Protocolo de Exercícios para Pacientes Portadores da Síndrome da ...

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Curso de Fisioterapia PROTOCOLO DE EXERCÍCIOS PARA PACIENTES PORTADORES DA SÍNDROME DA FIBROMIALGIA BASEADOS NA AVALIAÇÃO CARDIORESPIRATÓRIA. JÚLIA NICOLAU DOS SANTOS RIO DE JANEIRO 2008

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Curso de Fisioterapia

PROTOCOLO DE EXERCÍCIOS PARA

PACIENTES PORTADORES DA SÍNDROME DA

FIBROMIALGIA BASEADOS NA AVALIAÇÃO

CARDIORESPIRATÓRIA.

JÚLIA NICOLAU DOS SANTOS

RIO DE JANEIRO

2008

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JÚLIA NICOLAU DOS SANTOS

PROTOCOLO DE EXERCÍCIOS PARA

PACIENTES PORTADORES DA SÍNDROME DA

FIBROMIALGIA BASEADOS NA AVALIAÇÃO

CARDIORESPIRATÓRIA.

Monografia de conclusão do curso, apresentada ao curso de Fisioterapia da Universidade Veiga de Almeida, como requisito para obtenção do título de fisioterapeuta. Orientador: João Carlos Moreno

RIO DE JANEIRO

2008

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

JÚLIA NICOLAU DOS SANTOS

PROTOCOLO DE EXERCÍCIOS PARA

PACIENTES PORTADORES DA SÍNDROME DA

FIBROMIALGIA BASEADOS NA AVALIAÇÃO

CARDIORESPIRATÓRIA.

UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA

CURSO DE FISIOTERAPIA

Data da aprovação: ______ / ______ / ______.

BANCA EXAMINADORA

Prof.

Universidade Veiga de Almeida - Presidente da Banca Examinadora.

Prof.

Universidade Veiga de Almeida - Membro da Banca Examinadora.

Prof.

Universidade Veiga de Almeida - Membro da Banca Examinadora.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho em especial as duas pessoas responsáveis por tudo que sei, e por tudo que sou hoje, meus pais: Rogerio Nicolau dos Santos e Maria Nicolau dos Santos.

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AGRADECIMENTO

Agradeço a todos que fizeram possível a concretização desse projeto, que estiveram do meu lado durante estes quatro anos de caminhada no período de

minha graduação.

Agradeço aos meus professores, que com a luz do conhecimento iluminaram minha mente e abriram portas para um caminho novo em minha vida.

As minhas amigas e colegas do curso que estiveram juntas por longos períodos, e compartilharam comigo momentos de alegrias e de tristezas.

Ao meu professor e orientador João Carlos Moreno, que foi muito paciente com minhas falhas e me auxiliou durante a construção desse projeto.

A minha irmã Sarah Nicolau dos Santos que digitou e colaborou com seu belíssimo português durante madrugadas para que os últimos detalhes e a

conclusão ficassem perfeitos

Aos meus supervisores de estágio que me ajudaram com referências, e sanaram minhas incansáveis dúvidas.

E em especial a Deus.

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“Eu já não sou o que era: devo ser o que me tornei”

Coco Chanel, estilista francesa (1883-1971).

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RESUMO

O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão bibliográfica sobre a Fibromialgia (FM) e a aplicabilidade de exercícios físicos em seu tratamento. Teve como principal meta a sugestão de um protocolo de exercícios aeróbicos para pacientes portadores da síndrome da fibromialgia baseando-se em uma avaliação cardiorespiratória como consulta inicial, visando os benefícios desses exercícios nos principais sintomas da síndrome e na qualidade de vida desses pacientes. A partir da revisão de artigos científicos publicados que abordassem o tema FM e exercícios, e através destes uma analise que melhor visualizasse os principais estudos com pacientes submetidos a esses exercícios.Tendo em vista os diversos aspectos e limitações encontradas a sugestão do protocolo visa focar todos os benefícios do exercício para pacientes portadores de FM, através de exercícios aeróbicos de baixa intensidade, com 60% da FCmax, sendo esses exercícios realizados por no mínimo três meses, 3 vezes por semana, com duração de 40 minutos. O descondicionamento causado pela síndrome da FM pode acarretar dores durante até mesmo as atividade de vida diárias, é necessária uma avaliação inicial bem feita visando a melhor prescrição dos exercícios e estudos futuros são encorajados com o objetivo de resultados na prática do protocolo proposto. Palavras-chaves: Fibromialgia, protocolo, avaliação cardiorespiratória, exercícios aeróbicos.

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ABSTRACT

The purpose of this study was a literature review on the Fibromyalgia (FM) and the applicability of physical exercise in their treatment. Had as its main goal the suggestion of a memorandum of aerobic exercises for patients with the syndrome of fibromyalgia based on an evaluation as cardio initial consultation, seeking the benefits of such exercises in the main symptoms of the syndrome and the quality of life. From the review of published scientific articles that address FM and exercises, and through them a meta best viewed that the major studies with patients undergoing such exercises. In view of the various aspects and found the suggestion limits of the protocol aims to focus on all the benefits of exercise for patients with fibromyalgia, through low-intensity aerobic exercises, with 60% of HRmax, and exercises performed by these at least three months, 3 times a week, lasting from 40 minutes. The unconditioned caused by the syndrome of fibromyalgia can cause pain during even the activity of daily life, we need an initial assessment and made the best prescription order of the exercises and future studies are encouraged with the aim of the practical results of the proposed protocol. Key words: Fibromyalgia, protocol, evaluation cardio, aerobic exercises

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SUMÁRIO

I INTRODUÇÃO............................................................................................. 09

II DESENVOLVIMENTO................................................................................ 11

2.1. Fibromialgia........................................................................................... 11

2.1.1 Definição............................................................................................... 11

2.1.2 Epidemiologia........................................................................................ 11

2.1.3 Etiologia e Fisiopatologia...................................................................... 12

2.1..4 Descondicionamento............................................................................ 14

2.1.5 Diagnóstico e Quadro clínico................................................................ 15

2.2. Consulta Inicial...................................................................................... 17

2.2.1 - Testes do esforço máximo.................................................................. 18

2.2.2 –Limiar anaeróbio.................................................................................. 20

2.2.3 – Teste da caminhada de 6 minutos..................................................... 20

2.3 Exercício................................................................................................. 22

2.3.1 – Benefícios do exercício na fibromialgia.............................................. 22

2.3.2 – Entendendo o exercício aeróbico....................................................... 24

2.3.3 – Exercício aeróbico e fibromialgia....................................................... 26

2.3.4 Aplicabilidade........................................................................................ 30

III DISCUSSÃO.............................................................................................. 32

IV CONCLUSÃO............................................................................................ 36

V REFÊRÊNCIAS.......................................................................................... 37

VI – ANEXO................................................................................................... 40

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INTRODUÇÃO

A Fibromialgia (FM) é uma síndrome reumática de etiologia

desconhecida, que ocorre predominantemente em mulheres com idade entre

40 e 55 anos, caracterizada por dor musculoesquelética difusa e crônica e pela

presença de sítios dolorosos à palpação (tender points), em regiões

anatomicamente determinadas (BRESSAN, 2008). É considerada uma

síndrome, não uma doença, devido a sua caracterização por um conjunto de

sinais e sintomas, que além de dor pode incluir formigamento, fadiga,

irritabilidade, enxaqueca, intestino irritável, pernas inquietas e distúrbios do

sono. Logo, a forma como ela se manifesta varia de um portador a outro

(GOLDENBERG, 2006).

Existem deficiências significativas nos pacientes com a síndrome de

fibromialgia incluindo menor amplitude articular de movimento e estados

respiratórios e cardiovasculares inadequados (HALL, 2007), mas a maioria dos

pacientes sentem apenas alguns sintomas de cada vez, o tipo e severidade

mudando com o tempo, alguns deles ainda são: espasmos musculares, dor nas

articulações, sensibilidade da pele e do tecido conjuntivo, dormência,

dificuldade para dormir, ansiedade, dores de cabeça, dificuldade para

identificar objetos verbalmente, problemas digestivos, sensibilidade a mudança

de tempo e temperatura, problemas circulatórios, síndrome pré menstrual,

infecções crônicas ou freqüentes, alergias alimentares, problemas de

concentração, confusão mental e depressão (HAMMERLY, 2006).

Os pacientes fibromiálgicos sentem-se incapazes para realizar a maioria

das atividades de vida diária (BREDARIOL, 2008) devido a todas as limitações

que afetam a qualidade de vida desse doente. Tendo em vista que o

tratamento da FM se baseia no tripé medicamento, exercício físico e educação

em saúde (MAEDA, 2006), evidencia-se a fisioterapia exercendo um papel

muito importante, com programas de exercícios físicos incluindo alongamento,

fortalecimento muscular, hidroterapia e exercícios aeróbios, como caminhada,

bicicleta e natação. De forma geral, nota-se que os exercícios de baixa

intensidade são os mais eficazes, produzindo diminuição do impacto da FM na

qualidade de vida dos pacientes (BRESSAN, 2008).

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Já elucida a literatura que a atividade física é benéfica nos sintomas da

FM. Exercícios aeróbicos ou anaeróbicos aumentam a produção de

substâncias neuro endócrinas que minimizam os sintomas, e os ajuda a

alcançar um aumento gradual do condicionamento físico global, da flexibilidade

e da habilidade funcional. Os benefícios comprovados dos exercícios são:

diminuição da dor, a melhora da força, mais energia, sono melhor, controle do

peso mais eficiente, melhora da condição cardiovascular, melhora da auto-

estima e melhora da sensação de bem estar (DUARTE, 2008).

Na ultima década, o exercício físico, especialmente o treinamento

aeróbio, tornou-se promissor como opção terapêutica da síndrome (SABBAG,

2000) e embora pareçam existir poucas duvidas quanto à melhora na qualidade

de vida, e sobretudo, na condição de saúde alcançada através de um programa

de condicionamento físico, esses benefícios dependem de uma prescrição de

exercícios adequada, no que diz respeito a sua intensidade, duração,

freqüência e modalidade. Dentre esses fatores, a intensidade do exercício

parece ter um papel de destaque no resultado final alcançado (RONDON,

1998).

Em decorrência da realidade anteriormente exposta, em que os

sintomas da fibromialgia interferem na qualidade de vida dos portadores dessa

síndrome, objetiva-se nesta revisão a sugestão de um protocolo de exercícios

aeróbicos de baixo impacto, com parâmetros pré determinados que resultem

na melhora do condicionamento físico deste doente. A estratégia adotada foi

criar uma ponte entre artigos científicos, livros específicos sobre o assunto,

artigos publicados em periódicos científicos, e casos concretos que abordem o

tema.

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DESENVOLVIMENTO

2.1 FIBROMIALGIA

2.1.1 Definição

A fibromialgia é uma enfermidade recente, com elevado grau de

morbidade e de incapacidade física e emocional (NOGUERIA, 2006), o nome

fibromialgia nasceu da junção de três termos: o latim fibra (ou tecido fibroso), o

prefixo grego mio, que diz respeito ao músculo, e algia originário do grego

algos, que significa dor. Refere-se à presença crônica de dor músculo-

esquelética difusa, incluindo um segmento da coluna e múltiplos pontos

dolorosos, conhecidos como (tender points), afetando todo corpo, sobretudo os

músculos, as articulações e os tecidos moles, que são as estruturas que

suportam as articulações, como os tendões e os ligamentos e a miofáscia. Por

isso a fibromialgia é classificada como reumatismo de partes moles, em

comparação aos clássicos reumatismos inflamatórios/desgenarativos – entre

eles, a osteoartrose e as artrites, que danificam as articulações

(GOLDENBERG, 2006).

Só recentemente reconhecida pela comunidade médica convencional

como uma doença “real”, a fibromialgia em geral atinge adultos na plenitude da

vida, embora atualmente um número cada vez maior de jovens esteja sendo

diagnosticado (HAMMERLY, 2006).

2.1.2 Epidemiologia:

A síndrome da fibromialgia tende a afetar predominantemente as

mulheres (aproximadamente, oito vezes mais mulheres do que homens) e sua

prevalência na população geral varia entre 0,66 a 4,4% (CAVALCANTE, 2006),

na faixa etária entre 20 e 60 anos, embora haja relatos de crianças afetadas

(HALL, 2007).

Estudos mostram que 10% da população mundial, entre crianças e

adultos, sofrem de dor crônica difusa, dos quais 3 a 5% correspondem a casos

de fibromialgia (HEYMANN, 2006). Estima-se que as pessoas com a síndrome

da fibromialgia englobam cerca de 20% dos pacientes nos serviços de

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reumatologia geral (HALL, 2007) e o único estudo realizado na América Latina

afirma que a fibromialgia foi à segunda desordem reumatológica mais

freqüente, com prevalência de 2,5% em cima da população de Monte Claros,

Minas Gerais (CAVALCANTE, 2006).

2.1.3 Etiologia e fisiopatologia

Uma das características da doença é a ausência de achados

laboratoriais positivos consistentes, seu inicio pode ser insidioso; pode ocorrer

após uma infecção viral, um traumatismo, relacionado ao stresse, a um

distúrbio do sono ou a algum mecanismo do sistema nervoso central (SNC). É

essencial termos em mente a teoria fisiopatológica atualmente aceita como

mais provável, ou seja, que estamos diante de uma disfunção no

processamento da dor. Portanto, estaríamos diante de uma síndrome de

amplificação dolorosa. Provavelmente, essa explicação não contemple todas

as características dessa síndrome, mas é um ponto de partida importante para

que a compreendamos (MARTINEZ, 2006).

Parece provável que múltiplos fatores contribuem com o passar do

tempo até ser alcançado um limiar, de forma que o evento final parece ser o

fator desencadeante (HALL, 2007), mas não há um agente que possa ser

responsabilizado como causador, levando assim em consideração que a

etiologia da fibromialgia continua ainda desconhecida (CHIARELLO, 2005).

Enquanto a etiologia da FM continua incerta, uma gama de fenômenos

fisiopatológicos tem sido relatada. Quais são primários e quais são

epifenômenos ainda aguarda determinação. Naturalmente, os estudos iniciais

focalizaram a estrutura do músculo. Fibras foram algumas vezes descritas

como “comidas por traças” ou em termos similares. Contudo, tais mudanças

não foram observadas em estudos controlados e a FM não é mais considerada

uma doença muscular (PRIDMORE, 2002).

Desconhecendo a causa básica da fibromialgia supõe-se que o sistema

nervoso autônomo (SNA - que controla a respiração, a freqüência cardíaca e

outros processos corporais básicos) pode ser pouco reativo. Níveis baixos de

cortisol e do hormônio do crescimento e níveis elevados de Substância P e do

fator de crescimento dos nervos (NGF) indicam que isso pode estar

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acontecendo. Uma área das atuais pesquisas focaliza as citocinas, um grupo

de mensageiros que regula o sistema imunológico. A possível conexão entre as

citocinas e a fibromialgia pode ajudar a explicar porque algumas pessoas

desenvolvem a fibromialgia após uma infecção (HAMMERLY, 2006).

A percepção da dor nos indivíduos portadores de fibromialgia ocorre

devido a um aumento do mensageiro químico encarregado de conduzir a

informação de dor ao cérebro (substância P) e uma diminuição dos

neurotransmissores que acalmam a dor (opióides e serotonina) produzem uma

resposta exagerada ao estimulo doloroso (hiperalgesia) ou fazem a informação

de dor ser disparada até por algo que normalmente não teria esse efeito, como

um toque suave (alodínia) (GOLDENBERG, 2006).

Muitas tentativas para elucidar a patogenia orgânica para a fibromialgia,

como pesquisas em genética, aminas biogênicas, neurotransmissores,

hormônios do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, estresse oxidativo, mecanismo

de modulação da dor, sensibilização central e função autonômica da síndrome

da fibromialgia, revelam várias anormalidades, indicando que múltiplos fatores

e mecanismos podem estar envolvidos na patogênese dessa síndrome. Em

definitivo mesmo se há inúmeros problemas periféricos e centrais que podem

ser associados à fibromialgia, nenhum processo fisiopatológico foi identificado

como sendo a causa específica da fibromialgia. A compreensão as FM como

uma patologia que envolve alterações do SNA – disautonomia – é uma vertente

plausível que busca, principalmente, encontrar subsídios científicos para o

tratamento dessa síndrome (JACOMINI, 2007).

Tendo em vista a teoria de que ocorre a disautonomia em indivíduos

portadores de fribromialgia entende-se que a permanente influência exercida

pelo SNA sobre o funcionamento de diversos órgãos, aparelhos e sistemas que

compõem o organismo humano é essencial para a preservação das condições

do equilíbrio fisiológico interno, permitindo que o mesmo exerça

adequadamente sua interação com o meio ambiente circundante (PASCHOAL,

2006). Junto com a desregulação do sistema nervoso autônomo, pode ocorrer

desregulação de músculos lisos e da função cardiovascular que sustentam ao

menos algumas síndromes órgãos - especificas (síndrome do intestino irritável,

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palpitações, Raynauld) que ocorrem neste espectro de transtornos

(PRIDMORE, 2002).

O coração apesar de ter sua inervação intrínseca e, portanto, ser capaz

de regular seu ritmo, promover a condução dos estímulos intracardíacos e ter

contratilidade, tem também todas essas funções amplamente moduladas pelo

SNA. Assim, devido a sua importância, o coração deve participar, e participa,

sob tutela do SNA, ativamente do processo homeostático orgânico, sendo o

SNA o responsável pela regulação do ritmo e da função de bombeamento

cardíaco, adequando essas funções às necessidades metabólicas e teciduais,

ás quais estão expostos os seres humanos em suas atividades de vida diária

(PASCHOAL, 2006).

O desenvolvimento de terapias efetivas para a fibromialgia tem sido

retardado pela falta de entendimento dos mecanismos fundamentais da

etiologia da síndrome. Isso ocorre devido a ausência de pesquisas que

avaliariam o papel do sistema nervoso autônomo ou sua disfunção na

complexa fisiopatologia da síndrome de fibromialgia e a eficácia de

intervenções terapêuticas por meio de ensaios controlados e randomizados

(JACOMINI, 2007).

2.1.4 Descondicionamento

Pacientes com fibromialgia costumam apresentar baixos níveis de

condicionamento físico, com predisposição ao sedentarismo. Iniciar um

programa de condicionamento nestas condições pode ser sofrível e muitos

desistem alegando aumento das dores e fadiga (SILVA 2006). Nesses

pacientes são encontrada evidência de descondicionamento, de função

respiratória comprometida, de menor amplitude articular, de endurance

muscular depletada e de desempenho muscular reduzido (HALL, 2007).

Os fibromialgicos têm, em geral uma condição aeróbia menor que a

média da população. Como resultado, tendem a ter, sua eficiência

cardiovascular e metabólica global diminuída. Esse descondicionamento ocorre

como resultado de inatividade dos pacientes em virtude da dor crônica, já que o

músculo torna-se mais suscetível a micro traumas, que podem resultar em

aumento da dor e reduzir ainda mais a atividade muscular (BERTI, 2008).

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O desempenho muscular nos pacientes com fibromialgia declina, e essa

perda não parece resultar de alterações metabólicas ou morfológicas no

músculo dos pacientes, é causado por alguma alteração no controle central. A

percepção da dor e da fadiga pode limitar a produção de força da contração

muscular e, por fim, afetar as atividades funcionais do paciente por causa do

descondicionamento resultante (HALL, 2007).

2.1.5 Diagnóstico e Quadro Clinico

Como a fibromialgia não tem uma causa única, conhecida, ela não

constitui um diagnóstico no sentido estrito da palavra. Na palavra diagnóstico,

“gnóstico” indica uma compreensão ou conhecimento das causas envolvidas.

Um dos fatores que dificultam a descoberta da causa do “sofrimento” é seu

diagnóstico ser exclusivamente clínico (GOLDENBERG, 2006).

O estabelecimento dos critérios de classificação da fibromialgia pelo

comitê do American College of Rheumatology (ACR), liderado por Wolf, em

1990, representa um marco na pesquisa dessa síndrome. A partir desse

estudo, solidificou-se o termo fibromialgia, foi abandonada a distinção entre

fibromialgia primária e secundária e foram estabelecidos os critérios

diagnósticos (CHIARELLO, 2005).

Os critérios do American College of Rheumatology para diagnosticar

fibromialgia são claros, obedecendo as duas seguintes condições: Histórico de

dor generalizada, nos dois lados do corpo, tanto acima quanto abaixo da

cintura, há pelo menos três meses; inclusive dor no pescoço, no tórax e na

região superior ou inferior das costas; Dor a palpação em pelo menos 11 dos

18 locais de pontos sensíveis (HAMMERLY, 2006).

A palpação digital nos locais de pontos sensíveis (tender points) deve

ser feita com uma força aproximada de 4 kg. Para que um ponto hipersensível

seja considerado positivo, o individuo deve referir que a palpação foi dolorosa.

Hipersensível não deve ser considerado dolorido (HALL, 2007), a localização

dos sítios anatômicos pré estabelecida é bilateralmente nos seguintes locais:

Occiptal, Cervical baixa, Trapézio, Supra-espinal, Segunda costela, Epicôndilo

lateral, Glúteos, Trocanter maior e Joelho (HAMERLY 2006).

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Anatomicamente como mostra a ilustração (Anexo A), as regiões mais

específicas dos tender points localizam-se (HALL, 2007):

a) Occiptal - Inserções dos músculos suboccipitais;

b) Cervical baixa - anteriormente nos espaços intertransversais em C5-

C7;

c) Trapézio - Ponto médio da borda superior;

d) Supra-espinal - Acima da borda medial da espinha escapular;

e) Segunda costela - Segundas junções costocondrais;

f) Epicôndilo lateral - 2(dois) cm distais aos epicôndilos;

g) Glúteos - Quadrantes superiores externos das nádegas;

h) Trocanter maior - Atrás da proeminência trocantérica;

i) Joelhos - Coxim adiposo medial próximo à linha articular.

Martinez (2006) afirma que a questão do diagnóstico, porém, ainda deve

ser mais explorada. A utilização dos “Critérios de Classificação para

Fibromialgia” do Colégio Americano de Reumatologia foi um grande avanço em

termos de inclusão em estudos científicos. Mas para uso individual, com fins

diagnósticos ainda deixa muito a desejar. O mesmo pode ser dito em relação

aos “pontos dolorosos” (tender points) que, embora tenham sua utilidade, não

parecem ser determinantes para o diagnóstico da fibromialgia. O mais provável

é que, na hipótese diagnóstica, tenhamos que considerar o conjunto total de

sinais e sintomas, além de levarmos em conta a presença das afecções

satélites

É fundamental levantar a história clinica completa do paciente

abrangendo as queixas físicas, sua vida, o histórico emocional e social desde a

infância até o momento, bem como o antecedente familiar, tendo em vista o

conceito de saúde da Organização Mundial da Saúde: o bem estar físico, social

e mental (GOLDENBERG, 2006). O quadro clínico dessa síndrome costuma

ser polimorfo, exigindo anamnese cuidadosa e exame físico detalhado, o

sintoma presente em todos os pacientes é a dor difusa e crônica, envolvendo o

esqueleto axial e periférico (PROVENZA, 1997).

Os sintomas mais comuns nos pacientes com a síndrome da fibromialgia

são fadiga, distúrbios do sono, e rigidez matinal (73% a 85% dos pacientes). A

dor em todos os seus aspectos, as parestesias, e a cefaléia afetam 45% a 69%

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dos pacientes. Menos comum porém ainda muito mais freqüentes são os

achados da síndrome do intestino irritável, da síndrome seca (sicca) (isto é

olhos e boca secos), e o fenômeno de Raynaud (<35%) (HALL, 2007).

Outras queixas referem-se a cefaléias crônicas, sensibilidade ao frio,

sensação de edema, perturbações da memória e concentração, alem de co-

morbidades, como depressão e ansiedade. Fatores psicossociais também

influenciam na gravidade dos sintomas que, num mecanismo círculo vicioso,

geram incapacidade funcional e alterações psicológicas e afetivas em graus

variáveis (MAEDA, 2006).

Alguns pesquisadores acreditam que pode haver uma relação

bioquímica entre a fibromialgia e a depressão ou a ansiedade. Mesmo não

estando entre os 25% de pessoas com fibromialgia que satisfazem os critérios

para a depressão clinica, as pessoas podem sentir-se compreensivelmente

“triste” ou “para baixo” com relação à sua condição e ao impacto que a

fibromialgia tem em sua vida. Naturalmente qualquer sentimento de depressão

ou ansiedade pode interferir ainda mais nas atividades no trabalho e no lar,

afetando assim a qualidade de vida desses pacientes (HAMMERLY, 2006).

2.2 CONSULTA INICIAL

Antes de iniciar um programa de exercícios é importante fazer uma

avaliação funcional e cardiovascular para identificar condições que possam

interferir no desempenho e na resposta ao exercício ou oferece risco como

doença coronariana e hipotensão postural. As co-morbidades

musculoesqueléticas podem limitar o treinamento e devem ser tratadas

previamente. Atenção especial deve ser dada à revisão dos medicamentos em

uso, pois muitos interferem na resposta hemodinâmica. A anamnese também

deve conter informações da história pregressa de habito de atividade física

(freqüência, modalidade, preferência, tolerância e comportamento familiar em

relação ao exercício). Estas informações ajudam a individualizar a prescrição e

aumentar a adesão (VALIM, 2006).

A fisioterapia é uma parte importante do tratamento para os pacientes

com síndrome da fibromialgia. A prescrição minuciosa de um programa de

exercícios depende de achados significativos durante a avaliação inicial. O

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terapeuta que trabalha com pacientes vítimas de FM deve avaliar a postura, a

força, o jogo (folga) articular e o condicionamento cardiovascular para elaborar

um programa de tratamento (HALL, 2007). Como exercícios estimulam a

atividade cardíaca, antes é importante ter certeza de que não há nenhum

distúrbio no coração que desaconselhe à prática (GOLDENBERG, 2006).

2.2.1 Teste do Esforço Maximo

De acordo com o Consenso Nacional de Ergometria (1995), o TE tem

como finalidades principais avaliar as respostas cardiovasculares e gerais,

frente à aplicação de esforço físico progressivo, podendo ser realizado em

esteira rolante ou bicicleta eletromagnética, com possibilidades do

aparecimento de sintomas como cansaço, falta de ar, dor no peito, etc. sendo

mínimas as chances de ocorrerem complicações de difícil controle clinico.

Observou-se que os portadores de FM interrompem o TE precocemente

principalmente por dor muscular e exaustão física. Os pacientes apresentam

capacidade funcional inferior à de mulheres normais sedentárias pareadas para

idade e peso, resposta cardiovasculares normal ao exercício e limitações ao

esforço devido ao sistema musculoesquelético. Utilizando protocolo de Ellestad

(Quadro abaixo) no tempo 0, 3º e 6º mês de treinamento cardiovascular

supervisionado. Os critérios de interrupção do TE foram cansaço físico e dor.

Utilizada escala analógica de dor muscular no final de cada exame (SABBAG,

2000).

Consenso Nacional de Ergometria. Arq. Bras. Cardiol. Volume 65. (No2), 1995.

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Em um outro estudo com pacientes portadores da síndrome da

fibromialgia o teste do esforço cardiopulmonar (TECP) foi empregado para

determinar o consumo de oxigênio (VO2 max), o melhor índice da capacidade

funcional. Os TECP foram realizados seguindo o protocolo de Bruce1. Os

resultados metabólicos foram obtidos a cada 20 segundos pelo sistema de

analise metabólicas. O critério de interrupção dos TECP foi sintoma limitante ao

esforço (SABBAG, 2007).

Como o incremento de trabalho é grande (não linear) no protocolo de

Bruce, deve ser usado com prudência em indivíduos com limitações clinicas e

esta preferentemente indicado para estabelecimentos de diagnóstico e/ou

avaliação da capacidade funcional em indivíduos que já tenham algum grau de

atividade física (Quadro abaixo).

Consenso Nacional de Ergometria. Arq. Bras. Cardiol. Volume 65. (No2), 1995.

Considerando que pacientes com FM geralmente não atingem teste

máximo, o limiar anaeróbio é o melhor parâmetro de prescrição e avaliação de

1 O protocolo de Bruce é o mais utilizado para os TE, com aumento progressivo da

velocidade e da inclinação.(Consenso Nacional de Ergometria, 1995)

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aptidão cardiorrespiratória e deveria ser utilizado em todos os protocolos de

pesquisa (VALIM, 2006).

2.2.2 Limiar Anaeróbio

A ergoespirométrica computadorizada veio proporcionar um avanço

importante para o desenvolvimento de um programa de condicionamento físico,

uma vez que possibilita avaliar, de maneira precisa, a capacidade

cardiorrespiratória e metabólica, através de medida direta do consumo de

oxigênio máximo e da determinação dos limiares ventilatórios [limiar anaeróbio

(LA) e ponto de compensação respiratória]. Esses limiares fornecem, de forma

não invasiva e com grande precisão, as intensidades de exercício em que

predominam o metabolismo aeróbio e anaeróbio (RONDON, 1998).

Recentemente, pacientes com fibromialgia têm apresentado baixos

níveis de consumo de oxigênio no limiar anaeróbio, que é o parâmetro mais

adequado para medir aptidão cardiorespiratória na FM (BREDARIOL, 2008).

Entretanto para obtenção do LA é necessário analise do gás expirado,

que não pode ser realizado em todos os centros. É recomendado que no caso

da FM, a intensidade de treinamento seja a freqüência cardíaca do LA ou logo

abaixo dela, pois indica uma intensidade adequada para ganho de aptidão,

com maior segurança e maior adesão. Infelizmente, a realização de teste

ergoespirométrico para determinação do LA não é acessível para a maioria na

prática diária. Quando é possível a determinação do LA indica a intensidade de

treino ideal (tolerável e capaz de promover melhora clinica significativa)

(VALIM, 2006).

2.2.3 Teste da caminhada de seis minutos (TC6min.)

Testes de caminhada são comumente utilizados na prática clínica,

desde a década de 60. Inicialmente, o principal teste descrito foi o Teste de

Caminhada de 12 minutos, realizado com o objetivo de predizer consumo

máximo de oxigênio atingido durante avaliação de pessoas saudáveis. Na

atualidade, o principal teste de caminhada utilizado na prática clínica é o de

caminhada de seis minutos. Constitui instrumento seguro, válido, confiável e

requer um mínimo de equipamentos para sua realização, ou seja, é pouco

Page 22: Protocolo de Exercícios para Pacientes Portadores da Síndrome da ...

21

oneroso e de fácil aplicação. Contudo, é necessário que seja realizado de

forma padronizada, podendo dessa forma assegurar-se a fidedignidade do

processo (BRITTO, 2006).

De acordo com o consenso realizado pela American Thoracic Society

para validar o teste da caminhada de 6 minutos (TC6min.) em março de 2002,

este irá avaliar a capacidade funcional com o principio básico de medir a maior

distância que o individuo é capaz de percorrer num intervalo de tempo fixo – no

caso 6 minutos. O paciente deverá caminhar por um corredor (que deve ser de

no mínimo 30m), durante 6 minutos para ser registrada a distância percorrida

(em metros). O teste deve ser interrompido caso o paciente apresente os

seguintes sinais e sintomas: oxigenação do sangue (SpO2) menor que 85%,

dor torácica, falta de ar intolerável (dispnéia), cãibras, aparência pálida, tontura

e/ou transpiração excessiva.

Na figura (Anexo B) observa-se a distância que deve-se percorrer

durante a realização do teste da caminhada dos seis minutos. A marcação no

solo indica os pontos nos quais devem ocorrer as mudanças de sentido e estão

posicionadas a uma distância de 0,5m dos extremos do perímetro para permitir

o giro do paciente (VILARÓ, 2008).

O TC6min foi o escolhido como ferramenta de avaliação clínica da

capacidade de exercício submáxima em diversas patologias, devido as suas

qualidades como a simplicidade, a praticidade, por ser um teste de fácil

realização, ter baixo custo e por ser altamente reproduzível na prática clínica, o

teste pode ser considerado de carga constante, já que a carga imposta, a

massa corporal do sujeito e a velocidade da marcha não variam ao longo da

prova. Por se trata de uma carga constante, é facilmente tolerado pelos

pacientes, independente da gravidade da doença de base (VILARÓ, 2008).

Pankoff et al. (2000) propôs a validação do teste de caminhada de seis

minutos para pessoas com a FM como medida de condicionamento

cardiorrespiratório, por um período de 12 semanas. Foi observado que a

relação entre o TC6min com o volume de oxigênio consumido antes e depois

não modificou de forma significativa, porém houve significativa correlação entre

o teste da caminhada e o questionário de impacto da fibromialgia. O autor

concluiu que o teste da caminhada de 6 minutos não é valido para como

Page 23: Protocolo de Exercícios para Pacientes Portadores da Síndrome da ...

22

preditor do condicionamento cardiorrespiratório, no entanto é valido na

mudança e no significado relatado no questionário de impacto da fibromialgia.

2.3 EXERCÍCIO

2.3.1 Benefícios do exercício na fibromialgia

Cerca de 83% dos pacientes com fibromialgia não se exercitam

regularmente e 80% não estão em boa forma física, de fato exercícios físicos

podem trazer benefícios, comprovados nas ultimas três décadas, mas também

oferecem riscos, se não forem bem orientados. O que vai determinar um

resultado favorável ou não são variáveis como idade do paciente, grau de

condicionamento físico, intensidade do exercício e condições associadas

(GOLDENBERG, 2006).

O tratamento da síndrome da Fibromialgia esta voltado para os

programas de exercício físicos, demonstrando resultados benéficos. Os

exercícios de baixa intensidade ou aqueles em que o paciente é capaz de

identificar o limite do seu esforço e de sua dor parecem ser os mais efetivos.

Os mais citados são os exercícios aeróbicos, como a caminhada, os exercícios

aquáticos e a bicicleta (CHIARELLO, 2005).

Uma vez adquirido o hábito, melhora o condicionamento muscular, e a

tendência é diminuir a dor e cortar aquele ciclo da dor/descondicionamento.

Essa é uma das razões pelas quais a atividade física constitui parte

fundamental no tratamento da fibromialgia. O exercício bem feito, na medida

correta, não deve ocasionar dor (GOLDENBERG, 2006).

Quando os músculos doem, outros músculos compensam. Isso ocorre

devido ao controle neuromuscular referente as aferencias propioceptivas

levadas por receptores da periferia para os centros superiores e as respostas

eferentes (motoras) geradas no intuito de manter a estabilidade muscular

dinâmica através da sinergia (SILVA, 2006) Isso funciona durante um período,

mas depois os músculos compensadores começam a doer também, quanto

mais dor o paciente sente, menos ele se movimenta. Com o tempo, a falta de

exercício deixa os músculos sem condicionamento, tornando-os menores e

mais fracos. Músculos fracos facilmente tornam-se músculos doloridos, o que

provoca mais compensação, seguida por mais inatividade, e então forma-se o

Page 24: Protocolo de Exercícios para Pacientes Portadores da Síndrome da ...

23

ciclo da dor/descondicionamento. O exercício é fundamental para a

administração bem sucedida da fibromialgia, porque rompe esse ciclo

debilitante (HAMMERLY, 2006).

O limiar da dor de uma gama de modalidades está mais baixo na

fibromialgia (PRIDMORE, 2002). Considerando este limiar nos pacientes

fibromialgicos, muitas vezes só é possível introduzir exercícios aeróbicos após

um programa de alongamento (CHIARELLO, 2005). Vários estudos

demonstram que programas personalizados de exercícios aeróbicos de

intensidade moderada melhoram a condição física e aliviam a dor nos tender

points. O treinamento colabora para a redução na percepção de dor no

sistema nervoso central, muito possivelmente em função do aumento na

liberação de opióides. Isso explicaria em parte o alívio da dor nos tender points

(GOLDENBERG, 2006).

Além de diminuir a dor ao desenvolver e tonificar os músculos, o

exercício beneficia o sistema cardíaco, melhora a circulação e ajuda a manter

os ossos mais fortes e resistentes. O exercício regular diminui o colesterol. E

os estudos mostram que o exercício físico regular pode aumentar a energia

durante o dia e ajudar o portador de fibromialgia a dormir melhor à noite. O

exercício pode ajudar a diminuir a depressão e a ansiedade pela liberação de

endorfinas, os analgésicos naturais do corpo que também promovem uma

sensação de bem-estar (HAMMERLY, 2006).

O exercício pode não só melhorar a resistência física geral e a

capacidade cardiovascular em particular (fazendo com que o coração e o

pulmão trabalhem de maneira mais eficaz), mas pode também ajudar no

fortalecimento muscular, intensificando o fluxo de sangue para os músculos,

colaborando para mobilidade de grupos musculares que estão em contração

prolongada e ainda favorecendo o alongamento dos tendões. Tudo isso

beneficiando o sistema músculo-esquelético (GOLDENBERG, 2006).

De uma forma geral, a prática regular de exercícios é responsável por

mudanças nos estados de humor, tais como diminuição na fadiga e na raiva, e

aumento no vigor, no estado de alerta e na energia. Essas mudanças positivas

são maximizadas com exercícios prolongados e de baixa intensidade. Em

pacientes envolvidos em programas de reabilitação cardíaca, o treinamento

Page 25: Protocolo de Exercícios para Pacientes Portadores da Síndrome da ...

24

físico relaciona-se à redução do estado de ansiedade, do nível de depressão,

da instabilidade emocional, da ansiedade e dos vários sintomas de estresse

(irritabilidade, hostilidade, tensão e comportamento) (MORAES, 2005).

Portadores de fibromialgia, praticando exercícios em um treinamento de

resistência de baixa intensidade, no caso com freqüência cardíaca de 50 a 70%

da freqüência máxima, realizando a atividade de uma a três vezes por semana,

em um prazo de seis semanas a seis meses apresentaram resultados eficazes

na melhora da capacidade aeróbia, função física, e redução da dor (KURTZE,

2004).

2.3.2 Entendendo o exercício aeróbico

Para alicerçarmos a prescrição do exercício em princ ípios científicos

apropriados, é importante compreender e diferenciar as fontes de combustíveis

e as vias metabólicas utilizadas durante a realização do exercício aeróbico. O

trifosfato de adenosina (ATP) é a fonte energética básica do organismo para o

metabolismo celular e a realização da atividade muscular. Existem três vias

metabólicas, pelas quais o ATP é produzido (WILMORE, 1999).

Vias metabólicas (HALL, 2007):

A) Sistema ATP - PCr: Essa via é a mais rápida para obtenção de

energia no organismo, pois, usa o ATP e a PCr onde PCr significa fosfocreatina

ou fosfato creatina, que estão presentes no músculo prontos para serem

utilizados. Esse sistema energético simples pode produzir 3 a 15 segundos de

trabalho muscular máximo, por exercícios de alta intensidade e curta duração.

Resumindo, esse sistema é responsável pela energia utilizada nos famosos

exercícios anaeróbios aláticos.

B) Sistema Glicolítico: Nesse sistema, a obtenção de ATP se deve à

quebra do glicogênio hepático armazenado ou do fracionamento da glicose,

obtida através da ingestão de carboidrato , e é nessa "quebra" do glicogênio

que se produz o ácido lático. Esse sistema é utilizado nos exercícios de alta

intensidade e média duração (até 1,5 minuto). Resumindo: Esse sistema é

responsável pela energia utilizada nos exercícios anaeróbios láticos.

Page 26: Protocolo de Exercícios para Pacientes Portadores da Síndrome da ...

25

Para que tanto o sistema ATP-PCr, como o sistema glicolítico

funcionem, não é necessária a presença de O2, devido a isso o nome

"anaeróbio".

C) Sistema Oxidativo: Nesse sistema, a obtenção de ATP se dá a partir

de uma cadeia de reações químicas, a produção oxidativa de ATP envolve

vários processos complexos, incluindo glicólise aeróbica, o ciclo de Krebs e a

cadeia de transporte de elétrons. O ciclo de Krebs não é tão rápido quanto os

outros sistemas por isso ele não é utilizado em exercícios de alta intensidade,

pois eles necessitam de energia rápida o que não é possível no sistema

aeróbio. Para que seja desencadeado o ciclo de Krebs é necessária a

presença de O2, assim sendo o oxigênio faz com que seja produzida muito

mais energia e resulta na possibilidade de realizar períodos mais longos de

trabalho sem a oposição da contração muscular gerada pelo acumulo de ácido

lático.

Como os sistemas cardiovasculares e respiratórios estão intimamente

ligados aos processos aeróbicos, o treinamento de endurance produz

modificações nesses sistemas que são de natureza tanto funcional quanto

dimensional (McARDLE, 1998).

O exercício físico representa um estresse fisiológico para o organismo

devido ao aumento da demanda energética e a necessidade de dissipação de

calor, produzindo ajustes homeostáticos integrados durante a realização do

exercício, chamados de respostas fisiológicas ou efeitos agudos do exercício

(NOBREGA, 2006).

Exemplos de efeitos agudos incluem sudorese, aumento da freqüência

cardíaca, da ventilação pulmonar, da sensibilidade à insulina e da secreção de

catecolamina, em como a redução da atividade parassimpática e do fluxo

sangüíneo esplâncnico. Ao longo de semanas de exposição regular e repetitiva

ao exercício, desenvolvem-se adaptações morfofuncionais, chamadas de

efeitos crônicos, que aumentam a capacidade do organismo a responder aos

estímulos agudos do exercício. Exemplos de efeitos crônicos do treinamento

aeróbico são o aumento do consumo máximo de oxigênio, do débito cardíaco

máximo e da densidade capilar do músculo esquelético treinado, além da

Page 27: Protocolo de Exercícios para Pacientes Portadores da Síndrome da ...

26

diminuição da freqüência cardíaca de repouso e esforço submáximo

(NOBREGA, 2006).

Para avaliar a resposta do indivíduo ao exercício, é importante

compreender as alterações fisiológicas normais que ocorrem como resultado

da realização de uma atividade física. A capacidade de suportar o exercício

aeróbico depende de numerosos mecanismos cardiovasculares e respiratórios

que tem por finalidade fornecer oxigênio aos tecidos (HALL, 2007).

Para explicar o porquê da necessidade da manutenção de sessões

regulares e por vezes diárias de exercício para se manter as adaptações do

treinamento precisa-se entender que os efeitos crônicos do exercício são

resultados da somação temporal de respostas sub-agudas, além do

desenvolvimento de adaptações estruturais que contribuem para modificação

crônica da fisiologia do organismo. De um modo geral a interrupção das

sessões regulares de exercício leva, em poucos dias, à perda da adaptação

fisiológica e dos benefícios clínicos desejáveis (NOBREGA, 2006).

2.3.3 Exercícios aeróbicos e fibromialgia

Mais de 60 diferentes instrumentos de avaliação têm sido usados em

estudos sobre exercícios e fibromialgia, dificultando a meta-análise. Muitos não

descreveram os protocolos de exercício com informações suficiente sobre

intensidade, duração, freqüência, e modalidade usadas nos grupos

intervenção-controle ou intervenção. Efeitos adversos também tem sido

pobremente relatados. Apesar das falhas metodológicas de alguns estudos, há

forte evidência de que o exercício aeróbio supervisionado reduz a dor, o

número de pontos dolorosos, depressão, ansiedade, melhora da qualidade de

vida, e outros aspectos psicológicos (VALIM, 2006).

O poder do exercício aeróbico exercendo um efeito positivo sobre

algumas deficiências observadas nos pacientes com fibromialgia incluindo

endurance, dor e flexibilidade, justifica sua introdução o mais cedo possível

(HALL, 2007).

Corredores de longa distância apresentam hipoalgesia e melhoria do

humor, e é comprovado também que o exercício físico é capaz de interferir

positivamente no estado mental, melhorando auto-estima e depressão, isso

Page 28: Protocolo de Exercícios para Pacientes Portadores da Síndrome da ...

27

explica a existência do benefício de exercícios, principalmente os aeróbicos, na

fibromialgia. Logo o efeito terapêutico do exercício pode influenciar múltiplos

aspectos da fibromialgia, como melhoria das alterações isquêmicas e

metabólicas nos locais dos tender points, aumento do nível de endorfina,

melhoria do estado mental e do padrão do sono. Também há evidencias de

que pode influenciar no sistema serotoninérgico, aumentando as

concentrações séricas de serotonina, as alterações nos níveis deste

neurotransmissor são as mais envolvidas na fisiopatogênese da fibromialgia

(BREDARIOL, 2008).

Um dos aspectos mais importantes na prescrição do exercício aeróbio é

o controle da intensidade adequada do esforço. Existem algumas variáveis que

podem ser usadas para esse fim. Entre elas pode-se citar o consumo máximo

de oxigênio (VO2 max.), o equivalente metabólico, a percepção subjetiva do

esforço, os limiares ventilatórios e de lactato e a freqüência cardíaca. Entre

esses indicadores talvez o mais prático seja a FC, embora suas respostas

possam ser influenciadas por diversos aspectos além do esforço propriamente

dito (SANTOS, 2005).

Segundo as diretrizes do American College of Sport Medicine (ACSM)

de 1998, a determinação dos exercícios físicos deve estar fundamentada em

parâmetros funcionais que permitam adequação das cargas de treinamento ao

nível de aptidão física do indivíduo. A relação entre o consumo de oxigênio e o

esforço realizado durante o exercício físico foi descrito minuciosamente por Hill,

Lupton em 1923, possibilitando relacionar as cargas de trabalho ao esforço

físico. Essa relação propiciou as bases para a determinação das intensidades

dos exercícios aeróbicos como hoje é conhecida (BARBOSA, 2007).

Uma das bases fisiológicas que regem a aplicação da FC cardíaca como

indicador de intensidade do esforço é a sua relação relativamente linear de

seus valores relativos (percentuais da FC max) com os valores relativos de

consumo de oxigênio (percentual de VO2 max). Essa relação permite estimar o

comportamento de uma variável em função da outra. Ou seja quando um

individuo se exercita em um dado percentual de seu VO2max ele exibem um

percentual correspondente de sua FCmax. O American College of Spors

Medicine recomenda que a intensidade do esforço para aprimoramentos na

Page 29: Protocolo de Exercícios para Pacientes Portadores da Síndrome da ...

28

aptidão cardiorrespiratória deva situar-se entre 55% e 90% da FCmax (50 a

85% do VO2max) (SANTOS, 2005).

O American College of Sports Medicine (ACSM) preconiza para

indivíduos não idosos saudáveis, uma intensidade de exercícios entre 60 e

70% do consumo de oxigênio máximo estimado (VO2maxE) ou entre 70 e 85%

da freqüência cardíaca máxima medida (FCmaxM) no teste do esforço (TE). A

estimativa do consumo de oxigênio máximo, na maioria das vezes leva em

consideração a potência máxima atingida no TE (RONDON, 1998).

Para ser considerado um treino aeróbio, o individuo saudável em

exercício tem que atingir 55%/65-90% da FCmax ou 40%/50%-85% do VO2R

ou da FCR. Os níveis mais baixos de intensidade de treino, por exemplo 40-

49% da VO2R ou FCR, e 55-64% da FCmax, são os mais aplicáveis para

indivíduos descondicionados. Considerando que pacientes portadores de

fibromialgia são descondicionados, a aplicabilidade atual é de que a prescrição

de treino de baixa intensidade (40-49% da VO2R ou FCR) é a mais adequada

(VALIM, 2006).

Inicialmente, devem ser permitidos apenas poucos minutos dos

exercícios aeróbicos (2 a 5 minutos, a menos que o paciente já esteja ativo por

períodos mais longos sem exacerbação dos sintomas). Isso torna possível o

aprimoramento gradual da tolerância. Na fase final da reabilitação, o paciente

pode estar pronto para trabalhar com uma elevação da freqüência cardíaca de

até 50% a 60% da freqüência cardíaca máxima (HALL, 2007).

Em pacientes com fibromialgia, a freqüência cardíaca do limiar

anaeróbio é mais baixa do que nos controles normais e diferente do que seria o

esperado, a FCmax e a de repouso não mudam depois de adequado o treino

aeróbio. Então quando não for possível medir diretamente o limiar anaeróbio,

recomenda-se que em pacientes com fibromialgia, a formula de Karvonen seja

usada para encontrar a freqüência de treino, pois ela considera a FCmax e a

de repouso. A FCmax pode ser estimada pelas formulas [220 - Idade] e [208 -

0,7 x Idade]. Assim, a FCmax estimada pode ser aplicada na formula de

Karvonen, conforme exemplificado a seguir: FC de treino (60-80%) = [(FCmax-

FCR) x 60% FCmax + FCR]. Porém de um modo geral, um inconveniente para

prescrição de exercício baseados em fórmulas é a grande variabilidade da

Page 30: Protocolo de Exercícios para Pacientes Portadores da Síndrome da ...

29

freqüência cardíaca entre os indivíduos, especialmente para aqueles que tem

fibromialgia, já que podem apresentar respostas cronotrópicas anormal ao

exercício por disautonomia. Estudos futuros são necessários para conhecer a

resposta cronotrópica ao esforço em pacientes com fibromialgia com e sem

disautonomia e saber se estas fórmulas podem ser validadas e aplicadas em

pacientes com fibromialgia ou se há fórmula específica para esta população

(VALIM, 2006).

Duarte (2008) em sua revisão bibliográfica de artigos referentes ao

exercício e fibromialgia constatou que a atividade física orientada em indivíduos

portadores de fibromialgia pode ser um fator coadjuvante na melhora dos

sintomas, e que quando feita a atividade em grupo, o aspecto psicológico

sugere uma melhora no quadro geral.

Avaliando um grupo de mulheres portadoras de fibromialgia submetidas

a um ano de condicionamento físico supervisionado (CFS), predominantemente

aeróbio, com intensidade dos exercícios delimitada pela freqüência cardíaca,

limiar anaeróbio e a freqüência cardíaca do ponto de compensação respiratória

(todos os parâmetros obtidos no teste de esforço cardiopulmonar inicial e

atualizados a cada avaliação trimestral), com limite mínimo inicial de 61,3

%VO2pico e máximo 82,9%VO2pico, foi observado que o aumento do VO2 pico

no grupo, a partir do terceiro mês de CFS confirmou os efeitos crônicos dos

exercícios aeróbios sobre os sistemas cardiovasculares e músculo-esquelético:

1)aumento do débito cardíaco; 2)desvio da curva de dissociação da

hemoglobina para a direita, aumento da capilaridade muscular, e diminuição da

resistência à difusão de O2 das hemácias para as fibras musculares contráteis;

3) remodelamento dos músculos exercitados, com transformações das fibras

tipo IIb para IIa; aumento do número, tamanho e da concentração enzimática

das mitocôndrias das células musculares de contração lenta. Sem contar com o

resultado final confirmando que os efeitos do programa de condicionamento

físico supervisionado sobre indivíduos com fibromialgia resultam no aumento

da capacidade funcional, melhora da dor e da qualidade de vida (SABBAG,

2007).

Os exercícios aeróbios trazem benefícios físicos como diminuição da

tensão muscular, disfunção física e dor. Os benefícios psicológicos incluem

Page 31: Protocolo de Exercícios para Pacientes Portadores da Síndrome da ...

30

melhora da auto-estima e diminuição da depressão e ansiedade. Embora seja

aparente que o exercício aeróbio é benéfico para indivíduos com fibromialgia,

sugere-se que há uma exacerbação dos sintomas ao iniciá-los e,

gradualmente, ocorre à melhora dos sintomas (BRESSAN, 2008)

Na ultima década, o exercício físico, especialmente o treinamento

aeróbio, tornou-se promissor como opção terapêutica da síndrome de

fibromialgia, submetendo fibromiálgicas a um treinamento cardiovascular

supervisionado com freqüência cardíaca de treinamento de 60 a 70% da

freqüência cardíaca máxima (calculada pelo método de Karvonen) foi possível

concluir que a partir do terceiro mês de treinamento cardiovascular

supervisionado, as portadoras de fibromialgia apresentaram maior tolerância à

dor muscular e ao esforço, melhora da capacidade funcional cardiovascular e

muscular periférica (SABBAG, 2000).

2.3.4 Aplicabilidade

Os programas de exercício aeróbios no tratamento de pacientes com

fibromialgia têm sido conduzidos de diversas maneiras, incluindo caminhada,

bicicleta e jogos em grupo, sendo apontados benefícios nas diversas

metodologias. Nas evidências de efeitos positivos dos exercícios aeróbios

supervisionados, estão também incluídos os programas de condicionamento

físico, que englobam exercícios aeróbios e de alongamento e fortalecimento

muscular. No entanto, quando realizados em associação, não é possível

identificar qual dos tipos de exercício físico ou qual combinação entre eles

possibilita melhores resultados (BRESSAN, 2008).

Durante a primeira sessão, é de mais fácil adesão ao exercício o

paciente iniciar atividades pré-aeróbicas de caminhada diária, mesmo que

apenas por curtas distâncias. Para pacientes capazes de caminhar por mais de

quatrocentos metros uma pista apropriada oferece várias vantagens (como

uma superfície que permite absorção de choques, possibilitar segurança e

estimativa da distância exata), inicialmente o ritmo da caminhada deve ser

lento e confortável, até que possam ser estabelecidos níveis toleráveis e sem

exacerbação dos sintomas (HALL, 2007).

Os pacientes portadores de fibromialgia que não identificam-se com

nenhum tipo de atividade física precisam conscientizar-se da importância de

Page 32: Protocolo de Exercícios para Pacientes Portadores da Síndrome da ...

31

sua prática para que com isso fique ciente dos benefícios que o exercício pode

trazer a sua saúde, e assim empenhar-se em achar alguma atividade que

combine com o seu perfil (GOLDENBERG, 2005).

Uma abordagem para introdução do exercício suavemente consiste em

colocar o paciente atrás de uma bicicleta estacionária em decúbito dorsal, no

solo, apoiado em uma posição neutra da coluna vertebral e com os pés sobre

pedais da bicicleta. Durante a primeira sessão, o paciente deve pedalar por

cerca de 2 a 3 minutos; pode-se acrescentar mais 1 a 2 minutos a cada sessão

(no início, no máximo uma vez ao dia), até que, na fase final do tratamento, o

paciente possa alcançar 15 minutos. Nesse ponto, provavelmente o paciente

consegue tolerar a posição sentada no selim da bicicleta para pedalar, porém

deve-se reduzir o tempo para 7 a 10 minutos e avançar lentamente até o

paciente alcançar 20 a 25 minutos. Uma vez alcançado esse nível, deverá ser

possível permitir que o paciente escolha outra forma de exercício aeróbico não-

discordante que seja pessoalmente agradável (HALL, 2007).

Page 33: Protocolo de Exercícios para Pacientes Portadores da Síndrome da ...

32

DISCUSSÃO

Para propor um protocolo de exercícios aplicável a pacientes portadores

da síndrome da fibromialgia, tendo em vista que estes pacientes costumam

apresentar baixo nível de condicionamento físico e acreditando-se na

possibilidade da disautonomia como um conceito da fisiopatologia dessa

síndrome, buscou-se achar sugestões para que o condicionamento físico

desses pacientes pudesse ser restabelecido, da melhor forma possível.

Pacientes com fibromialgia têm um nível de condição aeróbia ou

cardiovascular menor que a média. Como resultado, eles tendem a ficar mal-

condicionados muito facilmente, o que diminui sua eficiência cardiovascular e

circulação periférica. Em muitos casos, a fibromialgia leva a uma redução na

atividade habitual, que, se sustentada, causa um ciclo de descondicionamento

(BENNETT, 1989).

Jacomini (2007), em seu estudo sobre disautonomia na fibromialgia

mostra que é necessário uma proposta de tratamento que leve em conta a

hiperatividade simpática e sua baixa reatividade a situações estressoras de

qualquer natureza pelo meio de tratamentos não farmacológicos que possam

corrigir as conseqüências dessa hiperatividade através da manutenção dos

sintomas da FM, principalmente da dor que tão adversamente afeta o

desempenho e qualidade de vida dos portadores dessa síndrome.

No decurso desse pensamento e sabendo que o condicionamento físico

supervisionado predominantemente aeróbio auxilia na melhora da dor em

pacientes com FM (SABBAG, 2007), procurou-se evidenciar não só os

benefícios desse tipo de exercício, mas também qual a melhor intensidade e

duração para o perfil dos fibromialgicos. Os pacientes com fibromialgia também

são beneficiados com exercícios de alongamento e fortalecimento. Exercícios

de alongamento ajudam a manter e/ou melhorar a flexibilidade, e relaxar

músculos contraídos e rígidos. Exercícios de fortalecimento ajudam a reduzir

as distensões musculares. Mas, o mais importante é que um programa efetivo

ajuda o paciente com fibromialgia a administrar ambos, tanto os aspectos

emocionais como os físicos da enfermidade.

Porém a prescrição minuciosa de um programa de exercícios depende

de achados significativos durante a avaliação inicial (HALL, 2007), e é

Page 34: Protocolo de Exercícios para Pacientes Portadores da Síndrome da ...

33

necessário realizar testes específicos para obtenção do limiar anaeróbico, que

determina as intensidades de exercício em que predominam o metabolismo

aeróbio, para que com isso possa ser determinada a intensidade de treino.

Tendo em vista que para obtenção do LA é necessário analise do gás expirado,

que não pode ser realizado em todos os centros (VALIM, 2006) e é de difícil

acesso, a forma encontrada de obter a prescrição mais fidedigna para o melhor

resultado dos exercícios foi através da comparação de estudos que preconizam

o exercício como tratamento para a síndrome da fibromialgia.

Seguindo esse raciocínio a forma estabelecida para a sugestão de um

protocolo de exercícios, visando exercícios aeróbicos, para melhora do

condicionamento físico desses pacientes idealizou-se por meio da revisão

bibliográfica de estudos que abordassem o tema, porém, limitações foram

encontradas devido as publicações sobre o assunto abordarem diversas

modalidades de tratamento, e vários tipos de instrumentos de avaliação, não

sendo possível agrupar adequadamente estudos para comparação dos

desfechos e resultados

Outra limitação para a criação do protocolo foi a diversificação dos

programas de exercícios estipulados pelos diversos autores, isso dificulta a

comparação entre os grupos, pois diminui a fidedignidade dos resultados da

metanalise.

A tabela à seguir demonstra os principais resultados , de acordo com o

autor/ano, tipo de exercício, sua aplicabilidade, quantidade de pacientes

submetidos aos exercícios, duração do programa de exercício e a intensidade

do treino.

TABELA – Resultado do estudo comparativo

AUTOR/ANO TIPO DE

EXERCÍCIO

NÚMERO DE

PACIENTES

DURAÇÃO INTENSIDADE RESULTADOS

Martin, 1996 Programa de

exercícios que

inclui elementos

aeróbicos,

flexibilidade e

fortalecimento

38 pacientes

com FM (18

realizando

exercícios e 20

relaxamento)

6 semanas

3x por semana

1 hora de

exercício ou

de

relaxamento

_____

Melhora

significativa nos

dois grupos,

mostrando que o

exercício ajuda a

melhorar a FM.

Page 35: Protocolo de Exercícios para Pacientes Portadores da Síndrome da ...

34

Meiworm, 2000 Exercícios de

resistência aeróbica

(corrida,

caminhada,

bicicleta ou

natação)

27 pacientes

com FM

12 pessoas

sedentárias

12 semanas

2 a 3 x por

semana

25 minutos

50% V O2 max Efeito positivo do

exercício de

resistência

aeróbica no

condicionamento

e bem estar de

pacientes com FM

Sabbag, 2000 Treinamento

cardiovascular

supervisionado

(alongamento,

marcha rápida ou

corrida, natação)

13 pacientes

com FM

6 meses

3x semana

1 hora

60% a 70% da

FCmax

(calculada pelo

método de

Karvonen)

A partir do 3º mês

de treinamento

cardiovascular

supervisionado,

as portadoras de

FM apresentaram

maior tolerância à

dor muscular e ao

esforço, melhora

da capacidade

funcional

cardiovascular e

muscular

periférica.

Sabbag, 2007 Condicionamento

físico

supervisionado

predominantemente

aeróbio

18 pacientes

com FM

1 ano

3x por semana

1 hora

48,7% a 82,9%

VO2 pico)

Efeitos do

programa de

condicionamento

físico

supervisionado

sobre indivíduos

com FM foram:

aumento da

capacidade

funcional, melhora

da dor e da

qualidade vida

Bressan, 2008 Programa de

alongamento

muscular estático e

exercícios

aeróbicos

(caminhada na

esteira)

15 pacientes

com FM (8

realizando

alongamentos

musculares e 7

em programa de

condicionamento

físico (aeróbico)

8 semanas

1x semana

40 a 45

minutos

A velocidade da

caminhada na

esteira foi

determinada

entre 60% a 75%

da FCmax

(calculada pelo

método de

Karvonen)

Exercícios de

alongamento

muscular geram

impacto positivo

melhorando sono

e rigidez,

enquanto o

condicionamento

físico melhora em

algumas variáveis

o Fibromyalgia

Impact

Questionnaire.

Page 36: Protocolo de Exercícios para Pacientes Portadores da Síndrome da ...

35

Tendo em vista esses diversos aspectos e limitações encontradas o

protocolo visa focar todos os benefícios do exercício para pacientes portadores

de fibromialgia, através de exercícios aeróbicos de baixa intensidade, com

níveis mais baixos de intensidade de treino (55-64% da FCmax) que são os

mais aplicáveis para indivíduos descondicionados (VALIM, 2006). A prescrição

da intensidade do exercício será a obtida através da freqüência cardíaca

máxima por ser o parâmetro mais prático para prescrição da intensidadede, e o

mais utilizado nos diversos estudos, chegando a freqüência cárdica de treino

estipulada em: 60% da FCmax.

O tipo de exercício utilizado será a caminhada, por ser um dos mais

acessíveis a toda população, e ter a possibilidade de inicio do ritmo da lento e

confortável, até que possam ser estabelecidos níveis toleráveis e sem

exacerbação dos sintomas (HALL,2007).

A duração do protocolo para melhores resultados será a prática do

exercício por no mínimo três meses, realizados 3 vezes por semana, com

duração de 40 minutos cada sessão, entendendo que ao longo de semanas de

exposição regular e repetitiva ao exercício, desenvolvem-se adaptações

morfofuncionais. Estas são chamadas de efeitos crônicos, que aumentam a

capacidade do organismo a responder aos estímulos agudos do exercício

(NOBREGA, 2006).

Page 37: Protocolo de Exercícios para Pacientes Portadores da Síndrome da ...

36

CONCLUSÃO

Os resultados encontrados nesta revisão sistemática são suficientes

para demonstrar que exercícios físicos, principalmente aeróbicos, são

fundamentais no tratamento de pacientes portadores da síndrome da

fibromialgia, em qualquer modalidade, pois tem baixo custo e efeitos benéficos

globais na dor, no sistema cardiovascular e nos aspectos psicológicos, auxiliam

no controle do estresse e na manutenção de um peso saudável.

A sugestão do protocolo de exercício para pacientes portadores de

fibromialgia veio no intuito, não de padronizar ou preconizar uma regra, mas

sim de pesquisar o melhor tipo, duração e intensidade dos exercícios para o

perfil desses pacientes, baseados na avaliação cardiorespiratória da consulta

inicial, otimizando o tratamento da síndrome.

O sedentarismo torna os músculos vulneráveis a pequenos traumas

capazes de piorar o quadro da FM. Além disso, o descondicionamento pode

acarretar dores durante até mesmo as atividade de vida diárias (trabalho,

afazeres domésticos), afinal os músculos são estruturas importantes na

estabilização das articulações e da coluna. Com um treinamento resistirão

melhor aos esforços, desde que o programa de condicionamento seja bem

orientado.

Estudos futuros devem ser encorajados em pacientes fibromialgicos com

a finalidade de aplicar o protocolo de exercícios aeróbicos de baixa intensidade

(caminhadas) com 60% da FCmax, sendo esses exercícios realizados por no

mínimo três meses, 3 vezes por semana, com duração de 40 minutos para

obtenção de um resultado real na prática desse estudo.

Page 38: Protocolo de Exercícios para Pacientes Portadores da Síndrome da ...

37

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ANEXOS:

Anexo A:

Tender points (– Livro Exercícios terapêuticos: na busca da função. Rio

de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007, p.252 – Carrie M. Hall)

Anexo B

Distância percorrida no Teste da Caminhada de 6 Minutos (Rev. bras.

fisioter. v.12 n.4 São Carlos jul./ago.2008 - Vilaró et al., 2008)