Prova

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1. Durante os séculos XVII e XVIII, a historiografia da arte se desenvolverá ainda sobre os alicerces da obra de Giorgio Vasari e seus contemporâneos, como Vincenzo Borghini, Benvenutto Cellini e Michelangelo Bonarroti. Constituirá massivamente de biografias dos artistas, embora mais numerosos e menos seletos nesse momento. Muito autores, assim como Vasari, se dedicarão às biografias, a exemplo de Van Mander, Sandrart, Baldinucci, Bellori, Baglione, Gérard de Lairesse, Descamps, Pacheco, Walpole e Dezallier D’Argenville, muitos dos quais eram pintores. No século XVII, há na Itália uma tentativa de complementar os estudos de Vasari, como ocorre em Baglione em “Le vite de' pittori, scultori et architetti : dal pontificato di Gregorio XIII del 1572 in fino a'tempi di Papa Vrbano Ottauo nel 1642”, Gio Passeri e até mesmo Giulio Mancini, além de Giovani Pietro Bellori, que publica em 1672 sua obra “Le vite de' pittori, scultori et architetti moderni”, onde inova ao abordar uma seleção de pintores mais significativos, segundo sua concepção, como Domenico Fontana, Caravaggio, Rubens, Annibale, Agostino Carracci e Nicolas Poussin, de quem era amigo. Baldinucci também vai se opor à tradição, quando foge um pouco do Clássico em Notas sobre os professores de desenho de Cimabue até agora (1658), onde aborda história de pintores a nível universal, aquém dos gregos e romanos. Descamps vai publicar de 1753 a 1765 “La vie des peinlres flamands, allemands et hollandais”, sendo a obra mais vasta do período. A obra “Entretiens sur la vie et les ouvrages des plus excellents peintres anciens et modernes” (1656-1688), de Felibien des Avaux, também é muito significativa para o período. Em 1681, Roger de Piles vai problematizar o embate Cor X Desenho na obra “DIssertations sur les ouvrages des plus fameux peintres”, incrementando assim o embate entre “rubesnistas” (dinâmico-colorista) e “poussinistas’ (estático-valorista). No século XVIII, a obra de Rubens também execerá influência sobre Watteau, Largilliere e Fragonard. Durante esses séculos, as escavações de Roma trarão consigo novas formas de interpretar o objeto artístico, mesmo nos estudos de arqueologia, como “Roma Soterranea’ (1634), de Antonio Boso e Sculttura e pittore sagre stratte da i cimiteri di Roma” (1737-1753), de Giovanni Bottari. À medida em que o século XVIII avança, mais o método regionalista e biográfico de Vasari é contestado, o que ocasiona várias reedições em sua obra. Notáveis são os teóricos desse século. Francesco Milizia (1725-1798) vai ultrapassar Vasari no que se refere a uma “análise mais formal da obra”, fazendo críticas veladas, porém severas à obra de Michelangelo. Essa análise, no entanto, ainda acompanhava a tradição Vasariana ao julgar a obra baseando-se na estética vigente à crítica e não a partir da estética que vigorava à época da obra. A obra de “Storia pittorica dell'Italia” de Luigi Lanzi (1732-1810) é tão significativa quanto a de Winckelmann para a historiografia, onde define “os estilos e as maneiras inerentes aos artistas, às épocas e às escolas”. Decompõe a escolas em estilos, tentando manter certa imparcialidade, mas persiste na distinção vasariana entre artistas menores (mais manuais) e maiores.Entre 1757 a 1767, o conde de Cayle vai publicar a obra Recueil d'antiquités egyptiennes, etrusques, grecques et romaines”, onde relaciona a importância dos objetos arqueológicos para a “história das Artes”. Será Johann Joachim Winckelmann, no entanto, que romperá definitivamente com a tradição vasariana, na segunda metade do século XVIII.

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Winckelmann

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  • 1. Durante os sculos XVII e XVIII, a historiografia da arte se desenvolver ainda sobre os alicerces da obra de Giorgio Vasari e seus contemporneos, como Vincenzo Borghini, Benvenutto Cellini e Michelangelo Bonarroti. Constituir massivamente de biografias dos artistas, embora mais numerosos e menos seletos nesse momento. Muito autores, assim como Vasari, se dedicaro s biografias, a exemplo de Van Mander, Sandrart, Baldinucci, Bellori, Baglione, Grard de Lairesse, Descamps, Pacheco, Walpole e Dezallier DArgenville, muitos dos quais eram pintores. No sculo XVII, h na Itlia uma tentativa de complementar os estudos de Vasari, como ocorre em Baglione em Le vite de' pittori, scultori et architetti : dal pontificato di Gregorio XIII del 1572 in fino a'tempi di Papa Vrbano Ottauo nel 1642, Gio Passeri e at mesmo Giulio Mancini, alm de Giovani Pietro Bellori, que publica em 1672 sua obra Le vite de' pittori, scultori et architetti moderni, onde inova ao abordar uma seleo de pintores mais significativos, segundo sua concepo, como Domenico Fontana, Caravaggio, Rubens, Annibale, Agostino Carracci e Nicolas Poussin, de quem era amigo. Baldinucci tambm vai se opor tradio, quando foge um pouco do Clssico em Notas sobre os professores de desenho de Cimabue at agora (1658), onde aborda histria de pintores a nvel universal, aqum dos gregos e romanos. Descamps vai publicar de 1753 a 1765 La vie des peinlres flamands, allemands et hollandais, sendo a obra mais vasta do perodo. A obra Entretiens sur la vie et les ouvrages des plus excellents peintres anciens et modernes (1656-1688), de Felibien des Avaux, tambm muito significativa para o perodo. Em 1681, Roger de Piles vai problematizar o embate Cor X Desenho na obra DIssertations sur les ouvrages des plus fameux peintres, incrementando assim o embate entre rubesnistas (dinmico-colorista) e poussinistas (esttico-valorista). No sculo XVIII, a obra de Rubens tambm execer influncia sobre Watteau, Largilliere e Fragonard. Durante esses sculos, as escavaes de Roma traro consigo novas formas de interpretar o objeto artstico, mesmo nos estudos de arqueologia, como Roma Soterranea (1634), de Antonio Boso e Sculttura e pittore sagre stratte da i cimiteri di Roma (1737-1753), de Giovanni Bottari. medida em que o sculo XVIII avana, mais o mtodo regionalista e biogrfico de Vasari contestado, o que ocasiona vrias reedies em sua obra. Notveis so os tericos desse sculo. Francesco Milizia (1725-1798) vai ultrapassar Vasari no que se refere a uma anlise mais formal da obra, fazendo crticas veladas, porm severas obra de Michelangelo. Essa anlise, no entanto, ainda acompanhava a tradio Vasariana ao julgar a obra baseando-se na esttica vigente crtica e no a partir da esttica que vigorava poca da obra. A obra de Storia pittorica dell'Italia de Luigi Lanzi (1732-1810) to significativa quanto a de Winckelmann para a historiografia, onde define os estilos e as maneiras inerentes aos artistas, s pocas e s escolas. Decompe a escolas em estilos, tentando manter certa imparcialidade, mas persiste na distino vasariana entre artistas menores (mais manuais) e maiores.Entre 1757 a 1767, o conde de Cayle vai publicar a obra Recueil d'antiquits egyptiennes, etrusques, grecques et romaines, onde relaciona a importncia dos objetos arqueolgicos para a histria das Artes. Ser Johann Joachim Winckelmann, no entanto, que romper definitivamente com a tradio vasariana, na segunda metade do sculo XVIII.

  • 2. A obra de Bellori marcada por sua riqueza em detalhes e excelncia de

    mtodo. Deliberadamente platnico, o autor admitia o artista como o nico a

    possuir a verdade superior da ideia, a natureza oferecia somente

    imperfeies; a ideia de beleza s se concretizaria pela a ao do artista.

    Configurava carter mpar a sua obra o direcionamento dado a artistas que

    julgava maior relevncia, entre eles Caravaggio, Domenico Fontana, Rubens

    e Van Dyck, Franois Duquesnoy e Nicolas Poussin. Este personificava todo

    o seu apreo pelo clssico, que se respaldava em bases distintas as do

    Renascimento. De Piles, manifestou em sua teoria as querelas que rondavam

    o seu periodo. Em publicaes como Dissertations sur les ouvrages des plus

    fameux peintres e Abrg de la vie des peintres, evindenciou questoes como

    a primazia do desenho ou da cor e dos antigos ou dos modernos.

    Protagonizou, e elucidou, a querela entre poussinistas e rubenistas. No

    omitiu as origens da escola francesa, De Piles se mostra mais conciliador,

    distingue a paisagem heroica da paisagem pastoral e condena a arte limitada

    pelo natural de seu pas e o imoderado verdadeiro natural.

    3. Johann Joachim Winckelmann (1711-1768) considerado o predecessor da teoria e historiografia moderna da arte. Publica em 1755 Reflexes sobre a imitao dos artistas gregos na pintura e na escultura, onde afirma que os gregos atingiram a perfeio; esse julgamento, porm, carece de embasamento cientfico, demonstrando certa semelhana com o mtodo vasariano, que fortemente impregnado de opinies particulares. Nessa obra, Winckelmann vai suscitar a histria da arte como disciplina autnoma. Ao contrrio da tradio vasariana, a histria da arte constituir nesse momento, no a biografia dos artistas, mas o desenvolvimento da arte como territrio do belo e da forma. Aps esse trabalho, publicou espordicos ensaios sobre determinadas obras, como o torso de Belvedere e as escavaes de Herculano, tambm importantes. Em 1764, publica a obra Histria das artes na Antiguidade. Essa obra j segue um estruturamento racional, demonstrando no s um relevante afastamento da tradio vasariana, mas tambm um amadurecimento da obra de Winckelmann. Com essa obra, Winckelmann introduz a metodologia cientfica na historiografia da arte, executada atravs de anlises, crticas, classificaes, aproximaes e comparaes. Nela, Winckelmann compara a arte grega arte renascentista italiana, de modo a chegar a um denominador comum no que tange ao belo. Segundo ele, a arte deve buscar o belo ideal, obtido atravs da mimesis das obras gregas, que obtm seu auge, dentre outros artifcios, atravs da representao dos corpos.

  • Referncias Bibliograficas

    Argan, Giulio Carlo. Fagiolo, Maurizio. Guia de Histria da Arte. Traduo: M. F. Gonalves de Azevedo. Lisboa, Editorial Estampa, 1994, pp. 13-18.

    Bazin, Germain. Histria da Histria da Arte. Traduo: Antonio de Pdua Danesi. So Paulo, Martins Fontes, 1989. pp. 07-85

    Winckelmann, Johann Joachim. Reflexes sobre a arte antiga. Traduo: Herbert Caro e Leonardo Tochtrop, Porto Alegre, Movimento, 1975, pp. 39-54.