Quando a soma das partes é maior que o todo: Exposição Flores Urbanas da Liberdade

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    Quando a soma das partes é maior que o todo: Exposição FloresUrbanas da Liberdade 

    When the sum of the parts is bigger than the whole: Urban Flowers of Liberty

    Exposition 

    EMAR E ALMEIDA, Délcio

    Mestre, Centro Universitário de Belo Horizonte –  UniBH, [email protected]

    ROTHBERG, Luciana

    Mestre, Centro Universitário de Belo Horizonte –  UniBH, [email protected]  

    RESUMO

    O presente artigo discute o processo criativo e a interdisciplinaridade que permearam a produção de

    estampas digitais e identidade visual realizadas para a exposição Flores Urbanas da Liberdade, a

    partir de uma demanda interativa entre equipes de alunos dos cursos Bacharelado em Design e

    Tecnologia em Design de Moda, do Centro Universitário de Belo Horizonte - UniBH, sob a supervisão

    das disciplinas TIG – Trabalho Interdisciplinar de Graduação. Tendo como tema de pesquisa o CircuitoCultural da Praça da Liberdade, os alunos foram incentivados a traduzir graficamente a sua própria

    percepção dos mais variados estímulos existentes no local, enquanto espaço frequentado: lazer,

    ponto de encontro, paisagem, memória, arquitetura, cultura, símbolos, afetos, dentre outros.

    PALAVRAS-CHAVE : processo criativo, interdisciplinaridade, ensino em design, práticas culturais, cidadania 

     ABSTRACT

    The present paper discusses the creative process and the interdisciplinarity which permeated the production of

    digital prints and the visual identity realized for the exhibit Urban Flowers of Liberty, from an interactive

    demand among teams of students of the courses Bachelor in Design and Tecnology in Fashion Design, of the

    Universe Center of Belo Horizonte- UniBH, under the supervision of the disciplines TIG - Interdisciplinary

    Graduation Work. Having as theme of their research the Cultural Circuits of the Liberty Square, the students

    were stimulated to translate graphically their own perception of the most varied stimuli existent in the place,

    as a space frequented for leisure, place of meeting, landscape, memories, architecture, symbols, affection,

    among others. 

    KEY-WORDS : creative process, combination of disciplines, design teaching, cultural practices, citizenship 

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    1 INTRODUÇÃO 

    O projeto interdisciplinar Flores Urbanas da Liberdade  surgiu a partir da integração de atividades

    projetuais desenvolvidas nas disciplinas de Trabalho Interdisciplinar de Graduação - TIG 1, entre os

    cursos de Bacharelado em Design e Tecnologia de Design de Moda do Centro Universitário de Belo

    Horizonte  –  UniBH. A proposta uniu o desenvolvimento de design de superfície e identidade

    corporativa, aplicado ao campo da moda. Trabalhando em equipes de 4 a 6 pessoas, os estudantes

    foram instigados, por meio da conexão de conhecimentos e procedimentos metodológicos, a

    desenvolverem um projeto visual para um evento real, o que incluiu também a criação da marca,

    brandbook e sinalética da exposição.

    O ponto de partida para o desenvolvimento do projeto foi o convite da patrocinadora Dream

    Estamparia Digital, para a realização de uma exposição de estampas digitais, especialmente criadas

    pelos alunos. O evento ocorreu no Centro de Convenções Expominas Belo Horizonte, dentro da

    programação da Feira Minas Print Têxtil, em abril de 2014.

    Tendo como tema de pesquisa o Circuito Cultural da Praça da Liberdade, os alunos foram

    incentivados a traduzir graficamente a sua própria percepção dos mais variados estímulos existentes

    no local, enquanto espaço frequentado: lazer, ponto de encontro, paisagem, memória, arquitetura,

    cultura, símbolos, afetos dentre outros. De forma ampliada, os alunos envolvidos na dinâmica

    criativa (ALENCAR, 1993) foram instigados a buscar, na observação do cotidiano cultural, elementos

    que tornassem evidentes a relação do indivíduo e a cidade, por meio das relações sociais, no sentido

    de criar uma reflexão, a respeito da sociedade em que se encontram inseridos.

    O design, por muito tempo foi enfatizado como projeto, encontra-se inserido em um contexto em

    que se buscam respostas mais efetivas para os complexos desafios da atualidade. Dessa forma, esse

    saber passa a ser compreendido como processo, algo continuamente em construção e passível de

    sofrer e exercer influências. Seu escopo continua evoluindo em direção a uma perspectiva cada vez

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    abrangente, a qual exige pluralidade de saberes e de referenciais, modelos de ação colaborativos,

    contínuos e abertos, como uma forma de conceber, analisar e atuar na realidade que nos rodeia,

    religando o conhecimento e a experiência à vida.

    No âmbito do ensino em design, muitos são os desafios ainda encontrados na implementação de

    uma dinâmica interdisciplinar que consiga, na prática, integrar os diferentes conteúdos curriculares,

    de forma a possibilitar a assimilação da totalidade de saberes.

    2 INTERDISCIPLINARIDADE 

    As rápidas transformações do mundo contemporâneo evidenciam, cada vez mais, a necessidade da

    busca por estratégias que revejam as formas tradicionais de ensino e aprendizagem. Muito além da

    simples transmissão de conhecimentos, faz-se imprescindível lançar um novo olhar sobre a

    tradicional relação professor/aluno, estereotipada em dinâmicas verticalizadas e monocromáticas,

    nas quais este se porta como um simples coletor e repetidor de informações e rotinas, e aquele é o

    transmissor automatizado, burocrático, gerando uma relação hierarquizada e fria.

    O impacto das tecnologias contemporâneas na sociedade modificou sobremaneira o modo como os

    indivíduos lidam com o mundo que os envolvem, física ou digitalmente, permitindo uma intervenção

    no cotidiano de forma intensa, não mais se portando como sujeitos passivos, mas antes verdadeiros

    construtores de possibilidades, abrindo suas próprias oportunidades e intervenções. Novos

    paradigmas são propostos, enquanto outros são superados ou reinventados. Esse panorama reflete

    diretamente sobre as relações de ensino, o que deixa evidente, segundo Fontoura (2011, p.87), “a

    necessidade de se buscar outros modelos que permitam superar as formas tradicionais de pensar,

    emolduradas nos limites da disciplinaridade – pretensa organizadora do conhecimento”.

    Essas indagações não são recentes, já que se verifica a busca por definições e novos olhares,

    métodos e reflexões a respeito da dinâmica educacional desde o final do século XIX e início do século

    XX. Vygotsky (1991) desenvolveu importantes estudos a respeito das interações sociais na

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    constituição do ser humano. Tais estudos identificam a relevância dos contextos sócio-culturais na

    concepção dos processos psicológicos dos indivíduos, com reflexos diretos no ensino e

    aprendizagem. Essa reflexão a respeito dos processos psicológicos resultantes da interação sócio-

    cultural lança luz sobre os aspectos da diversidade, de como ocorre a produção e mediação de

    conhecimentos, vivências e saberes, pelo sujeito historicamente construído. Viver no mundo

    significa, por si só, uma relação interdisciplinar, na qual cada indivíduo reflete a própria

    universalidade. Segundo Morin (2003, p.40) “o ser humano, ao mesmo tempo natural e supranatural,

    deve ser pesquisado na natureza viva e física, mas emerge e distingue-se dela pela cultura,

    pensamento e consciência”. Um educador realmente engajado busca o desafio, consciente que

    participa, junto com o aluno, da construção do conhecimento. O processo de ensino e aprendizagem

    é uma via de mão dupla, na qual discente e docente constroem e desconstroem, constantemente,

    seus saberes, vivências e afetos. Observa-se, então, que “o interdisciplinar não é algo que se ensine

    ou que se aprenda é algo que se toma consciência e se concretiza através da mudança de atitude,

    diante do processo educacional” (FONTOURA, 2011, p.91).

    Essas considerações encontram grande pertinência, relativas ao papel do designer e sua formação,

    interdisciplinar por natureza, que exige do profissional uma postura curiosa e generalista. O designer

    necessita transitar por áreas aparente distintas ou desconectadas, já que seu ofício é projetar

    soluções, visuais, sistêmicas e emocionais. Conforme afirma Correia:

    O design é uma disciplina flexível, passível de várias interpretações [...] ao será uma conquista de uma

    só pessoa, ela formar-se-á em sim mesma, nos processos de diálogo entre todos os participantes nas

    diferentes etapas do projecto. (CORREIA, 2003, p.44)

    Portanto, o professor, em qualquer área do design, é chamado a transformar a sala de aula em

    espaço de experimentação e questionamentos, buscando novas relações, inclusive de espaços físicos

    e horários preestabelecidos, possibilitando a expansão das atividades para além dos limites da

    escola. Os alunos e professores se relacionam com o conhecimento de forma global, no qual o

    individual faz parte e sentido no todo e os saberes são compartilhados e construídos na sinergia

    entre a experiência emocional e a apreensão racional. O resultado, como esperado do produto do

    design, é sincrético, além do analítico-sintético.

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    3 A PRAÇA DA LIBERDADE E TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO

    O tema Flores Urbanas da Liberdade  foi idealizado pelo fato de refletir as significativas

    transformações que vinham acontecendo desde 2010, relacionadas à transição do poder político

    para o poder cultural, no Complexo Arquitetônico da Praça da Liberdade, na medida em que iam

    entrando em funcionamento os 12 espaços e museus que compõem o conjunto[i].

    Sabe-se que uma praça, como ponto de encontro, manifestação e convívio, representa o coração das

    cidades, local de expressão de múltiplos anseios. Construída na época da fundação de Belo

    Horizonte, em 1897, a Praça da Liberdade foi planejada para estar no ponto mais alto da cidade,

    concentrando o poder político da capital mineira em seu entorno, composto pelo Palácio do Governo

    e Secretarias de Estado. Com a mudança do governo de Minas Gerais para a recém-inaugurada

    Cidade Administrativa, os prédios históricos - tombados desde 1977 pelo IEPHA, Instituto Estadual de

    Patrimônio Histórico e Artístico - passaram a integrar o Circuito Cultural Praça da Liberdade,

    modificando profundamente o sentido do local e enriquecendo as múltiplas possibilidadesinterativas proporcionadas pelo espaço físico, simbólico, histórico, arquitetônico, social, artístico e

    afetivo da praça.

    A praça é do povo, já dizia o poeta. E o povo é vida! Vitória da cultura, que estava tomando posse de

    um espaço vital da cidade. Convergindo para aquele ponto múltiplas manifestações artísticas,

    culturais e científicas. Vindo de todos os cantos e bairros, com novas intenções emoções,

    percepções, ideias e sensações ao ocupar a praça. Vida colorida florescendo em novo fluxo de

    pessoas. Fazendo desabrochar toda a cidade, em sentido ampliado.

    A cidade serviu de fonte de inspiração e reflexão, sendo o ponto-chave para levar os alunos a

    compreender a importância da inserção de seu fazer nas questões do dia-a-dia da urbe, o impacto do

    projeto visual nas questões relacionadas aos usos do urbano (CERTEAU, 1994) e as relações que os

    cidadãos engendram com todos os componentes que fazem parte da tessitura da cidade. Nesse

    sentido, os envolvidos na dinâmica criativa foram instigados a buscar, na observação do cotidiano

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    cultural, elementos que tornassem evidentes a relação do indivíduo e a cidade, por meio das

    relações sociais, tanto na arquitetura, nos espaços sociais da praça e do cotidiano da população.

    Ao interligar esses vários significados, o contraste contido no sentido de ”flores urbanas” apresenta

    um potencial de se desdobrar de múltiplas formas, em diversas direções. E veio a se tornar um

    eficiente instrumento didático de provocação e motivação, para que a pesquisa iconográfica

    realizada pelos estudantes fosse além do óbvio, sem descartar, contudo, o uso intencional de clichêscomo um recurso estético. É importante também considerar que a palavra “liberdade” vai muito  

    além de nomear um espaço, pois tem o poder de despertar anseios de autoexpressão que são muito

    importantes de serem avivados, e não apenas no âmbito acadêmico, tanto no aprendizado do

    exercício da liberdade criativa, quanto no reconhecimento da importância da liberdade para o

    verdadeiro aprendizado da autonomia e responsabilidade (FREIRE, 1996).

    Como futuros profissionais que interagem dinamicamente com os elementos e contextos mais

    significativos da contemporaneidade, e guiados pela livre experimentação de seu potencial sensível,

    cada futuro designer  que participou da mostra, portanto, teve a oportunidade de expressar a sua

    própria percepção dos mais variados estímulos existentes no local pesquisado. Moraes (2009, p. 10)

    salienta que “vários atributos, antes tidos como secundários, por exemplo, ‘o valor de estima’, os

    ‘fatores emotivos, estéticos e psicológicos’, a ‘qualidade percebida’ [...] são hoje fatores

    determinantes e diferenciais competitivos alçados à condição de atributos primários”.   A partir do

    momento em que sensações subjetivas, como a afetividade ou o pertencimento, são tidas como

    aspectos fundamentais para configurar uma boa experiência de consumo, torna-se cada vez mais

    relevante a necessidade de desenvolver competências que vão além de um âmbito profissional

    específico, mas que contemplem também, a projetação de aspectos estéticos e simbólicos da

    cultura, capazes de agregar valor e assumir mediação nas dimensões materiais e imateriais, seja da

    produção de artefatos físicos ou na criação de imagens e de conceitos (KRUCKEN, 2009). A somatória

    da produção estampada digitalmente revela um grande mosaico, um lugar que pode ser comparado

    a um jardim, em que cada flor é única e contribui de forma inigualável para a visão do todo.

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    4 PRODUÇÃO VISUAL 

    ESTAMPAS 

    Foram desenvolvidas 35 estampas digitais exclusivas, em atividades projetuais interdisciplinares que

    propiciaram a criação tanto individual, quanto coletiva das imagens. As artes foram geradas

    inicialmente através de várias técnicas, sendo as mais utilizadas: a fotografia, o desenho, a ilustração

    e a colagem. Ao transpor o material de inspiração para o software  de edição de imagens, os

    estudantes enfrentaram diversos desafios: em primeiro lugar, pelo fato de estarem aprendendo a

    dominar os recursos do programa, o que tende sempre a produzir tanto um encantamento, quanto

    um desconforto, diante de tantas inúmeras opções, que parecem à primeira vista muito fáceis de

    serem executadas, mas que, na prática, se apresentam ao aprendiz junto a uma multiplicidade de

    detalhes e procedimentos técnicos.

    Uma segunda questão veio do fato instigante de que, pela manipulação das imagens digitais, é

    possível gerar uma infinidade de matrizes, as quais privilegiam o processo criativo enquanto

    descoberta. Com a possibilidade de se salvar as imagens produzidas e pela facilidade de preservá-las

    como matriz digital, é possível voltar várias vezes num mesmo ponto, desdobrando outras

    experimentações, de forma que, se não houver um fio condutor bem claramente definido de onde se

    pretende chegar, ao final, o excesso de possibilidades pode acabar em cansaço e confusão.

    Além disso, é intenso o aprendizado das competências transversais necessárias para o

    desenvolvimento das habilidades em saber fazer tecnicamente, saber se expressar, saber reconhecer

    o valor do que está sendo produzido, saber alinhar o conceito com a produção, saber interagir com o

    fluxo das ideias que vão circulando e se influenciando mutuamente, saber afirmar o seu potencial e

    saber atuar dentro do tempo curto que é disponibilizado, desde o começo do semestre letivo, até a

    materialização do projeto. No caso da Exposição Flores Urbanas da Liberdade, o prazo foi de 2 meses

    e meio para estar tudo pronto, estampado, costurado, montado e apresentado. As peças produzidas

    com os tecidos estampados foram posteriormente confeccionadas e desfiladas no Teatro Ney Soares,

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    em Belo Horizonte, por ocasião da conclusão do semestre letivo, conforme mostrado nas figuras a

    seguir.

    A Figura 1 apresenta a criação visual das estudantes Jaíza Lobo, Emanuele Azevedo e Rachel Santana

    enfatizando o aspecto artístico, registrando uma das sensuais e elegantes esculturas de bronze

    patinado da coleção “Musa” do artista Leopoldo Martins, expostas na Praça da Liberdade naquele

    período. Em estilo surrealista, pode-se observar um efeito de espelhamento e inversão de elementosvisuais na estampa, bem como o aspecto do feminino é salientado na construção do look , seja pelo

    local de encaixe da figura em relação ao corpo da modelo, que centraliza o olhar numa região

    altamente carregada de sentidos, seja pelo efeito ampliado do formato circular da parte de cima da

    peça, que explicita uma área oculta, aberta para a observação alheia.

    Figura 1: Estampa com inspiração em escultura de Leopoldo Martins 

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    O processo criativo é compreendido como uma expressão amplamente ligada ao repertório cultural

    de cada indivíduo (OSTROWER, 1977). Apesar disso, não deixa de ser surpreendente a variedade de

    propostas e estilos que se manifestam dentro de uma mesma turma de alunos, que trabalha em sala

    de aula a partir dos mesmos estímulos. Buscando identificar1  e agrupar alguns temas, pode-se

    observar na Figura 2, a presença de imagens que remetem a aspectos mais facilmente perceptíveis,

    tais como a influência da imponente arquitetura do local, com ênfase no coreto e no prédio de Oscar

    Niemeyer. Contudo, tendendo para o lado abstrato, figuras vão se desfazendo, se mesclando, se

    confundindo, se perdendo, ou talvez, se encontrando num mar de possibilidades, criando

    composições que refletem significativos aspectos do caldo cultural contemporâneo.

    Figura 2: Estampas inspiradas em temas diversos - arquitetura, artesanato, pessoas e fluxo de energias 

    1 Estampas criadas pelas alunas: Suellen Tayne, Joanna Carrara, Laura Alves, Mariana Lanças, Thauanny Ribeiro,

    Karen Soares, Helena Dias, Lucilene Pereira, Maria das Graças Jaud. 

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    IDENTIDADE VISUAL

    Essa etapa metodológica, desenvolvida juntamente com o processo de pesquisa e criação das

    estampas, se refere à concepção da identidade visual do evento Flores Urbanas da Liberdade, por

    parte dos alunos de Design Bacharelado. Os alunos se organizaram em quatro equipes e

    desenvolveram, por meio de uma pesquisa documental, vídeos, entrevistas e palestras, o histórico da

    Praça da Liberdade, na busca de decifrar seus significados e indagações. Todo esse processo de

    coleta de informações possibilitou aos alunos, por meio das técnicas de mapas mentais e conceituais,

    sessões coletivas de brainstorm e produção de roughs, o conceito central das marcas. Cada equipe

    gerou um caderno de processos, apresentando as bases do memorial descritivo da marca, essenciais

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    às etapas de germinação, preparação, incubação e iluminação, iniciais na dinâmica de criação

    (TSCHIMMEL, 2010). A partir dos logotipos e marcas mistas finais, foram propostas aplicações em

    peças gráficas  e produtos - cartazes, folders, convites, brindes,  brandbook , dentre outros - sendo

    desdobrados em estampas e padrões visuais.

    As marcas finais foram submetidas a uma banca para a escolha da identidade corporativa do evento,

    formada por profissionais da área de impressão digital, design e moda, objetivando inserir os alunos

    em experiência real de mercado, incentivando a percepção da atividade para além de seus fins

    didáticos, como uma oportunidade de organização de um portfólio consistente. A identidade visual

    escolhida pela banca julgadora se baseou nos elementos construtivos do cenário visual da Praça da

    Liberdade, que instigam o observador a buscar significados complexos e vibrantes. O resultado foi

    uma identidade visual bem estruturada, na qual elementos simbólicos como a tradição neoclássica

    do Coreto da Praça e as curvas modernistas da obra de Oscar Niemeyer se associam, resultando em

    estrutura orgânica, alegoria de liberdade. Na Figura 3 é possível verificar o processo de criação de

    equipe formada pelos alunos Carlos Eduardo Santos, Eden Mota, Igor Marcelo Silva, Isaac Freitas e

    Jean Carlos Aires, além do resultado da marca mista na versão oficial.

    Figura 3: Processo de criação da identidade visual da exposição Flores Urbanas da Liberdade 

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    Sob essa égide, a equipe vencedora da proposta visual ficou responsável em coordenar, em

    aproximadamente 100 m², a execução do projeto de sinalética - painéis, adesivagem de piso e

    paredes do estande, totens - e o próprio projeto de ambientação expográfica, conforme Figura 4.

    Esses projetos contaram com a participação de todos os alunos dos cursos de Design  de Moda e

    Design Corporativo, sob a orientação e apoio dos professores de ambos os cursos. 

    Figura 4: Exposição Flores Urbanas da Liberdade 

    5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 

    O Projeto Interdisciplinar Flores Urbanas da Liberdade demonstrou a viabilidade no diálogo entre as

    múltiplas áreas de conhecimento e domínios sociais, chancelando a inexistência dos limites de

    criação e reflexões no fazer dos envolvidos na dinâmica do ensino e aprendizado em design. O

    projeto contribui de forma inigualável para iluminar vislumbres da complexa e fragmentada

    realidade pós-moderna, espelho relevante de elementos culturais imbricados nos contextos sociais

    mais significativos da contemporaneidade, conforme salienta De Masi (2013). Através da projetação

    criativa de olhares culturais no campo do design  contemporâneo pode-se, então, inferir que é

    possível relacionar diferentes saberes capazes de delinear o momento atual como um espaço

    habitado e prenhe de inúmeras potencialidades. Como desdobramentos, pode-se citar o

    fortalecimento das parcerias, não somente entre as instituições fomentadoras e patrocinadores, mas

    principalmente entre os docentes e discentes, na construção do conhecimento. Verifica-se, dessa

    maneira, a transdisciplinaridade, no momento em que o resultado é o fortalecimento das relações,

    da autoestima e confiança, ampliando olhares e possibilidades.

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    6 REFERÊNCIAS 

    ALENCAR, Eunice. M. L. S. Criatividade. Brasília: Universidade de Brasília, 1993.

    CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Petrópolis/ RJ: Vozes, 1994.

    CORREIA, Rita. R. A Interacção do Design Industrial com a Ciência e a Tecnologia: a abordagem interdisciplinar

    (dissertação para obtenção título de mestre em desenho industrial). Faculdade de Engenharia da Universidade

    do Porto. Escola Superior de Artes e Design de Matosinhos. Portugal, 2003.

    De MASI, Domenico. O futuro chegou: modelos de vida para uma sociedade desorientada. Rio de Janeiro: Casada Palavra, 2013.

    FONTOURA, Antonio. M.  A interdisciplinaridade e o ensino do design. Projética Revista Científica de Design,

    Universidade Estadual de Londrina, v.2, nº. 2, Dezembro 2011

    FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à pratica educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

    KRUCKEN, Lia; BARBOSA, Paula G.; FERREIRA, Priscila B. M. Contribuições do design de ambientes para a

    valorização do território: proposta para uma casa de cultura baseada na personagem Hilda Furacão. 11º P&D

    Design - Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em design. 2014. Disponível em:

    http://www.ufrgs.br/ped2014/trabalhos/trabalhos/1053_arq2.pdf. Acesso em 01 mai. 2015.

    MORAES, Dijon de. O papel atual do design. In: KRUCKEN,Lia. Design e território: valorização de identidades e

    produtos locais. São Paulo: Studio Nobel, 2009.

    MORIN, Edgar.  A cabeça bem-feita: Repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand

    Brasil, 2003.

    OSTROWER, Fayga. Criatividade e Processos Criativos. Rio de Janeiro: Vozes, 1977.

    TSCHIMMEL, Katja C. Sapiens e Demens no Pensamento Criativo do Design, 2010, 574 f. (Tese de doutoramento

    em Design do Departamento de Comunicação e Arte) Universidade de Aveiro, Portugal, 2010.

    UNESCO. Educação  –  Um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre aEducação para o século XXI. Brasília, 2010. Disponível em:

    http://unesdoc.unesco.org/images/0010/001095/109590por.pdf . Acesso em 01 jul. 2015.

    VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991 - 4ª edição brasileira.

    [i] Arquivo Público Mineiro, Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, Casa Fiat de Cultura, Centro Cultural Banco do Brasil,

    Centro de Arte Popular Cemig, Centro de Formação Artística – Cefar Liberdade; Espaço do Conhecimento UFMG, HorizonteSebrae  –  Casa da Economia Criativa, Memorial Minas Gerais Vale, MM Gerdau - Museu das Minas e do Metal, MuseuMineiro e Palácio da Liberdade 

    http://unesdoc.unesco.org/images/0010/001095/109590por.pdfhttp://unesdoc.unesco.org/images/0010/001095/109590por.pdfhttp://unesdoc.unesco.org/images/0010/001095/109590por.pdfhttp://unesdoc.unesco.org/images/0010/001095/109590por.pdfhttp://unesdoc.unesco.org/images/0010/001095/109590por.pdf