Psicologia: cérebro

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Escola Secundária de Tondela Apontamentos de Psicologia. O cérebro

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Apontamentos das aulas de Psicologia.

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Apontamentos de Psicologia. O cérebro

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C é r e b r o

4. ELEMENTOS ESTRUTURAIS E FUNCIONAIS DO SISTEMA NERVOSO HUMANO

Caracterizar os elementos estruturais e funcionais básicos do sistema nervoso humano Indicar a estrutura geral do sistema nervoso.

Esclarecer o papel específico do sistema nervoso central e periférico.

Descrever a constituição dos neurónios.

Enunciar as propriedades dos neurónios.

Esclarecer o papel das sinapses.

Diferenciar os diferentes tipos de nervos.

Explicar como se efectua a comunicação no sistema nervoso.

a) Importância geral do sistema nervoso →SN:

O SN permite o contacto com o meio e, consequentemente, a aprendizagem e a adaptação. É a rede da comunicação global do organismo, permitindo dar

conta do que se passa e reagir ao que se passa. É o controlador do agir, do pensar e do sentir.

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Coordena toda a actividade: da mais voluntária, espontânea ou inconsciente, até à mais reflectida. Resumindo: coordena todo o comportamento (reacções orgânicas,

acções, actividade intelectual, sentimental e emocional.

b) Estrutura geral do sistema nervoso.

Espinal medula

Central

Cérebro [encéfalo] Sistema Nervoso Nervos sensitivos

Periférico Sistema nervoso somático Nervos motores Sistema nervoso autónomo Simpático Parassimpático

Obs.: Os diferentes sistemas nervosos actuam coordenada, integrada e conjugadamente, ou seja, como um todo em interacção, fazendo com que o Homem consiga adaptar-se ao meio externo e manter o equilíbrio interno.

c) Elementos estruturantes do sistema nervoso – neurónios e sinapses:

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Neurónios / células nervosas: (vídeo)

– Todo o SN é formado por centenas de milhões de células: as células nervosas têm o nome de neurónios.

– Ramificam-se por todo o corpo – são uma espécie de rede telegráfica – a partir do encéfalo ou da espinal medula.

– É através deles que recebemos as informações do mundo – estímulos – e que damos as respostas.

– Agrupam-se por feixes, formando os nervos. Características dos neurónios:

– NÃO SE REGENERAM. [Daí a impossibilidade de recuperação em lesões associadas a paralisias, tromboses, dormência pós-operatória].

– SÃO EXCITÁVEIS/EXCITABILIDADE. [reagem a estímulos] dando origem a correntes bioeléctricas diferenciadas [daí a sensação de dor, de frio, de cócegas].

– SÃO CONDUTORES/CONDUTIBILIDADE [transmitem as diferentes sensações pelo corpo].

Sinapses: (doc:) Os neurónios não estão em contacto directo, mas comunicam entre si através de sinapses. Entre um neurónio e o seguinte há uma separação: fenda sináptica. O estímulo de um neurónio transmite-se ao seguinte através das sinapses que libertam os neurotransmissores, substâncias bioquímicas, que possibilitam a circulação do influxo nervoso. Apesar de a importância dos neurotransmissores ainda não estar totalmente esclarecida, é ponto assente que eles têm um papel muito importante nas reacções do organismo, nomeadamente no controlo emocional e na resistência à fadiga e à dor.

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d) Comunicação nervosa:(vídeo) Diferentes tipos de neurónios:

– AFERENTES OU SENSORIAIS: ligados aos sentidos (órgãos

receptores), captam e conduzem a informação para o SNC.

– EFERENTES OU MOTORES: levam a informação do SNC aos órgãos efectores, que executam as respostas (músculos ou glândulas).

– NEURÓNIOS DE CONEXÃO: integram o SNC e interpretam os estímulos e elaboram as respostas.

Transmissão da informação nervosa: Da captação dos estímulos pelos órgãos dos sentidos à efectuação da resposta, há um processo complexo e, ao mesmo tempo, organizado. Por exemplo, é sabido que “a luz faz chegar aos olhos”, em simultâneo, múltiplas imagens, mas os olhos não vêem tudo ao mesmo tempo. De facto, há processos envolvidos que levam a selecções. Por outro lado, os nervos estão especializados no cumprimento de funções específicas.

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Lê o que se segue:

Dos estímulos às respostas / Os órgãos dos sentidos:

1º - Como qualquer outro animal, o Homem é estimulado pelo meio [ou pelo próprio organismo] e reage aos estímulos.

2º - Podemos esquematizar o percurso estímulo-resposta do seguinte

modo: Meio → Estímulo → Recepção →Processamento/Coordenação → Resposta.

3º - Neste processo estão envolvidos, por parte de quem reage,

mecanismos: De recepção, a cargo de órgãos receptores: os órgãos dos sentidos.

Função: captar estímulos do meio, que chegam ao SNC através dos nervos sensitivos/sensoriais.

De reacção, a cargo de órgãos efectores: os músculos e as glândulas. Função: executar as respostas, que são recebidas através de nervos motores.

De conexão, a cargo do centro coordenador: o sistema nervoso central e, em particular, o cérebro. Função: conduzir e interpretar os estímulos captados pelos órgãos receptores (e que chegam ao SNC pelos nervos sensitivos) e enviar (pelos nervos motores) as respectivas respostas aos órgãos efectores.

4º - Sobre os órgãos receptores (órgãos dos sentidos) importa esclarecer: Serão apenas cinco? Dizemos que sentimos fome ou sede ou frio ou

calor. De facto, há quem os ache insuficientes e refira, por exemplo, o equilíbrio, a orientação, a cinestesia [posição dos membros]…

Os órgãos dos sentidos estão especializados em captar determinado tipo de estímulos, desde que não ultrapassem certos limites [limiar de sensibilidade], por defeito (há odores ou ruídos que outros animais captam e nós não por serem muito fracos), ou por excesso (uma luz demasiado intensa cega ou um ruído excessivo ensurdece).

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Cada pessoa tem um mapa mental da realidade que resulta da contribuição dos diferentes sentidos: ao vermos comida, já lhe sentimos o cheiro; a saia leva-nos a ver uma mulher… As disfunções sensoriais alteram este mapa: imagina como é o mundo para quem sofre de daltonismo, surdez, anosmia [ausência de olfacto]…

Este mapa é incompleto, pois não nos dá informações que seriam preciosas para a sobrevivência: por exemplo, salvar-se-iam milhares de vidas se sentíssemos as variações da pressão atmosférica, os raios ultravioletas, a radioactividade, a ausência de oxigénio em ambientes saturados de monóxido de carbono ou de metano.

Há perturbações que levam o indivíduo a percepcionar a realidade sem haver estímulo [intervém o cérebro sem os sentidos]: estamos perante as alucinações. Uma alucinação ocorre em situações de stress, alcoolismo, drogas, tumores cerebrais… As mais habituais: alucinações auditivas (ouvir vozes) e visuais… Ocorre também a possibilidade de haver distorção do estímulo: os olhos vêem uma pessoa, mas o cérebro percepciona, representa outra.

[A questão da percepção sensorial será abordada a propósito da aprendizagem].

e) Funções gerais do sistema nervoso:

Função condutora:

– É processada pelo sistema nervoso periférico.

– Através de nervos sensitivos, transporta as informações

provenientes do meio ou do organismo até aos centros de descodificação (sistema nervoso central).

– Através de nervos motores, transporta igualmente as informações/ordens provenientes do SNC.

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Função coordenadora: – É processada pelo sistema nervoso central.

– Descodifica as informações recebidas (provenientes dos nervos

sensitivos)

– Coordena as respostas adequadas a cada situação/estímulo (enviando-as para os nervos motores).

5. FUNCIONAMENTO GLOBAL DO CÉREBRO HUMANO

Explicar o funcionamento global do cérebro humano: Indicar as principais funções da espinal medula e do cérebro.

Especificar as diferenças de coordenação dos hemisférios esquerdo e direito.

Explicar o funcionamento sistémico dos hemisférios cerebrais.

Diferenciar as áreas primárias das secundárias.

Caracterizar as funções de cada lobo do córtex.

Indicar as consequências de lesões em diferentes áreas cerebrais.

Apresentar a teoria das localizações cerebrais.

Explicar a unidade funcional do cérebro.

Explicar as funções de suplência.

Explicar os dois princípios fundamentais do funcionamento do cérebro propostos por A.

Damásio.

Mostrar o papel das áreas pré-frontais na coordenação de comportamentos especificamente

humanos.

a) O sistema nervoso central: É constituído pela espinal medula e pelo cérebro/encéfalo.

É o centro coordenador de toda a actividade fisiológica, física ou

psíquica.

- Espinal medula SNC - cerebelo

- Cérebro - amígdala - hipotálamo

- hipófise - corpo caloso - hemisférios cerebrais - córtex - lobos corticais - áreas pré-frontais

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b) A espinal medula:

Funções:

O acto reflexo / Reflexo

Sensório-motor:

Reflexos e

actividade reflexa:

- Função condutora: transmite mensagens dos receptores para o cérebro e do cérebro para os músculos e glândulas.

- Função coordenadora: regula os actos reflexos / reflexos sensório-motores.

- Resposta simples, automática, involuntária

[não intervém a decisão, ou cérebro], inata e

imediata do organismo a um estímulo.

- Rege-se por mecanismos inatos, anteriores

à aprendizagem.

- Descrição do arco reflexo/acto reflexo.

Interacção dos mecanismos de recepção

(associados a neurónios sensitivos), de

conexão (neurónios conectores) e de

reacção (dependentes de neurónios

motores).

- Não confundir os reflexos sensório-motores

com a actividade reflexa.

- Esta está associada ao controlo das funções

básicas do corpo (dos órgãos internos, do

metabolismo…) e é regulada, globalmente,

pelo sistema nervoso autónomo. Em cada

situação o organismo activa medidas para

manter o equilíbrio: por exemplo, numa

situação de falta de oxigénio, aumenta o ritmo

respiratório e cardíaco. Falaremos, mais

adiante, da importância do hipotálamo neste

processo de regulação.

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Reflexos sensório-motores, actividade reflexa e actividade reflexiva.

1º - Os actos reflexos traduzem-se por formas de comportamento,

movimentos, contracções… automatizados e, por isso, independentes

da vontade. São, então, o oposto de actos reflexivos.

2º - Características dos actos reflexos: mecânicos, involuntários,

espontâneos, ligados a reacções tendencialmente inatas ou biológicas.

3º - A espinal medula é decisiva para o funcionamento orgânico em

geral como o comprovam os muitos casos de pessoas com lesões

traumáticas que levaram a situações de paraplegia ou tetraplegia:

A paraplegia caracteriza-se pela perda de controlo da actividade

sensório-motora da cintura para baixo, Repercute-se, de modo mais

visível na paralisia das pernas. Resulta, por isso, de lesões ao nível

das vértebras lombares da coluna.

A tetraplegia caracteriza-se pela perda de controlo da actividade

sensório-motora do pescoço para baixo. Resulta, por isso, de lesões

ao nível das vértebras cervicais da coluna, causando a paralisia dos

membros superiores e inferiores.

Em ambos os casos, existem outras complicações, tais como: perda

de sensibilidade, problemas de controlo dos esfíncteres anal e

urinário, disfunção da regulação térmica, comprometimento da

sexualidade, problemas da pressão arterial…

Se tiveres presente que a grande maioria das lesões graves da

coluna resultam de episódios que dependem do indivíduo, está na

tua mão evitá-los: condução automóvel prudente, trabalho em

segurança…

4º - Os reflexos sensório-motores manifestam-se por movimentos

musculares e são coordenados pela espinal medula. A actividade

reflexa é coordenada pelo sistema nervoso autónomo. A actividade

reflexiva (ou reflexão) manifesta-se pela elaboração de raciocínios ou

teorias e é coordenada pelo córtex cerebral, áreas pré-frontais.

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“Reflexos”

O reflexo traduz-se por uma resposta imediata e involuntária. Muitos reflexos são inatos e estão associados ao equilíbrio orgânico. Por exemplo, os arrepios, tremuras e “pele de galinha” são respostas orgânicas imediatas, involuntárias e, por isso, automáticas do organismo para restabelecer o equilíbrio térmico. No entanto, há muitos outros reflexos que são adquiridos pela aprendizagem, são fruto da experiência, mas nem por isso deixam de ser automáticos e independentes da vontade: trata-se dos reflexos condicionados. Por exemplo, uma simples bata pode deixar nervosa a pessoa que teve uma má experiência num hospital. Os reflexos primitivos: há quem defenda que estes reflexos são um eco do processo evolutivo da espécie e que foram, no passado remoto, importantes para a sobrevivência. Tendem a desaparecer nos primeiros meses de vida. A sua ausência, após o nascimento, pode ser sintoma de um problema neurológico.

c) O cérebro (vídeo) - Divide-se em zonas diferenciadas, cada uma delas coordena características específicas:

Cerebelo: controla o equilíbrio e precisão de movimentos

(movimentos finos).

Hipófise: actividade hormonal (em coordenação com o hipotálamo)

Hipotálamo [tamanho de um amendoim, 4 grs]: regula as necessidades primárias ou fisiológicas (fome, sede, sono, sexualidade) e das emoções e sentimentos. A sua importância levou a darem-lhe o nome de “guardião do corpo”.

Amígdala: reguladora da agressividade e do medo.

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Corpo caloso: permite a comunicação entre os hemisférios cerebrais.

Córtex cerebral: – Preside à actividade mental: intelectual, afectiva, emotiva e

sensorial. – Divide-se nos hemisférios esquerdo e direito. – Cada hemisfério subdivide-se em lobos e coordena funções

específicas.

d) Os hemisférios cerebrais:

Comunicam entre si através do corpo caloso.

O hemisfério direito: - Coordena a actividade motora e sensorial

da parte esquerda do corpo. Organiza as percepções espaciais.

Preside ao pensamento sintético [associa], holístico [estabelece

relações], artístico, criativo e imagístico [regido por imagens].

O hemisfério esquerdo: - Coordena a actividade motora e

sensorial da parte direita do corpo. Coordena o pensamento

simbólico [a linguagem verbal, escrita ou falada] e lógico [cálculo,

matemática]. Preside também ao pensamento analítico

[decompõe], científico e tecnológico. A sua importância no controlo

da linguagem e do raciocínio levou erradamente a supor que a

parte direita era uma espécie de complemento do hemisfério

esquerdo.

A assimetria funcional dos hemisférios cerebrais é apontada

como uma das razões para a superioridade da inteligência humana.

Anatomicamente, os hemisférios são simétricos, no entanto – e

contrariamente à actividade cerebral da generalidade dos

mamíferos – têm funções diferenciadas: assimetria funcional.

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e) Os lobos cerebrais de cada hemisfério – São quatro. Seguem-se os nomes e as funções a que presidem:

Lobo occipital = visão.

Lobo temporal = audição.

Lobo parietal = sensações do corpo.

Lobo frontal = movimentos.

Cada lobo cerebral subdivide-se em áreas primárias e secundárias.

As áreas primárias ou de projecção são centros veiculadores da

informação: permitem receber e enviar a informação. Uma lesão na

área primária fará com que, por exemplo, o som não seja

transmitido para ser decifrado ou, consoante a lesão, que não se

traduza em reacção orgânica ao som. A pessoa sofrerá de surdez

cerebral (cortical).

As áreas secundárias ou de associação são centros que

coordenam, integram – assimilam e processam – a informação.

Pegando no exemplo dado, uma lesão na área secundária fará com

que, ao som, não seja dado qualquer significado: agnosia auditiva.

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Distúrbios resultantes de lesões.

Ver a tabela seguinte:

LOBOS CEREBRAIS – ÁREAS FUNCIONAIS

LOBO

FUNÇÃO GERAL CONTROLA

ÁREA

FUNÇÃO ESPECÍFICA: CONTROLA

LESÃO

FRONTAL

Movimentos

Primária

Movimento do corpo

Paralisia cortical: perda de motricidade dos movimentos finos.

Secundária Coordenação dos movimentos.

Apraxia: a acção deixa de ser controlada pela vontade.

PARIETAL

Sensações da pele

Primária Recebe informações da pele e músculos.

Anestesia cortical: perda de sensibilidade táctil, térmica e álgica [dor].

Secundária

Reconhece e coordena estímulos da pele e músculos.

Agnosia sensorial: não reconhece o que sente.

OCCIPITAL

Visão Primária

Recebe as imagens captadas pelos olhos.

Cegueira cortical: perda de visão

Secundária Reconhece as imagens.

Agnosia visual: não reconhece o que vê.

TEMPORAL

Audição Primária

Recebe os sons.

Surdez cortical: perda de audição

Secundária Reconhece os sons.

Agnosia auditiva: não reconhece o que ouve.

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f) Áreas pré-frontais (córtex ou cérebro pré-frontal):

O córtex pré-frontal localiza-se na parte anterior do lobo frontal e é

o centro coordenador último e unificador da actividade cerebral.

É em resultado da actividade desta zona que damos significado e

orientação planeada ao que fazemos.

É responsável pela coordenação das actividades características da

inteligência e dos comportamentos específicos do Homem tais

como: – Pensamento abstracto (abstracção) e científico, de reflexão e

teorização.

– Orientação da atenção, planificação, orientação da vontade e

decisão/deliberação.

– Imaginação, criatividade artística e inovação técnica.

– Simbolismo, assunção de valores, sentido ético e estético…

– Integração da personalidade: consciência de si enquanto

indivíduo único, distinto de todos os outros.

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Esta área do córtex é, então, a chave distintiva da inteligência

humana da inteligência animal.

O cérebro, o comportamento e a conjugação de aspectos orgânicos

e psicológicos

1º - Sabes o que é um tartamudo? Quantos homens conheces que são

gagos? E quantas mulheres? A gaguez é uma característica mais

comum nos homens. Há quem a associe a traumas da infância e a

grandes situações de susto ou pânico.

2º - As características ou problemas de comportamento associados ao

cérebro são múltiplas e não se relacionam necessariamente com

distúrbios ou lesões. Por exemplo, a incapacidade de cantar afinado

não é considerado sintoma de um distúrbio, assim como não o é a falta

de habilidade de muitas pessoas em resolverem aspectos da vida

prática (nomeadamente em tarefas domésticas ou de pequenas

reparações).

3º - Um distúrbio está associado a uma alteração orgânica, psíquica ou

emocional que, em termos comparativos, se afasta dos padrões

daquilo que se considera normal. (No plano psíquico, questiona-se

frequentemente o que é o normal e o anormal. Por outras palavras,

qual a bitola para medir, por exemplo, o comportamento

emocionalmente perturbado e emocionalmente equilibrado?).

Distúrbios orgânicos: um desarranjo intestinal é fácil de detectar,

mas o mesmo pode não acontecer com a tensão arterial ou a glicose

incontroladas.

Psíquicos e emocionais: hipersensibilidade (irritação explosiva) ao

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mínimo ruído; incapacidade de concentração...

4º - Mas quando há uma lesão cerebral - resultante de traumatismos, de

tumores, derrames ou infecções - as repercussões manifestam-se na

perda parcial ou total das funções coordenadas pela área afectada.

5º - Como o organismo é um todo em interacção, não se pode concluir

que a perda de uma capacidade se deva necessariamente à inibição da

área correspondente a nível cerebral: por exemplo, uma pessoa pode

deixar de ver por lesões do globo ocular, do nervo óptico que

estabelece a ligação com o córtex ou do próprio lobo occipital.

6º - Para se perceber a dinâmica e a importância das áreas pré-frontais

repara no exemplo seguinte, tendo em consideração,

simultaneamente, a interacção de aspectos fisiológicos, orgânicos e

psicológicos envolvidos no processo:

Um rapaz vê uma rapariga muito bonita no fundo da rua. [Ver: sentir

e percepcionar]

Sente-se logo atraído por ela, tanto mais que é parecida com a antiga

namorada, entretanto falecida. [Memória: relacionar; componente

física e psicológica da atracção - a semelhança com a ex-namorada]:

A emoção apodera-se dele e logo decide abeirá-la [Componente

emocional em que interagem aspectos hormonais e psicológicos:

lembranças afectivas].

Mas logo desiste, pois verifica que, ao encontro dela, vem um

homem com uma criança, que julga ser marido e filho.

Neste pequeno exemplo encontras uma actividade em que intervêm

as áreas primária e secundária dos lobos occipital (ver e associar) e

frontal (ir ao encontro); mas também estruturas ligadas à

componente emocional (hipocampo, hipotálamo, amígdala…) com

implicações a nível fisiológico e orgânico (aceleração do ritmo

cardíaco e respiratório, rubor, andar mais agitado e apressado,

ansiedade visível na expressão facial)... E tudo isto acontece deste

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modo porque o córtex pré-frontal acentuou a importância do

momento pela associação de lembranças com um significado

especial… E tudo acaba em nada porque, mais uma vez o córtex pré-

frontal (onde estão interiorizados significados e valores morais),

levou à decisão de não abordar uma rapariga que, aparentemente –

e só aparentemente – era casada e mãe de uma criança.

Apresentam-se a seguir alguns aspectos ilustrativos da complexidade da

comunicação humana: que envolve processos visuais (ler), auditivos

(ouvir, falar) e motores (articular palavras); assim como envolve o córtex

pré-frontal que atribui significados e produz pensamentos complexos.

A linguagem Problemas Área/lesão Fala Afasia de Broca (área de Broca):

dificuldade de articular palavras, fala lenta. Afasia de Wernicke (área de Wernicke): incapacidade para compreender o que é dito (pelo indivíduo ou pelos outros); escrita também comprometida. Surdez cortical / Agnosia auditiva: incapacidade para captar ou perceber a linguagem.

Lobo frontal: área psicomotora. Zona temporal esquerda (está ligada à área de Broca) Lobo temporal

Escrita Agrafia: descoordenação dos movimentos das mãos, incapacidade de escrever.

Lobo frontal Lobo occipital

Interpretação Problemas em analisar ou sintetizar.

Áreas pré-frontais

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A SENSAÇÃO DO DÉJÁ VU: - Crê-se que está associada a uma descoordenação

do hipocampo -responsável pela memória. Quando ocorre um facto novo,

o hipocampo processa-o como algo que já tenha ocorrido. Os epilépticos

têm uma maior probabilidade de isto acontecer.

g) Teorias sobre o Funcionamento do cérebro:

Teoria das localizações cerebrais (frenologia)

– Foi defendida no séc. XVIII por Franz Gall.

– Segundo esta teoria, a cada área cerebral correspondem capacidades específicas.

– O cérebro funciona, assim, compartimentadamente, ou seja, cada lobo é o responsável único e insubstituível do controlo de uma determinada função.

– Nesta perspectiva, seria possível determinar se alguém é um potencial assassino: basta analisar a área controladora da agressividade.

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Teoria da unidade funcional do cérebro:

– Segundo esta teoria, o cérebro funciona integrada e

interactivamente, como um todo organizado e interdependente,

mas não indiferenciado, isto é, com funções distintas.

– No cérebro há efectivamente zonas especializadas na

coordenação das actividades, mas a sua concretização passa pela

conjugação de diversas áreas. Exemplificando, o cerebelo

coordena os movimentos, mas na coordenação motora intervêm

igualmente o lobo frontal e as áreas pré-frontais.

– Por outro lado, cada zona cerebral tem a plasticidade para se

adaptar ao exercício de novas funções.

– A esta capacidade dá-se o nome de função de suplência ou

vicariante. Ou seja, o exercício pode estimular o cérebro a

adquirir, na medida do possível, as competências perdidas na

sequência de um traumatismo craniano ou de uma qualquer

outra lesão.

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A teoria de António Damásio:

Entrevista na RTP:

1ª Parte: http://www.youtube.com/watch?v=9mzNWzCKpbQ 2ª Parte: http://www.youtube.com/watch?v=4ROab8folGU&feature=related

3ª Parte: http://www.youtube.com/watch?v=Yh9C8tvZGtA&feature=related 4ª Parte: http://www.youtube.com/watch?v=M782irIghec&feature=related

– Acentua o conceito da especialização: o cérebro não funciona de forma indiferenciada, mas de acordo com os contributos próprios de cada área.

– Acentua igualmente o conceito da integração: a coordenação de funções complexas como a linguagem, aprendizagem, memória requer a mobilização coordenada de diferentes áreas.

6. O cérebro e a capacidade de adaptação e autonomia do ser humano:

Analisar a relação entre o cérebro e a capacidade de adaptação e

de autonomia do ser humano:

Descrever a tese triúnica de P. MacLean.

Caracterizar o conceito de complexidade cerebral.

Relacionar os conceitos de lentificação e individuação.

Explicar o sentido de plasticidade cerebral.

Distinguir os conceitos orgânico/fisiológico/somático de psíquico.

Demonstrar que o comportamento se deve à interacção de factores

orgânicos e psíquicos.

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a) O cérebro humano actual resulta de uma evolução de milhões de anos com um conjunto de fases.

b) A tese triúnica do cérebro, apresentada por Paul MacLean, defende que no ser humano actual coexistem três cérebros que constituem as marcas das fases desse passado evolutivo remoto.

Cérebro reptiliano, correspondente ao tronco cerebral: coordena funções básicas de sobrevivência e reacções instintivas de defesa e agressividade. (É o cérebro mais primitivo).

Cérebro paleomamífero: típico dos mamíferos inferiores. Permite

uma organização difusa e não consciente de dados relativos à memória, sentimento e emoção.

Cérebro neomamífero característico do córtex dos mamíferos

superiores, com a consequente capacidade de aprendizagem. [Recordar as capacidades ímpares da inteligência humana: raciocínio, criatividade e imaginação, consciência, simbolismo e linguagem, sentido ético e estético]…

A cada um destes cérebros correspondem capacidades que vão do menos complexo e mais primitivo e instintivo para o mais complexo e elaborado. À base do cérebro, directamente ligada à coluna, correspondem as características mais primitivas do

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comportamento associadas ao cérebro reptiliano e ao córtex as características mais “evoluídas”, próprias de comportamentos resultantes da aprendizagem.

c) Lentificação e individuação:

Independentemente da aceitação da tese triúnica, o cérebro, apesar

de possuir diferentes áreas, funciona coordenadamente: é uma

força mobilizadora de milhões de neurónios cuja actividade resulta

de um ritmo de desenvolvimento complexo e extraordinariamente

lento. Processos rápidos de desenvolvimento são característicos de

animais de estruturas biológicas relativamente simples, cujo

comportamento é geneticamente determinado. A lentificação, em

contrapartida, traduzindo-se, na prática, por um desenvolvimento

vagaroso, tem a vantagem de permitir o desenvolvimento de

estruturas biológicas e mentais complexas e a aprendizagem de

múltiplos aspectos.

Por outro lado, a lentidão no desenvolvimento, permitindo

construir processos comportamentais e mentais complexos, leva o

indivíduo a ter formas únicas de ser, de pensar e de estar,

permitindo que cada um construa uma imagem de si e dos outros.

A individuação está relacionada com o facto de cada um se sentir

autónomo, diferente e único entre os outros indivíduos da mesma

espécie. [A noção do eu permite assumir com convicção atitudes

extremas ou bizarras, e assumir comportamentos não

normativos…]

d) Plasticidade e aprendizagem:

Uma das características do sistema nervoso relaciona-se com a sua

plasticidade, isto é, a capacidade de se alterar em resultado do que

se aprende e memoriza.

A nível mental ou psíquico, a plasticidade traduz-se por um

acumular de novas informações ou competências. A nível

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neurológico, a plasticidade é acompanhada por transformações

[nomeadamente, por novas ligações neuronais] que permitem um

acumular crescente de capacidades ou construção de novos dados.

e) A distinção entre aspectos orgânicos e aspectos psíquicos:

A tradição ocidental habituou-nos a distinguir processos mentais

de processos não mentais: os primeiros integravam o domínio

psíquico/psicológico e os segundos diziam respeito ao domínio

somático/orgânico, fisiológico ou biológico.

Os processos psicológicos envolviam aspectos associados ao

pensamento e ao sentimento.

Sabendo que o cérebro é o regulador-chave da actividade

fisiológica, emocional ou cognitiva e sabendo que há uma

interacção de todos estes aspectos, poderá perguntar-se se há uma

base sólida para dividir o corpo em dimensão somática e dimensão

psíquica.

Uma dor de cabeça é um problema orgânico, mas a impaciência daí

gerada é um problema psicológico. Uma preocupação excessiva é

um problema psicológico, mas o aumento da tensão arterial daí

decorrente é um problema orgânico/fisiológico.

“Mente sã em corpo são” - Já os romanos tinham a noção de que o

corpo e a mente estabeleciam parcerias de cooperação: em que o

bem de ambas as partes era fundamental para o equilíbrio do

indivíduo.

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- Interacção orgânico-psíquico:

1º - O comportamento abrange o conjunto de reacções do organismo.

Aplicado às pessoas, o comportamento abrange aspectos externos

directamente observáveis (gestos, mímica, manifestações emotivas),

aspectos internos, menos visíveis, mas tecnicamente observáveis

(tensão arterial, fluxo da adrenalina, teor de glicose no sangue…) e

aspectos não observáveis, mas de que, de algum modo, temos

consciência (sentimentos, convicções íntimas, pensamentos…). Os

dois primeiros aspectos pertencem ao conjunto de reacções orgânicas,

somáticas. O último pertence ao domínio psíquico, mental.

2º - A compreensão da complexidade do comportamento humano passa

pela interpretação dos dois factores (orgânicos/fisiológicos e

psíquicos/mentais).

3º - Vários aspectos se tornam evidentes:

1º - O comportamento humano é particularmente complexo, uma

vez que resulta da interacção de factores internos com dados

externos, de factores biológicos/orgânicos com dados psicológicos

causados pela complexa cadeia da actividade mental.

2º - O que designamos por dados psicológicos tem um suporte

biológico: é o córtex cerebral que permite pensar, sentir

intimamente, acreditar em causas e ideais. A “degradação” deste

suporte põe um termo a estas características humanas: basta pensar

numa pessoa com a doença de alzheimer em estado terminal.

3º - Quer isto dizer que os factores biológicos/orgânicos influenciam

acentuadamente a componente psicológica. Exemplos

comprovativos há muitos: qualquer doença ou o simples cansaço

interferem, em maior ou menor grau, na estabilidade emotiva ou no

rendimento intelectual; a hiperactividade da hormona da tiróide

torna as pessoas irritadiças, agitadas, com insónias; a influência das

Page 26: Psicologia: cérebro

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Escola Secundária de Tondela

hormonas sexuais pode criar mecanismos que levam à atracção e à

perda de objectividade em relação à pessoa que nos cativa (não é

por acaso que se diz que o amor é cego) …

4º - De igual modo, o equilíbrio psíquico é fundamental à

estabilidade orgânica. Se assim não fosse, não haveria úlceras

nervosas. Cada vez mais se acentua o papel do stress e dos nervos

no aparecimento de determinadas doenças: dermatoses, pruridos,

problemas de voz, trânsito intestinal irregular, enfraquecimento do

sistema imunitário.

(Vídeo de revisão da matéria)

FIM