Quando a soma das partes é maior que o todo: Exposição Flores Urbanas da Liberdade
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Quando a soma das partes é maior que o todo: Exposição FloresUrbanas da Liberdade
When the sum of the parts is bigger than the whole: Urban Flowers of Liberty
Exposition
EMAR E ALMEIDA, Délcio
Mestre, Centro Universitário de Belo Horizonte – UniBH, [email protected]
ROTHBERG, Luciana
Mestre, Centro Universitário de Belo Horizonte – UniBH, [email protected]
RESUMO
O presente artigo discute o processo criativo e a interdisciplinaridade que permearam a produção de
estampas digitais e identidade visual realizadas para a exposição Flores Urbanas da Liberdade, a
partir de uma demanda interativa entre equipes de alunos dos cursos Bacharelado em Design e
Tecnologia em Design de Moda, do Centro Universitário de Belo Horizonte - UniBH, sob a supervisão
das disciplinas TIG – Trabalho Interdisciplinar de Graduação. Tendo como tema de pesquisa o CircuitoCultural da Praça da Liberdade, os alunos foram incentivados a traduzir graficamente a sua própria
percepção dos mais variados estímulos existentes no local, enquanto espaço frequentado: lazer,
ponto de encontro, paisagem, memória, arquitetura, cultura, símbolos, afetos, dentre outros.
PALAVRAS-CHAVE : processo criativo, interdisciplinaridade, ensino em design, práticas culturais, cidadania
ABSTRACT
The present paper discusses the creative process and the interdisciplinarity which permeated the production of
digital prints and the visual identity realized for the exhibit Urban Flowers of Liberty, from an interactive
demand among teams of students of the courses Bachelor in Design and Tecnology in Fashion Design, of the
Universe Center of Belo Horizonte- UniBH, under the supervision of the disciplines TIG - Interdisciplinary
Graduation Work. Having as theme of their research the Cultural Circuits of the Liberty Square, the students
were stimulated to translate graphically their own perception of the most varied stimuli existent in the place,
as a space frequented for leisure, place of meeting, landscape, memories, architecture, symbols, affection,
among others.
KEY-WORDS : creative process, combination of disciplines, design teaching, cultural practices, citizenship
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1 INTRODUÇÃO
O projeto interdisciplinar Flores Urbanas da Liberdade surgiu a partir da integração de atividades
projetuais desenvolvidas nas disciplinas de Trabalho Interdisciplinar de Graduação - TIG 1, entre os
cursos de Bacharelado em Design e Tecnologia de Design de Moda do Centro Universitário de Belo
Horizonte – UniBH. A proposta uniu o desenvolvimento de design de superfície e identidade
corporativa, aplicado ao campo da moda. Trabalhando em equipes de 4 a 6 pessoas, os estudantes
foram instigados, por meio da conexão de conhecimentos e procedimentos metodológicos, a
desenvolverem um projeto visual para um evento real, o que incluiu também a criação da marca,
brandbook e sinalética da exposição.
O ponto de partida para o desenvolvimento do projeto foi o convite da patrocinadora Dream
Estamparia Digital, para a realização de uma exposição de estampas digitais, especialmente criadas
pelos alunos. O evento ocorreu no Centro de Convenções Expominas Belo Horizonte, dentro da
programação da Feira Minas Print Têxtil, em abril de 2014.
Tendo como tema de pesquisa o Circuito Cultural da Praça da Liberdade, os alunos foram
incentivados a traduzir graficamente a sua própria percepção dos mais variados estímulos existentes
no local, enquanto espaço frequentado: lazer, ponto de encontro, paisagem, memória, arquitetura,
cultura, símbolos, afetos dentre outros. De forma ampliada, os alunos envolvidos na dinâmica
criativa (ALENCAR, 1993) foram instigados a buscar, na observação do cotidiano cultural, elementos
que tornassem evidentes a relação do indivíduo e a cidade, por meio das relações sociais, no sentido
de criar uma reflexão, a respeito da sociedade em que se encontram inseridos.
O design, por muito tempo foi enfatizado como projeto, encontra-se inserido em um contexto em
que se buscam respostas mais efetivas para os complexos desafios da atualidade. Dessa forma, esse
saber passa a ser compreendido como processo, algo continuamente em construção e passível de
sofrer e exercer influências. Seu escopo continua evoluindo em direção a uma perspectiva cada vez
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abrangente, a qual exige pluralidade de saberes e de referenciais, modelos de ação colaborativos,
contínuos e abertos, como uma forma de conceber, analisar e atuar na realidade que nos rodeia,
religando o conhecimento e a experiência à vida.
No âmbito do ensino em design, muitos são os desafios ainda encontrados na implementação de
uma dinâmica interdisciplinar que consiga, na prática, integrar os diferentes conteúdos curriculares,
de forma a possibilitar a assimilação da totalidade de saberes.
2 INTERDISCIPLINARIDADE
As rápidas transformações do mundo contemporâneo evidenciam, cada vez mais, a necessidade da
busca por estratégias que revejam as formas tradicionais de ensino e aprendizagem. Muito além da
simples transmissão de conhecimentos, faz-se imprescindível lançar um novo olhar sobre a
tradicional relação professor/aluno, estereotipada em dinâmicas verticalizadas e monocromáticas,
nas quais este se porta como um simples coletor e repetidor de informações e rotinas, e aquele é o
transmissor automatizado, burocrático, gerando uma relação hierarquizada e fria.
O impacto das tecnologias contemporâneas na sociedade modificou sobremaneira o modo como os
indivíduos lidam com o mundo que os envolvem, física ou digitalmente, permitindo uma intervenção
no cotidiano de forma intensa, não mais se portando como sujeitos passivos, mas antes verdadeiros
construtores de possibilidades, abrindo suas próprias oportunidades e intervenções. Novos
paradigmas são propostos, enquanto outros são superados ou reinventados. Esse panorama reflete
diretamente sobre as relações de ensino, o que deixa evidente, segundo Fontoura (2011, p.87), “a
necessidade de se buscar outros modelos que permitam superar as formas tradicionais de pensar,
emolduradas nos limites da disciplinaridade – pretensa organizadora do conhecimento”.
Essas indagações não são recentes, já que se verifica a busca por definições e novos olhares,
métodos e reflexões a respeito da dinâmica educacional desde o final do século XIX e início do século
XX. Vygotsky (1991) desenvolveu importantes estudos a respeito das interações sociais na
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constituição do ser humano. Tais estudos identificam a relevância dos contextos sócio-culturais na
concepção dos processos psicológicos dos indivíduos, com reflexos diretos no ensino e
aprendizagem. Essa reflexão a respeito dos processos psicológicos resultantes da interação sócio-
cultural lança luz sobre os aspectos da diversidade, de como ocorre a produção e mediação de
conhecimentos, vivências e saberes, pelo sujeito historicamente construído. Viver no mundo
significa, por si só, uma relação interdisciplinar, na qual cada indivíduo reflete a própria
universalidade. Segundo Morin (2003, p.40) “o ser humano, ao mesmo tempo natural e supranatural,
deve ser pesquisado na natureza viva e física, mas emerge e distingue-se dela pela cultura,
pensamento e consciência”. Um educador realmente engajado busca o desafio, consciente que
participa, junto com o aluno, da construção do conhecimento. O processo de ensino e aprendizagem
é uma via de mão dupla, na qual discente e docente constroem e desconstroem, constantemente,
seus saberes, vivências e afetos. Observa-se, então, que “o interdisciplinar não é algo que se ensine
ou que se aprenda é algo que se toma consciência e se concretiza através da mudança de atitude,
diante do processo educacional” (FONTOURA, 2011, p.91).
Essas considerações encontram grande pertinência, relativas ao papel do designer e sua formação,
interdisciplinar por natureza, que exige do profissional uma postura curiosa e generalista. O designer
necessita transitar por áreas aparente distintas ou desconectadas, já que seu ofício é projetar
soluções, visuais, sistêmicas e emocionais. Conforme afirma Correia:
O design é uma disciplina flexível, passível de várias interpretações [...] ao será uma conquista de uma
só pessoa, ela formar-se-á em sim mesma, nos processos de diálogo entre todos os participantes nas
diferentes etapas do projecto. (CORREIA, 2003, p.44)
Portanto, o professor, em qualquer área do design, é chamado a transformar a sala de aula em
espaço de experimentação e questionamentos, buscando novas relações, inclusive de espaços físicos
e horários preestabelecidos, possibilitando a expansão das atividades para além dos limites da
escola. Os alunos e professores se relacionam com o conhecimento de forma global, no qual o
individual faz parte e sentido no todo e os saberes são compartilhados e construídos na sinergia
entre a experiência emocional e a apreensão racional. O resultado, como esperado do produto do
design, é sincrético, além do analítico-sintético.
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3 A PRAÇA DA LIBERDADE E TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO
O tema Flores Urbanas da Liberdade foi idealizado pelo fato de refletir as significativas
transformações que vinham acontecendo desde 2010, relacionadas à transição do poder político
para o poder cultural, no Complexo Arquitetônico da Praça da Liberdade, na medida em que iam
entrando em funcionamento os 12 espaços e museus que compõem o conjunto[i].
Sabe-se que uma praça, como ponto de encontro, manifestação e convívio, representa o coração das
cidades, local de expressão de múltiplos anseios. Construída na época da fundação de Belo
Horizonte, em 1897, a Praça da Liberdade foi planejada para estar no ponto mais alto da cidade,
concentrando o poder político da capital mineira em seu entorno, composto pelo Palácio do Governo
e Secretarias de Estado. Com a mudança do governo de Minas Gerais para a recém-inaugurada
Cidade Administrativa, os prédios históricos - tombados desde 1977 pelo IEPHA, Instituto Estadual de
Patrimônio Histórico e Artístico - passaram a integrar o Circuito Cultural Praça da Liberdade,
modificando profundamente o sentido do local e enriquecendo as múltiplas possibilidadesinterativas proporcionadas pelo espaço físico, simbólico, histórico, arquitetônico, social, artístico e
afetivo da praça.
A praça é do povo, já dizia o poeta. E o povo é vida! Vitória da cultura, que estava tomando posse de
um espaço vital da cidade. Convergindo para aquele ponto múltiplas manifestações artísticas,
culturais e científicas. Vindo de todos os cantos e bairros, com novas intenções emoções,
percepções, ideias e sensações ao ocupar a praça. Vida colorida florescendo em novo fluxo de
pessoas. Fazendo desabrochar toda a cidade, em sentido ampliado.
A cidade serviu de fonte de inspiração e reflexão, sendo o ponto-chave para levar os alunos a
compreender a importância da inserção de seu fazer nas questões do dia-a-dia da urbe, o impacto do
projeto visual nas questões relacionadas aos usos do urbano (CERTEAU, 1994) e as relações que os
cidadãos engendram com todos os componentes que fazem parte da tessitura da cidade. Nesse
sentido, os envolvidos na dinâmica criativa foram instigados a buscar, na observação do cotidiano
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cultural, elementos que tornassem evidentes a relação do indivíduo e a cidade, por meio das
relações sociais, tanto na arquitetura, nos espaços sociais da praça e do cotidiano da população.
Ao interligar esses vários significados, o contraste contido no sentido de ”flores urbanas” apresenta
um potencial de se desdobrar de múltiplas formas, em diversas direções. E veio a se tornar um
eficiente instrumento didático de provocação e motivação, para que a pesquisa iconográfica
realizada pelos estudantes fosse além do óbvio, sem descartar, contudo, o uso intencional de clichêscomo um recurso estético. É importante também considerar que a palavra “liberdade” vai muito
além de nomear um espaço, pois tem o poder de despertar anseios de autoexpressão que são muito
importantes de serem avivados, e não apenas no âmbito acadêmico, tanto no aprendizado do
exercício da liberdade criativa, quanto no reconhecimento da importância da liberdade para o
verdadeiro aprendizado da autonomia e responsabilidade (FREIRE, 1996).
Como futuros profissionais que interagem dinamicamente com os elementos e contextos mais
significativos da contemporaneidade, e guiados pela livre experimentação de seu potencial sensível,
cada futuro designer que participou da mostra, portanto, teve a oportunidade de expressar a sua
própria percepção dos mais variados estímulos existentes no local pesquisado. Moraes (2009, p. 10)
salienta que “vários atributos, antes tidos como secundários, por exemplo, ‘o valor de estima’, os
‘fatores emotivos, estéticos e psicológicos’, a ‘qualidade percebida’ [...] são hoje fatores
determinantes e diferenciais competitivos alçados à condição de atributos primários”. A partir do
momento em que sensações subjetivas, como a afetividade ou o pertencimento, são tidas como
aspectos fundamentais para configurar uma boa experiência de consumo, torna-se cada vez mais
relevante a necessidade de desenvolver competências que vão além de um âmbito profissional
específico, mas que contemplem também, a projetação de aspectos estéticos e simbólicos da
cultura, capazes de agregar valor e assumir mediação nas dimensões materiais e imateriais, seja da
produção de artefatos físicos ou na criação de imagens e de conceitos (KRUCKEN, 2009). A somatória
da produção estampada digitalmente revela um grande mosaico, um lugar que pode ser comparado
a um jardim, em que cada flor é única e contribui de forma inigualável para a visão do todo.
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4 PRODUÇÃO VISUAL
ESTAMPAS
Foram desenvolvidas 35 estampas digitais exclusivas, em atividades projetuais interdisciplinares que
propiciaram a criação tanto individual, quanto coletiva das imagens. As artes foram geradas
inicialmente através de várias técnicas, sendo as mais utilizadas: a fotografia, o desenho, a ilustração
e a colagem. Ao transpor o material de inspiração para o software de edição de imagens, os
estudantes enfrentaram diversos desafios: em primeiro lugar, pelo fato de estarem aprendendo a
dominar os recursos do programa, o que tende sempre a produzir tanto um encantamento, quanto
um desconforto, diante de tantas inúmeras opções, que parecem à primeira vista muito fáceis de
serem executadas, mas que, na prática, se apresentam ao aprendiz junto a uma multiplicidade de
detalhes e procedimentos técnicos.
Uma segunda questão veio do fato instigante de que, pela manipulação das imagens digitais, é
possível gerar uma infinidade de matrizes, as quais privilegiam o processo criativo enquanto
descoberta. Com a possibilidade de se salvar as imagens produzidas e pela facilidade de preservá-las
como matriz digital, é possível voltar várias vezes num mesmo ponto, desdobrando outras
experimentações, de forma que, se não houver um fio condutor bem claramente definido de onde se
pretende chegar, ao final, o excesso de possibilidades pode acabar em cansaço e confusão.
Além disso, é intenso o aprendizado das competências transversais necessárias para o
desenvolvimento das habilidades em saber fazer tecnicamente, saber se expressar, saber reconhecer
o valor do que está sendo produzido, saber alinhar o conceito com a produção, saber interagir com o
fluxo das ideias que vão circulando e se influenciando mutuamente, saber afirmar o seu potencial e
saber atuar dentro do tempo curto que é disponibilizado, desde o começo do semestre letivo, até a
materialização do projeto. No caso da Exposição Flores Urbanas da Liberdade, o prazo foi de 2 meses
e meio para estar tudo pronto, estampado, costurado, montado e apresentado. As peças produzidas
com os tecidos estampados foram posteriormente confeccionadas e desfiladas no Teatro Ney Soares,
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em Belo Horizonte, por ocasião da conclusão do semestre letivo, conforme mostrado nas figuras a
seguir.
A Figura 1 apresenta a criação visual das estudantes Jaíza Lobo, Emanuele Azevedo e Rachel Santana
enfatizando o aspecto artístico, registrando uma das sensuais e elegantes esculturas de bronze
patinado da coleção “Musa” do artista Leopoldo Martins, expostas na Praça da Liberdade naquele
período. Em estilo surrealista, pode-se observar um efeito de espelhamento e inversão de elementosvisuais na estampa, bem como o aspecto do feminino é salientado na construção do look , seja pelo
local de encaixe da figura em relação ao corpo da modelo, que centraliza o olhar numa região
altamente carregada de sentidos, seja pelo efeito ampliado do formato circular da parte de cima da
peça, que explicita uma área oculta, aberta para a observação alheia.
Figura 1: Estampa com inspiração em escultura de Leopoldo Martins
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O processo criativo é compreendido como uma expressão amplamente ligada ao repertório cultural
de cada indivíduo (OSTROWER, 1977). Apesar disso, não deixa de ser surpreendente a variedade de
propostas e estilos que se manifestam dentro de uma mesma turma de alunos, que trabalha em sala
de aula a partir dos mesmos estímulos. Buscando identificar1 e agrupar alguns temas, pode-se
observar na Figura 2, a presença de imagens que remetem a aspectos mais facilmente perceptíveis,
tais como a influência da imponente arquitetura do local, com ênfase no coreto e no prédio de Oscar
Niemeyer. Contudo, tendendo para o lado abstrato, figuras vão se desfazendo, se mesclando, se
confundindo, se perdendo, ou talvez, se encontrando num mar de possibilidades, criando
composições que refletem significativos aspectos do caldo cultural contemporâneo.
Figura 2: Estampas inspiradas em temas diversos - arquitetura, artesanato, pessoas e fluxo de energias
1 Estampas criadas pelas alunas: Suellen Tayne, Joanna Carrara, Laura Alves, Mariana Lanças, Thauanny Ribeiro,
Karen Soares, Helena Dias, Lucilene Pereira, Maria das Graças Jaud.
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IDENTIDADE VISUAL
Essa etapa metodológica, desenvolvida juntamente com o processo de pesquisa e criação das
estampas, se refere à concepção da identidade visual do evento Flores Urbanas da Liberdade, por
parte dos alunos de Design Bacharelado. Os alunos se organizaram em quatro equipes e
desenvolveram, por meio de uma pesquisa documental, vídeos, entrevistas e palestras, o histórico da
Praça da Liberdade, na busca de decifrar seus significados e indagações. Todo esse processo de
coleta de informações possibilitou aos alunos, por meio das técnicas de mapas mentais e conceituais,
sessões coletivas de brainstorm e produção de roughs, o conceito central das marcas. Cada equipe
gerou um caderno de processos, apresentando as bases do memorial descritivo da marca, essenciais
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às etapas de germinação, preparação, incubação e iluminação, iniciais na dinâmica de criação
(TSCHIMMEL, 2010). A partir dos logotipos e marcas mistas finais, foram propostas aplicações em
peças gráficas e produtos - cartazes, folders, convites, brindes, brandbook , dentre outros - sendo
desdobrados em estampas e padrões visuais.
As marcas finais foram submetidas a uma banca para a escolha da identidade corporativa do evento,
formada por profissionais da área de impressão digital, design e moda, objetivando inserir os alunos
em experiência real de mercado, incentivando a percepção da atividade para além de seus fins
didáticos, como uma oportunidade de organização de um portfólio consistente. A identidade visual
escolhida pela banca julgadora se baseou nos elementos construtivos do cenário visual da Praça da
Liberdade, que instigam o observador a buscar significados complexos e vibrantes. O resultado foi
uma identidade visual bem estruturada, na qual elementos simbólicos como a tradição neoclássica
do Coreto da Praça e as curvas modernistas da obra de Oscar Niemeyer se associam, resultando em
estrutura orgânica, alegoria de liberdade. Na Figura 3 é possível verificar o processo de criação de
equipe formada pelos alunos Carlos Eduardo Santos, Eden Mota, Igor Marcelo Silva, Isaac Freitas e
Jean Carlos Aires, além do resultado da marca mista na versão oficial.
Figura 3: Processo de criação da identidade visual da exposição Flores Urbanas da Liberdade
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Sob essa égide, a equipe vencedora da proposta visual ficou responsável em coordenar, em
aproximadamente 100 m², a execução do projeto de sinalética - painéis, adesivagem de piso e
paredes do estande, totens - e o próprio projeto de ambientação expográfica, conforme Figura 4.
Esses projetos contaram com a participação de todos os alunos dos cursos de Design de Moda e
Design Corporativo, sob a orientação e apoio dos professores de ambos os cursos.
Figura 4: Exposição Flores Urbanas da Liberdade
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Projeto Interdisciplinar Flores Urbanas da Liberdade demonstrou a viabilidade no diálogo entre as
múltiplas áreas de conhecimento e domínios sociais, chancelando a inexistência dos limites de
criação e reflexões no fazer dos envolvidos na dinâmica do ensino e aprendizado em design. O
projeto contribui de forma inigualável para iluminar vislumbres da complexa e fragmentada
realidade pós-moderna, espelho relevante de elementos culturais imbricados nos contextos sociais
mais significativos da contemporaneidade, conforme salienta De Masi (2013). Através da projetação
criativa de olhares culturais no campo do design contemporâneo pode-se, então, inferir que é
possível relacionar diferentes saberes capazes de delinear o momento atual como um espaço
habitado e prenhe de inúmeras potencialidades. Como desdobramentos, pode-se citar o
fortalecimento das parcerias, não somente entre as instituições fomentadoras e patrocinadores, mas
principalmente entre os docentes e discentes, na construção do conhecimento. Verifica-se, dessa
maneira, a transdisciplinaridade, no momento em que o resultado é o fortalecimento das relações,
da autoestima e confiança, ampliando olhares e possibilidades.
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6 REFERÊNCIAS
ALENCAR, Eunice. M. L. S. Criatividade. Brasília: Universidade de Brasília, 1993.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Petrópolis/ RJ: Vozes, 1994.
CORREIA, Rita. R. A Interacção do Design Industrial com a Ciência e a Tecnologia: a abordagem interdisciplinar
(dissertação para obtenção título de mestre em desenho industrial). Faculdade de Engenharia da Universidade
do Porto. Escola Superior de Artes e Design de Matosinhos. Portugal, 2003.
De MASI, Domenico. O futuro chegou: modelos de vida para uma sociedade desorientada. Rio de Janeiro: Casada Palavra, 2013.
FONTOURA, Antonio. M. A interdisciplinaridade e o ensino do design. Projética Revista Científica de Design,
Universidade Estadual de Londrina, v.2, nº. 2, Dezembro 2011
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à pratica educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
KRUCKEN, Lia; BARBOSA, Paula G.; FERREIRA, Priscila B. M. Contribuições do design de ambientes para a
valorização do território: proposta para uma casa de cultura baseada na personagem Hilda Furacão. 11º P&D
Design - Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em design. 2014. Disponível em:
http://www.ufrgs.br/ped2014/trabalhos/trabalhos/1053_arq2.pdf. Acesso em 01 mai. 2015.
MORAES, Dijon de. O papel atual do design. In: KRUCKEN,Lia. Design e território: valorização de identidades e
produtos locais. São Paulo: Studio Nobel, 2009.
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: Repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand
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OSTROWER, Fayga. Criatividade e Processos Criativos. Rio de Janeiro: Vozes, 1977.
TSCHIMMEL, Katja C. Sapiens e Demens no Pensamento Criativo do Design, 2010, 574 f. (Tese de doutoramento
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[i] Arquivo Público Mineiro, Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, Casa Fiat de Cultura, Centro Cultural Banco do Brasil,
Centro de Arte Popular Cemig, Centro de Formação Artística – Cefar Liberdade; Espaço do Conhecimento UFMG, HorizonteSebrae – Casa da Economia Criativa, Memorial Minas Gerais Vale, MM Gerdau - Museu das Minas e do Metal, MuseuMineiro e Palácio da Liberdade
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