Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CIBELE MAGGIONI MARTINS DÉBORA HARMEL PROPOSIÇÃO DE NOVAS TÉCNICAS PARA A CARACTERIZAÇÃO DE CAL HIDRATADA PARA A CONSTRUÇÃO CIVIL EM CONTRAPARTIDA ÀS ESPECIFICAÇÕES DA NBR 7175 CURITIBA 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

CIBELE MAGGIONI MARTINS

DÉBORA HARMEL

PROPOSIÇÃO DE NOVAS TÉCNICAS PARA A CARACTERIZAÇÃO DE CAL

HIDRATADA PARA A CONSTRUÇÃO CIVIL EM CONTRAPARTIDA ÀS

ESPECIFICAÇÕES DA NBR 7175

CURITIBA

2012

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CIBELE MAGGIONI MARTINS

DÉBORA HARMEL

PROPOSIÇÃO DE NOVAS TÉCNICAS PARA A CARACTERIZAÇÃO DE CAL

HIDRATADA PARA A CONSTRUÇÃO CIVIL EM CONTRAPARTIDA ÀS

ESPECIFICAÇÕES DA NBR 7175

CURITIBA

2012

Trabalho de conclusão de curso apresentado à disciplina Trabalho Final de curso como requisito parcial à conclusão do Curso de Engenharia Civil, Setor de Tecnologia, Universidade Federal do Paraná. Orientadora: Profa. Dra. Marienne do Rocio de Mello Maron da Costa

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AGRADECIMENTOS

Aos nossos pais, Nerci M. Maggioni Martins e Jorge Adauto Martins (Cibele) e

Margareth Sonntag Harmel e Cláudio Harmel (Débora), e irmãs, Iara Maggioni

Martins e Betina Harmel, pelo apoio e amor incondicional.

A nossa orientadora, Marienne do Rocio de Mello Maron da Costa, pela orientação, apoio, tempo dedicado a este trabalho e conhecimentos transmitidos.

Ao Alécio Júnior Mattana, pelo apoio, atenção, companheirismo e conhecimento compartilhado. Ao Prof. José Manoel dos Reis Netos por abrir as portas do LAMIR, permitindo a realização dos ensaios que foram fundamentais a este trabalho, e por compartilhar conhecimento e esclarecer algumas dúvidas.

Aos técnicos do LAMIR, Franciele de Oliveira Czervinski, Leandro Keiji Maurer Ozahata, Rodrigo Secchi e Elisiane R. Pescini, pelas reuniões e auxílio na execução dos ensaios. Ao Gabriel Augusto Carvalho pelo apoio, compreensão e pelo auxílio prestado em todos os momentos. À Leticia Scheifer, por abrir mão de seu tempo livre e colaborar na realização deste trabalho. Às nossas colegas de curso de Engenharia Civil, em especial à Kerolyn Postigo Marangoni, Emilly Hirt, Giselle de Fátima Gronovicz e Mayara Arboite Joaquim, pelo apoio durante o desenvolvimento deste trabalho. A todos que contribuíram de alguma forma para a conclusão deste trabalho.

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RESUMO

A cal como material de construção vem sendo utilizada desde milhares de anos a.C, seja como reforço de solos na construção de estradas, ou também como aglomerante em argamassas. No Brasil, a maioria das cales fabricadas é resultado da calcinação de calcários/dolomitos metamórficos de idades geológicas diferentes, geralmente muito antigas. Na região sul e sudeste predominam os dolomitos e calcários magnesianos e no restante do país há predominância dos calcários calcíticos. No comércio encontram-se basicamente dois tipos de cal para a construção civil, a cal virgem e a cal hidratada, sendo a primeira o principal produto da calcinação das rochas, e a segunda um produto da reação da primeira com a água. Pode-se fazer outra subdivisão das cales hidratadas, em cal hidratada cálcica, dolomítica e magnesiana, subdivisões estas que são feitas de acordo com o hidróxido presente predominante. O mercado da construção civil incorporou diversos fornecedores deste aglomerante devido à sua facilidade de produção, porém seus produtos devem apresentar requisitos mínimos de aceitação para que sejam comercializados. A NBR 7175:2003 - Cal hidratada para argamassas estabelece exigências químicas e físicas que devem ser respeitadas pelo produto cal hidratada. Estas exigências são obtidas através de ensaios de caracterização propostos nessa norma, alguns necessitando de inovação e de maior representatividade para o produto cal hidratada para a construção civil. Novas técnicas laboratoriais na área de materiais de construção no que se refere à caracterização química e física estão disponíveis, apresentando resultados complementares, ou até mesmo resultados similares aos de norma, sendo executados com maior precisão e facilidade de execução. Dentre essas técnicas complementares, destacam-se a Termogravimetria, Espectrometria de Fluorescência de Raios X e Difratometria de Raios X na análise química e Granulometria a Laser na análise física. Sendo assim, este trabalho tem como objetivo apresentar novas técnicas de caracterização para o produto cal, ensaiando-se um universo amostral amplo de cales hidratadas comercializadas no Brasil, e verificando-se se estas técnicas apresentam resultados representativos que possam complementar ou substituir ensaios indicados na norma brasileira. A partir dos resultados obtidos foi possível observar que os referidos ensaios demonstram ser uma alternativa mais rápida para a caracterização química e física estabelecida na norma de especificação NBR 7175 , desde que ajustes de procedimento sejam devidamente realizados com base nas características específicas desse produto.

Palavras-chave: cal hidratada, NBR 7175, argamassas.

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ABSTRACT

The lime has been manufactured since thousands of years before A.D. It can be use as soil backup for road construction, or also as the complement in mortar. In Brazil, most manufactured lime oxides are result of limestone/metamorphic dolostone from different geological ages, usually very old. In the south and southeast regions, the dolostones and limestones are predominant. In the rest of the country, it’s more common the application of high lime. At local stores, you can find basically two kinds of lime oxides: plain and hydrated. The first one is the product of rock calcinations, while the latter is the result of the first one when mixed with water. You can subdivide the hydrated limes into: hydroxides of lime, dolomitic and magnesium, which are made according with the predominant hydroxide. The construction market has incorporated different providers for those products, since the production is considered easy to achieve. However, it is necessary for them to be into Brazilian rules so that it can be sold. The NBR (Brazilian Norm) 7175:2003 – hydrated lime oxides for lime has some chemical and physical demands that must be respected. Those demands are made after scientific tests so that it is shown the specific characteristics of the elements. Some of those tests are in need of an update and more representation of the empirical use for construction and civil engineering. New techniques are available, bringing complementary data and results, sometimes even similar to the ones from the NBR norm, being executed more precisely and easily. Some of these complementary techniques are: Thermogravimetric analysis, X-Ray Fluorescence Spectroscopy and X-Ray Scattering Techniques in chemistry and Laser Soil Gradation in physics. That being said, this publication has the purpose of presenting new techniques for the characterization of lime oxides, using a vast universe of hydrated lime oxides sold in Brazil and verifying if these techniques present significant results that can complement or replace the essays being used right now on the Brazilian norm. Based on the obtained results, it was possible to conclude that these tests prove to be a faster alternative to the chemical and physical characterization of the NBR 7175 norm, provided that adjustments to the procedures are performed depending on the products characteristics.

Keywords: hydrated lime, NBR 7175, mortars.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 1

1.1 ESCOPO GERAL ............................................................................................................................. 1

1.2 OBJETIVO ...................................................................................................................................... 2

1.3 JUSTIFICATIVA .............................................................................................................................. 3

1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO .......................................................................................................... 4

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................................................. 5

2.1 CAL: ORIGEM E FABRICAÇÃO ....................................................................................................... 5

2.2 TIPOS DE CAL PARA CONSTRUÇÃO CIVIL ..................................................................................... 9

2.2.1 Cal Aérea .................................................................................................................................. 9

2.2.2 Cal Hidráulica .......................................................................................................................... 11

2.3 CONTROLE DE QUALIDADE DAS CALES HIDRATADAS ................................................................ 12

2.4 USO DA CAL EM ARGAMASSAS .................................................................................................. 14

2.5 TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO DAS CALES .............................................................................. 18

2.5.1 NORMALIZAÇÃO BRASILEIRA ................................................................................................. 18

2.5.2 ENSAIOS COMPLEMENTARES ................................................................................................. 19

2.5.2.1 GRANULOMETRIA A LASER..................................................................................................... 19

2.5.2.2 DIFRATOMETRIA DE RAIOS-X ................................................................................................. 20

2.5.2.3 ESPECTROMETRIA DE FLUORESCÊNCIA DE RAIOS-X .............................................................. 22

2.5.2.4 TERMOGRAVIMETRIA ............................................................................................................. 23

3. METODOLOGIA ............................................................................................................................... 27

3.1 MATERIAIS UTILIZADOS .............................................................................................................. 28

3.2 MÉTODOS REALIZADOS .............................................................................................................. 29

3.2.1 MASSA ESPECÍFICA E MASSA UNITÁRIA ................................................................................. 29

3.2.2 GRANULOMETRIA A LASER..................................................................................................... 31

3.2.3 DIFRATOMETRIA DE RAIOS-X ................................................................................................. 31

3.2.4 ESPECTROMETRIA DE FLUORESCÊNCIA DE RAIOS-X .............................................................. 32

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3.2.5 TERMOGRAVIMETRIA ............................................................................................................. 33

3.2.6 ANÁLISE QUÍMICA PELA NBR 6473:2003 ............................................................................... 34

3.2.7 ANÁLISE DA FINURA PELA NBR 9289:2000 ............................................................................ 35

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................................................... 37

4.1 MASSA ESPECÍFICA E MASSA UNITÁRIA ..................................................................................... 37

4.2 ANÁLISE QUÍMICA DA NBR 6473:2003....................................................................................... 38

4.3 ANÁLISE QUÍMICA – NOVAS TÉCNICAS ...................................................................................... 40

4.3.2 RESULTADOS DE TERMOGRAVIMETRIA ........................................................................................ 44

4.3.3 ANÁLISE QUÍMICA COMPLETA PELA ESPECTROMETRIA DE FLUORESCÊNCIA DE RAIOS-X E

TERMOGRAVIMETRIA ............................................................................................................................. 48

4.3.4 DIFRATOMETRIA DE RAIOS-X ................................................................................................. 50

4.3.5 GRANULOMETRIA A LASER - ANÁLISE FÍSICA ......................................................................... 52

5. CONCLUSÕES .................................................................................................................................. 56

6. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ...................................................................................... 58

REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................... 59

ANEXOS .................................................................................................................................................. 62

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Reservas medidas de Calcários/Dolomitos no Brasil (1990 - em milhões de toneladas)

(GUIMARÃES, 2002) ................................................................................................................................. 4

Figura 2 - Extração de pedra calcária para fabricação da cal (COELHO, et al. 2009) ............................... 5

Figura 3 - Influência da temperatura de calcinação (PAIVA et al., 2007) ................................................. 7

Figura 4 - Esquema de industrialização da cal (GUIMARÃES, 2002) ........................................................ 8

Figura 5 - Benefícios da cal nas argamassas (GUIMARÃES, 2002) ......................................................... 18

Figura 6 - Esquema de leitura de granulometria pelo Granulômetro a Laser ....................................... 20

Figura 7 - Arranjo básico de um difratograma de raios-x (GEMELLI, 2001 apud PEREIRA, 2012) ......... 21

Figura 8 - Figura de Difração de raios x de cal hidratada (HOPPE, J. F, 2008)........................................ 22

Figura 9 – Espectro de fluorescência de raios X de calcário (MATIAS, L., 2007) .................................... 23

Figura 10 - Exemplo de curva TG/DTG de cal CH-III (QUARCIONI, 2008) ............................................... 25

Figura 11 - Resumo da metodologia adotada ........................................................................................ 27

Figura 12 - Figura ilustrando as bombonas de armazenagem das cales (LATECA-UFPR) ...................... 28

Figura 13 - Fluxograma de preparação de amostras para envio aos laboratórios................................. 29

Figura 14 - A) Ensaio de Massa Unitária (LATECA-UFPR); B) Arrasamento de superfície (LATECA-UFPR)

................................................................................................................................................................ 30

Figura 15 - Ensaio de Massa Específica .................................................................................................. 31

Figura 16 – a) Molde para prensagem das amostras; b) Difratômetro de Raios-X (LAMIR, UFPR) ....... 32

Figura 17 – Confecção das pastilhas para o ensaio de FRX. A) Prensa; B) Pastilha de cal (LAMIR/UFPR)

................................................................................................................................................................ 32

Figura 18 - Equipamento utilizado no ensaio de Espectrometria de Fluorescência de Raios-X (LAMIR-

UFPR) ...................................................................................................................................................... 33

Figura 19 - A) Amostra de cal e cadinhos utilizados no ensaio de Termogravimetria; B) Equipamento

de Termogravimetria (LAMIR/UFPR) ..................................................................................................... 34

Figura 20 - Resultados de Massa Específica ........................................................................................... 37

Figura 21 - Resultados de Massa Unitária .............................................................................................. 37

Figura 22 - Comparação de Resultados de Massa Unitária .................................................................... 40

Figura 23 - Correlação entre os resultados de Massa Unitária .............................................................. 40

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Figura 24 - Análise NBR 6473 x FRX (Teor de Cao e MgO) ..................................................................... 42

Figura 25 - Correlação entre ensaios...................................................................................................... 43

Figura 26 – Curva TG/DTA da amostra I-A ............................................................................................. 44

Figura 27 – Curva TG/DTAda amostra III-B ............................................................................................ 45

Figura 28 - Difratograma da amostra I-A ............................................................................................... 51

Figura 29 - Difratograma da amostra III-E .............................................................................................. 51

Figura 30 - Curvas Granulométricas ....................................................................................................... 53

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Exigências químicas (Norma Brasileira – NBR 7175:2003) ................................................... 13

Tabela 2 - Exigências físicas (Norma Brasileira – NBR 7175:2003) ........................................................ 14

Tabela 3 - Nomenclatura das cales ........................................................................................................ 28

Tabela 4 - Cálculo do teor de óxidos não hidratados ............................................................................. 35

Tabela 5 - Resultado da Análise Química pela NBR 6473....................................................................... 38

Tabela 6 - Resultados de FRX e PF .......................................................................................................... 41

Tabela 7 - Análise comparativa dos resultados de FRX e dos resultados da NBR 7175 ......................... 41

Tabela 8 - Análises do ensaio de Termogravimetria .............................................................................. 46

Tabela 9 - Caracterizações obtidas pelas análises de FRX e TG ............................................................. 47

Tabela 10 - Cálculos da NBR 7175 para obtenção dos teores de óxidos não hidratados e de óxidos

hidratados .............................................................................................................................................. 48

Tabela 11 - Análise comparativa entre as metodologias ....................................................................... 49

Tabela 12 - Legenda dos gráficos de DRX ............................................................................................... 51

Tabela 13 - Resultados de Finura - NBR 9289 ........................................................................................ 54

Tabela 14 - Comparações da NBR 7175 - Análise Física ......................................................................... 54

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1. INTRODUÇÃO

1.1 ESCOPO GERAL

A história da cal pode ser contada paralelamente à evolução das civilizações,

pois sua presença em construções de suma importância histórica é marcante. O

homem conheceu a cal provavelmente nos primórdios da Idade da pedra

(GUIMARÃES, 1998). Porém sua utilização como aglomerante na construção civil

remonta à civilização egípcia, milhares de anos a. C.

A cal virgem, cal viva ou cal ordinária, é o principal produto da decomposição

térmica do calcário a elevadas temperaturas; esse processo é chamado de

calcinação. Os calcários são rochas sedimentares que possuem minerais de

carbonato de cálcio (calcita) ou carbonato de cálcio e magnésio (dolomita). Depois

de extraído, selecionado e moído, o calcário é submetido ao processo de calcinação

do qual se obtém o óxido de cálcio (CaO) e o óxido de magnésio (MgO), ou seja, a

cal.

A cal hidratada, por sua vez, resulta da hidratação da cal virgem. Esse

mecanismo no qual a cal virgem reage com água convertendo-se em hidrato é

conhecido como hidratação ou extinção. A composição química do hidróxido de

cálcio, ou cal hidratada, varia de acordo com as características da cal viva que lhe dá

origem (GUIMARÃES, 1998). Sendo assim, por definição, cal hidratada é um pó

obtido pela hidratação da cal virgem, constituído essencialmente de uma mistura de

hidróxido de cálcio e hidróxido de magnésio, ou ainda, de uma mistura de hidróxido

de cálcio, hidróxido de magnésio e óxido de magnésio (NBR 7175, ABNT, 2003).

As cales hidratadas são classificadas pela NBR 7175 de acordo com sua

composição química, como: CH I, CH II e CH III, diferenciando-se basicamente pelo

teor de CO2 (RAGO et al, 1999). Outros fatores determinados por norma são os

óxidos não hidratados cujo máximo permitido para CH III é de 15% e para CH I é de

10% e os óxidos totais cujo mínimo é de 88% para CH III e 90% para CH I.

Apesar disso, com a NBR 7175 não é possível obter dados efetivos de

caracterização das cales, limitando assim seu potencial de utilização nas

argamassas, visto que o potencial do produto não é apresentado a partir destes

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requisitos. Sendo assim, novos e mais precisos conceitos de caracterização das

cales hidratadas devem ser inseridos visando uma avaliação mais precisa e realista

sobre o produto cal para construção civil.

A cal hidratada possui diversas aplicações dentre as quais vale ressaltar sua

utilização como aditivo para asfaltos, pintura, tratamento de água, estabilização

química de solos e aglomerante para argamassas, sendo essa última a mais

relevante para o estudo em questão. O aglomerante é o hidróxido e a capacidade

aglomerante da cal hidratada é quantificada pelo teor dos hidróxidos presentes no

produto. No estado fresco a cal fornece maior plasticidade à argamassa, o que

acarreta numa melhor trabalhabilidade para a mistura. Por possuir baixo módulo de

elasticidade, a cal contribui para a capacidade de absorção de deformações na

argamassa em sua fase endurecida.

1.2 OBJETIVO

Desenvolver um estudo referente à implantação de novas técnicas

laboratoriais a fim de aprimorar o conhecimento sobre a cal hidratada ofertada no

mercado. A NBR 7175:2003 (Cal hidratada para argamassas) estipula determinados

requisitos cuja finalidade está em avaliar as características físicas e químicas do

material em análise. Propõe-se a realização de ensaios complementares aos

especificados na NBR 7175 que permitam uma avaliação mais efetiva sobre as

características da cal hidratada, a fim de tornar possível um diagnóstico mais preciso

em relação à sua qualidade, bem como ampliar o seu potencial para o emprego em

argamassas. Os ensaios complementares sugeridos nesse estudo são o de

Termogravimetria, Espectrometria de Fluorescência de Raios-X, Difratometria de

Raios-X e Granulometria a laser.

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1.3 JUSTIFICATIVA

Pela diversidade de aplicações, a cal está entre os dez produtos de origem

mineral de maior consumo no planeta. Estima-se que sua produção mundial esteja

em torno de 145 milhões de toneladas por ano. Atualmente, o Brasil é o sexto país

com mais reservas de calcário do planeta e há centenas de produtores distribuídos

em todo o território nacional. Devido a sua ampla utilização, a cal necessita de um

rígido controle de qualidade. Com a finalidade de definir limites aos materiais

empregados na construção civil, a ABNT (Associação Brasileira de Normas

Técnicas) cria normas que devem ser acatadas em todo o Brasil. A NBR 7175:2003,

que rege os parâmetros da cal hidratada, sofreu modificações desde sua criação. A

norma brasileira referente à cal hidratada NBR 7175 (ABNT, 1992) nasceu como EB-

1.53, e se baseou em grande parte nas especificações da ASTM C-110 (ASTM,

1976), após vários estudos sobre a qualidade da cal hidratada brasileira

(CINCOTTO, IPT, 1976), observou-se que certos limites deveriam ser reavaliados. A

quantidade de CO2 no produto final aparece como um dos fatores mais polêmicos no

curso de atualização da referida norma, sendo este o responsável pela atual

classificação dos três tipos de cales, ao lado de teor de óxidos, plasticidade e

retenção de água (RAGO et al, 1999). Assim sendo, a inclusão dos ensaios de

Termogravimetria, Espectrometria de Fluorescência de Raios-X, Difratometria de

Raios-X e Granulometria a laser na NBR 7175 vem a ser de importante contribuição

para a avaliação das cales nacionais. Vale destacar a importância deste estudo para

a região Leste do Paraná, onde se localiza Curitiba, pois se trata de uma área rica

em calcário dolomítico. A figura 1 ilustra a disposição das reservas em todo o país.

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Figura 1 - Reservas medidas de Calcários/Dolomitos no Brasil (1990 - em milhões de toneladas)

(GUIMARÃES, 2002)

1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO

A estrutura deste trabalho se divide em 6 capítulos.

O primeiro capítulo apresenta uma breve introdução sobre o assunto, bem

como objetivos e justificativas para o presente trabalho.

O capítulo seguinte, capítulo 02, comporta a revisão bibliográfica, em que

são abordados conceitos sobre cales, sua caracterização a partir de análises

químicas e físicas e sua utilização em argamassas.

O capítulo 03 apresenta uma descrição dos materiais e métodos utilizados

neste trabalho para a obtenção dos resultados, mostrando detalhadamente os

passos realizados para o alcance de resultados representativos.

Já o capítulo 04 expõe os resultados obtidos na pesquisa, através de

tabelas, gráficos e comparações.

No capítulo 05 são definidas as conclusões e considerações finais.

Por fim, no capítulo 06 são apresentadas sugestões para estudos futuros.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 CAL: ORIGEM E FABRICAÇÃO

A cal tem origem mineral, compostos químicos cristalograficamente

organizados, formados desde a época pré-cambriana, entre 4 milhões e 4,5 milhões

de anos atrás até os dias atuais. (GUIMARÃES, 1998). As rochas carbonatadas, que

representam 0,25% do volume da crosta terrestre, estão entre as rochas e minerais

mais utilizadas pelo homem.

As rochas carbonatadas cálcio-magnesianas são constituídas em 50% ou

mais pelos minerais como calcita, aragonita e dolomita. GUIMARÃES, 1998 propõe

uma classificação destas rochas de acordo com a quantidade de carbonato de cálcio

(CaCO3), carbonato de magnésio (MgCO3), cálcio (Ca) e magnésio (Mg) presente

no calcário, classificando-os como calcário magnesiano, calcário dolomítico, dolomito

e pencatito-predazzito. A seguir a Figura 02 ilustra a extração da pedra calcária para

fabricação da cal.

Figura 2 - Extração de pedra calcária para fabricação da cal (COELHO, et al. 2009)

O principal produto derivado dos calcários/dolomitos é a cal, obtida através

de uma reação química simples, a calcinação, mas que requer conhecimentos e

habilidades para o alcance do padrão de qualidade ideal.

A decomposição térmica da dolomita no interior do forno de cal ocorre em

dois estágios de reação (CINCOTTO, 1977), como indicado a seguir:

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1° Estágio de Calcinação

(CaMg)(CO3)2 → MgO + CaCO3 + CO2

2° Estágio de Calcinação

CaCO3 → Cao + CO2

No primeiro estágio, em que a dissociação está em curso, a porosidade

cresce atingindo o máximo, quando se inicia o fenômeno de coalescimento

(tratamento térmico de recozimento com a finalidade de obtenção de carbonetos na

forma esfeirodal). A partir deste momento inicia-se o segundo estágio, de

recristalização, e o perfil dos cristais evolui de arredondado para achatado. Os poros,

analogamente, passam de um perfil arredondado para o poligonal. Na fase de

recristalização já se nota retração da pedra. (CINCOTTO, 1985).

O processo de calcinação condiciona de forma determinante as propriedades

da cal, podendo nos casos em que não haja um controle rigoroso da temperatura

resultar em cristais de cal insolúveis (excesso de temperatura) ou em cristais com o

seu interior carbonatado. (COELHO et al., 2009).

A fabricação da cal ocorre desde fornos rudimentares de pequena produção,

até fornos de alta tecnologia e produção volumosa. Após a extração da jazida, a

pedra calcária é transportada até a fábrica para ser submetida a um processo de

britagem. Em seguida, pode ser moída e embalada para comercialização, ou pode

levar-se até o forno de calcinação para ser transformada. Após a calcinação, a cal

pode ser moída e comercializada na forma de cal virgem, ou pode ainda sofrer um

processo de hidratação e ser finalmente comercializada. (COELHO, et. al. 2009).

A calcinação perfeita das rochas calcárias/dolomíticas depende

particularmente da experiência do operador e do seu principal instrumento, o forno.

Diversos fatores valorizam o papel do operador do forno. Alguns desses fatores

sequer estão relacionados como importantes, mas podem interferir na calcinação,

como a retração da pedra calcinada (inicialmente expandida), a recarbonatação (no

resfriador ou no forno), efeito do vapor, a porosidade, o tamanho dos poros,

densidade e forma dos grânulos, área superficial do grão e compostos químicos

formados com a participação das várias impurezas (GUIMARÃES, 2002).

Dentre esses fatores destaca-se a presença de impurezas, que diminui a

porcentagem de CaO livre (reativa). O problema só é reduzido com calcinação a

Page 17: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

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baixa temperatura. A presença de 2% de impurezas, por exemplo, pode ocasionar

perda de até 8% de Cao livre (GUIMARÃES, 2002).

A qualidade da cal está relacionada ao seu processo de fabricação desde o

controle de qualidade do minério até a forma de hidratação. A obtenção da cal pode

ser de uma maneira artesanal ou industrializada. A primeira, sem controle de

tamanho, temperatura de calcinação, volume de água para hidratar entre outros

cuidados, origina uma cal com cristais insolúveis, produzidos com temperaturas

elevadas, ou cristais com o seu núcleo carbonatado por falta de calor, além de

partículas com tamanhos irregulares, produzidos por uma má trituração (PAIVA et

al., 2007). A Figura 03 abaixo mostra a influência da temperatura de calcinação na

produção da cal.

Figura 3 - Influência da temperatura de calcinação (PAIVA et al., 2007)

Uma cal cálcica hidrata com maior facilidade que uma cal dolomítica. O óxido

de cálcio, CaO tem elevada taxa de hidratação na presença de água. O óxido de

magnésio, MgO apresenta uma lenta taxa de hidratação devido às suas partículas

serem mais grossas. (LANAS et. al. 2004)

Fatores como a qualidade da cal virgem – tipo, composição química,

impurezas; granulometria da cal virgem; reatividade da cal virgem; temperatura e

volume de água; qualidade da água; velocidade da reação óxido/água; concentração

– relação óxido/água; agitação; equipamentos; mão de obra especializada, mediante

seleção e supervisão; controle laboratorial tem influencia significativa na hidratação

da cal (GUIMARÃES. 2002).

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Sendo assim, pode-se resumir o processo de fabricação da cal através do

fluxograma apresentado a seguir na Figura 04, em que está representado o volume e

refinamento da tecnologia envolvida na fabricação do mais popular reagente químico

(aglutinante) desde a mineração até o mercado consumidor. Algumas operações, ou

até mesmo etapas, podem ser suprimidas, mas os fundamentos estão presentes em

todos os esquemas, dos mais simples aos mais sofisticados. (GUIMARÃES, 2002)

Figura 4 - Esquema de industrialização da cal (GUIMARÃES, 2002)

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2.2 TIPOS DE CAL PARA CONSTRUÇÃO CIVIL

De acordo com a NBR 7175:2003, a cal hidratada é um pó obtido pela

hidratação da cal virgem, constituído essencialmente de uma mistura de hidróxido de

cálcio e hidróxido de magnésio, ou ainda, de uma mistura de hidróxido de cálcio,

hidróxido de magnésio e óxido de magnésio

Segundo a norma NP EN 459-1:2002 – Cal de Construção, pode-se definir

cal como um material abrangendo quaisquer formas físicas e químicas, sob as quais

pode aparecer o óxido de cálcio (CaO), o óxido de magnésio (MgO) e/ou hidróxidos

de cálcio e magnésio (Ca(OH)2 e Mg(OH)2 (COELHO, et. al. 2009). Na construção

civil utiliza-se um grupo de produtos de cal, constituído apenas por duas famílias: cal

aérea e cal com propriedades hidráulicas (NP EM 459-1 2011).

A cal aérea nada mais é do que a cal que se combina e endurece com o

dióxido de carbono presente no ar e pode ser dividida em duas famílias, a cal cálcica

e a cal dolomítica. Por sua vez, a cal hidráulica tem a propriedade de endurecer

quando misturada com água ou quando imersa em água, o dióxido de carbono

atmosférico é responsável apenas por uma parte do processo de endurecimento (NP

EM 459-1 2011).

2.2.1 Cal Aérea

A cal aérea é um tipo de cal para construção civil que pode ser subdividida

em duas subfamílias, a cal cálcica e a cal dolomítica. A primeira é constituída

principalmente por óxido de cálcio ou hidróxido de cálcio, sem qualquer adição

hidráulica ou pozolânica, e a segunda constituída principalmente por óxido de cálcio

e magnésio ou hidróxido de cálcio ou magnésio, também sem qualquer adição

hidráulica ou pozolânica (NP EM 459-1 2011).

Além disso, a cal aérea pode apresentar-se em duas formas, como cal

virgem e como cal hidratada. A cal virgem é constituída principalmente por óxidos,

que reagem exotermicamente com a água. Está disponível numa gama de

granulometrias, desde grânulos a pó. Já a cal hidratada é constituída principalmente

por hidróxidos, produzida pela extinção controlada da cal aérea. Pode-se encontrar

Page 20: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

10

cal hidratada disponível em forma de pó, pasta e lama ou leite de cal (NP EM 459-1

2011).

A cal virgem apresenta-se sob a forma de grãos de diferentes tamanhos, de

cor branca e amorfa. Apresenta uma estrutura porosa e formas idênticas às dos

grãos da rocha original. A cal virgem é ávida de água e quando se mistura com ela,

dá origem à cal hidratada. Libertando grande calor durante a reação e provocando

também um aumento de volume que chega a atingir 3 a 3,5 vezes o seu volume

inicial. Se durante o processo de extinção utilizar-se apenas a quantidade de água

estritamente necessária, a cal hidratada resultante aparece sob a forma de pó

(COELHO et al., 2009).

A operação de hidratação é denominada por extinção e o hidróxido

resultante designa-se por cal extinta ou cal hidratada. Este fenômeno é exotérmico,

isto é, há uma grande liberação de calor, o que torna o processo altamente perigoso

(COELHO et al., 2009).

A cal hidratada é originada em decorrência da reação da cal viva com água

ocasionando o seguinte desprendimento de calor:

+ 63.7kJ/mol de CaO.

As cales extintas são cales aéreas constituídas, principalmente, por hidróxido

de cálcio e, por vezes, contendo hidróxido de magnésio. Estas por sua vez, não

apresentam uma reação exotérmica quando em contato com a água (COELHO et al.,

2009).

Uma cal hidratada de elevada pureza é composta basicamente por hidróxido

de cálcio [Ca(OH)2] e também por hidróxido de magnésio [Mg(OH)2]. A análise

química da cal permite inferir sobre a composição mineralógica do material, o grau

de pureza da matéria prima, parâmetros da produção da cal, acondicionamento e

conservação do produto (QUARCIONI, 2008).

Segundo a NBR 7175:2003, cal hidratada é um pó obtido pela hidratação da

cal virgem, constituído essencialmente de uma mistura de hidróxido de cálcio e

hidróxido de magnésio, ou ainda, de uma mistura de hidróxido de cálcio, hidróxido de

magnésio e óxido de magnésio. Este material deve ser denominado conforme as

Page 21: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

11

exigências químicas e físicas indicadas da presente norma e apresentadas no item

2.3 deste trabalho, apresentando as seguintes siglas:

- Cal Hidratada CH-I

- Cal Hidratada CH-II

- Cal Hidratada CH-III

2.2.2 Cal Hidráulica

De modo geral, a cal hidráulica pode ser classificada como um produto

intermediário entre a cal virgem e o cimento Portland. Resulta da calcinação de

calcários argilosos, procedimento que produz a combinação do óxido de cálcio com a

sílica-quartzo e os minerais argilosos, formando relativa alta porcentagem de

compostos com propriedades hidráulicas (GUIMARÃES, 2002).

A cal Hidráulica é fabricada por processos semelhantes aos da fabricação da

cal aérea. Obtém-se por calcinação de calcários margosos (8 a 20% de argilas), a

temperaturas entre 1000°C a 1500°C, preferencialmente em fornos contínuos

verticais de alvenaria e revestimento refratário. Deste processo, obtém-se óxido de

cálcio, silicatos e aluminatos de cálcio, capazes de se hidratarem conferindo

hidraulicidade à cal (COELHO et al., 2009).

A cal com propriedades hidráulicas, quando dosada e misturada com

agregados e com água produz uma argamassa que retém a sua trabalhabilidade

durante certo tempo e, após determinados períodos, atinge uma resistência

especificada e estabilidade volumétrica a longo prazo. (NP EM 459-1 2011).

De acordo com seu poder cimentante a cal hidráulica pode ser caracterizada

por um dos dois índices:

Índice de hidraucilidade = i

i = SiO2 + Al2O3 + Fe2O3

CaO + MgO

Índice de cimentação = CI

CI = 2,8SiO2 + 1,1Al2O3 + 0,7Fe2O3

CaO + 1,4MgO

Com base nessas duas fórmulas, as cales hidráulicas são arbitrariamente

classificadas:

Page 22: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

12

Fracamente hidráulica

CI = 0,30 a 0,50 ou i = 0,10 a 0,16

Moderadamente hidráulica

CI = 0,50 a 0,70 ou i = 0,16 a 0,40

Eminentemente hidráulica

CI = 0,70 a 1,10 ou i = 0,40 a 0,50 (GUIMARÃES, 2002).

2.3 CONTROLE DE QUALIDADE DAS CALES HIDRATADAS

O controle de qualidade de cal hidratada para construção inicia-se pela

seleção da matéria prima com pureza adequada, prossegue com manutenção de

condições ótimas de calcinação da matéria prima, terminando na adequação do

produto à finura desejada. (CINCOTTO, 1985)

Diversas cales Hidratadas oferecidas aos usuários da Construção Civil para

preparo de argamassas não apresentam desempenho satisfatório apesar de haver

uma especificação brasileira para este produto (NBR 7175 – Cal Hidratada para

Argamassas). Preocupada com esta situação, a ABPC – Associação Brasileira dos

Produtores de Cal vem implementando, desde novembro/95, o Programa da

Qualidade da Cal Hidratada para a Construção Civil. O objetivo primordial deste

programa é garantir o desempenho satisfatório das cales hidratadas comercializadas

no Brasil. (CUKIERMAN et al., 1999).

A implementação do Programa da Qualidade tem alavancado a revisão de

toda a normalização nacional vigente sobre a cal hidratada, atualizada com base nos

resultados alcançados e no extenso banco de dados revelado pela expressiva

quantidade de análises realizadas. (CUKIERMAN et al., 2001). Desde Julho/2011 a

CE-18:100.06 - Comissão de Estudo de Cal retomou as discussões sobre as normas

vigentes e estudos estão sendo realizados para a melhorias das normas, sendo um

deles esse trabalho de conclusão de curso.

O Programa de Qualidade para Cal Hidratada para Construção está

registrado junto aos principais programas desenvolvidos pelos governos federais e

estaduais que objetivam a melhoria da qualidade dos materiais empregados nas

obras de engenharia no Brasil (CUKIERMAN et al., 2003). Dentre estes programas

governamentais, destacam-se:

Page 23: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

13

- O Programa de Qualidade Habitacional do Estado de São Paulo –

QUALIHAB;

- O Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat – PBQP-H.

O controle de qualidade é um fator de relevante importância para o produtor

e o consumidor. As características físicas e químicas das cales virgem e hidratada,

assim como os métodos e equipamentos de análise, são controladas por 25 normas

técnicas registradas no INMETRO. (GUIMARÃES, 2002)

As dosagens das características físicas (granulometria, estabilidade,

retenção de água, plasticidade, incorporação de areia, densidade, superfície

específica, ângulo de repouso, razão de sedimentação, e outros), químicas e físico

químicas (reatividade, sílica e insolúveis, óxido de ferro e alumínio, óxido de cálcio,

óxido de magnésio, anidrido carbônico, perda ao fogo, enxofre, óxidos não

hidratados, potássio, sódio, fósforo e outros) são executadas por equipes

especializadas de laboratórios de institutos oficiais e de empresas de grande porte

(GUIMARÃES, 2002).

Existem especificações nacionais para cales, no entanto, as normas

brasileiras estão dirigidas para o uso da cal em argamassas, que é a aplicação mais

comum das cales na construção civil (AGOPYAN, 1985).

A norma NBR 7175:2003 estabelece as exigências químicas e físicas que

devem ser respeitadas pelo produto cal hidratada. Para isso alguns ensaios devem

ser executados com a cal hidratada de forma a verificar se a mesma atinge os

parâmetros mínimos de qualidade indicados por essa norma. As tabelas 1 e 2

apresentam esses parâmetros.

Tabela 1 – Exigências químicas (Norma Brasileira – NBR 7175:2003)

Composto Limites

CH-I CH-II CH-III

Anidrido carbônico (CO2)

Na fábrica ≤ 5% ≤ 5% ≤ 13%

No depósito ≤ 7% ≤ 7% ≤ 15%

Óxido não-hidratado calculado ≤ 10% ≤ 15% ≤ 15%

Óxidos totais na base de não-voláteis (Cao + MgO) ≥ 90% ≥ 88% ≥ 90%

Page 24: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

14

Tabela 2 - Exigências físicas (Norma Brasileira – NBR 7175:2003)

Determinações Limites

CH-I CH-II CH-III

Finura (%) retida

acumulada

Peneira 0.600mm (nº 30) ≤ 0.5% ≤ 0.5% ≤ 0.5%

Peneira 0.075mm (nº 200) ≤ 10% ≤ 15% ≤ 15%

Estabilidade Ausência de cavidades ou protuberâncias

Retenção de água ≥ 75% ≥ 75% ≥ 70%

Plasticidade ≥ 110 ≥ 110 ≥ 110

Incorporação de areia ≥ 3.0 ≥ 2.5 ≥ 2.2

Todas as cales que não atenderem aos limites estipulados por norma podem

vir a comprometer a qualidade da argamassa na qual está sendo utilizada.

A pureza da matéria prima deve ser tal que tanto a cal virgem como a cal

hidratada tenham um mínimo de 88% de óxidos de cálcio de magnésio, na base de

material isento de voláteis. Estando atendido este requisito, a reatividade da cal

virgem é o segundo requisito essencial, determinante do grau de hidratação que

poderá ser atingido sob condições contínuas de processo (CINCOTTO, 1985).

A qualidade química do produto depende, primeiro, das características e das

impurezas contidas na rocha que lhe deu origem. Sob outra visão, a qualidade da cal

depende do forno e de seu operador (GUIMARÃES, 2002).

2.4 USO DA CAL EM ARGAMASSAS

As argamassas são misturas de cimento, areia, água e outros materiais,

como cal, saibro, barro, caulim ou outros plastificantes da região, acrescentados à

argamassa, visando ao aumento da plasticidade (MEHTA, 2004). No Brasil, este

material construtivo carece de estudos tecnológicos aprofundados. O conhecimento

técnico que se tem das argamassas inorgânicas até nossos dias, desenvolveu-se de

modo empírico, baseado em alguns conceitos para concreto. Para o concreto, por

Page 25: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

15

exemplo, a resistência à compressão é de extrema importância, enquanto que para

uma argamassa, esta propriedade representa apenas um parâmetro de

caracterização (RAGO et al, 1999).

A determinação do traço e, consequentemente, da quantidade de cal que

deve entrar na composição de uma argamassa, deve ser orientada tendo em vista

principalmente o aspecto da mistura, a argamassa deverá apresentar-se como uma

massa coesa, que possua uma trabalhabilidade apropriada para assentamentos e

revestimentos. (PETRUCCI, 1976)

A cal tem utilização frequente na argamassa, seja para argamassa de

assentamento de alvenarias, execução de betonilhas para regularização do

pavimento, ou para revestimentos de alvenarias exteriores e interiores. Pode ser

utilizada como único ligante, em mistura com outros ligantes aéreos (gesso),

hidráulicos (cimento Portland) ou com aditivos pozolânicos. A argamassa com cal

constitui um material de elevada versatilidade. Plásticas e trabalháveis enquanto

frescas e possuidoras de uma certa rigidez após o endurecimento (COELHO et al.,

2009).

A cal hidratada é um dos principais elementos das argamassas, porque

promove benefícios para edificação. Ela tem um excelente poder aglomerante, capaz

de unir os grãos de areia das argamassas. Presentemente, com o emprego de

aditivos, a cal tem deixado de ser utilizada em muitos casos (COELHO et al., 2009).

Nas argamassas, a cal forma com a água e os inertes que a incorporam,

uma mistura pastosa que penetra nas reentrâncias e vazios dos substratos,

cimentando-os, principalmente pela recristalização dos hidróxidos e de sua reação

química com o anidrido carbônico do ar. (GUIMARÃES, 2002).

Durante o endurecimento, as partículas muito finas de hidróxidos se

aglomeram, formando cristais que aumentam em número e tamanho à medida que a

água se evapora. Esses cristais se entrelaçam, formando uma malha resistente que

retém os agregados (GUIMARÃES, 2002).

A cal induz maior coesão inicial das partículas, mantendo-se durante a

evolução da consolidação, ao se comparar com a pasta de cimento. As cales CH-I e

CH-III apresentam comportamentos reológicos diferentes. (QUARCIONI, 2008).

O endurecimento da cal aérea na argamassa inicia-se com a secagem da

água em excesso, a que se segue o endurecimento por carbonatação, quando o

hidróxido de cálcio reage com o dióxido de carbono para formar carbonato de cálcio

Page 26: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

16

ou calcita. O processo de endurecimento da cal aérea desenvolve-se em cinco

etapas (JOHANNESSON et. al, 2001):

1) Difusão do CO2 através dos poros da argamassa;

2) Dissolução do CO2 na água dos poros;

3) Dissolução do Ca(OH)2 na água dos poros;

4) Reação entre o Ca(OH)2 e o C02;

5) Precipitação do CaCO3.

O endurecimento que depende do ar atmosférico é muito lento, pois as

camadas espessas no interior mantêm-se frescas durante longo tempo. Assim, ao

adicionar água à cal aérea, obtém-se uma pasta que vai endurecendo lentamente ao

ar. A pasta de cal é muito pouco permeável, mantendo-se por isso cinco ou seis

semanas sem recarbonatar (COELHO et al., 2009).

Entre todos os plastificantes utilizados na preparação das argamassas, o

mais recomendável é a cal hidratada (Ca(OH)2), cujo desempenho como

plastificante é comprovado em vários institutos de pesquisas (PAIVA et al., 2007).

Por causa da sua elevada leveza e finura de seus grãos e consequente

capacidade de proporcionar fluidez, coesão e retenção de água, a cal hidratada

melhora a qualidade das argamassas. As suas partículas muito finas, ao serem

misturadas com água, funcionam como um verdadeiro lubrificante, reduzindo o atrito

entre os grãos de areia. O resultado é uma maior plasticidade da argamassa,

proporcionando melhor trabalhabilidade e, consequentemente, maior produtividade,

com redução do custo do m³ (COELHO et al., 2009).

Outra propriedade importante, no estado fresco da cal, é a retenção de água

por não permitir a sucção excessiva de água pelo suporte. Assim, as argamassas de

cimento, contendo cal, retém mais água de amassamento e garantem resistência

suficiente quanto à compressão e à aderência, tanto para assentamentos como para

revestimentos (COELHO et al., 2009).

Além disso, permite também que as argamassas tenham maiores

deformações, sem fissuração, do que teriam somente com cimento Portland. A

adição de cal hidratada a argamassa de cimento reduz significativamente o módulo

de elasticidade, sem afetar, na mesma proporção, a resistência à tração que, em

última análise, é a máxima resistência de aderência da argamassa. Assim, as

argamassas com cal absorvem melhor as pequenas movimentações das

Page 27: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

17

construções, evitando fissuras e até a queda dos revestimentos, aumentando sua

vida útil (COELHO et al., 2009).

A adição de cal hidratada, que obedece às normas técnicas (NBR 7175), às

argamassas mistas (cimento Portland, cal hidratada, agregado/areia-água) ou

simplesmente às argamassas cal/areia/água, deflagra uma série de consequências

favoráveis ao seu uso como material de construção. Por isso não é lógico nem

técnico analisar o comportamento das argamassas e das falsas misturas com o

mesmo nome, sob o enfoque de uma única propriedade, como, por exemplo a

plasticidade ou resistência à compressão (GUIMARÃES, 2002).

No setor ambiental, as argamassas com cal contribuem para o meio

ambiente devido às suas seguintes características (GUIMARÃES, 2002):

- alcalinidade (pH maior que 11,5) transmitida ao meio tornando-o mais

asséptico;

- a cor branca clareia as misturas em que está presente, tornando-as de

tonalidade mais neutra e mais refletiva aos raios solares (menor transmissão de

calor);

- os altos pontos de fusão dos óxidos de cálcio (2570°C) e de magnésio

(2800°C) auxiliam a resistência ao fogo de paredes de argamassas com cal;

- o pequeno teor de álcalis ocasiona sensível redução das eflorescências,

que prejudicam o aspecto visual e danificam a estrutura das argamassas.

É importante salientar que as resistências mecânicas das argamassas de cal

são bem inferiores às de cimento, e que a cal como um aglomerante aéreo não deve

ser utilizada em locais em contato permanente com a água. Por outro lado,

argamassas não plásticas e trabalháveis, não preenchem todos os vazios como

desejado e podem fissurar quando endurecidas devido à retração hidráulica ou

movimentação térmica dos componentes. Por isso argamassas mistas, isto é, tendo

cimento e cal como aglomerantes, em diversas proporções acabam atendendo a

todos os requisitos necessários para um bom desempenho durante a sua vida útil.

Mesmo pequenas quantidades de cal em argamassas de cimento têm um efeito

positivo, melhorando as propriedades físicas das argamassas e aumentando a

capacidade de absorver deformações (AGOPYAN, 1985). O quadro da Figura 5

permite a visualização do conjunto de benefícios proporcionados pelas argamassas

portadoras de cal.

Page 28: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

18

Figura 5 - Benefícios da cal nas argamassas (GUIMARÃES, 2002)

2.5 TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO DAS CALES

A cal hidratada, como todo produto comercializado no Brasil, deve atender a

certos limites exigidos por norma. Com base nas técnicas de caracterização é

possível avaliar se a cal apresenta os requisitos necessários para atender às

necessidades do mercado.

2.5.1 NORMALIZAÇÃO BRASILEIRA

A ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas é o Fórum Nacional de

Normalização. As Normas Brasileiras, cujo conteúdo é de responsabilidade dos

Page 29: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

19

Comitês Brasileiros (ABNT/CB) e dos Organismos de Normalização Setorial

(ABNT/ONS), são elaboradas por Comissões de Estudo (CE), formadas por

representantes dos setores envolvidos, delas fazendo parte: produtores,

consumidores e neutros (universidades, laboratórios e outros). Os Projetos de Norma

Brasileira, elaborados no âmbito dos ABNT/CB e ABNT/ONS, circulam para

Consultoria Pública entre os associados e demais interessados (ABNT, NBR

7175:2003).

Assim sendo, a NBR 7175 tem, por principal objetivo, a função de especificar

os requisitos exigíveis no recebimento da cal hidratada a ser empregada em

argamassas para a construção civil. Para tanto, a norma em questão leva em

consideração a divisão da cal hidratada em: CH-I, CH-II e CH-III.

A NBR 7175:2003 estabelece parâmetros químicos e físicos que devem ser

respeitados a fim de se assegurar a qualidade da cal presente no mercado que estão

apresentados nas tabelas 01 e 02, respectivamente, deste trabalho.

2.5.2 ENSAIOS COMPLEMENTARES

A seguir são apresentadas técnicas cuja finalidade é fornecer parâmetros

químicos e físicos das amostras analisadas a fim de se compará-los aos limites

estipulados pela NBR 7175.

2.5.2.1 GRANULOMETRIA A LASER

A Granulometria ou Análise Granulométrica é o processo que visa definir,

para determinadas faixas pré-estabelecidas de tamanho de grãos, a porcentagem

em peso que cada fração possui em relação a massa total da amostra.

A técnica de análise de tamanho de partículas por difração de laser é um

método pelo qual as partículas são dispersas num fluído em movimento causando

descontinuidades no fluxo do fluído, que são detectadas por uma luz incidente, e

correlacionadas com o tamanho de partícula. O princípio do método é que o ângulo

de difração é inversamente proporcional ao tamanho da partícula. Ao atingir uma

quantidade de partículas, a luz incidente sofre uma interação segundo quatro

diferentes fenômenos (difração, refração, reflexão e absorção) (Hildebrand, 1999)

Page 30: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

20

formando um invólucro tridimensional de luz. O formato e o tamanho desse invólucro

é afetado pelo índice de refração relativo da partícula no meio dispersante, pelo

comprimento de onda da luz, e pelo tamanho e formato da partícula. Detectores

estrategicamente posicionados medem a intensidade e o ângulo da luz espalhada. O

sinal dos detectores é então convertido para a distribuição de tamanho de partícula

através de softwares matemáticos (Allen, 1997) (PAPINI, C. J., 2003). A Figura 6 a

seguir ilustra o esquema de leitura de granulometria a laser.

Figura 6 - Esquema de leitura de granulometria pelo Granulômetro a Laser

2.5.2.2 DIFRATOMETRIA DE RAIOS-X

A difração de raios-X é uma técnica de alta tecnologia, não destrutiva, para

analisar uma larga escala de materiais. Dentre as várias técnicas de caracterização

de materiais, a técnica de difração de raios-X é uma das mais indicadas na

determinação das fases cristalinas presentes nos materiais. Isto é possível porque

na maior parte dos sólidos (cristais), os átomos se ordenam em planos cristalinos

separados entre si por distâncias da mesma ordem de grandeza dos comprimentos

de onda dos raios X. Ao incidir um feixe de raios X em um cristal, o mesmo interage

com os átomos presentes, originando o fenômeno de difração. A seguir a figura 7

apresenta um arranjo básico de difratograma de raios-x. A difração de raios X ocorre

segundo a Lei de Bragg (Equação A), a qual estabelece a relação entre o ângulo de

Page 31: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

21

difração e a distância entre os planos que a originaram (característicos para cada

fase cristalina):

nλ = 2d sen θ (A)

n: número inteiro

λ: comprimento de onda dos raios X incidentes

d: distância interplanar

θ: ângulo de difração

Figura 7 - Arranjo básico de um difratograma de raios-x (GEMELLI, 2001 apud PEREIRA, 2012)

Dentre as vantagens da técnica de difração de raios X para a caracterização

de fases, destacam-se a simplicidade e rapidez do método, a confiabilidade dos

resultados obtidos (pois o perfil de difração obtido é característico para cada fase

cristalina), a possibilidade de análise de materiais compostos por uma mistura de

fases e uma análise quantitativa destas fases (Albers, A. P. F., 2002)

A figura 8 a seguir ilustra um resultado de difração de raios-x de uma cal

hidratada.

Page 32: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

22

Figura 8 - Figura de Difração de raios x de cal hidratada (HOPPE, J. F, 2008)

2.5.2.3 ESPECTROMETRIA DE FLUORESCÊNCIA DE RAIOS-X

A espectrometria por Fluorescência de raios-X (X-Ray Fluorescence – XRF)

é uma técnica de análise qualitativa e quantitativa da composição química de

amostras. Consiste na exposição de amostras sólidas ou líquidas a um feixe de

radiação para a excitação e detecção da radiação fluorescente resultante da

interação da radiação com o material da amostra (Belmonte, E.P., 2005).

Na realidade, esta técnica possui uma série de características que são

particularmente valiosas para as análises de rotina. Dentre as técnicas analíticas

disponíveis, a análise por fluorescência de raios-X é uma das poucas em que se

pode utilizar as amostras em estado sólido, o que gera vantagem em termos de

economia de tempo na preparação da amostra. As amostras de material geralmente

são apresentadas na forma de pastilhas (fundidas ou prensadas).

A FRX conta com uma justificável reputação no que diz respeito à precisão

analítica das determinações. É recomendada para se analisar os principais

elementos constituintes de rochas e calcários como Na, MG, Al, K, Ca e Fe., onde

são toleradas incertezas na faixa entre 0,2 a 4%. Como toda técnica laboratorial, a

fluorescência de raios-X possui certas limitações. A primeira delas diz respeito ao

número atômico dos elementos analisados e a segunda se refere ao procedimento

normalmente usado para calibração, isto é, a comparação com padrões semelhantes

às amostras e com teores conhecidos. Estas limitações, no entanto, têm sido

superadas com o desenvolvimento de softwares que se utilizam de um conceito de

Page 33: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

23

análises semiquantitativas. A análise semiquantitativa de amostras é feita por FRX

sem o auxílio das curvas de calibração (SOUZA, L., 2009).

A espectrometria de fluorescência de raios X por dispersão de comprimento

de onda é uma técnica analítica multielementar, bastante versátil e parcialmente não-

destrutiva, que possibilitou determinar a composição química das amostras de cales.

Esta técnica baseia-se na separação e detecção de raios X característicos emitidos

pelos elementos constituintes da amostra quando irradiados com um feixe de raios x

primário, produzido pelo equipamento.

A seguir na figura 9 tem-se um espectro de fluorescência de raios X de uma

amostra de calcário (cujo constituinte principal é o carbonato de cálcio). Um

pormenor do espectro está ampliado para melhor se visualizarem os picos devidos a

alguns elementos minoritários (MATIAS, L., 2007).

Figura 9 – Espectro de fluorescência de raios X de calcário (MATIAS, L., 2007)

2.5.2.4 TERMOGRAVIMETRIA

A Análise Termogravimétrica é definida como um processo contínuo que

envolve a medida da variação de massa de uma amostra em função da temperatura

(varredura de temperatura), ou do tempo a uma temperatura constante (modo

isotérmico). (BUENO, M.T.N.S., 2007).

Page 34: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

24

Datam de muitos anos as tentativas para se chegar a um conhecimento

detalhado sobre as alterações que o aquecimento pode provocar na massa das

substâncias, a fim de poder estabelecer a faixa de temperatura em que se começa a

decompor, bem como para se seguir o andamento de reações de desidratação,

oxidação, decomposição, etc. Neste sentido, desde o início do século passado,

inúmeros pesquisadores se empenharam na laboriosa construção, ponto a ponto,

das curvas de perda de massa em função da temperatura, aquecendo as amostras

até uma dada temperatura e a seguir, após o resfriamento, pesando-as em balanças

analíticas (IONASHIRO, M., 2005).

As balanças utilizadas para o ensaio de termogravimetria são as chamadas

termobalanças que permitem a pesagem contínua de uma amostra em função da

temperatura, ou seja, à medida que ela é aquecida ou resfriada. O equipamento

conta com: balança registradora, forno, suporte de amostra e sensor de temperatura,

programador da temperatura do forno, sistema registrador e controle da atmosfera

do forno.

A termogravimetria é um sistema com vasto campo de aplicação na

caracterização do comportamento térmico dos materiais. A balança de precisão é

acoplada a um forno que permite programar aumento de temperatura de forma linear

com o tempo. A amostra é colocada em uma pequena plataforma acoplada à

balança. Os dados de massa gerados são captados pela saída serial do

microcomputador. Um pequeno forno elétrico envolve a plataforma, de maneira que

a temperatura da amostra pode ser controlada variando-se a potência do forno. Os

resultados são apresentados sob forma de curva termogravimétrica (TG), na qual a

variação de massa é registrada em função da temperatura ou do tempo (ROJAS, B.

J., 2004).

As curvas de variação de massa (em geral perda, mais raramente ganho de

massa) em função da temperatura permitem tirar conclusões sobre a estabilidade

térmica da amostra, sobre a composição e estabilidade dos compostos

intermediários e sobre a composição do resíduo.

Os fatores que podem influenciar o aspecto das curvas TG pertencem a dois

grandes grupos:

- Fatores instrumentais: razão de aquecimento do forno, atmosfera do forno,

geometria do suporte de amostras e do forno. Esses fatores são facilmente

controlados.

Page 35: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

25

- Fatores ligados às características da amostra: tamanho de partículas,

quantidade de amostra, solubilidade dos gases, liberados na própria amostra, calor

de reação, compactação da amostra, natureza da amostra, condutividade térmica da

amostra. Estes, por sua vez, são variáveis e difíceis de ser controlados.

Atualmente, ainda há dificuldades em relação a correlacionar os dados

obtidos com diversos sistemas termoanalíticos, visto que, inexiste algum tipo de

amostra padrão ou, melhor ainda, uma termobalança padrão, através da qual

poderiam ser comparados os diferentes aparelhos comerciais.

Na termogravimetria, a massa da amostra (m) é continuamente registrada

como função da temperatura (T) ou tempo (t).

M = f (T ou t)

Portanto, nas curvas TG, os desníveis em relação ao eixo das ordenadas

correspondem às variações de massa sofridas pela amostra e permitem obter dados

que podem ser utilizados com finalidades quantitativas. A figura 10 a seguir ilustra

uma curva de TG/DTG de uma cal CH-III que permite a visualização de como é

extraída a perda de massa de uma amostra a partir deste ensaio.

Figura 10 - Exemplo de curva TG/DTG de cal CH-III (QUARCIONI, 2008)

A análise térmica diferencial (DTA) é uma técnica térmica de medição

contínua das temperaturas da amostra e de um material referência termicamente

inerte, à medida que ambos vão sendo aquecidos ou resfriados em um forno. Estas

Page 36: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

26

medições de temperatura são diferenciais, pois registra-se a diferença entre a

temperatura da referência TR, e a da amostra Ta, ou seja (TR – Ta = DT), em função

da temperatura ou do tempo, dado que o aquecimento ou resfriamento são sempre

feitos em ritmo linear (dT / dt = Cte) (IONASHIRO, M., 2005).

A técnica consiste no seguinte processo:

Em um forno aquecido eletricamente coloca-se um suporte ou bloco dotado

de duas cavidades (câmaras, células) idênticas e simétricas. E cada uma destas

cavidades, coloca-se a junção de um termopar (sensor de temperatura); a amostra é

colocada em uma das câmaras, e na outra é colocada a substância inerte, cuja

capacidade térmica seja semelhante à da amostra. Tanto a amostra como o material

referência são aquecidos linearmente, e a diferença de temperatura entre ambos, ΔT

= (Tr – Ta), é registrada em função da temperatura do forno ou do tempo.

Todas as aplicações da Análise Térmica Diferencial se baseiam na

interpretação adequada dos picos endo e exotérmico que aparecem nas curvas DTA.

O número, a forma e a posição destes picos permitem interpretações qualitativas e

as áreas, após a medição adequada, permitem determinação quantitativa. Os dados

experimentais, após o tratamento matemático, permitem também chegar-se a

importantes conclusões sobre a cinética das transformações (IONASHIRO, M.,

2005).

Segundo Canevarolo (2003), existem três análises termogravimétricas mais

habitualmente utilizadas: TG semi-isotérmica, TG isotérmica e TG dinâmica. A TG

isotérmica possibilita aplicação de temperatura constante dentro da faixa de

operação do equipamento, durante um tempo determinado. Na TG dinâmica, a

amostra é submetida a uma variação de temperatura linear previamente

determinada.(BUENO, M.T.N.S.,2007).

Page 37: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

27

3. METODOLOGIA

O desenvolvimento do estudo proposto deu-se através da comparação de

resultados de ensaios químicos e físicos presentes na norma brasileira com os

resultados obtidos através de ensaios que dispõe de uma tecnologia mais atual e

que apresenta uma maior rapidez na realização dos ensaios.

O esquema da figura 11 a seguir ilustra a metodologia adotada neste

trabalho.

Figura 11 - Resumo da metodologia adotada

Page 38: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

28

3.1 MATERIAIS UTILIZADOS

Para a realização dos ensaios foi selecionado um universo amostral

representativo de 10 cales hidratas comercializadas no Brasil. Dentre essas, 5 cales

do tipo CH-I e 5 cales do tipo CH-III. A nomenclatura adotada neste trabalho está

apresentada na tabela 3 a seguir.

Tabela 3 - Nomenclatura das cales

Cal Empresa Nomenclatura Adotada

CH-III A III-A

CH-III B III-B

CH-III C III-C

CH-III D III-D

CH-III E III-E

CH-I A I-A

CH-I C I-C

CH-I F I-F

CH-I G I-G

CH-I H I-H

Após o recebimento, as amostras foram armazenadas em sacos plásticos e

colocadas em bombonas de armazenagens, uma por amostra, conforme mostra a

figura 12.

Figura 12 - Figura ilustrando as bombonas de armazenagem das cales (LATECA-UFPR)

Page 39: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

29

Inicialmente realizou-se o processo de preparação das amostras de acordo

com a NBR 6471:1998 – Cal Virgem e Cal Hidratada – Retirada e preparação de

amostra – Procedimento, para envio de amostras para o laboratório DETECT, onde

foram realizados os ensaios propostos na NBR 7175. Posteriormente seguiu-se o

mesmo procedimento para o envio de amostras ao LAMIR – Laboratório de Minerais

e Rochas, onde foram realizados os demais ensaios. Sendo assim, deve-se levar em

consideração o fato de que os laboratórios utilizaram as mesmas amostras para a

realização de seus ensaios, porém alíquotas diferentes. As alíquotas utilizadas são

diferentes porque as amostras foram retiradas das bombonas de armazenagem em

momentos diferentes.

Figura 13 - Fluxograma de preparação de amostras para envio aos laboratórios

3.2 MÉTODOS REALIZADOS

3.2.1 MASSA ESPECÍFICA E MASSA UNITÁRIA

A Massa específica é a relação entre a massa da amostra e o seu volume,

podendo ser absoluta ou relativa. Na determinação da massa específica absoluta

Page 40: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

30

não são considerados os vazios existentes, em contrapartida, para determinação da

massa relativa e/ou unitária, consideram-se os vazios.

A massa unitária de um agregado ou aglomerante é a sua densidade (massa

/ volume) com todos os espaços vazios, ou seja, esses espaços vazios são os "vãos"

entre um grão e outro e seus espaços internamente (poros permeáveis).

Pode-se dizer que a massa unitária é a massa real do agregado, pois

engloba todos os espaços existentes (internamente e externamente). A massa

específica segue o mesmo princípio da massa unitária, porém os espaços/vazios não

são considerados.

O ensaio de massa específica foi realizado de acordo com a NBR NM

23/2000. O ensaio de massa unitária foi realizado adaptando-se a norma NBR NM

45/2006, utilizando o recipiente para determinação do teor de ar incorporado da

argamassa. Os ensaios de Massa Específica foram realizados três vezes para cada

amostra e os de Massa Unitária cinco vezes para cada amostra a fim de se garantir

confiabilidade nos resultados.

Estas análises foram executadas no Laboratório de Tecnologia de

Argamassas da Universidade Federal do Paraná – LATECA-UFPR. A seguir, as

figuras 14 e 15 ilustram a realização dos ensaios.

Figura 14 - A) Ensaio de Massa Unitária (LATECA-UFPR); B) Arrasamento de superfície (LATECA-

UFPR)

Page 41: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

31

Figura 15 - Ensaio de Massa Específica

3.2.2 GRANULOMETRIA A LASER

O ensaio de Granulometria a Laser foi realizado no laboratório da escola

politécnica da USP – Universidade de São Paulo. Este ensaio em cal vem sendo

estudado e avaliado durante um ano a fim de se obter um aprimoramento da técnica.

O procedimento de ensaio consiste em dispersar a amostra de cal em água

deionizada, ao agitador de partículas. Em seguida é necessário aguardar o

processamento de dados que será fornecido ao computador do laboratório. Após

esse procedimento é possível analisar a porcentagem de material passante nas

peneiras pré-estabelecidas e, com base nesses dados, determinar a curva

granulométrica de cada amostra.

A análise granulométrica a laser foi necessária, pois a cal apresenta

partículas inferiores a 0,075mm, sendo assim o ensaio granulométrico por peneiras

não seria adequado para tal caracterização.

3.2.3 DIFRATOMETRIA DE RAIOS-X

Este ensaio foi realizado no LAMIR – Laboratório de Minerais e Rochas da

Universidade Federal do Paraná, e o modelo do equipamento utilizado foi Empyrean

da marca PANalytical. O método de execução deste ensaio foi o de pó prensado.

A figura 16 a seguir ilustra o ensaio de Difratometria de Raios-x.

Page 42: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

32

Figura 16 – a) Molde para prensagem das amostras; b) Difratômetro de Raios-X (LAMIR, UFPR)

3.2.4 ESPECTROMETRIA DE FLUORESCÊNCIA DE RAIOS-X

O ensaio de FRX, como é chamado a Espectrometria de Fluorescência de

Raios-x, foi realizado de forma semiquantitativa, pois as amostras de cales não se

enquadraram em nenhum padrão analítico existente no laboratório que executou o

ensaio. Para a realização deste ensaio foi necessária a confecção de pastilhas de

cal conforme mostra a figura 17. A pastilha é executada homogeneizando-se 7

gramas de cal com 1,4 gramas de cera e colocando essa alíquota na prensa.

Figura 17 – Confecção das pastilhas para o ensaio de FRX. A) Prensa; B) Pastilha de cal

(LAMIR/UFPR)

Page 43: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

33

Este ensaio foi realizado no LAMIR – Laboratório de Minerais e Rochas da

UFPR utilizando-se o equipamento da marca PANanalytical do modelo AxiosMax

(Figura 18).

Figura 18 - Equipamento utilizado no ensaio de Espectrometria de Fluorescência de Raios-X (LAMIR-

UFPR)

3.2.5 TERMOGRAVIMETRIA

Neste trabalho foi realizada a técnica de termogravimetria dinâmica. O

ensaio consiste em preparar a amostra dentro de um pequeno cadinho e colocar

para leitura dentro do equipamento. Foi utilizada atmosfera de nitrogênio com uma

variação de temperatura de 0 a 1000°C. A técnica foi executada no LAMIR/UFPR –

Laboratório de Minerais e Rochas da Universidade Federal do Paraná. A figuras 19 a

seguir apresenta a preparação da amostra para leitura no equipamento e o

equipamento utilizado, marca Metltler Toledo, modelo TGA/SDTA851.

Page 44: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

34

Figura 19 - A) Amostra de cal e cadinhos utilizados no ensaio de Termogravimetria; B) Equipamento

de Termogravimetria (LAMIR/UFPR)

3.2.6 ANÁLISE QUÍMICA PELA NBR 6473:2003

A NBR 6473:2003 – Cal virgem e cal hidratada – Análise Química, foi

elaborada a fim de se avaliar a qualidade e características das cales produzidas no

Brasil. Esta Norma prescreve os métodos para as determinações de umidade, perda

ao fogo, sílica mais resíduo insolúvel, óxido de cálcio total, óxido de magnésio, óxido

férrico, óxido de alumínio e enxofre em cal virgem e cal hidratada (ABNT, NBR

6473:2003).

Para a realização do ensaio é necessária a utilização de uma aparelhagem

especial que conta com uma balança analítica com resolução de 0,1 mg, forno

mufla, agitador com barra magnética, peagâmetro, buretas com resolução máxima

de 0,05 mL e material usual de laboratório. Utiliza-se água, sendo esta destilada ou

deionizada, reagentes e soluções, dentre os quais vale destacar o ácido perclórico,

ácido clorídrico, ácido nítrico, nitrato de potássio, solução de hidróxido de potássio,

hidróxido de amônio, solução de acetato de amônio, carbonato de cálcio e etanol

absoluto.

Deve-se fazer a preparação das soluções e indicadores químicos e em

seguida seguir o procedimento para cada método conforme está especificado em

Norma. A NBR 6473:2003 estabelece as fórmulas utilizadas para se obter as

porcentagens referentes a cada propriedade química da cal em análise.

Page 45: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

35

A partir das informações obtidas na análise química, executa-se uma

sequência de cálculos (descritos na NBR 7175) que permite determinar os aspectos

químicos das cales:

1) O teor de óxido de Cálcio (CaO) ou óxido de Magnésio (MgO) não

hidratado deve ser calculado como segue:

a) CaO combinado com CaSO4 = % SO3 x 0,70

b) CaO combinado com CaCO3 = % CO2 x 1,27

c) água combinada = % perda ao fogo – (% CO2 + % umidade)

d) CaO hidratado = % água combinada x 3,11

e) CaO não-hidratado = % CO2 – ( a + b + d )

f) MgO hidratado = I e I x 0,72

O teor de óxidos não hidratados é expresso por:

Tabela 4 - Cálculo do teor de óxidos não hidratados

O teor de óxidos totais na base de não-voláteis (CaOtotal + MgOtotal) deve ser

calculado como segue:

% (CaOtotal + MgOtotal), base de não-voláteis = (% CaOtotal + % MgOtotal) x 100

100 - % perda ao fogo

A análise química pela NBR 6473:2003, foi realizada pelo Laboratório

contratado DETECT, localizado na cidade de Colombo-PR.

3.2.7 ANÁLISE DA FINURA PELA NBR 9289:2000

A NBR 9289:00 Cal Hidratada para Argamassas – Determinação da Finura

prescreve o método a ser utilizado para o ensaio de finura de cal hidratada para

argamassas, através do resíduo em peneiras.

Hipóteses Óxido de Cálcio não hidratado calculado

(CaO) Óxido de Cálcio e Magnésio não hidratado

calculado (CaOt + MgOt)

e < 0 0 (zero) % MgO – f

e = 0 0 (zero) % MgO

e > 0 e e + % MgO

Page 46: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

36

O processo é realizado colocando-se a peneira nº 30 sobre a peneira nº 200

e transferindo-se 50g de cal hidratada para a peneira nº 30. Em seguida deve-se

lavar o material com jato de água durante 5min. Transferir o material retido em cada

peneira para cápsulas e deixar decantar por 10mim. Secar em estufa os resíduos de

ambas as peneiras até atingirem uma massa constante.

A análise física pela NBR 9289:2000, foi realizada pelo Laboratório

contratado DETECT, localizado na cidade de Colombo-PR.

Page 47: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

37

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 MASSA ESPECÍFICA E MASSA UNITÁRIA

As figuras 20 e 21 apresentam os resultados de Massa Específica e Massa Unitária, respectivamente, em g/cm³.

Figura 20 - Resultados de Massa Específica

Figura 21 - Resultados de Massa Unitária

Page 48: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

38

A partir da análise dos resultados observa-se, em geral, que as amostras de

cales do tipo CH-III (mais especificamente as cales III B, III-C, III-D e III-E) possuem

uma massa específica e unitária superiores às amostras de cales do tipo CH-I. Isso

se deve ao fato de que as cales CH-III posuem mais calcário “cru” em sua

composição, como poderá ser observado pela análise química, um maior teor de

CO2 para algumas amostras de cales CH-III, o que caracteriza uma cal mal

queimada com a presença de calcários “crus”. A amostra III-A mostrou-se como uma

exceção visto que apresentou resultados semelhantes às cales tipo CH-I.

Possivelmente as amostras III-A, I-A e I-G apresentam partículas menos

densas às demais devido a sua massa específica inferior, e partículas mais finas

com morfologia dos grãos divergentes às outras amostras, devido às suas inferiores

massas unitárias, ocasionadas por uma maior quantidade de vazios existente entre

os grãos.

4.2 ANÁLISE QUÍMICA DA NBR 6473:2003

Na tabela 5 estão apresentados os resultados da análise química (NBR

6473).

Tabela 5 - Resultado da Análise Química pela NBR 6473

AmostraDens.

(g/cm³)

Umidade

(%)

PF

(perda

ao

fogo)

(%)

CO2

(%)

RI +

SiO2

(%)

CaO

(%)

MgO

(%)

SO3

(%)

Ox. Totais

não

voláteis

(%)

Ox. Totais

não

hidratados

(%)

III-A 0,517 0,00 24,80 4,80 2,70 60,80 9,90 0,60 94,02 4,20

III-B 0,700 0,00 23,70 4,70 7,10 45,50 23,50 0,05 90,43 9,39

III-C 0,865 0,50 29,90 16,40 7,60 36,30 25,70 0,04 88,45 7,71

III-D 0,752 0,00 28,40 13,10 4,40 39,30 27,50 0,06 93,30 9,53

III-E 0,905 0,10 33,30 15,50 2,30 38,30 25,70 0,04 95,95 0,00

I-A 0,520 0,10 25,30 6,10 3,60 63,30 6,20 0,40 93,04 3,23

I-C 0,654 0,00 26,40 4,70 4,80 40,40 28,30 0,06 93,34 4,47

I-F 0,747 0,00 25,40 8,40 5,20 40,40 28,30 0,06 92,09 11,61

I-G 0,492 0,00 24,30 1,10 2,90 69,00 2,90 0,20 94,98 0,00

I-H 0,677 0,10 27,40 6,90 3,90 39,80 28,60 0,05 94,21 5,24

ANÁLISES QUÍMICAS E FÍSICAS - NBR 7175

Page 49: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

39

A partir desta análise pode-se observar que a maioria das cales analisadas

são classificadas como dolomíticas, devido ao alto teor de óxido de cálcio e de óxido

de magnésio presente nas amostras, e apenas três cales, III-A, I-A e I-G, podem ser

classificadas como cálcicas, obtidas de calcários tipicamente cálcicos.

Uma tendência observada é a variação no teor de CO2 do grupo de cales

CH-I, para as cales CH-III. O primeiro apresenta teores de CO2 inferiores ao

segundo. A cal CH-I é originada de um calcário com maior teor de cálcio onde a

temperatura de queima é constante, o que vem a facilitar a calcinação. Por outro

lado, para um calcário com maior teor de magnésio a faixa de temperatura para

queima é maior, dificultando o processo e dando origem, principalmente, a cales do

tipo CH-III (GUIMARÃES, 2002). Porém, cabe destacar que é provável que o calcário

com mais resíduo insolúvel tenha maior facilidade de calcinação, pois o resíduo

insolúvel, que basicamente é a sílica, age como um catalizador na reação.

Analisando-se concomitantemente as tabelas 01 e 05 observa-se que

algumas amostras de cal não apresentam as exigências químicas mínimas definidas

pela norma. A porcentagem de Anidrido Carbônico (CO2) para cal CH-I deve ser

inferior à 7% e para cal CH-III inferior à 15%. Dentre as cales CH-III, as amostras III-

C e III-E não apresentam esse requisito, e dentre as cales CH-I a que está fora dos

limites de norma é a cal I-F.

Ainda quimicamente, observa-se que a amostra I-F apresenta uma

porcentagem de óxidos totais não hidratados superior a 10%, que é o limite de

norma. Com relação aos óxidos totais não voláteis todas as amostras CH-I e CH-III

estão dentro dos limites estabelecidos.

Outra consideração importante a ser feita é com relação à comparação dos

resultados de Massa Unitária apresentados na Figura 21 com os resultados de

densidade apresentados na Tabela 05 é o fato de que os dados obtidos a partir da

análise realizada no DETECT foram superiores aos dados obtidos pela anáise

realizada no LATECA. Possivelmente isso ocorreu por divergências no procedimento

de ensaio, tendo em vista que no LATECA foi utilizada uma adaptação da NBR NM

45/2006 como mostrado no item 3.2.1 deste trabalho.

Page 50: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

40

Figura 22 - Comparação de Resultados de Massa Unitária

Figura 23 - Correlação entre os resultados de Massa Unitária

4.3 ANÁLISE QUÍMICA – NOVAS TÉCNICAS

4.3.1 ESPECTROMETRIA DE FLUORESCÊNCIA DE RAIOS-X EM

COMPARAÇÃO À ANÁLISE QUÍMICA PELA NBR 6473

A tabela 06 mostra os resultados obtidos a partir da análise semiquantitativa

das amostras para o ensaios de Fluorescência de Raios-X e os resultados de perda

ao fogo fornecidos pelo LAMIR.

0,43

0,61 0,73

0,65 0,76

0,43 0,55

0,66

0,43 0,58 0,52

0,70 0,87

0,75 0,91

0,52 0,65

0,75

0,49

0,68

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

III-A III-B III-C III-D III-E I-A I-C I-F I-G I-H

Comparação de Resultados de Massa Unitária (g/cm³)

Ensaio de Massa Unitária Executado no LATECA

Ensaios de Massa Unitária executados pelo DETECT LAB

R² = 0,9894

0,40

0,50

0,60

0,70

0,80

0,90

1,00

0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8

Correlação entre Massas Unitárias

Page 51: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

41

Tabela 6 - Resultados de FRX e PF

FRX E PERDA AO FOGO

Amostra PF (perda ao fogo)

(%)

RI + SiO2 (%)

CaO (%) MgO (%) SO3 (%)

III-A 25,4 2,1 68,5 3,6 0,5

III-B 26,5 2,8 50,3 20,3 0,1

III-C 31,5 2,4 42,2 23,8 <0,1

III-D 29,5 2,2 43,6 24,6 < 0,1

III-E 31,2 1,2 43,2 24,3 < 0,1

I-A 26,5 2,5 68,6 2 0,4

I-C 27,4 1,9 44,6 25,9 <0,1

I-F 23,6 1,6 47,9 26,9 <0,1

I-G 24,4 1,5 73,6 0,3 0,1

I-H 28,9 1 44,7 25,3 <0,1

Com esse resultado foi possível estabelecer uma comparação com o

resultado obtido a partir da análise química proposta na norma para os teores de

CaO, MgO e perda ao fogo. Esta comparação está apresentada na tabela 07.

Tabela 7 - Análise comparativa dos resultados de FRX e dos resultados da NBR 7175

Amostra

CaO

FRX

CaO

NBR

MgO

FRX

MgO

NBR

P.F.

FRX

P.F

NBR

III-A 68,50 60,80 3,60 9,90 25,40 24,80III-B 50,30 45,50 20,30 23,50 26,50 23,70III-C 42,20 36,30 23,80 25,70 31,50 29,90III-D 43,60 39,30 24,60 27,50 29,50 28,40III-E 43,20 38,30 24,30 25,70 31,20 33,30I-A 68,60 63,30 2,00 6,20 26,50 25,30I-C 44,60 40,40 25,90 28,30 27,40 26,40I-F 47,90 40,40 26,90 28,30 23,60 25,40I-G 73,60 69,00 0,30 2,90 24,40 24,30I-H 44,70 39,80 25,30 28,60 28,90 27,40

A tabela 07 mostra que a porcentagem de óxido de cálcio obtida pela análise

de Fluorescência de Raios-X foi superior à obtida pela análise química proposta na

NBR 7175, por outro lado, a quantidade de óxido de magnésio foi inferior. A perda ao

Page 52: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

42

fogo não apresentou significativas diferenças pois o método de obtenção dos

resultados foi semelhante.

Os gráficos a seguir (Figura 24) ilustram essa diferença nas porcentagens de

CaO e MgO entre as técnicas utilizadas.

Figura 24 - Análise NBR 6473 x FRX (Teor de Cao e MgO)

Essa diferença nas porcentagens ocorre pelo fato de que as técnicas são

realizadas de maneira distinta. Neste caso, a diferença entre os teores de CaO e

MgO obtidos pela análise química (NBR 6473) e pelo ensaio de FRX possivelmente

Page 53: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

43

R² = 0,9892

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0

CORRELAÇÃO ENTRE FRX E NBR 6473 %CaO

R² = 0,897

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0

CORRELAÇÃO ENTRE FRX E NBR 6473 %MgO

pode ser explicada ao constatar-se que o método da NBR 6473 ataca a amostra com

ácido perclórico, o que não ocorre na Fluorescência de Raios-X. O ácido perclórico

possivelmente impede que todo o calcário seja solubilizado. Sendo assim,

provavelmente há calcita e dolomita presentes no resíduo insolúvel fornecido pela

análise química da NBR 6473.

Além disso, vale ressaltar que a técnica de Fluorescência de Raios-X foi

realizada de forma semi-quantitativa com um padrão analítico de calcário e não de

cal hidratada, que seria o ideal, pois o laboratório que realizou a análise não possui

um padrão analítico internacional de cal hidratada.

Porém, ao correlacionar os dados obtidos com as duas técnicas, é possível

avaliar que para o teor de CaO é alcançado um fator de correlação entre dados de

0,99 e para o teor de MgO 0,89 tendo em vista que, desconsiderando-se a amosta I-

F, esse fator chega a 0,98% como mostram os gráficos da figura 25.

Figura 25 - Correlação entre ensaios

Com os gráficos de correlação pode-se concluir também que há uma

tendência de comportamento muito próxima, os resultados das amostras seguem um

R² = 0,9877

0,00

20,00

40,00

0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0

CORRELAÇÃO ENTRE FRX E NBR 6473 %MgO

Page 54: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

44

intervalo numérico quase que constante. Ainda pode-se observar a clara divisão de

dois grupos distintos de cales, o grupo de cales CH-I e o grupo de cales CH-III.

Qualitativamente os resultados por Fluorescência de Raios-x e pela NBR

6473 foram iguais, visto que ambas as técnicas apresentaram as cales III-A, I-A e I-G

como cales cálcicas e as demais como dolomíticas. Além disso, a cal que

apresentou-se com maior teor de CaO pela análise da NBR 6473, cal I-G, foi a

mesma quando analisada pela análise de FRX. As diferenças observadas foram

quantitativamente o que pode ser explicado pelas particularidades dos métodos já

citadas acima.

4.3.2 RESULTADOS DE TERMOGRAVIMETRIA

A partir da análise das curvas de Termogravimetria pode-se observar dois

grupos distintos, as cales III-A, I-A, I-G, e um grupo com as demais amostras. O

primeiro apresenta apenas um pico entre 300 e 500°C, indicando grande teor de

hidróxido de cálcio e um pequeno teor de hidróxido de magnésio. Já as demais

amostras apresentam dois picos entre essa mesma faixa de temperatura, que são os

picos de hidróxido de magnésio e cálcio respectivamente, classificando assim essas

cales como dolomíticas.

As figuras 26 e 27 apresentam as curvas TG/DTA de uma amostra de CH-I e

de uma amostra de CH-III, respectivamente. As demais curvas encontram-se nos

anexos.

Figura 26 – Curva TG/DTA da amostra I-A

Page 55: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

45

Figura 27 – Curva TG/DTAda amostra III-B

São indicadas a seguir as reações químicas associadas aos eventos

térmicos identificados nas curvas TG/DTA para as cales.

A - Decomposição da Brucita [Mg(OH)2] presente nas cales tipo CH-III:

Mg(OH)2 = MgO + H2O

B - Decomposição da Portlandita [Ca(OH)2] constituinte em todas as cales:

Ca(OH)2 = CaO + H2O

C - Decomposição da Calcita [CaCO3] presente em todas as cales:

CaCO3 = CaO + CO2

Uma informação importante que se pode obter das curvas TG/DTA são os

parâmetros da composição química do material. A partir dos valores de perda de

massa obtidos na curva DTA e considerando-se as equações químicas vinculadas

aos fenômenos térmicos, calculou-se a composição da água de adsorção das cales,

brucita [Mg(OH)2], portlandita [Ca(OH)2] e calcita [CaCO3] (QUARCIONI, V. A.,

2008).

A tabela a 08 representa estes teores calculados.

Page 56: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

46

Tabela 8 - Análises do ensaio de Termogravimetria

Amostra

Parâmetros de composição (%), em função das faixas de temperatura de perda de massa (°C)

Perda de

massa total

III-A

EQ Água de adsorção Mg(OH)2 Ca(OH)2 CO2 CaCO3 %

°C 0 - 270 270-360 390-500 500-1000

500-1000

27,91 % 1,206 1,78 60,66 10,14 23,02

III-B

EQ Água de adsorção Mg(OH)2 Ca(OH)2 CO2 CaCO3 %

°C 0 - 270 270-370 370-490 490-1000

490-1000

29,13 % 0,8 18,69 29,72 14,57 33,07

III-C

EQ Água de adsorção Mg(OH)2 Ca(OH)2 CO2 CaCO3 %

°C 0 - 270 270-410 410-480 480-1000

480-1000

33,29 % 0,77 28,45 12,45 19,8 44,95

III-D

EQ Água de adsorção Mg(OH)2 Ca(OH)2 CO2 CaCO3 %

°C 0 - 270 270-400 400-490 490-1000

490-1000

31,26 % 0,96 25,11 21,78 16,44 37,32

III-E

EQ Água de adsorção Mg(OH)2 Ca(OH)2 CO2 CaCO3 %

°C 0 - 270 270-400 400-500 500-1000

500-1000

37,75 % 0,59 21,48 18,33 23,57 53,50

I-A

EQ Água de adsorção Mg(OH)2 Ca(OH)2 CO2 CaCO3 %

°C 0 - 270 270-380 380-510 510-1000

510-1000

27,36 % 1,13 1,88 60,87 9,9 22,47

I-C

EQ Água de adsorção Mg(OH)2 Ca(OH)2 CO2 CaCO3 %

°C 0 - 270 270-400 400-500 500-1000

500-1000

30,1 % 1 33,27 30,46 12,61 28,62

I-F

EQ Água de adsorção Mg(OH)2 Ca(OH)2 CO2 CaCO3 %

°C 0 - 270 270-400 400-500 500-1000

500-1000

30,06 % 1,14 28,38 28,44 10,36 23,52

I-G

EQ Água de adsorção Mg(OH)2 Ca(OH)2 CO2 CaCO3 %

°C 0 - 270 270-410 410-510 510-1000

510-1000

28,33 % 1,35 7,06 60,95 8,6 19,52

I-H

EQ Água de adsorção Mg(OH)2 Ca(OH)2 CO2 CaCO3 %

°C 0 - 270 270-400 400-500 500-1000

500-1000

31,83 % 1,07 32,69 28,98 12,68 28,78

Page 57: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

47

Sendo que:

% Mg(OH)2 = Variação de massa x 3,24

% Ca(OH)2 = Variação de massa x 4,11

% CaCO3 = Variação de massa x 2,27

Estes valores que multiplicam as variações de massa dos compostos são

determinados com base no peso atômico de cada elemento químico. A partir do

cálculo do peso molecular de cada composto e analisando-se as reações químicas, é

possível estabelecer esses valores de proporção.

A termogravimetria, por si só, não caracteriza quimicamente de uma forma

completa a cal, porém, combinando-se os resultados de Fluorescência de Raios-X

com Termogravimetria é possível obter as mesmas caracterizações obtidas pela

NBR 6473 que são exigências na NBR 7175.

Resumidamente, a análise termogravimétrica fornece o valor de CO2 das

amostras, e os demais valores são obtidos a partir da técnica de FRX. O teor de

umidade não pode ser utilizado como o teor de água de adsorção obtido pela análise

de TG pois as amostras foram secas em estufas antes da realização dos ensaios. A

tabela 9 apresenta as caracterizações obtidas pela combinação dos dois ensaios,

que serão utilizadas no próximo item deste trabalho para o cálculo completo da

análise pela NBR 7175.

Tabela 9 - Caracterizações obtidas pelas análises de FRX e TG

TG

Amostra

PF (perda ao fogo)

(%) RI + SiO2

(%) CaO (%) MgO (%) SO3 (%) CO2 (%)

III-A 25,4 2,1 68,5 3,6 0,5 10,14

III-B 26,5 2,8 50,3 20,3 0,1 14,57

III-C 31,5 2,4 42,2 23,8 <0,1 19,8

III-D 29,5 2,2 43,6 24,6 < 0,1 16,44

III-E 31,2 1,2 43,2 24,3 < 0,1 23,57

I-A 26,5 2,5 68,6 2 0,4 9,9

I-C 27,4 1,9 44,6 25,9 <0,1 12,61

I-F 23,6 1,6 47,9 26,9 <0,1 10,36

I-G 24,4 1,5 73,6 0,3 0,1 8,6

I-H 28,9 1 44,7 25,3 <0,1 12,68

Page 58: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

48

4.3.3 ANÁLISE QUÍMICA COMPLETA PELA ESPECTROMETRIA DE

FLUORESCÊNCIA DE RAIOS-X E TERMOGRAVIMETRIA

A partir da análise termogravimétrica é possível a identificação do teor de

CO2 presente nas amostras. A umidade não pode ser definida a partir desta técnica

pois as amostras foram secas em estufas a uma temperatura de 50°C por um

período de 24 horas antes da realização do ensaio. A água de adsorção apresentada

na tabela 10 representa apenas a água que foi absorvida pela cal durante o

processo de retirada da estufa e colocação para leitura nos cadinhos (recipiente

resistente a temperaturas elevadas).

Sendo assim, assumindo a umidade igual a 0% para todas as amostras,

pode-se aplicar a sequência de cálculos indicada na NBR 7175, apresentados no

item 3.2.6 deste trabalho, utilizando-se o teor de CO2 obtido pela análise

termogravimétrica (tabela 10) e os demais teores, CaO, MgO e perda ao fogo (tabela

08), disponíveis na análise de Fluorescência de raios-x.

A tabela 10 a seguir apresenta os resultados obtidos:

Tabela 10 - Cálculos da NBR 7175 para obtenção dos teores de óxidos não hidratados e de óxidos

hidratados

Amostra a) b) c) d) e) f) Óxido de cálcio não hidratado

calculado

Óxido de cálcio e magnésio não

hidratado calculado (%)

Óxidos totais na base de não voláteis (%)

III-A 0,35 12,878 15,22 47,33 7,94 5,72 7,94 11,54 96,60

III-B 0,07 18,504 11,92 37,07 -5,35 3,85 0,00 16,45 96,04

III-C 0 25,146 11,68 36,32 -19,27 13,87 0,00 9,93 96,32

III-D 0 20,879 13,04 40,55 -17,83 12,84 0,00 11,76 96,71

III-E 0 29,934 7,60 23,64 -10,37 7,47 0,00 16,83 98,07

I-A 0,28 12,573 16,55 51,47 4,28 3,08 4,28 6,28 95,99

I-C 0 13,157 17,07 53,09 -21,64 15,58 0,00 10,32 97,15

I-F 0 16,015 10,95 34,05 -2,17 1,56 0,00 25,34 97,85

I-G 0,07 10,922 15,76 49,01 13,59 9,79 13,59 13,89 97,70

I-H 0 16,104 16,19 50,35 -21,75 15,66 0,00 9,64 98,41

Page 59: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

49

Sendo:

a) CaO combinado com CaSO4 = % SO3 x 0,70

b) CaO combinado com CaCO3 = % CO2 x 1,27

c) água combinada = % perda ao fogo – (% CO2 + % umidade)

d) CaO hidratado = % água combinada x 3,11

e) CaO não-hidratado = % CO2 – ( a + b + d )

f) MgO hidratado = I e I x 0,72

A tabela 11 apresenta um resumo da comparação entre os dados obtidos

com a análise indicada pela NBR 7175 e os valores encontrados empregando novas

técnicas de caracterização. Os itens com hachura indicam valores que não estão em

conformidade com os limites da norma brasileira.

Tabela 11 - Análise comparativa entre as metodologias

AMOSTRA

LIMITES DE QUALIDADE ESPECIFICADOS NA NBR 7175

ANÁLISE QUÍMICA – NOVAS TÉCNICAS

ANÁLISE QUÍMICA INDICADA NA NBR 7175

CO2(%)

Óxido de cálcio e

magnésio não

hidratado calculado

(%)

Óxidos totais na base de

não voláteis

(%)

CO2(%)

Óxido de cálcio e

magnésio não

hidratado calculado

(%)

Óxidos totais na base de

não voláteis

(%)

CO2(%)

Óxido de cálcio e

magnésio não

hidratado calculado

(%)

Óxidos totais na base de

não voláteis

(%)

III-A ≤ 15 ≤ 15 ≥ 88 10,14 11,54 96,6 4,8 4,2 94,02

III-B ≤ 15 ≤ 15 ≥ 88 14,57 16,45 96,04 4,7 9,39 90,43

III-C ≤ 15 ≤ 15 ≥ 88 19,8 9,93 96,32 16,4 7,71 88,45

III-D ≤ 15 ≤ 15 ≥ 88 16,44 11,76 96,71 13,1 9,53 93,3

III-E ≤ 15 ≤ 15 ≥ 88 23,57 16,83 98,07 15,5 0 95,95

I-A ≤ 7 ≤ 10 ≥ 90 9,9 6,28 95,99 6,1 3,23 93,04

I-C ≤ 7 ≤ 10 ≥ 90 10,36 10,32 97,15 4,7 4,47 93,34

I-F ≤ 7 ≤ 10 ≥ 90 12,61 25,34 97,85 8,4 11,61 92,09

I-G ≤ 7 ≤ 10 ≥ 90 8,6 13,89 97,7 1,1 0 94,98

I-H ≤ 7 ≤ 10 ≥ 90 12,68 9,64 98,41 6,9 5,24 94,21

Observando-se a tabela acima, é possível constatar uma notável diferença

entre os valores encontrados nas análises. Percebe-se que as porcentagens de

Page 60: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

50

CO2, de óxidos não hidratados e de óxidos totais, obtidas através das novas

técnicas, são maiores que os encontrados pelos ensaios da NBR 6473.

Em relação ao anidrido carbônico (CO2), o alto teor encontrado pelas novas

técnicas pode ser explicado pela ocorrência da recarbonatação, ou seja, incorreto

armazenamento da amostra. Como as amostras foram preparadas em momentos

diferentes para envio para os laboratórios, Detect e LAMIR, pode ter ocorrido a

recarbonatação das amostras armazenadas, pois o envio de amostras para o LAMIR

ocorreu em um momento posterior ao envio de amostras ao DETECT.

Em contrapartida, a diferença nas porcentagens de óxidos não hidratados e

óxidos totais na base de não voláteis entre as duas metodologias pode ser

esclarecida tendo em vista que os dados utilizados para a obtenção destes

resultados foram determinados através de aplicações diferentes. Em se tratando da

análise proposta neste trabalho, verifica-se que os dados necessários para o cálculo

dos óxidos foram obtidos pela análise de FRX. Na Fluorescência de Raios-X, a

amostra é colocada em um pequeno molde em formato de pastilha e prensada logo

a seguir sem a utilização de qualquer composto químico. Isso não ocorre nos

ensaios propostos pela norma, onde são utilizados ácidos e diversas soluções a fim

de se obter os dados necessários. Estes ácidos podem, eventualmente, impedir a

total solubilização das amostras o que acarretaria na diferença observada entre os

dados da tabela 11.

4.3.4 DIFRATOMETRIA DE RAIOS-X

Nas Figuras 28 e 29 apresentam-se dois gráficos obtidos com o ensaio de

DRX, um para uma amostra CH-I e um para uma amostra CH-III, definindo os picos

cristalográficos das amostras. Os demais gráficos obtidos encontram-se nos anexos.

Na tabela 12 encontra-se uma legenda para facilitar o entendimento dos gráficos.

Page 61: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

51

Tabela 12 - Legenda dos gráficos de DRX

LEGENDA

Br Brucita Mg(OH)2

C Calcita CaCO3

D Dolomita CaMg(CO3)2

M Periclásio MgO

Mg Magnetita Fe3O4

P Portlandita Ca(OH)2

Q Quartzo SiO2

A Ankerita Ca(Mg.Fe)(CO3)2

Figura 28 - Difratograma da amostra I-A

Figura 29 - Difratograma da amostra III-E

Page 62: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

52

A partir da análise dos gráficos observa-se que as cales tipo CH-III

apresentam uma maior quantidade de picos com mais elementos químicos definidos

do que as cales tipo CH-I. Por exemplo, cal III-A apresentou-se como uma exceção

visto que, ocorreram poucos picos e apenas alguns elementos foram observados em

seu difratograma. Dentre as cales CH-I a que merece destaque é a cal I-G que

apresentou um número baixo de picos, sendo os dois únicos compostos registrados

a Portlandita e a Magnetita.

As cales III-C, III-D, III-E e I-F apresentaram picos de calcita e dolomita,

enquanto que as demais amostras registraram apenas picos de calcita. Observando

as amostras III-C, III-D e III-E percebe-se, a partir dos dados obtidos com o ensaio

de FRX, que elas apresentam um menor teor de CaO em comparação às demais

amostras de cal tipo CH-III. Em contrapartida seu teor de MgO é maior. Isso explica

a presença de picos tanto de calcita, quanto de dolomita nestas amostras. Com

relação à amostra I-F, ao compará-la com as demais cales tipo CH-I e observando

os dados da tabela 6 de FRX, é perceptível um teor intermediário de óxido de cálcio;

em compensação esta amostra apresenta o maior teor de óxido de magnésio

encontrado dentre todas as cales, o que justifica os picos de dolomita encontrados

através do ensaio de DRX.

Outra observação importante a se fazer é que a amostra III-E apresentou

picos de Ankerita (Ca(Mg.Fe)(CO3)2), elemento que não foi identificado em

nenhuma das outras amostras.

4.3.5 GRANULOMETRIA A LASER - ANÁLISE FÍSICA

Com os dados obtidos através da Granulometria a laser, pode-se verificar a

quantidade de material passante em cada peneira, constituindo-se assim, a curva

granulométrica das amostras. A NBR 7175:2003 avalia a quantidade de material

passante nas peneiras nº 30 (0,600mm) e nº 200 (0,075mm). Assim sendo, o gráfico

da Figura 30 a seguir apresenta as curvas granulométricas das amostras estudadas:

Page 63: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

53

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0,00001 0,0001 0,001 0,01 0,1 1

Fre

qu

ên

cia

acu

mu

lad

a ab

aixo

(%

)

Diâmetro de partículas (mm)

Curva de Distribuição Granulométrica

III-A III-B III-C III-D III-E I-A I-C I-F I-G I-H

#,075mm (n°200) #0,600mm (n°30)#0,600mm (n°30)

Figura 30 - Curvas Granulométricas

Observando o gráfico, de forma geral, pode-se dizer que as amostras III-A e

III-B e I-H são consideradas mais finas. As amostras III-D, I-C, I-F e I-G podem ser

definidas com um grupo que apresenta uma granulometria intermediária já. As

demais cales são ditas mais grossas.

Como ilustrado no gráfico, nenhuma das amostras intercepta a linha que

representa a peneira de abertura 0,600mm; isso se deve ao fato de que o aparelho

granulométrico utilizado para o ensaio possui certa limitação. A peneira final de

leitura do equipamento é a de 0,5mm. Apesar disso pode-se verificar que todas as

amostras atingiram 100% de material passante antes mesmo da necessidade de

leitura na peneira n° 30.

A NRB 7175 avalia somente as peneiras nº 30 e nº 200 e através de

peneiramento com água. Os resultados estão apresentados na Tabela 13 na

sequência.

Page 64: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

54

Tabela 13 - Resultados de Finura - NBR 9289

ANÁLISE FÍSICA - NBR 7175

Amostra #30 (%)

#200 (%)

Fechamento (%)

III-A 0,60 6,90 98,80

III-B 0,00 4,70 99,85

III-C 0,00 7,80 99,54

III-D 0,00 13,60 99,66

III-E 0,10 20,70 99,90

I-A 0,10 2,60 98,80

I-C 0,00 3,90 99,96

I-F 0,00 6,10 99,36

I-G 0,00 2,40 99,30

I-H 0,00 4,10 99,75

Comparado com a granulometria a laser o ensaio de finura pela NBR 9289 é

incompleto, visto que o primeiro apresenta a curva granulométrica da cal e não

apenas a concentração de materiais em apenas duas peneiras.

A tabela 14 apresenta uma comparação entre resultados dos ensaios a laser

e finura pela NBR 9289. Os itens com hachura representam as amostras que

apresentaram-se fora dos limites especificados pela NBR 7175.

Tabela 14 - Comparações da NBR 7175 - Análise Física

AMOSTRA

% retida

# 30 (0,6mm) # 200 (0,075mm)

LIMITE (%) Granulometria a laser NBR 9289 LIMITE (%) Granulometria a laser NBR 9289

III-A ≤ 0,5 0 0,6 ≤ 15 4,43 6,9

III-B ≤ 0,5 0 0 ≤ 15 0,92 4,7

III-C ≤ 0,5 0 0 ≤ 15 36,23 7,8

III-D ≤ 0,5 0 0 ≤ 15 17,31 13,6

III-E ≤ 0,5 0 0,1 ≤ 15 41,22 20,7

I-A ≤ 0,5 0 0,1 ≤ 10 20,16 2,6

I-C ≤ 0,5 0 0 ≤ 10 6,98 3,9

I-F ≤ 0,5 0 0 ≤ 10 10,95 6,1

I-G ≤ 0,5 0 0 ≤ 10 12,66 2,4

I-H ≤ 0,5 0 0 ≤ 10 3,74 4,1

Page 65: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

55

Observa-se que a maioria dos resultados de teor de material retido na

peneira 200 são superiores para o ensaio de granulometria a laser, provavelmente

devido ao fato de uma possível ocorrência de aglomeração dos grãos de cal durante

o contato dos mesmos com a água no ensaio de peneiramento.

Observa-se também que as amostras de cales tipo CH-III apresentam, de

um modo geral, partículas mais grossas às amostras de cales CH-I. As amostras III-

A e III-B mostraram-se como uma exceção às demais apresentando partículas mais

finas.

A partir desta análise observa-se que as cales III-A e III-E não atendem às

exigências físicas de norma quando foram realizados os ensaios a partir da norma

NBR 9289. Com relação ao ensaio de Granulometria a Laser apenas as amostras III-

A, III-B, I-C e I-H atendem aos parâmetros de qualificação.

Page 66: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

56

5. CONCLUSÕES

As novas técnicas de caracterização química propostas possibilitaram

complementar a metodologia convencional da NBR 7175, e não substituí-la. A

realização de todos os ensaios e a comparação dos resultados obtidos proporcionou

uma breve avaliação dos métodos recomendados por norma. Os ensaios de FRX,

DRX, TG e Granulometria a Laser se mostraram precisos e de rápida execução, o

que os torna técnicas dignas de um estudo mais detalhado quando se fala em cal

hidratada.

De acordo com os dados obtidos neste trabalho, conseguiu-se constatar que

é possível a aplicação de novas técnicas laboratoriais à forma de avaliação das cales

hidratadas presentes no mercado brasileiro. É necessário destacar que apesar de ter

sido feita a comparação entre os resultados das novas técnicas com os sugeridos

pela NBR 7175, não se pode afirmar qual técnica mostrou resultados mais verídicos,

tendo em vista que, foram utilizadas alíquotas diferentes em cada laboratório e não

foi utilizado um padrão analítico para cales hidratadas na FRX. Apesar disso, as

análises químicas apresentaram resultados correlacionáveis, reservando diferenças

numéricas coerentes por se tratarem de técnicas distintas; mas acredita-se que

principalmente o ajuste do padrão analítico na FRX possa reduzir sobremaneira

essas diferenças.

A partir deste estudo, foi possível observar que as técnicas de

Espectrometria de Fluorescência de Raios X e Termogravimetria, analisadas em

conjunto, possibilitam a obtenção dos mesmos parâmetros químicos obtidos através

dos ensaios propostos pela NBR 7175, utilizando uma tecnologia mais moderna e

precisa em termos de análise química das cales.

Os difratogramas obtidos a partir da técnica de Difratometria de Raios-X

podem complementar os resultados obtidos por norma, já que fornecem a

identificação de picos de elementos cristalinos, o que não ocorre através de nenhum

dos ensaios presentes na norma.

O ensaio de Granulometria a Laser mostrou ser bastante útil na análise física

visto que, apresenta a curva granulométrica de cada cal contendo de forma

detalhada a porcentagem de material retido em várias peneiras, não apenas nas

peneiras nº 30 e nº 200 como prevê a NBR 7175. O uso desta técnica torna mais

Page 67: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

57

fácil, precisa e representativa a avaliação das partículas que compõe cada cal,

fazendo com que se tenha um maior conhecimento da amostra analisada.

Em suma, este estudo procurou apresentar novas técnicas para a avaliação

das cales hidratadas comercializadas no Brasil com o intuito de enriquecer e

complementar a análise química e o ensaio de finura atualmente vigentes na NBR

7175. Trabalhos futuros poderão complementar os conhecimentos aqui obtidos.

Page 68: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

58

6. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Com o trabalho desenvolvido foi possível identificar a necessidade dos

seguintes estudos para serem executados em trabalhos futuros, visando

complementar e aprofundar algumas análises aqui apresentadas.

- Definição de um padrão para realização de Massa Unitária para cal

hidratada;

- Realização de ensaios de Espectrometria de Fluorescência de Raios-x de

forma quantitativa a fim de se poder estabelecer um padrão analítico para cal

hidratada;

- Estudo de Termogravimetria para cal hidratada para uma análise mais

detalhada dos gráficos e dados obtidos a partir deles;

- Quantificação dos picos de Difratometria de Raios-x a fim de tornar possível

uma análise minuciosa das amostras estudadas, podendo-se complementar as

análise de Termogravimetria e Espectrometria de Fluorescência de Raios-x;

- Desenvolvimento de um estudo aprimorado da técnica de Granulometria a

Laser para cal com o intuito de se poder utilizar esta técnica como referência para a

análise de finura da cal hidratada.

Page 69: Proposição de novas técnicas para a caracterização de cal ...

59

REFERÊNCIAS

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62

ANEXOS

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63

-4

-3

-2

-1

0

1

2

70

75

80

85

90

95

100

105

25

12

3,3

33

22

1,6

67

32

0

41

8,3

33

51

6,6

67

61

5

71

3,3

33

81

1,6

67

91

0

Tem

pe

ratu

ra (

°C)

Mas

sa (

%)

Temperatura (°C)

I-A

TG

DTA

-2,5

-2

-1,5

-1

-0,5

0

0,5

1

1,5

65

70

75

80

85

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95

100

105

25

12

3,3

33

22

1,6

67

32

0

41

8,3

33

51

6,6

67

61

5

71

3,3

33

81

1,6

67

91

0

Tem

pe

ratu

ra (

°C)

Mas

sa (

%)

Tempaeratura (°C)

I-C

TG

DTA

-3 -2,5 -2 -1,5 -1 -0,5 0 0,5 1 1,5

65

70

75

80

85

90

95

100

105

25

12

3,3

33

22

1,6

67

32

0

41

8,3

33

51

6,6

67

61

5

71

3,3

33

81

1,6

67

91

0

Tem

pe

ratu

a (°

C)

Mas

sa (

%)

Temperatura (°C)

I-F

TG

DTA

-4

-3

-2

-1

0

1

2

70

75

80

85

90

95

100

105 2

5

12

3,3

33

22

1,6

67

32

0

41

8,3

33

51

6,6

67

61

5

71

3,3

33

81

1,6

67

91

0

Tem

pe

ratu

ra (

°C)

Mas

sa (

%)

Temperatura (°C)

I-G

TG

DTA

ANEXO I – CURVAS DE TG/DTA DA CALES CH-I E CH-III

-3,5 -3 -2,5 -2 -1,5 -1 -0,5 0 0,5 1 1,5

65

70

75

80

85

90

95

100

105

25

12

3,3

33

22

1,6

67

32

0

41

8,3

33

51

6,6

67

61

5

71

3,3

33

81

1,6

67

91

0

Tem

pe

ratu

ra (

°C)

Mas

sa (

%)

Temperatura (°C)

I-H

TG

DTA

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ANEXO II – DIFRATOGRAMAS DAS CALES CH-I E CH-III