Propostas Metodológicas Para a Análise de Telejornal

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  1 Propostas Metodológicas para a Análise de Telejornais 1  Edna de Mello SILVA 2  Universidade Federal do Tocantins, Palmas, TO Resumo Este artigo apresenta a discussão sobre os procedimentos metodológicos para pesquisas científicas que tenham como objeto a análise de telejornais, tendo como base a Análise de Conteúdo. Equaciona também as etapas de investigação do método adaptadas às necessidades do produto jornalístico televisivo. O processo de pré-análise é iniciado pela decupagem criteriosa do material a ser analisado; as inferências são feitas a partir dos resultados obtidos com a categorização, fase que fornece elementos para a interpretação dos dados. Palavras-chave: telejornalismo; metodologia de pesquisa; análise de conteúdo No cenário dos produtos televisivos, os telejornais constituem o principal meio em que grande parte da população busca informações. Presentes na grade da programação das emissoras brasileiras, praticamente desde a inauguração da televisão 3 , os telejornais são preciosos objetos de pesquisa, dada a diversidade de enfoques e de tipos de investigação que sua análise propricia. Por ser uma prática jornalística inserida no contexto de produção de programas televisivos que obrigatoriamente são ancorados na linguagem audiovisual, o telejornal 1  Trabalho apresentado no GP Telejornalismo, IX Encontro dos Grupos/Núcleos de Pesquisas em Comunicação, evento componente do XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2  Professora Adjunta da Universidade Federal do Tocantins, onde ministra a disciplina de Telejornalismo e orienta projetos experimentais e pesquisas científicas na área de produção audiovisual. Fez doutorado e mestrado em Ciências da Comunicação na ECA-USP. E-mail: [email protected]. 3  O telejornal “Imagens do Dia” foi veiculado a partir de 20 de setembro de 1950. Em sua edição inaugural, o jornal noticiou o desfile cívico-militar pelas ruas de São Paulo. As reportagens foram gravadas com câmeras  Auricon de cinema, com filme de 16 mm. Souza (1984) e Rezende (2000).

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Análise acadêmica de notícias em telejornal

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    Propostas Metodolgicas para a Anlise de Telejornais1

    Edna de Mello SILVA2

    Universidade Federal do Tocantins, Palmas, TO

    Resumo

    Este artigo apresenta a discusso sobre os procedimentos metodolgicos para pesquisas cientficas que tenham como objeto a anlise de telejornais, tendo como base a Anlise de Contedo. Equaciona tambm as etapas de investigao do mtodo adaptadas s necessidades do produto jornalstico televisivo. O processo de pr-anlise iniciado pela decupagem criteriosa do material a ser analisado; as inferncias so feitas a partir dos resultados obtidos com a categorizao, fase que fornece elementos para a interpretao dos dados.

    Palavras-chave: telejornalismo; metodologia de pesquisa; anlise de contedo

    No cenrio dos produtos televisivos, os telejornais constituem o principal meio em que grande parte da populao busca informaes. Presentes na grade da programao das emissoras brasileiras, praticamente desde a inaugurao da televiso3, os telejornais so preciosos objetos de pesquisa, dada a diversidade de enfoques e de tipos de investigao que sua anlise propricia.

    Por ser uma prtica jornalstica inserida no contexto de produo de programas televisivos que obrigatoriamente so ancorados na linguagem audiovisual, o telejornal

    1 Trabalho apresentado no GP Telejornalismo, IX Encontro dos Grupos/Ncleos de Pesquisas em Comunicao,

    evento componente do XXXII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao.

    2 Professora Adjunta da Universidade Federal do Tocantins, onde ministra a disciplina de Telejornalismo e orienta

    projetos experimentais e pesquisas cientficas na rea de produo audiovisual. Fez doutorado e mestrado em Cincias da Comunicao na ECA-USP. E-mail: [email protected].

    3 O telejornal Imagens do Dia foi veiculado a partir de 20 de setembro de 1950. Em sua edio inaugural, o jornal

    noticiou o desfile cvico-militar pelas ruas de So Paulo. As reportagens foram gravadas com cmeras Auricon de cinema, com filme de 16 mm. Souza (1984) e Rezende (2000).

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    diferencia-se de outros produtos do jornalismo, tendo ao longo dos anos constitudo uma linguagem prpria. Essa peculiaridade, aliada tradio de quase 60 anos de presena diria na casa dos brasileiros, tornam a pesquisa cientfica do jornalismo de televiso um desafio para o pesquisador que tem em suas mos um objeto que fortemente marcado pelas caractersticas de seu processo de produo, transmisso e recepo.

    O olhar cientfico acerca de um produto jornalstico deve levar em conta os pressupostos tericos adotados pelo pesquisador. A problematizao do tema e o levantamento de hipteses so etapas norteadoras para a escolha de procedimentos metodolgicos, a fim de que estes tragam elementos que favoream a anlise do objeto, configurando-se um processo contnuo de investigao e reflexo sobre o processo.

    Toda pesquisa nasce de uma busca do pesquisador. A inquietao que se inscreve num emaranhado de idias, aos poucos vai se revelando e ainda um tanto difusa se apresenta na forma de hipteses. Esse desejo de encontrar respostas para um problema a mola propulsora de uma pesquisa, em especial da cientfica, que exige do investigador esforo e disciplina para empreender aes que necessariamente devem atender aos pressupostos da cincia. Para Santaella (2006, p. 82):

    O que distingue basicamente o conhecimento obtido por meio da cincia sua busca, mais do que a mera descrio dos fenmenos, por estabelecer, atravs de leis e teorias, os princpios gerais capazes de explicar os fatos, estabelecendo relaes e predizendo a ocorrncia de relaes e acontecimentos ainda no observados. Por isso, a cincia desenvolve meios que lhe so prprios para chegar quilo que busca.

    O objetivo deste artigo trazer o debate de estratgias metodolgicas que possam contribuir para o estudo dos telejornais com base na anlise de contedo. Acreditamos que as propostas apresentadas podem ajudar a consolidar o campo de pesquisa do jornalismo, que na ausncia de metodologias prprias, apropria-se e adapta as existentes para a sua realidade singular.

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    A fase da pr-anlise: a definio do corpus e a decupagem do telejornal

    A anlise de contedo um importante instrumento para a discusso dos elementos presentes no telejornal. Severino (2007, p. 121) defende que uma metodologia de tratamento e anlise de informaes constantes de um documento e que se trata de um conjunto de tcnicas de anlise das comunicaes. Diz ele:

    Envolve, portanto, a anlise de contedo das mensagens, os enunciados dos discursos, a busca do significado das mensagens. As linguagens, a expresso verbal, os enunciados, so vistos como indicadores significativos, indispensveis para a compreenso dos problemas ligados s prticas humanas e a seus componentes psicossociais. As mensagens podem ser verbais (orais ou escritas), gestuais, figurativas, documentais.

    Bardin (1977) considera que a anlise de contedo organiza-se em trs fases: a pr-anlise, a explorao do material e o tratamento dos resultados (inferncia e interpretao). Na fase de pr-anlise sero feitas a sistematizao das idias iniciais, a escolha dos documentos a serem submetidos anlise e a elaborao dos indicadores que iro fundamentar a interpretao final.

    Para seguir o rigor exigido em pesquisas cientficas, a composio do corpus que permitir a anlise do objeto uma etapa importante do processo investigativo. A escolha da emissora que se pretende estudar, a observao do horrio de veiculao do telejornal e do pblico a que se destina podem ser elementos cruciais para o estudo do fenmeno que se deseja explorar. A delimitao da amostra outro critrio que pode definir a pesquisa. Rosrio (2006, p.47) explica que comum que se queira examinar sempre mais elementos do que o tempo hbil possibilita,e que o problema e os objetivos de pesquisa que so os norteadores da constituio do corpus. Diz ela:

    O tamanho do material de anlise vai depender dos objetivos especficos da pesquisa, bem como da opo pelo procedimento de coleta de informaes que provavelmente vai recair ou sobre a pesquisa quantitativa ou sobre a qualitativa, ou, ainda, sobre ambas, o que vai determinar tambm a quantidade de material a ser coletado.

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    Nesse sentido, a opo de gravar os telejornais exibidos da forma como os telespectadores os esto assistindo em suas casas, apresenta-se como uma ferramenta diferenciada de coleta de informaes. Para tanto, o pesquisador deve dar prosseguimento gravao das edies dos telejornais a serem analisados a partir da emisso feita pelo canal da televiso, nos horrios em que os noticirios televisivos vo ao ar. Essa medida pode trazer elementos fundamentais para a anlise que dificilmente seriam passveis de estudo, considerando que a televiso no permite a repetio dos contedos exibidos e que o tempo da exibio sempre o tempo real, como mostrar problemas tcnicos que porventura tenham ocorrido no momento da transmisso - a troca de um VT, por exemplo. Rezende (2000, p. 183) ao descrever os procedimentos metodolgicos que deram suporte sua pesquisa esclarece:

    Por se tratar de um fenmeno estvel, a escolha da semana constitutiva da amostra se deu de modo aleatrio. Cuidou-se apenas de evitar que casse em um perodo em que o contedo do noticirio estivesse afetado por alguma circunstncia recesso parlamentar, inexistncia de competies esportivas, ou a ocorrncia de algum evento que ocupasse em demasia a ateno da mdia (Olimpadas, Copa do Mundo, Natal, eleies). (...) Todas as edies dos telejornais seis de cada foram gravadas em vdeo e udio, na casa do autor, em So Joo Del-Rei, estado de Minas Gerais, de emisses captadas por antena parablica.

    Possibilitado pelo acesso Internet e o compartilhamento de contedos, uma alternativa gravao dos telejornais o download dos programas jornalsticos de televiso, na ntegra ou parcialmente, de sites especializados independentes ou ligados ao grupo empresarial da prpria emissora. No site Youtube podem ser encontrados exemplares de telejornais que foram disponibilizados pelos usurios do sistema, porm, sem garantias de que no sofreram edio posterior ao momento da emisso. Da mesma forma, o portal Globo.com oferece os contedos de telejornais exibidos pela Rede Globo de Televiso, organizados por assuntos ou na verso integral, no entanto, o material editado sem intervalos entre os blocos, sem registrar a durao e os comerciais caractersticos de cada regio em que os programas foram exibidos.

    A fase da decupagem das gravaes outra etapa importante do processo de tratamento do corpus selecionado para a pesquisa. Nesta etapa so transcritos todas as informaes relacionadas ao texto verbal (fala dos apresentadores, sonoras, offs e

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    passagens dos reprteres, fala dos comentaristas etc), ao texto imagtico (descrio das cenas, imagens, cenrios, efeitos de edio etc) e ao texto sonoro (trilha musical, BG, sobe som, efeitos sonoros etc). Tambm podem ser registrados os formatos da notcia no telejornal, os assuntos de cada reportagem ou notcia ou outros elementos que merecem a ateno do pesquisador. essa organizao dos dados que favorece a anlise de contedo para Bardin (1997, p. 119) :

    A anlise de contedo assenta implicitamente na crena de que a categorizao (passagem de dados brutos a dados organizados) no introduz desvios (por excesso ou por recusa) no material, mas que d a conhecer indces invisveis, ao nvel dos dados brutos.

    Por meio da decupagem possvel mapear todos os elementos que compem o telejornal. O pesquisador pode orientar o processo de transcrio j observando todas as caractersticas que sero importantes para a anlise, como o tempo de exposio de cada notcia, de quem foram as sonoras utilizadas na reportagem etc. o tipo de anlise que se pretende empreender na pesquisa que define o detalhamento do processo de decupagem. Apresentamos a seguir um modelo bsico de formulrio para decupagem que pode ser adaptado s necessidades de cada pesquisador/pesquisa:

    Telejornal: Jornal Hoje Data da Exibio: Formato

    da Notcia

    Elementos Imagticos

    Elementos Sonoros

    Transcrio do Texto

    Tempo/ Durao

    Escalada

    Apresentador (Evaristo Costa) em quadro

    Apresentador(a) Sandra Annenberg em quadro

    (...)

    BG Vinheta Escalada

    BG Vinheta Escalada

    (...)

    VV

    VV

    (...)

    BOA TARDE/// MORRE PRIMEIRA VTIMA DE GRIPE SUNA NO BRASIL///

    CRESCE O NMERO DE INADIMPLENTES EM MAIO///

    (...)

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    A descrio das imagens e dos elementos sonoros podem trazer contribuies no momento da anlise, principalmente porque em televiso estes recursos tm significados prprios e muitas vezes so inseridos intencionalmente pelos editores de imagem como complemento informao. Barbeiro e Lima (2002, p. 106) recomendam essa orientao aos editores:

    O editor deve utilizar todos os recursos audiovisuais possveis para conseguir uma boa edio, mas nunca se valer deles para deturpar uma reportagem. H tambm a questo da subjetividade, que na edio de uma matria atua duas vezes: a primeira, com a interpretao dos fatos pelo reprter, e a segunda, do editor, que no foi para a rua, no colheu as sonoras, no conversou com o entrevistado e no gravou o off. um novo trabalho e uma nova interpretao, portanto, mais uma carga de subjetividade.

    Da mesma forma, a transcrio do texto falado pelos apresentadores, reprteres e entrevistados merecem ateno especial. Para facilitar a identificao dos falantes no momento da anlise, recomendamos que os textos do apresentador e do reprter sejam transcritos em letras maisculas e a fala dos entrevistados (sonoras) em minsculas. As pausas e as inflexes de voz durante as nfases dadas no momento da locuo tambm podem ser sinalizadas na decupagem. A indicao de pausas pode ser feita por barras: uma barra (/) para pausas curtas e trs barras para pausas longas (///). A nfase em palavras durante a locuo pode ser demonstrada por um trao sublinhando a palavra ou parte do texto em que ocorreu.

    A explorao do material: a categorizao dos elementos

    O processo de decupagem demanda tempo e esforo concentrados do investigador, porm um momento enriquecedor no qual muitos elementos da anlise iram se firmar como significativos, adquirindo preponderncia sobre os demais. Finalizada esta etapa, com base nessa experincia e tendo em vista o objetivo da pesquisa possvel dar sequncia explorao do corpus. Para tanto, sugerimos a organizao do material em categorias:

    A categorizao uma operao de classificao de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciao e, seguidamente, por reagrupamento segundo o gnero (analogia), com os critrios previamente definidos. As categorias so

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    rubricas ou classes as quais renem um grupo de elementos (unidades de registro, no caso da anlise de contedo) sob um ttulo genrico, agrupamento esse efetuado em razo dos caracteres comuns destes elementos.(BARDIN, 1977, P. 117)

    Segundo a autora (idem), a categorizao envolve duas etapas: o inventrio e a classificao. Na primeira etapa, os elementos so isolados e na segunda, so organizados em grupos similares. Uma boa categorizao deve possuir as seguintes caractersticas:

    A excluso mtua: um mesmo elemento no pode estar em mais de uma categoria;

    A homogeneidade: s podem ser includos na mesma categoria elementos semelhantes;

    A pertinncia: as categorias escolhidas devem atender ao propsito da investigao;

    A objetividade e a fidelidade: os procedimentos de classificao devem ser objetivos de forma a garantir a fidedignidade dos resultados;

    A produtividade: as categorias devem ser frteis, propiciar resultados que levem aos ndices de inferncia, hipteses e dados.

    Um exemplo de categorizao seria a classificao das notcias de um telejornal tendo como critrio o tema das reportagens a fim de se perceber a incidncia dos principais assuntos tratados naquela edio. Comportamento, polcia, consumo, poltica, servios, esportes etc poderiam ser categorias escolhidas pelo investigador, neste caso especfico. Em outro exemplo, na hiptese do pesquisador estar estudando a ocorrncia de determinado fenmeno como a insero no noticirio de imagens gravadas por celular ou com o uso de tecnologias similares, a categorizao poderia classificar o tipo de material produzido, o tempo de exibio no telejornal, alm do assunto abordado ou outros critrios relevantes para a pesquisa.

    O processo de categorizao deve ser uma escolha do pesquisador, baseada em sua necessidade de anlise, de acordo com os objetivos da pesquisa. O mesmo material pode possibilitar mais de uma categorizao e podem ser estabelecidos novos critrios de classificao sempre que forem pertinentes anlise. Para Bardin (1977, p. 118):

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    Classificar elementos em categorias impe a investigao do que cada um deles tem em comum com outros. O que vai permitir o seu agrupamento, a parte comum existente entre eles. possvel, contudo, que outros critrios insistam noutros aspectos de analogia, talvez modificando a repartio anterior.

    Os resultados da categorizao podem ser apresentados na pesquisa no formato de grficos, tabelas ou quadros, a fim de facilitar a visualizao dos dados. Embora no seja imprescindvel, a organizao dos resultados encontrados na fase de categorizao pode contribuir para uma otimizao das etapas subsequentes, os processos de inferncia e de interpretao dos dados.

    Abaixo, apresentamos, como exemplo, um grfico ilustrativo dos resultados da categorizao dos contedos de informao jornalstica e de entretenimento no Programa Mais Voc, numa pesquisa que utilizou a metodologia da anlise de contedo4:

    Grfico III Edies do Mais Voc

    0

    0,5

    1

    1,5

    2

    2,5

    3

    27/4/2009 28/4/2009 29/4/2009 30/4/2009 1/5/2009

    Informao Entretenimento Servio

    4 RODRIGUES, Graziela Aires. Entretenimento e jornalismo: o hibridismo de gneros no Programa Mais Voc da

    Rede Globo. 2009. 90 p. Monografia (Graduao em Jornalismo). Universidade Federal do Tocantins. Palmas. Orientao da Profa. Dra. Edna de Mello Silva.

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    A sistematizao dos resultados da classificao por categorias constitui-se como um facilitador do processo seguinte: a inferncia. por meio desta etapa que o pesquisador infere os primeiros dados de anlise, ou seja, faz o cruzamento das informaes encontradas na categorizao e estabelece quais sero os polos em que se concentram sua interpretao.

    A inferncia a atividade que vai possibilitar ao investigador aprofundar-se nos resultados da categorizao, evidenciando as relaes entre eles e as variveis percebidas no fenmeno estudado. Fonseca Jnior (2005, p. 299) esclarece que existem diversos processos e variveis de inferncias que podem ser reunidas em dois grandes grupos:

    Inferncias especficas: so aquelas vinculadas especificidade do problema investigado;

    Inferncias gerais: so aquelas que envolvem caractersticas que

    vo alm do problema especfico estudado, mas que mantm relao com o resultado obtido.

    A partir das inferncias suscitadas pela investigao, o pesquisador pode apresentar a anlise inicial dos dados, bem como explicitar o nvel de interpretao que ser empreendido, estabelecendo as relaes entre os materiais estudados e as primeiras indicaes das leituras dos resultados obtidos. O autor (Fonseca Jnior, 2005, p. 284) destaca, a partir dos conhecimentos de Bardin:

    Na anlise de contedo, a inferncia considerada uma operao lgica destinada a extrair os aspectos latentes da mensagem analisada. Assim como o arquelogo ou o detetive trabalham com vestgios, o analista trabalha com ndices cuidadosamente postos em evidncia, tirando partido do tratamento das mensagens que manipula, para inferir (deduzir de maneira lgica) conhecimentos sobre o emissor ou sobre o destinatrio da comunicao.

    tambm por meio da inferncia que so apresentadas as reflexes do pesquisador sobre o objeto estudado, contrapondo-se a evidncias superficiais e

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    contextualizando a percepo dos fenmenos. Veja, a seguir, um exemplo de inferncias, a partir de dados coletados em pesquisa5:

    As inferncias tornam latentes os elementos que estavam dispersos no corpus e que foram organizados na categorizao. A partir da, o pesquisador pode relacionar os dados obtidos com alguns aspectos de seu contexto e da especificidade do objeto. No caso especial do telejornalismo, importante salientar as condies de produo das notcias, as escolhas editoriais baseadas no horrio de programao, a adequao da linguagem ao pblico alvo e demais caractersticas de cada noticirio televisivo.

    Ao fim deste processo, o investigador ter em mos um vasto material que dar suporte interpretao dos dados, fase em que poder apresentar suas concluses sobre o objeto e o fenmeno estudado. Durante a etapa de interpretao, preciso resgatar os marcos tericos norteadores da investigao e confront-los com os resultados obtidos pela anlise e as hipteses iniciais da pesquisa.

    esse o momento de tecer comentrios analticos e evidenciar leituras subjacentes ao processo, que somente o olhar atento do pesquisador pode vislumbrar.

    5 RODRIGUES, Graziela Aires. Obra j citada.

    (...) Nas edies analisadas, foram observados todos os dias da semana para que com clareza pudesse se perceber se o programa segue uma linearidade em seus contedos. Assim trs grficos (ver grfico I, II e III) foram feitos pra a visualizao. Nos grficos possvel observar que as informaes jornalsticas so mais presentes nas segundas-feiras quando normalmente a apresentadora mostra os assuntos destaques no fim de semana, e nas quintas-feiras onde o programa aborda mais contedos informativos com matrias de interesse pblico. As matrias de servio so equilibradas durante toda a semana alm da culinria, contedos que mostram como ganhar um dinheiro extra, matrias sobre sade, educao e vida em famlia. (...)

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    Ferreira (2000, p. 17) esclarece que a anlise de contedo busca chegar alm da superfcie, da aparncia, para alcanar a real profundidade do fenmeno: As interpretaes a que levam as inferncias sero sempre no sentido de buscar o que se esconde sob a aparente realidade, o que significa verdadeiramente o discurso enunciado, o que querem dizer, em profundidade, certas afirmaes, aparentemente superficiais.

    A anlise de contedo pode ainda possibilitar o desdobramento de outras tcnicas de pesquisa como a anlise de discurso. Com base em referencial terico adequado aos objetivos especficos a que se prope a pesquisa, possvel efetuar o tratamento da interpretao dos dados de forma a se aferir leituras elucidativas sobre o objeto estudado.

    Apesar disso, sabe-se que toda pesquisa nasce de uma busca e no se finda quando os resultados so encontrados. Ao contrrio, os dados obtidos sero o ponto de partida de novas pesquisas e novas descobertas. No campo do jornalismo televisivo, as possibilidades de pesquisa so to infinitas quanto necessrias. Cabe a cada pesquisador trilhar o seu caminho e escolher a sua rota.

    Referncias bibliogrficas

    BARDIN, Laurence. Anlise de Contedo. Lisboa: Edies 70, 1977.

    BARBEIRO, Herdoto; LIMA, Paulo Rodolfo de. Manual de Telejornalismo: os segredos da notcia. Rio de Janeiro: Campus, 2002.

    BECKER, Beatriz. A linguagem do telejornal: um estudo da cobertura dos 500 anos do descobrimento do Brasil. Rio de Janeiro: E- Papers Servios Editoriais, 2005.

    FERREIRA, Berta Weil. Anlise de Contedo. Aletheia : Revista do Curso de Psicologia,Canoas, n. 11, 2000.

    FONSECA JNIOR, Wilson Corra. Anlise do contedo. In: DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio (orgs.). Metdos e tcnicas de Pesquisa em Comunicao. So Paulo: Atlas, 2005.

    REZENDE, Guilherme Jorge de. Telejornalismo no Brasil: um perfil editorial. So Paulo: Summus, 2000.

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    RODRIGUES, Graziela Aires. Entretenimento e jornalismo: o hibridismo de gneros no Programa Mais Voc da Rede Globo. 2009. 90 p. Monografia (Graduao em Jornalismo). Universidade Federal do Tocantins. Palmas.

    ROSRIO, Nsia Martins do. A via da complementaridade: reflexes sobre a anlise de sentidos e seus percursos metodolgicos. In: MALDONADO, Alberto Efendy et alii. Metologias de pesquisa em comunicao: olhares, trilhas e processos. Porto Alegre: Sulina, 2006.

    SANTAELLA, Lucia. O jornalismo cientfico como intermedirio cultural. Revista Lbero, Ano IX, no. 18, dez 2006.

    SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho cientfico. So Paulo: Cortez, 2007.

    SOUZA, Cludio Mello e. Quinze anos de histria. Rio de Janeiro: Editora Rio Grfica, 1984.