QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS – UNIMONTES CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS – CCET DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO – DCC CURSO DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP) ANDERSON FERREIRA GOMES Montes Claros, junho de 2005

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS – UNIMONTES

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS – CCET

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO – DCC

CURSO DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO

QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

ANDERSON FERREIRA GOMES

Montes Claros, junho de 2005

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS – UNIMONTES

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS – CCET

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO – DCC

CURSO DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO

QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

Monografia elaborada para conclusão de curso submetido à Universidade Estadual de Montes Claros para a obtenção dos créditos na disciplina de Projeto Orientado a Conclusão de Curso (POCC), no Curso de Sistemas de Informação — Bacharelado

ANDERSON FERREIRA GOMES

Montes Claros, junho de 2005

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS – UNIMONTES

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS – CCET

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA COMPUTAÇÃO – DCC

CURSO DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO

O Projeto Orientado de Conclusão de Curso (POCC): “QUALIDADE DE

SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)”, elaborado por ANDERSON FERREIRA

GOMES, foi julgado adequado por todos os membros da Banca Examinadora,

como requisito parcial para obtenção do título de BACHAREL EM SISTEMAS DE

INFORMAÇÃO e aprovado, em sua forma final, pelo Departamento de Ciências da

Computação da Universidade Estadual de Montes Claros.

Montes Claros, 24 de junho de 2005.

Aprovado pela Banca Examinadora constituída pelos seguintes professores:

__________________________________________________ Orientador: Prof. Msc. Antônio Eugênio Silva

__________________________________________________ Avaliador: Prof. Msc. Nilton Alves Maia

__________________________________________________ Avaliador: Profª. Patrícia Takaki Neves

__________________________________________________ Prof. Msc. Luiz Carlos Pires dos Santos

Coordenador de Projetos

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SUMÁRIO DEDICATÓRIA ........................................................................................................... i

AGRADECIMENTOS ..................................................................................................ii

LISTA DE FIGURAS ..................................................................................................iii

LISTA DE QUADROS ................................................................................................iv

LISTA DE ABREVIATURAS ....................................................................................... v

RESUMO .................................................................................................................vii

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 8

2. ESTRUTURA DE REDE.................................................................................... 12

2.1 MODELO DE REFERÊNCIA TCP/IP ............................................................ 12

2.1.1 CAMADA DE APLICAÇÃO .................................................................... 13

2.1.2 CAMADA DE TRANSPORTE ................................................................ 13

2.1.3 CAMADA DE INTER-REDE ................................................................... 14

2.1.4 CAMADA DE HOST/REDE.................................................................... 15

2.2 O PROTOCOLO IP ..................................................................................... 15

2.3 PROTOCOLOS DE TRANSPORTE (TCP X UDP) ......................................... 16

2.4 PROTOCOLO UDP..................................................................................... 18

2.4.1 CABEÇALHO UDP ............................................................................... 18

2.4.2 PSEUDOCABEÇALHO UDP ................................................................. 19

3. QUALIDADE DE SERVIÇO (QoS) ..................................................................... 20

3.1 CENÁRIO PARA QUALIDADE DE SERVIÇO (QoS) ...................................... 20

3.2 VAZÃO ...................................................................................................... 23

3.3 LATÊNCIA (ATRASO) ................................................................................. 24

3.4 JITTER ...................................................................................................... 26

3.5 PERDAS .................................................................................................... 27

3.6 DISPONIBILIDADE ..................................................................................... 28

3.7 SEGURANÇA............................................................................................. 28

3.8 CONFIABILIDADE ...................................................................................... 29

4. QoS - ALTERNATIVAS TÉCNICAS.................................................................... 30

4.1 CONTROLE E INIBIÇÃO DE CONGESTIONAMENTO................................... 31

4.1.1 FIFO - FIRST IN FIRST OUT ................................................................. 31

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4.1.2 ENFILEIRAMENTO FAIR QUEUEING.................................................... 31

4.1.3 ENFILEIRAMENTO PRIORITY QUEUEING............................................ 32

4.1.4 ENFILEIRAMENTO CUSTOM QUEUEING ............................................. 32

4.1.5 A DETECÇÃO RANDOM EARLY DETECTION (RED) ............................. 33

4.2 EFICIÊNCIA EM CONEXÕES ...................................................................... 34

4.2.1 COMPRESSÃO RTP ............................................................................ 34

4.2.2 FRAGMENTAÇÃO E INTERLEAVING.................................................... 35

4.3 CONFORMIDADE E POLICIAMENTO DE TRÁFEGO.................................... 35

4.3.1 GENERIC TRAFFIC SHAPING .............................................................. 35

4.3.2 POLICIAMENTO OU COMMITTED ACCESS RATE (CAR) ...................... 36

5. VOZ SOBRE IP (VoIP)...................................................................................... 38

5.1 LIMITAÇÕES DAS REDES IP PARA TRANSMISSÃO DE VOZ ...................... 40

5.1.1 FONTES DE ATRASO EM TRANSMISSÃO DE VOZ EM REDES DE

PACOTE ...................................................................................................... 42

5.2 A ARQUITETURA DO PADRÃO H.323......................................................... 44

5.2.1 PILHA DE PROTOCOLOS .................................................................... 45

5.3 PROTOCOLOS PARA TEMPO REAL........................................................... 50

5.3.1 REAL-TIME TRANSPORT PROTOCOL (RTP)........................................ 50

5.3.2 REAL-TIME TRANSPORT CONTROL PROTOCOL (RTCP) .................... 51

6. PROTOCOLO SIP E AS TENDÊNCIAS FUTURAS ............................................. 52

6.1 SIP X H.323................................................................................................ 53

7. CONCLUSÕES ................................................................................................ 56

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS ...................................................................... 59

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i

DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho à minha família e

aos meus professores e a todos os que

me ajudaram até aqui.

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ii

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, a Deus, por tudo.

Ao meu orientador, professor Msc. Antônio Eugênio Silva, pela orientação

sempre oportuna, esclarecedora, inteligente e pelo seu incentivo, fazendo com que este

trabalho pudesse ser realizado.

Aos meus pais, Floriano e Neide, pela compreensão, apoio e carinho durante

estes anos de estudo.

A minha namorada Caísa e meus irmãos Flávia e Daniel pela compreensão e

dedicação durante estes anos de estudo.

Aos professores Nilton Alves Maia e Patrícia Takaki Neves que aceitaram de

fazer parte da banca examinadora deste projeto.

Aos meus colegas de curso, em especial Carlos Eduardo, Rafael Gomes,

Laércio Igor, Paulo Américo e Pablo Nogueira que me ajudaram nos trabalhos e assim

como eu dedicaram parte de suas vidas para concretização de um sonho.

A todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização

deste trabalho.

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iii

LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Forma geral de um pacote IPv6 ................................................................. 16

Figura 2 - Exemplo de conexão TCP ......................................................................... 17

Figura 3 - Equipamentos e componentes envolvidos na QoS....................................... 21

Figura 4 - Modelo para QoS...................................................................................... 21

Figura 5 – Características e utilização da telefonia pública .......................................... 22

Figura 6 – Características e utilização da telefonia IP.................................................. 23

Figura 7 - Variação de tempo da chegada dos pacotes no destino ............................... 27

Figura 8 - Encapsulamento de pacote VoIP................................................................ 34

Figura 9 – Rede telefônica tradicional usa canais TDM para transporte da voz.............. 38

Figura 10 - Codificação e encapsulamento do fluxo de voz em pacotes IP. ................... 40

Figura 11 - Dados RTP em um pacote IP ................................................................... 50

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iv

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Camadas do Modelo de Referência TCP/IP............................................... 12

Quadro 2 - Parâmetros para qualidade de serviço da camada de transporte ................. 14

Quadro 3 - Vazão Típica de Aplicações em Rede ....................................................... 23

Quadro 5 - Comparação entre CAR e GTS ................................................................ 37

Quadro 6 – Comparação entre diferentes tecnologias e seus protocolos ...................... 38

Quadro 7 – Comparativo das tecnologias de rede para a transmissão de voz ............... 39

Quadro 8 - Pilha de protocolos – H.323 ..................................................................... 45

Quadro 9 - Comparativo entre H.323 e SIP ................................................................ 53

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v

LISTA DE ABREVIATURAS

ATM - Asyncronous Transfer Mode

ARPANET - Advanced Research Projects Agency

BECN - Backward Explicit Congestion Notification

CAR - Committed Access Rate

CQ - Custom Queueing

DE - Discard Eligible

DIFFSERV - Differentiated Services

DoS - Denial-ofService

FECN - Forward Explicit Congestion Notification

FIFO - FIRST IN FIRST OUT

FTP - File Transfer Protocol

GTS - Generic Traffic Shaping

HTTP - Hypertext Transport Protocol

IETF - Internet Engineering Task Force

INTSERV - Integrated Services

IP - Internet Protocol

ITU-T – International Telecom Union

Kbps - Kilo bits por segundo

LAN - Local Area Network

LFI - Link Fragmentation and Interleaving

MAN – Metropolitan Area Network

Mbps – Mega bits por segundo

MCU – Multipoint Control Unit

MPLS - MultiProtocol Label Switching

MTU - Maximum Transfer Unit

Mseg – Milissegundos

PABX - Private Automatic Branch Exchange

PGP - Pretty Good Privacy

PQ - Priority Queueing

PSTN - Public Switched Telefone Network

PTT - Pontos de Troca de Tráfego

QoS – Qualidade de Serviço

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RAS - Regitration Admission and Status

RDSI - Rede Integrada de Serviços Digitais

RED - Random Early Detection

RSVP - Resource reSerVation Protocol

RTCP - Real Time Control Protocol

RTP - Real Time Protocol

RTPC - Rede telefônica Comutada

SIP - Session Iniciation Protocol

SIPP - Simple Internet Protocol Plus

SBM - Subnet Bandwidth Management

SMDS - Switched Multimegabit Data Service

SMTP - Simple Mail Transfer Protocol

SNMP - Simple Network Management Protocol

SSL - Secure Sockets Layer

TCP - Transmission Control Protocol

TDM -Time Division Multiplexing

UDP - User Datagram Protocol

VoIP - Voz sobre IP

WAN – World Area Network

WFQ - Weighted Fair Queueing

WRED - Weighted Random Early Detection

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RESUMO

A crescente popularidade da Internet como meio de baixo custo tem despertado

o interesse por tecnologias para a comunicação de voz utilizando o protocolo IP (Internet

Protocol). Esta Monografia apresenta um estudo sobre a tecnologia de transmissão de

voz IP, suas aplicabilidades, e mecanismos para implantação de qualidade de serviço na

mesma. A qualidade de serviço em redes é a capacidade de diferenciar entre tráfego e

tipo de serviços, com as classes de tráfego recebendo diferentes tratamentos por parte do

usuário. Apresenta-se ainda limitações das redes IP para a transmissão de voz e destaca-

se as tecnologias desenvolvidas com o objetivo de contornar estas limitações. Os padrões

que envolvem a transmissão da voz também são apresentados, além de tendências

futuras da tecnologia VoIP e suas vantagens em relação à telefonia convencional.

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8

1. INTRODUÇÃO

Ao longo das três últimas décadas do século XX e início desse século XXI, a

prestação de serviços de telecomunicações em todo o mundo sofreu algumas profundas

mudanças. Houveram alterações significativas na estrutura institucional que servia de

base para a prestação de serviços de telecomunicações, principalmente após as

privatizações desses setores que antes pertenciam aos governos de estado. Porém, seria

errôneo, contudo avaliar as transformações enfrentadas pelo setor apenas a partir do

campo institucional. Essa mudança, na verdade, caminhou lado a lado com a tecnologia.

Primeiro a tecnologia digital, e depois o emprego da fibra óptica promoveram uma

verdadeira revolução na capacidade e velocidade de transmissão de informações através

do sistema, seja por meio de voz, sons, dados ou imagem. Alguns especialistas

identificaram, em meio às transformações tecnológicas, o início de uma nova era,

propagada na mídia como a era da tecnologia da informação. A disseminação do uso do

computador pessoal, ao longo dos anos 80, bem como a chegada da Internet, em meados

dos anos 90, coroaram a chegada desses novos tempos.

Aqui no Brasil, as transformações institucionais e tecnológicas só tiveram início a

partir dos anos 90. Na parte institucional, a principal transformação consistiu no fim do

monopólio público sobre o setor e na conseqüente privatização do sistema brasileiro de

telecomunicações. Quanto à tecnologia, a retomada do nível de investimentos do setor

vem permitindo ao país ampliar e modernizar sua infra-estrutura de telecomunicações,

mediante inclusive o emprego de tecnologias de ponta como a fibra óptica.

Com esse avanço tecnológico, surgiram também diversas mídias de

comunicação e conseqüentemente para viabilizar sua implantação, torná-las disponíveis

aos usuários e operacionalizáveis, foram necessárias criações de redes distintas, com

características distintas das mídias na qual seriam transmitidas. Como por exemplo, têm-

se as redes telefônicas para o tráfego de voz; as redes de comutação de pacotes para o

tráfego de dados; e as redes de difusão ou a cabo, incluindo nesta, o vídeo, rádio e a

televisão. Cada uma dessas redes foi projetada para aplicações específicas e se adaptam

mal a outros tipos de serviços.

Com o grande desenvolvimento da tecnologia digital, os diferentes tipos de

informação passam a ser processados de forma integrada, dando origem aos sistemas

multimídia. O avanço dos equipamentos para o processamento e armazenamento de

informações associado ao sistema de telecomunicações, motivou o conceito de redes de

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serviços integrados, dando origem às redes convergentes, ou seja, trata-se da redução

para uma única conexão de rede, capaz de fornecer todos os serviços de

telecomunicações, como tráfego de voz, dados, vídeo, rádio e televisão. Esse novo

conceito permite a redução dos custos de instalação, de manutenção e de gerência de

redes paralelas, cada uma, dedicada ao suporte de um único serviço, necessitando assim

de equipamentos, técnicas e de recursos humanos específicos [SILVA, 2003].

Para que essa integração seja possível de acontecer, faz-se necessário

introduzir mecanismos adicionais que permitam suportar os novos serviços com qualidade

assegurada, a isso damos o nome de Quality of Service (QoS), em português, Qualidade

de Serviço. Trata-se da idéia de que a taxa de transmissão, a taxa de erro, e outras

características de tráfego, como o atraso sofrido pelos pacotes ou células de um fluxo de

dados, possam ser medidos, melhoradas e, em alguns casos, garantidas de modo a

atender às expectativas dos diversos perfis de usuários. Essas expectativas tendem a ser

mais bem observadas quando se diz respeito ao tráfego de voz em redes de pacotes

[SILVA, 2003].

A voz é um dos principais meios de comunicação e é um instrumento crucial

para a troca de informações entre pessoas. Como muitas vezes as pessoas não se

encontram no mesmo lugar, há uma necessidade de que ocorra uma conversação mesmo

que à distância.

Porém realizar conversações telefônicas a longa distância através da rede de

telefonia atual tem um custo bastante elevado se comparado com ligações de curta

distância. Este trabalho visa mostrar que tais ligações podem continuar sendo feitas,

porém com a utilização de técnicas para a implantação de qualidade de serviço em uma

tecnologia denominada Voz sobre IP.

Com a digitalização da rede telefônica, a voz passou a ser transmitida como

dados entre as centrais telefônicas, mantendo-se, ainda, a rede de terminais analógicos

para os usuários finais. A tecnologia de Voz sobre IP permite a digitalização e codificação

da voz e o empacotamento em pacotes de dados IP (Internet Protocol) para a

transmissão em uma rede que utilize TCP/IP, (arquitetura que tem como objetivo ligar

várias redes e será apresentada com maiores detalhes no capítulo 2). O IP é um

protocolo mundialmente utilizado que tem como característica principal o envio de dados

através de pacotes [SITOLINO, 1999].

As operadoras de telefonia convencional, por causa de seu histórico

monopolista e do controle exercido pelo governo federal, ainda que privatizadas, tendem

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10

a ser mais lentas na implantação dessa nova tecnologia, que deverão ser analisadas

quanto aos impactos na rede instalada, bem como o estágio de padronização da

tecnologia. E ao que se observa hoje, para se manterem no mercado, essas empresas

operadoras de serviços, poderão optar pela convergência de suas redes, devido: [SILVA,

2003]

• aos novos negócios com a Voz sobre IP (Voice over IP – VoIP), que segundo

os analistas, ocupará em torno de 15% do tráfego de voz de longa distância;

• às desregulamentações atuais e previstas para o setor; e

• aos custos de implantação de telefonia sobre as tradicionais centrais de

comutação de circuito versus os custos de implantação da telefonia sobre as

redes de comutação de pacotes.

Contudo, tráfego de dados e voz são de difícil conciliação em uma única rede,

pois possuem características bem diferentes. Enquanto no primeiro caso o tráfego tende a

ser em rajada (burst), consumindo grande banda passante em curtos intervalos de tempo,

no segundo, o tráfego de voz exige baixos atrasos fim-a-fim, provocando um entrave

quanto à integração generalizada de serviços com requisitos de tempo real. As redes de

voz não suportam, de forma eficiente, as rajadas do tráfego de dados e possuem baixo

aproveitamento de banda, pois trabalham com multiplexação determinísticas

(Multiplexação por Divisão de Tempo – TDM1), porém apresentam atrasos baixos e com

variações (jitter) pequenas.

Para resolver o problema da integração generalizada de serviços e atender o

transporte de tráfegos com taxa de bits constantes, isso com requisitos de QoS nas redes

convergentes de banda larga, tem-se atualmente no mercado das telecomunicações, as

redes estatísticas (Asynchronous Transfer Mode) ATM, com diversas classes de serviços,

as redes IP (Internet Protocol) com serviços diferenciados/integrados e o (Multiprotocol

Label Switching) MPLS, bem como o misto das redes IP e ATM utilizando mapeamento

de serviços.

Esse trabalho apresenta um estudo sobre a tecnologia de transmissão de Voz

sobre IP e mecanismos para implantação de qualidade de serviço na mesma, bem como,

controle e inibição de congestionamento, técnicas de controle de tráfego com

classificação e priorização de fluxo. Existem ainda limitações das redes IP para

1 Time Division Multiplexing (TDM): É um sistema de multiplexação onde cada canal de informação é associado à um intervalo de tempo, para que se possa fazer esta associação, cada canal de informação é informação em buffer de memória.

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transmissão de voz e nesse trabalho destacam-se as tecnologias desenvolvidas com o

objetivo de contornar estas limitações e os padrões que envolvem a transmissão de Voz

sobre IP. Além de apresentar alternativas para utilização da infra-estrutura de rede na

comunicação entre usuários que não dependa da infra-estrutura de telefonia tradicional,

possibilitando que empresas, por exemplo, obtenham uma sensível redução de custos

operacionais. Assim com base nas pesquisas realizadas faze-se um questionamento:

• a qualidade de serviço em Voz sobre IP trás realmente vantagens para

os usuários em relação à telefonia convencional, ou as limitações dessa

tecnologia são mais poderosas e não deixam com que essa ela seja

disseminada?

Para facilitar o entendimento quanto à linha de raciocínio a ser seguida no

trabalho, o segundo capítulo apresenta a estrutura da rede TCP/IP e seus protocolos, em

que trafegam as aplicações de Voz sobre IP, tendo como destaque à camada de

transporte e suas funcionalidades.

O terceiro capítulo há as fundamentações da qualidade de serviço, que é um

fator determinante na implantação de uma solução de Voz sobre IP. Tal capítulo

apresenta também os parâmetros para se aplicar à qualidade de serviço.

O quarto capítulo descreve algumas das principais alternativas técnicas para se

implantar, controlar e garantir a qualidade de serviço em diversas redes e em específico

na transmissão de pacotes.

No quinto capítulo apresenta uma fundamentação do tema VoIP, demonstrando

uma visão geral do assunto, além de alguns protocolos que são essenciais para a

transmissão da voz. O capítulo também informa como eles interagem entre si e em que

casos devem ser utilizados para melhorar a qualidade do serviço de voz.

No sexto capítulo são apresentadas algumas breves considerações quanto a um

novo protocolo que poderá futuramente vir a substituir o padrão atual H.323. Apresenta-se

novas tendências quanto sua utilização e compara-se as características dos dois

protocolos.

Por fim, no sétimo capítulo é onde são descritas as conclusões.

Page 17: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

12

2. ESTRUTURA DE REDE

Para ser transmitida a partir de uma rede para o seu ponto de destino, a voz

necessita ser digitalizada. Tal transmissão envolve a utilização de vários protocolos de

comunicação.

A seguir serão apresentadas algumas características e funcionalidades de

alguns dos principais protocolos de comunicação do modelo de referência TCP/IP,

principalmente no que diz respeito aos protocolos da camada de transporte e de inter-

redes.

2.1 MODELO DE REFERÊNCIA TCP/IP

O Modelo de Referência TCP/IP, cujo nome vem de seus dois mais conhecidos

protocolos TCP e IP, foi criado com o objetivo de ligar várias redes, pois houve vários

problemas quando surgiram redes de satélite e rádio que deveriam se comunicar com a

Advanced Research Projects Agency (ARPANET)2. [TANENBAUM, 1997]

Tal modelo é decomposto em quatro camadas como mostra o quadro 1.

Quadro 1 - Camadas do Modelo de Referência TCP/IP

TELNET FTP HTTP SNMP RTP SMTP APLICAÇÃO

TCP UDP TRANSPORTE

IP INTER-REDE

LAN HOST/REDE

Fonte: Redes de Computadores [TANENBAUM, 1997]

2 ARPANET – Rede desenvolvida pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos durante a década de 70, a Arpanet foi criada para resistir a ataques nucleares com o objetivo de investigar a utilidade da comunicação de dados em alta velocidade para fins militares. Essa rede foi colocada fora de operação em 1990.

Page 18: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

13

2.1.1 CAMADA DE APLICAÇÃO

A camada de aplicação contém os protocolos de alto nível (TELNET, FTP,

HTTP, RTP, SMTP, SNMP, etc) e é responsável por fazer a comunicação entre os

aplicativos e a camada de transporte. Com exceção do protocolo RTP (Real Time

Protocol) esses protocolos não serão detalhados neste trabalho. Maiores referências

serão encontradas em [TANENBAUM, 1997].

A comunicação com a camada de transporte é feita através da utilização de

portas. Cada protocolo da camada de aplicação usa uma mesma porta. Por exemplo, o

protocolo HTTP utiliza como padrão a porta 80.

A porta permite que o protocolo da camada de transporte tenha conhecimento

sobre o tipo do conteúdo contido no pacote de dados. Assim o pacote chegando ao

receptor ficará fácil identificar a qual protocolo da camada de aplicação ele deverá ser

entregue.

2.1.2 CAMADA DE TRANSPORTE

Esta camada é responsável por pegar os dados vindos da camada de aplicação

e transformá-los em pacotes que posteriormente serão entregues à camada de Inter-rede.

Seu principal objetivo é oferecer um serviço confiável e eficiente a seus usuários.

Dois protocolos operam nesta camada, são eles: TCP (Transmission Control

Protocol) e UDP (User Datagram Protocol). O primeiro é um protocolo bastante confiável

que permite a entrega dos pacotes de dados sem erro. Já o segundo, o UDP, é um

protocolo menos confiável que o TCP, porém é amplamente utilizando quando a entrega

imediata dos dados é mais importante que sua entrega precisa.

Algumas das funções da camada de transporte estão listadas abaixo:

Checagem de erros fim-a-fim: O mecanismo que verifica a integridade dos

dados que foram recebidos é o que chamamos de checagem de erro. No caso da

checagem de erro fim-a-fim tal verificação só é feita quando o pacote chega ao seu

destino e não durante o caminho que o mesmo percorre.

Estabelecimento / Encerramento de conexões (quando houver): O

estabelecimento de uma conexão funciona como um acordo entre o transmissor e o

receptor. O transmissor envia um pacote requisitando uma conexão e quando o receptor

recebe tal pacote pode então aceitar e estabelecer a conexão. A partir daí os canais do

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14

caminho ou rota que foi usado para a transmissão do pacote são reservados e todos os

outros pacotes devem ser transmitidos por este mesmo caminho.

Já o encerramento da conexão é a liberação dos canais que compunham o

caminho que estava reservado para o transmissor e receptor.

Garantir a qualidade de serviço (QoS – Quality of Service): Segundo

[TANENBAUM, 1997] a qualidade de serviço pode ser definida por um número específico

de parâmetros. Como mostra o quadro 2.

Quadro 2 - Parâmetros para qualidade de serviço da camada de transporte

Retardo no estabelecimento da conexão

Probabilidade de falha no estabelecimento da conexão

Throughput

Retardo de trânsito

Taxa de erros residuais

Proteção

Prioridade

Resiliência

Fonte: Redes de Computadores [TANENBAUM, 1997]

Os usuários dos serviços da camada de transporte podem determinar os valores

preferenciais, os aceitáveis e os mínimos de cada parâmetro, a fim de transmitir os dados

com certa qualidade.

2.1.3 CAMADA DE INTER-REDE

Esta camada além de ser responsável por evitar congestionamentos e realizar o

roteamento dos pacotes de dados, permite que tais pacotes sejam entregues em qualquer

que seja a rede.

Um exemplo de protocolo constituinte desta camada é o IP (Internet Protocol),

que será discutido em detalhes na sessão 2.2.

Page 20: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

15

2.1.4 CAMADA DE HOST/REDE

É a camada responsável pela transmissão dos pacotes recebidos da camada

superior (Inter-Rede) na rede física. É formada por placas, cabos, etc.

2.2 O PROTOCOLO IP

O protocolo IP foi projetado visando conseguir transportar dados entre os mais

diferentes tipos de redes. Sua tarefa é fornecer a melhor forma de transportar pacotes de

dados da origem para o destino, independente das redes onde ambos estejam. Cada

pacote é transmitido e, caso preciso, pode ser dividido em pedaços menores no meio do

caminho. Isso se deve ao fato de uma rede não conseguir transportar o pacote com o

tamanho original.

Outra característica do IP é que se trata de um protocolo não orientado à

conexão e também não é responsável por verificar se um pacote que foi enviado chegou

ou não ao seu destino, ficando esta função a cargo do protocolo de transporte, caso

necessário.

O protocolo IP, apesar de possuir uma grande escalabilidade, sofreu algumas

mudanças e foi evoluindo de acordo com o tempo. Tendo com isso várias versões, entre

as quais a versão 4 (IPv4) e a versão 6 (IPv6).

Durante um bom tempo os recursos do IPv4 foram utilizados de forma

satisfatória. Porém com a explosão da Internet na década de 90, e o inúmero crescimento

de equipamentos que deveriam se conectar a Internet, surgiu um problema. O número de

endereços IP logo estaria esgotado, não suportando a demanda.

Com esse problema em vista a Internet Engineering Task Force (IETF) começou

a trabalhar em uma nova versão do IP, já na década de 90. Os principais objetivos, entre

outros, da nova versão do IP eram:

• possuir um número quase inesgotável de endereços IP;

• reduzir o esforço necessário para o roteamento dos pacotes IP, melhorando

assim o throughput;

• diminuir o tamanho das tabelas de roteamento;

• oferecer uma segurança maior em relação ao IPv4;

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16

• aumentar a importância da informação sobre o tipo de serviço, principalmente

para os serviços de tempo real;

• possibilitar a evolução do protocolo;

• possibilitar a compatibilidade entre a nova versão e o IPv4.

Um problema fundamental na arquitetura Internet é que o IP possui o esquema

de endereçamento de 4 bytes, e conseqüentemente está ficando sem endereços. Suas

classes3 (principalmente a Classe B) consomem grandes parcelas de faixa de endereços

IP e um número grande de organizações possui esse tipo de endereço. Uma solução

proposta pela Internet Engineering Task Force (IETF) é a expansão da faixa de endereços

IP de 4 para 16 bytes, o chamado Simple Internet Protocol Plus (SIPP), mais conhecida

como IPv6 [REKHTER et al., 1996]. Um pacote IP possui um cabeçalho fixo (obrigatório),

zero ou mais cabeçalhos de extensão e os dados, como se pode verificar na Figura 1.

Opcional

Cabeçalho

Fixo

Cabeçalho

de Extensão

1

... Cabeçalho de

Extensão 6 Dados...

Figura 1 - Forma geral de um pacote IPv6

2.3 PROTOCOLOS DE TRANSPORTE (TCP X UDP)

O Transmission Control Protocol (TCP) trata-se de um protocolo orientado à

conexão e foi projetado especialmente para manter a transmissão dos dados confiável

mesmo o meio não sendo muito confiável. É atualmente o protocolo mais utilizado na

Internet para a transmissão de arquivos.

O User Datragram Protocol (UDP) trata-se de um protocolo que não é orientado

à conexão. Ele oferece uma maneira de as aplicações enviarem pacotes IP brutos

encapsulados sem precisar realizar uma conexão. Porém não garante a entrega dos

pacotes em sua origem.

3 Os endereços são constituídos por uma palavra de 32 bits, sendo estruturados em classes de modo a identificar a rede e a estação dentro das quais se refere o endereço em questão.

Page 22: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

17

Ambos os protocolos estão situados na camada de transporte do modelo de

referência TCP/IP. O primeiro (TCP), por ser orientado à conexão, apresenta uma maior

confiabilidade na entrega dos dados. Já o segundo (UDP) é mais simples e permite que

os dados sejam transmitidos com uma maior velocidade, porém sacrificando a

confiabilidade.

O TCP também é responsável pelo controle de erro (fim-a-fim) e de fluxo. Além

de possuir várias outras características, como: comunicação full-duplex4 fim-a-fim,

ordenação de mensagens, multiplexação de IP (utilizando várias portas), etc.

A conexão é caracterizada pelo par: (endereço origem, porta origem) e

(endereço destino, porta destino).

Figura 2 - Exemplo de conexão TCP

Já o protocolo UDP é ideal para aplicações em tempo-real que desejam

transmitir áudio e vídeo. Como tais aplicações são sensíveis ao atraso, não faz sentido

preocupar-se com a correção dos pacotes, pois tempo será gasto nessa correção,

gerando assim um atraso na entrega dos pacotes. O importante para essas aplicações é

o pacote chegar o mais rápido possível.

Como as aplicações de voz em tempo-real são sensíveis ao atraso, torna-se

claro então que o protocolo UDP é o ideal para aplicações de voz sobre IP (VoIP). Tal

protocolo é visto com mais detalhes no próximo item.

4 Full-Duplex: Transmissão de dados simultânea em ambas as direções.

Page 23: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

18

2.4 PROTOCOLO UDP

O UDP trata-se de um protocolo não orientado à conexão, não confiável, porém

muito simples e rápido. É ideal para aplicações que necessitam de velocidade e não de

muita confiança. Como, por exemplo, algumas aplicações em tempo-real (excluindo as

aplicações críticas, que exigem bastante confiabilidade).

Um pacote UDP é dividido em duas partes: o cabeçalho UDP e os dados em si.

Existe também um pseudocabeçalho utilizado para realizar a soma de verificação do

datagrama UDP. Utiliza-se para esta finalidade alguns campos do datagrama IP, como o

campo de origem e destino.

2.4.1 CABEÇALHO UDP

O cabeçalho está dividido em quatro campos de 2 bytes. São os seguintes:

• porta de origem UDP (Source Port): Campo opcional de 2 bytes que indica

qual a porta utilizada pela aplicação origem. Quando não utilizado recebe o

valor zero.

• porta de destino UDP (Destination Port): Campo de 2 bytes que possui a porta

da aplicação de destino. Serve para que o UDP consiga demultiplexar os

datagramas entre os processos que esperam para recebê-los. Tais processos

podem se encontrar em um mesmo host.

• comprimento de mensagem UDP (Length): Tal campo tem o tamanho de 2

bytes e possui a funcionalidade de marcar a quantidade de bytes do

datagrama UDP, incluindo o cabeçalho e os dados. Isto quer dizer que o valor

mínimo que este campo terá será 8 bytes (tamanho do cabeçalho UDP).

• soma de verificação UDP (Checksum): Campo de 2 bytes que serve para

guardar o valor proveniente do cálculo da soma de verificação. Tal soma serve

para corrigir eventuais erros que podem ocorrer durante a comunicação. O

cálculo desta soma de verificação é opcional. Caso o cálculo não seja feito

atribui-se o valor zero para o campo. Este campo é opcional para tornar

possível transmitir os datagramas com um menor overhead5.

5 São os bits de controle que são enviados no pacote e que não fazem parte dos dados. Overhead = nº de bits de controle ÷ nº de bits transmitidos.

Page 24: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

19

2.4.2 PSEUDOCABEÇALHO UDP

A soma de verificação do datagrama UDP não utiliza apenas os dados

provenientes do cabeçalho UDP, ela requer que seja adicionado um pseudocabeçalho.

Tal pseudocabeçalho não é transmitido no datagrama UDP.

A utilização deste pseudocabeçalho tem como objetivo verificar se o pacote UDP

chegou ao seu destino correto. Para isso além de ser necessário conhecer a porta de

destino será necessário também conhecer o endereço de destino (contido no datagrama

IP). Tal informação deve então ser adicionada ao pseudocabeçalho para, desta forma,

realizar o cálculo da soma de verificação.

Vale ressaltar que esta opção de cálculo da soma de verificação deverá ser

utilizada somente em aplicações que requeiram um pouco mais de confiabilidade e não

velocidade, pois isso deixará o processo bem mais lento.

Page 25: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

20

3. QUALIDADE DE SERVIÇO (QoS)

A expressão qualidade de serviço (Quality of Service – QoS) pode oferecer

margem a diferentes tipos de interpretações e definições. No entanto, existe um certo

consenso que parece praticamente todas as definições de QoS que é a característica de

diferenciar entre tráfego e tipo de serviços, para que o usuário possa tratar uma ou mais

classes de tráfego diferente das demais. Um determinado serviço pode ser caracterizado

como possuindo um certo grau de qualidade quando atender às exigências de um

determinado patamar de qualidade, especificado segundo um conjunto de parâmetros

mensuráveis.

A qualidade de serviço (QoS) nas redes IP é um aspecto operacional

fundamental para o desempenho fim-a-fim das novas aplicações (VoIP, multimídia, etc).

Assim sendo, é importante o entendimento dos seus princípios, parâmetros, mecanismos,

algoritmos e protocolos desenvolvidos e utilizados para a obtenção de uma QoS. A

obtenção de uma QoS adequada é um requisito de operação da rede e suas

componentes para viabilizar a operação com qualidade de uma aplicação.

Inicialmente, é necessário considerar que não são todas as aplicações que

realmente necessitam de garantias fortes e rígidas de qualidade de serviço (QoS) para

que seu desempenho seja satisfatório. No mínimo, as aplicações sempre precisam de

vazão (banda) e, assim sendo, este é o parâmetro mais básico e certamente mais

presente nas especificações de QoS. Este parâmetro da qualidade de serviço é

normalmente considerado durante a fase de projeto e implantação da rede e corresponde

a um domínio de conhecimento bem discutido e relatado na literatura técnica.

3.1 CENÁRIO PARA QUALIDADE DE SERVIÇO (QoS)

Numa rede IP a qualidade de serviço consiste num mecanismo fim-a-fim (host de

origem a host de destino) de garantia de entrega das informações (pacotes). Assim

sendo, a implementação da garantia de QoS pela rede implica em atuar nos

equipamentos envolvidos na comunicação fim-a-fim visando o controle dos parâmetros de

QoS.

Os parâmetros (atrasos, jitter, dentre outros) que devem ser controlados visando

a obtenção da qualidade de serviço não são, infelizmente, localizados num único

equipamento ou componente da rede. A figura 3 ilustra um exemplo de situação onde na

Page 26: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

21

rede tem-se equipamentos tipo LAN Switch, roteadores, gateways, pois passou da

utilização da telefonia pública (comutação de circuitos) para a telefonia de Voz sobre IP

(comutação de pacotes).

Os mecanismos de QoS devem atuar nestes equipamentos de forma cooperada,

juntamente com as camadas de protocolo e entidades. Uma das atribuições dos gerentes

de Tecnologia da Informação (TI) é justamente a escolha e implementação adequada dos

mecanismos de QoS discutidos adiante num cenário como o da figura 3.

Figura 3 - Equipamentos e componentes envolvidos na QoS

O já se deve ter percebido o principal objetivo da QoS é priorizar o tráfego

interativo sensível a retardo, em detrimento ao tráfego referente à transferência de

arquivos, que não é sensível a retardo, como é possível perceber no modelo da figura 4 a

seguir:

Figura 4 - Modelo para QoS

Page 27: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

22

A qualidade de serviço deve ser fim-a-fim, ou seja, considerando o modelo

acima, o tráfego tem que ser tratado inicialmente na rede local (LAN) de origem, depois

no próprio roteador (controle de descarte de pacotes, por exemplo), posteriormente nas

World Area Network – WAN (conexões de longa distância) e roteadores intermediários, no

roteador destino, e finalmente na rede local destino.

Os atrasos de comunicação e as perdas de pacotes influenciam na interatividade

dos usuários e na qualidade da aplicação. Considerando números, se esta aplicação gera

uma vazão (fluxo de dados) de 64 Kbps, mesmo a utilização de uma Linha Privada (LP)

em rede WAN de 256 Kbps pode não ser suficiente. Neste caso, os atrasos e perdas

decorrentes da operação podem prejudicar a qualidade da aplicação. Diz-se então que a

aplicação exige uma qualidade de serviço da rede.

Na uma telefonia pública atual o desperdício de banda é muito grande como

mostra na figura 5, com uma utilização de 50 a 60% (por cento), apesar de não haver

congestionamento, pois a banda é garantida.

Figura 5 – Características e utilização da telefonia pública

Já na tecnologia IP existe uma alta eficiência de banda, pois a banda é

compartilhada, e a utilização do meio é de 90 a 95% (por cento) com na figura 6, mas por

outro lado, existem atrasos variáveis na entrega de pacotes, surgindo aí a necessidade de

um controle rigoroso em serviços como o da seleção do tráfego de pacotes e a prioridade

dos mesmos.

Page 28: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

23

Figura 6 – Características e utilização da telefonia IP

3.2 VAZÃO

A vazão (banda) é o parâmetro mais básico de QoS e é necessário para a

operação adequada de qualquer aplicação.

Em termos práticos as aplicações geram vazões que devem ser atendidas pela

rede. O quadro 3 em seguida ilustra a vazão típica de algumas aplicações:

Quadro 3 - Vazão Típica de Aplicações em Rede

Aplicação Vazão (típica)

Aplicações Transacionais 1 Kbps a 50

Kbps

Quadro Branco (Whiteboard) 10 Kbps a 100 Kbps

Voz 10 Kbps a 120 Kbps

Aplicações Web (WWW) 10 Kbps a 500 Kbps

Transferência de Arquivos (Grandes) 10 Kbps a 1 Mbps

Vídeo (Streaming) 100 Kbps a 1 Mbps

Aplicação Conferência 500 Kbps a 1 Mbps

Vídeo MPEG 1 Mbps a 10 Mbps

Aplicação Imagens Médicas 10 Mbps a 100 Mbps

Aplicação Realidade Virtual 80 Mbps a 150 Mbps

Fonte: Análise de Qualidade de Serviço em Redes [SILVA, 2004]

Page 29: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

24

Como discutido, o atendimento do requisito vazão para a qualidade de serviço é

um dos aspectos levados em conta no projeto da rede.

3.3 LATÊNCIA (ATRASO)

A latência e o atraso são parâmetros importantes para a qualidade de serviço

das aplicações. Ambos os termos podem ser utilizados na especificação de QoS, embora

o termo "latência" seja convencionalmente mais utilizado para equipamentos e o termo

"atraso" seja mais utilizado com as transmissões de dados (P. ex.: atrasos de

transmissão, atrasos de propagação).

De maneira geral, a latência da rede pode ser entendida como o somatório dos

atrasos impostos pela rede e equipamentos utilizados na comunicação. Do ponto de vista

da aplicação, a latência (atrasos) resulta em um tempo de resposta (tempo de entrega da

informação – p. ex. pacotes) para a aplicação.

Os principais fatores que influenciam na latência de uma rede são os seguintes:

• atraso de propagação (Propagation Delay);

• velocidade de transmissão e

• processamento nos equipamentos.

O atraso de propagação corresponde ao tempo necessário para a propagação

do sinal elétrico ou propagação do sinal óptico no meio sendo utilizado (fibras ópticas,

satélite, coaxial e outros) e é um parâmetro imutável onde o gerente de rede não tem

nenhuma influência. O quadro 4 em seguida ilustra a título de exemplo alguns valores

para o atraso de propagação entre cidades numa rede WAN utilizando fibras ópticas

como meio físico de comunicação.

Quadro 4 - Atrasos de Propagação - Fibras Ópticas – Exemplos

Trecho (Round Trip Delay) Atraso de Propagação

Miami a São Paulo 100 mseg

New York a Los Angeles 50 mseg

Los Angeles a Hong Kong 170 mseg

Fonte: Análise de Qualidade de Serviço em Redes [SILVA, 2004]

A velocidade de transmissão é um parâmetro controlado pelo gerente visando

normalmente a adequação da rede à qualidade de serviço solicitada. Em se tratando de

Page 30: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

25

redes locais (LANs), as velocidades de transmissão são normalmente bastante elevadas,

tendendo a ser tipicamente superior à 10 Mbps dedicada por usuário (p. ex.: utilizando

LAN Switches).

Em se tratando de redes de longa distância (Redes corporativas estaduais e

nacionais, redes metropolitanas, intranets metropolitanas, etc.) as velocidades de

transmissão são dependentes da escolha de tecnologia de rede WAN (Linhas privadas,

Frame Relay, satélite, ATM, dentre outras). Embora exista obviamente a possibilidade de

escolha da velocidade adequada para garantia da qualidade de serviço, observam-se

neste caso restrições e/ ou limitações nas velocidades utilizadas, tipicamente devido aos

custos mensais envolvidos na operação da rede. Além desse fator, observam-se também

algumas restrições quanto à disponibilidade tanto da tecnologia quanto da velocidade de

transmissão desejada. Em termos práticos, trabalha-se em WAN tipicamente com vazões

da ordem de alguns megabits por segundo (Mbps) para grupos de usuários.

O resultado das considerações discutidas é que a garantia de QoS é certamente

mais crítica em redes metropolitanas (MAN) e redes de longa distância (WAN) pelo

somatório de dois fatores, ambos negativos:

• trabalha-se com velocidades (vazão) mais baixas;

• a latência (atrasos) é muito maior quando se compara com o cenário das redes

locais.

O terceiro fator que contribui para a latência da rede é a contribuição de atraso

referente ao processamento realizado nos equipamentos. A título de exemplo, numa rede

IP os pacotes são processados ao longo do percurso entre origem e destino por:

• roteadores (comutação de pacotes)

• LAN Switches (comutação de quadros)

• servidores de acesso remoto (RAS) (comutação de pacotes, outros)

• firewalls (processamento no nível de pacotes ou no nível de aplicação)

Considerando que a latência é um parâmetro fim-a-fim, os equipamentos finais

(hosts) também têm sua parcela de contribuição para o atraso. No caso dos hosts, o

atraso depende de uma série de fatores, a saber:

• capacidade de processamento do processador;

• disponibilidade de memória;

• mecanismos de cache;

• processamento nas camadas de nível superior da rede (Programa de

aplicação, camadas acima da camada IP, etc.);

Page 31: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

26

• Outros

Em resumo, observe-se que os hosts são também um fator importante para a

qualidade de serviço e, em determinados casos, podem ser um ponto crítico na garantia

de QoS.

Esta consideração é particularmente válida para equipamentos servidores

(Servers) que têm a tarefa de atender solicitações simultâneas de clientes em rede.

3.4 JITTER

O jitter é um outro parâmetro importante para a qualidade de serviço. No caso, o

jitter é importante para as aplicações executando em rede cuja operação adequada

depende de alguma forma da garantia de que as informações (pacotes) devem ser

processadas em períodos de tempo bem definidos. Este é o caso, por exemplo, de

aplicações de voz e fax sobre IP (VoIP) e aplicações de tempo real.

Do ponto de vista de uma rede de computador, o jitter pode ser entendido como

a variação no tempo e na seqüência de entrega das informações (p. ex.: pacotes)

(Packet-Delay Variation) devido à variação na latência (atrasos) da rede.

Conforme discutido no item anterior, a rede e seus equipamentos impõem um

atraso à informação (p. ex.: pacotes) e este atraso é variável devido a uma série de

fatores, a saber:

• tempos de processamento diferentes nos equipamentos intermediários

(roteadores, switches, etc.);

• tempos de retenção diferentes impostos pelas redes públicas (Frame Relay,

ATM, X.25, IP) e outros fatores ligados à operação da rede.

A figura 7 ilustra o efeito do jitter entre a entrega de pacotes na origem e o seu

processamento no destino. Caso houvesse uma taxa de transmissão constante com

intervalo de 20 ms entre a transmissão de um pacote e outro tais pacotes deveriam

chegar ao destino com intervalo de 20 ms. Porém como cada pacote pode trafegar na

rede por diferentes rotas e diferentes meios esse tempo de chegada pode variar. Fato

este que diminuiria a qualidade do serviço.

Page 32: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

27

Figura 7 - Variação de tempo da chegada dos pacotes no destino

O jitter causa não somente uma entrega com periodicidade variável (Packet-

Delay Variation) como também a entrega de pacotes fora de ordem. Em princípio, o

problema dos pacotes fora de ordem poderia ser resolvido com o auxílio de um protocolo

de transporte como o TCP que verifica a seqüência das mensagens e faz as devidas

correções. Entretanto, na prática tem-se que a grande maioria das aplicações multimídia

optam por utilizar o UDP ao invés do TCP pela maior simplicidade e menor overhead

deste protocolo. Nestes casos, o problema de sequenciamento deve ser resolvido por

protocolos de mais alto nível normalmente incorporados à aplicação como, por exemplo, o

RTP (Real Time Transfer Protocol).

O jitter introduz distorção no processamento da informação na recepção e deve

ter mecanismos específicos de compensação e controle que dependem da aplicação em

questão. Genericamente, uma das soluções mais comuns para o problema consiste na

utilização de buffers (Técnica de "buffering").

3.5 PERDAS

As perdas de pacotes em redes IP ocorrem principalmente em função de fatores

tais como:

• descarte de pacotes nos roteadores e switch routers (Erros, congestionamento,

etc.);

• perda de pacotes devido à erros ocorridos na camada 2 (PPP - Point-to-Point

Protocol, Ethernet, Frame Relay, ATM) durante o transporte dos mesmos.

Page 33: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

28

De maneira geral, as perdas de pacotes em redes IP são um problema sério

para determinadas aplicações como, por exemplo, a voz sobre IP. Neste caso específico,

a perda de pacotes com trechos de voz digitalizada implica numa perda de qualidade

eventualmente não aceitável para a aplicação. O que fazer em caso de perdas de pacotes

é uma questão específica de cada aplicação em particular.

Do ponto de vista da qualidade de serviço da rede (QoS) a preocupação é

normalmente no sentido de especificar e garantir limites razoáveis (Taxas de Perdas) que

permitam uma operação adequada da aplicação.

3.6 DISPONIBILIDADE

A disponibilidade é um aspecto da qualidade de serviço abordada normalmente

na fase de projeto da rede. Em termos práticos, a disponibilidade é uma medida da

garantia de execução da aplicação ao longo do tempo e depende de fatores tais como:

• disponibilidade dos equipamentos utilizados na rede proprietária (Rede do

cliente) (LAN, MAN ou WAN);

• disponibilidade da rede pública, quando a mesma é utilizada (Operadoras de

telecomunicações, carriers, ISPs - Internet Service Providers).

As empresas dependem cada vez mais das redes de computadores para a

viabilização de seus negócios (comércio eletrônico, home-banking, atendimento online,

transações online) e, neste sentido, a disponibilidade é um requisito bastante rígido. A

título de exemplo, requisitos de disponibilidade acima de 99% do tempo são comuns para

a QoS de aplicações WEB, aplicações cliente/ servidor e aplicações de forte interação

com o público, dentre outras.

3.7 SEGURANÇA

Segurança é um fator que sempre deve ser considerado essencialmente em

redes corporativas, seja em aplicações de tempo-real ou não. Para manter a qualidade de

serviço o acesso à rede deve ser permitido somente a pessoas autorizadas. Deve-se

também evitar ataques denial-ofservice (DoS) colocando endereços IPs não válidos para

os equipamentos de voz.

Page 34: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

29

Como a rede utiliza o protocolo IP existem métodos de tornar as informações

mais confiáveis e menos suscetíveis a ataques através da utilização de criptografia que já

é suportada nativamente pela versão 6 do IP (IPv6).

3.8 CONFIABILIDADE

Algumas providências devem ser tomadas em relação à confiabilidade da rede

como um todo. Uma solução para aumentar a confiabilidade seria usar equipamentos e

links redundantes. Isso deixaria a rede menos suscetível a falhas e aumentaria assim a

qualidade do serviço.

Page 35: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

30

4. QoS - ALTERNATIVAS TÉCNICAS

Uma vez identificado os parâmetros relacionados com a qualidade de serviço

das aplicações, discute-se os protocolos, mecanismos e algoritmos utilizados na

implementação efetiva da qualidade de serviço.

Para adicionar recursos de qualidade de serviços à pilha TCP/IP, dois modelos

de classes de serviços para tráfego Internet estão sendo considerados e desenvolvidos

pela IETF: o primeiro refere-se aos serviços diferenciados, denominado Differentiated

Services (DIFFSERV) ou ainda de Soft QoS, que provê um tratamento diferenciado, com

preferência estatística, a determinados tipos de fluxo; e o segundo refere-se aos serviços

integrados ou Integrated Services (INTSERV), também chamado de Hard QoS, que

fornece uma garantia absoluta na alocação dos recursos da rede.

As alternativas IntServ e DiffServ não são concorrentes ou mutuamente

exclusivas. Na realidade, estas são soluções complementares que podem ser utilizadas

conjuntamente. Uma alternativa de uso conjunto das duas soluções seria a utilização do

DiffServ no backbone de roteadores (core), na medida em que é uma solução mais "leve"

e o IntServ RSVP nas redes de acesso, na medida em que fornece um bom controle com

granularidade dos requisitos de QoS das aplicações.

Além dessas, existem outras alternativas técnicas básicas para a implantação de

qualidade de serviço em redes IP, são as seguintes:

• MultiProtocol Label Switching (MPLS);

• Subnet Bandwidth Management (SBM);

• dimensionamento e soluções proprietárias.

Todas as alternativas citadas, excetuando-se as soluções proprietárias, são

iniciativas do IETF. O IETF está fortemente empenhado em propor um conjunto de

soluções para os mecanismos de controle de QoS que garanta a interoperabilidade dos

mesmos entre diferentes fornecedores. Isto se dá em função da importância das redes IP

para o suporte de novas aplicações multimídia, tempo real, etc.

Porém, não é o objetivo principal deste trabalho se aprofundar nos mesmos.

Serão abordados mecanismos de controle e inibição de congestionamento, técnicas de

controle de tráfego com classificação e priorização de fluxo. Além disso, são

apresentadas algumas comparações entre as técnicas abordadas, mas tudo sem se

prender às denominações e classificações dos modelos definidos pela IETF.

Page 36: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

31

4.1 CONTROLE E INIBIÇÃO DE CONGESTIONAMENTO

Há vários mecanismos de enfileiramento para controle e prevenção de

congestionamento em interfaces de roteadores (Ethernet, seriais, Frame Relay, etc.) e

switches nível 3, aplicáveis tanto em redes WAN como em LAN. As principais são

apresentadas a seguir.

4.1.1 FIFO - FIRST IN FIRST OUT

Em geral, o controle de tráfego nas conexões seriais dos roteadores é

implementado através de filas FIFO (o primeiro a entrar é o primeiro a sair). Uma fila FIFO

é um mecanismo de armazenamento e repasse (store and forward) que não implementa

nenhum tipo de classificação.

A ordem de chegada dos pacotes é que determina a alocação da banda, e o que

chega primeiro é logo atendido. É o tratamento default da fila nos roteadores, já que não

requer nenhuma configuração. O problema ocorre em tráfego de rajada, que pode causar

longos atrasos em aplicações sensíveis ao tempo. Por isso, filas FIFO não servem para

aplicações que requerem QoS.

4.1.2 ENFILEIRAMENTO FAIR QUEUEING

No algoritmo de Enfileiramento Fair Queueing (enfileiramento justo), as

mensagens são ordenadas em sessões, e, para cada sessão, é alocado um canal. A

ordem na fila é realizada através do último bit que atravessa o canal. Essa operação

provê uma alocação mais justa da banda entre os fluxos de dados.

O algoritmo WFQ - Weighted Fair Queueing é uma implementação Cisco na qual

é possível ponderar determinados tipos de fluxo. O algoritmo escalona o tráfego prioritário

(interativo) para frente da fila, reduzindo o tempo de resposta. Ao mesmo tempo,

compartilha o restante da banda com os outros tipos de fluxo de uma forma justa. O WFQ

é dinâmico e se adapta automaticamente às mudanças das condições de tráfego, sendo

bastante útil em conexões seriais de baixa velocidade até 2 Mbps.

Por apresentar um desempenho superior à fila FIFO, a fila WFQ já vem pré-

configurada nas interfaces seriais dos roteadores Cisco.

Page 37: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

32

A classificação dos fluxos de dados pode ser realizada de diversas formas: por

endereço fonte ou destino, por protocolo, pelo campo precedência IP, pelo par

porta/socket, etc. A quantidade de filas é configurável e a ponderação pode ser

estabelecida por precedência IP, ou em conjunto com outros protocolos de QoS como o

Resource reSerVation Protocol (RSVP), ou ainda em tráfego Frame Relay, como VoFR

(Voice over Frame Relay) por exemplo, através dos parâmetros Forward Explicit

Congestion Notification (FECN), Backward Explicit Congestion Notification (BECN) e

Discard Eligible (DE).

4.1.3 ENFILEIRAMENTO PRIORITY QUEUEING

Numa fila com Enfileiramento Priority Queueing - PQ (enfileiramento prioritário),

o tráfego de entrada é classificado em quatro níveis de prioridade: alta, média, normal e

baixa (high, medium, normal e low). Os pacotes não classificados são marcados, por

default, como normal.

Durante a transmissão, o tráfego classificado e marcado como prioritário tem

preferência absoluta. Por isso, este método deve ser utilizado com cuidado, para evitar

longos atrasos e aumento de jitter nas aplicações de menor prioridade. Num caso

extremo, o tráfego de menor prioridade pode até nunca ser transmitido, se o de maior

prioridade tomar toda a banda. Isso pode acontecer em conexões de baixa velocidade.

Além disso, a fila default sempre tem que ser habilitada. Caso contrário, todo fluxo não

classificado (sem uma correspondente lista de prioridade) também poderá não ser

enviado.

Há várias opções de classificação de tráfego numa fila PQ. A classificação pode

ser por protocolo (p. ex. IP), por interface de entrada ou por lista de acesso.

4.1.4 ENFILEIRAMENTO CUSTOM QUEUEING

O algoritmo da fila Custom Queueing (CQ) permite especificar uma percentagem

da banda para uma determinada aplicação (alocação absoluta da banda). A banda

reservada é compartilhada proporcionalmente, no percentual pré-definido, entre as

aplicações e os usuários. O restante da banda é compartilhado entre os outros tipos de

tráfego.

Page 38: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

33

O algoritmo CQ controla o tráfego alocando uma determinada parte da fila para

cada fluxo classificado. As filas são ordenadas ciclicamente num esquema round-robin,

onde, para cada fila, é enviado a quantidade de pacotes referente à parte da banda

alocada antes de passar para a fila seguinte. Associado a cada fila, há um contador

configurável que estabelece quantos bytes devem ser enviados antes da passar para a

próxima fila.

Até 17 filas podem ser definidas, mas a fila zero é reservada para mensagens

dos sistemas como sinalização, keep-alive, etc. A classificação CQ pode ser feita por

endereço fonte ou destino, por protocolo (p. ex. IP), por precedência IP, por interface de

entrada e ainda por listas de acesso.

A seguir, apresenta-se algumas considerações sobre a escolha de qual método

utilizar. De fato, estas são as diretrizes básicas nas considerações iniciais de um projeto

VoIP, porém, na prática o que prevalecerá será o método e a configuração dos

respectivos parâmetros que se enquadrem nas condições do projeto. Então se deve ter

disponibilidade de banda nas conexões WAN, topologia do backbone, roteamento estático

ou dinâmico, etc. e que produzir uma boa qualidade subjetiva do sinal de voz.

4.1.5 A DETECÇÃO RANDOM EARLY DETECTION (RED)

A detecção Random Early Detection - RED (detecção randômica antecipada) é

um mecanismo para prevenção e inibição de congestionamento ou congestion avoidance.

O algoritmo monitora o tráfego antecipadamente utilizando as funções de controle de

congestionamento TCP, descartando pacotes aleatoriamente e indicando para a fonte

reduzir a taxa de transmissão, evitando assim situações de congestionamento antes que

ocorra picos de tráfego. Quando habilitado numa interface, o RED começa a descartar

pacotes a uma taxa que pode ser previamente configurada.

WRED, ou Weighted RED, é uma implementação da Cisco que combina as

funcionalidades do RED com a classificação de pacotes por precedência IP. Baseado

nessa classificação, o WRED descarta pacotes seletivamente, descartando inicialmente

os pacotes de menor prioridade, com diferentes pesos para cada classe.

É possível desabilitar a classificação precedência IP e habilitar o descarte com

base apenas no tamanho do buffer da fila; ou ainda utilizar o WRED em conjunto com o

Resource reSerVation Protocol (RSVP) para se obter um descarte mais seletivo. Nesse

Page 39: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

34

caso, antes que ocorra uma situação de congestionamento, os fluxos de menor prioridade

nas sessões RSVP serão descartados antes dos outros de maior prioridade.

WRED é útil em qualquer interface na qual a possibilidade de congestionamento

seja eminente. Entretanto, é geralmente utilizado em roteadores centrais de backbone

(core routers), com a precedência IP habilitada pelos roteadores de acesso (edge

routers).

4.2 EFICIÊNCIA EM CONEXÕES

Obter a melhor eficiência nas conexões com voz sobre IP significa, neste caso,

fazer um melhor uso da banda com os protocolos associados às aplicações de voz, com

uma boa qualidade. Utilizando protocolos de compressão de dados, pode-se obter uma

maior economia de banda e, com tecnologias para fragmentação e interleaving, obtém-se

uma melhor qualidade do sinal de voz. Os protocolos descritos a seguir realizam tais

funções.

4.2.1 COMPRESSÃO RTP

O protocolo Compressed Real-time Transport Protocol (CRTP) comprime o

cabeçalho do pacote RTP, que transporta o tráfego de voz. A Figura 8 mostra formação

de um pacote RTP. O campo de dados (payload) de um pacote IP de voz é composto

pelo pacote RTP, que transporta o sinal de voz propriamente dito, encapsulado num

pacote UDP.

Figura 8 - Encapsulamento de pacote VoIP

O tamanho do cabeçalho RTP é de 12 bytes, o do UDP de 8 bytes e do IP de 20

bytes, totalizando 40 bytes. Considerando o payload IP de 20 bytes, só de cabeçalho

teríamos 66,66% da banda da conexão.

Com isso surgiu o protocolo CRTP, que, na maior parte do tempo, consegue

uma compressão de cabeçalho de 40 para 2 bytes, ou para 4 se considerarmos o

checksum UDP. Essa compressão corresponde a uma redução de até 95% na

sobrecarga (overhead) referente aos cabeçalhos.

Page 40: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

35

A operação CRTP é simples. O tráfego total destinado a uma determinada

interface é classificado, e o que for RTP é separado para compressão. O tráfego RTP é,

então, processado num compressor e colocado novamente na fila para ser transmitido.

A compressão CRTP é bastante útil em conexões de baixa velocidade (64 Kbps,

p. ex.), mas também possui desvantagens. Se for habilitada compressão RTP, o roteador

só funcionará em process switch em vez de fast switch, o que, combinado com a

sobrecarga da execução CRTP, pode causar queda de desempenho do mesmo. Portanto,

o uso do CRTP não é sugerido em enlaces de alta velocidade, uma vez que a relação

custo versus benefício pode não compensar.

4.2.2 FRAGMENTAÇÃO E INTERLEAVING

No modelo apresentado na Figura 4, considere a existência de uma sessão File

Transfer Protocol (FTP) entre os dois pontos. Se, no momento da chegada de um pacote

de voz, o roteador estiver processando um grande pacote FTP, o sinal de voz para o

receptor chegará com pausas e, subjetivamente, soará como soluços. Se as pausas

forem demoradas, o sinal pode até perder a inteligibilidade. Isso acontece, principalmente,

em conexões com grande Maximum Transmission Unit (MTU). Essa situação é bastante

inadequada para tráfego sensível a retardo.

As técnicas de fragmentação e interleaving, ou Link Fragmentation and

Interleaving (LFI), amenizam esse problema. A fragmentação consiste em quebrar, ou

fragmentar, grandes datagramas ("jumbogramas") em partes menores. Já as técnicas de

interleaving intercalam os pacotes menores, incluindo os de voz, entre os "pedaços" do

"jumbograma" para posterior transmissão. Essas técnicas são bastante úteis em enlaces

de baixa velocidade, reduzindo o atraso e a variação deste, o chamado jitter.

4.3 CONFORMIDADE E POLICIAMENTO DE TRÁFEGO

4.3.1 GENERIC TRAFFIC SHAPING

Generic Traffic Shaping, ou GTS como chamada, (em português conhecido

como Conformidade de Tráfego) provê mecanismos para controle de tráfego utilizando

Page 41: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

36

filtros conhecidos como token bucket6, limitando o tráfego de saída de uma interface a

uma determinada taxa. O tráfego classificado vai para um buffer limitador, sendo liberado

sob regras pré-definidas de acordo uma política de controle de tráfego, que pode ser

configurada pelo administrador ou derivada da interface.

Conformidade de tráfego pode ser útil em vários casos. Por exemplo, para limitar

o tráfego de rajada de forma a não prejudicar o tráfego prioritário, reduzindo assim a

latência; ou, em situações de congestionamento, para limitar um determinado tipo de

tráfego não sensível a retardo, como transferência de arquivos, eliminando possíveis

gargalos.

A GTS aplica-se apenas em interfaces de saída, com o uso de listas de acesso

para classificar e selecionar o tráfego. Funciona com qualquer tecnologia de enlace (nível

2) como Frame Relay, ATM (Asyncronous Transfer Mode), Switched Multimegabit Data

Service (SMDS) e Ethernet.

4.3.2 POLICIAMENTO OU COMMITTED ACCESS RATE (CAR)

O Committed Access Rate (CAR) é o método para policiamento e controle de

tráfego IP que realiza, basicamente, duas funções para qualidade de serviço:

• gerenciamento de banda com limitação de taxa de acesso (policing) - permite

controlar a taxa máxima de transmissão ou recepção de dados de uma

determinada interface. O tráfego CAR é transmitido ou recebido, enquanto os

pacotes que excedem os limites pré-definidos, ou são descartados, ou são

reclassificados com outra prioridade para retransmissão;

• classificação de pacotes através de precedência IP ou de grupos de QoS (um

rótulo interno do roteador utilizado para definição de classes - permite

particionar a rede em múltiplas classes de serviços ou níveis de priorização).

Para isso, utilizando também o mecanismo token bucket, o CAR examina o

tráfego recebido na interface ou parte do tráfego selecionado pelos critérios das listas de

acesso, compara a taxa de tráfego com a do token bucket e, de acordo com o resultado,

6 Token Bucket é uma definição formal para taxa de transferência. Possui três componentes: um amanho de rajada em bits (burst size), também chamado de committed burst (BC) que especifica o quanto pode ser enviado num determinado intervalo de tempo; uma taxa média (mean rate) em bps, também chamada de CIR (Committed Information Rate), que especifica o quanto de dados, na média, pode ser enviado por unidade de tempo; e um intervalo de tempo (TC) em segundos, intervalo de medida que especifica o tempo por rajada.

Page 42: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

37

toma uma ou várias ações. Ou seja, pode transmitir o pacote, descartá-lo ou reclassificá-

lo com outro nível de prioridade, etc.

Os tokens são inseridos no balde na mesma taxa CIR. A profundidade do balde

é o tamanho da rajada (burst size). Se houver tokens suficientes quando o tráfego chega

ao balde, então o tráfego é dito estar em conformidade e a quantidade correspondente de

tokens é removida. Se não houver tokens suficientes, então o tráfego é dito excessivo.

Os critérios de seleção de tráfego podem ser baseados em todo tráfego IP, em

precedência IP, em listas de acesso (padrão ou estendida), em endereço MAC ou, ainda,

em grupos de QoS. O endereço MAC e a precedência IP podem ser definidos através de

listas de acesso rate-limit.

Com o CAR, pode-se limitar o tráfego por aplicação (Web, FTP, etc), por

interface (p. ex., uma conexão serial a 2 Mbps, mas com acesso limitado em 512 Kbps),

por endereço MAC (p. ex., controle de tráfego em Pontos de Troca de Tráfego (PTT)), ou

pode-se classificar ou reclassificar todo o tráfego de entrada num backbone a partir dos

roteadores de borda, para tratamento diferenciado em termos de qualidade de serviços. O

quadro 5 abaixo apresenta as diferenças entre CAR e GTS:

Quadro 5 - Comparação entre CAR e GTS

CAR GTS

Aplica-se em tráfego de entrada e de saída Aplica-se apenas em tráfego de saída

Não "buferiza" nem molda tráfego Molda e suaviza o tráfego

Pode marcar pacotes (ex: precedência IP) Não possui essa funcionalidade

Em Frame Relay, não suporta FECN e nem

BECN

Suporta FECN e BECN em Frame

Relay

Suporta políticas em cascata Não suporta essa funcionalidade

Não suporta uso com RSVP Suporta RSVP quando usa WFQ

Suporta listas padrões e estendidas Suporta apenas listas estendidas

Gerência o descarte entre o normal_burst e o

extended_burst Não suporta essa funcionalidade

Executa no modo distribuído (VIP do 7500) Não suporta essa funcionalidade

Fonte: Qualidade de Serviço em VoIP II [SILVA, 2001]

Page 43: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

38

5. VOZ SOBRE IP (VoIP)

Durante a explosão da internet, nos anos 90, a rede pública telefônica de linha

discada era amplamente utilizada para o fluxo de dados. Com o advento e a evolução dos

canais de banda larga surgiu a possibilidade do tráfego de voz na rede de dados. Esse é

o princípio de funcionamento da mais recente tecnologia surgida no mercado da

telecomunicação, denominada telefonia IP (Internet Protocol). Na figura 9 mostra-se a

telefonia pública atual. Uma conexão de voz igual a 64 Kbps e um canal E1(G703/G704)

igual a 30 conexões de voz.

Figura 9 – Rede telefônica tradicional usa canais TDM para transporte da voz

Já existem hoje alguns órgãos que padronizam o tráfego de voz sobre ATM,

sobre IP e sobre Frame Relay, além de seus protocolos, como mostra o quadro abaixo,

porém não serão dadas, no projeto, características desses órgãos e nem especificidades

que venham a ocorrer em suas tecnologias, diferentes da tecnologia IP, apresentando no

máximo algumas comparações entre as mesmas. [BASTOS, 1999]

Quadro 6 – Comparação entre diferentes tecnologias e seus protocolos

Voz Sobre ATM Sobre IP Sobre FR

Órgão de Padronização ATM Fórum IMTC7 Frame Relay Forum

Padrões AAL1/CES

AAL2 AAL5

H.323 RTP

MGCP SIP

FRF.11 FRF.12

Fonte: Voz sobre IP [BARROS, 1999]

7 International Multimedia Telecommunications Consortium (IMTC) é uma corporação fundada para promover a criação e adoção de padrões internacionais para "Multipoint videoconferencing" e "Document Conferencing".

PBX PBX Telefonia Pública

Page 44: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

39

Quadro 7 – Comparativo das tecnologias de rede para a transmissão de voz

Tecnologias de Rede PSTN8 Frame Relay

Intranet (IP)

Internet (IP) ATM

Economia de custos Baixo Alto Alto Muito alto Baixo

Desempenho Alto Alto Moderado Muito Baixo

Alto

Utilização mundial Alto Moderado Moderado Alto Baixo

Aplicações em potencial Baixo Baixo Alto Alto Baixo

Fonte: Fonte: Voz sobre IP [BARROS, 1999]

Algumas empresas hoje de médio e grande porte possuem pontos de presença

em várias cidades, estados e até países. Suas redes locais de computadores geralmente

são interligadas através dos backbones das concessionárias de telecomunicações,

formando assim uma única rede corporativa, utilizando na maior parte das vezes o

protocolo IP. Essas redes são utilizadas, na maioria dos casos, para acesso a banco de

dados, transferência de arquivos, envio de mensagens, etc. Sabe-se também que

geralmente há um grande número de ligações telefônicas entre seus diversos pontos de

presença, ocasionando assim um custo considerável.

Com o objetivo de diminuir este custo e aproveitar uma possível ociosidade da

rede, foi desenvolvida uma tecnologia, denominada VoIP (Voz sobre IP), que permite

utilizar a rede IP para trafegar, além de dados, também voz e conseqüentemente reduzir

de forma considerável, dependendo do caso, o custo com ligações telefônicas.

Para que a voz seja transmitida através de uma rede IP, utilizando o protocolo

UDP da camada de transporte, ela primeiramente deve ser codificada. Ou seja, deve-se

transformar o sinal analógico da voz em um sinal digital para que o mesmo possa fazer

parte do campo de dados de um pacote IP. Tal codificação é feita utilizando-se

equipamentos especiais, que além de codificar também irão comprimir os dados. Tais

dispositivos são chamados de coders. Os mais modernos além de comprimir ainda fazem

supressão de silêncio e cancelamento de eco.

A Figura 10 mostra o processo de codificação e empacotamento das

mensagens.

8 Public Switched Telephone Network (Rede Comutada de Telefonia Pública) - é a rede de telecomunicações que torna possível chamadas telefônicas.

Page 45: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

40

Figura 10 - Codificação e encapsulamento do fluxo de voz em pacotes IP.

Atualmente, as empresas estão avaliando o transporte de voz sobre as redes IP

para reduzir os custos de telefonia e fax, com a vantagem de utilização de aplicações

multimídia avançadas. Os serviços de transmissão de voz sobre redes IP possibilitam a

integração aos serviços de dados e vídeo, tornando realidade às convergências dos

serviços. A tecnologia de voz sobre IP (VoIP) adota padrões internacionais. Os desafios

encontrados pelos provedores de telecomunicações para liberar produtos comerciais

estão começando a ser vencidos. Esses desafios incluem a interoperacionalidade entre

redes, perda de pacotes, retardo (delay), escalabilidade e confiabilidade. A Internet e as

Intranet corporativas estão sendo habilitadas para transportar todo o tráfego de voz

requerido pelas organizações.

A tecnologia VoIP tem sido utilizada com o intuito de trazer grandes benefícios

quando aplicada em redes privadas, pois sua utilização na Internet ainda não é confiável

e não apresenta uma boa qualidade, devido ao alto tráfego de dados. O fato de a

tecnologia VoIP ser ainda emergente não é um fator de inibição, pois existe uma grande

aceitação do mercado para a mesma.

5.1 LIMITAÇÕES DAS REDES IP PARA TRANSMISSÃO DE VOZ

As redes baseadas no protocolo IP oferecem algumas limitações para garantir

uma qualidade de voz e estas surgem em virtude das redes baseadas em IP serem redes

de comutação de pacotes, em contrapartida, as redes telefônicas convencionais são

redes de comutação de circuitos.

Page 46: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

41

A comutação de circuitos é uma técnica de comunicação, onde a principal

característica é a necessidade de se estabelecer um caminho fim-a-fim, antes que

qualquer dado possa ser enviado. É reservada estaticamente a largura de banda

necessária com antecedência e o que não for utilizada em circuito alocado é

simplesmente desperdiçada.

A comutação de pacotes é uma técnica de comunicação, onde a largura de

banda somente é usada quando é preciso e a banda não utilizada pode ser utilizada por

outros pacotes entre origens e destinos não associados, pois os circuitos nunca são

dedicados. [TANENABAUM, 1997]

Nas redes de comutação de circuitos, um caminho fim a fim é estabelecido ao se

efetuar a conexão entre o transmissor e o receptor. É estabelecida uma banda e demais

recursos da rede, que por sua vez ficam dedicados somente durante àquela conexão,

sem compartilhamento. Assim garante-se qualidade de serviço (QoS - Quallity of Service),

mas perde-se na eficiência dos recursos da rede, pois mesmo se não for transmitido nada

na banda alocada, ela se encontrará inutilizada, pois não há compartilhamento de

recursos.

As redes de comutação de pacotes compartilham recursos entre os diversos

usuários que desejam transmitir. E como não é alocado um caminho dedicado a uma

conexão cada pacote pode percorrer uma rota diferente, ou seja, geralmente perde-se a

seqüência dos pacotes transmitidos. Nessa rede também é preciso o processamento dos

nós intermediários de uma conexão.

Outra dificuldade para a voz, a qual exige cadência, está relacionado ao fato de

as redes IP trabalharem com o "melhor esforço" (best effort). Assim, todos os pacotes são

tratados de forma igual, sem prioridades entre eles ou discriminação entre os diversos

tipos de tráfegos. Quando um pacote chega na fila do roteador, FIFO (First In First Out)

primeiro que entra é o primeiro que sai, ele não pode "furar" fila. Se houver espaço nos

buffers dos roteadores, o pacote é armazenado para transmissão e, caso contrário, ele é

descartado. [DELFINO, 1999]

Atrasos são outras barreiras para os pacotes de voz. Eles podem ser de dois

tipos: fixos ou variáveis (jitter). Os atrasos fixos causam desconforto na conversação e os

variáveis, atrapalham a cadência na transmissão da voz.

Os atrasos fixos podem ocorrer por diversos motivos:

• compressão: tempo gasto na codificação da voz;

• entre processos: atraso em devido aos handoffs entre os roteadores da rede;

Page 47: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

42

• transmissão: limitações de velocidade dos enlaces;

• rede: uma função da capacidade da rede;

• buffer: em função do tamanho do buffer;

• descompressão: tempo gasto na descompressão.

Os atrasos variáveis são decorrentes do tráfego e do congestionamento da rede.

Estes são causados principalmente pelo enfileiramento dos pacotes nos roteadores.

Atrasos da ordem de 150ms (para alguns, 250ms) são considerados intoleráveis para

transmissão de voz, pois causam perda de interatividade. Valores mais altos do que isto,

porém, podem ser atingidos, em algumas situações, na Internet.

5.1.1 FONTES DE ATRASO EM TRANSMISSÃO DE VOZ EM REDES DE PACOTE

Não só os atrasos, mas também de fundamental consideração são as perdas

existentes na rede. Para o tráfego de voz codificado sem compressão, elas não são tão

importantes. Contudo, ao comprimirmos a voz, estaremos aumentando a sensibilidade em

relação às perdas. Apesar do protocolo TCP tentar garantir a recuperação contra

congestionamento e perdas, uma garantia maior só é obtida utilizando uma banda maior

disponível, bem como uma melhoria no tempo de processamento dos nós.

Outro problema a ser considerado é a escassez de banda. A conversação

normal possui intervalos de silêncio, o que pode gerar um desperdício de recursos em se

tratando de alocar uma possível banda fixa, como ocorre com a telefonia convencional.

Para finalizar, é possível mencionar também como uma dificuldade que se

afigura o uso do protocolo UDP como transporte para aplicação de voz. Este protocolo,

que não efetua a reordenação, nem a recuperação por retransmissão, tem a vantagem de

ser o mais adequado para se manter a cadência da conversação. Além do mais, existe

alguma tolerância a perdas quando se trata da transmissão de voz. Contudo, o UDP é o

tipo datagrama, mas não possui controle de congestionamento algum. Por isso, ele pode

ser um emissor agressivo para a rede, gerando, assim, congestionamento.

Em contraponto a todas essas dificuldades, serão mostradas a seguir as

tecnologias que estão em desenvolvimento, ou já estão estabelecidas, que permitem

contornar estes obstáculos.

Para resolver os problemas relacionados ao congestionamento e atrasos,

podemos empregar mecanismos de controle de congestionamento e atribuição de

prioridades. A priorização pode ser mais eficiente, quando empregada com outras

Page 48: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

43

técnicas que aceleram o fluxo dos pacotes de voz. Os algoritmos de priorização podem

limitar dinamicamente o tamanho dos quadros de dados, se há presença de pacotes de

voz, podendo assim se conseguir um enfileiramento de pacotes de dados à frente de

qualquer pacote de voz. Consegue-se assim, diminuir os tempos de enfileiramento dos

pacotes de voz, garantindo um bom desempenho por parte da transmissão de dados,

caso o fluxo de voz não esteja em uso. Já quanto ao controle de congestionamento,

alguns métodos como a priorização de pacotes UDP, estão emergindo para garantir o

tráfego de voz fluindo suavemente.

Além disso, os roteadores devem empregar técnicas de bufferização e

ocultamento de erros, para compensar os atrasos e perdas de pacotes que ocorrem de

forma inevitável. Buffer na extremidade receptora enfileiram uma pequena quantidade de

pacotes, antes de sua execução, eliminando as variações de atrasos que podem ocorrer

na rede. Podem ser implementados métodos de estimação do conteúdo de pacotes

perdidos baseados nos pacotes previamente enviados, de forma a repor a informação

ausente.

Como forma de melhorar a banda deve-se empregar algoritmos de compressão

de voz e supressão de silêncio. Com a compressão, consegue-se obter áudio de boa

qualidade numa banda menor. Os algoritmos de compressão empregam a supressão de

silêncio, eliminando as pausas, que ocupam até 40% da conversação telefônica, e

ocupando a banda por outros pacotes quando intervalos de silêncio ocorrem. Entretanto,

há que se levar em consideração que com a compressão, os pacotes de voz aumentam a

sensibilidade a perdas, donde vemos a importância dos mecanismos que evitam tais

características.

Outro problema que pode irritar o ouvinte durante a conversação telefônica é o

eco. Assim, deve-se empregar algoritmos de cancelamento de eco de forma a evitar tais

incômodos. Os algoritmos mais modernos modelam padrões matemáticos da

conversação humana e subtraem no caminho de transmissão. Para funcionar de forma

eficiente, esta técnica deve ser empregada no mesmo roteador que faz a codificação de

voz.

Os mecanismos que estão implementados, ou são assuntos de pesquisa no

ambiente Internet, para garantir QoS para a transmissão de voz são:

• Resource reSerVation Protocol (RSVP): primeiro padrão industrial para garantir

QoS em redes heterogêneas. O RSVP é um protocolo de sinalização que tem

a capacidade de requisitar um determinado nível de QoS através da rede. Ele

Page 49: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

44

carrega o pedido pela rede visitando cada nó que a rede usa para carregar o

fluxo. O RSVP deve ser implementado nó a nó, implicando em problemas de

escalabilidade.

• Real Time Transport Protocol (RTP) e Real-Time Control Protocol (RTCP): O

RTP é constituído por uma parte de dados e outra de controle, RTCP. Realiza

a reconstrução de temporização, a detecção de perdas e identificação de

conteúdo. O RTCP dá suporte a conferência em grupo, ou seja, identificação

de fontes e suporte a roteadores de nível 2 (bridges) para áudio e vídeo,

também dá suporte a tradutores de multicast para unicast. Como a sobrecarga

do uso do IP-UDP-RTP é grande, 40 octetos, é adotada a verão CRTP, com

compressão de cabeçalho para um valor de 2 a 4 octetos.

• Suavização de Tráfego: Taxa Média = (Tamanho de Rajada) / (Intervalo). Por

definição, a taxa de transmissão não excederá a taxa média.

• Política de escalonamento - Prioridades Weighted Fair Queuing (WFQ) e

Random Early Detection (RED): O tráfego entrante é associado a uma fila. A

fila com maior prioridade é servida até que se esvazie e assim pacotes nas

outras filas vão sendo servidos. Os tráfegos críticos vão ficar com maior banda

causando prejuízo aos outros tráfegos (starvation). O WQF evita que o tráfego

chegue a uma situação de starvation, pois ele divide a banda com "justiça".

Esse mecanismo diminui o jitter. O RED é um algoritmo de prevenção contra

congestionamento. Pode-se também implementar pesos (WRED) configurados

no campo ToS (Type of Service) do datagrama IP.

5.2 A ARQUITETURA DO PADRÃO H.323

O padrão H.323 do Internation Telecom Union (ITU-T)9 é um padrão que cobre

diversos tipos de comunicação multimídia em redes locais que não provém QoS

garantida. Este padrão prevê, entre outros [ITU-T RECOMMENDATION H.323, 1996]:

• algoritmos padrões de compressão que devem ser implementados de forma a

garantir a compatibilidade, conhecidos como áudio codecs ou vocders;

• protocolos utilizados para o controle da chamada, estabelecimento dos canais

de comunicação e negociação de qualidade de serviço;

9 Internation Telecom Union (ITU-T), organismo que define padrões para redes de computadores e telecomunicações. Estas redes incluem TCP/IP em cima de Ethernet, Fast Ethernet e Token Ring.

Page 50: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

45

• interoperabilidade com outros terminais de voz, como telefonia convencional,

Rede Integrada de Serviços Digitais (RDSI), voz sobre ATM (Asynchronous

Transfer Mode), e outros, permitindo assim a construção de gateways;

• elementos ativos do sistema e suas funções.

5.2.1 PILHA DE PROTOCOLOS

Segundo [MONTEIRO, 2001], os pacotes de áudio, e vídeo e registro usam o

protocolo UDP enquanto que os pacotes de dados e controle usam o protocolo TCP. O

quadro 8 abaixo mostra a pilha de protocolos do H.323.

Quadro 8 - Pilha de protocolos – H.323

Fonte: Implementação de transporte robusto de voz em rede baseadas em

protocolos IP [BARROS, 1999]

O protocolo H.323 utiliza em suas diversas funcionalidades de uma família de

recomendações ITU-T: sinalização de chamada H.225.0, RAS H.225.0 e o controle de

mídia H.245 [SERGIO, 2001]. O H.225.0 é usado em conjunto como o H.323 e fornece a

sinalização para controle de chamada. Para fazer uma chamada de uma fonte para um

receptor, um canal RAS H.225 é usado. Após o estabelecimento da chamada, o H.245 é

usado para negociar o fluxo de mídia. Além dos protocolos citados acima hoje já se utiliza

o protocolo H.335 para segurança, o H.246 para interoperabilidade com RTPC, e a série

H.450.x para serviços suplementares. Todos os padrões fazem parte da série H de

Recomendações. [SERGIO, 2000].

Aplicações de áudio Aplicações de Vídeo Controle e Gerenciamento

G.711 G.723 G.728 G.729

H.261 H.263

H.225.0

Canal de Sinalização de

Chamada

H.245

Canal de Controle

RTP

RTCP Canal RAS

H.225

X.224 Classe 0

UDP TCP Nível de Rede (IP)

Nível de Enlace Nível Físico

Page 51: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

46

Aplicação e Áudio Codecs e Vídeo Codecs - utiliza o protocolo Real Time

Control Protocol (RTP) para transmissão de pacotes.

H.225.0: RAS Registration, Admission and Status – o canal RAS é usado

para comunicação entre pontos finais e o gatekeeper (componente que age como ponto

central para todas as chamadas dentro de sua zona, além de provê controle de chamada

entre estações). Uma vez que as mensagens RAS são enviadas utilizando-se o UDP (um

protocolo não confiável), o uso de timeouts e retransmissão de mensagens é

recomendado. Os procedimentos definidos por um canal RAS são:

a) descoberta do gatekeeper: este é o processo utilizado pelos pontos finais para

determinar o gatekeeper no qual eles devem se registrar;

b) registro de ponto final: este é o processo pelo qual um ponto final junta-se

uma zona e informa ao gatekeeper sobre seus endereços e de transporte;

c) localização do ponto final: um ponto final ou gatekeeper que possui um

endereço alias de um ponto final e deseja determinar suas informações de

contato pode utilizar uma mensagem específica;

d) mensagens: o canal RAS também é usado para transmissão de mensagens

de admissão, mudança de largura de faixa, status e desligamento.

RTP/RTCP Real Time Protocol / Real Time Control Protocol -usado para

transporte do fluxo de pacotes multimídia, com características de tempo real, executando

também funções de estatísticas de qualidade de serviços, mais detalhes sobre esses

protocolos serão apresentados posteriormente.

H.225.0: Sinalização de chamada - o canal de sinalização de chamada é usado

para carregar mensagens de controle H.225. Em redes que não possuem uma

gatekeeper, as mensagens de sinalização de chamadas são passadas diretamente entre

o ponto que chamou e o que foi chamado, utilizando-se um endereçamento de sinalização

de chamada.

Em redes que contem um gatekeeper, as trocas de mensagens de admissão

iniciais são feitas entre o ponto que chama e o gatekeeper, através de mensagens de

endereçamento RAS.

H.245: Controle de conferência e mídia - o H.245 é o protocolo de controle de

mídia que os sistemas H.323 utilizam depois que a fase de estabelecimento de chamada

foi completada. O H.245 é usado para negociar e estabelecer todos os canais de mídia

conduzidos pelo RTP/RTCP.

Page 52: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

47

O H.245 é usado para possibilitar o uso de canais, o Q.931 é usado para a

sinalização e o estabelecimento da chamada, o RTP é o protocolo de transporte em

tempo real que carrega os pacotes de voz enquanto que o RAS é usado para interação

com o gatekeeper. As funcionalidades oferecidas são as seguintes:

a) determinação de mestre e do escravo: o H.245 designa um Controlador de

Multiponto (MC) que é responsável pelo controle central em caos onde uma

chamada é estendida a uma conferência.;

b) troca de capacidades: o H.245 é usado para negociar as capacidades quando

uma chamada é estabelecida. A troca de capacidades pode ocorrer em qualquer

momento durante a chamada, portanto possibilitando renegociar a qualquer

momento;

c) controle do canal de mídia: após os pontos finais de uma conferência terem

trocado capacidades, eles podem abrir e fechar um canal lógico de mídia;

d) controle de conferência: em conferências, o H.245 fornece aos pontos finais

anúncios mútuos e estabelece o modelo de fluxo de mídia entre todos os pontos

finais.

Q.931 – Mensagem trocadas entre terminais para sinalização de chamada

Multipoint Control Unit (MCU) – o MCU é um ponto final da rede que fornece a

capacidade de três ou mais terminais e gateways de participarem de uma conferência

multiponto. O MCU consiste de um Controlador Multiponto (MC) e Processadores

Multiponto (MP). O MC determina as capacidades comuns dos terminais usando o H.245,

mas ele não executa a multiplexação de áudio, vídeo e dados. A multiplexação dos fluxos

de mídia é feita pelo MP sobre o controle do MC.

É importante observar ainda que os protocolos RTP, RTCP e RAS utilizam na

camada de transporte de protocolo não orientado a conexão User Datagram Protocol

(UDP), ao contrário da dupla H.245/Q.931, que utiliza o protocolo orientado a conexão

TCP.

A recomendação H.323 tem como uma de suas características a flexibilidade,

pois pode ser aplicada tanto à voz, quanto a vídeo conferência e multimídia. Aplicações

H.323 estão se tornando populares no mercado corporativo por várias razões, dentre elas

pode-se citar:

Page 53: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

48

a) o H.323 define padrões de Voz para uma infra-estrutura existente, além de ser

projetada para compensar o efeito de latência em LANs, permitindo que os

clientes possam usar aplicações de voz sem mudar a infra-estrutura de rede;

b) as redes baseadas em IP estão ficando mais velozes, além da largura de

banda para redes com arquitetura Ethernet estarem migrando de 10 Mbps para

100 Mbps, e a Gigabit Ethernet está fazendo progressos no mercado;

c) o H.323 provê padrões de interoperabilidade entre LANs e outra redes;

d) o fluxo e dados em redes podem ser administrados. Com o H.323, o gerente

de rede pode restringir a quantidade de largura de banda disponível para

conferências e voz. O suporte à comunicação Multicast também reduz

exigências de largura de banda;

e) a especificação H.323 tem o apoio de muitas empresas de comunicação e

organizações, incluindo a Intel, Microsoft, Cisco e IBM. Os esforços destas

companhias estão gerando um nível mais alto de consciência no mercado.

De acordo com [NÓBREGA, 2001], a ITU-T propôs o padrão H.323, sendo mais

difundido atualmente, especialmente por ser o precursor da Telefonia IP e ser o primeiro

padrão a tratar deste tema. As principais características deste padrão são:

a) especifica algoritmos padrões de compressão que devem ser implementados

de forma a garantir compatibilidade, conhecidos como áudio codecs ou

vocoders;

b) cria protocolos utilizados para o controle da chamada, estabelecimento dos

canais de comunicação e negociação de qualidade de serviço;

c) permite a interoperabilidade com outros terminais de voz, como telefonia

convencional, Rede Integrada de Serviços Digitais (RDSI), voz sobre ATM e

outros, permitindo assim a construção de gateways;

d) descreve elementos ativos do sistema e suas funções.

Terminal H.323 – Computador onde está implementado o serviço de telefonia

IP, atuando como terminal de serviço de telefonia IP, como terminal de voz, vídeo e

dados, através de recursos multimídia. Esses são os clientes da Local Area Network –

LAN (redes locais) que fornecem comunicação em tempo real e nas duas direções. Todos

os terminais H.323 têm que suportar o H.245, Q.931, Registration Admission and Status

(RAS) e Real Time Protocol (RTP).

Page 54: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

49

Os terminais H.323 podem também incluir o protocolo de conferencia de dados

T.120, codificadores de vídeo e suporte para Multipoint Control Unit (MCU). Um terminal

H.323 pode comunicar com outro terminal, um gateway ou um MCU;

Gateway H.323 – Elemento situado entre uma rede IP e outra de

telecomunicações, como o sistema telefônico convencional (RTPC), rede integrada de

serviços digitais (RDSI), rede de telefonia celular; de forma a permitir a interoperabilidade

entre as duas redes.

Um gateway H.323 é um ponto final da rede que fornece comunicação em tempo

real nas duas direções entre terminais H.323 em uma rede IP e outros terminais ITU em

uma rede comutada ou para outro gateway H.323. Eles executam a função de translação

entre diferentes formatos de dados.

Os gateways são opcionais em uma rede local (LAN) onde os terminais se

comunicam diretamente, mas quando os terminais precisam se comunicar com um ponto

final em outra rede, a comunicação se faz via gateway através dos protocolos H.245 e

Q.931.

Gatekeeper – Ele é o componente mais importante de um sistema H.323 e

executa a função de gerente. Ele atua como ponto central para todas as chamadas dentro

de sua zona (é a agregação do gatekeeper e dos terminais registrados nela), e fornece

serviços aos pontos finais registrados. Algumas das funcionalidades que os gatekeepers

fornecem são:

a) tradução de endereços: tradução de um endereço alias (o endereço alias

fornece um método alternativo de endereçamento de um ponto, ele pode ser um

endereço de e-mail, um número telefônico ou algo similar) para um endereço de

transporte. Isto é feito usando-se uma tabela de tradução que pode ser

atualizada através de mensagens de registro;

b) controle de admissão: o gatekeeper pode permitir ou negar acesso baseado

em autorização de chamada, endereço de fonte e destino, etc;

c) sinalização de chamada: o gatekeeper controla o processo de sinalização

entre dois pontos finais que querem se conectar;

d) autorização de chamada: o gatekeeper pode rejeitar chamadas de um

terminal devido às falhas de autorização através do uso de sinalização H.225. As

razões para rejeição poderiam ser acessos restritos durante alguns períodos de

tempos ou acesso de certos terminais ou gateways;

Page 55: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

50

e) gerenciamento de largura de faixa: Controle do número de terminais que

podem acessar simultaneamente a rede. Através do uso da sinalização H.225, o

gatekeeper pode rejeitar chamadas de um terminal devido à limitação de largura

de faixa;

f) gerenciamento da chamada: O gatekeeper pode manter uma lista de

chamadas H.323 em andamento. Essa informação pode ser necessária para

indicar que um terminal chamado está ocupado, e fornecer informações para a

função de gerenciamento de largura de faixa.

5.3 PROTOCOLOS PARA TEMPO REAL

Existem protocolos na camada de aplicação que se propõem a melhorar a

entrega de dados que devem ser transmitidos pelos aplicativos em tempo real, como por

exemplo: áudio e vídeo interativos. Como uma conversação telefônica também acontece

em tempo-real faz-se necessário à utilização de protocolos especiais para tempo-real que

auxiliam (de forma a torná-lo mais eficaz) o processo de transmissão da voz. Podemos

citar entre outros os protocolos RTP e RTCP.

5.3.1 REAL-TIME TRANSPORT PROTOCOL (RTP)

O protocolo RTP provê serviços de entrega fim-a-fim para dados que possuem

características de tempo-real. Suporta transferência de dados para múltiplos destinos,

usando distribuição multicast e também possui habilidades como: reconstrução de

sincronismo, detecção de perda de datagramas, segurança, entre outras. Porém não

implementa as funcionalidades de garantia de qualidade de serviço e garantia de entrega.

As aplicações geralmente usam o RTP juntamente com o UDP, porém pode ser usado

com outros protocolos de transporte.

A Figura 11 mostra como fica um pacote IP utilizando os protocolos ideais para a

transmissão de voz.

Figura 11 - Dados RTP em um pacote IP

Page 56: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

51

O campo payload type inclui o esquema de codificação usado pelo media

gateway para digitalizar a voz. Isso auxilia o receptor a reconstruir a voz de acordo com o

algoritmo especifico de codificação que foi utilizado pelo transmissor.

5.3.2 REAL-TIME TRANSPORT CONTROL PROTOCOL (RTCP)

RTCP é um protocolo que pode ser usado juntamente com o RTP, porém sua

utilização não é necessária para que o RTP funcione. Trata-se de um protocolo opcional

cuja principal função é transmitir periodicamente pacotes de controle para os participantes

de uma conversação com o objetivo de monitorar a qualidade de serviço e transportar

informações úteis de tais participantes. Trata-se de um protocolo bastante utilizado em

aplicações de vídeo-conferência.

Embora as informações retornadas pelo RTCP não informem onde determinado

problema está ocorrendo (somente informa que está ocorrendo um problema), elas

podem servir como ferramenta para localizar o problema. Pois as informações podem ser

geradas por diferentes gateways em uma rede. Isso ajuda a delimitar a área da rede em

que o problema pode estar ocorrendo.

A quantidade de largura de banda utilizada pelo RTCP deve ser pequena para

que não atrapalhe no transporte dos dados (no caso a voz). Algumas especificações do

IETF recomendam que a fração de largura de banda que deve ser usada pelo RTCP deve

ser 5% da largura utilizada pelo RTP.

Page 57: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

52

6. PROTOCOLO SIP E AS TENDÊNCIAS FUTURAS

Neste capítulo, faz-se uma comparação entre o protocolo padrão atual o H.323 e

um outro que vem ganhando força e confiabilidade o Session Iniciation Protocol�mais

comumente chamado de SIP.

Assim, passam a existir dois padrões principais: H.323 e o SIP. O primeiro

oficializado em 1996 pelo ITU-T, enquanto o SIP nasceu três anos depois, das mãos do

IETF. Ambos foram criados com o mesmo objetivo: possibilitar o tráfego de voz e

multimídia sobre IP.

É importante lembrar que ao contrário de outros protocolos que se baseiam no

modelo centralizado, o H.323 e o SIP utilizam a inteligência dos equipamentos na ponta.

Mas as similaridades entre os dois param por aí. Aliás, há uma competição saudável dos

protocolos.

Como o H.323 tem mais tempo de estrada, está hoje em vantagem, sendo

utilizado por grande parte das operadoras tradicionais do mercado VoIP. No entanto, o

SIP vem ganhando cada vez mais espaço no setor, principalmente nos EUA e Europa,

por sua facilidade de permitir o desenvolvimento de aplicações. Vale ainda frisar que o

pouco tempo de vida do protocolo não significa imaturidade do mesmo. Muito pelo

contrário. O fato de o SIP ser três anos mais novo que seu principal concorrente lhe dá

vantagens, em termos de flexibilidade e pelo fato de rodar nos padrões da Internet.

Na prática, um dos problemas sentidos nos projetos corporativos está

exatamente nessa dificuldade de fazer com que equipamentos de marcas diferentes

conversem entre si. Nesse sentido, o H.323 tende a perder espaço com o tempo, por ser

um protocolo fechado. [TRADESYS, 2005]

A tendência é que as empresas partam para o SIP, pois o protocolo é aberto e

permite a criação de novas aplicações corporativas. O SIP é uma evolução natural do

mundo de VoIP, pois permite uma interoperabilidade entre os dois protocolos.

Os fornecedores, por seu lado, não ignoram tal tendência. Para abocanhar um

pedaço do crescente mundo de voz sobre IP, os fabricantes vêm lançando produtos

compatíveis com o SIP. A principal justificativa desses novos produtos é ter que lidar com

um legado de equipamentos antigos, que rodam nativamente H.323, mas que, por outro

lado, tendem a adotam ambientes compatíveis com aplicações mais avançadas rodando

SIP. Portanto, considera-se que os padrões como complementares. A tendência é que,

gradativamente, o H.323 saia de cena e o SIP seja largamente implementado por todas

Page 58: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

53

as operadoras como o novo padrão de mercado. Independente do desfecho dessa

batalha de protocolos, as empresas já estão sendo beneficiadas pela competição, a qual

cria um leque mais extenso de produtos.

6.1 SIP X H.323

Uma das formas de definir o padrão mais adequado para o ambiente de cada

empresa é avaliar, do ponto-de-vista técnico, os benefícios e as carências dos dois

protocolos. na comparação de escalabilidade, por exemplo, em ambientes com alto

tráfego de chamadas, o SIP exige menos ciclos de processamento para gerar a

sinalização de mensagens. Com isso, o servidor tem condições de, teoricamente,

manusear mais transações do que o H.323, que usa mensagens definidas no H.225 para

ajustar o Gatekeeper a executar o balanceamento de carga.

Para os que estão interessados em aplicações de videoconferência, por outro

lado, o H.323 suporta inteiramente conferência de vídeo e dados. Os procedimentos estão

alocados para fornecedor controle para as reuniões virtuais, assim como a sincronização

de áudio e vídeo. Uma vantagem em relação ao SIP, que apresenta suporte limitado a

imagens e não conta com protocolos de conferência de dados, com o T.120.

Em compensação, o SIP sai na frente no quesito de segurança, ao utilizar

autenticação por HTTP (Hypertext Transfer Protocol), SSL (Secure Sockets Layer) e PGP

(Pretty Good Privacy), sendo bastante escalável, termos esses que não serão explicados

nesse trabalho, somente citados para efeito didático. Já o H.323 usa apenas o H.235

(Gateway to Gatekeeper) como descritos anteriormente.

Quadro 9 - Comparativo entre H.323 e SIP

H.323 SIP

Arquitetura O H.323 cobre quase todos os serviços, como capacidade de troca, controle de conferência, sinalização básica, QoS, registro e outros

O SIP é modular e cobre todas as sinalizações de chamada básica, locação de usuários e registro. Outras características estão separadas em um protocolo ortogonal.

Componentes Terminal/Gateway Gatekeeper

Ua Servers

Page 59: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

54

Protocolos RAS/Q.931 H.245

SIP SDP

Transferência de chamadas

Sim Sim

Captação de ligação Sim Sim

Chamada em espera Sim Sim

Indicação de chamada em espera

Sim Não

Finalização de chamada Sim Sim

Intrusão de chamada Sim Não

Sinalização Multicast Sim, por meio de location requests (LRQ) e auto gatekeeper discovery (GRQ)

Sim, por meio do group invites

Controle de chamadas de terceiros

Sim Sim

Conferência Sim Sim

Grade quantidade de chamadas

O controle de chamadas H.323 pode ser implementado de vários modos. o Gateway tem capacidade para usar mensagens definidas no H.225, ajudando o Gatekeeper a executar o balanceamento de carga nos gateways.

O controle de chamada por ser implementado de vários modos. O SIP suporta N para N entre as UAs e servidores, também exige menos ciclos de CPU para gerar a sinalização de mensagens e com isso pode teoricamente manusear mais transações. O protocolo tem um método específico para balanceamento sob o mecanismo DNS SRV.

Internacionalização Sim, o H.323 usa Unicode (BMPString com ASN.1) para algumas informações textuais (h323-id), mas geralmente tem poucos parâmetros

Sim, o SIP usa Unicode (ISO 10646-1), codificado como UTF-8 para todos os caracteres.

Segurança Define mecanismos de segurança e facilidade de negociação com o H.235 e pode ainda usar SSL.

O SIP suporta autenticação de chamadas com mecanismos HTTP. A autenticação segura e encriptação é suportada por SSL/TSL.

Page 60: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

55

Tarifação Mesmo com o modelo de chamada direta do H.323, a capacidade de tarifar não é permitida porque o cliente informa ao Gatekeeper o começo e o fim da chamada via protocolo do RAS.

Se o proxy SIP quiser coletar informações de faturamento, não tem nenhuma escolha a não ser permanecer na chamada sinalizando o caminho para a duração inteira, de modo a captar quando termina.

Codecs O H.323 suporta qualquer codec, proprietário ou padrão, não apenas os codecs da ITU-T. Os tipos de carga podem estar especificados estaticamente ou dinamicamente.

O SIP suporta qualquer codec IANA ou outro codec cujo nome mutuamente é concordado entre ambos. Os tipos de carga podem estar especificados estaticamente ou dinamicamente.

Divisão de chamada O H.323 codifica mensagens em um formato binário compacto que combina com conexões banda larga e estreita

As mensagens SIP são codificadas no formato ASCII

Endereçamento Mecanismo de endereçamento flexível, incluindo URL e E.164

O SIP apenas entende endereços do tipo URL

Conferência de vídeo e dados

O H.323 suporta inteiramente conferência de vídeo e dados. Os procedimentos estão alocados para fornecer controle para a conferência assim como a sincronização de áudio e vídeo.

O SIP tem suporte limitado para vídeo e não tem suporte para protocolos de conferência de dado com o T.120. O SIP não tem protocolos para controlar conferências e muito menos mecanismos de sincronização.

Fonte: O que é o protocolo SIP [TRADESYS, 2005]

Page 61: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

56

7. CONCLUSÕES

Existem outros mecanismos para controle de tráfego, inibição de

congestionamento e técnicas de enfileiramento para qualidade de serviços, mas a maioria

é similar ou derivada das tecnologias apresentadas nesse trabalho. Assim, com essas

alternativas técnicas e protocolos, possibilitam um melhor gerenciamento do tráfego,

integração das formas de comunicação com os serviços de TI, unificação das plataformas

de voz e dados.

Destaca-se aqui a contribuição dos fabricantes de roteadores e switches, que

continuamente lhes agregam características específicas para uso do VoIP, garantindo

dessa forma os benefícios diretos do VoIP sobre a telefonia convencional, reduzindo os

custos de chamadas interurbanas e praticamente eliminando os de chamadas matriz-filial-

filial, graças à inteligência dos switches e centrais telefônicas digitais das redes VoIP, que

localizam o acesso mais próximo do destino da ligação e a completa com o custo de

ligação local. Os custos com infra-estrutura são apenas uma fração do custo total para

uma rede que adota recursos de telefonia. Ao utilizar a rede de dados existente para

trafegar voz, as chamadas telefônicas têm custo muito menor, uma vez que não estão

utilizando a rede pública de telefonia. Essa economia viabiliza o retorno do investimento

em um curto espaço de tempo.

O desenvolvimento e a expansão de uma nova tecnologia só acontecem a partir

de uma justificativa clara e sustentável. O VoIP tem conseguido demonstrar benefícios

para os usuários e deve se firmar seu sucesso a longo prazo. Os benefícios da tecnologia

podem ser divididos dentro de quatro categorias:

Redução de Custos: Apesar da redução de custos das chamadas de longa

distância pelas companhias telefônicas, esse assunto é bastante popular para a

introdução do VoIP. Os preços fixos para acesso a Internet podem se configurar numa

excelente oportunidade para reduzir os custos de voz e fax. Estima-se que 70% dos

custos de transmissão de fax entre os Estados Unidos e Ásia poderiam ser substituídos

por FoIP (Fax over IP). Essas reduções de custos estão baseadas em evitar o uso das

chamadas internacionais e estatuais usando a infra-estrutura da Internet do que a

redução dos custos globais de um melhor compartilhamento dos equipamentos e rede

pelos provedores de telecomunicações. Esse melhor compartilhamento levará uma

redução de custos em larga escala para a voz.

Page 62: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

57

Simplificação: A integração da infra-estrutura que suporta todas as formas de

comunicação permitirá uma maior padronização e redução nos investimentos em

equipamentos. Esta infra-estrutura compartilhada pode aperfeiçoar o uso da largura de

banda e a minimização dos custos de redundância da topologia de rede. As diferenças

nos padrões de uso de voz e dados oferecem oportunidades adicionais para melhor a

eficiência das redes de comunicações.

Consolidação: Uma vez que pessoas estão nas extremidades das redes,

qualquer oportunidade para combinar operações, eliminar pontos de falhas e consolidar

atividades que gerem custos. Nas empresas, o uso de sistema de gerenciamento de rede

centralizado, monitorando voz e dados trazem excelentes benefícios tanto de redução de

custos como de agilidade na determinação de problemas.

Aplicação Avançada: Embora os serviços básicos de telefonia e fax sejam as

aplicações iniciais do VoIP no longo prazo é esperado o uso de aplicações multimídia e

aplicações multiserviços. Por exemplo, as soluções de e-commerce combinadas com

acessos a Web e sendo atendido pelo call-center.

A evolução da tecnologia VoIP, segundo a International Data Corporation – IDC

(empresa no ramo da tecnologia da Informação e está presente em mais de 46 países)

tomará grande parte do mercado. Ou seja, mesmo com a estabilização ou queda do

mercado de telecomunicações, esses serviços crescem por substituir, com muito mais

economia, as tradicionais opções de linhas de telefonia convencional. A tecnologia VoIP

não causará o fim da utilização da telefonia convencional em ambientes corporativos, mas

certamente será responsável por uma fatia considerável em ligações de longa distância.

Assim, os investimentos em técnicas de qualidade de serviço como as

apresentadas nesse trabalho (controle e inibição de congestionamento, compressão de

RTP, fragmentação e policiamento de tráfego, etc.) são fundamentais para o atendimento

tanto das grandes quanto das médias empresas. As de maior porte geralmente possuem

departamentos de telecomunicações com capacidade de gerenciamento para

acompanhar os níveis de serviço. No entanto, a pressão para diminuir custos de ligações

tende aos poucos a transferir essa função à operadora. Já as de menor porte não

possuem pessoal nem orçamento para essa finalidade e têm de conviver com o mínimo

possível de problemas.

Também surge nesse contexto o SIP, abordado nesse trabalho de forma

superficial, mas que promete ter grande impacto na maneira como nos comunicaremos

em tempo-real: com celulares ou telefones comuns, via mensagens instantâneas, ou

Page 63: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

58

utilizando qualquer dispositivo baseado em IP. O SIP é um protocolo que pode ser

composto e gerenciado em qualquer dessas sessões, independente do tipo de dispositivo

utilizado (chamada telefônica, mensagens instantâneas, jogos, ou até em vídeo ao vivo).

De fato, o potencial do SIP extrapola a sua simplicidade e flexibilidade e já é bastante

utilizado em pesquisas substituindo de forma satisfatória o H.323.

Conclui-se neste trabalho que a tecnologia de voz sobre IP, em tempo real pode

ocorrer de maneira satisfatória dentro de áreas metropolitanas ou de redes corporativas.

Como a estrutura da rede IP é bastante simples e utilizada no mundo todo, isso ajuda

muito a perceber as vantagens que voz sobre IP pode proporcionar para as empresas,

utilizando-a, por exemplo, para o serviço de voz. Entretanto quando distâncias maiores

são consideradas, os problemas de degradação da qualidade de comunicação podem

comprometer significativamente ou mesmo inviabilizar a realização da conversão. Nesse

sentido, a QoS permitirá a oferta de gerenciamento e banda por demanda, além de outros

serviços disponíveis no mercado, que está muito mais avançado nessa área.

Page 64: QUALIDADE DE SERVIÇO EM VOIP (VOZ SOBRE IP)

59

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS

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