Psicomotricidade No Contexto Da Neuroaprendizagem

download Psicomotricidade No Contexto Da Neuroaprendizagem

of 5

Transcript of Psicomotricidade No Contexto Da Neuroaprendizagem

  • 8/19/2019 Psicomotricidade No Contexto Da Neuroaprendizagem

    1/9

  • 8/19/2019 Psicomotricidade No Contexto Da Neuroaprendizagem

    2/9

    PSICOMOTRICIDADE NO CONTEXTO DA  NEUROAPRENDIZAGEM: CONTRIBUIÇÕES  À   AÇÃO PSICOPEDAGÓGICA 

    Rev. Psicopedagogia 2015; 32(97): 84-92

    85

    Neuroaprendizagem como disciplina, não só nesse curso, como tambémem licenciaturas e especializações voltadas à Educação.

    UNITERMOS: Desenvolvimento motor; Aprendizagem. Psicomotricidade;Psicopedagogia. Neuroaprendizagem. Dificuldades de aprendizagem.

    INTRODUÇÃOO que caracteriza o ato de aprender, do ponto

    de vista da fisiologia, comportamento e emoçõesdo indivíduo?

     A aprendizagem é processo que se experimen-ta sempre que chega ao Sistema Nervoso Central

    (SNC) uma informação nova, gerando algumamudança e tem início a partir da terceira semanade gestação1.

     Após o nascimento, o desenvolvimento cogni-tivo continua vinculado à genética, às influênciasdo meio e às ações do indivíduo. A combinaçãode maturação do sistema nervoso e de respostasmotoras às necessidades de adaptação promoveevolução e define sua capacidade de aprender 2. 

    Inicialmente, o bebê desenvolve ações refle-xas, que se organizam conforme orientação céfalo-

    caudal (de cima para baixo) e próximo-distal (docentro para os extremos). Nos quatro primeirosmeses de vida, ele aprende a controlar os múscu-los oculomotores. Entre o terceiro e quinto mês,controla músculos que lhe permitem equilibrara cabeça e, a partir dos cinco até dez meses, obebê terá maior controle dos músculos do tronco,o que permitirá enfrentar o desafio de se por empé e caminhar. Aos poucos, se desenvolvem: força,destreza e autonomia nos movimentos2,3.

    O aprendizado também pode ser entendido

    como mudança estrutural do SNC, em função deprocessos bioquímicos. Para Gazzaniga e Hea-therton4, tem-se aprendizagem como “mudan-ça duradoura de comportamento resultante daexperiência”5.

     Ajuriaguerra6, analisando esse processo ini-cial do neurodesenvolvimento, considerou havertrês etapas distintas. Na primeira, organiza-sea tonicidade de fundo (basal), base da ação mo-tora, da capacidade proprioceptiva. Segue-seum período de construção gradual de ações

    voluntárias que se traduzem em movimentoscom tendências mais harmônicas, promovendomaior integração cinestésica, ou seja, em queo bebê aumenta a consciência em relação aosmovimentos e não somente ao próprio corpo. Fi-nalmente, tonicidade e movimento integram-se

    de forma automatizada e em conformidade comas necessidades do sujeito para melhor relaçãocom o meio.

    Esse primeiro ano do indivíduo é, em grandemedida, definidor de seu potencial futuro paraa aprendizagem. Nos anos seguintes, até quese completem seis, o desenvolvimento progres-sivo de habilidades psicomotoras lhe permitirátrabalhar com representações do mundo e assimestará pronto para dar início ao processo de al-fabetização formal.

    Dessa visão geral inicial, resulta clara a im-portância da educação psicomotora, desde aeducação infantil e nas séries iniciais, até que oprocesso de alfabetização e introdução ao racio-cínio lógico-matemático se complete.

    Esta revisão bibliográfica visa investigar aconstrução dos conceitos de aprendizagem, neu-roaprendizagem e desenvolvimento psicomotor;compreender a relação entre dificuldades deaprendizagem e comprometimento psicomotor;analisar achados de pesquisas de campo recen-

    tes, voltadas a esses temas, bem como propostasde ações psicopedagógicas possíveis, tanto naprevenção quanto na superação das dificuldadesde aprendizagem e de transtornos de aprendi-zagem já instalados.

    MÉTODORevisão de literatura, baseada na pesquisa de

    autores consagrados da área da Neurociência,como Ajuriaguerra, Gazzaniga e Luria, entreoutros, artigos e teses publicados nas bases de

  • 8/19/2019 Psicomotricidade No Contexto Da Neuroaprendizagem

    3/9

    MORAES S & M ALUF MFM

    Rev. Psicopedagogia 2015; 32(97): 84-92

    86

    dados: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Lilacs,SciELO e Google Academics.

    Foram utilizados os seguintes critérios de ex-clusão de artigos: artigos repetidos nas bases dedados, artigos sem resumo, cartas aos editores, eartigos que não retornassem o assunto da busca.Foram incluídos aqueles publicados em inglês,espanhol e português e divulgados nos últimosdez anos.

    Para obtenção dos resultados, usaram-se osdescritores: Psicopedagogia; Psicopedagogia eNeuroaprendizagem, bem como os seguintes cru-zamentos: Psicomotricidade & Neuroaprendiza-

    gem; Psicopedagogia & Neuroaprendizagem.

    RESULTADOS E DISCUSSÃO A Tabela 1 sintetiza o número de referências

    recuperadas nas bases de dados pesquisadas.O resgate das referências teóricas que ilumi-

    nam a compreensão do conceito aprendizagemnão deixa dúvidas sobre a importância do de-senvolvimento adequado do SNC no sucesso dodesenvolvimento cognitivo e da aprendizagem,em qualquer instância1,2.

    O desenvolvimento neurológico evolutivoadequado do SNC pressupõe um conjunto deetapas relacionadas não só à herança genética,mas também à maturação das estruturas anatô-micas que o compõem, interações com o meio– físico e social –, além das peculiaridades dosujeito, manifestas por suas respostas aos estí-mulos que recebe3,7.

     Assim, quando se fala do desenvolvimento doSNC, refere-se em processo que se inicia na ter-ceira semana de gestação1 e se estende até cerca

    de seis anos6, que é justamente a época em que acriança está sendo inserida na educação formal,

    época em que se define também seu potencialpara o processo de aprendizagem.

    Thompson3 resume as habilidades que deri-vam do desenvolvimento psicomotor: localização;comparação entre objetos e pessoas; distância,memória espacial; previsão; antecipação, trans-posição, simetria; oposição; inversão e progres-sões de tamanho e quantidade. No conjunto,elas permitem a construção de representaçõessobre o mundo e a consolidação de conceitoslógico-matemáticos.

    Luria7, contudo, é responsável pela fundamen-tação teórica que explica e apresenta as unida-

    des corticais e subcorticais que constituem astrês unidades funcionais do SNC responsáveispelo diferencial do cérebro humano, que é ca-paz de pensar sobre o mundo que o cerca e terconsciência de si.

    Mas é na obra de Fonseca8 que se pode en-contrar de forma bastante detalhada a relaçãoexistente entre fatores psicomotores e unidadesfuncionais, bem como a relação direta que guar-dam com o desenvolvimento cognitivo e eficiênciana aprendizagem. Convencido da importânciadessas descobertas, ele criou a Bateria de Ava-liação Psicomotora (BPM), utilizada na aferiçãodessas habilidades para fins de diagnóstico e ela-boração de plano terapêutico de intervenção quepossibilite a recuperação, em caso de disfunção.

      Em suma, a BPM procura analisar quali-tativamente a disfunção psicomotora ou aintegridade psicomotora que caracterizaa aprendizagem da criança, tentandoatingir uma compreensão aproximada domodo como trabalha o cérebro e, simul-taneamente, dos mecanismos que consti-

    tuem a base dos processos mentais dapsicomotricidade8.

    Tabela 1 – Número de referências recuperadas de acordo com a base de dados pesquisada.

    BVS Google Lilacs SciELO

    Psicomotricidade 39 187 28 7

    Psicopedagogia 94 129 74 21

    Psicopedagogia e neuroaprendizagem 0 135 0 0

    Psicomotricidade e neuroaprendizagem 0 3 0 0

  • 8/19/2019 Psicomotricidade No Contexto Da Neuroaprendizagem

    4/9

    PSICOMOTRICIDADE NO CONTEXTO DA  NEUROAPRENDIZAGEM: CONTRIBUIÇÕES  À   AÇÃO PSICOPEDAGÓGICA 

    Rev. Psicopedagogia 2015; 32(97): 84-92

    87

    Ora a intervenção em caso de dificuldades deaprendizagem tem sido objeto da Psicopeda-

    gogia, como destaca Pain9, para quem, a açãopsicopedagógica é vista como combinação deprocedimentos que partem de aspectos psíqui-cos, com o objetivo de evitar e/ou auxiliar o pa-ciente a superar o fracasso escolar. Identificandoperturbações existentes em seu processo deaprendizagem, o psicopedagogo pode promovera continuidade do desenvolvimento cognitivo,partindo de suas condições e habilidades e su-perando ou contornando do modo mais eficientesuas fragilidades.

    Essa afirmação é corroborada pelo pensa-mento de pesquisadores que enfatizam a com-plexidade e a característica dinâmica dos pro-cessos cognitivos1,5.

    Chedid10 aposta na Neurociência como par-ceira que ao esclarecer, por exemplo, o funcio-namento das funções executivas, pode auxiliarna construção de fundamentos teóricos queiluminem práticas mais efetivas no terreno daeducação.

    Nesse sentido, o trabalho de Carida & Men-

    des11

      destaca a importância de, por meio dasNeurociências, conhecer a cicuitaria que subjazà aprendizagem da linguagem falada e escrita,o que beneficia o diagnóstico e a intervençãoprecoces em casos de risco de dislexia.

    Rocha12, em estudo também recente, vale-sedos avanços da Neurociência, através de acha-dos em exames de neuroimagem, para afirmaras múltiplas possibilidades de recuperação dehabilidades cognitivas, através da ação psicope-dagógica, mesmo quando o SNC já esteja ple-

    namente desenvolvido, caso da educação de jovens e adultos. Já o trabalho de Vieira13 revela uma das ma-

    zelas de todo esse cenário, que é do avanço tí-mido em ações pedagógicas e interferência nocenário atual, principalmente no caso do cená-rio da educação no Brasil. Ou seja, o aparatoteórico desenvolvido até aqui tem chamado osprofissionais das diversas áreas à reflexão, masgerado poucas ações concretas, que permitammudanças significativas em um cenário bastante

    desolador da formação escolar no País. Para ele, ainserção da Neurociência no currículo das facul-

    dades voltadas às práticas relacionadas à Educa-ção é uma exigência que tarda em ser atendida.

     Ao final, a seleção bibliográfica analisada de-monstrou a demanda existente e as possibili-dades amplas de ação multidisciplinar entre aPsicomotricidade, Psicopedagogia e Neurociên-cias, não apenas para auxiliar o diagnóstico deproblemas de aprendizagem, como também emsua prevenção e ainda na intervenção com vistasà sua superação.

    Borghi & Pantano14 vão além e ressaltam o

    papel profilático que a aplicação de atividadespsicomotoras e a estimulação eficiente e dirigidapode representar nas fases iniciais de desenvol-vimento cognitivo, ou seja, na educação infantile séries iniciais do fundamental.

     A sugestão de modificação no conteúdo curri-cular das séries iniciais, inserindo nas atividadesregulares, aplicadas por professores da turma,exercícios psicomotores é feita por Ribeiro15, quedefende também a presença regular do psicope-dagogo nas unidades escolares, para atuar como

    orientador das práticas dos educadores. 

    Essas preocupações se justificam. É o que sededuz pelas pesquisas de Fávero & Calsa16, queconstataram a relação direta entre problemaspsicomotores e disgrafia em crianças da 3a sériedo Ensino Fundamental, remediados e mesmosuperados com atividades que promoveram essashabilidades. As crianças julgadas aptas em habi-lidades psicomotoras, ao contrário, alcançavambom desempenho escolar. Na mesma linha dereflexão, estudo do mesmo ano, promovido por

    Ferreira et al.17

     comprovou a ausência de condi-ções psicomotoras para iniciar o ensino da lingua-gem (leitura e escrita) em crianças da 3a série doEnsino Fundamental de escola da rede municipalde Mairinque (SP, Brasil). Em Santa Catarina, àmesma conclusão chegaram Silva et al.18.

    O trabalho de Capellini et al.19 ocupou-se depesquisa sobre os efeitos das disfunções decoordenação motora fina em alunos do EnsinoFundamental, constatando influência direta nosurgimento de casos de dificuldades de aprendi-

  • 8/19/2019 Psicomotricidade No Contexto Da Neuroaprendizagem

    5/9

    MORAES S & M ALUF MFM

    Rev. Psicopedagogia 2015; 32(97): 84-92

    88

    zagem relacionadas à linguagem, incluindo-se adislexia. Demonstrou-se, também, quão benéfica

    pode ser a intervenção precoce quando se cons-tatam casos de risco.

    O trabalho de Kolyniak Filho20 demonstra ainfluência da atividade física dirigida, dentro docurrículo regular das séries de Ensino Funda-mental, desde que orientada pelas descobertasda Neurociência, mas também registra a inérciaque impede transformações substanciais naspráticas educativas vigentes no âmbito educacio-nal do País.

    Caso excepcionalmente significativo foi re-

    gistrado no trabalho de Oliveira et al.21, que de-monstraram a eficiência e o benefício incompa-rável que a ação multidisciplinar, incluindo otrabalho psicomotor, pode promover para evitardanos a prematuros extremos, a partir do diagnós-tico precoce e da intervenção por profissionaisqualificados.

     As pesquisas demonstram que a existênciade disciplinas próximas à Neurociência e desen-volvimento psicomotor em especializaçõesoferecidas atualmente não tem representado

    melhora na reflexão e muito menos nas práticaseducativas. Constata-se que os profissionais quefrequentam esses cursos não dominam conceitosbásicos e princípios do neurodesenvolvimentoque permitiriam iluminar suas práticas. Isso sedeve, em parte, na opinião dos pesquisadores,ao planejamento equivocado dos conteúdosapresentados.

     Ao final, vale mencionar que o descritor Neu-roaprendizagem, isoladamente, não trouxe re-sultados, ou seja, a área parece não ser “reconhe-

    cida” na classificação dos artigos. Do mesmomodo, ao tentar cruzar Neuroaprendizagem ePsicopedagogia, como também associar Neu-roaprendizagem e Psicomotricidade, somente osite do Google Acadêmico trouxe lista de artigos.

    No entanto, os artigos encontrados tambémestavam disponíveis nos outras bases de dadosconsultadas, ou seja, Lilacs, BVS e SciELO, apesarde não serem encontrados com os descri tores uti-lizados. Essa falha pode ser sinal da dificuldadeem uniformizar o uso de alguns novos conceitos,

    principalmente o de Neuroaprendizagem, quepara alguns acadêmicos ainda não se constituiu

    como área de conhecimento reconhecida, comobjeto próprio.

    CONSIDERAÇÕES FINAIS A proposta de refletir sobre como se dá o

    processo de aprendizagem, a partir de revisãobibliográfica, com enfoque nos recortes da Psi-comotricidade, Psicopedagogia e Neuroapren-dizagem e suas interrelações foi levada a termo.

    Como resultado de pesquisas em Neurope-diatria e Neurociências, tem-se que o SNC é

    a central que viabiliza a aprendizagem e seudesenvolvimento. A partir do período gestacio-nal1,2,3,6, essa central alcança seu maior potencialneurobiológico por volta de doze anos, quandoas unidades funcionais descritas por Luria7 fina-lizam sua estruturação. Com as Neurociências,aprofundou-se o conhecimento sobre a circuitariaresponsável pelas distintas formas de apreensãodo mundo e aprendizagem efetiva, que permiteao indivíduo interagir nele.

    Farta bibliografia encontrada sobre desenvol-

    vimento neuromotor serviu como base para cons-truir o caminho e chegar à melhor compreensãosobre as especificidades da Psicomotricidade esuas contribuições ao processo de aprendizagem5.

     A complexidade e a dinâmica intensa queorienta a formação e o funcionamento neuropsi-comotor, que distingue o ser humano de outrasespécies, resultou clara, da mesma forma queseu papel fundamental no desenvolvimentocognitivo3.

    É a evolução psicomotora que permite ao in-

    divíduo construir conhecimento sobre o mundo,sobre si mesmo e o que lhe permite agir de formaprogramada sobre ele. Num estágio posterior, oindivíduo se torna capaz de criar representaçõessobre esse mundo e sobre o conhecimento queacumulou, qualificado-se para o desenvolvimen-to da linguagem7.

    Confirma-se, assim, que a eficiência neuropsi-comotora define em grande medida o potencialde aprendizagem do sujeito, contribuindo paraseu sucesso ou fracasso escolar. Essa era uma das

  • 8/19/2019 Psicomotricidade No Contexto Da Neuroaprendizagem

    6/9

    PSICOMOTRICIDADE NO CONTEXTO DA  NEUROAPRENDIZAGEM: CONTRIBUIÇÕES  À   AÇÃO PSICOPEDAGÓGICA 

    Rev. Psicopedagogia 2015; 32(97): 84-92

    89

    percepções iniciais que orientaram e motivaramessa pesquisa8.

    Fica claro, também, que há expectativa deque uma relação transdisciplinar efetiva comas Neurociências e a Psicomotricidade permi-ta enriquecimento das práticas educativas noprazo mais curto possível10,13,22,23, pois o cenáriode fracasso escolar tem se expandido e geradodesânimo e frustração entre seus profissionais.É o caso da relação com a Psicomotricidade.

    Outra conclusão incontestável e também re-veladora refere-se à fragilidade da formação deprofessores e de profissionais da Educação que

    estão no mercado e/ou ingressando nele. A elesfalta, muitas vezes, conhecimento de base quelhes permitiria identificar – de forma precoce,quando fosse o caso –, carências ou dificuldadesem seus alunos, as quais poderiam ser sanadas,muitas vezes, em parcerias profissionais13,18,24,25.

    O conhecimento sobre aprendizagem temavançado e permitido que a identificação dasdiferentes causas de dificuldades de aprendi-zagem, bem como compreensão de suas basesbiológicas, auxiliem no tratamento das manifes-

    tações de dificuldades e mesmo no tratamentode transtornos nesse processo.Reconhecer que o SNC é responsável pelo

    processo de aprendizagem e que se desenvolvecom maior eficiência quanto melhor sejam asbases biológicas tem auxiliado a implementaçãode práticas na área de Saúde que zelam pela ges-tação responsável, incluindo exames – ultrasso-nografia morfológica, aminiocentese e biópsia dovilo corial, entre outros – que contribuem para odiagnóstico precoce de síndromes e malforma-

    ções do tubo neural ou neurológicas. De modosemelhante, a consciência de que é na interaçãocom o meio social e afetivo que o indivíduo avan-ça no processo de aprender sobre o mundo equalifica-se para atuar nele de forma planejadae eficiente, aumenta a responsabilidade dos queatuam como educadores – pais e profissionais.

     Ações eficientes que promovam melhor de-sempenho da criança em sua trajetória de apren-diz estão ao alcance da família e das instituiçõesde ensino e o Estado tem como influenciar positi-

    vamente, revendo não só a política para a Saúde,como também a de Educação.

     A atualização nessas áreas pode ser promovi-da com a exigiência de qualificação por parte dosprofissionais nela atuantes, mas também pelaoferta de cursos que levem em conta os avançosda Neurociência e da Psicomotricidade, con-forme apresentado nesta pesquisa. Medidascomo essa podem, no médio prazo, transformarvidas, evitando o fracasso escolar, contornandoas dificuldades e promovendo a felicidade e aintegração social plena da clientela ampla darede de ensino.

    Os resultados deste trabalho permitem tam-bém demonstrar que essa preocupação deve tercomo alvo prioritário a atualização de educado-res de creche e professores que atuam no nívelfundamental básico – 1o ao 5o ano – época defini-dora dos rumos da produção escolar. Ao Estadocaberia zelar prioritariamente pela atualizaçãodos professores da rede pública, mas tambémincorporar na política educacional nacional asconquistas das Neurociências.

    Se esse for o encaminhamento, a revisão da

    grade curricular dos cursos de Pedagogia, espe-cialização em Psicologia Escolar, em Psicope-dagogia, permitirá, no futuro, a consolidação deformas mais eficientes de educar e promover aalfabetização e desenvolvimento das áreas deraciocínio lógico-matemático dos menores.

    Um novo olhar dos profissionais da área po-dem permitir ainda a revisão e alteração do pla-nejamento curricular e dos conteúdos a seremministrados pelos professores, que respeitem, porexemplo, o processo de maturação neuromotora,

    para que o risco de dificuldades e prejuízos naaprendizagem se reduzam e que se possa prevenira instalação dos transtornos, mesmo quando hajabase biológica para isso.

    Entende-se que essa preocupação deveriaestar presente nos profissionais da Educação, con-frontados todos os dias pelo aumento continuadodos casos de dificuldades de aprendizagem, diag-nósticos de transtornos e mesmo evasão escolar.

    Na área de Psicopedagogia, bons resultadosde integração com a Psicomotricidade foram en-

  • 8/19/2019 Psicomotricidade No Contexto Da Neuroaprendizagem

    7/9

    MORAES S & M ALUF MFM

    Rev. Psicopedagogia 2015; 32(97): 84-92

    90

    contrados e apresentados aqui, mas predominao distanciamento e talvez uma idealização im-

    produtiva quanto à evolução e aplicabilidade daparceria entre Psicopedagogia e Neuroaprendi-zagem. Já no âmbito institucional observa-se quetem aumentado a percepção do espaço positivoque o psicopedagogo pode desempenhar aoatuar junto ao corpo docente, com o objetivo decontribuir com ações profiláticas que possamprevenir e não apenas remediar prejuízos naaprendizagem que muitas vezes conduzem aofracasso escolar.

    É possível afirmar, ao final, que as Neurociên-

    cias têm contribuído com a Educação, que se en-riqueceu com novas abordagens, sem abandonaros referenciais teóricos que até aqui orientarama compreensão do desenvolvimento cognitivo eas práticas educativas ainda vigentes.

    Mais que isso, o avanço nas parcerias disci-plinares trouxe um novo olhar também às prá-ticas profissionais do psicopedagogo, que podedesempenhar papel pró-ativo tanto nos níveisinstitucional – trabalhando com profissionais daEducação e formadores para que despertem para

    observação, por exemplo, de falhas psicomoto-ras – como no clínico, atendendo aos alunos que

    se encontrem em situação de risco de fracassoescolar. Parcerias efetivas com fonoaudiólogos,

    psicólogos, pedagogos e professores têm-se cons-truído, mediadas pelas Neurociências e parecemtornar-se mais promissoras.

     A ação combinada entre profissionais de Saúdee Educação, que permite o diagnóstico e a in-tervenção precoces, foi exemplarmente demons-trada na pesquisa de Oliveira et al.20 em que aidentificação de risco ao desenvolvimento dalinguagem foi identificada aos dezessete mesesde vida do bebê, e a intervenção trouxe resulta-dos positivos que permitiram a recuperação do

    potencial de aprendizagem após seis meses detrabalho.

    Contribuir para o desenvolvimento cognitivoharmônico é investir no sucesso do processo deaprendizagem e da trajetória escolar. Mais queisso é contribuir para a felicidade do sujeito. Esseobjetivo pode ser alcançado, mesmo quandose trata de indivíduos com necessidades espe-ciais, já que o trabalho psicopedagógico devepromover o desenvolvimento e a reabilitação,reconhecendo antes de tudo as possibilidades

    reais do sujeito, ao contrário do que, em geral,faz a escola.

  • 8/19/2019 Psicomotricidade No Contexto Da Neuroaprendizagem

    8/9

    PSICOMOTRICIDADE NO CONTEXTO DA  NEUROAPRENDIZAGEM: CONTRIBUIÇÕES  À   AÇÃO PSICOPEDAGÓGICA 

    Rev. Psicopedagogia 2015; 32(97): 84-92

    91

    SUMMARYPsychomotor in the context of Neurolearning:

    contributions to action Psychopedagogical

    To understand how children’s learning process is developed is one ofthe best ways to provide them a smooth development, making the mostof their cognitive potential. There are different possible approaches tomeet this general goal, but this study sought contributions from threeareas: Psychomotricity, Psychopedagogy, and Neurolearning. To thisend, we performed a literature review that covered the following areas:Psychomotricity and contributions to learning; Psychopedagogy, objectdefinition and forms of action; Neurolearning, principles and contributionsto educational practices. The review started by consulting the works of

    renowned authors in these areas and extended to the scientific productionof the last ten years seeking effective achievements and possibilities ofinterdisciplinary and transdisciplinary action that promote cognitivedevelopment and good progress in school learning. The selected andanalyzed papers confirm the benefits of early diagnosis and interventionto patients at risk or with installed learning difficulties or disorders.The survey also revealed the existence of serious gaps in the training ofeducation professionals, which, in combination with difficulties and needsof the children themselves, explains the increasing rate of school failurein Brazil. It was also found the need for revision of the curriculum inEducation that allows the return of Psychomotricity to its framework andthe inclusion Neurolearning as a discipline, not only in this course, but alsoin undergraduate specializations focused on education.

    KEY WORDS: Motor development. Learning. Psychomotricity. Psy-chopedagogy. Neurolearning. Learning difficulties.

    REFERÊNCIAS1. Riesgo RS. Anatomia da aprendizagem. In:

    Rotta NT, Ohlweiler L, Riesgo RS, eds. Trans-tornos da aprendizagem: abordagem neuro-biológica e multidisciplinar. Porto Alegre:

     Artmed; 2006. p.21-42.  2. Maia H. Desenvolvimento cognitivo infantil:

    algumas reflexões. In: Maia H, org. Neuroe-ducação: a relação entre saúde e educação.Rio de Janeiro: Wak; 2011.

    3. Thompson R. Psicomotricidade. In: Maia H,org. Neurociência e desenvolvimento cogniti-vo. Rio de Janeiro: Wak; 2011.

    4. Ohlweiler L. Fisiologia e neuroquímica daaprendizagem. In: Rotta NT, Ohlweiler L,Riesgo RS, eds. Transtornos da aprendizagem:abordagem neurobiológica e multidisciplinar.Porto Alegre: Artmed; 2006. p.44-57.

      5. Gazzaniga M; Heatherton T. Ciência psico-

    lógica: mente, cérebro e comportamento. Por-to Alegre: Artmed; 2005.

    6. Ajuriaguerra J. Manual de psiquiatria infantil.2ª ed. São Paulo: Masson; 1983.

      7. Luria AR. Fundamentos da Neuropsicologia.Tradução Ricardo JA. Rio de Janeiro, Livrostécnicos e científicos. São Paulo: Ed. da Uni-versidade de São Paulo; 1981.

      8. Fonseca V. Manual de observação psicomoto-ra: Significação psiconeurológica dos fatorespsicomotores. Porto Alegre: Artmed; 1995.

      9. Pain S. Diagnóstico e tratamento dos problemasde aprendizagem. Porto Alegre: Artmed; 1992.

     10. Chedid KAK. Psicopedagogia, Educação eNeurociências. Rev Psicopedagogia. 2007;24(75):298-300. Disponível em: http:// pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862007000300009&lng=pt&nrm=iso Acesso em: 13/4/2014.

  • 8/19/2019 Psicomotricidade No Contexto Da Neuroaprendizagem

    9/9

    MORAES S & M ALUF MFM

    Rev. Psicopedagogia 2015; 32(97): 84-92

    92

     11. Carida DAP, Mendes MH. A importânciado estímulo precoce em casos com risco

    para dislexia: um enfoque psicopedagógico.Rev Psicopedagogia. 2012;29(89):226-35Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862012000200006&lng=pt&nrm=iso

     Acesso em: 14/4/2014. 12. Rocha MAM. Envelhecimento saudável,

    através de intervenção psicopedagógica,com enfoque neuropsicológico. ConstrPsicopedagógica. 2012;20(20):65-73. Dis-ponível em: .

     Acesso em: 19/4/2014.13. Vieira EPP. Neurociências, cognição e edu-

    cação: limites e possibilidade na formação deprofessores. Revista Praxis. 2012;IV(8):31-8.Disponível em: http://web.unifoa.edu.br/ praxis/numeros/08/31-38.pdf Acesso em:20/4/2014.

     14. Borghi T, Pantano T. Protocolo de ObservaçãoPsicomotora (POP): relações entre aprendi-zagem, psicomotricidade e neurociências.São José dos Campos: Pulso Editorial; 2010.

     15. Ribeiro MS. Psicomotricidade. [Projeto a Vez doMestre, Pós-graduação em psicomotricidade].Rio de Janeiro: Universidade Candido Men-

    des; 2005. Disponível em http://www.avm.edu.br/monopdf/7/MILENA%20DA%20SILVA%20RIBEIRO.pdf Acesso em: 19/4/2014.

     16. Fávero MTM, Calsa GC. As razões do corpo:psicomotricidade e disgrafia. I Encontro Pa-ranaense de Psicopedagogia – ABPppr –nov./2003. Disponível em: http://www.drb-assessoria.com.br/7.asrazoesdocorpo.pdf.

     Acesso em: 19/4/2014. 17. Ferreira TL, Martinez AB, Ciasca SM. Ava-

    liação psicomotora de escolares do 1º ano doensino fundamental. Rev Psicopedagogia.2010;27(83):223-35. Disponível em: http:// 

    pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-595157 Acesso em: 20/4/2014. 18. Silva J, Beltrame TS, Oliveira AVP, Sperandio

    FF. Motor and learning disabilities in schoolchildren with low academic performance.Rev Bras Crescimento Desenvolv Hum. 2012;22(1):41-6. Disponível em http://pepsic.

    bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12822012000100006&lng=pt&n

    rm=iso. Acesso em: 21/4/2014. 19. Capellini SA, Coppede AC, Valle TR. Finemotor function of school-aged children withdyslexia, learning disability and learning diffi-culties (original title: Função motora fina deescolares com dislexia, distúrbio e dificuldadesde aprendizagem). Pró-Fono Revista de Atua-lização Científica. 2010;22(3):201-8.

     20. Kolyniak Filho C. Motricidade e aprendiza-gem: algumas implicações para a educaçãoescolar. Constr Psicopedag. 2010;18(17):53-66.Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-

    69542010000200005&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 20/4/2014. 21. Oliveira L, Peruzzolo DL, Souza AP. In-

    tervenção precoce em um caso de prema-turidade e risco ao desenvolvimento: contri-buições da proposta de terapeuta únicosustentado na interdisciplinaridade. DistúrbComum. 2013;25(2):187-202. Disponível em:http://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-686926 Acesso em: 21/4/2014.

     22. Barone LMC, Martins LCB, Castanho MIS.Psicopedagogia: teorias da aprendizagem.São Paulo: Casa do Psicólogo; 2011.

     23. Carneiro RR, Cardoso FB. Estimulação dodesenvolvimento de competências funcio-nais hemisféricas em escolares com difi-culdades de atenção: uma perspectiva neu-rop sicopedagógica.  Rev Psicopedagogia.2009;26(81):458-69. Disponível em: http:// pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862009000300013&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 14/4/2014.

     24. Duzzi MHB, Rodrigues SD, Ciasca SM. Per-cepção de professores sobre a relação entredesenvolvimento das habilidades psicomoto-ras e aquisição da escrita. Rev Psicopedago-

    gia. 2013;30(92):121-8. Disponível em: http:// pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862013000200006&lng=pt&nrm=iso Acesso em: 21/4/2014.

     25. Oliveira GC. Psicomotricidade: educação ereeducação num enfoque psicopedagógico.Petrópolis: Vozes; 2003. 150p.

    Trabalho realizado no Curso de Pós-Gradução Lato

    Sensu em Neurociência, Psicanálise, Psicopedagogia

    do Instituto Saber Brasília, Núcleo São Paulo, São Paulo,

    SP, Brasil.

     Artigo recebido: 22/2/2015

     Aprovado: 8/4/2015