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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 426 • ANO XXXVIII JANEIRO 2009 • MENSAL • 1, 50

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No passado dia 28 de Outubro, pelas 12:00 horas, numa peque-na cerimónia, não isenta de alguma solenidade, decorreu a en-trega pelo Director da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP),

Professor Doutor Jorge Couto, ao Presidente da Comissão Cultural da Marinha (PCCM) CALM MN Rui de Abreu, de um conjunto de 49 documentos referentes aos Doutores Bernardino António Gomes - pai e filho - 16 referentes ao pai e 33 ao filho que assim se juntam aos fun-dos que já existiam, referentes às duas individualidades, no Arquivo Histórico da Marinha.

A comitiva da Marinha era composta pelo Presidente da Comis-são Cultural, Director da Revista da Armada, CALM Roque Martins, Director do Serviço de Saúde, VALM Valdemar Goulart Porto, Sub--Director da Biblioteca Central de Marinha - CMG Oliveira Guima-rães, Secretário do CCM CMG EMQ Raul Isidro Valente, Director do Hospital de Marinha CMG MN Menezes Cordeiro, Chefe do Arquivo Central da Marinha CMG Marques da Silva, o ex-Chefe do ACM CFR Piedade Vaz e a Drª. Isabel Beato Chefe do Arquivo Histórico.

A alargada representação da Marinha, traduzia a importância que a Corporação atribuía aos documentos e vinha culminar um proces-so que começara em Maio de 2008.

Foi o Presidente da CCM alertado nos finais de Abril, para um lote de documentos referentes às personalidades já citadas que iria à pra-ça num leilão organizado por Pedro de Azevedo, que decorreria no dia 20 de Maio.

A lista dos documentos era impressionante. No caso de Bernardino António Gomes, Pai incluía o Diploma da Universidade de Coimbra, um treslado da sua Carta Patente, vários louvores individuais, Diplo-ma de Sócio da Academia de Ciências, entre vários Alvarás Régios, desde a nomeação de Médico da Real Câmara, à concessão do hábi-to de Cavaleiro da Ordem de Cristo, e à elevação a Fidalgo da Casa Real entre outros.

No caso de Bernardino António Gomes, Filho a lista de diplomas é imensa com a concessão da Ordem da Torre e Espada, a Nomeação de Presidente do Conselho de Saúde Naval e do Ultramar, Comendador da Ordem de Cristo, múltiplos diplomas de condecorações estrangei-ras, e de membro da Academia de Ciências e de sócio honorário de Sociedades Médicas Europeias e Americanas.

Os autógrafos iam desde D. João, Príncipe Regente, a D. João VI, D. Pedro de Bragança, D. Maria II, Costa Cabral, Vítor Emanuel II, D. Pedro V, Isabel de Espanha, etc.

Indispensáveis e imprescindíveis para a Marinha. Nomeados o então Chefe do ACM - Com. Piedade Vaz e a Chefe

do Arquivo Histórico, para estarem presentes e licitarem. Restava-nos aguardar que o lote não ultrapassasse o valor calculado previamente. Não dispondo a BCM de fundos suficientes, foi pedida autorização superior para a despesa ser suportada pela CCM.

Vão os lotes à praça, o preço não sobe em demasia, tudo parecia correr bem, o Chefe do ACM é o último licitante, o preço final cabe no orça-mentado, eis senão quando, surge um representante da BNP a exercer o direito de opção! Comunicado telefonicamente para o Funchal.

Ficamos todos desolados!Mesmo no local do leilão - um hotel situado na Rua da Fábricas dos

Pentes, às Amoreiras - os dois representantes da Marinha identifica-ram-se perante o seu homólogo da BNP, dando conta do grande in-teresse do Arquivo Histórico da Marinha pelos documentos.

Não nos sendo fechada a porta, foi logo acrescentado que cum-pria ordens estritas e que só superiormente o assunto poderia ser decidido.

Regressado a Lisboa, o PCCM procurou logo um contacto telefó-nico com o Director da BNP. Estava o Prof. Jorge Couto ausente no estrangeiro. Mais um compasso de espera.

A conversa telefónica foi cordial. O PCCM argumentou, falou do grande interesse da Marinha. Pela parte da BNP, o caso tinha mais a ver com aspectos jurídicos. Uma vez adquiridos pela BNP era extre-mamente difícil desistir da sua posse. Havia que encontrar uma saí-da que o permitisse.

Nas semanas imediatas foi o assunto passado a escrito e objecto de uma carta do PCCM enquanto Director da BCM para o Director da BNP.

Finalmente e muito graças ao interesse pessoal do Professor Jorge Couto pela resolução do assunto, as negociações chegaram ao desfecho ambicionado pela Marinha, tendo em conta que os documentos fica-riam em Arquivo de Estado - o Arquivo Central da Marinha. Depois foi só esperar pelos aspectos burocrático administrativos, confirmar a entrega e acordar o dia.

Documentos Históricos da Saúde Naval

DR. BERNARDINO ANTÓNIO GOMES–filho, nasceu em Lisboa em 22 SET 1806, vindo a falecer na mesma cidade em 08 ABR 1877.

Licenciado em Matemática pela Universidade de Coimbra, foi obrigado a exilar-se por motivos políticos, vindo a doutorar-se em Medicina pela Universidade de Paris.

Com ideias liberais acompanhou outros exila-dos para a Terceira, onde privou com o Sr. D. Pedro I do Brasil, desembarcando no Mindelo.

Foi o chefe sanitário da Expedição, bem como autoridade máxima dos Hospitais Militares do

Porto durante o cerco e a grande epidemia da cólera que grassou na cidade naque-le período.

Em 1833, apenas com 27 anos, foi nomeado Director do Hospital da Marinha, e dos Serviços de Saúde Naval e da Saúde do Ultramar.

Desenvolveu uma obra de modernização notável em todos os campos, tendo durante os 14 anos que chefiou os Serviços de Saúde da Marinha e do Ultramar na dependência directa do Ministro, criado as Escolas Médico-cirúrgicas de Goa e do Funchal, o primeiro serviço moderno de Psiquiatria, no Hospital da Marinha e o Regulamento de Saúde Naval de 1835 que veio servir de modelo a todos os que se lhe seguiram.

Continuou uma Carreira Médica e Clínica de prestígio depois de deixar a Mari-nha, vindo a fundar os primeiros periódicos médicos portugueses - a “Gazeta Mé-dica” e o “Jornal da Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa”.

Foi o médico que usou pela primeira vez o clorofórmio como anestesiante em Portugal.

Foi um dos fundadores do Hospital de Rilhafoles e considerado o Patrono dos Psiquiatras Portugueses.

DR. BERNARDINO ANTÓNIO GOMES–pai, nasceu em Paredes de Coura em 29 OUT 1768, vindo a falecer em Lisboa, Fidalgo da Casa Real, Cavaleiro de Ordem de Cristo, Médico da Real Câmara e Membro da Academia das Ciências, em 13 JAN 1823.

Licenciou-se em Medicina em 1793, vindo a ser nomeado Físico da Armada em 1797. Fez parte do Corpo Clínico do Hospital da Marinha, fez comissões de serviço no Brasil, onde fez um estudo relevante da flora local e trabalhos de prestígio internacional sobre a chinchonina e a ipecacuanha fusca.

Relevante o papel que desempenhou em 1802, no combate a uma epide-mia de Tifo declarada nos navios da Esquadra do Estreito, em que a fraga-ta “Thetis” foi aprontada como navio-hospital, tendo conseguido debelar a epidemia em dois meses.

Da experiência resultou uma publicação “Methodo de curar o Tipho…” que teve repercursão europeia.

Veio a pedir demissão de Médico Naval no posto de capitão-de-fragata em 1810, na sequência de uma nomeação indevida e depois de relevantíssi-mos serviços prestados à Marinha, passando a exercer funções no Hospital Militar de Xabregas, regressando ao Hospital de Marinha em 1811 quando este foi transferido para o Exército.

Fundou o Instituto Vacínico. Tem uma obra escrita, médica, botânica, e cientifica impressionante.

O seu “Ensaio Dermosográfico” publicado em 1820 é considerado o pri-meiro tratado de Dermatologia, moderno, escrito em Portugal. É conside-rado o Patrono da Sociedade Portuguesa de Dermatologia.

Cópia de retrato a lápis de Domingos Sequeira

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Publicação Oficial da Marinha

Periodicidade mensalNº 426 • Ano XXXVIII

Janeiro 2009

DirectorCALM EMQ

Luís Augusto Roque Martins

Chefe de RedacçãoCMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira

Redacção2TEN TSN Ana Alexandra Gago de Brito

Secretário de Redacção1SAR M António Manuel L. Pires Afonso

Colaboradores PermanentesCFR Jorge Manuel Patrício Gorjão

CFR FZ Luís Jorge R. Semedo de MatosCFR SEG Abel Ivo de Melo e Sousa1TEN Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves

Administração, Redacção e PublicidadeRevista da Armada

Edifício das InstalaçõesCentrais da Marinha

Rua do Arsenal1149-001 Lisboa - Portugal

Telef: 21 321 76 50Fax: 21 347 36 24

Endereço da Marinha na Internet http://www.marinha.pt

e-mail da Revista da Armada [email protected]

Fotocomposição, paginação electrónica, fotolito,

montagem e produçãoPágina Ímpar, Lda.

Estrada de Benfica, 317 - 1º F1500-074 Lisboa

Tiragem média mensal:6000 exemplares

Preço de venda avulso: € 1,50Registada na DGI em 6/4/73

com o nº 44/23Depósito Legal nº 55737/92

ISSN 0870-9343

SUMÁRIO

ANUNCIANTES: ROHDE & SCHWARZ, Lda.

DOCUMENTOS HISTÓRICOS DA SAÚDE NAVAL 2REFLECTINDO ... XVI 4O PROCESSO DE MUDANÇA NA MARINHA 685º ANIVERSÁRIO DA LIGA DOS COMBATENTES 7A VIAGEM DA “SAGRES” 8JORNADAS DO MAR 2008 10A MARINHA DE JOÃO III (41) 17ALOCUÇÃO DO ALMIRANTE CEMA 18ENTREGA DE COMANDO / TOMADA DE POSSE 20EDIÇÕES CULTURAIS DA MARINHA 24PÁGINA DA SAÚDE 16 27VIGIA DA HISTÓRIA 6 / GRUPO DE AMIGOS DO MUSEU DE MARINHA 2850º ANIVERSÁRIO DO CURSO “D. LOURENÇO DE ALMEIDA” 29HISTÓRIAS DA BOTICA (60) 30AINDA AS COMEMORAÇÕES DO DIA DA MARINHA 2008 31QUARTO DE FOLGA 33NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34INSTALAÇÕES DA MARINHA CONTRACAPA

REVISTA DA ARMADA • JANEIRo 2009 3

Comandante António Marques Esparteiro

21

A Comissão Permanente de Uniformes

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Cerimónia de Abertura do Ano Operacional 2008/09

17

Mensagem de Ano Novo do Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada

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4 JANEIro 2009 • Revista da aRmada

A UNIVERSALIDADE DOS DIREITOS HUMANOS

REFLECTINDO… XVI

A referência aos direitos humanos é anti-ga, bem como a tentativa de os identi-ficar, caracterizar e fazer respeitar.

Há mesmo quem pretenda que a primei-ra evocação desses direitos foi publicada por Ciro II, rei dos persas, em 538 a.C., e que che-gou até nós gravada no “Cilindro de Ciro”, descoberto em 1879 1. Porém, neste édito, Ciro apenas concede direitos aos povos por ele libertados quando conquistou Babilónia. Declarando a liberdade religiosa e abolindo a escravatura, os hebreus puderam regressar à Palestina, após cerca de 50 anos de cativeiro. É notável para a época.

Mas, pondo de parte as referências his-tóricas remotas, o conceito surgiu no sécu-lo XVIII, divulgado durante a Revolução Francesa, através da Declaração dos Di-reitos do Homem e do Cidadão, de 26 de Agosto de 1789. E só passaram a ter o carác-ter de direitos universais após a Declaração Universal dos Direitos Humanos ter sido adoptada pela Assembleia Geral das Na-ções Unidas, em 10 de Dezembro de 1948. Foi assinada por 48 dos 56 Estados então existentes, em Paris, em consideração pelo local onde havia sido proclamada a Decla-ração de 1789.

Já foi referido em artigo anterior 2 que este e de outros importantes documentos estruturantes da Ordem Internacional nas-cida da Segunda Guerra Mundial foram escritos por personalidades da cultura oci-dental ou com forte influência da cultura ocidental.

Embora todas as Nações tenham adopta-do a Declaração Universal e hoje todas sejam membros da ONU 3, os direitos humanos não têm aplicação na grande maioria dos Es-tados. Basta ler a Declaração e acompanhar os noticiários internacionais 4.

São várias as razões que justificam esta frustrante situação.

Em primeiro lugar, há muitos Estados que entendem que o interesse nacional sempre terá que prevalecer, ou que o interesse co-mum se sobrepõe aos direitos individuais de qualquer natureza. No entanto, mesmo nestas circunstâncias, tais opções não teriam que ignorar os direitos humanos pois não são incompatíveis com o respeito que estes direitos devem merecer.

Para outros Estados, há valores morais que estão em contradição com os direitos hu-manos, assunto que foi já tratado no número anterior da Revista da Armada 5.

Por último, os direitos humanos são cla-ra e constantemente ofendidos em grande número de países considerados como Esta-dos Irresponsáveis (Rogue States), Estados Falhados (Failed States) ou Estados Preo-cupantes (States of Concern). Como exem-plo destes casos basta evocar a situação no

Darfur (Sudão), na RD do Congo, no Zim-babué, no Ruanda, no Burundi, na Libéria, na Somália, etc.

Há assim razões de ordem política, outras de ordem cultural, outras ainda relaciona-das com a acção de governos tiranos e com a má-governação, que mostram como esta-mos longe de poder considerar universal a aplicação dos direitos humanos.

Nos dois primeiros casos, a comunidade internacional tem manifestado as suas críti-cas através da acção diplomática, recorrendo também a meios que vão desde a persua são à ameaça de sanções de diversa ordem, fre-quentemente de natureza económica. No último caso e a partir de 1995, tem vindo a admitir recorrer a atitudes bem mais duras, como a intervenção militar coerciva.

Mas, as diferenças culturais continuam a ser a mais frequente dificuldade para o res-peito efectivo dos direitos humanos. Na ver-dade, embora a universalidade dos direitos humanos tenha sido reconhecida pela Or-ganização da Conferência Islâmica na De-claração do Cairo de 5 de Agosto de 1990, pelos Estados africanos na Declaração de Tunes de 6 de Novembro de 1992, pelos paí-ses asiáticos na Declaração de Bangkok de 23 de Abril de 1993 e pela América Latina e Caraíbas na Declaração de S. José da Cos-ta Rica de 22 de Janeiro de 1993, frequente-mente foi referida nestas conferências a ne-cessidade de atender às diferenças culturais e tradicionais dos povos.

Como escreveu o professor brasileiro An-tónio Trindade, que participou nos traba-lhos daquelas conferências, alguns países da Conferência Islâmica resistentemente iden-tificam no movimento internacional dos direitos humanos um suposto produto do «pensamento ocidental» que não tem levado em conta as cha-madas «particularidades regionais» 6.

E não é só isto. Como a Declaração Uni-versal dos Direitos Humanos não é prati-cável para todos nem pode ser emendada de modo a todos satisfazer, fazem-se ou-tras declarações, mesmo no seio da cultu-ra europeia. Só para referir algumas, temos a Convenção para a Protecção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais (Conselho da Europa 04NOV59), a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia (Roma 07.12.00, adaptada em Estrasburgo 12.12.07 e referida na Tratado de Lisboa), a Declaração Americana dos Direitos e Deve-res do Homem (Bogotá, Abril 1948), a Con-venção Interamericana sobre os Direitos do Homem (San José 22NOV69, com protocolo de San Salvador 17N0V98), a Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos (Nairo-bi 26JUN81), etc.

A responsabilidade universal dos Estados, nomeadamente daqueles que são exemplo

de estabilidade e desenvolvimento, está bem recordada no documento da ONU de 2 de Dezembro de 2004:

Ao assinarem a Carta das Nações Unidas, os Estados não só beneficiam dos privilégios da soberania, como também aceitam as suas res-ponsabilidades. Quaisquer que tenham sido as percepções que prevaleceram quando o sistema vestfaliano pela primeira vez criou a noção de Estado soberano, hoje, esta noção inclui clara-mente a obrigação do Estado proteger o bem-estar do seu próprio povo e de assumir as suas obrigações em relação à mais vasta comunidade internacional 7.

Entre estas obrigações, certamente que está incluído o apoio e a solidariedade na defesa dos direitos humanos, em qualquer parte do mundo.

É necessário continuar a lutar pelo princí-pio da aplicação dos direitos humanos a toda e qualquer pessoa humana. Diz Souto de Moura: a condição para se ser sujeito dos direitos humanos é, simplesmente, ter-se nascido 8.

Os direitos humanos devem existir em cada pessoa humana. Não são negociáveis nem constituem um meio para alcançar algo. Os direitos humanos constituem um ‘fim’.

A paz e a justiça no mundo, outras duas grandes aspirações da humanidade, só são possíveis numa base de respeito pelos direi-tos humanos e pela dignidade do homem.

António Emílio SacchettiVALM

Notas1 Em cerâmica, hoje no British Museum.2 Reflectindo XV, ‘A Moral e a Ética’, Revista da Ar-

mada, Nov 2008, p. 5.3 A ONU tem hoje 192 membros, mais a Santa Sé

com o estatuto de Observador. Só a República da Chi-na (Taiwan) não é membro da ONU, por não ser reco-nhecida pela grande maioria dos Estados. Aguarda-se o desenvolvimento de várias declarações unilaterais de independência: Kosovo (17Fev2008), República Turca do Norte de Chipre (1974), Abcásia e Ossétia do Sul (Agosto 2008).

4 Em 3NOV08 foi noticiada no DN mais uma jovem somali morta por lapidação, estamos a assistir a mais uma tragédia humana no Kivu Norte (RD do Congo) e a revista Além-mar de NOV08 noticiou que em 2007 pelo menos 1252 pessoas foram executadas, em 24 países.

5 O já citado Reflectindo XV, ‘A Moral e a Ética’.6 Trindade, Ph.D. António Augusto, “O Processo Pre-

paratório da Conferência Mundial de Direitos Huma-nos, Viena, 1993, p. 28. http://ftp.unb.br/pub/down-load/ipr/rel/rbpi/1993/130.pdf (45p.).

7 Follow-up to the outcome of the Millennium Summit, Assembleia-geral das Nações Unidas, Doc. A/59/565, 2 de Dezembro de 2004, pp. 21 e 22. In signing the Char-ter of the United Nations, States not only benefit from the privileges of sovereignty but also accept its responsibilities. Whatever perceptions may have prevailed when Westphalian system first gave to the notion of State sovereignty today it clearly carries with it obligation of a State to protect the wel-fare of its own peoples and meet its obligations to the wider international community.

8 Moura, José Souto de (do Supremo Tribunal de Jus-tiça), Relativismo, tolerância, multiculturalismo, Brotéria, Vol. 166, n.º 5/6, Mai/Jun 2008, p.

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Fernando de Melo GomesAlmirante

Revista da aRmada • JANEIRo 2009 5

Mensagem de Ano Novo do Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada

Mensagem de Ano Novo do Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada

Neste virar de página para um novo ano, saúdo todos militares, militarizados e civis da Marinha, fazendo votos de um feliz Ano Novo.

Sendo esta quadra festiva tradicionalmente vivida em ambiente familiar, o meu primeiro pen-samento está com todos aqueles que, no cumprimento da sua missão, no mar ou em terra, estão longe dos que lhes são mais queridos, na certeza de que a honra do dever cumprido e os valores da camarada-gem e da solidariedade próprias dos marinheiros lhes amenizará o afastamento.

Este é, também, o momento propício para fazer um balanço e reflectir sobre o futuro. O ano que agora findou não foi fácil. Na recente cerimónia de Abertura do Ano Operacional sublinhei

os desempenhos da Marinha, na vertente da acção militar e não militar, enaltecendo a forma como poten-ciámos sinergias e tirámos proveito dos meios que Portugal nos disponibiliza para honrarmos os nossos compromissos. Só com a vossa dedicação, disponibilidade e espírito marinheiro foi possível superar os desafios e cumprir com sucesso a nossa missão. Temos razões para estar orgulhosos e convictos do va-lor que representamos para o País!

O Ano de 2009 será particularmente exigente, não o ignoro. Mas sei que temos as capacidades neces-sárias para enfrentar com sucesso as dificuldades, pois conheço a vossa têmpera e sei que posso contar com a vossa determinação e ânimo. Será convosco que continuaremos a cumprir de forma eficiente as nossas missões e a honrar a Marinha.

Estou consciente da complexidade da conjuntura em que vivemos e do que o país espera de nós. Sou também conhecedor das justas aspirações dos que comigo servem e dos desafios que nos esperam. É neste enquadramento que procurarei desenvolver a minha acção, ciente das dificuldades, mas seguro da valia dos homens e mulheres que comando.

Bom Ano para todos.

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6 JANEIro 2009 • Revista da aRmada

Pareceu-nos adequado abordar, hoje, nesta nossa Revista da Armada, de forma necessariamente breve e con-

tida, a problemática da “Mudança na Ma-rinha”. Trata-se de um tema actual, de que muito se fala e que por isso mesmo con-siderámos conveniente contextualizá-lo melhor na sua matriz de base, de concei-tos e princípios enquadradores. Este, pois, o nosso propósito!

Na realidade é comum ouvir falar-se da “Transformação nas Forças Armadas” e se-quentemente questionar os ramos sobre os seus projectos e programas com vista a uma sua concretização efectiva. Mas, a par de “Transformação” igualmente se ouve falar em “Reestruturação”, em “Racionalização”, em “Adaptação”, em “Modernização” das Forças Armadas (FA) e tantas vezes sem cui-dar de saber o que isso possa representar, em termos de organização e processo de mudança da “coisa” militar.

E será que todos estes termos quererão signi ficar uma mesma coisa?

De acordo com o dicionário, o termo “Transformação” tem a ver com o acto de transfigurar, de dar uma forma nova, de al-terar qualquer coisa. Enquanto que “Adap-tação” significa o ajustamento a uma nova realidade, pôr em harmonia com novas con-dições, aclimatar-se a uma nova situação. Por outro lado, o termo “Modernização” impli-ca a acção de tornar moderno, de adequar a uma nova moda, a usos e costumes de uma nova época. Deste modo, fácil será consta-tar que apesar da palavra “nova” constituir, aqui, o denominador comum, as pequenas diferenças encontradas, pouca, ou nenhuma importância terão numa lógica, somente, de significado literal. Mas, em termos militares não será bem assim.

De facto, autores1 há que consideram que o termo “Adaptação” tem a ver, apenas, com o reajustamento dos meios a missões que, em substância, em nada se alteraram; en-quanto que a palavra “Modernização” su-bentenderá já uma determinada melhoria de meios, num cenário em que as missões se mantêm igualmente inalteráveis. No que respeita ao termo “Transformação” o enten-dimento mais comum vai, porém, no sentido da existência de uma mudança bem mais ra-dical e profunda. Na sua génese estará implí-cita, pois, a tal “forma nova” do significado literal, de que acima falávamos, e isso, se-gundo António Telo2, quererá mesmo dizer uma “forma nova de fazer a guerra”, muito marcada pela “Revolução nos Assuntos Mi-litares” (RAM) e pela “Era da informação e do conhecimento”. Mas também, pela tec-nologia e os avanços verificados, por novos meios, sistemas de armas e equipamentos, por menos militares profissionais e ainda por um tempo de inovação e por uma cul-tura de pró-actividade que não deixarão,

por certo, de influenciar o ser e o estar da “coisa militar”.

O grande objectivo será o reequacionar de tudo: missões, orgânica, instrução, dou-trina, equipamento e tecnologia, bem como, o pugnar por uma maior flexibilização de es-truturas e organizações, em simultâneo com uma mais conseguida agilização de proces-sos e uma mais necessária e fluida relação interdepartamental.

Do nosso ponto de vista este entendimen-to representa mesmo a necessidade de um envolvimento político bem mais próximo e presente do que em qualquer das outras modalidades referidas, de “adaptação”, ou “modernização”, onde o envolvimento téc-nico e militar será quase sempre condição bastante e suficiente.

Feito este pequeno enquadramento en-contrar-nos-emos melhor posicionados para olhar, agora, o processo de mudança na Marinha que, nas suas diversas vertentes de “adaptação”, “modernização” e “transfor-mação”, vem sendo desenvolvido, pratica-mente desde 1976/77.

Na realidade, poderemos aí situar o iní-cio do nosso último processo de mudança, o qual, como todo o processo de mudan-ça nas FA, não poderá, por nunca, deixar de atender ao “Meio” onde se actua, aos “Meios” que se operam e à “Tecnologia” que se utiliza. Mas não só! Igualmente terá que atender à “Finalidade” que se prossegue, ao tipo de “Missão” que se cumpre, à “Or-ganização” que se preenche e, bem assim, ao “desempenho operacional” que, no caso da Marinha, mais não é do que o tal serviço que o ramo oferece e presta 24H por dia, 365 dias por ano.

Como costumamos dizer3 a Marinha (e os ramos) confrontam-se diariamente com a sua natureza e a própria essência da sua razão de ser.

Por economia de espaço não nos será possível abordar com alguma profundidade e desenvolvimento todos estes aspectos. No entanto, sobre a “Missão” da Marinha, so-bre a sua razão de ser gostaria de sublinhar um, ou outro aspecto mais, que reputamos da maior importância, na contextualização do tema e que nem sempre é bem compre-endido. Tem a ver com o carácter expedi-conário de que as forças, hoje, se revestem, relacionado com o facto da defesa dos inte-resses do país se fazer longe do território na-cional e das suas fronteiras de soberania. E, também, com a expressão “novas missões” que vulgarmente vem sendo utilizada e que de “novo”, do nosso ponto de vista, nada acrescenta à missão da Marinha. De facto, a projecção de força e o carácter expedicio-nário que lhe está subjacente é mesmo da sua própria essência, enquanto objecto do poder naval. Tanto assim que os seus objec-tivos sempre tiveram a ver com o uso do mar

em proveito próprio e, neste sentido, com a defesa da soberania e da jurisdição marítima sobre os espaços de responsabilidade nacio-nal; com a exploração económica dos seus recursos, a liberdade e segurança das co-municações marítimas; e, ainda, com a uti-lização do mar e do navio como plataforma para influenciar os acontecimentos em terra, onde e quando necessário.

Será pois, neste preciso contexto que o poder naval poderá ser chamado a desem-penhar uma diversidade enorme de papéis e tarefas de que a Marinha sempre se en-carregou, e encarregará, atentos alguns dos seus principais atributos, de versatilidade e flexibilidade, de manobralidade e sustenta-bilidade.

Para tanto, bastará ao País ter uma Mari-nha de Guerra oceânica e uma firme vontade de a utilizar. Daí o afirmarmos que qualquer processo de mudança na Marinha, qualquer que seja a modalidade de que se possa re-vestir, não poderá deixar de atender, tam-bém ele, a este outro princípio-base de que o País precisa e quer, de facto, ter umas FA, ter uma Marinha, porque se assim não for, tudo o que se faça no sentido da mudança poderá ser em pura perda.

Posto isto, começaríamos, então, a nossa observação pelo período que considerámos de “adaptação”, o qual, do nosso ponto de vista, teve o seu início por volta de 1977, ter-minado que foi o tempo das longas estações em África, com o ajustamento da estrutura de força da Marinha a um tempo e espaço outros, de vivência e intervenção. Como exemplos ilustrativos deste período apenas dois. Um, relativo aos “Navios”, em especial, às Fragatas e às Corvetas que, de um certo modo independente, actuavam em África e que, por isso, mais do que quaisquer outros meios navais, foram objecto de processos de ajustamento das respectivas organizações in-ternas e sujeitos a períodos de treino especí-fico, por forma a poderem operar integrados em Forças Navais Operacionais.

A “Força Naval Operacional Permanen-te”, a FORNAVOP, assim conhecida, e o trabalho por ela desenvolvido é, no nosso entendimento, um muito bom exemplo do que se fez nesta matéria.

Um outro exemplo, tem a ver com a re-conversão dos “Fuzileiros” que deixaram de se organizar em unidades de fuzileiros au-tónomas – Destacamentos ou Companhias - para passarem a ser integrados numa estru-tura mais tradicional e permanente, embora ligeira, de Corpo de Fuzileiros com os seus órgãos próprios de Comando e Estado-Maior, as suas unidades de manobra e de apoio de combate e serviços.

Quanto ao período que apelidámos de “modernização” coincidiu ele, de algu-ma maneira, com a entrada ao serviço, em 1990/91, de novos meios navais, os quais

O PROCESSO DE MUDANÇA NA MARINHAO PROCESSO DE MUDANÇA NA MARINHA

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marcaram, em muito, o exercício de desen-volvimento organizacional que em conse-quência houve necessidade de conceber e concretizar. Na realidade, a aquisição das Fragatas da Classe Vasco da Gama e a intro-dução dos helicópteros navais como seu ele-mento orgânico determinaram ajustamentos orgânicos substantivamente mais coerentes e uma maior racionalização de estruturas e meios de apoio. Em decorrência, os sis-temas logísticos de pessoal e material e os respectivos processos de gestão tiveram que ser adequados aos novos requisitos. Refor-mulou-se toda a orgânica dos serviços de bordo e acautelaram-se novos padrões de formação técnica e profissional que as no-vas tecnologias embarcadas, obviamente, vieram a impôr.

Registe-se que apesar deste período ter sido muito marcado por uma vontade política de modernização das FA, ciente de que “Portugal teria que fazer um investimento que outros já fizeram há muito”, também o foi, é bom lem-brar, numa lógica concomitante, de “menos forças melhores forças”, de “redimensiona-mento militar” e de “redução de custos”.

Nestas circunstâncias, a Marinha, cien-te de que a improvisação não seria lema a adoptar, reflectiu profundamente sobre o as-sunto e através do já conhecido estudo dos “Contributos para o planeamento de Forças da Marinha”, assumiu, já em 1996, e cons-cientemente, o desiderato político, então, estabelecido, de que se deveria racionalizar a força em torno de uma base financeira de alguma credibilidade, compatibilizando as missões, o sistema de forças e os efectivos de pessoal, com os recursos financeiros do País. A Marinha foi mesmo mais longe neste seu processo de reflexão e, numa lógica típi-ca de “Revolution of business affairs”, refinou os seus estudos, o seu conhecimento estru-

turado e saber, as suas orientações internas de política e estratégia e em consequência idealizou a sua própria “Documentação Es-truturante da Estratégia Naval” (DEEN)4.

Será, pois, todo este conjunto de docu-mentos que permitem à Marinha iniciar, então, a sua verdadeira “transformação”. E como? Passando, com lógica e coerência, da política e dos fins, à estratégia e aos meios; da grande estratégia à estratégia genética, estrutural e operacional; do desenho e con-cepção dos meios à sua própria organiza-ção, sustentação e emprego. É ela, a DEEN, que em desiderato último permite também à Marinha e às suas gentes conhecer a todo o tempo, em nome de que politica se trabalha, quais as balizas que enquadram os objecti-vos que fixa e as tarefas que realiza. Ainda, é toda esta nova metodologia de trabalho que, do nosso ponto de vista, representa, na realidade, uma enorme mudança qualitativa de processos e métodos de gestão, de com-portamento e atitude, acima de tudo de pos-tura no modo como a Marinha, ela própria, encara, hoje, as suas actividades e a organi-zação da sua força de trabalho.

São estas circunstâncias que, inclusiva-mente, habilitam a Marinha a poder subme-ter, em todo o tempo, aos níveis de decisão adequados, todos os elementos pertinentes, para que se possa conhecer verdadeiramente a sua situação e em decorrência considerar as alternativas necessárias à concretização das soluções, políticamente tidas por mais razoáveis. Se não houver decisão, também se ficará a saber a vulnerabilidade que se abre e o risco que se corre.

Daí a afirmação de que é com esta alte-ração interna de métodos e processos que a Marinha vinca, de facto, estruturalmente aquilo a que se convencionou apelidar de “Transformação”. Onde, mais do que as mu-

danças verificadas ao nível do ambiente, da tecnologia, dos conceitos, das missões, dos meios, dos sistemas de armas e equipamen-tos, a transformação também é, como vimos, muito marcada pela inovação, pela abertu-ra de espírito e pela firme vontade de mu-dar. Vontade de mudar esta que, no caso da Marinha, foi assumida e incorporada na sua própria liderança, ao mais alto nível da sua hierarquia e gestão de topo. O comprome-timento efectivo da chefia superior da Ma-rinha em todo este processo poderá não ser condição suficiente de sucesso. Todos nós o sabemos. Mas é seguramente condição sine qua-non a assegurar, em primeiro lugar, em qualquer processo de mudança que, como este, se deseja ver prosseguido com continui-dade, forte motivação, especial rigor e uma grande determinação, tendo em vista o pro-pósito, de sempre, de se edificar e construir uma Marinha “firme na defesa”, “empenha-da na segurança” e “parceira no desenvolvi-mento” de Portugal e dos portugueses.

João M. L. Pires NevesVALM RES

Presidente do CSDA

Notas1 Covarrubias. Dr. Jaime. “Os Três Pilares de uma

Transformação Militar”. “Military Review”, de Nov-Dez 2007.

2 Telo. Prof. Doutor António. “A Transformação das Forças Armadas”. “Segurança e Defesa, nº 3”, de Mai-Jul 2007.

3 Neves. Valm. João Pires. “As Forças Armadas e a Defesa Nacional”. “Ed. Culturais da Marinha”. 2007. (p.105).

4 De acordo com a Directiva do CEMA nº 03/05, com a redacção que lhe foi dada pela a alteração, de 31.01.07, o modelo de planeamento adoptado pela Marinha compreende como principais documentos es-truturantes da sua Estratégia: a “Directiva de Política Na-val” (e as Directivas Sectoriais)”, o “Conceito Estratégico Naval, as “Missões Sectoriais” e os “Paradigmas de Pla-neamento - Genético, Estrutural e Operacional”.

em 15 de Novembro a Liga dos Combatentes organizou uma ce-rimónia que se realizou junto ao

Monumento aos Combatentes do Ul-tramar, em Belém, em que se come-moraram as seguintes efemérides:

- o Bicentenário da Ordem da Tor-re e Espada,

- o 90º Aniversário do Armistício da I Guerra Mundial,

- a celebração do 85º Aniversário da Liga dos Combatentes.

A cerimónia foi presidida pelo Mi-nistro da Defesa Nacional – Prof. Dr. Nuno Severiano Teixeira, tendo estado pre-sentes os chefes militares, CEMGFA, CEMA, CEME e CEMFA, o Secretário de Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar – Dr. João Mira Gomes, muitas autoridades civis e militares e muitos combatentes dos 72 nú-cleos da Liga espalhados pelo País.

Foi orador da cerimónia o ex-Bispo de Dili – D. Ximenes Belo – Prémio Nobel da Paz que proferiu uma alocução subordinada ao tema “Os Combatentes e a Paz”.

Na cerimónia procedeu-se à homenagem a todas as entidades civis e militares que fo-ram galardoadas com a Medalha da Torre e

Espada ao longo dos duzentos anos da sua existência, tendo as entida-des presentes na cerimónia feito uma saudação com o hastear do respecti-vo estandarte.

Foi feita ainda uma invocação reli-giosa e uma deposição de flores em homenagem aos mortos pela Pátria.

Na sequência da cerimónia foram assinados protocolos de cooperação com Associações de Combatentes de Moçambique e de Marrocos, no âm-bito da “Conservação das Memorias” e da “Troca de experiências entre

Combatentes” e foi feito o lançamento do livro “A Mulher e a Guerra” que foi escrito com base nos depoimentos das mulheres, companheiras e outras familiares de milita-res durante o conflito em Àfrica.

(Colaboração da LIGA DOS COMBATENTES)

85º Aniversário da Liga dos Combatentes85º Aniversário da Liga dos Combatentes

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8 JANEIro 2009 • Revista da aRmada

A Viagem da “Sagres”A Viagem da “Sagres”

depois de visitar países como Cabo Ver-de, S. Tomé e Príncipe, Angola, África do Sul e Moçambique, o NRP “Sagres”

largou cabos no dia 4 de Outubro de Simon’s Town – África do Sul, e governou, desta vez, rumo a Salvador no es-tado da Baía – Brasil, dobrando ainda nesse mesmo dia o Cabo da Boa Esperança de Leste Para Oeste.

Durante o trânsito para o porto de Salvador o na-vio navegou sob a influ-ência de centros de altas pressões localizados ao longo do Trópico de Ca-pricórnio – contornan-do-os por Norte –, res-ponsáveis pelos ventos alísios sentidos de SE e ondulação dos quadran-tes S-SE. Com o aproxi-mar do continente Sul-Americano foi sentida grande variabilidade das condições meteoroló-gicas, característica dos climas tropicais, com o céu alternando entre limpo e forrado e alguns aguaceiros que resolviam “baldear” de tempos a tempos o convés do navio.

A corrente favorável que se foi sentindo per-mitiu fundear um dia antes para a preparação do navio. Pela manhã do dia 23 de Outubro suspendeu, salvou a terra com 21 salvas à pas-sagem do Molhe Sul, e após terem sido res-pondidas por uma bataria do 2.º Distrito Naval da Marinha do Brasil, atracou finalmente em Salvador. Ainda nessa manhã o Comandan-te prestou cumprimentos às entidades locais, retribuindo-os num almoço realizado a bordo no dia seguinte.

O dia seguinte, 24, ficou igualmente marcado pelas Provas de Aptidão Física efectuadas por 80 elementos da guarnição que se deslocaram às instalações desportivas da Base de Fuzileiros de Salvador, gentilmente cedidas para o efeito.

Mas a passagem do navio pelo Brasil fi-cou sem dúvida marcada pelos eventos que se seguiram: No dia 26 foi recebido a bordo o Contra-almirante Pires da Cunha, Coman-dante da Flotilha e 2º Comandante Naval, que se deslocou ao Brasil no âmbito da visita do navio a este porto, e o dia 27 ficou mar-cado pela recepção realizada a bordo. Foram convidadas entidades civis e militares locais e representantes da comunidade portuguesa, e a recepção contou igualmente com a pre-sença do Primeiro-ministro português, Eng.º José Sócrates, e da sua comitiva – Ministro dos Negócios Estrangeiros, Ministro da Cultura e

Ministro da Economia entre outras entidades –, que visitou o país no âmbito da “IX Cimei-ra Luso-Brasileira”. Em postos de Honras Mi-litares, no dia 28 o navio contou novamente com a presença da delegação portuguesa e

também, desta vez, a do Brasil, chefiadas respec-tivamente pelo Primeiro--ministro, Eng.º José Só-crates, e pelo Presidente do Brasil, Lula da Silva, que visitaram o navio por ocasião das activida-des realizadas no âmbi-to da mesma Cimeira. À saída do Presidente Lula da Silva, com a guarni-ção estendida à borda, foram dados os “Vivas” de acordo com a Orde-nança, e após esta ceri-mónia, o Contra-almi-rante Pires da Cunha, perante formatura geral do navio, cumprimen-tou toda a guarnição e proferiu palavras de re-conhecimento pela boa prestação e incentivo à

boa continuação da missão. Para além do carácter estratégico, a presença

do 2º Comandante Naval contribuiu ainda para motivar a guarnição ao testemunhar e reconhe-cer o esforço realizado, atestar a importância dos eventos realizados e da missão.

De salientar o importante apoio prestado pela Marinha do Brasil à estadia do navio, dis-ponibilizando 2 oficiais de ligação, bem como as instalações desportivas para a realização das PAF. De salientar também os inúmeros cumpri-mentos recebidos pela beleza e apresentação da “Sagres” de entidades locais, de elementos da comunidade portuguesa e das várias altas

Conclusão

O NRP “Sagres” visto dos penedos de São Pedro e São Paulo.

O Primeiro-ministro, Engº José Sócrates, na recepção oferecida pelo navio à comu-nidade portuguesa em Salvador.

O Presidente Lula da Silva comentando um quadro de arte de marinheiro a bordo da “Sagres”.

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individualidades recebidas a bordo, reforçan-do mais uma vez a motivação da guarnição pela presença do navio em Salvador, cerca de cinco meses após a largada de Lisboa e a um mês do regresso à Base.

Ainda no dia 28, o Comandante e o Ime-diato acompanharam o Contra-almi-rante Pires da Cunha numa recepção a bordo do Navio-Escola Rou Capitan Miranda que se encontrava de visita a este porto.

O navio largou então no dia 29 de Outubro, governando a rumos Norte, bordejando a costa nordeste do Brasil até à latitude do Cabo Branco, passan-do depois a governar em direcção ao arquipélago de Cabo Verde.

A “Sagres” cruzou a Linha do Equa-dor no sentido Sul-Norte no dia 3 de Novembro, passando à vista dos Pene-dos de S. Pedro e S. Paulo nessa mesma tarde. Mais próximo dos ilhéus, foram enviadas à “Estação Cientifica do Ar-quipélago”, por semi-rígida, algumas lembranças do navio pelas mãos de um oficial de bordo e do oficial brasileiro embarcado, assinalando assim de uma forma singela a passagem do navio por estas paragens.

Fundeou no dia 9 de Novembro no porto da Praia, embarcando a Embaixa-dora de Portugal em Cabo Verde, Adi-do de Defesa, Comandante da Guarda-Costeira de Cabo Verde e doze militares da Guarda-Costeira, atracando no por-to do Mindelo no dia seguinte, visitando este porto pela 27ª vez.

Ainda no dia 9, realizou-se a navegar a ce-rimónia de despedida dos dois militares ca-bo-verdianos embarcados desde 25 de Junho, com entrega de Certificado e Menção Honro-sa pelo muito bom desempenho e atitude de-monstrados, com a presença da Embaixadora, do Coman-dante da Guarda-Costeira de Cabo Verde, Adido de Defesa e guarnição.

Ao despedir-se do navio, após atracar no dia 10, a Em-baixadora de Portugal em Cabo Verde agradeceu a pos-sibilidade de voltar a embar-car na “Sagres”, enaltecendo o papel do navio como em-baixada itinerante no apoio às representações diplomáticas. Destacou ainda o sucesso da cooperação técnico-militar em Cabo Verde, amplamente divulgado através da presença do navio.

Ainda no dia 10, o Coman-dante, acompanhado pela Cônsul de Portugal no Mindelo e do Adido de Defesa, apresentou cumprimentos protocola-res às entidades locais, realizou-se o almoço de retribuição de cumprimentos e, à noite, uma recepção com a presença da Embaixadora de Portugal entre diversas entidades do corpo di-

plomático, civis, militares e religiosas locais.No dia seguinte realizou-se a última acti-

vidade no âmbito da “Operação Mar Aberto 2008”, um workshop que contou desta vez com a participação de 42 militares da Guar-da-Costeira de Cabo Verde (GCCV), a que se

seguiu um almoço com todos os participantes e uma cerimónia de entrega dos Certificados de Participação, tendo sido mais uma vez ma-nifestado o elevado interesse pelas activida-des relacionadas com a “Operação Mar Aber-to 2008”. Após a cerimónia, foi realizada na Câmara de Oficiais uma palestra apresentada

por representantes da Direcção-geral da Auto-ridade Maritima que contou com a presença de uma representante da Ministra da Defesa de Cabo Verde, da Embaixadora dos EUA em Cabo Verde e oficiais da Guarda-Costeira, en-tre outras entidades.

No dia 13, o Comandante e seis oficiais da barca assistiram a um espectáculo de benefi-cência realizado na Academia de Música do Mindelo, com a participação de diversos artis-tas locais conceituados, a favor de um músi-co residente na Ilha, organizado pelo Centro

Cultural Português em parceria com a Câmara Municipal do Mindelo, espec-táculo onde todos os presentes tiveram a oportunidade de ouvir tocar e cantar a morna “A Barca Sagres”, música criada em honra da antiga “Sagres”.

A presença de inúmeros oficiais da Marinha de Cabo Verde, ex-alunos da Escola Naval, actualmente a prestar ser-viço na Ilha de Santiago, permitiu mais uma vez aprofundar laços entre oficiais da Marinha cabo-verdiana e da Mari-nha Portuguesa.

O navio permaneceu atracado no porto do Mindelo, cumprindo o progra-ma de actividades previsto, e largou no dia 14 de Novembro rumo a Las Palmas – Gran Canária, onde atracou na ma-nhã do dia 20 de Novembro. Efectua-dos os cumprimentos protocolares, foi realizado um almoço de retribuição de cumprimentos e à noite uma recepção oficial com a presença do Cônsul de Portugal entre outras entidades diplo-máticas, militares e civis, incluindo ele-mentos da comunidade portuguesa re-sidente na Ilha. De realçar o importante apoio prestado pela Marinha Espanhola e o acolhimento do navio na sua Base

Naval, muito bem localizada na cidade.De regresso a casa, o navio largou de Las

Palmas no dia 24, passando ainda por Lagos onde, fundeada, recebeu novamente o Contra-almirante Pires da Cunha e 28 civis da orga-nização “Marinha do Tejo” que reúne vários clubes da região, vencedores de prémios de

regatas embarcações tradicio-nais, que efectuaram o trânsito Lagos-Lisboa.

Na madrugada de 28 para 29, a “Sagres” passa finalmen-te “entre-torres”, fundeia frente ao Terreiro do Paço para se pro-teger do temporal que se esta-va a agravar na costa oeste, e atraca, na manhã do dia 29 no Cais de Alcântara, perante cen-tenas de familiares e amigos da guarnição que, à chuva e ao frio, fizeram questão de assis-tir ao final de uma viagem de quase seis meses.

Durante as estadias nos por-tos, o navio esteve aberto a visitas mais de 210 horas, foi visitada por 27.880 pessoas e recebeu mais de 50 equipas

de órgãos de comunicação social nas várias conferências de imprensa realizadas a bordo, números que contribuíram para o sucesso e divulgação da missão.

(Colaboração do N.R.P. “SAGRES”)

A lancha “Tainha” da GCCV cumprimenta o NRP “Sagres” à chegada ao porto do Mindelo.

A Embaixadora de Portugal em Cabo Verde, a Presidente da Câmara Municipal do Mindelo e a Cônsul de Portugal com o Comandante da “Sagres”.

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10 Janeiro 2009 • Revista da aRmada

Jornadas do Mar 2008Jornadas do Mar 2008ESCOLA NAVAL

a Marinha, através da Escola Naval, orga-niza um Colóquio de Estudantes para Estudantes, do Ensino Universitário, quer

graduado, quer pós-graduado, cujos objectivos gerais são, resumidamente, promover o estudo e a reflexão sobre o Mar, o papel que desem-penha na vida nacional e as suas potencialida-des no contexto europeu, no espaço lusófono e no Mundo e, proporcionar o diálogo entre os estudantes e personalidades ligadas a várias áreas da sociedade, nomeadamente a política, académica, científica, de defesa, económica e cultural.

O figurino inicialmente escolhi-do mostrou-se bastante adequado, tendo-se mantido nas suas linhas gerais. Contudo, nalguns aspectos tem sido alterado, tendo sido efec-tuadas mudanças pontuais, fruto das lições retiradas de cada um dos eventos. Assim, nas primeiras Jorna-das os prémios não eram atribuídos por áreas temáticas, facto que tor-nava o trabalho da Comissão Cien-tífica altamente complicado. Essa situação foi alterada logo nas Jorna-das de 2000, tendo as áreas temá-ticas sofrido ligeiras alterações, em função dos trabalhos que têm sido apresentados pelos participantes. Nas Jornadas de 2008, intituladas «O Oceano - Riqueza da Humani-dade», foram considerados todos os trabalhos abrangidos pelos seguintes domínios do conhecimento:

• Matemática, Modulação e Engenharia

• Geografia, Oceanografia, Am-biente e Ciências Naturais

• História e Sociologia • Economia e Gestão • Relações Internacionais, Di-

reito e Estratégia • Literatura e Linguística • Tecnologias de Informação e Comuni-

cação A iniciativa tem contado, desde o início, com

o alto patrocínio de Sua Excelência o Presidente da República, quer presidindo à Comissão de Honra das Jornadas do Mar em cada edição, quer presidindo às Cerimónias de Encerramento das I e II edições e da actual Edição.

As Jornadas do Mar tiveram a sua génese em 1998, sendo estas primeiras jornadas intituladas: «Vasco da Gama, Os Oceanos e o futuro». A partir daí, têm mantido uma periodicidade bie-nal, com os seguintes títulos:

• 2000 – «Dos Mares de Cabral ao Oceano da Língua Portuguesa»;

• 2002 – «Pedro Nunes – Novos Saberes na Rota do Futuro»;

• 2004 – «O Mar – Um Oceano de Opor-tunidades»;

• 2006 – «Os Oceanos – Uma Plataforma para o Desenvolvimento».

As Jornadas deste ano, que decorreram entre 10 e 14 de Novembro, foram subordinadas ao tema: «O Oceano - Riqueza da Humanidade». O seu objectivo, tal como nas anteriores, foi contribuir para que a sociedade portuguesa, nas suas variadas vertentes, continue a valorizar, de-bater e estudar os Assuntos do Mar, como uma oportunidade para a definição de uma estraté-gia de desenvolvimento do País.

No evento deste ano foram admitidas 57 co-municações de 70 autores, oriundos de 23 esta-belecimentos do ensino superior diferentes. Para além dos estudantes nacionais, civis e militares, participaram também estudantes da University of Sussex, da Universidade Paulista e da Univer-sidade Roland Eotvos de Budapeste.

Para além das sessões de apresentação de tra-balhos, por parte dos estudantes, que constitui a essência das Jornadas do Mar, têm sido propor-cionados diversos eventos de natureza social e cultural. Assim, no primeiro dia, foi efectuado o lançamento de um livro, intitulado: Os Subma-rinos em Portugal, sendo em simultâneo inau-gurada uma exposição sobre o mesmo tema. Foram realizadas duas Mesas Redondas que contaram com a participação de especialistas de elevado nível. No dia 11, a Mesa Redonda

foi subordinada ao tema «O Ensino Profissio-nalizante na Marinha», enquanto que a do dia 13 teve como tema «A Extensão da Plataforma Continental». No período nocturno foram reali-zados dois concertos: um pelo «Projecto ALBA» e outro pela Banda da Armada. Foi ainda rea-lizado um jantar-convívio nas instalações do IASFA na Rua de São José. Tal como nos even-tos anteriores, foram proporcionadas visitas a diversos organismos da Marinha, nas suas dife-rentes vertentes: operacional, formação, cien-tífica e cultural. Como novidade, este ano foi ainda proporcionado um embarque numa uni-

dade naval dedicada à hidrografia e oceanografia.

As Jornadas do Mar contam ainda com dois momentos solenes, a Ses-são Solene de Abertura, no primei-ro dia, e a Sessão de Encerramento, no último dia, que coincide com a Sessão Solene de Abertura do Ano Lectivo. Na primeira presidida por Sua Excelência o Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada, foi pro-ferida uma conferência, pelo Pro-fessor Doutor Emanuel Gonçalves, intitulada: «M@rBIS: A Estratégia Nacional para o Mar ao Serviço da Biodiversidade». Na Sessão de En-cerramento, este ano presidida por Sua Excelência o Senhor Presidente da República, a Oração de Sapiên­cia de Abertura Solene do Ano Lecti-vo foi proferida pelo Professor Dou-tor Adriano Moreira.

Tal como referiu, Sua Excelência o Senhor Presidente da República no discurso proferido na Sessão So-lene das Comemorações do Dia 10 de Junho de 2007, “dispomos de uma das maiores Zonas Económi-cas Exclusivas da Europa, de um pa-trimónio oceânico que é único e de

recursos geológicos, minerais, biotecnológicos e energéticos muito relevantes. Mas a verdade é que não só o nosso património ligado ao mar se encontra sub-aproveitado, como a própria ligação dos Portugueses ao mar se caracteriza por um certo alheamento”.

As Jornadas do Mar de 2008, e as iniciativas no seu âmbito, encerram uma oportunidade de divulgar, estimular o debate e o estudo dos As-suntos do Mar, potencialmente junto dos futuros decisores deste País e, assim, não só contribuir para a identificação das condições que hão-de conduzir a um melhor aproveitamento dos nos-sos recursos marinhos, mas também fortalecer a ligação dos Portugueses ao mar, o que certa-mente muito contribuirá para o desenvolvimen-to do País, bem como para a afirmação da sua posição na comunidade internacional.

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PRÉMIOS DAS JORNADAS DO MAR 2008Área da MateMÁtica, da Modelação e da engenharia:

2º Escalão ­ PrémioTelemetria utilizando a norma

IEEE 802.11g, Germano Gonçal-ves Capela, Nuno Pessanha Santos, João Marques Vieira, César Bastos Monsanto, Escola Naval.

Área da geografia, da oceanografia, do aMbiente e das ciências naturais:

1º Escalão ­ PrémioSimulação da propagação de on-

das no litoral, Andreia Afonso,Miguel Souto, Universidade Lu-

sófona de Humanidades e Tecno-logias.

2º Escalão ­ PrémioAnálise da influência do caudal

fluvial no regime de marés do es-tuário do Minho, Joana Cristina Mano Lucas dos Reis, Instituto Su-perior Técnico.

Área da história e da sociologia:

2º Escalão ­ Prémio ex­aequoPedro Nunes e Edward Wright: o

programa noniano na construção do império britânico, Bruno José M. G. Pereira de Almeida, Centro de História das Ciências – Univer-sidade de Lisboa.

Diagnóstico das fontes de stress e estratégias de coping privilegia-das pelos cadetes da Escola Naval, Ana Rita Rosado da Palma Rosa, Universidade de Lisboa – Facul-dade de Psicologia e Ciências da Educação.

Área das relações internacionais, do direito e da estratégia:

2º Escalão ­ Prémio ex­aequoApoio Aéreo Próximo no Corpo

de Fuzileiros, Pedro Filipe da Fon-seca Freire, Escola Naval.

Da perenidade do poder naval no século XXI, Sara Margarida da Silva Peralta, Universidade Católi-ca Portuguesa.

Área da literatura e linguística:

2º Escalão ­ PrémioMetamorfoses do mar no Por-

tugal oitocentista: o ministério da escrita, Joana Duarte Bernardes, Universidade de Coimbra - Facul-dade de Letras.

Área da tecnologia da inforMação e coMunicação:

2º Escalão ­ Prémio Planeamento de percursos em

UAV’s baseado em densidades de eventos, Roberto Henriques, Insti-tuto Superior de Estatística e Gestão da Informação.

Área da econoMia e gestão:2º Escalão ­ PrémioTeoria da Agência aplicada à

Marinha, Liliana Sofia Marques de Azevedo, Escola Naval.

Área da MateMÁtica, da Modelação e da engenharia:

- Menção honrosaestudo hidrodinâmico de um re-

cife artificial para surf., Luís Miguel Ribeiro Dantas Leite, Universidade de Aveiro.

Área da história e da sociologia:

1º Escalão - Menção honrosaantónio de miranda de azevedo

– estudo biográfico de um membro da Nobreza que protagonizou a ex-pansão ultramarina portuguesa na primeira metade do século Xvi, Ma-ria Paula Pereira Bastião, Universida-de Nova de Lisboa – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas.

2º Escalão - Menções honrosasmemória de uma viagem à Ín-

dia a bordo da nau Nossa senhora dos mártires (1605-1606), Carlos Manuel Montalvão de Sousa, Uni-versidade de Lisboa ­ Faculdade de Letras/Escola Naval.

Outro método de Pedro Nunes para determinação da Latitude por alturas extrameridianas do sol a Qualquer Hora do dia, Jorge Manuel Moreira Silva, Universidade de Lisboa ­ Faculdade de Letras/Escola Naval.

Área da tecnologia da inforMação e coMunicação:

- Menção honrosadeterminação da adequabilida-

de de implementação de Jaulas de aquicultura ao Largo de Portugal Continental com Recurso a análise multi-Critério Geo-espacial, Paula Sofia Castiel de Castro, Universidade de Lisboa – Faculdade de Ciências.

(Colaboração do COMANDO DA ESCOLA NAVAL)

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12 JANEIro 2009 • Revista da aRmada

a Comissão Permanente de Uniformes (CPU) funciona na dependência da Superintendência dos Serviços do

Pessoal competindo-lhe, de acordo com o estipulado no Regulamento Interno daque-la superintendência, “dar parecer sobre os artigos de uniforme dos militares da Mari-nha e respectivo uso, com vista à contínua actualização do Regulamento de Uniformes dos Militares da Marinha”.

Nesse sentido, à CPU compete não só res-ponder a todas as solici-tações a que é chamada a intervir no âmbito dos artigos de uniforme dos militares da Marinha, como também lhe cum-pre promover iniciativas próprias que entenda por bem efectuar, sem-pre com o objectivo de melhorar os uniformes, de adaptá-los às neces-sidades emergentes e de dar continuidade às correspondentes actuali-zações do Regulamento de Uniformes dos Milita-res da Marinha (RUMM, muitas vezes designado de forma errónea por RUMA).

Para o efeito, a CPU delineou um conjunto de procedimentos “standard” destinados ao cumprimento da sua missão. Assim, sempre que um assunto lhe é colocado, é aberto um processo, que será objecto de análise pelos membros da comissão podendo resultar num parecer que, por sua vez, é submetido à aprovação do vice-almirante Superintendente dos Ser-viços do Pessoal.

O triénio de 2004 a 2006 foi um período de actividade particularmente intensa. Com efeito, quer determinado por imperativos le-gais que obrigaram à alteração ou criação de novos artigos de fardamento, quer por necessidade de dar continuidade e concluir processos anteriores, quer ainda por outro tipo de necessidades entretanto identifica-das, estes foram anos que trouxeram gran-des novidades em matéria de uniformes, as

quais vieram colmatar necessidades reco-nhecidas e que se traduziram numa melho-ria significativa para a família naval.

Sublinham-se, seguidamente, os princi-pais processos tratados e concluídos pela CPU, durante esse período:

Fato impermeável de embarque e unifor-me de trabalho para unidades navais e de mergulhadores1 – Este era um projecto antigo face à reconhecida necessidade de melhorar as condições de trabalho de quem anda no

mar. Tendo sido objecto de um estudo preli-minar efectuado pela Direcção de Abasteci-mento em 2003, foi continuado e concluído pela CPU, onde foram inseridas algumas no-vidades, designadamente:

• A criação do conceito do kit para o uni-forme de trabalho, distribuído gratuitamente pelo pessoal que presta serviço nas unidades navais e de mergulhadores. Esta iniciativa sur-ge no contexto dos objectivos da Tarefa n.º 24 da Directiva Sectorial de Recursos Humanos (DSRH), designadamente na necessidade de criar um sistema que incremente os índices motivacionais para o pessoal militar, com es-pecial atenção ao pessoal embarcado. O con-ceito do kit surge como uma necessidade lo-gística facilitadora da distribuição dos artigos de fardamento àquele universo de militares: o militar toma conhecimento do seu desta-

camento para uma unidade naval ou de mer-gulhadores, através da publicação em OP, e dirige-se à Direcção de Abastecimento para levantar o seu kit, que leva consigo quando se apresenta a bordo. Este kit é constituído pelos seguintes artigos de fardamento:

• Fato de embarque• Botas de trabalho• Camisola interior branca• Meias de enchimento pretas• Cobertura para a cabeça

• A criação, em simul-tâneo, do fato impermeá-vel de embarque, a distri-buir às unidades navais e de mergulhadores. A cria-ção deste artigo de unifor-me surge da constatação de que não seria lógico dotar os militares com um uniforme de trabalho, sem simultaneamente do-tar estas unidades de fatos impermeáveis, de uso co-mum, que completassem o kit de fardamento destes militares, uma vez que é amplamente reconheci-do que os ‘oleados cor de laranja’, existentes outro-ra, não satisfaziam cabal-mente as necessidades do pessoal.

• E a extensão deste Kit ao pessoal mergu-lhador. Com efeito, este pessoal não tinha di-reito a fardamento compatível com as missões que lhe são atribuídas, o que não acontecerá no futuro.

Esta proposta da CPU é sem dúvida uma me-dida que se impunha pela natural evolução dos uniformes do pessoal embarcado e do pes soal mergulhador, e que trouxe elevados benefícios àquele universo de militares da Marinha.

distintivos das novas classes de sargentos e praças2 – O novo EMFAR (1999) aprovou as novas classes de Administrativos, Electro-mecânicos, Manobra e Serviços, Operações e Técnicos de Armamento, para sargentos e praças. Decorrente desta alteração legislativa, tornou-se necessário criar os distintivos para estas novas classes.

A Comissão Permanente de UniformesA Comissão Permanente de Uniformes

administrativos electromecânicos manobra e serviços Operações técnicos de armamento

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Revista da aRmada • JANEIro 2009 13

distintivo de especialização em arquitec-tura e construção naval2 – Na sequência das alterações aos quadros de oficiais da Marinha, designadamente a criação da classe de Enge-

nheiros Navais – Ramo Mecânica (EN-MEC) e a extinção da classe de Engenheiros Construtores Navais (ECN), a Marinha tem promovido a es-pecialização dos oficiais EN-MEC com o curso “MSC in Naval Architecture”. Sendo prática na Marinha, distinguir os oficiais especializados pelo uso do respectivo distintivo de especializa-ção, tornou-se necessária a sua criação.

Cordão de ajudante-de-ordens ou ajudante de campo – A experiência tem demonstrado que existe um elevado conjunto de situações em que o uso do uniforme n.º 5 é o mais ade-

quado, ou en-tão é aquele que é estabelecido para determi-nados eventos. Como não está prevista a utiliza-ção de cordões neste uniforme, a identificação da função de oficial ajudan-te-de-ordens ou de campo não é perceptível. Nesse sentido, a

CPU propôs a criação de um cordão para usar com a camisa deste uniforme.

Jaqueta para sargentos e praças das classes e subclasses da taifa do sexo masculino2 – A Portaria n.º 1445-A/95, de 30 de Novembro, que aprova o RUMM, previu a atribuição de jaqueta aos militares do sexo masculino, deter-minando que se trataria de um artigo de unifor-me do 3º grupo (artigos pertencentes ao Estado e a cargo das unidades e serviços), e conse-quentemente sem comparticipação. Conside-rando que esta medida estaria a implicar a não aquisição deste artigo de fardamento por parte daqueles militares, a CPU propôs que esta si-tuação fosse corrigida, passando-o para artigo de uniforme do 1º grupo (artigos de uso obriga-tório pertencentes aos próprios militares).

Uniforme n.º 4a para cadetes da escola Naval2 – Atendendo à tradição e norma em

uso, foi proposta uma alteração a este unifor-me por forma a que os cadetes usassem peú-gas e sapatos brancos, em vez de botas pretas e polainitos, nas formaturas de alunos da Es-cola Naval.

distintivo alusivo ao tempo de embarque e ao tempo de navegação e distintivo de co-mando de unidade naval3 – Na sequência dos objectivos da Tarefa n.º 24 da DSRH, designa-damente a criação de um sistema de incenti-vos para o pessoal militar com especial atenção para o pessoal embarcado, o Comando Naval remeteu uma proposta de criação dos distinti-vos em apreço, os quais foram objecto de aná-lise e de posterior parecer da CPU.

O distintivo alusivo ao tempo de embarque e ao tempo de navegação é constituído por uma âncora sobreposta ao mar na parte inferior; este conjunto está contido numa cercadura circu-lar que reproduz um cabo cochado. A âncora, o mar e o cabo cochado são símbolos navais bastante fortes.

O distintivo de comando de unidade naval é metálico com acabamento em dourado, e é constituído por uma estrela, sendo ao centro vazada e com uma flâmula; este conjunto está contido numa cercadura circular que reproduz um cabo cochado. A flâmula é um símbolo representativo de comando no mar que, as-sociado ao cabo cochado, completam a ine-rente componente naval. Ainda no sentido de estabelecer um paralelo ou representativida-

de equivalente com as marinhas ocidentais, propôs-se inserir igualmente o símbolo fre-quentemente identificado para o efeito, que é uma estrela.

Com a introdução destes distintivos, houve a necessidade de alterar a limitação do uso do número de distintivos, passando a ser de quatro distintivos, com prioridade para os de especialização4.

distintivo do pessoal apto a servir no des-tacamento de acções especiais e passadeiras camufladas5 – O pessoal fuzileiro há muito que

vinha solicitando alterações ao RUMM que satisfizessem algumas das suas necessidades, designadamente:

• A substituição do distintivo do pes soal fuzileiro que presta serviço no DAE, por ou-tro que caracterizasse as operações especiais em todas as vertentes de actuação deste cor-po de elite. De facto, o distintivo anterior es-tava completamente desfasado do conceito de distintivo utilizado por todas as forças congé-neres com quem o DAE se relaciona. Neste conceito, o elemento característico das Ope-rações Especiais é as asas, sendo o elemento Marinha representado pelo ferro tipo almiran-tado. Assim, a CPU propôs um novo distinti-vo, indo ao encontro de uma velha aspiração dos militares que prestam serviço no DAE, dignificando o elevado contributo operacio-nal e profissional que tem caracterizado aque-le Destacamento ao longo da sua existência, constituindo-se portanto como elemento mo-tivador para o pessoal.

• A criação de passadeiras camufladas, a serem usadas em uniforme camuflado.

Criação do “Half-Blue” e uso obrigatório da gravata de lã e da traqueta nos uniformes de praças6 – Uma das linhas de acção por que sempre se pautou a CPU foi a preocupa-ção no aperfeiçoamento dos uniformes dos militares da Marinha, com o inerente melho-ramento das condições de trabalho, e conse-quentemente conduzindo a um aumento da motivação e da moral do seu pessoal.

A imagem e o atavio foram pois um objec-tivo perseguido pela CPU. Neste sentido foi proposto que fosse estendido o uso obrigató-rio da gravata de lã e da traqueta às praças, no uniforme n.º 6. Foi também proposto que

tempo de embarque e de navegação

Comando de unidade naval

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fosse estendido às praças do sexo masculino o uso facultativo do uniforme designado por “half-blue”, já em vigor para os oficiais e sar-gentos masculinos, e para todos os militares femininos.

Esta proposta da CPU, já aprovada e em vigor, foi sem dúvida uma medida de grande impacto, que se impunha, e que constitui sem dúvida um marco histórico na evolução dos uniformes das praças da Marinha.

Blusão de cabedal azul7 – A proposta da CPU de criação do blusão de cabedal azul teve como finalidade colmatar uma necessi-dade que se fazia sentir há muito nos unifor-mes dos militares da Marinha, e que passava pela não existência de um artigo de uniforme, tipo casaco, que se pudesse usar nos exterio-

res e em climas frios. De facto, o único artigo de fardamento que se pode-ria adequar a estas funções, era a camisola de lã, a qual se revelava mani-festamente li-mitada quan-do os militares e fec tuavam deslocações nos exteriores,

em condições de clima frio ou chuvoso. Este artigo de fardamento veio a revelar-se um grande sucesso face à sua ampla aceitação pelos militares da Marinha.

Cobertura da cabeça para o fato de em-barque8 – Com a aprovação do modelo de fato que iria constituir o uniforme de embar-que, tornou-se necessário definir o artigo de uniforme que seria utilizado para a cobertu-

ra da cabeça, e que faria parte integrante do kit de embarque. A proposta da CPU acabou por recair no tradicional ball cap.

Uniforme camuflado9 – O Comando do Corpo de Fuzileiros propôs a adopção de um novo uniforme camu-flado, semelhante ao unifor-me adoptado pelo Exército Português, o qual foi projec-tado e concebido pelo Cen-tro de Estudos de Uniformes do Exército. Este uniforme insere-se no conceito “casca de cebola” que permite ao combatente acrescentar ou diminuir peças de uniforme em função da temperatura envolvente, cobrindo uma significativa variação térmi-

ca, o que confere a este camuflado caracterís-ticas únicas que permitem a sua utilização em quase todos os teatros de operações onde, pre-visivelmente, possam ser empregues militares portugueses. A adopção deste uniforme assu-miu particular relevância pelo facto de terem sido detectadas deficiências no camuflado em uso na Marinha, tanto na qualidade do tecido como no talhe, que tinha deixado de correspon-der às exigências actuais de conforto, facilidade de utilização e adaptação a diferentes tipos de clima. Por outro lado, houve ainda a conside-rar a necessidade de ir ao encontro dos requisi-tos identificados pela NATO e pela EU quanto à necessidade de fornecer uniforme e equipa-mento de combate a todos os militares coloca-dos nas estruturas militares destas OI. Assim, a CPU aprovou o modelo de uniforme que está contemplado na Central de Compras.

artigos de fardamento para os veleiros da marinha10 – São amplamente reconhecidas as necessidades específicas que tem o pessoal que presta serviço a bordo dos veleiros da Marinha. Nesta medida a CPU propôs a criação de dois tipos de uniforme:

• Uniforme impermeável de vela, pertencen-te às unidades navais, e composto pelos seguin-tes artigos de fardamento:

• Fato de vela impermeável• Botas de vela impermeáveis• Luvas de protecção• Gorro• Uniforme de vela, pertencente aos milita-

res, fornecido gratuitamente, e composto pelos seguintes artigos de fardamento:

• Calções• Pólo de manga curta• Sapatos de velaRefira-se a este propósito que estes unifor-

mes já existiam de forma não regulamentada, o que originava que cada veleiro tivesse o seu próprio uniforme.

Uniforme para o pessoal de reforço ao ser-viço da fiscalização das praias11 – Uma das necessidades identificadas, foi a criação de um uniforme a usar pelo pessoal da Marinha que efectua serviço de reforço da acção de fiscali-zação das praias. Este uniforme teria que ser compatível com as necessidades específicas da função a desempenhar, e seria uma alternativa

ao uso dos uniformes n.º 5 ou n.º 7. Sendo reconhecido que o uso de calças não seria o mais adequado para o exercício desta função, a CPU propôs a cria-ção de uma alternativa de uniforme constituída pelos seguintes artigos de fardamento:

• Boné• Corpete• Calções brancos• Meias brancas• Sapatos de ginás-

tica.

sapatos brancos para sargentos – No sentido de uma maior harmo-nização do uniforme branco, e seguindo a tendência da maioria das Marinhas NATO (EUA, RU e Itália são exem-plos) que já adoptaram calçado de cor branca, para uso com farda branca pelos sargentos, a CPU propôs que fosse adoptado o uso dos sa-patos brancos por aqueles militares, ciente no entanto da dificuldade de exequibilidade desta proposta face aos custos envolvidos.

anoraque impermeável – O RUMM prevê uma quantidade de artigos de uniforme (ca-sacão azul; impermeável azul; anoraque azul; anoraque verde; blusão impermeável cor de laranja; calças impermeáveis cor de laranja; capote de abafo azul; impermeável preto) que para além de serem muito diversificados, ou não protegem da chuva, ou são pouco confor-táveis, ou ainda são feitos de tecido de carac-terísticas ultrapassadas face a alternativas que o mercado hoje oferece. Nesta perspectiva, a CPU propôs uma alteração ao RUMM, que consiste na eliminação destes 8 artigos de uniforme e a criação de um novo artigo de uniforme, o ano-raque impermeável.

Platinas e dólman branco – O RUMM pre-vê dois dólman brancos, padrão n.º 1 e padrão n.º 2 cujas diferenças apenas residem nos om-bros (o primeiro dispõe em cada ombro de duas pequenas passadeiras fixas para colocação de platinas rígidas, e o segundo tem nos ombros platinas fixas, que abotoam junto à gola, onde vestem passadeiras e recebem botões metáli-cos). Numa perspectiva de simplificação de arti-gos de uniforme, designadamente para passar a existir um único dólman branco, a CPU propôs a eliminação do dólman branco padrão n.º 1, passando o dólman branco padrão n.º 2 a ter a designação de dólman branco, num período de transição de 6 anos.

Luvas pretas – O uso de luvas castanhas, de-ve-se ao facto de, no passado, os sapatos que se usavam com o dólman azul eram de cor castanha. Como sabemos esta não é a realida-de actual. A esta situação, acresce o facto dos militares do sexo feminino fazerem uso de luvas

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pretas. Não existindo pois um racional que jus-tifique, actualmente, o uso de luvas castanhas pelos militares do sexo masculino, a CPU pro-pôs a substituição das luvas castanhas por luvas pretas, num processo que deveria ocorrer num período de transição de 3 anos, e que se tradu-zia também na redução de mais um artigo de fardamento.

Cinto azul naval12 – A CPU propôs a substi-tuição do cinto azul por outro de cor azul naval (tonalidade idêntica ao uniforme n.º 1 e n.º 3). A proposta apresentada é suportada pelo aspecto estético, designadamente por se tornar pouco estético quando usado nos uniformes n.º 1 e n.º 3, devido à cor padrão destes artigos de far-damento. Assim, a CPU propôs a substituição do cinto azul pelo cinto azul naval, medida esta que não só trará um benefício estético aos militares quando uniformizados com aqueles uniformes, e com o “half-blue”, como também ficará igualmente bem quando em uso nos uni-formes n.º 6 e n.º 7.

Uniformes para os pilotos e pessoal de ma-nutenção dos helicópteros – Os uniformes dos pilotos e do pessoal de manutenção dos helicópteros não se encontram definidos no RUMM. Acresce ainda o facto de que não es-tava definida uma política de distribuição de fardamento àquele universo de militares, nem mesmo a sua existência na corrente de abaste-cimento. Nesse sentido, a CPU propôs a cria-ção do uniforme de voo, destinado aos pilotos de helicóptero, constituído pelos seguintes arti-gos de fardamento:

• Fato de voo, verde, igual ao usado pelos pilotos da Força Aérea;

• Blusão de voo, verde, igual ao usado pelos pilotos da Força Aérea;

• Botas de voo, pretas, iguais às usadas pelos pilotos da Força Aérea; no entanto irá ser estu-dada a viabilidade de serem adoptadas as botas utilizadas pelos militares a bordo das UN’s;

• Camisola de interior verde;• Meias de enchimento verdes;• Bivaque.A CPU propôs ainda que, ao pessoal de ma-

nutenção dos helicópteros que faz parte do des-tacamento dos helicópteros embarcados nos navios, será distribuído o kit de embarque, na altura do seu destacamento para os navios, nos mesmos moldes em que é feito para os militares nas unidades navais. A CPU propôs ainda que o restante pessoal de manutenção de helicópteros (a prestar serviço na Esquadrilha de Helicópte-ros), seguirá a mesma política que os restantes militares da Marinha, ou seja, a unidade requi-sita para o seu pessoal o vestuário e equipa-mento necessários à execução da sua actividade.

Boina para mi-litares não fuzilei-ros13 – A CPU ana-lisou o projecto de implementação de uma boina a usar por militares não

fuzileiros, designadamente como artigo de far-damento opcional ao boné tipo ball cap, usa-do com o uniforme de embarque e opcional ao barrete camuflado e ao chapéu camuflado pre-vistos para uso com novo uniforme camuflado, e elaborou o respectivo parecer e proposta de implementação da boina.

Uniformes n.º 3 e n.º 4 / n.º 5 das praças – A CPU fez uma análise aos uniformes n.º 3 e n.º 4 / n.º 5 das praças do sexo masculino e do sexo feminino, designadamente à diferenciação existente nestes artigos. De facto, a situação pre-sente é a seguinte: as praças do sexo masculino da classe dos músicos usam jaquetão / dólman, camisa branca e gravata de seda; as restantes praças do sexo masculino usam blusa, corpete, colarinho de alcaxa e manta de seda; as praças do sexo feminino usam casaco, camisa branca e laço de seda.

Esta matéria tem sido várias vezes questiona-da, sem que tenha sido até hoje dada resposta para a sua resolução. Os trabalhos desenvolvi-dos pela CPU para avançar com uma proposta de solução, demonstraram por um lado haver consenso no reconhecimento da existência de uma incongruência entre os uniformes de saída das praças masculinos e femininos, mas por ou-tro lado mostrou-se divergente na apresentação de soluções para a sua resolução.

A CPU, pelo seu Presidente, rejeitou de todo qualquer proposta que passasse pela eliminação da blusa, corpete, colarinho de alcaxa e man-ta de seda, uniforme de fortes tradições navais não só em Portugal, como em outras Marinhas congéneres. Assim, uma solução seria a separa-ção ao nível do QP e do RC/RV, considerando não existir uma discriminação pelo facto de o pessoal RC/RV estar na Marinha por um perío-do normalmente não superior a 6 anos, numa idade jovem, pelo que deveria fazer uso da alca-xa. Ao fim deste período, ou sairia da Marinha, ou ingressaria nos QP’s; e nesta última hipóte-se, passaria a fazer uso do jaquetão. A solução final foi a seguinte:

• Praças QP’s do sexo masculino uniformi-zam como as praças da classe dos músicos;

• Praças RC’s e RV’s do sexo masculino, e praças QP’s do sexo feminino mantêm o seu uniforme;

• Praças RC’s e RV’s do sexo feminino passam a uniformizar com blusa, corpete, colarinho de alcaxa e manta de seda, criando-se para o efei-to este uniforme.

Em resumo, as praças QP’s uniformizam como as praças da classe dos músicos, e as pra-ças RC’s e RV’s uniformizam como as praças do sexo masculino das outras classes.

Estes foram os principais processos objec-to de propostas para aprovação superior. De uma forma geral, a CPU conseguiu sempre um consenso entre os seus membros na pro-cura de soluções para os assuntos que se lhe deparavam, o que facilitou de sobremaneira o trabalho de equipa (o último processo apre-sentado foi talvez a excepção, pois a proposta final não foi consensual, tendo cabido a deci-são final ao Presidente da CPU). É pois com satisfação que se regista que, de uma forma

geral, as propostas tiveram um bom acolhi-mento por parte das chefias e, na fase de im-plementação, por parte dos militares da Ma-rinha, o que atesta o trabalho muito profícuo desenvolvido pela CPU.

Importa ainda fazer uma breve referência à qualidade dos uniformes, e em particular na responsabilidade da CPU nesta matéria. Conforme foi referido anteriormente, à CPU compete dar parecer sobre os artigos de uni-forme, e nessa medida esta Comissão poderá pronunciar-se sobre esta matéria; mas não é à CPU que compete fazer o controlo de quali-dade dos uniformes, havendo um organismo específico na Marinha para este efeito, fora da esfera da SSP. No entanto, é reconhecido que este assunto está na ‘ordem do dia’, pelo que deverá ser feita uma reflexão na Marinha de como estivemos ontem, como estamos hoje, e como queremos estar amanhã.

Como será o futuro? O trabalho da CPU não se esgota nestes processos que se vão resolven-do, com maior ou menor celeridade. Com efei-to, a portaria que aprova o RUMM carece de ser actualizada. Desde a sua publicação em 1995, muitas alterações aos uniformes foram feitas, sem que se produzisse a respectiva pro-posta de alteração legislativa. Assim, este foi um objectivo da CPU durante o ano de 2006, o qual foi iniciado, mas não foi concluído.

Importa ainda referir que a actividade da CPU só tem sentido com a participação de to-dos os militares. Todas as sugestões relaciona-das com o fardamento, deverão ser colocadas à CPU, quer através da cadeia de comando, quer através dos membros da comissão.

Concluindo, espera-se que este testemunho sirva de registo histórico da evolução dos uni-formes dos militares da Marinha patenteado neste período, destacando-se naturalmente a mudança de uniforme dos militares embar-cados, e o uso obrigatório da gravata pelas praças da Marinha.

Paulo Sousa CostaCMG

(Ex. Presidente da CPU)

Notas1 Aprovado por Despacho do Alm. CEMA n.º 28/05,

de 06 de Maio2 Aprovado pela Portaria n.º 1425/2004, de 25 de No-

vembro3 Aprovados por Despachos do Alm. CEMA n.º 29/05,

de 06 de Maio e n.º 30/05, de 06 de Maio4 Aprovado por Despacho do Alm. CEMA n.º 51/06,

de 18 de Maio5 Aprovados por Despacho do Alm. CEMA n.º 31/05,

de 06 de Maio6 Aprovado por Despacho do Alm. CEMA n.º 50/06,

de 18 de Maio7 Aprovado por Despacho do Alm. CEMA n.º 56/06,

de 02 de Junho8 Aprovado por Despacho do Alm. CEMA n.º 67/05, de

07 de Novembro9 Aprovado por Despacho do Alm. CEMA n.º 29/08, de

04 de Setembro10 Aprovado por Despacho do Alm. CEMA n.º 38/07,

de 17 de Julho11 Aprovado por Despacho do Alm. CEMA n.º 52/06,

de 18 de Maio12 Aprovado por Despacho do Alm. CEMA n.º 12/07,

de 16 de Março13 Aprovado por Despacho do Alm. CEMA n.º 83/06,

de 10 de Novembro

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16 JANEIro 2009 • Revista da aRmada

A MARINHA DE D. JOÃO III (41)

Guerra e diplomacia com a pimenta do MalabarGuerra e diplomacia com a pimenta do Malabar

Jorge Cabral foi mais um dos muitos fi-dalgos que prestaram serviço no Oriente durante décadas, acumulando uma vas-

ta experiência sobre todas as nuances da ad-ministração portuguesa e do relacionamento com os múltiplos poderes locais. Durante a década de vinte encontramo-lo nas Molucas, Malaca, Golfo Pérsico, no cerco de Diu e, natu-ralmente, em todo o resto da Índia cumprindo as mais variadas missões. Passou por Lisboa, na primeira metade dos anos trinta, mas re-gressou em 1535, levando consigo a sua mu-lher, Lucrécia Borges, o que não deixa de ser uma atitude inédita na nobreza portuguesa que buscava fortuna no Oriente. Dª Lucrécia viveu na fortaleza de Baçaim e foi a primeira esposa de um governador da Índia que ocu-pou a residência oficial em Goa.

Sabendo ainda em Junho de 1549 que as cartas de sucessão apontavam o seu nome para su-ceder a Garcia de Sá, só em Agos-to conseguiu aprontar uns quan-tos navios ligeiros, que à força de remo conseguiram levá-lo a Goa, onde chegou entre 11 e 15 de Agosto. Foi recebido com as hon-ras e festividades que eram nor-mais, nestas circunstâncias, e des-pachou, de imediato, um conjunto de assuntos pendentes. O primei-ro deles era nomear alguém que o substituísse no cargo que acabara de deixar, recaindo a escolha em Francisco Barreto. A monção de sudoeste estava a chegar ao fim e havia um conjunto de coisas que era necessário levar a cabo, logo que terminassem a chuvas e os temporais. Uma delas era dar pro-vimento à esquadra do Malabar, que seguiu com doze navios, e ou-tra era acudir de novo às Molucas, sobre que corriam novos rumores de que mais uma armada castelhana demandava aquelas ilhas. Para ali partiu, em Abril do ano seguin-te, D. Rodrigo de Menezes “com cinco navios grossos” guarnecidos com 300 homens, com “muitas munições, roupas e outros provimen-tos”. Eram informações sem fundamento, mas todo o cuidado era pouco.

O problema mais grave que Jorge Cabral teria de resolver durante o seu curto mandato como governador da Índia seria no Malabar, exactamente onde se produzia a pimenta que carregava os navios das esquadras que iam e vinham de Lisboa para esse efeito. Mais uma vez era um conflito que envolvia o Samorim de Calecut e o rei de Cochim, neste caso com o chamado “Príncipe da Pimenta” no meio. Estes problemas eram cíclicos e afectavam

particularmente os portugueses porque as naus carregavam naquele porto uma merca-doria que vinha do sertão, alimentando um comércio que era o fulcro da política da co-roa no Oriente. Obrigava a diplomacia que se mantivesse a amizade com o rei de Cochim, desenvolvendo as necessárias influências (e pressões) para que se mantivessem sujeitos a ele os principais produtores de pimenta. Era necessária uma política de equilíbrio diplo-mático entre pequenos potentados que – de forma directa ou indirecta – precisavam da protecção portuguesa porque a sua subsis-tência dependia do escoamento marítimo da

sua produção. A alternativa era a formação de alianças contra Portugal, entrando nos cir-cuitos paralelos que canalizavam a especiaria para o Mar Vermelho, quase sempre com o apoio velado do Samorim e dos mapillas (mu-çulmanos) de Calecut, mas isso significava a guerra e a instabilidade.

De início, o conflito não parecia ser comple-xo, mas rapidamente ganhou proporções qua-se incontroláveis, porque o rei de Cochim não estava disposto a perder aquela vassalagem, contando com a colaboração de Francisco Sil-va, capitão da fortaleza. O próprio governa-dor, Jorge Cabral, se deslocou ao Malabar para reforçar a posição portuguesa, mas não teve uma noção clara da borrasca que aí vinha e, quando viu as naus carregadas de pimenta e a estação seca a chegar ao fim, acabou por re-

gressar a Goa. Deixou, contudo, instruções es-peciais à esquadra do Malabar para atacar os interesses do Samorim, e colocou uma armada de oito navios, sob o comando de Fernão Ro-drigues Castello Branco, para assolar a costa a sul de Panane, onde se concentravam as for-ças inimigas. Quando o “Príncipe da Pimenta” saiu de Calecut e se refugiou numa pequena ilha a norte de Cochim, designada pelos cro-nistas portugueses como ilha de Bardela (é di-fícil identificá-la com clareza, mas tudo indica ser uma das ilhas baixas a norte da barra, hoje separadas do oceano por um dique), Francis-co Silva decidiu atacá-lo e prendê-lo, obrigan-

do-o à obediência que devia ao rei de Cochim. Acontece que ele foi abatido acidentalmente logo no primeiro embate, e essa perda, em vez de desmoralizar as suas tropas acicatou ainda mais os âni-mos. Debaixo de uma chuva di-luviana, que apagava os morrões das espingardas, os portugueses deixaram-se surpreender por um violento contra-ataque que ceifou a vida ao capitão e a vários outros fidalgos; e uma missão que parecia simples, complicou-se subitamen-te, com perdas nacionais de vul-to, e com o Samorim a aproveitar a morte do seu novo aliado para invadir o território de Cochim, numa altura do ano em que não era fácil receber reforços por mar, devido aos rigores da monção. Podia repetir-se, de certo modo, o que sucedera em 1503, quando Duarte Pacheco Pereira ficou iso-lado na região lagunar, resistindo desesperadamente aos sucessivos ataques dos guerreiros de Calecut. O governador soube do que esta-va a acontecer, ainda em Julho, mas não podia deixar Goa numa

altura em que se aguardava a chegada da es-quadra do reino, onde viria, certamente, um novo governador. À falta de notícias dos na-vios de Lisboa, partiu, finalmente, no final de Outubro, dispondo-se a atacar a ilha de Bar-dela, onde já estavam conluiados vários reis do Malabar, aliados de Calecut e desagrada-dos com a atitude do rei de Cochim. Alguns deles velhos amigos dos portugueses. O ata-que foi, contudo, suspenso por ordem expres-sa de D. Afonso de Noronha, o novo Vice-Rei da Índia que chegava do reino e mandava notícias de Coulão, onde se encontrava. Mas da sua atribulada viagem e do que se seguiu daremos notícia na próxima revista.

J. Semedo de MatosCFR FZ

“Fragmento de um mapa da zona sul da Índia, datado de 1744, da autoria do grava-dor Emanuel Bowen, onde é possível identificar a costa do Malabar, com alguns dos topónimos que estiveram ligados à presença portuguesa e aos conflitos ocorridos du-rante o governo de Jorge Cabral.”

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Realizou-se no passado dia 20 de Novembro a já tradicional Cerimó-nia Militar que assinala a Abertura

do Ano Operacional 2008/09, na Base Naval de Lisboa tendo sido presidida pelo Almirante CEMA.

Esta cerimónia tem como objectivo principal fazer o balanço anual da ac-tividade operacional e perspectivar o futuro.

Momento oportuno também para o Co-mandante Naval fazer a análise da activi-dade operacional, tendo feito um breve resumo das acções mais relevantes no âmbito do Comando Naval. Congratu-lando mulheres e homens das guarnições pelo dever cumprido, num ano operacio-nal exigente, revelou os desafios para o novo ciclo de actividades.

É, em suma, o reforço da motivação e espírito de missão, apanágio dos ma-rinheiros.

Esta cerimónia congregou unidades na-vais nos cais 2 e 3 da BNL, de elementos das guarnições dos navios e de fuzileiros dispostas em forças apeadas e motoriza-das, uma formação de helicópteros, uma formação de meios do Destacamento de Mergulhadores Sapadores e ainda, de meios terrestres e de uma lancha perten-centes à Direcção-Geral de Autoridade Marítima.

O Almirante CEMA, acompanhado pelo Comandante Naval, embarcou na Doca da Marinha no N.R.P. “Escorpião”, comandado pelo 2TEN Paciência da Sil-va e navegou até à BNL onde efectuou a Revista Naval às unidades atracadas nos cais 2 e 3 e à corveta “Jacinto Cândido” que se encontrava fundeada.

Após a Revista, teve início a cerimónia militar onde foram condecorados diver-sos militares e prestada homenagem aos mortos em defesa da Pátria, com uma evocação proferida pelo Capelão Chefe da Marinha, seguida das alocuções do Comandante Naval e do CEMA.

Na BNL, encontravam-se representadas as diversas capacidades operacionais da Marinha, designadamente: a capacidade oceânica de superfície, através da fraga-ta “Côrte-Real”; a capacidade de fiscali-zação oceânica, com a corveta “Afonso Cerqueira”; a capacidade de fiscaliza-ção costeira e ribeirinha, pelo patrulha “Cuanza”, a lancha de fiscalização “Cas-siopeia”; a capacidade de projecção de força, pelo Batalhão Ligeiro de Desem-barque e pelo Destacamento de Acções Especiais; os Destacamentos de Mergu-lhadores Sapadores, revelando a capaci-dade de guerra de minas que desfilaram em botes e semi-rígida; a capacidade de

treino de mar, com o NTM. “Creoula”; a capacidade submarina corporizada pelo submarino “Barracuda” e finalmente a re-presentar a Autoridade Marítima a lancha da Polícia Marítima “Tufão”.

As forças em parada foram coman-dadas pelo CMG Costa e Sousa, actu-almente a desempenhar as funções de Comandante da Esquadrilha de Helicóp-teros. Constituíam as forças em parada: a Banda da Armada e a Fanfarra; o Blo-co de Estandartes Nacionais, constituído por Estandartes pertencentes a unidades e organismos do Comando Naval, da Escola Naval e da ETNA, e a respectiva escolta constituída por um pelotão da Companhia de Apoio de Fogos; o Bloco de Guiões constituído por guiões per-tencentes a unidades e organismos do Comando Naval; três batalhões a duas companhias cada, o primeiro batalhão, constituído por elementos das guarni-ções das Unidades Navais, o segundo batalhão, constituído por elementos do Batalhão de Fuzileiros nº1 e da Unidade de Polícia Naval; finalmente, o terceiro batalhão, constituído por elementos do Batalhão de Fuzileiros nº2.

Assistiram também a esta cerimónia os cadetes, alunos do 1º ano da Esco-la Naval.

A fechar as Forças apeadas, desfi-lou, em marcha acelerada, o Batalhão de Fuzileiros Nº2, a duas Companhias, que foram, sobrevoadas por helicópte-ros LYNX, precedendo uma Força Mo-torizada constituída por: um elemento de comando; um grupo de abordagem; um destacamento de acções especiais, um elemento de manobra; um elemen-to de apoio de combate; um elemento de apoio de serviços em combate e um elemento de assalto anfíbio. Encerrou o desfile das Forças Motorizadas, o Grupo da Direcção-Geral de Autoridade Marí-tima com uma viatura pick-up com pis-tola pneumática lança-cabos e moto 4 em atrelado; uma viatura do ISN com mota-de-água a reboque; uma viatura da Direcção de Faróis, uma viatura de combate à poluição por hidrocarbonetos e uma viatura do grupo de intervenção da Polícia Marítima. Este desfile foi tam-bém sobrevoado por helicópteros Lynx, formados em linha.

Finalmente um helicóptero Lynx MK95 sobrevoou o local da cerimónia e cum-primentou em despedida o Almirante CEMA e todos os convidados.

Após a conclusão da cerimónia militar, foi servido um porto de honra a bordo do N.R.P “Côrte-Real”.

Cerimónia de Abertura do Ano Operacional 2008/09Cerimónia de Abertura do Ano Operacional 2008/09

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Em primeiro lugar saúdo os Marinheiros que neste momento se encontram em missão, muito em especial os destacados no Afeganistão, bem como aqueles que cumprem as suas ta-

refas no mar. Lembro, igualmente, todos os servidores da Marinha que, no seu posto de trabalho, tornam possível os desempenhos operacionais.

Agradeço, também, a disponibilidade dos ilustres convidados que nos distinguem com a sua presença nesta cerimónia. Cerimó-nia cujo significado nos é particularmente caro, enquanto teste-munho simbólico da essência da Marinha, ou seja, da afirmação da disponibilidade dos seus meios para operar quando e onde ne-cessário. O meu muito obrigado pela Vossa presença. Sejam bem-vindos à Marinha dos Portugueses.

Marcamos, hoje, o início do ano operacional 2008/2009, mo-mento propício para se fazer um balanço do ano anterior, para se perspectivar a activida-de para o novo ano ope-racional e para me diri-gir, em especial, àqueles que, no mar, dão o me-lhor do seu esforço e dedicação à Marinha, e portanto ao País.

Distintos convidadosA Marinha continua a

trabalhar num conjun-to muito diversificado de missões, contribuin-do para a construção da paz e da segurança, para o exercício da autorida-de do Estado nos espa-ços marítimos sob sua soberania e jurisdição e para o conhecimento do mar. Ao executar acções de serviço pú-blico militar, típicas das armadas e não militares, características das guardas costeiras, de forma a potenciar sinergias, consubs-tancia o paradigma operacional que designamos por Marinha de duplo uso.

É neste quadro que a Marinha pode rentabilizar os recursos que lhe são atribuídos, empenhando continuamente a Esquadra (com as suas unidades navais, de fuzileiros e de mergulhadores) e os meios operativos da Autoridade Marítima e do Instituto Hidrográ-fico, ao longo de todo o ano e vinte e quatro horas por dia ao ser-viço dos portugueses.

De facto, os indicadores operacionais referidos pelo senhor Vice--Almirante Comandante Naval, no que concerne ao último ano, são gratificantes e motivadores, traduzindo bem o produto do in-vestimento que é feito.

Estes resultados são, também, a face visível do esforço e dedica-ção de todos os que diariamente superam dificuldades na manu-tenção da Esquadra, bem como os que asseguram que ela é guar-necida por pessoal preparado e treinado de acordo com os mais elevados padrões internacionais.

Temos, no entanto, que reconhecer que estes indicadores não são susceptíveis de sustentação, sem que se concretizem im-portantes investimentos de renovação programados há anos. Na realidade, apesar das corvetas e dos patrulhas apresentarem ainda uma taxa de operacionalidade aceitável, a longevidade des-tes navios, alguns com mais de 35 anos de serviço, não garante a continuidade daquela prestação, nem oferece os níveis tecnológi-cos e de habitabilidade adequados às exigências de hoje.

Tenho repetidamente afirmado que a idade avançada de grande

parte dos meios de que dispomos, é um factor condicionante da nossa capacidade para bem cumprir a missão e, até, de atrairmos e retermos os recursos humanos de que necessitamos. Por isso, tenho procurado por todos os meios ao meu alcance evidenciar a urgente necessidade da renovação da Esquadra antes que as condicionantes de operação se transformem em impossibilidade.

Novos atrasos nos programas dos Patrulhas Oceânicos e nas Lan-chas de Fiscalização Costeira, serão impeditivos do cumprimento de algumas missões, para além de obrigarem à afectação de recursos financeiros e humanos desproporcionados na manutenção das cor-vetas e dos patrulhas da classe “Cacine”. Trabalha-se para o evitar.

Felizmente, os desafios que temos pela frente evidenciam outras perspectivas bem animadoras. Contrastando com os que atrás aludi, é com enorme satisfação que, passados dezassete anos desde o au-mento ao efectivo das fragatas da classe “Vasco da Gama”, iremos

receber duas fragatas de igual valia militar, estan-do prevista para o dia 16 de Janeiro de 2009 a en-trega à Marinha da pri-meira, que será o N.R.P. “Bartolomeu Dias”.

No passado dia 15 de Julho, tive a honra de participar, na cerimónia de lançamento à água do submarino “Tridente”, um dos dois que vamos receber em 2010/2011. Estes meios, de elevadís-sima valia operacional e tecnológica, representa-rão um enorme avanço que se traduzirá numa capacidade de afirmação

a nível político-estratégico que Portugal não pode dispensar.Nos próximos dois anos, prevê-se a recepção de vinte viaturas

blindadas de rodas com capacidade anfíbia. Trata-se de um desen-volvimento de grande significado para o Corpo de Fuzileiros pelo aumento da capacidade de manobra táctica em situações de ris-co acrescido, permitindo o emprego destas forças em situações de maior exigência operacional.

Na sequência do recente aumento ao efectivo de duas embar-cações salva-vidas da classe “Vigilante”, iremos brevemente pro-ceder ao baptismo da terceira Unidade de Apoio de Mar. São três embarcações de elevada capacidade, integralmente concebidas e construídas no Arsenal do Alfeite, que vão reforçar o dispositivo do Instituto de Socorros a Náufragos tornando-o ainda mais ca-paz para cumprir a sua nobre missão de salvamento de vidas hu-manas no mar.

Sendo certo que estes novos instrumentos nos deixam bastante satisfeitos e nos permitem encarar o futuro com algum optimismo, não posso deixar de referir que a nossa ambição, ainda que tem-perada pelo pragmatismo das reais capacidades do país, não pode deixar de ter em conta outras necessidades que reputo imprescindí-veis. Refiro-me, em concreto, ao Navio Polivalente Logístico, o mais conjunto de todos os meios do nosso sistema de forças, e aos navios de combate à poluição, todos eles vectores incontornáveis à nossa circunstância de nação que deve ao mar a sua existência e que nele reconhece um elemento central da sua identidade.

Continuaremos pois a aguardar com serenidade o arranque des-tes projectos, já previstos designadamente na Lei de Programação Militar, seguros da sua imprescindibilidade para a Marinha, para as Forças Armadas e para Portugal.

Alocução do Almirante CEMAAlocução do Almirante CEMA

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Senhores oficiais, sargentos, praças, militarizados e civis da Marinha:

A democracia é um regime recente na longa história da huma-nidade. Mesmo hoje, não é a regra no mundo. Tem, portanto, que ser construída e sustentada no dia a dia. Por todos. Pelos que têm o direito de mandar e pelos que têm o dever de obedecer. Muito es-pecialmente pelos que assumem, sem reservas, o dever de defen-der Portugal até ás ultimas consequências e o compromisso cívico de abdicar de parte da sua cidadania. Só as-sim, poderemos exigir direito ao respeito e ao reconhecimento que é devido à condição mi-litar e à especificidade de marinheiro. É so-bre isto que devemos reflectir, assumindo as nossas posições com verdade e a razão que nos assiste. Só a verda-de, só ela, nos possibi-lita a conciliação.

Sabemos, todos, que as pessoas e sua quali-dade são a grande ri-queza que a Marinha se orgulha de possuir, constituindo o pilar mais importante de toda a sua estrutura. Como sempre foi, e será, só o empenho e a motivação do pessoal permite ultrapassar dificul-dades, aparentemente insuperáveis, com que muitas vezes somos confrontados.

O sentido do dever não se compra. Nem se vende. Reconhece-se por quem comanda e por quem obedece.

Como repetidamente tenho afirmado, é necessário resol-ver de forma equilibrada e progressiva as questões relativas a carreiras, vencimentos e remunerações. São questões cen-trais em que é necessário encontrar um justo equilíbrio, elimi-nando assimetrias negativas com outros Corpos do Estado que há muito tempo se têm vindo a aprofundar. Espera-se que os trabalhos em curso venham a solucionar estas dificuldades. Estas obrigações têm sido, e continuarão a ser, compromissos ina-lienáveis da minha vi-são de comando e da constância da minha actuação.

Ilustres convidadosPara garantir a satis-

fação dos princípios da eficiência e da eficácia porque nos regemos é essencial aprofundar, ainda mais, a coope-ração institucional na defesa dos nossos in-teresses no mar. É con-vicção que defendo há muito e com grande empenho.

É disso testemunho a recente operacionalização do Centro Nacio-nal Coordenador Marítimo, órgão que visa agilizar a articulação de um conjunto alargado de entidades e departamentos no quadro da segurança e do exercício da autoridade do Estado no mar. Também inaugurámos o Centro de Operações da Marinha (COMAR) em Ju-nho passado, o qual poderá servir outros órgãos do Estado que ne-

cessitem de idênticas funcionalidades. Estamos no princípio, mas estamos, também, no bom caminho.

No âmbito externo, promoveu-se a articulação com diversas agên-cias internacionais e foram dados passos significativos na componen-te multinacional de que são exemplos, a Declaração Comum sobre Cooperação Aeromarítima entre as Marinhas de Portugal e de França e a assinatura de um protocolo para a troca de informação entre os Serviços de Busca e Salvamento de Portugal e das Antilhas. Merece

ainda destaque a muito recente adesão da Ma-rinha ao North Atlantic Coast Guard Forum, organização que visa a troca de informações operacionais no qua-dro das funções típicas das Guardas Costeiras. A Marinha está cien-te de que só com uma articulação eficaz se pode concretizar um sistema que se pretende coerente, estruturado e eficiente na utilização dos recursos e na busca da segurança, indispen-sável ao bem-estar dos cidadãos e ao desen-volvimento económico

do país. Ninguém, nem nenhuma organização, poderá responder sozinho às inúmeras questões que o mar nos coloca.

Marinheiros;Neste ano operacional, cujo início hoje marcamos, são muitos

os desafios que temos pela frente. Há que continuar a operar per-manentemente no sentido de contribuir para o reforço da autorida-de do Estado nas nossas águas jurisdicionais tirando melhor partido dos navios de que dispomos, mesmo que desactualizados; há que garantir Importantes compromissos internacionais: o comando de duas forças navais multinacionais, a SNMG 1 no âmbito da NATO e a EUROMARFOR no plano europeu, e aprontar adicionalmente uma companhia de fuzileiros para integrar o Grupo de Batalha Anfíbio

da União Europeia; Si-multaneamente há que integrar novos meios. Tudo isto numa con-juntura muito difícil. Saberemos responder com dedicação, brio e profissionalismo.

Os resultados alcan-çados no ano operacio-nal que agora se com-pleta são o garante que conseguiremos superar outros desafios.

Como comandan-te, sinto-me orgulhoso do que tem sido feito em conjunto e, neste novo período que ago-ra se inicia, sei que pos-

so contar com a guarnição, para que a Marinha possa continuar a honrar Portugal.

Muito obrigado

Fernando de Melo GomesAlmirante

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20 JANEIro 2009 • Revista da aRmada

l Realizou-se no passado dia 10 de Outubro a cerimónia militar na Estação Naval da BNL, da entrega de comando do Comandante Naval ao VALM Saldanha Lopes, rendendo o VALM Var-gas de Matos e foi presidida pelo ALM CEMA. Na presença das mais altas entidades da Armada e civis, formou o batalhão naval comandado pelo CMG Maia Martins a três companhias.

Após as honras da Ordenança o anterior Co-mandante Naval, usou da palavra tendo sido condecorado com a medalha Militar de Serviços Distintos – Ouro. Seguiu-se a leitura da ordem da entrega de Comando, tendo o novo Comandante Naval usado da palavra de que se realça: “ ... outros desafios, a curto e médio prazo que, pela sua relevância, não posso deixar de enumerar:

- A integração na esquadra dos novos meios, designadamente das fraga-tas “Bartolomeu Dias” e “D. Francisco de Almeida”, dos submarinos da classe “Tridente” e dos Navios Patrulha Oceânicos;

- O comando do Standing NATO Maritime Group 1, já a partir de JAN09, e o comando da EUROMAFOR no período compreendido entre SET09 e SET11;

- A participação de uma companhia de fuzileiros no Battle Group da União Europeia, no 1ª semestre de 2009, e a edificação do Destacamento de Guerra de Minas...”

Por último proferiu algumas palavras o ALM CEMA, enaltecendo a acção do Comandante anterior, a confiança no novo Comandante Naval, e da sua importância para a Marinha.

Após o desfile das forças na parada foi encerra-da a cerimónia, a que se seguiu um porto de honra no NRP “Côrte-Real”.

COMANDANTE NAVAL

O VALM José Saldanha Lopes alistou-se na EN, tendo sido promovido a G/M em OUT 73. Na sua carreira, de 40 anos de serviço, esteve embarcado em várias UN’s, e desem-penhado funções como Oficial de Comunicações, Chefe de Operações e Imediato, designadamente em Patrulhas, Cor-vetas e Fragatas, e participado em várias missões no âmbito da STANAVFORLANT . Em terra foi instrutor na Escola de

Comunicações, desempenhou funções no EMA, na Missão Militar em Bruxelas e foi CEM do Comando Naval (CN).

Foi Comandante do NRP “Ribeira Grande”, em acumulação com funções no Departamento de Marinha na EN.

Especializou-se em Comunicações, e possui, os CGNG e CSNG, o “Commu-nications Staff Course” (Reino Unido), o NATO Electronic Warfare Staff Course”, o “Principal Warfare Officer Course for Surface Warfare”, o “MTC” e o “Gunnery Course” (Reino Unido).

Desempenhou cargos na STANAVFORLANT, como assessor na área da Guerra Electrónica no SACLANT e Oficial de Operações do EM. Em terra foi Chefe do CC e encarregado da Secção de Busca e Salvamento (SAR) na Div. OP’s do CN, oficial de Operações Navais do COMCHEFE das FA’s nos Açores, e ainda Chefe da Secção de Treino e Exercícios do CN. Em 1991 foi o primeiro oficial de ligação português no FOST em Portland, e responsável pelo treino das FF’s “Vasco da Gama”.

Desempenhou funções na Div. de Log, do EMA e foi Comandante da Esqua-drilha de Helicópteros. Comandou o NRP “Côrte-Real”, que foi designado para uma operação na Guiné-Bissau durante a guerra civil em 1998, e integrou a STA-NAVFORLANT, que incluiu a operação “Allied Force” (intervenção no Kosovo). Foi Subchefe do EMA.

Da sua folha de serviços constam vários louvores e condecorações.

l No passado dia 18 de Setembro teve lugar na sala da Biblioteca do Hospital da Marinha, a cerimónia da tomada de posse do cargo de Director do Hospi-tal da Marinha (HM), pelo CMG MN Menezes Cordeiro, em substituição do CMG MN Silva Roque.

A posse foi presidida pelo SSP VALM Vilas Boas Tavares. Estiveram presentes o VALM Rebelo Duarte, o CALM Gou-lart Porto, o CALM Bonifácio Lopes e outros oficiais generais, oficiais de diversas unidades e militares e civis que prestam serviço no HM.

Das palavras do novo Director é de realçar: “... Propomo-nos: aumen-tar o leque das valências em cirurgia o que é em parte facilitado com a chegada de novos médicos diferenciados em especialidades cirúrgicas.

Providenciar internamento em medicina hiperbárica tornando mais com-pleto o serviço prestado ao sector civil por obviar á deslocação desnecessária entre hospitais de doentes durante o período de tratamento.

… Em termos de perspectivas futuras propomo-nos:Implementar a coronáriografia por TAC valência a desenvolver entre os

serviços de imagiologia e de cardiologia.Apoiar o incremento da actividade da recém criada valência de senologia.Unidade essa que integra diversas especialidades: Imagiologia, ginecologia,

cirurgia, hematologia e psicologia.Desencadear um programa de rastreio do cancro do cólon a ter início ainda

este ano através da nova técnica de colonoscopia virtual desenvolvida no ser-viço de Imagiologia em sintonia com o serviço de Gastroenterologia.

Providenciar um apoio contínuo de medicina interna e de cirúrgia geral ao atendimento permanente do hospital...”

No final e das palavras do VALM SSP refere-se: “ ... O HM é um ór-

gão essencial à prontidão dos militares da Marinha, para o cumprimento da Missão, e ao tratamento do pessoal da Marinha e dos seus familiares. Mas, mais ainda. O HM, para além de apoiar os outros Ramos das FA, constitui hoje, ao nível nacional, um valioso recurso, quase único, nalguns domínios de intervenção específica, como é o caso da medicina hiperbárica, na inter-ligação e apoio à comunidade académica,

através da sua acção no ensino pré e pós graduado e, não menos significativo, pela disponibilidade de capacidades e meios próprios à sociedade e ao sistema de saúde civis...”

DirECTOr DO hOspiTAL DA MAriNhA

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TOMADA DE POSSE

ENTREGA DE COMANDO

O CMG MN João Nuno da Rocha e Menezes Cordeiro é licenciado em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa; assistente em Radiodiagnóstico pelos Hospitais Civis de Lisboa e especialista pela Ordem dos Médicos (OM); Consultor de imagiologia da carreira médica hospitalar; de-tentor do certificado europeu de ecografia clínica; da competência em gestão dos serviços de saúde da OM, do certificado de estudos complementares de Neurora-diologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de Paris e do diploma de radiologia de intervenção osteo-articular pela Universidade Rene/Descartes.

Quando oficial subalterno integrou a guarnição dos NRP´s “Sacadura Cabral”, “Honório Barreto” e “Hermenegildo Capelo”.

Foi Interno do Internato Policlínico dos Hospitais Civis de Lisboa; Interno do Internato Complementar de Radiodiagnóstico dos HCL; Director de serviço de Radiologia do Hospital a CVP; Membro executivo do Conselho Regional do Sul da Ordem dos médicos; Fundador e primeiro vice presidente da AMI; Chefe do Serviço de Imagiologia do HM; Director Clínico e Subdirector do HM.

É membro da Sociedade Portuguesa de Radiologia e Medicina Nuclear, da American Society of Breast Disease e do Colégio de Radiodiagnóstico da OM.

Tem múltiplas publicações e comunicações técnicas nas áreas da imagiologia e da Arte e Património religioso e numismática.

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Revista da aRmada • JANEIro 2009 21

A descrição de viagens, o conto naval e a história de navios são algumas das áreas da escrita a que se têm

dedicado oficiais de Marinha. Destacar no-mes não será totalmente correcto, já que a apreciação de textos é sempre muito sub-jectiva. No entanto, pela produção de um diversificado e muito vasto conjunto de obras escritas, aliada a uma longa e dis-tintíssima carreira naval, justifica-se dar a conhecer a biografia de António Marques Esparteiro, nascido em 21 de Outubro de 1898 em Mouriscas, Concelho de Abrantes e tendo ingressado na Escola Naval em Fe-vereiro de 1920.

Promovido a 2º tenente, em Julho de 1924, especializa-se em Artilharia e em-barca no cruzador “Carvalho Araújo” a bordo do qual visita portos da costa oci-dental africana.

Segue-se um período em terra, na Bri-gada de Marinheiros, tendo sido, em 1927, Comandante da Escola de Alunos Marinheiros. Dedica-se então a questões relacionadas com o Pessoal, respectiva organização e instrução, especialmen-te a Marinharia, tendo sido louvado pela competência e zelo no desempenho da Comis-são que tem por fim reunir num só diploma todas as disposições relativas a uniformes de sargentos e praças da Armada e mais tarde igualmente pela competência e grande inte-resse pela instrução militar naval revelada no Manual de Embarcações Miúdas. É promo-vido a 1º tenente em Novembro de 1929, um ano depois volta ao mar, para coman-dar o torpedeiro “Lis”, até Junho de 1931 e em seguida o rebocador “Lidador” na fiscalização da pesca no Algarve, ten-do na ocasião sido louvado por na barra da Fuzeta haver coadjuvado o salvamento de 2 pescadores.

Terminados em Setembro de 33 os comandos no mar, amplia os conhecimentos de Artilharia frequentando, no ano lectivo de 1933 e 34, cur-sos no Royal Naval College, de Greenwich e na Gunery School de Portsmouth, após o que, em Julho de 34, faz parte da Missão Portuguesa dos Avisos de 1ª clas se que, em New Castle, Inglaterra, acompanhava a construção destes navios. Em Fevereiro de 1935, quando o aviso “Afonso de Albuquerque” é aumen-tado ao efectivo dos navios da Armada, o 1º tenente Esparteiro assume o cargo de Chefe do Serviço de Artilharia, sendo depois lou-vado pela alta compreensão das funções do seu

cargo demonstrada na elaboração de programas, descrições e esquemas no método de instrução de que resultaram excelentes provas com cargas de exercício das peças de 120 mm.

Mantém-se no aviso durante três anos e no último como oficial imediato. Presta

em seguida serviço no navio escola “Sa-gres” até que, em Abril de 1939, passa a chefiar uma secção da Direcção de Mate-rial de Guerra e Tiro Naval e por acumu-lação nomeado subdirector da mesma Di-

recção, onde é louvado pelas suas elevadas qualidades de trabalho, de inteligência, de hu-manidade e espírito de colaboração prestados no desempenho do seu difícil cargo. Regressa ao “Afonso de Albuquerque” em Fevereiro de 1940, sendo promovido a capitão-tenente

em Maio desse ano. No “Afonso” visita, de Outubro de 41 a Março do ano seguinte, portos das costas africanas banhados pelo Atlântico e pelo Índico.

Desembarca para ser Director dos Ser-viços Marítimos durante cerca de um ano assumindo, em Setembro de 43, o cargo de Capitão do Porto de Leixões e por acumu-lação Comandante da Defesa Marítima de Leixões e Barra do Douro.

Este tempo de serviço em terra é inter-rompido em Junho de 44 quando é nomea-do comandante do contratorpedeiro “Dou-ro”, em missões no Atlântico Norte, tendo então sido louvado pela forma dedicada, inteligente e criativa como exerceu o comando do C/T Douro conseguindo manter o seu na-vio eficiente e pronto para qualquer comissão e organizando e instruindo a sua guarnição du-rante largos períodos de exercícios individuais nas manobras conjuntas de 1945..

Os períodos de embarque e em unida-des em terra vão-se alternando. Assim, em Outubro de 1946 volta à Direcção de Material de Guerra agora nas funções de seu director.

Os profundos conhecimentos de Arti-lharia que demonstra possuir, não só na área operacional como na sua gestão téc-nica, são reconhecidos quando é louvado pela leal e inteligente cooperação prestada em todos os serviços técnicos em que foi pedido o seu parecer. Na qualidade de especialista do armamento dos navios patrulhas “tipo PC”, fornecidos pelos Estados Unidos, in-tegra desde Setembro de 1947 até igual mês do ano seguinte, em Washington, a

respectiva Missão de Fis-calização. Será o seu úl-timo cargo no âmbito da Artilharia Naval.

Apesar de, contraria-mente ao sucedido com a maioria dos oficiais do seu tempo, o Comandante Esparteiro ter um conheci-mento limitado das terras portuguesas de África, em Junho de 49, é nomeado Capitão do Porto da Bei-ra. Promovido a capitão--de-fragata em Março de 51, confirmará, mais uma vez, ser possuidor de eleva-das qualidades profissionais, alto espírito de compreensão, grande interesse pelo serviço

e notável acção de camaradagem reveladas pelo valioso auxílio prestado à Missão Hidrográfica de Moçambique, conforme louvor que lhe foi concedido em meados de 1955, quando já capitão-de-mar-e-guerra, desde Janeiro, regressa a Lisboa. Em Novembro desse

O Comandante António Marques EsparteiroMarinheiro, Historiador e Cronista Naval

O Comandante António Marques Esparteiro

António Marques Esparteiro - Aspirante de Marinha.

O Torpedeiro “Lis”.

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ano volta ao serviço no mar ao assumir, em Goa, o comando do “Afonso de Albu-querque”, então um dos mais valiosos na-vios da Armada.

Com um ano de comissão nos mares da Índia é louva-do pela competência e zelo com que desempenhou as missões atribuídas ao navio sob seu co-mando e pelo elevado espírito de cooperação com que nas mis-sões orientou os valiosos auxí-lios prestados às entidades civis e militares da Índia pela guarni-ção do navio.

A partir de fins de 1956 é, em acumulação com o co-mando do navio, nomeado Comandante Chefe das For-ças Navais do Estado da Ín-dia e em Abril de 57, ao largar de Goa, novamente louvado, sendo considerado um oficial distinto de muitas elevadas qua-lidades de iniciativa e energia, revelou sempre firme lealdade para com o Comando superior, qualidades que aliadas a sólida competência profissional que deu largas pro-vas o creditam como um chefe de muita categoria que honra a Marinha de Guerra Nacional. Chega a Lisboa em Junho e em Outubro de 1958, data em que passa à Reserva, en-trega o comando e termina o serviço no mar, se excep-tuar-se quando em 1967 e 68 exerce, por breves períodos, o cargo de Capitão de Ban-deira, respectivamente dos paquetes “Vera Cruz” e “Ín-dia”, utilizados como trans-porte de tropas.

Eram passadas três dé-cadas e meia em que o Co-mandante Esparteiro tinha servido no mar e em terra, com destaque para o coman-do de quatro navios desde o pequeno torpedeiro até ao aviso de 1ª classe e cumprido comissões em Moçambique e na Índia. Uma carreira naval plenamente preenchida!

Com a nomeação, em Se-tembro de 1959, como Di-rector do Arquivo Geral da Marinha, inicia a última fase da sua vida na Marinha, que agora seria inteiramente de-dicada ás Letras.

Passando a reportarmo--nos à numerosa bibliogra-fia de que é autor constata-se que até cerca de 1940, ano em que se iniciou como colaborador da “Gran-de Enciclopédia Portuguesa e Brasileira”, os temas versados incidem principalmente sobre Marinharia e Artilharia correspon-

dendo assim aos períodos em que prestou serviço na Brigada de Marinheiros e se es-pecializou e exerceu funções relacionadas com a Artilharia . “Questionários de Mari-

nharia”, de 1928, é o seu primeiro trabalho publicado. Tendo tido oito edições, verifi-ca-se que esta obra durante mais de qua-

tro décadas foi uma referência, de acordo com o afirmado na Introdução da edição de 1968 – as praças do primeiro alistamento e todos os que iniciam a vida do mar encontram

no presente trabalho os elementos básicos para penetrar os mistérios da tecnologia naval. De destacar também neste período: “Peça Sko-da de 67,5 m/m”, de 1931, uma porme-

norizada descrição da peça que armava o torpedeiro por ele comandado; “Instalações de Artilharia dos Avisos de 1ª classe”, de 1937, conforme citado o tenente Esparteiro foi o primeiro Chefe de Ser-viço de Artilharia do aviso “Afonso de Albuquerque” e “Comandos e Manobras de Vela”, trabalho merecedor do Prémio Almirante Magalhães Osório do Clube Militar Na-val referente a 1940 e fruto da experiência quando embarca-do na “Sagres”, constitui as primeiras indicações escritas so-bre comandos e manobras a usar neste navio.

Desenvolveu igualmen-te estudos sobre Tecnologia Naval tema onde podem ser incluídos, entre outros, o “Dicionário Ilustrado de Marinharia”, de

1936, quando o anterior di-cionário português de Mari-nharia tinha sido publicado no longíquo ano de 1855 e “Panoramas Navais” em que procura focar alguns aspectos típicos da vida, do mar, visando para uso e fraseologia marinhá-tica que permite em frases cur-tas e firmes exprimir nitidamen-te ideias determinantes.

Com a experiência de ofi-cial imediato na “Sagres” e no “Afonso” publica em 1942 “A Acção do Oficial Imediato a Bordo”, o seu úni-co trabalho sobre Liderança, colectânea de um conjunto de regras da Arte de Mandar, termo usado na época, consi-derando que mais importante ainda do que a eficiência do ma-terial é a condução do pessoal, verdadeira arte que pelo estudo, pela observação e pela prática, todos podem melhorar os dons que neste âmbito a Natureza lhe entregou.

Entretanto, a partir de 1940, dedica-se à História de Navios, com a colecção “Subsídios para a História da Marinha de Guerra” que inclui estudos sobre 14 na-vios e será publicada nos Anais até 1952 e “Corvetas Mistas”, correspondentes a 8 navios, igualmente nos Anais

de 1959 e 1963. A Guerra no Mar é outro tema assim como Navios e Marinheiros que iniciou com “Heróis do Mar”, publi-cado em 1953 na cidade da Beira, quando

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O Comandante do C/T “Douro” com os seus oficiais em Ponta Delgada a 15 de Novembro de 1944.

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exercia o cargo de capitão do porto, depois, em 54, é “Portugal no Mar (1608-1923)” e em 59 “O Famoso Botão de Âncora (1600-1895)”, nos quais através de episódios descri-tos se poderá fazer uma leve ideia do valor e da capacidade dos nossos marinheiros.

Um tipo de escrita também constante da sua bibliografia é a Crónica de que sobressa-em “Crónicas do Mar”, editadas nos Anais na década dos anos 40 e onde afirma que os in-cidentes e os episó-dios do mar têm o sabor a água sal-gada e a forma do mar imenso.

A partir dos anos 60, período em que é Direc-tor do Arquivo, publica Biogra-fias de Mari-nheiros Ilustres e dedica-se a tra-balhos sobre a História Geral, incidindo em episódios re-lacionados com a Marinha. De referir que a biografia “O Almirante Marquês de Nisa” já tinha sido feita pelo Comandante Esparteiro em 1944, data da sua 1ª edição.

O estudo de Tecnologia Naval desper-tou continuamente o seu interesse e além dos trabalhos atrás indicados relativos aos anos 40 e da “A Linguagem do Mari-nheiro” de 1965, é de referir que o seu perfeito domínio da língua inglesa o levou a apresentar em 71 “Analogias das línguas portuguesa e inglesa” e em 74 e 75 “Dicionário de Termos Navais” (Inglês-Português e Português-Inglês), que são as duas últimas obras publica-das em vida.

Do conjunto da sua muito numerosa obra, contam-se 120 títulos, deve clara-mente distinguir-se, por constituir uma referência para a investigação historico--naval correspondente à Dinastia de Bragança, o ciclópico trabalho “Três Sé-culos no Mar – (1640-1910)”, distribuí-do por 30 volumes da “Colecção Docu-mentos” e publicados de 1974 a 1987 pelo Ministério da Marinha. Reportan-do-se ao muito expressivo número de 1.306 navios, é um registo de vida a bordo dos navios do período Brigantino organiza-do principalmente através de pesquisas nos arquivos de Goa, de Marinha e do Ultramar e apresentado em forma de inventário, de modo a mostrar a influência do elemento moral na vida militar, política e social de Portugal na-quela época. O primeiro volume inclui um pormenorizado plano da obra, uma intro-dução geral em que são caracterizadas as Marinhas de Remos e de Vela e uma síntese histórica do período brigantino. Nos volu-mes em que se inicia cada uma das partes é feita a descrição geral e evolução dos ti-pos de navios correspondentes.

Compulsando os vários escritos do Co-mandante Esparteiro constata-se o seu pro-fundo conhecimento das coisas do mar e de realidades que se têm mantido inalte-ráveis ao longo dos tempos, como é o caso quando afirma: os sucessos no mar são sem significado para o homem da terra, sem excluir a grande maioria dos políticos e estadistas ,em-bora os grandes acontecimentos da vida inter-

nacional das Nações, quer económicos quer po-líticos, quer ainda mesmo sociais, hajam sido resultado das vitórias no mar.

Após se ter feito uma muito breve sínte-se da extensa bibliografia do Comandante Esparteiro e voltando à sua carreira naval, assinala-se que em Maio de 1960 foi nomea-do Vogal do Conselho Consultivo do Mu-

seu de Marinha, em Setembro do mesmo ano Vogal do Centro de Estudos Históricos Ultramarinos e em Setembro de 62 igual-mente vogal, mas agora da Comissão de História Militar. Em Maio de 1969 é um dos dez membros fundadores do Grupo de Es-tudos da História Marítima, que em Agosto de 70 dava origem ao Centro de Estudos de Marinha, o antecessor da actual Academia de Marinha, criada em Dezembro de 1978. Torna-se notório que na década dos anos 60

do século XX o Comandante Esparteiro era, no âmbito da História, uma referência não só na Marinha como em outras instituições que se dedicavam ao seu estudo.

Em Outubro de 1968 passa à situação de Reforma, mas só deixa a efectividade do serviço em Março de 1970 e por consequên-cia o cargo de Director do Arquivo Geral de Marinha. Nessa mesma data recebeu o

último louvor onde é afirma-do que da sua folha de serviços constam muitos cargos e alguns comandos de uni-dades navais to-dos exercidos com a maior devoção e entusiasmo ... por último du-rante cerca de 10 anos o de director do Arquivo Geral que muito lhe fi-cou devendo. Pa-

ralelamente à actividade profissional de oficial de Marinha, dedicou-se o Comandante António Marques Esparteiro à investigação histórica e à elaboração de inúmeros trabalhos .... A extensa obra que publicou de grande utilidade, interesse e prestígio para a Armada, bem atesta a erudição do seu autor ao mesmo tempo que constitui, tal-vez a manifestação mais vincada e notável da sua

personalidade de marinheiro. Nestes termos manda o Governo da República, pelo Mi-nistro da Marinha louvar o CMG António Marques Esparteiro pela devoção, entusias-mo e competência com que serviu a Arma-da durante toda a sua carreira, classificando os serviços prestados de muito importantes, distintíssimos e relevantes, pelo que lhe foi concedida a medalha de ouro de servi-ços distintos.

Apesar de ter deixado a efectividade do serviço continuou os seus estudos, mantendo-se a publicação das obras de que era autor. Deslocou-se pela última vez ao estrangeiro, em Agosto de 1972, para apresentar a comunicação “Três Da-tas que Importam à Independência do Brasil (1808-1815-1822)”, quando da re-alização, no Rio de Janeiro, do colóquio “A Marinha e a Independência”.

Em 28 de Dezembro de 1976 falecia em Lisboa o capitão-de-mar-e-guerra Antó-nio Marques Esparteiro, notável oficial da Armada que, além de ter tido uma

exemplar e longa carreira naval, é autor de uma vastíssima e valiosa bibliografia, es-pecialmente dedicada à Marinha, aos seus navios e aos seus marinheiros.

José Luís Leiria PintoCALM

FontesBiblioteca Central de Marinha Arquivo HistóricoLivros Mestres: K/182,N/23 e P/43Documentação avulso: Caixa 1411

CMG António Marques Esparteiro.

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No passado dia 16 de Outubro, foi apresentado ao público nas instalações da Biblioteca Central da Marinha, o terceiro volume da Colecção Documentos das Edições Culturais da Marinha.

Trata-se da reprodução dos Diários Náuticos dos submersíveis “Foca”, “Golfinho” e “Hidra” na sua viagem inaugural de La Spezia para Lisboa, que decorreu entre 15 de Dezembro de 1917 e 10 de Feve-reiro de 1918, escoltados pelo vapor “Patrão Lopes”, cujo Diário tam-bém é reproduzido na integra.

É um livro de 384 páginas, compilado e revisto a partir dos originais pelo Contra Almirante Leiria Pinto que inclui a reprodução fac-simile dos respectivos diários.

De leitura quase obrigatória para os submarinistas, interessa a todos os que andam (ou andaram) no mar.

A viagem destes três submersíveis, realizada em plena 1ª Guerra Mundial, sendo já Portugal uma das potências beligerantes, através de águas infestadas de submersíveis inimigos e durante um Inverno particularmente rigoroso constituiu um notável feito da Marinha, e da competência e dedicação dos oficiais e guarnições dos navios.

Os três submersíveis, com 389 toneladas de deslocamento à superfície e um comprimento de fora a fora de 45,60 metros, tinham uma lotação de 21 elementos (3 oficiais e 18 sargentos e praças).

Eram de facto uns pequenos navios que na maior parte do tempo navegavam emersos, podendo entrar em imersão por períodos relati-vamente curtos para os padrões actuais dos submarinos.

O “Patrão Lopes” era uma dos vários navios alemães que no dia 24 de Fevereiro de 1916, se encontrava fundeado no Tejo e como tal foi apresado.

Deslocava 1100 toneladas, com 49 metros de comprimento.

Entregue à Marinha de Guerra, foi-lhe atribuído o nome “Patrão Lopes”, fixada uma guarnição de 61 homens, sendo dotado de modestís-simo armamento.

Na tormentosa viagem por-menorizada nos registos dos Diários de bordo, foram evita-dos os portos espanhóis, já que a Espanha permaneceu neu-tral na 1ª Grande Guerra.

A pequena cerimónia do lançamento decorreu segun-do um modelo já habitual: o responsável pela obra, CALM Leiria Pinto foi apresentado pelo Presidente da Comissão Cultural da Marinha, CALM MN Res. Rui de Abreu. Seguiu-se uma intervenção do CALM Leiria Pinto, com comentários sobre alguns episódios registados nos Diários entre uns mais picarescos e outros mais sérios, relatando o mau tempo e o mar grosso, as pequenas avarias, as dificuldades da navegação as compras para o rancho.

Finalizou o acto uma interessante palestra proferida pelo CMG Bri-tes Nunes, sobre o universo e a vivência dos submarinos e dos sub-marinistas.

A sessão terminou com um Porto de Honra.

O lançamento do presente livro – VIAGEM DE LA SPEZIA PARA LISBOA dos submersíveis “Foca”,

“Golfinho” e “Hidra” -, no âmbito das Edi-ções Culturais da Marinha, reveste-se de um particular significado para os subma-rinistas, ao fazer-nos recu-ar aos primórdios da arma submarina na Marinha Portuguesa, numa altura em que se completam três meses sobre o lançamento à água do NRP “Tridente” – 1.º submarino da 5.º Es-quadrilha.

Mais de 95 anos nos se-param da longínqua data de 15 de Abril de 1913, quando o NRP “Espadar-te” - primeiro submersível da Marinha, fez a sua pri-meira imersão já sob a ban-deira de Portugal.

Ao longo de mais de 9 décadas, os signifi-cativos desenvolvimentos tecnológicos, quer em termos de construção quer em termos de equipamentos, aliados a uma completa revolução no que concerne aos conceitos de

emprego táctico e estratégico, transforma-ram progressivamente os imberbes submer-síveis numa arma poderosíssima, altamente dissuasora e primordial na colecta discreta

de informações, fundamentais no apoio à de-cisão de alto nível e cruciais na execução de missões classificadas, assentes num desem-penho desejavelmente pouco visível e, talvez por isso, algumas vezes incompreendido.

O designado “silent service” sempre as-

sumiu essa desvantagem em favor do ade-quado cumprimento das missões que lhe são confiadas.

Curiosamente, antes da sua concretização, o conceito de navio que pu-desse navegar em imersão, passou por reacções pro-fundamente controversas, de que é exemplo, no início do século XIX, a reacção do almirante inglês Con-de de Saint Vincent, ao ser confrontado com a hipó-tese de construção de um “navio submersível” para combater as esquadras de Napoleão, ao contrapor: “Esqueçam essa possibili-dade. Se a adoptarmos, to-das as outras nações farão o mesmo, e isso será o mais grave golpe que se possa imaginar para a nossa su-

premacia naval”.Esta reacção perspectivava já em ante-

cipação, a enorme importância do factor combatente e dissuasor da futura arma submarina.

Regressemos contudo à razão de ser des-

EDIÇÕES CULTURAIS DA MARINHALançamento do 3º Livro da Colecção Documentos

“Submarinos e Submarinistas”

EDIÇÕES CULTURAIS DA MARINHA

“Submarinos e Submarinistas”

O “Espadarte” - primeiro submersível português.

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ta cerimónia, socorrendo-nos de uma breve resenha histórica para enquadrar o nasci-mento, a importância e o esforço titânico dos camaradas pioneiros da arma submarina, numa época em que a mesma acabava de se apresentar ao mundo como arma combaten-te, dotada de condições de segurança ainda muito débeis.

Quando em 1910 o então Ministro da Marinha – Co-mandante João de Azevedo Coutinho, “arrostou” com a responsabilidade de mandar construir o primeiro submer-sível português, a arma sub-marina estava ainda na sua vacilante infância e, não se an-tevia a enorme influência que viria a ter durante as duas GG e, posteriormente, nos sucessi-vos eventos bélicos e de forte tensão mundial.

Como referido em diversos escritos da época, e cito: “exis-tia em Portugal algum cepticis-mo quanto à arma submarina, até no seio da própria Marinha. Só se pensava em cruza-dores e canhoneiras”.

Preconceito similar parece ter acompanha-do os submarinos portugueses ao longo dos tempos, contudo, bem avisados andaram aqueles que corajosamente fomentaram o desenvolvimento da arma submarina na nossa Marinha e a têm mantido com digni-dade e brilhantismo há mais de 95 anos, sem interrupção, ao serviço do País.

O desempenho operacional dos nossos submarinos, nas quatro esquadrilhas exis-tentes até ao presente, permitiu ainda cons-ciencializar e consolidar a importância da existência de uma escola de civismo e de disciplina espon-tânea, inteligentemente aceite, assente num específico espírito de camaradagem e de solida-riedade, entre homens irmana-dos pelos mesmos riscos nas profundezas oceânicas.

Nos submarinos se forjam carácteres e se estreitam laços de amizade e de colaboração mútua, enquadrados numa postura singular de união, úni-ca em todas as Marinhas.

O submarinista sente o cas-co do seu submarino como a sua segunda pele. Vive com a máquina e para a máquina, numa relação biunívoca sempre com o objec-tivo de optimizar o respectivo produto ope-racional, a fim de retirar o melhor proveito das suas capacidades, sem se preocupar com a “visibilidade” das acções.

O objectivo é sempre o cumprimento da missão atribuída. O serviço é silencioso, tem que ser silencioso por definição.

Voltemos contudo ao despontar da “arma submarina” como navio de combate.

Após as experiências promissoras realiza-

das pela Marinha Francesa com o “Gymno-te”, em 1893, deu-se início à construção do “Gustave Zedée”, com 266 toneladas e 48,5 metros de comprimento. Depois de um com-preensivelmente lento processo de constru-ção e de experiências, só em 3 de Julho de 1901, o submersível efectuou o seu primeiro

lançamento de torpedo de exercício, ao lar-go de Toulon.

Por seu turno, os Estados Unidos confia-ram a construção de submarinos ao Eng.º Holland, conseguindo em 1899 passar a dis-por de um submersível de 75 toneladas.

Contudo, em 1914, os americanos já pos-suíam submersíveis de 1000 toneladas de deslocamento.

A Alemanha, só em 1903 decidiu come-çar a construir o seu primeiro submarino de combate, adoptando os motores Diesel em 1906.

Estamos a falar de submersíveis de peque-no deslocamento, com pouca manobrabili-

dade, ainda sem disporem de snort e, com deficientíssimas capacidades de controlo do ar ambiente, necessitando de pelo me-nos 10 minutos para entrarem em imersão “rapidamente”.

Em Portugal também ocorreram estudos e definiram-se propostas para a construção de submersíveis, designadamente com o apare-cimento do projecto “Fontes” da autoria do 1.º tenente João Augusto de Fontes Pereira de Mello, apresentado ao Governo em 8 de

Fevereiro de 1890.A comissão de análise do projecto, pre-

sidida pelo Comandante Nunes de Carva-lho, emitiu contudo um parecer desfavorá-vel à respectiva concretização pratica, com base nas limitações técnicas identificadas no projecto.

Finalmente em 17 de Junho de 1910, o então Ministro da Marinha Comandante João de Azevedo Coutinho, sob o con-selho autorizadíssimo do almi-rante Morais e Sousa, assinou a encomenda aos estaleiros Fiat San Giorgio do primeiro submersível para a Marinha Portuguesa – baptizado NRP “Espadarte”, de cujas caracte-rísticas básicas se salientam as seguintes:

- deslocamento 250 tone-ladas;

- comprimento 45,15 m;- velocidade máxima em

imersão 7,9 nós;- casco resistente para 40 metros de pro-

fundidade;- 2 tubos lança torpedos AV;O lançamento à água do “Espadarte”

ocorreu no dia 5 de Outubro de 1912 e, a entrega oficial fez-se em La Spezia às 11.00 horas do dia 15 de Abril de 1913, sob o co-mando do 1.º tenente Joaquim de Almeida Henriques e com uma guarnição de 3 oficiais (Com.te Almeida Henriques, 2.º tenente Fer-nando Augusto Branco e guarda-marinha Eng.º maq. O’Sullivan Simões) e 16 sargen-tos e praças.

A viagem do “Espadarte” entre La Spezia e Lisboa, feita sem escolta, foi absolutamente

tormentosa e temerária, tratan-do-se de um submersível com apenas 250 toneladas de des-locamento.

O “Espadarte” largou de La Spezia na manhã de 4 de Maio de 1913, para uma via-gem inaugural de cerca de 1.400 milhas. Após múltiplas avarias, reparações, arribadas e violentas tempestades, a te-nacidade e perseverança da sua guarnição fê-lo entrar or-gulhoso a barra do porto de Lisboa às 08.35 horas do dia 5 de Agosto de 1913, três meses após a data da largada.

Este exemplo de profissio-nalismo e de determinação, permitiu confi-gurar a importância da criação de uma esco-la de navegação submarina que, para além da formação técnica especializada essencial, começasse por transmitir às futuras guarni-ções, os altos valores da competência profis-sional, do aprumo moral, da dedicação e do espírito de sacrifício.

Os submersíveis requeriam um mane-jo complexo e exigiam pessoal altamente especializado e treinado, a fim de permitir

As guarnições dos submersíveis “Foca”, “Golfinho” e “Hidra” no porto de La Spezia.

Os submersíveis da 2ª Esquadrilha no porto da Horta.

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alcançar a eficiência e a eficácia pretendida, interiorizando-se desde muito cedo que a improvisação era totalmente inaceitável.

Ainda só com o “Espadarte”, organiza-ram-se os primeiros programas de especia-lização em submersíveis, com a criação, por diploma de 11 de Março de 1914, da escola de navegação submarina.

No início de 1916 e apesar das polémicas, o governo português através do Ministro da Marinha Victor Hugo de Azevedo Coutinho, encomendou mais três submersíveis ao estaleiro italiano, de características simila-res e de deslocamento ligeiramente superior ao “Espadarte”

Os três submersí-veis foram solene-mente entregues a Portugal em La Spezia no dia 20 de Outubro de 1917, baptizados como “Golfinho”, comandado pelo capitão-tenente Joaquim de Almeida Henriques, “Hidra”, comandado pelo 1.º tenente Fer-nando Augusto Branco e “Foca”, comanda-do pelo 1.º tenente Serrão Machado.

As lições aprendidas com as dificuldades e os problemas sentidos durante a viagem pelo “Espadarte” e o facto de o País se en-contrar já envolvido na I GG, levou a consi-derar a conveniência dos três submersíveis efectuarem o trânsito La Spezia – Lisboa, com escolta.

O Ministério da Marinha concordou com a organização dessa escolta, mas, por carên-cia de navios e atendendo às emergências da guerra, apenas foi disponi-bilizado o vapor “Patrão Lo-pes”, modestamente armado, tendo complementarmente sido solicitada, por via diplo-mática, a colaboração das Ma-rinhas francesa, italiana e bri-tânica para acompanhamento e protecção, em cada uma das fases do trânsito.

São as peripécias desta via-gem, iniciada ao entardecer do dia 15 de Dezembro de 1917, que são relatadas nas páginas dos respectivos Diá-rios Náuticos dos 3 submersí-veis, reproduzidas na Edição que hoje é dada a conhecer.

Com o raiar da manhã do dia 10 de Fe-vereiro de 1918, os três submersíveis en-traram em formação no Rio Tejo, ao fim de quase dois meses de viagem, efectuando navegação perigosa, com mau tempo e em zonas de guerra, onde a presença de sub-mersíveis inimigos era assinalada com in-quietante frequência.

A mais de 9 décadas de distância destes eventos e para as realidades presentes, é difícil percepcionar e sensoriar as dificul-

dades sentidas, os sentimentos vividos pe-las guarnições, a angústia do desconhecido e a interiorização das fragilidades assumi-das, enquadradas num ambiente real de guerra, numa vivência difícil de conceber nos dias de hoje.

Imaginemos contudo, como terá sido um cruzeiro de submersível, com base na descrição do Comandante Fernando Branco (comandante do NRP “Hidra”)

nas suas “Novelas Submarinas” (passo a citar): “um pequeno invólucro de aço repleto de maquinaria, onde nada existe que se possa alcunhar de comodidade, onde o ar é por ve-zes irrespirável; com 21 homens a bordo, vai permanecer quatro dias afastado do contacto do mundo, alapardado entre águas como um grande cetáceo, exposto ao mar e ao mau tempo, às minas, aos ataques do inimigo, dos amigos, dos neutros, das baterias de costa, das patru-lhas nacionais, etc.

Os indivíduos que compõem a guarnição são todos conhecedores do perigo que correm, e cônscios da responsabilidade que lhes cabe na manobra dos vários aparelhos e da qual pode

depender a salvação do submarino, todos olham o seu camarada como se olhassem a si próprios, dedicando à sua missão a atenção que dedicam à conservação da sua preciosa vida.

O Comandante vê em todos os seus homens, não uns autómatos humanos que a uma voz cumprem disciplinadamente sob o peso dos ga-lões, um serviço que não percebem, mas sim uns colaboradores preciosos que inteligentemente sabem pôr em pratica aquilo que ele lhes diz apenas quando é oportuno que se faça.

Por sua vez, os homens olham o seu coman-dante, como um amigo, como um irmão mais velho em quem depositam a máxima confiança, entregando-lhe a sua vida.

É esta a verdadeira escola da solidariedade. Cada um vê no outro o seu irmão, o seu salvador e sente-se responsável por ele. Sabe que se o navio ficar no fundo, terá de aguardar a morte lenta ao lado do seu camarada, enquanto à superfície os técnicos discutem a possibilidade do salvamento

e os mergulhadores mar-telam o casco pelo lado de fora, para ver…se eles ainda estão vivos!

Com o submersível já em imersão, a aten-ção redobra-se até por-que a divisa assumida pelas Marinhas aliadas de superfície durante a guerra era:

“Mais vale destruir um submarino aliado, do que deixar de destruir um submarino inimigo”.

Estranho, curioso e macabro.Se o valor do submarino, como arma de guer-

ra naval, não fosse enorme, certamente não teria sido necessário chegar a tão rasgados lemas e a tão profundas reviravoltas psicológicas.

A tensão a bordo é enorme, mas todos estão prontos. Os músculos repisados, magoados pelos esforços contínuos. O comandante tem os olhos injectados do uso do periscópio. Todos estão pouco asseados…porque estão há quatro dias sem se la-varem e a dormirem vestidos. De resto o ambiente cheira a óleo, a comida, a cebo e a humidade. As anteparas gotejam vapor de água, a atmosfera é já quase irrespirável. (fim de citação)

Estes excertos da narrativa, são ampla-mente elucidativos da reali-dade da vida a bordo dos sub-mersíveis da 1.ª Esquadrilha, cujos homens, pioneiros da arma submarina, são hoje aqui globalmente lembrados e ho-menageados.

A evolução tecnológica per-mitiu contudo dotar progres-sivamente os submarinos com capacidades crescentes, confe-rindo-lhes presentemente am-plas potencialidades tácticas e estratégicas, justificando o facto de que, presentemente, as nações que dispõem de sub-marinos não os querem perder e as que ainda deles não dis-

põem, os querem adquirir.Termino, desejando longa vida à “famí-

lia submarinista” ao serviço da Nação, na Marinha, com a certeza de que continuarão a honrar a divisa: EFICIÊNCIA - PROFIS-SIONALISMO – DEDICAÇÃO, no presen-te e no futuro muito próximo, a bordo dos submarinos da 5.º Esquadrilha.

C. Brites NunesCMG

O submersível “Narval” da 3ª Esquadrilha.

Três submarinos da 4ª Esquadrilha.

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A actividade desenvolvida pelo corpo clínico do CMH­­HM, reparte­se pelas consultas, pela prescrição de tra­tamentos de rotina e de urgência, pela participação nas

escalas para o tratamento das urgências, pela realização de es­tudos clínicos, pela selecção de candidatos ao mergulho profis­sional e militar, pela avaliação periódica do seu grau de aptidão psico­física, pelo treino, em câmara, para o mergulho militar profundo e pela realização de testes de tolerância aos gases em ambiente hiperbárico (oxigénio e azoto, por exemplo).

O CMH­HM presta, na actualidade, apoio terapêutico aos acidentes resultantes da prática de actividades em ambiente hiperbárico, em atmosfera seca (trabalhos com ar comprimi­do, constituindo exemplo o apoio permanente que é dado pelo CMH­HM, em caso de acidente disbárico, aos trabalhadores envolvidos nas obras de construção e de ampliação da rede do metro em Lisboa), ou em atmosfera húmida (mergulho militar, profissional, desportivo, recreativo, científico).

Trata também todas as outras doenças causadas ou agrava­das pela falta de oxigénio ao nível dos tecidos e com indicação clínica para oxigenoterapia hiperbárica (OTHB).

Neste contexto, e por ter sido único no Continente até ao iní­cio do ano de 2006, a actividade clínica desenvolvida ao nível do CMH­HM aumentou de forma significativa no decurso da última década.

É de realçar o importante apoio terapêutico facultado ao sec­tor civil da nossa comunidade, possibilitando aos Hospitais Civis recorrer aos serviços do CMH­HM, sempre que aquelas instituições acorram situações clínicas, agudas ou crónicas, com indicação para OTHB.

Como corolário da actividade clínica desenvolvida entre 1989 e 2007, foram neste Centro consultados 4.499 doentes, 78% (3.510) dos quais oriundos de outros hospitais, 18% (830) por indicação dos respectivos médicos assistentes, e 4% (159) por iniciativa própria.

De entre o total de doentes consultados, foram efectivamen­te tratados 3.698, 2.537 dos quais em regime rotineiro, 1.161 em regime de urgência.

No total, e até 31/12/2007, foram realizadas 99.188 sessões individuais de tratamento, das quais 98% em regime de roti­na, e 2% em regime de urgência; foram realizadas 9.685 con­sultas (35% primeiras de rotina, 53% de reavaliação, e 12% de urgência).

È de realçar o apoio terapêutico prestado pelo CMH­HM à comunidade civil na área da toxicologia clínica, tendo sido tra­tados, até finais de 2007, 948 casos de intoxicação pelo monó­xido de carbono, todos eles em regime de urgência.

Foram também tratados em regime de urgência, 88 casos de surdez súbita, 73 casos de doença de descompressão, 40 casos de infecções graves dos tecidos moles, 4 casos de embolia gaso­sa vascular, 3 casos de intoxicação por sulfureto de hidrogénio em trabalhadores de condutas de água e esgotos, 2 casos com patologia vascular retiniana aguda.

Quanto à actividade clínica rotineira, foram tratados, até fi­

nal de 2007, 2.537 doentes, na sua maioria oriundos de hospi­tais civis, com diversas patologias, de entre as quais destaca­mos a surdez súbita, as úlceras crónicas das extremidades, a cistite hemorrágica e proctocolite rádicas, a cistite química, a osteíte crónica, a osteorradionecrose da mandíbula e a osteo­necrose asséptica.

Este Serviço tem promovido continuamente acções de forma­ção pré e pós­graduada, nomeadamente 10 Estágios Básicos em Medicina do Mergulho, 5 Estágios em Medicina Hiperbárica e 3 Cursos de Pós­graduação em Medicina Subaquática e Hiperbá­rica, conducentes à formação de 67 médicos, 53 enfermeiros da Marinha e 27 alunos do 3º ano de medicina da Escola Naval.

O CMH­HM realizou Estágios Profissionais em Medicina Hi­perbárica, para formação dos elementos (médicos, enfermeiros e técnicos) do Serviço de Medicina Hiperbárica do Hospital de Pedro Hispano e do Centro Hiperbárico do Hospital Central do Funchal, estágios estes que contribuíram para que o nosso país disponha, na actualidade, de três Centros de OTHB com activi­dade diária, geograficamente dispersos de forma estratégica.

Ao abrigo de protocolo com a Faculdade de Medicina da Uni­versidade de Lisboa e, destinado a licenciados em medicina, está em fase de implementação o 1º Curso de Pós­Graduação, con­ducente a Mestrado, em Medicina Subaquática e Hiperbárica

Ainda no âmbito daquele, teve início, a 1 de Outubro de 2007, nas instalações do CMH­HM, a Cadeira Optativa de Medicina Hiperbárica e Subaquática, destinada aos alunos do 4º ano do Curso de Medicina da FMUL e da Escola Naval.

O CMH­HM realizou Jornadas de Medicina Hiperbárica, em 1997, 1999, e 2001, destinadas à divulgação desta área do conhe­cimento no nosso país e organizou em Lisboa ­ 2001, a Conferên­cia Europeia de Consenso sobre o papel do oxigénio hiperbári­co no tratamento das lesões rádio­induzidas dos tecidos moles, sob a égide da Sociedade Europeia de Radioterapia e Oncologia e do Comité Europeu de Medicina Hiperbárica.

O CMH­HM tem promovido a realização de ensaios clínicos consubstanciados em participações em Congressos e Jornadas Médicas, nacionais e estrangeiras e em publicações em revis­tas médicas.

O Centro tem desenvolvido actividade de cooperação cien­tífica, no âmbito de iniciativas empreendidas pelo European Committee for Hyperbaric Medicine (ECHM) e pela Euro pean Underwater Baromedical Society (EUBS), e também no âmbi­to da acção COST B14, destinada especificamente ao desenvol­vimento da oxigenoterapia hiperbárica, numa iniciativa dos p aíses da comunidade europeia.

Estes dados de actividade do CMH­HM projectam­no para um plano cimeiro, no âmbito dos Centros de Medicina Hiper­bárica sediados no espaço geográfico da Comunidade Europeia, e atestam o papel pioneiro desempenhado pela Marinha Portu­guesa no âmbito do desenvolvimento da Medicina Subaquática e Hiperbárica, a nível nacional e internacional.

(Colaboração da DIRECÇÃO DO SERVIÇO DE SAÚDE)

PÁGINA DA SAÚDE 16

Marinha Portuguesa no desenvolvimento da Medicina Subaquática e HiperbáricaActividade assistencial e de instrução desenvolvida pelo Centro de

Medicina Hiperbárica do Hospital da Marinha (CMH-HM)

Marinha Portuguesa no desenvolvimento da Medicina Subaquática e Hiperbárica

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28 Janeiro 2009 • Revista da aRmada

VIGIA DA HISTÓRIA 6

O Salva-VidasO Salva-Vidas

Sendo a Salva-guarda da Vida Humana no Mar

uma das principais preocupações com que se deparam todos os que fazem do mar a sua vida, é natural que muita da capacidade inventiva dos huma-nos se aplique na pro-cura de soluções para os problemas que tal vida, com frequência, acarreta.

O caso que hoje nos traz aqui prende-se com algo que constitui o sonho de quem anda no mar, um salva-vidas que seja inafundável já que um navio com essas características parece impossível de conseguir.

Recordo-me de há uns anos ter surgido nos jornais de Lisboa a existência de um salva-vidas que, para além de quem nele se encontrava não sofrer balanço, tinha como característica, se a me-mória não me falha, o que aliás já ocorre com alguma frequência, ser praticamente inafundável. Recordo-me também de alguns anos depois encontrar o protótipo do tal salva-vidas abandona-do, numa doca de Lisboa e, em parte, já submerso. E, no entanto, a solução para o problema já havia sido encontrada muito antes, como se poderá observar pela leitura de uma carta de 6 de Julho de 1811 escrita pelo Intendente dos Arsenais para o Ministro Se-cretário dos Negócios da Marinha e que se transcreve:

“ No tempo em que o Exmº António de Araújo (2) servia de Ministro Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra mandou conduzir do Porto uma pequena embarcação de cortiça a que se deu o especioso nome de salva-vidas.

Mandou o dito ex. Ministro entregar neste Arsenal a dita embar-cação depois de algumas experiências, e aqui existiu até à invasão dos

franceses, os quais a re-moveram para a casa dos escaleres de Belém (3), e depois, consta-me, para o Arsenal da Marinha.

Recentemente escre-ve-me o predito ex-Mi-nistro persuadido de aquela sua embarcação se conserva neste Ar-senal insinuando-me a entrega ao oficial da secretaria Manuel José Sarmento.

Levo pois o expen-dido à presença de V.

Exª para dignar-se expandir a este respeito as ordens que for servido”

Através duma informação, de 12 de Julho desse mesmo ano, veio a saber-se que o dito salva-vidas se encontrava na Azinhei-ra e que o seu estado geral era satisfatório.

Não são conhecidas quais as experiências que haviam sido efec-tuadas nem qual o destino que teve o salva-vidas.

Com. E. GomesNotas:

(1) Nem sempre as soluções encontradas recolhem aprovação unânime como ocorreu, por exemplo, com o Regulamento Internacional para Evitar Abalroamen-tos, cuja obrigatoriedade, queixavam-se os armadores ingleses, acarretava grandes encargos podendo, inclusivé, constituir causa de ruína económica.

(2) Trata-se do ministro António Araújo de Azevedo mais tarde 1º conde da Barca que acompanhou o Rei na ida para o Brasil onde continuou como ministro.

(3) Deverá tratar-se muito provavelmente do armazém existente junto à Cordo-aria, no local em que a toponímia ainda conserva a memória do facto, na Travessa dos escaleres, na mesma zona existem ainda a Travessa das Galeotas e a Travessa dos Algarves, designação dos remadores daquelas embarcações.

Fonte: Caixa 14 do Arquivo Central de Marinha

Grupo de Amigos do Museu de Marinha (GAMMA)Grupo de Amigos do Museu de Marinha (GAMMA)

No p a s s a -do dia 4 de O u t u b ro ,

na sede do GAM-MA, foi assinado um Acordo entre esta Instituição, re-

presentada pelo seu Presidente da Direcção, CALM Leiria Pinto e a Associação de Amigos do Museu Marítimo de Barcelona, represen-tada pelo Sr. Albert Campanera I Rovira, na qualidade de seu Vice-Presidente. Este Acordo, à seme-lhança do já efectuado com a Liga dos Amigos do Museu Naval do Brasil, visa estabelecer uma linha de constante colaboração que be-neficie ambas as Partes e a colaboração que oferecem aos seus respecti-vos Museus e igualmente a troca entre as duas Partes, de informação relacionada com as suas actividades.

A fim de dar a conhecer o contexto histórico em que estão in-seridas determinadas peças museológicas pertencentes à exposi-

ção permanente do Museu de Ma-rinha, tem o GAMMA promovido a realização, habitualmente, aos segundos Sábados de cada mês, pelas 11 horas no Museu, as deno-minadas “Conversas Informais”. Para o próximo semestre estão pro-gramadas as seguintes:

10 Janeiro - “Novos Piratas ….. Velhos Problemas” - Dra. Alexan-dra Amoly,

14 Fevereiro - “A Batalha Naval de Diu – 1509” - CMG Saturnino Monteiro,

21 Março - “A Aviação Naval” - CMG José Cyrne de Castro,18 Abril - “O Aparelho dos Navios de Vela” - CTEN António

Manuel Gonçalves,9 Maio - “Os Novos Submarinos da Classe Tridente” - CTEN

Salgueiro Frutuoso.

(Colaboração do GAMMA)

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Revista da aRmada • Janeiro 2009 29

50º Aniversário do Curso “D. Lourenço de Almeida”50º Aniversário do Curso “D. Lourenço de Almeida”

O dia 2 de Dezembro foi dia grande para o nosso Curso, pois nes-ta data, há 50 anos, 63 cadetes entravam pela primeira vez na Escola Naval.

Para comemorar o acontecimento foi estabelecido um intenso programa com início às 09,30 na Capela de S. Roque, do Arsenal da Marinha, onde foi rezada missa por alma dos dez camaradas já falecidos – Maldonado Machado, Machado Ramos, Socorro Domingues, Ferreira Gonçalves, João Silva Dias, Pericão de Almeida, Guerreiro Pereira, Baptista da Silva, Mota dos Santos e Leite de Novais, e de Acção de Graças por todos os presentes. Presidiu à celebração o Capelão Chefe da Armada CMG J. Ilídio da Cos-ta, sendo a cerimónia acompanhada musicalmente por Catarina Anacleto (violoncelo) e Inês Hkan (soprano).

Seguiu-se, numa acção conjugada com a Comissão Cultural da Marinha, a visita à Expo-sição que se encontrava no átrio da Unidade de Apoio e que contemplava três efemérides – os 150 anos do primeiro navio a vapor construído no Arsenal da Marinha, os 75 anos da Esquadra do Plano Magalhães Corrêa e os 50 anos da Re-forma da Escola Naval. Apresentou as exposi-ções o Presidente da Comissão Cultural, CALM Rui Abreu, que se deteve mais detalhadamente na Reforma da Escola Naval, amabilidade que agradecemos.

Houve então tempo para a confraternização, pois já se encontravam na parada frente à Casa da Balança todos os elementos do Curso vindos de diversos pontos do país e os nossos professo-res, que tiveram a amabilidade de nos acompa-nhar à Escola Naval.

E assim, à hora prevista, num autocarro da Marinha o Curso D. Lourenço de Almeida e seus professores soltaram rumo à Margem Sul.

Já no Alfeite e por a viagem ter sido mais rá-pida que o previsto, houve tempo para visitar a Estação Naval, na Base Naval de Lisboa, onde todos ficaram agradavelmente surpreendidos com a boa apresentação do que observaram, nomeadamente aqueles que há muito tempo por lá tinham passado. Alguns já há 49 anos!

A chegada à Escola Naval, só surpreendeu, por à primeira vista se en-contrar na mesma. Todos o reconheceram!

Depois da apresentação de cumprimentos ao Comandante da Escola Naval, CALM Macieira Fragoso, da entrega do Livro do Curso e da Me-dalha, foi assinado o Livro de Honra e observado o “Livro de Assentos” do Curso, com as classificações e também ... os castigos.

Com os cadetes formados na parada, armados de espada, o nosso curso e seus professores posicionaram-se no átrio da parada, tendo na oportuni-dade usado da palavra o VALM Duarte Reis que numa curta intervenção e depois de explicar o acto em si, exortou os cadetes ... “Decorridos 50

anos não viemos só em romagem de saudade, viemos também em reco-nhecimento e gratidão por esta nossa Casa, pelos valores morais que nos incutiu e pela formação técnica e profissional que nos deu” e a terminar ... “Caros cadetes. Os cadetes de 1958, de novo nesta Casa, e antes de voltarmos a partir queremos deixar um abraço de camaradagem, os vo-tos de boa viagem para o longo caminho que vos espera, e o testemunho do reconhecimento e gratidão à Escola Naval e à Marinha”, após o que o Corpo de Alunos desfilou.

Depois da fotografia junto à porta de entrada, deslocámo-nos para o Edifício do Internato onde perante todos, o chefe do curso, CMG ECN José Baião do Nascimento descerrou uma placa, onde em linguagem muito

simples e no bronze, lá ficou a “HOMENAGEM À ESCOLA NAVAL”.

Na “Camarinha do Comandante” foi então servido um agradável almoço, que nos reuniu num grande convívio. Aos brindes falou o VALM Junqueiro Sarmento que agradeceu ao Coman-dante da Escola Naval a calorosa recepção que proporcionou, reconhecimento extensivo aos nossos professores pela forma como nos acom-panharam nesta jornada e por tudo o que nos ensinaram. Para o Curso, foram as suas palavras finais, enaltecendo principalmente a sua coesão e a camaradagem, que fizeram com que não se “perdesse” ninguém, face aos múltiplos obstácu-los que foram surgindo ao longo dos tempos.

Em nome dos nossos professores falou o Co-mandante Serra Brandão, com o seu habitual brilho e perspicácia. O CALM Macieira Fragoso fechou os brindes congratulando-se com a pre-sença do Primeiro Curso da Nova Reforma e a camaradagem manifestada naquela ocasião.

Durante o regresso à “Casa da Balança” era evidente a boa disposição de todos, não só pelo

excelente encontro mas também pela forma como viam a sua Marinha.Já em Lisboa o Almirante CEMA recebeu uma delegação do Curso que

lhe expôs de uma forma geral e resumida a comemoração em questão. O Almirante Melo Gomes manifestou a sua satisfação, e da Marinha que re-presenta, pelo acontecimento e dirigiu--se então até à “Casa da Balança”, onde foi cumprimentado por todos nós e connosco fotografado.

Por fim realizou-se nas instalações do Farol da Guia o “Jantar de Ceri-mónia” que juntou o Curso e suas famílias, incluindo familiares dos ca-maradas falecidos, num total de 125 pessoas, em ambiente de grande amizade e camaradagem. Após os habituais discursos de circunstância, foram distribuídos a todos os presentes o DVD relativo à Escola Naval, a Medalha Comemorativa e o Livro do Curso.

(Colaboração do CURSO “D. LOURENÇO DE ALMEIDA”)

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(…) Quem não puser a imortal bandeira da pátria à janela da sua casa, não merece estar vivo, Aqueles que não andarem com a bandei-ra nacional bem à vista é porque se venderam à morte, Junte-se a nós, seja patriota, compre uma bandeira (…)

In “As intermitências da Morte”, José Saramago

Não é da nossa escolha a época em que vivemos, não a podemos escolher mais pacífica, ou menos conturbada. Se as-

sim fosse, muitos teriam escolhido, por exem-plo, não ter sofrido a guerra ou qualquer outro tempo de desgraça em que, infelizmente, a hu-manidade é fértil. A única escolha, que nos é permitida fazer – como seres humanos – é do que vamos fazer com o tempo que nos foi con-cedido nesta vida. Esta importante decisão mar-cará, profundamente, quem somos.

Existiram sempre os proverbiais dois cami-nhos: o fácil e o difícil. Alguns de nós, perdidos no turbilhão do mundo tentam fazer o melhor que podem das suas escolhas. Eu acredito – ain-da que raramente me peçam opinião – que as melhores escolhas são as que não têm apenas os interesses do próprio em mente. Estas últi-mas, que implicam sempre um “salto de fé” – isto é implicam geralmente muito sacrifício no imediato, para atingir recompensas tardias, e, muitas vezes mesmo, muito distantes. Estes são os caminhos das pessoas que estudaram para

chegar a determinado grau académico, ou que se dedicaram, com alma e coração, às várias fases de uma qualquer profissão até atingirem um grau de mestria, que lhes será certamente reconhecido.

Vivemos agora, em Portugal, um período de profunda crise económica e social. Estes tem-pos, compreenderão os leitores, têm profun-das consequências na saúde do indivíduo e, consequentemente, na prática dos médicos. Nestes dias tenho visto militares (na reforma) e imensos não militares, que contam histórias tristes de vida, impregnadas de um sofrimento generalizado, que até agora não me havia sido dado conhecer, neste nosso país. As histórias mais comuns têm pura e simplesmente a ver com a incapacidade de pagar os medicamentos. Neste particular, tem havido uma verdadeira re-volução entre nós. Os medicamentos baixaram o preço, por decreto, mas isso de pouco alívio tem servido aos pacientes, pois o valor das com-participações tem evoluído de forma progressi-va, mas decididamente no sentido do “utiliza-dor pagador”…Estamos na época das receitas pré-datadas (sim, como os cheques), em que o paciente gere os medicamentos ao longo dos meses consoante os seus proventos. Muitos, par-ticularmente os mais velhos e necessitados, não tomam tudo o que precisam e chegam mesmo a mentir – por vergonha de dizer que não têm dinheiro para pagar a farmácia…

Existe ainda, logo após a superfície, um deses-

pero social profundo. Este provém de um senti-mento de tragédia pessoal, que muitos assumem com foros de irreversibilidade, que provém de expectativas falhadas. Refiro-me, particularmen-te, a uma legião de pais cujos filhos fizeram cur-sos superiores, almejando empregos e proventos que a geração anterior não atingiu, mas que es-tão desempregados, ou sujeitos a empregos in-diferenciados, precários, bastante piores que os dos seus pais…Existe agora, também, de forma forçada, um novo conceito de família alargada. Trata-se dos avós, dos pais, dos filhos, muitas vezes também, dos netos. Todos partilham um qualquer dois ou três assoalhadas dos vastos su-búrbios de Lisboa, porque os filhos, mesmo com emprego, não conseguem suportar os encargos de um aluguer, e, muito menos ainda, um cré-dito para a compra de uma casa…

A depressão é a regra social prevalente nes-te tempo, que nem os milhares de centros co-merciais – aspecto em que estamos na cabeça do mundo civilizado, com todos as suas luzes brilhantes e néones fosforescentes – conseguem remediar. Chegou a altura, pensará o leitor e muitos outros, de achar culpados para toda esta situação, que afecta uma vasta multidão. Ao contrário do que muitos pensam, admito que a culpa não é deste ou daquele governo, mas de todo um sistema – que se criou e man-teve as diferenças sociais mais acentuadas da Europa Ocidental. Ora eu que não sou, nem tenho pretensões a ser, político, acredito ainda

30 JANEIro 2009 • Revista da aRmada

HISTÓRIAS DA BOTICA (60)

A EscolhaA Escolha

Desenho enviado de Kabul, Afeganistão pelo autor em 10 Dez 08

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que esse sistema tem raízes culturais profundas – fundamentadas na máxima “mais vale pare-cer do que ser”. Assim, muitas famílias gastaram o que tinham e o que não tinham em bens de luxo, com acesso facilitado por um crédito dis-ponível (a acreditar nos anúncios) a custo qua-se nulo…É ver agora as filas intermináveis de carros de luxo, que aguardam abastecimento nas gasolineiras com preços mais reduzidos – onde vão poupar uns formidáveis dois ou três cêntimos por litro, “que já dão para a ajuda da prestação do carro”…

O país como um todo viveu acima das suas capacidades, o que para uma mente simples como a minha quer dizer simplesmente acima dos bens que produz, da mais-valia que cria. Todo o país me parece a crédito, já que quase todos os bens que consumimos foram produzi-dos por outrem. Por outro lado, e isto afigura-se particularmente preocupante, não parecemos reunidos – da fora como se subentende no o tex-to acima – à volta da mesma bandeira. Dito de outro modo, foi possível colocar uma bandeira em cada casa a propósito de assuntos de interes-se nacional, como o será certamente o caso do futebol, mas não tem sido possível, ao longo de anos, erguer uma bandeira, ser patriota, ao redor de uma causa comum – o bem da nação…Em

vez disso, observamos, quotidianamente uma dança de interesses, económicos, corporativos e muitos outros de natureza obscura (como os escândalos bancários de que fomos, a medo, tendo conhecimento). Assim, compreender-se--á, não venceremos nunca…

Chegou a altura, acredito profundamente, de fazermos a nossa escolha – íntima e como na-ção. Em épocas de crise parece-me e sei que muitos estão de acordo comigo – deveria ser atingido o consenso em múltiplos temas, parti-cularmente quanto à sociedade que queremos ter. Na linguagem, as distinções entre os vários quadrantes parecem mínimas – em especial em temas de cariz social. Todos querem tratar bem os pobres e promover a tão apregoada “justiça social”. Deveria, portanto, ser fácil produzir en-tendimentos quanto a temas como o emprego, a saúde e a habitação – só para citar alguns. Oxalá assim seja, de contrário, admite-se, outros com maior poder económico, e dos quais depende-mos, forçarão esses entendimentos.

Aos meus leitores habituais, peço agora des-culpa. Este tema não está ao nível da história pessoal – que tanto gosto de escrever. É que, compreenderão por certo, seria injusto, para um grande número de pessoas, se só contasse este ou aquele pormenor de uma situação que afec-

ta toda uma nação. Os outros, os que acharem que estes temas não têm qualquer cabimento na cabeça de um médico, que se não deveria imiscuir em tais assuntos, tranquilizem -se. Con-tinuarei a ser o mesmo, só um médico da Mar-gem Sul, longe, muito longe, dos corredores de qualquer forma de poder. A minha escolha, essa que é minha por direito, é na direcção da verdade. Com ela fiz um compromisso, neste tempo que me foi concedido…

Finalmente, gostaria de deixar a certeza – a todos o que nesta quadra festiva passam gran-des dificuldades – de que vamos vencer. Depois de falar com muitos dos que agora sofrem, fico, sozinho, no silêncio que a sua dignidade im-prime ao ar que respiro…Sei nesses momentos que venceremos, na economia, venceremos na educação, venceremos como país. Venceremos, porque, estou certo, ainda há um conjunto su-ficiente de pessoas honestas, trabalhadoras e, é claro, amantes da verdade. São todos aque-les que acreditam no valor do trabalho, numa melhor vida para os seus filhos e que, teimo-samente, continuam agarrados à esperança de uma vida melhor. É neles, principalmente neles, que devemos confiar…

Doc

Revista da aRmada • JANEIro 2009 31

Ainda as Comemorações do Dia da Marinha – 2008

de há seis anos a esta parte o Nú-cleo de Radio-

amadores da Armada (NRA) vem efectuando

um Concurso de Radioamadorismo integrado nas Comemorações do Dia da Marinha. Este ano, e já disso se fa-lou na R.A., o ciclo iniciou-se nos pri-meiros dias de Maio, mas foi só em 27 de Setembro passado que ocor-reu a entrega de prémios e diplomas, cerimónia que no panorama radioa-madorístico nacional, ibérico e além mais, prima pela originalidade, visto que ao mesmo tempo que expõe ao exterior a arte de bem receber, tão peculiar à Marinha, divulga o seu património histórico-naval. Disso foram exemplo as visitas ao Mu-seu do Fuzileiro em 2007, havia sido anteriormente a efectuada a um navio da classe “Vasco da Gama”; à Estação Ibéria-NATO e ao Museu de Marinha, fora-o à Sala de Armas do então Grupo nº 2 de Escolas da Armada, actual Escola de Tecnologias Navais (ETNA) e mais recente-mente a actividade, concretizada em Julho último, a bordo da fragata “D. Fernando II e Glória”, lembrando a existência desta última nau da Carreira da Índia.

No presente ano o evento aconteceu nas instalações do Centro de Comunicações e Cifra da Marinha (CCCM) – Pólo de Monsanto.

Entre as várias personalidades presentes citam-se o Presidente da Co-missão Cultural de Marinha (CCM), CALM Rui Abreu, o CALM Leiria Pinto, também ele um radioamador integrante do NRA, o último director da ex-Estação Rádio-Naval “Comandante Nunes Ribeiro”, CMG Gamito Candeias, além do Presidente da Rede das Emissões Portuguesas (REP), Sr. Carlos Nora e de outras associações de radioamadores congéneres que a convite se fizeram representar. De salientar que mais uma vez de entre os participantes no Concurso que ali estiveram presentes, al-guns vieram do estrangeiro propositadamente para o efeito. O evento

também contou com a imprescindível presença do CMG Antunes Rodrigues, Comandante da ETNA, onde o NRA tem a sua sede e do CFR Rodeia Ri-beiro, Director do CCCM que, na sua qualidade de anfitrião, recebeu os ra-dioamadores e seus convidados, tendo posteriormente dado as boas vindas, ao que se seguiu uma breve alocução do Presidente da CCM.

Fez-se então a entrega dos prémios e diplomas, acto complementado com uma visita às instalações, durante a qual foram recordados vários factos históricos relacionados com aquela que foi a principal Rádio-Naval da

Marinha e onde em 11 de Novembro de 1918 foi recebida, em pri-meira mão, a notícia do fim da Grande Guerra em 18 de Dezembro de 1961 estabelecido, através do aviso “Afonso de Albuquerque”, o último contacto com o Estado Português da Índia e igualmente efectu-ada a derradeira comunicação com Timor, em 26 de Agosto de 1975, via Rádio-Naval de Dili.

O acontecimento, para o qual foi produzido um folheto com o resu-mo histórico do NRA e da Unidade, veiculando as diferentes fases e fun-ções de que a mesma foi epicentro, terminou com um muito apreciado vitaminico, almoço durante o qual os presentes teceram rasgados elogios e agradecimentos à Marinha na pessoa do Director do CCCM.

Como antigo bastião das radiocomunicações na Marinha, a Central Transmissora de Monsanto, como era antes chamada, conheceu com esta cerimónia um importante contributo para a divulgação de sua his-tória, dos feitos radiotelegráficos em que se viu envolvida e especial-mente as diversas fases a que assistiu na modernização permanente das comunicações na Marinha e em Portugal.

SMOR António GamitoCT1CZT

Ainda as Comemorações do Dia da Marinha – 2008

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Revista da aRmada • JANEIro 2009 33

QUARTO DE FOLGA

JOGUEMOS O BRIDGEJOGUEMOS O BRIDGEProblema Nº 114

N-S vuln. S abre em 4ª posição em 1♥, W intervém em 2♣, N marca 2♥, E passa e S fecha em 4♥. Face ao leilão, que hipóteses deverão ser analisadas por S para cumprir o seu contrato com segurança, recebendo a saída de ♣R? Para ajudar, in-formo que os trunfos estão 2-2.

TAPE OS JOGOS DE E-W PARA TENTAR CUMPRIR A 2 MÃOS.

SOLUÇÕES: PROBLEMA Nº 114

Analisando as 2 mãos constata-se que existem 4 perdentes (1♠+1♦+2♣), embora a de ♦ possa ser eliminada se o R estiver em E. O passe inicial de W e depois a sua intervenção em 2♣ e saída, mostra-nos que não terá os outros 2 reis, mas de certeza que tem 1 deles. Como esta informação é insuficiente, não devemos tentar acertar a passagem, mas escolher uma linha de jogo em que apenas vamos precisar dos trunfos 2-2 e dos ♦ 3-3 ou 4-2, sendo independente da colocação dos reis que faltam. Veja-mos então o desenvolvimento: S pega de ♣A e joga ♦A e D que W faz de R, jogando ♣DV seguido de uma pequena ♠; A do morto e ♦ para cortar de alto; trunfo para o morto e mais um ♦ para cortar seguro, tendo apurado o quinto ♦; volta ao morto em trunfo para destrunfar e no ♦ apurado balda a ♠ perdente. Repare que se W tem ♠R, uma jogada que resultava seria destrunfar e depois bater ♠A e ♠ para a D, obrigado W a jogar para corte e balda, ou para ♦AD, mas como falhava iria cabidar.

Nunes MarquesCALM AN

Oeste (W):

V975

53

RV

RDV109

Este (E):

R8642

76

10863

84

Norte (N):

A10

DV2

97542

632

D3

Sul (S):

AR10984

AD

A75

PALAVRAS CRUZADASProblema Nº 397

PALAVRAS CRUZADAS

123456789

1011

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

HORiZONtais: 1 – Cerrar incompletamente. 2 – Curvatura; soltara mios. 3 – É quase tirso; o mesmo que gago (inv). 4 – Traz à lembrança; é quase Ajacio. 5 – Basta; torna feliz; prefixo de negação. 6 – Pequeno aro. 7 – Ruim; provisão de mantimentos; prefixo de movimento. 8 – Cidade de Portugal; eventualida-de. 9 – Possuída; gostar muito. 10 – Dor nos rins; lavrara. 11 – Aqueles que são versados em ornitologia.

veRtiCais: 1 - Instrumento para medir as dimensões do peito. 2 – Cidade da Colômbia à beira do Madalena; revia na confusão. 3 – Cidade da antiga Fe-nícia, fundada pelos sidónios; é o deus supremo da mitologia escandinava e germânica. 4 – Pão de farinha fina, em forma de argola retorcida; cidade do Estado do Maranhão (Brasil), 5 – Estás; cidade da Turquia; símbolo químico do astato. 6 – O mesmo que eiró. 7 – Preposição; não acentuada; símbolo quí-mico da prata. 8 – Cidade da Argentina, que fica no sopé da serra de Velasco; iguaria de massa de feijão cozido (Bras). 9 – Fêmea do rato; mamífero rumi-nante do Perú (inv). 10 – Bebida alcoólica preparada na Índia e na América, especialmente com a fermentação do arroz; planta medicinal. 11 – Máquina com que se ratina o pano.

SOLUÇÕES: PALAVRAS CRUZADAS Nº 397HORiZONtais: 1 – Entrecerrar. 2 – Seios; Miara. 3 – Tirs; Otat. 4 – Evoca; Ajaci. 5 – Ta; Adita; An. 6 – Aro; 7 – Ma; Anona; Ad. 8 – Evora; Acaso. 9 – Tida; Amar. 10 – Reira; Arara. 11 – Ornitolgalos

veRtiCais: 1 – Estetometro. 2 – Neiva; Avier. 3 – Tiro; Odin. 4 – Rosca; Arari. 5 – Es; Adana; At. 6 – Iro. 7 – Em; Atona; Ag. 8 – Rioja; Acara. 9- Rata; Amal. 10 – Araca; Asaro. 11 – Ratinadoras.

Carmo Pinto1TEN REF

CONVÍVIO

CLUBE ESCOLAMIZADEl No último dia 13 de Novembro pp, realizou-se na sede do Clube Es-cola Amizade, Clube que junta alguns dos

Ex-Marinheiros que residem no Al-garve, um Porto de Honra, para co-memorar mais um aniversário do Clube.

Estiveram presentes, o Presidente da Câmara Municipal de Albufeira, Desidério Silva, o Comandante da Zona Marítima do Sul, CMG Reis

Ágoas, o Adjunto do Capitão do Porto de Portimão para Albufeira, o Cmdt do Destacamento da GNR e da GNR-BF de Albufeira, bem como vários Sócios.

Nas várias alocuções proferidas pelas Entidades presentes, foram re-feridas as acções levadas a cabo pelo Clube, no aproximar da Marinha - Socidade Civil , tendo o Presiden-te da Câmara de Albufeira ofereci-do uma lápide alusiva ao aniversá-rio do Clube.

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34 JANEIro 2009 • Revista da aRmada

NOTÍCIAS PESSOAIS

RESERVA CFR SEU Victor Manuel Dias Martins SMOR US Alberto dos Santos Sequeira SCH H António Fernando Furtado da Costa Oliveira SAJ MQ João Carlos Freire Mesquita SAJ U João Farinha Lopes CAB CM Martinho António Rita Carvalho.

REFORMA CMG João Manuel Pinto Basto Ribeiro Ferreira CMG AN Armando Ma-nuel da Rocha Deus CFR AN Hermano José Corujo da Silva e Costa CFR SEE Jacinto Manuel Ferreira de Oliveira CTEN OT António Lino de Sousa Ro-drigues CTEN OT Henrique Agostinho Marques CTEN OT António Bispo Cardoso CTEN Luís Humberto Ávila da Silva 1TEN EM Victor Manuel da Costa Cavaco SMOR CE José Alberto Sebastião SMOR HE Ernesto de Oli-veira Dias SMOR TES Arménio Pedrosa Gaspar SCH TF Manuel Francisco Ramalhete SAJ L Manuel Joaquim Jorge SAJ L José Xisto de Jesus Silva SAJ A Adelino Ramos Sebastião SAJ CE Franclim de Oliveira Ferreira SAJ ETA Luís de Aguiar Costa SAJ CE André Manuel Bruno Rosado SAJ T Carlos Manuel Guerra Pena 1SAR A Mário Nunes André CAB FZ Abílio Torres de Carvalho CAB CM António Barbosa da Cruz CAB A José Manuel Teixeira da Cruz CAB FZ Luís Manuel de Jesus Agostinho CAB M Joaquim António Mestre Russo CAB M Amâncio da Silva Valdire CAB CM Luís An-tónio Reinas Caldeira CAB CM Manuel Silvestre Noválio Alves CAB M António Carlos Valente Caldeira.

FALECIMENTOS CALM AN REF Carlos Alberto Mota CMG RES Mário Manuel Lajoso 1TEN OT REF Abílio Claudino SMOR GRD FZ REF António da Cunha Perei-ra SAJ E REF Ângelo Carapeta Penado SAJ Q REF Augusto Ribeiro Maia SAJ CM REF José Bernardino Batista SAJ CE REF Graciano da Costa Santos SAJ CM REF Mariano José Júnior 1SAR L REF Agostinho do Carmo Fernandes CAB T REF José Pais de Sousa CAB T REF José Maria da Cruz CAB TFH REF Manuel Joaquim Bonito AG 1CLAS PM APOS João Godinho Paquete AG 1CLAS PM APOS João Marçalo Horta.

COMANDOS E CARGOSNOMEAÇÕES

VALM Álvaro Sabino Guerreiro nomeado director do Instituto de Estudos Superio-res Militares VALM João da Cruz Carvalho Abreu nomeado Comandante Operacio-nal dos Açores em substituição do VALM Álvaro Sabino Guerreiro CFR FZ António da Silva Campos nomeado Comandante da Base de Fuzileiros em substituição do CFR FZ António Manuel Ferreira Campos CFR FZ Jorge Manuel de Oliveira Monteiro nomeado 2º Comandante do Corpo de Fuzileiros em substituição do CMG FZ João Al-berto Pires Carmona CFR Paulo Jorge da Silva Ribeiro nomeado OPS 432 Staff Office NDC em Bruxelas em substituição do CMG Rui Manuel Martins de Carvalho 1TEN AN Ricardo Miguel Abreu Ribeiro de Melo nomeado Chefe do Serviço Administrativo e Financeiro do Comando da Zona Marítima dos Açores em substituição do CTEN AN Octávio Manuel da Costa 1TEN Humberto Arbona Palmeiro Santos Rocha nomeado Chefe do Serviço de Comunicações da Zona Marítima dos Açores em substituição do 1TEN Luís Bernardo da Costa Gomes Brito e Abreu 2TEN STC Paulo Alexandre de Sousa Falé nomeado Chefe do Centro de Comunicações do Comando da Zona Marítima da Madeira em substituição do 2TEN STC José Duarte Coelho Paixão.

CONVÍVIOS

Realizou-se no passado dia 8 de Novembro, o almoço convívio do Grupo Amizade Marinheiros do con-celho de Esposende, que contou com a presença de uma centena de con-vivas, entre eles alguns familiares. A concentração teve lugar no Largo Ro-drigues Sampaio em Esposende. Foi celebrada um Missa na Igreja Matriz em sufrágio dos Marinheiros faleci-dos, seguindo-se o almoço numa es-

talagem da Cidade de Esposende.Recordaram-se velhos tempos da

Armada e assim foi celebrado o 23º Aniversário da colectividade. Foi nomeada um nova Comissão para a Organização das Comemorações do próximo ano, que é composta por Marinheiros da Freguesia de Cur-vos, deste Concelho, e prometeram dar o seu melhor, para que em 2009 o Grupo esteja ainda maior.

25º Aniversário dA AssociAção de MArinheiros dA ArMAdA PortuguesA, euA

gruPo AMiZAde MArinheiros do conceLho de esPosende

Realizou-se no Portuguese-American Community Center, em Yonkers, New York, EUA, no passado 15 de Novembro de 2008, o jantar comemorativo do 25º ani-versário da Associação de Marinheiros da Armada Portuguesa (AMAP). A AMAP é uma associação privada, sem fins lucrati-vos, que serve a finalidade de promover o bom relacionamento, convívio e amizade entre a Comunidade Portuguesa, sendo dela associados antigos militares da Mari-nha Portuguesa, que nesta serviram o País, alguns deles na Guerra Colonial, e nela reconhecem parte da formação e experiência de vida, mantendo como referência “A Pátria Honrai que a Pátria vos Contempla”.

Neste jantar de celebração, com a presença de mais de 150 antigos marinheiros, familiares e amigos, que se deslocaram de Massachu-setts, Connecticut, Rhode Island, Pennsylvania, New Jersey, New York

e Washington, além do rico menu com as preciosidades gastronómicas da comida Portuguesa, houve baile com actuação do “Duo Reflexo” e do artista e marinheiro Dinis Paiva. Foram convidados de honra o Cte. Carlos Lopes da Costa, adido naval na Embaixada de Portugal em Washington DC e mulher, que foram muito bem rece-bidos por todos e organização e em parti-cular os Sr. José Ferreira, Sr. António Pires, Sr. Joaquim Rio e Sr. José Matos. A abrir a celebração os estandartes entraram no sa-

lão nobre ao som do Hino da Marinha e de seguida foram cantados os hinos nacionais de Portugal e dos EUA, tendo sido também entre-gues várias bolsas de estudo a familiares jovens de associados, distri-buídas lembranças a convidados, lido o texto de reconhecimento de apreço do município de Yonkers, e proferidas palavras de felicitação e de estímulo às actividades da AMAP pelo adido naval.

EXONERAÇÕES

CFR FZ Carlos Teixeira Moreira exonerado de Chefe do Estado-Maior do Co-mando da Força de Fuzileiros.

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11. O Arsenal do alfeite

Instalações da MarinhaInstalações da Marinha

O Arsenal do Alfeite iniciou a sua actividade em 1939 sucedendo ao antigo Arsenal da Marinha. Ocupa uma área de 35 hectares, oito dos quais cobertos. Fora do perímetro do Alfeite, no antigo Depósito de Munições NATO do Marco do Grilo, dispõe ainda de oficinas des-tinadas à manutenção de torpedos, mísseis e minas.

Actualmente, o património edificado do Arsenal, perfaz cerca de uma centena de imóveis. Na interface marítima dispõe de cinco carreiras de construção, uma doca seca (138m de comp. e 18m de larg.), dois planos inclinados (deslocamento máx. até 1250t), uma doca flutuante (60m de comp., 12m de larg. e capacidade de elevação máx. de 900t) e pontes e cais de atracação com um comprimento total de 672 m.

A história da implantação física do Arsenal no Alfeite remonta ao início de Séc.XX, tendo sido criada, em 1918, por decisão governa-mental, uma junta autónoma para o estudo da transferência do Arsenal de Marinha, da Rua do Arsenal em Lisboa, para o Alfeite.

A primeira fase de efectiva construção do Arsenal do Alfeite foi iniciada em 1928, com o financiamento proveniente das indemni-zações da Primeira Guerra Mundial. A construção é adjudicada por concurso público, à firma Grun e Bilfinger de Mannheim, que tam-bém é responsável pelo equipamento da maioria das suas oficinas. Após uma interrupção entre 1931 e 1933 devido ao cancelamento do financiamento, foram formalmente dadas por concluídas a 31 de Dezembro de 1937.

Grande para do terreno ocupado foi conquistado ao rio, por meio de aterros executados com areia proveniente das escarpas confinantes.

Com ruas de traçado geométrico, edifícios de grande pé direito, com fachadas austeras e rectas, o Arsenal estende-se ao longo da margem, de olhos postos nas obras marítimas. Quebra a simetria dos arruamentos e dos edifícios, a edificação da Sala do Risco – fora do alinhamento de todos os restantes - e a orientação dada à oficina de Construções Navais de Ferro, questões que desde o início engrossaram as vozes críticas aos erros de concepção e apetrechamento.

O primeiro relatório e contas do Arsenal do Alfeite refere-se da se-guinte forma ao erros do projecto:

”A implantação dos edifícios do Arsenal do Alfeite , tanto de ar-mazéns e outros, é de difícil compreensão e, nalguns casos mesmo, duvidamos que se possa dar qualquer explicação razoável sobre os motivos que presidiram à orientação e localização de alguns, sendo também bastante inexplicável as distancias inter-oficinas, que por mui-to grandes, vêm prejudicar o bom rendimento do trabalho e aumen-tar inutilmente o custo dos transportes.(...) Na construção de edifícios notam-se nitidamente duas fases diferentes. Uma, a grandiosa, em que as dimensões , principalmente no que diz respeito ao pé direito, são manifestamente exageradas(...) outra, a modesta, em que se entrou de tal forma na fase da economia, que alguns edifícios são insuficientes para as necessidades do serviço.(...)

Mau grado estas dificuldades e o facto de os primeiros anos de la-boração terem sido anos de guerra e, portanto, de duras condições económico-sociais, a actividade do Arsenal foi intensa. No ano se-guinte ao da inauguração entrou em funcionamento aquela que será a ponte de acostagem para os maiores navios da Armada, a ponte-cais para atracação simultânea de dois navios e perspectivaram-se tam-bém obras de construção da carreira de lançamento de navios 10.000t, finalizada em 1943. Em 1944 construiu-se a carreira de 140 m de comprimento e montou-se o respectivo guindaste.

Em 1947 foram entregues algumas importantes instalações: a nova ponte-cais nº 2 em betão armado, o prolongamento da ponte cais nº 1,

ficando com um comprimento de 130m, o prolongamento do muro-cais do molhe leste e o edifício para os serviços de fiscalização.

As obras de remodelação das infra-estruturas, reivindicadas des-de a sua inauguração, têm inicio em 1952. A tentativa de melhoria efectiva das instalações fabris e as condições de laboração recorre a novas técnicas de engenharia e a novos materiais e reflecte-se a curto prazo no aumento da produtividade do estaleiro. As primeiras obras são a dragagem dos cais acostáveis e do plano inclinado a constru-ção de uma ponte cais e o prolongamento do existente. Seguem-se as intervenções como o prolongamento do muro cais do molhe leste a construção de um parque de material laminado e de um desembar-cadouro privativo, entretanto desaparecido.

Na décadas seguintes, o estaleiro continuará a auto-financiar a re-modelação através do regime de amortizações criado pela respecti-va Lei Orgânica.

Na década de 60, de grande instabilidade, é decidida a constru-ção da doca seca que acaba por ser concluída em Março de 1978. É também concluída a 80ª construção do Arsenal, a Doca Flutuante Eng. Joaquim Perestrelo de Vasconcelos que se destinava à alagem de submarinos da classe Albacora. Na sua construção foram aproveita-dos restos de chapas de aço excedentários de construções anteriores e, igualmente por economia, utilizou-se um sistema de alagamento por gravidade e esgoto de ar comprimido, em vez do tradicional sis-tema de bombagem.

Em 1976 ocorreu a integração no Arsenal das Oficinas Gerais de Armas e Electrónica surgindo os novos edifícios das Divisões de Ar-mamento e de Electrónica e Comunicações, este último apenas fina-lizado em 1979.

Graças a auto-financiamento, resultante de recursos provenientes de contratos de novas construções navais, durante a década de 80, assistiu-se a assinaláveis melhorias nas infra-estruturas e nos meios de elevação e movimentação. Na mesma altura, é de realçar a total renovação da rede eléctrica de média tensão.

Na década de 90, apesar das grandes expectativas criadas com a inclusão na 1ª LPM duma série de propostas de meios para o Arsenal, tudo se resumiu a um guindaste de 40t de capacidade, que só foi co-locado em serviço em 2005.

Já na presente década, não obstante as enormes contenções orça-mentais, desenvolveram-se enormes esforços de manutenção e rea-bilitação dos edifícios, instalações e infra-estruturas.

Reafirmaram-se preocupações relativamente às condições das insta-lações da frente marítima, e, já em 2008, iniciaram-se os trabalhos de requalificação da doca seca e estão em curso as adaptações para acolher as actividades industriais dos sistemas electrónicos e de comunicações num único espaço físico. Iniciou-se ainda a fase de fusões de outras áreas tecnológicas e de reutilização de naves e outras instalações.

Para enfrentar os desafios da nova Esquadra, a par da continuidade da manutenção do património edificado, é necessário efectuar uma profunda requalificação das instalações e infra-estruturas, adequan-do-as às novas necessidades. Na ausência de novas instalações que resolvam as insuficiências detectadas há que maximizar os recursos existentes e as condições legadas do passado.

As instituições valem sobretudo pelo seu capital humano mas, na indústria naval, os meios materiais para a eficiente e eficaz laboração são igualmente fundamentais.

(Colaboração do ARSENAL DO ALFEITE)

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11. O Arsenal do alfeite

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