Proposta para intervenção Comunidades

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PROJETO RECRIAR NA COMUNIDADE

O primeiro passo é encontrar um local para as reuniões e a implantação do projeto, esse local pode

ser o salão da Igreja, uma área já utilizada como clube ou espaço para reunião, o ideal é que não seja

a casa de nenhum morador, pois isso poderá acarretar alguns problemas como limitação dos

membros dos grupos por problemas pessoais com o morador.

Categoria 1 – Planejamento da Intervenção

1.Contato com a Comunidade

1.1. Identificação dos líderes

Objetivo – Conhecer as pessoas que representam a comunidade, seja no campo religioso, comercial,

politico, relações, saúde, lazer. Fazer levantamento das expectativas, desafios, necessidade,

limitações e obstáculos ao trabalho a ser desenvolvido.

Requisito – Pessoas que tenham interesse no desenvolvimento da comunidade, através da educação,

trabalho e ética.

A partir do contato com esses lideres, haverá a possibilidade da criação de grupos de moradores, que

tenham afinidade com essas lideranças.

Cuidado – A proposta da aproximação é basicamente criar grupos de trabalho e não construir

hierarquias no poder.

1.2. Criação de grupos de moradores para mão de obra e articuladores

Objetivo – A partir das expectativas, necessidade e desafios buscar pessoas que tenham “talentos” e

interesses semelhantes, para organizar grupos de trabalho – administração do projeto, produção e

relações internas, mão de obra para construção e confecção de componentes; tecnologia e

marketing; saneamento; gestão de resíduos e reciclagem; educação e capacitação.

Requisito – Todo grupo deve ter um líder que será responsável pela documentação de todas as

reuniões e atividades. Esses líderes farão reuniões mensais para avaliação e sugestões para

continuidade do trabalho ou criação de novas abordagens e logística.

Cuidado – Acompanhamento dos trabalhos e da interação constante com a comunidade de um

modo geral e órgãos competentes.

1.3. Inventário físico do local – documentação, materiais, carências, potencialidades

Objetivo – Conhecer a documentação do local e buscar diálogo com Prefeitura e CETESB para saber

se a área faz parte de área de risco, é área privada, ou existem fatores que inviabilizem a

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continuidade e melhoramento do condomínio. Caso não exista nenhum interdito, buscar junto aos

órgãos competentes a legalização do local ou a proposta de uma nova área para aquela comunidade.

Requisito – O grupo deve ser orientado por uma equipe jurídica.

Cuidado – Toda resolução deverá ser documentada e não será aceito nenhum compromisso ou

“troca de favores” para manutenção da área, se esta apresentar risco.

1.4. Levantamento das expectativas, potencialidades e necessidades da comunidade

Objetivo – Através desse levantamento será definido o projeto, materiais que serão utilizados,

sistema construtivo, criação das oficinas e produção de componentes e tecnologias, abordagem com

os órgãos públicos, escolas e moradores em geral.

Requisito – Os lideres devem fazer o levantamento com o maior número possível de moradores,

documentar e criar dinâmicas de grupo para estabelecer prioridades e estratégias de trabalho.

Cuidado – Atender a expectativas e necessidades do maior número de pessoas, evitando privilégios e

negociações que atendam à interesse de pessoas ou grupos que não façam parte da comunidade.

Depois dessa etapa, os grupos podem se organizar e iniciar os trabalhos:

2.Seleção de Grupos de moradores

2.1. Capacitação

Objetivo – Oferecer noções básicas de reciclagem de sustentabilidade e educação ambiental,

resíduos da construção para confecção dos materiais e tecnologias desenvolvidas, horta e jardim;

sistemas construtivos utilizando diversas técnicas e materiais sustentáveis (locais, recicláveis e

reciclados), banheiro seco, energia limpa e captação e reuso de água. A partir desse primeiro contato

com a sustentabilidade, os grupos poderão se dividir em subgrupos de acordo com os interesses e

aptidões de cada um.

Requisitos – O material didático devera ser disponibilizado para todos os moradores que se

interessarem; todas as etapas serão avaliadas através de oficinas.

Cuidado – Não focar em teoria e abordagens que não tenham nenhuma relação com o cotidiano da

comunidade, para que o curso e a proposta não esvaziem.

2.2. Oficinas

Objetivo – Aprofundar os temas do Curso de capacitação, para os novos grupos que se formaram a

partir de interesses e aptidões comuns. Os lideres devem iniciar negociações com parcerias para

captação dos materiais e maquinário que serão utilizados nas oficinas.

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Requisitos – Todo material ou componente produzido nas oficinas deve atender às Normas de

segurança e qualidade. Todo processo deverá se documentado para continuidade em futuros

projetos.

Cuidados – O controle de qualidade deverá ser rigoroso e adequado às Normas Brasileiras.

2.3. Inclusão Social

Objetivo – Possibilitar aos grupos que sejam reintegrados ao mercado de trabalho, seja da

construção civil, ou produção de componentes e equipamentos.

Requisitos – Os grupos deverão trazer para a comunidade os resultados do projeto, tanto como mão

de obra, quanto como multiplicadores do curso de capacitação ou instrutores de oficinas e produção.

Cuidados – Dar continuidade ao processo de aprendizagem através de atualização permanente, em

cursos e oficinas oferecidas fora da comunidade.

2.4. Busca de parcerias

Objetivo – Buscar nas áreas próximas á comunidade, empresas, escolas, órgão de apoio a

empreendedorismo, mídia local, etc. parcerias para apoiar, divulgar e aperfeiçoar os resultados do

projeto e ampliar o raio de atuação.

Requisitos – Pessoas que tenham compromisso e identificação com o projeto e os moradores da

comunidade.

Cuidados – Fazer parcerias visando unicamente o beneficio da comunidade como um todo e não

interesses pessoais.

2.5. Interdisciplinaridade

Objetivo – É fundamental que todos os grupos e todas as etapas tenham coordenadores com

formação em diversas áreas como Direito, Psicologia, Ciências Sociais, Arquitetura, Administração,

Engenharia, TI, Meio Ambiente, Educadores, Artesãos, etc. para garantir a qualidade das abordagens

e desenvolvimento dos trabalhos.

Requisitos – Todos os profissionais deverão ter qualificação e envolvimento com a causa e o grupo

de moradores da comunidade.

Cuidados – Não permitir que a teoria seja desvinculada da prática e documentar todas as ações e

propostas.

2.6. Produção de materiais e tecnologias

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Objetivo – A partir do levantamento dos materiais existentes na região e dos interesses dos grupos

de capacitação, buscar profissionais para orientar a produção e qualidade de componentes e

tecnologia, bem como a comercialização dos mesmos para investir na própria comunidade.

Requisitos – Todos os materiais deverão estar de acordo com as Normas de qualidade e segurança

brasileiras. Os produtos serão avaliados por profissionais de cada área. O grupo não poderá utilizar o

trabalho infantil em suas atividades.

Cuidados – Fazer ensaios para certificar a qualidade de todo material produzido.

2.7. Gestão de resíduos e reciclagem

Objetivo – Criar um espaço para cooperativa de reciclagem de materiais descartados na

comunidade. Buscar parcerias com órgãos que administram, capacitam e legalizam cooperativas de

reciclagem. Criar grupos de conscientização dos moradores para distribuir cartilhas que ensinam

compostagem, reciclagem, reutilização, etc. Organizar mutirões de limpeza de bueiros e terrenos e

buscar parceria com a Prefeitura para recolher material coletado. Buscar apoio de entidades públicas

de controle de pragas como ratos, baratas, etc.

Requisitos – O grupo de Gestão não poderá utilizar o trabalho infantil em suas atividades.

Cuidados - Pessoas que trabalhem nessa área deverão utilizar Equipamentos de proteção para

manuseio dos materiais.

2.8.Paisagismo e Horta

Objetivo – Criar espaços para horta e jardins, plantação de árvores e floreiras suspensas quando não

houver espaço nas casas. Buscar parceria com a Secretaria do Meio Ambiente e seus programas de

implantação de projeto de hortas.

Requisitos – A produção será para uso da comunidade e a plantação e manutenção poderá ser feita

por todos os moradores, inclusive crianças e jovens.

Cuidados – Seguir orientação de profissionais, para não haver contaminação dos alimentos.

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2.10. Gestão Financeira

Objetivo – Organizar e administrar os recursos que serão necessários para a implantação do Projeto,

bem como os recursos gerados pelo comércio dos produtos gerados pelo projeto, de modo que toda

a comunidade seja beneficiada.

Requisitos – Pessoas com formação em administração e gestão financeira deverão coordenar esse

grupo e moradores serão responsáveis por apresentar contas e priorizar a transparência e ética em

todas as operações.

Cuidados – Documentar todas as operações através de contratos, notas fiscais e relatórios.

Categoria 3. - Planejamento Sustentável da obra

3. Projeto que prevê:

3.1. Acessibilidade – Todos os espaços de passagem e banheiros permitem a movimentação segura

de idosos e cadeirantes.

3.2. Adequação Climática - Adequação ao local e ao clima, visando o combate à radiação solar

excessiva, à grande luminosidade e privilegiando a ventilação e iluminação natural.

3.3. Águas – Captação e utilização de água de chuva, redução do uso e tratamento de águas

residuárias, utilização de dispositivos economizadores de água, reuso de águas cinzas.

3.4. Energia – Redução do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias de baixo custo,

para utilização de energia solar e eólica, de acordo com a região.

3.5. Materiais e Tecnologias de Construção - Identificar os materiais locais ambientalmente mais

adequados que reduzam o impacto gerado na sua produção e distribuição, emprego de madeira e

agregados com origem legalizada, geração e correta destinação de resíduos no canteiro e reuso de

materiais, desenvolver novos materiais e componentes - melhor integração da avaliação do ciclo de

vida (ACV); proporcionar a interação dos moradores da comunidade e seus saberes com o processo

construtivo.

3.6. Saneamento eficiente – Sobre esgoto, é interessante prever tratamento adequado de esgoto no

local e, quando possível, o uso de banheiro seco. Desenvolver fossa séptica mais eficiente e, ao

mesmo tempo, acessível às populações mais pobres.

3.7. Sistema construtivo - Adoção de sistemas de construção otimizados que possibilitem a

autoconstrução e a diminuição de perdas de material.

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3.8. Paisagismo produtivo – Capacidade de aproveitar as características da flora e dos recursos

naturais disponíveis da região integrando o empreendimento ao seu entorno e ajudando

napreservação das espécies locais. Toda casa deverá ter uma horta ou jardim.

Categoria 4. - Pós uso

4.1. Educação ambiental dos moradores

Objetivo – Criar eventos e cursos permanentes para atualizar e propor novas abordagens para a

prática sustentável. Dar continuidade ao trabalho de educação ambiental iniciado na fase de

Planejamento – capacitação, para que os moradores incorporem a cultura da sustentabilidade na sua

rotina, valores e hábitos.

Requisitos – Envolver toda a comunidade e escolas das redondezas. Buscar parcerias entre

educadores, agentes de saúde e profissionais ligados à aárea.

Cuidados – Não deixar espaço de tempo longo, entre os eventos, para que novos hábitos e valores

sejam sedimentados.

4.2. Capacitação para gestão do empreendimento

Objetivo – Ampliar o grupo de Gestão Financeira criado na fase de Implantação do Projeto e

introduzir mais membros da comunidade. Abrir espaço para parcerias com órgãos de apoio ao

trabalhador e jovens, através de cursos profissionalizantes para jovens, mulheres e aposentados.

Requisitos – Todo curso deverá ser gratuito e aberto para toda comunidade.

Cuidados – Os coordenadores deste grupo deverão ter vivência com empresas e projetos sociais.

Considerações Finais

O elemento que define a “escolha” de um tipo de edificação, para essa camada da população não é o

custo ambiental, mas o custo econômico final da edificação e como eles poderão arcar com esse

valor, portanto, a necessidade de redução da desigualdade social e econômica é tão importante

quanto o aspecto ambiental.

Não podemos pensar em Desenvolvimento Sustentável sem equidade social e, para tanto é urgente

criar novos instrumentos de interação, aproximação, trocas de saberes e fazeres com essa camada da

população que sempre esteve à margem das decisões e benefícios produzidos pela ciência e

tecnologia.

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Tentei desenvolver apenas as Categorias relacionadas ao processo de Planejamento é Pós uso, as

categorias relacionadas à Implantação, Projeto e Construção merecem um novo olhar, desde a

“escolha” do terreno, que tem como único critério de escolha - “área desocupada

temporariamente”, até a diretrizes de projeto que devem se adequar a uma realidade de carência

total, enquanto tenta manter a qualidade e a proposta de sustentabilidade.

Precisamos de um jeito novo para pensar Arquitetura e Construção Sustentável, para um planeta rico

em carências, miséria e explosão demográfica.

Arquiteta Míriam Morata Novaes p/ RECRIAR.COM.VOCÊ