PROJETO E IMPLEMENTAC¸AO DE UM AMPLIFICADOR˜ DE...
Transcript of PROJETO E IMPLEMENTAC¸AO DE UM AMPLIFICADOR˜ DE...
UNIVERSIDADE TECNOLOGICA FEDERAL DO PARANA
DEPARTAMENTO ACADEMICO DE ELETRICA
CURSO DE ENGENHARIA ELETRICA
EDUARDO ENDERLI BODANESE
PROJETO E IMPLEMENTACAO DE UM AMPLIFICADOR
DE AUDIO CLASSE D
TRABALHO DE CONCLUSAO DE CURSO
PATO BRANCO
2017
EDUARDO ENDERLI BODANESE
PROJETO E IMPLEMENTACAO DE UM AMPLIFICADOR
DE AUDIO CLASSE D
Trabalho de Conclusao de Curso degraduacao, apresentado a disciplina deTrabalho de Conclusao de Curso 2, doCurso de Engenharia Eletrica do Departa-mento Academico de Eletrica - DAELE - daUniversidade Tecnologica Federal do Pa-rana - UTFPR, Campus Pato Branco, comorequisito parcial para obtencao do tıtulo deEngenheiro Eletricista.
Orientador: Everton Luiz de Aguiar
PATO BRANCO
2017
TERMO DE APROVACAO
O Trabalho de Conclusao de Curso intitulado PROJETO E IMPLEMENTACAO
DE UM AMPLIFICADOR DE AUDIO CLASSE D do academico Eduardo Enderli Bo-
danese foi considerado APROVADO de acordo com a ata da banca examinadora N
145 de 2017.
Fizeram parte da banca examinadora os professores:
Everton Luiz de Aguiar
Andrei Bordignon
Kleiton de Morais Sousa
Este trabalho e dedicado a toda minha famılia. Em especial
aos meus pais, Sadi e Maria Helena, por todos os ensina-
mentos e incentivos fornecidos durante a caminhada; e a
minha esposa, Yasmim, pela compreensao e ajuda nos mo-
mentos mais difıceis.
O insucesso e apenas uma oportunidade para
comecar de novo com mais inteligencia.
Henry Ford
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeco a Deus, pelo dom da vida.
Agradeco ao Professor M.Sc. Everton Luiz de Aguiar pela orientacao, dedicacao
e companheirismo em todos os momentos, pricipalmente nos nao tao bons.
Agradeco aos colegas que de uma forma ou de outra contribuıram para o
desenvolvimento deste trabalho, tanto de forma tecnica como motivacional; especi-
almente a Felipe Sassi, Lucas Gaspar de Miranda e Luiz Henrique Meneghetti pela
parceria e auxılio durante todo o trabalho, principalmente na reta final. Tambem aos
colegas, amigos e companheiros de antes e tambem durante a etapa da graduacao;
com certeza voces tornaram essa fase muito mais prazerosa.
Agradeco a todos os professores do Departamento de Eletrica e os demais
do caminho: sem voces nao teria chegado onde estou.
Por ultimo, mas com total importancia, agradeco a famılia pelo incentivo e
apoio durante todas as etapas da vida. A voces se devem todas as minhas conquistas
e realizacoes passadas, atuais e futuras.
RESUMO
BODANESE, Eduardo Enderli. Projeto e Implementacao de um Amplificador deAudio Classe D. 2017. 105 f. Monografia (Graduacao em Engenharia Eletrica) -Departamento Academico de Eletrica, Universidade Tecnologica Federal do Parana,Pato Branco, 2017.
Este trabalho aborda o conceito de amplificadores classe D (chaveados), indicando-o como um substituto as demais classes de amplificadores de audio em algumasaplicacoes especıficas por ser mais eficiente e, mostrando ser possıvel obter umaqualidade de audio satisfatoria. No trabalho sao discutidas as classes de amplifica-dores de audio, as topologias de amplificadores classe D, as principais modulacoesusadas e as diferencas entre um classe D analogico e um digital. Depois de defi-nida a topologia ponte completa, a modulacao por largura de pulso (PWM) de 3 nıveise digital, cada etapa e analisada para ser projetada baseada na teoria. Simulacoesnumericas computacionais sao desenvolvidas nos softwares PSIM R© e LTspice R© paravalidar as etapas projetadas do circuito e o projeto como um todo. E desenvolvido umprototipo para aquisicao de resultados experimentais para determinar os parametrosque caracterizam o amplificador e compor sua tabela de especificacoes tecnicas. Fi-nalmente sao apresentados, comparados e discutidos os resultados de simulacao eexperimentais do amplificador projetado e implementado.
Palavras-chave: Conversor CC/CA, Modulacao por Largura de Pulso(PWM), Amplifi-cador Classe D, Audio.
ABSTRACT
BODANESE, Eduardo Enderli. Class D Audio Amplifier’s Design and Assembly.2017. 105 f. Monografia (Graduacao em Engenharia Eletrica) - Departamento Academicode Eletrica, Universidade Tecnologica Federal do Parana, Pato Branco, 2017.
This work addresses the concept of class D amplifiers (switching amplifiers), indicatingit as a substitute for other classes of audio amplifiers in some specific applications,because it is more efficient and it is possible to obtain a satisfactory audio quality.In this paper it is discussed the classes of audio amplifiers, the topologies of classD amplifiers, the main modulations used and the differences between an analog anda digital class D. Once the complete bridge topology, digital modulation and 3-levelpulse width modulation (PWM) are chosen, each step is analyzed to ultimately bedesigned based on theory. Computational numerical simulations are developed in thePSIM R© and LTspice R© softwares to validate the projected steps of the circuit and theproject as a whole. A prototype is developed for the acquisition of experimental resultsto determine the parameters that characterize the amplifier and compose its table oftechnical specifications. Finally, simulation and experimental results of the designedand implemented amplifier are presented, compared and discussed.
Keywords: Converter DC/AC, Pulse Width Modulation(PWM), Class D Amplifier, Au-dio.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Diagrama contextual do trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Figura 2: Circuito do amplificador classe A . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Figura 3: Circuito do amplificador classe B . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Figura 4: Distorcao de cruzamento por zero no amplificador lasse B . . . 25
Figura 5: Circuito do amplificador classe AB . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Figura 6: Comparacao entre o rendimento de classes A, B e D . . . . . . 28
Figura 7: Diagrama de blocos de um Classe D . . . . . . . . . . . . . . . 28
Figura 8: Conceito da topologia meia ponte . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Figura 9: Conceito da topologia ponte completa . . . . . . . . . . . . . . . 29
Figura 10: Modulacao PWM de 2 nıveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Figura 11: Modulacao PWM de 3 nıveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Figura 12: Modulacao Delta-Sigma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Figura 13: Filtro passivo de segunda ordem e filtro ativo de segunda ordem 38
Figura 14: (a) Filtro de uma saıda e (b) Filtro balanceado . . . . . . . . . . 39
Figura 15: Circuito de Bootstrap para um braco da ponte . . . . . . . . . . 45
Figura 16: Esquematico de um optoacoplador . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Figura 17: Ilustracao do tempo morto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
Figura 18: Snubber em uma ponte completa . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Figura 19: Microcontrolador Piccolo TMS320F28069 . . . . . . . . . . . . . 51
Figura 20: Ilustracao da operacao de um amplificador de instrumentacao . 52
Figura 21: Circuito basico de um amplificador de instrumentacao . . . . . . 53
Figura 22: Circuito equivalente simplificado de um alto-falante . . . . . . . 56
Figura 23: Curva de impedancia de um alto-falante . . . . . . . . . . . . . 57
Figura 24: Diagrama da topologia escolhida . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
Figura 25: Resposta no domınio da frequencia do filtro de saıda projetado 60
Figura 26: Circuito completo para um dos drivers . . . . . . . . . . . . . . . 63
Figura 27: Pico de tensao negativa em funcao do resistor serie . . . . . . . 64
Figura 28: Circuito utilizado para um optoacoplador . . . . . . . . . . . . . 66
Figura 29: Circuito utilizado para o amplificador de instrumentacao . . . . . 68
Figura 30: Topologia Sallen-Key de um filtro ativo de 2a ordem . . . . . . . 69
Figura 31: Filtro Anti-Aliasing completo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
Figura 32: Simulacao do filtro anti-aliasing de 4a ordem . . . . . . . . . . . 71
Figura 33: Circuito da fonte do amplificador . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
Figura 34: Sinal de entrada modulado em 4 PWMs . . . . . . . . . . . . . 76
Figura 35: PWMs a saıda dos 6N137 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
Figura 36: PWMs de acionamento das 4 chaves IRF540 . . . . . . . . . . 77
Figura 37: PWMs de acionamento das 4 chaves IRF540, referenciados ao
terra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Figura 38: Saıda do amplificador com potencia nominal . . . . . . . . . . . 78
Figura 39: Saıda do amplificador antes e depois do filtro . . . . . . . . . . 78
Figura 40: PWM sobre o filtro de saıda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
Figura 41: Ondas de tensao, corrente e potencia . . . . . . . . . . . . . . . 80
Figura 42: Amplificador implementado em seu gabinete . . . . . . . . . . . 80
Figura 43: Gabinete aberto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
Figura 44: Gabinete aberto destacando-se as placas componentes do am-
plificador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
Figura 45: Sinal de entrada: onda senoidal 1 kHz . . . . . . . . . . . . . . 82
Figura 46: Forma de onda na saıda com carga nominal . . . . . . . . . . . 83
Figura 47: Forma de onda na saıda sem carga . . . . . . . . . . . . . . . . 84
Figura 48: Eficiencia em funcao da potencia de saıda . . . . . . . . . . . . 85
Figura 49: Perdas relativas em funcao da potencia de saıda . . . . . . . . 86
Figura 50: Relacao sinal/ruıdo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
Figura 51: Resposta em frequencia do amplificador . . . . . . . . . . . . . 88
Figura 52: Sinal de audio apos etapa de condicionamento . . . . . . . . . 90
Figura 53: PWMs 1A e 1B na saıda do microcontrolador . . . . . . . . . . 91
Figura 54: Tempo morto dos PWMs 1A e 1B . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
Figura 55: PWMs 1A e 1B na saıda do optoacoplador . . . . . . . . . . . . 92
Figura 56: PWMs 1A e 1B na saıda do driver . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
Figura 57: Padrao de resposta em frequencia para amplificadores . . . . . 102
Figura 58: Nucleo de ferrite tipo EE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
Figura 59: Indutores implementados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
LISTA DE TABELAS
1 Parametros para Projeto do Amplificador . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
2 Perdas dos modelos de MOSFETs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
3 Perdas dos modelos de MOSFETs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
4 Rendimento do Amplificador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
5 THD do Amplificador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
6 Especificacoes dos parametros do amplificador . . . . . . . . . . . . . . 94
7 Parametros tıpicos para dimensionamento dos indutores . . . . . . . . . 105
8 Dimensoes do nucleo de ferrite EE-30/15/14 . . . . . . . . . . . . . . . 106
LISTA DE SIGLAS
ABNT Associacao Brasileira de Normas Tecnicas
AC Alternating Current
A/D Analogico/Digital
BJT Bipolar Junction Transistor
CA Corrente Alternada
CC Corrente Contınua
CI Circuito Integrado
D/A Digital/Analogico
DC Direct Current
EMI Electromagnetic Field
FET Field Effect Transistor
IEC International Electrotechnical Commission
IGBT Insulated Gate Bipolar Transistor
LED Light Emitting Diode
MOSFET Metal Oxide Semeconductor Field Effect Transistor
NBR Norma Brasileira
PDM Pulse Density Modulation
PWM Pulse Width Modulation
THD Total Harmonic Distortion
SDM Sigma-Delta Modulation
LISTA DE SIMBOLOS
LC Indutivo-capacitivo
Vo(s) Tensao de saıda do filtro
Vin(s) Tensao de entrada do filtro
L Indutancia do filtro
R Resistencia da carga
C Capacitancia do filtro
ωc Frequencia de corte do filtro de saıda em rad
A0 Ganho de um filtro
fc Frequencia de corte do filtro de saıda em Hz
fr Frequencia de ressonancia do filtro de saıda
RDS(on) Static Drain-to-Source On-Resistance
k Parametro constante relacionado ao RDS(on) de um MOSFET
BVDSS Drain Source Breakdown Voltage
Pcond Perdas de conducao
IDef Corrente eficaz no MOSFET
Qg Carga do Gate
Pgate Potencia dissipada na porta do MOSFET
VGS Tensao entre a porta e a fonte
fsw Frequencia de chaveamento
Qrr Base Diode Reverse Recovery Charge
Pcom Perdas de comutacao
Coss Capacitancia entre dreno e fonte
E Tensao de barramento
tf Tempo de descida da corrente
tr Tempo de subida da corrente
Ptotal Perdas totais
S2 Chave inferior do braco 1
Cboot Capacitor de bootstrap
VDbootQueda de tensao no capacitor de bootstrap
S1 Chave superior do braco 1
Rsn Resistor do snubber
Csn Capacitor do snubber
D Razao cıclica
RG Resistor de ganho do amplificador de instrumentacao
Acl Ganho de malha fechada
Rdc Resistencia do fio que forma a bobina do alto-falante
Ls Indutancia do enrolamento da bobiba do alto-falante
Cr Capacitancia que representa o cone do alto-falante
Lr Indutancia que representa a suspensao do alto-falante
Rr Resistencia que representa as perdas de suspensao no alto-falante
VCA Tensao de Alimentacao
POUT Potencia de Saıda
η Rendimento
Vpp Tensao de pico a pico
m Indice de Modulacao
Zo Impedancia da Carga
Vruido,% Percentual de ruıdo que o filtro deixa passar
VDS Tensao entre o dreno e a fonte
VB Saıda de referencia do driver para o MOSFET superior
Pin Potencia de entrada na fonte CC
f Frequencia da rede
Vmax Tensao de pico da saıda da fonte CC
Vmin Tensao mınima da saıda da fonte CC
U ′o,n Tensao do componente harmonico analisado no calculo da THD
Uo Tensao da saıda do amplificador para calculo da THD
Pmed Potencia de saıda do amplificador
VRMS Tensao de saıda para potencia nominal
IRMS Corrente de saıda para potencia nominal
S Sinal
N Ruıdo
A Amplitude das componentes de frequencia para calculo do THD
THD +N Distrocao harmonica total + ruıdo
Kw Fator de utilizacao da janela do carretal
Bmax Densidade maxima de fluxo
Jmax Densidade maxima de corrent
µo Permeabilidade magnetica do ar
Iorms Corrente eficaz no indutor
Iopk Corrente de pico no indutor
AeAw Produto das areas
N Numero de espiras do indutor
Aw Area da janela
Ae Area do entreferro
Lt Comprimento medio de uma espira
Ve Volume do nucleo
a Distancia entre janelas
b Largura da janela
h Altura da janela
d Profundidade do nucleo
δcu Profundidade de penetracao no cobre
Amax Area maxima da secao transversal de um condutor
Acond Area necessaria para conduzir a corrente eficar do indutor
ncondutores Numero de condutores
Acarretel Area do carretel
SUMARIO
1 INTRODUCAO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.1 MOTIVACAO DO TRABALHO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.2 OBJETIVOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.2.1 Objetivos Especıficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.3 APRESENTACAO DA ESTRUTURA DO TRABALHO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2 FUNDAMENTACAO TEORICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.1 CLASSES DE AMPLIFICADORES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.1.1 Classe A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.1.2 Classe B . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.1.3 Classe AB . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.2 AMPLIFICADORES CLASSE D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.2.1 Principais Topologias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.2.2 Principais Modulacoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.2.3 Acionamento Analogico e Digital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.2.4 Teorema de Nyquist-Shannon . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.3 A NORMA ABNT NBR 60268-3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.4 TOPOLOGIA ESCOLHIDA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.4.1 Modelo do Filtro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.4.1.1 Filtros Ativos versus Filtros Passivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.4.1.2 Filtros de uma saıda versus Filtros Balanceados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
2.4.1.3 Filtro Passivo e Balanceado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
2.4.2 Chaves Semicondutoras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
2.4.2.1 Parametros e Perdas de MOSFETs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
2.4.3 Circuito de Acionamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
2.4.4 Optoacoplador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
2.4.5 Tempo Morto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
2.4.6 Circuito de Auxılio a Comutacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
2.4.7 Microcontrolador Piccolo TMS320F28069 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
2.4.8 Amplificador de Instrumentacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
2.4.9 Filtro Anti-Aliasing . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
2.4.10 Fonte de Alimentacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
2.4.11 Carga (Alto-Falante) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
3 PROJETO DO AMPLIFICADOR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
3.1 PROJETO DO FILTRO DE SAIDA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
3.2 ESCOLHA DAS CHAVES (MOSFETS) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
3.3 PROJETO DO CIRCUITO DE ACIONAMENTO DAS CHAVES . . . . . . . . . . . . 62
3.4 ESCOLHA DOS OPTOACOPLADORES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
3.5 PROJETO DO CIRCUITO DE AUXILIO A COMUTACAO . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
3.6 PROJETO DO CONDICIONAMENTO DE SINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
3.6.1 Amplificador de Instrumentacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
3.6.2 Filtro Anti-Aliasing . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
3.6.3 Buffer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
3.7 PROJETO DA FONTE DE ALIMENTACAO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
3.8 ESCOLHA DA CARGA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
4 ANALISE DE RESULTADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
4.1 RESULTADOS DE SIMULACAO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
4.1.1 Modulacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
4.1.2 Optos e Drivers . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
4.1.3 Formas de Onda da Saıda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
4.2 RESULTADOS EXPERIMENTAIS DO PROTOTIPO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
4.2.1 Sensibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
4.2.2 Potencia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
4.2.3 Eficiencia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
4.2.4 Relacao Sinal/Ruıdo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
4.2.5 Resposta em Frequencia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
4.2.6 Distorcao Harmonica Total . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
4.2.7 Resultados Complementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
4.2.8 Especificacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
5 CONCLUSOES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
APENDICE A - DEFINICOES DE PARAMETROS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .100
A.1 POTENCIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
A.2 SENSIBILIDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
A.3 RELACAO SINAL/RUIDO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
A.4 RESPOSTA EM FREQUENCIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
A.5 DISTORCAO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
APENDICE B - PROJETO DOS INDUTORES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .104
19
1 INTRODUCAO
O som e gerado quando um objeto vibra, fazendo com que o ar que esta
ao seu redor seja deslocado (PIRES, 2010). Isto permite que o som seja criado por
uma infinidade de diferentes vibracoes. Todavia, o que permite que algum tipo de
som emitido tenha importancia e o fato do ouvido humano ter capacidade de capta-lo
e interpreta-lo. Biologicamente, o conceito da frequencia tem papel importantıssimo,
pois o ser humano nao e capaz de ouvir todas as frequencias. A faixa audıvel do ser
humano restringe-se, em media, entre 20 Hz e 20 kHz (RODRIGUES; COLLINO, 2008).
No decorrer do tempo, sinais de audio passaram a ser amplificados para
suprir a necessidade de transmitir uma mensagem sonora para um maior numero de
pessoas em um mesmo lugar (RODRIGUES; COLLINO, 2008). Com isso, o desenvolvi-
mento de amplificadores de audio passou a ganhar espaco.
Nas decadas passadas, os amplificadores de audio restringiam-se a apare-
lhos de radio e equipamentos profissionais de sonorizacao para grandes espetaculos
musicais. Na atualidade, por outro lado, os equipamentos de audio sao utilizados
amplamente em outras aplicacoes, tais como: sonorizacao domestica, reproducao de
mıdias digitais, telefonia movel, sonorizacao automotiva, dentre outras. Os amplifi-
cadores de audio estao embutidos em diversos aparelhos eletronicos. Grande parte
destes dispositivos e movel, e isso leva a necessidade de transformar o amplificador
em um componente pequeno, leve e eficiente (RUMSEY; MCCORMICK, 2009).
A evolucao da eletronica analogica e digital, aumentou a demanda por am-
plificadores, uma vez que reduziu o custo dos equipamentos, tornou-os mais compac-
tos, mais eficientes e com maior densidade de potencia. A topologia do circuito ampli-
ficador depende das caracterısticas desejadas para o equipamento. Caso o principal
parametro desejado seja alto rendimento, entao um amplificador Classe D pode ser a
melhor opcao. Em contrapartida, caso busque-se a melhor fidelidade de reproducao
de audio, o amplificador Classe A torna-se mais atrativo (SELF, 2002). Nas secoes
2.1 e 2.2 serao abordadas as principais topologias e aplicacoes dos amplificadores de
audio de potencia.
1.1 Motivacao do Trabalho 20
1.1 MOTIVACAO DO TRABALHO
As classes de amplificadores mais difundidas e utilizadas sao as que com-
preendem os amplificadores chamados lineares, como A e AB. Elas sao tao populares,
tanto por estarem ha mais tempo no mercado mostrando serem confiaveis, quanto
pela caracterıstica de linearidade e fidelidade sonora que apresentam (RODRIGUES,
2008).
Os amplificadores chaveados, como o classe D, logo que foram desenvol-
vidos deixavam muito a desejar na qualidade do som que apresentavam, principal-
mente em funcao dos dispositivos semicondutores da epoca, os quais eram usados
como chaves. Esses semicondutores operavam apenas em frequencias relativamente
baixas, o que acarretava em mais complexidade ao processo de filtragem e maior
distorcao. Com a evolucao das chaves nos anos 80 e 90 e, consequentemente, o au-
mento da frequencia de chaveamento, o classe D passou a ter resposta com menores
nıveis de distorcao, o que o deixa interessante para as mais diversas aplicacoes.
O trabalho proposto consiste no desenvolvimento de um amplificador de
audio classe D de baixa potencia, pronto para uso (nao necessita o uso de fontes
e equipamentos auxiliares). Visa-se mostrar que com o uso de tecnicas adequadas
de modulacao e demodulacao do sinal, e possıvel obter um amplificador com carac-
terısticas de rendimento, portabilidade e qualidade de audio satisfatorias para variadas
aplicacoes. Um bom amplificador classe D pode tanto ser usado na amplificacao de
sons profissionais, onde devido as grandes potencias necessita ser pequeno e leve,
quanto para uso em um smartphone, por exemplo, onde a eficiencia e fator crucial,
visto que ele opera com energia fornecida por uma bateria.
Outro fator que motivou o desenvolvimento deste trabalho e o auxılio a
producao de trabalhos futuros, fazendo-se a comparacao de amplificadores lineares
de mesmos parametros com este chaveado. Ate mesmo podem-se realizar compara-
tivos com outro classe D, empregando uma tecnica de modulacao diferente, a fim de
analisar as divergencias entre os modelos. Tais estudos podem ser baseados tanto
em testes de bancada, buscando-se realizar a comparacao de resultados eletricos,
como testes de audicao, onde a opiniao dos ouvintes pode ser levada em conta.
1.2 Objetivos 21
1.2 OBJETIVOS
O objetivo geral deste trabalho e projetar e implementar um amplificador
de audio classe D com 50 W de potencia, para uso como receiver, com um canal de
saıda, na configuracao em ponte completa e respondendo para todas as frequencias
audıveis.
1.2.1 OBJETIVOS ESPECIFICOS
Tem-se como objetivos especıficos do trabalho apresentado:
• Fazer a revisao bibliografica das topologias de amplificador classe D e das cha-
ves semicondutoras;
• Analisar e projetar a fonte CC, o conversor CC/CA full bridge, os modulos de
acionamento (drivers) para as chaves e o filtro de saıda;
• Fazer simulacoes numericas computacionais das etapas projetadas;
• Projetar e implementar os elementos magneticos do amplificador;
• Implementar e validar a simulacao;
• Analisar os resultados com os parametros e norma 60268-3/2010;
A Figura 1 apresenta o diagrama geral do projeto e o contexto onde ele
enquadra-se.
ALTO FALANTEENTRADAS DE ÁUDIO
COMUTADOR AMPLIFICADOREQUALIZADOR
Figura 1: Diagrama contextual do trabalho.Fonte: Autoria propria.
1.3 APRESENTACAO DA ESTRUTURA DO TRABALHO
Este trabalho esta organizado em 7 capıtulos, sendo:
1.3 Apresentacao da Estrutura do Trabalho 22
• Capıtulo 1: Introducao, como a apresentacao do tema, a motivacao que levou a
este trabalho e os objetivos dele.
• Capıtulo 2: Fundamentacao Teorica, onde toda a teoria e abordada, desde as
principais classes de amplificadores de audio, passando pelas principais carac-
terısticas do amplificador classe D, ate a topologia escolhida, com a caracterizacao
de cada item que a compoe. O conhecimento adequado das topologias e das
funcoes de cada componente e fundamental para o sucesso do projeto.
• Capıtulo 3: Projeto do Amplificador, no qual e apresentado o passo a passo
do projeto realizado com base no conhecimento teorico adquirido, simulacoes
computacionais e testes de bancada.
• Capıtulo 4: Analise de Resultados, que traz o equipamento que foi implemen-
tado, junto com suas caracterısticas de resposta e resultados para os parametros
desejados alem das simulacoes numericas.
• Capıtulo 5: Conclusao, o qual define o que foi concluıdo com o desenvolvimento
deste trabalho.
• Capıtulo 6: Apendices, em que sao mostrados conceitos sucintos dos princi-
pais parametros de avaliacao da qualidade do audio e tambem o projeto e a
implementacao dos indutores do filtro.
23
2 FUNDAMENTACAO TEORICA
Nesta secao e apresentado o embasamento teorico acerca das topologias,
circuitos e componentes que formam o amplificador de audio, tanto de forma geral,
quanto voltado ao amplificador Classe D.
2.1 CLASSES DE AMPLIFICADORES
Inicialmente foi desenvolvido o amplificador classe A. Por volta de 1950,
surgiu o amplificador classe B. So entao, adotou-se nomenclaturas relativas ao com-
portamento da corrente no estagio de saıda, assim como sua linearidade. Essas no-
menclaturas sao conhecidas como as classes de amplificadores (PIRES, 2010).
Novas classes foram surgindo com o avanco dos estudos que buscavam
melhorias de rendimento nos amplificadores, sem prejudicar seu desempenho em
relacao a qualidade de audio. A seguir, apresenta-se as principais classes de am-
plificadores que sao usadas para amplificacao de audio na atualidade.
2.1.1 CLASSE A
O amplificador classe A particuliza-se por ser o amplificador com a melhor
caracterıstica de linearidade. O ponto de polarizacao em que o elemento amplificador
opera e bem no centro da reta de carga, estrategia essa que garante a linearidade do
dispositivo e diminui a distorcao na saıda, segundo Cordel (2011). Esse fato tambem
faz as perdas serem elevadas, visto que sempre ha tensao e corrente, simultanea-
mente, no transistor ou similar. No entanto, as maiores parcelas de perdas sao devido
a corrente de polarizacao, que mesmo quando a fonte sonora esta desativada ou em
nıvel nulo, circula pelo circuito com valor elevado (em torno de metade do valor da
corrente maxima de carga), dissipando energia tambem nos resistores do circuito de
polarizacao.
A eficiencia maxima teorica do amplificador classe A e em torno de 50%
(quando utilizado um transformador para o acoplamento com a carga), mas na pratica
esse percentual dificilmente ultrapassa os 25% (BOYLESTAD; NASHELSKY, 2004). Isso
2.1 Classes de Amplificadores 24
o torna um amplificador inviavel para aplicacoes de grandes potencias. Alem do
mais, toda a energia que nao e aproveitada e transformada em calor, necessitando
a utilizacao de muitos dissipadores, o que implica em maior custo, tamanho e peso
(BORTONI, 2012).
A Figura 2 mostra o diagrama basico mais utilizado do amplificador classe
A. Utiliza um transistor BJT na configuracao emissor-comum. Ha tambem amplifica-
dores que utilizam valvulas ou dispositivos FET.
R2
C1
RE
RLR1
C2
IN+
0VIN-
VOUT
VCC
Figura 2: Circuito do amplificador classe A.Fonte: Adaptado de (BOYLESTAD; NASHELSKY, 2004).
2.1.2 CLASSE B
A Figura 3 traz o esquema basico do amplificador classe B. De acordo com
Peccerini (2016), os amplificadores classe B sao amplificadores que surgiram devido
a necessidade de melhorar o rendimento dos amplificadores classe A, o qual dissi-
pava muita energia em forma de calor. Os amplificadores classe B sao caracterizados
por nao possuırem corrente de polarizacao nos transistores de saıda. Cada transistor
conduz durante somente um ciclo, positivo ou negativo, dependendo da polarizacao
efetuada no transistor. Conduz, portanto, durante somente 180 graus, sendo que os
50% restantes do perıodo ele esta no modo de corte, nao dissipando energia, ideal-
mente.
2.1 Classes de Amplificadores 25
+Vcc
-Vcc
Figura 3: Circuito do amplificador classe B.Fonte: Adaptado de (BORTONI, 2012).
Devido a necessidade de um nıvel de tensao mınimo para polarizar os tran-
sistores e estes comecarem a conduzir, a distorcao que e provocada na saıda e co-
nhecida como distorcao de cruzamento por zero ou efeito crossover. Ela e um nıvel
morto na faixa de tensao positiva e negativa do sinal, com amplitude igual a tensao
de polarizacao do dispositivo amplificador (SCHWAAB, 2012). O amplificador classe B
e, normalmente, mais eficiente que o amplificador classe A, com rendimento aproxi-
mado de 78,5%. Por outro lado, o amplificador classe B apresenta maior distorcao em
funcao do efeito de cruzamento por zero. Quando trata-se de grandes nıveis de sinais,
ou seja, grandes potencias, a distorcao e relativamente pequena devido ao sinal ser
muito maior que os harmonicos gerados. A Figura 4 mostra esse efeito.
Vout
t
Figura 4: Distorcao de cruzamento por zero no am-plificador classe B.Fonte: Adaptado de (BORTONI, 2012).
2.1 Classes de Amplificadores 26
2.1.3 CLASSE AB
Os amplificadores classe AB foram desenvolvidos de modo a aliar o que
apresentam de melhor os amplificadores classes A e B. Reuniu-se o princıpio de fun-
cionamento do classe A, que amplifica o sinal sem introduzir-lhe nao linearidades,
juntamente com o do classe B, que utiliza dois dispositivos para amplificar o sinal,
cada qual em um ciclo, proporcionando um alto rendimento (ELIOTT, 2014) Realiza-se
isso mantendo os dois dispositivos ligados simultaneamente, por um curto perıodo de
tempo. Isso garante que cada um deles conduza por mais de 180 graus, sobrepondo-
se no momento que a onda cruza o zero, eliminando assim o efeito crossover e re-
construindo o sinal original de maneira fiel.
O rendimento do amplificador classe AB aproxima-se de 75%, bem proximo
do valor alcancado pelo classe B, mas sem o prejuızo da distorcao que este introduz
no sinal de saıda (PECCERINI, 2016). Esse alto rendimento deve-se ao fato de a cor-
rente de polarizacao, diferentemente do classe A, ser a mınima possıvel para manter o
dispositivo amplificador ligado. A Figura 5 apresenta o circuito basico do amplificador
classe AB.
+Vcc
-Vcc
Vbias
Vbias
Figura 5: Circuito do amplificador classe AB.Fonte: Adaptado de (BORTONI, 2012).
2.2 Amplificadores Classe D 27
2.2 AMPLIFICADORES CLASSE D
Surgidos em meados dos anos 1960, os amplificadores Classe D, conhe-
cidos como amplificadores chaveados, operam de maneira totalmente diferente das
outras classes ate entao discutidas. Os transistores de saıda funcionam como chaves,
comutando entre os modos de saturacao e corte. Porem, devido as interferencias de
frequencia de radio e a falta de dispositivos com capacidade de chaveamento rapida,
este modelo nao teve muito sucesso na epoca de sua criacao. Somente a partir da
decada de 1970 e 1980, com a chegada ao mercado dos dispositivos FET (Field Effect
Transistor - Transistor de Efeito de Campo) e MOSFET (Metal Oxide Semiconductor
Field Effect Transistor - Transistor de Efeito de Campo Metal - Oxido - Semicondutor),
e que este amplificador passou a ser viavel (ELIOTT, 2014).
Os amplificadores classe D se destacavam pela sua alta eficiencia em ta-
manhos muito pequenos. Por outro lado, sua baixa fidelidade ao sinal de entrada
de audio sempre foi motivo de hesitacao ao uso deste tipo de amplificador. Este
quesito tem sido aperfeicoado continuamente desde o fim dos anos 1990, utilizando-
se tecnicas mais modernas de modulacao, chaveamento e demodulacao (TAVARES,
2010).
Idealmente toda a potencia que entra no amplificador classe D e aplicada
na saıda, ja que quando a chave esta no modo de saturacao a tensao e virtualmente
zero e no estado de corte a corrente que passa pela chave e zero. Isso de fato nao
ocorre, devido a pequenas dissipacoes e nao idealidades das chaves semicondutoras.
Mesmo assim, o rendimento dos amplificadores classe D fica em torno de 90%, o que
requer menos potencia fornecida pela fonte e menos dissipadores de calor para um
amplificador de mesma potencia que um linear (CORDEL, 2011). A Figura 6 mostra a
comparacao entre a media de rendimento dos amplificadores das classes A, B e D.
No amplificador classe D analogico mais simples, os sinais de comando das
chaves sao gerados a partir da comparacao do sinal de entrada a uma onda triangular,
de frequencia varias vezes superior a maxima frequencia audıvel. O resultado dessa
comparacao e um sinal modulado (retangular), que possui largura variavel e proporci-
onal ao valor da amplitude do sinal de entrada. A frequencia do sinal triangular e o que
determina a frequencia de chaveamento. O sinal modulado e primeiramente amplifi-
cado para entao ser usado no controle das chaves. As chaves reproduzem esse sinal
sobre a carga, porem com uma amplitude muito maior. Para recuperar o sinal origi-
nal da entrada do amplificador (processo chamado de demodulacao), um filtro passa
2.2 Amplificadores Classe D 28
baixa remove as componentes de alta frequencia devido ao chaveamento e demais
ruıdos e perturbacoes. Esse princıpio e chamado de Modulacao PWM (Pulse Width
Modulation - Modulacao por Largura de Pulso). A Figura 7 apresenta o diagrama de
blocos de um amplificador Classe D desse modelo.
Classe A
Classe B
Classe D
Po/Po(MAX)
Rendim
ento
-
(%)
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 10
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Figura 6: Comparacao entre o rendimento de classes A, B e D.Fonte: Adaptado de (TAVARES, 2010).
PWM
Sinal de Entrada
Onda Triangular
Comparador Comando e
Chaveamento Filtro Passa-baixa Alto Falante
Figura 7: Diagrama de blocos do projeto.Fonte: Autoria propria.
Ha tambem os processos de modulacao Delta-Sigma e modulacao Auto-
Oscilante, os quais serao abordados mais adiante neste trabalho.
2.2.1 PRINCIPAIS TOPOLOGIAS
Ao dar-se inıcio ao desenvolvimento do projeto de um amplificador classe D,
um dos primeiros passos e a escolha da topologia a ser empregada. Ela determinara
o modo de funcionamento do circuito, os requisitos basicos de alimentacao e quais
componentes serao necessarios. A selecao da topologia e efetuada com base na
aplicacao e no nıvel de potencia exigido (HEERDT, 1997).
Basicamente, os amplificadores classe D possuem duas principais topolo-
2.2 Amplificadores Classe D 29
gias: a half bridge (meia ponte) e a full bridge (ponte completa) (PIRES, 2010). A Figura
8 apresenta o conceito da topologia de meia ponte e a Figura 9 apresenta o conceito
da topologia de ponte completa.
L
C
Driver Superior
Driver Inferior
Q
Q
Q1
Modulador de
Largura de Pulso
Entrada
+Vcc
-Vcc
Q2
Filtro
Figura 8: Conceito da topologia meia ponte.Fonte: Adaptado de (RODRIGUES, 2008).
L
C
Driver Superior
Driver Inferior
Q
Q
Q1
Modulador de
Largura de Pulso
Entrada
Q2
L Driver Superior
Driver Inferior
+Vcc
C
Q3
Q4
Filtro Filtro
Figura 9: Conceito da topologia ponte completa.Fonte: Adaptado de (RODRIGUES, 2008).
A topologia meia ponte torna-se interessante para uso em baixas potencias,
devido principalmente ao seu altıssimo rendimento (mais de 90%) (SCHWAAB, 2012).
Possui apenas um braco com duas chaves complementares, o que reduz o numero de
componentes no geral, como circuitos de acionamento, chaves e dissipadores. Isso
faz com que o circuito seja compacto. Para aplicacoes nas quais o tamanho reduzido
e fundamental, essa e uma importante caracterıstica.
O conversor na topologia meia ponte necessita alimentacao simetrica, o
que depende da fonte que alimentara o sistema e pode ser um problema. Nessa
topologia pode ocorrer o fenomeno de bus pumping, que e a devolucao a fonte de
alimentacao da energia armazenada pela carga com caracterıstica indutiva (alto fa-
2.2 Amplificadores Classe D 30
lante). Esse fenomeno pode levar ao incremento da tensao sobre a carga, podendo
causar danos ao alto falante, ao conversor e a propria fonte de alimentacao (RODRI-
GUES, 2008).
A topologia ponte completa e melhor em termos de qualidade de audio. E
constituıda por dois bracos. Em cada braco estao dispostas duas chaves operando em
modo complementar. Os amplificadores de ponte completa apresentam a desvanta-
gem de possuirem mais componentes envolvidos na sua construcao. Em contraponto,
com apenas metade da tensao de alimentacao, fornece a mesma potencia que um
conversor meia ponte. Essa caracterıstica e extremamente importante pelo fato que
chaves semicondutoras com as caracterısitcas de chaveamento desejadas, sao mais
faceis de serem encontradas com limites de tensao de ate 150 V. Devido a isso os
amplificadores de alta potencia usam essa topologia (CORDEL, 2011).
Outra vantagem da topologia ponte completa e que ela nao esta susceptıvel
ao fenomeno de bus pumping. Tambem funciona com alimentacao unipolar, nao re-
querendo uma fonte simetrica. A configuracao ponte completa possui conveniente-
mente um estado off (desligado), durante o qual os dois lados da ponte estao em
nıvel alto ou baixo, criando uma diferenca de potencial nula sobre a carga. Isso possi-
bilita melhores tecnicas de modulacao, como por exemplo o PWM de tres nıveis (sera
discutido na sequencia) que resulta em um menor filtro de saıda (SCHWAAB, 2012).
2.2.2 PRINCIPAIS MODULACOES
Modulacao e definida como sendo o processo no qual a onda portadora so-
fre variacoes de alguma caracterıstica, de acordo com o sinal que contem a informacao
(PIRES, 2010). O estagio de modulacao de um amplificador classe D tem uma in-
fluencia muito grande no sistema, visto que ele influencia fundamentalmente a qua-
lidade de saıda do amplificador. E o primeiro estagio que compoe o amplificador.
Qualquer informacao perdida ou mal modulada neste estagio ira criar distorcao na
saıda do equipamento, reduzindo a fidelidade do audio de saıda.
Existem muitas tecnicas de modulacao que podem ser consideradas opcoes
na hora de projetar um amplificador de audio classe D. As usadas na pratica conden-
sam a informacao do sinal de audio em um trem de pulsos, os quais tem sua largura,
densidade ou outra caracterıstica variada de acordo com a amplitude do audio (MO-
REY; VASUDEVAN; WOLOSCHIN, 2008). Entretanto, algumas delas sao mais viaveis que
outras por razoes como eficacia, simplicidade do circuito, dentre outras. Levando-se
2.2 Amplificadores Classe D 31
em consideracao esses fatores, tres tecnicas se sobressaem:
• Modulacao por Largura de Pulso (PWM)
• Modulacao Delta-Sigma (SDM)
• Modulacao Auto-Oscilante
A Modulacao PWM e a mais simples de todas. Consiste na tecnica em que
a amplitude do sinal de entrada e representada atraves da razao cıclica do sinal de
saıda, sendo geralmente de dois, tres ou mais nıveis. Embora existam muitas ma-
neiras de realiza-la, a mais comum e gerar um sinal PWM atraves da comparacao do
sinal modulante (sinal de audio) com uma onda portadora. Na maiora das vezes a
onda portadora e uma triangular de alta frequencia. O resultado da comparacao sera
uma onda quadrada de largura de pulso variavel de dois nıveis. A Figura 10 mostra o
princıpio basico dessa modulacao (MOREY; VASUDEVAN; WOLOSCHIN, 2008).
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 1.8 2 2
1
0
1
2
Entrada
Triangular
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 1.8 21
0
1
2
3
4
5
6
PWM
Figura 10: Modulacao PWM de 2 nıveis.Fonte: Adaptado de (ELIOTT, 2014).
Pode ser visto na Figura 10 que quando o sinal de audio possui uma am-
plitude maior do que o sinal de referencia, a saıda e um nıvel logico alto e a razao
cıclica do PWM e maior por mais tempo. Na situacao oposta, a saıda e um nıvel
logico baixo. Isso cria um sinal que representa instantaneamente a amplitude do sinal
de entrada analogico, atraves da largura do pulso no sinal da saıda. Para aplicacao
2.2 Amplificadores Classe D 32
em audio, e recomendado que a amplitude da portadora seja maior que a amplitude
do sinal modulante, de modo que o ındice de modulacao fique menor que a unidade.
Isso e importante para obter-se um sinal PWM fiel ao sinal original, sem perdas de
informacao durante a modulacao (TAVARES, 2010).
No caso da modulacao de 3 nıveis (a qual nao e possıvel de implementar
na topologia meia ponte), a comparacao da-se de maneira um pouco mais elaborada.
Para sinais de audio maiores que 0, a saıda da comparacao varia entre nıveis alto
(+Vcc) e baixo (zero), de forma similar a descrita na modulacao de dois nıveis, porem
esse PWM comanda somente o primeiro braco da ponte. O PWM comanda direta-
mente a chave superior, enquando o PWM negado comanda a chave inferior. Para
sinais de audio menores que 0, a comparacao resulta em nıveis de saıda alto (zero) e
baixo (-Vcc). Esse sinal juntamente com o seu complemento sao usados para operar o
segundo braco da ponte.
A Figura 11 mostra em resumo as ondas do PWM de 3 nıveis.
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 1.8 2−2
−1
0
1
2
Entrada
Triangular
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 1.8 2−6
−4
−2
0
2
4
6
PWM 3 Níveis
Figura 11: Modulacao PWM de 3 nıveis.Fonte: Adaptado de (LEACH, 2001).
Essa modulacao em 3 nıveis permite que as variacoes de tensao sobre a
chave sejam metade daquelas sofridas na tecnica de 2 nıveis; em vez de excursionar
entre +Vcc e -Vcc a cada comutacao, o PWM varia entre uma delas e zero. Isso diminui
a taxa de variacao de tensao necessaria as chaves e aos drivers, alem de impor
um regime de trabalho mais ameno ao filtro. Isso ajuda muito na hora de projeta-
2.2 Amplificadores Classe D 33
lo, permitindo o uso de um esquema de demodulacao menos complexo. O espectro
harmonico obtido dessa modulacao tambem e uma vantagem, pois as componentes
harmonicas de chaveamento se concentram mais distante banda de audio.
Outra tecnica bastante utilizada e a chamada Modulacao Delta-Sigma (SDM),
tambem conhecida como Modulacao por Densidade de Pulsos (PDM). Esse modo
de modular o sinal, ja mais complexo que o PWM, apresenta o valor medio do sinal
analogico de audio na forma de pulsos em um dado intervalo de tempo. Quanto mais
pulsos se concentrarem em um dado perıodo, maior a amplitude do sinal. Um unico
pulso nao pode determinar a amplitude do sinal por si so, mas sim, uma quantizacao
de pulsos determinada pelo clock. Isso dificulta o aparecimento de erros de modulacao
(PIRES, 2010).
Essa tecnica de modulacao requer um circuito que contenha um amplifi-
cador operacional e um flip-flop tipo D, alem de elementos passivos, como visto na
Figura 12.
D
CLK
Q
Q
Sinal de Clock
SaídaModulada
R1
C
R2Sinal
de Áudio
Vcc
Vee
Figura 12: Modulacao Delta-Sigma.Fonte: Adaptado de (SCHWAAB, 2012).
Nesta configuracao, o amplificador operacional funciona como integrador,
inversor e somador. Quanto maior a variacao da entrada, maior sera a variacao dos
nıveis de tensao na saıda do flip-flop (SCHWAAB, 2012).
Para a modulacao sigma-delta, a maior parte da energia do chaveamento
de alta frequencia aparece no espectro distribuıda ao longo de uma larga faixa de
frequencias, e nao concentrada em valores multiplos da frequencia de chaveamento,
como ocorre na modulacao PWM. Isso da a modulacao delta-sigma vantagens sobre
o PWM, como por exemplo a filtragem dessas componentes indesejaveis (GAALAAS,
2006). Porem, essa modulacao de 1 bit nao e empregada substancialmente em am-
plificadores classe D porque esse modulador e perfeitamente estavel ate um nıvel de
modulacao de no maximo 50%. Alem disso, sao necessarias no mınimo 64 amostras
2.2 Amplificadores Classe D 34
para quantizacao, o que tornaria o chaveamento incrivelmente rapido, exigindo com-
ponentes e circuitos muito mais elaborados, alem da perda de eficiencia devido as
perdas de chaveamento tornarem-se maiores (MOREY; VASUDEVAN; WOLOSCHIN, 2008).
Similarmente, existe a modulacao auto-oscilante. Recentemente esta tecnica
passou a ser empregada no desenvolvimenteo de amplificadores. Esse tipo de modulacao
usa uma malha de realimentacao, cujas caracterısitcas determinam a frequencia do
modulador (em vez de um clock ) (GAALAAS, 2006).
Essa modulacao e basicamente uma versao analogica do modulador delta-
sigma. A diferenca e que em vez de ser usado um flip-flop para gerar o atraso, o
sinal de realimentacao e retirado depois das chaves, o que acarreta em um atraso
natural do circuito, proveniente do tempo de propagacao dos circuitos de acionamento
e dos tempos de subida e descida das chaves (SCHWAAB, 2012). E possıvel obter
excelente qualidade de audio gracas a realimentacao. Por outro lado, a frequencia de
chaveamento variavel em funcao do sinal de entrada, torna difıcil fazer o sincronismo
com outros circuitos chaveados, conectar o sistema com fontes de audio digitais, alem
da complexidade de sintonizar o filtro demodulador (GAALAAS, 2006).
2.2.3 ACIONAMENTO ANALOGICO E DIGITAL
Muitas pessoas acreditam que a letra D que determina a classe de ampli-
ficadores chaveados (classe D) seja um indicador de que se trata de um amplificador
digital. Isso e incorreto. A letra D, como ja mencionado, apenas representa a classe
do amplificador, e e usada devido ao fato de que na epoca de sua concepcao, era a
proxima letra disponıvel no alfabeto para designar uma classe de amplificador. Exis-
tem tanto amplificadores classe D analogicos quanto digitais (CELLIER et al., 2009).
O amplificador analogico e aquele em que a modulacao e feita atraves de
componentes analogicos, tais como comparadores, flip-flops, dentre outros. Ja o am-
plificador digital recebe o sinal de audio digitalmente ou atraves de um conversor A/D
(analogico para digital) o qual transforma o sinal em bits desde a entrada, e o pro-
cessa totalmente de forma digital, atraves de um microcontrolador ou microproces-
sador, podendo-se aplicar varias tecnicas de modulacao atraves de linhas de codigo
(KULKA, 2007).
Os amplificadores digitais sao preferencialmente empregados onde o audio
ja esta em formato digital. Isso economiza o processo de converte-lo em analogico,
simplificando o circuito e aumentando a eficiencia. Nesse caso, a partir do sinal binario
2.2 Amplificadores Classe D 35
sao gerados os pulsos que posteriormente irao acionar as chaves com a modulacao
que for implementada. O sistema digital nao necessita da geracao da onda portadora
(triangular) para referencia, o que e uma das etapas mais trabalhosas de serem ajusta-
das em um amplificador analogico. Porem, dependendo da velocidade do processador
e da resolucao do conversor A/D, a precisao na hora de realizar a conversao do sinal
analogico para digital pode ser baixa, levando a distorcoes no estagio de saıda do
amplificador (STARK, 2007).
Os estagios de acionamento das chaves, etapas de potencia e de filtra-
gem continuam iguais para os dois modelos, visto que nao e possıvel encontrar um
conversor D/A (digital para analogico) para potencia alem de nıveis de sinal.
2.2.4 TEOREMA DE NYQUIST-SHANNON
O Teorema da amostragem de Nyquist- Shannon, ou simplesmente Teo-
rema de Nyquist, e extremamente importante na area de telecomunicacoe e proces-
samento de sinais. Amostragem e definida como o sendo o processo que converte um
sinal contınuo no tempo em valores discretos. O teorema baseia o desenvolvimento
de codificadores de sinais analogicos para sinais digitais (CASTRO, 2008).
Segundo este teorema, a quantidade de amostras colhidas por unidade
de tempo de um sinal de banda limitada (conhecida como frequencia ou taxa de
amostragem) necessita ser maior que duas vezes a maior frequencia contida no si-
nal analogico que esta sendo amostrado. Isso e necessario para que o sinal seja
reproduzido totalmente, sem erro de aliasing (LSHAUEN, 2000).
A metade da taxa de amostragem e conhecida como frequencia de Nyquist
e e a maxima frequencia do sinal que pode ser amostrado e reproduzido. Para garantir
que o sinal nao contenha frequencias acima desse limiar, utiliza-se um filtro passa-
baixa, tambem conhecido para essa aplicacao como filtro anti-aliasing, o qual sera
descrito posteriormente (TATEOKI, 2009).
Sabe-se porem que a condicao mınima que o teorema apresenta nao e a
ideal para a reconstrucao de sinais que exigem alta fidelidade. Assim, o projetista
deve fazer um balanco entre o numero de amostras retiradas do sinal e a largura de
banda que ocupara, para obter um nıvel de qualidade de reproducao satisfatorio para
sua aplicacao, sem tornar o sistema lento devido a uma superamostragem.
2.3 A norma ABNT NBR 60268-3 36
2.3 A NORMA ABNT NBR 60268-3
A partir da definicao da classe de amplificador a ser desenvolvido e de
seus objetivos, buscou-se normativas para orientar os parametros que deveriam ser
determinados, seus limites e como fazer suas medicoes.
A norma ABNT NBR IEC 60268 intitulada ”Equipamentos de sistemas de
som”, possui um volume chamado ”Amplificadores”, o terceiro volume. Trata dos am-
plificadores analogicos de audio das classes A, B, AB e D, ou seja, os mais difundidos.
Determina quais especificacoes devem ser apresentadas junto ao produto, bem como
a forma de calculo e medicao desses mesmos parametros tanto em amplificadores
de uso profissional como domestico. Passou a ser valida a partir de 06/2010 e teve
sua ultima correcao realizada em 05/2011 (ABNT, Associacao Brasileira de Normas Tecnicas,
2010).
A norma indica metodos de medicao de parametros, bem como suas
definicoes, que vao desde tensao de alimentacao, nıveis e caracterısticas que o si-
nal de entrada deve ter (sensibilidade), passando por medicao de potencia em funcao
de variadas condicoes de uso, eficiencia do conjunto, ate nıveis de ruıdo e distorcao
da saıda. Um desses parametros e do THD (Total Harmonic Distortion - Distorcao
Harmonica Total). A norma nao traz valores definidos que devem ser respeitados.
Portanto, o limiar do projeto em relacao a distorcao do sinal de saıda sera nao ultra-
passar o THD de 10%. A relacao sinal/ruıdo da saıda do amplificador tambem sera
analisada.
2.4 TOPOLOGIA ESCOLHIDA
Na hora de dar inıcio ao projeto, e preciso decidir sobre as caracterısticas
basicas do amplificador que irao nortear o desenvolvimento do projeto ate o fi-
nal. Precisa-se escolher a topologia do amplificador classe D, o tipo de modulacao,
potencia de saıda, dentre outras.
A topologia escolhida e a de ponte completa, pois tamanho nao e um fator
crucial no desenvolvimento deste prototipo e ela apresenta inumeras vantagens em
relacao a topologia meia ponte, as quais ja foram discutidas previamente.
O tipo de modulacao escolhida e o PWM de tres nıveis, visto que sua
implementacao e possıvel pelo uso da topologia ponte completa. Essa modulacao fa-
cilita o projeto do filtro, garante melhor qualidade de audio, alem de um menor esforco
2.4 Topologia Escolhida 37
sobre as chaves e filtro.
O amplificador deve ter resposta de frequencia plana na banda que com-
preende o espectro audıvel, ter apenas um canal de saıda que forneca potencia de 50
W para uma carga de 8 Ω.
A seguir, havera uma analise teorica sobre cada modulo componente do
amplificador de audio classe D em questao.
2.4.1 MODELO DO FILTRO
Uma das maneiras mais faceis de determinar a qualidade de qualquer am-
plificador de audio e atraves da medicao da nıvel de ruıdo presente na saıda dele. Em
amplificadores de audio em que eficiencia e qualidade sao fatores importantes, isso
acentua-se ainda mais, visto que ruıdo representa perdas de energia alem de degra-
dar a qualidade do audio final. Os amplificadores de audio classe D sao extremamente
susceptıveis a ruıdos, devido a sua caracterıstica de amplificador chaveado (MOREY;
VASUDEVAN; WOLOSCHIN, 2008).
Nesse amplificador, o estagio de filtragem e um dos mais importantes, por-
que e onde a demodulacao do sinal de saıda da etapa de potencia e realizada. Caso
nao seja realizada uma demodulacao adequada do sinal, informacao sera perdida e a
qualidade do audio na saıda do amplificador sera insatisfatoria. Dependendo do tipo
de modulacao utilizada, o filtro sofre ajuste em seus parametros de projeto e monta-
gem (TAVARES, 2010).
Ele deve deixar passar as frequencia que situam-se dentro da banda do
sinal de audio e atenuar as frequencias de chaveamento do modulador, portanto, deve
ser um filtro passa baixa (SCHWAAB, 2012). Dentre as varias topologias de filtros exis-
tentes, deve-se primeiramente fazer algumas diferenciacoes basicas.
2.4.1.1 FILTROS ATIVOS VERSUS FILTROS PASSIVOS
A primeira decisao a ser tomada na hora de projetar um filtro e se ele sera
um filtro ativo ou passivo. Para altas frequencias (maiores que 1 MHz), os filtros sao
geralmente constituıdos de elementos passivos, como capacitores, indutores e resis-
tores. Porem, para frequencias mais baixas (de 1 Hz ate 1 MHz) o valor da indutancia
fica muito grande, assim como o proprio indutor. Isso torna difıcil sua implementacao,
tanto pelo fator economico como para manter o circuito compacto. Nesse caso, opta-
se por circuitos de filtros ativos (KUGELSTADT, 2008).
2.4 Topologia Escolhida 38
Filtros ativos usam elementos ativos (como amplificadores operacionais e
transistores) associados a resistores e capacitores para fornecer resposta semelhante
a dos filtros que usam indutores. Os filtros ativos tambem podem possuir ganho maior
que o unitario e possuir maior precisao (MOREY; VASUDEVAN; WOLOSCHIN, 2008). A
Figura 13 apresenta o modelo basico de um filtro passa baixa passivo e outro ativo,
ambos de segunda ordem.
VoutVin Vin
Vout
L
C
R R1 R2
C1
C2
Figura 13: Filtro passivo de segunda ordem e filtro ativo de segunda ordem.Fonte: Adaptado de (KUGELSTADT, 2008).
Em ambos os tipos de filtro ha componentes que adicionam complexidade
ao circuito. Nos ativos e o elemento ativo, o qual necessita alimentacao externa e
possui resposta em frequencia limitada de acordo com o modelo. Nos filtros passivos,
o indutor dificulta a obtencao de alta precisao, alem de ser um elemento grande e
caro. Outra diferenca consiste no fato que filtros passivos podem ser construıdos
sem resistores, o que na teoria pode torna-los dispositivos com perda nula (MOREY;
VASUDEVAN; WOLOSCHIN, 2008).
Devido a caracterıstica do ruıdo presente em um amplificador classe D,
a frequencia de corte do filtro de saıda nao necessita ser extremamente precisa.
Associando-se isso a necessidade de alta eficiencia e ao fato que o estagio em
que o filtro opera dispoe de altos valores de tensao e corrente (consequentemente,
potencia), opta-se pelo uso do filtro passivo. Para essa aplicacao, suas vantagens
superam suas desvantagens.
2.4.1.2 FILTROS DE UMA SAIDA VERSUS FILTROS BALANCEADOS
Escolher entre um filtro ativo ou passivo e somente o primeiro passo no
projeto de um filtro para um amplificador de audio Classe D. Ha muitas topologias
possıveis para tais filtros. Precisa-se escolher a ordem do filtro e o valor dos com-
ponentes que serao empregados. Porem, primeiramente, precisa-se escolher entre
filtrar somente um lado do sinal com um filtro de uma so saıda ou filtrar os dois lados
do sinal, com um filtro balanceado (MOREY; VASUDEVAN; WOLOSCHIN, 2008).
2.4 Topologia Escolhida 39
A Figura 14 apresenta os dois modelos de filtro.
R RCC
L
L
L
VinVin
(a) (b)
Figura 14: (a) Filtro de uma Saıda e (b) Filtro Balanceado.Fonte: Autoria propria.
O filtro de uma saıda possui unicamente a vantagem de possuir menos
componentes. Ja o filtro balanceado elimina o offset, centrando o sinal de saıda em
zero, sem a necessidade de um barramento negativo, de acordo com Palmer (1999).
Isso facilita o projeto da fonte, ja que essa caracterıstica de fonte assimetrica ja e
permitida pela topologia de ponte completa adotada. Portanto, o filtro a ser utilizado
sera um filtro passivo e balanceado.
2.4.1.3 FILTRO PASSIVO E BALANCEADO
Apos ter-se optado por um filtro passivo e balanceado, outras
especificacoes devem ser feitas para projeto dele. O filtro pode ser de segunda,
terceira ou quarta ordem, normalmente sendo um Butterworth, tecnica que garante
ganho constante na banda-passante, ou seja, resposta de frequencia plana. Os in-
dutores e capacitores utilizados devem possuir caracterısticas especıficas para o fil-
tro. O indutor deve possuir uma baixa resistencia CC, pequeno tamanho e pouca
saturacao. O capacitor tambem deve ser pequeno, ter pouca dissipacao, baixa re-
sistenca intrınseca, alem de ser compatıvel com a tensao do barramento. Normal-
mente utiliza-se um filtro de segunda ordem para a demodulacao em um amplificador
classe D. Portanto, um filtro LC sera empregado para atender a ordem escolhida, de-
vido a sua simplicidade e possuir -40 dB/decada de atenuacao na banda de transicao
(TAVARES, 2010).
A principal funcao desse filtro e atuar como uma indutancia a frequencia de
comutacao, impedindo que a corrente na carga varia diretamente com a oscilacao da
tensao, que sofre variacoes na mesma frequencia de modulacao (PIRES, 2010).
Considerando o circuito apresentado na Figura 14:(a) de um filtro de uma
saıda e assumindo que o alto-falante seja representado pelo seu modelo resistivo,
utiliza-se a trasformada de Laplace para obter-se a funcao de transferencia da saıda
2.4 Topologia Escolhida 40
pela entrada que representa o bloco filtro + carga, que e apresentada na Equacao 1.
A funcao de transferencia ja encontra-se normalizada, conforme apresenta a Equacao
1
Vo(s)
Vin(s)=
1
1 + LRs+ LCs2
. (1)
onde: Vo(s) representa a tensao de saıda do circuito; Vin(s) representa a tensao de
entrada do circuito; L e o indutor; C e o capacitor e R representa o resistor.
Usando a metodolodia de projeto de filtros Butterworth apresentada por
Kugelstadt (2008), chega-se a equacao gabarito de um filtro passa baixa de segunda
ordem, Butterworth, apresentada na Equacao 2
A
(s
ωc
)=
A0
1 +√2
ωcs+ s2
ω2c
. (2)
na qual A0 e o ganho que o filtro introduz no sistema, que neste caso, deseja-se que
seja unitario (maior ganho possıvel para um filtro passivo) e ωc e a frequencia de corte
do filtro, em radianos.
Igualando-se as Equacoes 1 e 2 termo a termo, obtem-se as equacoes
para calculo da indutancia e da capacitancia para obtencao do filtro desse amplifica-
dor. As Equacoes 3 e 4 sao as equacoes que determinam indutancia e capacitancia,
respectivamente:
L =
√2 ·R
2 · π · fc, (3)
C =1
4 · π2 · f 2c · L
. (4)
Os coeficientes utilizados para obtencao do gabarito de Butterworth sao
equivalentes a ter-se escolhido um fator de amortecimento de 0,7, o que garante uma
resposta mais proxima do comportamento assintotico de um filtro passa baixa de se-
gunda ordem, no qual nao haja elevacao de amplitude na frequencia de ressonancia
(fr) do filtro, determinada por
fr =1
2 · π ·√LC
. (5)
Tendo em vista que foi adotada a topologia de filtro balanceada para este
2.4 Topologia Escolhida 41
amplificador, a modelagem do filtro de uma saıda e valida, sendo necessario apenas
um ajuste. O valor da resistencia que representa a carga e dividio por dois e sao
projetados entao dois filtros de uma saıda iguais, que combinados originarao o filtro
balanceado (MOREY; VASUDEVAN; WOLOSCHIN, 2008).
Portanto, a nova equacao que determina o valor da indutancia e
L =
√2 ·R
4 · π · fc. (6)
Um fator importante que deve ser levado em conta na hora do dimensiona-
mento dos componentes e que quanto maior a frequencia de corte, mais ruıdo chega
a saıda do amplificador, aumentando a taxa de distorcao harmonica; quanto menor a
frequencia de corte, maior o indutor necessario para filtragem.
Como o filtro e conectado em serie com a carga, nota-se que a funcao de
transferencia do amplificador e dependente da carga. Isso faz com que o amplificador
tenha menor controle sobre o alto-falante, principalmente em altas frequencias (KULKA,
2007).
2.4.2 CHAVES SEMICONDUTORAS
Nos circuitos conversores e inversores estaticos, os interruptores sao dis-
positivos semicondutores de estado solido como IGBTs, MOSFETs ou BJTBipolar
Junction Transistors (Transistor Bipolar de Juncao). Cada interruptor possui um diodo
intrınseco em conexao anti-paralela, cujo objetivo e proporcionar o fluxo bidirecional
da corrente de carga (MIRANDA, 2012).
Na hora da escolha das chaves a serem utilizadas, deve-se levar em conta
caracterısticas tais como tensao mınima de bloqueio, resistencia serie de conducao,
corrente maxima para comutacao e tempos de comutacao para a frequencia preten-
dida (CEREZO, 2009). E necessario observar tambem as perdas associadas aos com-
ponentes, sejam elas perdas de conducao ou perdas de comutacao (ou chaveamento).
Para potencias de saıda elevadas, as perdas de conducao predominam, enquanto as
perdas de comutacao sao as maiores responsaveis pela reducao de eficiencia em bai-
xas potencias de trabalho. Portanto, a escolha do componente interruptor deve levar
em consideracao que as perdas por conducao e por chaveamento sao inversamente
proporcionais, necessitando uma profunda analise de qual e menos prejudicial ao am-
plificador (GAALAAS, 2006).
O BJT opera como um interruptor que e controlado por corrente, a qual
2.4 Topologia Escolhida 42
deve ser injetada incessantemente na base do transistor todo o tempo em que ele
estiver conduzindo. Essa corrente pode apresentar valores elevados, dependendo do
modelo do dispositivo, o que passa a ser um problema no quesito rendimento devido
as grandes perdas causadas. Tambem torna-se mais complexo o circuito de aciona-
mento, visto que necessita fornecer nıveis maiores de corrente e tambem os drenar,
para que o transistor BJT entre no modo de corte de forma rapida (BARKHORDARIAN,
2011).
Ja o transistor de efeito de campo (MOSFET), funciona como uma chave
que e controlada por tensao. Portanto, o driver deve fornecer tensao ao terminal gate
do MOSFET, com referencia ao terminal source. Tambem deve ser capaz de fornecer
e retirar a corrente necessaria para carregar e descarregar a capacitancia de gate
do MOSFET, para que ele entre em modo de conducao e em modo de corte. Sua
velocidade de comutacao e muito superior por nao haver recombinacao de portadores
minoritarios, como e o caso do BJT (SCHWAAB, 2012).
Sendo o MOSFET um dispositivo que pode ser controlado por tensao, ca-
paz de chavear em frequencias elevadas, alem de ter uma alta impedancia de entrada
e exigir um circuito de acionamento mais simples comparado aos BJTs, escolhe-se
ele para implementacao da ponte conversora do amplificador.
2.4.2.1 PARAMETROS E PERDAS DE MOSFETS
A escolha correta dos MOSFETs de potencia relaciona-se diretamente com
o desempenho do amplificador em varios aspectos, tais como sua eficiencia, EMI
(Interferencia Eletromagnetica) e THD. Dessa forma, deve-se escolher os MOSFETs
de modo que haja coerencia com as especificacoes tecnicas do amplificador do qual
eles serao parte. Leva-se em conta a potencia de saıda, a topologia empregada, alem
da impedancia da carga e do ındice de modulacao (CEREZO, 2009).
Ha um grupo de parametros eletricos do MOSFET que devem ser analisa-
dos de acordo com o objetivo do amplificador projetado.
• BVDSS (Tensao de Avalanche entre Dreno e Fonte): que e a tensao maxima que
pode ser aplicada entre o dreno e a fonte, sem que o dispositivo entre em ruptura
por avalanche (BARKHORDARIAN, 2011).
• RDS(on) (Resistencia Estatica entre Dreno e Fonte): e a resistencia de conducao
que situa-se entre o dreno e a fonte do MOSFET e se relaciona com BVDSS
atraves da Equacao 7 (PIRES, 2010)
2.4 Topologia Escolhida 43
RDS(on) = k ·BVDSS, (7)
onde k e uma constante relacionada ao modelo do dispositivo (MOHAN; UNDE-
LAND; ROBBINS, 2002).
Percebe-se a necessidade de escolher um MOSFET com BVDSS moderado, para
reduzir as perdas de conducao, as quais sao representadas pela Equacao 8
Pcond = I2Def ·RDS(on) (8)
onde IDef e o valor eficaz da corrente que circula pelo MOSFET.
• Qg (Carga da Porta): e a carga necessaria para carregar a capacitancia interna
do MOSFET e habilitar sua conducao. Este parametro relaciona-se com a ve-
locidade de comutacao do dispositivo, pois quanto menor seu valor, maior a ve-
locidade de comutacao. Isso implica em menos corrente e, consequentemente,
menor perda na porta do MOSFET, expressa pela Equacao 9 como
Pgate = Qg · VGS · fsw (9)
onde VGS e a tensao aplicada entre a porta e a fonte e fsw e a frequencia de
comutacao.
• Qrr (Carga de Recuperacao Reversa da Base do Diodo): e a carga acumulada
no diodo intrınseco do MOSFET durante a polarizacao direta, sendo necessaria
sua descarga para o MOSFET entrar em modo de corte. Interfere na geracao de
EMI, pois sua descarga acrescenta pulsos de corrente a saıda (CEREZO, 2009).
As perdas de comutacao sao compostas pelas perdas na porta na transicao
de estados, em que ha corrente e tensao no MOSFET por um curto perıodo de tempo
e perdas de carga e descarga das capacitancias. Sao representadas pela Equacao
10
Pcom = (Coss · E2 + 0, 5 · IDef · E · (tf + tr)) · fsw (10)
onde:
Coss: capacitancia interna entre dreno e fonte
2.4 Topologia Escolhida 44
E: tensao de barramento
IDef : corrente que circula pelo MOSFET
tf : tempo de descida da corrente
tr: tempo de subida da corrente
fsw: frequencia de chaveamento
Portanto, as perdas totais em cada MOSFET de saıda podem ser represen-
tadas como
Ptotal = Pcond + Pgate + Pcom (11)
Conclui-se entao que deve ser escolhido um MOSFET que tenha BVDSS
maior que o valor maximo de tensao que sera aplicado a seus terminais, mas nao
muito elevado para nao resultar em maiores perdas de conducao devido a sua
relacao com RDS(on). Qg nao deve ser grande para ter-se uma elevada frequencia
de comutacao, assim como Qrr deve ser pequena para reduzir EMI (CEREZO, 2009).
2.4.3 CIRCUITO DE ACIONAMENTO
O circuito de acionamento das chaves, conhecido como circuito driver, e
uma etapa crucial para o bom funcionamento de um amplificador chaveado. Depen-
dendo da tecnologia de chaveamento adotada, o circuito driver pode apresentar di-
ferentes configuracoes. Como exemplo, para uso de chaves como MOSFET ou In-
sulated Gate Bipolar Transistor [IGBT], deve prover energia suficiente para carregar
ou descarregar as capacitancias de entrada dos interruptores, para que eles operem
na regiao de corte ou de saturacao. Com um driver corretamente dimensionado e
possıvel representar o estado das chaves pelos nıveis logicos aplicados as entradas
(MIRANDA, 2012).
Nos amplificadores classe D, os sinais PWM provenientes do modulador
sao baseados em sinais de nıvel logico, ou seja, possuem baixa tensao e pratica-
mente nenhuma capacidade de fornecimento de corrente. O circuito driver deve ser
capaz de amplificar esses sinais para nıveis de tensao compatıveis com os das cha-
ves, alem de ter a capacidade de fornecer corrente necessaria para ativar as chaves
dentro do tempo maximo pretendido. Tambem deve drenar a energia devolvida pelo
capacitor da chave no momento em que ela vai abrir, sem comprometer a integridade
dos componentes (BASCOPe et al., 2013).
2.4 Topologia Escolhida 45
Quanto maior a frequencia de comutacao das chaves, mais robusto o cir-
cuito de acionamento deve ser, devido ao fato de que necessitara fornecer e drenar
maior corrente em um tempo menor. Na hora da escolha do componente que realizara
essa funcao, e importante ter em mente essas condicoes, alem dos parametros das
chaves que deverao ser acionadas. Isso e importante para obter-se um par driver +
chave compatıvel (PIRES, 2010).
Uma dificuldade encontrada no chaveamento de interruptores tanto na to-
pologia meia ponte quanto na ponte completa e o fato de a tensao do gate da chave
superior do braco estar refereciada a um ponto de tensao flutuante em relacao ao ter-
minal negativo do barramento, como apresenta Pires (2010). O sucesso no disparo
dessas chaves exige o uso de fontes isoladas. No entanto, no mercado sao facilmente
encontrados circuitos integrados que realizam o comando do gate do transistor supe-
rior, adequando a referencia dele ao valor encontrado no meio do braco sem o uso de
fontes isoladas. Isso e realizado atraves de um circuito chamado de charge pump ou
de um capacitor de bootstrap (MIRANDA, 2012).
Na Figura 15 e apresentado o esquema do circuito de bootstrap, constituıdo
pelo capacitor Cboot e pelo diodo Dboot.
Driver
Driver
Vcc
Cboot
Dboot
Vgate
PWM_1
PWM_2
S1
S2
Figura 15: Circuito de Bootstrap para um braco da ponte.Fonte: Adaptado de (SCHWAAB, 2012).
Quando a chave S2 esta conduzindo, o capacitor Cboot e carregado com a
tensao Vgate - VDboot. Apos a chave S2 cessar a conducao, o capacitor e quem fornece a
2.4 Topologia Escolhida 46
tensao de referencia para a chave S1 receber a tensao de disparo em um nıvel correto.
Para garantir que os esforcos de corrente realizados pelo driver durante
chaveamentos em frequencias elevadas nao cause ruıdos e interferencias da saıda
da etapa de modulacao, circuitos optoacopladores podem ser inseridos entre eles.
Desta forma, os efeitos indesejados dos ruıdos e interferencias sao restringidos e o
circuito de acionamento e isolado do circuito de potencia.
2.4.4 OPTOACOPLADOR
Isolacao eletrica e geralmente um requerimento de normas de seguranca e
condicoes de operacao quando a tensao da chave flutua em relacao a referencia ou
mesmo quando deseja-se separar os circuitos de controle e comando do circuito de
potencia (BOURGEOIS, 1999).
O optoacoplador e um componente eletronico largamente utilizado para
aplicacoes onde deseja-se isolacao total de sinal entre a entrada e a saıda. Em di-
versas aplicacoes, tem-se a necessidade de usar um optoacoplador para separar as
referencias do circuito, quando elas nao sao comuns (CANoNICO; TREVISO, 2010).
Os optoacopladores sao geralmente constituıdos por um LED (Light
Emitting Diode - Diodo Emissor de Luz) na entrada, associado a um fototransistor na
saıda, o qual somente conduz corrente quando o diodo esta emitindo luz. A Figura 16
mostra o esquematico simplificado de um optoacoplador em um circuito integrado.
1
2
3
4 5
6
7
8
Figura 16: Esquematico deum optoacoplador.Fonte: Adaptado de (BOUR-GEOIS, 1999).
Como o sinal e transmitido opticamente, garante-se que o lado que envia o
2.4 Topologia Escolhida 47
comando (modulador) fica totalmente imune aos esforcos de potencia que ocorrem na
outra referencia do circuito.
2.4.5 TEMPO MORTO
Quando utilizam-se dois interruptores formando um braco entre a tensao de
barramento e a referencia (ocorre tanto na topologia de meia ponte quanto na ponte
completa) e necessario que por nenhum instante os dois interruptores permanecam
conduzindo, pois uma serie de efeitos indesejaveis poderiam ser resultado disso.
Alem de possıveis perdas, ineficiencia e sobreaquecimentos para os casos onde esse
evento ocorreria por uma mınima fracao de segundo, a conducao simultanea de duas
chaves do mesmo braco causaria um curto-circuito franco na fonte de alimentacao.
Isso implicaria em danos tanto as chaves quanto a propria fonte, podendo se propagar
para o restante do circuito (XI, 2008).
Para evitar a conducao simultanea, a ideia basica e aplicar sinais de co-
mando complementares para acionamento das duas chaves de um mesmo braco. No
entanto, esta solucao nao e suficiente, visto que em condicoes reais a comutacao
de interruptores nao e instantanea. Para garantir que essa conducao indesejada nao
ocorra, insere-se um intervalo de tempo entre um sinal e seu complementar, denomi-
nado de tempo morto (do ingles, deadtime). Esse tecnica consiste basicamente em
manter os dois interruptores em nıvel baixo, enquanto a corrente residual ainda flui
por aquela chave que estava conduzindo. A insercao de tempo morto pode ser feita
independentemente da tecnica de modulacao empregada (MIRANDA, 2012).
O uso de tempo morto esta diretamente relacionado ao nıvel de ruıdo pre-
sente na saıda do conversor CC/CA. Quanto maior o tempo em que ambas as chaves
sao forcadas a permanecer desligadas, maior o erro de modulacao que surgira na
saıda e, portanto, maior o nıvel de distorcao.
Alguns circuitos drivers ja possuem o circuito de geracao de tempo morto
em um mesmo circuito integrado. Atraves de um pino que recebe pre-determinado
nıvel de tensao, ou uma capacitancia que e conectada ao CI (Circuito Integrado),
ele fornece um tempo morto pre-estabelecido entre a comutacao dos dois sinais de
acionamento. Quando usando dispositivos microcontrolados ou microprocessados
para realizacao da modulacao, a insercao do tempo morto tambem pode ser realizada
de maneira mais trivial, atraves de alguma funcao ja inserida ou mesmo atraves de
algoritmos simples. No caso de um circuito totalmente analogico e que utiliza um
2.4 Topologia Escolhida 48
driver que nao possui essa funcao acoplada, a insercao de tempo morto e mais
elaborada, requerendo o uso de circuitos eletronicos para tal fim.
S1
S2
Tempo Morto
Ton Toff
t
t
Período
Figura 17: Ilustracao do tempomorto.Fonte: Adaptado de (SCHWAAB,2012).
2.4.6 CIRCUITO DE AUXILIO A COMUTACAO
Equipamentos chaveados de potencia, como os amplificadores classe D,
utilizam semicondutores operando como chaves. Circuitos de auxılio a comutacao, os
Snubbers, sao circuitos utilizados junto aos semicondutores de potencia para melhorar
performance e proteger o dispositivo dos esforcos de grandes tensoes e correntes,
alem de reduzir as perdas por comutacao e interferencias eletromagneticas (HART,
2011).
O objetivo basico do Snubber e absorver a energia armazenada nas
reatancias parasitas do circuito. Ele fornece um caminho de baixa impedancia para
que essa energia, originada nos picos de chaveamento, seja drenada. Sem esse
caminho, a corrente armazenada nas indutancias acha um caminho atraves das ca-
pacitancias parasitas causando sobretensao e oscilacao no PWM, o que aumenta o
THD de um amplificador chaveado (TI, 2015).
Snubbers podem amortecer oscilacoes, controlar derivadas de tensao e/ou
2.4 Topologia Escolhida 49
corrente e grampear tensoes, dependendo da configuracao (SEVERNS, 2008).
Segundo Todd (1993), existem varias classificacoes para os snubbers. Po-
dem ser:
• Passivos: formados apenas por resistores, capacitores, indutores e diodos.
• Ativos: possuem elementos ativos como transistores, entretanto, nao possuem
aplicacao muito vasta.
Tambem classificam-se em:
• Dissipativos: a energia retirada do circuito e dissipada em um resistor.
• Regenerativos: a energia (ou parte dela) e devolvida a entrada ou saıda do cir-
cuito.
Como a saıda do amplificador chaveia uma carga com caracterıstica
indutiva no modo Hard Switching (corrente e tensao diferentes de zero na hora do
chaveamento), o esforco sobre as chaves, principalmente de tensao, e enorme. Deste
modo, escolheu-se utilizar um snubber passivo e dissipativo, conhecido como RCD,
que tem por caracterıstica o grampeamento de tensao. Por ser usado em pararelo
com a chave, ele atua no momento de desligamento dela. A Figura 18 ilustra a
utilizacao do snubber RCD em uma ponte completa de MOSFETs.
Rsn
Rsn Rsn
Rsn
CsnCsn
Csn Csn
D
DD
DSnubber
S1
S2 S3
S4
Figura 18: Snubber em uma ponte completa.Fonte: Autoria propria
2.4 Topologia Escolhida 50
De acordo com Severns (2008), o resistor snubber Rsn e o capacitor snub-
ber Csn sao definidos respectivamente por:
Csn =IDef · (1−D)
4 · E · fsw, (12)
Rsn =D
5 · Csn · fsw. (13)
O diodo escolhido alem de suportar a corrente de pico e media necessarias,
e a tensao de bloqueio, deve ser de rapida recuperacao, pois operara na frequencia
de chaveamento do circuito.
2.4.7 MICROCONTROLADOR PICCOLO TMS320F28069
Na hora de decidir o metodo a ser utilizado na implementacao da
modulacao, varias opcoes sao viaveis, como ja abordado. Pode-se aplicar tanto
metodos analogicos quanto digitais. A principal vantagem que a implementacao da
modulacao feita de forma digital oferece e a flexibilidade de um software ser o res-
ponsavel pelo processo. Assim, caso outro metodo de modulacao mostre-se mais
apropriado e deseja-se testa-lo, apenas uma rapida reprogramacao do dispositivo e
necessaria para tal.
Dentre as possıveis formas disponıveis para implementacao digital, um mi-
crocontrolador apresenta-se bastante atrativo. Por ter um processador de medio de-
sempenho, associado a varios perifericos necessarios, ele sozinho ja garante o hard-
ware necessario para realizar o processo. E vantajoso utilizar apenas um componente
como ele, do que fazer a montagem de um sistema de hardware com processador,
memorias, fontes de clock, conversores A/D (Analogico/Digital) e assim por diante.
Entretanto, mesmo tendo-se reduzido a busca a um microcontrolador, uma
infinidade destes dispositivos estao disponıveis no mercado. Para filtrar o componente
mais efetivo, alguns criterios foram estabelecidos, como: clock com frequencia su-
ficiente para que o PWM resultante possua um mınimo de 150 kHz de frequencia;
conversor A/D com resolucao mınima de 10 bits; 4 canais de PWM independentes;
unidade de ponto flutuante para facilitar as operacoes matematicas dentro do soft-
ware; robustez para operacoes repetitivas e, finalmente, se nao disponıvel em apenas
um CI, que seja um kit experimental o menor possıvel.
Levando-se em consideracao as opcoes disponıveis na Universidade e de
2.4 Topologia Escolhida 51
facil aquisicao, optou-se pelo emprego do microcontrolador Piccolo, da famılia C2000,
modelo TMS320F28069, conforme o apresentado na Figura 19.
Figura 19: Microcontrolador Piccolo TMS320F28069.Fonte: Adaptado de (TI, 2011).
O microncontrolador escolhido atende todas as caracterısticas requeridas
de acordo com, seu fabricante, TI (2011), pois possui:
• 90 MHz de clock ;
• 2 circuitos de conversao A/D de 12 bits;
• 16 canais de PWM (acesso direto a 8 deles, neste modelo);
• Possui unidade de ponto flutuante;
• E projetado e desenvolvido para controle de motores (tarefas de alto desempe-
nho, repetitivas e intensivas);
• Seu kit de desenvolvimento (controlstick ) e bastante pequeno em comparacao
ao dos demais microcontroladores.
A principal vantagem agregada ao amplificador pelo uso de um modulo
reprogramavel como este microncontrolador, e a versatilidade. Sem alterar nada
do hardware, e possıvel, futuramente, adicionar uma serie de perifericos ao am-
plificador, como equalizadores, crossovers, processadores, dentre outros, atraves
de modificacoes no software dele. O amplificador acaba se tornando uma plata-
forma versatil, onde perifericos podem ser testados, alem de diferentes metodos de
modulacao e protecao do sistema.
2.4 Topologia Escolhida 52
2.4.8 AMPLIFICADOR DE INSTRUMENTACAO
O amplificador de instrumentacao e um dispositivo que amplifica a diferenca
existente entre seus dois terminais de entrada. A diferenca de um amplificador de
instrumentacao para um amplificador diferencial comum, e o fato de agregar dois
amplificadores nao-inversores no primeiro estagio, o que melhora muito suas carac-
terısticas, deixando-o com altıssima impedancia de entrada e baixa impedancia de
saıda, dentre outras (FLOYD, 2012).
O objetivo principal de um amplificador de instrumentacao e amplificar pe-
quenos sinais que possam estar flutuando em maiores tensoes de modo comum. Suas
principais caracterısticas, alem das ja citadas, sao a alta rejeicao de modo comum e o
baixo offset de saıda (PERTENCE JUNIOR, 2003).
O amplificador de instrumentacao mede os sinais diferencias entre o
positivo e o negativo da entrada e somente deixa essa diferenca passar. O resto
do sinal e rejeitado. Essa caracterıstica e bastante util para a entrada de sinal de
audio do amplificador classe D. O chaveamento da etapa de potencia do amplificador
gera interferencias eletromagneticas que causam ruıdos de modo comum no sinal de
audio, ate mesmo na entrada do amplificador. A Figura 20 ilustra o exemplo.
Figura 20: Ilustracao da operacao de um amplificador de instrumentacao.Fonte: Adaptado de (FLOYD, 2012).
De acordo com Pertence Junior (2003), o amplificador de instrumentacao e
constituıdo basicamente por 3 amplificadores operacionais e uma malha resistiva. En-
tretanto, para operar corretamente, os amplificadores operacionais devem ter suas
caracterısticas completamente fieis uns aos outros, alem de que a tolerancia dos
resistores utilizadas deva ser praticamente zero. Pela dificuldade de obter-se com-
ponentes com esse nıvel de fidelidade, geralmente e utilizado um amplificador de
instrumentacao em um unico circuito integrado. Ele pode possuir ganho unitario ou
ajustavel, geralmente regulado por um resistor externo (JUNG, 2006).
Um circuito basico de um amplificador de instrumentacao e apresentado
2.4 Topologia Escolhida 53
na Figura 21.
Figura 21: Circuito basico de um amplificador de instrumentacao.Fonte: Adaptado de (FLOYD, 2012).
Os amplificadores operacionais A1 e A2 sao configuracoes nao inversoras
que fornecem alta impedancia de entrada e ganho de tensao. O amplificador A3 e
usado como um amplificador diferencial de ganho unitario com resistores de alta pre-
cisao que possuem valores iguais (R3 = R4 = R5 = R6).
A funcao de transferencia deste circuito e dada por
Acl = 1 +
(2R
RG
)(14)
onde:
Acl: ganho de malha fechada;
R: resistores R1 e R2;
RG: resistor de ajuste do ganho.
2.4.9 FILTRO ANTI-ALIASING
Aliasing e um fenomeno que pode contaminar qualquer processo de con-
versao analogico para digital. Ele e a amostragem insuficiente para um dado sinal de
alta frequencia, possibilitando a criacao de um falso sinal de baixa frequencia (ZERKUS,
2001).
Sendo de baixa frequencia, geralmente e um sinal quase indistinguıvel de
2.4 Topologia Escolhida 54
um deslocamento por um nıvel CC. De acordo com o Teorema de Nyquist, a maior
frequencia que pode ser amostrada e no maximo metade da taxa de amostragem.
Porem, sinais analogicos possuem ruıdo com frequencias elevadas. Assim, toda
frequencia maior que metade da taxa de amostragem sofre aliasing e aparece como
erro na saıda. Segundo Calkins (1992), o ruıdo entao e sub-amostrado e a diferenca
entre o ruıdo e a frequencia de Nyquist aparece nos dados convertidos. A amplitude
do sinal falso e dependente da amplitude do ruıdo. Quanto mais proxima da taxa de
amostragem e a frequencia do ruıdo, mais baixa e a frequencia da componente do
aliasing no sinal amostrado (CHEN, 1989).
Ao contrario do que muitos pensam, nao e possıvel remover o efeito de
aliasing digitalmente, ou seja, atraves de softwares. Apos o sinal ter sido amostrado
e convertido para digital, ruıdo e dados sao mixados tornando-se impossıvel saber
qual e qual. A unica maneira de evitar esse fenomeno e fazendo o tratamento do sinal
analogico. Esse tratamento e, basicamente, a utilizacao de um filtro passa-baixas,
o qual ira remover as componentes com frequencia maior que as contidas no sinal
o qual deseja-se amostrar. Esse filtro e conhecido como Filtro Anti-Aliasing (STEER,
1992).
Antes de realizar a amostragem do audio na entrada de um amplificador
classe D, faz-se necessaria a insercao deste filtro para garantir que nao ocorram as
complicacoes acima mencionadas. Como um sinal de audio, em tese, possui a largura
de banda de 20 Hz a 20 kHz, a maior frequencia de interesse nesse sinal e de 20 kHz.
Portanto, e necessario ser usado um filtro que permita os sinais com frequencia abaixo
desse limite e atenue/corte as frequencias acima desse valor.
A frequencia de corte do filtro deve estar situada entre a maior frequencia
do audio (20 kHz) e a frequencia de amostragem (150 kHz). O filtro deve possuir
a maior ordem possıvel, para obter-se uma regiao de transicao curta, mas 8 polos
geralmente e o limite pratico para a maioria dos sistemas (ZERKUS, 2001).
A aproximacao utilizada, a ordem do filtro e os componentes utilizados
serao tratados na secao do projeto.
2.4.10 FONTE DE ALIMENTACAO
Uma das etapas do projeto e construcao de um amplificador de audio classe
D, que as vezes nao recebe a devida atencao, e a fonte de alimentacao. Embora sua
funcionalidade e praticamente de senso comum, ela possui uma papel importantıssmo
2.4 Topologia Escolhida 55
em um amplificador chaveado (CORDEL, 2011).
Ha tres principais maneiras de alimentar um amplificador de audio:
• Fonte linear nao-regulada
• Fonte linear regulada
• Fonte chaveada
Torna-se obvio que a primeira e mais simples opcao e a que possui melhor
relacao de custo, porem, pode-se ponderar que ela fornecera ripple e ruıdo o que
prejudicara a qualidade final do amplificador (SELF, 2002).
Discorrendo brevemente sobre cada uma, tem-se os seus pros e contras.
A fonte linear nao-regulada e barata, confiavel e simples, alem de nao sofrer inter-
ferencia dos chaveamentos de alta frequencia e ter a capacidade de fornecimento de
corrente durante os picos de potencia, caracterıstica fundamental para boa qualidade
de audio. Como desvantagens, essas fontes apresentam um ripple significativo na
saıda CC, alem de ser volumosa e pesada, principalmente pelo transformador. De
acordo com Self (2002), as fontes lineares reguladas conseguem eliminar o ripple da
saıda, sua mais importante vantagem. Porem o circuito torna-se mais complexo, a
eficiencia e reduzida, ela passa a nao ser tao confiavel, principalmente durante os pi-
cos de corrente, que o regulador pode nao conseguir suprir. Tambem torna-se mais
cara e maior. Por sua vez, as fontes chaveadas tem suas principais vantagens pelo
controle da tensao da saıda, seu tamanho e peso reduzidos e pelo seu altıssimo rendi-
mento. No entanto, possui um circuito muito mais complexo, o que acarreta em menor
confiabilidade. Bastante susceptıvel a ruıdos devido ao chaveamento e tambem a
interferencia de alta frequencia (ZHANG, 2013).
Se bem projetadas, qualquer topologia adotada da fonte pode fornecer uma
excelente performance para a saıda de audio do amplificador. Portanto, faz sentido
adotar a solucao mais simples, ou seja, a fonte linear nao-regulada. As fontes regula-
das vao exigir um trabalho maior tanto na busca por componentes compatıveis, como
no projeto e construcao. As fontes chaveadas de alto desempenho ja sao assunto pra-
ticamente pra especialistas, o que exigiria dedicacao redobrada. O principal desafio
para a fonte nao-regulada e manter o ripple pequeno e fora da saıda de audio, o que
pode ser resolvido facilmente seguindo uma boa metodologia de projeto (SELF, 2002).
2.4 Topologia Escolhida 56
2.4.11 CARGA (ALTO-FALANTE)
A carga utilizada em um amplificador de audio e um alto-falante. Alto-
falantes sao transdutores eletro-mecanicos que convertem energia eletrica, vinda da
saıda do amplificador, em energia mecanica que movimenta o cone do alto-falante,
gerando ondas sonoras. Sao entao transdutores eletro-acusticos. A principal carac-
terıstica eletrica dos alto-falantes e sua impedancia sendo uma funcao da frequencia
(SELF, 2002).
A impedancia da maioria dos alto-falantes geralmente e descrita, muito
simplificadamente, como sendo um valor de 16, 8 ou 4 Ω (PIRES, 2010). De fato,
um alto-falante tem impedancia complexa e pode armazenar enormes quantidades
de energia. Segundo Duncan (1996), pode-se simplificar o circuito equivalente do
alto-falante a um composto RCL, conforme apresentado na Figura 22.
Parte Elétrica
Parte Mecânica
Rdc Ls
Cr
Rr
Lr
ALTO-FALANTE_-ALTO-FALANTE_+
Figura 22: Circuito equivalente simplificado de um alto-falante.Fonte: Autoria propria.
Dintinguem-se duas partes: o equivalente da parte eletrica e o equivalente
da parte mecanica.
Na parte eletrica:
• Rdc a resistencia do fio que forma a bobina;
• Ls e a indutancia deste enrolamento da bobina.
Na parte mecanica:
• Cr representa o cone e sua massa;
• Lr representa os elementos da suspensao;
• Rr representa as perdas de suspensao.
2.4 Topologia Escolhida 57
A equacao que representa o equivalente deste circuito e dada por
Z(ω) = Rdc + jωLs +
(1
1Rr
+ j(ωCr − 1ωLr
)
). (15)
Enfatiza-se o fato de ser estudado apenas o modelo simplificado do
alto-falante, sem ser levada em consideracao a interacao dele com a caixa e com o
ambiente. Entretanto, por ser uma carga complexa, nota-se que a impedancia nominal
do alto-falante e variavel conforme a frequencia de operacao. Por isso e importante
conhecer a curva de resposta em frequencia do alto-falante para cada aplicacao. A
Figura 23 apresenta, como um exemplo, a curva de impedancia de um alto falante
para graves de 15 polegadas, com impedancia nominal de 8 Ω, em relacao a variacao
de frequencia. Evidenciam-se as variacoes de impedancia que o alto-falante sofre
desde 5,5 Ω quando a carga e totalmente resistiva em aproximadamente 450 Hz, ate
seu pico de ressonancia em 31 Hz, onde atinje a impedancia de 40 Ω.
Resistivo
Indutivo
Ressonância
Indutivo Capacitivo
Frequência [Hertz]
Figura 23: Curva de impedancia de um alto-falante.Fonte: Adaptado de (DUNCAN, 1996)
De acordo com a norma ABNT NBR IEC 60268-3, a qual remetem-se as
especificacoes de amplificadores de audio, as medicoes devem ser feitas com uma
carga puramente resistiva, de valor igual a impedancia nominal do alto-falante. Para
caracterizacao dos parametros do presente amplificador, uma carga resistiva de apro-
ximadamente 8 Ω devera ser utilizada.
58
3 PROJETO DO AMPLIFICADOR
O amplificador ponte completa, com filtro passivo balanceado e utilizando
modulacao digital atraves de um microcontrolador e apresentado no diagrama da
Figura 24.
L
C
Q1
Q2
L
+Vcc
Q3
Q4
Filtro
Micro
cont
rola
dor
Opto
Opto
Opto
Opto
1
2
3
4
IR21
10IR
2110Buffer
AntiAliasing
Instrumentação
Entradade Áudio
Figura 24: Diagrama da topologia escolhida.Fonte: Autoria Propria
Alguns parametros sao pre-definidos para o projeto do amplificador, para
que ao fim da implementacao do prototipo seja possıvel verificar se ele atendeu as
expectativas ou nao. Estes parametros sao apresentados na Tabela 1.
Tabela 1: Parametros para Projeto do Amplificador
Parametro Sımbolo Valor UnidadeTensao de Alimentacao VCA 127 VRMS
Potencia Nominal de Saıda POUT 50 WRMS
Rendimento Mınimo η 80 %Sensibilidade 1,55 VppIndice de Modulacao m 85 %Tensao do Barramento CC E 34 VFrequencia de Chaveamento fsw 150 kHzDistorcao Harmonica Total THD 10 %Impedancia da Carga Zo 8 Ω
Fonte: Autoria propria.
Alguns desses parametros como tensao de alimentacao, potencia de saıda
e impedancia da carga foram definidos na proposta de TCC. Rendimento, sensibili-
3.1 Projeto do Filtro de Saıda 59
dade e THD limitam valores que se atingidos ou melhorados, garantem a obtencao
de um bom amplificador. Indice de modulacao, frequencia de chaveamento e tensao
de barramento foram limitados de acordo com o hardware disponıvel e sugestoes da
literatura.
3.1 PROJETO DO FILTRO DE SAIDA
Como ja definido, o filtro de saıda do amplificador sera um filtro LC passa
baixa de segunda ordem, composto por dois indutores e um capacitor por se tratar de
um filtro balanceado. A frequencia de corte do filtro de saıda sera de 25 kHz para ser
capaz de atenuar em mais de 30 dB o ruıdo proveniente do chaveamento, que situa-
se a 150 kHz e garantir a passagem da banda de audio (20 Hz a 20 kHz). A carga a
ser utilizada e um resistor de 8 Ω. Desta forma, todas as variaveis necessarias para
solucionar a Equacao (6) sao conhecidas. Assim, o valor dos indutores e definido por
L =
√2 · R
4 · π · fc= 36, 01 µH. (16)
Com o valor de 36,01 uH para cada indutor do filtro e possıvel calcular o
valor dos capacitores atraves da resolucao da Equacao (4)
C =1
8 · π2 · fc2 · L= 563 nF. (17)
Tendo-se determinado o valor dos componentes do filtro, realiza-se uma
validacao deste filtro no software matematico MatLab R©. Para aproximar-se do circuito
real, serao utilizados na simulacao valores de componentes comerciais. Desta forma,
os indutores serao de 36 µH e o capacitor de 570 nF. Inserindo a funcao de trans-
ferencia do filtro e possıvel observar como ele se comporta no domınio da frequencia,
atraves da analise do Diagrama de Bode da Figura 25.
Nota-se que o filtro tem o comportamento esperado, pois sua frequencia
de corte (-3 dB) situa-se exatamente em 25 kHz no diagrama de magnitude. Tambem
nota-se a inversao de fase esperada de -90, aproximadamente. Ainda pela Figura
25 percebe-se que o filtro atenua 31,2 dB do sinal que situa-se em 150 kHz, que e a
frequencia de chaveamento. Transformando isso em uma relacao, atraves da Equacao
(18), e evidenciado que uma pequena parcela do ruıdo ainda passa pelo filtro.
Vruido,% = 10(−31,220 ) = 2, 75% (18)
3.2 Escolha das Chaves (MOSFETs) 60
Diagrama de Bode
Frequência (kHz)
−80
−60
−40
−20
0
20
Mag
nitu
de (
dB)
System: xFrequency (kHz): 25Magnitude (dB): −3
System: xFrequency (kHz): 150Magnitude (dB): −31.2
100
101
102
103
−180
−135
−90
−45
0
System: xFrequency (kHz): 25Phase (deg): −90.4
Fas
e (d
eg)
Figura 25: Resposta no domınio da frequencia do filtro desaıda projetado.Fonte: Autoria Propria
Aproximadamente 2,7% do ruıdo de chaveamento estara presente na saıda
do amplificador. Para corrigir esta caracterıstica, seria necessario aumentar a ordem
do filtro, aumentar a frequencia de chaveamento ou reduzir a frequencia de corte do
filtro. Como nenhuma das alternativas e viavel de ser realizada, aceita-se este nıvel de
ruıdo e espera-se uma analise futura na qual, com o sistema todo em funcionamento,
o ruıdo torne-se imperceptıvel.
Portanto, valida-se o modelo do filtro e os valores dos componentes para
ele projetados. Destaca-se, conforme objetivo do trabalho, que os indutores serao
projetados e implementados. Este projeto encontra-se nos apendices do trabalho. O
capacitor escolhido e de 570 nF, ceramico, com baixa resistencia intrınseca e tensao
nominal de 150 V, o que garante o bom funcionamento do componente e consequen-
temente, que o filtro funcione como projetado.
3.2 ESCOLHA DAS CHAVES (MOSFETS)
A primeira etapa da escolha das chaves, que e qual semicondutor deve ser
usado, ja foi previamente realizada, sendo definido que o MOSFET apresenta algumas
vantagens em relacao aos outros modelos para a aplicacao em um amplificador de
audio chaveado.
Ha uma infinidade de MOSFETs disponıveis no mercado, cada qual com
3.2 Escolha das Chaves (MOSFETs) 61
seus parametros especıficos que o qualificam para desempenhar melhor determinada
funcao. A partir disso foram selecionados 4 modelos de MOSFET de diferentes fabri-
cantes, com parametros compatıveis com os buscados: facil aquisicao, baixo custo,
alta robustez e o mesmo encapsulamento (TO-220). Estes modelos de MOSFET sao
apresentados na Tabela 2 junto com os valores maximos dos principais parametros de
interesse.
Tabela 2: Perdas dos modelos de MOSFETs
IRFZ46N IRF540 IRF640 IRF740VDS [V] 55 100 200 400ID [A] 53 28 18 10
RDS(on) [mΩ] 16,5 77 180 550Qg [nC] 72 72 70 43Qrr [nC] 312 2800 7100 3200Coss [pF] 407 560 430 220tr [ns] 76 44 51 10tf [ns] 57 43 36 10
Fonte: Autoria propria.
Apenas analisando a Tabela 2 ja e possıvel identificar favoritos. Quanto
menor a resistencia de conducao RDS(on), mais propenso o MOSFET estara a ter
menores perdas. Como a tensao de barramento e E = 34 V e a corrente RMS da
carga e IDef = 2,5 A, nota-se que todos suportam esses nıveis de tensao e corrente.
Porem, o MOSFET IRFZ46N suporta apenas 55 V de tensao entre dreno e fonte.
Como em comutacoes de alta frequencia ocorrem picos de tensao no bloqueio da
chave, e provavel que o dispositivo nao suporte essa tensao, mesmo com o emprego
de circuitos de auxılio a comutacao. Assim, ele nao sera mais considerado como uma
opcao.
Apos analise dos parametros apresentados e calculo das perdas que cada
modelo de MOSFET propicia, de acordo com as Equacoes 8, 9, 10 e 11, apresenta-se
a Tabela 3 com os valores em W das perdas de cada um, considerando uma tensao
de chaveamento VGS = 12 V, corrente de carga e tensao de barramento nominais.
O MOSFET IRF540, da International Rectifier, apresenta as menores per-
das de conducao, devido sua baixa resistencia de conducao. Tem maiores perdas na
porta por necessitar de uma carga maior para comecar a conduzir. Ainda, possui mai-
ores perdas de comutacao, devido a sua alta capacitancia de saıda e grandes tempos
3.3 Projeto do Circuito de Acionamento das Chaves 62
Tabela 3: Perdas dos modelos de MOSFETs
IRF540 IRF640 IRF740Pcond [W] 0,4813 1,1250 3,4375Pgate [W] 0,1296 0,1260 0,0774Pcom [W] 0,6517 0,6292 0,1656Ptotal [W] 1,2626 1,8802 3,6805
Fonte: Autoria propria.
de subida e descida. Mesmo assim, possui as menores perdas totais dos 3 MOSFETs,
totalizando 1,2626 W. A carga de corpo do diodo Qrr e a menor dentre todas, o que
o caracteriza como menos susceptıvel a EMI e, portanto, a melhor escolha dentre os
modelos avaliados.
Como duas chaves sempre conduzem simultaneamente, a perda total nas
chaves e 2 vezes o valor encontrado. Assim, a perda total e de 2,5252 W, ou seja,
5,05% da potencia nominal do amplificador.
A simulacao para validar a escolha das chaves sera realizada junto a
simulacao completa do circuito, pois nao ha proposito em faze-la separadamente.
3.3 PROJETO DO CIRCUITO DE ACIONAMENTO DAS CHAVES
Tendo-se escolhido o MOSFET IRF540, fabricado pela Vishay, para ser a
chave utilizada para formar a ponte completa do amplificador, deve-se agora projetar
um circuito de acionamento que seja compatıvel com os parametros dessas chaves e
eficiente no acionamento delas.
Como a frequencia de chaveamento e de 150 kHz, precisa-se de um driver
capaz de suprir e drenar a corrente de acionamento do MOSFET em tempos na es-
cala de microssegundos. Isso ja limita bastante as opcoes de circuitos integrados dis-
ponıveis para o projeto. Como nao foi encontrado algum driver com as quatro saıdas
necessarias para acionar a ponte, e ja que com uma unica saıda o circuito acabaria
ficando maior, limita-se a busca para CIs com duas saıdas.
Deste modo, escolhe-se o driver IR2110, da International Rectifier. Este CI
possui duas saıdas independentes, para comandar um braco, como requerido. Por
consequencia, serao utilizados dois CIs para acionar a ponte completa. A saıda para
a chave superior utiliza o artifıcio do circuito de bootstrap para enviar o pulso de co-
mando, ja que o terminal source da chave encontra-se em outra referencia que nao
a do driver. Como nao possui o recurso de tempo morto integrado, faz-se necessario
a implementacao dele no estagio anterior, ou seja, ainda na modulacao. Pode for-
3.3 Projeto do Circuito de Acionamento das Chaves 63
necer ate 2 A de corrente em cada saıda, alem de suportar ate 500 V de tensao de
barramento, o que garante que ele atenda os requisitos do sistema e das chaves.
Assim, a Figura 26 apresenta o circuito montado para um dos drivers, que
consiste de capacitores de desacoplamento, circuito de bootstrap e de resistores para
limitar a corrente fornecida.
1
2
3
4
5
6
7 8
9
10
11
12
13
14
IR2110
Vcc
Cboot Dboot
D1
D2
R1
C2
R2
C1
R3
R4
+12V
PWM_2
PWM_1
Figura 26: Circuito completo para um dos drivers.Fonte: Autoria propria.
Os capacitores de desacoplamento sao conectados em paralelo com a re-
ferencia e o pino de alimentacao do CI de modo a neutralizar/diminuir as indutancias
parasitas das trilhas, que impedem que o CI receba corrente suficiente nos picos de
demanda, devido, justamente, a essa caracterıstica indutiva. Com os capacitores aco-
plados o mais proximo possıvel aos pinos, eles podem fornecer essa corrente quando
solicitada. Sao utilizados um capacitor eletrolıtico de 22 µF para as frequencias mais
baixas, juntamente com um capacitor ceramico de 100 nF para as altas frequencias,
conforme indicado no datasheet fornecido pelo fabricante.
O circuito de bootstrap e composto por um diodo e dois capacitores, con-
forme a Figura 26. O diodo deve ser de rapida recuperacao, pois ira conduzir e blo-
quear na mesma frequencia do chaveamento. Entao, escolhe-se o diodo BYT600,
fabricado pela ST Microelectronics. Tem limite de corrente media de 3 A, corrente de
pico repetitiva de 50 A e tensao de bloqueio de 600 V, alem de tempo de recuperacao
de 150 ns, o que supre os requisitos da tarefa. O valor da capacitancia de boots-
trap e definido em equacoes empıricas variadas, que utilizam parametros do capa-
citor e das chaves que, por vezes, precisam ser estimados. Desta forma, seguindo
recomendacoes do fabricante do IR2110 e atraves de testes de bancada, definiu-se a
utilizacao de um capacitor ceramico de 100 nF e de um capacitor eletrolıtico de 1 µF,
3.3 Projeto do Circuito de Acionamento das Chaves 64
conectados em paralelo.
Por fim, definem-se os resistores conectados entre a saıda do driver
e a chave. A malha DR (diodo-resistor) e inserida para que quando o sinal de
saıda seja alto e a corrente esteja carregando a capacitancia da porta do MOSFET,
o diodo polarize-se reversamente e bloqueie. Assim, o sinal percorre o resistor,
que limitara o valor da corrente maxima fornecida pela saıda do CI. Sabe-se que
quanto maior o valor da corrente, maior pode ser a frequencia de chaveamento.
Como o valor da capacitancia de porta e baixo nesta chave e o driver trabalha bem
abaixo do seu limite maximo de frequencia, escolhe-se o valor de 47 Ω para o resis-
tor, levando-se em conta o grafico fornecido pelo fabricante, apresentado na Figura 27.
Amplitude do pico de tensão
negativa
Resistência Série de Porta
Figura 27: Pico de tensao negativa em funcao do re-sistor serie.Fonte: Adaptado de (HV. . . , 2007).
Intuitivamente, sabe-se que tensoes negativas no meio do braco nao cau-
sam bons resultados, pois estao levando a carga a esforcos maiores que os preten-
didos, alem de aplicarem uma tensao negativa sobre a chave inferior. Desta forma,
escolheu-se este valor para o resistor, onde a corrente mantenha-se suficientemente
grande para acionar a chave sem dificuldades, e a tensao negativa no pino VB seja
a menor possıvel. O resistor de 1 kΩ conectado entre a porta e a fonte do MOS-
FET serve para garantir que quando ligados, todos os MOSFETs iniciem em modo de
corte, ate receberem sinais de comando. Isto visa evitar curto-circuitos em potencial
devido a cargas residuais na capacitancia das chaves. Tambem auxilia na hora de
descarregar a capacitancia, oferecendo um caminho alternativo a corrente.
3.4 Escolha dos Optoacopladores 65
A simulacao que exibe o funcionamento dos drivers nas condicoes de tra-
balho projetadas e apresentada na Secao 4.1.2.
3.4 ESCOLHA DOS OPTOACOPLADORES
Como no circuito proposto pelo projeto a modulacao e realizada por um
microcontrolador e estes elementos sao bastante sensıveis, alem de terem um custo
maior que a maioria dos outros componentes, alguma protecao faz-se necessaria. A
isolacao optica e uma boa medida para proteger o dispositivo, separando os sinais e
a referencia do microcontrolador do restante do circuito de potencia.
A escolha dos optoacopladores baseia-se em alguns pre-requisitos: deve
drenar baixo nıvel de corrente na entrada e ter um threshold menor que 3,3 V (assim,
pode ser acionado diretamente pela saıda do microcontrolador). Deve aceitar uma
alimentacao de 5 V ou mais para acionar o driver com sua saıda e, principalmente,
deve funcionar na frequencia de 150 kHz.
Dadas essas caracterısticas, a popular linha de CIs optoacopladores
6N13x, da Vishay, e escolhida, dentre eles o modelo 6N137, o qual atende todos
os requisitos. Drena apenas 5 mA de corrente para seu acionamento, fornecendo
ate 7 V de tensao na saıda e corrente de 50 mA. Tem somente um canal, o que
torna necessario o uso de 4 CIs. Utiliza externamente um resistor de 470 Ω para li-
mitar a corrente de entrada em um valor menor que 10 mA; um resistor de 1 kΩ que
limita a corrente de saıda e funciona como pull-up, pois o opto tem saıda em cole-
tor aberto. Tambem foram adicionados capacitores de desacoplamento em cada CI,
tendo a mesma funcao e valores que aqueles utilizados e explicados no circuito de
acionamento.
Tem como caracterıstica a inversao de sinal; deste modo, e necessario
conectar o pino de 3,3 V do microcontrolador no resistor de entrada e o pino do PWM
no pino 3, conforme a Figura 28 apresenta. Assim, o sinal na saıda do opto sera igual
ao gerado na modulacao.
3.5 Projeto do Circuito de Auxılio a Comutacao 66
+5V
1
2
3
4 5
6
7
8
6N137
PWM SaídaC1 C2
R1 R23,3 V
Figura 28: Circuito utilizado para um optoacoplador.Fonte: Autoria propria.
3.5 PROJETO DO CIRCUITO DE AUXILIO A COMUTACAO
Como sera usado um snubber RCD grampeador de tensao, define-se os
valores do capacitor, do resistor e escolhe-se o diodo.
O diodo escolhido e o mesmo dos utilizados junto ao circuito driver, BYT-
600, para manter a uniformidade dos componentes, visto que ele atende todos os
requisitos de corrente e frequencia requeridos para o snubber.
O capacitor do snubber Csn e escolhido de acordo com a Equacao 12 e
pelos parametros do circuito
Csn =IDef · (1−D)
4 · E · fsw= 18, 4 nF. (19)
O resistor do snubber Rsn e escolhido de acordo com a Equacao 13
Rsn =D
5 · Csn · fsw= 61, 59 Ω. (20)
Utilizam-se componentes com valores comerciais mais proximos aos defi-
nidos, sendo o capacitor de 18 nF e 2 resistores de 33 Ω em serie.
3.6 PROJETO DO CONDICIONAMENTO DE SINAIS
A etapa de condicionamento de sinais e de vital importancia para qualquer
circuito que utiliza sinais analogicos. Ela filtra, ajusta e adequa os sinais para serem
usados na proxima etapa do circuito. Alem do mais, condicionamento de sinais e im-
prenscindıvel para sistemas que utilizam conversao de sinais analogicos em digitais,
atraves de amostragem. Qualquer ruıdo, aliasing ou outra forma de interferencia pre-
3.6 Projeto do Condicionamento de Sinais 67
sente no sinal analogico deve ser removida antes da conversao; do contrario, sera
quantizada junto com o sinal, tornando-se impossıvel distinguir um do outro.
Com este objetivo, projetou-se um circuito de condicionamento formado por
um amplificador de instrumentacao, um filtro anti-aliasing e um buffer, os quais tratam
o sinal de audio vindo da fonte sonora e o tornam apto a ser utilizado pelo conversor
A/D do microncontrolador.
3.6.1 AMPLIFICADOR DE INSTRUMENTACAO
Como abordado anteriormente, para se fazer um amplificador de
instrumentacao efetivo, os componentes utilizados (amplificadores operacionais e re-
sistores) devem ser identicos. Do contrario, o circuito nao realiza a tarefa para a qual
foi projetado. Como e difıcil de encontrar componentes com esse nıvel de precisao,
optou-se pela utilizacao de um amplificador de instrumentacao encapsulado.
Buscou-se um CI que pudesse ser alimentado simetricamente (isto e im-
portante devido ao fato de o audio excursionar em torno do zero, possuindo valores
de tensao negativas); com largura de banda suficiente para todas as frequencias do
audio, mantendo o ganho constante e boa linearidade; ajuste de ganho e alta rejeicao
de ruıdos de modo comum.
O amplificador de instrumentacao AD623, da Analog Devices atende os
requisitos e ainda oferece um recurso util para este projeto: possui regulagem de
offset atraves da tensao colocada em um pino do CI. Isto permite elevar o sinal ate
que fique todo positivo, permitindo que o conversor A/D do microncontrolador faca a
conversao e nao sofra danos.
Utiliza-se capacitores de desacoplamento na alimentacao como os utiliza-
dos nos CIs anteriores. Para controle do ganho, utiliza-se um resistor externo entre os
pinos 1 e 8, como mostra o circuito montado com o CI na Figura 29.
O valor do resistor, em funcao do valor do ganho desejado e obtido pela
Equacao 21
RG =100 kΩ
(G− 1). (21)
3.6 Projeto do Condicionamento de Sinais 68
-5V
+5V
1
2
3
4 5
6
7
8
AD623
R1 R2
R3
C1 C2
C3 C4
Saída
Entrada_+
Entrada_-
Figura 29: Circuito utilizado para o amplificadorde instrumentacao.Fonte: Autoria propria.
A funcao de ganho so sera utilizada caso a fonte de audio possua tensao de
saıda menor do que a sensibilidade do amplificador, o que causaria perda de resolucao
na conversao A/D e aumento na distorcao de saıda. Desta forma opta-se por um
ganho mınimo de 1 e maximo de 2.
Para isso, conectou-se entre os pinos 1 e 8 um resistor de 100 kΩ e um
potenciometro de 5 MΩ em serie. Desta forma, quando o potenciometro estiver em seu
valor maximo de resistencia (5 MΩ), o ganho sera aproximadamente 1. Quando ele
estiver com o valor mınimo de resistencia (0 Ω), o ganho sera 2, conforme o rearranjo
da Equacao 21 e mostrado na Equacao 22.
G = 1 +
(100 kΩ
RG
). (22)
Para controle de offset, conectou-se um trimpot de 100 kΩ no pino 5, con-
forme a Figura 29. Dessa forma obtem-se um deslocamento tanto positivo como ne-
gativo, dependendo da condicao de utilizacao.
3.6.2 FILTRO ANTI-ALIASING
Para projetar um filtro efetivo, mas nao exageradamente grande,
determinou-se a utilizacao de um filtro de 4a ordem, ativo. Como deseja-se preservar
a linearidade na faixa de frequencia do audio, a topologia Butterworth e novamente a
mais propıcia, semelhante ao filtro de saıda. Conforme o projeto do filtro de saıda nos
3.6 Projeto do Condicionamento de Sinais 69
capıtulos anteriores, utiliza-se a metodologia de Kugelstadt (2008) para filtros passa
baixa.
A frequencia de corte sera fc = 25 kHz para dar margem suficiente para toda
a faixa de audio (20 Hz a 20 kHz) passar sem atenuacoes significantes, enquanto todo
sinal acima dessa frequencia sera atenuado/cortado.
Para obter-se um filtro de 4a ordem, dois filtros de 2a ordem sao utilizados
em cascata. A topologia destes filtros de 2a ordem e a Sallen-Key, que e de um filtro
ativo que utiliza apenas resistores e capacitores, juntamente com um amplificador
operacional, conforme mostra a Figura 30. O amplificador operacional que sera
utilizado e o LM358, da Texas Instruments, por ser um amp op com ampla largura de
banda, e, principalmente, por possuir uma altıssima linearidade para ganho unitario.
O mesmo CI tem dois amplificadores, o que permite que o filtro seja implementado
com um unico componente ativo.
Vin
Vout
R1 R2
C1
C2
Figura 30: Topologia Sallen-Key de um filtro ativo de 2a ordem.Fonte: Adaptado de Kugelstadt (2008)
A funcao de transferencia desta topologia e dada pela Equacao 23
Vo(s)
Vin(s)=
Ao
1 + ωc·[C1·(R1 +R2) + (1− Ao)·R1·C2]·s+ ωc2·R1·R2·C1·C2·s2
, (23)
onde Ao e o ganho que o filtro introduz no sistema, que neste caso, deseja-se que seja
unitario.
Existem coeficientes que sao inseridos na funcao de transferencia do filtro
para determinar qual a aproximacao que o filtro seguira. Para simplificar, a Equacao
24 traz a forma geral de um filtro de segunda ordem para qualquer aproximacao, com
os coeficientes a e b, os quais determinam a aproximacao
3.6 Projeto do Condicionamento de Sinais 70
A
(s
ωc
)=
Ao
1 +a1ωc
s+b1ωc
2s2. (24)
Os coeficientes a serem utilizados sao para dois blocos de 2a ordem, que
juntos formam um filtro de 4a ordem, Butterworth. Para o 1o bloco (filtro passa baixa
Sallen-Key de 2a ordem), os coeficientes sao a1 = 1,8478 e b1 = 1. Para o 2o bloco, os
coeficientes sao a2 = 0,7654 e b2 = 1.
Assim, igualando as equacoes e seus respectivos coeficientes com a
funcao de transferencia da topologia Sallen-Key apresentada na Equacao 23, obtem-
se as seguintes equacoes:
a1 = ωc·C1·(R1 +R2) (25)
b1 = ωc2·R1·R2·C1·C2 (26)
a2 = ωc·C3·(R3 +R4) (27)
b2 = ωc2·R3·R4·C3·C4. (28)
Como ha menos valores de capacitores disponıveis no mercado, especifica-
se os valores dos capacitores para em seguida calcular os resistores, rearranjando as
variaveis das equacoes. A Equacao 29 deve ser seguida, para que todos os compo-
nentes possuam valores reais
C2,4 ≥ C1,3·4·b1,2a1,22
. (29)
Assim, atribui-se os valores dos capacitores como sendo C1,3 = 1 nF e C2,4
= 47 nF. Os resistores podem ser definidos pelas Equacoes 30 e 31,
R1,2 =a1·C2 ±
√a12·C2
2 − 4·b1·C1·C2
4·π·fc·C1·C2
(30)
R3,4 =a2·C4 ±
√a22·C4
2 − 4·b2·C3·C4
4·π·fc·C3·C4
, (31)
3.6 Projeto do Condicionamento de Sinais 71
resultando em R1 = 75 Ω, R2 = 12 kΩ, R3 = 180 Ω e R4 = 4, 7 kΩ.
O circuito final do filtro:
Vin
Vout
R1 R2
C1
C2
R3 R4
C3
C4
Figura 31: Filtro Anti-Aliasing completo.Fonte: Autoria propria
Busca-se a validacao deste filtro atraves de simulacao computacional.
Desta vez, por se tratar de um circuito eletronico com alto nıvel de precisao, a
simulacao sera realizada em ambiente Spice, no software LTspice R©.
Implementa-se o circuito representado na Figura 31 e utiliza-se o Diagrama
de Bode para analisar a resposta em frequencia do filtro e verificar sua frequencia de
corte. A Figura 32 apresenta o resultado dessa simulacao.
10Hz 100Hz 1KHz 10KHz 100KHz-50dB
-45dB
-40dB
-35dB
-30dB
-25dB
-20dB
-15dB
-10dB
-5dB
0dB
5dB
-440°
-400°
-360°
-320°
-280°
-240°
-200°
-160°
-120°
-80°
-40°
0° V(n004)
Magnitude
Fase
Figura 32: Simulacao do filtro anti-aliasing de 4a ordem.Fonte: Autoria propria
Nota-se que o ponto de -3 dB fica, de fato, na frequencia de 25 kHz,
frequencia de corte projetada. Devido a nao ter uma ordem muito elevada, o filtro
3.7 Projeto da Fonte de Alimentacao 72
comeca a atenuar a magnitude do sinal logo apos 19 kHz. Isso faz com que o agudo
mais alto sofra uma pequena atenuacao, o que pode resultar em um desvio na res-
posta de frequencia do amplificador, nessa regiao.
A resposta de fase mostra um desvio de 180o na regiao da frequencia de
corte, como esperado. Pode-se dizer entao que o filtro Anti-Aliasing esta validado
como foi projetado.
3.6.3 BUFFER
Apos o sinal ter o ruıdo de modo comum removido no amplificador de
instrumentacao, onde um offset tambem foi inserido, e ter sido filtrado quanto a ruıdo
de alta frequencia e aliasing no filtro passa-baixa, um buffer e implementado. A funcao
do buffer nesta etapa e desacoplar a impedancia de saıda do filtro anti-aliasing, da en-
trada do conversor A/D, alem de proteger o conversor.
Como o conversor A/D do microcontrolador escolhido funciona entre 0 e 3,3
V, qualquer tensao fora deste intervalo pode vir a danificar a porta dele. Desta forma,
utiliza-se este buffer com alimentacao assimetrica de 3,3 V, para limitar o sinal dentro
dessa faixa.
Utiliza-se novamente o amplificador operacional LM358, da Texas Instru-
ments, alimentado no pino 8 e conectado ao terra no pino 4. Os pinos 2 e 3 sao
curto-circuitados, sendo a entrada inversora e a saıda. O sinal entra no pino 1. Capa-
citores de desacoplamento sao inseridos.
3.7 PROJETO DA FONTE DE ALIMENTACAO
Na alimentacao, necessita-se de uma fonte com diferentes nıveis de tensao
e capacidades de fornecimento de corrente. Como discutido no Capıtulo 2, a fonte
que fornecera a tensao de barramento (potencia para a carga) sera uma fonte linear
nao-regulada. Desta forma, torna-se mais facil utilizar fontes lineares para toda a
alimentacao. Porem, para alimentar os CIs, utiliza-se reguladores de tensao que ga-
rantam uma tensao CC com menos ondulacoes e, consequentemente, o bom funcio-
namento dos componentes.
A etapa de condicionamento de sinais utiliza tensoes de +5 V e -5 V; a
etapa de isolacao optica e acionamento das chaves utiliza tensoes de +5 V e +12 V.
Esses valores foram escolhidos de modo que existem circuitos reguladores de tensao
3.7 Projeto da Fonte de Alimentacao 73
compatıveis. Por fim, a tensao de barramento sera de, aproximadamente, 34 V, que e
determinada pela tensao nominal eficaz de saıda e ındice de modulacao selecionado,
segundo a Equacao 32
E =20·√
2
0, 85= 33, 85 V. (32)
A Figura 33 apresenta o circuito completo utilizado para a fonte.
127 Vrms
34 V
5 V
12 V
5 V
-5 V
LM7805
LM7905
LM7812
LM7805
D4
Cbar
D1
D2
D3
C1
C2
C3
C4
C5
C6
C7
C8
C9
C10
C11
C12
C13
C14
Ponte 1
Ponte 2
1S
2S
3S
Figura 33: Circuito da fonte do amplificador.Fonte: Autoria propria.
Como os circuitos que utilizam reguladores aceitam ripples maiores, devido
justamente ao uso do regulador, o projeto do capacitor do filtro nao e tao essencial.
Utilizam-se capacitores eletrolıticos de valor elevado com grande capacidade de for-
necimento de corrente, antes e depois dos reguladores, para a tensao de 12 V que
e a fonte usada para acionar as chaves. Para as outras tensoes sao utilizados capa-
citores eletrolıticos somente como filtro capacitivo antes do regulador. Em todos os
reguladores sao utilizados capacitores de ceramica antes e depois, para estabilizar o
componente, como recomendam os fabricantes.
Os diodos que formam as duas pontes retificadoras das fontes auxiliares
sao determinados basicamente pela capacidade de corrente, que nao e maior do que
o valor medio de 1 A para as fontes auxiliares. Como operam em baixas tensoes e na
frequencia da rede (60 Hz), outras caracterısticas tornam-se irrelevantes.
Para a fonte do barramento utilizou-se diodos com corrente media de 6
A para garantir que eles nao sejam danificados no momento da primeira carga dos
capacitores do filtro, pois a corrente inicial e consideravelmente elevada. O valor da
capacitancia do filtro e determinado pela Equacao 33
3.8 Escolha da Carga 74
Cbar =Pin
f(V 2max − V 2
min)= 9, 058 mF (33)
onde, f e a frequencia do ripple, que para um retificador de onda completa e 120 Hz;
Pin e a potencia de entrada da fonte e Vmax− Vmin e a variacao maxima aceitavel para
a fonte. Assumiu-se um ripple maximo de 2% para essa fonte, ou seja, Vmax − Vmin =
0, 68 V.
Utilizou-se 2 capacitores em paralelo de 4,7 mF cada, resultando numa
capacitancia total de 9,4 mF, e, portanto, um ripple ainda menor do que os 2% maximos
determinados no projeto.
3.8 ESCOLHA DA CARGA
Como parametro de projeto definido, a carga para teste e um resistor de
8 Ω. No entanto, utilizou-se um resistor de 7,3 Ω devido ao fato de nao encontrar-
se facilmente no mercado resistores com 8 Ω. Associacao de resistores tambem foi
descartada porque seriam necessarios inumeros resistores conectados em serie e pa-
ralelo para ser possıvel a obtencao desse valor, alem da potencia mınima necessaria.
Alem de tornar a carga maior fisicamente, o investimento necessario para a aquisicao
desses componentes seria substancial.
75
4 ANALISE DE RESULTADOS
Este capıtulo apresenta os principais resultados do amplificador de audio
projetado no capıtulo anterior. Primeiramente, apresenta-se os resultados gerados
na simulacao nos softwares LTspice R© e PSIM R© e, posteriormente, os resultados
experimentais obtidos atraves do prototipo implementado.
Como o circuito possui uma etapa digital processada, atraves de um micro-
controlador, sua simulacao em softwares de circuitos eletronicos nao e trivial. Assim,
os resultados apresentados sao a partir do circuito de geracao dos PWMs, ou seja,
apos a saıda do microcontrolador.
Serao apresentados resultados experimentais dos parametros mais rele-
vantes para um amplificador de audio, e, consequentemente, para criacao de sua
folha de especificacoes. Uma sucinta definicao desses parametros e encontrada nos
Apendices deste trabalho.
4.1 RESULTADOS DE SIMULACAO
Para obter os resultados referentes a modulacao da forma mais aproximada
possıvel, utilizou-se o software PSIM R© com componentes ideais, para reproduzir o
comportamento do amplificador desde a entrada do sinal ate os 4 sinais de PWM que
saem do microcontrolador. Estes PWMs sao, entao, introduzidos em fontes de sinais
no software LTSpice R©.
Neste software e possıvel utilizar o modelo nao-ideal de componentes, tais
como os optoacopladores 6N137, os drivers IR2110, assim como as chaves e demais
componentes do circuito. Dessa forma, a simulacao torna-se mais precisa em relacao
aquelas que usam componentes ideais.
4.1.1 MODULACAO
O sinal de entrada utilizado para a simulacao foi uma onda senoidal, de 1
kHz de frequencia e valor de pico a pico igual a 1,65 V. A modulacao e realizada por
comparadores ideais e uma onda triangular, seguindo a tecnica de modulacao de 3
4.1 Resultados de Simulacao 76
nıveis. Por fim, os 4 sinais sao negados (invertidos) para compensar a caracterıstica
inversora do optoacoplador. Assim, a entrada do driver eles estarao novamente com
sua polaridade inicial. A Figura 34 contem os sinais de PWM oriundos do PSIM R©e inseridos nas fontes do LTspice, que sao ondas quadradas de 0 a 3,3 V (nıvel de
saıda do microcontrolador).
2.144ms 2.146ms 2.148ms 2.150ms 2.152ms 2.154ms 2.156ms 2.158ms 2.160ms 2.162ms 2.164ms 2.166ms
0.0V
0.8V
1.6V
2.4V
3.2V
0.0V
0.8V
1.6V
2.4V
3.2V
V(pwm3) V(pwm4)
V(pwm1) V(pwm2)
Figura 34: Sinal de entrada modulado em 4 PWMs.Fonte: Autoria propria.
4.1.2 OPTOS E DRIVERS
A entrada senoidal (na forma de 4 PWMs) passa pelos optoacopladores
6N137 que separam a referencia do sinal de entrada e do microcontrolador da parte
de potencia. O sinal que tinha 3,3 V de nıvel e fora invertido, agora sera convertido
ao normal e possuira o nıvel de 5 V. A Figura 35 mostra esses PWMs a saıda dos
optoacopladores e a entrada dos drivers.
2.144ms 2.146ms 2.148ms 2.150ms 2.152ms 2.154ms 2.156ms 2.158ms 2.160ms 2.162ms 2.164ms 2.166ms0.0V
1.0V
2.0V
3.0V
4.0V
5.0V0.0V
1.0V
2.0V
3.0V
4.0V
5.0V
V(out3) V(out4)
V(out1) V(out2)
Figura 35: PWMs a saıda dos 6N137.Fonte: Autoria propria.
4.1 Resultados de Simulacao 77
Esses sinais agora passam pelos drivers IR2110, onde receberao um
ganho de tensao (ate 12 V, por ser a tensao de alimentacao do CI) e capacidade de
fornecer e drenar as correntes de acionamento das chaves. A Figura 36 apresenta os
4 sinais nas chaves IRF540, entre porta (gate) e fonte (source), sendo os sinais 1, 2,
3 e 4, respectivamente, os sinais vermelho, azul, amarelo e verde.
564µs 570µs 576µs 582µs 588µs 594µs 600µs 606µs 612µs 618µs
0V
2V
4V
6V
8V
10V
12V
0V
2V
4V
6V
8V
10V
12V
V(sw3) V(SW4,MID2)
V(SW1,MID1) V(sw2)
Figura 36: PWMs de acionamento das 4 chaves IRF540.Fonte: Autoria propria.
Nessa figura demonstra-se como a simulacao com elementos nao-ideais
e importante, pois mostra as deformacoes dos sinais pela limitacao de corrente e,
consequente, baixo slew rate (taxa de crescimento). Os sinais 1 e 4 estao referen-
ciados cada um a fonte da chave a qual estao acionando, porem observando esses
sinais todos a mesma referencia (ground), como na Figura 37, fica clara a funcionali-
dade do circuito de bootstrap. Sem ele, o pulso de 12 V nao acionaria a chave superior.
2.144ms 2.146ms 2.148ms 2.150ms 2.152ms 2.154ms 2.156ms 2.158ms 2.160ms 2.162ms 2.164ms 2.166ms
0V
10V
20V
30V
40V
50V
0V
10V
20V
30V
40V
V(sg3) V(sg4)
V(sg1) V(sg2)
Figura 37: PWMs de acionamento das 4 chaves IRF540, referenciadosao terra.Fonte: Autoria propria.
4.1 Resultados de Simulacao 78
4.1.3 FORMAS DE ONDA DA SAIDA
Por fim apresenta-se a simulacao das formas de onda mais importantes:
da saıda do amplificador. A Figura 38 apresenta a onda senoidal demodulada e
amplificada. A Figura 39 traz a mesma onda, porem o sinal PWM sobre os terminais
do filtro e acrescentado a imagem, para demonstrar a modulacao de 3 nıveis e o
funcionamento do filtro demodulador.
0.0ms 0.1ms 0.2ms 0.3ms 0.4ms 0.5ms 0.6ms 0.7ms 0.8ms 0.9ms 1.0ms 1.1ms 1.2ms 1.3ms 1.4ms 1.5ms 1.6ms 1.7ms 1.8ms 1.9ms 2.0ms-30V
-18V
-6V
6V
18V
30VV(N006,N007)
Figura 38: Saıda do amplificador com potencia nominal.Fonte: Autoria propria.
0.0ms 0.5ms 1.0ms 1.5ms 2.0ms 2.5ms 3.0ms 3.5ms 4.0ms 4.5ms 5.0ms-35V
-21V
-7V
7V
21V
35VV(MID1,MID2) V(N006,N007)
29,11 V
-29,13 V
Figura 39: Saıda do amplificador antes e depois do filtro.Fonte: Autoria propria.
Como pode ser visto, com os valores de pico de 29,11 V e -29,13 V, a tensao
de pico a pico da senoide fica em 58,24 V, o que resultaria em uma potencia pouco
maior que os 50 W projetados. Isso deve-se tambem ao sinal de entrada que possui
amplitude de 1,65 V, quando o ideal para a sensibilidade projetada desse amplificador
seria 1,55 V ou 4 dB.
Observa-se tambem, algumas distorcoes no cruzamento por zero, o que
4.1 Resultados de Simulacao 79
nao era esperado por nao ser caracterıstica do amplificador chaveado. Analisando
as ondas de PWM sobre a carga pode-se concluir que quando o sinal senoidal esta
fazendo a transicao em zero, a logica da modulacao de 3 nıveis troca de um sinal
positivo para um sinal negativo. Como a simulacao utiliza componentes reais, ate o
PWM chegar nas chaves, ruıdo e inserido e o amplificador comuta em torno de zero
alguns pulsos ate o valor do sinal negativo aumentar e ele voltar ao curso da senoide.
No circuito implementado nao havera esse problema, ja que essa logica e criada com
o microcontrolador.
A Figura 40 mostra o PWM apresentado na Figura 39, porem com um
intervalo de tempo menor. Nele, e possıvel perceber que o valor maximo fica em torno
de 32 V, sendo que a fonte CC e de 33,85 V. Assim e possıvel ver a queda de tensao
provocada pela resistencia de conducao das chaves (RDS(on)). O ponto inferior, que
deveria ser zero, apresenta valor negativo. Aqui percebe-se mais uma peculiaridade
do circuito de bootstrap ja discutida. O pico de corrente exigido para acionar o
MOSFET faz a tensao do pino VS, que seria o meio do braco, ficar negativa. Se o
resistor serie fosse menor, consequentemente a corrente direcionada ao acionamento
do MOSFET seria maior e ocasionaria um pico ainda mais negativo.
2.068ms 2.072ms 2.076ms 2.080ms 2.084ms 2.088ms 2.092ms 2.096ms 2.100ms 2.104ms 2.108ms 2.112ms
0V
8V
16V
24V
32V
V(MID1,MID2)
Figura 40: PWM sobre o filtro de saıda.Fonte: Autoria propria.
Por fim, a Figura 41 mostra a forma de onda da tensao e da corrente
da saıda do amplificador e a onda da potencia , obtida pela multiplicacao das duas
anteriores, sendo a potencia a linha vermelha, a tensao a linha amarela e a corrente
a linha azul.
4.2 Resultados Experimentais do Prototipo 80
0.0ms 0.1ms 0.2ms 0.3ms 0.4ms 0.5ms 0.6ms 0.7ms 0.8ms 0.9ms 1.0ms 1.1ms 1.2ms 1.3ms 1.4ms 1.5ms 1.6ms 1.7ms 1.8ms 1.9ms 2.0ms-30V
-18V
-6V
6V
18V
30V
-4A
0A
4A
-5W
15W
35W
55W
75W
95W
115W
V(N006,N007)*(-I(Carga2)) V(N006,N007) -I(Carga2)
Potência
Tensão
Corrente
Figura 41: Ondas de tensao, corrente e potencia.Fonte: Autoria propria.
4.2 RESULTADOS EXPERIMENTAIS DO PROTOTIPO
O prototipo final, montado em um gabinete metalico, e apresentado nas
Figuras 42, 43 e 44. Externamente tem-se acesso ao botao liga/desliga do amplifica-
dor e ao botao liga/desliga do barramento. Possui uma entrada em conector RCA e
duas saıdas paralelas com conectores RCA. No detalhe, o cooler para a ventilacao
forcada.
Figura 42: Amplificador implementado em seu gabinete.Fonte: Autoria propria.
4.2 Resultados Experimentais do Prototipo 81
Figura 43: Gabinete aberto.Fonte: Autoria propria.
Figura 44: Gabinete aberto indicando as placas componentes do amplificador.Fonte: Autoria propria.
Para confirmacao do metodo de projeto e sua implementacao e necessario
4.2 Resultados Experimentais do Prototipo 82
que os resultados experimentais sejam coerentes aos encontrados em simulacao.
Deste modo, o prototipo e conectado a um equipamento gerador de funcoes para
fornecer os sinais para os testes, carga de teste (resistor) e um osciloscopio para
observar e salvar as imagens.
O amplificador nao utiliza audio como entrada nem um alto-falante como
saıda, pois essa seria uma avaliacao subjetiva, a qual cada usuario poderia ter um
parecer diferente. Retirar formas de onda no osciloscopio de um sinal de audio torna-
se bastante inconclusivo devivo as variadas formas que este sinal pode assumir.
4.2.1 SENSIBILIDADE
Este parametro determina qual nıvel de tensao o sinal de entrada deve
ter para que o amplificador forneca sua potencia nominal na saıda, para uma carga
de valor nominal. A Figura 45 apresenta a forma de onda do sinal na entrada do
amplificador, ou seja, na saıda do gerador de funcoes.
Figura 45: Sinal de entrada: onda senoidal 1 kHz.Fonte: Autoria propria.
Trata-se de um sinal senoidal com frequencia de 1 kHz (sinal padrao para
medicoes de desempenho e linearidade de equipamentos de audio) e valor de 1,6
V pico a pico, aproximadamente. Nota-se que essa senoide esta centrada em zero,
exatamente como o sinal de audio.
A Figura 46 traz o resultado na saıda do amplificador para esse sinal. A
4.2 Resultados Experimentais do Prototipo 83
forma de onda e apresentada com valor de tensao que leva o amplificador a maxima
potencia com sua carga nominal: 20 V. Como o resistor utilizado tem valor menor que
o nominal, a potencia fornecida e um pouco maior. Nota-se pequenos desvios nas
tensoes de pico, devido a presenca das componentes harmonicas no sinal de saıda.
Figura 46: Forma de onda na saıda com carga nominal.Fonte: Autoria propria.
Verificando os valores de tensao de entrada e saıda, nas Figuras 45 e 46,
verifica-se que a sensibilidade do amplificador e de 1,6 Vpp, pouco acima da projetada.
Caso deseje-se alterar esse valor, basta editar no software que realiza a modulacao
algum parametro de ganho do conversor A/D. Esse fato apresenta-se como a primeira
vantagem observada na utilizacao da modulacao digital.
O ganho de tensao do amplificador e, entao, de 35,15, conforme a Equacao
34
Gv =VoVin
=20
0, 569= 35, 15. (34)
A Figura 47 apresenta a forma de onda da saıda, para o mesmo sinal de en-
trada, porem com a saıda em aberto (amplificador sem carga). Ha uma distorcao mais
acentuada na saıda quando ela esta em aberto; isso se deve ao fato de o amplificador
nao estar fornecendo corrente na sua saıda, condicao que tira o filtro de seu ponto de
operacao, pois ele e projetado para que seus indutores filtrem o sinal de corrente da
saıda.
4.2 Resultados Experimentais do Prototipo 84
Fazendo a comparacao da saıda simulada com a implementada,
comprovou-se que a distorcao no cruzamento por zero nao acontece na pratica.
Isso e um indicador positivo, pois mesmo que em potencias mais elevadas essa
distorcao possa passar despercebida ao ouvido humano, em sinais de baixa intensi-
dade pode ser prejudicial a qualidade do audio do amplificador.
Figura 47: Forma de onda na saıda sem carga.Fonte: Autoria propria.
4.2.2 POTENCIA
Para realizar a medida de potencia do amplificador, o ideal seria realizar
medidas de tensao e corrente. Entretanto, devido a falta de ponteiras capazes de
medir corrente, utiliza-se uma variacao da Lei de Ohm, que relaciona a tensao e a
impedancia da carga. Assim, como mostra a Equacao 38 atraves do valor de tensao
medido no item anterior e a carga nominal a ser usada no amplificador, obtem-se
Pmed =VRMS
2
Ro
=202
8= 50 W. (35)
4.2.3 EFICIENCIA
Utilizando como entrada um sinal senoidal de 1 kHz foram realizadas
medicoes para diferentes valores de potencia, a fim de tracar uma curva e facilitar
4.2 Resultados Experimentais do Prototipo 85
a visualizacao do comportamento do amplificador com relacao ao seu rendimento.
A Tabela 4 apresenta os valores de potencia de saıda, potencia consumida pelo
amplificador, rendimento e tambem sua perda relativa. Com esses dados duas curvas
sao tracadas. A Figura 48 e a eficiencia do amplificador em funcao da sua potencia
de saıda.
Tabela 4: Rendimento do Amplificador
Potencia de saıda [W] Potencia da fonte [W] Rendimento [%] Perda relativa [%]50 55,18 90,62 10,3640 45,37 88,16 10,7430 34,07 88,05 8,1420 22,89 87,38 5,7810 11,43 87,45 2,86
Fonte: Autoria propria.
10 15 20 25 30 35 40 45 5080
85
90
95
Potência de Saída [W]
Efi
ciê
nc
ia [
%]
Figura 48: Eficiencia em funcao da potencia de saıda.Fonte: Autoria propria.
Observa-se que o rendimento cresce a medida que a potencia de saıda
se aproxima da nominal. Isso deve-se, principalmente, ao fato de que os circuitos
complementares como o modulador, a instrumentacao e os drivers, funcionam em
ambos os casos demandando aproximadamente a mesma potencia. O projeto ter sido
realizado com base nesse ponto de operacao, tambem contribui para esse rendimento
superior em regime nominal.
A Figura 49 representa as perdas relativas do amplificador em funcao da
4.2 Resultados Experimentais do Prototipo 86
potencia de saıda. Essas perdas sao o valor da perda absoluta dividido pela potencia
nominal do amplificador; ou seja, e a perda em p.u. E importante ressaltar que as
baixas perdas relativas sao um indicador positivo do aproveitamento de energia do
amplificador, tanto quanto o indicador de eficiencia e. Mostram que em qualquer
ponto de operacao ele pode ter um bom rendimento, muito maior que a maioria dos
amplificadores lineares.
10 15 20 25 30 35 40 45 502
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
Potência de Saída [W]
Perd
as R
ela
tivas [
%]
Figura 49: Perdas relativas em funcao da potencia de saıda.Fonte: Autoria propria.
4.2.4 RELACAO SINAL/RUIDO
A relacao sinal/ruıdo e usada para mostrar a qualidade do amplificador em
comparacao ao ruıdo por ele produzido. Como o sinal que interessa e a saıda, quanto
menor o ruıdo proporcional a ele melhor sera a qualidade do amplificador. E expressa
em dB, podendo ser facilmente calculada tanto pela potencia dos dois sinais, como
pela tensao. Entretanto, e difıcil isolar o ruıdo do sinal no domınio do tempo para
medı-lo e calcular a relacao. Assim, normalmente, analisa-se a resposta no domınio
da frequencia, e subtrai-se o ruıdo de maior amplitude do sinal fundamental. Essa
diferenca ja e expressa em dB e e, entao, a relacao sinal/ruıdo.
A Figura 50 mostra a resposta em frequencia na saıda de potencia do am-
plificador para uma entrada senoidal de 1 kHz, a potencia nominal (50 W). Com os
cursores mede-se o valor de diferenca de tensao, em dB, entre o sinal de 1 kHz e o
maior pico de ruıdo presente.
4.2 Resultados Experimentais do Prototipo 87
Ve-se que a diferenca entre esses sinais e de 39,2 dB, que e a relacao
sinal/ruıdo. Amplificadores de alta fidelidade possuem relacoes sinal/ruıdo maiores
que essa, porem este valor ainda e consideravel. Quanto maior a potencia de saıda
aplicada, menor torna-se o ruıdo em relacao ao sinal. No teste audıvel, nao foi
possıvel notar ruıdos que interferissem na qualidade do som.
Figura 50: Relacao sinal/ruıdo.Fonte: Autoria propria.
4.2.5 RESPOSTA EM FREQUENCIA
Quando a potencia de um amplificador e mensurada, escolhe-se um valor
de frequencia tıpica para esta medicao, ou seja, e uma medida pontual. Entretanto,
quando objetiva-se observar o comportamento do amplificador em todo o espectro do
audio (20 Hz a 20 kHz) faz-se uma varredura nessa faixa de frequencia para analisar
os resultados na saıda.
A resposta em frequencia da magnitude e a relacao entre o sinal da saıda
e o sinal da entrada, geralmente expressa em dB, como em
G(dB) = 20 log
(Vo
Vi
)(36)
E um importante parametro, pois permite identificar as ondulacoes do ga-
nho na faixa do audio e quais grupos de frequencias (graves, medios ou agudos) serao
atenuados ou amplificados em relacao ao sinal como um todo. Realiza-se a medicao
4.2 Resultados Experimentais do Prototipo 88
com o amplificador em metade de sua potencia nominal utilizando a impedancia de
carga nominal, onde provavelmente ele nao possui sua melhor caracterıstica de linea-
ridade.
A Figura 51 apresenta a resposta em frequencia da magnitude para estas
condicoes.
101
102
103
104
105
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
Frequência [Hz]
Ga
nh
o [
dB
]
Figura 51: Resposta em frequencia do amplificador.Fonte: Autoria propria.
Nota-se que a curva da Figura 51 assemelha-se muito em comportamento
na banda de audio com a curva padrao de amplificadores que e apresentada na Figura
57.
Percebe-se pequenas oscilacoes de ganho durante a banda de audio. Ha
uma oscilacao notavel entre 10 kHz e 20 kHz, onde ha uma atenuacao do sinal em
torno de 2 dB. Isso deve-se ao limite de banda passante dos dois filtros: o filtro anti-
aliasing e o filtro de saıda. Ambos tiveram sua frequencia de corte ajustada em 25
kHz, devido a limitacoes do projeto e mostraram atenuacao antes dos 20 kHz em suas
respostas em frequencia. Tais fatos associados geraram a atenuacao vista na saıda
do amplificador, que ainda e menor que o limite que define a banda de um amplificador,
conforme o Apendice A.4.
Em geral, e uma boa resposta, mostrando que o amplificador pode atuar
como um receiver para toda a banda de audio como projetado, sem causar descon-
forto ao usuario ou prejuızo significativo a qualidade do audio.
4.2 Resultados Experimentais do Prototipo 89
4.2.6 DISTORCAO HARMONICA TOTAL
Para medir o nıvel de distorcao harmonica total (THD) presente no amplifi-
cador, recorre-se a norma ABNT NBR IEC 60268-3 que define como deve-se proceder
para obtencao destes resultados. Ela fornece diferentes metodos para avaliacao deste
parametro, dependendo da situacao que a medicao sera realiazada e do objetivo final
do equipamento.
Assim, escolhe-se o metodo de medicao denominado ”Distorcao harmonica
de n-esima ordem em funcao da amplitude e da frequencia”. Neste metodo, e reco-
mendada a medicao do sinal de saıda levando-se em consideracao algumas compo-
nentes harmonicas, atraves de um filtro passa-faixa ajustavel conectado a saıda ou
atraves de um analisador de espectro de frequencia. Sera utilizado a FFT do osci-
loscopio como espectro de frequencia para realizacao do calculo. O sinal de entrada
padrao continua sendo uma onda senoidal de 1 kHz de frequencia. E possıvel fazer
essa medicao em outros valores de frequencia, desde que especificado na descricao
do equipamento.
O resultado e determinado pela somatoria da distorcao individual dessas
harmonicas, conforme a Equacao 36
THD =[∑∞
n=2 U′o,n
2]12 · 100%
Uo
, (37)
onde:
U ′o,n e o valor de tensao do componente harmonico analisado;
Uo e o valor de tensao da saıda total do amplificador; n e a ordem do harmonico.
A norma determina essa somatoria ate ∞ quando usa-se o filtro na saıda,
atenuando uma unica componente como declara o procedimento. O valor de tensao
resultante sera a somatoria de todo o espectro. Entretanto, quando utiliza-se analisa-
dor de espectro, a norma recomenda a avaliacao do 2o ao 5o harmonico.
Para obtencao da distorcao real no amplificador de audio implementado,
decidiu-se incrementar essa somatoria ate a 20a harmonica, para o caso que o sinal
de audio e uma onda de 1 kHz. Assim, e possıvel analisar toda a distorcao que possa
ser identificada pelo ouvido humano.
A Tabela 5 apresenta os valores de THD obtidos pelo metodo descrito,
para uma onda senoidal de 1 kHz e o amplificador trabalhando em 1 W, 25 W (meia
potencia) e 50 W (potencia nominal).
4.2 Resultados Experimentais do Prototipo 90
Tabela 5: THD do Amplificador
1W 25W 50W1,717% 1,943% 2,096%
Fonte: Autoria propria.
Percebe-se que os valores ficaram bem abaixo dos 10% tolerados na
especificacao do projeto, o que demonstra a qualidade que ele possui, embora nao
possa ser considerado um amplificador de extrema fidelidade.
4.2.7 RESULTADOS COMPLEMENTARES
Apos apresentados os resultados de performance do amplificador, alguns
resultados intrınsecos ao processo de funcionamento dele serao mostrados. Como
explicado, em vez de apenas dar ganho ao sinal de audio como os amplificadores
lineares fazem, o amplificador chaveado o converte em pulsos quadrados, como parte
do processo de modulacao. Serao demonstradas formas de onda do sinal desde sua
entrada, passando pelos processos de modulacao, isolacao optica ate a saıda do
circuito driver.
Como mostrado anteriormente, o sinal que entra no amplificador passa pri-
meiramente por um circuito de condicionamento de sinais. Ali ele e filtrado para retirar
o ruıdo de modo comum, o aliasing e ele recebe um offset. A Figura 52 apresenta o
sinal apos o condicionamento.
Figura 52: Sinal de audio apos etapa de condicionamento.Fonte: Autoria propria.
4.2 Resultados Experimentais do Prototipo 91
O sinal exibido e lido pelo conversor A/D do microcontolador. Ele converte
esse sinal analogico em quatro trens de pulsos digitais (PWMs), atraves da modulacao
por largura de pulso de tres nıveis. Dois desses sinais, designados as chaves 1 e 2,
ou seja, complementares entre si, sao apresentados na Figura 53 e na Figura 54.
Figura 53: PWMs 1A e 1B na saıda do microcontrolador.Fonte: Autoria propria.
Figura 54: Tempo morto dos PWMs 1A e 1B.Fonte: Autoria propria.
Nota-se a presenca do tempo morto entre um pulso e outro, o qual foi
4.2 Resultados Experimentais do Prototipo 92
inserido no codigo da modulacao para ser de aproximadamente 3% do perıodo de
comutacao. A Figura 54 mostra mais claramente o tempo morto.
Em ambas as figuras, os sinais possuem nıvel alto idealmente em 0 V e
nıvel baixo em -3,3 V (os transitorios do chaveamento em alta frequencia deformam
a onda e causam os picos de chaveamento positivo e negativo). O sinal negado e
requerido pela caracterıstica inversora do optoacoplador, conforme demonstrado na
simualacao. Quando chegar ao driver, o sinal novamente estara com nıvel logico ”1”
positivo e nıvel logico ”0” em 0 V. Assim, a Figura 55 apresenta esses dois sinais
PWM na saıda inversora do optoacoplador.
Figura 55: PWMs 1A e 1B na saıda do optoacoplador.Fonte: Autoria propria.
O tempo morto ja e visivelmente menor. Isso deve-se ao optoacoplador ter
um slew rate pequeno, o que aumenta o tempo de resposta dele e ”aproxima” os pul-
sos dos dois sinais. Porem, esse tempo ainda e suficiente para evitar o chaveamento
simultaneo do braco, como sera visto em seguida.
As saıdas do driver ja possuem formas bem menos ideais dos PWMs que
as vistas ate entao, mas bem similares aquelas encontradas na simulacao na Secao
4.1.2, como sao exibidas na Figura 56.
4.2 Resultados Experimentais do Prototipo 93
Figura 56: PWMs 1A e 1B na saıda do driver.Fonte: Autoria propria.
Como o driver emprega o bootstrap para gerar a referencia da chave su-
perior, o valor dessa referencia oscila conforme a carga e descarga dos capacitores.
Tambem, apresenta-se na Secao 3.3 um grafico que relaciona o pico de tensao ne-
gativa no chaveamento ao resistor de saıda para o IR2110. Para manter esse pico
como na imagem o resistor utilizado foi de 47 Ω, o que reduz substancialmente o pico
de corrente fornecida para o acionamento da chave, gerando um atraso na subida da
tensao, ja que sao fatores entrelacados. Isto e o que causa a impressao de slew rate
nos sinais, mesmo o IR2110 tendo velocidade de comutacao superior a demandada.
4.2.8 ESPECIFICACAO
Apos as medicoes de todos os parametros que caracterizam o amplificador,
e possıvel criar a Tabela de Especificacoes Gerais do Amplificador, que traz todas as
suas caracterısticas relevantes e e apresentada na Tabela 6.
4.2 Resultados Experimentais do Prototipo 94
Tabela 6: Especificacoes dos parametros do amplificador
ESPECIFICACOES GERAIS:Classificacao Classe DImpedancia Mınima da Carga 8 ΩPotencia Maxima (RMS) 50 WResposta de Frequencia 20 Hz - 20 khz (± 2 dB)Distorcao Harmonica (THD+N) ≤ 2% @ 1/2 potencia @ 1kHzRelacao Sinal/Ruıdo ≥ 39 dBSensibilidade 1,62 VppImpedancia de Entrada 2 GΩConectores RCARefrigeracao ForcadaAlimentacao 127 V @ 60 HzDimensoes (L x H x P) 371mm x 105mm x 217mmPeso 4,0 kg
Fonte: Autoria propria.
95
5 CONCLUSOES
O alto rendimento comparado a outras classes e a evolucao da eletronica,
principalmente das tecnicas de modulacao, fazem o amplificador de audio classe D
mostrar-se como uma boa alternativa para quem quer alta densidade de potencia em
um amplificador compacto, confiavel e eficiente. Este trabalho objetivou apresentar
um amplificador de media potencia para ser utilizado como receiver, ou seja, para
uso domestico. Os resultados obtidos, em simulacao e experimentalmente, mostram
que esse projeto e uma alternativa interessante para o que foi proposto, necessitando
apenas de algumas melhorias.
O amplificador desenvolvido neste trabalho e composto por uma etapa de
modulacao, uma etapa de acionamento das chaves, a ponte completa (chaves), um
filtro demodulador, alem das fontes e etapas auxiliares. A etapa de modulacao foi re-
alizada de maneira digital por um microcontrolador que se mostrou bastante versatil e
funcional para o que foi proposto. Esta etapa contava com um circuito de condiciona-
mento de sinais para preparar o sinal de entrada para ser modulado no microcontro-
lador. Quatro sinais de PWM de 3 nıveis eram a saıda, os quais eram conectados a
outra placa.
A etapa de acionamento recebia os quatro sinais de PWM e os isolava
da referencia seguinte (de potencia) atraves de otpoacopladores. Na sequencia, os
drivers eram responsaveis por tornar estes sinais capazes de acionar as chaves da
ponte. Na etapa de potencia, as chaves eram comutadas de acordo com os sinais
vindos dos drivers. Cada chave tinha um snubber conectado em paralelo a seu dreno
e fonte, para reducao dos picos de chaveamento. Por fim, no centro da ponte, estava
o filtro demodulador e a carga.
Para fornecer a potencia de 50 W, conforme projetado, o amplificador re-
cebia sua tensao de barramento de uma fonte linear nao regulada com um banco
capacitivo que armazenava a energia necessaria aos picos de corrente requisitados
pelos graves. Para um melhor resultado da qualidade do audio na saıda, o barramento
deveria possuir um banco capacitivo maior, o que nao foi efetuado devido aos altos pi-
cos de corrente na carga inicial destes capacitores. Um circuito de pre-carga seria
uma solucao interessante para trabalhos futuros.
5 Conclusoes 96
Verificou-se os resultados de cada etapa, alem dos resultados do amplifica-
dor como um todo em analises numericas e experimentais. Para simulacao, os softwa-
res PSIM R© e LTspice R© foram utilizados. A partir de seus resultados foi possıvel ob-
servar o funcionamento do amplificador, antes da implementacao do prototipo. Pode-
se concluir que simulacoes sao uteis para antecipar o funcionamento de um circuito,
ainda mais quando realizada com componentes que simulam o comportamento dos
seus respectivos reais.
Os resultados experimentais foram bastante satisfatorios, uma vez que o
amplificador alcancou a potencia desejada de 50 W com rendimento superior a 90%,
resposta de frequencia plana em praticamente toda faixa de audio, baixo nıvel de ruıdo
com uma relacao sinal/ruıdo maior que 39 dB e THD 5 vezes menor que a tolerada,
atingindo o valor de 2%. Os resultados do prototipo vieram de encontro aos obtidos
nas simulacoes de validacao, o que sincronizou com harmonia o projeto, a simulacao
e o experimental. Quanto a testes utilizando sinais de audio tambem mostrou-se fiel
ao sinal original. O trabalho atingiu seus objetivos, visto que cada item descrito neles
foi atendido.
Como sugestao para os proximos trabalhos, pode-se utilizar o prototipo pro-
jetado para implementar funcoes digitais de tratamento de audio no microcontrolador,
como equalizadores, crossovers, processadores de audio, dentre outros. Tambem
pode ser realizado um estudo da interferencia do ruıdo de chaveamento na qualidade
do sinal de saıda. Ainda, pode-se utilizar as etapas de condicionamento, modulacao e
acionamento para implementar um amplificador de maior potencia. Seria necessario
apenas o projeto de uma fonte com maior capacidade e uma etapa de potencia ade-
quada, como chaves, filtro e snubber mais robustos.
97
REFERENCIAS
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100
APENDICE A - DEFINICOES DE PARAMETROS
A seguir, alguns parametros avaliativos de amplificadores serao, breve-
mente, descritos, dos quais resultam valores numericos que facilitam a comparacao
de amplificadores. Esses parametros foram escolhidos por serem os mais recorrentes
em fichas de especificacoes de amplificadores.
A.1 POTENCIA
A potencia fornecida, mais conhecida como potencia de saıda, e um dos
parametros mais valorizados na hora de escolher um amplificador, por isso fabricantes
buscam sempre aumentar esse quesito. Para definir a potencia, varias condicoes
devem ser determinadas, pois elas influenciam no resultado, tais como: frequencia do
sinal a ser amplificado, maximo THD, tensao de alimentacao, dentre outros.
Ha varios tipos de potencia que fabricantes apresentam, geralmente bus-
cando aquela que apresenta um valor ”maior”. Isso pode levar o usuario a adquirir um
amplificador que possui a maior potencia numerica, o que nao se reflete na pratica. Al-
gumas dessas medicoes nao levam em conta procedimentos das normas e sao nada
mais do que marketing.
A potencia padrao e a potencia media, que e tambem (erroneamente) cha-
mada de potencia RMS. Como o sinal de audio varia no tempo, ela e calculada atraves
de uma media da tensao em uma carga resistiva. Portanto, quando relaciona-se os
valores RMS de tensao e corrente ou de tensao com a carga nominal, nao e obtida a
potencia eficaz e sim, a media, como na Equacao 38
Pmed = VRMS · IRMS =VRMS
2
Ro
(38)
A.2 SENSIBILIDADE
Quando associado a amplificadores, o termo sensibilidade significa o nıvel
de tensao do sinal de entrada que leva o amplificador a sua maxima potencia. Quanto
maior o ganho do amplificador, menor a tensao de entrada para maxima potencia, ou
seja, mais sensıvel ele sera.
Ha amplificadores com ganho constante, ou seja, conforme a tensao do
sinal de entrada, sera a potencia fornecida por ele.
A.3 Relacao Sinal/Ruıdo 101
Os valores de sensibilidade dos amplificadores disponıveis no mercado, em
geral, variam de 0,775 V ate 2 V.
A.3 RELACAO SINAL/RUIDO
A relacao sinal/ruıdo (S/N) e a forma mais comum, mesmo que indireta, de
especificar o nıvel de ruıdo existente em um amplificador. Ela expressa o quanto o
nıvel do sinal amplificado esta acima do nıvel de ruıdo.
Pode ser apresentada em dB por
S
N(dB) = 20 log
(S
N
), (39)
quando S e N estao em V; e por
S
N(dB) = 10 log
(S
N
), (40)
se S e N estao em W.
E comum ver a relacao S/N especificada para a potencia nominal do ampli-
ficador, pois assim a relacao sera a maior possıvel de ser obtida.
A.4 RESPOSTA EM FREQUENCIA
A resposta em frequencia revela o comportamento de um amplificador em
funcao da frequencia, do sinal de saıda em funcao do sinal de entrada. Na pratica,
para obter essa resposta, aplica-se um sinal senoidal a entrada, com amplitude cons-
tante e mede-se o nıvel do sinal de saıda, enquanto a frequencia do sinal de entrada e
variada, e plota-se esses resultados em uma escala logarıtmica. Desse modo, obtem-
se a curva de magnitude (ganho) da resposta em frequencia.
Tambem e possıvel obter a resposta de fase medindo o desvio dela, porem,
em amplificadores de audio, essa curva e bem menos divulgada do que a resposta
de magnitude. Isso acontece porque variacoes de fase sao menos perceptıveis ao
ouvido humano do que variacoes de ganho no sinal, quando irradiado de uma unica
fonte. Alem de que quanto menor a variacao do ganho, menor sera o desvio de fase.
Na curva de magnitude, os pontos onde o ganho apresenta uma reducao de
3 dB sao os limites da faixa util do amplificador. Entretanto, espera-se que a regiao das
audiofrequencias seja plana (20 Hz a 20 kHz). Assim, os produtos tem especificada a
A.5 Distorcao 102
sua resposta em frequencia nessa faixa audıvel, com atenuacoes de no maximo 3 dB.
A Figura 57 mostra uma curva tıpica da magnitude de resposta em
frequencia para um amplificador.
Figura 57: Padrao de resposta em frequencia para amplifica-dores.Fonte: Adaptado de (SCHWAAB, 2012).
A.5 DISTORCAO
Um circuito amplificador ideal deve fornecer em sua saıda, um sinal identico
ao sinal de entrada, mas com uma amplificacao em sua amplitude, podendo ter um
atraso de tempo. Devido a nao-idealidade dos dispositivos semicondutores, como
banda de frequencia limitada, nao-linearidades, alem de ruıdo inserido, os amplifica-
dores reais nao replicam exatamente o mesmo sinal, ou seja, o sinal de saıda sofre
distorcao.
Distorcao harmonica e o aparecimento de harmonicos no espectro de
frequencia, pois um sinal que nao seja senoidal puro e composto por uma frequencia
fundamental e seus harmonicos (frequencias multiplas inteiras do sinal fundamental).
A distorcao pode ser caracterizada de varias formas. Uma delas e a
Distorcao Harmonica Total (THD), que e, comumente, utilizada para mensurar o nıvel
de distorcao de um amplificador. E determinada pela Equacao 41 como
THD =
√∑ni=2 Ai
2
A1
=
√A2
2 + A32 + ...+ An
2
A1
(41)
onde, A e a amplitude de cada componente de frequencia (podendo ser tensao, cor-
rente ou potencia) e n e o numero de harmonicos que serao considerados, conforme
o metodo de medicao. Para obter a THD em percentual, basta multiplicar o valor
A.5 Distorcao 103
encontrado atraves da Equacao 41 por 100.
E comum de ver o termo THD+N nas especificacoes de THD dos amplifi-
cadores. O N significa o ruıdo (do ingles, Noise) gerado pelo circuito amplificador e
presente durante as medicoes, pois ele se distribui por todo o espectro de frequencia.
A nao ser que o aparelho utilizado para realizar a medicao do THD seja preparado
para medir as componentes harmonicas geradas pela distorcao desconsiderando o
ruıdo, deve-se utilizar o termo THD +N .
104
APENDICE B - PROJETO DOS INDUTORES
O funcionamento do filtro de saıda depende basicamente de um bom pro-
jeto e da qualidade de seus componentes, principalmente dos indutores. Visando a
qualidade, deseja-se construir os indutores para o filtro. O grande problema e que
a operacao em alta frequencia do indutor insere no circuito de potencia elementos
parasitas: as nao-idealidades. Tais peculiaridades trazem resultados indesejados no
comportamento do filtro e, consequentemente, do amplificador como um todo (BARBI;
FONTE; ALVES, 2002).
Existem inumeras maneiras para projetar um indutor, divididos de forma
geral pelo tipo do nucleo utilizado. Baseado na utilizacao de um nucleo tipo EE, sera
utilizado o metodo AeAw, o qual e baseado nas areas do nucleo, apresentadas na
Figura 58.
Figura 58: Nucleo de ferrite tipo EE.Fonte: Adaptado de (BEKOSKI, 2016).
O nucleo tem como funcao fornecer um caminho para o fluxo magnetico.
Para operacao em alta frequencia, o nucleo de ferrite mostra-se o mais indicado. En-
tretanto, possui baixa densidade de fluxo de saturacao (0,3 T) e baixa robustez a im-
pactos, fatores que devem ser levados em conta tanto no projeto, quanto no manuseio
para implementacao.
Alguns parametros tıpicos devem ser conhecidos para utilizacao dessa me-
todologia de projeto. A Tabela 7 traz a definicao desses parametros necessarios.
Definidos os parametros, ainda necessita-se saber a frequencia de
operacao, a corrente eficaz que ira circular pelo indutor, a corrente de pico e, final-
mente, a indutancia desse indutor. A frequencia de operacao e a mesma do chavea-
mento do amplificador, pois os indutores ficam em serie com a carga. Portanto, fsw =
150 kHz.
Apendice B - Projeto dos Indutores 105
Tabela 7: Parametros tıpicos para dimensionamento dos indutores
Parametro Sımbolo Valor UnidadeFator de utilizacao da janela Kw 0,7Densidade maxima de fluxo Bmax 0,3 TDensidade maxima de corrente Jmax 400 A/cm2
Permeabilidade magnetica do ar µo 4π·10−7 H/mFonte: Autoria propria.
A corrente eficaz e dada pela potencia nominal do amplificador e a im-
pedancia nominal a ser utilizada. Logo,
Iorms =
√Po
Zo
= 2, 5 A. (42)
A corrente de pico no indutor e encontrada com a tensao maxima sobre a
carga e a impedancia nominal. Dessa forma,
Iopk =Vmax
Zo
= 3, 536 A. (43)
Por fim, o valor da indutancia para cada indutor, conforme projetado no
Capıtulo 3.1, e L = 36,01 µH.
Conhecidos todos os parametros necessarios, da-se inıcio ao projeto fısico
do indutor. Como apresentado em Barbi, Fonte e Alves (2002), a escolha do tamanho
do nucleo e definida pelo produto das areas AeAw, encontrado na Equacao 44
AeAw =L · Iopk · Iorms · 104
Bmax · Jmax · Kw
= 0, 038 cm4. (44)
Consulta-se o catalogo de nucleos de ferrite para indutores do fabricante
THORNTON (2017), onde seleciona-se o nucleo 30/15/14 e suas dimensoes sao
apresentadas na Tabela 8. O nucleo 30/15/7 seria o menor nucleo que atenderia o
valor das areas AeAw, mas devido a ruıdos que aparentavam serem provenientes de
saturacao do nucleo, foi escolhido um nucleo maior.
Realiza-se o calculo do numero de espiras do indutor, pela Equacao 45
N =L · Iopk · 104
Bmax · Ae
= 7, 07 espiras. (45)
Arredonda-se entao para o primeiro inteiro maior, ou seja, 8 espiras serao
enroladas em cada indutor.
O entreferro e determinado por
Apendice B - Projeto dos Indutores 106
le =N2 · µo · Ae
L= 1, 34 mm. (46)
Para nucleos EE, pode-se dividir esse valor por 2 e inserı-los nos dois bracos laterais
do nucleo.
Tabela 8: Dimensoes do nucleo de ferrite EE-30/15/14
Parametro Sımbolo Valor UnidadeArea da janela Aw 0,80 cm2
Area do entreferro Ae 0,60 cm2
Comprimento medio de uma espira Lt 5,60 cmVolume do nucleo Ve 4,00 cm2
Distancia entre janelas a 7,20 mmLargura da janela b 6,15 mmAltura da janela h 19,40 mmProfundidade do nucleo d 5,25 mm
Fonte: Autoria propria.
Para o uso em alta frequencia, os condutores devem ser dimensionados
levando-se em consideracao o efeito pelicular ou efeito skin. Quando a frequencia au-
menta, a corrente comeca a se distribuir nas bordas do condutor, ou seja, a densidade
de corrente e maior no entorno do condutor do que no centro dele. Esse efeito diminui
a area util do condutor, o que causa a limitacao da area maxima que um condutor deve
possuir para dada frequencia (BARBI; FONTE; ALVES, 2002)
A profundidade de penetracao da corrente em um condutor de cobre e,
simplificadamente, determinada por
δcu =7, 5√fsw
= 0, 01936 cm2 (47)
e a area maxima da secao transversal de um condutor e
Amax = δcu2 · π = 0, 001178 cm2. (48)
Verificando esses limites em uma tabela de condutores de qualquer fabri-
cante, seleciona-se o fio de cobre esmaltado AWG 26 para ser utilizado no enrola-
mento destes indutores.
Contudo, ainda e necessario calcular a bitola necessaria para conduzir a
corrente eficaz do indutor. Essa bitola depende da corrente e da maxima densidade
de corrente (Jmax) admitida no condutor, conforme
Apendice B - Projeto dos Indutores 107
Acond =Iorms
Jmax
= 0, 00625 cm2. (49)
Como a area necessaria para a corrente eficaz e maior que a area do con-
dutor, e necessario associar condutores em parelelo para evitar o sobreaquecimento
dos fios. Assim, o numero de condutores e determinado por
ncondutores =Acond
AAWG26
= 4, 856 condutores. (50)
Arredondando para o maior inteiro, serao associados 5 condutores em paralelo.
Para finalizar o projeto, e recomendado verificar se ele e executavel ou nao.
Este calculo pode ser realizado analisando-se qual o percentual da area do carretel
sera utilizada. Se passar de 100%, intuitivamente sabe-se que nao sera possıvel
realiza-lo, atraves da Equacao 51
Acarretel =ncond·N ·AAWG26·100
Aw
= 6, 435%. (51)
Conclui-se que e possıvel executar este projeto de indutores; eles sao
apresentados na Figura 59.
Figura 59: Indutores implementados.Fonte: Autoria propria.