PROJETO ERGONÔMICO PARA DIMINUIR SOBRECARGA...

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1 PROJETO ERGONÔMICO PARA DIMINUIR SOBRECARGA BIOMECÂNICA NA REGIÃO LOMBAR NUMA EMPRESA DO POLO DE DUAS RODAS EM MANAUS Nelson Vasconcelos Marinho 1 [email protected] Dayana Priscila Maia Mejia² Pós-graduação em Ergonomia – Faculdade Ávila Resumo O presente estudo de caso mostra os resultados positivos da implantação de dispositivo ergonômico em uma empresa do ramo de fabricação de motos do pólo de duas rodas em Manaus, analisando os efeitos benéficos na redução do número e intensidade de queixas osteomusculares e afastamentos superiores há quinze dias devido à algias na região lombar e ombros apresentados pelos empregados do setor da produção de aros. Este estudo também foi balizado quanto ao ganho de set up nas operações de troca de modelos, reduzindo ainda a pressão por parte da gerência sob aspectos de organização do trabalho. Palavras-chave: Dispositivo Ergonômico, Queixas Osteomusculares, ganho de set up. 1 – INTRODUÇÃO Há 200 anos, o médico Bernardino Ramazinni já descrevia algumas delas, como, por exemplo, a “doença dos escribas e notários”. Em Sidney, Melbourne e Brisbane, D. Ferguson verificou em 1971 que 14% de 516 telegrafistas examinados apresentavam cãibra ocupacional e 5% tinham mialgia. K. Maeda, do Japão, mostrou, em 1977, que a cervicobraquialgia ocupacional havia aumentado, de 1970 a 1975, numa razão de 605% e, ainda, que um quinto dos trabalhadores em linhas de montagem apresentavam de duas a cinco vezes mais problemas nas escápulas, mãos e braços do que trabalhadores de outras seções. Estima-se que 1/3 dos casos de dores nos membros superiores são nitidamente causados por fatores por fatores relacionados ao trabalho. Segundo a pesquisa realizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) mostrou que 1 em cada 100 trabalhadores no Estado de São Paulo apresenta sintomas doenças (ABRANTES, 2004). Segundo Pastore (2001), em 1999 no Brasil, ocorrem 394.000 acidentes e doenças do trabalho e que representaram para as empresas na época, um desembolso de cerca de US$ 18.000 por elemento afastado. A Biomecânica descreve movimentos realizados por vários segmentos corpóreos e forças que agem sobre estas partes do corpo durante atividades normais de vida diária. Uma grande variedade de distúrbios do ser humano e limitações do desempenho. A Biomecânica ocupacional se preocupa com a incompatibilidade entre as capacidades físicas humanas e as necessidades de realização do trabalho, levando em consideração a 1 Pós-graduando em Ergonomia ² Orientadora : Fisioterapeuta. Especialista em metodologia do ensino superior. Mestrando em aspecto bioéticos e jurídicos da saúde.

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PROJETO ERGONÔMICO PARA DIMINUIR SOBRECARGA BIOMECÂNICA NA REGIÃO LOMBAR NUMA EMPRESA DO POLO DE DUAS RODAS EM MANAUS

Nelson Vasconcelos Marinho1 [email protected]

Dayana Priscila Maia Mejia²

Pós-graduação em Ergonomia – Faculdade Ávila

Resumo

O presente estudo de caso mostra os resultados positivos da implantação de dispositivo ergonômico em uma empresa do ramo de fabricação de motos do pólo de duas rodas em Manaus, analisando os efeitos benéficos na redução do número e intensidade de queixas osteomusculares e afastamentos superiores há quinze dias devido à algias na região lombar e ombros apresentados pelos empregados do setor da produção de aros. Este estudo também foi balizado quanto ao ganho de set up nas operações de troca de modelos, reduzindo ainda a pressão por parte da gerência sob aspectos de organização do trabalho. Palavras-chave: Dispositivo Ergonômico, Queixas Osteomusculares, ganho de set up. 1 – INTRODUÇÃO Há 200 anos, o médico Bernardino Ramazinni já descrevia algumas delas, como, por exemplo, a “doença dos escribas e notários”. Em Sidney, Melbourne e Brisbane, D. Ferguson verificou em 1971 que 14% de 516 telegrafistas examinados apresentavam cãibra ocupacional e 5% tinham mialgia. K. Maeda, do Japão, mostrou, em 1977, que a cervicobraquialgia ocupacional havia aumentado, de 1970 a 1975, numa razão de 605% e, ainda, que um quinto dos trabalhadores em linhas de montagem apresentavam de duas a cinco vezes mais problemas nas escápulas, mãos e braços do que trabalhadores de outras seções. Estima-se que 1/3 dos casos de dores nos membros superiores são nitidamente causados por fatores por fatores relacionados ao trabalho. Segundo a pesquisa realizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) mostrou que 1 em cada 100 trabalhadores no Estado de São Paulo apresenta sintomas doenças (ABRANTES, 2004). Segundo Pastore (2001), em 1999 no Brasil, ocorrem 394.000 acidentes e doenças do trabalho e que representaram para as empresas na época, um desembolso de cerca de US$ 18.000 por elemento afastado. A Biomecânica descreve movimentos realizados por vários segmentos corpóreos e forças que agem sobre estas partes do corpo durante atividades normais de vida diária. Uma grande variedade de distúrbios do ser humano e limitações do desempenho. A Biomecânica ocupacional se preocupa com a incompatibilidade entre as capacidades físicas humanas e as necessidades de realização do trabalho, levando em consideração a 1 Pós-graduando em Ergonomia ² Orientadora: Fisioterapeuta. Especialista em metodologia do ensino superior. Mestrando em aspecto bioéticos e jurídicos da saúde.

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interação física do trabalhador com suas ferramentas, máquinas e materiais, a fim de aumentar o seu desempenho enquanto minimiza os riscos de distúrbios músculos-esqueléticos (CHAFIN, 2001). As exigências biomecânicas ocupacionais geralmente impactam as estruturas osteomusculares dos membros superiores e a coluna vertebral, sendo esta a mais importante devido as suas características distintas de sustentação e revestimento e de estrutura nervosa que ao ser submetido a esforço de manipulação de carga pode sofrer sérios danos. Os cuidados posturais e medidas no transporte de cargas, segundo Pereira, (2003) sempre se deve pegar a carga simetricamente, evitando ao máximo qualquer rotação da coluna lombar e nunca realizar os movimentos de rotação e inclinação simultaneamente. Todavia, o principal objetivo da ergonomia é eliminar os movimentos danosos à saúde do trabalhador, perseguindo pequenas melhorias na atividade. A coluna vertebral é um conjunto formado de estrutura óssea (vértebras) e cartilaginosas, revestido de ligamentos e grupos musculares, tendo em seu interior o importante centro nervoso denominado de medula. Funciona como um pilar de sustentação, além de ser estrutura de movimentos. Ela é formada por trinta e três vértebras distribuídas em quatro regiões: Cervical, Torácica, Lombar, Sacra e o Cóccix. A dor lombar é uma das alterações musculoesqueléticas mais comuns nas sociedades industrializadas, afetando 70% a 80% da população adulta em algum momento da vida, sobretudo os jovens adultos em fase economicamente ativa, sendo uma das razões mais comuns de aposentadoria por incapacidade total ou parcial (Knoplich, 1986). A dor lombar tem como causas algumas condições como: congênitas, degenerativas, inflamatórias, infecciosas, tumorais e mecânico-posturais. A lombalgia mecânico-postural, também denominada lombalgia inespecífica, representa, no entanto, grande parte das algias de coluna referidas pela população. Nela geralmente ocorre um desequilíbrio entre a carga funcional, que seria o esforço requerido para atividades do trabalho e da vida diária, e a capacidade funcional, que é o potencial de execução para essas atividades (Knoplich, 1994). A coluna vertebral é uma das estruturas que mais sofre com o sedentarismo e a má postura. Suas afecções são uma das principais causas de afastamento de atividades laborais (FORNAZARI, 2005) e Anderson (1981, apud GOULD III, 1999, pg. 517) refere que 50% a 80% dos indivíduos apresentarão dores lombares na fase adulta. Para Veronesi Junior e Azato (2003) estes distúrbios são a segunda causa de absenteísmo e de aposentadoria precoce, além de que 80% da população brasileira sofrem de alguma alteração do aparelho locomotor na fase produtiva da vida. O pólo industrial de Manaus tem atraído vários segmentos da economia pelas vantagens dos benefícios fiscais. Entre eles o segmento de duas rodas que devido a sua dinâmica e as várias exigências de produtividade e qualidade, muitas vezes não dispõem de dispositivos apropriados que atenuem o risco ergonômico a que seus trabalhadores estão expostos. Numa indústria do pólo de duas rodas em Manaus realizou-se uma análise ergonômica no setor de fabricação de aros em determinado mecanismo de conformação onde havia muitas queixas dos trabalhadores com uma prevalência de 70% de afastamento devido às algias lombares e processo de herniação discal na região lombar em conseqüência das exigências biomecânicas desfavoráveis associadas ao carregamento de peso excessivo por ocasião da troca de modelo de aros. Outro fator que impactava o processo era o set up “preparação dos equipamentos” nas referidas trocas de modelos que era de 60 minutos. Então se propôs a criação de um dispositivo mecânico que agilizasse esta operação e reduzisse o tempo de esforço do

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trabalhador, assim como a eliminação de posturas inadequadas e o carregamento de peso ao realizar a operação manualmente . A prevenção de distúrbios da coluna vertebral é fator imperativo para diminuir os altos índices de afastamento do trabalho ou mesmo de aposentadoria precoce, assim como a redução da perda de tempo no processo operacional de set up. Contudo, sabe-se que uma intervenção precoce é mais eficaz no sentido de prevenir alterações posturais e seus comprometimentos e justamente por isso que para solucionar as situações identificadas é que este trabalho propõe uma solução de engenharia para eliminar o fator de risco para a região lombar através de um dispositivo mecânico, além de aumentar a produtividade operacional.

2- DESENVOLVIMENTO Para Santos (2006), é necessária a existência da Análise da Demanda para que haja um ponto de partida e assim determinar o fenômeno desencadeador da própria análise ergonômica. Neste caso, a análise da demanda ergonômica foi função do número de queixas osteomusculares apresentadas pelos funcionários e inúmeros afastamentos por doenças ocupacionais em torno de 70% diagnosticados como lombalgia e herniação discal do setor de controle e execução das preventivas conforme demonstra a tabela abaixo, segundo o acompanhamento e emissão de controle de peças vitais.

289 222 129 98 84 79 59 56 48 22 20 17 17 14 8 6 3

25%

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Afastamento > 15 dias por Tipo 2008

FONTE: DRH

70%

Mapeamento de queixas e de afastamento por doenças ocupacionais. O gráfico de Pareto, abaixo, demonstra que as maiores queixas e afastamentos estão relacionados com a coluna vertebral (38%) seguido de ombro com (31%). As demais queixas, de ombro e pescoço, foram desprezadas por entendermos que os sintomas podem estar relacionados a irradiação de dor e por isso não ter nexo causau com a atividade desenvolvida.

FONTE: SERVIÇO SOCIAL

Afastamentos/tempo por Motivos Ergonômicos no post o das Conformações – 2008

GRÁFICO DE PARETO

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Aplicou-se a ferramenta ergonômica Nioshi que determina o risco ergonômico para a região da coluna vertebral. O resultado desta ferramenta apontou para um altíssimo risco ergonômico para a coluna vertebral na região lombar como se pode atestar na figura abaixo:

G ráfic o de Interpretaç ão

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11 ou 12 pontos BAIXISSIMO RISCO DE LOMBALGIA

08 a 10 pontos BAIXO RISCO DE LOMBALGIA

06 a 07 pontos RISCO MODERADO DE LOMBALGIA

04 a 05 pontos ALTO RISCO DE LOMBALGIA

0 a 03 Pontos ALTISSIMO RISCO DE LOMBALGIA

CRITÉRIOS DE INTERPRETAÇÃO

Fonte: Nioshi Legenda: Interpretação do resultado da ferramenta Nioshi IDENTIFICANDO A CAUSA RAIZ DO PROBLEMA: Para Cervo (1996) apud Santos (2006) pesquisar é investigar, sendo uma atividade voltada para a solução do problema. A finalidade de uma pesquisa é tentar conhecer e explicar os fatos que ocorrem nas mais diferentes formas e tentar determinar a maneira como se processam os seus aspectos de estrutura e função (OLIVEIRA, 1997). E para se buscar as causas – raiz dos problemas “Processo de set-up excessivo (troca de modelos) dos dispositivos de conformações do aro que estava gerando afastamento e queixas na região lombar dos operadores, colocando em risco a integridade física do colaborador, além do tempo maior de set up (preparação do sistema). As hipóteses para se buscar as causas dos problemas foram submetidas a ferramentas de qualidade no sentido de achar as causas-raiz dos problemas e propor soluções. Entre as ferramentas, verificou-se o ciclo DST (DRAW – SEE – THINK) e a ferramenta da Toyota - 5 Por quês. Ciclo DST: DRAW - Processo de set-up (troca de modelos) dos dispositivos das conformações do aro que não coloquem em riscos a integridade física do colaborador SEE - Processo de set-up (troca de modelos) das conformações do aro gera esforço físico e elevado afastamentos com tempo perdido desnecessário. THINK - Criar um fluxo de trabalho harmonioso, eliminando as atividades que causam transtornos ergonômicos ao colaborador e se reduza o tempo de Set up. A sistemática dos por quês. O “5 Por quês” é uma técnica para encontrar a causa raiz de um defeito ou problema. Esta ferramenta é muito usada na área de qualidade, mas na prática se aplica em qualquer área. Foi desenvolvida por Sakichi Toyoda (fundador da Toyota), e foi usada no Sistema de Produção da Toyota durante a evolução de suas metodologias de manufatura (PAIVA, 2007). A proposta dessa ferramenta é esgotar as possibilidades que não são efetivamente a causa do problema.

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POR QUÊ? PELO EXCESSO DE ESFORÇO FÍSICO

POR QUÊ? PELA NECESSIDADE DO OPERADOR EM FAZER A TROCA DOS DISPOSITIVOS DURANTE A TROCA DE MODELO.

POR QUÊ? PELA NECESSIDADE DE RAPIDEZ NA TROCA.

POR QUÊ? PELA AUSÊNCIA DE UM MECANISMO QUE REDUZA O ESFORÇO

Paiva (2007) Sistema dos 5 por quês. 2.1 OBJETIVO Melhorar as condições biomecânicas do posto de trabalho, e, conseguinte, o número de afastamento e reduzir o tempo de set up na troca de peças. Reduzir o risco ergonômico para a coluna na região lombar de 3 para 9, segundo o critério NIOSHI.

2.2 MATERIAL E MÉTODO A atividade foi analisada sobre e as exigências biomecânicas do projeto inicial pelas posturas inadequadas, movimentação de carga e o tempo apertado de set up. As analises foram submetidas aos itens da NR 17.2 A proposição de melhoria foi submetida ao setor de engenharia da organização para validação e elaboração do dispositivo na própria planta buscando-se redução no custo do dispositivo, velocidade de fabricação, redução ou eliminação de posturas inadequadas com a respectiva redução do risco ergonômico e possíveis ganhos operacionais no set up de cada mudança de modelo de aro. 3 – RESULTADO E DISCUSSÃO Para as organizações as conseqüências são diretas, pois com o afastamento dos operadores dos postos de trabalho por lesões, temos a redução da produtividade, o aumento do absenteísmo, a elevação no custo final do produto, a imagem negativa da empresa perante a sociedade, o atraso na entrega prevista dos produtos, além do estabelecimento de um ambiente desconfortável no setor de trabalho, pois o afastamento por lesões deixa um clima de dúvidas e ansiedades entre os operadores, o que repercute diretamente nos demais. Conforme dados fornecidos pelo INSS, no primeiro ano de afastamento do operador, as empresas gastam cerca de R$ 60 a 89 mil, entre encargos sociais, complementação salarial e pagamento do operador que irá suprir o trabalho daquele lesionado (O´NEILL, 2002). O conceito definido pela Lei 8.213/91, da Previdência Social determina, em seu Capítulo II, Seção I, artigo 19 que acidente do trabalho “é aquele que ocorre no exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do artigo 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, perda ou redução permanente ou temporária da capacidade para o trabalho”. Atualmente segundo o NTEP – Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário começou efetuar cobrança retroativa sobre as despesas com afastados e aposentados por motivo do código 91 do INSS – LER/ DORT caracterizado como acidente de trabalho.

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Faremos a comparação entre as condições de trabalho antes e depois da intervenção ergonômica, no sentido de comprovar as vantagens do novo método operacional. O layout de operação é amplo com pé direito de 10 metros, a edificação está bom estado de conservação, os sistemas indiretos ao funcionamento do processo estão operantes, sem situação de risco aparente de eletrocução, quedas, ou maquinas com partes móveis desprotegidas. A atividade de formatação de aros é realizada no processo de conformação de calandragem de aro. Esse processo é subdividido em: - emenda de chapa; - soldagem na borda dos aros - estoque. Em cada um desses processos, estão subdivididas em mais três operações, afim de se preparar a matéria-prima. Os equipamentos utilizados estão em perfeito estado, inclusive possuem um plano de manutenção preventiva que atesta a qualidade do processo.

EMENDA DE CHAPA E ACUMUL .

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IDENTIFICAÇÃO E RECARTILHAMENTO

CONFORMAÇÃO C/ 10 CABEÇOTES

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CALIBRAGEM C/ 6 CABEÇOTES

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SOLDA DAS BORDAS DO ARO

CALANDRAGEM E CORTE

ESTOQUE

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9DESBOBINAMENTO DA CHAPA

MATERIA PRIMA

FLUXO DE PROCESSO DE CONFORMAÇÃO E CALANDRAGEM DO ARO

ANÁLISE DA SITUAÇÃO ATUAL

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Fonte: Pesquisa Fluxo de processo de conformação do aro FLUXO DE PROCESSO DE SET UP DAS CONFORMAÇÕES A atividade de formatação de aros está subdividida em operações que consiste em liberar os roletes, retirá-los, transportá-los e depositá-los sobre a mesa. Repetir a operação com a colocação dos novos roletes. Nas figuras abaixo verificamos a seqüência de atividade, e o tempo requerido para cada operação: A atividade foi analisada pela exigência biomecânica em cada uma das tarefas: 1. Liberação do rolete: Esta ação técnica requer a elevação do eixo de fixação e a retirada de poucas com auxílio de chave de boca. A operação inversa duplica a exigência física e biomecânica com a fixação dos roletes. Esta operação tem exigência

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biomecânica na coluna vertebral com flexão de 20° a 45°, flexão e abdução de ombros de 45° a 60°, flexão de punhos com realização de esforço dos segmentos exigidos. 2. Retirada do rolete: O operador após liberar os roletes efetua a sua remoção. Os dois roletes são removidos cuidadosamente ao mesmo tempo pelo fato de sua disposição está um em cima do outro e o operador utiliza o seu próprio corpo para evitar a queda dos roletes ou acidente. Esta operação produz exigência biomecânica de flexão e torção da coluna vertebral, flexão de ombro e cotovelos com realização de esforço. 3 – Colocar os roletes na bancada do próprio equipamento: O operador coloca os roletes sobre a bancada para preparar o seu transporte até a mesa transportadora. Esta ação técnica tem exigência de torção da coluna vertebral. 4 - Transportar os roletes: O transporte é feito individualmente e de forma manual com o auxílio de ambos os braços estendidos a frente em contração estática dos músculos costais devido o momento que o peso do rolete exerce sobre o corpo do trabalhador que realiza esforço dos membros superiores e coluna vertebral. 5 – Colocar sobre a mesa os roletes: A mesa transportadora dos roletes serve de apoio para a operação de troca de roletes conforme o modelo a ser produzido. Após retirar e transportar os roletes o operador os depositas sobre a mesa de suporte. Esta ação técnica exige flexão de coluna vertebral, de cotovelos, antebraço em supinação e desvio de punho com realização de esforço para uma carga de até 8 kg em contração estática dos músculos dos membros superiores e coluna vertebral.

Fonte: Pesquisa Legenda: fluxo de processo de set up.

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3.2 TEMPO DE CICLO DA ATIVIDADE Embora esta atividade poderia ser considerada acíclica devido o ritmo e a cadência serem ditadas pelo próprio operador, se fez necessário identificar em que ação acontece a maior perda de tempo e as possíveis ações técnicas a serem tratadas no sentido de acontecer redução no tempo de cada ação técnica. Segundo o gráfico abaixo, definiu-se que a parte da retirada dos roletes é onde ocorre o maior constrangimento biomecânico e a possibilidade de reduzir o set up desta atividade. Embora as primeiras três etapas do processo representassem cerca de 60% do tempo total da operação, não seria possível alguma intervenção no sentido de mudança com vista no ganho do set up e redução do constrangimento ergonômico. Todavia na retirada dos roletes é quando acontece o maior impacto quanto à perda de tempo desnecessário, devido o trabalhador ter que repetir o transporte dos roletes individualmente e o maior constrangimento ergonômico devido a manipulação de peso em contração estática dos músculos costais devido o momento produzido pela biomecânica na posição dos braços.

Fonte: Pesquisa Legenda: Tempo de ciclo do set up

3.3 Análise do Levantamento, transporte e descarga individual de materiais. Requisito NR (17.2) Segundo os itens da NR 17 que trata da manipulação de carga, esta atividade tem infringido alguns itens como segue:

17.2.1.1. Transporte manual de cargas designa todo transporte no qual o peso da carga é suportado inteiramente por um só trabalhador, compreendendo o levantamento e a deposição da carga.

17.2.1.2. Transporte manual regular de cargas designa toda atividade realizada de maneira contínua ou que inclua, mesmo de forma descontínua, o transporte manual de cargas.

17.2.2. Não deverá ser exigido nem admitido o transporte manual de cargas, por um trabalhador cujo peso seja suscetível de comprometer sua saúde ou sua segurança.

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17.2.3. Todo trabalhador designado para o transporte manual regular de cargas, que não as leves, deve receber treinamento ou instruções satisfatórias quanto aos métodos de trabalho que deverá utilizar, com vistas a salvaguardar sua saúde e prevenir acidentes.

17.2.4. Com vistas a limitar ou facilitar o transporte manual de cargas, deverão ser usados meios técnicos apropriados.

Na tabela abaixo se realiza a análise quantitativa da operação.

______________________________________________________________________ CABEÇOTES 16/ MAQ EIXOS POR CABEÇOTE 2 POR EIXO 1 DISPOSITIVO TOTAL DE DISPOSITIVOS P/ MODELO 32 TOTAL GERAL DE DISPOSITIVOS POR TROCA 64 (Mod. retirado + mod. colocado) TEMPO DE TROCA 60 MINUTOS PESO MÉDIO DOS CABEÇOTES 17,1 KG. MÉDIA DE TROCAS MÊS 25 TROCAS PESO MÉDIO MOVIMENTADO MENSALMENTE 27 TONELADAS MEMÓRIA DE CALCULO (25 trocas X 64 dispositivo X 17,1=27.360kg) OS SET-UP’S SÃO REALIZADOS APENAS NO 2º TURNO, POR 2 OPERADORES, COM MUITO ESFORÇO FÍSICO E JOGO DE CINTURA, PARA CUMPRIR O TEMPO DO SET-UP EXIGIDO PELA PRODUÇÃO, QUE É DE (60 MIN), CAUSANDO OS RISCOS ERGONÔMICOS. Fonte: Pesquisa 3.4 Análise do Mobiliário do Posto de Trabalho. Requisito NR (17.3) MESA DE APOIO PARA O TRANSPORTE DOS ROLETES - Altura total: 80 cm - Altura do primeiro compartimento: 60cm - Apresenta quina viva. - Sem dispositivo de ajuste de altura - Dificuldade no seu manuseio devido o peso dos vários roletes. Também não foi identificado assento que atendessem ao requisito da NR 17.3.5. - Para as atividades em que os trabalhos devam ser realizados de pé, devem ser colocados assentos para descanso em locais em que possam ser utilizados por todos os trabalhadores durante as pausas. E nem o item 17.4.1. está sendo atendido - Todos os equipamentos que compõem um posto de trabalho devem estar adequados às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado. 3.5 Análise dos Equipamentos dos Postos de Trabalho. Requisito NR (17.4) BANCADA DOS ROLETES: - Apresenta quina viva; - Não possui espaço na parte inferior para acomodar os pés. -Altura total: 110 cm - Profundidade: 30 cm

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-Altura superior: 45 cm - Existe espaço suficiente para a execução das atividades. 3.6 Análise das Condições Ambientais de Trabalho. Requisito NR (17.5) Ambiente climatizado. Iluminação artificial Todos os aspectos de edificação estão satisfatórios para o conforto dos trabalhadores.

Fonte

PPRA vigente 2009 – 2010 O Ruído está acima do limite de tolerância conforme a NR 15 anexo 2. Todavia os trabalhadores não estão expostos diretamente ao risco, pois se encontram protegidos com EPI específico, apropriado e eficaz. A temperatura e iluminação atendem os requisitos da legislação pertinente. Espaço físico: Suficiente para a atividade desenvolvida e a movimentação de pessoas. 3.7 Análise da organização do Trabalho. Requisito NR (17.6) Quanto a organização do trabalho, segundo a NR 17.6, observou-se que os trabalhadores estão submetidos a pressão por parte da supervisão quanto ao tempo de set up de 60 minutos, haja vista que o fabricante do equipamento determina que este tempo de set up deverá obedecer um tempo de 70 a 80 minutos. Não foi identificado qualquer mecanismo de regulação administrativo quanto a existência de pausas, rodízios ou divisão de tarefas que pudesse amenizar a fadiga músculo-esquelético a que os trabalhadores estavam expostos. 3.8 PROPOSTA DE MELHORIA O dispositivo deverá ser confeccionado na própria planta, utilizando-se de poucos recursos e atender todos os pré-requisitos críticos operacionais, sem comprometer a qualidade do produto e evitar o esforço excessivo do trabalhador, além de reduzir o tempo de set up. O desenvolvimento do dispositivo técnico deveria atender os seguintes requisitos: - A biomecânica estaria dentro de movimentos padrões. - Não afetaria a qualidade do produto. - Material aplicado no projeto é de baixo custo. - O tempo de confecção dentro do prazo um mês. - Permanecer pelo menos no mesmo tempo de set up. - Satisfação do trabalhador. - Não afetaria a integridade física do trabalhador. - Não afetaria ao meio ambiente.

REQUISITOS VALORES

ENCONTRADOS LIMITE TOLERÁVEL

RUIDO (dB) 92 85 TEMPERATURA (IBUTG) 26,1 26,7

LUMINOSIDADE(LUX) 646 300

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DISPOSITIVO

'

LAUDO:

E-ENVIR

•OS MOVIMENTOS SERIAM DENTRO DE MOVIMENTOS PADRÕES.•Ñ AFETARIA A QUALIDADE DO PRODUTO.

•MATERIAL APLICADO NO PROJETO É DE BAIXO CUSTO.

•O TEMPO DE CONFECÇÃO DENTRO DO PRAZO 1MÊS.•O TEMPO CONTINUOU NA MÉDIA.

•SATISFAÇÃO DO COLABORADOR .

•NÃO AFETARIA A INTEGRIDADE FÍSICA DO COLABORADOR.

•NÃO AFETARIA AO MEIO AMBIANTE.

Q-QUALITY C-COST M-MAN S-SAFETYD-DELIVERY

Fonte: Pesquisa Analise crítica do dispositivo

PROTÓTIPO DO DISPOSITIVO O dispositivo foi construído na própria planta industrial com aproveitamento de materiais e confecção de peças e sistema de rodízios na ferramentaria. Objetivando a redução do custo e a velocidade na confecção. O dispositivo deveria ser versátil de fácil utilização e que eliminasse ou diminuísse as exigências biomecânicas de coluna vertebral, responsável pelo elevado número de afastamento e queixas dos trabalhadores, principalmente pela movimentação de carga constante de forma individual executado manualmente. Ao reduzir o tempo gasto na movimentação e transporte dos roletes com o dispositivo, seria possível a redução do set up nas trocas de modelos de aros, assim como a redução de acidentes e que melhorasse o conforto dos trabalhadores ao desempenharem sua atividade. TESTE PRELIMINAR Neste teste se avaliou a eficácia do dispositivo quanto a exigência biomecânica, sobretudo para a coluna vertebral e o tempo de movimentação dos roletes no set up.

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Fonte: Pesquisa Legenda: Teste preliminar do protótipo Segundo o teste com o dispositivo percebeu-se que se reduziu significativamente a exigência biomecânica na região lombar por não mais ser preciso realizar inúmeras flexões da coluna vertebral ou transporte de carga manualmente. O mecanismo de movimentação dos cilindros do dispositivo deveria ser leve e macio ou elétrico para não constranger o punho do trabalhador ou estruturas do cotovelo direito. O protótipo atenderia os quesitos de qualidade, custos, construção, satisfação do operador, evitaria queixas lombares e não afetaria o meio ambiente. 4. CONCLUSÃO Com a implantação do dispositivo de transferência dos roletes do setor de fabricação de aros computou-se os seguintes ganhos operacionais e economia de processo:

ANTES DEPOIS 1. Manipulação totalmente manual. Manipulação semi automática. 2. Movimentava 64 roletes manualmente. Movimenta 32 roletes sem grande esforço. 3. Grande exigência da coluna vertebral Praticamente sem constrangimento. 4. Risco Ergonômico altíssimo Baixo risco ergonômico. 5. Grande absenteísmo Sem absenteísmo. 6. Tempo de set up igual a 30 minutos Tempo de set up igual a 19 minutos 7. Registro de acidente Eliminação de acidentes ______________________________________________________________________ Fonte: Pesquisa Tabela 1 – Analise comparativa antes e depois do dispositivo As vantagens do dispositivo ergonômico implementado no setor de fabricação de aros se notabiliza pela eliminação do manuseio totalmente manual por um sistema semi-automático. A movimentação dos roletes também foi reduzida em 50% com a redução significativa de esforço ou exigência biomecânica para a região lomba, verificado pela redução do risco ergonômico segundo a ferramenta NIOSHI. Relativo a saúde do trabalhador, o absenteísmo praticamente inexiste, assim como as queixas álgicas para a região lombar e dos ombros. Os empregados que estavam afastados, puderam retornar ao trabalho para desenvolver suas atividades normalmente.

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Verificou-se também o atendimento a todos os subitens da NR 17.2 relativo ao transporte e manuseio de carga. Outro fator relevante está na produtividade que reduziu o tempo de set up em até 63%. O dispositivo embora tenha atendido com êxito aos seus objetivos, ainda se pretende submetê-lo a algumas melhorias: - Automatizar o sistema de movimentos através de motores de corrente contínua com bateria própria acoplada na base do carrinho. - Confecção de mais um carro para melhorar ainda mais o tempo do set up nas conformações. - Redução do peso do dispositivo com a confecção de materiais mais leves. - Substituir o sistema de manivela por um sistema acionado pelos pés ou elétrico. 5. BIBLIOGRAFIA ABRANTES, Antônio Francisco Atualidade em ergonomia – Logística, Movimentação de Materiais, Engenharia Industrial e Escritórios. São Paulo IMAM, 2004. BAÚ, Lucy Mara Silva Fisioterapia do trabalho: ergonomia, legislação, reabilitação. Curitiba: CLÃDOSILVA, 2002 CHAFFIN, Don. B. Biomecânica Ocupacional. Traduzido por Fernanda Saltiel Barbosa da Silva. Ergo Editora Ltda. 2001. COUTO, Hudson de Araujo et. ali. Gerenciando as L.E.R e as D.O.R.T nos tempos atuais. – Belo Horizonte, ERGO editora, 2007. COUTO, Hudson de Araujo. Como instituir a ergonomia na empresa. A prática dos comitês de ergonomia – 2ed. – Belo Horizonte, ERGO, 2011. DINIZ, Ana Paola Santos Machado Saúde no trabalho: Prevenção, dano e reparação São Paulo, Editora Ltda, 2003. FALZON, Pierre Ergonomie. Editora Blucher, 2007. FORNAZARI, L. P. Prevalência de postura escoliótica em escolares de duas escolas de ensino fundamental do município de Guarapuava – PR, 2005. 84 p. Dissertação. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.Ribeirão Preto, 2005. FRANÇOIS, Daniellou, BETIOL, M. I. S. A ergonomia em busca de seus princípios: debates epistemológicos São Paulo Editora Blucher, 2004. IIDA, ITIRO Ergonomia: projetos e produção – 2 edição ver. e ampl. – São Paulo: Edgard Blucher, 2005. DUL, Jan & WEERDMEESTER, Bernard Ergonomia Prática São Paulo Edgard Blucher, 2004. LUIZ, de Paiva http://ogerente.com/logisticando/2007/02/02 KNOPLICH, José. Enfermidade da coluna vertebral. São Paulo. IBRASA, 1986. KNOPLICH, José. Viva bem com a coluna que você tem. São Paulo. IBRASA, 1994. OLIVEIRA, S.L Tratado de metodologia científica. São Paulo: Pioneira, 1997. O’NEILL, Maria José. Quanto custa evitar custos? Disponível em: <http://www.uol.com.br/prevler/Artigos/ong.htm>. Acesso em: 11 Fev. 2012. PEREIRA, 2003 E.R. Fundamentos de Ergonomia e Fisioterapia do Trabalho Rio de janeiro Taba Cultura, 2003. SÄ, Sérgio Ergonomia e coluna vertebral no seu dia-a-dia Rio de janeiro Taba Cultura, 2002. SANTOS, E.F. ; SANTOS G.F. Análise de Riscos Ergonômicos. 2006, Ergo Brasil, Jacareí. SP, Brasil.

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