, a preços acessíveis, alguém o fará. Carlos Carrenho, do blog Tipos Digitais, resume a situação da seguinte forma: “Qualquer leitor honesto que busque a versão digital de um livro em uma e-bookstore se sentirá legitimado a procurar uma cópia pirata caso não encontre a edição oficial disponível. (...) É claro que não basta que o livro esteja disponí-vel. Ele terá de ter um preço justo”.
Venda porta-a-porta
Com a ascensão da nova classe média, e de seu poder de com-pra, há um proporcional aumento da vendagem de livros. Como o número de livrarias no país ainda é limitado (2.300 para 5.500 municípios), a venda porta a porta tem ganhado cada vez mais importância. Nos últimos cinco anos, a participação desta mo-dalidade de venda pulou de 5,4% para 21,66% do total. Os livros que mais vendem são os ligados à educação, religiosos e de auto-ajuda, mesmos gêneros das demais modalidades de distribuição.
Nos últimos dez anos 31 milhões de pessoas foram inseri-das no mercado de consumo. Embora sua escolaridade formal ainda seja baixa, há a percepção por parte deles de que seus filhos precisam ter melhores condições de estudo. Assim a mer-cadoria livro tem ganhado um incentivo de compra. Os pais têm dificuldade de leitura e lêem muito pouco. Muitos deles compram livros para que seus filhos possam adquirir o hábito e tenham mais condições de sucesso na vida.
Além do mais, os filhos dessa nova classe média têm tido oportunidade de ingressar no ensino superior, graças a progra-mas de inclusão do Governo Federal, e conseqüentemente sua demanda por leitura e livros aumentou. Inicialmente textos li-gados diretamente à sua formação, mas depois seguramente de toda espécie. Segundo Diego Drumond e Lima, presidente da ABDL e diretor-geral da Editora Escala, “o segundo mercado que mais cresce no país é o juvenil. Portanto, hoje, a criança
Nos últimos
cinco anos, a
participação
desta
modalidade de
venda pulou
de 5,4% para
21,66% do total.
Se as editoras
não correrem
para colocar
seus livros
disponíveis em
meio digital, a
preços acessíveis,
alguém o fará.
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que está sendo educada no computador está lendo muito mais livro no papel do que a criança de anos atrás”. Ou seja, há toda uma geração que está crescendo lendo mais.
Apenas como exemplo, a líder neste mercado, a Barsa, ven-deu 70 mil coleções apenas em 2010, e 55 mil em 2009, com aproximadamente dois mil revendedores. Este número é bas-tante considerável, ainda mais se levarmos em conta que o va-lor de cada coleção não é nada amigável, sendo que o preço varia em torno de R$ 2.500,00.
Além da Barsa, outras grandes empresas atuam no segmento de venda porta a porta. Entre eles, estacam-se a jequiti, a Hermes e a Avon, que vendem vários produtos e descobriram que o livro também traz uma boa receita. Adriana Picazio, gerente da Avon, afirma que “com o livro Ágape, do padre Marcelo Rossi, vende-mos em quatro meses o que as livrarias venderam em 14 meses”.
Mercado internacionalUma boa forma de avaliarmos as tendências de qualquer mer-
cado, inclusive o editorial, é olharmos para fora do nosso país e procurarmos enxergar como as mudanças tecnológicas, culturais e econômicas tem impactado as empresas e os consumidores. Não necessariamente todas as sociedades lidam da mesma for-ma diante do mesmo desafio, mas podemos ampliar o espectro e vermos como elas se adaptam. Existe uma possibilidade muito grande de seguirmos algumas das tendências já encaminhadas lá fora ou mesmo uma mistura delas. Muitas vezes também, ao fazermos essa análise comparativa, podemos descobrir que es-tamos na vanguarda, ou não tão atrás, pelo menos em alguns
Tabela 8 • Crescimento das vendas de livros no BrasilValores em milhões de reais
2006 2007 2008 2009 2010
Total de livros vendidos 185,0 200,2 211,5 228,7 258,6
Venda porta a porta 10,0 19,2 28,8 38,0 56,0
Participação do porta a porta 5,4% 9,6% 13,6% 16,6% 21,6%
Fonte: CBL, SNEL e Fipe (2010)
Os pais têm
dificuldade de
leitura e lêem
muito pouco.
Muitos deles
compram livros
para que seus
filhos possam
adquirir o hábito
e tenham mais
condições de
sucesso na vida.
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aspectos. Também é necessário ter em mente que não podemos fazer comparações mecânicas, artificiais, pois o que na realidade acontece, em sua própria dinâmica diversa e cheia de possibili-dades, é que seguimos o nosso caminho, influenciados de forma incisiva ou tênua por todos os atores, internos e externos.
Assim, segundo o The Global eBook Market: Current Condi-tions & Future Projections, pesquisa realizada em 2011 sobre o mercado editorial, os Estados Unidos são o país onde o e-book teve uma penetração mais rápida e abrangente. Lá muitos títu-los alcançam a vendagem de mais de dez milhões cópias, sendo que muitos deles têm vendido mais de um milhão na versão digital. Veja uma lista da participação dos e-books nas vendas de grandes varejistas do mercado editorial mundial na tabela 9. já na tabela 10, podemos ver que a Amazon é o principal canal de distribuição de e-books para mais de um terço das editoras.
É importante avaliar o que acontece e aconteceu no merca-do americano porque é uma referência para todo o mundo, sen-do o país que mais consome livros, com faturamento de US$ 27 bilhões em 2010. Evidentemente que o mercado europeu, asiá-tico, como o nosso aqui no Brasil, tem suas especificidades.
Os mercados da França, Alemanha e China são bastante re-presentativos no que se refere a títulos e volumes impressos, porém relativamente defensivos em relação aos atores globais, como Google, Amazon e Apple. Tanto as autoridades como os editores locais são relutantes em ver este mercado, tão estraté-gico, na mão de estrangeiros. As razões são variadas: temem perder autonomia cultural, que as pequenas livrarias e edito-ras não sobrevivam e que o acervo digitalizado de sua Histó-ria esteja fora de seu alcance, de suas terras, sob domínio de multinacionais americanas. E também talvez esta seja a única industria cultural em que a Europa tem a liderança. Segundo o site Publishnews, das 10 maiores editoras do mundo em 2010, seis eram européias: Pearson (Reino Unido); Reed Elsevier (Reino Unido / Holanda / EUA); Wolters Kluwer (Holanda); Bertelsmann (Alemanha); Hachette Livre (França); e Grupo Planeta (Espanha). Além disso, as mais importantes feiras do setor ocorrem no velho continente. Outra dificuldade para os e-books em geral e para as grandes e virtuais é que o território europeu apresenta uma boa cobertura por livrarias de rua.
Os mercados
da França,
Alemanha
e China são
bastante
representativos
no que se refere a
títulos e volumes
impressos,
porém
relativamente
defensivos em
relação aos
atores globais,
como Google,
Amazon e Apple.
Os Estados
Unidos são o
país onde o
e-book teve
uma penetração
mais rápida e
abrangente.
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O mercado editorial da Europa Continental teme o mesmo resultado da indústria fonográfica com sua ida para a platafor-ma digital. E há uma inequívoca associação entre o digital e o pirata. Eles sabem que se não entrarem no filão digital, ele crescerá da mesma forma, mas à margem da lei, como ocor-reu com a música e ocorre parcialmente com o cinema. E há ainda o rescaldo do sentimento iluminista, onde a imagem do livro tem um peso simbólico muito grande. Atualmente o li-vro em seu formato impresso, físico, é visto como um símbolo de resistência à modernidade, enquanto que o digital seria um fenômeno americano. Uma outra forma de avaliar o crescimen-to do e-book no mercado americano e inglês seria como uma conseqüência da crise econômica, que vem deprimindo a renda das classes médias destes países. O meio digital pode ser uma
Tabela 9 • Faturamento com e-books Hachette US 22%
Hachette UK 5%
Simon & Schuster Global 17%
Simon & Schuster UK 3%
Harper Collins Global 11%
Harper Collins US 19%
Harlequim Canadá 13,6%
Random House UK 8%
Fonte: Publishers Lunch (1º trimestre de 2011)
Tabela 10 • Vendas por principal canal de distribuição Amazon 38%
E-comerce próprio 25%
Outros 16%
iBookstore 2%
Kobo 1%
iTunes 1%
B&N 1%
Não sabe 16%
Fonte: Uncovering eBooks’ Real Impact, Aptara (2011)
Temem perder
autonomia
cultural, que
as pequenas
livrarias e
editoras não
sobrevivam e
que o acervo
digitalizado de
sua História
esteja fora de
seu alcance,
de suas terras,
sob domínio de
multinacionais
americanas.
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forma de conseguir usufruir do mesmo bem de uma forma mais econômica. já na Europa continental haveria uma resistência maior, devido a questões culturais já apontadas.
Outra pesquisa, do Rüdiger Wischenbart Content and Con-sulting, detectou que a Google, Apple e Amazon estão cada vez mais presentes e destruindo os elos tradicionais entre as edi-toras e livrarias nos Estados Unidos e Inglaterra. No mercado americano, principalmente, muitas grandes e antigas redes de livrarias quebraram ou estão em vias de quebrar.
O mesmo estudo aponta que os segmentos mais represen-tativos para as 58 maiores editoras do mundo são o de livros científicos, técnicos e profissionais (CTP), com 43%, livros tra-de (obras gerais, literatura e ensaios), com 31%, e educacionais, com 27%. Os títulos educacionais têm aumentado ao longo dos últimos anos e os trade caindo. A pesquisa mostra que três edi-toras brasileiras estão entre as maiores do mundo. São a Abril Educação, na 46º posição; a Saraiva, na 52º; e a FTD, na 56º, as três focadas no segmento didático.
Uma hipótese ainda não totalmente verificada no mercado é o aumento da leitura do livro em inglês. Como o meio digital é instantâneo, os leitores do resto do mundo não precisariam es-perar meses para o lançamento da edição em sua língua nativa. Haveria assim uma compra direta do produto em sua origem, sem intermediários locais. Este fenômeno já foi visto na Holan-da, Suécia e Eslovênia.
Outra discussão interessante é a respeito de a leitura por meio de dispositivos eletrônicos seria mais saudável para o planeta ou não. O argumento dos aficcionados por tecnologia é que há uma enorme economia de papel, que consome bastante água em sua fabricação e combustível fóssil na distribuição, além da energia na distribuição física dos livros impressos. já o grupo contrário diz que os aparelhos eletrônicos são muito mais poluentes do que a indústria do papel, por exemplo, que refloresta o que consome. Para conferir um pouco de credibilidade ao debate, a National Geographic divulgou estudos que comprovam que a partir de 14 livros lidos eletronicamente já compensam o seu uso. Segundo ela, a produção de cada livro em papel consumiria 8,85 quilos de CO2, ou seja, 14 vezes o equivalente para a produção de um e-reader ou tablet. Além disso, poderia se usar o aparelho para
A Google, Apple
e Amazon estão
cada vez mais
presentes e
destruindo os
elos tradicionais
entre as editoras
e livrarias nos
Estados Unidos
e Inglaterra.
Atualmente
o livro em
seu formato
impresso, físico,
é visto como
um símbolo de
resistência à
modernidade,
enquanto que
o digital seria
um fenômeno
americano.
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ler jornais e revistas, ver televisão, pois consome 33 vezes menos do que um aparelho de TV, em média.
Com o aumento da utilização de livros digitais, os e-books, torna-se mais fácil a publicação para os autores independentes. Antes este processo passava obrigatoriamente por uma editora, e não raras vezes ele precisava pagar pela edição. Com isso, os autores ganham mais liberdade e mesmo poder junto às editoras, pois têm mais opções. Os autores de primeira viagem conseguem realizar seu sonho de publicar o livro e os autores já consagrados ficam menos presos às editoras. A auto-publicação, via e-book, também pode baratear o livro, pois o texto pode passar do au-tor diretamente para o leitor, sem que uma série de pessoas o manuseie e conseqüentemente torne o livro mais caro. O livro costuma passar por revisão, preparação, diagramação, capista, edição, agentes literários, marketing, distribuição, venda, ufa!
É claro que todas estas pessoas contribuem para a qualidade do livro. Liberdade geralmente vem com mais responsabilidades. Portanto os autores terão muito mais tarefas, e podem ter enormes dificuldades para superarem algumas. Toda essa engrenagem aca-ba por conferir uma maior qualidade ao produto (o livro).
O livro não é apenas o seu texto. Como qualquer outra mer-cadoria, obedece a certa lógica de seu segmento. Para que um livro chegue a ser publicado, muitos profissionais contribuem o seu resultado e, além disso, para selecionar os melhores produ-tos. A maioria dos livros escritos sequer é publicada, por falta de interesse de alguma editora. Esse processo sem dúvida sele-ciona os títulos que os editores acham mais rentáveis para seus próprios bolsos, como são as regras do capitalismo.
É difícil imaginar um futuro cenário do mercado editorial sem os editores. Talvez os livros façam sucesso nas redes so-ciais e as pessoas entrem no site dos autores diretamente e o comprem. A Internet pode criar sua própria massa crítica. En-tranto, a auto-publicação vai agravar um dos problemas que novos autores têm, que é alcançar alguma visibilidade para a sua obra. Com muitos mais títulos disponíveis, conseguir cha-mar a atenção para o seu texto será uma tarefa cada vez mais árdua. Márcio Souza, romancista iniciante. resumiu a situação com muita graça: “É mais fácil livrar-se de um cadáver que de mil exemplares de um livro”.
Com o aumento
da utilização de
livros digitais, os
e-books, torna-
se mais fácil
a publicação
para os autores
independentes.
Outra discussão
interessante é
a respeito de a
leitura por meio
de dispositivos
eletrônicos seria
mais saudável
para o planeta
ou não.
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A relação entre editores e autores pode ir do harmônico para o belicoso em função do retorno e da atenção que cada um pode proporcionar ao outro. Segundo pesquisa feita para o Writer’s Workshop, entre 320 escritores britânicos ouvidos, 74,2% estão dispostos a eliminar sua editora se os e-books con-tinuarem a ganhar mercado, apesar de 74,6% considerarem boa ou excelente sua relação com a editora.
Uma mostra disso é que a Amazon, líder no mercado ameri-cano de livros, físicos e digitais, começa a permitir que autores independentes comercializem seus textos por seu canal de venda sem o intermédio da editora, tornando o retorno financeiro para o autor incomparavelmente maior. Atualmente, segundo a Amazon, 15% dos seus livros mais vendidos para Kindle, sua plataforma de leitura, são de auto-publicação. Atualmente esses best-sellers acabam sendo incorporados ao mercado editorial tradicional, mas no futuro isso pode não mais acontecer. Mas é importante que se avalie que desta forma o livro não tem o tratamento profissional de editores, tanto em sua confecção como em sua venda.
Alias, em relação à Amazon, é importante desenvolvermos um pouco mais o assunto. Ela atua no mercado determinando o preço, com descontos que variam entre 30% e 60% do valor de capa (este é o modelo chamado de distribuição). Procura vender mais barato porque usa o livro para atrair o consumi-dor para sua plataforma de compras, onde pode levar outros produtos, mais caros, e com maior margem para a companhia. Esta é uma reclamação recorrente do mercado em relação à empresa, pois canibaliza o mercado editorial, e muitas grandes e tradicionais redes varejistas nos EUA quebraram em função de sua concorrência, para vender outros produtos.
Conhecer a Amazon é importante porque ela está prestes a entrar no mercado brasileiro. Segundo seu presidente, jeff Bezos, seus objetivos são chegar à lua e ao Brasil. Inicialmente mira o mercado de livros, mas seu alvo principal é o merca-do de varejo pela Internet, que movimentou R$ 20 bilhões em 2011 e deve chegar a R$ 80 bilhões em 2015. É importante observar um pouco as proporções, pois ela faturou US$ 48 bi-lhões em 2011, com atuação em 132 segmentos. Ou seja, fatura hoje sozinha o que o todo o mercado brasileiro daqui a qua-tro anos somando todos os setores de comércio eletrônico. Seu
Com a auto-
publicação, o
livro não tem
o tratamento
profissional de
editores, tanto
em sua confecção
como em sua
venda.
A relação entre
editores e
autores pode ir
do harmônico
para o belicoso
em função do
retorno e da
atenção que
cada um pode
proporcionar ao
outro.
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portal de compras tem 100 milhões de clientes e mais de 43 mil funcionários ao redor do mundo.
Apenas para se ter uma idéia, estima-se que a Amazon so-zinha representa 75% do mercado de livros físicos e 65% dos e-books no mercado americano. Em 2010, considerando-se ape-nas o faturamento dos cinco maiores distribuidores, a Amazon alcançava a cifra de US$ 34,2 bilhões (78,8%), a B&N US$ 5,8 bilhões (13,4%); a Borders US$ 2,8 bilhões (6,5%), a Books-A-Million US$ 508 milhões (1,2%) e a Powell’s Books 61 milhões (0,1%). A Borders fechou as portas em setembro daquele ano, com mais de 19 mil empregados. É uma participação enorme que será muito difícil para manter, até porque as seis maiores editoras não estão gostando da forma como a empresa age. No mercado de e-books, por exemplo, ela força o preço máximo de US$ 9,99, baixando consideravelmente as margens das editoras. O preço médio oscila entre US$ 0,99 e US$ 4,99. Elas reclamam que a empresa está criando consumidores às custas delas, e num futuro qualquer não haverá mais editoras que consigam suportar esses preços. Outro risco é que a própria Amazon está se tornan-do uma casa publicadora, por meio de sua plataforma de auto-publicação. Mesmo para aqueles que consomem livros em iPads, pasmem, apenas 29% o fazem via iBookstore, contra 40% pela Amazon (segundo pesquisa da Codex Group Survey, 2010). E o Kindle, seu e-reader, está disponível em mais de 100 países.
Outros varejistas, aliados das editoras e da Apple, defendem o modelo de agência, onde o produtor define o preço e o distri-buidor/vendedor fica com uma margem pré-fixada (30% no caso da Apple). Ocorre que o Governo norte-americano processou a Apple e cinco das seis maiores editoras que atuam no país, as Big Six (Penguim, Macmillan, Simon&Schuster, Hachette, Har-perCollins, a Random House faz parte do grupo, mas não está sendo processada). O Departamento de justiça alega que há uma conspiração para aumentar os preços dos livros digitais (carte-rização) e a parte contrária argumenta que procura aumentar a concorrência na indústria, dominada pela Amazon. O mercado americano é bastante concentrado, pois as 50 maiores editoras detém 80% de todo o faturamento do setor.
No mercado americano a norma era uma editora vender seus livros a uma livraria por aproximadamente metade do preço de
A Borders fechou
as portas em
setembro de
2010, com
mais de 19 mil
empregados.
A Amazon fatura
hoje sozinha
o que o todo
o mercado
brasileiro
daqui a quatro
anos somando
todos os setores
de comércio
eletrônico.
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capa, sendo que a loja poderia dar os descontos que quisesse. Mas a Amazon, para ganhar mercado, colocou os preços ainda mais baixos do que o padrão, às vezes até com prejuízo, no que muitos a acusam de dumping. O que a Apple e as editoras ale-gam é que o modelo de agência foi uma resposta a esta prática desleal. já a plataforma da Google é nas nuvens. É interessante observar o tamanho dos atores neste novo mercado editorial, a Apple tem um valor de mercado de US$ 41,7 bilhões, contra US$ 26,5 bilhões da Google e US$ 5,6 bilhões da Amazon.
Na Europa existe uma lei que determina que seja a editora quem fixa o preço de capa, a fim de preservar as pequenas livra-rias. As grandes normalmente poderiam fazer grandes descon-tos por causa da escala, e por venderem outros produtos, como a francesa FNAC, mas, por causa da lei, são proibidas por um determinado período.
Concorrente da Amazon no ramo da auto-publicação, o Smashwords já tem 127 mil títulos, de 44 mil autores (números de junho de 2012). Desde 2008 permite a publicação e distri-buição por parte de autores e editores de forma rápida, fácil e gratuita (cobra apenas 15% de participação na vendagem). O autor fica com cerca de 60%, pois ainda há uma parte para o canal de venda e as despesas com o cartão de crédito. Pelo mo-delo tradicional, o autor recebe por volta de 12% no mercado americano (no brasileiro, entre 5% e 10%). O autor/editor faz o upload de um texto em Word e o site o converte para mais de nove formatos diferentes de e-books, onde o livro automatica-mente fica disponível para a venda.
A média de preço dos livros no site é abaixo de US$ 3 e apro-ximadamente 15 mil títulos são de graça. Há um concenso que os autores de livros independentes estão forçando os preços para baixo (juntamente com a política da Amazon). E o presidente da empresa, Mark Coker, garante que há uma vigília para averiguar se o conteúdo dos livros está formatado corretamente e é origi-nal. O mais interessante é que o consumidor pode adquirir os li-vros por qualquer canal convencional (Apple, B&N, Sony, Kobo etc., mas ainda não com a Amazon, que tem sua própria pla-taforma). Mais recentemente novos e poderosos atores de peso entram neste mercado de auto-publicação, como a B&N, Apple e Kobo, que têm fortes canais de varejo. Na Internet, com uma
Na Europa
existe uma lei
que determina
que seja a
editora quem
fixa o preço
de capa, a fim
de preservar
as pequenas
livrarias.
O Departamento
de Justiça
americano alega
que há uma
conspiração para
aumentar os
preços dos livros
digitais
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simples busca se pode encontrar várias experiências de auto-pu-blicação nos mais diferentes sites. Relatam tanto as facilidades e dificuldades técnicas, como as vantagens e os perigos legais e financeiros. Segundo a Kobo, que tem cinco milhões de clientes, a auto-publicação representa 7% das vendas nos EUA, 8% na Ásia, 9% na América do Sul, 10% na Austrália e Europa e 14% na África. O preço médio da auto-publicação é US$ 4,22, contra US$ 7,29 das editoras. O preço médio nos EUA para autores ini-ciantes é entre US$ 0,01 e US$ 3,99; catálogo entre US$ 4,99 e US$ 9,99; e best-sellers entre US$ 9,99 e US$ 14,99.
Em relação aos e-books, será necessário chegar a um con-senso a respeito de como preservar os direitos autorais sem difi-cultar o acesso e o manuseio por parte do consumidor. O setor
História dos livros digitais
1971 Michael S. Hart lança o Projeto Gutenberg com a Declaração de Independência, primeiro texto digital.
1985 Criação da Voyager Company, primeira empresa a adaptar livros para computadores.
1997 Projeto Gutenberg atinge 1.000 títulos.
1998 Lançamento do primeiro dispositivo e-reader, da Rocket.
2000 Stephen King lança o livro Riding the Bullet, 1º e-book comercial. Nas primeiras 24 horas, 400 mil copias são baixadas.
2002Randon House e HarperCollins começam a lançar versões digitais de seus títulos.
As vendas de e-books atingem US$ 2,1 milhões no primeiro ano.
2003 Projeto Gutenberg atinge 10.000 títulos.
2006 As vendas de e-books atingem US$ 25,2 milhões.
Sony lança o Sony Reader.
2007 Amazon lança o Kindle, com mais de 90 mil títulos disponíveis.
2009As vendas de e-books atingem US$ 441,3 milhões.
Barnes&Noble lança o Nook.
2010Apple lança o iPad e o iBookstore.
Google abre sua loja virtual com 3 milhões de títulos.
2011 Projeto Gutenberg atinge 33.000 títulos.
Amazon vende mais e-books do que livros físicos.
2012 Projeto Gutenberg tem hoje 39.000 títulos.
Em relação
aos e-books,
será necessário
chegar a um
consenso a
respeito de como
preservar os
direitos autorais
sem dificultar
o acesso e
o manuseio
por parte do
consumidor.
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de música, por exemplo, não quis de adaptar aos novos meios e acabou sendo engolido pela pirataria.
É interessante também pensarmos no impacto que os e-books têm tido na educação. Em pesquisa desenvolvida pelo site americano ecampus.com, quando perguntados a respeito de qual recurso mais valorizavam nos textos digitais, 52% dos pesquisados escolheram a opção de busca, 20% a de marcar, 14% copiar e colar, e 12% a interatividade. A plataforma em que mais acessavam os textos era o laptop, com 64%, seguido do tablet, com 18%. E, segundo pesquisa da Publishers Weekly, de 2010, 76% das editoras americanas já produzem versões e-books, sendo 10% delas o fazem em detrimento de suas versões impressas. Outra coisa interessante que a pesquisa revela é que 21% delas produzem seus e-books com recursos adicionais em relação às versões impressas.
Pesquisa com editoresDesde o início de minha jornada para a produção deste tra-
balho sabia que precisaria conversar com as pessoas que real-mente põem a mão na massa, que são os editores. O autor, é claro, também dá um duro danado, mas o editor trabalha no processo todo e também no próprio texto, enquanto que o au-tor, geralmente, pára na entrega do original.
Inicialmente imaginei que poderia entrevistá-los todos pes-soalmente, depois percebi que não conseguiria. Muitos não te-riam tempo para mim, que realizava um trabalho de escola, mes-mo que fosse uma pós-graduação, e eu mesmo vi que não teria como, pois tenho um trabalho onde preciso cumprir o horário comercial. Até pedi para me ausentar por duas horas para uma determinada entrevista, mas sabia que não poderia abusar.
Consegui entrevistar nove pessoas em editoras que trabalham de alguma forma com livros onde História é o assunto central ou marginal. Fiz duas entrevistas pessoalmente, uma por telefone e seis por email. Comprometi-me com elas a não divulgar seus nomes e nem de suas empresas, a fim de não comprometê-las e para que pudessem me falar mais francamente como viam e se relacionavam com o mercado. Assim, as falas individuais não
Este nicho tem
um espaço
consolidado no
mercado e vem
crescendo há
mais de duas
décadas.
Consegui
entrevistar
nove pessoas
em editoras que
trabalham de
alguma forma
com livros onde
História é o
assunto central
ou marginal.
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serão distinguíveis ao longo do texto. Procurei mais identificar assuntos e opiniões (divergentes às vezes) do que personagens.
Livros de História
Segundo um experiente editor especializado em livros de História, e aqui contando-se apenas os de não ficção, este nicho tem um espaço consolidado no mercado e vem crescendo há mais de duas décadas. “Mesmo quando todo mundo está recla-mando eu vendo bem e vejo minha editora crescendo”, afirma.
Outro editor também disse a mesma coisa, que os bons li-vros de História têm público. Os mais fáceis tem um público mais amplo e os mais difíceis um menor. Um deles afirmou que cerca de 10% de seu catálogo é diretamente voltado ao tema, se incluirmos as biografias. E que acredita fortemente no tema, pois conta com alguns best-sellers. Outro disse que tem algumas biografias que vendem muito e há bastante tempo. “Os que fazem sucesso são os para público leigo”, afirma. já os mais acadêmicos têm em geral uma demanda mais modesta.
Público
Em uma das entrevistas, afirmou-se que a maioria dos leito-res de livros de História não é especializada, e sim de pessoas que têm interesse mais genérico por questões históricas. “Há um grande público interessado por biografias, mas me parece que os romances históricos já não fazem tanto sucesso”, ponde-ra. Outras entrevistas tinham mais ou menos o mesmo conteú-do, de que cada livro tem o seu público.
Processo de trabalho
Um editor relatou que sua equipe mexe no texto dos autores de forma integral. “Mudamos a ordem dos capítulos, tornamos trechos mais legíveis, cortamos pedaços excessivos, incluímos de-talhes que são importantes para o público não especializado”. Ele também fez questão de deixar claro que submete todas as altera-ções ao autor, quem é realmente o “dono” do texto. Mesmo esta questão às vezes pode ficar menos nítida quando o próprio livro é resultado de uma pauta, ou encomenda, vinda da editora com mi-
“Mudamos
a ordem dos
capítulos,
tornamos trechos
mais legíveis,
cortamos pedaços
excessivos,
incluímos
detalhes que são
importantes para
o público não
especializado”.
A maioria dos
leitores de livros
de História não
é especializada,
e sim de pessoas
que têm interesse
mais genérico
por questões
históricas.
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nuciosas especificações quanto à abrangência do conteúdo e sobre a forma, mais precisamente a linguagem e organização do texto.
A dinâmica me pareceu próxima a de um veículo de notí-cias, como um jornal, revista ou mesmo TV, onde os editores fazem pautas precisas e detalhadas sobre como querem que os repórteres abordem determinado assunto. Os jornalistas vão a campo, colhem as informações e produzem seu trabalho, que é posteriormente editado, segundo critérios dos editores. Aqui novamente existe uma relação entre livros de História, mesmo os escritos por historiadores profissionais e jornalistas, em seu trabalho em veículos de comunicação. Tanto em um caso como em outro, a autoria não é algo exclusivamente individual, fruto de uma cabeça que sozinha alcança todas as dimensões de um tema. É resultado do trabalho de uma equipe, onde o autor, ou repórter, assina um trabalho feito por inúmeras mãos.
Linguagem
Quando relatei a um editor a percepção geral que tive a partir do resultado da pesquisa com o público leitor (ver pági-nas 58 a 60), ele concordou 100% comigo. O grande obstácu-lo para que um pesquisador especialista escreva livros para o público mais amplo é a linguagem. “Os historiadores em geral escrevem em sua língua própria, cheia de seus jargões pro-fissionais, e não conseguem alcançar o grande público. E há também alguns que não conseguem porque são incompeten-tes mesmo, pois há incapazes em todos os setores”, pondera. Disse ainda que já viu inúmeras teses muito bem feitas, muito bem escritas, mas que são impublicáveis como livros por sua editora, pois são textos muito restritos, no sentido da especi-ficidade do objeto tratado.
Outro editor me disse a mesma coisa. “Estimo que 85% do que a academia escreve é impublicável”. Outros editores con-cordaram que a questão da linguagem é fundamental para o afastamento do historiador profissional do público. Por isso os jornalistas têm obtido tanto sucesso na área, pois eles escrevem fácil, sabem construir enredos interessantes, conseguem criar empatia entre o leitor e os personagens. Normalmente os his-toriadores estão preocupados com outras questões, como, por
“O autor ideal
é o que sabe
conciliar a sua
erudição com
a facilidade
de expressar
claramente
os principais
conceitos
envolvidos
e expor com
relativa
brevidade as
questões”.
O grande
obstáculo
para que um
pesquisador
especialista
escreva livros
para o público
mais amplo é a
linguagem.
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exemplo, de método, do conhecimento, da verdade e do senti-do. Os jornalistas escrevem tendo em vista o maior obstáculo que o setor enfrenta, que é o baixo grau de leitura do brasileiro. Além disso, conseguem usar seu faro, seu senso de oportunida-de, para extrair grandes narrativas de eventos históricos.
Mas todos são unânimes em dizer que sempre haverá espaço para os textos bem escritos, consistentes e conectados à socie-dade. O difícil seria avaliar exatamente o que cada uma dessas palavras quer dizer para cada um, em cada tempo. Segundo um editor, “o autor ideal é o que sabe conciliar a sua erudição com a facilidade de expressar claramente os principais conceitos en-volvidos e expor com relativa brevidade as questões. Sabe o que quer dizer e para quem quer falar. É um equívoco tentar atingir todos os públicos ao mesmo tempo”.
Historiadores versus jornalistas
Apesar da questão da linguagem, alguns consideram uma temeridade livros de História serem escritos por pessoas não especializadas. “Uma obra de síntese é a conclusão de toda uma vida dedicada à pesquisa”, afirma um editor. Seguindo este raciocínio, mesmo o graduado em História que não seguiu carreira acadêmica convencional teria dificuldade em publicar seu texto. jornalistas então nem pensar. Esta é uma questão bastante polêmica, pois dois dos autores mais bem vendidos de livros de História em nosso país são jornalistas. E não raro jornalistas se aventuram neste tema. Élio Gáspari, colunista da Folha de S. Paulo, escreveu a quadrilogia “A Ditadura Enver-gonhada”, “Escancarada”, “Encurralada” e “Derrotada”. Estes três autores receberam críticas elogiosas na imprensa inversa-mente proporcionais às da academia.
Os historiadores profissionais não reconhecem estes livros como sendo de História, ao mesmo tempo em que o público, mesmo o que eventualmente gosta do tema, geralmente nunca ouviu falar dos doutores da academia. Esta é uma questão ainda mais complicada porque a maioria dos professores universitários de História não está interessada em escrever para o público mais amplo. Uma editora, por email, levantou também uma questão interessante: “Há um enxame de livros de História ruins, porque
A maioria dos
professores
universitários
de História não
está interessada
em escrever para
o público mais
amplo.
Alguns
consideram
uma temeridade
livros de
História serem
escritos por
pessoas não
especializadas.
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os acadêmicos são obrigados a publicar para alimentar o currí-culo e com isso conseguir melhores ganhos”. Ou seja, o próprio “mercado acadêmico” tem uma dinâmica perversa que leva a textos, e eventualmente livros, mal cuidados.
A grande maioria dos editores, com exceção de um, disse que não vê problema em publicar textos de não profissionais, desde que tenham qualidade. “O que interessa é que o autor seja honesto e eticamente sério, comprometido com a verdade. Tem que se dedicar ao trabalho, ser talentoso e para mim tanto faz qual diploma tem”, pensa um deles. Um apenas foi bastante enfático ao dizer que só publica textos produzidos por profis-sionais do ramo, os historiadores pesquisadores. Ou seja, para ele, é mais fácil e seguro trabalhar o texto do acadêmico, no sentido de extrair o tecnicismo, do que acrescentar reflexão e análise em um texto de um não especialista.
Auto-publicação
Nesta linha de raciocínio, sobre quem seria mais competen-te para escrever, a auto-publicação se torna um grande risco. O editor profissional tem basicamente duas funções principais: a primeira é de curadoria, ou seja, selecionar material de quali-dade para oferecer para o público, como qualquer comerciante; a segunda é o seu labor especializado de edição, que transfor-ma um texto em um livro, que envolve uma série de profissio-nais diferentes, cada um com sua especialidade. Este modelo de publicação, mais autoral, só seria viável se os escritores ga-nhassem estas expertises, ou as contratassem diretamente. Am-bas as coisas não são muito viáveis em larga escala, até porque produzir e vender livros não são coisas fáceis nem mesmo para experientes profissionais do ramo.
Para alguns editores, a questão da auto-publicação por meios digitais não muda nada, pois cada vez mais os meios para isso estão facilitados. E desde sempre autores que não tinham espaço no mercado editorial, ou os que tinham muito sucesso, optam por abrir suas próprias editoras, ou bancar do próprio bolso as edições de seus textos. Os títulos de qualidade, ou mesmo de sucesso econômico, entrarão no mercado editorial e ocuparão o seu espaço. “Entrarão para o sistema”. O único senão talvez seja
Um dos
entrevistados
fez um duro
discurso contra
as plataformas
de auto-
publicação,
que seriam
“marginais” e
“irresponsáveis”.
Ele afirmou
que “milhares
de títulos são
lançados por dia
sem qualquer
seleção, controle
ou trabalho.
É mais fácil e
seguro trabalhar
o texto do
acadêmico,
no sentido
de extrair o
tecnicismo, do
que acrescentar
reflexão e
análise em um
texto de um não
especialista.
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para as casas editorais que vivem de publicar às custas do autor. Por que um autor pagaria entre R$ 1.000 e R$ 2.000 para pu-blicar o seu texto se ele pode fazer de graça e ficar disponível em todas as maiores plataformas de venda de livros digitais?
Um dos entrevistados fez um duro discurso contra as plata-formas de auto-publicação, que seriam “marginais” e “irrespon-sáveis”. Ele afirmou que “milhares de títulos são lançados por dia sem qualquer seleção, controle ou trabalho. Muitos destes textos são fraudulentos, coletâneas de spams de Internet, têm copyright protegido, uma falsa autoria”. E isto é realmente uma verdade, pois não há nada que impeça qualquer um de pegar, por exemplo, um texto do Freud, Nietzsche ou Proust e dizer que é seu. Pode inclusive ter vários volumes comercializados até que alguém denuncie a fraude. E a questão legal ainda é incerta, pois estas plataformas estão fora do país. De qualquer forma, a Amazon, por exemplo, informa que rotineiramente faz uma limpeza do material impróprio, sofisticando suas ferramentas automáticas de autenticação de qualidade e autoria.
Livros digitais e pirataria
Quanto aos livros digitais, um deles o associou imediata-mente à pirataria, “que é inevitável e que infelizmente no Brasil não há conseqüência para a infração à lei”. Apesar disso, diz que tem investido para disponibilizar seus livros nas diversas plataformas de compras de e-books. Outro reclamou das apos-tilas dos professores nas fotocopiadoras das faculdades, que in-fringem fortemente seus direitos autorais. Um deles disse que tem um departamento jurídico de prontidão para notificar sites na Internet que disponibilizam seus livros sem autorização.
Alguns disseram que investem bastante dinheiro no meio digital, apesar de ainda não terem tido qualquer retorno pal-pável. Um ou outro cita algum exemplo de sucesso, mas ainda é pontual. Ou seja, de forma geral todos estão se aproximando do meio digital, cada um no seu ritmo.
Editores e sociedade
Outra questão importante é pensarmos na relevância social e cultural da atividade de editor. Pode-se pensar em
Também é
importante não
perder de vista
que a edição de
livros, ou seja,
tornar os textos
disponíveis à
população,
tem uma
função social
inestimável.
Alguns disseram
que investem
bastante
dinheiro no meio
digital, apesar de
ainda não terem
tido qualquer
retorno palpável.
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termos de sucesso econômico-financeiro, mas também é im-portante não perder de vista que a edição de livros, ou seja, tornar os textos disponíveis à população, tem uma função social inestimável. Um editor citou, por exemplo o impacto histórico que teve os editores da Bíblia na Alemanha, que ajudaram a provocar a Reforma. Ou os editores de Karl Marx para o russo e o chinês, que ajudaram a fomentar re-voluções comunistas naqueles países. Como poderíamos es-timar o valor para a nossa cultura dos editores que tornaram mais acessíveis os livros durante o Iluminismo.
Por conta disso, como me disse o próprio editor, precisa-se avaliar o livro principalmente por sua qualidade e não pelo seu sucesso comercial. Para ele, “livro bom sempre tem público, embora seja restrito. A massa é burra e consome sempre o que há de pior”. Talvez esta afirmação seja dura, colocada nesses termos, mas não deixa de ser relevante, embora possamos não concordar com ela. E já que citamos o Iluminismo acima, um de seus pressupostos é a crença de que os homens sempre dese-jam melhorar sua condição.
Assim, faz parte das prerrogativas da atividade de editor co-locar à disposição do público o que há de melhor para o seu crescimento, no sentido mais humanista possível. É por meio das idéias, contidas nos textos, nos livros enfim, que podemos ampliar o nosso mundo, nossas possibilidades de nos realizar-mos como pessoas. Nesse sentido, detectei um certo saudosis-mo em algumas entrevistas. Houve um tempo em que existia um público para a obra de arte, em especial para os livros, que se pretendia ser culturalmente avançado. Ambicionava-se a erudição e ter conhecimento do cânone cultural era socialmen-te valorizado. Hoje isso tudo não existe mais, pelo menos não nesses termos. Atualmente o que é mais valorizado em nossa sociedade é o status, mas de uma forma mais voltada à indús-tria do entretenimento, sendo que antes era o conhecimento, ou pelo menos a cultura, num sentido mais estrito.
Outro afirma que a grande dificuldade que o setor enfrenta é o baixo nível de escolarização do brasileiro, que é medíocre. “Falta fluência verbal, de leitura e intelectual à população”, re-clama. Ou seja, este é um setor que provavelmente se beneficia-rá fortemente com o avanço das políticas de inclusão no ensino
A grande
dificuldade que
o setor enfrenta
é o baixo nível
de escolarização
do brasileiro,
que é medíocre.
“Falta fluência
verbal, de leitura
e intelectual
à população”,
reclama.
Precisa-se
avaliar o livro
principalmente
por sua
qualidade e não
pelo seu sucesso
comercial.
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superior promovida nos últimos anos. Por mais que possamos apontar uma série de problemas, os índices do país nesta érea têm melhorado a cada ano. Uma editora, por email, escreveu: “É preciso que as escolas sejam melhores e os professores mais bem pagos (e, portanto, melhor preparados), para que o inte-resse e o hábito leitura (qualquer leitura) se desenvolvam”.
Outra editora acha que o livro acaba sendo imposto como uma obrigação a ser cumprida nas escolas, uma exigência, e quando as pessoas terminam os estudos simplesmente param de ler. Isso poderia ser contornado se “as escolas apresentassem às crianças o livro como um objeto prazeroso. Mais importante do que aluno saber responder em uma prova sobre o conteúdo, é que possa discutir a experiência da leitura, o que depreendeu e como relaciona esse conteúdo com sua própria vida”.
Editores e mercado
Outro editor comentou que o consumo de livros no Brasil é quase completamente dependente da mídia. Existe um círculo midiático que impõe o gosto no país. As editoras e autores que caem nas graças deste seleto grupo de críticos, comentadores, entrevistadores e fazedores de listas dos mais vendidos têm seus títulos alçados a best-sellers. Em outros países, culturalmente mais maduros, existe um período de decantação maior, onde o sucesso de um livro é alcançado ao longo do tempo. E o leitor é menos suscetível à influência da mídia. Ou mesmo a mídia especializada é muito mais profissionalizada, menos pautada por modismos, gosto ou simpatia pessoal.
Consegui um depoimento bastante sincero de um editor brasileiro sobre a Amazon. Para ele, a empresa de Seatle é “mo-nopolista e predatória”. O objetivo da empresa seria, nas costas das editoras, que geram conteúdo, trazer os consumidores para o site a fim de vender “badulaques eletrônicos”. A empresa teria destruído o mercado americano de livrarias, está arruinando as margens das editoras, tornando o mercado menos rentável, sob o “falso discurso de democratizar o acesso ao livro, tornando-o mais barato, mas na prática negando o trabalho da editora”.
Outro editor disse que a atividade de publicar livros é defi-citária, praticamente um hobbie. “Minha editora vive do meu
A empresa
de Seatle é
“monopolista
e predatória”.
O objetivo da
empresa seria,
nas costas das
editoras, que
geram conteúdo,
trazer os
consumidores
para o site a
fim de vender
“badulaques
eletrônicos”.
Existe um
círculo midiático
que impõe o
gosto no país.
As editoras e
autores que
caem nas
graças deste
seleto grupo
de críticos,
comentadores,
entrevistadores
e fazedores de
listas dos mais
vendidos têm
seus títulos
alçados a best-
sellers.
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próprio mecenato, é sustentada pelas outras atividades que exerço, senão teria falido há muito tempo”.
Quanto ao Governo, um deles relatou que procura parti-cipar dos programas, mas é muito incerto quanto ao resulta-do. Por isso, quando faz o planejamento orçamentário do ano, nunca inclui qualquer venda ao Governo. Uma das editoras dis-se que está satisfeita com as compras governamentais, que esta receita é significativa em seu orçamento. Outra disse que apesar do Governo ser o principal comprador de livros do país, falta um incentivo para a população continuar a ler depois de sair da escola. “Obviamente as compras de Governo sustentam todo o mercado editorial, mas sem políticas de incentivo à leitura não se formam pessoas que continuam lendo e consumindo li-vros depois que saem da escola”, sintetiza. Para ela, políticas públicas que revitalizassem as bibliotecas e as tornasse locais realmente utilizados pela população também colaboraria para que o livro fosse algo cotidiano para todos os brasileiros. (Pen-sei algumas vezes em abordar o assunto bibliotecas em meu trabalho, mas não o fiz por total falta de tempo). Por email, um editor afirma que tem uma funcionária especializada para tratar das compras do Governo, mas que não contam com fi-nanciamentos estatais.
Houve uma entrevista em que foi muito enfatizado o traba-lho junto aos veículos de comunicação, tanto os convencionais, como os mais modernos, nas mídias sociais e os blogs. Outra afirmou que nem todos os autores estão dispostos a investir seu tempo na divulgação do livro, pois às vezes isso pode ser muito demandante e com resultado incerto.
Em relação ao aumento da renda da população mais pobre, uma das editoras afirmou que criou selos voltados para este pú-blico, mas ainda é cedo para avaliar o resultado, embora esteja com excelente perspectiva. Diz ainda que os incentivos gover-namentais e a queda constante do preço dos livros têm ajudado a aumentar o público leitor. Outro editor afirma que também vende seus livros por meio da Avon, com bons resultados.
Uma das editoras disse que seus livros são bem cuidados editorial e graficamente e, portanto, pouco acessíveis à maior parte da população. E que trabalha muito com impressão por demanda, tornando-a menos dependente de estoque.
Houve uma
entrevista em
que foi muito
enfatizado o
trabalho junto
aos veículos de
comunicação,
tanto os
convencionais,
como os mais
modernos, nas
mídias sociais e
os blogs.
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Análise do assunto
Aqui procurarei estudar a trajetória de dois autores que ob-tiveram muito sucesso comercial, junto ao público, com livros de História. E um relativo sucesso junto à crítica, contando historiadores e críticos em geral.
Laurentino Gomes e Eduardo Bueno sem dúvida colocaram em cheque a máxima de que brasileiro não se interessa pela História do país. O primeiro diz, inclusive, e ironicamente, que muitos de seus amigos procuravam fazê-lo desistir de escrever sobre D. joão, pois ninguém teria interesse nele.
O sucesso deles pode ser talvez explicado pelo treinamento que tiveram na vida de jornalistas, que precisam o tempo todo estar em sintonia com o leitor, seja na escolha de temas (pau-tas), seja na melhor forma de escrever (linguagem). Estas duas características, somadas á maior visibilidade que eles natural-mente já têm, são um belo caminho andado rumo ao sucesso de vendas.
Principais autores para leigosLaurentino Gomes é formado em jornalismo pela UFPR,
foi repórter do Estado de S.Paulo e da Veja. Na Editora Abril, onde trabalhou por 22 anos, quinze deles como repórter e editor, depois assumindo o cargo de diretor superintendente, de onde comandou 23 revistas. Escreveu “1808” ao longo de dez anos, conciliando com o trabalho regular. Em 2008, com o sucesso do livro, saiu do emprego para se dedicar integral-mente à vida de escritor. Vendeu ao longo do tempo mais de 800 mil exemplares em 27 edições, percorreu 75 cidades em dois anos divulgando o livro, ganhou o jabuti (prêmio com maior reputação em nossas terras) e o de melhor ensaio de ABL de 2008, por indicação de josé Murilo de Carvalho, um dos maiores historiadores brasileiros vivos. Conseguiu alcan-
O sucesso deles
pode ser talvez
explicado pelo
treinamento que
tiveram na vida
de jornalistas,
que precisam o
tempo todo estar
em sintonia com
o leitor, seja na
escolha de temas
(pautas), seja na
melhor forma
de escrever
(linguagem).
Laurentino
Gomes e
Eduardo Bueno
sem dúvida
colocaram
em cheque a
máxima de que
brasileiro não
se interessa pela
História do país.
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çar bastante sucesso graças a uma boa narrativa, escolha de fatos curiosos e a um plano de marketing profissional. E em função disso tudo conseguiu ficar por três anos nas listas dos mais vendidos.
Sua agente literária, Carmen Gomes, que se tornou sua es-posa, preparou um roteiro de 32 cidades a serem visitadas em 100 dias para o lançamento de “1822”, tornando-o um sucesso também. Além disso há a agenda de entrevistas aos programas do jô Soares, Edney Silvestre, aos veículos Veja, O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo, O Globo etc. Percorre as capitais os estados, dá entrevistas aos órgãos locais, confere palestras, aulas em colégios, sessões de autógrafos. Criou e mantém dia-riamente atualizadas páginas em sites de mídias sociais, como Facebook, Orkut e Twitter, onde tem mais de cinco mil segui-dores. Assim conseguiu visibilidade nas prateleiras das livra-rias, fato fundamental para alcançar uma boa vendagem, já que é um espaço disputadíssimo, por ser muito restrito. Todo este trabalho foi recompensado com o resultado. A tiragem inicial de seu segundo livro foi de 100 mil exemplares, com re-im-pressão de mais 100 mil já na primeira semana de lançamento. Estes são números realmente impressionantes para o mercado editorial nacional. Além disso, ganhou o segundo jabuti com a obra, em 2011.
Em entrevista à revista Poder, diz que a História ajuda na compreensão dos porquês do país ser deste jeito e pode nos dar pistas de como devemos agir para construirmos o país que sonhamos. Fora do país, livros desta temática sempre tiveram um bom público. Outros títulos obtiveram relativo sucesso no mesmo período que “1808”, como “D. Pedro 1º – Um Herói Sem Nenhum Caráter’, de Isabel Lustosa (11,5 mil cópias); “D. Pedro 2º – Ser ou Não Ser”, de josé Murilo de Carvalho (28 mil); e “Império à Deriva”, de Patrick Wilcken (14 mil).
Em entrevista ao Roda Vida de 26 de dezembro de 2011, da TV Cultura, disse que “os autores brasileiros são refratários à idéia de ajudar a vender livros”. Fala também que desenvol-veu, a partir de sugestão de Paulo Coelho, seu próprio plano de marketing, pois não poderia ficar na mão das editoras, que ainda não davam atenção a isso ou não o faziam de forma pro-fissional. E ele próprio era um profissional da área. A partir de
Desenvolveu,
a partir de
sugestão de
Paulo Coelho,
seu próprio
plano de
marketing, pois
não poderia
ficar na mão
das editoras,
que ainda não
davam atenção
a isso ou não o
faziam de forma
profissional.
Conseguiu
visibilidade nas
prateleiras das
livrarias, fato
fundamental
para alcançar
uma boa
vendagem, já
que é um espaço
disputadíssimo,
por ser muito
restrito.
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sua experiência como executivo da Abril pensou no conceito de multi-formato, pois é impraticável alcançar todos os leitores de uma forma só. Então lançou o áudio-livro (com narração de Pedro Bial), uma versão infanto-juvenil, e-book, site na Inter-net, DVD (com making of das pesquisas e visitas aos lugares históricos) etc. Também se valeu do fato de ser um profissional de imprensa e de mídia para que seus livros criassem pautas nos veículos de comunicação. Este é um fato que ajuda todos os jornalistas que se tornam best-sellers com livros de História, porém não o explica inteiramente. Os textos, enfim, só vendem porque o público reconhece qualidade neles.
Disse que percebeu que os brasileiros em geral, quando se referem à História, têm uma relação semelhante ao que tem com futebol, no sentido de todo mundo ter um palpite, uma sugestão para dar. Existe até a torcida por determinados per-sonagens, alguns temas. Acha que alguns historiadores escreve-ram artigos justos e de modo geral positivos em relação ao seu livro, embora tenha havido uma reação contrária corporativa, mas sem autoria, anônima e silenciosa. Citou ainda uma rese-nha assinada com crítica bastante negativa e dura, mas séria, na Revista da Biblioteca Nacional.
Percebia que existia um grande interesse pela História em todo mundo e que simplesmente se beneficiou do fenômeno. Cita o professor e geógrafo Milton Santos que, no início dos anos 1990, disse que com a globalização a cultura ficaria mais homogênea em todo o mundo, propiciando um maior interesse por espiritualidade e História, que seriam assuntos que dariam identidade às pessoas. São exatamente temas que dominam as listas dos mais vendidos no mundo todo.
Diz também que a disciplina História ficou de tal forma contaminada pela crítica marxista, que privilegia o entendi-mento dos modos de produção, que se esqueceu das pessoas que realmente a vivem, as pessoas de carne e osso. Ele procura resgatar aqueles que viveram os acontecimentos, levando em conta também as conjunturas. Quando dá palestras em escolas, ouve muitos alunos lhe dizerem que não gostavam de História e, a partir da conversa que tiveram, começaram a entender e a gostar. Acha que o grande problema da disciplina é a lingua-gem. Diz que considera a produção de História profissional,
Cita o professor
e geógrafo
Milton Santos
que, no início
dos anos 1990,
disse que com
a globalização
a cultura
ficaria mais
homogênea em
todo o mundo,
propiciando
um maior
interesse por
espiritualidade
e História, que
seriam assuntos
que dariam
identidade às
pessoas.
Pensou no
conceito
de multi-
formato, pois
é impraticável
alcançar todos
os leitores de
uma forma só.
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feita pelos pesquisadores, muito boa, muito diversificada, mas que é muito afastada do cidadão comum. “Ela é muito técnica, muito acadêmica”.
Usa técnicas cinematográficas de narrativa não linear, a fim de promover dinamismo à escrita e prender o leitor ao livro. Essa é uma questão fundamental e central tanto para o mer-cado editorial como para qualquer campo do conhecimento, como a História, que é a forma de se comunicar com o leitor. E aqui em nosso país esse é um problema mais grave porque temos altos índices de pessoas analfabetas e, mesmo as alfabeti-zadas, com sérias dificuldades de leitura. Assim, o autor prefere se ver “como uma porta de entrada. O leitor primeiro pega o meu livro e depois vai para o ‘Raízes do Brasil’. Se ele inverter a leitura, pode se afugentar”.
Ele tem consciência de que é um divulgador, pois quase não faz pesquisa primária. E reclama que no país é normalmente a imprensa quem faz a divulgação científica em todas as áreas. Os acadêmicos não têm interesse e às vezes têm até preconceito. Por fim, repete a tese já bastante difundida de que o jornalista é o historiador do presente e o historiador é o jornalista do pas-sado. Para ele, a principal diferença é que não pode entrevistar suas fontes, pois estão mortas. Então se aproxima delas por meio dos livros que os historiadores pesquisadores produzem. “A essência do meu trabalho nos livros continua a ser a repor-tagem. Não os vejo como de História, estritamente”.
Laurentino Gomes reconhece que Eduardo Bueno é o ver-dadeiro pioneiro no ramo. Quando ele era editor da L&PM publicou uma coleção de diários de exploradores com o qual obteve muito sucesso. Daí veio a idéia para escrever a “Viagem do Descobrimento”, que estourou em vendagem.
Eduardo Bueno começou a trabalhar aos dezessete anos como repórter do jornal Zero Hora, de Porto Alegre. Lá ga-nhou o apelido de Peninha, inspirado no personagem da Dis-ney. Traduziu a obra “Pé na estrada”, de jack Kerouac, ganhan-do notoriedade e divulgando o movimento beatnik. Em 2000, aproveitando a oportunidade das comemorações dos 500 anos de desdobrimento do Brasil, lançou o seu livro e “inventou o mercado”, segundo ele mesmo diz sem falsa modéstia. Diz que percebeu essa demanda reprimida desde o início dos anos 1980,
Laurentino
Gomes
reconhece que
Eduardo Bueno
é o verdadeiro
pioneiro no
ramo.
No país é
normalmente a
imprensa quem
faz a divulgação
científica em
todas as áreas.
Os acadêmicos
não têm
interesse e às
vezes têm até
preconceito.
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quando editou a coleção dos navegadores Américo Vespúcio, Cristóvão Colombo e outros, com muito sucesso comercial.
Em entrevista ao jô Soares, de 7 de setembro de 2010, diz que escreveu ao todo 20 livros sobre História do Brasil. Reco-nhece que existem grandes historiadores brasileiros, que não são apenas os jornalistas que conseguem escrevem bem. Cita o Evaldo Cabral de Melo como um dos que conseguem chegar ao grande público com um diálogo acessível.
No programa “Nossa Língua Portuguesa”, com o profes-sor Pasquale, da TV Cultura (não sei a data de sua exibição), Eduardo Bueno diz que já havia alguns sinais que o mercado brasileiro apreciaria livros de História. “Graças a jornalistas, Fernando de Morais, jorge Caldeira e Rui Castro pude ver que as pessoas realmente gostam de saber sobre fatos do passado”. Acha que seus livros são de divulgação, não vê nada de mais nisso, pois isso é imprescindível e há muito pouco disso aqui no país. A linguagem é uma questão central, e ele, como jornalista, pode usar um arsenal de ferramentas que os próprios historia-dores não podem. “Costumo brincar com alguns historiadores que eu posso me dar ao luxo de fazer generalizações, simplifi-cações e não pesar o texto com análises”. Portanto o texto fica muito ágil, leve e fácil de ser lido. É uma forma de conhecimen-to, pois informa ao leitor uma série de eventos e assuntos que fazem parte de nosso passado e constituem de certa de forma quem somos hoje, mas tem um frescor, uma dinâmica quase de entretenimento, de passatempo. Como se não se estivesse estudando por obrigação.
Em entrevista ao jornalista Augusto Nunes em 28 de setem-bro de 2010, no canal da Veja no YouTube, Bueno afirma que a quadrilogia “Viagem do Descobrimento”, “Náufragos, trafi-cantes e degredados”, “Capitães do Brasil” e “A Coroa, a Cruz e a Espada” venderam juntas mais de 600 mil exemplares. Só o primeiro vendeu mais de 300 mil. Sobre a polêmica entre os jornalistas e historiadores, brinca que sempre foge da denomi-nação de historiador, mas “não é o que diz Eric Hobsbawm”. Encontraram-se na primeira Flip (Festa Literária Internacional de Parati) e recebeu uma dedicação do historiador inglês nos seguintes termos: “De historiador para historiador”. Afirma que o famoso acadêmico inglês percebeu e ele mesmo reco-
“Costumo
brincar
com alguns
historiadores que
eu posso me dar
ao luxo de fazer
generalizações,
simplificações
e não pesar
o texto com
análises”.
Eduardo Bueno
reconhece que
existem grandes
historiadores
brasileiros, que
não são apenas
os jornalistas
que conseguem
escrevem bem.
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nhece que não faz pesquisa primária, nos arquivos, e que suas obras são claramente de divulgação. “Meus livros são feitos a partir de livros de outros historiadores”. Diz também, em outra entrevista, que Kenneth Maxwell, famoso brasilianista inglês que escreveu “A Devassa da Devassa”, sobre a Inconfidência Mineira, também o reconhece como historiador.
Graduados de HistóriaEntrevistei ao todo dez pessoas que foram meus colegas du-
rante o período de graduação, que se encerrou em 2007. Sete deles são atualmente professores. Quatro da rede pública e três da rede privada (critério de ênfase em relação ao tempo, pois alguns atuam em ambas). Fiz duas perguntas a eles: o que faz da vida e como o curso de História lhe ajudava nisso; e como via a relação entre o mercado editorial e o assunto História.
Sobre o curso
Todos afirmaram que adoraram fazer o curso, ponto este muito enfatizado. Muitos disseram que o curso foi útil, mesmo para aqueles que não dão aula. Os que dão aula disseram que o curso foi fundamental. Não apenas pelo diploma, que é uma exigência legal, mas pela bagagem teórica . “O curso me ajudou a ser mais humano e próximo ao outro”, me disse um colega que atende ao público hospitalar.
Alguns que dão aula me falaram da dificuldade que enfren-tam na profissão. “Faço tudo menos dar aula de História. Sou mais psicóloga, educadora, mãe. A carência é mais ampla do que a apenas econômica”, me disse uma colega. Outro cole-ga, também professor, afirmou que o curso proporciona uma carga de conhecimento e profundidade de reflexão que difi-cilmente se alcançaria sozinho. “Precisaria ser um autodidata muito competente”.
“Uso bastante História, embora não trabalhe com isso. O curso foi muito completo, aprimorou minha forma de anali-sar documentos, objetos, meu senso estético. Desenvolveu meu olhar analítico, a forma de enxergar o objeto com vários ângu-los”, me disse um colega que atua com pesquisa de mercado.
“Uso bastante
História,
embora não
trabalhe com
isso. O curso foi
muito completo,
aprimorou
minha forma
de analisar
documentos,
objetos, meu
senso estético.
Desenvolveu
meu olhar
analítico,
a forma de
enxergar o
objeto com
vários ângulos”.
Entrevistei ao
todo dez pessoas
que foram meus
colegas durante
o período de
graduação, que
se encerrou em
2007. Sete deles
são atualmente
professores.
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Alguns me disseram que acham que ninguém valoriza o campo historiográfico. “Ninguém dá bola para historiador”. Entre os que se dedicam profissionalmente ao ramo, há cer-tamente um sentimento de mágoa pela profissão não ter o re-conhecimento social que merece. E parte deste problema está relacionado ao mercado editorial e aos livros de História que fazem sucesso.
De forma geral, o curso oferece ferramentas de análise que auxiliam a pessoa a desempenhar qualquer atividade que en-volve reflexão e produção de conhecimento. Alguém habitua-do com o discurso historiográfico, e principalmente por isso a disciplina é fundamental para a formação do indivíduo para a cidadania, é capaz de fazer relações, pensar levando em conta diversos pontos de vista, perceber a coerência interna nas dife-rentes vozes, avaliar e identificar as contradições de interesses entre os diversos atores sociais. E principalmente aprende a ler, sejam textos, sejam atitudes, de forma mais consciente. Con-cluindo, um colega que trabalha em banco me disse o seguinte: “Minhas opiniões políticas e filosóficas refletem muito meus estudos e minhas vivências acadêmicas. De forma geral, minha formação fez me perceber como um agente histórico, transfor-mador, e isso faz uma enorme diferença em qualquer área de minha vida”.
Sobre o mercado
Quanto ao mercado editorial em si, em geral acham que o valor do livro é caro, pensam que publicar é algo bem difícil, de pouco acesso. Sabem que muitos autores pagam a edição do próprio bolso, alguns me relataram ocasiões de pessoas próxi-mas em que isso ocorreu.
Alguns espontaneamente, outros provocados, disseram categoricamente que odeiam jornalistas, que seus livros não são comprometidos cientifica nem eticamente, para ficar em uma expressão mais polida. Muitos citaram especificamente o “Guia politicamente incorreto da História do Brasil” como um exemplo de mau-caratismo intelectual e editorial. As críticas em relação ao Eduardo Bueno e ao Laurentino Gomes são mais amenas, mas não necessariamente positivas. “Os jornalistas
Alguns
espontaneamente,
outros
provocados,
disseram
categoricamente
que odeiam
jornalistas,
que seus
livros não são
comprometidos
cientifica nem
eticamente
Há certamente
um sentimento
de mágoa
pela profissão
não ter o
reconhecimento
social que
merece.
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têm destaque por causa da linguagem, que é atraente. O livro do historiador é mais difícil do que o do jornalista, que não tem problematização, apenas narrativa. Laurentino Gomes é bem escrito, apesar de ser apenas uma síntese, sem teoria e metodo-logia”, diz um dos entrevistados.
Apesar disso, aqui e ali alguns reconheceram que os não his-toriadores ajudaram a criar um mercado que praticamente não existia, o de livros de História. Inclusive hoje existem muitas revistas, canais de televisão especializados, programas voltados a assuntos de História mesmo na TV aberta. Existe também o interesse crescente por biografias. É cada vez mais comum as livrarias reservarem um espaço para os livros sobre o tema. Mas o mercado de livros de História para o público acadêmico continua a ser um pequeno nicho, onde apenas o pessoal das universidades têm interesse. E mesmo esse tem sérias distor-ções, pois alguns relataram que as escolhas muitas vezes são políticas sobre quais títulos serão publicados. Depende muito quem é o orientador e o quanto ele é bem relacionado com o mercado editorial.
Alguns se mostraram desesperançosos quanto ao futuro, pois “somos o país dos banguelas, com o analfabetismo fun-cional gigantesco”. Então acham que faltará muito ainda para que a população tenha acesso e reconheça o valor de livros bem escritos e seriamente comprometidos . Além disso, alfabetizar de forma mais ampla a população é a prioridade das priorida-des, ficando a questão da disciplina História como um nicho deste problema, que é muito maior e mais complexo. E quanto a isso alguns levantaram críticas aos livros didáticos, que hoje em dia muitas vezes são desenvolvidos com um volume único e que fala sobre tudo. “Preferiria que fossem mais livros e que pudesse ter mais liberdade para trabalhar mais os temas. As coleções integradas são muito amarradas”, reclama um profes-sor. Outro também abordou a defasagem teórica e factual em relação às pesquisas acadêmicas mais recentes. “Demora muito para o que é sabido por todo aluno de História nas universida-des chegar ao ensino fundamental e médio”, observa.
Alguns falaram que os livros de História precisam se apro-ximar da população, com uma linguagem e temas mais acessí-veis, mas definitivamente comprometidos com pesquisa séria e
Alguns falaram
que os livros
de História
precisam se
aproximar da
população, com
uma linguagem
e temas mais
acessíveis, mas
definitivamente
comprometidos
com pesquisa
séria e
responsável.
Alguns
reconheceram
que os não
historiadores
ajudaram a criar
um mercado que
praticamente
não existia,
o de livros de
História.
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responsável. Existe ênfase nesta questão em função de alguns títulos que fazem muito sucesso e criam um mal-estar entre o público mais especializado. “A relação entre o mercado edito-rial e o livro de História é muito ruim, pois ele se interessa por falsas polêmicas, que têm pouco sentido, não trazem nenhuma reflexão e não ajuda em nada a divulgar a História como disci-plina, nem como forma de conhecimento”, disse um deles.
Outra colega me disse que “os livros de sucesso pegam um grande mote, promovem distorções, pegam eventos engraçados e ridículos, procuram o fácil, o vendável. O mercado tem inte-resse na História como pastiche, em preconceitos que vendem. Distorções da verdade. Incentivando o nosso já conhecido com-plexo de vira-lata”.
Os professores doutores pesquisadores de História e as pes-soas graduadas em História participam do mercado de livros de História de forma marginal, quando deveriam ser expoen-tes. Por um lado, existe um compromisso ético, técnico e teóri-co que um profissional, seja ele de qual setor for, precisa estar muito mais atento do que um forasteiro, que pode se dar ao luxo de dar muito mais palpites. Eu posso dar palpites sobre o desenho de uma ponte ou de um prédio, mas o engenheiro precisa estar certo. A vantagem do engenheiro sobre o historia-dor é que o primeiro tem uns cálculos para mostrar e poucos se atrevem a contestar, apesar de eventualmente alguma ponte ou prédio caírem. Este assunto, sobre a subjetividade das ciências humanas em geral, é fascinante, mas este não será o lugar que discutirei isso.
A vantagem do
engenheiro sobre
o historiador é
que o primeiro
tem uns cálculos
para mostrar
e poucos se
atrevem a
contestar,
apesar de
eventualmente
alguma ponte ou
prédio caírem.
O mercado tem
interesse na
História como
pastiche, em
preconceitos
que vendem.
Distorções
da verdade.
Incentivando
o nosso já
conhecido
complexo de
vira-lata”.
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O consumidor
Pesquisa com o público leitorEntre os dias 17 e 27 de maio, realizei por meio do Goo-
gledocs uma pesquisa com perguntas abertas e fechadas com o público leitor em geral. Participaram 102 pessoas (a pesquisa completa pode ser vista entre as páginas 58 e 60). Deve-se le-var em consideração que a participação dos entrevistados foi espontânea e via Internet. Fiz o convite via email e Facebook para os meus contatos pessoais e alguns profissionais, portanto a amostra foi consideravelmente enviesada. Como fiz gradua-ção em História e trabalho como designer gráfico, focado na área editorial e com grupos de teatro, o perfil das pessoas que responderam refletem este público, ou seja, as pessoas que são próximas a mim.
Apenas a percentagem de pessoas com graduação, 46,08%, e pós-graduação, também 46,08%, somando ambos 92,16%, demonstra que a pesquisa não reflete o público leitor e mui-to menos a população brasileira. Ainda 1,96% declararam que concluíram o Fundamental e 5,88% o Ensino Médio.
Entre a população brasileira como um todo, tendo por base a pesquisa do Instituto Pró-Livro (mais informações sobre ela a partir da página 68), 9% são analfabetos; 29% têm o Funda-mental I; 24% o Fundamental II; 28% o Ensino Médio; e 10% o Superior. Agora, se formos considerar apenas o público leitor, segundo a mesma pesquisa, os números são: 1% é analfabeto; 27% têm o Fundamental I; 26% o Fundamental II; 30% o En-sino Médio; e 16% o Superior.
Quanto à minha pesquisa, a tabulação dos dados pessoais, o padrão de consumo e as opiniões dos entrevistados nos possi-bilitam traçar um possível perfil do leitor de livros de História. A partir das respostas podemos dizer que é mulher (59,8%), tem curso superior ou já fez pós (92,16%), tem entre 21 e 40 anos (63%), lê entre uma e 30 horas por semana textos em geral
Participaram
102 pessoas
(a pesquisa
completa pode
ser vista entre as
páginas 58 e 60).
Deve-se levar
em consideração
que a
participação dos
entrevistados foi
espontânea e via
Internet.
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Pesquisa sobre o mercado editorialPúblico leitorRealizada por meio do Googledocs, entre 17 a 27 de maio de 2012102 respostas no total
Sexo:
mulheres 59,80%homens 40,20%
Escolaridade:
Fundamental 1,96%Ensino Médio 5,88%
Superior 46,08%Pós-graduação 46,08%
Qual é a sua idade?
Média = 38,29 anos
Até 20 anos 2%De 21 a 30 20%De 31 a 40 43%De 41 a 50 23%De 51 a 60 9%Mais de 61 3%
Quantos livros comprou nos últimos 12 meses?
Nenhum 1,96%Entre 1 e 5 29,41%
Entre 6 e 10 30,39%Entre 11 e 20 15,69%Entre 21 e 30 11,76%
Mais de 31 10,78%
Quantos livros leu nos últimos 12 meses?
1,96%40,20%26,47%20,59%4,90%5,88%
Qual é a sua profissão/área de atuação?
Comunicação 21,15%Administração 17,31%Educação 17,31%Artes 15,38%Design 11,54%Vendas 5,77%Informática 3,85%Psicologia 2,88%Publicação 2,88%Estudante 1,92%
Quantas horas por semana dedica à leitura em geral?
Nenhuma 0,98%Entre 1 e 5 19,61%
Entre 6 e 10 26,47%Entre 11 e 20 28,43%Entre 21 e 30 15,69%
Mais de 31 7,84%Não sabe 0,98%
Quantas horas por semana dedica à leitura de livros?
7,84%45,10%27,45%15,69%0,98%0,00%2,94%
59
Qual gênero de livro prefere? (Mais de uma opção)
Literatura 61,76%História/biografia 23,53%Auto-ajuda/religião 12,75%Profissional 11,76%Outras Ciências sociais 10,78%Arte/design 3,92%Turismo 1,96%
Em qual plataforma leus os livros (ou partes deles)
nos últimos 12 meses?(Mais de uma opção)
Impresso 93,14%Computador 34,31%
Tablet 13,73%Fotocópia 10,78%
E-reader 3,92%
Em qual plataforma acha que lerá os livros (ou partes deles) nos próximos 12 meses?(Mais de uma opção)
84,31%31,37%25,49%8,82%2,94%
Se fosse ler um livro de História, sobre qual assunto seria?
(Mais de uma opção)
Brasil 18,63%Antiga 11,76%
Países/regiões específicas 9,80%Guerra 9,80%Cultura 8,82%
Biografia 6,86%Religião 5,88%Política 4,90%
Medieval 4,90%Arte/Design 4,90%
Recente/jornalístico 3,92%Esportes/Hobbies 2,94%
Economia 2,94%
Qual seria o seu nível de interesse para ler
um livro de História nos próximos 12 meses?
Média = 6,66
0 3,06%1 2,04%2 1,02%3 4,08%
4 12,24%5 20,41%
6 6,12%7 8,16%8 9,18%9 5,10%
10 28,57%
O quanto acha importante ler livros de História para a formação de uma pessoa?Média = 8,77
0,00%0,00%2,02%0,00%1,01%8,08%1,01%6,06%13,13%11,11%57,58%
Quantos livros de História já leu espontaneamente?
Nenhum 9,28%Entre 1 e 5 37,11%
Entre 6 e 10 15,46%Entre 10 e 20 7,22%
Mais de 21 8,25%Muitos 13,40%Não sei 9,28%
60
Pesquisa sobre o mercado editorialPúblico leitor(Continuação)
Qual(is) autor(es) de livro de História conhece e/ou acha mais importante(s)?(Mais de uma opção)
Eric Hobsbawn 22,55% • Sergio Buarque de Hollanda 11,76% • Eduardo
Bueno e Gilberto Freyre 6,86% • Fernando Novais, Laurentino Gomes e Marc
Bloch 5,88% • Caio Prado Jr., Darcy Ribeiro e Edward P. Thompson 3,92%
• Fernand Braudel, José Murilo de Carvalho, Maria Lígia Coelho Prado, Michel
Foucault e Jacques Le Goff 2,94% • Bóris Fausto, Carlo Ginzburg, Georges
Duby, Hilário Franco Jr., Laura de Mello e Souza, Maria Helena Rolim Capelato,
Sidney Chalhoub, Thomas Skidmore, Walter Benjamin, Michel de Certeau, Leandro
Narloch, Roger Chartier, Lilia Schwarcz 1,96%
Na sua opinião, para que serve a História?(Mais de uma opção)
Compreender o passado 46,08%Compreender o presente 39,22%Ajudar a construir o futuro 31,37%
Conhecimento/reflexão 31,37%Prazer de estudar 2,94%
Não possui utilidade 0,98%
O que estimularia, na sua opinião, a leitura de um livro de História?(Mais de uma opção)
Escolha de episódios/temas/assuntos marcantes 22,55% • Textos curtos e
fáceis de ler – “menos academicismo” 21,57% • Aquisição de conhecimento/
reflexão 14,71% • Escolha de personagens marcantes, explorando sua
“psicologia” 5,88% • Escrita em forma de romance histórico/narrativa 5,88% •
Novidades na pesquisa, metodológicas, interpretação 5,88% • Boa divulgação
5,88% • Aproximação com o mundo do leitor 4,90% • Melhoria do ensino
4,90% • Qualidade do texto 4,90% • Aproximação de datas comemorativas
1,96% • Autor 1,96% • Indicação 1,96% • Mais facilidade de acesso (preço/
disponibilidade) 0,98%
Se fosse ler um livro de História, você preferiria...(Mais de uma opção)
53,92% História recente / jornalístico
45,10% Romance histórico
32,35% Para público leigo / divulgação
28,43% Acadêmico
18,63% Didático
9,80% Paradidático
61
(74,51%), lê entre uma e 10 horas por semana livros (72,55%), comprou entre um e 10 livros nos últimos 12 meses (59,8%) e também leu entre 1 e 10 (66,67%) e trabalha com comunica-ção, administração, educação ou artes (71,15%).
Quando lê, prefere o gênero literatura (61,76%), sendo que as palavras “romance”, “ficção” e “literatura” somam 32 menções. Contra 24 de “história” e “biografia”. No gráfico 1, desenvolvido a partir da recorrência de palavras ao longo das respostas, que foram espontâneas, vemos as mais citadas como um todo.
Quando lê livros de História prefere sobre o Brasil (18,63%), leu espontaneamente entre um e 10 livros de História (65,97%, incluindo “muitos”), o nível de interesse em ler um livro de História é 6,66 e acha que História é importante para a forma-ção da pessoa, dando nota 8,77. A média de livros comprados nos últimos 12 meses é 14,76 no geral, sendo 13,46 para as mulheres e 14,94 para os homens. A média de livros lidos é mais baixa, 10,68, no geral, sendo 10,23 para as mulheres e 10,72 para os homens. A média de horas de leitura em geral na semana é 15,01 e, para livros, 6,48.
Quase a totalidade lê e pretende ler livros na forma impres-sa, embora haja uma pequena queda, de 93,14% para 84,31%, a leitura pelo computador também sofreu uma pequena queda, de 34,31% para 31,37%. já o suporte tablet teve um consi-derável aumento, de 13,73% para 25,49%. Fotocópia caiu de 10,78% para 8,82% e, surpreendentemente, o formato e-reader é baixíssimo e caiu ainda mais, de 3,92% para 2,94%.
O autor de História mais conhecido é o inglês Eric Hobs-bawn, com 22,55% de menção. O brasileiro Sérgio Buarque de Hollanda segue em segundo, com 11,76%. Eduardo Bueno e Gilberto Freyre estão em terceiro, com 6,86%. Fernando No-vais, Laurentino Gomes e Marc Bloch vêm juntos em quarto, com 5,88%. Caio Prado jr., Darcy Ribeiro e Edward P. Thomp-son vêm em quinto, com 3,92%. Dos dez primeiros, temos dois jornalistas (Eduardo Bueno e Laurentino Gomes), e três estran-geiros, incluindo o primeiro lugar.
A inclusão dos dois jornalistas não é grande surpresa, pois 53,92% dos entrevistados prefeririam ler livros de História re-
O autor de
História mais
conhecido é
o inglês Eric
Hobsbawn,
com 22,55%
de menção. O
brasileiro Sérgio
Buarque de
Hollanda segue
em segundo,
com 11,76%.
O nível de
interesse em
ler um livro
de História é
6,66 e acha
que História é
importante para
a formação da
pessoa, dando
nota 8,77.
62
Gráfico 1 • Qual gênero de livro prefere?
63
cente, de cunho mais jornalístico, a segunda menção é para romances históricos, com 45,1%, a terceira é público leigo / divulgação, com 32,35%. Os últimos a serem mencionados são os acadêmicos, didáticos e paradidáticos, com 28,43, 18,63 e 9,8% respectivamente. Ou seja, os livros direcionados ao gran-de público são os preferidos, apesar de meu universo de entre-vistados terem muitos graduados em História.
Uma coisa que achei surpreendente nos dados da pesquisa foi a resposta para qual seria a serventia da História, onde quase a totalidade das menções foi no sentido de compreender o passado, o presente, ajudar a construir o futuro e adquirir conhecimento e reflexão, com 96,08%. Também citaram o prazer em estudar (2,94%) e que não haveria utilidade nenhu-ma (0,98%).
Ao vermos o gráfico 2 chegamos à mesma conclusão. As pa-lavras mais citadas foram “entender”, com 26 menções; “co-nhecimento”, com 25; “futuro”, com 24; “passado”, com 23; “presente”, com 22. Ou seja, todas palavras associadas à com-preensão, no sentido descrito acima. Abaixo, seguem alguns exemplos de respostas, que representam seu conjunto. Percebe-se claramente nas respostas o caráter utilitário da disciplina.
“Serve para a compreensão dos diferentes estágios cul-•turais, sociais e econômicos, o que nos ajuda a entender melhor o mundo em que vivemos”.“Revisitando a História o ser humano é capaz de plane-•jar o futuro”.“Para nos mostrar em qual momento da evolução nós •estamos, e quais erros não devemos mais cometer”.“Para constituir identidades dos mais diversos níveis e •para permitir uma análise crítica do mundo contempo-râneo”.“Para entendermos de onde vem muitas coisas que exis-•tem até hoje, para percebermos que tudo muda, que o mundo, a vida e as pessoas não são estáticos, que as coisas não são como são desde sempre – enfim – para estimular a reflexão”.
É muito curioso e instigante para alguém formado em His-tória, como eu, verificar que o público mais amplo não está
“Para
entendermos
de onde vem
muitas coisas
que existem
até hoje, para
percebermos que
tudo muda, que
o mundo, a vida
e as pessoas não
são estáticos,
que as coisas
não são como
são desde sempre
– enfim – para
estimular a
reflexão”.
“Serve para a
compreensão
dos diferentes
estágios
culturais, sociais
e econômicos, o
que nos ajuda a
entender melhor
o mundo em que
vivemos”.
64
Gráfico 2 • Para quê serve a História?
65
muito longe do que o autor francês Marc Bloch responde em seu famoso Apologia da História ou O Ofício de Historiador. Logo no começo há a célebre pergunta: “Papai, então me expli-ca para que serve a História”, onde ao longo do pequeno texto procura responder. O interessante é que ele foge da resposta padrão cientificista que colocava a disciplina como a ciência que estuda o passado e introduz uma nova perspectiva, como o campo de estudo que procura vislumbrar a vida humana ao longo do tempo.
Por fim, quando perguntadas sobre o que estimularia a lei-tura de livros de História, as pessoas falaram da escolha de episódios, temas, assuntos marcantes (22,55%), usar uma lin-guagem mais acessível e menos acadêmica (21,57%), aquisição de conhecimento/reflexão (14,71%), escolha de personagens marcantes (5,88%) e escrita em forma de romance histórico, com narrativa (5,88%).
No gráfico 3 vemos o conjunto das palavras mais citadas, sendo que “curiosidade”, “linguagem”, “forma”, “interesse”, “assunto” e “fatos” somam ao todo 64 menções. Seguem alguns exemplos de respostas, que representam seu conjunto. Colo-quei mais exemplos, pois acho que é importante frisar que as pessoas desejam livros de História mais fáceis de serem lidos.
“A escolha de episódios marcantes na História das civi-•lizações”.“Que fosse contada como uma novela”.•“A melhoria do ensino em geral, logo, o aumento geral •do salário dos professores”.“Para as pessoas de hoje em dia, o que mais importa é a •capa e o tamanho do texto, porque ninguém mais quer ler nada”.“Algum assunto que desperte muito a minha curiosida-•de. Uma coisa que estimula também é o lançamento de um filme sobre algo, que as pessoas vão buscar mais ma-terial, porque sua curiosidade foi despertada”.“Boa propaganda, o livro tratar de uma data (evento) •comemorativa, sobretudo se for em números redondos (50, cem ou 200 anos), e a presença de personagens já conhecidos, explorados em sua ‘psicologia’”.“Menos academicismo”.•
“Menos
academicismo”.
“Que fosse
contada como
uma novela”.
66
Gráfico 3 • O que estimularia, na sua opinião, a leitura de um livro de História?
67
“Linguagem simples, menos opiniões pessoais e mais •links de um assunto com o outro, para que a gente per-ceba o panorama e não eventos soltos”.“Ser um livro de fácil digestão, sem foco muito forte em •datas e que trouxesse os fatos de forma agradável de se ler”.“Acho que os livros de História pecam por não usar •uma linguagem mais literária, costumam ser muito aca-dêmicos e cansativos, próprios para serem lidos entre os seus pares”.“Uma cobertura midiática estrondosa como foi o caso •do livro do Laurentino Gomes, 1808. De outra maneira, dificilmente teria lido o livro”.“Proximidade – seja com a utilização de figuras histó-•ricas (de modo biográfico ou romanceado), seja no pa-ralelo direto com o mundo atual, conduzindo o leitor a fazer pontes com o presente”.“Antes de mais nada, ser escrito de forma imparcial”.•
O que esses dados todos, apesar de seu universo particular, podem nos dizer? Na minha opinião, principalmente que existe sim um interesse por livros de História, não os específicos, mas os mais abrangentes, se incluirmos os livros de divulgação, os escritos em forma de narrativas ou reportagens, os romances históricos, e mesmo outros livros onde a História é parte fun-damental para o interesse do leitor.
Segundo o Squidoo, site de criação de listas, os 10 livros mais vendidos no mundo nos últimos cinqüenta anos são a Bí-blia (3,9 bilhões), Livro Vermelho, de Tao Tse-Tung (820 mi-lhões), saga Harry Potter (400 milhões), trilogia O Senhor dos Anéis (103 milhões), O Alquimista (65 milhões), Código Da Vinci (57 milhões), saga Crepúsculo (43 milhões), E o Vento Levou (33 milhões), Pense e Enriqueça, de Napoleon Hill (30 milhões) e O Diário de Anne Frank (27 milhões). A Bíblia é um livro histórico por excelência, Harry Potter, Senhor dos Anéis, Alquimista, Código Da Vinci usam elementos da História para atrair interesse, ou seja, embora não sejam romances históricos, existe uma intensa pesquisa histórica para compor o enredo, personagens etc. E o Vento Levou é um romance histórico es-
Harry Potter,
Senhor
dos Anéis,
Alquimista,
Código Da Vinci
usam elementos
da História
para atrair
interesse, ou
seja, embora não
sejam romances
históricos,
existe uma
intensa pesquisa
histórica
para compor
o enredo,
personagens etc.
“Acho que
os livros de
História pecam
por não usar
uma linguagem
mais literária,
costumam
ser muito
acadêmicos
e cansativos,
próprios para
serem lidos entre
os seus pares”.
68
trito senso. E tanto o Livro Vermelho quando O Diário de Anne Frank são livros que foram e são importantes porque retratam uma determinada realidade histórica. Ou seja, mesmo levando em conta que a estatística não é das mais confiáveis, vale a pena observar que a História está presente em maior ou menor grau em todos os livros, com exceção de dois.
Pesquisa do Instituto Pró-livroNos anos 2001, 2007 e 2012 o Instituto Pró-Livro, cria-
do pela Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares (Abrelivros), Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), publicou a pesqui-sa Retratos da Leitura no Brasil. Na segunda e terceira edição contratou-se o Instituto Ibope Inteligência para sua execução, já a primeira edição teve a aplicação feita pelo Instituto A. Franceschini Análise de Mercado.
Seu objetivo principal é avaliar o público leitor no Brasil, pois assim tanto o mercado, o Governo, quanto os autores, pes-quisadores, e mesmo o público em geral, podem tomar decisões mais conscientes a respeito de como melhorar a qualidade e a quantidade de livros por habitante. Na mais recente aplicação, feita em 2011 e divulgada em 2012, entrevistou-se 5.012 pes-soas em 315 municípios, em todos os estados. O universo eram maiores de cinco anos, alfabetizadas ou não.
Para a pesquisa, foi usado o seguinte conceito de livro:
“Ao falar de livros, estamos falando de livros tradicionais, livros
digitais/eletrônicos, áudio livros, livros em braile e apostilas escola-
res. Estamos excluindo manuais, catálogos, folhetos, revistas, gibis
e jornais”.
já a definição de leitor é a seguinte:
“Leitor é aquele que leu, inteiro ou em partes, pelo menos um livro
nos últimos três meses”.
Assim, viu-se que 50% da população poderia ser enquadrada como leitora em 2011 e 55% em 2007. A pesquisa de 2001 tinha
Seu objetivo
principal é
avaliar o público
leitor no Brasil,
pois assim tanto
o mercado, o
Governo, quanto
os autores,
pesquisadores, e
mesmo o público
em geral, podem
tomar decisões
mais conscientes
a respeito de
como melhorar
a qualidade e
a quantidade
de livros por
habitante.
69
outra metodologia, e chegou-se aos seguintes números: 62% cos-tumavam ler; 30% era leitor efetivo nos últimos três meses; 20% eram compradores de livros; e 14% eram leitores correntes.
Na pesquisa de 2011, chegou-se ao número de 1,85 livros lidos nos últimos três meses entre a população total, contra 2,4 livros lidos em 2007. Destes 1,85 livros, 0,82 foram lidos inteiros e 1,03 em partes; e 0,81 foram indicados pela escola e 1,05 por iniciativa própria. Ou seja, houve uma redução dos livros lidos entre 2007 e 2011 e as pessoas lêem mais livros em partes e por iniciativa própria. Agora, contando-se apenas a população leitora, a média de livros foi 3,74 nos últimos três meses (1,66 inteiros e 2,08 em partes; 1,63 indicados pela es-cola e 2,11 por iniciativa própria).
Quando se pergunta às pessoas porque elas lêem menos do que antes, a maior incidência de respostas está ligada ao inte-resse, com 78% (falta de tempo, 50%; não gostam de ler, 14%; preferem outras atividades, 8%). Outras 15% alegaram que lêem menos por terem dificuldade e outras 4% por causa de acesso. Entre as pessoas que lêem, 75% disseram que o fazem por prazer, contra 25% por obrigação.
Tabela 11 • Principais formas de acesso aos livros (%)2011 2007
Comprados 48 45
Emprestados por outras pessoas 30 45
Emprestados por bibliotecas e escolas 26 34
Presenteados 21 24
Distribuídos pelo Governo e/ou pelas escolas 16 24
Baixados na internet 6 7
Fotocopiados/xerocados 5 7
Fonte: Retratos da Leitura no Brasil (2012)
Tabela 12 • Público leitor no BrasilPesquisa 2011 71,9 milhões de leitores 3,1 livros/ano
Pesquisa 2007 66,5 milhões de leitores 3,7 livros/ano
Pesquisa 2000 26 milhões de leitores 1,8 livros/ano
Fonte: Retratos da Leitura no Brasil (2012)
Quando se
pergunta às
pessoas porque
elas lêem menos
do que antes, a
maior incidência
de respostas
está ligada ao
interesse.
Houve uma
redução dos
livros lidos entre
2007 e 2011.
70
O que mais motiva a escolha de um livro é o seu tema (65%), depois o título (30%), indicação (29%), autor (26%) e a capa (22%). As críticas, publicidade, editora e outros todos itens têm juntos 17%. A partir da tabela 11, podemos ver que praticamente metade dos leitores lêem livros que eles mesmos compraram.
Comparando-se as três pesquisas (tabela 12), vemos que en-tre 2000 e 2011 a média de livros lidos por ano aumentou de 1,8 para 3,1 e o público leitor deu um salto de 26 para 71,9 milhões no país. A média dos países desenvolvidos é 13 livros por ano.
Quando se pergunta ao entrevistado qual material lê, 53% dizem revistas; 48% jornais; 47% livros indicados pela escola; 47% livros; 30% História em quadrinhos; 24% textos esco-lares; 23% textos na internet; 12% textos de trabalho; 11% livros técnicos; 4% livros digitais; e 2% áudio-livros.
É curioso que aproximadamente apenas um quinto do pú-blico vê a leitura como algo despretensioso, sem uma finalidade
Tabela 13 • E-books e livros digitais
Já ouviu falar?
30% Já ouviu falar
25% Nunca ouviu falar, mas gostaria de conhecer
45% Nunca ouviu falarJá leu algum?
1% Leu no celular
82% Nunca leu
17% Leu no computador
54% Gostou muito
40% Gostou um pouco
6% Não gostou
13% Pagou pelo download
87% Baixou pela Internet
38% Eram piratas
62% Eram gratuitos
Fonte: Retratos da Leitura no Brasil (2012)
Acredita que pode vir a usar a tecnologia de livros digitais?
48% Pode vir a usar
33% Acredita que nunca fará uso dessa tecnologia
19% Não sabe
Entre 2000 e
2011 a média de
livros lidos por
ano aumentou
de 1,8 para 3,1 e
o público leitor
deu um salto
de 26 para 71,9
milhões no país.
71
específica. A maioria das pessoas lê com algum objetivo em mente, mesmo que ele não seja muito claro. A leitura significa em primeiro lugar fonte de conhecimento para a vida (64%), para o trabalho (41%), para os estudos (35%), interesse (21%) e prazer (18%).
Agora, quando se pergunta qual o motivo para comprar li-vros, as pessoas respondem prazer, gosto pela leitura (35%); cultura, conhecimento (32%); entretenimento e lazer (29%); porque a escola/faculdade exige (28%); necessidade de traba-lho (11%); para dar de presente (11%).
Ou seja, não há necessariamente uma coerência entre o mo-tivo pelo qual uma pessoa diz que compra um livro e o lê. Por
Tabela 14 • Gêneros que costumam lermilhões 2011 2007 milhões
Bíblia 41,1 42 45 57,0
Livros didáticos 32,1 32 34 33,3
Romance 30,5 31 32 32,2
Livros religiosos 29,6 30 27 29,9
Contos 23,5 23 20 20,8
Literatura infantil 22,0 22 31 35,4
Poesia 19,8 20 28 29,6
História em quadrinhos 18,3 19 27 29,1
Auto-ajuda 12,3 12 13 11,9
Literatura juvenil 11,4 11 15 16,4
Biografias 11,2 11 14 13,0
História, Economia, Política e Ciências Sociais 11,0 11 23 21,9
Livros técnicos 10,4 11 12 10,7
Enciclopédias e Dicionários 8,9 9 17 16,7
Culinária/artesanato/assuntos práticos 7,6 7 12 13,8
Artes 6,3 6 10 10,9
Viagens 4,7 5 -
Ensaios e Ciências 4,1 4 7 6,1
Esoterismo 2,5 2 4 3,6
Outros 1 3
Média de gêneros por entrevistado 3,1 3,7Fonte: Retratos da Leitura no Brasil (2012)
Não há
necessariamente
uma coerência
entre o motivo
pelo qual uma
pessoa diz que
compra um livro
e o lê.
72
exemplo, embora 18% das pessoas lêem por prazer, 35% com-pram livros pelo mesmo motivo.
Acho que essas inconsistências devem nos deixar um pouco alertas ao ler os dados, pois como são respostas espontâneas, muitas vezes ligadas à auto-imagem que as pessoas fazem de si mesmas, podem não ser exatamente precisas. O ideal seria se pudesse ir a uma livraria e simplesmente perguntar a cada consumidor qual a razão de ter adquirido aquele livro em par-ticular. Mas não tive tempo nem meios para fazer isso.
Quanto aos livros digitais ou e-books, a pesquisa revela que apenas um terço dos brasileiros já ouviu falar e, destes, apenas 18% já leu algo (tabela 13).
A tabela 14 não é muito animadora para o mercado edito-rial. Ao se comparar o público de cada gênero, em números absolutos, vê-se que caiu em quase todos, ou se manteve mais ou menos estacionada. O gênero “História, Economia, Política e Ciências Sociais” em particular, viu seu público cair de 21,9
Tabela 15 • Produção por Área Temática (Primeira Edição + Reedição)
Temas Exemplares 2007
Exemplares 2008
Educação Básica 213.023.830 207.651.126
Religiosos 25.370.009 26.615.810
Literatura Adulta 21.967.730 16.062.626
Literatura Infantil 14.753.213 15.483.309
Generalidades 14.246.171 15.261.450
Ciências Sociais 11.577.105 12.230.697
Geografia e História 16.256.579 11.864.971
Literatura Juvenil 8.522.107 9.311.227
Filosofia e Psicologia 9.054.838 8.683.659
Tecnologia e Ciências Aplicadas 4.528.358 5.093.488
Línguas 3.797.041 3.752.124
Artes, Lazer e Desportos 394.836 443.092
Ciências Puras 416.419 363.772
Outros 7.488.052 7.456.843
Total 351.396.288 340.274.195
Fonte: Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro (2008)
Como são
respostas
espontâneas,
muitas vezes
ligadas à auto-
imagem que as
pessoas fazem
de si mesmas,
podem não ser
exatamente
precisas.
73
milhões para 11 milhões de pessoas entre 2007 e 2011. Mas é
preciso levar em conta que os números do mercado editorial
não são muito precisos. Por exemplo, as pesquisas realizadas
pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), em
conjunto com a CBL e o SNEL, sobre a produção de exem-
Tabela 16 • Produção por Área Temática (Primeira Edição + Reedição)
Temas Exemplares 2009
Exemplares 2010
Educação Básica (didáticos) 183.723.605 225.207.162
Religião 42.681.005 50.735.647
Literatura Adulta 21.007.834 39.652.617
Literatura Infantil 28.704.739 26.500.755
Literatura Juvenil 26.885.158 43.790.281
Auto-ajuda 12.828.914 14.137.020
Direito 4.973.982 7.832.008
Dicionários e Atlas Escolares 11.888.132 6.157.239
Línguas e Linguística 5.512.401 6.157.239
Economia, Administração e Negócios, Administração Pública 3.790.032 4.088.406
Educação e Pedagogia 1.292.381 3.891.375
Ciências Humanas e Sociais 1.930.501 3.251.022
Psicologia e Filosofia 973.806 1.773.285
Medicina, Farmácia, Saúde Pública e Higiene 1.853.072 1.526.995
Matemática, Estatística, Lógica e Ciências Naturais 471.027 1.428.479
Artes 245.628 1.034.416
Biografias 492.497 985.158
Turismo, Lazer e Gastronomia 294.176 591.095
Agropecuária, Veterinária e Animais de Estimação 41.662 541.837
Informática, Computação e Programação 34.785 394.063
Engenharia e Tecnologia 1.113.189 295.547
Educação física e Esportes 211.805 295.547
Arquitetura e Urbanismo 38.635 98.516
Outros 35.378.170 52.213.384
TOTAL 386.367.136 492.579.094
Fonte: O Comportamento do Setor Editorial Brasileiro (2010)
74
plares por tema (tabelas 15 e 16) têm diferentes terminologias para indicar os livros, tornando difícil uma comparação. Nas edições 2007 e 2008, havia as áreas “Geografia e História” e “Ciências Sociais”, com tiragens somadas entre 23 e 17 milhões de exemplares. já nas edições 2009 e 2010, encontramos os temas “Ciências Humanas e Sociais” e “Biografias”, com tira-gens somadas entre 1,5 e 2 milhões de exemplares. Ou seja, as tiragens de 2007 e 2008 eram cerca de dez vezes maiores do que as de 2009 e 2010, sendo que o mercado pulou de 351 para 492 milhões de exemplares.
A dificuldade em estimar qual seria o interesse do assunto História para o público leitor como um todo está muitas ve-zes em como se lê as diversas pesquisas. A pesquisa do Insti-tuto Pró-Livro pergunta e o pesquisado simplesmente diz que lhe passa na cabeça. A pesquisa da Fipe procura estimar livros
Tabela 17 • Gêneros lidos freqüentemente Livros didáticos 66
Bíblia 65
Livros religiosos 57
Livros técnicos 56
Livros infantis 55
Auto-ajuda 52
Livros juvenis 50
Ensaios e Ciências 46
História em quadrinhos 46
Esoterismo 46
Culinária/ artesanato 43
Contos 41
Enciclopédias e Dicionários 41
Biografias 40
Romance 40
História, Economia e Ciências Sociais 39
Poesia 38
Artes 33
Viagens 27
Fonte: Retratos da Leitura no Brasil (2012)
75
Tabela 18 • O que gostam de fazer em seu tempo livre2011 2007
Assistir televisão 85 77
Escutar música ou rádio 52 54
Descansar 51 50
Reunir com amigos ou família 44 31
Assistir vídeos/ filmes em DVD 38 29
Sair com amigos 34 33
Ler (jornais, revistas, livros, textos na Internet) 28 36
Navegar na Internet 24 18
Praticar esporte 23 24
Fazer compras 23 24
Passear em parques e praças 19 19
Acessar redes sociais (Facebook/ Twitter/ Orkut) 18 -
Escrever 18 21
Ir a bares/ restaurante 18 15
Jogar videogames 13 10
Viajar (campo/ praia/ cidade) 15 18
Desenhar/ pintar 10 -
Ir ao cinema/ao teatro/dança/concertos/museus/exposições 10 9
Fazer artesanato e trabalhos manuais 6 12
Média de atividades por entrevistado 5,3 4,8
Fonte: Retratos da Leitura no Brasil (2012)
produzidos. Teoricamente a segunda pesquisa seria muito mais precisa, pois são dados objetivos. Porém o mercado editorial brasileiro ainda não tem maturidade suficiente para levantar dados precisos de tiragem e vendas efetivas de livros. Alguns veículos de grande circulação fazem listas dos mais vendidos, mas seu universo pesquisado se restringe às grandes redes vare-jistas. Falta ainda ao mercado aquelas pesquisas de varejo como as do Instituto Nielsen, por exemplo.
Quanto à pesquisa do Pró-Livro, apesar de 11% dizerem que costumam ler “História, economia, política e ciências sociais”,
O mercado
editorial
brasileiro
ainda não tem
maturidade
suficiente para
levantar dados
precisos de
tiragem e vendas
efetivas de
livros.
76
quando perguntados quais gêneros lêem freqüentemente, 39% responderam a mesma coisa (tabela 17). Qual dado é o mais correto? Qual a diferença entre “Quais destes tipos de livros você costuma ler?” e “Costuma ler cada gênero freqüentemente ou de vez em quando?”. Na tabela apresentada, pareceu-me que são os dados de quem colocou freqüentemente, pois inclusive este é seu título.
Outro dado não muito animador é quando se pergunta às pessoas o que elas gostam de fazer em seu tempo livre (tabela 18). Mais da metade citou assistir à televisão; escutar música/rádio; descansar. Apenas 28% optou por ler textos em geral. Na pesquisa anterior, de 2007, 36% das pessoas optaram por ler. Ou seja, o índice de preferência para a leitura caiu oito pontos percentuais. Entretanto, dos 28% que lêem, 58% o fa-zem freqüentemente. Pode não parecer muito a leitura estar na sétima posição, mas é importante frisar que está na frente de atividades como navegar na Internet, praticar esporte, fazer compras, passear em parques, ir a bares/restaurante, jogar vi-deogames, viajar etc.
Tabela 19 • Motivações para ler um livro (%)Atualização cultural/Conhecimentos Gerais 55
Prazer, gosto ou necessidade espontânea 49
Exigência escolar ou acadêmica 36
Motivos religiosos 31
Atualização profissional 23
Exigência do trabalho 9
Não sabe 1
Fonte: Retratos da Leitura no Brasil (2012)
Pode não parecer
muito a leitura
estar na sétima
posição, mas
é importante
frisar que está
na frente de
atividades como
navegar na
Internet, praticar
esporte, fazer
compras, passear
em parques,
ir a bares/
restaurante,
jogar
videogames,
viajar etc.
77
Dados coletados
Nas duas páginas seguintes procurei sintetizar toda a pes-quisa feita por meio de uma análise SWOT. E o que seria isso? É uma ferramenta de marketing que junta as palavras em in-glês Strengths (Forças), Weaknesses (Fraquezas), Opportunities (Oportunidades) e Threats (Ameaças) em um quadro. Por meio dela, pode-se avaliar um cenário de negócio, no caso o merca-do editorial e o assunto História. É útil como auxílio para re-conhecer as diversas dimensões do projeto, tanto as favoráveis como as desfavoráveis, inclusive muitas vezes um mesmo item pode estar em mais de um lugar. Por exemplo, a participação do Governo no mercado editorial é uma força e também uma ameaça. Força porque livros são estratégicos para o país; ame-aça porque podem deixar de ser por questões políticas.
Fazer o quadro foi útil para desenhar o planejamento e a estratégia do projeto. Soube que preciso valorizar os aspectos do negócio que são pontos fortes e focar neles, de modo a não perder esforços; reconhecer suas fraquezas e procurar neutra-lizá-las; não perder de vista cada oportunidade que percebida; estar prevenido para as ameaças elencadas.
Foi a partir desta análise que pude desenhar o projeto, que leva em consideração as vantagens e desvantagens do cenário pesquisado. Precisava pensar em uma idéia para pessoas concre-tas, no mercado que temos hoje, para que pudesse ser viável.
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ForçasExistem livros de História para todos os gostos e públicos (didáticos, •paradidáticos, acadêmicos, divulgação, romances históricos).
É um lazer relativamente barato e de longa duração.•
Além de proporcionar prazer, o livro oferece cultura e educação.•
O mercado editorial nacional está em expansão, tanto as editoras como as •livrarias.
É um setor estratégico para o Governo.•
O gênero História está consolidado no mercado e vem crescendo há duas •décadas.
Oportunidades Participar do crescente movimento de escolarização da população.•
Aumento da classe C e da renda média da população.•
O crescente aumento dos índices de Educação potencializa o universo de •consumidores de livros.
É cada vez maior o universo de exposição para o livro (livrarias, • sites, TVs, jornais, revistas, blogs, redes sociais etc.
A chegada de grandes grupos internacionais podem gerar muitos novos •negócios.
Com o gradual envelhecimento da população, haveria mais gente com •tempo para a leitura.
O Governo anunciou a compra de • tablets para distribuir na rede pública.
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AmeaçasO novo consumidor de livro assumir a postura de que livros devem ser •oferecidos sem pagamento direito (como a TV, Internet).
Com o aumento de renda, as pessoas preferirem outras atividades de lazer •(a concorrência está cada vez maior).
O sentido de crescimento da renda da população se inverter, reduzindo •seu poder de compra.
Não surgirem novos fenômenos de vendas de livros.•
A chegada de grandes grupos internacionais minarem a saúde do mercado.•
As crianças que saem das escolas interromperem sua vida de leitor.•
As leis de direito autoral estão sendo questionadas no mundo todo.•
A participação do Governo é muito grande (cerca de um 1/4 do mercado).•
Fraquezas Baixa escolaridade da população.•
O livro é visto por uma grande camada da população como algo •inacessível.
Não existe entre a maior parte população o exemplo de ter visto pais e •demais familiares lendo livros.
O Brasil é visto fora e aqui muito mais como um país musical do que •literário.
Poucos canais de vendas de livros no país, principalmente livrarias.•
As demandas por alimentação, emprego, saúde e segurança são mais •urgentes para a população do que seu nível de leitura.
A renda média da população ainda é muito baixa.•
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O negócio
projeto livros para todos
Projeto Academia de História
Análise SWOT
Forças
Oportunidades
Fraquezas
Ameaças
Missão
Divulgar o conhecimento em História
Criar multi-plataforma de livros de História
Todo o conteúdo grátis ao público
Objetivos
Participar do processo de educação da população
Aproximar os leitores dos autores
Aproximar a pesquisa acadêmica do leigo
Dar oportunidade aos graduandos e graduados de História de produzirem conteúdo
Estimular o leitor a se ver como agente histórico
Aproximar educação e entretenimento
Garantir que os livros estejam no maior número possível de lugares para serem lidos.
Remunerar os colaboradores
Ser independente financeiramente
Público alvo
Fundamental II (Ginásio)
Ensino Médio (colegial)
Vestibulandos
Universitários
Jovens adultos
Professores
Pesquisa
Origem
Própria
Terceirizada
Convênios universidades
Organização
Bibliografia
Iconografia
Fonte primária
IlustraçõesPrópria
Terceirizada
Redação
Origem
Própria
Terceirizada
Convênios universidades
Linguagem
Conceito de acessibilidade
Frases diretas e curtas
Capítulos curtos
Fácil compreensão
Vocabulário acessível
Links externos
Fugir do tom professoral
Fugir do tom acadêmico
Estilo
Escrito como narrativa
Curiosidades
Personagens
Formato
Divulgação
Fugir do formato didático e paradidático
Fugir do formato acadêmico
Referências
Coleção Primeiros Passos
Coleção Vagalume
Khan Academy
Udacity
Voltaire Schilling
Eduardo Bueno
Laurentino Gomes
Detetives da História
Detetives do Passado
Livro impresso
Capa e título atraentes
Diagramação leve
Links de aprofundamento
Ilustrações originais
Infográficos
Ter entre 80 e 100 páginas
Aplicativo tablets
Android
iPad - iBook Author
Grátis
Acesso à pesquisa
Link com grupos de discussão
Materiais auxiliares como textos, imagens, filmes, músicas etc.
Fazer links em trechos afins para facilitar a navegação ao longo do texto
Fazer links para trechos de outros livros para facilitar a navegação entre textos
Fazer links externos
E-readers
ePub
txt
html
Kindle
Apple
Kobo
Site
Acesso a todo o conteúdo
Tudo de graça
Pode acessar com login ou não
Blog
Grupos de discussão
Acesso à pesquisa
Vídeo-aulas (YouTube)
Exercícios em forma de testes
Área dedicada aos professores
Área dedicada aos alunos
Emails
Redes sociais
Orkut
Skoob
Equipe
Gerente de conteúdo
Redator/revisor
Desenvolvedor
Designer
Ilustrador
Captador
Remuneração
Trabalho voluntário
Convênio com universidades
Direitos autorais
Pagamento direto
Receitas
Patrocínio
Apoio
Doações
Anúncios
Governo
Compra direta
Editais
Leis de incentivo
EstataisEditais
Patrocínio
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Pesquisa
Análise SWOT
Missão
Redação
Público
ReferênciasPesquisa
Ilustrações
Livro
Aplicativos
SiteRedes sociais
Remuneração
Receitas
Equipe
E-reader
Objetivos
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MissãoDivulgar o conhecimento em História •(Existe uma demanda por História; As pessoas têm curiosidade; A História é recheio para diversos romances de ficção)
Criar multi-plataforma de livros de História •(Garantir que os livros estejam no maior número possível de lugares para serem lidos)
Todo o conteúdo grátis ao público •(Atrair interesse à cultura e educação já não são coisas fáceis; A população brasileira ainda tem um nível de renda muito baixo; Todos têm direito à educação, não apenas os que podem pagar)
ObjetivosParticipar do processo de educação da população •(As estatísticas apontam que os números da educação têm melhorado; Acredito que cada vez mais a população buscará formas tradicionais e alternativas de se desenvolver culturalmente)
Aproximar os leitores dos autores •(Cada vez mais nosso mundo é o da interatividade, onde a relação entre produtor e consumidor está cada vez mais próxima)
Aproximar a pesquisa acadêmica do leigo •(Existem muitos trabalhos de qualidade sendo feitos na academia que a sociedade simplesmente não tem acesso)
Dar oportunidade aos graduandos e graduados de História •de produzirem conteúdo (Atualmente são os jornalistas que têm tido mais sucesso na divulgação de conhecimento histórico; Existe um desejo tanto do universitário como do já formado em produzir conteúdo em História e não tem oportunidade)
Estimular o leitor a se ver como agente histórico •
(Ao ter acesso à pesquisa, e aos documentos, o leitor
terá condições de avaliar melhor como o conteúdo foi
desenvolvido e a se aproximar as pessoas que viveram
aqueles eventos)
Aproximar educação e entretenimento •
(A educação formal está em crise no mundo todo; Os
alunos têm cada vez mais facilidades de buscar conteúdo
por conta própria, sem a intervenção do professor; A
educação compete pela atenção do aluno com cada vez
mais assuntos; A educação precisa ser mais atraente)
Remunerar os colaboradores •
(A idéia é proporcionar uma forma de subsistência
alternativa ao formado em História)
Ser independente financeiramente •
(O projeto não deve ser mantido por canais exclusivos de
financiamento; Buscar diversificar ao máximo as fontes de
receita)
Público alvo(O público alvo é qualquer pessoa que tem interesse e
curiosidade a respeito da História do Brasil; Buscar quem tem
um nível de compreensão mais básico e um interesse mais
panorâmico; Não entrar em exaustivos detalhes; Buscar aliar
educação e cultura com entretenimento)
Fundamental II (Ginásio)•
Ensino Médio (colegial)•
Vestibulandos•
Universitários•
jovens adultos•
Professores•
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Pesquisa(O leitor terá acesso ao material de pesquisa, de forma a
poder compreender como aquele conteúdo foi desenvolvido;
Aprofundamento para públicos mais interessados)
Origem•
Própria•
Terceirizada•
Convênios universidades •
(Promover convênios com o Departamento de História
de universidades públicas, de modo a aproximar os
alunos e ex-alunos do público; Podem desenvolver tanto
a pesquisa quanto o texto, dentro dos moldes pré-
definidos pelo projeto)
Organização •
(A pesquisa deve ser muito bem organizada; Será
aproveitada nas diversas plataformas em que o texto final
estará disponibilizado)
Bibliografia •
(Disponibilizar ao leitor a bibliografia utilizada, e
todas as demais fontes de pesquisa, organizadas, com
comentários e sugestões, levando em conta a idade e o
nível de interesse)
Iconografia •
(Disponibilizar ao leitor a iconografia a respeito do
assunto e que serviram de base para a elaboração do
material que ilustra os livros; Deverão ser organizadas,
com comentários e sugestões, levando em conta a idade
e o nível de interesse)
Fonte primária •
(Disponibilizar ao leitor textos originais, quando
acessíveis; Organizar, com comentários e sugestões,
levando em conta a idade e o nível de interesse)
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Ilustrações(As ilustrações, desenhos, gráficos, tabelas etc. serão desenvolvidos com exclusividade para o projeto; A expectativa é não usar aquelas pinturas e desenhos já exaustivamente utilizadas nos livros didáticos)
Própria•
Terceirizada•
Redação(A questão do texto, de sua qualidade e proximidade com o leitor, foi abordada por todos ao longo da pesquisa; Sua importância é unânime; Deve-se definir um padrão onde diversas pessoas terão condição de produzir conteúdo e usufruir dele; Além disso, precisará levar em conta que o texto será lido em diversas plataformas)
Origem•
Própria•
Terceirizada•
Convênios universidades•
Linguagem•
Conceito de acessibilidade•
Frases diretas e curtas•
Capítulos curtos•
Fácil compreensão•
Vocabulário acessível •(Link interno com explicação das palavras e conceitos mais complexos)
Links• externos (Fazer o máximo de links possível, de forma que o leitor possa se aprofundar em qualquer direção que queira)
Fugir do tom professoral•
Fugir do tom acadêmico•
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Estilo•
Escrito como narrativa •(A idéia é escrever de uma forma a prender o leitor no texto, no que está acontecendo, despertando sua curiosidade e consequente vontade de saber mais.
Curiosidades•
Personagens•
Formato•
Divulgação•
Fugir do formato didático e paradidático•
Fugir do formato acadêmico•
ReferênciasColeção Primeiros Passos •(Célebre série de livros da Brasiliense com o padrão de títulos “O que é...” com enorme sucesso; Direcionada a alunos do ensino fundamental, médio e universitário; Formato de bolso, com preço e texto acessíveis; Sempre escrito por um especialista na área)
Coleção Vagalume •(Publicado pela Ática, esta coleção de livros trazia obras literárias para o público infanto-juvenil; Inovou ao trazer suplemento de atividades para a sala de aula)
Khan Academy •(www.khanacademy.org - Site que disponibiliza 3200 vídeos, já acessados por mais de 160 milhões de vezes, além de centenas de exercícios on-line (tudo gratuito); É mais focado nas áreas de ciências exatas, como matemática; É um excelente exemplo de interatividade entre conteúdo e usuário)
Udacity •(www.udacity.com - Oferece cursos completos e grátis na área de tecnologia e também é um exemplo de como a Internet pode ser uma ferramenta de educação)
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Voltaire Schilling •
(Professor de História e um dos pioneiros em produzir
conteúdo para a Internet. Atualmente seu site está no portal
Terra, dentro da sessão Educação)
Eduardo Bueno •
(Primeiro autor a fazer sucesso comercial com livros de
História, escrevendo para o público geral; É jornalista)
Laurentino Gomes •
(Autor que mais obteve sucesso com livros de História
e também é um case de marketing, por ser sua área de
atuação profissional; Também é jornalista)
Detetives da História •
(Série do History Channel produzida no Brasil)
Detetives do Passado •
(www.historiaunirio.com.br/nuvem/detetivesdopassado - O
internauta desvenda casos reais por meio de documentos
históricos)
Livro impresso(Haverá a impressão apenas em caso de patrocínio; Poderá ser
vendido ao Governo para distribuição)
Será distribuído gratuitamente•
Capa e título atraentes•
Diagramação leve•
Links• de aprofundamento
Ilustrações originais•
Infográficos•
Ter entre 80 e 100 páginas•
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Aplicativos para tabletsGrátis•
Android•
iPad - iBook Author•
Acesso à pesquisa•
Link• com grupos de discussão (Quando o leitor estiver folheando o livro, poderá marcar textos e criar notas; Ao escrever algo, terá a opção de publicar o seu comentário, crítica ou sugestão na lista de discussão do site, na parte dedicada a aquele livro em particular)
Materiais auxiliares como textos, imagens, filmes, músicas •etc. (Conteúdo incorporado ao produto, na medida em que a negociação de direitos autorais permitir; Objetivo de ampliar a possibilidade de compreensão e empatia em relação ao conteúdo)
Fazer • links em trechos afins para facilitar a navegação ao longo do texto (Sempre que possível, apresentar links para outros trechos do texto; Tornar possível a leitura não linear)
Fazer • links para trechos de outros livros para facilitar a navegação entre textos (Sempre que possível, apresentar links para trechos de outros textos; Tornar possível se aprofundar de um tema que outro livro aborde mais detalhadamente)
Fazer • links externos (Conteúdo não incorporado ao produto; Para sites, blogs, textos, imagens, músicas e vídeos no YouTube onde o leitor pode ter contrapontos e se aprofundar nos temas tratados; Por exemplo, num livro sobre a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial, poderiam ter links para filmes sobre o assunto no IMDB, para sites com músicas do período, fotografias, mais informações enfim)
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E-readers(Garantir que os livros estejam disponíveis no maior número possível de lugares para serem adquiridos e lidos, gratuitamente)
PDF•
ePub•
txt•
html•
Kindle•
Apple•
Kobo•
Site(Desenvolver plataforma de interação com o mais amplo repertório de ferramentas. A idéia é que se possa interagir e saber mais)
Acesso a todo o conteúdo •(O conteúdo deve ser organizado de forma cronológica e temática. Cada item será um livro, onde toda informação complementar, e demais conteúdos, estarão anexos a ele. Cada item será indexado por algumas palavras-chave, de forma a pertencer a mais de um tema)
Tudo de graça•
Pode acessar com login ou não •(Quando o usuário faz o login é possível acompanhar o seu caminhar pelo site; Saber quais conteúdos acessou, quais exercícios fez, qual o desempenho; É possível fazer um breve cadastro dele, a fim de saber quem é; Definir a relação professor e aluno, onde o primeiro acompanha o segundo)
Blog• (Os autores e demais envolvidos no projeto podem publicar artigos e comentários a respeito das obras e do projeto; Publicar artigos e comentários de leitores, alunos, professores e interessados; Publicar artigos interessantes de outros blogs; Fazer entrevistas com especialistas sobre os
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temas que os livros abordam; Fazer parte da rede de blogs e demais de veiculação sobre o assunto História e mercado editorial; Divulgar eventos, programas de TV, filmes, documentários, exposições, peças de teatro que sejam relacionados de alguma forma com o assunto História)
Grupos de discussão •(Haverá controle de conteúdo, pois o site será visto por públicos muito diferentes)
Acesso à pesquisa •(Todas as referências, sejam textos, imagens, vídeos, livros etc. podem ser organizadas de forma a serem acessadas por meio de palavras-chave; Por exemplo, um livro sobre a Revolta da Chibata pode constar de diversas seleções, como República Velha, Década de 1910, Revoltas populares etc.)
Vídeo-aulas (YouTube) •(Criar canal de veiculação com aulas sobre os temas tratados nos livros a fim de incentivar o aprendizado e a leitura; Integrar as vídeo-aulas com os demais produtos)
Exercícios em forma de testes •(Associados aos vídeos, aos livros)
Área dedicada aos professores •(Suporte para atividades com os alunos em sala de aula; Sugestões iniciais sugeridas e elaboradas ao longo da pesquisa; Publicação de sugestões de atividades recebidas de professores; Grupo de discussão por livro, onde os professores podem trocar experiências; Sugestão de bibliografia complementar (livros, artigos, teses); Dicas sobre novas tecnologias de aprendizado)
Área dedicada aos alunos •(Se o aluno fizer login, acompanhar e expor a ele sua participação no site; Quais vídeos assistiu; Quais livros baixou; Quais comentários fez; Quais exercícios fez; Como está se saindo nos exercícios)
Emails •(No momento de cadastro do usuário, perguntar se quer receber emails com atualizações)
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Redes sociais(Criar canal de comunicação com o público em geral e principalmente com professores e alunos nas principais redes sociais e mantê-las atualizada; Informar à comunidae associada sobre novidades e correções a respeito do material)
Facebook•
Orkut•
Twitter•
Skoob•
EquipeGerente de conteúdo •(Este profissional deve ter formação em História e ter as seguintes habilidades/funções: Articular convênios com universidades, de forma a trazer colaboradores para o projeto; Administrar acordos e contratos com instituições, autores e colaboradores; Escrever bem; Fazer pesquisa histórica; Promover pesquisa histórica de terceiros; Promover a autoria de terceiros; Administrar a edição dos produtos; Administrar a equipe editorial e de conteúdo; Gerenciar os arquivos das pesquisas e dos conteúdos prontos para serem diagramados; Estabelecer processos e rotinas de trabalho para a equipe; Capacidade para gerenciar diversos projetos e atividades rotineiras ao mesmo tempo)
Redator/revisor •(Este profissional deve ter formação em jornalismo e ter as seguintes habilidades/funções: Escrever ao público mais amplo possível; Ajudar aos autores a escreverem ao público mais amplo; Revisar os livros desenvolvidos pelos autores; Escrever notícias; Gerar conteúdo para o site e blog; Divulgar aos veículos tradicionais e blogs as ações e produtos do projeto, criar pautas para a imprensa)
Desenvolvedor •(Este profissional deve ter formação em Computação (ou Tecnologia) e ter as seguintes habilidades/funções: Desenvolver a parte técnica do site; Desenvolver a parte
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técnica dos aplicativos de tablets; Atualizar o site e aplicativos, quando necessário; Cuidar da administração de equipamentos e suporte para os demais colaboradores; Administração do backup de toda a rede)
Designer• (Este profissional deve ter formação em Design e ter as seguintes habilidades/funções: Diagramar os livros; Adaptar os textos para os mais variados formatos digitais; Design do site; Fazer infográficos e artes para os livros; Fazer constantes auditorias para ver se os livros estão disponíveis e corretos para público; Atualizar as versões dos livros, com correções e acréscimos, quando necessários; Gerenciar os arquivos dos livros prontos para distribuição)
Ilustrador •(Este profissional deve ter experiência em design e ilustração e ter as seguintes habilidades/funções: Desenhar para os mais variados formatos digitais; Auxiliar no design do site; Auxiliar na confecção dos infográficos e artes para os livros)
Captador •(Este profissional deve ter experiência em captação de patrocínio e ter as seguintes habilidades/funções: Facilidade de interagir com as esferas governamentais; Saber ler e trabalhar com editais; Criatividade em buscar oportunidades de financiamento para o projeto)
Remuneração(Embora seja previsto que o trabalho voluntário possa fazer parte do projeto, a proposta é que ele seja o mais restrito possível; A idéia é que seja sustentável e consiga remunerar seus colaboradores)
Trabalho voluntário•
Convênio com universidades•
Direitos autorais•
Pagamento direto•
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ReceitasPatrocínio •(Empresas de telecomunicações, que ganham com o fluxo de dados na Internet, podem ser alvos preferenciais para patrocínios; Além de ricas, podem usar o patrocício ao projeto para melhorar a imagem de suas marcar; Além delas, grandes portais na Internet e Bancos)
Apoio •(Universidades públicas, fundações, ONGs voltadas à educação)
Doações •(Pais, alunos, interessados em geral, pequenas empresas)
Anúncios •(Nos aplicativos, nos livros, nos e-books, no site, divulgação de seus nomes nas mídias sociais; Procurar patrocinadores e permutas, onde divulgaremos nosso projeto)
Governo•
Compra direta •(Participar dos diversos programas de compra do Governo voltados para livro)
Editais •(Tanto em nível Federal, como alguns estados e municípios, além de estatais, promovem editais voltados a projetos culturais e educacionais)
Leis de incentivo •(Participar das diversas leis de incentivo fiscal, tanto em nível Federal, como Estadual e Municipal, para captação de patrocínio em empresas privadas e estatais)
Estatais •(As grandes estatais promovem projetos de cultura e educação, como Petrobrás, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal etc.)
Editais•
Patrocínio•
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Considerações finais
O desenvolvimento do negócio demonstrado parte da pre-missa, observada ao longo da pesquisa, que existe um merca-do promissor para a leitura como um todo e, particularmente, para o assunto História. Temos índices de leitura baixos por parte de nossa população, fruto de uma educação ainda pre-cária em nosso país. Entretanto este quadro tem mudado nos últimos anos e o mercado editorial como um todo tem crescido regularmente.
Como o objetivo principal do projeto é divulgar o conheci-mento histórico de qualidade para o maior número de pessoas, partiu-se para um modelo de negócio onde o conteúdo será disponibilizado nas plataformas físicas e digitais que existem, ou forem inventadas ou criadas, e tudo com acesso gratuito aos interessados. Isso será possível por meio de patrocínios e apoios de empresas privadas, ONGs, universidades, órgãos e empresas do Governo e até de pessoas físicas. Sendo uma ini-ciativa que visa difundir cultura e educação, totalmente sem custo para o leitor, usuário, aluno, haverá no site do projeto um link para fazer doações.
Cada título será escrito em linguagem simples, de forma direta, com ilustrações feitas exclusivamente para a coleção, com informações extras para auxiliar a leitura e compreensão dos assuntos tratados. Esses apêndices trarão informações so-bre personagens, conceitos, e eventualmente propor reflexões ao leitor.
Nas plataformas digitais, haverá recursos de interativida-de para que o leitor participe do projeto. Assim, ele poderá se aproximar do autor, contribuindo para melhorar os conteúdos e sua apresentação. Os resultados no uso de novas tecnologias na educação têm sido positivos nos países mais ricos, inclusive com o aumento de livros lidos por pessoa. O meio digital pode favorecer o processo educativo porque permite a interação com diversas mídias ao mesmo tempo. O leitor pode ler um tex-
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to, ver a foto, escutar um som relacionado ao assunto, ver um vídeo, escrever algo e publicar no site do projeto. Não há a relação passiva tradicional do livro impresso. Além disso, pode navegar pelo conteúdo de uma forma mais intuitiva e aprofun-dar os assuntos tratados de acordo com o seu interesse.
Os livros em suas versões como aplicativos de tablets e celu-lar podem ser atualizados constantemente, sem custos. Na for-ma tradicional, é trabalhoso e caro produzir uma nova edição. No digital este processo é muito mais facilitado, sendo que o autor poderá incorporar o melhor da participação dos leitores.
No formato digital, há a possibilidade de criar links entre trechos da mesma obra, com outras obras da coleção, com conteúdos de sites, blogs etc. Por exemplo, num livro sobre a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial, poderiam ter links para filmes sobre o assunto no IMDB, para sites com músicas do período, fotografias, mais informações enfim. As tradicionais notas de rodapé ganham um novo sentido. O autor tem a possibilidade de fazer um metatexto, ou seja, discutir aspectos da escrita, como dúvidas que teve durante a pesqui-sa, por exemplo, com o leitor. E se este quiser escrever algo a respeito, haverá o link para um fórum de discussão em página específica na Internet.
Somando todas as facetas do projeto, e suas possibilidades, creio que será um ambiente rico para quem desejar se apro-ximar do conhecimento em História. Principalmente aqueles que buscam uma educação de qualidade. Este projeto tem a pretensão de se juntar a outras iniciativas, que buscam oferecer oportunidades de complemento à educação formal, oferecida pelas escolas.
Creio que para uma possível aplicação do projeto, faltou de-senvolver o desenho de marca (branding), detalhar a linguagem utilizada nos volumes, o design visual para as diversas platafor-mas, lançar pelo menos dez títulos seguindo o padrão estabele-cido para a coleção, produzir material destinado a dar suporte à captação de verba junto ao mercado e realizar parcerias com departamentos de História em universidades. Todas essas ações fazem parte do desenvolvimento do produto e prototipagem, como se diz na área de design. A partir destas ações é que po-deremos realmente fazer uma avaliação se o projeto é viável ou
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não. Ou quais adaptações seriam necessárias em relação à idéia original, como foi aqui exposta.
Inclusive seria este o momento em que o design se faria mais presente. Além de auxiliar na construção da forma em como este conteúdo será exposto, também, e principalmente, na for-mulação da interatividade entre o leitor/usuário com o mesmo conteúdo. Acredito firmemente que nós designers temos uma grande vantagem, devido à nossa formação e treino profissio-nal, para facilitarmos o acesso, facilitarmos o uso, que é justa-mente o que a educação como um todo precisa.
O designer, quando aborda uma tarefa, tem sempre em men-te a experiência de uso do usuário. Seja para desenvolver um folheto ou um carro. O foco é em como as pessoas se relaciona-rão com determinado produto ou serviço. Tem havido algumas boas experiências na área de educação nos últimos anos, no sentido de atualizar a forma como o conteúdo pode se relacio-nar com os alunos, mas há ainda muito o que fazer. Principal-mente em nosso país, onde há muita carência nesta área.
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Bibliografia
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