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PSICOLOGIA JURÍDICA Graduação

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Psicologia

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PSICOLOGIA JURÍDICA

PSICOLOGIA JURÍDICA

Graduação

PSICOLOGIA JURÍDICA

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UN

IDA

DE 1

PSICOLOGIA

Nesta unidade abordaremos a Psicologia e seu contexto histórico

marcado pelo ideário positivista que propiciou seu surgimento e, a partir

daí, poderemos entender melhor o seu conceito e o seu objeto de estudo.

OBJETIVOS DA UNIDADE:

• Contextualizar a psicologia e suas disciplinas afins pela história

e as principais correntes da Psicologia contemporânea;

• Delimitar o objeto de estudo da psicologia e apresentar os

métodos de investigação desta ciência.

PLANO DA DISCIPLINA:

• Psicologia: aspectos históricos.

• A psicologia científica.

• Psicologia: conceito.

• O objeto formal de estudo da Psicologia.

• Metodologia de Investigação em psicologia.

Bem-vindo à primeira unidade de estudo.

Sucesso!

UNIDADE 1 - PSICOLOGIA

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PSICOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS

Dando início à nossa disciplina de psicologia jurídica, gostaríamos de

convidá-lo a refletir sobre a psicologia enquanto ciência, tendo, sobretudo, a

preocupação de contribuir para sua formação profissional de maneira ativa,

crítica e consistente. Julgamos que esta reflexão deve ser feita com o objetivo

de se entender a produção histórica da ciência psicológica para, a partir daí,

entendermos o seu conceito mais contemporâneo, seu objeto de estudo e

metodologia de investigação.

Nesse sentido, essa unidade inicia o estudo da psicologia em uma

perspectiva histórica, ou seja, a partir do ponto de vista que apreende a

ciência psicológica como uma prática social e que entende serem os seus

fundamentos, históricos e filosóficos, intimamente ligados à própria forma

do homem viver e se expressar na sociedade.

Como já sabemos, a humanidade desde sempre colocou inúmeras

questões acerca do mundo que a rodeia, procurando respostas que lhe

atenuassem a angústia e a inquietação. Contudo, a Natureza não foi o único

objeto destas interrogações. Este também passou a refletir sobre si mesmo

e sobre a vida humana, nomeadamente sobre as suas emoções, inquietações,

sentimentos, o porquê da existência, do nascimento, da morte... É deste

modo que nasce o conceito de alma, onde reside a raiz etimológica da

psicologia: psyché (alma, mente) + logos (razão, estudo). Todavia, o termo

psicologia só aparece no século XVI com Rodolfo Goclénio.

Tem-se afirmado que a Psicologia é uma ciência com um longo passado,

mas com uma curta história. Tal frase lança luz sobre o fato de os povos de

todos os tempos e de todas as culturas se terem ocupado dos problemas da

alma e da vida humanas.

Alguns filósofos da Antiga Grécia

pensavam que a alma era “ar”, outros,

que eram os odores, os elementos

vivificantes. Platão (427-347 a.C.)

concebia a alma separada do corpo e

imortal, com capacidade de ocupar outro

corpo quando a matéria (o corpo) de

origem desaparecia com o óbito. Já o

seu discípulo Aristóteles (384-322 a.C.),

grande mestre da ciência antiga, tratou

de quase todos os problemas que

ainda hoje nos ocupam. Sua

contribuição foi inovadora ao postular

que alma e corpo não devem ser

dissociados. Caracterizou a vida do

homem pelo princípio que denominou de alma racional, com a função de pensar.

E assim, conforme Aristóteles, o corpo humano não é obstáculo, mas

instrumento da alma racional, que é a forma do corpo. Esse filósofo chegou

a sistematizar seu estudo sobre as diferenças entre as sensações, a

percepção e a razão em um Tratado denominado Da anima, o qual pode ser

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considerado o primeiro em psicologia. Como podemos perceber, os Gregos

consideravam a alma como o sopro da vida, como o que vivificava a vida.

Como, porém, se realizava essa vivificação foi problema que permaneceu

tão discutido quanto insolúvel.

A par de tais concepções, adquiridas exclusivamente pela especulação,

existiam, contudo, também já na Antiguidade, estudos amplos sobre

processos cerebrais, sobre as funções dos órgãos sensoriais

e sobre perturbações destas funções em caso de lesões

cerebrais.

Hipócrates (cerca de 400 a.C.), célebre médico

grego, foi o primeiro, em tempos remotos, a formular a

classificação das personalidades em função do

temperamento (humor), distinguindo quatro tipos

fundamentais: o temperamento sanguíneo que caracteriza

uma personalidade sociável, alegre, amigável, ativa e que

necessita de emoções e movimento; o temperamento

colérico ou bilioso que caracteriza as personalidades

dotadas de muita vitalidade e agressividade em momentos

de enfrentar problemas; já as pessoas de temperamento

melancólico são anti-sociais, emotivas, pessimistas e

orgulhosas e; o temperamento fleumático que é próprio

das pessoas aparentemente seguras e tranqüilas, porém

na realidade são sensíveis e apreensivas. Apesar do seu

funcionamento pseudocientífico, essa doutrina dos quatro temperamentos

afirmou-se na prática. Os quatro tipos foram finalmente introduzidos como

noções da nossa linguagem do dia-a-dia.

De interesse para a Psicologia

atual é o Doutor da Igreja Santo

Agostinho (354-430 d.C.), considerado

um grande estimulador dos recentes

movimentos existencialistas e até da

psicanálise. Ele inspirou sua obra na

realidade das experiências interiores do

ser humano, propondo a idéia de que

os sentimentos são dominantes e que o

intelecto é seu servo. Em seu livro

Confissões, Santo Agostinho foi o

primeiro a centralizar-se na introspecção

psicológica, sugerindo também, uma

completa revisão do pensamento

anterior, segundo o qual o raciocínio dedutivo era o único instrumento de

constatação da verdade e da realidade (racionalismo). Ele negava,

categoricamente, a capacidade do ser humano para encontrar a verdade

confiando apenas em suas próprias faculdades.

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Podemos agora passar por sobre vários séculos até chegarmos

ao próximo pensador que voltou a influenciar a Psicologia de modo

decisivo: trata-se de John Locke (1632-1704), filósofo do século XVII,

quem acreditava também na existência de duas realidades: uma delas

conferida pela percepção dos objetos e denominada experiência

exterior e uma outra determinada pela percepção dos sentimentos e

desejos, a que chamou de experiência interior. A doutrina de Locke

foi muito bem desenvolvida por Berkeley (1685-1753) e por David

Hume (1711-1776), os quais concluíram que nenhum conhecimento

absoluto é possível e aquilo que sabemos da realidade é baseado na

experiência subjetiva, ou seja, experiência interior, a qual não reflete

necessariamente o quadro verdadeiro do mundo. Willian James (1842-1910),

no século passado, enfatizou a natureza altamente pessoal dos processos

de pensamento e o caráter sempre mutável das percepções do mundo, sendo

alteradas pelo estado subjetivo da pessoa que percebe.

Se antes o homem era uma criação divina que ganhou vida através de

um sopro, com Charles Darwin (1809-1882) todos os seres vivos são apenas

o resultado de uma bem-sucedida mutação casual de espécies anteriores.

Com essa idéia, publicada em 1859 no livro “A Origem das Espécies”, esse

cientista inglês chocou a sociedade e revolucionou a ciência. Sua teoria

defende que as espécies têm uma origem comum e que elas se diferenciaram

através do processo da seleção natural, transformando para sempre o modo

do ser humano enxergar a natureza e a si mesmo.

O principal impulso para o procedimento empírico na psicologia - para

o método de observação e experiência – proveio de Ernest Hilgard, entre

outros, o fundador da moderna doutrina genética e da hereditariedade. Em

seu estudo sugestivo “A Psicologia após Darwin” enfatizou a expressão dos

movimentos afetivos, a investigação das diferenças entre os diversos

indivíduos, o problema da influência da hereditariedade em comparação com

a do meio ambiente, o problema do papel da consciência e, logo a seguir, o

estudo experimental das funções anímicas e a introdução do princípio

quantitativo da investigação.

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A PSICOLOGIA CIENTÍFICA

Como marco inicial do período científico poder-se-ia fixarum dentre dois momentos: a consagração do método experimentalcomo procedimento possível e adequado à problemática psicológica,caso em que Wilhelm Wundt (1832-1920) seria seu iniciador, ou ouso sistemático do conceito de comportamento como objeto dapesquisa e, nesse caso, está em evidência John B. Watson.

Como exposto anteriormente, os filósofos antigos, gregose medievais procuravam, antes de tudo, dar resposta aos problemasfundamentais acerca da natureza da alma, sua relação com o corpo,seu destino depois da morte e a origem das idéias. Somente, porém,com o advento do espírito científico e, principalmente, com aconstatação de que há possibilidade de encontrar fórmulassuficientemente precisas entre variação do estímulo físico, mudançafisiológica e reação psíquica, é que começou o trabalho pioneiro deGustav Fechner, Hermann Helmholtz e Wilhelm Wundt: a psicofísica

e a psicofisiologia.

Para Wundt, o objeto da psicologia era a consciência. Ele entendia aciência como estudo da estrutura ou das funções detectáveis na experiênciainterior, nos processos psíquicos de sensação, percepção, memória esentimentos. A essa concepção da psicologia opuseram-se psicólogoscientíficos posteriores, em particular os behavioristas, para os quais só podehaver ciência a partir do que é externamente observável, no caso, ocomportamento.

Assim, uma das maneiras de classificar as especialidades em que sedividiu a psicologia é segundo os conteúdos examinados por cada área. Asprincipais disciplinas psicológicas seriam as psicologias da sensação, dapercepção, da inteligência, da aprendizagem, da motivação, da emoção, davontade e da personalidade. Outra divisão possível se faz segundo o critériode examinar esses mesmos conteúdos quanto a sua relação com ofuncionamento do organismo, com a denominada psicologia fisiológica; ouquanto a sua manifestação no decorrer da evolução, na psicologia dodesenvolvimento; ou, ainda, quanto àsdiversas formas da convivência social, objetoda psicologia social.

Na década de 1910, John B. Watsonlançou a corrente behaviorista, uma das trêstendências teóricas da psicologia neste século.Esta corrente propunha o estudo exclusivodo comportamento (em inglês behavior), ouseja, daquilo que é observável na condutado homem. Segundo ele, seriacientificamente observável a ação de umestímulo sobre o organismo e a reação desteem face do estímulo. A relação entre estímuloe reação teria seu protótipo nos reflexosincondicionado e condicionado. Comoexemplo de reflexo incondicionado, podemos

Wilhelm Wundt: A psi-

cologia científica aparece

com o primeiro laboratório

de psicologia em 1879, cri-

ado por Wilhelm Wundt

(1832-1920), professor de

medicina e fisiologia huma-

na da Universidade de

Leipzig (Alemanha). Neste

laboratório eram estudadas

as sensações num nível

muito elementar, como por

exemplo, o calor e o frio. Au-

tor do livro “Fundamentos da

Psicologia Fisiológica”, um

dos mais citados dentro da

psicologia, aborda aspectos

essenciais do comporta-

mento: o aspecto objetivo

(o que vemos e sentimos) e

o aspecto subjetivo (como

captamos aquilo que

estamos percebendo).

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citar a contração das pupilas quando uma luz forte incide sobre os olhos ouquando o arrepio da pele é provocado quando um ar frio nos atinge. Já umamelodia pode nos fazer sentir alegria e elevar a taxa de endorfina do organismo,se nosso sistema nervoso tiver sido condicionado anteriormente para tanto,ilustra o reflexo condicionado, estudado mais detalhadamente pelo médicorusso Ivan Pavlov. “Hoje, não se entende comportamento como uma açãoisolada de um sujeito, mas, sim, como uma interação entre aquilo que o sujeitofaz e o ambiente onde o seu fazer acontece” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA,2004:).

Contra esse, o estudo da psicologia voltado para os elementos docomportamento de maneira isolada, surgiu a corrente fundada por MaxWertheimer (1880-1943), Kurt Koffka (1886-1941) e WolfgangKöhler (1887-1967), chamada psicologia da forma ou Gestalt, outratendência teórica da psicologia neste século. Os gestaltistas tambémdefinem a psicologia como ciência que estuda o comportamento,porém formularam seu princípio segundo o qual o conjunto dosfenômenos psíquicos apresenta características que não podem serinferidas das partes isoladamente, a partir da investigação daspercepções. Uma de suas formulações bastante conhecidas é a deque o todo é diferente da soma das partes. Ou seja, a percepção quetemos de um todo não é o resultado de um processo de simplesadição das partes que o compõem.

A tendência da percepção em buscar a boa-forma permitirá arelação figura-fundo. Quanto mais clara estiver a forma (boa-forma),mais clara será a separação entre figura e fundo. Quando isso não ocorre,torna-se difícil distinguir o que é figura e o que é fundo, como é o caso da figura1. Nessa figura ambígua o que é figura em um momento torna-se fundo quandologo a seguir centramos o foco da percepção no outro aspecto. É importantedestacar que não é possível ver a taça e os perfis ao mesmo tempo (BOCK,2004).

Provavelmente, você já tenha ouvido falar de SigmundFreud (1856-1939), o médico vienense que se especializou notratamento de problemas do sistema nervoso e em particularnas desordens neuróticas. As desordens neuróticas, como vocêtalvez saiba, caracterizam-se pela ansiedade excessiva e, emalguns casos, depressão, fadiga, insônia, paralisia ou outrossintomas relacionados com conflitos ou tensões. O nome e asidéias de Sigmund Freud são tão familiares ao público em geralque a psicologia é às vezes identificada com a teoria psicanalítica,denominação genérica para as idéias freudianas a respeito dapersonalidade, da anormalidade e do tratamento. A teoriapsicanalítica é, contudo, apenas uma teoria psicológica, quecompõe o trio de tendências teóricas deste século.

O movimento psicanalítico não se assemelhou aos outrosque descrevemos porque Freud nunca tentou influenciar apsicologia acadêmica. Seu objetivo era o de levar ajuda a pessoas emsofrimento. Uma vez que a teoria psicanalítica teve imensa influência dentroda psicologia e atraiu vasto grupo de seguidores entre os cientistas docomportamento, a psicanálise é considerada como um movimento da psicologia.

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Na época de Freud, os médicos não compreendiam os problemasneuróticos, nem sabiam como tratá-los. Tendo descoberto logo que cuidar dossintomas físicos da pessoa neurótica era inútil, Freud começou a procurar umaterapia psicológica apropriada. Vários de seus colegas estavam hipnotizandoseus pacientes neuróticos e encorajando-os a “exteriorizar através da fala” osseus problemas. Quando esses pacientes discutiam e reviviam as experiênciastraumáticas que pareciam associadas a seus sintomas, freqüentementemelhoravam. Freud adotou a hipnose durante algum tempo, mas não a achousatisfatória.

Nem todos podiam atingir um estado de transe, e a hipnose pareciaresultar em curas temporárias, com o aparecimento posterior de novossintomas. Essa insatisfação impulsionou Freud a desenvolver um novo método,a associação livre, que serviu a muitos dos mesmos propósitos, emboraapresentando menos problemas. Os pacientes repousavam num divã e eramencorajados a dizer o que quer que lhes viesse à mente, sendo tambémconvidados a relatar seus sonhos.

Freud analisava todo o relato que aparecia, procurando desejos, temores,conflitos, pensamentos e lembranças que se encontravam além doconhecimento consciente do paciente.

Em suma, podemos afirmar que Freud tratava de seus pacientes tentandotrazer à consciência aquilo que estava inconsciente.

A teoria psicanalítica criou uma revolução na concepção e tratamentodos problemas emocionais e gerou interesse entre os psicólogos acadêmicospela motivação inconsciente, a personalidade, o comportamento anormal e odesenvolvimento infantil.

A partir do mencionado, podemos compreender o símbolo “PSI” querepresenta o tripé que sustenta a ciência do comportamento em suas trêsvertentes: A corrente comportamentalista, a corrente psicanalítica e a correntehumanista.

Sumarizando o conteúdo desenvolvido até aqui, a psicologia a partirdos testemunhos escritos que nos ficaram das antigas culturas, em particular

a Grega, podemos depreender que os homenssempre refletiram sobre a alma, a morte e aimortalidade, sobre o bem e o mal e as causas dosseus medos e preocupações.

Atravessada por várias teorias,recorrendo a métodos e técnicas de investigaçãodiversificados, organizada em váriasespecialidades, a psicologia procura, nestadiversidade, responder às questões que desdesempre se colocaram acerca do comportamento,emoções, sentimentos, relações sociais, sonhos eperturbações. E, antes de continuarmos essa

unidade falando sobre o conceito de psicologia, seu objeto de estudocontemporâneo e métodos de investigação, apresento-lhes o quadro a seguir

com os principais marcos da história da psicologia.

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PSICOLOGIA: CONCEITO

Usamos o termo psicologia, no nosso cotidiano, com vários sentidos,

como por exemplo, quando falamos do poder de persuasão ou de compreensão

de alguém ou da capacidade que algumas pessoas têm de escutar os outros

e darem bons conselhos. Essa psicologia, usada no dia-a-dia pelas pessoas,

é chamada de psicologia do senso comum.

Contudo, definir a psicologia como ciência, obriga a mesma a respeitar

um conjunto de características científicas. São elas: objeto formal de estudo

bem delimitado; investigação rigorosamente metódica e controlada,

derivando-se, daí, a razão da confiança nas conclusões científicas; linguagem

clara, consistente, coesa e objetiva na transmissão de suas conclusões,

cumprindo sua finalidade social enquanto conhecimento compartilhado;

objetivação, que é a tentativa de descobrir a realidade como ela é e processo

cumulativo do conhecimento.

Assim, definir a psicologia cientificamente é sinônimo de caracterizá-la

quanto ao seu objeto de estudo e metodologia de investigação. É o que

faremos a seguir.

O OBJETO FORMAL DE ESTUDO DA PSICOLOGIA

Na psicologia, o homem é visto de maneiras bem diversas entre si, o

que explica sua diversidade de objetos de estudo. Assim temos o

comportamento humano como objeto da psicologia comportamentalista, o

inconsciente como objeto de estudo da psicologia na visão psicanalista, e

assim por diante. Logo, a ciência psicológica é uma só, mas possui várias

faces.

Dada a complexidade na conceituação única do objeto de estudo da

psicologia, vamos apresentar a vocês uma definição que servirá como

referência para as nossas próximas unidades. Consideraremos, portanto, o

conceito de psicologia moderna que define a subjetividade humana como

seu objeto de estudo. Sendo essa a sua forma particular e específica de

contribuição para a compreensão da totalidade da vida humana.

A subjetividade é a síntese singular e individual que cada um de nós

vai constituindo conforme desenvolvemos e vivenciamos as experiências da

vida social e cultural. A subjetividade é a maneira de sentir, pensar, fantasiar,

sonhar, amar e fazer de cada um, enfim o que constitui o nosso modo de ser.

É uma síntese que nos singulariza de um lado por ser única e nos iguala, de

outro lado, na medida em que os elementos que a constituem são

experienciados no campo comum da objetividade social.

Psicologia é a ciência dos fenômenos psíquicos e do comportamento.

Entende-se por comportamento uma estrutura vivencial interna que se

manifesta na conduta e subjetividade de cada um.

A subjetividade humana é medida em todas as suas expressões visíveis

ou invisíveis, singulares (porque somos o que somos) ou coletivas (porque

somos todos assim). Cada um é dono do seu sentir e do pensar. Isso é a

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subjetividade. Por exemplo, “Eu vejo o que você vê, mas nunca vou saber

como é o seu ver. Você tem a sua subjetividade”.

O indivíduo não nasce com a sua subjetividade. Ele a constrói aos

poucos, apropriando-se do material do mundo social e cultural. Criando e

transformando o mundo externo, o homem constrói e transforma a si próprio.

A subjetividade, dependendo da abordagem psicológica, também é

vista como a “individualidade”. Ainda como “personalidade”, mas

personalidade é um conjunto de comportamentos, que podem se repetir em

várias pessoas. Quando falamos de individualidade estamos falando de

unicidade, de comportamentos únicos naquelas pessoas. Quando falamos

de personalidade estamos falando de um repertório de comportamentos

que uma pessoa tem e outras também, estamos falando de semelhanças,

de comportamento médio emitido por um grupo de indivíduos.

Citando Guimarães Rosa (2001) em Grande Sertão Veredas: “O

importante e bonito no mundo é isso: que as pessoas não estão sempre

iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando.

Afinam e desafinam”.

Portanto, já que a concepção da realidade é baseada na experiência

subjetiva e, sendo esta capaz de conferir uma natureza altamente pessoal

à percepção do mundo e aos pensamentos, então a realidade percebida

decorrerá sempre do estado subjetivo do indivíduo. Cada consciência, em

particular, integra e totaliza de maneira muito peculiar o seu relacionamento

com o mundo. Desta forma, os fatos oferecidos pelo mundo à nossa volta

resultarão numa representação única e individual para cada um de nós e

será esta representação que constituirá a realidade particular de cada

indivíduo.

METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO EM PSICOLOGIA

O estudo da subjetividade não se reduz aos métodos a serem

utilizados, pois não pode prescindir da teoria da sociedade, uma vez que,

como dito, a sociedade é a constituinte básica da subjetividade.

O desafio atual para o estudo da subjetividade dependerá da

concepção de homem adotada pelas diferentes escolas psicológicas. Claro

que essa tendência não está presente somente na psicologia, mas isso não

modifica a sua responsabilidade. Dessa forma, o que é urgente não é modificar

os cursos de formação do psicólogo de acordo com as necessidades sociais

atuais, mas modificá-los de forma a que os futuros psicólogos possam

compreender essas necessidades dentro do projeto histórico da civilização

e à luz de suas contradições.

O método para se estudar a subjetividade deve ser, portanto, o que

leva a procurar no indivíduo as marcas da sociedade. Ou seja, dizer que o

indivíduo é mediado socialmente, não significa que ele seja afetado

externamente pela sociedade, mas sim que se constitui por ela, isto é, pela

sua introjeção. Isso implica que a psicologia, para entender as questões

Introjeção é a

internalização das crenças

e valores de um outro indi-

víduo, de tal modo que eles

passam a fazer parte sim-

bolicamente do eu, a ponto

de perder-se o sentimento

de separação ou diferença.

EXEMPLO: Uma criança

pequena desenvolve sua

consciência internalizando

o que seus pais conside-

ram ser certo e errado. Os

pais tornam-se literalmen-

te parte da criança. A cri-

ança diz a um amigo en-

quanto brinca: - “Não bata

nas pessoas. Isso não é

bom!”

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que se referem à subjetividade, deve compreender as finalidades, as

instâncias, os meios, pelos quais uma determinada cultura forma o indivíduo.

Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de

estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-

lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no

processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as

respostas no caderno e depois as envie através do nosso

ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

Bem, querido aluno, até aqui estudamos a trajetória histórica desenvolvida

pela Psicologia até a conquista de seu status de ciência sendo este contexto

base para a próxima unidade quando serão esclarecidos os conceitos básicos

de psicologia geral importantes para os Operadores do Direito. Mas antes,

faça os exercícios de verificação do aprendizado e reflita sobre o que acabamos

de aprender.