Psicologia Infantil - Cursos 24 Horas · • Psicologia integral: integra os aspectos físicos,...

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Psicologia Infantil Módulo I Parabéns por participar de um curso dos Cursos 24 Horas. Você está investindo no seu futuro! Esperamos que este seja o começo de um grande sucesso em sua carreira. Desejamos boa sorte e bom estudo! Em caso de dúvidas, contate-nos pelo site www.Cursos24Horas.com.br Atenciosamente Equipe Cursos 24 Horas

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Módulo I

Parabéns por participar de um curso dos

Cursos 24 Horas.

Você está investindo no seu futuro!

Esperamos que este seja o começo de

um grande sucesso em sua carreira.

Desejamos boa sorte e bom estudo!

Em caso de dúvidas, contate-nos pelo

site

www.Cursos24Horas.com.br

Atenciosamente

Equipe Cursos 24 Horas

Sumário

Introdução..................................................................................................................... 3

Unidade 1 – Conceitos e Dados Históricos da Psicologia Infantil .................................. 5

1.1 – O que é psicologia? .......................................................................................... 5

1.2 – A psicologia da infância ................................................................................. 15

1.3 – História da saúde mental infantil..................................................................... 20

1.4 – A educação infantil e a psicologia................................................................... 25

Unidade 2 – Conceitos e Descobertas do Mundo Infantil............................................. 29

2.1 – Fundamentos do pensamento reichiano e suas contribuições na compreensão da

criança .................................................................................................................... 32

2.2 – Características da criança: viver o imediato, mudanças e descobertas ............. 33

2.3 – As mudanças das gerações ao longo da história .............................................. 43

Conclusão do Módulo I............................................................................................... 51

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Introdução

Olá!

Bem-vindo(a) ao curso de Psicologia Infantil.

Como sabemos, as crianças do século XXI apresentam características diferentes

das gerações anteriores. Normalmente, elas são mais agitadas, alegres, comunicativas e

passam a maior parte do tempo, conectadas à internet.

As mudanças que vêm acontecendo com essa nova geração são, de certa forma,

consideradas positivas, porém, os pais têm levado seus filhos cada vez mais cedo à

escola, fazendo com que adquiram responsabilidades precoces. Essa atitude se não for

bem administrada poderá gerar a essas crianças alguns dos chamados “transtornos

psicológicos infantis”.

Antigamente, esses problemas já eram conhecidos, porém, nas últimas décadas

eles se tornaram mais comuns. Não é difícil encontrar crianças com distúrbios

alimentares, ou seja, que comem demais ou que têm falta de apetite, crianças hiperativas

que não conseguem ficar quietas e fazem várias atividades ao mesmo tempo, ou ainda

crianças com dificuldade de se relacionar com as outras e que sofrem preconceito, entre

outros.

Porém, não existem muitas alternativas para solucionar esses problemas. Os

pais precisam buscar imediatamente um psicólogo infantil, que seja especializado e que

conheça a fundo os sintomas, bem como, o tratamento dos transtornos que acometem,

geralmente, as crianças.

Não há dúvidas de que o tratamento infantil é diferente daquele aplicado a um

adulto. As ferramentas utilizadas para diagnosticar uma criança são diferentes das

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usadas para os adolescentes e adultos, além disso, o tratamento é mais intenso, longo e

requer uma dedicação maior do profissional.

Além disso, como as crianças costumam apresentar sintomas semelhantes para

diferentes transtornos, o diagnóstico deve ser feito com cautela e precisão. O psicólogo

não pode confundir os sintomas de stress com hiperatividade e nem de depressão com

ansiedade, porque, mesmo que apresentem causas semelhantes, o tratamento é diferente

e se for mal feito, pode deixar sequelas por todas as fases da vida da criança.

Por isso, no decorrer deste curso mostraremos como é possível fazer o

diagnóstico correto de cada distúrbio infantil, discutiremos algumas formas de

tratamento e falaremos também sobre a importância dos pais e da escola para a eficácia

do tratamento. A partir de agora, você entenderá o porquê de tantos problemas infantis e

saberá como solucioná-los.

Bom curso!

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Unidade 1 – Conceitos e Dados Históricos da Psicologia

Infantil

Olá! Para iniciarmos o nosso estudo sobre psicologia infantil é preciso entender, primeiramente, o que é essa ciência e quais são seus principais conceitos e suas teorias. Por isso, nesta unidade, você entenderá o que é psicologia, quais são os ramos de estudo desta ciência e os contextos históricos que envolvem a criança e os mecanismos da mente. Além disso, vai entender também como é possível aliar o trabalho pedagógico ao trabalho psicológico e quais são os benefícios que essa fusão pode trazer para as crianças.

Bom estudo!

1.1 – O que é psicologia?

A palavra psicologia vem do grego psiché -

que significa alma e logia - que significa estudo,

determinando assim o estudo da alma. Com o passar

dos anos, passou a ser designada como ciência que

estuda o comportamento humano e animal, capaz de

analisar e diagnosticar desvios na razão, nos

sentimentos, nos pensamentos e nas ações de cada

indivíduo.

Por isso, a psicologia não estuda apenas a

mente, mas integra cada reação física, ou seja, o corpo

e a mente funcionam de forma conjunta e um pode causar efeitos sobre o outro. Esses

efeitos podem gerar distúrbios psicológicos e levar o sujeito a procurar um profissional

especializado na área, o psicólogo.

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O que o psicólogo faz? Esse profissional busca compreender o porquê de

determinados pensamentos ou comportamentos das pessoas que possuem problemas

psicológicos. Para fazer esse diagnóstico, o psicólogo irá utilizar ferramentas específicas

da área e alguns métodos, como: conversas, observações, análises de outros membros

do ciclo de relacionamento ou estudos do paciente aplicando algumas técnicas. Confira:

• Experiências: método que possibilita controlar o comportamento

estudado. Dessa forma, o profissional pode mudar determinados fatores e

observar o efeito que causa no paciente, buscando assim a melhor

resposta;

• Observação natural: é a análise do comportamento de qualquer ser, seja

ele humano ou animal em seu ambiente natural, como: casa, trabalho,

escola etc. Para que essa ação seja eficaz é necessário que a observação

seja feita detalhadamente;

• Relatos: essa técnica está diretamente ligada às informações passadas

pelo paciente, como ações e aflições, pensamentos e sentimentos do

presente e passado. Esse método é muito utilizado porque sua principal

ferramenta é a entrevista e pode ser realizada quando o método da

experiência não trouxer respostas positivas;

• Pesquisas: são utilizadas quando o objetivo é analisar o comportamento

de diversas pessoas que pertencem a um mesmo grupo. Esse método tem

como ferramenta entrevistas presenciais orais ou por meio de

questionário. A partir dessas informações, o psicólogo faz uma análise

estatística dos dados obtidos e pode traçar resultados para o

comportamento que foi diagnosticado.

Todos os métodos apresentados têm como objetivo buscar a saúde mental dos

indivíduos para que eles possam ser mais felizes e se relacionarem melhor com a

família, sociedade, pessoas ao seu redor, mas com eles mesmos.

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Muitas vezes, as pessoas que procuram o atendimento psicológico apresentam

outros problemas, tais como: doenças físicas, falta de vontade de frequentar a escola,

dificuldade de aprender, de se relacionar, entre outros. Por isso, os profissionais

precisam se integrar à medicina, à pedagogia, à sociologia etc, buscando assim

solucionar esses transtornos.

Por exemplo, o paciente pode apresentar doenças psicológicas, como depressão,

estresse, síndromes ou distúrbios alimentares devido a doenças no corpo, insatisfação

estética, doença grave, entre outros motivos. Com isso, o tratamento psicológico deve

estar alinhado ao tratamento físico para garantir resultados positivos em ambas as áreas.

Para que o tratamento psicológico seja eficaz, a psicologia possui ramos

específicos para cada problema, como:

• Psicopatologia: estuda o comportamento humano do qual é considerado

anormal ou incomum;

• Psicologia clínica: para aqueles que buscam melhorar o relacionamento

consigo e com o mundo;

• Psicologia comparada: é direcionada ao estudo do comportamento dos

animais;

• Psicologia no desenvolvimento: acompanha as mudanças de

comportamento nas diversas fases da vida humana, desde o nascimento até a

velhice;

• Psicologia educacional: é a aplicação da psicologia no ambiente escolar;

• Psicologia industrial: consiste na aplicação da psicologia no ambiente

industrial;

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• Psicologia fisiológica: não analisa somente o comportamento humano,

mas os mecanismos do sistema nervoso;

• Psicologia social: consiste no estudo do comportamento humano e as

relações interpessoais no estudo da linguagem, comunicação e opinião

pública;

• Psicologia esportiva: consiste na aplicação da psicologia no ambiente

esportivo;

• Sexologia: estuda o comportamento sexual dos indivíduos;

• Psicologia do trabalho: se dedica à avaliação e reestruturação das

atividades no ambiente de trabalho para minimizar ou resolver problemas

de relacionamento ou pessoais, como estresse, depressão etc;

• Psicologia corporal: estuda o funcionamento da mente e do corpo

simultaneamente, já que o corpo interfere no funcionamento da mente e a

mente interfere no comportamento do corpo;

• Psicologia forense: estuda o comportamento humano de pessoas que

cometem crimes, por isso, também chamada de psicologia judiciária ou

criminal;

• Psicologia integral: integra os aspectos físicos, mentais, espirituais e

emocionais do indivíduo para realizar o estudo.

A psicologia tem várias teorias ou linhas de pensamento que traçaram as

mudanças e evoluções históricas, portanto, são considerados norteadores importantes

para os profissionais da área. Podemos citar então:

• Behaviorismo;

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• Funcionalismo;

• Estruturalismo;

• Gestalt;

• Psicanálise;

• Humanismo;

• Psicologia analítica;

• Psicologia transpessoal.

O behaviorismo é uma teoria da psicologia que estuda o comportamento e tem

como origem a palavra inglesa behavior, que significa justamente conduta,

comportamento.

A partir dessa definição surgiram os teóricos positivistas, que tratam o

comportamento humano como mensurável, ou seja, capaz de ser observado e

controlado, como se fosse uma ciência exata baseado no mecanismo estímulo-resposta.

O psicólogo norte-americano John Broadus Watson é considerado o pai do

behaviorismo metodológico, já que foi um dos principais pesquisadores do ramo. Seu

interesse pelo assunto era tão grande, que chegou a publicar em 1913 o artigo intitulado

“Psicologia vista por um behaviorista”. No texto, Watson deixava claro que, para ele, a

psicologia era experimental e tinha como principal objetivo prever e controlar o

comportamento de todos os seres.

Esse conceito foi proposto por causa dos estudos realizados pelo médico russo

Ivan Pavlov, quando ganhou o Prêmio Nobel de Medicina ao provar que os cães não

salivavam apenas ao ver a comida, mas quando o cérebro associava som, gestos ou

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cheiros com a chegada do alimento, o que deixou claro a possibilidade de prever e

controlar a mente.

Com isso, muitos estudos começam a ser realizados. Surgiu então o

behaviorismo radical, que foi desenvolvido com base nas teorias filosóficas do século

XX, que tinha o psicólogo norte-americano Burruhs Skinner como o principal autor.

Sua teoria defendia a explicação de que o comportamento era uma consequência, ou

seja, a ação pode ser repetida, caso o indivíduo perceba que foi positiva.

Além desses modelos, existe o behaviorismo filosófico que afirmava que as

ações eram resultantes do estado mental do indivíduo e, por isso, deveriam ser

analisadas, principalmente as situações mentais de cada pessoa. Essa teoria foi baseada

nas ideias dos filósofos Gilbert Ryle e Ludwig Wittgenstein.

O Funcionalismo foi elaborado por William James, um dos mais importantes

psicólogos norte-americanos do século XIX. A teoria funcionalista se baseia nos

processos de funcionamento da mente, ou seja, a mente serviria para quê? Podendo ser:

• Computacional: começou a ser discutida na década de 1960, ela

afirmava que a mente apresenta influência da inteligência artificial, como

se o cérebro fosse uma máquina que processa informações;

• Psicofuncionalismo: explicava que o comportamento humano pode ser

entendido por meio do pensamento, sensações e vários outros

fenômenos, e não como uma máquina;

• Funcionalismo analítico: defendia a hipótese de que a mente pode ser

descrita de acordo com o comportamento de um indivíduo. Essa teoria

tinha como objetivo demonstrar que um efeito não pode ser definido em

termos químicos, biológicos ou psicológicos, mas deve ser definido nas

relações interpessoais e cotidianas.

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Já a teoria do Estruturalismo tem como principal teórico o psicólogo inglês

Edward Bradford Titchener, que afirmava que a consciência era composta por alguns

elementos de estruturação. Segundo o teórico, para descobrir quais são os elementos de

sua estrutura, era preciso analisar cada parte do sistema nervoso central.

A outra teoria é a Gestalt, palavra alemã originária da bíblia e que significa

figura, forma, aparência. O principal teórico foi o filósofo italiano Von Ehrenfels, que

afirmava que as partes de uma imagem nunca podiam proporcionar a compreensão real

da mensagem visual.

Observe as imagens a seguir. Elas formam duas figuras. A primeira mostra uma

paisagem com um homem e uma mulher segurando o bebê, porém, todos os elementos

juntos formam a imagem de um senhor. A segunda imagem é um cálice formado por

duas silhuetas da face humana:

Fonte: http://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2007/09/gestalt.png

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Fonte: http://design.blog.br/design-grafico/o-que-e-gestalt-2

Ao perceber que o cérebro consegue captar espontaneamente essas imagens,

foram elaboradas seis leis que regem essa ação de reconhecer objetos:

• Semelhança: os objetos parecidos tendem a permanecer juntos. Isso

significa que elementos que tenham cores, formas ou texturas

semelhantes se unem na percepção;

• Proximidade: partes muitas próximas em um determinado local são

percebidas como um grupo;

• Boa continuidade: alinhamento correto das formas;

• Pregnância: simplicidade natural da percepção, ou seja, o cérebro não

precisa de esforços para entender ou interpretar a imagem;

• Clausura: a figura deve ser feita com traços bem marcados;

• Experiência fechada: é preciso ter experiência para identificar a

imagem, ou seja, isso significa que o cálice na imagem acima só será

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identificado por pessoas que já viram um cálice anteriormente, seja em

livros, fotografias ou pessoalmente.

Outra teoria da psicologia é a Psicanálise que surgiu em 1890, e foi desenvolvida

pelo médico neurologista Sigmund Freud. Este método era realizado da seguinte forma:

em um sofá, confortavelmente acomodado, o indivíduo contava todos os seus sonhos,

medos, aflições, anseios, pensamentos e toda a sua história de vida, desde fatos que

ocorreram na infância.

A função do analista era ouvir o cliente, sem interromper ou demonstrar gestos

de julgamento para que, ao final do processo, pudesse fazê-lo se compreender melhor,

se controlar e se relacionar melhor com o mundo externo e interno. Essa forma de

análise surgiu quando Freud percebeu que a maior parte dos problemas dos seus

pacientes era resultante da não aceitação de alguns acontecimentos da vida, com isso, se

reprimiam e passavam a ser infelizes.

Já a psicologia Humanista ou Teoria do Humanismo surgiu na década de 1950,

mas começou a ser aprimorada na década de 1960. Os principais teóricos dessa corrente

eram os psicólogos norte-americanos Abraham Maslow e Carl Rogers. Maslow, por

exemplo, traçou etapas para que o homem alcançasse a realização pessoal.

Por isso, o psicólogo criou uma pirâmide, na qual colocou os níveis

indispensáveis para que o ser humano chegasse à satisfação completa. As pessoas que

seguiam corretamente cada etapa podiam ser chamadas de saudáveis. Veja abaixo a

Pirâmide de Maslow:

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Fonte: http://psiquehumanista.blogspot.com.br/

Carl Rogers seguiu a mesma linha de pesquisa de Maslow, mas focou em

indivíduos atarefados e perturbados. Porém, ele atribuiu às experiências acumuladas ao

longo da vida, como fatores determinantes para ajudar ou prejudicar a autorrealização

do indivíduo. Por isso, o foco dos psicólogos deveria ser a pessoa.

A teoria da Psicologia Analítica foi proposta pelo médico suíço Carl Jung e

defende a ideia de que a vida é uma luta constante entre forças antagônicas, ou seja,

opostas, gerando assim conflitos para que o indivíduo seja capaz de solucioná-los para

se desenvolver. Para representar o modelo proposto por Jung, ele também desenvolveu

a Estrutura da Psique, na qual o Ego do ser humano é o centro de tudo e pode sofrer

influência dos sentimentos, da intuição, da sensação e do pensamento. Como mostra a

figura abaixo:

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Fonte: http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=330 Para finalizar, a psicologia tem a teoria Transpessoal, que buscou compreender

os diferentes estados da consciência e a superação dos conflitos da mente, por meio do

inconsciente coletivo e não estava relacionada aos conceitos da ciência. As ferramentas

utilizadas pela psicologia transpessoal eram regressões ao que os profissionais chamam

de vidas passadas, levando assim a uma expansão temporal e espacial do consciente.

Esse tratamento tem como objetivo ajudar as pessoas a superar medos, fobias, aflições,

entre outros, em busca de uma vida melhor.

1.2 – A psicologia da infância

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Todas as fases humanas são importantes e repletas de transformações. As

experiências são levadas por toda a vida e garantem que o indivíduo forme sua

personalidade, descubra habilidades e medos, e que se aprimore ao longo de seu

desenvolvimento.

Porém, a infância é a fase da experimentação, do aprendizado e da

despreocupação. Este é um importante período para a formação do ser humano e

qualquer acontecimento traumático pode trazer consequências para as outras fases da

vida.

É na infância que a criança pode brincar, cantar, dançar e se divertir. Este é um

período ingênuo e inocente, marcado pela vivência e percepção do mundo por meio de

gestos, como: o olhar, o tocar, o saborear etc.

Podemos dividir as fases de uma pessoa da seguinte forma:

• Primeira infância: período entre o nascimento aos 3 anos;

• Segunda infância: período entre 3 aos 7 anos;

• Terceira infância: período entre os 7 aos 12 anos;

• Pré-adolescência: período entre os 12 aos 14 anos;

• Adolescência: período entre os 14 aos 18 anos;

• Juventude: período entre os 18 aos 29 anos;

• Adulta: período entre os 30 aos 40 anos;

• Maturidade: período entre os 40 aos 60 anos;

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• Idoso: 60 em diante.

Como já falamos, cada fase pode deixar consequências psíquicas para as fases

seguintes. Por isso, as três fases da infância são tão importantes e devem ser respeitadas.

As crianças precisam fazer atividades comuns, como conviver com outras crianças,

brincar, fazer exercícios que desenvolvam as habilidades motoras, assistir menos

televisão, frequentar uma escola que esteja de acordo com o seu período de

aprendizagem, aprender regras, ouvir histórias, alimentar-se e dormir corretamente.

Embora essas atividades pareçam comuns no dia a dia de toda criança, é preciso

lembrar que a sociedade do século XXI mudou. Os pais costumam trabalhar por longos

períodos e as crianças passam muito tempo com babás ou em escolas. Por isso, perdem

a oportunidade de passar mais tempo com a família, de brincar e de se divertir. Além

disso, pela falta de tempo com os filhos, os pais deixam de estabelecer regras, não

permitem que a criança durma o tempo adequado e, ainda, incentivam o uso excessivo

de televisão e de alimentos industrializados, considerados pouco nutritivos e muito

calóricos.

Essa atitude dos pais interfere no desenvolvimento das crianças e pode trazer

muitos problemas psicológicos, como stress, distúrbio alimentares, distúrbio do sono,

hiperatividade, dificuldades de relacionamento social, entre outros. Esses problemas,

geralmente, afetam as fases seguintes de desenvolvimento humano e podem piorar a

cada período da vida.

Para amenizar os sintomas desses distúrbios ou procurar a cura do problema,

existe a psicologia infantil, que é uma área da psicologia que estuda o desenvolvimento

da criança desde o útero da mãe até a adolescência. Mas como podemos descobrir

quando a criança precisa da ajuda de um psicólogo?

Muitas vezes, os pais, professores, familiares e todos que participam do

ambiente de convivência da criança, notam que ela tem comportamentos anormais e,

por isso, precisa de um psicólogo infantil. Porém, não procuram um profissional da área

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por acreditarem que a criança vá superar o problema sozinha, e que aquela atitude é

correspondente a essa fase da vida.

Em outros casos, os pais não buscam ajuda porque sabem que são responsáveis

por aquele comportamento e imaginam que, mudando atitudes em relação à forma de

educar ou de tratar a criança, podem resolver os problemas sem a ajuda de um

profissional.

Há ainda aquelas famílias que não têm informações suficientes e que ainda

confundem psicólogo com psiquiatra (médico que trata pessoas com altos graus de

distúrbios). Por isso, não procuram o psicólogo infantil por preconceito e por acharem

que a criança não apresenta nenhum problema grave.

É por essa atitude dos pais que muitos problemas comportamentais deixam de

ser estudados, acompanhados e tratados por profissionais especializados. Na verdade, a

maioria das crianças que faz algum tipo de terapia é indicada pela escola, quando

identificados os problemas de hiperatividade, como: falta de concentração,

agressividade e dificuldade de aprendizagem são notadas pelo professor,

comprometendo o desempenho escolar.

Porém, é preciso entender que nem toda a atitude deve ser tratada como um

distúrbio, anomalia ou problema comportamental. Muitas crianças costumam mudar de

comportamento por ciúmes de outra criança, por querer ganhar brinquedos novos ou por

não ter vontade de frequentar a escola.

Essas atitudes são, em alguns casos, passageiras e não configuram um distúrbio

que necessite de terapia. Mas, se o problema for frequente ou recorrente, os pais

precisam procurar a ajuda de um psicólogo, que poderá informar se a criança realmente

precisará ou não, passar por um período de tratamento. Em determinadas situações, o

psicólogo poderá fazer um tratamento rápido com a criança, podendo conversar apenas

com a família ou até mesmo dizer se existe a real necessidade da intervenção de um

profissional no caso.

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E como será essa intervenção profissional? Quando o psicólogo precisa tratar de

um adolescente ou adulto, ele utiliza o método de relatos, que consiste em um conversa

com o indivíduo que irá lhe passar sua vida, sua história e sua experiência. Porém, com

as crianças o método utilizado é o da observação. O tratamento consiste nas seguintes

etapas:

• O psicólogo deverá ter uma conversa com os pais e familiares próximos

da criança para entender sua história e tentar avaliar o porquê de

determinados comportamentos;

• A partir dessa conversa, o profissional poderá realizar seções de

brincadeira ou atividades artísticas para observar o comportamento da

criança;

• Em determinados momentos, é possível também fazer comentários e

conversar com criança sobre a atividade que ela realizou, como um

desenho ou uma brincadeira;

• Durante esse período de avaliação, o profissional deverá manter contato

com os pais e passar relatórios frequentes em relação ao progresso ou

mudanças da criança.

Os tratamentos psicológicos costumam trazer resultados positivos. Dependendo

da gravidade do caso, as consultas podem ser mais numerosas e longas, enquanto em

casos mais simples, as visitas ao consultório chegam a duas vezes por semana. Por isso,

para que o problema seja solucionado ou amenizado, o tratamento precisa ser seguido à

risca pelos pais. Só assim é possível garantir que a infância dê continuidade para outras

fases da vida, sem interrupções ou sequelas.

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1.3 – História da saúde mental infantil

A história da psicologia no Brasil, apesar de recente, demonstra grande

importância. Como mostramos anteriormente, os estudos sobre o comportamento

humano ficaram muito populares nos Estados Unidos e na Europa durante o século

XIX.

Porém, não foi neste período que surgiu a psicologia. Relatos históricos deixam

claro que essa ciência surgiu no século V, a.C., mas estava atrelada aos estudos de

filosofia. Os principais pensadores dessa ciência eram os filósofos gregos Tales,

Pitágoras, Heráclito e Parmênides que estudaram a mente e o aspecto racional do ser

humano nesta época.

No Brasil, os estudos relacionados à psicologia acompanharam os movimentos

que ocorrem no mundo. No final do século XIX surgiram vários estudos sobre o

comportamento e os processos da mente. Porém, os teóricos brasileiros desta fase

precisavam estudar em outros países. Na verdade, os interessados que eram

principalmente médicos, viajavam para o exterior com o objetivo de aprimorar os

conhecimentos sobre a mente humana.

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Esse quadro só mudou após a chegada da família real portuguesa ao Brasil, em

1808. Como grande parte da elite de Portugal passou a morar em solo brasileiro, o rei D.

João VI decidiu abrir a Universidade do Brasil, atualmente chamada de Universidade

Federal do Rio de Janeiro, que deu espaço à intelectualidade e, consequentemente,

propiciou a oportunidade de estudos para a psicologia.

Veja abaixo a foto da primeira universidade brasileira:

Fonte: http://www.ufpr.br/portalufpr/historico-2/

Com isso, os estudos sobre a psicologia se desenvolveram lentamente e os ramos

desta ciência eram quase inexistentes. A saúde mental infantil, por exemplo, só

começou a ser estudada no Brasil após a implantação da universidade no país. Mas o

estudo só foi intensificado após a criação de hospitais da área, como o Hospício D.

Pedro II, em 1852.

Para aqueles que acreditam que as crianças daquela época não precisavam de

ajuda psicológica, determinados autores relatam alguns acontecimentos corriqueiros no

período colonial. Podemos citar o autor Gilberto Freyre, que deixa claro que as crianças

trabalhavam como adultos e eram tratadas com muita violência. Como a religião que

predominava era a católica, muitos pais costumavam corrigir os filhos com castigos,

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palmatória e vara de marmelo que deixavam marcas pelo corpo e ainda interferiam no

comportamento das crianças que ficavam ainda mais agressivas, resultando em sérios

problemas emocionais.

Com poucos recursos, falta de médicos e de medicamentos, a mortalidade

infantil apresentava índices muito altos. Isso porque não existia tratamento adequado

para doenças, como sarampo, varíola, verminoses etc. Muitas crianças morriam sem

ajuda médica.

Para amenizar o sofrimento dos pais, que precisavam trabalhar e gerar riquezas,

os padres consolavam as famílias, por meio de uma lenda criada que dizia que as

crianças que morriam se tornavam anjos de Deus e iam para o céu. Por isso, a sociedade

da época não buscava respostas para essa mortalidade e tampouco tentava prevenir.

Esse quadro só começou a mudar a partir do século XIX, quando os médicos

começaram a fazer pesquisas capazes de explicar o motivo do alto índice de

mortalidade. Descobriu-se então, que as crianças se alimentavam e se vestiam de

maneira inadequada, tinham contato com as escravas portadoras de doenças e ainda não

tinham acesso a tratamentos de qualidade.

Após a realização dos estudos, os médicos perceberam que essa mortalidade era

resultado da estruturação da sociedade da época, porque as crianças não eram tratadas

como prioridade pelos pais. Na verdade, os pais alimentavam seus filhos com os restos

de comida, não educavam, não protegiam, não cuidavam e por causa disso, muitas

crianças sofriam mortes prematuras.

Na metade do século XIX, a ciência passou a priorizar a saúde infantil para

diminuir a mortalidade. Com a ajuda dos burgueses que tinham estudo no exterior, as

técnicas começaram a ser alteradas e foram baseadas em teses, pesquisas e em livros de

medicina da época.

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Essas mudanças foram importantes para mudar os hábitos da sociedade. A

medicina criou algumas ações para conscientizar as famílias em relação à gravidez, às

doenças, às medidas de prevenção etc. Além disso, o higienismo, movimento que surgiu

para defender a importância da saúde para as pessoas, determinou novas condutas e

comportamentos para a época. Esse movimento foi importante para esclarecer quais

atitudes prejudicavam as crianças. A partir daí, as famílias passaram a mudar os hábitos

em relação ao tratamento dos filhos.

Nesta fase, os pais aprenderam que as crianças não deveriam se alimentar como

adultos e nem ingerir alimentos fortes. Com isso, as famílias começaram a se preocupar

com os hábitos alimentares e com as condições físicas das crianças. Mas a questão

mental não foi descartada do processo. O higienismo se preocupava também com a

saúde mental e intelectual na fase da infância.

Durante o século XIX, o sexo era visto como algo pecaminoso, imoral e que

trazia consequências graves ao corpo. Crianças que sofriam de distúrbios cerebrais eram

apontadas como praticantes de masturbação, assim como os homossexuais. Para evitar

que as crianças sofressem com os distúrbios mentais ou se tornassem homossexuais,

campanhas para alertar o problema começaram a ser realizadas no Brasil e em alguns

países da Europa.

Para amenizar os efeitos desta campanha e que o boato fosse disseminado, os

higienistas começaram a fazer estudos relacionados à sexualidade na adolescência. Com

isso, o objetivo dos médicos praticantes desse movimento passou a ser o de “mudar os

hábitos da população no âmbito físico, moral, intelectual e sexual”. Por isso, não há

dúvidas de que a defesa à criança foi fundamental para mudar os hábitos da sociedade.

Mas a importância para os conceitos psiquiátricos na infância só foi dada

décadas depois, quando a medicina começou a se preocupar com o desenvolvimento

infantil. Até então, crianças que tinham doenças mentais eram tratadas nos mesmos

espaços que os adultos e não contavam com técnicas especializadas para a área.

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A situação só melhorou no final no século XIX, após a libertação dos escravos e

com a chegada dos imigrantes no Brasil. Foi nesta fase que surgiu o jardim de infância e

as creches. O primeiro hospital que criou uma ala dedicada somente às crianças com

problemas mentais foi o Hospital Psiquiátrico da Praia Vermelha, localizado no Rio de

Janeiro, em 1903.

Já em 1921, foi a vez do Hospital Juqueri, localizado em Franco da Rocha, em

São Paulo, que criou um pavilhão para atender as crianças. Em 1929, a psicóloga russa

Helena Antipoff ampliou o local com o Laboratório de Psicologia da Escola de

Aperfeiçoamento Pedagógico, para realizar pesquisas sobre o desenvolvimento mental

na infância. A partir deste trabalho, foi criado o Instituto Pestalozzi, que cuida de

crianças que possuem doenças mentais.

Outro instituto de psicologia dedicado às crianças foi realizado em Pernambuco.

Primeiramente, o trabalho era atender crianças com problemas mentais. A partir daí,

inúmeras técnicas foram desenvolvidas para aprimorar este tratamento. Como resultado,

em 1925 foi criado no estado, o Instituto de Psicologia que resultou na realização de

trabalhos e pesquisas importantes, ainda usadas como base para os profissionais de hoje

e em 1929, o instituto criou um setor para as crianças.

Iniciou-se então uma relação entre vários ramos do conhecimento, como

psiquiatria infantil, deficiência mental, psicologia e pedagogia. Com isso, muitos

estudos passaram a ser realizados com foco na criança. Já no século XX, foram

intensificados os processos para auxiliar a vida psíquica, por meio da análise dos

distúrbios de conduta infantil.

Por isso, o século passou a ser chamado de Século da Criança por muitos

teóricos da área. Além disso, com a popularização do higienismo e das transformações

sociais na Europa e nos Estados Unidos, a medicina brasileira começou a dar ênfase na

psiquiatria e psicologia infantil, o que deu início ao desenvolvimento desta área ainda na

década de 1920.

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1.4 – A educação infantil e a psicologia

Com a importância da criança nos séculos XX e XXI, os pesquisadores

precisavam desenvolver ferramentas capazes de minimizar a incidência de distúrbios ou

desvios comportamentais nas crianças. E uma delas foi a união da pedagogia com a

psicologia.

Dados históricos afirmam que a primeira iniciativa tomada ocorreu em 1903,

quando o Hospital Psiquiátrico da Praia Vermelha decidiu passar orientação pedagógica

aos pais em relação ao aprendizado das crianças. Já no Hospital Juqueri, além do

pavilhão criado para tratar as crianças, foi montada também uma escola em 1929, que se

dedicava à educação primária.

Com essa iniciativa houve o aprimoramento ao longo do tempo. As escolas

passaram a contar com um psicólogo e os professores precisaram ser capacitados para

garantir o desenvolvimento do aluno, para que conseguissem identificar

comportamentos considerados impróprios ou inadequados para cada fase.

Essa capacitação é importante para que os pais sejam alertados caso o filho

apresente dificuldade em aprender, ao se relacionar com os amigos, em brincar, ao fazer

as atividades propostas, em se alimentar, entre outros.

26

Porém, não é apenas o professor que se torna psicólogo. Na verdade, o psicólogo

que atua no ramo escolar também precisa se tornar um educador, agir como um

mediador do conhecimento, criar atividades educativas capazes de transformar o

comportamento das crianças, detectar e prevenir possíveis problemas futuros.

A partir daí, o psicólogo escolar pode desenvolver uma atividade que:

• Foque nas habilidades sociais de cada indivíduo como a comunicação,

por exemplo;

• Incentive o relacionamento interpessoal, como os trabalhos em grupo;

• Crie situações para desenvolver comportamentos adaptativos, que

observa se a criança é capaz de criar mecanismos para se organizar

independentemente da ocasião;

• Avalie o nível de independência e autonomia da criança;

• Trabalhe questões éticas, respeito e regras;

• Inclua a sexualidade.

Contudo, essas atividades não devem ser impostas ao aluno. O psicólogo precisa

entender que embora as crianças estejam em um processo de formação da

personalidade, elas possuem desde muito cedo preferências, gostos e medos, já tendo o

discernimento para fazerem ou não determinada atividade.

É claro que toda atitude da criança deve ser observada pelo psicólogo. Uma

criança que não se interessa em brincar em grupo, em ter amigos, em se relacionar com

outras crianças indica que precisa de ajuda para resolver algum transtorno psicológico.

27

Para que o profissional chegue a essa conclusão, ele precisa estimular o aluno a

participar das atividades, orientar, conversar e se tornar um companheiro capaz de

escutá-lo quando ele achar necessário. Dessa forma, o psicólogo consegue ajudar a

criança a se desenvolver de forma saudável, e ainda, contribui para que a escola se torne

um ambiente socializador.

Por que a realização dessas atividades é importante? Como muitas fobias,

distúrbios ou comportamentos se desenvolvem ainda na infância, por meio dessas

atividades o psicólogo pode diagnosticar o problema ainda no início, evitando sequelas

para outras fases da vida.

É importante lembrar que essa falta de acompanhamento e de supervisão na fase

infantil pode gerar não só transtornos futuros, mas na própria infância. Crianças que não

têm limites, que não respeitam regras ou o espaço das outras crianças, que não

conseguem ouvir respostas negativas, que são agressivas e individualistas são comuns

no século XXI.

Esse comportamento é resultado da ausência dos pais que passam mais tempo no

trabalho do que na companhia dos filhos e acabam dando mais liberdade a eles para

tentarem suprir essa carência. Porém, essa atitude tem gerado crianças com

comportamentos anormais e trazido sérias consequências. É comum, nos dias de hoje,

os pais perderem o controle dos filhos, ainda na fase da primeira infância. Por isso, caso

não existam formas para amenizar essa conduta, o problema se agrava a cada fase e na

adolescência pode ser até irreversível.

Justamente por esse motivo, podemos entender a importância do psicólogo na

escola. Na verdade, o seu papel não é apenas o de atuar nos processos pedagógicos, mas

entender os aspectos emocionais e sociais de cada indivíduo, já que esses refletem

diretamente no comportamento humano.

28

Em alguns casos, o psicólogo deve, além de analisar a criança, desenvolver

atividades com a família ou professores. Essa atividade pode ser realizada com a ajuda

de outros profissionais, como terapeutas educacionais, educadores, entre outros.

E quais são as atividades que os profissionais podem fazer para acompanhar o

desenvolvimento das crianças? As atividades lúdicas são as mais indicadas. Essas

atividades têm como principal objetivo divertir as crianças e podem ser brincadeiras,

como jogos ou brinquedos, mas que não estimulem a competição.

As características dessas atividades são:

• A naturalização da infância e da criança, ou seja, o profissional deve

deixar a criança brincar, se divertir e se comportar como criança;

• A homogeneização, ou seja, todas as atividades lúdicas são importantes e

devem ser tratadas da mesma forma. Porém, o jogo de faz de conta,

aquela brincadeira em que as crianças ocupam outro papel, como se

fossem atores é a mais indicada, porque estimula a imaginação, a

linguagem e o relacionamento com outras pessoas, por isso, contribuem

para o seu desenvolvimento;

• As relações entre crianças e adultos são importantes porque servem de

exemplo, e porque passam aspectos culturais. Com isso, as crianças

aprendem desde cedo novas brincadeiras, a fazer críticas e adquirem

novas experiências e conhecimentos.

29

Unidade 2 – Conceitos e descobertas do mundo infantil

Olá!

Para que a psicologia seja eficaz e traga resultados positivos às crianças, os

profissionais da área precisam buscar novas ferramentas, fazer estudos, pesquisas e

encontrar, nos teóricos de hoje ou do passado, respostas para os problemas das crianças.

Por isso, neste capítulo, trataremos de uma teoria muita discutida nos dias de

hoje, a teoria reichiana. Além disso, iremos mostrar que, mesmo que os conceitos dessa

importante teoria não estejam relacionados à infância, os profissionais da área podem

utilizar algumas ideias para aprimorar o tratamento das crianças.

Além disso, iremos discutir também, nesta unidade, as características das

crianças em cada fase da infância e ainda as mudanças de comportamento das gerações.

Bom estudo!

2.1 – Fundamentos do pensamento reichiano e suas contribuições na compreensão

da criança

30

O pensamento reichiano é uma teoria proposta pelo psicanalista Wilhelm Reich,

baseadas nas ideias de Sigmund Freud. Ela surgiu porque Reich, durante as terapias que

realizava com os seus pacientes, percebeu que o tratamento clínico nem sempre trazia

resultados positivos e, por isso, precisava de novas técnicas e de novas teorias.

A partir daí, começou a trabalhar de outras maneiras. Além de anotar as

informações dos pacientes, ele passou a analisar também a forma como a informação

era dita e a personalidade de cada indivíduo. Essa percepção era interessante porque os

psicanalistas davam os diagnósticos de uma forma racional, baseados apenas no que foi

dito pelo paciente, porém, não se atentavam à parte emocional.

Porém, Reich trabalhava da mesma forma que os outros analistas. O paciente

deveria estar bem acomodado e deitado, o analista se posicionava isolado e sem

interferir em seu depoimento. A mudança provocada por Reich foi a observação de cada

movimento corporal realizado pelo indivíduo. Com isso, ele percebeu que os gestos

eram reflexos da estrutura emocional do paciente.

Como funciona a terapia reichiana? Existem diversas linhas de estudo dessa

teoria, por isso, os psicanalistas que seguem os preceitos reichianos não trabalhavam da

mesma forma. Alguns profissionais focam na interpretação da comunicação, ou seja,

não se baseiam no que é propriamente dito, mas no que o paciente quis dizer. Em outros

casos, focam no movimento corporal, em cada gesto e englobam todas as informações

passadas pelos indivíduos.

A maioria dos profissionais que segue esta linha costuma focar na “couraça

muscular” ou “estrutura neurótica encouraçada”, denominação dada por Reich e que

foca apenas no movimento do corpo durante a psicanálise.

Mesmo que o trabalho seja completo e longo, as terapias que seguem a teoria

reichiana não trazem resultados mais rápidos e as avaliações nem sempre são

inquestionáveis ou corretas. Por isso, o profissional deve ficar atento e buscar emitir um

diagnóstico preciso.

31

Como muitos pacientes possuem estágios avançados de disfunções

comportamentais e mentais, o resultado do tratamento não deve ser demorado. O

profissional precisa avaliar em poucas seções de análise e buscar formas de amenizar o

problema, já que se trata de questões relacionadas à saúde e à qualidade de vida.

Embora os psicólogos costumem buscar atividades para mudar o comportamento

ou melhorar a capacidade mental das pessoas, eles realizam o tratamento em busca de

melhorias e transformações. Os psicanalistas que seguem a teoria reichiana buscam a

cura dos seus pacientes.

É por causa dessa diferença que os tratamentos costumam ser de médio a longo

prazo. Vale lembrar que, quem procura a ajuda de um psicanalista possui, geralmente,

disfunções mais graves, do que aqueles que procuram a ajuda psicológica. Por isso,

podem representar perigo para a própria vida e para a sociedade. A única solução para o

problema é a cura total do distúrbio.

A teoria reichina não precisa, necessariamente, ser aplicada em um consultório

de psicanálise. Os novos profissionais têm levado a percepção corporal para outros

ramos do estudo da mente. Atualmente, é possível utilizar os conceitos em terapia de

grupo, nas atividades realizadas em escolas e com pessoas de várias idades, inclusive

com as crianças.

É comum aos psicólogos do ramo escolar aplicarem atividades que estimulem a

conversa e a comunicação entre as crianças. Com isso, são capazes de interpretar não só

as informações passadas, como também seus gestos, seus movimentos corporais etc.

Vale lembrar que essa não é a forma correta de fazer a psicanálise reichiana,

porém, a teoria contribui para ajudar na resolução de alguns problemas na fase infantil e

para encontrar as soluções, evitando assim que o mal se torne uma doença.

Como muitas vezes, as crianças não ficam deitadas ou acomodadas, e não

conseguem transmitir os seus sentimentos, os seus medos e aflições, essa teoria pode ser

32

aplicada durante uma atividade lúdica, como na realização de trabalhos artísticos, por

exemplo. Dessa forma, o profissional pode conversar com o indivíduo e analisar o seu

comportamento.

Não há dúvidas que todos os processos realizados pelo profissional, desde as

informações passadas pelo paciente, os movimentos corporais notados, as síndromes ou

qualquer diagnóstico devem ser tratados de forma ética e em sigilo. Isso significa que

somente o analista deve ter acesso a essas informações, sem que se divulgue à família,

aos professores etc.

Em muitos casos, os psicólogos ou psicanalistas precisam fazer reuniões com os

pais, seções com a família, para passar os resultados evolutivos da criança, porém, cada

informação deve ser passada com cautela e o profissional deve administrar o que pode

ser comunicado e o que não deve ser repassado, porque existem informações que

prejudicam a criança no relacionamento familiar.

Como esse movimento surgiu no Brasil? Embora a técnica seja popular no Brasil

e em países ocidentais, sua história é recente. Foi na década de 1960 que os conceitos

desta teoria se alastraram pelo mundo e chegaram ao nosso país. Na verdade, eles foram

trazidos por um forte movimento histórico da época: a Contracultura, um movimento de

contestação, que queria acabar com a sociedade conservadora e a cultura imposta.

No início, não existiam cursos dedicados a esta teoria. Os profissionais da área

começaram a criar consultórios e a fazer análises reichianas, com base em livros ou

palestras que tratavam do assunto. A partir daí, os primeiros psicanalistas começaram a

ministrar cursos sobre o tema. O estado do Rio de Janeiro foi o que mais se adaptou ao

novo modelo de psicanálise.

Como o estudo de Reich focava na sexualidade, este teórico atribuiu a repressão

sexual como causadora dos problemas humanos. Por isso, com o tempo, muitos

profissionais foram alvos do preconceito e perderam pacientes. Ainda nos dias de hoje,

a teoria reichiana é considerada irresponsável e tem como marca essa ligação entre

33

mente e sexualidade. Com isso, não existiam no Brasil muitas instituições relacionadas

ao tema.

Porém, seus estudos aprimoraram o conceito de relação entre corpo e mente,

podendo ser aplicados também para a interferência comportamental de muitas pessoas.

Embora algumas técnicas não sejam apropriadas para crianças, justamente porque

focam na parte sexual, a terapia reichiana é um conceito fundamental para os

profissionais da área.

2.2 – Características da criança: viver o imediato, mudanças e descobertas

Para entender como tratar de uma criança, o psicólogo precisa entender como é a

sua evolução e seu desenvolvimento em cada fase da vida. Entender como as crianças

interagem umas com as outras, como se divertem e como aprendem, também facilita a

intervenção do profissional. Por isso, vamos apresentar como são os mecanismos de

evolução das crianças no período escolar.

Embora muitos pais tenham colocado os filhos ainda bebês em creches porque

precisam trabalhar, a idade correta para o ingresso dos filhos no ambiente escolar é a

34

partir da segunda infância, mais precisamente aos 4 anos de idade. Essa idade é indicada

porque a criança já sabe se comunicar, ir ao banheiro, comer sozinha, consegue se

relacionar sem a presença dos pais e já pode se desenvolver em relação ao aprendizado.

Por isso, a criança dessa idade tem como características:

• Muita imaginação;

• Pergunta o tempo todo sobre diversos assuntos;

• É observadora, egoísta e quer atenção;

• Apresenta dificuldade em aprender e não aceita levar broncas;

• É inquieta e fala sem pensar;

• Tem medo do escuro e se assusta com ruídos desconhecidos;

• Troca as atividades com frequência, por exemplo: deixa de brincar para

assistir televisão, para de almoçar para brincar com um amigo, entre

outras;

• Não tem habilidades para trabalhos manuais, mas gosta de desenhar e

pintar;

• Tem interesse por jogos e atividades que não necessitam de esforços

físicos.

Para que os pais, professores e psicólogos consigam realizar trabalhos com

crianças dessa idade, eles precisam ter primeiramente, paciência e bom humor.

Posteriormente, precisam motivar as atividades, não brigar ou reprimir e ajudar na

observação dos elementos que fazem parte da vida.

35

Proteção em excesso pode interferir no desenvolvimento e todos precisam ficar

atentos em relação à liberdade dada à criança. Nesta fase, a personalidade ainda está

sendo formada e os pais, professores e psicólogos precisam ficar atentos com as

opressões, com os castigos ou palavras ditas às crianças.

Aos 5 anos de idade, a criança já se acostumou com as rotinas. Por isso, não

relutam mais em ir à escola ou fazer qualquer atividade extra, como: esportes, visitar

casa de familiares etc. Além dessa mudança, a criança evolui e já apresenta os seguintes

aspectos:

• Pensa antes de falar;

• Já se acostumou com as responsabilidades, como: frequentar a escola,

comer sozinha, escovar os dentes etc;

• Gosta de imitar as outras pessoas;

• Toma determinadas atitudes para agradar o adulto;

• Cria histórias fantasiosas e mente com facilidade, mas na maioria das

vezes, consegue assumir que contou mentira;

• Tem pesadelos com frequência;

• Começa a ser obediente;

• O medo da escuridão e de ruídos desconhecidos ainda é presente;

• Na escola, começa a dar os primeiros passos no aprendizado normal,

aprendendo aos poucos, os números e o alfabeto;

• Começa a desenhar objetos ou pessoas;

36

• Já consegue realizar as atividades da escola sozinha;

• É comum que algumas crianças não compartilhem com a família as

atividades que realizam ou as amizades que possuem na escola;

• Consegue jogar determinados jogos sozinha e fica concentrada;

• Faz trabalhos em grupo e ajuda os colegas;

• Já pode começar a aprender um instrumento;

• A mãe é a pessoa mais importante para a criança e nesta fase, ela tem o

papel principal na educação dos filhos;

Para que os professores, pais e psicólogos consigam ajudar no desenvolvimento

dessas crianças, eles precisam ser sinceros e responder a todas as perguntas com a

verdade. Além disso, é importante que todos tentem reconhecer quais são as principais

características da personalidade e as habilidades da criança ainda nesta etapa.

A concentração é uma característica fundamental para que o aprendizado, não só

escolar, mas o obtido no dia a dia seja retido. Por isso, é função de todos criarem

atividades que estimulem a capacidade de concentração das crianças. O apoio e a

orientação também são fundamentais, o elogio é uma forma de motivar e aguçar ainda

mais a vontade nesta fase da vida.

Já a criança de 6 anos, que já está saindo da segunda infância, costuma saber de

tudo e gosta de fazer valer as suas vontades, por isso, é dominadora e agressiva. Com

isso, as principais características desta fase são:

• A criança costuma trapacear em jogos;

37

• Aceita as broncas com mais facilidade, mas gosta de receber elogios e

aprovação;

• Não gosta de receber ordem, mas acaba realizando a atividade;

• Possui dificuldade em tomar decisões;

• Pensa na quantidade, ou seja, quer muita coisa mesmo que não as use e

muitas vezes, se apropria do que pertence a outras pessoas;

• Não tem responsabilidade;

• Está em fase de adaptação na escola e em casa;

• Costuma manusear mais os objetos e explora muito o tato;

• A criança fica mais agitada e tem hábito de roer unhas;

• Gosta de ser o centro das atenções, a primeira e as mais querida;

• Exagera ao contar um determinado fato;

• O medo da escuridão é amenizado, mas sentir medo da chuva ou de

trovão ainda é normal;

• Já sabe o que é bom e o que é mau, o que é certo e o que é errado;

• Quer agradar o professor e, por isso, o ajuda;

• Ainda não está totalmente preparada para aprender a ler, escrever e fazer

conta;

38

• As habilidades artísticas, nesta fase, são mais aparentes. A criança

consegue fazer desenhos mais próximos da realidade;

• Na maioria dos casos, gosta de estudar.

A criança de 7 anos, que está entrando na terceira infância, é mais consciente e

costuma ser introvertida, ou seja, vive no seu próprio mundo. A distinção entre o bem o

mal e o certo e o errado se aprimora, passa a ter o hábito de pensar antes de falar ou de

tomar qualquer atitude. Ela tem vergonha de chorar em público e não consegue receber

críticas. Além dessas características, podemos citar:

• O comportamento da criança é mais calmo e ela aceita melhor receber

ordens;

• A criança costuma ter medo das novidades e mudanças;

• Nesta fase, a criança passa a se interessar mais pelo dinheiro e começa a

ter noções de economia;

• Costuma se cobrar em relação às atividades e quer terminar tudo com

muita rapidez;

• Quer chegar primeiro à escola e, em alguns casos, teme o fato de não

entregar o trabalho na data correta;

• A criança costuma concentrar os amigos na escola e quer atenção do

professor.

Lidar com crianças de 6 a 7 anos não é uma tarefa fácil. Muitas vezes, os pais ou

professores acabam aplicando castigos, mas não percebem que algumas atitudes são

passageiras e características desta fase de transição.

39

Na verdade, a atitude deve ser oposta, repleta de carinho e atenção tanto no

ambiente doméstico, como no ambiente escolar. Além disso, os pais podem começar a

designar tarefas aos filhos, como arrumar a casa, ajudar a fazer compras, pedir auxílio

em relação ao trabalho do pai ou da mãe.

É importante lembrar que essas atividades não devem ocupar muito tempo e nem

podem ser pesadas, das quais exijam esforço físico das crianças. Porém, elas são

fundamentais para estimular o senso de responsabilidade e de cooperação. Embora a

mãe ocupe um papel fundamental e seja muito importante no ambiente escolar, a

professora é quem ocupa esse espaço. Por isso, os educadores precisam transmitir

segurança para as crianças e ter estreita relação com os pais.

A criança de 8 anos já está com a personalidade mais desenvolvida e possui

características próprias, como: seus gestos, o estilo de roupa, de sapato, o cabelo, a

forma de expressar, entre outros. Além disso, algumas características são:

• A criança, nesta fase, quer fazer parte do mundo dos adultos;

• Está mais integrada à família;

• Vive da mesma forma que o grupo, ou seja, se veste como os amigos,

frequenta os mesmo lugares que as outras crianças, tenta fazer o mesmo

corte de cabelo, entre outros;

• Sofre com as discussões e brigas familiares.

Porém, as mudanças são ainda mais visíveis nas crianças de 9 anos. Como a

puberdade se aproxima, a maioria dos indivíduos costuma ser mais responsável,

passando a administrar o tempo e as tarefas sem ajuda dos pais ou professores, começa a

se planejar e a resolver os problemas sozinho. A personalidade já está quase formada

por completo e, por isso, a individualidade é uma característica comum entre as crianças

desta idade. Além disso, podemos citar:

40

• A criança cria um mundo imaginário e passa a acreditar nas fantasias que

compõem esse mundo;

• Costuma ser possessiva e egoísta, por isso, acumula ou coleciona objetos

e não compartilha com os amigos;

• Tem facilidade para justificar suas atitudes, mesmo que sejam incorretas;

• A criança gosta de ser recompensada, por exemplo, quando consegue

uma nota alta na escola. Gosta de ir ao shopping, ao cinema, ao parque

ou até mesmo ganhar um videogame, uma roupa nova etc.

Para que os pais e professores obtenham sucesso, eles precisam aceitar a

personalidade do filho ou do aluno. Além disso, precisam demonstrar à criança que são

confiáveis e seguros, interferindo assim, nas relações com os amigos. Nesta fase, o pai

tem grande destaque e desempenha papel de amigo e conselheiro.

Por isso, a ajuda é tão importante. Em todas as idades, as crianças precisam ser

estimuladas, incentivadas, ter carinho e atenção dos pais e professores. Para que isso

aconteça, fazer leituras ou escutá-las lendo, é uma atividade eficaz de interação entre o

adulto e a criança.

Aos 10 anos, a criança está a poucos passos da puberdade. Na maioria dos casos,

perde totalmente as características infantis em seu comportamento e se mostra feliz,

simpática, disposta a fazer mais amizades, responsável e tranquila. Um ponto

importante a ser observado é a independência, a vontade exagerada de presentear e

agradar as pessoas que a cercam.

Já na escola, o aprendizado é mais avançado e composto por um volume maior

de informações para que o aluno consiga memorizar, refletir e associar os conteúdos.

Porém, alguns problemas são comuns:

41

• A criança gosta de falar o tempo todo com os colegas e deixa a tarefa

escolar para segundo plano;

• Prefere fazer atividades descontraídas, como: ler, ouvir música ou

dançar;

• Não gosta de realizar trabalhos domésticos e, tampouco, fazer as lições

propostas pelo professor;

• Costuma inventar motivos para não ir à escola, caso seja alvo de alguma

discriminação.

Com o passar dos anos, a personalidade vai determinando sua formação. Por

isso, as características de uma criança que possui 11 anos está mais próxima do que ela

será quando adolescente e, posteriormente, como adulta. Geralmente, ela não gosta de

ficar sozinha, tem um senso crítico aguçado e é muito justa. Além disso, gosta de fazer

escolhas e tende a rejeitar tarefas impostas.

Nesta fase, os pais e professores precisam ter bom humor e serem animados para

conquistar a criança. A disciplina escolar preferida é a educação física, realizada ao ar

livre e que permite gastar energia, se relacionar com os amigos e se divertir. Para que o

professor seja aceito por crianças de 11 anos, ele precisa ser:

• Paciente;

• Engraçado;

• Compreensivo;

• Justo;

• Criativo;

42

• Calmo.

Aos 12 anos, a criança está saindo da infância e entrando na pré-adolescência.

Em alguns casos, essa transição pode ser mais lenta e, em outros casos, a criança sai da

infância para a puberdade mais cedo.

Mas essa transição não significa que as atitudes consideradas infantis vão deixar

de existir. Na verdade, existe uma mistura em relação a isso. As crianças costumam ter

atitudes maduras, consideradas à frente de sua idade, porém, podem se mostrar frágeis e

inseguras.

É comum a criança esconder os medos, evitar o choro e transparecer sentimentos

irreais, ou seja, demonstrar felicidade quando na verdade está triste. Em geral, costuma

ser sociável, companheira e ajuda os amigos.

Chamar uma pessoa de 12 anos de criança pode ser interpretado como um

insulto, por ela. Por isso, os pais e professores devem se referir como adolescente, já

que ela se vê madura. Além disso, é justa e leal.

Como algumas crianças se mostram mais maduras do que outras, a paixão pode

ser um sentimento novo e real. Por isso, muitas meninas passam a escrever um diário.

Além dessas características, podemos citar:

• A criança é impaciente e só se preocupa com os problemas escolares;

• É responsável e tenta resolver tudo sozinha;

• Administra bem o tempo e cuida dos seus objetos pessoais;

43

Para lidar com as crianças desta fase, os pais e professores precisam estimular o

interesse pela aprendizagem. Criar passeios ao ar livre e permitir acesso a filmes,

músicas e livros, isso é muito importante.

As meninas, em geral, precisam de mais atenção. Algumas têm a primeira

menstruação nesta fase e por não entenderem, acabam se fechando muito. Para amenizar

essa situação, os professores precisam abordar esse tema com os alunos e a mãe tem que

ficar atenta, conversar e estreitar ainda mais os laços de amizade com a filha.

Muitas crianças também começam a ter vergonha de tudo e não gostam que os

pais interfiram na relação com os amigos da escola. Por isso, os pais precisam

compreender que é apenas uma característica e respeitar, moderadamente, a vontade do

filho.

Além disso, permitir que as crianças façam atividades em grupo e vivam em um

ambiente amigável e alegre é importante para a formação da personalidade. Isso porque

essas atividades reforçam o respeito, a autoconfiança e o relacionamento em sociedade

que são fundamentais para a próxima fase da vida: a adolescência.

2.3 – As mudanças das gerações ao longo da história

44

Para saber lidar com as crianças de hoje, é preciso entender não só as

características específicas de cada idade, como compreender as principais características

de sua geração. Isso porque a tecnologia, a cultura e até mesmo a sociedade estão em

constante mudança, influenciando assim os hábitos ou a vida, até mesmo das crianças.

Para que seja possível identificar essas mudanças, vamos estudar as principais

características das últimas gerações. Esse estudo é importante para o psicólogo porque,

além de mostrar as características da atual geração, trata também das características dos

pais e familiares envolvidos na vida da criança.

Para iniciar o nosso estudo, vamos falar da geração “Baby Boomer”, nascida

entre as décadas de 1950 e 1960. Este termo foi criado porque, após a Segunda Guerra

Mundial, o índice de natalidade foi muito alto, uma explosão demográfica e por isso,

podemos chamar a geração de bebês da explosão.

A característica principal dessa geração é o entretenimento por meio da

televisão. No início, o aparelho ainda era novidade, mas em pouco tempo, boa parte das

residências já contavam com um televisor. As crianças e os jovens da época seguiam as

regras das programações. A televisão começou a ditar comportamentos, a informar e a

mobilizar. Era o principal veículo de comunicação para aquela geração.

Por meio da televisão, a sociedade alcançou muitas conquistas. Durante a década

de 1960, movimentos sociais ganharam o mundo e os jovens eram os mais dedicados. A

TV contribuiu para reforçar os movimentos ideológicos e ganhar novos seguidores. E

com essas manifestações as mulheres, os negros e os homossexuais passaram a

compartilhar os mesmos direitos.

Além de lutar pela igualdade entre as classes, os jovens queriam paz e amor, e

organizaram protestos contra as guerras da época. O festival de Woodstock (veja

imagem abaixo) foi um dos mais importantes da época. Realizado em 1969, na cidade

de Bethel, nos Estados Unidos. O evento contou com a participação de mais de trinta

músicos famosos e disseminou a contracultura e o movimento hippie.

45

Fonte: http://bellaonediarys.blogspot.com.br/2011/01/as-decadas-na-moda-anos-60.html

O Brasil não ficou de fora. Muitos festivais de música foram realizados como

forma de manifestação contra a ditadura da época. A televisão era o principal canal de

disseminação desses festivais.

Depois da geração “Baby Boomer”, surgiu a geração X, que contemplou aqueles

que nasceram durante a década de 1970. No início, essa geração foi chamada de “Baby

Bust”, que eram filhos dos “Baby Bommers”. Esse nome foi dado porque as famílias

que costumavam ser grandes, passaram a ter menos filhos.

Enquanto a outra geração era marcada pela televisão, a geração X foi marcada

pela popularização da TV e pelo início da internet. Estudos da época mostraram que as

principais características da geração X eram:

• Não acreditavam em Deus;

• Não respeitavam os pais;

46

• Não seguiam as doutrinas religiosas, por isso praticavam sexo antes do

casamento e muitas mulheres, na adolescência, engravidavam sem ter

compromisso com o parceiro;

• Mulheres passaram a chefiar as suas famílias;

• Não se interessavam por política;

• Divorciavam com facilidade.

Porém, nem todas as transformações foram negativas. Foi a geração X que

percebeu a importância do meio ambiente e começou a se preocupar com as questões

ecológicas. Foi durante esta fase que aconteceram muitos eventos para minimizar o

impacto ambiental. A principal delas foi a Conferência de Estocolmo, realizada em

1972, na Noruega e que discutiu ações que poderiam ser aplicadas pelos governos de

vários países, e por grandes corporações para a preservação do meio ambiente.

A foto abaixo ilustra Maurice Strong, à esquerda, um dos principais nomes da

Sustentabilidade no mundo e Ingemund Bengtsson, à direita, o presidente da

conferência.

Fonte: http://www.brasil.gov.br/sobre/meio-ambiente/iniciativas/acordos-globais/print

47

A geração Y é formada pelas pessoas que nasceram entre as décadas de 1980 e

1990. A principal característica dessa geração é a facilidade de se adaptar às

transformações tecnológicas.

Quando esta geração nasceu, o computador e a internet já existiam, mas eram

equipamentos raros nas residências brasileiras. Com o passar dos anos, no final da

década de 1990, esses aparelhos tecnológicos ficaram mais populares e muitas famílias

das classes mais altas da sociedade já contavam com os benefícios da tecnologia.

Mas as crianças e os jovens ainda não estavam acostumados com a novidade e

poucos sabiam usar corretamente os equipamentos. Embora cursos de informática

fossem comuns na época, o alto valor cobrado não permitia acessibilidade a todos os

cidadãos. Por isso, muitos jovens aprenderam a navegar na internet e a usar os softwares

sozinhos.

A partir daí, eles deram um passo importante e foram incluindo essas novas

tecnologias no cotidiano. Além da internet e do computador, a popularização do celular

pré-pago que permitia ao usuário pagar antecipadamente o valor que iria utilizar, pode

ser considerada outra adaptação às mudanças tecnológicas.

Durante a infância da geração Y o celular já existia, mas a linha, o aparelho e o

serviço eram muito caros e apenas pessoas da alta sociedade tinham acesso a ele.

Porém, a forma de pagamento antecipada permitiu que o celular fosse comprado por

qualquer pessoa, inclusive crianças e adolescentes.

De repente, o aparelho que não era utilizado com frequência tornou-se comum e

estava ao alcance de todos. A utilização desenfreada dos celulares fez com que a

sociedade inteira se tornasse refém da novidade e fosse obrigada a ter pelo menos um

telefone móvel.

Com o passar dos anos, a internet mudou o comportamento das pessoas. Ela se

tornou um veículo de comunicação capaz de informar em tempo real, além de ser uma

48

ferramenta de pesquisa utilizada para fazer trabalhos escolares. A internet é também um

canal de comunicação que permite que os jovens usuários conversem entre si, entre

outras utilizações.

Com tanta utilidade assim, não foi difícil compreender a dependência das

pessoas em relação à nova ferramenta. Além disso, algumas características mudaram

nesta geração, tais como:

• Geração mais crítica;

• Não aceitam explicações com facilidade;

• Tem menos preconceito;

• Mudam de opinião frequentemente;

• Interagem mais com os amigos virtuais do que com os amigos reais, por

causa disso, não costumam ser sociáveis;

• Conseguem realizar várias tarefas ao mesmo tempo;

• São bem informados;

• Não costumam demonstrar interesse nos problemas sociais e políticos.

Além disso, esta geração também é curiosa, costuma contribuir com os amigos,

tem facilidade em se comunicar e, ainda, tentam abrir o próprio negócio porque são

empreendedoras, corajosas, não se importam com o fracasso e sabem recomeçar.

A geração atual, ou seja, as crianças que nascem hoje pertencem à geração Z.

Esta geração teve início em 1994 e já estavam totalmente ligadas às novas tecnologias.

49

As pessoas desta geração não sabem o que é viver sem celular, internet e sem

comunicação.

Por isso, a dependência da tecnologia é muito comum entre pessoas desta idade.

Por mais que muitas gerações tenham sobrevivido sem a tecnologia, os jovens e

crianças Z não são capazes de viver um só dia sem os aparelhos eletrônicos. Desta

forma, é comum que eles troquem de celular e computador a cada lançamento e que

consumam as novidades tecnológicas como os tablets, por exemplo.

As características da geração Z são:

• Sempre querem aparelhos avançados e trocam de tecnologia com

frequência;

• Tem uma vida mais planejada, estruturada e conseguem realizar as

atividades com mais facilidade e agilidade, já que contam com a

tecnologia;

• Vivem mais no mundo virtual do que no mundo real;

• São individualistas;

• Não sabem se relacionar com as pessoas no mundo real;

• São impacientes e não conseguem assistir a um programa de televisão

por muito tempo;

• Não têm habilidades manuais;

• São hiperativos;

• Não costumam dar valor à cultura e nem às tradições familiares.

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A figura abaixo demonstra, resumidamente, como foi a evolução das gerações:

Fonte:

http://ernaniguaira.blogspot.com.br/2012/01/geracao-x-y-z-baby-boomers-guaira-sp.html?spref=bl

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Conclusão do Módulo I

Olá, aluno(a)!

Você está quase chegando ao fim da primeira etapa do nosso curso de psicologia infantil

oferecido pelos Cursos 24 horas.

Neste módulo abordamos diversos assuntos dentro da área de psicologia infantil. Vimos

quando surgiu a psicologia, a psicologia na infância, a educação infantil e a psicologia,

as mudanças das gerações, entre outros assuntos.

Para passar para o próximo módulo, você deverá realizar uma avaliação referente a este

módulo já estudado. A avaliação encontra-se em sua sala virtual. Fique tranquilo(a) e

faça sua avaliação quando se sentir preparado!

Desejamos um bom estudo, boa sorte e uma boa avaliação!

Até logo!