Publicação da Coordenadoria de ... ram aumento no final do ano, depen-dendo da arrecadação do...

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Publicação da Coordenadoria de Comunicação Social - Ano XIX, nº 690, de 14 a 20 de junho de 2004 www.usp.br/jorusp Cruesp e Fórum: nova reunião dia 18 Nesta sexta-feira, dia 18, o Cruesp (Conselho de Reitores das Universi- dades Estaduais Paulistas) e o Fórum das Seis – entidade que representa os servidores da USP, Unicamp e Unesp – voltarão a se reunir em Cam- pinas para mais uma rodada de nego- ciações sobre reajuste salarial. Em reunião no dia 7, segunda-feira da se- mana passada, os reitores reafirma- ram que, em virtude de limitações or- çamentárias, não será possível au- mentar os salários agora e promete- ram aumento no final do ano, depen- dendo da arrecadação do ICMS. Dian- te disso, em assembléias realizadas no dia 8, professores e funcionários resol- veram manter a greve por tempo inde- terminado. No dia 3, cerca de 1.500 pes- soas – entre funcionários, alunos e pro- fessores da USP, Unicamp e Unesp – realizaram passeata até a Assembléia Legislativa de São Paulo. Elas pediram o atendimento de suas reivindicações e a elevação para 11,6% do ICMS desti- nado às universidades. Página 3 "A operação dos veículos é complexa, exige atenção redobrada e não permi- te erros. Além disso, as situações pos- síveis são altamente diversas e exi- gem preparação técnica e psicológi- ca.” Assim o primeiro astronauta bra- sileiro, tenente-coronel Marcos Pontes, descreve a sua rotina de trabalho no Johnson Space Center, em Houston, nos Estados Unidos – sede da Nasa, a agência espacial americana –, en- quanto aguarda para fazer sua primei- ra expedição ao espaço, prevista para ocorrer entre 2005 e 2007. Em entre- Aberta até 30 de junho em São Paulo, a exposição “Os horizontes da fotogra- fia: memória e resistência”, do fotógra- fo Douglas Mansur, apresenta 43 foto- grafias feitas entre 1989 e 2003 em acampamentos e assentamentos rurais do Paraná e do Paraguai. Elas revelam A dura rotina na Nasa vista por e-mail ao Jornal da USP, Pontes destaca a importância da parti- cipação brasileira na construção da Es- tação Espacial Internacional, atualmen- te em andamento. Para ele, o País – que deverá atuar em experimentos so- bre microgravidade – será beneficiado com a obtenção de novos conhecimen- tos e tecnologias. “No aspecto interna- cional, destaca-se o reconhecimento da nossa capacidade técnico-científica, au- mentando o nosso prestígio e favore- cendo contratos de exportação para a indústria nacional.” Página 5 Imagens do Brasil real parte da vasta experiência de Mansur, que há mais de 20 anos acompanha movimentos rurais e urbanos no Brasil. “Acompanho gerações de famílias. Mi- nhas fotos contam histórias das pessoas e dos lugares pelos quais passei e conti- nuarei passando”, diz Mansur. Página 12 A história da medicina está longe de ser a narrativa de grandes avanços científicos e de vitórias contra os ma- les físicos. Desde a infância da hu- manidade, a agressividade do homem contra a natureza tem resultado em uma guerra microbiológica e, à medi- da que os seres humanos coloniza- ram o globo, eles mesmos foram co- lonizados por agentes patogênicos. Ao compreender o poder letal dos micro- organismos, o homem passou a usar esse conhecimento para subjugar seus semelhantes: foi o que ocorreu, por exemplo, na guerra bacteriológica tra- vada entre espanhóis, portugueses e britânicos contra os habitantes origi- nais das Américas. É o que conta um dos cinco livros sobre o tema lança- dos recentemente – entre eles um ele- gante opúsculo de Pedro Nava, A me- dicina em Os Lusíadas. Página 8 Os erros e os acertos da arte de curar Douglas Mansur Edson Ellaro JornaldaUSP 09.06.04, 10:04 AM 1 Black

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Publicação da Coordenadoria de Comunicação Social - Ano XIX, nº 690, de 14 a 20 de junho de 2004www.usp.br/jorusp

Cruesp e Fórum: nova reunião dia 18Nesta sexta-feira, dia 18, o Cruesp(Conselho de Reitores das Universi-dades Estaduais Paulistas) e o Fórumdas Seis – entidade que representaos servidores da USP, Unicamp eUnesp – voltarão a se reunir em Cam-pinas para mais uma rodada de nego-ciações sobre reajuste salarial. Emreunião no dia 7, segunda-feira da se-mana passada, os reitores reafirma-ram que, em virtude de limitações or-çamentárias, não será possível au-mentar os salários agora e promete-ram aumento no final do ano, depen-dendo da arrecadação do ICMS. Dian-te disso, em assembléias realizadas nodia 8, professores e funcionários resol-veram manter a greve por tempo inde-terminado. No dia 3, cerca de 1.500 pes-soas – entre funcionários, alunos e pro-fessores da USP, Unicamp e Unesp –realizaram passeata até a AssembléiaLegislativa de São Paulo. Elas pediramo atendimento de suas reivindicações ea elevação para 11,6% do ICMS desti-nado às universidades. Página 3

"A operação dos veículos é complexa,exige atenção redobrada e não permi-te erros. Além disso, as situações pos-síveis são altamente diversas e exi-gem preparação técnica e psicológi-ca.” Assim o primeiro astronauta bra-sileiro, tenente-coronel Marcos Pontes,descreve a sua rotina de trabalho noJohnson Space Center, em Houston,nos Estados Unidos – sede da Nasa,a agência espacial americana –, en-quanto aguarda para fazer sua primei-ra expedição ao espaço, prevista paraocorrer entre 2005 e 2007. Em entre-

Aberta até 30 de junho em São Paulo,a exposição “Os horizontes da fotogra-fia: memória e resistência”, do fotógra-fo Douglas Mansur, apresenta 43 foto-grafias feitas entre 1989 e 2003 emacampamentos e assentamentos ruraisdo Paraná e do Paraguai. Elas revelam

A dura rotina na Nasavista por e-mail ao Jornal da USP ,Pontes destaca a importância da parti-cipação brasileira na construção da Es-tação Espacial Internacional, atualmen-te em andamento. Para ele, o País –que deverá atuar em experimentos so-bre microgravidade – será beneficiadocom a obtenção de novos conhecimen-tos e tecnologias. “No aspecto interna-cional, destaca-se o reconhecimento danossa capacidade técnico-científica, au-mentando o nosso prestígio e favore-cendo contratos de exportação para aindústria nacional.” Página 5

Imagens do Brasil real

parte da vasta experiência de Mansur,que há mais de 20 anos acompanhamovimentos rurais e urbanos no Brasil.“Acompanho gerações de famílias. Mi-nhas fotos contam histórias das pessoase dos lugares pelos quais passei e conti-nuarei passando”, diz Mansur. Página 12

A história da medicina está longe deser a narrativa de grandes avançoscientíficos e de vitórias contra os ma-les físicos. Desde a infância da hu-manidade, a agressividade do homemcontra a natureza tem resultado emuma guerra microbiológica e, à medi-da que os seres humanos coloniza-ram o globo, eles mesmos foram co-lonizados por agentes patogênicos. Aocompreender o poder letal dos micro-

organismos, o homem passou a usaresse conhecimento para subjugar seussemelhantes: foi o que ocorreu, porexemplo, na guerra bacteriológica tra-vada entre espanhóis, portugueses ebritânicos contra os habitantes origi-nais das Américas. É o que conta umdos cinco livros sobre o tema lança-dos recentemente – entre eles um ele-gante opúsculo de Pedro Nava, A me-dicina em Os Lusíadas. Página 8

Os erros e os acertos da arte de curar

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JornaldaUSP 09.06.04, 10:04 AM1

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Página 2 • De 14 a 20/6/2004Opinião

O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo (USP),publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comu-nicação Social (CCS) da USP. Fotolito e Impressão: Imprensa Oficial doEstado de São Paulo. Redação, Administração e Publicidade: Edifício daAntiga Reitoria, avenida Professor Luciano Gualberto, travessa J, 374, 8ºe 5º andares, Cidade Universitária, São Paulo (SP), CEP 05508-900. Tele-fones: (011) 3091-3965, 3091-4419, 3815-4398 e 3031-7800. Fax: (011)3091-4309. E-mail: [email protected], site: www.usp.br/jorusp. Publicida-de: 3091-4399, e-mail: [email protected]. Assinaturas: 5º andar, telefone:3091-4433. Exemplares: 3091-4414, e-mail: [email protected].

Editores: Jorge Maruta (Fotografia), Moisés Dorado dos Santos (Arte) e Roberto C. G.Castro. Redação: Aparecida Roxo, Cecília Bastos, Claudia Costa, Crícia Giamatei, Cris-tina Corsalleti, Flávio Alves Machado, Francisco Emolo, Izabel Leão, Leila KiyomuraMoreno, Leonor Teshima Shiroma, Maria Angela De Conti Ortega, Miguel Glugoski,Osvaldo José dos Santos, Paulo Hebmüller, Priscila Nery, Sílvia Vieira e Sylvia Miguel.

Reitor Adolpho José Melfi

Vice-reitorHélio Nogueira da Cruz

Coordenadora de Comunicação SocialCremilda Medina

Diretor de Mídias ImpressasMarcello Rollemberg

m 2001, o instituto Gallupdeterminou que 45% dosnorte-americanos escolhem a

afirmação “Deus criou os seres hu-manos basicamente em sua formaatual em algum ponto dos últimos10 mil anos” como a que melhordescreve as origens de nossa espé-cie. Em outra pergunta de múlti-pla escolha, 39% crêem que a evo-lução das espécies é “só uma en-tre várias teorias e não é bem apoi-ada pelas evidências”. Deve-se en-sinar o criacionismo e também aevolução em escolas públicas? Em1999, o mesmo instituto revelouque 68% dos americanos respon-deram que sim. Quando pergunta-dos se o criacionismo deveria subs-tituir o ensino de evolução, 40%foram favoráveis.

O fato de os Estados Unidos li-derarem a produção científico-tec-nológica e ao mesmo tempo fo-mentarem uma importante espéciede ignorância científica é motivode piada. Mas agora que o criacio-nismo chegou oficialmente ao en-sino público brasileiro, espero quese torne motivo de preocupação.O desastre ocorreu no Estado doRio de Janeiro, abrindo preceden-tes para o restante do País. “Nãoacredito na evolução das espécies.Isso tudo é teoria”, afirmou a go-vernadora Rosinha Matheus, queresolveu atender ao seu fundamen-talismo cristão e a uma crescentelegião de fiéis eleitores.

A expansão que as igrejas evangé-licas vêm experimentando no Brasilsimula condições norte-americanas,assim como a má educação científi-ca da população, que sabemos exis-tir tanto lá como cá. Portanto, se que-remos saber quais são as perspecti-vas de disseminação do criacionis-mo em uma sociedade pobrementeinformada, basta olhar para o exem-plo norte-americano. Eles somos nósamanhã. Menos, é claro, a prosperi-dade econômica e científica.

Ainda temos chances de reverteresse processo, mas é preciso agir, rá-pida e energicamente. A divulgaçãocientífica quase sempre é conduzidapor veículos que têm compromissonão com o co-nhecimento cien-tífico, mas como entretenimentodo público e amaximização dereceitas. É claroque a divulgaçãocientífica devecativar sua audi-ência, mas é fre-qüente que oconteúdo fiqueseriamente com-prometido pelatentação do sen-sacionalismo.

Por isso é im-portante que oscentros de pes-quisa e ensinocriem suas pró-prias iniciativasde divulgação,alimentando o mercado com produ-tos de boa qualidade, e premiem osbons veículos de divulgação científi-ca. Para coibir abusos, é preciso es-

tabelecer um observatório on-line demídia científica, que produza críti-cas cuidadosas a respeito de matéri-as com erros e omissões importan-tes.

Também não se pode simples-mente ignorar o problema da pseu-dociência e da anticiência. É muitofreqüente a opinião de que “conhe-cimentos” como o criacionismo oua astrologia são apenas inócuas di-versões de salão a que os crédulostêm direito. Talvez isso seja verda-de enquanto elas permanecem nosalão, mas a permissividade comque a academia as trata encoraja aampliação do seu uso, que acabaatingindo escritórios, consultórios,repartições e salas de aula – alémda própria universidade.

Os astrólogos têm espaço garan-tido em quase todos os jornais e

revistas, mesmoos mais concei-tuados, e assimc o n q u i s t a mprestígio por as-sociação e poruniversalidade.O cidadão mé-dio não temnada do quedesconfiar. Emdez ou mesmovinte anos deestudo, jamaisum professor sedeu ao trabalhode lhe mostraras evidências decomo essa dou-trina falha mi-s e r a v e l m e n t eem tudo quealega fazer. Piorainda, nunca lhe

ensinaram como observações pes-soais e assistemáticas criam um viésque só pode ser eliminado atravésde bem planejados protocolos de

experimentação e análise.O sistema de ensino se detém lon-

gamente na descrição do conheci-mento científico, o que é sem dúvidamuito importante. Mas fazer isso semmostrar o pensamento crítico queconstrói esse conhecimento acaba ge-rando adultos incapazes de distinguirciência de misticismo. E alguns des-ses adultos fatalmente acabarão in-gressando na academia, alimentandoum preocupante círculo vicioso.

Sintomaticamente, o 1º Encontrode Pedagogia da UFSC/Udesc reser-vou espaço, recentemente, para queum astrólogo discorresse sobre astro-logia e educação. Caso o nosso cida-dão comum tivesse algum pendor cé-tico e tentasse sanar suas dúvidas nauniversidade, poderia ter assistido aoseminário Cosmobiologia (Astrolo-gia) e Traços de Personalidade, noInstituto de Psicologia da USP. Seconsultasse o site da Universidade,não encontraria uma única referên-cia crítica, mas extensas apresenta-ções do Centro de Divulgação Cien-tífica e Cultural em que se aprendeque os taurinos são férteis e que aastrologia informa o sexo de bebês,além de ser útil em recursos huma-nos.

Não é difícil perceber como a re-cusa em combater as pseudociênci-as tem reflexos perniciosos em todaa sociedade. No Rio Grande do Sul,o juiz Hermes Trincaesis utiliza aastrologia para dar sentenças: “Aspartes podem mentir, os autos po-dem ser omissos, mas o livro doscéus sempre diz a verdade”. Exis-tem escolas que utilizam a astrolo-gia para conhecer melhor seus alu-nos e tratá-los de acordo, o que deveencaminhar muitos piscianos para apolítica e capricornianos para as ar-tes. Já tramitam no Congresso pro-jetos de lei que reconhecem a astro-logia como profissão e prevêem acontratação de astrólogos em repar-

tições públicas, com o fim evidentede implementar políticas de acordocom os preceitos astrológicos. Comoleoninos e aquarianos são maus pes-quisadores, não devemos esperar quemuitos deles sejam contratados paraa universidade no futuro.

O veto a produtos e até à pesqui-sa envolvendo transgênicos, clona-gem e células-tronco sãoexemplos dra-máticos de comoa ignorância ci-entífica repre-senta muitomais do queuma lacuna nadistribuição deconhecimento:ela é uma forçaativa que se vol-ta contra a pró-pria ciência. En-tre os finalistasda última FeiraBrasileira de Ci-ências e Enge-nharia, queaconteceu re-centemente naUSP, estava umtrabalho queafirmava que a concentração de flúorpraticada no abastecimento de água“torna-se cada vez mais nociva à nos-sa saúde”. Caso mais pungente é acontaminação maciça da populaçãoda África do Sul por HIV. Tudo por-que seu presidente deu pleno créditoà idéia de que a Aids não é causadapelo vírus, e portanto não é contagi-osa. Uma importante revista de di-vulgação brasileira já publicou ma-téria de capa levando a sério essa es-tupidez assassina.

Quem acha que o literalismo bí-blico se limita a falar sobre cobras,maçãs e doutrinas inverificáveis estámuito enganado. Hoje em dia existe

o “criacionismo científico”, que nosensina que a seleção natural é “so-mente uma teoria” e está “em crise”.O criacionista moderno tem na pontada língua argumentos extremamentedetalhados mostrando que os méto-dos de datação de fósseis não sãoválidos, que não existem fósseistransicionais, que a geologia provaa existência de um dilúvio universale que se demonstra cientificamenteque os seres vivos exibem a marcairrefutável de um criador sobrena-tural chamada “complexidade irre-dutível”, cujo surgimento através deeventos naturais é impossível.

O Centro Universitário Adventis-ta de São Paulo (Unasp) tem comomissão “educar no contexto dos va-lores bíblico-cristãos”, o que no casodo curso de biologia significa ofe-recer “uma visão pluralista e críti-ca sobre os diversos modelos dasorigens” e “valorizar os conhecimen-tos filosóficos e espirituais, relacio-nando-os aos paradigmas científicosda comunidade”. Por isso, além dos4% do curso dedicados explicitamen-te à doutrinação religiosa, outros 4%vão para o ensino do criacionismo.Esse conteúdo acabará atingindo in-diretamente um grande número dealunos de primeiro e segundo grause já está sendo exibido todo domin-go em cadeia nacional, no programa“Está Escrito”, da Rede TV.

Importantes universidades como asde Oxford, Harvard e Califórnia jáacordaram para o problema. No Bra-sil, tanto a astrologia como o criacio-nismo já chegaram à universidade eao poder, possuem eficientes esque-mas de perpetuação e estão interfe-rindo em políticas públicas. O quemais é preciso para convencer a co-

munidade cientí-fica de que algoestá profunda-mente errado?

A lei de Mur-phy aplicada àciência nos dizque todo proble-ma complexotem soluçõessimples, fáceisde entender e er-radas. Caso nãose tome uma ati-tude, as soluçõeserradas continua-rão ganhando ni-chos cada vezmaiores e a soci-edade verá cadavez menos moti-vos para financi-ar a ciência.Quem quiser co-

laborar com um futuro menos som-brio pode começar aderindo a umabaixo-assinado da comunidadeacadêmica contra o criacionismoatravés de [email protected]. No mesmo endereço,criado especialmente para a oca-sião, também se poderão discutiriniciativas dentro e fora da univer-sidade. Convoco todos a se engaja-rem nesta luta. Ou teremos um lon-go inferno astral pela frente.

Inferno astralDANIEL SOTTOMAIOR

Daniel Sottomaior é engenheiro emembro da ONG Sociedade daTerra Redonda, dedicada à difu-são da ciência

E

Se queremos saber quaissão as perspectivasde disseminação docriacionismo em uma

sociedade pobrementeinformada, basta

olhar para o exemplonorte-americano. Elessomos nós amanhã.

Quem acha que o literalismo bíblico

se limita a falar sobrecobras, maçãs

e doutrinas inverificáveis está

muito enganado. Hojeem dia existe o

“criacionismo científico”

JornaldaUSP 09.06.04, 10:04 AM2

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• Página 3De 14 a 20/6/2004 Universidade

Reajuste só no final do anoSe a tendência de evolução positiva do ICMS se mantiver, o comprometimento dasuniversidades com a folha de pessoal cairá, possibilitando alguma melhoria salarial

SALÁRIOS

a quarta rodada de negoci-ação salarial nas três uni-versidades públicas paulis-

tas — USP, Unesp e Unicamp —,realizada na Unicamp segunda-feira (7), o Conselho de Reitores(Cruesp) manteve a posição denão oferecer nenhum reajuste porenquanto, por impossibilidade or-çamentária, mas apresentou umafórmula de cálculo (ler a nota ofi-cial nesta página) que deverá ori-entar a política salarial das uni-versidades este ano. Tudo depen-de basicamente da evolução da ar-recadação do ICMS pelo Estado.Se se confirmar a tendência de cres-cimento, o comprometimento acu-mulado dos recursos com pessoal,especialmente na Unicamp e naUnesp, poderá baixar a níveis quepossibilitem algum reajuste de sa-lários durante o ano, a partir de ou-tubro (pagamento em novembro).

Depois do encontro dos reitoresCarlos Henrique de Brito Cruz, daUnicamp e presidente do Cruesp,Adolpho José Melfi, da USP, eJosé Carlos Souza Trindade, daUnesp, com o Fórum das Seis —entidade que representa os inte-resses dos professores e funcio-nários — o professor Melfi anali-sou a quarta rodada de negocia-ção (a primeira foi realizada há exa-tamente um mês), dizendo que afórmula apresentada pelo Cruesp re-flete a política salarial a ser aplica-da este ano. Nessa fórmula é extre-mamente importante a massa de ar-recadação pelo Estado. Se chegar aR$ 32,8 bilhões, fará com que ocomprometimento com pessoal naUnicamp e na Unesp esteja em tor-no de 90%. A partir daí um aumen-to poderá ser dado. Isso em outu-bro. Por enquanto, o conselho man-tém a posição de não dar nada por-que não existe possibilidade. No en-tanto, como a arrecadação do ICMSestá aumentando existe a previsãobastante razoável de que em setem-bro se tenha atingido, não os R$32,8 bilhões, mas uma avaliação doarrecadado até setembro e uma pro-jeção para até dezembro. “Então po-deremos aplicar a fórmula”, disseo reitor da USP. O Fórum das Seisvai discutir em assembléias a pro-posta dos reitores e na sexta-feira(18) haverá novo encontro.

Melfi assegura que a criação devagas e de cursos nas universi-dades públicas em nada influen-cia as negociações salariais. Emprimeiro lugar, afirmou, porqueaté agora toda a expansão, nãoapenas na zona leste da Capital,mas também de outros cursos, foifeita com verbas extra-orçamen-tárias. Tanto para pagamento dedocentes como da infra-estruturafísica e custeio. Existe, segundoo reitor, um compromisso do go-verno de apoiar esse modelo du-rante dez anos. Depois disso, evi-dentemente, a Universidade es-pera que haja aumento de arre-cadação. Mas a verdade é que omontante relacionado com o pa-gamento de professores corres-pondente à expansão não vai pra-ticamente onerar a folha. Até2008 há recursos para pagamen-to de pessoal com verba extra-orçamentária; depois disso, senão os houver, a zona leste teráimpacto relativamente pequeno.Já foi mostrado que se a Univer-sidade tivesse colocado todas ascontratações no orçamento nor-mal, sem considerar os recursosextra-orçamentários, o impactona folha de pagamento seria de0,2%, ou nem isso.

A propósito da situação orça-mentária nas três universidadespúblicas, Melfi disse que a iso-nomia salarial é completa, em-bora existam determinados parâ-metros, algumas gratificaçõesque variam um pouco de uma ins-tituição para outra. “Estamos tra-balhando no sentido de ter umaconvergência do ponto de vistade benefícios ou gratificações.Mas os salários são os mesmos.Ainda a propósito do compro-metimento da folha de pagamen-to, Melfi afirmou que na Uni-camp, até o mês passado, era de95,29%, na Unesp de 93,40% ena USP, um pouco acima de 86%.A si tuação na Unicamp e naUnesp acaba impedindo que nes-te momento se faça qualquer re-ajuste salarial. Disse Melfi: “Es-tamos trabalhando na fórmulatambém com comprometimentomuito alto. Na hora em que aUnesp e a Unicamp atingirem90% consideramos que podería-

mos dar aumento”. De qualquermodo, os reitores têm na recupera-ção econômica do País a expecta-tiva e contam com ela não apenaspara dar reajuste salarial , masigualmente para aumentar os gas-tos com custeio, “hoje muito pou-co significativos”.

Adusp — Para o presidente daAdusp (Associação dos Professo-res), Américo Kerr, na rodada desegunda-feira os reitores apresen-taram uma proposta de política sa-larial inaceitável, “porque ela da-ria zero”. Kerr disse que os reito-res estão assumindo como referên-cia de política salarial o nível decomprometimento acumulado daUnicamp neste ano, em torno de95% e em queda . Segundo aAdusp, é preciso considerar umapolítica pela qual a universidade váaliviando a sua conta, mas tambéma dos trabalhadores, pois estes re-presentam o maior patrimônio dainstituição. “Eles disseram que,para esse nível de arrecadação paraa Unicamp ficar bom, seriam ne-cessários R$ 33,5 bilhões de arre-cadação pelo Estado. Nossa esti-mativa — que os reitores conside-ram perigoso exercício de futuro-logia — era de R$ 33,17 bilhões.A partir de R$ 33,5 bilhões elespassariam a dar algum reajuste, esó em outubro, para receber emnovembro. É inaceitável. Temosde considerar que, se há cresci-mento acima do previsto, entãouma parte deve ir para salários,outra para custeio. Uma recupera-ção nas duas pontas. Mas elesapresentaram um zero. Trouxeramo valor de R$ 32,8 bilhões, o quesignificaria a Unicamp fechar aconta em 90% no final do ano, nãoem 88%. Isso continua insuficien-te. Se a economia continuar no rit-mo de hoje significaria um reajus-te de 1,3% mais ou menos em no-vembro, para completar em janei-ro o total de 1,6%. Isso é nada.”

As entidades que representamprofessores e funcionários lutamtambém por maior porcentagem doICMS para as universidades públi-cas. Para isso, estão promovendoencontros no Palácio do Governo ena Assembléia Legislativa com au-toridades do governo e deputados.

Explicação sobre a fórmula depolítica salaria proposta para2004 pelo Cruesp

Ocorrerá um reajuste salarialem outubro de 2004 caso haja ex-cedente de arrecadação do ICMSem 2004, conforme definido pelaProposta de Política Salarialpara 2004.

Coerente com o objetivo depreservar o poder aquisitivo dosalário dos servidores e, ao mes-mo tempo, garantir recursos decusteio para a manutenção dastrês Universidades Públicas Es-taduais, o CRUESP, em reuniãorealizada com representantes doFórum das Seis, em 7 de junhodo corrente, propõe a aplicaçãode política salarial para 2004 ba-seada na fórmula abaixo detalha-da:

A = 0,0957 x 0,84 [ I1 + I2 +I3 + ... + I6 + 2(I7 + I8 + I9) –32,8 ]

O reajuste a ser concedido emoutubro de 2004, se A for positi-vo, será dado por:

R = A x 0,8 x 100%8,33 x S9onde:I é o ICMS do mêsS9 é a massa salarial de se-

tembro/2004R = Índice de reajuste salarialA = 0,0957 x 0,84 [ I1 +.......+

I6 + (I7 + I8 + I9) x 2 – 32,8]Onde:32,8 bilhões de reais = parâ-

metro que representa a estimati-va da arrecadação mínima deICMS, quota-parte do Estado, ex-cluídos os Programas Habitaci-onais, julgada indispensável paracobrir todas as despesas com fo-lha de pagamento, sem que hajanecessidade de novos cortes nosgastos programados de custeio ecapital. Neste caso o comprome-timento do orçamento com a fo-lha de pagamento das Universi-dades será de: UNICAMP89,86%, UNESP 89,52% e USP84,57%. O crescimento da arre-cadação de ICMS contribuirátambém para que o Estado este-

ja abaixo do Limite Prudencialestabelecido pela Lei de Respon-sabilidade Fiscal.

I1 +........+ I6 + (I7 + I8 + I9)x 2 = previsão do ICMS 2004 emR$ bilhões, que consiste no so-matório do ICMS efetivamentearrecadado até setembro, maisuma previsão do último trimestredo ano, com base na arrecada-ção efetiva do terceiro trimestre.O excedente de arrecadação em2004 é obtido pela subtração doparâmetro 32,8 da previsão doICMS 2004. Multiplicando-se oexcedente por 0,0957, obtém-se aquota-parte que caberá às trêsUniversidades. Em seguida, serãoreservados 84% desses recursospara o reajuste salarial de outu-bro (pagamento em novembro),multiplicando-se, para tanto, o ex-cedente novamente por 0,84 nafórmula acima. Assim, A represen-ta a quantia em reais disponívelpara o reajuste, caso se verifiquea existência de eventual exceden-te de arrecadação em 2004.

O reajuste resultante, em pon-tos percentuais, será dado pelafórmula R = (A/(8,33 x S9)) x 0,8x 100, em que S9 é a massa sala-rial conjunta das três Universi-dades no mês de setembro. Note-se que há uma divisão de A noperíodo de sete meses que vai deoutubro de 2004 a abril de 2005(a divisão por 8,33 correspondeaos sete meses mais 13º saláriomais 1/3 férias): 80% de A serãoaplicados no reajuste salarial eos 20% restantes comporão umfundo de reserva, cuja aplicaçãoserá designada em janeiro de2005, após a verificação dos da-dos definitivos da arrecadação doICMS de dezembro de 2004.

Com essa proposta, espera-seque a comunidade acadêmica en-tenda os esforços que vêm sendofeitos no sentido deassegurar ascondições de funcionamento dastrês instituições e retorne às ati-vidades normais.

CruespCampinas, 8 de junho de 2004

Comunicado oficial

No último dia 3, cerca de 1.500pessoas – entre funcionários, alu-nos e professores da USP, Uni-camp, Unesp e Centro Paula Sou-za – realizaram uma passeata ini-ciada no Masp, na avenida Paulis-ta, e que se dirigiu até a Assem-bléia Legislativa de São Paulo, noIbirapuera. Caminhando debaixo dachuva e do frio, os manifestantesdistribuíram panfletos à populaçãoexplicando os motivos da greve nasuniversidades estaduais, deflagra-da em maio. Os servidores pedem16% de reajuste salarial.

Na chegada à sede do Legislati-vo, centenas de representantes dascategorias superlotaram o plená-rio Teotônio Vilela para partici-par de uma audiência pública daComissão de Cultura, Ciência eTecnologia da casa. Devido à li-mitação do espaço, a segurança

Servidores protestam na Assembléia

N

não permitiu a entrada de todosos manifestantes, e muitos per-maneceram junto ao carro desom, do lado de fora do prédio.

Como apenas dois dos 14 depu-tados da comissão estavam pre-sentes na abertura dos trabalhos,principalmente devido ao nãocomparecimento de parlamentaresdos partidos que apóiam o gover-no do Estado, a sessão não pôdeser considerada oficial. O depu-tado Jonas Donizette (PSB), pre-sidente da comissão, manteve oencontro como reunião informal.

Recursos – Diversos represen-tantes do Fórum das Seis – queintegra os sindicatos de professo-res e funcionários da USP, Uni-camp e Unesp – se manifestaramna sessão. O professor FranciscoMiragl ia , v ice-pres idente da

Adusp (Associação dos Docentes daUSP), apresentou o documento en-tregue aos deputados com as pro-postas das entidades.

Denise Rykala, do Centro PaulaSouza, expôs a situação dos trabalha-dores da instituição, ligada à Unesp,que estão sem reajuste salarial desde1996. Os sete mil funcionários reivin-dicam o recebimento dos mesmos por-centuais de aumento dados pelo Con-selho de Reitores das UniversidadesEstaduais Paulistas (Cruesp).

Américo Kerr , pres idente daAdusp, defendeu que os recursosdestinados para a educação no Es-tado sejam definidos a partir de alí-quotas do Produto Interno Bruto(PIB), e não do Imposto sobre Cir-culação de Mercadorias e Serviços(ICMS), como atualmente. Kerrlembrou que apenas 18% dos jovensbrasileiros entre 18 e 24 anos cur-

sam faculdade, e, no Estado de SãoPaulo, somente 10% o fazem numauniversidade pública.

Documento – Os representantesdo Fórum das Seis iniciaram, logodepois da sessão, uma “peregrina-ção” pelos gabinetes dos deputa-dos para entregar um documentocom as reivindicações da entida-de. O Fórum pede que seja revo-gado o recolhimento de 5% dos sa-lários dos professores para o Te-souro Estadual e a revisão do De-creto 48.034, que concede isençãode ICMS na aquisição de bens,mercadorias ou serviços pelo go-verno do Estado.

Os sindicalistas reivindicam tam-bém a aprovação de uma emendaà Lei de Diretrizes Orçamentárias(LDO) de 2005 aumentando dosatuais 9,57% para 11,6% o porcen-

tual do ICMS destinado à manuten-ção das universidades estaduais, alémda aprovação de 2,1% do impostopara o Centro Paula Souza, que pos-sui 107 escolas técnicas e 12 Facul-dades de Tecnologia (Fatec).

O prazo para entrega de emendasindividuais à LDO já está encerra-do, mas elas ainda podem ser enca-minhadas por uma bancada ou dire-tamente no plenário, caso alcancemo número mínimo de assinaturaspara referendar a proposta. Os doisdeputados do PC do B já decidiramencaminhar o pedido do Fórum dasSeis como emenda da bancada.

A LDO deve ser votada até, nomáximo, o próximo dia 30. Comoa Assembléia não pode entrar norecesso de julho antes da aprova-ção da lei, caso seja necessário ha-verá uma convocação extraordiná-ria dos deputados.

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Página 4 • De 14 a 20/6/2004Universidade

om o objetivo de discutir asagendas de cidades saudáveise as políticas urbanas para a

cidade de São Paulo, o Centro de Es-tudos, Pesquisa e Documentação (Ce-pedoc) Cidades Saudáveis, da Facul-dade de Saúde Pública (FSP) da USP,promoveu no dia 3 de junho o eventoEspaço Cepedoc, com o tema “Políti-ca Urbana e Cidade Saudável – Agen-das para uma São Paulo Saudável”.

O encontro contou com a partici-pação do vereador paulistano NabilBonduki, arquiteto e professor daFaculdade de Arquitetura e Urbanis-mo e da Escola de Engenharia deSão Carlos, ambas da USP, que fezuma apresentação discutindo umapolítica urbana em que seus com-ponentes – como habitação, sanea-mento, transporte e ambiente – pos-sam contribuir para uma cidade sau-dável. Houve ainda a participaçãodo presidente do movimento Cida-des Saudáveis – criado em 1980na América do Norte –, LeonardDuhl, professor da Escola de Saú-de Pública da Universidade da Ca-lifórnia, nos Estados Unidos, deHelena Ribeiro, professora da FSP,e de Francisco Comarú, engenhei-ro civil e pesquisador do CepedocCidades Saudáveis.

O arquiteto Bonduki, relator doPlano Diretor na Câmara dos Vere-adores de São Paulo, tratou tambémde temas como qualidade de vida,preservação, urbanização e zonea-mento. “Procurei apresentar a situa-ção urbanística e de planejamentode São Paulo, bem como o PlanoDiretor da cidade, aprovado em2002, que estabelece objetivos es-tratégicos até o ano de 2012. Esseplano regulamenta instrumentos paraalcançar os objetivos e estabeleceprogramas e ações para implemen-tar todo o processo de planejamentoda cidade de São Paulo.”

Para Bonduki, o Plano Diretor deSão Paulo é um instrumento avan-çado para pensar as políticas pú-

Na semana passada, a USP as-sistiu a mais uma iniciativa emfavor da economia e da raciona-lização dos recursos naturais naUniversidade. Foi inaugurada nodia 7 de junho, às 10 horas, aampliação da Unidade de Gera-ção Fotovoltaica em 6 kW do Ins-tituto de Eletrotécnica e Energia(IEE) da USP. Essa realizaçãofaz parte do Programa de UsoRacional de Energia e Fontes Al-ternativas (Purefa), financiadopela Finep, através de convêniofirmado em 2002, que agora co-meça a dar os primeiros resulta-dos. No dia 10 de maio, o Pure-fa já tinha entregue a nova ilu-minação do piso térreo do blocoB do Instituto de Matemática eEstatística (IME). No evento noIEE, estiveram presentes o dire-tor geral do instituto, GeraldoFrancisco Burani, o diretor daEscola Politécnica, Vahan Ago-pyan, o ex-reitor da USP JoséGoldemberg e o coordenador doPurefa, Marco Antonio Saidel.

Com os recursos da Finep, oPurefa realiza atualmente váriasoutras iniciativas na área daenergia. Uma delas é a implan-tação do Sistema de Gerencia-mento de Energia (Sisgen). Essesistema permitirá um controleminucioso do consumo de ener-gia elétrica em todos os seis cam-pi da Universidade. Ele coleta,analisa e monitora os dados deconsumo de energia elétrica emtempo real. Através dele é pos-sível conhecer e acompanhar aevolução das características deconsumo de energia de uma edi-ficação, gerenciar os gastos comenergia elétrica e acompanharos resultados de ações de efici-ência energética. Serão instala-dos mais de 110 pontos nos seiscampi da USP – 60 em São Pau-lo, 20 em Piracicaba, 15 em Ri-beirão Preto, 10 em Pirassunun-ga, 4 em Bauru e 4 em São Car-los. “A partir do Sisgen é possí-vel saber hoje como está o con-sumo de energia em toda a Uni-versidade. Cada unidade tem umsistema de coleta de informaçõeson-line que mostra o consumona forma de curva de carga”,explica Saidel. Mais informa-ções podem ser obtidas na pá-gina eletrônica do ProgramaPermanente para o Uso Efici-ente de Energia Elétrica (Pure),no endereço .Uma das maisbem-sucedidas iniciativas daUniversidade nos últimos anos,o Pure tem permitido uma sen-sível redução no consumo deenergia elétrica nos seis campi,além de promover a conscienti-zação dos funcionários, alunose professores sobre o tema.

URBANISMO

São Paulosaudável.

É possível?Em encontro na Faculdade de Saúde Pública,

especialistas discutem formas de melhorara qualidade de vida nas metrópoles

blicas, uma vez que trabalha comtodas as áreas de intervenção,como saúde, educação, assistênciasocial, emprego, habitação, trans-porte e espaços públicos, buscan-do traçar estratégias para a melho-ria da qualidade de vida da popu-lação. “Para pensar como a cidadede São Paulo deve caminhar paraser uma cidade saudável, é funda-mental que se trabalhe em conjun-to com o Plano Diretor”, ressalta.

Um dos objetivos estratégicos doPlano Diretor de São Paulo é pensara cidade de maneira integral, rever-ter o esvaziamento dos bairros cen-trais, conter o adensamento de cons-truções verticais, preservar os bair-ros residenciais, conter a ocupaçãodas áreas de preservação ambien-tal, buscar integrar o transporte co-letivo e qualificar a periferia comespaços de cultura, lazer e recrea-ção, disse Bonduki. “Também es-tamos criando parques lineares nosfundos de vales (margens de córre-gos), garantindo uma impermeabi-lização do solo e dando oportuni-dade para a população do bairro en-contrar espaços de lazer.”

Participação popular – Muitosdos presentes ao evento levantaramdurante o debate a questão da parti-cipação da população, dos conselhosde representantes das comunidades,sobre o controle dos orçamentos pú-blicos por parte da população e so-bre os empreendimentos imobiliári-os. “No Conselho de Representan-tes é fundamental que se crie umórgão de gestão e participação paradiscutir as questões do crescimentoda cidade”, defendeu Bonduki.

Bonduki tratou ainda do trabalha-dor, de como se deveria aproximaro local do trabalho dos equipamen-tos de moradia, facilitando o trans-porte dos cidadãos e diminuindo ashoras gastas no trânsito. Falou so-bre auto gestão como forma de ga-rantir e aumentar o nível de partici-

pação nos processos de gestão depolíticas públicas. Explicou os em-preendimentos imobiliários, em quemuitas vezes grandes condomíniosapresentam áreas de lazer que, noentanto, são de uso particular.

Já Leonard Duhl, o presidente doCepedoc, citou exemplos de Cubae também criticou os lobistas, masdisse que eles vão sempre existir eque tem que haver negociação cons-tante. Disse ser importante permi-tir a participação democrática dacomunidade, e não só garantir a dis-cussão com ambientalistas e urba-nistas. Para ele, é necessário pro-mover uma negociação aberta, quepode ser em forma de audiência pú-blica, com a participação de todosos atores da sociedade.

Ana Maria Caricari, pedagoga ecientista social, também pesquisa-dora do Cepedoc, presente noevento como ouvinte, destaca quea Faculdade de Saúde Pública temprocurado atuar em quase todosos setores, como habitação, edu-cação e ambiente, porque a pro-posta maior é trabalhar a trans-formação da cidade, lugar onde ocidadão e a cidadã moram. “Te-mos que atuar em todos os outrossetores e contribuir para uma po-lítica pública municipal saudável.Uma resolução muito importantefoi a criação do Ministério das Ci-dades, que procura contemplaruma visão da cidade como umtodo, um território”, ressaltou.

Lins e Bertioga – O movimentoCidades Saudáveis é uma estraté-gia de promoção da saúde, cujoprincipal objetivo é a melhoria daqualidade de vida da população emações que não sejam só a constru-ção de hospitais, doação de medi-camentos buscando apenas a curaindividual, mas sim uma aborda-gem de prevenção e promoção dasaúde envolvendo outros setores,como habitação, ambiente, educa-

ção e transporte, contando com aparticipação ativa da população,pressuposto básico do movimento.

O Cepedoc Cidades Saudáveisfoi formado em 2000, por integran-tes da Oficina Permanente de Ci-dades Saudáveis, organizada pelaFaculdade de Saúde Pública. Ocentro apóia municípios e comu-nidades a ingressarem no movi-mento, organiza e divulga infor-mações existentes sobre projetosde melhoria da qualidade de vidanas cidades. Realiza convênios,eventos, promoção de cooperaçãoentre cidades e instituições, inter-câmbio de experiências, cursos deformação e ajuda profissional paraorganizar metodologicamente a es-trutura do movimento em cada ci-dade parceira, além da sistemati-zação de documentos sobre o as-sunto. Hoje, cidades paulistascomo Lins, Motuca, Itaoca, Ribei-ra, Bertioga e a subprefeitura pau-listana da Capela do Socorro par-ticipam do movimento CidadesSaudáveis, apoiadas pelo Cepedoc.

Um município, uma cidade ouuma comunidade saudável é aque-la em que os diferentes atores so-ciais da cidade, do governo, dasorganizações locais, públicas e pri-vadas, se comprometem e se en-volvem em um processo que obje-tiva o desenvolvimento econômi-co e social e a preservação ambi-ental, procurando a melhoria daqualidade de vida da população.

O Espaço Cepedoc é um eventoperiódico organizado pelo CepedocCidades Saudáveis, que procura fo-mentar uma reflexão mais aprofun-dada da promoção da saúde. “Que-remos aproximar as agendas de ci-dades saudáveis e a política urba-na, com ênfase na promoção da saú-de. Para uma cidade do tamanho deSão Paulo, isso é essencial. Preci-samos tratar da questão do urba-nismo sem esquecer a saúde públi-ca”, diz Francisco Comarú.

C

Debate sobre a qualidade de vida nas grandes cidades e exposição de cartazes durante o evento: conscientzação e trabalho

Saidel, Burani, Goldemberg e Agopyan no IEE

IEE amplia Unidade

de GeraçãoFotovoltaica

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• Página 5De 14 a 20/6/2004 Internacional

– Luís?– Fala!– Luís, sabe o Projeto Nasa?– Hã?– Decolou. Decolou!

oi assim, em julho de 1998,com uma ligação entusiasma-da dos Estados Unidos para o

celular do irmão mais velho, LuísCarlos, então bancário em Bauru,que o tenente-coronel Marcos Pon-tes compartilhou, em primeira mão,a notícia de que acabara de ser es-colhido o primeiro astronauta brasi-leiro e de todo o Hemisfério Sul,superando 40 candidatos. “ProjetoNasa” era a forma como os dois sereferiam, na intimidade familiar, aodesafio iniciado apenas três mesesantes. “Vi no jornal que a Nasa iriarecrutar interessados do Brasil emparticipar de uma missão espacial”,lembra Luís Carlos. “O detalhe é queo candidato deveria ter uma sólidacarreira militar, um ótimo currícu-lo, formação em engenharia e inglêsfluente. Parecia a descrição do meupróprio irmão.” Imediatamente, LuísCarlos enviou a notícia por e-mail.Segundos depois, o telefone tocava:era Marcos Pontes, direto dos Esta-dos Unidos. “Por coincidência, eleestava em Monterey, na Califórnia,estudando numa academia que já ha-via revelado astronautas para a Nasa.Tudo se encaixava”, lembra o irmão.

O segundo passo foi o contato di-reto entre Marcos Pontes e a equipebrasileira responsável pela pré-sele-ção. Em 90 dias – e muitos testesdepois –, foi “eleito” pela Nasa emconjunto com a AEB (Agência Es-pacial Brasileira), autarquia do Mi-nistério da Ciência e Tecnologia.“Para quem, quando criança, nãoacreditava que o homem havia che-gado à Lua, foi a glória”, revelaLuís Carlos. De lá para cá, Mar-cos Pontes – mestre em Engenha-ria de Sistemas, piloto de provas,piloto militar e especialista em se-gurança de vôo – passa por umcontínuo e pesado treinamento.“De fato, a operação dos veículosé complexa, exige atenção redobra-da e não permite erros”, destaca,em entrevista por e-mail ao Jornalda USP, direto do Johnson SpaceCenter, em Houston, no Texas.“Além disso, as situações possíveissão altamente diversas e exigempreparação técnica e psicológica.”

Pontes também tem se dedicado adivulgar a importância da presençabrasileira no consórcio de 17 paísesque participam diretamente no de-senvolvimento da Estação EspacialInternacional (ISS – InternationalSpace Station). A AEB, por suavez, acentua que um Brasil “ativo”em missões espaciais representadomínio da tecnologia de pontacom capacidade de trazer maiorbenefício econômico ao País – ouseja, dominar a concorrida tecno-logia espacial. A contrapartidabrasileira está na construção e ex-portação de componentes pela in-dústria nacional, que serão ane-xados à estação. “Esse investi-mento está sendo reavaliado de-vido às restrições econômicas im-postas pelo governo à área de ci-ência e tecnologia”, alerta Pontes.

A questão orçamentária é o calca-nhar-de-aquiles da participação brasi-leira na missão espacial internacional.Especula-se, neste momento, que opróprio ministro da Ciência e Tecno-

logia, Eduardo Campos, poderá ir pes-soalmente à Nasa para rever as basesdo acordo firmado com o Brasil nofinal dos anos 90. “Estamos diante deuma nova bifurcação que definirá orumo a ser tomado pelo Brasil na áreaespacial”, completa o presidente daAEB, Luiz Bevilácqua, em artigo dis-ponível no site da AEB.

Ele próprio tem coordenado arevisão dos documentos que defi-nem a colaboração do Brasil naconstrução da Estação EspacialInternacional (ISS). O governobrasileiro quer se comprometerapenas com o fornecimento de pe-ças de suporte de vôo. Pelo pro-tocolo inicial, datado de 1997, oBrasil deveria fornecer seis tiposde equipamentos que, nos anos se-guintes, teriam apresentado cus-tos acima do previsto. O governoteria, ainda, de direcionar à indús-tria nacional, para a construçãodas peças da estação, cerca deUS$ 80 milhões nos próximos seisanos. Era esperado, para este mês,um adendo ao acordo original paraadequar a participação brasileira.A assessoria da AEB informa,contudo, que um novo prazo seráestipulado. O motivo se repete: anecessidade de adequar as possi-bilidades brasileiras de participa-ção com o nível do orçamento des-tinado para o projeto. Também pormeio de suas assessorias, AEB eMinistério da Ciência e Tecnolo-gia se apressam em desmentir quea expedição esteja ameaçada porconta das indefinições orçamentá-rias. O ideal seria, portanto, o go-verno brasileiro e a Nasa não maisadiarem uma solução para o caso– do contrário, especulações a res-peito tendem a se multiplicar.

USP, prestígio e livro – Enquan-to isso, Marcos Pontes prossegueseu treinamento nos Estados Uni-dos, que também envolve a pes-quisadora com mestrado em Soci-ologia pela USP Regina North –responsável por conduzir um trei-namento aos astronautas voltado àsuperação dos eventuais problemasde comunicação na futura tripula-ção e atritos em situações de iso-lamento. Regina, aliás, morou naAntártida duas vezes para “sentirna pele” essa condição desfavorá-vel. “Tive vários companheiros detrabalho ao longo de minha carrei-ra que mantiveram essa relação di-reta com a USP, como a colega Re-gina, respeitada por todos aqui”,diz Pontes. “Essa é uma das ca-racterísticas interessantes da par-ticipação brasileira no programaespacial: seu aspecto extremamen-te ‘internacional’ na divulgaçãodos ‘valores’ do Brasil, como aUSP e sua notória contribuição nocampo da pesquisa e ciência.”

Mas, efetivamente, o que o Brasilganha com as expedições espaciais?“Conhecimento, tecnologia e um am-plo leque de benefícios científicos”,aponta Pontes. “No aspecto interna-cional, destaca-se o reconhecimentoda nossa capacidade técnico-científi-ca, aumentando o prestígio e favore-cendo contratos de exportação paraa indústria nacional”, ressalta.

Ele acrescenta que o Brasil se in-sere no seleto grupo de nações quefarão experimentos tecnológicos emmicrogravidade nas inúmeras áreasde conhecimento, inclusive biotecno-logia e medicina. O trabalho contarácom a participação do brasileiro Pon-tes como “especialista de missão”.

Essa inserção é encarada como umpasso adiante na consolidação da so-berania e da prosperidade em ciên-cia e tecnologia para o País.

Em relação ao treinamento em si,impressiona a rígida divisão de ta-refas e equipes. Pontes conta: “Aprimeira fase é básica e abrange ati-vidades primárias para a operaçãosegura do ônibus espacial e da es-tação espacial, levando em torno dedois anos para ser concluída”. Naseqüência, os novos astronautas ini-ciam a fase de “manutenção opera-cional” para completar os conheci-mentos adquiridos na fase 1. A cha-mada “fase especializada” é a ter-ceira e está em curso. É nesse mo-mento que a tripulação passa a serescalada e as atribuições de bordoespecíficas são distribuídas. “Tam-bém é nossa responsabilidade aoperação e manutenção de todos ossistemas dos veículos (ônibus es-pacial e estação espacial).” Fazemparte das atribuições do especialis-ta de missão as atividades extra-vei-culares e execução de experimen-tos científicos a bordo, em coorde-nação com os técnicos e cientistasresponsáveis, em tempo real em al-guns casos, no solo.

Após a primeira expedição espa-cial – com data estimada entre 2005e 2007 –, Pontes pretende voltar aoBrasil para aplicar tudo o queaprendeu em favor do desenvolvi-mento da “educação, da ciência eda tecnologia”. Também tem pla-

A Agência EspacialBrasileira (AEB)destaca que oprimeiro vôoorbital de umbrasileiro irárepresentarum fatohistórico semprecedentesno País. “Oastronauta(Pontes) tem sedesdobradopara mostrar aimportância doprojeto àsautoridades e àopinião públicano Brasil”,ressalta a AEB.Assim que onovo acordoentre Brasile Nasa forfirmado,empresasbrasileirasdeverãoexportarcomponentesà estaçãoespacial. AAEB acrescenta,ainda, que atecnologiaespacial temum papelfundamentalna produção debens e serviçosessenciais parao Brasil, comoo monitoramentodo desmatamentoda Amazônia,dimensionamentomais preciso de

bacias hidrográficase rastreamento demovimentospopulacionais.O orçamento paraprogramas espaciaisbrasileiros, quechegou a mais deR$ 100 milhões/ano, sofreuconstante reduçãodesde o iníciodos anos 80,quando foioficialmenteiniciado. Nestemomento, recursosadicionais deR$ 37 milhões –quase R$ 20 milhõesa menos do queserá pago pelogoverno nacompra do aviãopresidencial AirbusCorporate Jetliner319 – estão sendodestinados parainvestimentoespecífico na basede Alcântara, noMaranhão. OutrosR$ 7 milhões estãoalocados parao projeto daestação espacialinternacional.

ESPAÇOJOÃO PEDRO FEZA, de Bauru

No limiar do “erro zero”Marcos Pontes, primeiro astronauta do Hemisfério Sul, fala sobre a USP

e conta detalhes de seu treinamento na Nasa, que não permite falhas

Buscade apoio popular

F

nos de escrever um livro sobre aexperiência que vem acumulandonos Estados Unidos, em trabalhostécnicos e palestras em outros paí-ses. Mas este, certamente, será umcapítulo à parte na vida desse brasi-leiro que está conquistando o espa-ço a que faz jus. Para quem, quan-do jovem, sequer acreditava que ohomem era capaz de sair da órbitaterrestre, não deixa de ser um passoda dimensão de uma odisséia.

O que diz o MCT – A assessoriade imprensa do Ministério da Ciên-cia e Tecnologia esclareceu, emnota: “O vôo até a Estação EspacialInternacional do sr. Marcos Pontescontinua nos planos do governo edo Ministério. Em relação à partici-pação do Brasil no projeto da esta-ção, o País já estabeleceu um canalde negociação com a Nasa e estápara assinar um adendo ao acordoprévio, que reestrutura a carteira depeças sob responsabilidade brasilei-ra. A Nasa já está ciente dessa pro-posta e, por enquanto, a analisa.Mas duas coisas que podem ser adi-antadas é que esse adendo enfatiza-rá a participação brasileira na pes-quisa e na cooperação científica eque as peças sob responsabilidadedo Brasil serão todas construídas noPaís, com tecnologia nacional”.

Mais informações podem ser obti-das nos endereços eletrônicoswww.mar cospontes.net, www.aeb.gov.br e www.mct.gov.br

O tenente-coronel Marcos Pontes, durante visita aoHospitalCentrinho/USP de Bauru:

de eletricista ferroviário a “bandeiranteespacial”

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Página 6 • De 14 a 20/6/2004 Especia

rudente de Morais, Deodoroda Fonseca, Floriano Peixotoe Washington Luís são alguns

dos nomes de ex-presidentes relati-vamente conhecidos pelos brasileiros.Entretanto, o nome do senador gaú-cho José Gomes Pinheiro Machado(1851-1915), contemporâneo dessesdirigentes, é uma incógnita para amaioria. No caso dos que já ouviramfalar, poucos conhecem sua trajetó-ria. Apenas alguns conseguem afir-mar que se tratava de um políticoinfluente da República Velha (1889-1930), que acabou sendo assassina-do. Reduzido ao batismo esporádicode vias públicas ou a algumas pala-vras contidas em pequenos parágra-fos de alguns livros de história – di-dáticos, na maioria dos casos –, ogeneral e político provavelmentemais influente do período, herói daGuerra do Paraguai e da RevoluçãoFederalista, vice-presidente do Sena-do – cargo que equivalia à Presidên-cia, visto que a mesma cabia aosvice-presidentes, os quais raramentese metiam nos assuntos do Poder Le-gislativo –, morreu pelas mãos de umconterrâneo, Francisco Manso de Pai-va Coimbra, encerrando um períodode mais de 15 anos de controle doParlamento, que lhe renderam o epí-teto, divulgado amplamente pelos jor-nais, de Mandarim da República. Oude caudilho e degolador, usado porseus inimigos e detratores.

Apenas o fato de poucas pessoasconhecerem a importância do papelhistórico de Pinheiro Machado, cujoassassinato foi chamado pela im-prensa da época de magnicídio – emreferência direta à palavra magno,historicamente dedicada aos grandeslíderes –, daria um bom motivo para

LITERATURA

ANDRÉ CHAVES DE MELO

Em busca daessência brasileira

Em romance que une com maestria ficção e realidade, a partir da criação de uma linguagem inovadora,o jornalista e ex-professor da USP Sinval Medina reconstrói a trajetória de vida e o assassinato do senador PinheiroMachado, analisando as profundas transformações pelas quais o Brasil passava, que culminaram na superação da

República Velha pela Revolução de 1930 e a reorganização nacional a partir de uma lógica intervencionista do Estado

se escrever um livro sobre ele. En-tretanto, além disso, outros fatoreslevaram o escritor e jornalista, tam-bém gaúcho, Sinval Medina a es-crever A faca e o Mandarim (Edito-ra A Girafa, 597 páginas), lançadono dia 1º de junho, na Livraria Cul-tura, em São Paulo. “O que maisme motivou foi a percepção que tive,ao saber do assassinato, do seu po-tencial enquanto história dramáticae do processo de entendimento doseu significado, pelo fato de que nãoé freqüente em nossa tradição polí-tica, ao contrário de outros países,como os Estados Unidos, por exem-plo, o assassinato de grandes líde-res”, explica Medina. “Minhas in-formações sobre Pinheiro Machadoeram poucas, como as da maioriadas pessoas, pois, apesar de ser ga-úcho, a memória política do RioGrande do Sul preservou a trajetó-

ria de outros líderes, que tambématuaram na República Velha, comoJúlio de Castilhos, Borges de Me-deiros, Ramiro Barcelos e Assis Bra-sil, entre outros. Acredito que issoocorreu pelo fato de Pinheiro Ma-chado ter tido sempre uma atuaçãono plano federal e não no regional.”

Assassinato – Morto pelas cos-tas no saguão do Hotel dos Estran-geiros, no Rio de Janeiro, com duasapunhaladas desferidas por Mansode Paiva, que se utilizou de umafaca cega e enferrujada, adquiridaem uma feira livre – daí o título daobra –, a cena do assassinato, re-construída pelo autor a partir da lei-tura de diferentes fontes, carregatoda a dramaticidade do fato de avida de um dos mais ilustres políti-cos do período ter sido abreviadapor um objeto deteriorado, em con-

traste com o que havia sido a traje-tória de sua vítima, simbolizandona narrativa o que veio depois: oinquérito policial conduzido semouvir testemunhas importantes ea alegação da defesa de que o as-sassino era um incapacitado men-tal, tendo como pano de fundo asuspei ta de que o assassinatoocorreu por encomenda de outrospolíticos importantes, negada atéo fim de seus dias pelo crimino-so, que cumpriu 20 anos de pri-são, sendo solto apenas na décadade 1930, o que explicaria o desca-so da polícia com a investigação.

Independente da veracidade da te-oria da conspiração ou da versão doassassino de que ele agiu por contaprópria, com o intuito de livrar oPaís de um “sanguessuga”, o fato éque o crime abalou as relações depoder na época. Na prática, essas re-

lações já estavam estremecidas des-de o governo de Hermes da Fonseca– que era gaúcho e, para muitos, re-presentava um revés da política docafé-com-leite, em que mineiros epaulistas se alternavam no poder –,a ponto de, com a morte de Rodri-gues Alves, reeleito para substituiro mineiro Venceslau Brás, presi-dente quando da morte de PinheiroMachado, a escolha ter recaído so-bre um nome de consenso, o do pa-raibano Epitácio Pessoa, que en-frentou um governo tumultuado. “Ofato é que havia o domínio da Pre-sidência pelas elites mineira e pau-lista, enquanto as elites dos outrosEstados, menos importantes, fazi-am valer algumas de suas prerro-gativas por meio do domínio doParlamento, que por mais de 15anos foi comandado por PinheiroMachado”, diz Medina. “No gover-no Campos Sales a política dos go-vernadores foi organizada e Pinhei-ro Machado, em troca do seu apoioao presidente no Congresso, o quegarantiu a governabilidade frente àgrave crise gerada pela política eco-nômica desastrosa de Rui Barbosa,que ficou conhecida como encilha-mento, foi alçado à tarefa de nego-ciador, cabendo-lhe os entendimen-tos com os governadores no tocan-te à indicação por eles de deputa-dos e senadores, o que aumentouseu poder e quantidade de inimi-gos”, conta. “Todos esses fatosmostram que o Legislativo da Re-pública Velha não era uma massaamorfa e incipiente, como muitasvezes nos é dado a entender. Atémesmo porque o federalismo, na-quele período, era muito mais fortedo que é atualmente.”

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Sinval Medina

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Transformações – Misturando umenfoque de ficcionista com o de re-pórter que foi a fundo em suas pes-quisas, levantando dados em cincobiografias de Pinheiro Machado, numlivro que resume os autos do proces-so instaurado – escrito por um dosadvogados da acusação – e artigosde jornais, entre outras fontes, Medi-na reconstruiu a sociedade da época,em profunda transformação, acelera-da com a abolição da escravidão, avinda de milhares de imigrantes, ocrescimento urbano e os primeirospassos da indústria nacional. Para tan-to, o escritor estruturou sua narrativaa partir de três histórias paralelas, quefreqüentemente convergem e se afas-tam. O recurso utilizado para isso foia criação do personagem-narrador, ojornalista Custódio. “Trata-se de umaobra de ficção, que mistura fatos con-cretos com criações literárias, pois nãohá um objetivo puro com a verdadeobjetiva”, afirma o autor. “Ao optarpelo recurso de um personagem-nar-rador, consegui ter maior liberdade naconstrução da narrativa, não ficandopreso a uma lógica apenas factual.”

Funcionário do governo federal,após o suicídio do presidente Getú-lio Vargas, Custódio resolve sair delicença por três meses, em uma táti-ca que lhe poupa dos conflitos ini-ciais gerados pelo acomodamentodas forças políticas no vácuo de po-der, e passa a escrever um livro so-bre suas memórias dos acontecimen-tos que antecederam e sucederam oassassinato do senador Pinheiro Ma-chado, cumprindo um acordo feitocom seu chefe. Sem seguir uma ló-gica cronológica, com idas e vindasque variam do início ao fim da Re-pública Velha, voltando constante-mente ao “presente”, no caso, aocontexto após a morte de Vargas, onarrador mistura sua história pesso-al, de brasileiro nascido pobre queconsegue ascender à classe médiapor esforço próprio, com a do sena-dor e a descrição de uma série deassassinatos que passam a vitimaras mulheres pobres do Rio de Janei-ro, atribuídos pela imprensa a ummaníaco, apelidado de “O Homemdo Capote”, em uma versão nacio-nal de Jack, o estripador. “Tanto oassassinato do senador Pinheiro Ma-chado quanto a idéia de criar umaparódia sobre Jack eram temas inde-pendentes entre si que há mais dedez anos me perseguiam”, brinca oautor. “Ao ler o resumo do processode Manso de Paiva, especialmente oslaudos dos médicos que o considera-ram um degenerado partindo de suascaracterísticas físicas, apesar de fri-sarem que isso não o impedia de dis-tinguir as diferenças entre o que eracerto e errado, percebi que era achance que estava esperando para cri-ar minha paródia”, conta. “A uniãodas duas temáticas acabou se reve-lando um excelente instrumento paraa reconstrução do ambiente que nor-teava o trabalhoda polícia daépoca não apenasno Brasil, mas nomundo, incluindoas atividades dosmédicos-legistas,que eram bastan-te influenciadospelas teorias domédico italianoCesare Lombro-so, defensor dateoria de que erapossível tipificaros criminosos apartir da suas ca-racterísticas físi-cas, e do belgaBernard Hollander, pai da modernafrenologia e dos exames de bossas cra-nianas para os mesmos fins.”

Resumo do Brasil – Mas, maisdo que mostrar a força da mobili-dade social brasileira, a qual per-mite constantemente que pessoasde origem humilde possam chegaràs mais altas posições da socieda-de, desde que, além de enriquecer,adotem os valores da sua nova

gislativo, que não tinha, portanto,um papel meramente decorativo.”

Se a memória de Pinheiro Ma-chado é pouco lembrada em seuEstado, a situação se repete em ní-vel nacional. Como um político queteve papel central nos jogos do po-der por quase duas décadas podeter sido esquecido? O livro não res-ponde diretamente à questão, masnos dá algumas pistas ao mostrarcomo é que foi conduzido o inqué-rito e o julgamento de Manso dePaiva, reapresentando a suspeitacorrente na época de que o assassi-nato havia sido encomendado porpessoas influentes. E, como a his-tória é escrita pelos vencedores, osvencidos entram para o limbo.

Estilo inovador – Entretanto,mais do que uma interpretação deépoca por meio da criação ficcio-nal, A faca e o Mandarim, escritoem apenas 18 meses, é um livro quetira sua força de uma linguageminovadora e única, criada pelo au-tor especialmente para atender aosseus objetivos. E essa é, sem con-tar o rigor das pesquisas e a pro-fundidade da narrativa, a grandemarca da obra de Medina, pois paracada livro o autor cria uma lingua-gem diferente, sem a pretensão dereconstituir o modo de falar e es-crever das épocas retratadas, o queé impossível, mas com o objetivode que a linguagem seja a mais ade-quada para a comunicação efetivacom seus leitores, levando-os aacompanhar as reflexões mais ínti-mas do narrador e gerando a ansie-dade a partir das constantes tenta-tivas de adivinhar, de maneira sa-borosa, o que virá no próximo pa-rágrafo. “Na prática escolhi ser umautor sem estilo definido ao desen-volver uma linguagem diferentepara cada obra”, afirma o escritor,que também foi professor da Esco-la de Comunicações e Artes (ECA)da USP até 1975, ano em que teveseu contrato não-renovado comofruto da cassação branca promovi-da durante os últimos suspiros dapolítica de linha dura da ditaduramilitar. A questão da definição doestilo do autor passa, portanto, poruma inversão conceitual: seu esti-lo é o de não se prender a umaúnica forma de se expressar. É,portanto, o estilo de buscar cons-tantemente o novo, é o estilo denão ter estilo pré-definido.

A inovação da linguagem e a pro-fundidade como constrói sua narrati-va, em que ficção e realidade se mis-turam como se sempre tivessem es-tado juntas em prol da tentativa deresponder à grande questão que moveo autor, que é a de achar a respostapara o que é, efetivamente, ser brasi-leiro – o que ele admite ser algo pra-ticamente impossível –, lhe renderam,em 1999, o Prêmio Passo Fundo deLiteratura para romances em línguaportuguesa, concedido para sua obraTratado da altura das estrelas, queconsumiu oito anos de trabalho.

A forma inovadora como Medinatrabalha a ficção lhe permitiu, tam-bém, a autoria do roteiro do filmeVôo cego, rumo sul, do cineastaHermano Penna, que será em brevedistribuído no circuito nacional. Ofilme se baseia em um capítulo demesmo nome, extraído do livroCara, coroa, coragem, publicadopor Medina em 1982 (Editora NovaFronteira) e é dedicado ao períodomilitar. “A criação de A faca e oMandarim ocorreu de forma inusi-tada, pois estava escrevendo outrolivro, partindo de outro persona-gem, quando, após ter escrito cercade cem páginas, percebi que a te-mática me permitiria abordar pri-meiro o magnicídio do senador Pi-nheiro Machado”, revela. “A idéiade encaixar a paródia sobre Jack, oestripador, surgiu depois”, lembra.“E é exatamente esse livro que pa-rei de escrever o meu próximo pro-jeto, onde, provavelmente, trarei devolta meu narrador, Custódio.”

classe, renegando suas origens –relação ilustrada pela passagemonde o narrador reencontra umamigo de infância, vizinho dostempos de cortiço e finge não co-nhecê-lo – e, portanto, não amea-çando o status quo, as formas dedominação social, Custódio é osímbolo, o próprio resumo da so-ciedade brasileira em transforma-ção, retratada pela situação espe-cial da cidade do Rio de Janeiro,onde o governo federal promove

uma reurbani-zação a partirda demol içãodos cor t içosque dominavama paisagem daregião central,ace lerando oprocesso de fa-vel ização dosmorros com achegada da po-pulação expul-sa. Sobreviven-te desse proces-so , Cus tódioascende e suahistória pessoalpermi te que

Medina retrate o contexto da épo-ca como pano de fundo para asduas outras histórias, a do assassina-to de Pinheiro Machado e a do Ho-mem do Capote, as quais, somadasao todo – se é que esse recorte épossível –, ampliam a narrativa demaneira crescente e contribuem parauma melhor compreensão do leitorsobre esse período pouco destrincha-do que é a República Velha, apesardo seu caráter ficcional.

A faca e o Mandarim, Editora A Gira-fa, 597 páginas

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Medina: linguagem inovadora

special“Os conflitos entre as diferentes

elites estaduais continuam após amorte de Pinheiro e culminam como fim da República Velha e docafé-com-leite, levados a cabo pelaRevolução de 1930”, afirma Me-dina. “Graças à leitura de um en-saio do professor Alfredo Bosi, queestá em Dialética da Colonização,consegui ter uma nova visão sobreessas questões. Nesse texto há umaanálise da ligação entre a atuaçãodas elites do Rio Grande do Sul,positivistas, ou seja, defensoras daintervenção do Estado em prol daordem e do desenvolvimento eco-nômico, entendido como progres-so, e a Revolução de 1930”, diz.“Isso me fez perceber que, apesardo papel coadjuvante do Rio Gran-de do Sul e de outros Estados nojogo de forças entre mineiros epaulistas, eles representavam umaforça ponderável no jogo sucessó-rio, tanto que Pinheiro Machadoconseguiu, a duras penas, fazerpresidente Hermes da Fonseca, queera gaúcho, quebrando o esquematradicional de paulistas e mineiros,através do seu domínio sobre o Le-

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Página 8 • De 14 a 20/6/2004Culturaprimeiro dos surpreendentesCapítulos da história da me-dicina no Brasil, do elegan-

te memorialista mineiro Pedro Nava,é todo dedicado às relações da artede curar com as outras artes. Nasprimeiras linhas lê-se: “Segundo amaneira que for realizado, o estudoda história da medicina pode ser umaatividade útil, viva e cheia de ensi-namentos ou um trabalho mais oumenos inútil, bizantino e apenas pi-toresco”. Tomemos emprestado esseensinamento para auscultar o que di-zem alguns livros lançados recente-mente sobre o tema. Voltaremos,mais tarde, a Pedro Nava.

Das tripas coração – uma brevehistória da medicina, de Roy Por-ter, um importante pesquisador dotema e professor em duas universi-dades de Londres, já falecido, con-segue, em 240 páginas, repassar osgrandes avanços da medicina, mos-trando como uma ciência nascidacom a intenção clara de cuidar dasaúde do corpo e livrar o homemdos males das doenças tornou-se, aolongo do tempo, um excelente ne-gócio, muito mais preocupado como retorno financeiro que com pre-missas humanistas.

Desde logo, Roy Porter anunciaque a história da medicina está lon-ge de ser “uma narrativa simples deum progresso triunfante”. No pri-meiro capítulo, “Doença”, por exem-plo, o autor mostra como, desde ainfância da humanidade, a agressi-vidade do homem contra a naturezatem resultado em uma guerra micro-biológica. “À medida que os sereshumanos colonizaram o globo, elesmesmos foram colonizados poragentes patogênicos.” Porter abordacomo a interação entre o homem eos seres microscópicos fortaleceu oprimeiro – que foi adquirindo imu-nidade contra várias doenças ao lon-go dos tempos. E ainda como, aocompreender o poder letal dos mi-croorganismos, o homem passou ausar esse conhecimento para subju-gar seus semelhantes – vide, parti-cularmente, a guerra bacteriológicatravada entre espanhóis, portugue-ses e britânicos contra os habitantesoriginais das Américas.

É interessante acompanhar as ob-servações de Porter no que concer-ne à mudança de atitude do médicocom relação ao paciente. Até o co-meço do século 20, por entender ocorpo como um bem divino, a me-dicina não se atrevia a invadi-lo. Asdoenças continuavam a grassar e omédico tinha, como opção, dois ca-minhos: o hipocrático (esperar e ob-servar) ou o galênico (administrarpurgantes ou sangrias). Até essaépoca, “a medicina era capaz decompreender as doenças de que aspessoas morriam, mas não conseguiaimpedi-las de morrer”. Muitos mé-dicos, então, para fazer algo, recor-riam aos sedativos, analgésicos enarcóticos descobertos ao longo doséculo 19 e começo do século 20:morfina, heroína, hidrato de cloral,barbital, fenobarbital...

Se os estudos mecanicistas e expe-rimentais de Vesálio e Harvey mos-traram claramente as ligações entreas doenças nas pessoas vivas e ossinais patológicos nos cadáveres, foiMagnani, ainda no século 18, quedeslocou a ênfase dos sintomas parao foco da doença – “ele incentivou apassagem de uma teoria fisiológica(a doença é um estado anormal doorganismo inteiro) para uma teoriaontológica da doença (a doença éuma entidade que reside localizada-mente numa parte)”. O passo seguinteseria dado por Bichat, que lançou asbases da medicina clínica do século19. Aprofundando o conceito deMagnani, Bichat afirmou que a do-ença não deveria ser vista como le-sões de um órgão, mas sim como le-sões de tecidos específicos.

A medicina tradicional, em que arelação médico-paciente era pesso-al, começa efetivamente a mudar,ganhando importância a medicinahospitalar. Pierre Louis ensinava queos sintomas (o que o paciente dizia

LIVROS

LUIZ RUFFATO, especial para o Jornal da USP

Considerações sobrea história da medicina

A milenar trajetória de sucessos e fracassos da arte decurar é traçada com elegância e humor em obras sobre o temalançadas recentemente – incluindo um opúsculo de Pedro Nava

sentir) tinham um valor clínico se-cundário; o que importava eram ossinais (o que o exame clínico cons-tatava). Com isso, os laboratóriospassam a ter evidência e, uma a uma,as doenças vão sendo mapeadas ereconhecidas – enfatiza-se a teoriamicrobiana de Pasteur e Koch. Che-ga-se ao impasse: conhecem-se asdoenças, mas não os remédios! Odiagnóstico havia evoluído muitomais rapidamente que a terapêutica,situação que vai ser compensadaapenas no século 20, com o casa-mento de interesses entre a pesqui-sa e a fabricação em larga escalados medicamentos.

Porter ainda discute brilhantemen-te o papel da cirurgia dentro da me-dicina – de patinho feio nascido di-retamente dos confrontos bélicos aocisne frondoso das chamadas “cirur-gias estéticas” –; o desenvolvimen-to do conceito de hospital – de sim-ples depósito de doentes a local qua-se miraculoso – e os rumos da me-dicina no futuro. Evidentemente,sem esgotar o assunto, o autor nosintroduz de uma maneira amigávele crítica ao fantástico universo dasdoenças e de sua cura.

Outro é o objetivo de Richard Gor-don, em sua A assustadora históriada medicina. Aqui o autor, menosque discutir ou analisar o desenvol-vimento da medicina no tempo, pre-tende informar divertindo. Tambémconhecido roteirista de filmes e se-riados de televisão na Inglaterra,Gordon nos conduz para os escani-nhos da arte de curar, que sem dú-vida contém um emaranhado deavanços, mas sempre resultante desucessivos fracassos. E são esses fra-cassos que provocam o humor per-seguido pelo autor. Esse é o lado“pitoresco” da história da medicina,seguindo a definição de Pedro Nava.

Jeanette Farrell persegue modelodistinto, o da vulgarização das infor-

O mações disponíveis. A assustadorahistória das pestes e epidemias dife-re do livro anterior já no apelo dotítulo original. Só por pertencerem àmesma coleção, A assustadora histó-ria, têm o título, em português, se-melhante. Contudo, o de Gordon, Aassustadora história da medicina, éuma tradução literal do título em in-glês – o que demonstra seu carátercomercial. O de Jeanette, não. Seutítulo poderia ser traduzido como“Inimigos invisíveis: histórias dasdoenças infecciosas” – nada de “as-sustador” ou “alarmante”, portanto.

A autora escolheu sete grandes do-enças epidemiológicas e se concen-trou nelas para estudá-las mais pro-fundamente. Jeanette expõe a origem,propagação e tentativa de combate davaríola – única cujo agente etiológicofoi totalmente extirpado –, tubercu-lose, lepra, peste, malária, cólera eaids. Mostra o trabalho muitas vezesheróico de médicos, enfermeiros epesquisadores para evitar a propaga-ção das doenças; os horrores provo-cados intencionalmente em váriosmomentos da história da humanida-de através da voluntária dissemina-ção de epidemias; e a persistência dosmales – no caso do Brasil, por exem-plo, que convive, de maneira sofrí-vel, com cinco das sete epidemiasprincipais listadas por Jeanette. Issosim é assustador e alarmante!

A medicina no Brasil – Voltemos,pois, a Pedro Nava e seu fabulosoCapítulos da história da medicina noBrasil, a edição em livro de uma se-parata da revista Brasil Médico Ci-rúrgico, publicada em seis números,entre 1948 e 1949. Nesse volume, épossível antever o estilista que na dé-cada de 70 iria legar à literatura bra-sileira uma obra memorialística dasmais importantes escritas em línguaportuguesa. Dono de uma invejávelclareza, mesmo quando tratando deassuntos áridos, Nava nos conduz pe-los meandros da medicina brasileira,em oito capítulos e um anexo, quenão se constituem em uma histórialinear – o autor, naquela época, afir-mava, tão contemporâneo: “As gran-des idéias médicas não pertencem aeste ou àquele século, não são suces-sivas e sim coexistentes”.

Nava já demonstra aqui o deste-mor que caracterizaria suas memóri-as, explicitando opiniões que, embo-ra polêmicas, são baseadas em ob-servações e largo estudo. Por exem-plo, sua suspeita de que a medicinapopular brasileira deve muito mais àobra dos jesuítas – que vestiram-nacom cientificidade – que aos índios;ou ainda sua clara ojeriza à obra piados religiosos, em se tratando de me-dicina, que teria muito mais atrapa-lhado que ajudado o desenvolvimen-to da arte. Os capítulos 5, 7 e 8 –claro que não em detrimento dos ou-tros – são exemplares de uma meto-dologia que une erudição, curiosida-de científica e um texto magnífico:tratam, respectivamente, das doençasepidêmicas, do exercício da profis-são no Brasil colonial e da históriada medicina popular.

Finalmente, vale a pena conhecerainda outro pequeno opúsculo deNava, o delicioso A medicina em OsLusíadas, um trabalho sério e pro-fundo, em que o escritor mineiroanalisa e exalta os conhecimentos damedicina quinhentista de seu colegapoeta português Luís de Camões.Esse livro contém dois outros tex-tos, “Medicina e humanismo” e“Aloysio de Castro, o gentil-homemda medicina brasileira”.

Luiz Ruffato é escritor, autor de Eleseram muitos cavalos

Das tripas coração – uma breve histó-ria da medicina, de Roy Porter(Record), A assustadora história damedicina, de Richard Gordon(Ediouro), A assustadora história daspestes e epidemias, de Jeanette Farrell(Ediouro), Capítulos da história da me-dicina no Brasil, de Pedro Nava (Ate-liê/Oficina do Livro Rubens Borba deMoraes/Eduel) e A medicina em OsLusíadas, de Pedro Nava (Ateliê/Ofici-na do Livro Rubens Borba de Moraes).

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Jacques e seu amo

Tapeçaria do Petit Palais

Justiça

Há ainda o documentário Justiça – Um cho-que de realidade, que registra um dia no Tribu-nal de Justiça do Rio de Janeiro, lugar quepoucos brasileiros conhecem, apesar de osjulgamentos serem abertos ao público. Primei-ro, a câmera flagra um juiz, um professor dedireito, uma defensora pública e um réu empleno “teatro” da justiça, em meio às artimanhasdo poder que envolvem o local e a instituição.Depois, o longa mostra os personagens foradesse teatro social, na intimidade de suas famí-lias e na carceragem. O filme foi feito sementrevistas ou depoimentos e dirigido por MariaRamos, numa co-produção Brasil e Holanda.

Performances aéreas

Dramaturgia paulistana

Veneza no Tuca

A partir deste mês o Sesc Carmoestá promovendo encontros sema-nais sobre a dramaturgia paulistana,com leituras dramáticas e análisesestéticas e históricas das obras. Otexto a ser lido nesta semana éVereda da Salvação, de JorgeAndrade, que discute o fanatismoreligioso a partir de um fato realocorrido em 1955 na cidade deMalacacheta, norte de Minas Ge-

rais. O evento será ministrado peladiretora Dedé Pacheco, pela atrizMagali Biff e pelo pesquisadorWelington Andrade. Nas próximasedições serão lidas peças como Doisperdidos numa noite suja e Eles nãousam black-tie. Todas as quartas ,às 19h, na r. do Carmo, 147, Praçada Sé. Entrada gratuita, com inscri-ções prévias na própria unidade. In-formações pelo tel. 3105-9121.

Essa peça está em cartaz noTeatro Laboratório da Escola deComunicações e Artes (ECA) daUSP. Jacques e seu Amo é umamontagem inédita do romancista edramaturgo Milan Kundera. O es-petáculo reúne três histórias deamor em uma atmosfera nostálgi-ca, numa explosão de impertinente

liberdade e erotismo. A temporadavai até 27 de junho, de quinta asábado , às 21h30, e domingo , às20h30. O teatro fica na av. Prof.Luciano Gualberto, trav. J, 215, Ci-dade Universitária. Informações nabilheteria pelo tel. 3091-4375. Osingressos são gratuitos e podemser retirados uma hora antes.

A foto dissolvidaEssa exposição traz nomes como

Caio Reisewitz, Sandra Cinto eGustavo Rezende para mostrar osdesdobramentos que a fotografiatem experimentado com as novastecnologias digitais. Participam ain-da os artistas Adriana Rocha,Domitília Coelho, Fabio Faria,Gisela Motta, Helga Stein, JulioKohl, Keila Avaler, Leandro Lima,Paulo D´Alessandro, Rochelle Costie o projeto Kinokis, dos VJs AndréFinotti e Andrea Pasquini (realiza-

dores do filme Os melhores anosde nossas vidas, premiado no fes-tival É tudo verdade). A mostra, comcuradoria de Juliana Monachesi,remete ao processo de “dissolver”usado pelos VJs e a diluição dossuportes nas artes e na fotografia.“A foto dissolvida” fica em cartazaté 1º de agosto, de terça a sába-do , das 9h às 22h, e aos domingose feriados, das 9h às 20h. No SescPompéia (r. Clélia, 93, tel. 3871-7700). Entrada franca.

Programa de 2004 do CCSPFilme perdido de Reichenbach

O primeiro longa-metragem docineasta Carlos Reichenbach, queestava perdido desde os anos 70, éexibido em novo espaço cultural dacidade, destinado exclusivamenteao cinema. Corrida em busca deamor (1972) é uma aventura juvenilque parte de um clichê de filmescomerciais. Duas equipes disputamuma corrida de carros usados e tam-bém a atenção da filha do patrocina-dor do evento. Para poder concorrer

com a equipe rica, o grupo maispobre lança mão da pílula da veloci-dade, criada por um inventor malu-co. O filme é exibido na quinta , às20h, seguido de debate com o dire-tor e os jornalistas Sérgio Rizzo eMarcelo Lyra. No Espaço Cultural2001 Vídeo, localizado na 2001 Ví-deo Megastore Sumaré (av. Sumaré,1.744, Perdizes). Entrada franca,com retirada de senhas uma horaantes da sessão.

Os atoresdo De LaGuardavoam eandampelasparedes

O grupo argentino De la Guardaapresenta o espetáculo Villa Villaem São Paulo, inaugurando umnovo espaço cultural da cidade noBrooklin. Os integrantes ficam a 12metros do chão e quem assiste pode,sem aviso prévio, subir pelos arestambém. Eles fazem performancesde dança e acrobacias, tendo comotrilha sonora a música percussiva,além de efeitos de luzes. Na abertu-ra do espetáculo, uma tempestadede vento e chuva já impressiona,seguida de acrobacias e escaladas

em paredes. Criada pela PichónBaldinú e Dique James em 1993, aformação de 15 atores se divideem temporadas simultâneas porcidades como Tóquio e Nova York.As apresentações acontecem até30 de agosto, segunda e quarta ,às 22h, quinta e sexta , às 22h30,sábado , às 20h e 22h30, e domin-go , às 18h e 21h30. No EspaçoSmirnoff (av. Roque Petroni Júnior,720, tel. 5543-1242). Os ingressoscustam R$ 100,00 (estudantes pa-gam meia-entrada).

Uma viagemà Venezaatravés desonhos

O Programa de Exposições de2004 do Centro Cultural São Paulotem como convidadas as artistasAna Maria Tavares e ReginaSilveira. Com inauguração nestaquarta , às 19h, a mostra reúne seteartistas: Amanda Mei, Fabrício Lopez,Flávia Bertinato, João Paulo Leite,Laura Huzak Andreato, StefanSchmeling e Patrícia Osses. AnaMaria apresenta obras das sériesCaça-palavras e Palavras cruzadasna exposição Noturnos, com doze

painéis em inox colorido e gravado.Também convidada, Regina traz Insitu, que reúne desenhos, maquetes,modelos digitais e amostras de proje-tos recentes para arquitetura, comode um prédio da USP e de uma inter-venção no Sesc Belenzinho. Elas ain-da oferecem workshops gratuitos (in-formações pelo tel. 3277.3611, ramal257). Até 25 de julho, de terça asexta , das10h às 20h, e aos sába-dos e domingos , das 10h às 18h, nar. Vergueiro, 1.000, Paraíso. Grátis.

Reunidas pela primeira vez em umagrande exposição no Brasil, 26 tape-çarias pertencentes à coleção do PetitPalais, o Museu de Belas-Artes deParis, estão na Pinacoteca do Esta-do. São tapeçarias francesas eflamengas de grandes dimensões,tecidas entre os séculos 15 e 18, queeram feitas para cobrir e decorar pa-redes. Elas retratam aspectos diver-sos do período, como a vida na corte,a mitologia, jogos infantis, batalhas

do Renascimento e principalmentecenas religiosas e literárias.Curadoria de Gilles Chazal, diretordo Petit Palais, e de Françoise Barbee Patrick Lemasson. Depois, a mos-tra, intitulada “A arte da tapeçaria”,segue para Curitiba e Porto Alegre.Em cartaz até 25 de julho, de terça adomingo , das 10 às 17h30. Na Pra-ça da Luz, 2, tel 11 229.9844. Ingres-sos: R$ 4,00 e R$ 2,00, com entradagratuita aos sábados.

Ciclo de documentários

Samba Riachão

Também é estréia do filme Samba Riachão,de Jorge Alfredo, sobre o sambista Riachão,com participações de Dorival Caymmi, Tom Zé,Caetano Veloso, Gilberto Gil, Carlinhos Brown eDaniela Mercury. Aborda a história do samba noBrasil através da trajetória de ClementinoRodrigues, o popular sambista baiano Riachão,autor de Cada macaco no seu galho, recente-mente regravada por Gal Costa, além de Vámorar com o Diabo, por Cássia Eller. SambaRiachão percorre os caminhos sinuosos da vidade um artista popular, negro, pobre e famoso,vestido de malandro, com anéis, colares, cha-veiros, camisa semi-aberta e toalha pendurada

no pescoço,entremeadospor depoimen-tos de grandesnomes da mú-sica – em geralfilmados de for-ma pouco con-vencional. Olonga-metra-gem foi vence-dor do Festivalde Brasília de2001 e aindatem lançamen-to programadopara o Rio deJaneiro, Salva-dor, Porto Ale-gre e Recife.

Boca do lixo

Motoboys

Um labirinto de palavras na obra de Ana Maria TavaresFilme 33,de KikoGoifman

Filme O Galante rei da boca

de, as prostitutas e um cliente simu-lam uma viagem que a transporta atéa Cidade das Águas. A viagem éconstruída com sonhos e fantasiasdos personagens. Com Arlete Sallese Ewerton de Castro, entre outros. Háum solo de ópera com Jarbas Ho-mem de Mello. Em cartaz até 22 de

agosto, sextase sábados , às21h, e domin-gos , às 19h. OTuca fica na r.Monte Alegre,1.024, Perdi-zes. Informa-ções pelo tel.3123-1756. Osingressos cus-tam R$ 40,00.

A peça de Jorge Acame foi adap-tada por Miguel Falabela que tam-bém assina a direção. Veneza contaa história de uma velha cafetina(Laura Cardoso), senil e à beira damorte, que deseja ir a Veneza parareencontrar seu grande amor. Semdinheiro para satisfazer sua vonta-

Além de raridades sobre a Boca doLixo, é apresentado um documentárioinédito na mostra que comemora os50 anos de cinema de Antonio PoloGalante. O destaque é o documentárioganhador do prêmio ABD de MelhorDocumentário É Tudo Verdade 2003,O Galante – rei da boca, de AlessandroGamo e Luis Rocha Melo. Tambémserão apresentados filmes de OzualdoCandeias, Ody Fraga e Osvaldo deOliveira. Até domingo , com sessõesàs 14h30, 16h30, 18h30 e 20h30, noCentro Cultural Banco do Brasil (r.Álvares Penteado, 112, Centro, tel.3113-3651), com ingressos a R$ 4,00.

E nesta terça , às 20h30, será realiza-do o debate “O Reduto da Boca doLixo”, com participação do crítico decinema Inácio Araújo e do diretorCarlos Reichenbach, mediado peloprofessor Arthur Autran.

documentário ganha tons de ficçãonoir através das entrevistas comdetetives e das cenas em preto-e-branco pelas ruas de Belo Horizon-te. O título 33 é em razão da idadede Goifman, 33 anos, e do períodoque ele se dispôs a se dedicar àbusca, 33 dias. A sessão é nestaquinta, às 17h, e em seguida, às

19h30, é projetado Pre-to e Branco (2004), deCarlos Nader, sobre re-lações raciais entre ci-dadãos comuns da cida-de de São Paulo. Deestrutura episódica, o fil-me reúne quatro curtassobre uma história de500 anos. Na av.Paulista, 149, tel. 3268-1776. Entrada franca.

Documentários brasileiros recen-tes estão reunidos na Mostra Cir-cuito Doc, do Itaú Cultural, que acon-tece em todas as quintas desdejunho até 26 de agosto. Nesta se-mana é exibido 33, o último longa-metragem de Kiko Goifman. No fil-me, o diretor registra sua própriabusca pela sua mãe biológica. O

O documentário estréia nesta sexta , juntocom mais dois filmes nacionais. Motoboys, vidaloca (Brasil, 2002), de Caíto Ortiz e roteiro deGiuliano Cedroni, acompanha o cotidiano decinco motoboys, mostrando o ponto de vista dosmotoristas. São desempregados que não viramoutra oportunidade a não ser dirigir uma moto. Acada ano os motoboys vêm aumentando e, comeles, o perigo, já que pelo menos três delesmorrem por dia, em média. Como diz o diretor,“nada mais contemporâneo em São Paulo doque os motoboys”. No elenco estão FedericoLuppi, Mercedes Sampietro, Arturo Puig, CarlosSantamaría, Yael Barnatan.

David E. NevesA mostra David E. Neves, Cineas-

ta e Crítico traz diversosdocumentários e filmes de ficçãodirigidos por ele. A abertura é com odocumentário Vinícius de Moraes(1968), sobre o poeta (terça , às16h). Também serão exibidos, en-tre outros filmes: Muito prazer(1979), em que três arquitetos etrês pivetes trabalham frente a fren-te num cruzamento da zona sul doRio (terça , às 16h); Bienal – mão dopovo (1971), documentário que con-trapõe a Bienal a uma exposição dearte popular (quinta , às 16h30);Luz del Fuego (1981), sobre a ex-vedete envolvida em escândalos

com políticos e com a polícia (sába-do , às 18h); Lúcia McCartney, umagarota de programa (1970), inspira-do nos contos de Rubem Fonseca(sexta , às 20h); e O Palácio dosArcos (1971), sobre uma das maio-res obras de Oscar Niemeyer (quar-ta, às 16h). Em seguida (às 19h), hádebate com o diretor, a atriz LucéliaSantos, os cineastas Jom TobAzulay e Walter Lima Jr., a arquitetaAna Pessoa e o produtor JoaquimVaz de Carvalho. No Centro Cultu-ral São Paulo (r. Vergueiro, 1.000,Paraíso, tel. 3277-3611). Entradafranca, com retirada de senhas umahora antes da sessão.

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A partir de segunda até domingoacontecem vários espetáculos eworkshops de dança na Oficina Cul-tural Oswald de Andrade. Valsa doDesassossego, com a bailarinaLarissa Turtelli, traz como tema asgrandes cidades e as pessoas quenelas vivem, desenvolvendo-se ascenas por sobre um andaime (terça,às 19h30); O passar em branco,interpretado por Daggi Dornelles, éum trabalho experimental que abor-da o espaço e o momento presente(sábado e domingo, às 16h). Aentrada é franca, com retirada deconvites com duas horas de ante-

A obra de Gabriel GarcíaMárquez é apresentada nesta quin-ta, às 19h, dentro dos Saraus Lite-rários, transformando o atrium doSesc Vila Mariana em palco para apoesia e o universo fantástico doautor. As atrizes Daniela Schitini,Eliana Bolanho e Luciana Carnieli(todas da Escola de Arte Dramáticada USP) mostram a árvoregenealógica da família Buendía, osdiversos personagens da história e

Palavra em movimento

culo Palavra, poesia em movimen-to, da Cia. Nova Dança 4, que seráapresentado nesta semana, no Cen-tro Cultural São Paulo. Criação edireção geral de Cristiane PaoliQuito. De quarta a sábado, às 21h,e domingo, às 20h. Na Sala JardelFilho do CCSP (r. Vergueiro, 1.000,tel. 3277-3611). Os ingressos cus-tam R$ 8,00.

A palavra e a música vêm comoinspiração e composição do movi-mento. São frases, fragmentos,sons, canções, palavras retiradasde textos de pensadores, poetas ecompositores, entre eles ArnaldoAntunes, Clarice Lispector, Fernan-do Pessoa, Marilena Chauí, SérgioBuarque de Holanda, WilliamShakespeare... Assim é o espetá-

Com forte influência do te-atro físico, esse espetáculofoi criado pelo coreógrafovenezuelano radicado emLondres Gabriel Castillo paraa Cia. 2 do Balé da Cidade deSão Paulo. Lei de Nada ex-plora pensamentos, condutase valores pré-fabricados eserá apresentado dentro doprojeto Dança no Arena doCentro Cultural São Paulo (r.Vergueiro, 1.000, Paraíso, tel.3277-3611), de quarta a sá-bado, às 19h30, e domingo,às 18h30. A entrada é franca.A cenografia, design de ilumi-nação e figurinos foram cria-dos por artistas brasileiros,como Daniela Thomas, queassina o cenário junto comPatricia Rabatt. A direção ge-ral é do próprio Castillo. Aprogramação segue na próxi-ma semana com a Mostra deHip Hop, que reúne os gruposprofissionais Cia. Ritmos deRua, Sampa Master e TheFace (haverá aindaworkshops, sem necessida-de de inscrição prévia).

Lei de Nada

Silv

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acha

do

O teatro físico nacoreografia dovenezuelanoGabriel Castillo

O teatro físico nacoreografia dovenezuelanoGabriel Castillo

Resultado de um trabalho depesquisa de quatro anos sobre oartista Arthur Bispo do Rosário,que durante 50 anos esteve inter-nado produzindo freneticamenteobras de arte com tudo o que eleencontrava no lugar, sapatos, pas-ta de dente e até a linha do própriouniforme. O espetáculo de dançaBispo do Rosário cria um código

teatral como um jogo labirínticoque ele mesmo estabeleceu emvida. O texto é de Edgard Navarro,que também assina a direção aolado de João Miguel. Nesta sextae sábado, às 21h, e domingo, às19h, dentro da Mostra Viga Cêni-ca. Na r. Capote Valente, 1.323,Pinheiros, tel. 3801-1843. Os in-gressos custam R$ 10,00.

dias 3 e 4 de julho do diretor de teatrojaponês Hiroshi Koike – autor deuma linguagem multidisciplinar queassocia teatro, dança, ópera, músi-ca e artes visuais –, que vai falarsobre o conceito de slow movementna atuação cênica e também do ro-teiro do espetáculo Cem Anos deSolidão, baseado no livro homônimodo escritor colombiano Gabriel GarcíaMárquez (ele pretende formar umelenco internacional e para isso estáem busca de atores e bailarinos paraa montagem que estréia em Tóquioem 2005). Neste ano, a segundaedição do evento reúne representan-tes da produção independente deSão Paulo como Emilie Sugai, AngelaNolf & Deborah Furquim, além decriadores de outros Estados. Acuradoria do evento é de AnaFrancisca Ponzio. Apresentações dequinta a sábado, às 20h, e domin-go, às 19h, no Centro Cultural Bancodo Brasil (r. Álvares Penteado, 112,Centro, tel. 3113-3651). Ingressos:R$ 10,00, com meia-entrada paraestudantes. A programação comple-ta pode ser acessada no sitewww.cultura-e.com.br.

cedência. Há também workshops: En-contros do Corpo, com DaggiDornelles, trata do estudo do movi-mento a partir das possibilidades entrecorpo e ambiente (de segunda asexta, das 14h às 16h30); e Encon-tro de Professores de Dança, promo-vido pelo Fórum de Dança SP, temcomo objetivo discutir as leis queregulamentam a profissão, formaçãode novas gerações e reflexão sobre aprática pedagógica e artística (sába-do e domingo, das 9h às 18h); am-bos com inscrições abertas. Na Ofici-na Oswald de Andrade (r. Três Rios,363, Bom Retiro, tel. 222.2662).

Começa nesta quinta e vai até 11de julho o projeto Dança em Pauta2004, que traz entre outras atraçõeso grupo colombiano L´Explose, emque a bailarina Marvel Benavidesdança em Por quien lloran mis amo-res? entre 250 copos de cristal, fi-cando algumas vezes por cima de-les, numa metáfora à fragilidade doser humano; a brasileira Maria ClaraVilla-Lobos, que mora na Bélgica hádez anos e vem fazendo sucesso naEuropa, enfocando o anticon-vencional no espetáculo M - UmaPeça Mediana, uma crítica aoglamour fabricado e ao culto à ima-gem, às celebridades; e ainda o jo-vem coreógrafo Bruno Beltrão e suamistura de hip hop com dança con-temporânea que o público escutaatravés de fones de ouvido em umde seus espetáculos, o Eu e MeuCoreógrafo no 63, solo de um dan-çarino de break (resultado de umaconversa entre o bailarino EduardoHermanson e o coreógrafo, no fimde noite no quarto de hotel, numpapo recheado de intimidades). Háainda uma programação paralela,com destaque para o workshop nos

Bispo do Rosário

Dança em Pauta

Espetáculos e workshops

Dança, música e texto na coreografia da Cia. Nova Dança 4

Edu

Mar

in

Túnel do tempoclóricas da Europa e Américas.Entre as músicas estão San Pedrotrotó cien años (folclore espanhol),Cânone, de Mozart, e Samba doArnesto, de Adoniran Barbosa. Aapresentação acontece às 11h, naCasa de Dona Yayá (r. Major Diogo,353, Bela Vista). Mais informaçõespelo tel. 3106-3562. Grátis.

Neste domingo, o Coralusp -IPT, sob a regência de PaulaMonteiro, apresenta o espetáculo“Túnel do Tempo”, que vai levar opúblico a diferentes épocas e paí-ses através de um repertório com-posto por obras escritas original-mente para coro e também porarranjos de peças populares e fol-

Instrumentos de épocacom ingressos a R$ 5,00. No mes-mo local, no sábado, às 21h, e nodomingo, às 18h, Wilson Simoni-nha lança seu novo CD, com reper-tório que mescla samba, soul ejazz, com destaque para a músicaTributo a Martin Luther King, su-cesso na voz de seu pai, WilsonSimonal, no final da década de 60(ingressos a R$ 15,00).

O grupo Ensemble Flustres, for-mado por David Castelo e PatriciaMichelini nas flautas doces; Gui-lherme de Camargo, no alaúde eteorba; Osny Fonseca, no cravo eórgão; e João Guilherme Figueire-do, no violoncelo barroco, apresen-ta a chamada música antiga nestaquarta, às 20h , no Sesc Vila Mari-ana (r. Pelotas, 141, tel. 5080-3000),

sical e Informática), do Departa-mento de Música da USP. No pro-grama estão obras de composito-res consagrados como Messiaen eBerio, e nomes da nova geração,entre eles Marcos Lacerda, SilvioFerraz e da própria Marisa. No Cen-tro Universitário Maria Antonia (r.Maria Antonia, 294, Vila Buarque,tel. 3255-5538). Entrada gratuita.

Música na Maria Antonia

Nesta quarta, às 20h30, aconte-ce um concerto de música contem-porânea com Cássia Carrascoza(flauta), Lidia Bazarian (piano),Marisa Rezende (piano), EduardoGianesella (vibrafone) e Luís Afon-so Montanha (clarinete), que parti-ciparam recentemente da primeiracoleção de discos editada pelo seloLAMI (Laboratório de Acústica Mu-

Música eletrônica

O mundo da ópera é recriadonesse espetáculo do Coral do Es-tado de São Paulo, que aconteceno domingo, no Theatro SãoPedro. Sob a regência do maes-tro José Ferraz de Toledo, serão

Com sotaque baiano. É assim oshow do Eletro2Baianos, formadopela cantora e compositora JuremaPaes e pelo multiinstrumentistaMarcos Vaz, que se apresenta nes-te domingo, às 11h, no Museu daCasa Brasileira. Afoxés e alojás (rit-mos de candomblé) mixados aodrum’n’bass, além da utilização de

samplers e groovebox, estão emcomposições próprias e parceriascom compositores como ZecaBaleiro. Há ainda músicas de ChicoCésar, Novos Baianos e clássicosde Dorival Caymmi e Riachão. Omuseu fica na av. Brig. Faria Lima,2.705, Jardim Paulistano, tel. 3032-3727. Gratuito.

Romeu e Julieta

Orquestra Experimental de Repertório está na montagem

A tragédia de WilliamShakespeare ganha montagem naópera em cinco atos de CharlesGounod, com libreto de Barbier eCarré, que será apresentada pelaprimeira vez no Teatro Municipalde São Paulo. A trama se passano século 14 em Verona,enfocando o amor proibido entrejovens de duas famílias rivais, osCapuleto e os Montecchio. Com aOrquestra Experimental de Re-pertório e o Coral Lírico, regidos

pelos maestros Jamil Maluf eMário Záccaro, e a sopranoRosana Lamosa e o barítonoFernando Portari como protago-nistas. A direção é de José PossiNeto. A ópera é cantada em fran-cês, com legendas em português.Nesta terça, quinta e sábado, eainda na próxima segunda, sem-pre às 20h. O teatro fica na PraçaRamos de Azevedo, s/nº, Centro,tel. 223-3022. O valor dos ingres-sos vai de R$ 30,00 a R$ 100,00.

Emoções e contrastesinterpretadas árias de Verdi,Donizetti, Mozart e Wagner, en-tre outros. Às 11h, com entradafranca, no teatro que fica na r.Barra Funda, 171, Barra Funda,tel. 3667-0499.

Nesta sexta, o proje-to Sons Urbanos doSesi apresenta a bandaSacicrioulo, de Campi-nas, que resgata ritmosregionais, com combi-nações de rock, funk,soul music e rap. Norepertório estão compo-sições próprias, privile-giando questões soci-ais em suas letras, alémde versões de músicasde artistas como NaçãoZumbi, Jorge Benjor eoutros. Às 12h30, naEsplanada do CentroCultural Fiesp (av.Paulista, 1.313). Infor-mações pelo tel. 3146-7405. Grátis.

A banda tem repertóriodançante, com letras sobre

questões sociais

Sons Urbanos

Nesta quinta acontece o reci-tal de poesia Eras de Eros, comapresentação de Clenir Bellezi deOliveira e Frederico Barbosa eacompanhamento musical deTobias Luz e Marcelo Ferretti. Sãotrechos de textos de FernandoPessoa (Primeiro Fausto/Terceirotema), Gregório de Matos (Defini-ção do amor e Admirável expres-são que faz o poeta de seu aten-cioso silêncio), Paulo Leminski(Amor, então), Vinícius de Moraes(Soneto de separação), ClariceLispector (Água viva e o conto OBúfalo), entre outros. O recitalaborda diferentes épocas, línguase culturas que versam sobre oamor e o erotismo. Às 20h, comentrada franca, no Centro Cultu-ral São Paulo (r. Vergueiro, 1.000,tel. 3277-3611).

Cem anos de solidão

seus laços familiares e amorosos.O público escolhe um dos perso-nagens da história, para que eletenha uma pequena passagem davida desvendada. A caracteriza-ção e os elementos cênicos utiliza-dos são inspirados nas aventurasretratadas no livro e os momentosmarcantes de cada personagemsão dramatizados pelas atrizes. OSesc fica na r. Pelotas, 141, tel.5080-3000. Grátis.

Recital de poesia

A bailarina Marvel Benavides dança entre 250 copos decristal

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Fórum cultural

Escola de Aplicação

Exposição virtual

Formação cultural na Febem

Vencedores do Prêmio ABC

Macunaíma restaurado

Coleção E

Museu vivo

Entre os vencedores do prêmio,iniciativa da Associação Brasilei-ra de Cinematografia, estão osfilmes Desmundo (melhor direçãode fotografia de longa-metragem,Pedro Farkas, e melhor direçãode arte de longa-metragem, Adri-an Cooper e Chico de Andrade),

Carandiru (melhor equipe de somde longa-metragem, Romeu Quin-to, Miriam Biderman e Reilly Stee-le) e Nelson Freire (melhor foto-grafia de filme documental, TocaSeabra), além de homenagem aFernando Duarte, que recebeu oPrêmio ABC pela Obra.

Foram lançados mais três livrosdessa coleção produzida pela La-zuli Editora e o Sesc São Paulo.Entrevistas/Processos reúne en-trevistas de Nélida Piñon, Herme-to Pascoal, Antunes Filho, Ozual-do Candeias, entre outros. Ensai-os/Brasil focaliza a política, quali-dade de vida, emprego e saúdeentre outros temas tratados por

especialistas, além de ensaios deDomenico De Mais, Frei Betto,Fernando Limongi e Teixeira Coe-lho. E Ficções/Urbanas traz a lite-ratura contemporânea brasileiraatravés de consagrados escrito-res, entre eles Carlos Heitor Cony,José Roberto Torero e MarçalAquino. Cada exemplar tem 120páginas e é vendido a R$ 15,60.

O longa-metragem de 1969 diri-gido por Joaquim Pedro de Andra-de foi recuperado e exibido no Fes-tival de Cannes deste ano. Empelícula e com cores originais, olonga faz parte de um pacote derevitalizações feito pela empresaTeleImage. O processo contou coma participação do fotógrafo Affon-so Beato, que trabalhou com odiretor e coordenou os ajustesno material para garantir avolta ao colorido da época. Ain-da serão restaurados filmescomo O padre e a moça e Gar-rincha, a alegria do povo, entreoutros do cineasta.

O Centro Cultural Banco do Bra-sil está promovendo até outubroprojetos de formação cultural paraa Febem de Itaquaquecetuba,com o Projeto Ligue Vídeo. Asações mobilizam funcionários,arte-educadores e internos da uni-dade para mostrar o que aconte-ce por trás das câmeras, como éfeito o vídeo e instruir sobre asvárias linguagens que o meio pro-porciona. Entre os profissionais

que estão trabalhando lá estãoLucas Bambozzi (videoarte e vi-deoclipe), Wagner Morales (ví-deo documentário), Mauro Batis-ta (videoficção), Fábio Mendon-ça (videopublicidade) e CésarCabral (também videopublicida-de). O projeto também está sen-do levado para duas regiões dacidade, Brasilândia e Jardim Miri-am, com Novos Olhares sobre asArtes Visuais.

Conhecida pela excelência de seuensino, a Escola de Aplicação é públi-ca e gratuita. E no período de 9 a 13 deagosto, das 9h às 13h, serão realiza-das as inscrições para o sorteio devagas do 1º ano do ensino fundamen-

tal – 2005, da Escola de Aplicação daUSP. Os interessados devem retirar aficha de inscrição, previamente, nasecretaria da escola (av. da Universi-dade, trav. 11, 220, Cidade Universi-tária) ou no site www.fe.usp.br.

O portal Universia (www.universiabrasil.net) digitalizou algumasdas obras expostas no Museu Pau-lista, mais conhecido como Mu-seu do Ipiranga. Assim, os inter-nautas podem fazer um passeiovirtual por parte da história do Bra-sil. São imagens e informaçõessobre a Independência do Brasil,o cotidiano e os costumes da soci-

O projeto Museu Vivo, da Secre-taria de Estado da Cultura em par-ceria com a empresa Vivo, temcomo objetivo transformar os mu-seus do interior em espaços dinâ-micos através da capacitação demão-de-obra, formação de novosprofissionais e criação de uma

ampla programação cultural, comrealização de exposições tempo-rárias e itinerantes. Nesta primeiraetapa serão beneficiados sete ins-tituições, entre elas o Museu His-tórico e Pedagógico Bernardino deCampos (Amparo) e Museu Casade Portinari (Brodowski).

edade daquela época, além dedetalhes a respeito das relaçõesde trabalho e os equipamentosusados pela mão-de-obra do perí-odo nos mais diversos segmen-tos. Entre as obras estão Indepen-dência ou Morte (1888), a estátuade Dom Pedro I, as pinturas NauCapitânia e Desembarque de Ca-bral, entre outras.

Bovinos leiteiros

Grupo de estudos de dança

Jogos olímpicos

Espanhol na Argentina

Biologia de baleias e golfinhos

Filosofia da matemática

Ensino de botânica

Cursinho Experimental do Crusp

No dia 20 de junho, das 9h30 às12 horas, o Cursinho da Poli promo-ve a 6ª Jornada de Trajetórias Pro-fissionais, aberta ao público. O obje-tivo é informar sobre cursos, situa-ção do mercado de trabalho, cam-pos de atuação de cada profissão,remuneração média, requisitos ne-cessários para um profissional dedeterminada área, entre outras in-formações de interesse do aluno.São 12 mesas que vão abordar cur-sos como Ciências Biológicas, Ciên-cias Biomédicas, Oceanografia eEcologia (mesa 1), Engenharia Civil,Elétrica, Mecânica e Química (mesa2), Letras, Pedagogia e Jornalismo(mesa 6), Relações Internacionais,Relações Públicas, Publicidade ePropaganda e Turismo (mesa 7),Administração, Economia e Ciênci-as Contábeis (mesa 9), entre muitasoutras. As inscrições são gratuitas edevem ser feitas até 19 de junhopelo site www. cursinhodapoli.org.br.O Cursinho da Poli fica na av. ErmanoMarchetti, 576, Água Branca. Maisinformações pelo tel. 3611-8552.

Geometria diferencial

Entre os dias 26 de junho e 4 dejulho será realizado o Fórum Cultu-ral Mundial - Brasil 2004, iniciativado Ministério da Cultura, Secretari-as Municipal e Estadual da Culturade São Paulo, Sesc São Paulo, Ins-tituto Cultural Via Magia e WorldCulture Forum Alliance. A progra-mação inclui convenção global, umespaço de reflexão sobre as pers-pectivas culturais e as realidades

sociais discutidas através de confe-rências, debates e apresentação depôsteres, por intelectuais, artistas,cientistas e educadores, além demostra artística, feira de idéias efórum virtual. O objetivo é ampliar opapel da cultura nas políticas naci-onais e internacionais e os investi-mentos no setor cultural, além demobilizar apoio para o desenvolvi-mento de empreendimentos cultu-rais. A abertura acontece no TeatroMunicipal de São Paulo e a conven-ção global, no complexo do Anhembi.Informações sobre inscrições para aConvenção Global através do sitewww.forumculturalmundial .org. Paraparticipar da Feira de Idéias e Opor-tunidades, enviar e-mail parafeira@forumcultural mundial.org oupelo tel. 3179-3600.

O Centro Latino de Línguas(CLL) está com inscrições abertaspara cursos de espanhol, minis-trados em julho na Universidad deBuenos Aires, na Argentina. Alémdas aulas, os participantes vãopoder praticar a língua em passei-os a pontos turísticos, como a Re-coleta, La Boca e Museo de ArteLatinoamericano de Buenos Aires,além de aulas de tango e ida àfeira de tradições populares de

Mataderos. São dois módulos: de19 a 24 de julho, com 30 horas deaula (US$ 180,00) e de 19 a 30 dejulho, com 60 horas de aula (US$300,00), ambos incluindo ativida-des culturais, material didático,ingressos para espetáculos etransporte. Para ambos os cursosserão oferecidos certificados doCLL. Mais informações podem serobtidas pelo tel. 5642-0026 ou peloe-mail [email protected].

O cursinho está com inscriçõesabertas até 18 de junho para asturmas de julho. São 90 vagaspara o período noturno para estu-dantes de escolas públicas, comaulas ministradas na Escola Muni-cipal Amorim Lima, próximo aocampus Butantã da USP, de se-gunda a sexta, das 19h20 às22h30. O projeto é da Associaçãode Educadores da USP e tem como

objetivo levar conhecimento àspessoas com poucos recursos fi-nanceiros. A taxa de inscrição éde R$ 50,00 e a mensalidade cus-ta R$ 75,00. Inscrições e informa-ções na sede do cursinho, no Conjun-to Residencial da USP (av. Prof. MelloMoraes, 1.235, Bloco F, térreo, sala13, Cidade Universitária) ou pelo tel.3091-3189 ou ainda pelo [email protected].

O Instituto de Biociências (IB) daUSP promove de 5 a 9 de julho, das9h às 17h, o curso de atualizaçãoPropostas para o Ensino de Botâni-ca – 2a edição, dirigido a professo-res do ensino fundamental e médio.O objetivo é desenvolver aulas prá-ticas em diversos temas da botâni-ca junto aos professores, visandosuas aplicações em sala, com ma-teriais de fácil acesso e uso e baixocusto. No programa estão temascomo Reconhecimento dos gruposvegetais, ciclo de vida, extração depigmentos vegetais, Discussão daescolha do livro didático, entre ou-tros. A taxa de inscrição é de R$50,00 (professores da rede particu-lar), com isenção para professoresda rede pública (é preciso levarcópia do último holerite). As inscri-ções podem ser feitas até 25 dejunho. Mais informações na secre-taria do Departamento de Botânicapelo tel. 3091-7547.

Trajetórias profissionais

Todas as sextas até o dia 2 dejulho está acontecendo o 4o Semi-nário Internacional Filosofia e His-tória da Ciência, na Faculdade deFilosofia, Letras e Ciências Huma-nas (FFLCH) da USP. O evento écoordenado pelo professor OtávioBueno e tem como tema O Debateentre Platonismo e Nominalismo

na Filosofia da Matemática. É gra-tuito e aberto a todos os interessa-dos, sem necessidade de inscriçãoprévia. Os encontros são no De-partamento de Filosofia da FFLCH(av. Prof. Luciano Gualberto, 315,sala 113, Cidade Universitária).Mais informações podem ser obti-das pelo tel. 3091-3761.

O Instituto Oceanográfico (IO)da USP organiza o curso Biologiade Baleias e Golfinhos, ministradopor Marcos César de Oliveira San-tos, coordenador do Projeto Atlan-tis. Serão abordados temas comoorigem e evolução dos mamíferosaquáticos, principais espécies,ameaças à sobrevivência, pesqui-sas com cetáceos no Brasil, entreoutros. O curso acontece de 23 a

27 de agosto, das 14h às 18 h, nopróprio instituto (Praça do Ocea-nográfico, 191, Cidade Universi-tária). As inscrições custam R$80,00 e as vagas são limitadas(apenas 50). Mais informaçõespelo tel. 3091-6653 ou no sitewww.io.usp.br.

O Instituto de Matemática e Es-tatística (IME) da USP está pro-movendo a 13a Escola de Geo-metria Diferencial, que será reali-zada entre os dias 26 e 30 dejulho. Direcionado a professorese estudantes da área, o encontrovisa a fomentar a integração en-tre estudiosos brasileiros e es-trangeiros, estimular a formaçãode novos pesquisadores e divul-gar resultados recentes. São con-ferências e sessões de comuni-cação, além de minicursos. As

inscrições devem ser feitas pelaInternet e custam R$ 150,00 (pro-fessores) e R$ 70,00 (estudan-tes) até 30 de junho; depois destadata os valores aumentam paraR$ 170,00 e R$ 90,00, respecti-vamente. Membros da Socieda-de Brasileira de Matemática têmdesconto de R$ 20,00.O IME ficana r. do Matão, 1.010, CidadeUniversitária. A programaçãocompleta e mais informações po-dem ser obtidas no site http://www.ime.usp.br/~egd/.

Estão acontecendo encontros degrupo de estudos de dança semprena última quarta-feira de cada mês,das 20h às 23h, no Centro Univer-sitário Maria Antonia, abertos a to-dos os interessados. O próximoacontece no dia 30 de junho e temcomo tema O Corpo na Contempo-raneidade, com Agnaldo Farias. Emjulho, são vários assuntos: Dança e

Artes Plásticas: Nova Dança Fran-cesa, com Alain Buffar e Gilles Jo-bin; Nova Dança no Brasil, com LiaRodrigues e Vera Sala; além deanálise de vídeos que remetem aotema com debate de textos. Os en-contros vão até novembro. No Ceu-ma (r. Maria Antonia, 294, sala 103,Vila Buarque). Mais informaçõespelo tel. 3255-5538.

De 21 a 25 de junho será realiza-do o 4o Curso de Conceitos Básicosde Planejamento Técnico-Econômi-co da Exploração de Bovinos Leitei-ros, na Escola Superior de Agricul-tura Luiz de Queiroz (Esalq) da USPde Piracicaba. No programa estãotemas como Capacidade de uso emanejo de solo, Planejamento emanejo das pastagens em siste-mas rotacionados intensivos de pro-

dução, Definição de índices zoo-técnicos, Cálculo de ração para su-plementação e confinamento de bo-vinos leiteiros, Planejamento e di-mensionamento de máquinas eequipamentos agrícolas, com ela-boração de projetos agropecuári-os. O valor é de R$ 220,00 (conve-niados da Fealq) e R$ 270,00 (de-mais participantes). Mais informa-ções pelo tel. (19) 3417-6600.

No período de 24 a27 de junho será rea-l izado o 5o FórumOlímpico Internacio-nal, promovido pelaAcademia Ol ímpicaBrasileira e pela Es-cola de Educação Fí-sica e Esporte daUSP. São mesas-re-dondas, conferênci-as, sessões de pôs-ter, que vão discutirtemas como A im-portância social darealização dos jo-gos olímpicos, Bio-ética e superaçãode limites, Valoresolímpicos no sécu-lo 21, Pedagogia napreparação olím-pica, Rumos

UmpasseiopeloMuseuPaulistae seuacervo

e necessidadesda educação

olímpica, entre ou-tros. As vagas são

limitadas e oscursos aconte-

cem simultanea-mente. A taxa de ins-crição é de R$ 100,00

(profissionais) e R$ 50,00(estudantes e membros da Aca-demia Olímpica Brasileira).Háverá ainda minicursos comtemas como Esporte na Cul-tura Contemporânea, JogosOlímpicos na Antiguidade

e Marketing Esportivo eEspírito Olímpico (taxa

de R$ 10,00 paracada um). Mais

informaçõesno site www.eefe.usp.br.

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fotografia é um momento gra-vado que se eterniza. Ela émedo e conscientização.

Medo porque as pessoas temem quese revele o momento, a intimidade.Mas, depois de revelada e amplia-da, a fotografia provoca nas pesso-as uma emoção que num momentoseguinte gera a consciência sobre aprópria condição. Nesse momento,a foto terá cumprido o seu papel deconscientização e memória. Assimé a definição de fotografia nas pala-vras de Douglas Mansur, fotógrafoque há 20 anos vem acompanhandoe documentando a trajetória dos mo-vimentos sociais rurais e urbanos noBrasil. Um pouco dessa sua experi-ência visual está à disposição do pú-blico através das 43 fotos reunidasna exposição “Os horizontes da fo-tografia: memória e resistência”. Emcartaz até 30 de junho, a mostra acon-tece na Ação Educativa, organizaçãonão-governamental sediada na ruaGeneral Jardim, 660, região centralde São Paulo (telefone 3151-2333).

O material ampliado, a maioria empreto e branco, enfoca passagensocorridas em acampamentos e assen-tamentos rurais do Paraná e do Pa-raguai, em fotos realizadas entre1989 e 2003. No painel, fragmentosda história de personagens e situa-ções que marcaram as idas e vindasdo repórter-fotográfico dono de umdos maiores bancos de imagens so-bre movimentos sociais – tanto queseu acervo vem se tornando conhe-cido no meio acadêmico. “Acompa-nho gerações de famílias. Minhasfotos contam histórias das pessoas edos lugares pelos quais passei e con-

EXPOSIÇÃO

Retratos do BrasilCom a experiência de quem acompanha e documenta movimentos sociais há mais de 20 anos, o fotógrafoDouglas Mansur apresenta imagens que mostram a longa trajetória dos trabalhadores sem terra no País

tinuarei passando. Meu trabalho ser-ve de fonte de pesquisa para acadê-micos e estudantes”, diz Mansur.

Para o fotógrafo, a partir do mo-mento que seu acervo se transfor-mou em fonte de consulta, está fa-zendo cumprir um dos papéis pri-mordiais da fotografia, que é o derecontar a história. “Não acreditoque a imagem prescinda das pala-vras, porque elas explicam. Porém,não deixo de destacar o peso da ima-gem na preservação da memória.”

A função memorialística da foto-grafia é justamente um dos pontosdestacados por Mansur em sua dis-sertação de mestrado, defendidapelo Programa de Pós-graduaçãoem Integração da América Latina(Prolam) da USP e que originou aexposição. “Os horizontes da do-cumentação fotográfica na constru-ção da memória na conquista da ter-ra”, defendida no dia 4 de julho,mesma data da abertura da exposi-ção, teve orientação do professorJoão Roberto Leme Simões e co-orientação da professora Maria Ce-cília Loschiavo dos Santos.

A inauguração de “Os horizontes dafotografia: memória e resistência”contou com palestras do geógrafo Ber-nando Mançano, professor da Unesp,que falou sobre movimentos rurais eagronegócios, e de Erivam de Olivei-ra, professor da Universidade Santa-na (Unisantana), que discorreu sobrea importância da fotografia como ins-trumento de documentação. Na oca-sião, Mansur rendeu homenagem aoamigo e publicitário Carlito Maia,responsável pela autoria de sloganscomo “Lula-lá” e “oPTei”.

O trabalho de Douglas Mansurtambém pode ser conferido numamostra coletiva de fotografia que estáacontecendo no Sesc Interlagos. Umaindividual, intitulada “Mãos quetransformam o mundo” e que percor-re o Estado de Goiás, estará de 11 a19 de junho no Encontro da ViaCampesina, em Itaici, região de Cam-pinas. O autor também tem trabalhosna exposição “Brasil Esperança”, quepercorre atualmente a Suíça.

Conscientização – A pesquisa queMansur realizou por conta de suadissertação de mestrado teve comoobjetivo “enfocar a importância dafotografia como instrumento peda-gógico e de conscientização na cons-

trução da memória coletiva dos mo-vimentos rurais no Brasil e no Para-guai”, diz o resumo do trabalho.

A delimitação da pesquisa emmovimentos do Paraná e Paraguaié condição para atender os requisi-tos do Prolam. Porém, o trabalhocomo fotógrafo, iniciado em 1984quando ainda pretendia ser semina-rista, é mais vasto e cobre os maisdiversos Estados brasileiros.

Professor de Fotografia num cur-so oferecido pelo Núcleo José Reis,ligado à Escola de Comunicações eArtes (ECA) da USP, Mansur contaque a dissertação foi a via encontra-da para embasar teoricamente aqui-lo que apreendeu empiricamente so-bre o ato de fotografar.

Mansur diz que freqüentementeexpõe para as comunidades em ques-tão o material fotográfico produzi-do nos acampamentos e assentamen-tos. Para ele, essa prática é uma im-portante forma de conscientizar osparticipantes dos movimentos soci-ais. “Ao se olharem num determi-nado contexto, as pessoas se cons-cientizam sobre a própria condição.Num desses trabalhos de reflexão,em 2003 levei para uma classe dealunos algumas fotos feitas em 1989.As crianças, agora assentadas, reco-nheciam os pais e os viam na lutacomo acampados. Isso produz valo-res, conscientiza e ajuda a preservara história deles”, diz Mansur.

O fotógrafo Boris Kossoy, quesegundo Mansur é inspirador deseu estilo fotográfico, integrou abanca examinadora da dissertaçãoe teceu elogios ao colega. “Vocêdá magistralmente a palavra aossujeitos da sua observação. Vemosaqui a fotografia como instrumen-to de pesquisa e de reflexão da re-alidade social”, disse Kossoy.

O professor Mançano, que tambémintegrou a banca examinadora, ob-servou que a dissertação de Mansurjá pode ser considerada uma obra dereferência. “Você dá voz aos seuspersonagens e inaugura um métodode análise. Vejo aqui um começo deum caminho de referencial teóricopara estudar os movimentos sociaispela terra”, disse o geógrafo.

Ex-repórter fotográfico do DiárioPopular e atualmente professor daUniversidade Cruzeiro do Sul(Unicsul) e da Unisantana, além dediretor da Associação Nacional deRepórteres Fotográficos, Mansurconta que a sua memória particulardessa trajetória profissional, mar-cada pela atuação com movimentossociais, pode ser resumida em re-conhecimento e união. “Dormir emacampamentos tem sido uma ale-gria e um privilégio para mim. En-tre os acampados com quem já di-vidi o barraco, o pouco de comidaque tinham, eles dividiam comigo.Como assentados, hoje eles ofere-cem a cama e a mesa farta da pro-dução que vem da terra.”

AssentamentoJosé Dias (aolado) e umsupermercadoinstalado noassentamentoIreno Alves(acima):preservação damemóriacoletiva dosmovimentosurbanos e rurais

Políticos em funeral de criança morta por subnutrição no acampamento "Buraco"

Ana e o filhoPedro, noacampamentoSan Izidro, noParaguai, em1989 (à esquer-da), e em 2003,em frente àcasa doassentamento(ao lado):histórias delutas, vitórias edesafios

Acampamento “Buraco”, hoje assentamento Ireno Alves: história recontada

O fotógrafoDouglas Mansur:

produção devalores e

conscientizaçãoatravés das

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JornaldaUSP 09.06.04, 10:09 AM12

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