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Família O conceito de família pode ser abordado de 2 formas diferentes consoante os autores. Hill e Rodgers (citado por Nock , 1982), considera que é apenas com o nascimento do 1º filho que se fecha o ciclo familiar (estádio expansivo), enquanto que outros consideram família como uma união conjugal, no entanto, para ambos é necessário a existência e continuidade de laços amorosos. Segundo Salvador Minuchin (1974) a estrutura de uma família “é definida como um conjunto invisível de necessidades funcionais que organiza o modo como os elementos da família interagem”, sendo esta mesma interacção que vai diferenciar uma família saudável (funcional) de uma doente (disfuncional). De acordo com o autor Carl Whitaker (1981), uma família saudável é designada como “um conjunto integrado, não demasiado em fusão que não permita a individualização, nem demasiado disperso, que leve à sensação de isolamento. Cada elemento contacta com uma família “intrapsíquica de 3 ou 4 gerações- visão transgeracional da passagem de valores”, isto é, nós hoje, inconscientemente, contactamos, psicologicamente com as nossas gerações anteriores. Esta barreira transgeracional exige delimitação dos subsistemas- “os pais não são filhos e os filhos não são pais”, ou seja, independentemente de nesta família haver troca de afectos e experiências, visto ser família saudável, as posições, deveres e direitos que cada elemento assume estão bem definidos consoante o papel que desempenham na família, isto é, se são pais ou filhos.

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Família

O conceito de família pode ser abordado de 2 formas diferentes consoante os autores.

Hill e Rodgers (citado por Nock , 1982), considera que é apenas com o nascimento do

1º filho que se fecha o ciclo familiar (estádio expansivo), enquanto que outros

consideram família como uma união conjugal, no entanto, para ambos é necessário a

existência e continuidade de laços amorosos. Segundo Salvador Minuchin (1974) a

estrutura de uma família “é definida como um conjunto invisível de necessidades

funcionais que organiza o modo como os elementos da família interagem”, sendo esta

mesma interacção que vai diferenciar uma família saudável (funcional) de uma doente

(disfuncional).

De acordo com o autor Carl Whitaker (1981), uma família saudável é designada como

“um conjunto integrado, não demasiado em fusão que não permita a individualização,

nem demasiado disperso, que leve à sensação de isolamento. Cada elemento contacta

com uma família “intrapsíquica de 3 ou 4 gerações- visão transgeracional da passagem

de valores”, isto é, nós hoje, inconscientemente, contactamos, psicologicamente com as

nossas gerações anteriores. Esta barreira transgeracional exige delimitação dos

subsistemas- “os pais não são filhos e os filhos não são pais”, ou seja,

independentemente de nesta família haver troca de afectos e experiências, visto ser

família saudável, as posições, deveres e direitos que cada elemento assume estão bem

definidos consoante o papel que desempenham na família, isto é, se são pais ou filhos.

Lieberkun (1979) defendeu uma perspectiva transgeracional, a qual consiste numa

“transmissão de cultura familiar, no seu sentido lato, de uma geração para a outra,

englobando os padrões, estilos, costumes, segredos, mitos e problemas que determinam

o carácter único de uma família”. Baszormeniy-Naggy (1973) vem apoiar esta

perspectiva, criando o conceito de “carta de Legados familiar”, em que os princípios

culturais e sociais são um espécie de documento transmitido ao longo das gerações, pois

são os factos do passado, que dão consistência ao presente e são eles que nos permitem

estabelecer as bases do futuro. Voltando a Carl Whitaker (1981), este defende a

importância da liberdade e da flexibilidade na escolha dos papéis familiares, na

distribuição dos puderes ou possibilidade de expressão de diferenças individuais e de

renegociação com base em experiências vividas. A família apresenta um “crescimento

continuo” uma vez que também cresce tanto física como psiquicamente, apresentando

ciclos de “regressão e reintegração”, tal como “períodos de crise” essenciais para este

crescimento. Em contraste com todos estes princípios enquadram-se as famílias

disfuncionais, caracterizadas por frequentes alterações dos limites, dividindo-se assim

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em 2 grandes tipos: aglutinadas e desagregadas. As famílias aglutinadas têm limites

difusos não permitindo a individualização , por exemplo a “mãe galinha” e elementos da

família com sintomas psicossomáticos. As famílias desagregadas têm limites

excessivamente marcados não permitindo trocas afectivas e proporcionando um

isolamento do elemento em relação ao conjunto familiar. A base de um entendimento

familiar saudável é a comunicação, que deve ser clara, sem quaisquer preconceitos ou

tabus, sem nunca ultrapassar os limites do respeito e sem perder noções de posição de

cada elemento na família. Sendo a família um sistema aberto está sujeito a

acontecimentos externos ou internos que influenciam o núcleo familiar, as transições

normativas ou não normativas. As transições normativas são aquelas, que como o

próprio nome indica, obedecem a uma norma, são marcos susceptíveis a um contexto

sociocultural, tal como as não normativas; ou seja num determinado contexto a

transição normativa pode ser considerada não normativa e vice-versa (exemplo do

divórcio que nos dias de hoje é considerado processo normativo, enquanto que à uns

anos não o era). Assim, o processo normativo, é aquele que ocorre na maioria das

pessoas de uma determinada idade ou geração (entrada para a escola, casar...) enquanto

que o não normativo não é previsível em função desses mesmo parâmetros (viuvez

antecipada, monoparentalidade...) De acordo com Hill e Rodgers (citado por Nuck,

1982), a família tem um ciclo de vida próprio dividido em vários estadios:

1º- formação do jovem casal: há a diferenciação do “self” em cada um dos elementos,

e de uma identidade autónoma da relação- aliança conjugal; inicia-se uma transmissão

de regras, atitudes, comportamentos, normas da família de origem, porque a família de

origem influência a família nuclear- restruturação ou criação; cria-se uma relação entre

a identidade conjugal e a capacidade de adaptação a novas situações- acontecimentos de

vida normativos e não normativos.

2º- estádio expansivo: junção do primeiro filho, para constituir, fechar o ciclo da

família.

3º- estádio estável: período de educação dos filhos até à saída de casa do primeiro.

4º- estádio de contracção: período de saída “lauching” do último filho.

5º- estádio post-parental: casal sem filhos (ninho vazio).

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Segundo a história, o papel do pai sempre esteve associado a um papel absoluto

privilegiando o filho mais velho. A mãe sempre esteve associada à bondade, à função

educativa, acima da reprodutora, e na ausência do pai era ela a responsável. Pela

ausência do pai, criava-se uma simbiose mãe/filha, espécie de refúgio feminino, onde,

apresar de assuntos ligados à sexualidade não se discutirem (silêncio de chumbo),

outros era abordados, como por exemplo fisiológicos... Nas famílias contemporâneas,

pode-se verificar o baby-boom, devido à procriação assistida (avanços tecnológicos da

medicina) e intervenção do estado. Com este baby-boom, as famílias monoparentais

crescem, levanta-se a ideia de “criança perfeita” e assiste-se a uma pluriparentalidade

(avós, tios, padrastos...). Este “fantasma da criança perfeita” advém de inúmeras

potencialidades médico-genéticas (ecografias, amniocenteses, correcção de anomalias

genéticas, cirurgia in-útero). Nestas famílias a mãe e o pai trabalham fora de casa e a

mãe ainda faz o trabalho doméstico, sendo cada vez mais difícil o seu desempenho no

papel de mãe, daí que o pai esteja cada vez mais próximo da mãe e dos filhos e tenha

um papel cada vez mais activo.

A parentalidade é a relação estabelecida entre o casal e a criança e é através desta

relação, que se estabelecem os primeiros laços sociais. Quanto à conjugalidade é apenas

a relação intra-casal. É neste contexto que se falam em “gerações Pivot”, nas quais se

inclui a geração “sandwich” que é a coexistência no tempo de 3 ou 4 gerações, onde a

parentalidade é marcada pela desigualdade do género. As crianças são sujeitos activos e

produtores de valores. Estas famílias contemporâneas, caracterizam-se por um aumento

de divórcios, o que provoca o fraccionamento das famílias, “famílias em migalhas”,

surgindo assim vários modelos de parentalidade.

O divórcio, sendo hoje em dia um processo normativo, não deve ser visto como um

acontecimento bloqueador do ciclo de vida. De acordo com o modelo de Kessler (1975),

existem certos estágios num contínuo reconhecimento da discórdia conjugal até à

separação. O primeiro é a desilusão, de seguida a erosaão, depois a separação,

desvinculação, separação física, luto, 2ª adolescência e por fim a readaptação.

Kanter e Viclear (1983) têm uma perspectiva mais sistémica do divórcio, preocupando-

se mais com a perspectiva dos filhos, com as mudanças que vão ocorrendo

progressivamente e com a capacidade do sistema conjugal reencontrar a estabilidade e

recuperar o seu carácter e unidade após períodos de desequilíbrio. Para estes autores os

filhos podem ser tranquilizados e libertados das ligações parentais, não sendo assim

envolvidos nos conflitos dos pais. Sabe-se que a capacidade de lidar com estas

mudanças é mais fácil em crianças com idade inferior a cinco anos ou superior a 18, e

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que uma maior ambiguidade na forma como os pais fizeram o luto da relação, resulta

numa maior dificuldade na criança em fazer o luto da família inicial e adaptar-se a

novas situações.

A viuvez pode ser um processo normativo ou não normativo de acordo com o contexto

cronológico em que ocorre. Para os cônjuges há um momento de muito stress

psicológico em que há mudanças significativas e em que o viúvo/a fica muito pouco

disponível para os filhos, ou numa tentativa de bloquear os seus sentimentos de luto

entrega-se ao trabalho é às tarefas domésticas de forma doentia. Para os filhos há uma

mudança na configuração familiar, gerando fúria, medo, depressão, culpabilidade,

fracassos escolares e comportamentos anti-sociais. Quando as famílias sofrem este tipo

de transições (divórcio e viuvez) tendem a rumar para um equilíbrio bio-psico-social,

procurando um novo parceiro/a para partilhar as suas preocupações, anseios, alegrias e

tristezas, formando-se deste modo as famílias reconstituídas.

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Relação precoce- vinculação pré-natal

Emocionalmente a gravidez tem início muito antes da mãe estar realmente grávida,

considerando-se o início da gravidez quando surge o desejo de ter um filho- “a gravidez

emocional inicia-se antes de a mãe estar de facto grávida” (Biscans, s/d). Este desejo

pode surgir devido a diversos motivos e fontes podendo ser descritas algumas hipóteses

tais como a identificação, satisfação de várias necessidades narcísicas e tentativas de

recriar vínculos passados através de um novo relacionamento com o filho, iniciando-se

assim uma vinculação mãe/bebé imaginária. Devido a estudos efectuados é impossível

estabelecer um “timming” para a vinculação, podendo assim considerar-se períodos

sensíveis na vinculação entre os seres humanos, representado cada um deles períodos de

reversibilidade emocional da mãe, do bebé e da família.

Durante a gestação, a futura mãe tem um sono mais leve que lhe leva a memorizar mais

facilmente os sonhos ou pesadelos tidos durante o sono. A mulher torna-se assim mais

sensível, tornando-se um ser mais inseguro e frágil. Muitos sonhos, da futura mãe,

expressarão os seus medos e angústias perante a chegada de um novo membro à família,

podendo estes sonhos referir-se a acontecimentos do passado ou expressar fantasias para

o futuro, os quais são uma purificação da alma, filtro de pensamento, e que influenciam

grandemente o desenvolvimento do feto. A vinculação pré-natal tem um papel bastante

importante no desenvolvimento do feto, são vários os períodos sensíveis na vinculação

mãe/bebé neste período, tais como a revelação da gravidez, avaliação dos ruídos

cardíacos fetais, primeira ecografia, movimentos fetais... etc... O recurso a desenhos é

também um meio de análise às angústias da futura mãe, nomeadamente visíveis em

pormenores: local da folha, tamanho da figura, expressividade e personagem familiar

que representa.

Para todos os futuros pais, na altura do nascimento, através da vínculação existem três

bebés, o filho imaginário (dos sonhos fantasias), o bebé invisível mas real e o

verdadeiro bebé nascido. O filho imaginário tem de ser perfeito e de realizar todas as

potencialidades adormecidas ou não aproveitadas pelos pais. Podemos dizer que

aquando destes imensos desejos e aspirações dos pais, já existe uma vinculação entre os

pais e o bebé imaginário, a qual vai progredindo ao longo dos 9 meses de gravidez tanto

na mãe como no pai. “A capacidade de discriminação que os bebés manifestam das

relações que- fora do útero- retomam, é espantosa, o que nos leva a supor que os bebés

pensam antes- mesmo- de serem capazes de pensar os seus próprios pensamentos.

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Sendo assim, os bebés “nascem na cabeça dos pais” antes de nascerem, ao fim de 9

meses de gestação”, Biscaia, J. R. Sá (1997).

Nos finais do séc.XX início do séc.XXI, começou-se a dar importância ao papel do pai,

até que ponto ele intervinha naquela relação e começou-se também a estudar a

personalidade do bebé. Antigamente a única forma de se estudar o feto era através do

aborto, no entanto hoje em dia a ecografia permitiu-nos estudar o comportamento do

feto. Relativamente ao desenvolvimento motor, no final da fase embrionária, o sistema

muscular já está constituído enquanto que o sistema nervoso permanece imaturo. É na

fase pré-motora que são detectados os primeiros movimentos do corpo do embrião, em

que os músculos são capazes de contracção, apesar de esta ainda não ser controlada,

permitindo à mãe sentir o seu bebé (aproximação). No fim do 3º mês, observa-se a

resposta de evitamento, (o bebé vira o rosto) ou de protecção (ao nível da zona bucal da

face). Na fase de neurogénio o “input” neural directo aos músculos assume o controlo

da mobilidade. Na fase fetal, o 3º mês (o nº 3 tem um grande significado em termos

leigos do povo- mãe, pai e bebé) adquire a designação de mês de actividade inicial, pela

15ªsemana é possível encontrar os movimentos fetais através do estetoscópio em que se

dá a maturação do sistema. O bebé tem períodos característicos de actividade

intercalados com períodos de sono, em que há limitação na visualização. Lynn e Coll

(1991) fizeram experiências com fetos, em que estabeleceram uma relação do padrão do

batimento cardíaco com o movimento do olho e com o movimento grosseiro do corpo.

Birahlz e Benacerraf (1983) colocaram microfones adjacentes à cabeça do feto de 4

meses, verificando que o ruído intra-uterino era intenso (aproximadamente 75 Db) o que

correspondia à passagem de ar no estômago e aos batimentos cardíacos da mãe, assim

os fetos conseguem responder a sons normalmente presentes no meio intra-uterino.

Estudos de Quenleu e Col (1988) acrescentaram que os fetos também ouvem sons que

vêm do exterior. Hepper (1992) defendeu que aos 6-7 meses de idade respondiam de

forma diferente a sons distintos, apesar de antes desta idade os fetos já serem capazes de

responder aos sons, respondiam também à luz causando mudanças no seu batimento

cardíaco, o que o levava a movimentar-se (focos muito intensos aumentava a frequência

dos batimentos cardíacos). Casper e Spencer (1985) interessaram-se pelo estudo da

relação entre a precepção auditiva pré-natal e a vinculação do recém-nascido à mãe. Foi

no meio intra-uterino que o bebé aprendeu a reconhecer a voz da mãe. No final da

gravidez, Aidan Macfarlane (1977) defenderam que o feto poderia ser capaz de ver a luz

que atravessa o estômago da mãe, mas pouco se sabe sobre isto. A percepção gustativa

do feto é um assunto muito estudado, sabe-se que as papilas gustativas são mais

distribuídas no feto do que no adulto. Os recém-nascidos e os prematuros reagem de

forma diferente a diversos factores olfativos; Hepper (1992) “a percepção vestibular

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encontra-se no ouvido médio, controlando o sentido de equilíbrio”, esta percepção

começa a funcionar no feto humano por volta dos 5 meses após a concepção, tornando-

se completamente funcional no nascimento”. Um exemplo extremo desta relação

precoce é a capacidade do bebé conseguir manter o equilíbrio através do movimento da

mãe, permitindo sentir as sua mudanças de postura. A resposta táctil apenas se encontra

presente após os 40 dias da fertilização. Autores, através de experiências, concluíram

que havia uma aprendizagem fetal (histórias contadas por mães grávidas durante a

gestação, aumentavam o ritmo de sucção quando havia familiariedade do bebé com

estas histórias, passando-se a situação inversa quando esta não era lida). Existem

determinados factores que põem em risco uma relação futura entre os pais e o bebé,

sendo o mais importante o desejo da gravidez; no entanto factores como a origem da

relação pré-natal pais/filho, o apoio paterno na gravidez, a influência da ansiedade no

decorrer da mesmo e o que sente a futura mãe, são também importantes- todos os

síndromas de morte súbita são de crianças não desejadas em que as mães pensavam

abortar. De acordo com Sontage (1966) “as emoções maternas, como medo, pesar ou

ansiedade, ocasionam um aumento imediato e profundo ao nível da actividade do feto,

especialmente durante o último trimestre da gravidez”.

É no momento da expulsão que toda a dimensão vinculativa é magnânima, neste

momento são criados laços muito fortes que determinarão, entre outros factores, a

qualidade da relação, “O choro ao nascer marca o começo da comunicação vocal do

bebé, quanto às suas necessidades e estados emocionais, o grande desamparo e alta

vulnerabilidade da criança recém-nascida iniciam prontamente assistência e

envolvimento do ego nas pessoas do ambiente”, Pikunas, J. (1979) Desenvolvimento

Humano.

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Vinculação da mãe à cria (relação precoce)

Na quase totalidade das espécies de aves e nos mamíferos existe uma qualquer forma de

vinculação parental. Contrastando com os peixes e répteis que, na maior parte das

espécies, põem ovos às centenas e os abandonam depois, as aves e os mamíferos

investem na qualidade e não na quantidade. Têm menor número de descendentes mas

fazem por que a maior parte alcance a maturidade. Alimentam-nos, limpam-nos,

abrigam-nos e protegem-nos durante os períodos iniciais de dependência. Sob esta capa

protectora parental, a cria pode crescer, preparar-se para o mundo onde em breve irá

entrar, e adquirir algumas das aptidões que lhe permitirão sobreviver nesse mundo. Já

foi referido que este período inicial de dependência é mais longo nas espécies mais

encefalizadas, como os macacos e os grandes antropóides, verificando-se a sua máxima

duração na nossa espécie. Na maior parte das aves e dos mamíferos, as crias ficam

fortemente ligadas à mãe. Os patinhos seguem a mãe pata e as crias dos macacos

agarram-se ao ventre da mãe. Em qualquer destes casos, a separação provoca uma

grande perturbação: as crias emitem chamamentos aflitos e grasnam até que a mãe

volte.

A função biológica desta vinculação é apenas a sobrevivência pessoal, e isto é

verdadeiro tanto para as nossa espécie como para as outras. De facto, não resta dúvida

de que na nossa história evolutiva precoce uma cria órfã teria elevada probabilidade de

morrer cedo, devido à falta de protecção, à fome e à predação. Contrariando certos

teorizadores, segundo os quais o principal factor determinante deste tipo de vinculação é

a descoberta pela cria de que a presença da mãe leva à satisfação da fome e da sede e

alívio da dor, há fortes argumentos para que a vinculação dependa de factores mais

profundos, dado que a aflição mostrada pela cria separada da mãe, ocorre mesmo

quando se encontra perfeitamente alimentada e bem preotegida dos perigos e das

intempéries.

Conclui-se, pois, que a vinculação da cria à mãe não se baseia apenas na satisfação das

principais necessidades corporais. Parece não haver dúvida de que a criança vem

predisposta a procurar estimulação social, que é gratificante em si mesma.

“O desenvolvimento social inicia-se com o primeiro vínculo humano” (cit. Frederick

Gibbons), que é considerado, por vezes, como base de todas as relações posteriores com

os outros: a vinculação do bebé à pessoa que cuida dele (cuidador). Esta vinculação é

distinta dos seres humanos para os animais, já que os animais seguem o primeiro

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estímulo (objecto, animal ou pessoa), enquanto que o ser humano só estabelece o

vínculo ao cuidador, e segundo autores a partir dos 6 meses de idade. Por outro lado

também se estabelece uma vinculação pré-natal, muito importante no desenvolvimento

do feto, em que todos os comportamentos da mãe se transmitem ao feto.

Também os pais desenvolvem gradualmente uma forma de vinculação com os seus

filhos; a maioria das mães leva cerca de 3 semanas a conseguir expressar os seus

sentimentos de amor em relação aos seus bebés, daí que o infanticídio ocorra

geralmente antes destas semanas. Konred Lorens (s/d) presenciou o momento em que

uma ninhada de gansos cinzentos eclodiu e estes passaram a segui-lo como se ele fosse

a sua mãe, mesmo depois de se tornarem adultos, preferindo-o aos membros da sua

espécie. Assim, o conceito “imprinting” é designado como um comportamento inato,

específico da espécie e que constitui um padrão específico. Foi através do trabalho de

Lorens que se evidenciou a existência de períodos críticos na vida, em que um

determinado tipo de estímulo é necessário para o desenvolvimento normal- período

sensível.

O bebé quer estar perto da mãe, quando não está bem, fica confortado com a sua

imagem, o seu som e os seu contacto. As crias dos macacos resos agarram-se ao corpo

das mães, mas quando mais crescidos aventuram-se para longe da mãe, ganhando

coragem para explorações cada vez mais distantes. Mas, durante algum tempo, a mãe

continua a oferecer uma base de segurança, um lugar para onde correr de volta se

encontrarem perigos incontroláveis. Até à bem pouco tempo, a maior parte dos teóricos

pensava que o amor à mãe era uma consequência secundária à associação desta com as

satisfações básicas do bebé, como o alívio da fome, da sede e da dor. A versão mais

influente desta perspectiva foi, provavelmente, a de Sigmund Freud que sustentava que

a aflição do bebé, com a ausência da mãe, se baseia no enorme medo de que as suas

necessidades fisiológicas fiquem insatisfeitas. O psiquiatra britânico John Bowlby

(1969, 1973) chamou a esta teoria do amor-mãe a “teoria do armário”; ela reduz-se à

ideia de que o primeiro objecto de amor é o seio ou biberão. Este autor também

defendeu que só a partir dos 6 meses o bebé desenvolve vínculos específicos que

permitem uma relação mais próxima com os seus cuidadores. Uma demonstração de

que o amor à mãe está para além das necessidades fisiológicas provém do trabalho de

Harry Harlow (1905-1981), que criou os macacos resos recém-nascidos sem as mães.

Cada cria vivia sozinha numa jaula que continha duas figuras estáticas. Um destes

modelos era em arame, o outro em tecido felpudo. O modelo de arame estava equipado

com um orifício que fornecia leite, mas o modelo em tecido felpudo não tinha tal

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dispositivo. Mesmo assim, os bebés macaco passavam mais tempo com a “mãe” felpuda

do que a de arame. O modelo de tecido podia ser agarrado e proporcionar o que Harlow

chamou de “conforto de contacto”. Isto tornava-se especialmente evidente quando as

crias eram assustadas. Ao serem colocadas numa sala desconhecida ou diante de um

brinquedo mecânico que se aproximava com ruídos estridentes, invariavelmente corriam

para a mãe de tecido e agarravam-se a ela com força. Segundo Bowlby a vinculação não

é herdada, mas sim o potencial que se herda para a desenvolver.

Papel do pai: A abordagem geral de Ainsworth proporcionou um modo de estudar

outros aspectos do início do desenvolvimento social. Um exemplo é a relação do bebé

com o pai. Será o pai votado ao desprezo? Para o saber, um investigador utilizou a

“situação estranha” com pais e com mães, e encontrou sinais de angústia quando o pai

as deixava , bem como algum agarrar e procurar o seu contacto quando voltava. Parece

que a vida emocional da criança não é exclusivamente dedicada à mãe. Mas a mãe

parece ser mais importante, pelo menos em idades precoces. Havia mais angústia com a

partida da mãe do que com a do pai e mais entusiasmo com o seu regresso (Kotelchuk,

1976). Estes resultados sugerem que a vinculação ao pai é menos poderosa do que à

mãe. O mais provável é que esta disparidade reflicta o facto de, na grande maioria das

crianças da nossa sociedade, a mãe ter a seu cargo a maior parte dos cuidados, no

entanto, não se pode pensar em função paterna sem a relacionar com a função materna,

uma vez que são complementares.

Existem vários factores que acentuam a vinculação bebé/figuras parentais tais como, o

contacto físico permanente , a sensibilidade das figuras parentais aos sinais e ritmos da

criança quando come, chora, vocaliza ou sorri, contacto imediato pós-parto, entre

outros.

Desde o começo da vida os bebés são seres sociais, isto é distinguimos o ser humano da

escala animal pela nossa dependência. A estimulação social aumenta o contacto visual e

o sorriso do bebé. A linguagem interactiva sedimenta a relação mãe/filho nos primeiros

tempos de vida, sendo que aos 6 dias o bebés distingue e prefere o cheiro da mãe, aos 20

dias reconhece a sua voz. A partir dos primeiros dias após o nascimento os bebés

reagem às outras pessoas; com um mês reagem a vozes e estão muito atentos aos rostos,

entre os dois e os três meses desenvolvem o sorriso social (1º organizador social). Até

aos 6 meses os bebés são “responsivos” às pessoas em geral, não reagem de forma

diferente para pessoas conhecidas ou desconhecidas; dos 7 aos 12 meses começam a

determinar apego a algumas pessoas (angústia do estranho- 2ª organizador social). O

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“brincar” (3ª organizador social) é a único comportamento do bebé que não tem como

fim uma satisfação orgânica, mas que se origina no organismo intensamente aplicado

em encontrar um entendimento eficaz com o mundo- “o brincar escapa aos adultos que

frequentemente o vêem como algo separado do aprender... ninguém como as mães dos

bebés da primeira idade têm o senso da importância do brincar e é esse o aspecto prático

de temos vindo a chamar relação” (João dos Santos, s/d), a importância do sim e do não

aparece mais tarde (4º organizador social).

Em suma uma boa vinculação tem como consequência uma melhor auto-estima,

competência social, independência, confiança... etc

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Adolescência

O termo adolescência significa “tornar-se adulto”. É um período de transição em que o

indivíduo muda do estado infantil para o estado adulto, adquirindo a capacidade de

“estar só” (Winnicott, 1977) e de pensar por si próprio. A cristalização da adultícia

numa dimensão de saúde psíquica, consiste em que o adulto mantenha dentro de si, o

adolescente que já foi, no núcleo da sua identidade (Winnicott, s/d). Existem mudanças

biológicas: um crescimento físico repentino, uma alteração dos proporções corporais e o

atingir da maturidade sexual. A maturidade biológica determina, por fim, mudanças

sociais e económicas: da dependência da família para uma independência sempre

crescente. E, é claro, há as mudanças psicológicas que acompanham o processo de

crescimento. Estas abrangem a maturação progressiva das atitudes e comportamento

sexuais que permitem, por fim, ao adolescente constituir as sua própria família e

adquirir várias competências que lhe proporcionarão tornar-se um membro activo da

sociedade adulta. Estas transformações são altamente fluidificantes do “self” a caminho

da sua identidade e não podem ser tomadas como manifestações exclusivas da

adolescência. É um período de grande euforia social (discotecas, bares) em

simultaneidade com sentimentos de isolamento, insegurança, falta de auto-estima,

autoanálise e introspecção.

De facto, a adolescência é um processo bastante abrupto.

A biologia estabeleceu um limite inferior, aproximadamente os 15 anos para as

raparigas, e 17 para os rapazes, altura em que o crescimento físico está mais ou menos

completo. Mas o ponto que marca o início da idade adulta é determinado tanto pelas

condições sociais como pela biologia. Com o início da educação em massa, em meados

do séc.XIX os jovens cada vez mais continuam a viver com as famílias e permaneciam

na escola até aos 20 anos. Isto permitia-lhes adquirir as competências necessárias para

participarem numa sociedade complexa e tecnológica, mas adiava a sua independência

social e económica e a sua entrada no mundo adulto (Elder, 1980). A cultura tem,

evidentemente, algo de importante a dizer sobre quando e como se dá o período de

transição. Também determina ocasiões especiais que marcam o fim desse período ou

que realçam certos momentos desse percurso. Algumas sociedade humanas têm

cerimónias de iniciação que representam a entrada na idade adulta. Na nossa própria

sociedade, a transição para a idade adulta é muito mais gradual, com marcos que se

referem não só a mudanças biológicas mas também a várias aquisições educacionais e

vocacionais. Assim, o desenvolvimento não se processa por períodos estanques e

rígidos. Os factores culturais também determinam a altura em que outros “marcos” do

desenvolvimento são alcançados. Um exemplo é a idade em que se perde a virgindade,

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que tem vindo a decrescer constantemente na nossa sociedade durante as últimas

décadas, reflectindo uma mudança nos costumes sexuais, tanto para os homens como

para as mulheres. Esta mudança é sem dúvida provocada por vários factores, dos quais a

existência de métodos de controlo da maternidade, que permitem a separação das

funções emocionais e voluptuosas da sexualidade das funções reprodutoras.

Existe uma perspectiva tradicional sobre a adolescência afirmando que ela é,

inevitavelmente, um período de grande tensão emocional. Para Freud a adolescência era

necessariamente um período de conflito, uma vez que é um período em que as pulsões

sexuais reprimidas, durante a fase final do conflito de Édipo, não podem mais ser

negadas e opõem-se, com força, às proibições inconscientes anteriormente erguidas.

Outros conflitos centram-se em lutas com a geração mais velha, em especial com o pai

do mesmo sexo, as quais foram reprimidas na infância e que agora se tornam

proeminentes. A família, segundo Dias, 1986, “proporciona na adolescência ansiedades

claustrofóbicas”, visto existir um controlo excessivo sobre tudo o que o adolescente faz.

Esta visão tradicional da adolescência tem sido seriamente posta em causa por alguns

escritores modernos que pretendem que a turbulência deste período não é de forma

alguma inevitável. Se existe ou não perturbação emocional acentuada, depende da

forma como a cultura lida com a transição.

Parece que a adolescência não é necessariamente um período de perturbação. Mas

mesmo assim coloca problemas sérios na medida em que o adolescente, segundo Blos “

é um conjunto de transformações psicológicas de adaptação à puberdade”, ele tem de se

preparar para se tornar um indivíduo autónomo por direito próprio, pois esta etapa é

para além de ter denominadores comuns é específica para cada indivíduo. Alguns

escritores têm tentado compreender alguns padrões característicos do comportamento

dos adolescentes, à luz deste objectivo final.

Estabelecimento de um mundo à parte: ao contrário das aves já cobertas de penas, os

adolescentes, na nossa sociedade, permanecem no ninho bastante tempo depois de

conseguirem voar ou, talvez mais precisamente, depois de terem a “carta de condução”.

Isto torna, talvez, ainda mais importante para eles estabelecerem alguns elementos de

separação entre si e o mundo dos pais. Como meio para distinguir este fim, muitos

adolescentes adoptam todo o tipo de ornamentos que estão na moda, como gostos

singulares por passos de dança, roupa e linhagem. Estes mudam frequentemente, com

desconcertante rapidez, à medida que o capricho adolescente de ontem se difunde no

mundo social mais vasto e se torna a moda adulta de hoje, como se depreende dos

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estilos de penteados masculinos. Quando isso acontece, surgem novas modas

adolescentes para manter a diferença. (Douvan e Adelson, 1958).

A crise da identidade da adolescência: Segundo Erikson, a separação da esfera adulta é

apenas uma das manifestações do que os adolescentes estão realmente a querer atingir.

O seu principal objectivo, ao longo deste período, é o de descobrir quem e o que

realmente são, à medida que atravessam o que ele chama de “crise de identidade”; “com

adolescência ocorre a separação activa em relação ao espaço familiar, através de uma

rejeição dos objectos parentais” (Blos, 1962)- ex. sentimento de vergonha quando os

pais telefonam, ou se mostram disponíveis.

Na nossa complexa cultura existem muitos papéis sociais e a adolescência é uma época

para os experimentar, para ver qual se adapta melhor: que vocação, que ideologia, que

grupo. A principal questão do adolescente é “quem sou eu?” e, para responder, assume

uma série de atitudes, em parte em benefício dos outros, que servem depois como

espelho em que ele se pode ver a si próprio. Estes “outros” são o seus grupo de pares

onde o adolescente procura semelhanças e ao conseguir individualizar-se ganha a sua

personalidade, o seu “self”, é no grupo que adquire uma pseudoidentidade transitiva.

Cada papel, cada relação humana, cada visão do mundo é primeiro adoptada

temporariamente, em termos de tudo-ou-nada, sem lugar para o compromisso. Cada

uma é ao princípio um fato, quando o adolescente acha que um lhe fica bem, este torna-

se a roupa da sua identidade adulta. A maior parte dos adolescentes acaba por ser bem

sucedida, mas o processo de procura da identidade tem as suas dificuldades.

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A idade adulta

Erikon (1963) caracteriza alguns estádios posteriores do desenvolvimento da personalidade. No jovem adulto, o indivíduo saudável tem de adquirir a capacidade para a proximidade e intimidade através do amor ou, de outro modo, sofrerá de um sentimento de isolamento que só permitirá relações humanas superficiais. No advento da meia-idade tem de desenvolver um sentido de criatividade pessoal que se estende para além de si próprio. Este sentido engloba em interesse pelos outros, pelo seu trabalho, pela comunidade de que faz parte. E para o fim da vida, existe uma crise final em que cada pessoa tem de chegar a um acordo com a sua própria vida e aceitá-la como ela foi, com um sentimento de integridade mais do que de desespero. Erikson resume este balanço final “É aceitação do nosso próprio e único ciclo de vida, como algo que teve de acontecer e que não permitiu necessariamente substituições... as crianças saudáveis não terão medo da vida se os mais velhos tiverem suficiente integridade para não temerem a morte.

Meia idade

No advento da meia-idade tem de desenvolver um sentido de criatividade pessoal que se

estende para além de si próprio. Este sentido engloba em interesse pelos outros, pelo seu

trabalho, pela comunidade de que faz parte, Erikson (1974).

Esta fase engloba um interesse pelos outros, pelo trabalho (o qual não está presente na

adolescência) e pela comunidade. Nesta altura há uma reavaliação e questionamento,

assemelhando-se à fase da adolescência, tanto do casamento como da carreira, uma vez

que é um período em que as mudanças físicas se começam a fazer sentir, ocorrendo

mais cedo nas mulheres (impacto da menopausa) que nos homens. A satisfação da vida

depende de uma combinação adequada de múltiplos factores, tais como bem estar físico,

estilo de vida no quotidiano e suporte social, os quais detém uma influência razoável e

não devem ser postos de parte. Birren (1983), defende que há estilos comportamentais

adequados à idade, havendo uma maior insatisfação de vida em sujeitos mais activos

outrora, sentindo mais profundamente as alterações no seu estilo de vida. Existem 3

influências principais nos estilos comportamentais na meia idade: o relógio social, a

continuidade e os factores genéticos. Grande parte das sociedades têm crenças firmes,

estando estas formalizadas por leis e padrões de idade mínima, embora algumas sejam

importantes formalmente (recolhimento a uma determinada hora- semelhante à

adolescência). Spar e La Rue (cit. Fernandes 1997), defendem que o relógio social

define o ritmo de desenvolvimento psico-social num dada geração e proporciona um

padrão interiorizado pelos indivíduos como um ciclo de vida normal e previsível. A

continuidade tem sido descrita como uma “grande estratégia de adaptação”, sendo esta

promovida pela preferência individual, pela aprovação individual; a procura da

continuidade poderá estar no centro da reminiscência e do processo de recapitulação da

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vida. Estudos demonstram que existe uma maior contribuição genética para aspectos de

vida negativos que positivos, concluindo: influencias individuais e sociais (quando

combinadas) também podem traduzir transições ou fases ordenadas de personalidade do

adulto- assemelha-se ao adolescente. Cada uma destas fases está associada a tarefas

primárias do desenvolvimento e o cumprimento de cada tarefa tem consequências nas

fases seguintes (Spar e La Rue, 1997). Fernandes em 1997, diz “estamos em mutação,

não somos sempre as mesma pessoas”, pela forma como lidar com acontecimentos

stressantes, utilizando assim estratégias de defesa tais como o “caping” (enfrentamento

e evitamento) centrado na emoção, ao contrário de abordagens activas na resolução de

problemas, que dão maior passividade e individualidade e controlo de sentimentos de

sofrimento, são exemplos desta situação o distanciamento do problema, a aceitação da

responsabilidade e a reavaliação positiva do problema. É neste este período de

transitividade (adolescência) que se prepara a velhice, em que todos os indivíduos

apresentam um processo linear, irreversível e obrigatório, ao qual nos podemos ou não

adaptar (Lili Canecas). Existem modelos teóricos que facilitam a compreensão de

adaptação às transformações, culminando numa velhice bem sucedida, são elas a teoria

da actividade, do deslizamento e mista, embora não exista verdadeiramente uma velhice

bem ou mal sucedida, dependendo da cultura do país, cidade, factores sociais e critérios

externos. Neugarten (1984) através da teoria do deslizamento, defende que o geronte

mostra uma tendência natural para reduzir os seus contactos sociais, sendo este facto

intrínseco e não imposto pela sociedade, no sentido adaptativo o processo de

deslizamento manifesta-se pela redução de energia física e mental inerente à idade.

Quando se coloca a questão: velhice bem ou mal sucedida? Estamos a definir padrões

de adaptação dos idosos às suas actuais capacidades de funcionamento no contexto de

vida, implicando quer critérios externos e sociais relativos ao que se espera do idoso em

cada altura, quer critérios internos numa perspectiva individual, vontade subjectiva. O

envelhecimento bem sucedido é um constructo relativamente ao qual não há acordo

entre autores, pois cada caso é um caso, porém existe algum consenso no sentido de se

relacionar uma velhice saudável com um mais elevado nível de funcionamento nos

domínios físico, psicológico e social, implícitos numa adaptação. Harvighourst e

Abresht, 1972, através da teoria de actividade teorizam que “a satisfação e a auto-

estima, a ausência de ansiedade tal como a capacidade de suportar a frustração e superar

situações de ameaça e sobrecarga são proporcionais à actividade desenvolvida e à

intensidade das relações sociais”. A essência desta teoria reside no facto de que, a

satisfação deriva de uma auto imagem positiva resultante da percepção de que se é

capaz de atingir os objectivos pessoais e de montar uma interacção social mutuamente

gratificante.

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O estádio de desenvolvimento adulto é chamado de “transição de meia-idade”, em que o indivíduo reaprecia o que fez da sua vida até esse momento, podendo reavaliar o seu casamento e a sua carreia. É um período em que ele começa a sentir mudanças físicas que mostram que o verão da vida terminou e o seu outono começou, um reconhecimento que pode ocorrer mais cedo nas mulheres do que nos homens, em parte devido ao impacto psicológico da menopausa. Existe uma mudança na forma como se pensa acerca do tempo, de “quanto tempo já vivi”, para “quanto tempo ainda me resta?”. Alguns investigadores indicam que a pessoas de meia-idade está no meio em mais de um sentido, na media em que observa o crescimento dos filhos e os próprios pais envelhecem e morrem: “É como se houvesse dois espelhos à minha frente, dispostos em ângulo. Vejo uma parte de mim mesma na minha mãe que envelhece e parte dela em mim. No outro espelho, vejo parte de mim na minha filha... (Neugarten e Datan cit em Colarusso e Nemiroff, 1981)

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Questão:

“ O crescimento da personalidade continua através da primeira fase da idade adulta e, em alguns aspectos, vai até aos anos da senectude.”

A fase adulta permanece como status de uma pessoa para o resto da vida. Por outro lado, o envelhecimento bem sucedido é um construto, relativamente ao qual não há acordo entre os autores. Faça uma reflexão crítica sobre estas temáticas, fundamentando as suas razões à luz dos suportes teóricos desenvolvidos na cadeira.

Resposta:

A adolescência caracteriza-se por ser uma fase de grandes alterações e da procura de uma identidade. Para tal, o adolescente molda a sua identidade e tenta atingir uma estabilidade emocional.

Segundo Erikson, a formação da identidade não termina na adolescência pois é um processo permanente de selecção e assimilação das percepções e expectativas dos pais, companheiros, sociedade e de si próprio.

É nesta fase que o indivíduo jovem adulto toma consciência das suas habilidades para exercer determinada profissão. Tornar-se adulto é um processo que envolve a escolha de uma profissão, a selecção de uma esposa e a integração nas estruturas socioculturais e dinâmicas da sociedade.

A intimidade ainda é encontrada no grupo de pares que revela as mesmas características que o indivíduo partilha, os mesmos medos, anceios e dúvidas (é dificil abandonar os comportamentos tipicamente juvenis).

A plena maturidade e o status adulto chegam com a consolidação da estrutura da personalidade, o desenvolvimento da identidade e a auto-realização, especialmente em relação aos papéis ocupacionais e conjugais que a pessoa irá assumir. Isto só acontece quando são cumpridos os critérios para a maturidade: responsabilidade, actividade participativa, sensibilização face às necessidades alheias, uma filosofia de vida unificadora.

Contudo, verifica-se uma fase de ajustamento constante durante os primeiros anos desta fase.

Ao nível social, o jovem adulto identifica-se com determinados conceitos políticos, religiosos e encontra uma posição bem definida perante os dilemas sociais que o rodeiam.

Outras características como o desejo de casar, estabelecer a sua residência e tornar-se pai, surgem nesta altura. O desejo de amar e ser amado encontra satisfação completa no casamento mas o jovem adulto deve ser suficientemente maduro para assumir as responsabilidades conjugais e parentais.

Muitos jovens casais desejam no começo do casamento o mesmo padrão de vida que os pais conseguiram ao fim de vinte ou trinta anos de trabalho.

O papel conjugal envolve a aceitação da paternidade mas a vida familiar acarreta uma aprendizagem fundamental, tanto antes quanto depois da chegada dos filhos. A chegada de um filho torna mais difícil a gestão da harmonia conjugal e o adulto deve estar minimamente preparado para tal, mostrando-se ainda mais maduro e compreensivo perante as diferenças interpessoais no seio do matrimónio. Contudo, sente-se auto-realizado.

Os pais, dado que provêm de núcleos familiares diferentes, apresentam divergências sobre a educação dos filhos. Muitos jovens sentem-se confusos sobre o modo como devem organizar as suas famílias e como partilhar o cuidado e a administração dos filhos.

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Há que superar as dificuldades iniciais e obter satisfação à medida que a criança se desenvolve. A actividade dos pais centra-se nos filhos durante longos períodos e estes, servirão de modelos (não verbais) de papel para os filhos.

Todas estas alterações contribuem para definir a personalidade do indivíduo. Contudo, a personalidade embora já esteja definida no fim desta fase, continua a moldar-se perante as vicissitudes da vida.

Na idade adulta, a actividade profissional iniciada na fase do jovem adulto ganha uma outra forma e consolida-se, conquistando a plenitude. É encontrada a satisfação profissional e o êxito. No entanto, por vezes surgem frustrações quando esta plenitude não é alcançada (pode não ter escolhido a profissão que desejava).

Há também uma grande preocupação em proporcionar uma boa educação aos filhos. Para tal, o adulto deve ser responsável e aprender com eventuais erros cometidos, molda a sua personalidade, tornando-se mais experiente. Nesta fase, os pais de filhos adolescentes revêm a sua adolescência através dos filhos e podem ajudá-los mostrando paciência quanto às suas oscilações comportamentais e comunicando os seus valores e expectativas e a evolução da sua personalidade até à fase em que se encontram.

Desenvolvem-se novas satisfações com o cônjuge através da exploração de novos hobbies e outras actividades. O casamento ganha uma nova dimensão no sentido de criar um lar agradável, confortável e atraente.

Numa fase próxima da meia idade, o adulto adapta-se às alterações fisicas de que é alvo, tornando-se os exames médicos frequentes. Um exemplo desta situação, é a menopausa, nas mulheres.

Nesta fase, começa-se a pensar na proximidade da reforma, na procura de novas actividades ocupacionais e sociais que preencham o tempo livre.É encontrado um novo significado para a vida.

Inicia-se a última fase da vida adulta mas a adultícia continua porque “a fase adulta permanece como status de uma pessoa para o resto da vida.”. Em consequência do grande influxo de mudanças sociais e culturais no mundo moderno, todos sentem-se pressionados a remodelar a personalidade em cada fase da vida.

Nesta fase verifica-se um declínio da saúde e a situação familiar altera-se com a saída dos filhos de casa.

Já na velhice, muitas pessoas mudam os seus estilos de vida tornando-se internamente motivados a viver bem a vida que lhes resta embora a pessoa se questione àcerca do tempo de vida que lhe resta.

A ocupação dos tempos livres de modo agradável e útil e muito importante para o idoso assim como o desejo de permanecer fisicamente saudável e ajustar-se às suas limitações.

Há por outro lado, uma maior estabilidade e uma maior participação cívica. A personalidade é moldada à medida que muitos traços se tornam mais salientes e são expressos de uma maneira mais afectiva. Este facto é bastante notório na relação com os netos em comparação com a relação vivida no passado com os filhos.