Psicologia Do to e Da Aprendizagem(Letras)_Unidade I

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Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem

Professora conteudista: Bernadete Lenza

SumrioPsicologia do Desenvolvimento e da AprendizagemUnidade I

1 INTRODUO .......................................................................................................................................................1 2 JEAN PIAGET.........................................................................................................................................................1 3 EPISTEMOLOGIA GENTICA ............................................................................................................................2 4 TEORIA COGNITIVA DE JEAN PIAGET ..........................................................................................................3 5 ESTRUTURA MENTAL ........................................................................................................................................6 5.1 Perodos do desenvolvimento cognitivo ........................................................................................7 6 EQUILIBRAO, ASSIMILAO, ACOMODAO E ADAPTAO ......................................................8 6.1 Equilibrao ...............................................................................................................................................9 6.2 Assimilao ............................................................................................................................................. 10 6.3 Acomodao............................................................................................................................................11 6.4 Adaptao ............................................................................................................................................... 13Unidade II

7 INTRODUO .................................................................................................................................................... 17 8 PERODO SENSRIO-MOTOR...................................................................................................................... 18 9 PERODO PR-OPERACIONAL..................................................................................................................... 20 10 PERODO DAS OPERAES CONCRETAS ............................................................................................. 23 11 PERODO DAS OPERAES FORMAIS ................................................................................................... 28 12 CONCLUSO ................................................................................................................................................... 33

PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEM

Unidade I1 INTRODUO

A psicologia da criana pretende realizar um estudo sobre o crescimento mental ou o desenvolvimento das condutas, dos comportamentos, desde o nascimento do indivduo at a fase de transio constituda pela adolescncia, fase essa que marca sua 5 insero na sociedade adulta. O crescimento mental vem associado ao crescimento fsico, notadamente a maturao dos sistemas nervoso e endcrino, que se estende at cerca dos dezesseis anos de idade. Na chegada do estado de equilbrio relativo, constitui-se o 10 nvel adulto.2 JEAN PIAGETA aprendizagem um processo que comea ao nascer e termina ao morrer.

Piaget nasceu em Neuchtel no dia 9 de agosto de 1896 e morreu em Genebra, no dia 16 de setembro de 1980, aos 84 anos. Desde cedo demonstrou interesse por histria natural. Aos 15 onze anos observou um melro albino em uma praa de sua cidade, gerando, assim, seu primeiro trabalho cientco. Inicialmente, estudou biologia, na Sua e, posteriormente, dedicou-se rea de psicologia epistemolgica e educao. Entre suas vrias incurses no crculo cientco, salientam20 se seus antecedentes intelectuais no campo da losoa, da psicologia, da matemtica, da lgica, da fsica, da biologia, alm

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Unidade Ida experincia como professor de psicologia na Universidade de Genebra de 1929 a 1954. Ficou conhecido, principalmente, por organizar o desenvolvimento cognitivo em uma srie de estgios. 5 Ele revolucionou as concepes de inteligncia e de desenvolvimento cognitivo partindo de pesquisas baseadas na observao e em entrevistas realizadas com crianas.

Em seus estudos interdisciplinares, sempre pesquisando diversos assuntos, Piaget abriu um novo campo de estudos: a 10 epistemologia gentica. Na dcada de 1950, fundou o Centro Internacional de Epistemologia Gentica da Faculdade de Cincias da Universidade de Genebra. Piaget interessou-se, fundamentalmente, pelas relaes que se estabelecem entre o sujeito que conhece e o mundo que 15 tenta conhecer.3 EPISTEMOLOGIA GENTICA

Piaget considerou-se um epistemlogo gentico porque investigou a natureza e a gnese do conhecimento nos seus processos e estgios de desenvolvimento.

Piaget chamou sua estrutura terica geral de epistemologia gentica, pois estava interessado em estudar como se processa o desenvolvimento cognitivo no ser humano. A epistemologia gentica procura, por meio da 20 experimentao, da observao, desvendar os processos fundamentais da formao do conhecimento. Piaget teve interesse em saber como o conhecimento se desenvolve em organismos humanos. Centrou-se em saber como a criana aprende, como o conhecimento progride dos aspectos mais 25 inferiores aos mais complexos e rigorosos. Defendeu que o indivduo passa, ao longo de sua vida, por vrias etapas do desenvolvimento de sua inteligncia. Da o nome dado sua cincia de epistemologia gentica1, que entendida como o estudo dos mecanismos do aumento dos conhecimentos.J na segunda metade do sculo XIX, a palavra gentica foi utilizada na expresso psicologia gentica pelos psiclogos antes que os bilogos a empregassem em sentido mais restrito. Na linguagem atual dos bilogos, a gentica refere-se, exclusivamente, aos mecanismos da hereditariedade, em oposio aos processos embriogenticos ou ontogenticos. Pelo contrrio, a expresso psicologia gentica refere-se ao desenvolvimento individual, ou seja, da ontogenia.1

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEMEpistemologia = saber, cincia, conhecimento. Logia = estudo. Gnese = incio. O objetivo da epistemologia gentica saber em quais condies se desenvolve a inteligncia.4 TEORIA COGNITIVA DE JEAN PIAGET

Piaget usou a observao e o teste em suas investigaes a respeito do pensamento infantil, inferindo, por meio dos 5 resultados, como a criana deve ter experimentado o mundo de modo a comportar-se como o fez. Descobriu, assim, o lado escuro da mente da criana que, at ento, eram desconhecidos e insuspeitados. Para ilustrar, Piaget descobriu que crianas acreditam que o sol e a lua seguem-nas e que tudo o que se move 10 est vivo. Em outros domnios, descobriu que elas acreditam que h modicaes em nmeros, extenso, quantidade e rea quando h uma mudana em sua aparncia. Piaget considera que a inteligncia, ou seja, o pensamento e a ao adaptativos, apresenta em seu desenvolvimento uma 15 sequncia de estgios relacionados com a idade, nos quais novas capacidades mentais so adquiridas determinando limites, bem como o carter do que pode ser aprendido nesse perodo. A ordem em que os estgios surgem a mesma para todas as crianas, tendo, entretanto, inuncia da qualidade do meio 20 fsico e social em que criada. Assim, Piaget, em sua teoria, mostra como acontece o desenvolvimento cognitivo, ou seja, o desenvolvimento do pensamento desde os estgios iniciais at a formalizao do conhecimento na adolescncia. 25 Um conhecimento s poder ser adquirido se o indivduo estiver preparado para receb-lo, se puder agir sobre o objeto de

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Unidade Iconhecimento para inseri-lo em um sistema de relaes. Assim, se o organismo no tiver um conhecimento anterior, no ter condies para assimilar e transformar um novo conhecimento. Esse processo implica os dois polos da atividade inteligente: 5 assimilao e acomodao. O desenvolvimento cognitivo no ocorre nos moldes do empirismo, vindos unicamente da experincia, ou seja, de fora para dentro, o que implicaria um sujeito passivo sofrendo somente as influncias do meio. Tampouco considerado 10 inato e j presente no sujeito, apesar da flexibilidade, primeiramente neurnica e, depois, motora e semitica, serem inatas. Resumindo: o comportamento dos seres vivos no inato nem resultado de condicionamentos. Para Piaget, o comportamento 15 construdo em uma interao entre o meio e o indivduo. Quanto mais complexa for essa interao, mais inteligente ser o indivduo. um processo dinmico e dialtico, uma vez que o ser humano est sempre reformulando seu conhecimento e interagindo com o mundo e sofrendo a inuncia da ao deste 20 sobre si. O sujeito, interagindo com o meio, ou seja, agindo sobre o mundo que est em constante processo de adaptao, capaz de transformar a realidade na qual interage e de transformar a si mesmo. Dessa forma, constri sua inteligncia pela aquisio de conhecimentos. Portanto, o desenvolvimento um processo 25 contnuo de adaptao. Para o desenvolvimento da inteligncia, necessita-se do mecanismo de adaptao do organismo a uma situao nova, e isso implica a construo contnua de novas estruturas. Para sua teoria, Piaget explorou todos os aspectos 30 do desenvolvimento, da cognio, inteligncia e moral. Praticamente, explorou todas as categorias cognitivas, desde as mais simples at as mais complexas. Ele incluiu

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEMobservaes do desenvolvimento infantil na aprendizagem dos conceitos matemticos e lgicos. Averiguou a formao da cognio com relao aos conceitos de espao, de tempo, de causalidade, de nmero, das quantidades fsicas etc. de 5 praticamente todas as categorias cognitivas, desde as mais simples at as mais complexas, desde o nascimento at a adolescncia. Assim, por exemplo, para crianas pequenas, os professores devem tentar fornecer um ambiente estimulante, com objetos 10 amplos para que elas brinquem. J para as maiores, os problemas de classicao, ordenao, localizao e conservao podem ser apresentados, utilizando-se objetos concretos. As descobertas piagetianas abrem campo de estudo para a psicologia do desenvolvimento, para a sociologia e para a 15 antropologia, entre outras, alm de permitir que os pedagogos tracem uma metodologia baseada em suas descobertas. Piaget acredita que, dependendo do estgio em que a criana est, ela fornecer explicaes diferentes da realidade. Recomenda, inclusive, que as atividades devem envolver um 20 nvel apropriado de operaes motoras ou mentais para uma criana de uma dada idade, no exigindo tarefas que esto alm das capacidades cognitivas atuais do indivduo. Outra recomendao envolver ativamente os alunos apresentando desaos. 25 Por meio de seus estudos, Piaget deu origem teoria cognitiva, demonstrando que existem quatro estgios de desenvolvimento cognitivo no ser humano: sensrio-motor, pr-operacional, operatrio concreto e operatrio formal.

Piaget no s descreveu o processo de desenvolvimento 30 da inteligncia, mas tambm, experimentalmente, comprovou suas teses. Assim, sua teoria tem comprovao em bases cientcas.

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Unidade I5 ESTRUTURA MENTAL

O ponto central para a teoria cognitiva o conceito de estrutura cognitiva ou estrutura mental. As estruturas cognitivas so formadas pela troca do organismo com o meio, ou seja, por meio da ao adaptativa que ocorre a construo 5 das estruturas mentais. So padres de ao fsica e mental subjacentes a atos especcos de inteligncia e correspondem a estgios do desenvolvimento infantil. Os estgios de desenvolvimento cognitivo so sequenciais e obedecem a uma ordem, estando, assim, associados a faixas etrias 10 caractersticas, variando, entretanto, para cada indivduo. Dessa forma, podem-se encontrar duas crianas de seis anos em nveis diferentes de desenvolvimento, pr-operacional ou operacional concreto. Assim, cada estrutura cognitiva tem o seu momento prprio 15 de aparecer. necessria a interao adequada com o ambiente para que cada estrutura cognitiva manifeste-se e, dessa forma, possa ser utilizada em sua mxima capacidade. O desenvolvimento cognitivo regido por um processo sequencial em que so respeitadas as etapas, caracterizadas 20 por diferentes estruturas mentais. Os estgios tm carter integrativo. As estruturas construdas em determinado nvel so integradas nas estruturas do nvel seguinte. As estruturas cognitivas mudam por meio de processos de 25 adaptao: assimilao e acomodao. A assimilao envolve a interpretao de eventos em termos de estruturas cognitivas existentes, enquanto que a acomodao se refere mudana cognitiva para compreender o meio. O desenvolvimento cognitivo consiste de um esforo constante para se adaptar ao 30 meio em termos de assimilao e acomodao.2Disponvel em .2

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEM5.1 Perodos do desenvolvimento cognitivo

Existem quatro estruturas cognitivas primrias, isto , estgios de desenvolvimento, de acordo com Piaget: sensrio-motor, pr-operacional, operaes concretas e operaes formais. 5 Cada estgio tem muitas formas estruturais detalhadas. Por exemplo, o perodo operacional concreto tem mais de quarenta estruturas distintas, cobrindo classicaes e relaes, relaes espaciais, tempo, movimento, oportunidade, nmero, conservao e medida. (...) No estgio sensrio-motor (0-2), a inteligncia assume a forma de aes motoras. A inteligncia no perodo pr-operacional (3-7 anos) de natureza intuitiva. A estrutura cognitiva durante o estgio de operaes concretas (8-11 anos) lgica, mas depende de referncias concretas. No estgio nal de operaes formais (12-15 anos), pensar envolve abstraes.3 A pesquisadora Carla Beatris Valentini explica: 20 A criana pr-conceitual precisar de jogos e atividades que devem proceder ao desenvolvimento conceitual areia, gua, recipientes diferentes e necessitar de ateno para que ocorra o desenvolvimento das funes direcionais da fala. J a criana operacional concreta ser capaz de internalizar as aes e necessita de prtica no uso do repertrio de conceitos que j domina.4 Portanto, para se propor uma atividade para a criana, necessrio conhecer seu nvel de desenvolvimento. EsseIdem. Disponvel em .3 4

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Unidade Iprocedimento evitar propor situaes problemticas em momento inoportuno ou de forma inadequada.Perodos 1 perodo: sensrio-motor (do nascimento at os dois anos de idade). 2 perodo: pr-operacional (dos dois anos at os sete anos de idade). 3 perodo: operaes concretas (dos sete anos at os doze anos de idade). 4 Perodo: operaes formais (dos doze anos at os quinze anos de idade).

Azenha (2006, p. 39) arma: 5 medida que se d o processo do desenvolvimento, a assimilao e a acomodao sofrem uma diferenciao crescente, passando de antagnicas a complementares. Para exemplicar a mudana da relao entre essas invariantes funcionais, nos dois primeiros anos de vida h um estado de profundo egocentrismo, no qual assimilao e acomodao no se diferenciam. O objeto e a atividade qual o objeto assimilado constituem para a criana uma experincia nica. A criana no tem, ainda, meios de distinguir suas aes da realidade dos objetos aos quais elas so dirigidas. No existe, ainda, o eu e o mundo exterior, uma vez que o beb no distingue a assimilao dos objetos ao eu e a acomodao do eu aos objetos. O ponto central para a teoria cognitiva o conceito de estrutura cognitiva ou estrutura mental.6 EQUILIBRAO, ASSIMILAO, ACOMODAO E ADAPTAO

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Para a elaborao de sua teoria, Piaget considerou fatores 20 internos e fatores provindos da interao do sujeito com a realidade. A hereditariedade, a experincia fsica e a transmisso

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEMsocial so fatores inuenciadores. O processo da equilibrao , por sua vez, um fator determinante. A hereditariedade, apesar de inuenciar o desenvolvimento, no suciente para explicar o desenvolvimento cognitivo da 5 criana. A experincia que resulta das aes realizadas materialmente , tambm, insuciente, uma vez que a lgica da criana no se sustenta apenas com ela, apesar de ser essencial ao desenvolvimento. Para que o processo do desenvolvimento 10 cognitivo ocorra adequadamente necessria a coordenao interna entre as aes que a criana exerce sobre os objetos.6.1 Equilibrao

O fator principal, essencial e determinante no desenvolvimento do indivduo perante o processo de se adaptar ao meio em que vive a equilibrao. 15 Perante o enfrentamento de um conito cognitivo, o indivduo necessita atingir uma coerncia entre o que j sabia com as novidades provocadoras desse conito. necessrio um jogo de regulaes e de compensaes. As leis da equilibrao vm atuar nesse processo de regulao.

O processo interno de regulao e compensao se d por mecanismos internos de assimilao e acomodao. Assim, perante a aquisio de novos conhecimentos, dois procedimentos ocorrem, o da assimilao e o da acomodao, que buscam restabelecer um equilbrio mental perturbado pelo contato com 25 o novo conhecimento a ser adquirido. 20 A construo das estruturas da inteligncia explicada pelo processo contnuo da equilibrao, no equilbrio entre a assimilao e a acomodao. Assim, pela equilibrao entre a assimilao e a acomodao que se desenvolve a 30 aprendizagem.

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Unidade IO equilbrio entre a assimilao e a acomodao resulta em adaptao. Na assimilao, os dados que se obtm do exterior podem ser inseridos em um esquema j existente que, ento, amplia5 se. No caso de o dado novo ser incompatvel com os esquemas j formulados, ser necessria a criao de um novo esquema acomodando, dessa forma, esse novo conhecimento, que ir, por sua vez, ampliando-se cada vez que a pessoa estabelecer relaes com seu meio. 10 Nota-se, portanto, que os dados vindos do exterior sofrem alteraes por parte do indivduo.6.2 Assimilao

Como j visto, somente a educao e a transmisso social no so sucientes para o desenvolvimento do indivduo, embora sejam necessrias. preciso haver a assimilao dos 15 dados vindos do meio, do exterior. Portanto, todas as coisas, ideias dele ou de outras pessoas, retiradas de dados do meio exterior, tendem a ser explicadas, ou mesmo interpretadas, inicialmente, em funo de seus esquemas ou estruturas cognitivas j construdas, segundo 20 suas concepes atuais. Nesse caso, no houve necessidade de modicaes interiores nas concepes dos sistemas cognitivos do sujeito. Este se apropria do objeto de conhecimento e dlhe signicado prprio, integrado s possibilidades de seu entendimento, integrado s possibilidades da sua inteligncia 25 at ento construdas. Esse mecanismo chamado de assimilao. Por meio desse mecanismo, pode haver o entendimento dos dados, podem-se emitir hipteses possveis de acordo com a inteligncia do organismo que o recebe. O indivduo, 30 ao agir e se apropriar do objeto de conhecimento, atribui-lhe

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEMsignicado. Dessa forma, o indivduo aplica, constantemente, esse mecanismo para compreender o mundo. Piaget (1973, p. 69) diz: 5 Pela assimilao, quando o sujeito age sobre o objeto, este no absorvido pelo objeto, mas o objeto assimilado e compreendido como relativo s aes do sujeito... desde as coordenaes mais elementares encontramos na assimilao uma espcie de esboo ou pregurao do julgamento: o beb que descobre que um objeto pode ser sugado, balanado ou puxado se orienta para uma linha ininterrupta de assimilao, que conduzem at as condutas superiores, que usa o fsico quando assimila o calor ao movimento ou uma balana a um sistema de trabalhos virtuais. Nessas condies, no h necessidade de modicao interior nas concepes dos sistemas cognitivos do sujeito. Entretanto, nem sempre isso ocorre, ou seja, nem sempre ocorre a assimilao pura. Quando o sujeito enfrenta uma 20 experincia nova ou se depara com uma caracterstica da experincia que contradiga as suas hipteses possveis de interpretao, pode ocorrer uma perturbao cognitiva. Nesse caso, o sujeito se lana em um movimento de acomodao. O mecanismo da assimilao consiste na incorporao de dados em funo de esquemas ou estruturas cognitivas j construdas pelo sujeito.6.3 Acomodao

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Quando a informao do mundo exterior no pode ser 25 incorporada pelas estruturas j existentes no sujeito no sendo,

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Unidade Iassim, possvel a sua apreenso, a sua assimilao, surge a necessidade de modicao das hipteses anteriores. A esse mecanismo d-se o nome de acomodao. Assim, quando no possvel a apreenso de um objeto, 5 pois o mesmo impe resistncias, o sujeito se lana em um esforo de acomodao, em sentido contrrio ao da assimilao, modicando suas hipteses anteriores e somente ento se torna possvel a assimilao dessa novidade. Portanto, ocorre a acomodao a partir das provocaes 10 oriundas das situaes novas vivenciadas pelo sujeito. Nessa situao, devido a um esforo do sujeito no sentido de se transformar, surge o mecanismo de acomodao. O sujeito inventa uma soluo prpria para uma situao conitante. A estrutura modica-se em funo do meio. A construo da inteligncia, a adaptao intelectual, acontece quando ocorre um equilbrio progressivo entre um mecanismo assimilador e uma acomodao complementar. Um novo patamar de equilbrio, melhor e superior que os anteriores, foi conquistado. Se o sujeito tem conscincia desse processo 20 de autossuperao, sente prazer e esse prazer que deve estar presente nas atividades pedaggicas, pois incentivam e impulsionam a ao alm de interagirem com a natureza afetiva do indivduo. 15 O prazer e a necessidade devem estar presentes nas atividades 25 pedaggicas. Devido ao fato de esse processo desenvolver-se em etapas sucessivas, com complexidades crescentes e serem encadeadas entre si, Piaget o chamou de construtivismo sequencial. A experincia fsica e a experincia lgico-matemtica so 30 as duas formas para se lidar com os materiais.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEMA experincia fsica diz respeito concepo clssica do que seja experincia, ou seja, agir sobre os objetos, descobrindo suas propriedades fsicas e, tambm, as propriedades observveis das aes obtidas materialmente. 5 Para que isso ocorra, necessria uma organizao estruturada no nvel da inteligncia.

Dito em outras palavras: necessria a assimilao havendo, assim, uma inter-relao entre experincia fsica e experincia lgico-matemtica que envolve no somente abstraes 10 exercidas sobre os objetos, mas as abstraes das coordenaes que ligam essas aes. As experincias lgico-matemticas tm como caracterstica a abstrao reexiva e so construdas na mente do indivduo. Relacionam-se com as propriedades das aes e no apenas dos 15 objetos.6.4 Adaptao

At aqui muito foi falado sobre a adaptao. Foi visto que na adaptao ocorrem duas faces indissolveis e continuamente ligadas: assimilao e acomodao, embora sejam conceitualmente distintas, opostas e complementares. 20 Azenha (2006, p. 32) explica que, em uma ao adaptativa, a assimilao e a acomodao ocorrem como sendo faces da mesma moeda, continuamente interligadas. Ilustra o processo por meio de um exemplo biolgico. Diz o autor: Um bom exemplo biolgico do processo de adaptao a alimentao dos seres vivos. Ela pode ser usada como metfora para o desenvolvimento mental. Ao alimentar-se, todo ser vivo incorpora elementos do ambiente, produzindo, por meio da digesto, transformaes nas substncias ingeridas. As

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Unidade Ialteraes nos elementos ingeridos so necessrias para que as substncias possam vir a fazer parte da estrutura do organismo, quando quase sempre guardam muito pouco de sua estrutura original. 5 Portanto, o organismo tambm se altera para se adaptar aos elementos ingeridos, tanto no momento de entrada do alimento como, tambm, nas estratgias e adaptaes que este deve fazer para dar conta das exigncias necessrias transformao dos alimentos. Os ajustes do organismo em relao ao objeto incorporado representariam a acomodao, no processo adaptativo, ao passo que a incorporao e a transformao das substncias seriam a face assimilativa do mesmo processo.

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Similarmente alimentao, ratica Piaget, a inteligncia uma adaptao; uma funo que consiste em estruturar o universo tal como o organismo estrutura o meio imediato, embora mais restrita e mais eciente do que a puramente biolgica. mais eciente porque estabelece relao entre o 20 pensamento e as coisas e, assim, elabora formas disponveis para serem aplicadas s estruturas do meio. 15 a necessidade de assimilao que conduz ao movimento que organiza um esquema. Azenha (2006, p. 34) continua: 25 A criana olha por olhar, agarra por agarrar, suga para se alimentar ou suga qualquer objeto que roce seus lbios, sem ainda coordenao das diversas aes entre si. Cada sequncia de aes usadas como exemplo constitui um esquema: de olhar, de agarrar, de sugar, etc. Todos os elementos alcanados pelo esquema so tambm alimentos para essa estrutura primitiva. A repetio da ao perante outros objetos resulta no aumento da assimilao, na diferenciao e na sua generalizao.

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEMA motivao pela repetio dos esquemas justica a existncia de uma espcie de compulso para a assimilao, favorecendo o dinamismo para o desenvolvimento. A criana passa a sugar o prprio dedo e, tambm, o de outras pessoas, bem como outros 5 objetos, generalizando esse esquema. Repetio, generalizao e reconhecimento so as caractersticas funcionais de todos os esquemas assimilativos. O interesse de Piaget pela anlise desses esquemas iniciais, provindos dos reexos de suco deveu-se ao encontrar as 10 regularidades que do origem ao funcionamento mental. A repetio cumulativa, a generalizao da atividade com a incorporao de novos objetos e o reconhecimento motor so processos iniciais da formao dos esquemas intencionais e dos comportamentos propriamente inteligentes. Assim, Piaget 15 conseguiu postular as caractersticas e as leis que regero o desenvolvimento psquico posterior. Azenha (2006, p. 37) cita que Piaget exemplica a organizao e a adaptao recproca entre esquemas: 20 Pode-se dizer, assim, que, independentemente de toda coordenao entre a viso e os demais esquemas (preenso, tato, etc.), os esquemas visuais esto mutuamente organizados e constituem totalidades melhor ou pior coordenadas. Mas o essencial [...] a coordenao dos esquemas visuais, no entre eles, mas com os outros esquemas. [...] Quando, por volta dos 7 a 8 meses de idade, a criana olha pela primeira vez para objetos desconhecidos, antes de agarr-los para os balanar, atirar e agarrar de novo, etc., j no procura olh-los por olhar (assimilao visual pura, na qual o objeto um simples alimento para o olhar) nem mesmo olh-los para ver (assimilao visual generalizadora ou recognitiva, na qual o objeto incorporado, sem mais, aos esquemas visuais j elaborados), mas olh-los agora para agir, quer

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Unidade Idizer, para assimilar o objeto novo aos esquemas de balano, de frico de queda, etc. Portanto, j no h apenas organizao no interior dos esquemas visuais, mas entre estes e todos os outros. essa organizao progressiva que confere aos quadros visuais seus signicados e os consolida, inserindo-os em um esquema total.

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Tendo em vista que o organismo somente capaz de assimilar aquilo que seus esquemas de assimilao conseguem 10 conhecer, os quais so construdos pela experincia passada, o conhecimento do real se d gradualmente. Por sua vez, como resultado da acomodao, o velho transformado em novo, no tendo, assim, saltos bruscos no desenvolvimento, o que quer dizer que elementos novos, 15 radicalmente bem diferentes no podem ser assimilados sem a estrutura de uma determinada etapa do desenvolvimento. Caso contrrio, o organismo sofreria alteraes drsticas. Esse procedimento, portanto, faz com que cada nova estrutura construa-se a partir de pequenas mudanas na estrutura j 20 existente. O desenvolvimento cognitivo realiza-se, portanto, por meio de um processo gradativo de avanos em direo a estruturas qualitativamente superiores.

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