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i Quando as vending machines não vendem: um estudo exploratório da venda automática no Brasil Renata de Oliveira Razuk UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro COPPEAD – Instituto Coppead de Administração Mestrado em Administração orientador: Everardo Pereira Guimarães Rocha D.Sc. em Antropologia Social (Museu Nacional/UFRJ) Rio de Janeiro 2001

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Quando as vending machines não vendem:

um estudo exploratório da venda automática no Brasil

Renata de Oliveira Razuk

UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro

COPPEAD – Instituto Coppead de Administração

Mestrado em Administração

orientador:

Everardo Pereira Guimarães Rocha

D.Sc. em Antropologia Social

(Museu Nacional/UFRJ)

Rio de Janeiro

2001

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Quando as vending machines não vendem:

um estudo exploratório da venda automática no Brasil

Renata de Oliveira Razuk

Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto Coppead de Administração

– COPPEAD, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre.

Aprovada por:

__________________________________________

Prof. Dr. Everardo P. Guimarães Rocha – Orientador

__________________________________________

Prof.ª Dr.ª Letícia Moreira Casotti

__________________________________________

Prof.ª Dr.ª Ana Carolina P. Duarte da Fonseca

Rio de Janeiro

2001

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Razuk, Renata de Oliveira.

Quando as vending machines não vendem: um estudo exploratório sobre a venda

automática no Brasil / Renata de Oliveira Razuk – Rio de Janeiro, 2001.

x, 132 p.

Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Federal do Rio de Janeiro

– UFRJ, Instituto Coppead de Administração – COPPEAD, 2001.

Orientador: Everardo Pereira Guimarães Rocha

1. Máquinas Comerciais Eletrônicas. 2. Indústria Alimentícia – Consumo.

3. Comportamento do Consumidor – Marketing. 4. Administração de Empresas – Teses.

I. Rocha, Everardo (Orient.). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto

Coppead de Administração. III. Título

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“Mais do que máquinas, precisamos de humanidade.

Mais do que inteligência, precisamos de afeição e doçura.”

(Charlie Chapplin)

Dedico essa dissertação ao meu irmão Ricardo,

um amigo que tem me ensinado a encontrar a felicidade

no equilíbrio entre razão e emoção.

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Agradecimentos

Esta deveria ser a parte mais simples de se elaborar em uma dissertação, mas

confesso que para mim se tornou uma das mais complicadas. Cada vez que pensava nos

nomes que citaria aqui, me vinha à mente uma vasta gama de pessoas que, direta ou

indiretamente, contribuíram para que esse sonho se concretizasse. Por isso, preferiria

fazer meu agradecimento assim: “a todos aqueles que se sentem de alguma forma

responsáveis por essa criação, muitíssimo obrigada”.

Entretanto, me sinto compelida a dedicar esse espaço àqueles que participaram

mais ativamente, cada um a sua maneira, da execução desse trabalho acadêmico.

Portanto, minha maior gratidão...

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq,

pelo auxílio financeiro durante os dois anos de mestrado;

Ao Instituto Coppead de Administração, pela oportunidade de crescimento

acadêmico;

Ao meu orientador de dissertação, Everardo Rocha, por sua incansável

dedicação a esse trabalho;

Aos professores Angela da Rocha, Paulo Fernando Fleury e Kleber Fossati

Figueiredo, pelas sugestões de leitura e pela paciência em atender aos meus pedidos;

Aos professores Ursula Wetzel, Rebecca Arkader, Heloísa Leite, Renato Cotta

de Mello e Letícia Moreira Casotti, pelo aconselhamento inicial na escolha do tema;

Aos colegas, ou melhor, amigos da turma 99, pela troca intelectual e pelas

demonstrações de curiosidade que me motivaram ainda mais;

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Aos funcionários da Biblioteca do COPPEAD, pela boa disposição em me

receber (especialmente ao ambiente agradável proporcionado por Carlos e Vera na

recepção e pelas dicas técnicas de Ana Rita);

Ao pessoal da Secretaria Acadêmica, Cida, Eva e Carlos, por todo o suporte

burocrático e pela enorme paciência;

Aos colegas do TCE-RJ, principalmente a Neyde F. Cunha, pela compreensão

que tiveram nos momentos cruciais do desenvolvimento dessa dissertação;

Aos amigos mais próximos, pelo incentivo carinhoso e pelas idéias variadas e

estimulantes;

Ao atual e ao antigo gerente de vendas Coke Machine da Rio de Janeiro

Refrescos, respectivamente, Arlindo Leite e Sávio Bogado, pelo interesse em ajudar;

A Miguel Prinstak, da empresa MPK Brasil Representações, pela esclarecedora

conversa sobre as vending machines;

A todos os alunos da FCS/Uerj de 2001, pela atenção, e aos entrevistados, pela

boa-vontade e vibração positiva;

À Secretaria da FCS/Uerj, em especial ao Sr. Roberto Donato, pelo auxílio com

os questionários;

A Eliésio Junior, pelo carinho e pela presença nos momentos finais;

A minha família, pelo amor, fonte de toda inspiração;

A Deus, pela vida e por suas realizações.

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Razuk, Renata de Oliveira. Quando as vending machines não vendem: um estudo

exploratório sobre a venda automática no Brasil. Orientador: Prof. Dr. Everardo

Pereira Guimarães Rocha. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2001. Dissertação.

(Mestrado em Administração).

O objetivo primeiro dessa dissertação é explorar a questão da venda automática

no Brasil, tendo como base ambos os aspectos da produção e do consumo. Para tanto, a

pesquisadora se valeu dos seguintes recursos materiais: notícias jornalísticas nacionais e

internacionais, pesquisa de campo (em empresas) e, especialmente, entrevistas com

usuários freqüentes de vending machines. Os dados coletados foram interpretados

segundo teorias de logística e marketing (definições de canal e conceitos sobre

automação), de consumo e tecnologia (comportamento do consumidor e adoção de

inovações) e, finalmente, de antropologia (fundamentos gerais), tendo como principal

ferramenta o método de estilo etnográfico.

O mercado brasileiro foi comparado ao de outros países, principalmente Estados

Unidos e Japão, a fim de descrever as diferenças entre eles com relação à performance

de vendas por máquinas, aos avanços tecnológicos nos equipamentos e às tendências da

Indústria de automação. Além disso, um grupo consumidor por máquina foi escolhido

para apresentar suas impressões a respeito do assunto, o que ajudou a demarcar as

características da compra automática no Brasil. Os resultados gerados permitiram que a

pesquisadora apontasse sugestões de como adaptar as máquinas vendedoras à realidade

cultural brasileira.

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Razuk, Renata de Oliveira. Quando as vending machines não vendem: um estudo

exploratório sobre a venda automática no Brasil. Orientador: Prof. Dr. Everardo

Pereira Guimarães Rocha. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2001. Dissertação.

(Mestrado em Administração).

The main objetive of this dissertation is to explore the automatic selling issue in

Brazil on the basis of both production and consuption aspects. In order to achieve such

an aim, the reasercher used the following material resources: national and international

journalistic articles, field research (in-company) and, most of all, interviews with

frequent users of vending machines. The interpretation of all the data collected was

grounded on theories of logistics and marketing (channel definitions and automation

concepts), consuming and technology (consumer behavior and innovations adoption)

and, finally, antropology (general fundaments), having the ethnography style method as

principal tool.

The Brazilian market was compared to the situation in other countries, specially

United States and Japan, in order to describe the differences between them regarding

selling performance through machines, technological advances in equipment and trends

in the automation Industry. Apart from this, a machine-consumer group was selected to

talk about their impressions on the subject, reinforcing, consequently, the Brazilian own

characteristics of automatic buying. The final results allowed the researcher to make

suggestions on how to addapt automatic-seller machines to brazilian cultural reality.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO p.01

1.1 - O Problema p.01

1.2 - Objetivos, Delimitações e Relevância do Estudo p.03

1.3 - Alguns Estudos sobre VMs p.05

2. METODOLOGIA p.10

2.1 - Tipo de Pesquisa p.10

2.2 - O Grupo-Consumidor e a Seleção dos Informantes p.13

2.3 - Coleta e Tratamento dos Dados p.14

2.4 - Limitações do Método p.18

3. REVISÃO DE LITERATURA p.21

3.1 - Canais de Distribuição p.21

3.1.1) Definições de canal e outras conceituações p.21

3.1.2) Visões do marketing e da logística p.25

3.1.3) Tipos de canal: a distribuição direta e as vendas automáticas p.29

3.2 - As Vending Machines p.32

3.2.1) Panorama Histórico p.32

3.2.2) Novidades em Tecnologia p.34

3.2.3) Usos e Estratégias no Exterior p.37

3.2.4) Evolução das VMs no Brasil p.41

3.3 - Tecnologia e Consumidor p.44

3.3.1) A Inovação Tecnológica e o Processo de Difusão p.44

3.3.2) Adoção e Difusão de Inovações: outros conceitos p.47

3.3.3) Comportamento do Consumidor e Processo Decisório p.52

3.3.4) A Influência da Cultura no Comportamento de Consumo p.55

3.4 - Antropologia e Fatores culturais p.58

3.4.1) Correntes Antropológicas p.58

3.4.2) Cultura e Etnografia: conceituações p.59

3.4.3) Peculiaridades da Cultura Brasileira p.61

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4. O DISCURSO DOS INFORMANTES: ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

p.66

4.1 - Representantes do Setor p.66

4.2 - Consumidores Finais p.71

5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE PESQUISAS FUTURAS p.101

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS p.110

7. ANEXOS p.117

Anexo 1: Pesquisa eletrônica de preferência (consumidores brasileiros) p.117

Anexo 2: Questionário de pesquisa definitivo p.118

Anexo 3: Roteiro para a entrevista com os consumidores p.120

Anexo 4: Resultados do pré-teste com o questionário provisório p.124

Anexo 5: Dados (nome, telefone e localização) das empresas atuantes no setor de

vending machines no Brasil p.126

Anexo 6: Resultados estatísticos do questionário-filtro p.132

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1. INTRODUÇÃO

1.1 – O Problema

Assim como os produtos/serviços existentes, seus canais de distribuição têm se

diversificado dia após dia, possibilitando às empresas enfrentar a concorrência e se

adaptar às inúmeras mudanças no mercado em que atuam. Apesar de a maioria dos bens

ainda serem vendidos por meio de lojas físicas, o varejo sem loja, que inclui marketing

direto, venda direta e venda automática1, tem crescido muito mais depressa que o varejo

de loja. De acordo com Philip Kotler e Gary Armstrong (1999), meios como catálogos,

reembolso postal, telefone, canais de compra pela televisão, serviços de compra on-line

por computador, porta-a-porta, reuniões de compra em casa e no escritório já

respondiam por mais de 14% de todas as compras do consumidor em 1995, com

previsão de chegar a um terço de suas compras no ano 2000.

As máquinas vendedoras não são um fenômeno recente, mas o auto-atendimento

eletrônico, característica fundamental das vending machines que conhecemos

atualmente, só surgiu e prosperou após a Segunda Guerra Mundial. “As máquinas de

venda automática de hoje usam tecnologia de computadores da era espacial para vender

uma grande variedade de produtos de conveniência: cigarros, refrigerantes, balas,

jornais, alimentos, lanches, meias finas, cosméticos, livros, camisetas, apólices de

seguro, pizzas, filmes de vídeo e até mesmo cera de sapatos e isca para pesca”

(KOTLER e ARMSTRONG, 1999, p.304).

Esse tipo de canal de distribuição, entretanto, possui certas desvantagens, que

podem ser, a princípio, resumidas assim: o alto custo do equipamento e da assistência

técnica elevam os preços dos produtos em 15 a 20% e os consumidores têm que se

conformar com os defeitos que surgem durante a operação de compra, a falta de alguns

itens e o fato de os produtos não poderem ser devolvidos. De qualquer forma, essas

máquinas são encontradas por todo lado, desde escritórios a terminais de trem, e nos

1Tipo de venda efetuada por vending machines, doravante VMs (no singular VM), que, por sua vez, devemser entendidas como “máquinas portáteis de vendas automáticas, que funcionam à base de moedas e notas,

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Estados Unidos são, anualmente, responsáveis por quase 20% das vendas de refrigerante

(quase 10% do escoamento de refrigerantes da marca Coca-cola), o que pode ser

explicado, em parte, pela alta conveniência (auto-serviços 24h/dia) e conservação (os

produtos se danificam menos, pois não há manuseio durante a escolha) que oferecem.

No Brasil, por outro lado, a venda automática de bebidas ainda é insignificante

comparativamente a outros canais de venda. Em palestra proferida aos alunos de

mestrado do Instituto Coppead de Administração, da UFRJ, em julho de 1999, Edson

Bregolato, coordenador de informações e controles gerenciais da Rio de Janeiro

Refrescos, disse que as vending machines somam bem menos que os 10% norte-

americanos nas vendas de refrigerante da Coca-Cola. O atual gerente de vendas Coke

Machine da mesma empresa, Arlindo Leite, foi um pouco mais preciso: “o canal

automático é responsável por menos de 1,5% das vendas desses refrigerantes no país”.

Ao se observar o comportamento do consumidor brasileiro, há indicações de que

a ‘cultura’ das máquinas de auto-serviço, as vending machines, não está disseminada

aqui. Quando alguém se aproxima de uma máquina de refrigerantes em lata numa

estação de metrô, por exemplo, raras são as vezes em que efetua a compra. De acordo

com impressões preliminares, as explicações para essa atitude variam, sendo as mais

recorrentes a incompreensão das instruções, o receio de não receber pelo que foi pago, o

medo de não obter o troco ou mesmo a vergonha de errar. Percebe-se também que

quando a compra é realizada, freqüentemente quem opera a máquina é uma pessoa

jovem do grupo, e que quando há outro canal de venda de bebidas, a exemplo de bares e

lanchonetes, próximo às VM, o consumidor opta pelo primeiro.

A dificuldade de se entrar no mercado brasileiro foi sentida pela GR Serviços de

Alimentação – Divisão Vending Service, uma operadora do grupo franco-inglês Arcor e

Compass2 que trabalha com o abastecimento de VMs. Desde 1998 no país, quando

iniciou suas operações em São Paulo visando o estabelecimento de máquinas de venda

automática de refeições prontas, a GR vem tentando entender o consumidor brasileiro.

Em 2001 decidiram entrar no Rio de Janeiro, mas já estavam sem verbas para enfrentar

sem a presença de operadores”, conceito este aceito e difundido no Brasil pela ABVA (AssociaçãoBrasileira de Venda Automática).2 Líder na Europa, a Compass comprou a norte-americana Canteen, absorvendo toda a tecnologia de pontadesenvolvida por esta na operação de máquinas de venda automática.

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as dificuldades de adaptação ao mercado nacional. A direção da empresa admite que até

hoje ainda não conseguiram descobrir o que fazer para atender bem aos brasileiros.

Esse aspecto da venda automática no Brasil - o baixo índice de venda por VMs

em comparação com outros países (EUA, por exemplo) aliado à sensação de que os

brasileiros ainda não aceitaram as máquinas como alternativa de canal de compra -

motivaram o desenvolvimento do presente estudo.

Causa estranhamento que essas máquinas de bebidas não sejam tão ou mais

utilizadas aqui que nos Estados Unidos, uma vez que nosso clima tropical, com estações

pouco demarcadas durante o ano e temperatura média acima dos 20º C, seria propício

para o uso abundante dessa compra por impulso a fim de satisfazer a sede. Além disso,

não se pode mais justificar seu pouco uso pela inconveniência de se ter que comprar

fichas, como acontecia na época da inflação. Hoje, as máquinas aceitam notas ou

moedas e ainda dão troco.

Por que, então, as vending machines vendem tão pouco no Brasil

comparativamente a outros países? O que está faltando para que os brasileiros criem o

hábito de consumir por máquinas? Qual é, afinal, a situação da venda automática no

nosso país, atualmente?

Para tentar responder a essa(s) pergunta(s), a presente dissertação pretende

explorar os dados sobre esse setor e enriquecer essas informações com as interpretações

obtidas a partir de um estudo de estilo etnográfico3 com um grupo de usuários dessas

máquinas de venda automática.

1.2 – Objetivos, Delimitações e Relevância do Estudo

O principal objetivo desta dissertação é estudar de forma exploratória a questão

da venda automática e, ao mesmo tempo, entender o comportamento do consumidor

brasileiro em relação a essas máquinas a partir de um grupo de usuários determinado

pelo pesquisador, utilizando como linha de pensamento estudos antropológicos sobre o

3 O método de estilo etnográfico inclui técnicas utilizadas pela etnografia (método etnográficopropriamente dito) como pesquisa de campo e entrevistas em profundidade, mas não chega a exigir oconvívio do pesquisador com o grupo estudado.

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consumo, com ênfase em questões culturais, tentando, assim, encontrar uma explicação

para o baixo índice de venda por esse canal em comparação aos demais canais no Brasil.

Dessa forma, objetivos intermediários também deverão ser alcançados, como o

levantamento de sugestões dadas pelo consumidor sobre as máquinas e a sua utilização,

incluindo novas idéias e produtos a serem vendidos via VMs, obtendo-se assim um

apanhado da opinião do mercado consumidor. Os objetivos secundários não se esgotam

aqui, uma vez que, durante a elaboração da dissertação, podem surgir outras questões

importantes de serem averiguadas. Entretanto, o estudo esbarra em algumas limitações.

Nos EUA, por exemplo, as máquinas vendem de tudo, inclusive preservativos

em banheiros, mas no Brasil as mais comuns são as de bebida, cartão telefônico, balas e

biscoitos (vide Anexo 1, sobre pesquisa eletrônica de preferências). Além disso, as VMs

comercializadas aqui são produzidas nos Estados Unidos, mas seus produtos ainda não

podem ser comprados com cartão de crédito, sendo tampouco possível aproveitar as

vantagens do cartão inteligente, como já acontece lá.

Portanto, o estudo evitará tomar como padrão vendings não existentes aqui e terá

como foco as máquinas vendedoras em si, para que não se confunda o comportamento

de compra por vending machines com o comportamento de compra dos produtos das

vending machines. Esse último ultrapassaria as fronteiras dessa dissertação. Ou seja,

enfocar as entrevistas com os consumidores, por exemplo, nas máquinas evita que os

resultados do estudo reflitam o comportamento em relação ao produto e não ao canal.

Quanto ao suporte teórico da pesquisa, não se pretende buscar explicações para o

problema na psicologia nem mesmo na filosofia, alternativas comuns nos estudos de

consumo, mas sim na antropologia, realizando, portanto, uma espécie de etnografia do

consumidor brasileiro e seu comportamento diante das vendas automáticas.

No mais, entender por que os consumidores ainda não se sentem à vontade com

o uso das vending machines é de grande importância não só para esse Setor

propriamente dito (fabricantes, representantes e operadores de máquinas de venda)

como para todas as empresas que tenham uma estratégia de multicanal que inclua a

venda automática para seus produtos. Com os resultados dessa pesquisa, será possível

dominar melhor o canal da VM e, assim, traçar estratégias de venda mais eficientes. Por

exemplo, caso a pesquisa aponte para uma explicação de cunho cultural, os gerentes

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terão algumas bases para sugerir adaptações nas máquinas a fim de se adequarem às

exigências do consumidor brasileiro.

Além disso, esse estudo é relevante na medida em que ajuda a preencher uma

lacuna na bibliografia sobre venda automática, pois a grande maioria das pesquisas se

preocupa apenas com a relação propriamente dita do homem com a máquina ou, no

máximo, se aproximam do tema por meio dos estudos sobre as ATMs de bancos4.

Alguns dos poucos exemplos de trabalhos acadêmicos recentes sobre VMs estão a

seguir.

1.3 - Alguns Estudos sobre VMs

Postell (1999) fez um pequeno estudo sobre o comportamento de compradores

de snacks por vending machines. Entrevistou 177 pessoas aleatoriamente dentre alunos,

professores e funcionários da Mississipi State University no momento da compra, e em

diversas máquinas. O questionário aplicado foi desenvolvido de tal forma que

possibilitasse as pessoas em questão a completarem-no justamente enquanto faziam a

compra. O propósito da pesquisa foi determinar as características demográficas e de

consumo de salgadinhos do usuário típico de vending machines, além de sua preferência

por snacks de baixa-caloria. As conclusões mais importantes foram as seguintes: a

maioria dos usuários era formada por brancos (60,5%), mulheres (56,5%) entre 18 e 23

anos (69%). A maioria beliscava um, dois ou três dias por semana (50,3%) e mais da

metade dos respondentes (57,1%) disse que comprariam itens menos calóricos se

houvesse mais deles disponíveis.

4 Exemplos recentes desses estudos são: ALMEIDA, I. P. Consumidor Organizacional e a AutomaçãoBancária. RJ, COPPEAD/UFRJ, 1988. 152p. Dissertação de mestrado; FALCÃO, Rosa Maria Barbosa.Comportamento do Consumidor diante da Automação Bancária: Um Estudo entre Universitários. RJ,COPPEAD/UFRJ, 1993. 140p. Dissertação de mestrado; FIGUEIREDO, Kleber Frossati. FatoresDominantes na Difusão de Inovações Tecnológicas: O caso das ATMs no setor bancário espanhol.Universidad de Navarra (Barcelona), 1987, 156p., Tese de doutorado; e MELLO, Renato Cotta de et al.Quem vai ao Banco 24 horas e/ou quem consome um novo serviço. Mercado Global, V.12, n.63, pp 28-36, maio/junho de 1995.

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O estudo do francês Observatoire Regional de La Sante é tão quanto ou mais

específico que o anterior e avalia a utilidade da vending machine em prover seringas

esterilizadas a usuários de drogas, em Marseille, França. A metodologia consistiu de

questionários distribuídos a 485 drogados, dos quais 343 responderam (taxa de resposta

de 70,7%), tendo obtido os seguintes resultados: 21,3% usam as máquinas de auto-

serviço como sua primeira opção de canal (fonte) para a aquisição de seringas. Esse

grupo (usuários de VMs como primeira fonte) era composto das pessoas mais prováveis

de ter menos de 30 anos, nunca ter se submetido a tratamento antidependência e não

estar habituados a trocar suas seringas.

A conclusão a que chegam os pesquisadores Obadia Y., Feroni I., Perrin V.,

Vlahov D. e Moatti J.P. (1999) é que as vendings podem ser uma estratégia apropriada

para dar acesso a seringas a jovens usuários de drogas que costumam evitar os

programas de troca de agulhas e as farmácias em geral. Outro estudo5 com jovens no

Japão descobriu que o aumento das vendas por máquinas automáticas contribui com a

prevalência do consumo de cigarros por parte de adolescentes.

Connell (1998), mais preocupado com a máquina em si, descreve um teste

(análise de erro) desenvolvido em três vendings de tíquetes/passagens instaladas em

estações de metrô e trem em Londres. Uma inspeção rápida, que resultou em uma série

de erros antevistos, foi seguida por observações empíricas mais longas das falhas e erros

durante o uso de uma máquina automática. Foram duas fases de observação com cinco

anos de intervalo entre elas.

A partir daí, foram feitas comparações entre os padrões de erro das três

máquinas, usando as categorias de erro derivadas da análise inicial, e percebeu-se que

essas comparações eram suficientes para dar conta da maioria das diferenças entre fases

ou mesmo entre máquinas, embora alguns erros não-atribuídos continuassem existindo.

Descobriu-se também que a maior parte dos erros tinha sido prevista pela inspeção

inicial, o que sugere que para interfaces relativamente simples como essas, o método –

Dialogue Error Analysis – é suficiente para identificar e prever grande parte dos

5 HONJO K, Kawachi Effects of market liberalisation on smoking in Japan. In: Tobacco Control: 193-200, junho de 2000.

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problemas que ocorrem durante o uso. No estudo também houve uma tentativa de

relacionar as categorias de erro às taxonomias de erros humanos.

Na área de saúde há também o estudo de Hunter (1992). Ele admite que desde os

anos 50, as VMs têm contribuído e revolucionado a maneira de como comprar comida e

bebida, mas que, apesar dos benefícios óbvios associados à tecnologia, as máquinas de

auto-serviço nem sempre foram bem recebidas pelos consumidores. Embora

ocasionalmente culpada por algumas doenças, existem muito poucos estudos a respeito

da microbiologia das comidas e bebidas servidas em VMs. As raras pesquisas existentes

divulgam um alto índice de TVC e coliformes nas bebidas. Em parte, esse problema

parece estar associado a procedimentos inadequados de limpeza ou ao inapropriado

design da máquina.

O estudo de Hunter (1992) sugere que as bebidas quentes, por exemplo, devam

estar sempre suficientemente quentes para pasteurizar a água no caso de esta estar

contaminada. Entretanto, parece que algumas máquinas não são capazes de manter a

temperatura adequada quando usadas com muita freqüência. As VMs têm sido

crescentemente usadas para alimentos perecíveis, especialmente sanduíches e comidas

picantes, que ainda são requentadas em microondas. A necessidade de distribuir esse

tipo de alimento em unidades distantes umas das outras pode aumentar ainda mais o

risco de o produto estragar.

Já existem três artigos publicados que apresentam danos e até mesmo morte de

consumidores devido a VMs. Todas as empresas operadoras e fabricantes precisam

continuar monitorando a qualidade e segurança de suas operações, preferencialmente

usando o processo chamado Hazard Analysis and Critical Control Point (HACCP).

Finalmente, um estudo que relaciona o desenvolvimento de canais com a cultura

foi feito por George Wadinambiaratchi. Realizado em 1967, discute a relação entre os

canais de distribuição disponíveis e o estágio de desenvolvimento econômico de um

país, concluindo que a estrutura de canais reflete o desenvolvimento econômico, ou seja,

uma estrutura complexa está relacionada a um alto nível de desenvolvimento da

economia de uma região. Tal teoria é conceitualmente bastante útil ao marketing, uma

vez que, encontradas semelhanças e diferenças entre os arranjos de canais, a avaliação

sobre possíveis transferências de técnicas entre países diferentes fica facilitada.

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Esses resultados de estudo contrariaram aqueles que achavam que as técnicas de

marketing e os métodos de distribuição deveriam ser idênticos em todas as regiões:

“Uma fábrica moderna pode ser transplantada dos Estados Unidospara Ásia, África ou América Latina. As máquinas funcionarão da mesmamaneira e seus produtos serão idênticos (...) Nossos métodos dedistribuição – desenvolvidos com alto grau de sofisticação em ummercado fortemente competitivo – não podem ser transplantadosdiretamente (...) Eu seria o último a sugerir que as técnicas norte-americanas de marketing se adaptariam, ou deveriam se adaptar, àsnecessidades particulares da Índia. Ao contrário, eu pediria que –juntamente com a Índia e outros países em desenvolvimento – nósinvestigássemos quais porções de nossa experiência e know-how emmarketing poderiam ser adaptadas às necessidades deles” (MICHAELISapud WADINAMBIARATCHI, 1967, p.41)6.

Para chegar à conclusão de que as estruturas de canal refletem o estado da

economia de um país, Wadinambiaratchi (1967) revisa a bibliografia de economia,

sociologia e psicologia contrária a sua hipótese - grande parte considerava que havia

uma relação causal, i.e., a melhoria no sistema de distribuição levaria ao

desenvolvimento econômico -, define o conceito de canais - “o caminho tomado na

transferência de uma propriedade a uma commodity” (WADINAMBIARATCHI, 1967,

p.43) - e de como medir desenvolvimento econômico - foram escolhidos como critérios

renda per capta, energia gerada per capta, população urbana, relação entre produção

industrial e o PIB, consumo sobre a renda per capta e taxa de mortalidade infantil - e,

finalmente, apresenta alguns estudos de marketing em nove países para provar que estes,

ao serem ranqueados em ordem de evolução econômica, fazem surgir um padrão

normativo no desenvolvimento dos canais.

A seqüência segundo o estágio de desenvolvimento econômico, tomando como

base os critérios econômicos citados e uma lista de nove países a analisar, ficou da

seguinte forma: Japão, Brasil, Venezuela, Porto Rico, Turquia, Egito, Índia e África

Tropical (o Oriente Médio acabou sendo excluído da análise); tendo Wadinambiaratchi

(1967) apresentado como principais descobertas que: (a) Os países mais desenvolvidos

6Essas e as demais transcrições de citação foram traduzidas para o português pela autora da dissertação,por considerar que as traduções livres não chegam a causar equívocos capazes de comprometer oentendimento geral do texto, com a vantagem de tornar a leitura mais dinâmica.

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têm mais níveis de distribuição, mais lojas especializadas e supermercados, mais lojas

de departamento e mais lojas em zonas rurais que os menos desenvolvidos; (b) A

influência dos agentes importadores diminui com o desenvolvimento econômico; (c) As

funções de produção-atacado-varejo ficam mais separadas com o desenvolvimento da

economia de um país; (d) As funções dos atacadistas se aproximam das norte-

americanas com o crescimento econômico; (e) O papel financeiro dos atacadistas

diminui de importância e os preços e margens de lucros aumentam com a evolução na

economia; (f) A quantidade de lojas pequenas diminui e a média de tamanho das lojas

aumenta na medida em que os países se desenvolvem economicamente; (g) A

importância do mascate, do mercador e das feiras-livres diminui nos ambientes

economicamente desenvolvidos; (h) As margens de lucro do varejo crescem com o

desenvolvimento da economia dos países.

Enfim, as implicações desse estudo para o homem de negócios é que qualquer

estrutura de marketing ou instituições que ele planeje, i.e. as estratégias, estarão sempre

limitadas aos fatores ambientais, fatores estes que estão diretamente ligados ao nível de

desenvolvimento econômico de uma região.

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2. METODOLOGIA

2.1 - Tipo de Pesquisa

A pesquisa proposta, quanto a sua finalidade, pode ser classificada, de acordo

com Vergara (1988), tanto como ‘exploratória’ quanto como ‘descritiva’. Ela se insere

no primeiro tipo por estar sendo realizada numa área em que há pouco acúmulo e pobre

sistematização do conhecimento. As publicações sobre vending machines são tão raras

que se fez necessário buscar em campo informações a respeito dessas máquinas,

utilizando-se de material de imprensa, documentos e entrevistas informais em algumas

empresas do setor.

Como descritiva, a pesquisa “(...) expõe características de determinada

população ou de determinado fenômeno. Pode também estabelecer correlações entre

variáveis e definir sua natureza. Não tem compromisso de explicar os fenômenos que

descreve, embora sirva de base para tal explicação” (VERGARA, 1988, p.45). Ou seja,

essa dissertação não pretende explicar definitivamente o fracasso da participação das

VMs na vendagem de refrigerantes no Brasil, mas conhecer a situação da venda

automática no país e propor uma correlação entre ela e o comportamento de consumo

automático do brasileiro a partir de uma exposição abrangente sobre o mercado dessas

máquinas no Brasil e no exterior e a análise de estilo etnográfico de um determinado

grupo de usuários daqui.

Quanto aos meios de investigação, outro critério utilizado por Vergara (1988), a

pesquisa também se enquadra em mais de uma classificação. É ‘pesquisa de campo’,

pois investiga empiricamente o fenômeno no local onde ele ocorre, i.e., onde as

máquinas estão instaladas (durante a elaboração do projeto de dissertação), e naqueles

ambientes que dispõem de elementos para explicá-lo, como as empresas do setor, o que

já foi mencionado anteriormente. O presente trabalho lança mão da observação

participante - esta ocorreu durante a concepção da idéia -, assim como da aplicação de

questionários e realização de entrevistas, como instrumentos de pesquisa em campo.

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Como fonte analítica que incrementará a pesquisa de campo, far-se-á ‘pesquisa

bibliográfica’ em revistas e jornais a respeito das últimas novidades sobre venda

automática no Brasil e nos Estados Unidos e via Internet com o mesmo propósito,

podendo-se assim chegar a notícias de outros países (no Brasil temos facilidade em

encontrar publicações norte-americanas, mas alguma dificuldade com outras

nacionalidades).

Lembremos que nenhuma classificação teria sentido não fosse pela crença na

ciência, no método científico como ‘um caminho, uma forma, uma lógica de

pensamento’ (VERGARA, 1988). Para fundamentar toda metodologia escolhida para

esse trabalho, optou-se pela visão dialética do mundo. Nela os acontecimentos e as

coisas são dinâmicos, estando em constante fluxo e transformação, ou melhor, acredita-

se que a sociedade constrói o homem e por ele é construída, mutuamente. O método

dialético estuda o fenômeno, não isoladamente, mas dentro de um contexto, que no caso

da corrente pesquisa é o ambiente sócio-cultural.

Dentro dessa visão, a etnografia será a base na qual delinearemos a metodologia.

Simplificada e resumidamente, o método etnográfico é aquele que, apropriado da

antropologia, exige do pesquisador contato direto e prolongado com seu objeto de

estudo, utilizando-se de observação participante e entrevista em profundidade não-

estruturada, e confrontando teoria e prática a todo o tempo7.

Hawkins, Best e Coney (1992) oferecem ao leitor um guia sobre como conduzir

pesquisas em comportamento do consumidor. Na visão deles, qualquer projeto deve

iniciar com a busca de toda e qualquer informação relevante já existente sobre o

assunto, fontes essas chamadas de dados secundários, e depois partir para as fontes

primárias, caso necessário, o que consiste normalmente de conversas com o consumidor

ou a simples observação.

Para a corrente pesquisa, tanto os dados secundários quanto os primários serão

utilizados, sendo o segundo tipo em maior proporção, devido à escassez do primeiro.

Seguindo as orientações de Hawkins, Best e Coney (1992), é necessário decidir por uma

7 Algumas importantes referências em etnografia são: CLIFFORD, James. Writing Culture: The poeticsand politics of ethnography. Berkeley: University of Califórnia Press, 1986; DAMATTA, Roberto.Relativizando: uma introdução à antropologia social. 5ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1997; GEERTZ,Clifford. El Antropologo como Autor. Barcelona: Paidós, 1989; e MALINOWSKI, Bronislaw.Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Abril Cultural, 1976.

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amostra de consumidores – ‘uma porção de um grande grupo’ -, e para tanto existe um

procedimento a ser cumprido para não fazer uma amostragem errada.

Primeiramente, deve-se definir a população, ou seja, todos os consumidores em

que se está interessado, depois, especificar o sampling frame, uma lista de pessoas que

representem o grupo de interesse, como, por exemplo, o mailing fornecido por cartões

de crédito, sempre cuidando para que não incorrer em viés. Assim, seleciona-se um

método de amostragem, inicialmente escolhendo se randômico ou não, e decide-se o

tamanho da amostra.

O método de entrevistas em profundidade, de acordo com Hawkins, Best e

Coney (1992), envolve um respondente e um entrevistador. Nessas entrevistas

individuais, método que será amplamente utilizado nesse trabalho, o entrevistador não

tem um questionário em mãos a fim de seguir suas perguntas; ao contrário, tem a

liberdade de criá-las no decorrer da conversa, seguindo sempre a regra básica de não

querer influenciar as respostas.

As entrevistas individuais em profundidade são apropriadas em seis situações,

das quais a primeira é a que melhor expressa a atual. As situações estão listadas a

seguir:

“1. quando é exigido o estudo detalhado do comportamento, dasatitudes e das necessidades do consumidor; 2. quando o assunto emdiscussão é de natureza altamente confidencial (ex: investimentosparticulares); 3. quando a matéria a ser tratada é carregada de emoção ouembaraçosa; 4. quando existem algumas normas fortes e socialmenteaceitáveis (ex: alimentação de bebês) e a discussão em grupo podeinfluenciar as respostas individuais; 5. quando há necessidade de umacompreensão detalhada (passo-a-passo) a respeito do comportamento oupadrões decisórios (ex: planejamento das férias em família); ou 6. quandoas entrevistas são feitas com profissionais ou pessoas relacionadas àatividade (ex: diretores financeiros)” (HAWKINS, BEST E CONEY,1992, p.647).

O método da observação, que também é, embora apenas durante a sua

concepção, encontrado nesse estudo, pode ser utilizado quando (1) os comportamentos

se dão publicamente, (2) são repetitivos, freqüentes ou previsíveis e (3) duram um

tempo breve, o que é o caso do momento de compra por vending machines.

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2.2 – O Grupo-Consumidor e a Seleção dos Informantes

O universo ou população da presente pesquisa é o conjunto de consumidores por

vending machines. Uma vez que não importa o tipo de máquina utilizada, i.e., o tipo de

produto vendido, todos os consumidores de máquinas de auto-serviço possuem as

características de que necessita o pesquisador para a análise do comportamento de

consumo automático.

Parte desse universo formará a população amostral inicial (ou amostra

provisória), que desencadeará numa segunda população amostral (ou amostra

definitiva), de acordo com critérios a serem detalhados adiante. Ambas serão amostras

não-probabilísticas, a primeira selecionada por acessibilidade e a segunda por tipicidade,

como também será explicado no item a seguir. Resumidamente, segundo Vergara

(1988), ‘por acessibilidade’ significa selecionar elementos pela facilidade de acesso a

eles e ‘por tipicidade’ constitui a escolha de elementos considerados representativos da

população-alvo.

Para o desenvolvimento do presente trabalho, o grupo a ser estudado deveria

possuir alguma experiência de consumo por vending machines, a fim de se analisar o

discurso de quem tem algo com fundamento a dizer sobre elas. Os informantes (sujeitos

da pesquisa) foram escolhidos, portanto, por critérios que favorecem a compreensão do

objeto.

A população amostral inicial (amostra provisória) está constituída dos estudantes

universitários do curso de Comunicação Social da UERJ - Universidade do Estado do

Rio de Janeiro, independentemente do período (1º ao 8º) ou da ênfase (jornalismo ou

relações públicas). Essa escolha não foi aleatória, mas seguiu a regra da ‘acessibilidade’,

uma vez que a própria pesquisadora foi aluna da Faculdade de Comunicação Social

(FCS/UERJ) e, assim, teria mais facilidade de contatar a diretoria e obter permissão para

abordar os estudantes.

Outro fator que contribui para essa decisão foi a razoável homogeneidade do

grupo, cujos indivíduos possuem as características de que necessita o pesquisador. Uma

vez que estudam na mesma universidade e na mesma faculdade, passam a ter muito em

comum: pessoas jovens (entre 17 e 23 anos), comunicativas (qualidade própria dos

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estudantes desse curso), de boa formação acadêmica (a relação candidato-vaga costuma

estar entre as cinco maiores da UERJ) e nível sócio-econômico mediano (moradores de

bairros de classe média); aspectos esses que implicam, respectivamente, numa maior

abertura a novidades tecnológicas, na disposição de conversar sobre qualquer assunto

mesmo com desconhecidos, num senso-crítico desenvolvido e em bom potencial de

consumo. Além disso, as pessoas da área de comunicação são consideradas importantes

formadores de opinião, principalmente depois de formados, no exercício da profissão de

comunicólogos, pois esta lhes dá relativo poder e credibilidade para influenciar o

público.

Enfim, esses estudantes têm as mesmas fronteiras e, descritos dessa forma,

representam um grupo de interesse para a pesquisa etnográfica.

A segunda população amostral (amostra definitiva) é derivada da população

amostral inicial, sendo composta dos estudantes de comunicação social da UERJ que

tenham o hábito de adquirir produtos por vending machines.

A partir de um filtro, foram separados, portanto, aqueles que usavam com mais

freqüência as máquinas automáticas, já que muito provavelmente dominariam mais o

tema que os demais, e, assim, teriam mais o que dizer a respeito desse tipo de consumo.

Será, portanto, com esses usuários freqüentes que se tentará entender a comportamento

de consumo automático e a situação das máquinas vendedoras no Brasil.

2.3 - Coleta e Tratamento dos Dados

Para responder ao problema construído por essa dissertação, os dados

necessários foram coletados de três maneiras distintas – observação

participante/participativa, questionário misto e entrevista em profundidade -, de acordo

com os objetivos a serem alcançados e nessa ordem.

Primeiramente, foi por meio da observação participante/participativa - o

observador interage com os sujeitos da pesquisa -, realizada durante a elaboração do

projeto da presente dissertação, que se decidiu pelo tema. Foram as impressões obtidas

dessa interação que impulsionaram o estudo das vending machines.

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Definido o universo a ser pesquisado – consumidores por vending machines - e,

mais tarde, selecionada a amostra inicial – estudantes de comunicação da FCS/UERJ -,

realizou-se a primeira fase de abordagem, a partir de questionário misto - aberto e

fechado -, com o qual foi possível, fazer um ‘recorte’ no grupo de estudantes.

Esse estágio se deu durante a inscrição em disciplina (março de 2001), período

este que durou três semanas. Os estudantes foram abordados nessa época para se

aproveitar a ocasião em que a grande maioria estaria reunida num mesmo local – a

secretaria da Faculdade de Comunicação Social. Ao fazerem a inscrição receberam um

questionário (Anexo 2), em que o pesquisador avaliava o conhecimento sobre as

vending machines e, principalmente, os hábitos de uso das máquinas e a disponibilidade

do entrevistado em conversar mais profundamente sobre o assunto.

O preenchimento do questionário foi feito pelos próprios respondentes, que

podiam sanar suas dúvidas com a pesquisadora, presente para coordenar essa tarefa. Ele

consistia de espaço para respostas livres, mas os alunos também tiveram que responder a

perguntas fechadas, a fim de basicamente encontrar o seguinte perfil de consumidores

por vendings: aqueles que sempre ou quase sempre usam as VMs; que, por sua vez,

serão chamados, neste trabalho, de ‘consumidores freqüentes por vending machines’.

Em suma, o instrumento do questionário serviu para pré-selecionar os sujeitos

que seriam entrevistados em profundidade depois. Daí a importância da sensibilidade

apurada e do poder de convencimento durante a abordagem, uma vez que o questionário

representou um mecanismo para conseguir entrevistados em potencial.

É importante salientar que se procurou seguir um conjunto de normas de como

construir o questionário ideal8: o primeiro passo é listar quais as informações desejadas,

pois é a partir dessa lista que são criados os artifícios para obtê-las em forma de

perguntas; além disso, a seqüência das perguntas tem papel importante nos resultados da

pesquisa por questionários (por exemplo, a anterior não deve influenciar a resposta da

seguinte).

É patente que a abordagem deve ser feita de maneira a deixar o respondente à

vontade, para que ele não se negue a responder a alguma pergunta, e provar a seriedade

do estudo a fim de evitar ou ao menos diminuir as respostas mentirosas. Para isso, a

8Baseado em Notas sobre Construção de Questionários, por Angela da Rocha e Carl Christensen, inédito.

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avaliadora se apresentou e explicou os motivos da pesquisa antes da sua aplicação (essas

explicações também foram dadas por escrito, no próprio questionário).

Os sujeitos da pesquisa foram, então, filtrados para a segunda fase de acordo

com a freqüência de uso das vending machines e a disponibilidade de conversar mais a

respeito delas. Foram selecionados apenas aqueles que responderam usar as máquinas

para consumo por, pelo menos, uma vez na semana (38% do grupo de respondentes

iniciais) e que, ao mesmo tempo, ofereceram nome e telefone ou e-mail para contato (42

formulários tinham esses dados), perfazendo 22 pessoas. Desse pequeno número, dois

trancaram matrícula durante o período letivo e cinco não foram encontrados tampouco

retornaram as ligações, numa redução para 15, que, finalmente, foram entrevistados (o

roteiro da entrevista a que foram submetidos os integrantes da segunda amostra –

estudantes consumidores freqüentes por vending machines – está no Anexo 3).

As entrevistas em profundidade ocorreram na própria universidade - o fato de o

ambiente ser natural aos entrevistados os deixou mais à vontade - e duraram 50 minutos

em média - a entrevista mais curta ficou em 25 minutos e a mais longa em 90. Após

uma introdução sobre o assunto a ser abordado, os estudantes eram aconselhados a falar

espontaneamente mas sem se desvirarem das perguntas. Ao final, foi observado que

poder-se-ia haver um novo contato para tirar alguma dúvida devido à má gravação ou a

alguma questão pendente. Todos, sem exceção, se prontificaram a ajudar no que fosse

preciso.

De acordo com Chauvel (1999), o tipo de entrevista utilizada nessa dissertação –

entrevista em profundidade - se diferencia da baseada em questionário estruturado por

aquela ser mais apropriada para pesquisas qualitativas. Tem como objetivo permitir que

o entrevistado se expresse sobre o tema investigado, com liberdade. Baseia-se num

roteiro, listando os tópicos a serem abordados, sem rigidez na ordem em que serão

apresentados. Aqui, o pesquisador pode conduzir a discussão com flexibilidade e

explorar qualquer assunto que seja espontaneamente mencionado pelo entrevistado e lhe

pareça relevante para a pesquisa. Em geral, a entrevista é gravada e a análise é efetuada

a partir da transcrição da fita.

Dos tipos de entrevistas qualitativas existentes, a melhor opção a ser aplicada no

grupo selecionado pelo questionário misto – estudantes consumidores freqüentes por

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vending machines - é a ‘entrevista por pauta’. Gil (1987) explica que ela apresenta certo

grau de estruturação, ou seja, segue um roteiro que explora uma relação de pontos de

interesse. Nesse caso, o entrevistador faz poucas perguntas diretas, deixando o

entrevistado falar livremente, na medida em que vai se referindo aos temas em pauta. A

fim de preservar a espontaneidade do processo, o entrevistador deve intervir de forma

sutil quando o respondente se distancia do assunto em discussão.

Apesar de os temas da pauta utilizada estarem em forma de perguntas, o tipo de

entrevista utilizado pela pesquisadora não se classifica como ‘entrevista estruturada’. O

formato de perguntas em vez de tópicos foi escolhido para facilitar a abordagem da

entrevistadora, mas não deixa de ser uma tradução direta dos assuntos a serem

discutidos. Ademais, o que caracteriza a ‘entrevista estruturada’ é uma relação fixa de

perguntas cuja ordem e cuja redação se mantêm invariáveis para todos os entrevistados,

o que não foi o caso. Os ganchos dados pelos próprios estudantes eram aproveitados

pela entrevistadora para o levantamento de um novo tema, relacionado ao anterior.

Essas entrevistas por pauta são recomendadas também e principalmente quando

o pesquisado não se sente à vontade frente às indagações rígidas. Uma vez que a

amostra era composta de pessoas desconhecidas do entrevistador, a maioria delas não

muito acostumadas com esse tipo de abordagem, pareceu adequado não elaborar uma

entrevista demasiadamente estruturada que inibisse o entrevistado. Ainda é importante

lembrar que a entrevista em profundidade deve ser realizada em local e horário de

preferência do sujeito respondente, o que foi seguido à risca.

Após a coleta dos dados, deu-se início ao tratamento e à interpretação dos

mesmos, na forma qualitativa de análise. Com os resultados da filtragem por

questionário organizados em uma mini-planilha, foram selecionados os respondentes

que mais se aproximavam dos usuários habituais, i.e., aqueles respondentes com maior

freqüência de consumo via vending machines, e que estivessem verdadeiramente

dispostos a conversar novamente a respeito de seu comportamento de consumo por

máquina.

Com o grupo selecionado por questionário, o tratamento foi dado de acordo com

o que se segue. Como a antropologia considera que todas as entrevistas – tudo o que é

dito - são importantes para se montar um quadro do comportamento do consumidor

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objeto desse estudo, elas foram tratadas uma a uma. Passo a passo, todas as 15

entrevistas foram transcritas integralmente (tanto as repostas quanto as perguntas), na

seqüência em que foram realizadas. Depois, criou-se um arquivo em que as discussões

foram separadas por temas-chave para melhor visualizar opiniões semelhantes e

diversas sobre o mesmo assunto. E, finalmente, a partir do confronto de idéias, foi

possível fazer a interpretação conjunta das entrevistas.

A transcrição foi feita literalmente (com todas as interjeições e todos os erros de

gramática, ortografia, coesão etc.) para que se pudesse trabalhar a informação sem perda

dos detalhes, desvio do contexto ou mudança na lógica de raciocínio do entrevistado.

Mais que isso, ter sido fiel ao que foi gravado representou uma maior possibilidade de

se conseguir ler nas entrelinhas de cada entrevista.

2.4 - Limitações do Método

Apesar de os métodos escolhidos serem considerados os mais adequados aos

propósitos da investigação, eles não estão livres de falhas. Gil (1987) mostra as

vantagens e desvantagens do uso de questionários e entrevistas como instrumentos de

pesquisa.

O questionário atinge a mais pessoas que o formulário, por exemplo, pois aquele

pode ser enviado pelo correio, mas, por outro lado, a seleção do público pode ser menos

criteriosa, já que não é o próprio pesquisador quem o aplica. Tendo sido escolhida a

própria FCS – Faculdade de Comunicação Social da UERJ - como local para a pesquisa,

não se faria necessário atingir pessoas dispersas em regiões distanciadas ou áreas

geográficas extensas a partir do questionário, o que levaria a crer que o formulário seria

o instrumento mais adequado. No entanto, o pesquisador optou por acompanhar a

aplicação sem interferir nas respostas como aplicador, ou seja, deixou a cargo do próprio

respondente o preenchimento das respostas, o que caracteriza uma aplicação de

questionário e não de formulário.

Uma grande vantagem do questionário é que, assim como o formulário, implica

menos ou nenhum gasto com pessoal treinado; além disso, garante o anonimato das

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respostas, evitando inibir o entrevistado com exigências por respostas imediatas ao

deixar ao indivíduo a opção de responder no momento mais conveniente (o entrevistado

fica o mais à vontade possível, inclusive para se negar a responder).

Por outro lado, o questionário tem a desvantagem de excluir os iletrados, não

oferecer a chance de os sujeitos tirarem suas dúvidas com o próprio entrevistado e,

assim, evitar dupla interpretação, e não garantir a devolução ou evidenciar ao avaliador

as circunstâncias em que foi respondido. Esse tipo de limitação, porém, foi minimizado

uma vez que a pesquisadora acompanhou o processo de resposta, já que entregava

pessoalmente o questionário, explicava as motivações para a pesquisa e pedia para que o

devolvessem assim que pudessem, provocando o maior retorno possível. Quanto ao

limite oferecido pelo analfabetismo, ele não se aplica neste caso já que o grupo

pesquisado está em nível escolar universitário.

O questionário elaborado, no entanto, contraria o que sugere Sylvia Constant

Vergara (1998, p.530): “um questionário não deve ter mais do que três tipos de

questões, para não confundir o respondente. Por exemplo, um grupo de perguntas que o

levem a atribuir grau, outro que o levem a marcar sim ou não, outro que o levem a

ordenar tópicos”; uma vez que mistura questões sim/não, de escala e totalmente abertas.

De qualquer forma, ela mesma admite que, embora o ideal seja de um único tipo, às

vezes isso é limitador. Acrescenta Vergara (1998) que o questionário também precisa ter

um número de questões que seja adequado à obtenção da resposta ao problema que se

busca, mas que não canse o respondente. Daí a pesquisadora ter achado conveniente a

realização de um pré-teste (para resultados do pré-teste, vide Anexo 4).

Sobre as entrevistas, Gil (1987, p.114-115) diz que suas principais limitações são:

“a) a falta de motivação do entrevistado para responder àsperguntas que lhe são feitas; b) a inadequada compreensão do significadodas perguntas; c) o fornecimento de respostas falsas, determinadas porrazões conscientes ou inconscientes; d) inabilidade ou mesmoincapacidade do entrevistado para responder adequadamente, emdecorrência de insuficiência vocabular ou de problemas psicológicos; e) ainfluência exercida pelo aspecto pessoal do entrevistador sobre oentrevistado; f) a influência das opiniões pessoais do entrevistador sobreas respostas do entrevistado; g) os custos com o treinamento de pessoal ea aplicação das entrevistas”.

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Buscou-se evitar os problemas acima citados, contudo. Por exemplo, o que

ganhariam os consumidores se expondo a um desconhecido? A fim de minimizar o

problema ‘a’ foi feita uma seleção criteriosa, através dos questionários, apenas daqueles

que realmente se mostravam interessados em conceder uma entrevista.

Quanto ao erro ‘b’, qualquer entrevistador corre o risco de ser incompreendido.

Para evitar uma resposta inadequada à pergunta, a entrevistadora se propôs a deixar o

entrevistado o mais à vontade possível para dizer que não entendeu a questão formulada,

mostrando que não é vergonhoso pedir mais explicações, uma vez que o tema não é de

seu domínio.

A falha ‘c’, muito comum nas pessoas mais desconfiadas, pôde ser evitada quando

a avaliadora mostrou como era importante para a pesquisa a sinceridade do entrevistado.

Ter assegurado que seus nomes não seriam usados no trabalho escrito também ajudou

na veracidade das respostas.

Para pessoas comuns, como é o caso desses consumidores, a insuficiência

vocabular sobre o assunto ou outras insuficiências desta ordem prejudica a

comunicação. Para evitar o problema ‘d’, o entrevistador confirmava as respostas,

perguntando, sempre que possível, se teve o entendimento exato do que o entrevistado

quis dizer.

Tanto o item ‘e’ quanto ‘f’ têm forte impacto no grupo pesquisado. Apresentar-se

bem arrumado demais entre universitários é arriscado, pois a aparência pode criar

distanciamento entre os interlocutores. Já quanto ao entrevistador interpretar as

respostas de acordo com a sua opinião, é como um jornalista dar uma notícia

tendenciosa; ambos precisam ser imparciais para serem fiéis ao que foi dito pela fonte.

Finalmente, o problema ‘g’ não cabe aqui, pois é o próprio interessado na pesquisa

quem fará as entrevistas.

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3- REVISÃO DE LITERATURA

Essa pesquisa acadêmica considera as vending machines como um tipo de canal

de distribuição de produtos/serviços e, mais especificamente, um canal de venda direta,

i.e., que não necessita de intermediários para que a transação seja efetivada, e um canal

de venda automática, em que a compra é realizada a partir de um mecanismo

automático. Sendo assim, a teoria deve incluir, inicialmente, referenciais a esse respeito.

Por conseqüência natural, estarão presentes nesse capítulo informações sobre as

vending machines, enfocando não só a história dessas máquinas como também suas

formas de utilização e os últimos lançamentos, no Brasil e no exterior.

Há ainda a necessidade de inclusão de teorias sobre inovações tecnológicas,

adoção dessas inovações e o comportamento do consumidor frente a elas, inclusive

usando a cultura – linha antropológica de análise comportamental de consumo - como

influenciador desse comportamento, pois as máquinas de venda automática são tomadas

aqui como uma novidade em termos de tecnologia no Brasil, sendo que conhecer como

se comportam os consumidores brasileiros ao adotá-la é parte fundamental desse estudo.

Uma vez que a linha de pensamento eleita para o desenvolvimento desse

trabalho, principalmente no que diz respeito à interpretação das entrevistas, é a

antropologia, justifica-se também a existência no capítulo teórico da conceituação dessa

ciência e da cultura como seu objeto de estudo particular, neste caso dando ênfase maior

às considerações sobre a cultura brasileira.

3.1 - Canais de Distribuição

3.1.1) Definições de canal e outras conceituações

Existem inúmeras definições para o termo Canal de Marketing9, algumas delas

inclusive se contradizendo. Rosenbloom (1995), percebendo essa confusão, sugeriu uma

explicação para o que ocorre: em sua opinião essa complexidade advém da variedade de

9 Aqui, não se faz qualquer diferenciação entre os termos Canal de Marketing e Canal de Distribuição

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perspectivas ou pontos de vista dos participantes no processo. O canal pode ser definido

como o caminho tomado pelo produto entre o produtor e o consumidor ou o trajeto de

troca de propriedade entre os vários agentes da cadeia ou mesmo como o agrupamento

de empresas com o objetivo comum de comercialização. Cada uma dessas definições

está relacionada, respectivamente, à visão do produtor, dos intermediários e dos

consumidores. Isso se explica porque cada um deles assume uma perspectiva: os

fabricantes se preocupam com o fluxo dos produtos pelos vários membros, enquanto os

atacadistas e os varejistas têm a responsabilidade de adquirir produtos de origens

diferentes e assumir os riscos associados à troca de título de propriedade e, finalmente,

os clientes finais enxergam o canal como um amontoado de intermediários entre ele e o

produtor. Daí não ser possível apresentar uma definição única para canais.

Rosenbloom (1995), após apresentar todas essas possibilidades, acaba por adotar

uma nova perspectiva, diferente dessas anteriores, com cunho de tomada de decisão

gerencial. Portanto, o canal de marketing é visto como uma decisão-chave e conceituado

como “organização externa de base contratual que o gerente opera para alcançar os

objetivos de distribuição” (ROSENBLOOM, 1995, p.05).

Bowersox e Cooper (1992), ao contrário, não se atentam muito às diferentes

visões, mas sim ao importante papel que as relações de distribuição desempenham na

estratégia de marketing e examinam o processo pelo qual as diversas opções de escolha

de produtos/serviços se tornam uma realidade, uma possibilidade para o consumidor;

em especial, explicam como os gerentes tomam as decisões relacionadas aos canais.

Os autores Bowersox e Cooper (1992) apresentam algumas definições para se

esclarecer o funcionamento dos canais de marketing, segundo eles o grande palco de

competição do sistema de livre mercado, onde se determina o sucesso ou fracasso de

uma empresa: “O canal de distribuição desempenha processos de transferência física e

de propriedade de commodities, produtos e serviços” (BOWERSOX e COOPER, 1992,

p.06).

Juntamente com David J. Closs, Donald J. Bowersox (1996) complementa a obra

anterior e fala da importância de se compreender a dinâmica dos canais (estruturas e

arranjos) e os relacionamentos na logística (a cadeia de suprimentos). De acordo com o

American Marketing Association, com o que concordam Bowersox e Closs (1996), “a

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distribuition channel is the structure of intracompany organizational units and

extracompany agents and dealers, wholesale and retail, through which a commodity,

product, or service is marketed”10.

Segundo os mesmos autores, é o papel desafiador dos canais e o fato de uma

estrutura estrategicamente bem-elaborada poder levar uma empresa a ter vantagens

competitivas que tornam a clareza da definição essencial. Dessa forma, as várias

tentativas de se fechar uma definição não cessam. A figura abaixo, por exemplo,

representa um canal de distribuição genérico e mostra as opções de caminho que um

produto/serviço pode usar para sair do produtor inicial ao consumidor final, segundo

Bowersox e Closs (1996):

Figura 1: Reprodução adaptada para o português da figura 4-1: “generic channels of distribution”, em Bowersox e

Closs (1996, p.90).

Já Lambert e Stock (1993) conceituam o canal como um agrupamento de

organizações que desempenhem funções de marketing. Para eles, qualquer unidade que

realize pelo menos uma dessas funções – compra, venda, transporte, estocagem,

financiamento, enfrentamento de riscos, fornecimento de informações de marketing etc.

– é considerada um membro da cadeia de distribuição. A figura seguinte, que se

10 Nesse caso, a pesquisadora optou por deixar a transcrição no seu idioma original, por se tratar de umadefinição de dicionário. In: BAKER, Michael J. Dictionary of Marketing and Advertising, 2ed. NovaIorque, Nichols Publishing, 1990, p.47.

Fábricas e Indústrias

Consumidores finais

e o Governo

Atacadistas

Varejistas

Matéria-prima

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assemelha em muito com a anterior, ilustra oito possibilidades de estrutura de canais

para bens de consumo:

Figura 2: Reprodução da figura “alternative channels of distribution for consumer goods”, em Lambert e Stock

(1993, p.73).

Apesar de as definições de canal variarem de autor para autor; os conceitos de

distribuição se aproximam. Cundiff, Still e Govoni (1981, p.242) definem a distribuição

como “o conjunto de atividades referentes à transferência de mercadorias dos

fabricantes para os compradores e usuários finais. Implica não apenas atividades físicas

– transporte e armazenagem das mercadorias -, mas também atividades de ordem legal,

FABRICANTE FABRICANTE FABRICANTE FABRICANTE

CONSUMIDOR

MALA-DIRETA

CONSUMIDOR

LOJA-PRÓPRIA

CONSUMIDOR

VAREJISTA

CONSUMIDOR

FABRICANTE FABRICANTE FABRICANTE FABRICANTE

ATACADISTA

VAREJISTA

CONSUMIDOR

AGENTE/BROKER

ATACADISTA

VAREJISTA

CONSUMIDOR

FILIAL DAFÁBRICA

ATACADISTA

VAREJISTA

CONSUMIDOR

FILIAL DAFÁBRICA

VAREJISTA

CONSUMIDOR

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promocional e financeira desempenhadas no curso da transferência de propriedade”,

enfatizando que para compreender o processo de distribuição é necessário analisar não

somente as instituições mas também os canais de distribuição/marketing, que eles

conceituam como “o caminho existente na trajetória direta ou indireta da transferência

de propriedade de determinado produto – o percurso deste do fabricante até os

consumidores finais ou os clientes industriais”.

Concordando com eles, estão McCarthy e Perreault (1990, p.344), para quem

“Distribuição física é o transporte e armazenamento de produtos para combinar as

necessidades do consumidor ao marketing mix do produtor”. As funções de transporte e

armazenamento não devem, entretanto, serem encaradas como atividades separadas,

mas sim como um único sistema, juntamente com o sistema de canais.

Ressalta-se que, pela importância que tem, a distribuição costuma consumir

quase metade do orçamento de marketing das empresas.

3.1.2) Visões do marketing e da logística

A visão do marketing sempre foi a de que os canais de distribuição consistem em

uma rede complexa de organizações combinadas de maneiras variadas, ou seja, não-

limitada às fronteiras do negócio: “a abordagem do marketing elimina as limitações de

se lidar apenas com sistemas controlados verticalmente” (BOWERSOX e CLOSS,

1996, p. 115). Existem variadas abordagens usadas pelos profissionais de marketing

para estudar os tipos de canais, mas vamos nos concentrar apenas na Channel

Arrangement Classification (Arranjo de Canais), pois as demais são muito específicas e

não seriam tão ilustrativas quanto essa.

Essa classificação baseia-se no grau de dependência, i.e. de comprometimento

logístico entre os participantes, e pode ser de três tipos: canais de transação única, canais

convencionais e arranjos voluntários. A figura 3 mostra a classificação dos canais

evoluindo com o aumento da dependência. Observe que em arranjos transacionais os

membros não se sentem responsáveis uns pelos outros, enquanto em tipos relacionais há

maior formalização, troca de informações e conectividade entre as partes.

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aumento da formalização, troca de informações e conectividade

Figura 3: Reprodução adaptada ao português da figura 4A-4: “classification of channel relationships based on

knowledge dependency”, em Bowersox e Closs (1996, p.119).

O gráfico que descreve as alternativas de distribuição de produtos

industrializados é diferente. A incidência de intermediários do tipo intermediário

funcional é muito maior neste, mas o distribuidor industrial desempenha papel

semelhante ao do atacadista. Observe o fluxo dos produtos pela figura abaixo11:

Figura 4: Reprodução adaptada ao português da figura 4A-3: “typical channel structure alternatives in industrial-

goods distribution”, em Bowersox e Closs (1996, p. 118).

11 Esse gráfico também é usado por Lambert (1978, p.74) para a distribuição de bens industriais.

ESTRUTURATRANSACIONAL ARRANJOS VOLUNTÁRIOS RELACIONAIS

PRODUTOR

TRANSAÇÃOSIMPLES

AGENTE

CANAISCONVENCIONAIS

AGENTE

SISTEMASADMINIS-TRADOS

DISTRIBUIDORINDUSTRIAL

PARCE-RIAS EALIAN-

ÇAS

DISTRIBUIDORINDUSTRIAL

SISTEMASCONTRATUAIS

INDÚSTRIA/FÁBRICA

JOINTVENTURES

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Há algumas controvérsias quanto à definição de distribuição física. Autores que

se baseiam nos 4P’s acreditam ser a distribuição, referente ao P de Place/Praça, um

ingrediente do marketing, enquanto outros a consideram, embora inter-relacionado a

este, uma variável à parte. McKinnon (1989) analisa esses dois lados e opta por

considerar a natureza dos canais de marketing separadamente do sistema físico de

distribuição para facilitar suas explicações a respeito de ambos.

Segundo ele, um canal de marketing é formado quando surgem as relações

comerciais entre produtor e intermediário. “Um canal de marketing pode, portanto, ser

definido como o canal da organização através do qual a propriedade dos produtos passa

do fabricante ao consumidor final por meio de um ou mais intermediários”

(McKINNON, 1989, p.27). Para o marketing, as principais atividades na cadeia de

distribuição de um produto são: estocagem, transporte, busca de fornecedores e

consumidores e promoção.

Em geral, a distribuição de um produto requer intermediários, pois além de o

número de transações diminuir com a sua presença (transational efficiency), eles podem

se especializar nessa atividade, deixando ao produtor exclusivamente a tarefa de cuidar

da qualidade da produção. Mas o fabricante tem papel fundamental na escolha dos

canais que utilizará, um elemento-chave no seu planejamento de marketing.

A estratégia de multicanal tem sido muito utilizada pelas empresas ultimamente,

uma vez que é a partir dela que se alcança uma alocação ótima do fluxo dos produtos.

Além disso:

“Ao usar canais variados, os fabricantes podem ganhar maiorexposição de seus produtos no mercado, enquanto reduzem suadependência a determinados tipos de intermediários. Depender demais deum único canal é uma prática a ser evitada, porque ela aumenta o risco dadistribuição ser interrompida e permite que certos intermediáriosexercitem poder de barganha excessivo. Uma estratégia de multicanaltambém capacita o produtor a implantar um marketing diferenciado,moldando o produto, a promoção, o preço e o nível do serviço de acordocom as necessidades de segmentos específicos” (BAKER apudMcKINNON, 1989, p.37).

Por outro lado, os canais de distribuição física têm um conceito menos abstrato

que os canais de marketing: “um canal de distribuição física (ou logística) é composto

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de nós terminais, como as fábricas e lojas, nós intermediários, como os atacadistas, e as

ligações entre eles, representadas pelos movimentos de frete” (MACKINNON, 1989,

p.52).

A separação estrutural entre canais de marketing e canais logísticos está

fundamentada na constatação de que um arranjo de canais típico não é ideal para

satisfazer aos anseios do marketing e da logística ao mesmo tempo. Bowersox e Closs

(1996, p.480) explicam a diferença entre os canais:

“Um canal de marketing consiste de firmas empenhadas nacompra e venda de negócios. O objetivo do marketing é negociar,contratar e administrar transações continuamente. A força total dapromoção criativa ocorre em meio à estrutura de marketing. Osparticipantes do canal de marketing são especialistas em negociação, aexemplo dos agentes, vendedores, corretores, atacadistas e varejistas. Ocanal logístico representa uma rede de relacionamentos especializados emalcançar metas de estocagem e posicionamento. O trabalho da logísticaenvolve transporte, estoque, manuseio de materiais e processamento depedidos, além de uma crescente variedade de serviços de valor agregado.Aqueles que participam do processo logístico são responsáveis porsatisfazer a exigências de tempo e espaço”.

A figura 5 apresenta um exemplo de separação estrutural em que o canal de

marketing tem cinco níveis e o canal logístico sete, convergindo somente no final,

quando se chega ao consumidor.

Figura 5: Reprodução adaptada ao português da figura 16-4: “distribution channel: logistical and marketing

operation”, em Bowersox e Closs (1996, p. 481).

DEPÓSITO/ARMAZÉM

DAFÁBRICA

CAMI-NHÃO DAEMPRESA

DEPÓSITOSREGIONAIS

TRANS-PORTE

COMUM

ARMAZÉMPÚBLICO

ENTREGA-DOR

LOCAL

CONSUMIDOR

ESCRITÓRIOGERAL DEVENDAS

ESCRITÓRIOREGIONAL

DE VENDASDISTRIBUIDOR VAREJISTA

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3.1.3) Tipos de canal: a distribuição direta e as vendas automáticas

Em termos gerais, Corey, Cespedes e Rangan (1989) entendem que, para criar

uma estratégia de distribuição, o produtor deve cuidar das seguintes escolhas: equilíbrio

entre vendas diretas e por intermediários; tipos de intermediários em termos tanto de

classe quanto de mercados servidos; intensidade de distribuição por área geográfica;

alocação das tarefas pelos participantes do canal; e condições de franqueamento.

Em termos específicos, selecionar o canal significa avaliar as opções existentes

sob alguns aspectos. As condições que levam preponderantemente à venda direta são (1)

uma alta concentração de compradores, (2) grandes quantias em transações financeiras

de compra individual e (3) forte necessidade pelos consumidores de informações

técnicas do produto ou de customização. Enquanto as duas primeiras afetam diretamente

os custos de vendas fazendo com que optar por distribuidores encareça o processo de

distribuição, a terceira exige uma comunicação direta entre fornecedores e clientes

finais.

Já a escolha de distribuidores independentes está calcada em (1) mercados

dispersos e fragmentados, (2) pequenas quantias nas transações e (3) a inclinação do

consumidor de adquirir vários itens diferentes, de marcas diversas, numa única

transação. “Distribuidores industriais variam bastante quanto às linhas de produtos, os

serviços que oferecem, os segmentos de mercado que atendem, a extensão da cobertura

geográfica e os métodos de venda”(COREY, CESPEDES e RANGAN, 1989, p.26).

A distribuição cativa, por sua vez, ainda é controversa. De qualquer forma, é

certo que dá acesso a outros mercados, serve de treinamento para gerentes que

necessitam de experiência em vendas para mercados finais e costuma ser estabelecida

em áreas mercadológicas onde o produtor tem dificuldades de recrutar distribuidores

independentes qualificados. Esse tipo de distribuição tem a desvantagem de, às vezes,

competir com as vendas diretas e os revendedores.

Finalmente, os representantes (agentes) têm as mesmas três condições de escolha

que as vendas diretas, sendo preferidos a estas quando não existem recursos suficientes

para cobrir os custos fixos associados à força de venda direta ou quando o produtor

prioriza outro uso para o seu capital.

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Por Rosenbloom (1995), entende-se que há mais eficiência na venda indireta que

na direta quando uma tarefa é dividida em tarefas menores e menos complexas, alocadas

a especialistas naquelas funções – concepção de especialização e divisão do trabalho - e

também quando existe um nível de esforço cooperado entre vendedores e compradores

para se atingir o objetivo de distribuição – conceito de eficiência contratual.

Por outro lado, as vantagens de uma empresa distribuir diretamente um produto é

que ela fica em contato direto com seus consumidores e conseqüentemente das

mudanças de comportamento deles, estando assim mais apta a ajustar seu mix de

marketing com maior rapidez especialmente porque, segundo McCarthy e Perreault

(1990, p.280) “(...) não é necessário convencer os demais membros a ajudar”.

A venda direta não é incomum e faz sentido quando as transações são poucas,

mas os pedidos por transação são muitos. As empresas de serviço geralmente trabalham

diretamente com o cliente-final, mas as fábricas geralmente o fazem usando

intermediários.

McCarthy e Perreault (1990) acreditam que o melhor sistema de canais é aquele

que consegue atingir um patamar ideal de exposição ao mercado - nem demais nem de

menos. A exposição exagerada só faz aumentar os custos sem haver um retorno

proporcional. No entanto, a mais importante diferenciação quando se fala em arranjos de

distribuição é o grau de directness que as várias opções de estruturas podem oferecer, ou

seja, o quão direto, sem fases intermediárias, é feito o escoamento do produto.

Rosenbloom (1995) dedica um capítulo totalmente a vendas diretas e a sistemas

de canais diretos de marketing, duas alternativas à distribuição tradicional, em que se

usam intermediários. Ele concorda com a definição de venda direta dada pela Direct

Selling Association12: “Venda direta é um método de distribuição de produtos e serviços

por meio de vendagem pessoal, cara-a-cara (vendedor-consumidor) longe de

localizações fixas, originalmente em casa” (ROSENBLOOM, 1995, p.540). Os pontos-

chave são, conseqüentemente, que a venda direta é um método de venda e, por assim

dizer, um tipo particular de canal de marketing, que negocia mais bens de consumo do

que bens industriais e que envolve relacionamento face-a-face. De qualquer forma,

como já foi mencionado, para se decidir entre um canal direto e um indireto é necessário

12 Direct Selling Glossary. Washington, D.C.: Direct Selling Education Foundation, 1986, p. 2.

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avaliar as vantagens e desvantagens de cada um em vista dos objetivos gerais da

empresa.

Os canais diretos de marketing não envolvem vendas pessoais tampouco lojas de

varejo. A mesma Direct Marketing Association os define, com o que mais uma vez

concorda Rosenbloom (1995, p.553): “marketing direto é um sistema interativo de

marketing que usa uma ou mais mídias publicitárias para efetuar uma transação/resposta

em qualquer lugar”. O ponto-chave aqui é o seguinte: marketing direto não é apenas

uma mídia ou tecnologia ou técnica de venda, mas sim uma maneira de se conduzir as

tarefas básicas de encontrar mercados, estimular a demanda nesses mercados e entregar

o produto aos consumidores; em vez de lojas ou pessoal de vendas, opta-se por uma

combinação de mídia publicitária para informar e persuadir o consumidor.

Bowersox e Cooper (1992) consideram a distribuição direta, em que o fabricante

vende diretamente ao cliente final, como a mais simples que existe, a exemplo das

vending machines, vendas por telefone, por catálogo/correio, porta-a-porta e por

televisão, todas elas formas de varejo sem loja13.

Finalmente, Cundiff, Still e Govoni (1981) definem uma venda automatizada

como aquela que configura a transferência de produtos/serviços aos consumidores finais

por meio de máquinas que funcionam com moedas ou células, estas de uso cada vez

mais expandido por facilitar o usuário que não tenha dinheiro trocado. Aqui se encaixa o

objeto desse estudo, as vending machines.

13 Se tivessem escrito Strategic Marketing Channel Management há menos tempo, esses autorescertamente teriam incluído no rol de exemplos de canal de venda direta a Internet.

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3.2 – As Vending Machines14

3.2.1) Panorama Histórico

Prince (1998a) conta que, já em 1992, a revista Beverage World previa que o

futuro da Indústria de refrigerantes seria a automatização total. Em 1996, cerca de 1,6

bilhões de galões de bebidas foram vendidos por meio de vending machines, de acordo

com a Beverage Marketing Corporation. A primeira máquina de bebidas desse tipo

surgiu em 1890 em Paris, vendendo cerveja, vinho e licor, mas nessa época necessitava

de um atendente para ajudar aos consumidores, situação que desapareceu nos anos 30,

quando as vendings passaram a ser máquinas de auto-serviço, oferecendo bebidas

engarrafadas e em lata e somando 200 mil nos Estados Unidos de 1948.

Nos anos 50, a Pepsi-Cola percebeu nas VMs uma importante ferramenta em sua

estratégia de distribuição e aumentou para 1,2 milhões o número de máquinas em 1964.

Ao final dessa década, as vendings de lata - caracterizadas por custo elevado, mas maior

capacidade, ideal para locais de alta demanda - superaram em quantidade as de garrafa -

propícias para locais com pouco volume de vendas -, o que demonstrou que os

consumidores buscavam conveniência não só na maneira de comprar como também na

embalagem. Assim, em 1968, a Pepsi parou de comprar máquinas de garrafas e

começou a descontinuar as que já existiam no mercado e a evidenciar as máquinas de

lata em sua comunicação15, tendo como ápice a campanha Choice of a New Generation

em 1984. No anúncio de TV, um alienígena optava por ‘beber’ a própria máquina em

detrimento da do concorrente. Também em 1991, quando quis apresentar seu novo

design gráfico, convidou a modelo Cindy Crawford para um comercial em que ela

consumia o refrigerante de uma VM.

Segundo Prince (1998b), os anúncios publicitários, em geral, estimulam a

compra de um produto, mas as pessoas querem que ele esteja exatamente como

14 As informações desse subcapítulo foram geradas a partir de matérias recentes (1997 a 2001) sobre ocanal de vending machines.15 As PETs foram introduzidas no canal de vendings somente em 1997.

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mostrado pelo veículo de comunicação. No caso dos refrigerantes, a exigência é que

estejam gelados, como as gotículas d’água que escorrem na superfície da lata/garrafa

dão a entender. De acordo com a Beverage Marketing Corporation, aproximadamente

1/3 das vendas de bebidas gasosas é feita por ‘canais gelados’, incluindo vending

machines, pois para o consumidor de impulso o preço é menos importante que a

satisfação. Estima-se que o investimento em vendings entre junho/98 e junho/2001 será

maior que o realizado nos dez anos anteriores e que a variedade de embalagens cresça

acintosamente. Seguindo essa tendência e percebendo que a compra imediata fortalece a

marca, a Pepsi instalou, em 1997, mais de 150 mil VMs e geladeiras na América do

Norte, quase o dobro das 86 mil no ano anterior, e a Coca-cola Enterprises - CCE gastou

$440 milhões nesses equipamentos, o que significou um aumento anual de 15 a 16%.

Motivada pelo retorno financeiro oferecido por esses ‘canais gelados’ - high-

margin/high-return -, a CCE contratou e treinou dois mil funcionários de merchandise

para oferecer apoio a esses canais e alocou mais de 500 milhões de dólares ao segmento

em 1998. Com o maior controle sobre o preço do produto oferecido pelos canais de

conveniência, a margem de lucro das empresas de refrigerantes sobe dos 30% em

supermercados, por exemplo, para 50% em vendings.

Phillips (2000) acredita que as vending machines, no entanto, ainda são o

negócio menos desenvolvido da Indústria de bebidas, mas devem gerar grandes lucros

para as engarrafadoras a partir da próxima década, apesar do alto investimento inicial

com a compra dessas máquinas - a média é de US$ 2,000 - e a sua rápida amortização -

cerca de $35 ao mês16. Para alcançar algum sucesso, bastaria escolher o lugar ideal e,

pelas contas do autor, conseguir vender 10 unidades ao dia.

Cherkassky (2000) aponta que os profissionais de marketing estão

entusiasmados com o segmento de vending machines e querem fazê-lo crescer mais. De

acordo com os dados da Beverage Marketing Corporation de Nova Iorque, em 1999 o

grupo Pepsi colocou no mercado 150 mil equipamentos e a Coca-cola entrou com o

dobro, incentivados pelo aumento de 4,3% nas vendas por meio das máquinas de auto-

serviço entre 97 e 98, o maior já existente.

16 As vending Maquines costumam ter uma vida útil de 10 anos, o que significa que mais de 200.000máquinas são substituídas anualmente.

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Segundo Bernstein Researsh, o volume de vendas por ‘canais gelados’ em 98

aumentou em 10%, sendo que o maior aumento ocorrido aconteceu no canal VMs,

seguindo o crescimento do consumo fora-de-casa. Esse cálculo tem sido possível graças

a softwares de controle que são capazes de identificar a quantidade de unidades

vendidas, diariamente, máquina a máquina.

O sucesso das VMs não se limita, contudo, às máquinas de refrigerantes. Lambert

(2001) conta a história da Travelman Publishing, uma pequena editora de contos

fundada por Alexander Waugh, ex-crítico de ópera do jornal Evening Standard, que

colocou em janeiro deste ano três máquinas de venda automática na estação de metrô de

South Kensigton (oeste de Londres). Essas máquinas vendem contos impressos em

panfletos por uma libra (menos que o preço de um cafezinho) para uma leitura de cerca

de quarenta minutos. As vendings têm 1,5 metro de altura e os folhetins dobram como

um acordeão permitindo que os passageiros leiam uma página dobrada por vez.

O diretor-gerente da editora, William Mollet, acredita que estão vendendo mais

que a máquina do Snappy Map – o mapa das estações de metrô de Londres. Dessa

forma, a empresa espera adicionar outras cinqüenta máquinas desse tipo em estações da

capital nos próximos dois anos.

3.2.2) Novidades em Tecnologia

De acordo com McLaughlin (1998), nos anos 80 e 90, as máquinas se

modernizaram consideravelmente com bag-in-bo dispensing, o pagamento por cartão de

débito e um mecanismo de voz que agradece ao consumidor pela compra. Mas foi só

recentemente, em 1998, que uma companhia israelense apresentou ao setor de venda

automática a criação de máquinas que permitem o manuseio dos produtos pelo

consumidor. Ao inserir seu cartão de crédito ou débito no compartimento de leitura, a

porta da VM se abre, facilitando a escolha. Cada item selecionado tem seu valor

registrado no cartão; este, ao ser retirado, faz com que a porta feche imediatamente. O

uso de cartões também estimula maior gasto por parte do consumidor.

Entretanto foram os últimos dois anos os mais propícios ao desenvolvimento

tecnológico e atualização das máquinas, de acordo com Schwartz (2000a). O número de

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empreendedores no ramo de serviços wireless17para vending machines tem crescido

fortemente, e o que torna o negócio ainda mais atraente é o mecanismo não depender da

participação das telecoms, diferentemente do que se imaginava. Toda a inteligência está

no servidor, possibilitando ao consumidor usar qualquer telefone para comprar por VMs,

transferir dinheiro para ATMs ou pagar estacionamentos: “o serviço, por exemplo, vai

permitir que os pais, mesmo à distância, acionem uma máquina ATM na escola do seu

filho e este possa fazer um saque” (SCHWARTZ, 2000a, p.29).

Além dessa facilidade, a tecnologia WAP permite aos engarrafadores fazer

controle de estoque e manutenção das máquinas, uma vez que todas as máquinas

automáticas usam a especificação DEX (Digital Exchange), estabelecida pela National

Automatic Merchandisers Association. Essa especificação define um padrão de como a

informação sai ao ser lida pelo controller: “Os dados que podem ser monitorados

incluem o número de opções em uma máquina e o número de colunas onde todas as

latas se encaixam, com a seleção mapeada por colunas. Ademais, a especificação DEX

tem um padrão de reportar códigos de erro para validação de pagamento, entupimentos e

outros problemas operacionais (...)” (SCHWARTZ, 2000a, p.29). O autor garante que

um controle de estoque eficiente é importante porque se fossem eliminados 95% do

tempo em que uma vending fica vazia, o volume de vendas subiria de 12 a 15%.

Ainda sobre avanços tecnológicos, Cherkassky (2000, p.62) fala da existência de

empresas que oferecem softwares que ajudam os operadores a terem melhor controle

sobre o dinheiro, o fluxo das mercadorias e o estoque: “todos os fornecedores de

produtos do tipo wireless falam que os seus sistemas aumentam os períodos de intervalo

entre as visitas de reposição, minimizam o downtime do equipamento e melhoram a

capacidade de resposta rápida às situações de falta de estoque ou falta de troco”. Esses

fornecedores de software prevêem que os operadores de vendings consigam retorno de

investimento em um ano.

A Dr. Pepper/Seven Up Inc. no Texas, segundo Lais (2000), já utiliza um plano

piloto para conseguir dados reais de suas vending machines. Estão usando o software

VendCast - módulo de vendas e operações - e hardware - que inclui um paging de duas

vias - mais serviços da Isochron Data Corp, além dos módulos para rastreamento dos

17Termo advindo da tecnologia WAP (wireless application protocol)

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caminhões de abastecimento, contabilidade e manutenção do equipamento. Toda essa

instalação leva apenas 12 minutos e custa US$340.00, enquanto o monitoramento requer

US$6.50 ao mês.

É importante mencionar que as economias com esse método rapidamente

ultrapassam os custos, o que é o caso da mesma Dr. Pepper, que conseguiu fazer com

que as margens de lucro das VMs, comumente variando entre 14 e 15%, subissem para

19%.

Cherkassky (2000) conta que, na Austrália, a Coca-Cola criou e implementou

um sistema de monitoramento automático que conecta 38 mil vending machines usando

um microprocessador chamado Vending Interrogation Unit (VIU). As informações são

passadas para os repositores diariamente para que eles saibam quais máquinas precisam

de produtos e de que sabores. A última novidade foi a combinação de uma vending com

uma cabine telefônica que aceita pagamento por ‘smart card’.

Pesquisadores em Battelle, Millett e Kopp (1997) apostam que muitos produtos

baseados em nova tecnologia serão lançados até 200618 (ou pelo menos terão condições

propícias de serem lançados), surpreendendo a todos com as mudanças que irão

imprimir na nossa maneira de viver, trabalhar e interagir. Numa lista dos 10 mais

impactantes, eles incluíram o Eletronic Cash, conhecido como Smart Card, dinheiro

eletrônico em forma de cartão de crédito que substituiria definitivamente as moedas nas

compras por máquinas de auto-serviço.

Hoje, o pagamento em algumas dessas máquinas de venda automática já pode

ser feito com um telefone celular. Krauss (2000) revela que na Suécia, as empresas Visa

e Nokia estão trabalhando juntas no desenvolvimento de um telefone que funcionará

como um e-wallet (uma carteira eletrônica), para fazer compras a qualquer hora. Assim,

o consumidor poderá, por exemplo, passar um PDA no sensor de uma vending machine

para comprar um refrigerante, e o PDA debitará a conta da e-wallet via Web sem-cabo.

Enquanto isso, no Japão, de acordo com Stipe (2000), o I-mode, desenvolvido

pela NTT DoCoMo, maior fabricante de celulares no país, já vem conquistando

multidões com seus aplicativos da Internet, o que inclui a compra por vendings via

telefones do tipo I-mode. Raffray (2000) diz que na Finlândia o grupo Sonera está

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tentando seguir os passos do I-mode japonês, aproveitando o fato de que foi o

idealizador das compras em VMs por meio do celular naquele país.

Nee (2000, p.37) aponta uma outra revolução, a Bluethooth, uma novidade em

tecnologia para comunicação à distância – wireless communication -, que hoje já

alcança 10 metros, mas pretende chegar aos 100 metros em breve: “Isso possibilitar que

laptops se comuniquem com impressoras, telefones celulares com fones de ouvido,

palmtops com vending machines e cada um desses aparelhos com a Internet, todos pelo

ar. (Sim. Pelo menos existe uma empresa trabalhando para que as pessoas possam

comprar refrigerantes de uma vending machines simplesmente clicando no seu

palmtop)”.

Companhias como Coca-cola e Dr. Peper/Seven Up estão criando parcerias com

empresas de plataforma – Isochron e TeleVend - para aumentar as habilidades de suas

máquinas. Segundo Schwartz (2000b), no futuro, as vending machines de refrigerante

permitirão que os consumidores paguem pelas bebidas da maneira que mais lhes

agradar.

3.2.3) Usos e Estratégias no Exterior

Stockham (2000) apresenta as máquinas de auto-serviço como solução para

alimentar um número cada vez maior de estudantes de primeiro e segundo graus nos

Estados Unidos. Desde o boom da taxa de natalidade de 1970 neste país, as escolas têm

recebido mais alunos do que sua estrutura permitiria, e o sistema de alimentação dos

alunos também sofre com a lotação nas escolas. Algumas estão recebendo o dobro de

alunos para a qual foram construídas, mas colégios públicos de Palm Beach, na Flórida,

por exemplo, descobriram que as vending machines podem solucionar esse problema:

“Como parte de um programa piloto, esse distrito estará fornecendo refeições escolares

prontas, incluindo sanduíches e frutas, a partir de duas máquinas em um refeitório de

high school” (STOCKHAM, 2000, p. 64).

A Equipe MilkPoint acrescenta que, nos Estados Unidos, tem aumentado

também o número de máquinas automáticas que vendem produtos lácteos em escolas

18Consulte o artigo Make it easier to move product. In: Beverage World. V.120, n. 1698. 15 jan. 2001

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como alternativa mais saudável de alimentação para os jovens. Um exemplo disso é a

escola pública Albuquerque, que comercializa esses tipos de produtos como parte de um

programa de leite escolar por US$ 0.25 a mais que as tradicionais caixinhas contendo

237 ml.

Inclusive, os norte-americanos vêem nas vending machines uma alternativa de

refeição na impossibilidade de ir a um restaurante, pois, segundo o artigo New Economy

Employees Fueled by Office Coffee & Vending Machines, empresas como a Canteen

Vending Services oferecem pratos das mais variadas marcas, reconhecidas pela alta

qualidade, num ambiente puramente automatizado, semelhante a um quiosque, que

inclui ainda máquinas de bebidas, sobremesas, biscoitos, café e sanduíches. A

atratividade desse canal é explicada pelo frescor dos alimentos e os contratos com

marcas conhecidas. Outra novidade foi a lançada pela Tasty Fries Inc.: vending

machines de batatas-fritas, que ficam prontas em 90 segundos e custam US$1.00 cada

pacote.

A própria cultura de escritório está mudando com os novos hábitos alimentares.

O artigo da revista Facilities Design & Management, New economy employees fueled by

office coffe and vending machines, mostra que cada vez mais os empregados estão se

utilizando de VMs para tomar o café da manhã, almoçar e até mesmo jantar. Daí esse

negócio estar estimado em US$31 bilhões, com uma expectativa de crescimento de 15%

até o final de 2000. Aramark, uma empresa de serviços da Filadélfia, possui 400 tipos

diferentes de café para oferecer aos funcionários de escritório, e só no ano passado,

cresceu a uma taxa de 40%.

Prince (1998b) lembra a estratégia da Pepsi: focar nos ambientes de trabalho,

malls e escolas, esses dois últimos com o objetivo de alcançar o público jovem e

conquistar sua lealdade desde cedo. A Coca-cola, por sua vez, pretende investir nos

próximos três anos cerca de cinco bilhões de dólares em caminhões, vending machines e

Coolers (Geladeiras).

Mas, afirma Matsumoto (1999), para serem bem-aproveitadas, as máquinas

devem atender a três pré-requisitos: boa localização – como já sugerido por Phillips

(2000) -, estoque controlado - com variedade de produtos - e fácil utilização. Na

sobre o que foi exposto pelas maiores empresas fabricantes do setor no evento InterBev 2000.

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Michigan State University, o coordenador de vendas usa 70% do seu tempo checando as

máquinas e testando novos locais/pontos para sua instalação. Ele costuma colocar as

vendings em locais incomuns como as rampas de estacionamento, pontos-de-ônibus e

entradas dos edifícios, justificados pelo forte tráfego de pessoas.

As engarrafadoras estão tomando conta desse negócio e passaram a ser

consideradas traidoras pelos seus revendedores, completa Butler (1999, p. 62), uma vez

que estão sendo atraídas pelas peculiaridades do canal: “As máquinas de auto-serviço

têm a maior margem de lucro dentre os canais de distribuição porque o varejista é

eliminado da cadeia, permitindo ao engarrafador estabelecer ele mesmo o preço de

venda, não mais recebendo o valor menor, pago pelos atacadistas”. Além disso, as

engarrafadoras são acusadas de dar comissão aos que aceitam uma vending em seu

estabelecimento. Para os revendedores independentes, a solução seria a parceria, a fim

de evitar que o próprio fornecedor se torne um competidor.

O artigo Enjoy the relationship, da revista Beverage World, aponta que o Japão

tem um sistema único e justo de distribuição. Lá, mais de 50% dos refrigerantes são

vendidos através de vending machines. Um ponto positivo das máquinas de auto-serviço

é que elas possibilitam o profissional de marketing a muito rapidamente oferecer uma

enorme gama de novos produtos aos consumidores em geral, sem ter que trabalhar o

consumidor individualmente – estudar o indivíduo em suas particularidades. O que o

consumidor japonês quer mesmo é a variedade de escolha e muitas novidades, e o

sistema de distribuição japonês se adaptou a isso.

Não é à toa que dentre as vinte coisas que o articulista norte-americano Stanley

Bing (1998) mais gosta no Japão estão as vending machines, que naquele país superam

as dos EUA em diversidade de produtos. O café realmente forte e quente, combinações

de blusa e gravata para os mais desavisados e uma bebida isotônica chamada Pocari

Sweet são exemplos de produtos apreciados por Bing. Outros itens, como Cds e jóias,

aumentam esse leque de opções.

Prince (2000) cita uma novidade em vending machines, a Glass Front Vender,

produzida pela norte-americana Maytag. É um equipamento usado pela Coca-cola

Company que oferece 45 tipos diferentes de produtos, em lata ou garrafa, e foi inspirado

numa pesquisa com os consumidores. O autor revela que as vendas por meio dessa

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máquina, que permite ao comprador ver as bebidas disponíveis através da porta de

vidro, aumentaram mais de 50% em relação aos outros modelos existentes.

Em Love (1998) descobre-se que a Vertex Technologies, Inc., operando no setor

há mais de 20 anos, encara as máquinas como lojas miniaturas que podem vender desde

câmeras fotográficas e calças jeans até ferramentas e equipamentos. A vantagem para

quem compra as máquinas é poder operar 24hs, possibilitando o funcionamento

inclusive quando o estabelecimento estiver fechado, do lado de fora; daí as máquinas

precisarem ser à prova de roubo e resistentes ao clima. Ou mesmo em todos os turnos de

uma fábrica, fornecendo ininterruptamente materiais de trabalho para os operários.

McCrea (2000) exemplifica com a Pionner Tool Supply Inc., empresa que se valeu da

necessidade de se reduzir o tempo perdido com a procura por ferramentas ou com a

espera na fila19, no chão de fábrica, para criar a Auto Crib, um sistema controlado 24

horas por computador que fornece ferramentas e material de escritório por meio de

vending machines.

As VMs estão curiosamente servindo, também, para vender medicamentos. Page

(2000) explica que o sistema - chamado de telefarmácia - se assemelha ao das ATMs,

sendo que um farmacêutico, de um computador distante, recebe a receita médica via fax

ou modem e, por controle remoto, oferece os medicamentos prescritos a clínicas ou

comunidades que sejam pequenas demais para abrigar uma farmácia. Essa novidade está

sendo testada pelas forças armadas norte-americanas, que têm poucos farmacêuticos em

seu corpo militar.

Uma VM ainda pode receber itens, como é o caso dos cartuchos de tinta para

impressoras, que são reaproveitados pelos fabricantes desse produto. O consumidor

entrega à máquina um cartucho vazio e recebe um cheio por um preço menor do que

caso decidisse não reciclar a embalagem. Outro mecanismo interessante são as

Tokenotes, cupons promocionais com código eletrônico no verso, que já podem ser

usadas em máquinas vending, especialmente em lava-carros automáticos e geladeiras

com refeições para micro-ondas. Esses cupons são ideais para lançamentos de produtos

(experimentação/degustação).

19 Período de tempo conhecido na língua inglesa por walk-around time.

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As informações que são divulgadas levam a crer, portanto, que a onda das

vending machines não é passageira, especialmente quando se fala em lucratividade e

dinâmica de mercado. Uma máquina custa em torno de dois mil dólares e, acredita

Phillips (1998), consegue se pagar no primeiro ano dado que normalmente são vendidas

120 unidades ao lucro de $50 por semana.

No entanto, um dos grandes problemas que perseguem o setor de VMs, alertam

os japoneses Sakai, Nakajima, Higashihara, Yasuda e Oosumi (1999), é o gasto de

energia com essas máquinas, que operam o dia inteiro para conveniência dos seus

usuários. Elas consomem grande quantidade de eletricidade, o equivalente ao output

total de dois reatores nucleares no Japão, e, na medida em que o meio-ambiente vai

sendo deteriorado, urge se conservar energia.

Para solucionar este problema, os pesquisadores japoneses desenvolveram um

sistema que reduziria a energia utilizada para resfriar as latas de bebidas. Nessa

pesquisa, fez-se uma previsão de quantas latas são vendidas por dia a fim de se utilizar

energia apenas para gelar a quantidade necessária de latas. Também utilizaram lógica e

modelo de regressão múltipla para corrigir os valores previstos previamente para

melhorar a precisão nas previsões de vendas. Foram conduzidos alguns experimentos

utilizando o método desenvolvido por eles e conclui-se que a energia pode ser reduzida

a aproximadamente 1/10 do que é usado normalmente. Mader (2000) fala que, seguindo

o acordo de Kyoto em mudanças climáticas, a Coca-cola vai exigir que os fabricantes de

VMs desenvolvam até o final desta década equipamentos que sejam 40 a 50% mais

eficientes em energia. Desde 1997, por causa do Kyoto Agreement, a companhia tem

uma força-tarefa focada em tecnologias alternativas de refrigeração e em mudanças

climáticas.

3.2.4) Evolução das VMs no Brasil

Diferentemente de nos Estados Unidos, as máquinas de atendimento automático

só chegaram ao Brasil em 1992, trazidas pela Coca-Cola. Nessa época as maquininhas

funcionavam apenas com inserção de fichas e geravam mais curiosidade que interesse

das empresas.

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De acordo com o que diz o artigo A Febres das Vending Machines, o atraso do

crescimento do setor no país (a quantidade de vendings no Brasil sempre foi e ainda é

infinitamente menor que nos EUA) desde então havia sido atribuído à inflação alta, à

preocupação com as fraudes e ao vandalismo. Mas após a introdução do Plano Real, e

conseqüentemente, com a estabilização econômica – estabilização da moeda -, a partir

de 1994, o panorama começou a mudar, pois sem a inflação as máquinas foram

adaptadas para receber notas20 e moedas e dar troco, enquadrando-se finalmente no

conceito de auto-serviço. Começaram, então, a surgir mais empresas interessadas em

explorar esse mecanismo de compra por impulso.

Entre elas está a paulistana Tok Take, uma das maiores operadoras

independentes do Brasil, que começou em 1995 com apenas 60 máquinas e hoje já

abastece quase 1.500 delas, representando um giro de 500 mil operações mensais com

faturamento de US$ 300 mil. A Tok Take compra produtos diretamente dos fabricantes

e tem controle por computador das vendas por período de tempo, atuando em São Paulo,

Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás e empregando aproximadamente 100 funcionários.

Oliveira (2000) revela que a empresa tem como próximo projeto a operacionalização de

máquinas de bebidas quentes em parceria com a Nestlé.

Soares e Oliveira (1998) mostram que entre 1994 (após a estabilização) e 1998

(ano de publicação do artigo), o segmento de venda automática teve um crescimento

anual de 25 a 30%, porém afirmam que o mercado brasileiro ainda está engatinhando.

Em 1997, cerca de cinco milhões de vendings geraram um faturamento de US$ 21

bilhões nos Estados Unidos, em 1996, 3,1 milhões de máquinas venderam US$ 13

bilhões na Europa, e no Japão 60% da comercialização da Coca-Cola foi realizada pelos

seis milhões de equipamentos existentes em 1998.

O potencial brasileiro, no entanto, atrai fabricantes estrangeiros como a Rowe

International Inc.21, representada desde 1996 pela Rowe, localizada em SP. Mas não foi

só a possibilidade de expansão que aumentou o interesse pelas máquinas de auto-

20 Nos EUA, as notas são aceitas há mais de 20 anos.21 Os preços dos seus equipamentos, sem sofisticação, são de US$ 5 mil para snacks, US$ 6 mil paraalimentos, US$ 5,5 mil para pipoca e US$ 4,5 mil para refrigerantes/bebidas. Na Metalfrio e na japonesaSaeco, os valores são mais altos: US$7,3 a 7,9 mil para snacks, US$5,6 a 6,3 mil para bebidas frias e US$6,3 a 8,2 mil para café.

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serviço. Soares e Oliveira (1998) asseguram que o segmento tem atraentes margens de

lucro bruto, entre 50% e 200%, e o lucro líquido (após descontos com a compra dos

produtos, pagamentos de impostos, aluguel do espaço e reabastecimento) raramente é

inferior a 50%, permitindo um retorno do investimento no prazo de seis meses a um ano

e meio.

No Brasil, o número de máquinas aumentou 180 vezes desde a introdução das

primeiras em 1992. Hoje em dia, afirma Favero (2000), já há entre 25 e 30 mil máquinas

de venda, sendo mais da metade instaladas no estado de São Paulo (60%), e boa parte no

Rio de Janeiro e em Minas Gerais (19% cada), mas um último estudo da ABVA mostra

que o mercado brasileiro tem potencial para operar com mais de 330 mil delas. Nos

Estados Unidos, onde essas máquinas surgiram na década de 50, existem seis milhões

de máquinas, faturando 36 bilhões de dólares com as vendas, num mercado que cresce

20%, ao ano. Na Europa, que possui mais de 3,2 milhões de vendings no total, o

mercado movimenta cerca de US$ 15 bilhões. Só a Alemanha tem 246 máquinas para

cada milhão de habitantes. A maior proporção máquinas/população, no entanto, está no

Japão, com 1.984 VMs por milhão de pessoas contra 1.050 nos EUA.

Apesar da ainda restrita quantidade de máquinas à disposição dos brasileiros,

Favero (2000) explica que eles estão começando a se acostumar a comprar produtos por

vending machines; tanto que os empresários já estão cada vez mais de olho nesse nicho

de mercado, que movimenta cerca de 40 milhões de reais anualmente no país, segundo

estimativas da ABVA22

Uma das dificuldades encontradas para a expansão dessas máquinas de venda

automática no Brasil de hoje, segundo Fávero (2000), é o custo de compra do

equipamento. Como elas são importadas – 40% vêm dos Estados Unidos, 40% da

Europa, 15% da Ásia (principalmente China e Coréia) e 5% da África -, os impostos de

importação acabam dobrando o seu preço. Ao final, uma máquina de bebidas quentes ou

uma refrigeradora chega a custar entre 7.000 e 30.000 reais, um valor tão alto que fica

difícil para os importadores revenderem as máquinas para terceiros (as 300 operadoras

atuantes no país, empresas que de fato vão distribuí-las, operá-las e mantê-las).

22 Associação Brasileira de Vendas Automáticas, criada em maio de 2000, contando hoje com 32associados entre operadores de máquinas e fornecedores de produtos.

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Rubi Buti, diretor da ABVA, diz que a solução seria fabricar as vendings no

próprio país. Atualmente, existem apenas três fabricantes de vending machines no Brasil

– dois em SP e um no RS – e a tecnologia empregada ainda é estrangeira, excetuando

alguns componentes. Mesmo assim, o preço já é bastante inferior ao das máquinas

importadas. A paulista Fraphe, por exemplo, fabrica máquinas de salgadinhos e de

refrigerantes e as vende por R$ 6.000,00 em média.

Finalmente, como apresentado no A Febres das Vending Machines, a vantagem

para os proprietários de bares, padarias, postos de gasolina, enfim, dos donos de

estabelecimentos comerciais adeptos das vendings, é que não investem financeiramente

e ainda recebem um percentual em torno de 10% pela cessão do espaço aos operadores

dessas máquinas. É a empresa operadora que instala a máquina, se encarrega da

reposição dos produtos e da manutenção do equipamento. Portanto, as máquinas de

venda automática garantem faturamento extra para as lojas que as adotam. Na carioca

Rio-Bel, que vende cosméticos, o equipamento foi colocado em 1995 e vende,

semanalmente, 300 latas de refrigerantes, chegando a 100 latinhas por dia no período de

verão, ainda ajudando no movimento.

3.3 – Tecnologia e Consumidor

3.3.1) A Inovação Tecnológica e o Processo de Difusão

Engel, Blackwell e Miniard (1995) asseguram que um dos mais críticos

componentes dos programas de marketing nas empresas hoje é a introdução de novos

produtos no mercado, uma vez que quase 80% destes são mal-sucedidos. A sociedade

ainda tem dificuldades de entender como e por que as pessoas decidem adotar

novidades. Entretanto, sabe-se que o lançamento de produtos é uma maneira de

modificar fundamentalmente o comportamento dos seres-humanos: “Talvez mais do que

qualquer outra área do marketing, a habilidade de introduzir novos produtos de forma

eficaz significa mudar como a sociedade é organizada, uma influência direta no

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comportamento do consumidor (...) Produtos bem-sucedidos são aqueles que se tornam

culturalmente ancorados” (ENGEL, BLACKWELL e MINIARD, 1995, p.870).

Ainda segundo Engel, Blackwell e Miniard (1995), o processo de difusão ajuda a

explicar como novas idéias ou práticas culturais e novos produtos são disseminados

numa sociedade. Esse processo difere do processo decisório com relação a produtos já

existentes, pois naquele a ênfase está na comunicação dentro da estrutura social – o

sistema - enquanto neste está no processamento individual da informação – o indivíduo.

Com o objetivo de prever as vendas de um novo produto, por exemplo, o

marketing utiliza alguns modelos. Engel, Blackwell e Miniard (1995) mencionam que,

dentre eles, existem os modelos de penetração, que antecipam o nível de aceitação de

uma novidade com base nos primeiros resultados de vendagem, e os epistemológicos,

que vislumbram a aceitação baseada na visão de que os inovadores e os adotantes

iniciais influenciam o restante. Eles acreditam que esses como outros modelos de

adoção de inovações são deterministas, uma vez que “incluem variáveis internas que

descrevem o processo decisório do consumidor em relação ao novo produto e os efeitos

das variáveis externas, que podem afetam as taxas de penetração e o tempo de

aceitação” (ENGEL, BLACKWELL e MINIARD, 1995, p.906).

A difusão de inovações e a aceitação/rejeição delas é um dos assuntos mais

pesquisados no marketing, mas essas pesquisas têm sido realizadas em sistemas sociais

muito mais facilmente controláveis do que aqueles que os gerentes realmente precisam

enfrentar. Daí, os autores acharem que ainda há muito a melhorar. Se por um lado a

tecnologia continua sendo o principal motor das mudanças na sociedade e as empresas

que sobrevivem ao tempo devem isso à tecnologia de desenvolvimento de novos

produtos e processos, por outro uma análise dos fracassos nos negócios revela a

incapacidade de traduzir a criatividade tecnológica em operações lucrativas.

Segundo Twiss (1974, p.02), o grande desafio das organizações não tem sido

criar novidades, mas sim transformá-las em lucro:

“Seria muita pretensão achar que é possível desenvolver técnicase regras sobre decisão que assegurem o sucesso de uma atividade23 emque a incerteza é muito maior que em outras áreas da administração. Não

23 Lê-se gerenciamento de tecnologia.

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se pode ensinar aos gerentes como gerenciar a tecnologia de formaeficiente. Mas isso não significa que é impossível desenvolver melhoreshabilidades decisórias por meio de exposição às técnicas teóricas e aosconceitos de planejamento gerencial”.

Twiss (1974) acha importante diferenciar os termos ‘inovação tecnológica’ de

‘pesquisa e desenvolvimento’: embora cubram atividades em comum, o primeiro está

ligado às análises gerais sobre aplicações tecnológicas lucrativas mais que à descrição

de atividades do departamento de P&D, sempre dando atenção à importância das

inovações dos processos e às novidades que surjam fora da organização, enquanto

Pesquisa e Desenvolvimento fica responsável por gerar essas inovações.

Em todos os capítulos, Twiss (1974, p.03) parte dos seguintes pressupostos para

desenvolver os temas envolvendo inovação tecnológica:

“Inovação tecnológica é um fator essencial à sobrevivência e aocrescimento da maioria das empresas e não deve ser simplesmenteabandonada às mudanças se for possível fazer um planejamento e umcontrole racionais da inovação; os recursos destinados à inovaçãotecnológica só podem ser justificados se ajudam a atingir os objetivoscorporativos; uma análise das inovações tecnológicas passadas revelaaspectos que podem ser encontrados presentes em casos de sucessos eausentes em casos fracassados; uma aproximação conceitual e umconhecimento dos processos no trabalho podem ser desenvolvidos; emelhores decisões e maiores retornos sobre o investimento em tecnologiadevem advir de uma tentativa consciente de aplicar a teoria na prática”.

O autor não sugere que o seu estudo dá fórmulas para o sucesso, mas que seus

achados ajudam a evitar erros, muito comuns no delicado processo de inovação24. Ele

arrisca dizer que, fora as exceções, para que uma inovação seja bem sucedida dentro de

uma empresa é preciso que o gerente de tecnologia assegure a presença de fatores como

orientação para o mercado, relevância da inovação para os objetivos da organização, um

sistema eficiente de seleção de projetos de inovação e avaliação; gerenciamento e

controle de projetos com eficiência, fonte de idéias criativas, receptividade da empresa a

novidades e compromisso de um ou alguns indivíduos.

24 Na época do livro (1974) estimava-se que menos de 10% dos projetos iniciados obtinham sucessocomercial

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A presença de outras características pode se tornar necessária para que algum

projeto dê certo dependendo da circunstância, mas as sete acima têm se provado

essenciais nos vários estudos sobre sucesso em implementação de novas tecnologias,

verificados os diferentes pesos de importância a cada uma delas.

3.3.2) Adoção e Difusão de Inovações: outros conceitos

Rogers (1983, p.05) define difusão como “o processo pelo qual uma inovação é

comunicada por meio de certos canais, com o passar do tempo, entre os membros de um

sistema social. É um tipo de comunicação especial, em que as mensagens estão

relacionadas a idéias inovadoras”. Portanto, a difusão é um tipo de comunicação, cuja

principal característica é o conteúdo de novidade na mensagem. Uma inovação

tecnológica, por exemplo, envolve informação que reduza a incerteza das relações de

causa-efeito no processo de solução de problemas.

Difusão também é um tipo de mudança social, um processo pelo qual alguma

alteração acontece na estrutura e na função do sistema social. Mas nem todos os autores

concordam com as definições de Rogers (1983). Alguns, inclusive, consideram que o

termo difusão deve ser usado para algo espontâneo e usam a palavra disseminação para

o tipo de difusão que é dirigido e gerenciado. Em Difusion of Innovation ambos os

fenômenos são indiscriminadamente chamados de difusão pelo autor.

Hawkins, Best e Coney (1992) consideram a aceitação e difusão de um produto

num mercado como um fenômeno grupal. Conceituam inovação como “uma idéia,

prática ou produto percebido como novo por um indivíduo ou grupo de relevância. Ser

ou não uma inovação é algo determinado pelas percepções do mercado potencial, e não

por uma medida de mudança tecnológica”. (HAWKINS, BEST E CONEY, 1992, p.156)

Pelas definições de Rogers (1983), percebe-se que os quatro principais

elementos da difusão são Inovação, Canais de Comunicação, Tempo e Sistema Social.

Cada conceito é explicado separadamente, e entendido resumidamente assim: “Inovação

é uma idéia, prática ou objeto percebidos como novo por um indivíduo ou outro

adotante” (pág.11); “Um canal de comunicação é o meio pelo qual as mensagens vão de

um indivíduo a outro” (pág.17); “A dimensão tempo está envolvida na difusão (1) no

processo de decisão quando o indivíduo passa da fase de conhecimento para a adoção ou

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rejeição, (2) na relativa demora ou antecedência do tempo de adoção comparativamente

com outros membros do sistema, e (3) numa taxa de adoção, medida como o número de

membros de um sistema que adotam a inovação num certo período de tempo” (pág.20);

“Um sistema social é definido como um agrupamento de unidades inter-relacionadas

que estão engajadas em solucionar um problema para alcançar um objetivo” (pág.24).

Engel, Blackwell e Miniard (1995) comentam que existem ainda outros estudos

a respeito de difusão da inovação que também apontam os elementos mais importantes

num processo de difusão. Essas variáveis, similarmente às apresentadas por Rogers

(1983), são a própria inovação (novos produtos, serviços, idéias etc.), a comunicação

(por meio de certos canais), o tempo (momento no qual certos indivíduos decidem por

adotar o produto relativamente aos demais indivíduos) e o sistema social (pessoas,

grupos ou outros sistemas interligados). Vejamos cada um deles separadamente.

Engel, Blackwell e Miniard (1995, p.877) explicam que a maioria dos estudos na

área define inovação, subjetivamente, como “qualquer idéia ou produto percebido pelo

adotante em potencial como novo” e, objetivamente, como “idéias, comportamentos ou

coisas que são qualitativamente diferentes das formas já existentes”. No entanto, o que é

qualitativamente diferente, por exemplo, costuma gerar controvérsias, assim como as

definições que usam o tempo transcorrido desde o lançamento como parâmetro. Os

autores preferem, então, tratar as inovações como sendo de vários tipos.

O sistema mais utilizado pelo marketing para classificar as inovações baseia-se

no seu impacto sobre o comportamento na estrutura social e é de autoria de Thomas S.

Robertson25. Existem diversos graus de inovações, desde nenhuma novidade até a

mudança radical num produto, e isso reflete num continuum de mudança no

comportamento de acordo com a resposta do mercado a essas novidades. Elas são

classificadas como (1) contínua, quando há uma modificação em algo já existente, quase

não transformando os padrões de comportamento, a exemplo da adição de flúor às

pastas de dente; (2) dinamicamente contínua, que pode envolver a criação de um novo

produto ou a alteração de um antigo, transformando pouco o comportamento

estabelecido, como com a invenção dos CDs, e (3) descontínua, havendo a introdução

25 A descrição dessa taxonomia pode ser encontrada no artigo The Process of Innovation and Thediffusion of Innovation. Journal of Marketing, Jan. 1967, pp.14-19.

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de um produto totalmente novo que leva os compradores a mudarem significativamente

os padrões de comportamento, como no caso dos computadores26.

A maioria dos novos produtos é do tipo Inovação Contínua, mas as pesquisas na

área tendem a enfocar os do tipo Inovação Descontínua. De qualquer maneira, para que

um produto/serviço seja bem-aceito pelo consumidor precisa possuir algumas

características básicas, atributos tangíveis e intangíveis que Ted Levitt diz levar ao ‘total

product concept’27, conceito já adotado em seus fundamentos por Roger em 1983. Ele

propõe cinco: (1) vantagem relativa, i.e., a vantagem que o consumidor percebe em

relação ao que foi substituído ou acrescido; (2) compatibilidade, ou seja, o grau de

consistência com as experiências e os valores dos adotantes em potencial; (3)

complexidade, que é o nível de dificuldade em compreender e usar a inovação; (4)

experimentabilidade, pois novos produtos/serviços são mais aptos ao sucesso quando os

consumidores podem testar a idéia, a exemplo do uso de amostra grátis e (5)

observabilidade ou comunicabilidade, que refletem a visibilidade dos resultados ao se

usar uma novidade.

Uma das técnicas mais eficientes para testar esses atributos e prever o sucesso da

inovação é o focus group, pelo qual é possível perceber as tendências e as necessidades

que devem moldar a novidade: “Os produtos mais propensos ao sucesso são aqueles que

solucionam os problemas do consumidor” (ENGEL, BLACKWELL e MINIARD, 1995,

p.885).

A comunicação aparece no trabalho de Engel, Blackwell e Miniard, (1995,

p.885) definida como “um processo pelo qual consumidores e organizações de

marketing trocam informações para chegarem a um entendimento mútuo”. Existem dois

modelos que os profissionais de marketing usam na tentativa de ganhar a aceitação de

novos produtos/serviços: hypodermic needle model e two-step flow model. O primeiro

considera que os meios de comunicação de massa têm forte poder de influência direta

sobre a audiência, enquanto o segundo apresenta a visão de que as idéias passam da

mídia para os líderes de opinião, que, por sua vez, são os que influenciam o mercado.

26 Hawkins, Best e Coney (1992) também adotam a classificação de Thomas S. Robertson para os tipos deinovação, dando outros exemplos: contínua – molhos sem gordura -, dinamicamente contínuas – telefonescelulares – e descontínua – os contraceptivos ou as máquinas de fax.27 Esse conceito é explicado em detalhes em The Marketing Imagination. Nova Iorque, Oxford UniversityPress, 1987, pp.25-38.

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Entretanto, Engel, Blackwell e Miniard (1995) entendem que a chave do sucesso para as

maiores novidades é a propaganda boca-a-boca, apesar do fraco controle que se possa

ter sobre essa variável.

Finalmente, com relação ao tempo, entende-se que a adoção de novos produtos

deve ser compreendida num contexto temporal, e a taxa de difusão variará de sociedade

para sociedade com base nos seus valores culturais. O modelo de decisão mais

amplamente adotado é o utilizado por Rogers (1983) e, mais tarde, por Engel, Blackwell

e Miniard (1995), e inclui os estágios de Conhecimento, Persuasão, Decisão,

Implementação e Confirmação.

O conhecimento é a fase que começa com a exposição à novidade, o que ocorre

normalmente pela mídia, mas ainda não há nenhum tipo de julgamento a respeito dele.

A persuasão se refere à formação favorável ou desfavorável de atitudes com relação à

inovação e a decisão envolve atividades que levam a uma escolha entre adotar ou

rejeitar a inovação. A implementação ocorre quando o consumidor coloca a inovação

em uso, deixando de exercitar a sua decisão apenas mentalmente. Finalmente, a

confirmação é o procedimento pelo qual os consumidores buscam reforço para a

decisão. Como resultado deste processo, surgem, enfim, os ‘adotantes’ e os ‘não-

adotantes’.

Rogers (1983) ensina que enquanto o processo de difusão diz respeito a sua

propagação, adotar ou não um produto é um processo de decisão por parte do

consumidor individual de aceitar ou rejeitar uma novidade. Mas os indivíduos de um

sistema social não têm o mesmo ritmo para adotar as inovações do mercado. Ainda de

acordo com o autor há cinco categorias de adotantes28 com base no tempo relativo entre

a introdução da inovação no mercado e a adoção da mesma pelo indivíduo: os

inovadores (2,5%) caracterizam-se pelo espírito empreendedor, ou seja, gostam de

experimentar novidades, aceitam riscos inerentes às experiências, utilizam-se de fontes

de informação impessoais e são cosmopolitas; os adotantes imediatos/iniciais (13,5%)

são respeitados no seu meio social e, por serem líderes de opinião, agem como uma

espécie de filtro no processo de adoção, influenciando seus seguidores e reduzindo os

28 Ao lado das categorias de adotantes, entre parêntesis, se encontra a percentagem relativa a cada uma dascinco classificações, cuja distribuição de freqüência se aproxima de uma curva normal.

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riscos dos mesmos na tomada de decisão. Eles tendem a ser mais jovens, a possuir status

social mais elevado e posição financeira mais favorável que os adotantes tardios; a

maioria imediata/precoce (34%) é formada por pessoas mais ponderadas que, por isso,

só adotam uma inovação após um certo período da implantação; a maioria tardia (34%)

é caracterizada pelo ceticismo uma vez que apenas adota a inovação quando esta já se

encontra bem arraigada na sociedade; e os atrasados/retardatários (16%) são os

chamados tradicionalistas, presos ao passado. Quando adotam alguma inovação, muito

provavelmente outra ou um aperfeiçoamento da mesma já se encontra em fase de

introdução no mercado.

Hawkins, Best e Coney (1992), seguidores de uma classificação muito

semelhante à descrita acima, acreditam que é exatamente nessa ordem seqüencial que,

uma vez definido o mercado alvo, os profissionais de marketing devem atacar a

divulgação do novo produto.

Para Hawkins, Best e Coney (1992), o tempo de decorrência do processo de

difusão depende de dez fatores, cinco a mais que os adotados por Rogers e Levitt: o

grupo – pessoas jovens, afluentes e com nível educacional elevado costumam aceitar as

mudanças mais rapidamente -, o tipo de decisão – quanto menos pessoas envolvidas,

mais rápida a disseminação -, esforço de marketing - a aceitação depende dos

investimentos da empresa em divulgação -, satisfação das necessidades sentidas –

quanto mais evidente a necessidade, mais ágil a difusão -, compatibilidade – se a

compra e o uso da novidade forem coerentes com os valores e crenças do

grupo/indivíduo, a difusão se torna mais veloz -, vantagem relativa – uma vez que a

inovação, comparativamente ao que já existia no mercado, satisfaz melhor, a difusão

acelera –, complexidade – quanto mais difícil de entender e usar, mais lenta é a

disseminação da inovação -, observabilidade – quanto mais facilmente os consumidores

puderem observar os efeitos positivos da adoção, mais rápida será a difusão -,

experimentação – a difusão é mais ágil quanto mais simples for a experimentação, ou

seja, a baixo custo e risco -, e risco percebido – a medida que o risco é grande, mais

lento é o processo de difusão.

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3.3.3) Comportamento do Consumidor e Processo Decisório

Quando a posição do consumidor ainda era fraca em relação à do fabricante, o

processo de produção nas empresas era orientado para o produto, mas a partir dos anos

50, o consumidor foi ganhando cada vez mais poder. O conceito de marketing surgiu

justamente nesse ambiente de inversão de poder e os produtos deixaram de ser o

principal objetivo das empresas para ser um instrumento de satisfação das necessidades

do cliente. Para isso, as pesquisas de marketing tiveram que evoluir transformando os

produtos num reflexo de seus usuários. É nesse contexto apresentado por Twiss (1974),

que se pretende entender o comportamento do consumidor.

“O comportamento do comprador pode ser definido como o processo sistemático

por meio do qual o indivíduo se relaciona com o ambiente que o cerca na tomada de

decisões a respeito dos produtos e serviços que lhe são oferecidos” (CUNDIFF, STILL

E GOVONI, 1981, p.58). Segundo Cundiff, Still e Govoni (1981), existem três aspetos

importantes do comportamento do comprador, quais sejam o econômico, o psicológico e

o sócio-cultural. O que cada um desses aspectos, melhor dizendo perspectivas, tentam

explicar é o comportamento do consumidor a partir de suas próprias teorias, tendo os

economistas sido os precursores nos estudos formais sobre esse comportamento.

A teoria econômica pressupõe que o mercado é composto de compradores

homogêneos, previsíveis e racionais. Assim, o preço é considerado a motivação mais

forte do comprador, porque na comparação entre concorrentes só se encontra diferencial

no valor a ser pago. Enquanto isso, o enfoque psicológico, o mais complexo, oferece

três visões: experimental – as forças motivacionais são fisiológicas e corporais; clínica -

os impulsos fisiológicos são modificados por forças sociais; e gestáltica ou social – o ser

humano e o ambiente são um todo indivisível.

A abordagem sociológica e antropológica, mais compatível com este estudo,

enfatiza a influência dos grupos de referência, do conceito individual do papel de

sociedade, do processo de difusão, da classe social e da cultura no comportamento do

consumidor.

Engel, Blackwell e Miniard (1995, p.04) definem comportamento do consumidor

como “aquelas atividades envolvidas diretamente na obtenção, consumo e descarte de

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produtos e serviços, incluindo os processos decisórios que precedem e sucedem essas

ações”, matéria essa que pode ser abordada em diferentes, mas não excludentes,

perspectivas: da influência do consumidor, do pós-moderno e do intercultural.

Com relação à primeira perspectiva, as pesquisas dominantes têm como objetivo

compreender e prever o comportamento do consumidor e descobrir relações de causa e

efeito que governem os mecanismos de persuasão e/ou de educação – de maior interesse

para os profissionais de marketing –, de proteção ao consumidor e de políticas públicas.

A visão pós-moderna, por sua vez, é uma onda crescente, que chegou para

suplantar o positivismo anterior, como uma forma de pesquisa que utiliza variados

métodos – etnografia, semiótica, hermenêutica, crítica literária e historicismo - para

conhecer o consumidor, sem a intenção de influenciá-lo a partir dos resultados, mas sim

de entender o impacto do consumo sobre os muitos aspectos da vida.

A perspectiva intercultural global, por sua vez, reconhece que as necessidades

básicas e os processos decisórios são universais, mas prega que existem diferenças

culturais na maneira em que a motivação à compra e o comportamento de consumo se

dão.

Em Consumer Behavior, nenhuma das perspectivas acima é ignorada pelos

autores Engel, Blackwell e Miniard (1995), porém enfatiza-se a visão do marketing em

que se pesquisa o consumidor para se montar a melhor estratégia de marketing, ou seja,

o livro tem uma tendência positivista: “A soberania do consumidor representa um

desafio formidável, mas um marketing habilidoso pode afetar motivações e

comportamentos se o produto ou serviço oferecido estiver desenhado para satisfazer as

necessidades e expectativas do consumidor” (ENGEL, BLACKWELL e MINIARD,

1995, p.13).

Levando em consideração o que pensam Hawkins, Best, e Coney (1992, p.14), o

profissional de marketing deve encarar o consumidor como “uma unidade decisória

(indivíduo, família, lar ou empresa) que obtém informações, processa essas informações

(conscientemente ou inconscientemente) à luz da situação e toma atitudes a fim de

satisfazer-se e melhorar/desenvolver seu/um estilo de vida”. É a essa dinâmica do estilo

de vida que os gerentes de marketing precisam ficar atentos, pois ela norteará o

comportamento do consumidor.

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Da mesma forma, o estilo de vida é influenciado por diversos fatores,

subdivididos em externos e internos. As influências externas compreendem a cultura, os

valores, os fatores demográficos, a classe social, os grupos de referência e os hábitos da

casa, enquanto as influências internas dizem respeito à percepção, aprendizagem e

memória, motivação, personalidade e emoções, estilos e atitudes. Hawkins, Best e

Coney (1992) dedicam alguns capítulos a cada um desses fatores separadamente, mas a

reprodução desse conteúdo é desnecessária ao presente trabalho.

Hawkins, Best e Coney (1992) descrevem o processo decisório do consumidor

em fases no seguinte contexto: a pessoa tem um problema específico que exige soluções

específicas em meio a uma situação existente. Então, os passos começam no

reconhecimento do problema, vão para a busca de informação, para a avaliação de

alternativas, passam pela escolha e o ato da compra e finalizam no processo de pós-

compra.

Em geral, quando uma pessoa está prestes a consumir algo, ela avalia ao mesmo

tempo os atributos funcionais – decisão racional – e os benefícios hedônicos – decisão

emocional. De qualquer forma, um processo decisório de consumo possui as seguintes

fases de acordo com Engel, Blackwell e Miniard (1995): primeiramente, há o

reconhecimento da necessidade, depois se busca informação a respeito, em seguida faz-

se a avaliação de outras alternativas, para, então, realizar a compra (aquisição),

consumir (uso) e, finalmente, após a avaliação pós-compra, fazer o descarte.

Segundo esses mesmos autores, as variáveis que modelam as decisões do

consumidor classificam-se em três categorias, semelhantes aos já apresentados ‘fatores

internos e externos’ de Hawkins, Best e Coney (1992): diferenças individuais,

influências externas e processos psicológicos. As diferenças individuais subdividem-se

em fatores como recursos financeiros, conhecimento, atitudes, motivação e

personalidade, valores e estilo de vida; as influências externas podem ser de cunho

cultural, de classe social, de influências de pessoas, da família e da situação; e,

finalmente, os processos psicológicos variam entre informação processada,

aprendizagem e mudanças de atitude e comportamento. Os autores explicam cada um

desses fatores em mais detalhes, mas apenas a cultura será enfocada nesse trabalho.

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3.3.4) A Influência da Cultura no Comportamento de Consumo

Em se tratando de comportamento de consumo, os autores Engel, Blackwell e

Miniard (1995) salientam também alguns aspectos da cultura: cultura é um conceito

amplo, que inclui quase tudo que influencia o pensamento e o comportamento dos

indivíduos; cultura é algo adquirido, ou seja, não inclui as reações ou predisposições

hereditárias, mas, como boa parte do comportamento humano é apreendida, a cultura o

influencia fortemente; a complexidade das sociedades modernas é tal que a cultura não

consegue impor padrões de comportamento, mas apenas linhas-mestras de pensamentos

e atitudes; as pessoas não costumam ter consciência das influências exercidas pela

cultura, uma vez que acham natural agir, pensar e sentir de forma semelhante aos

demais membros da sociedade. A cultura não é estática, e, às vezes as mudanças são

grandes e rápidas como, por exemplo, devido a avanços tecnológicos, conflitos entre

valores existentes, guerras etc.

Segundo Engel, Blackwell e Miniard (1995), as culturas funcionam como guias

para o comportamento individual e também influenciam as instituições em geral. Esses

limites originados na cultura são chamados normas, regras que admitem ou proíbem,

sempre fundamentadas nos valores culturais. Os valores são crenças que demonstram o

que é desejável ou não numa sociedade. Entretanto, os valores afetam o comportamento

indiretamente, por meio das normas criadas.

Os autores discutem as influências sociais sobre o comportamento do

consumidor para compreender como a cultura afeta compra e consumo, analisando os

valores sociais que acabam se tornando parte dos valores pessoais do consumidor. Mas

para tanto, é essencial ter a noção conceitual de cultura: um conjunto de valores, idéias,

símbolos significativos que ajudam os indivíduos a se comunicarem, a entenderem os

demais membros da sociedade e perceberem qual o comportamento aceitável dentro

dela29.

Os valores culturais ou sociais, por sua vez, são crenças internalizadas e comuns

a grupos de pessoas, donde os valores pessoais são as normas e metas de cada um

29 Essa é uma definição contextualizada, mas para entender o conceito de cultura de forma mais rica,sugere-se a leitura de LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 10ed. Rio deJaneiro: Jorge Zahar Editor.

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individualmente. É pelo processo de socialização – absorção de cultura - que as pessoas

desenvolvem seus valores, motivações e atividades habituais, incluindo preferências

mais específicas como escolha de cor, embalagem etc., escolhas essas relacionadas ao

consumo. Nas palavras de Engel, Blackwell e Miniard (1995, p.612-613), “a

Socialização do Consumidor é a aquisição de cognições, atitudes e comportamentos

relacionados ao consumo”, mas é um processo para toda a vida.

Para Engel, Blackwell e Miniard (1995), a cultura afeta não só quais produtos as

pessoas compram, mas também a estrutura do consumo, o processo decisório individual

e a comunicação numa sociedade. Isso se explica porque os consumidores compram

buscando função, forma e significado, variáveis a que os profissionais de marketing

devem dar extrema atenção, pois são determinadas pelo contexto cultural de consumo.

Rogers (1983) explica que, tradicionalmente, existem nove grandes áreas de

pesquisa sobre difusão30, dentre as quais a mais antiga e influente é a antropológica.

Essa, juntamente com a de marketing, é também a que mais interessa ao presente

trabalho. Nos estudos antropológicos é importante aprender ‘a lot about a little’ –

perspectiva microscópica da antropologia31 –, não utilizando métodos quantitativos de

análise, mas geralmente a observação participativa. Isso significa que os resultados

dificilmente podem ser generalizados, aplicados a outras situações, mas, por outro lado,

se o antropólogo tiver empatia com seus respondentes poderá levar à tona, a partir das

estórias contadas sob o prisma deles, as percepções sobre a inovação e sobre a empresa

com muito mais detalhamento que as demais disciplinas, com seus demais métodos,

conseguiriam.

Essa perspectiva, em que o pesquisador faz uma imersão total no sistema dos

seus entrevistados – estilo de vida, visão de mundo e relacionamentos sociais – evita o

viés a favor da inovação, muito comum a outros estudiosos da difusão. Além disso, os

antropólogos dão mais atenção à compatibilidade da novidade com os valores culturais

das pessoas e à possibilidade de transferência de uma tecnologia para outra sociedade:

“Essa ênfase em difusão transcultural é coerente com o interesse dos antropólogos pelo

30 Assim consideradas por serem as nove responsáveis pelo maior número de publicações sobre pesquisaem difusão de inovações.31 A perspectiva microscópica, cujo objetivo é saber o máximo sobre os detalhes, por menores que sejam,foi introduzida na antropologia por Clifford Geertz e é amplamente utilizada, como acontece, porexemplo, em ROCHA, Everardo. Sociedade do Sonho. Rio de Janeiro, Mahuad, 1995.

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conceito de cultura, uma das suas ferramentas intelectuais prediletas” (ROGERS, 1983,

p.49).

Uma outra tradição forte, especialmente a partir dos anos 70, é o marketing, dado

o grande número de lançamentos que fracassam (estima-se que apenas uma em 540

novas idéias de produto/serviço atinge o sucesso). Os estudos de marketing versam

principalmente sobre: mercados para o novo produto; planejamento estratégico para a

difusão; e como os atributos percebidos da inovação afetam sua comercialização. Os

estudiosos do marketing afirmam que seu objetivo é oferecer à sociedade uma

importante contribuição ao ajudar a identificar as necessidades dos consumidores e

suprir essas necessidades tornando os produtos/serviços disponíveis.

Comparativamente a outras áreas de estudo, o marketing tem a seguinte

vantagem: os estudantes são incentivados a fazerem pesquisas de campo, um

instrumento bastante poderoso nas pesquisas sobre inovação, visto que recebem apoio

financeiro ou pelo menos alguma colaboração dos fabricantes do produto/serviço

pesquisado. A desvantagem seria que os estudos tendem a defender os produtores, em

detrimento das preocupações do consumidor, o que é uma questão ética e intelectual.

Na opinião de estudiosos do marketing como Rocha e Christensen (1999), A

visão antropológica do comportamento do consumidor pode ajudar o executivo de

marketing em três aspectos principais: o entendimento das semelhanças e diferenças

entre culturas e de seu impacto sobre o comportamento do consumidor e as práticas de

marketing; o entendimento das semelhanças e diferenças entre subculturas e de sua

relação com a cultura maior em que se encontram inseridas; e, por fim, o entendimento

das peculiaridades de dada cultura e dos elementos que a compõem.

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3.4- Antropologia e Fatores culturais

3.4.1) Correntes Antropológicas

A antropologia é uma ciência que se propõe a estudar a cultura, tendo como um

de seus objetivos principais a construção de conceitos livres de uma visão

etnocêntrica32. Assim sendo, definir cultura é uma – se não a mais – difícil tarefa dos

antropólogos, e essa definição depende da corrente que o estudioso adota como linha

mestra para suas pesquisas. Rocha (1984) explica como isso ocorre ao fazer um

apanhado sobre as diferentes linhas da antropologia, suas características principais e

seus adeptos mais reconhecidos.

Far-se-á, portanto, um breve percurso através das principais correntes

antropológicas à luz dos ensinamentos do autor, a fim de se eleger para esse trabalho

uma teoria que nos auxilie a entender o contexto cultural em que o nosso problema se

insere.

O momento de fundação da antropologia como ciência se deu no século XIX

com o Evolucionismo, quando as idéias do homem passaram a valorizar a razão e o

progresso. Era a época do Iluminismo, surgindo juntamente com a teoria da Origem das

Espécies de Darwin, que pregava a evolução biológica dos seres vivos. Foi, então, a

partir da analogia com a cultura que a corrente Evolucionista nasceu, explica Rocha

(1984), trazendo à tona o Evolucionismo Cultural, de Edward Tylor. Aqui, a cultura do

‘eu’ é considerada mais avançada que a cultura do ‘outro’, ou seja, o ‘nosso’ grupo tem

as referências de valor, os modelos e definições sobre a existência e o grupo ‘deles’ só

pode ser pensado com base nesses parâmetros.

Franz Boas foi o primeiro a perceber a importância de estudar as culturas nas

suas particularidades, enfraquecendo a concepção etnocêntrica que classificava os povos

entre civilizados e primitivos. O difusionismo, como era conhecida essa segunda

corrente, teve, portanto, o mérito de olhar o ‘outro’ com a preocupação de compreendê-

lo segundo suas próprias características, de relativizar. Portanto, suas três sub-correntes

introduziram a noção de cultura moldada a partir das influências do meio-ambiente, da

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personalidade do indivíduo e da linguagem. No entanto, a maior crítica que se faz a

Boas é seu modelo diacrônico de cultura. Apesar de reconhecer a existência de

diferentes culturas, Rocha (1984) mostra que ele as coloca, ainda que separadamente,

em eixos históricos, demonstrando sua crença na evolução de cada povo, o que significa

que o passado serviria para explicar o presente.

Somente com o funcionalismo, a terceira corrente, foi possível desvincular a

antropologia da história e reconhecê-la como um estudo sincrônico, em que o estudioso

se aprofunda no próprio presente para explicar a cultura, o que já havia sido proposto

por Radcliffe Brown. Seguindo essa lógica, o sociólogo Emile Durkheim afirmava que o

todo, a sociedade, não poderia ser explicada pela parte, o indivíduo, traçando, assim, as

bases para a última corrente analisada por Rocha (1984).

A Semiótica e o Estruturalismo dividem a atenção dos adeptos à relativização,

cujo maior instrumento é o trabalho de campo33. Embora sutilmente diferentes - os

semióticos se preocupam com os sentidos locais enquanto os estruturalistas comparam

variações para encontrar o que existe em comum entre as sociedades, a Natureza

Humana -, ambos relacionam cultura com significação. Todas as dimensões de uma

cultura são vistas como pequenos conjuntos de informações sobre quem somos, o que

pensamos ou fazemos. Enfim, a cultura é percebida como um sistema de significados34.

Essa é a visão de cultura na antropologia moderna, visão esta que será adotada

como a ‘coluna vertebral’ para o estudo de estilo etnográfico do consumidor brasileiro

de vending machines.

3.4.2) Cultura e Etnografia: conceituações

A perspectiva semiótica de cultura entende o real como uma construção cultural,

i.e., a realidade é tudo aquilo a que damos algum significado. Dessa forma, o que é real

para uma sociedade depende da sua cultura e se diferencia do que é real para outras

32 O etnocentrismo é uma visão de mundo em que a cultura do sujeito é considerada a mais evoluídadentre as culturas existentes.33Para um aprofundamento sobre estudos de campo, veja uma obra do fundador deste importanteinstrumento de investigação antropológica: MALINOWSKI, Bronislaw. Uma Teoria Científica daCultura. RJ, Zahar, 1975. Parte 1: pp. 13-134.34 Notas de aula durante o curso de antropologia Social do mestrado no COPPEAD, ministrado peloprofessor Everardo Rocha no primeiro período de 1999.

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sociedades. Daí, por exemplo, Clastres (1982, p.31) poder dizer que “as sociedades

permitem-se unicamente as doenças que elas podem curar, o campo da patologia está

quase sobre controle. É sem dúvida por isto que nossa própria civilização, apta por sua

ciência e sua técnica a descobrir tantos remédios novos, se vê assaltada por tantas

doenças”.

Geertz (1979) concorda com Clastres (1982) na medida em que acredita ser a

realidade uma interpretação da cultura. Ele refuta a antropologia como ciência

experimental em busca de leis e defende a metáfora da cultura como teias de

significado, favorecendo a construção de uma ciência interpretativa:

“O conceito de cultura que eu defendo, (...) é essencialmentesemiótico. Acreditando, como Max Weber, que o homem é amarrado ateias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendoessas teias e sua análise; portanto, não como uma ciência experimentalem busca de leis, mas como uma ciência interpretativa à procura dosignificado. É justamente uma explicação que eu procuro, ao construirexpressões sociais enigmáticas na sua superfície” (GEERTZ, 1979, p.15).

Compartilhando das teorias semióticas, Geertz (1979) aponta a etnografia como

prática da antropologia por excelência. Um estudo etnográfico estabelece relações,

seleciona informantes, transcreve textos, levanta genealogias, mapea campos... enfim,

utiliza o que for preciso para compreender um acontecimento particular, um ritual, um

costume ou uma idéia. A etnografia é, então, uma descrição densa e sistematizada de

uma multiplicidade de estruturas complexas, dentro da qual um fato se torna inteligível.

Pode-se dizer que nos estudos culturais, os significantes são os atos simbólicos e o

objetivo é a análise do discurso.

É através do comportamento, mais precisamente da ação social, que as formas

culturais se articulam, mas o etnógrafo não deve visar à coerência, pois os sistemas

culturais têm um grau mínimo de coerência. A interpretação antropológica não pode

deixar de ser uma leitura do que acontece para simplificar ou tornar coerente o objeto

estudado, uma vez que sua finalidade é, em última instância, documentar a cultura

evitando que ela se perca no tempo e dar a outros interessados acesso ao campo

conceitual dos sujeitos estudados.

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Essa constante busca das diferenças culturais ‘patrocinada’ pela antropologia

moderna tem como pano de fundo a crença de que todos os homens são modificados

pelos costumes dos lugares por onde passam. A abordagem consensus gentium35,

defendida pela antropologia clássica na época do iluminismo, não tem espaço de

validade para os semióticos, que acreditam que caso o homem não fosse dirigido

padrões culturais, o seu comportamento seria ingovernável, um caos de atos sem

sentido. É, portanto, o fim da imagem do homem como um modelo, um arquétipo, uma

idéia platônica ou uma forma aristotélica, mas o início de um novo conceito de homem:

“(...) a antropologia tem tentado encontrar seu caminho para umconceito mais viável sobre o homem, no qual a cultura e a variabilidadecultural possam ser mais levadas em conta do que concebidas comocapricho ou preconceito, e, no entanto, ao mesmo tempo, um conceito noqual o princípio dominante na área, ‘a unidade básica da humanidade’,não seja transformada numa expressão vazia” (GEERTZ, 1979, p.49).

É exatamente em função disso que os antropólogos modernos, principalmente os

estruturalistas, vêm lutando, e Lévi-Strauss e Roland Barthes são ícones desta luta. No

entanto, não faria sentido para a presente pesquisa estudá-los no original, uma vez que

para fundamentá-la teoricamente bastam os conceitos semióticos de cultura, em muito

consonantes com os conceitos estruturalistas.36

3.4.3) Peculiaridades da Cultura Brasileira

Muitos homens tentaram estudar a cultura brasileira, mas poucos o fizeram de

forma tão completa e sagaz quanto o historiador Sérgio Buarque de Holanda (1984), que

nos apresenta um Brasil íntimo e familiar, predominado por relações entre pessoas,

diferentemente da maioria dos outros países, em que o os relacionamentos

predominantes acontecem entre empresas e o Estado.

As teorias modernas, em geral, tendem a separar o indivíduo do seu convívio

familiar, com o argumento de que essa separação, essa liberdade, constitui os pré-

35Um consenso de toda a humanidade, noção de que há algumas coisas sobre as quais todos os homens,independentemente de sua cultura, concordam como sendo corretas, reais e justas.

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requisitos para a adaptação à ‘vida prática’. No Brasil, onde sempre imperou o estilo

patriarcal de família, o desenvolvimento da urbanização acarretou num desequilíbrio

social, cujos efeitos são visíveis ainda hoje.

Os padrões de convívio, apesar do nosso sistema hierárquico, em tendo sido

originados num ambiente rural e patriarcal, se caracterizam pela cordialidade, que nada

tem a ver com a polidez (do inglês, polite):

“A lhanheza no trato, a hospitalidade, a generosidade, virtudes tãogabadas por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, umtraço definido do caráter brasileiro (...) Seria engano supor que essasvirtudes possam significar ‘boas maneiras’, civilidade. São antes de tudoexpressões legítimas de um fundo emotivo extremamente rico etransbordante. Na civilidade há qualquer coisa de coercitivo - ela podeexprimir-se em mandamentos e sentenças” (HOLANDA, 1984, p.106).

Dessa forma, a própria inimizade pode ser considerada cordial no Brasil, já que,

assim como o seu antônimo, a amizade, procede do coração e está relacionada à

intimidade, à família, ao domínio privado.

Para o brasileiro ‘cordial’, explica Holanda (1984), a vida em sociedade liberta-o

do pavor de viver consigo mesmo; é uma maneira de reduzir o indivíduo à parcela

social. Além disso, o povo brasileiro é avesso a reverências, pois, diferentemente de

outros povos, ele manifesta respeito estabelecendo intimidade, a exemplo do uso que

fazemos da língua: a terminação ‘-inho’ aproxima o falante do objeto; o nome de família

é omitido no tratamento social; e aos santos é dado um tratamento quase desrespeitoso.

O referido autor essencialmente traduz as diferenças entre os significados de

cordialidade e polidez no Brasil, concluindo que o primeiro representa simpatia, sendo,

portanto, eficiente no nosso contexto cultural, enquanto o segundo simboliza a

educação, o que reflete distância social e é ineficaz entre nós.

Quem dialoga bem com Sérgio Buarque de Holanda é Roberto DaMatta, um

seguidor das idéias de Gilberto Freyre. Para DaMatta (1987), a cultura brasileira tem a

ambigüidade como característica principal, o que se reflete no próprio título de A Casa e

a Rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil, onde explica que essa

36As semelhanças entre a semiótica e o estruturalismo são evidenciada por RODRIGUES, José Carlos.Tabu do Corpo. Rio de Janeiro, Achiamé, 1983.

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peculiaridade veio, inicialmente, da mistura de culturas que originaram o país37. Nossa

cultura manteria, até hoje, uma forte polaridade formada, de um lado, pela sociedade

individualista (o Estado) e, de outro, pela sociedade relacional (o cotidiano dos

brasileiros), simbolizada pelo autor, respectivamente, pelos termos ‘rua’ e ‘casa’. Além

dessas duas perspectivas - dois modelos éticos ou dois conjuntos de valores-, ele cria

uma terceira, o ‘outro mundo’, para representar o espaço utópico de renúncia desses dois

mundos em conseqüência do conflito entre os dois ethos. Essas três esferas conviveriam

na cultura brasileira:

“Mas estou me referindo a espaços, a esferas de significaçãosocial – casa, rua e outro mundo – que fazem mais do que separarcontextos e configurar atitudes. É que eles contêm visões de mundo ouéticas que são particulares. Não se trata de cenários ou de máscaras queum sujeito usa ou desusa – como nos livros de Goffman – de acordo comsuas estratégias diante da realidade, mas de esferas de sentido queconstituem a própria realidade e que permitem normalizar e moralizar ocomportamento por meio de perspectivas próprias (...) O comportamentoesperado não é uma conduta única nos três espaços, mas umcomportamento diferenciado de acordo com o ponto de vista de cada umadessas esferas de significação. Nessa perspectiva, as diferenciações quese podem encontrar são complementares, jamais exclusivas ou paralelas(...)” (DaMATTA, 1987, p.51-52).

Enfim, no Brasil, as versões ‘casa’, ‘rua’ e ‘outro mundo’ são complementares.

O mundo público (rua) seria o espaço do indivíduo, característico dos sistemas

igualitários, e o mundo privado (casa) o lugar da pessoa, característico dos sistemas

hierárquicos, criando uma dualidade que, juntamente com o conflito e a renúncia (outro

mundo), engendraria todas as nossas relações sociais.

Mas DaMatta (1979) já havia evidenciado o comportamento dual do povo

brasileiro antes. Você sabe com quem está falando? Um ensaio sobre a distinção entre

indivíduo e pessoa no Brasil fala do dilema Indivíduo x Pessoa, em que por meio de

uma pergunta se permite estabelecer a Pessoa, e conseqüentemente a diferenciação por

posição social, onde anteriormente só existia o Indivíduo, um cidadão anônimo. Aliás,

37 Gilberto Freyre, em Casa Grande e Senzala: formação da família brasileira sob o regime da economiapatriarcal, faz uma rica descrição da composição entre Raça (português, negro e índio) e CulturaBrasileira, chamando a atenção para a função da miscigenação de unir os diferentes.

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uma das razões sociais desse ritual de separação é justamente o de legitimar o

nivelamento, com foco na Pessoa, deixando de lado a universalidade das leis.

Essa situação, que implica discriminação radical e autoritária de posições sociais,

é uma negação da malandragem, da cordialidade e do jeitinho38, tão valorizados na

nossa cultura como traços que, segundo Holanda (1984), definem o nosso modo de ser;

daí o embaraço que pode ser gerado por esse conflito:

“Ora, o que o estudo do ‘Você sabe com quem está falando?’ permiterealizar é a descoberta de um paradoxo, ou seja: numa sociedade voltadapara tudo o que é universal e cordial, descobrimos o particular e ohierarquizado (...) tudo o que diz respeito ao inclusivo é por nósmanifestamente adotado. O contrário é válido para o exclusivo, que éfreqüentemente escondido ou falado em voz baixa” (DaMatta, 1979,p.143).

Em oposição ao questionamento ‘Você sabe com quem está falando?’, está o

‘Who do you think you are?’. Enquanto o primeiro coloca quem o usa numa posição

superior, o segundo é, inversamente, um rito igualitário, muito utilizado nos Estados

Unidos da América, onde se prega (e se pratica) a igualdade de direitos (e deveres) para

todos e os VIPs (very important person) são raridade.

Portanto, retomando a dicotomia indivíduo-pessoa como duas formas de

conceber o universo e nele agir, DaMatta (1979) distingue suas características no quadro

a seguir:

INDIVÍDUO PESSOA

Livre, tem direito a um espaço próprio. Presa à totalidade social a qual se vincula de

modo necessário.

Igual a todos os outros. Complementar aos outros.

Tem escolhas, que são vistas como seus

direitos fundamentais.

Não tem escolhas.

Tem emoções particulares.

A consciência é individual. A consciência é social (isto é, a totalidade

38 Para entender ‘jeitinho’, leia BARBOSA, Lívia. Jeitinho Brasileiro. Rio de Janeiro, Editora Campus,1992.

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tem precedência).

A amizade é básica no relacionamento =

escolhas.

A amizade é residual e juridicamente

definida.

O romance e a novela íntima, individualista

(obra do autor), são essenciais.

A mitologia, as formulações paradigmáticas

do mundo são básicas como formas de

expressão.

Faz as regras do mundo onde vive. Recebe as regras do mundo onde vive.

Não há mediação entre ele e o todo. A segmentação é a norma.

Quadro 1: Reprodução do quadro comparativo encontrado em DaMatta (1979, p.175).

É de grande importância para o presente trabalho entender que ambos os autores,

Sérgio Buarque de Holanda e Roberto DaMatta, concordam que todas essas

constatações sobre as peculiaridades do povo brasileiro estão refletidas numa

característica ainda mais evidente e bastante atual: o nosso caráter relacional.

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4. O DISCURSO DOS INFORMANTES: ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

4.1 – Representantes do Setor

As fontes utilizadas aqui estão constituídas tão somente de duas conversas

(podemos classificá-las como entrevistas informais) em empresas representantes do

setor39 (a lista com nomes das empresas atuantes no país, com respectivos telefone e

endereço, está no Anexo 5), uma vez que o foco dessa pesquisa é entender o mercado

consumidor final, assunto do item 4.2. Nessas conversas (a importância delas é

simplesmente assumir uma função comparativa para as entrevistas com os consumidores

por VMs), procurou-se abordar duas questões principais: o cenário onde se inscreve o

fenômeno das vending machines e a opinião desses representantes sobre o seu

consumidor.

A MPK Brasil Representações40 é um importador de máquinas de auto-serviço

norte-americanas e também um operador dessas máquinas. A empresa foi criada em

1996, quando se previa uma explosão desse segmento (em 1995 o Plano Real decolou),

e uma das maiores motivações era que o uso de máquinas em vez de funcionários

evitava riscos e custos trabalhistas. Mas, as máquinas de auto-serviço, por outro lado,

sempre tiveram um custo inicial alto.

Em 1998, a expansão foi freada. Havia pouco investimento no setor, o dólar

voltou a subir e ressurgiu o medo da instabilidade. No entanto, as maiores barreiras para

a expansão do mercado foram, na opinião do diretor da MPK, Sr. Miguel Prinstak, a

hipocrisia e o poder público: “Proibiram as máquinas em banca de jornal. Hoje,

encontramos isopores em quase todas elas. No fórum, as vendas seriam mais fortes não

fosse pelos ambulantes que lá circulam diariamente. Além desses problemas, há outros:

o fantasma da inflação faz com que temamos a troca dos chips de leitura, pois esse

procedimento é um tanto demorado, sem contar as notas falsas de R$1,00 que aparecem

em circulação”.

39A escolha das empresas, ambas situadas no Rio de Janeiro, se deu de acordo com a receptividade dascontatadas.40 A conversa foi com o diretor e proprietário da MPK, Sr. Miguel Prinstak.

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A empresa dá até 10% de comissão sobre as vendas pelo espaço utilizado com a

máquina. É por isso que é falso dizer que as máquinas fazem concorrência com a loja.

Elas são, na verdade, um complemento, um ganho extra. Na Maternidade Praça XV, por

exemplo, com o faturamento do aluguel de espaço, os responsáveis compram

computadores para os seus funcionários.

Enquanto a MPK opera com 170 máquinas, a Coca-cola, seu maior concorrente,

no mercado desde 1992, tem quase duas mil delas espalhadas pelo país. Seu diferencial

é que, embora 90% das máquinas de bebidas só possam funcionar com latas, eles têm

equipamentos para venda de achocolatados em Tetra Pak e refrigerante em PET 600 ou

2 litros.

De acordo com as impressões de Miguel Prinstak, o comportamento das pessoas

ainda é de medo/receio em utilizar essas máquinas, pois estas transmitem uma certa

frieza, sendo que muitos também confessam temer os erros no troco. O público infanto-

juvenil buscaria a brincadeira, enquanto o adulto procuraria variedade, praticidade,

facilidade de alcance, proximidade, uma vez que as vendings servem para uma refeição

rápida, num intervalo qualquer, seja de trabalho, de estudo ou de lazer.

Para o brasileiro, o atendimento humano é mais atraente que o automático,

especialmente quando existe algum problema com a nota. “A nota volta da máquina

porque em geral está amassada; sai do bolso do brasileiro totalmente amarrotada”,

explica Miguel. No Brasil ainda existe a questão histórica: “temos gerações que nunca

lidaram com vending machines, enquanto nos Estados Unidos, elas existem desde os

anos 40, inclusive em Vending Rooms – ambientes que só utilizam as máquinas, com

uma enorme variedade delas”.

Há também na nossa cultura uma tendência ao vandalismo, que se reflete na

destruição ou violação das máquinas automáticas: “Houve épocas em que as pessoas

conseguiam arrancar a lata por baixo, pelo buraco de saída da máquina, sem precisar

inserir o dinheiro. Por causa disso, tivemos que diminuir a boca de saída”. Para evitar

problemas como esse, a MPK é bastante seletiva na escolha dos lugares para instalação.

O vendedor da empresa, por exemplo, deve ser também um ‘capturador de pontos’,

lembrando-se sempre que a principal exigência para a instalação de uma máquina é que

no local circulem de 500 a 700 pessoas/dia.

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O principal objetivo da MPK, entretanto, é conseguir adaptar os equipamentos às

exigências do público. A empresa tem como vantagem o uso de multimarcas, o que

agrada bastante ao consumidor, e costuma fazer demonstrações nos locais de instalação,

a exemplo de quando estavam no Metrô (com as máquinas da marca Cold Drinks).

Hoje, seu foco está em colégios, empresas em geral e hospitais.

Miguel acha que o mercado de vendings ainda não deslanchou. Uma das

explicações é a falta de planejamento, que acaba anulando a economia com pessoal. “Se

tudo tivesse corrido como deveria, hoje teríamos cerca de 600.000 máquinas em

funcionamento. Mais que isso, o dólar insiste em subir, encarecendo as máquinas e as

peças de reposição. As primeiras andam custando R$ 9.000,00 e um leitor de

cédula/moeda R$ 2.000,00. Nos Estados Unidos, pode-se comprar uma máquina por

US$ 2.500,00, mas para nós brasileiro eles cobram alto”. Outro problema enfrentado

pela MKP é o pagamento de altos impostos, em torno de 18% cada um.

Para driblar essas dificuldades, a empresa está se esforçando em rentabilizar as

máquinas, eliminando aquelas com faturamento baixo (deslocando para outros pontos

de venda mais atraentes), e em tornar sua estrutura de custos mais enxuta e eficiente,

principalmente com relação à logística e à eliminação dos custos indiretos. Além disso,

há de se dar atenção à elasticidade das vendas, que depende do tipo de produto vendido:

as mais elásticas são de refrigerantes e sorvetes (muito consumidos no verão e menos no

inverno), as medianas são as de biscoito e similares (razoavelmente sazonais) e as

menos elásticas as de cartão-telefônico (não variam com o clima).

Do outro lado, encontra-se a Coca-cola41 (exemplo de fornecedor que também

opera vendings), com cerca de 12 vezes mais máquinas que a MPK. A corporação não

fabrica VMs; compra das norte-americanas Rowe, Vendor e DixieNarcor e as certifica.

Em geral, as vendings de refrigerantes custam de 8 a 9 mil reais para a Coca-cola e

depreciam em 10 anos.

De acordo com o gerente de vendas Coke Machines do Rio de Janeiro

Referescos à época, Sr. Sávio Bogado, a empresa tem vários programas para incentivar

41 A conversa foi com Sávio Bogado, à época gerente de vendas Coke Machine da Rio de JaneiroRefrescos, uma das engarrafadoras da Coca-Cola Company na cidade do Rio.

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o uso dessas maquininhas no Brasil, que tem potencial para 2500 delas, já que o

segmento vem crescendo desde 1997 a uma taxa média de15% ao ano42.

Uma das maiores vantagens de se vender por esse canal automático é a

rentabilidade: 5 a 7 vezes maior que nas vendas por supermercados, por exemplo; além

disso, as próprias máquinas são um veículo de publicidade forte para o produto que

comercializa.

Quanto aos critérios para seleção dos locais de venda, antigamente a empresa

aceitava instalar máquinas onde quer que solicitassem uma, mas agora existe uma

prática de seleção: o ponto de equilíbrio deve ser de 700 latas vendidas por máquina ao

mês. Segundo Sávio Bogado, usar o breakeven como critério para a escolha da

localização otimiza as vendas, ou seja, se as máquinas estão vendendo mal são retiradas

ou deslocadas. Além do ponto de equilíbrio, outros critérios utilizados para a suspensão

de contrato com o cedente do espaço são a segurança da área (se é considerado ‘região-

crime’) e o índice de vandalismo dos consumidores.

Na Rio de Janeiro Refrescos, os pontos-chave para venda de refrigerantes por

VMs são as escolas/universidades, os condomínios residenciais, os escritórios

comerciais, as indústrias e os shopping centers, e está sendo analisado o potencial de

vendas dos locais onde se realizam cultos religiosos. “Na verdade, um lugar ideal para a

introdução das máquinas de vender é aquele com muitas pessoas em atividade ou em

trânsito”, afirma Sávio.

No MetroRio, por somar 40 a 60 mil usuários em cada estação, foram instaladas,

no ano 2000, um total de 15 máquinas nas plataformas. Ali, assim como no Barra

Shopping, um centro comercial da Zona Oeste do Rio de Janeiro, a Coca-cola paga uma

aluguel de espaço e fica com todo o lucro (a margem de lucro chega a 30% por latinha),

mas existe um outro tipo de contrato em que quem cede o espaço ganha uma comissão

de 10% sobre as vendas em vez do aluguel.

A empresa, porém, não possui estudos formalizados sobre o consumidor dessas

máquinas. Como não conhecem o mercado onde atuam, fica mais difícil fazer qualquer

tipo de prospecção. No metrô, analisaram a faixa etária dos freqüentadores por meio de

42 O atual gerente de vendas Coke Machine da Rio de Janeiro Refrescos, Sr. Arlindo Leite, quantificou asmáquinas de Coca-cola em 1.700 unidades.

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observação passiva, e apostaram no desejo do consumidor por refrigerante gelado em

ponto acessível.

Alguns cuidados importantes que a Coca-cola toma são, em geral, evitar colocar

uma máquina próxima a um ponto de venda com preço mais baixo, fazer a manutenção

preventiva para evitar problemas no equipamento e estar sempre fiscalizando o estoque

das vendings (os vendedores seguem rotas específicas e passam pelos pontos de venda

pelo menos uma vez por semana para abastecer).

O papel do vendedor é coletar os dados através de um coletor que é plugado à

máquina para ler o quanto foi vendido e, em seguida, o quanto foi reposto, emitindo

assim a nota fiscal. É por esse método que se pode ter um controle do breakeven. Nas

duas máquinas da estação Estácio de Sá que se encontram na plataforma em que os

clientes trocam de linha, a venda de refrigerantes por dia no verão chega a 100 latinhas

por máquina.

A importância do canal automático está em poder atingir um público específico -

pessoas em trânsito ou exercendo alguma atividade -, sendo o consumo do tipo

imediato. Mas, a preocupação da Rio de Janeiro Refrescos ainda não tem sido com os

hábitos do consumidor, mas sim com as mudanças na moeda ou economia, que

poderiam acarretar a troca da leitora de notas, e também com as mudanças climáticas

uma vez que as VMs de refrigerantes no Brasil vendem mais em temperaturas altas.

Sávio Bogado não acredita que a cultura brasileira dificulte a aceitação desse

canal, tampouco acha que seria necessária uma pessoa para operar a máquina e ajudar na

venda, pois pensa que a programação visual já é suficiente para a compreensão por parte

do consumidor de como utilizá-las, mas entende que a maior frustração de um

comprador é ter algum problema com a inserção da nota (não aceitação ou não

devolução).

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4.2 – Consumidores Finais43

Após a etapa de aplicação do questionário-filtro (os resultados estatísticos estão

no Anexo 6), foram realizadas as entrevistas com os estudantes de comunicação

selecionados a partir dos critérios já explicados oportunamente nesse trabalho. Aqui, o

discurso de um grupo-consumidor é analisado em profundidade e interpretado de modo

a acrescentar informações sobre o consumo automático no Brasil, tomando como linha-

mestra de pesquisa a antropologia e seu método de estilo etnográfico.

Inicialmente, os entrevistados foram incitados a falar de conceitos gerais, ou

seja, o que entendiam pela expressão vending machines, se já conheciam o termo e

como estavam habituados a chamar as máquinas de venda automática. Pelas respostas,

entende-se que grupo conceitua as vending machines de forma resumida, como

máquinas de vender coisas, mas não reconhece esse nome técnico como uma

denominação para as tais máquinas de auto-serviço. Eles admitem que só passaram a

conhecer a expressão a partir do questionário aplicado pela pesquisadora na fase de

seleção dos entrevistados. Antes disso, os respondentes costumavam chamar o canal em

questão de máquinas de [produto], máquinas para comprar [produto] ou simplesmente

máquinas ou maquininhas.

Ao serem indagados sobre a primeira vez em que haviam utilizado uma vending,

demoravam a recordar, mas acabavam por contar detalhes sobre a situação – os

comentários variavam da idade que tinham na época ao tipo de máquina que utilizaram -

, em geral ocorrida em cursos, shoppings, mas principalmente em viagens para os

Estados Unidos.

“Ai... Eu estava no colégio ainda, eu acho que foi mais ou menosem 94, 95, que começou essa coisa assim. (...) aí botaram no NorteShopping, que é um shopping perto da minha casa, sabe?!”(F.C., 20, f.);

“Não. Quer dizer, pra falar a verdade eu acho que eu até lembro,porque eu fazia curso de inglês, eu fazia IBEU (...) Aí no intervalo eles jádeixavam ela ali, quer dizer, propositalmente, então você saía, queria irlonge, mas não dava tempo porque eram cinco minutos de intervalo e nãodava tempo de sair, comprar alguma coisa lá fora, porque não tinha

43 As declarações aqui reunidas estarão identificadas pelas iniciais do entrevistado, idade e sexo (m. =masculino ou f. = feminino), entre parêntesis.

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lanchonete não tinha nada. Então, só tinha aquilo ali, estrategicamente(...)” (E.S.C., 18, m.);

“Foi nos Estados Unidos, não era nem aqui. Foi há oito anos atrás,a única vez em que eu fui nos EUA, e aí tinha uma maquininha em quevocê colocava a moeda e saía M&M’s (...)” (F.G.G., 23, f.).

A sensação de usar uma máquina vendedora pela primeira vez apresentou-se

bastante particular a cada entrevistado; foram praticamente 15 respostas diferentes. No

entanto, na maioria delas se podia depreender o entusiasmo inicial de um consumidor de

novidades (às vezes, com um certo receio de errar, porém) que depois passa a achar

mais que natural comprar por máquinas.

“Ah, o maior barato, achava assim. Achei. Isso eu achei. ‘Ah,prático, não sei o quê’. Porque sempre tem isso, qualquer novidade, jáfica ‘prático’ e tal. Eu achei legal, mas depois normal, cotidiano” (E.S.C.,18, m.);

“(...) eu fiquei assim fascinada. Eu queria comprar tudo nasmáquinas, não queria nem mais comprar nada em loja. Mas esse foi oprimeiro impacto, depois... (...). E aquilo eu também achava um baratotanto que eu tirei até foto. Olha só?! (...) E foi bem legal, eu me senti bemassim no capitalismo, bem americana. Aquela coisa vermelha: Coca-colae tal. Foi essa a sensação.” (S., 21, f.);

“Você fica com medo de não dar certo, da moeda travar e o seudinheiro ficar travado e, ao mesmo tempo, dá vontade de comer váriascoisas, você fica com várias opções né?!” (F.G.G., 23, f.).

Com relação às mudanças nas máquinas em si, os entrevistados, sem exceção,

lembraram de uma antiga modificação, quando a forma de pagamento do produto

passou de fichinha para dinheiro, e apontaram que a maior vantagem disso foi a

facilidade de ir diretamente à máquina sem ter que passar por um intermediário antes,

evitando as filas. Por outro lado, percebem uma desvantagem social: o vendedor de

fichas para vendings acabou perdendo o emprego.

Outras também bastante lembradas foram a passagem de moedas para notas, o

que não necessariamente agradou ao comprador por máquinas, e a maior disseminação

desses equipamentos.

“Na forma que você está pagando, primeiro comprar ficha, queera um pouco mais enrolado realmente, depois as moedas, que, na minha

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opinião era uma facilidade. Tudo bem, eu até entendo que era um poucomais enrolado porque você tem que calcular, isso pode gerar algumtranstorno, mas não acho que seja algum agravante. Às vezes você nãotem uma nota que seja inteira e às vezes as moedinhas quebram um galholegal” (C.H., 18, m.);

“Aí, novamente, é a tal questão da ambivalência. É interessante,mas tipo, sei lá, pode ser muito socialista esse pensamento,principalmente quando tinha alguém que vendia ficha pelo menos tinhaalguém que vendia ficha. Desse tipo, é sempre tal coisa: o prático versuso social” (M.F., 20, f.);

“(...). Assim, o que a gente percebe é que antigamente era restritoa alguns lugares, hoje em dia é, assim, uma coisa completamente, sabe...qualquer lugar que você vai tem: postos de gasolina, lojas deconveniência, e tudo. Antigamente se via mais nos motéis. Agora, emqualquer lugar que você vai você sempre encontra” (T.B.B., 17, f.).

A observação dos consumidores chega a um nível de detalhamento tal que

comentam também sobre mudanças nos formatos dos botões para apertar, uma tela de

proteção que foi introduzida no buraco de saída do refrigerante, o arredondamento do

design, as novas fotos na frente das VMs, a maior opção de produtos, etc.

O conhecimento dos entrevistados sobre os tipos de VMs existentes é bastante

vasto, inclusive sabendo descrever o funcionamento de muitas delas. A máquina mais

comentada por eles foi a de refrigerantes, mas muitas outras entraram na sua lista de

conhecidas: biscoito (snacks e recheados), pipoca, Donuts, bala, chiclete, amendoim,

barras de chocolate (incluindo M&M’s), água, café (também tipo capuccino), chá,

chocolate quente, cartão telefônico (tanto de orelhão quanto de celular), selo de correio,

estacionamento de shopping e brinquedinhos (como bolas de gude e de borracha e

bonequinhos); além das que eles viram nos Estados Unidos, como, por exemplo,

cigarro, gelo, pasta e escova de dente, linha e agulha, e absorvente.

O que gerou dúvida a alguns foi se poderiam considerar as máquinas caça-

níqueis (normalmente encontradas em bares, bingos e cassinos) e as máquinas de

bichinhos de pelúcia como vending machines, por causa da semelhança associativa,

apesar de venderem diversão em vez de produtos.

“Ah, chocolates, snacks, cigarro, refrigerante eu já falei, chiclete.Eu não sei se fliperama é uma vending machine. Ela vende umdivertimento. Talvez. Eu acho que basicamente isso; é mais na área de

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alimentação. Ah, hoje em dia tem essas de pegar bichinho, às vezes temumas de relógio, que se ganha como prêmio um relógio, mas isso é meioconfundido com caça-níquel. Tem caça-níqueis que você ganha relógio etal, eu não sei direito até onde vai. Por isso que eu falei não sei até ondevai uma V.M., entendeu?! Ou até onde vende diversão. Talvez seja umaforma de vender também” (M.S., 18, m.).

Foi interessante verificar que a vending machine que eles acham mais fácil de

manusear coincide com a que eles usam com maior freqüência, o que pode sugerir que a

facilidade de se mexer numa máquina vem com o hábito de utilizá-la. Por essa e outras

razões, a máquina de refrigerantes foi considerada a mais bem aceita pelo consumidor

brasileiro em comparação às outras existentes aqui.

“Talvez porque eu tenha usado mais, esteja mais habituada. Euacho que mesmo a de refrigerante. Porque, assim, eu nem sempre seicomo funciona a de biscoito. Eu sei que tem um local para se colocar odinheiro, mas eu não sei como você faz para selecionar um e não o outro”(M.F., 20, m.);

“A maioria das máquinas que conheço possui o mesmomecanismo, mas diria que a mais fácil é a de refrigerantes, porque paraconseguir o produto é só apertar o botão correspondente ao rótulo. Emmáquinas de chocolates e salgadinhos, por exemplo, o que correspondeao produto não é a imagem do rótulo, mas códigos, tipo A1, A2...Embora seja fácil, é menos prática do que a de refrigerantes, pois achoque a gente processa imagens mais rápido do que letras e númerosparecidos” (L.Q., 22, f.).

No decorrer dos anos em que o grupo estudado vem utilizando VMs para

consumir, surgiram boas e más impressões sobre elas. Dentre as vantagens citadas pelos

entrevistados, as mais comuns estão relacionadas à economia de tempo (rapidez na

compra) e à praticidade (incluindo a comodidade devido à localização e ao período de

funcionamento).

“É isso, de você não ter que ir, por exemplo, num lugar, numalanchonete, às vezes enfrentar uma fila, esperar um troco, aí dar notinhapara um outro funcionário te dar o refrigerante. Você está ali, pá,colocou. É muito mais rápido, é basicamente agilidade” (M., 19, f.);

“As vantagens? É que quando você compra pela máquina não temo horário de atendimento, você pode comprar desde as 2 da tarde até as 2

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da manhã que você vai conseguir o mesmo serviço. Numa loja não, tem ohorário de funcionamento. (...)” (M.F., 20, f.);

“Bom, como eu disse, acho que é mais prático, fica mais perto, émais cômodo. Que mais? É acessível. Às vezes você está no meio da ruae não tem nada, tem uma maquininha lá e você vai lá e... É a salvação dalavoura” (V.B., 23, f.).

Quanto às desvantagens, o grupo dividiu-se em dois subgrupos. O primeiro está

preocupado com questões de ordem social, mais amplas, como o desemprego e a anti-

socialização que a substituição da mão-de-obra humana pela máquina poderia gerar.

“(...) eu acho assim: se por um lado facilita muito a vida da gente,a gente tem que pensar um pouco... Às vezes, tira um pouco o emprego;pode parecer loucura minha. Às vezes eu acho assim, cara, tem aquelaspessoas que vivem de vender biscoitos, cartões, refrigerantes e tal.Colocar essa máquina em determinado lugar pode tirar um pouquinho oemprego das pessoas que vivem disso por ali, sabe? Eu acho que seriapara mim a maior desvantagem” (T.B.B., 17, f.);

As desvantagens? A primeira, como eu falei, né, só que eu nãofiquei muito à vontade de falar aquele negócio de que eu preferiria usar amáquina do que o ambulante. Essa é uma desvantagem, porque eu achoque fica contribuindo com todos os signos modernos, assim. Elescontribuem para você cada vez mais viver numa esquizofrenia, sabe?!Apesar de você estar falando com milhões de pessoas, cada vez maisvocê... então, ‘ah, não, aqui é mais fácil, então vou aqui mesmo.’ Então,assim, o contato, por menor que seja, por mais que sei lá seja um contatode “quanto é isso?”, não sei quanto, vai lá e você nem olha pra cara dovendedor, tem alguma coisa, um relacionamento, sabe, assim. Eu achoque nessa parte, é ruim” (E.S.C., 18, m.).

O segundo grupo tem preocupações mais imediatas, sejam de cunho operacional,

como por exemplo, a pouca variedade na oferta de produtos, as dificuldades de troco, a

devolução das notas, o dinheiro engolido e a falta de mercadoria, sejam de cunho

mercadológico, como a fraca divulgação do serviço de atendimento ao cliente.

“A máquina, eu acho que tem uma variedade limitada. Porexemplo, eu estou tomando menos refrigerante agora e estou tomandomais guaraná natural, que é uma coisa que tem pouco nas máquinas. Masisso já melhorou um pouco. Antes era só refrigerante, agora temrefrigerante e chá gelado. (...) mas ainda é um certo defeito, acho que éisso, não tem muita variedade de produto” (C.H., 18, m.);

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“Bom, a desvantagem é a questão do troco. Às vezes, você temdez reais, você quer comprar um refrigerante, você não vai conseguir, nãodá troco, (...). Eles não têm um sistema assim de troco; dar troco a umanota de cinco em quatro de um. não tem isso ainda, eu nunca vi. Não seise tem, eu acho que não. E às vezes não tem o seu produto (...) além dedevolver a sua nota, né?! Se é uma notinha mais assim, aí tem umpreconceito lá, e devolve a sua nota. São essas as desvantagens.” (S., 21,f.);

“(...) e mesmo para disseminar também a questão do atendimentoao consumidor. Existe? É verdadeiro? Fazem alguma coisa? Fazem, masacho que podia talvez ser um pouco mais ágil, mais dinâmico, maisrápido. (...) Muitas vezes vem só uma notinha no cantinho da máquinacom o número de atendimento. Colocar uma coisa mais visível para apessoa se sentir mais confiante mesmo para usar” (M.F., 20, f.).

Os entrevistados pareceram ainda mais à vontade para falar sobre os problemas

com a máquina. Quase todos contaram suas experiências pessoais com as máquinas de

auto-serviço, enfocando os problemas que consideram importantes de serem sanados e,

muitas vezes, repetindo o que já haviam identificado como desvantagens no uso dessas

máquinas.

Empatados como os dois problemas que mais chateiam o consumidor de

máquinas automáticas estão a devolução da nota/moeda por causa do falho mecanismo

de leitura e o não-recebimento do produto em troca do pagamento. No primeiro caso,

muitos encontram como solução trocar de nota com alguém que esteja por perto, mesmo

que seja um desconhecido e ainda que tenha que se dar ao trabalho de explicar por que

precisa fazê-lo.

“Já aconteceu comigo. Na máquina dos correios, com o lance damoedinha, aí que eu estava lá e: ‘Pô, você tem como trocar essa moeda?’Era uma moeda de 10 centavos para outra de 10 centavos, sabe?! Só quea moeda nova tinha que ser trocada pela antiga porque a máquina nãoaceitava. Daí eu troquei com a pessoa.” (G.A, 19, m.);

“Não, problemas são no caso da nota não entrar. Você pega umanota de R$1,00, aí não entra e até vai ter que trocar a nota para... Nocolégio era muito comum acontecer isso: uma nota não entrava, então agente ficava lá tentando, tentando e então ia na cantina trocar.” (F.M., 20,f.).

No segundo caso, o comprador até chega a pensar em nunca mais usar as

máquinas para realizar compras, mas acaba voltando ao hábito de consumo automático.

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“(...) foi quando eu botei o dinheiro, entrou legal, eu apertei, nãosaiu, nada, apertei de novo, nada. Simplesmente me roubou, entendeu.Máquina trombadinha (risos) !!! Ela levou o meu dinheiro. Nada. Aí,balança, né. ‘Nunca mais vou usar essa merda’ (risos). (...). Depois vocêusa, né. Mas, assim, na hora, ‘Merda, caraca, como é que pode?! Queabsurdo !!!’. E uma coisa que eu sinto falta é: reclamar com quem?”(E.S.C., 18, m.);

“(...) eu estava atrasada, para variar, eu precisava andar rápido e amáquina não caía a parada. Fiquei chateada, assim, sabe?! Tive que ficarparada, tive que tomar no mesmo local e depois deixar a garrafa lá. (...)Assim, depois desse episódio eu passei um bom tempo sem tomar nadade máquinas. Pode ter sido inconsciente, sabe?! Mas eu passei um bomtempo. Olhava assim... ‘Ah, que merda! Não, vai acontecer a mesmacoisa.’ Eu fiquei meio pé atrás, assim, de usar as máquinas.” (L., 21, f.).

Além desses problemas, que foram os mais comentados pelo grupo, há outros,

também relacionados com o pagamento, e que incomodam bastante. Um deles é que a

maioria das VMs não dá troco e, quando dá, a maneira como isso é feito é desagradável,

a exemplo de quando sai uma quantidade enorme de níqueis. O outro é que as máquinas

só costumam aceitar notas, não dando outra opção ao cliente, que pode preferir as

moedas.

Fora os problemas relacionados ao pagamento, ainda foram apresentados os

seguintes: a temperatura do refrigerante, que nem sempre está gelado; a falta de

comunicação com os clientes, uma vez que dificilmente existe um aviso na máquina

sobre mal-funcionamento etc.; e a falta de clareza das instruções no equipamento,

especialmente no aspecto de interatividade com o cliente.

Entretanto, mesmo admitindo que as máquinas de vender lhes causam inúmeros

problemas, os consumidores abordados não procuram saber como reclamar. Eles não

conheciam o serviço de chamada gratuita 0800 das vendings; apenas um, dos 15

estudantes, chegou a utilizá-lo.

“Só que, assim, ao mesmo tempo em que eu fiquei chateada comisso depois eu fiquei surpresa com a postura do atendimento aoconsumidor da máquina. Porque no mesmo instante eu liguei para aquele0800 ou 0900, não sei o número, que tinha na máquina para reclamar. Aíela falou: ‘Me diga qual é o seu nome, o seu endereço e que máquinavocê usou’. Aí ficou por isso mesmo. Eu ainda fiquei muito tempo

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pensando: ‘Ah, grande vantagem! Pede o meu nome, meu telefone, dizque vão averiguar o meu problema e tal, não sei o quê’. Um mês depois,chegou para mim, pelo correio, um cartão telefônico. Eu não pensei queisso fosse acontecer, eu pensei que fosse ficar por isso mesmo: vamosaveriguar e a coisa acaba em pizza; deixa pra lá, é só um cartão (...)”(M.F., 20, f.).

Lidar com os problemas decorrentes da máquina pode levar a algum

constrangimento. Essa sensação desagradável mais a sensação contrária de felicidade ou

orgulho por saber utilizar a máquina também foram pontos abordados nas entrevistas.

Apenas parte dos entrevistados admitiu já ter se sentido constrangido ao

manusear uma máquina de vender. Na maioria desses casos, a vergonha é explicada por

perceberem que ou as pessoas em volta ficam atentas demais à atitude do comprador ao

se deparar com um problema ou as pessoas da fila passam a se incomodar com o atraso

na compra. Outra parte, entretanto, se considera suficientemente autoconfiante para não

se intimidar, independentemente da situação enfrentada.

Raramente um entrevistado confessou algum tipo de orgulho, explicando que

não haveria motivos para senti-lo. No entanto, diziam se sentir felizes em muitas

ocasiões, a exemplo das vezes em que ajudavam alguém a mexer nas vendings.

Ajudar às pessoas que estão com dificuldade em usar as VMs – gente conhecida

ou estranha - é uma prática comum entre os consumidores do grupo pesquisado. Mesmo

aqueles poucos que nunca chegaram a auxiliar alguém a comprar por máquina

automática já tiveram uma experiência semelhante em outros tipos de máquinas, em

geral caixas eletrônicos de banco (ATMs).

“É, já me pediram duas vezes para ajudar a mexer e uma vez parapedir para trocar a nota porque a dela não estava passando, acho queestava muito amassada, aí eu tinha R$1,00 e troquei com ela para elapoder usar a máquina” (V.B., 23, f.);

“Por exemplo, caixa eletrônico. (...) a minha avó, que também nãotem intimidade com tecnologia, eu ensino. Até à minha irmã mesmo, quenão gosta muito, eu ensino. Ou então eu ensino a usar o computador,sabe?! A mexer no videocassete, que é o problema de todo o mundo ésaber usar o videocassete ou, então, usar o controle da televisão, essascoisas, sabe?!” (F.C., 20, f.).

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Todos concordaram que existe uma certa tendência dos consumidores

freqüentes, como eles próprios, a oferecer ajuda quando vêem algum comprador em

apuros. Os motivos de se tomar essa atitude é que variam muito, de acordo com a

pessoa que se dispõe a ajudar. Pode ser porque querem que a fila ande mais depressa,

para se exibirem ao mostrar que sabem lidar com a tecnologia, por boa-vontade

simplesmente etc. De qualquer forma, o que, inicialmente, os mobiliza a tomar alguma

atitude é a curiosidade em olhar os outros manuseando a máquina.

A curiosidade parece ser uma constante no comportamento desses consumidores

por vending machines. Ela os impulsiona muitas vezes a usar a máquina só para

experimentar, mesmo que não estejam com vontade de consumir, o que ocorre

normalmente quando se deparam com alguma novidade no mercado - a primeira vez a

usar uma máquina de determinado tipo/produto - ou porque olhar para a máquina

desperta a sede ou a fome – o apelo visual influenciaria o consumo - ou, simplesmente,

por passatempo - uma forma lúdica de passar o tempo ocioso.

“Eu sou uma pessoa muito curiosa em relação a máquinas. Então,como é de costume, quando encontro uma coisa que eu nunca mexi, euexperimento para ver como funciona. Em si o funcionamento da VM derefri é bastante simples: coloca a nota, escolhe o tipo de refrigerante. Foiassim que eu fiz da primeira vez, por curiosidade. (...)” (F.C., 20, f.);

“Eu acho assim que não é uma regra, mas talvez você não estácom tanta sede e tal, mas te lembra... aí você vê a oportunidade decomprar a Coca-cola, entendeu?! Ou comprar o produto que seje, seria aoportunidade de você falar ‘Por que não? Eu tenho um real aqui’. Se vocênão tiver não compra, não é pela sede. Eu não sei explicar direito. Éjustamente por causa disso que eu estou estudando comunicação e tal,publicidade, esse tipo de coisa.” (M.S., 18, m.);

“É uma coisa assim: você está mesmo esperando alguém, ou estãovocê tem uma consulta no dentista, e chegou antes, está ali fazendo hora,aí você pega e vai ler alguma coisa, está ficando impaciente mesmo, tipo:‘Ah, que coisa esperar!’. Ninguém gosta de esperar, aquele tempo deócio. Aí você fica, de repente no shopping você vai, vê uma vitrine, aí vêuma máquina: ‘Ah, vou ali’. Porque, tipo assim, já vai ser um tempo queeu vou gastar, vou comprar o refrigerante, comprar o biscoito, depois saipara tomar o refrigerante, comer o biscoito, já vai gastar um pouco dessetempo que tem que passar. Acho que acelera um pouco do tempo de ócio,passa mais depressa” (M.F., 20, f.).

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Essa mesma peculiaridade – a curiosidade em relação a novidades tecnológicas –

pode ser a razão pela qual, hoje, eles tenham tanta afinidade com máquinas em geral, já

as tendo inserido em seu cotidiano.

“Na maioria das vezes não tenho problema algum com elas. Gostode conhecer bem essas máquinas, saber sua utilidade, o produto quefornecem, o modo de operá-las. E sem medo... afinal, nenhuma dessasmáquinas mordem, não é?!” (T.B.B., 17, f.);

“Eu me relaciono bem, aliás, eu uso muitas máquinas no dia a dia,pois elas agilizam nossas tarefas, né?! Desde a hora que eu acordo até ahora de dormir uso um monte de máquinas, sem problemas: cafeteira,computer, lava roupas, televisão, vídeo, DVD, videocassete, celular, etc.”(L., 21, f.);

“(...) me relaciono com facilidade com as máquinas em geral.Acho que a gente, que já cresceu em uma sociedade dominada pormáquinas, não temos muitas dificuldades em usá-las. E quando existealgo totalmente novo no mercado, há sempre instruções de usodisponíveis ou um amigo que saiba usar. (...)” (L.Q., 22, f.).

Apesar desse hábito – uso de máquinas para variadas tarefas – fazer parte do dia-

a-dia do grupo-consumidor em análise, ainda é difícil para eles vislumbrar uma

sociedade em que os vendedores humanos sejam totalmente substituídos por VMs.

Justificam que sentiriam falta, basicamente, do relacionamento humano (seja a conversa

com o próprio vendedor, seja a socialização que se dá em estabelecimentos comerciais),

da possibilidade de personalizar o produto/serviço e tirar dúvidas e do improviso. Mais

que isso, acreditam que homem e máquina vão coexistir em qualquer época, pois

sempre haverá espaço para ambos.

“Acho que a relação humana, pra mim eu acho que é o maisimportante. Não tem como conversar com a máquina, sabe?! O garçomchega até a mesa, você até fala alguma coisa, fala uma gracinha e tal. Amáquina, não tem como falar com a máquina. Ela é muda.” (D.J.S., 19,f.);

“Eu acho que não adianta, o ser humano precisa ter contato comoutros seres humanos, sabe?! (...) eu acho que é da natureza deles; eleprecisa do contato com o outro, do contato social. Eu acho que eu iriasentir falta, com certeza. Ter que ficar apertando máquina para tudo...Porque, por exemplo, você chega, assim, num bar, aí você vai comprar,(...) você fala com a pessoa, “eu quero isso, eu quero isso”, a pessoaresponde e tal, faz algum comentário, ou surge algum assunto na fila ‘ai,

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que calor’, não sei quê. Você ia sentir falta disso, de ter contato compessoa, de trocar alguma coisa, mesmo que seja alguma coisa pequena.(...)” (F.C., 20, f.).

“Por exemplo, quando você vai numa lanchonete você pode pediro sanduíche do jeito que você quer, você tem a chance de chegar e falar:‘Não, eu quero sem isso, eu quero sem aquilo’. E, de repente, na máquinavocê não tem a chance de dizer. Vem aquele negócio já pronto, né, e vocêvai ter que tirar as coisas ou, sei lá, vai tem que tentar de outro jeito, vocênão têm muita opção. (...)” (V.B., 23, f.);

“Sei lá, acho que para algumas coisas sim, tipo às vezes você temuma dúvida: a máquina não vai te responder. Ah, por exemplo, o café:está lá escrito capuccino, não sei o que, a pessoa não sabe o que écapuccino, aí vai perguntar: Qual o ingrediente disso? Você precisa deum vendedor para poder te explicar. Roupa, por exemplo, se inventasseuma máquina de roupa seria terrível, sabe?! O vendedor te dá outrasopções: ‘Ah, você quer o tamanho M, mas eu acho que para você G ficamelhor’. Imagina, você vai, aperta lá, cai o M e você diz: ‘Ah, meu Deus,não deu em mim’. Você vai fazer o quê, vai enfiar na máquina de volta?Acho que tem coisas em que é necessário ter o contato humano. Eusentiria falta dessa coisa de elucidar dúvidas, sabe?! (...)” (L.21, f.).

“Então, assim, você está no ônibus, no subúrbio, milhões deambulantes, zilhões, os caras aproveitam, os caras se viram pra vendertudo, qualquer coisa, qualquer coisinha, entendeu, eles inventam, assim.Eu estava no ônibus, aí estava um cara vendendo suco de laranja, aí elepegava o negócio e rodava na laranja, demonstrava, fazia um negócio.(...) é aquilo que eu falei, eh... enquanto o cara ainda estiver na pior elevai buscar alguma forma, então ele vai vender, não?! (...) Mas assim, eume sentiria muito mal se tivesse só máquina.” (E.S.C., 18, m.);

“Eu acho que faz falta, sim. Se você considerar todos osambulantes, vai ver que numa praia isso é impossível, ter uma máquina,pelo menos eu acho, não sei, no meio da areia. Acho que o ambulanteestá muito assim: você está numa estrada e tem um ambulante paravender um negócio que você precisa. Acho que há espaço para coexistir oambulante e a máquina. (...)” (L.Q., 22, f.).

A valorização do contato humano se repete na maneira como os consumidores

reagem à hipótese de freqüentarem um ambiente onde só existam máquinas de auto-

serviço – uma lanchonete com mesinhas no centro e VMs variadas ao redor, sem

atendimento por vendedores. Não é que eles se recusariam a ir a um lugar como esses,

mas a maioria o faria apenas por curiosidade, enfatizando sempre a necessidade de estar

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com os amigos. Eles não têm nada contra o tipo de local, mas também não têm muito a

favor.

Essa necessidade de relacionar-se, aliada à predisposição de ajudar ao outro e, às

vezes, ao medo de errar, é o que leva o grupo a escolher comprar produtos com um

ambulante em detrimento da máquina (na condição de os produtos estarem com preços

idênticos).

“Eu acho que eu iria nele, embora eu não seja muito a favor de terambulantes por todos os cantos. E a presença da máquina talvez meincomode menos. Eu acho que eu compraria nele, pelo contato pessoal.”(G.A., 19, m.);

“Ah, não sei, sabia?! Porque por um lado eu tenho uma visão,assim, social de que eu vou estar ajudando o cara se eu comprar com ele,enfim, se ele tem o mesmo produto eu vou ajudar o cara. (...). Comcerteza vai demorar um pouco mais, o cara vai ter que me dar o troco, vaiter que me oferecer outra coisa e tal. De repente, por pensar que o caraprecisa, que o cara vá ficar chateado, eu compraria com o cara.” (F.G.G.,23, f.);

“Porque eu acho que é mais humano assim, sabe?! Eu acho que éuma relação melhor e até as máquinas podem dar problema. Tem aqueletemor de vai o dinheiro, não vem o produto, prende o dinheiro e tal. Coma pessoa, você está ali, você pode falar com ela, você pode reclamar,entendeu?! Eu acho que é melhor comprar com uma pessoa.” (D.J.S., 19,f.).

Na comparação com o/a bar/lanchonete, no entanto, a opção pela máquina

prevalece pela praticidade inerente a ela e, especialmente, quando existe fila no

estabelecimento comercial ou a pessoa está com muita pressa.

“Eu prefiro a máquina, claro, com certeza. [P - Você dápreferência à máquina ao estabelecimento comercial. Pelo mesmo preço,né?! E mesmo o preço um pouquinho mais caro na máquina. Porexemplo, na máquina, em geral, é R$1,00 o refrigerante, e se na cantinafor 90 centavos? Você dá preferência a qual?] Eu dou preferência àmáquina. É bem mais prático.” (T.B.B., 17, f.);

“Eu acho que pela praticidade de você não ter que enfrentar umafila, ou comprar no caixa, de ter que ir lá no balcão. Eu acho quecompraria na máquina, também” (L.Q., 22, f.);

“Com fila eu iria analisar. Ia falar assim ‘já que está com fila...’ ese eu estiver com pressa ‘não, eu tenho que chegar em tal lugar, em talhora, agora’, eu tento a máquina. (...)” (F.C., 20, f.).

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Nesse amplo exercício de entender o comportamento do consumidor por

máquinas, foram debatidos outros canais de vendas (incluindo o próprio vendedor

autônomo), uns mais tradicionais como os mercados, e outros nem tanto, como as lojas

de conveniência. Foi pedido que os entrevistados discutissem canal por canal,

apontando o que eles achavam ser vantagens e desvantagens de cada um, sempre em

comparação com as vending machines.

Com relação aos supermercados, a grande vantagem contra as máquinas

automáticas é a variedade que eles oferecem.

“Tem uma variedade muito maior do que as máquinas. Se vocêfor num supermercado, pode comprar um guaraná Tobi; e você não achauma máquina que venda o guaraná Tobi. (...) Talvez você pegue uma fila,não sei o que, mas é certo, mais certo de você encontrar o produto quevocê quer” (G.A., 19, m.).

A vantagem das máquinas, por sua vez, é a facilidade de compra, sem as filas do

caixa ou o ambiente confuso dos mercados.

“(...) no supermercado uma coisa que é terrível: caixa. É uminferno. Na vending você aperta, caiu. Biscoito: caiu, ponto final. Nosupermercado, você tem de subir, pegar, ir no caixa, pagar. Às vezes,você está sendo enganado porque tem aquele negócio do código, bota umpreço num lugar e quando chega na caixa é outro preço (...)” (L., 21, f.);

“(...) eu também vou de madrugada a supermercado porque émuita gente dependendo do horário; você tem que ficar andando osupermercado inteiro pra achar. Às vezes muda de lugar estrategicamentepra você andar tudo de novo, bota os produtos mais caros na sua cara, osprodutos assim de consumismo, que você não necessita, na sua cara. (...)E também tempo, né?! Você vai na máquina, compra e sai. Só que não dáporque, poxa, às vezes você tem que comprar vinte coisas, e onde é quevocê vai achar uma máquina que vende exatamente aquilo? Só se forfeita pra você.” (S., 21, f.).

Além do que já foi comentado sobre comprar com ambulantes/camelôs - o

objetivo costuma ser humanitário, de ajudar o vendedor -, a outra razão para se comprar

com eles seria uma certa flexibilidade de preço.

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“(...) Tem um ambulante aqui embaixo também, a máquina éconcorrente do ambulante, você pode até entrevistar o ambulante, fica alido lado da banca. E tem a clientela dele, que vai lá comprar com ele. Porquê? (...) Talvez o preço? Talvez ele também pode cobrar mais barato,né!?” (F.G.G., 23, f.).

Em compensação, não possuem a credibilidade que uma vending machine

proporciona, sem contar que o produto pode não se manter na temperatura ideal no

isopor.

“Não, o problema do camelô é assim: você não sabe muito aqualidade do produto. Na máquina, por exemplo, você saberia aqualidade, você tem onde reclamar. Você chega no fabricante: ‘Ah, eucomprei um negócio estragado!’. No ambulante, você comeu... Tchau!Comeu, morreu; comeu, passou mal, fica na tua porque não vai ter comquem reclamar. Agora, a máquina, pelo menos, você tem a quemreclamar, pedir, né?!” (V.B., 23, f.);

“Ambulantes, eu acho que já falei: você tem que garantir que oproduto vai estar numa certa temperatura, no caso do refrigerante, achoque a conservação, garantia de fonte. Dificilmente vai ter uma máquinapirata (...)” (L., 21, f.).

Quanto ao delivery (entende-se como entrega em domicílio com pedido feito por

telefone ou Internet), a maior vantagem seria o conforto, ou seja, a comodidade de não

ter que sair de casa para consumir (essencial, inclusive, para as circunstâncias em que a

pessoa está impossibilitada de ir à rua) e a praticidade de usar o telefone ou o

computador para fazer o pedido.

“Às vezes você não está podendo sair de casa, está fazendoalguma coisa ou está cansado, sabe?! Tipo ‘ah, estou com preguiça desair, melhor ficar aqui em casa’ e tal, aí você liga e pede. Quando vemrapidinho é bom, né?!” (...) (D.J.S., 19, f.);

“Ah, é super prático. (...) Não se dá nem ao trabalho de ir até amáquina, é só pegar o telefone que vem até você. É como se a máquinaviesse até você, chega pronto e você não faz sacrifício nenhum, só disca(...)” (M.F., 20, f.).

As desvantagens, por sua vez, englobam os problemas de entrega: produto não

chega, vem trocado, fora da temperatura ou atrasado; situações que ocorreriam mais

dificilmente na compra por máquinas automáticas.

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“Ah, isso também é complicado porque o delivery às vezes podevir errado. Eu, quando trabalhava na Secretaria Municipal de Saúde, naAssessoria, a gente pedia a entrega do Rei dos Sucos, e toda a vez que eupedia vinha errado toda a vez eu pedia assim ‘mate com brioche de nãosei o quê’, eles traziam Coca-cola com pastel de não sei que lá. Eu dizia‘meu filho, é totalmente diferente, como é que você...’. Ele pegou erradoou pegou o pedido de outra pessoa pra mim e o meu para outra pessoa,sabe?! Você corre o risco no delivery de vir alguma coisa errada e vocênão vai chega lá e falar ‘troca pra mim agora’, sabe?! Porque não vai dar.(...)” (F.C., 20, f.);

“(...) Ali você pode contar com uma gama de fatores que podeatrasar o teu consumo em minutos ou até em horas. Às vezes, você comuma máquina ali o consumo é quase que instantâneo” (T.B.B., 17, f.).

Existem várias razões para o consumidor em questão adorar as lojas de

conveniências. Eles citam a segurança, a multifuncionalidade, a conveniência e a

variedade de produtos como as principais.

“Talvez, assim, segurança. Tipo, a vending, às vezes, está numlocal não muito apropriado, você vai sozinho. Agora a lojas deconveniência tem todo aquele negócio: você pára no posto, abastece ocarro, tem a segurança do posto. Segurança: eu acho que é a únicavantagem, talvez” (L., 21, f.);

“Então ali você tem outras coisas, outras funções. Geralmentenuma loja de conveniência você tem a oportunidade de sacar o dinheiro sevocê precisar, você pode fazer outras transações ali, você tem tipo ummicro banco, você tem oportunidade de adquirir outros produtos. Achoque acaba sendo até mais completo” (T.B.B., 17, f.).

Entretanto, estão insatisfeitos com os preços, um ponto a favor das vending

machines, que vendem mais barato.

“Eu sou apaixonada por lojas de conveniência, eu acho tudo muitolindo, menos os preços... Em relação a isso, as máquinas são melhoresporque são mais baratas” (D.J.S., 19, f.).

Mas, sem dúvida, a preferência do grupo é pelos restaurantes, tanto que nem

conseguiram comentar sobre as desvantagens desse canal. Isso se explica por

valorizarem em muito a socialização que eles proporcionam, tanto com as pessoas em

volta quanto com o próprio garçom. Consideram que comer em boa companhia e num

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ambiente agradável é muito prazeroso, assim como ser atendido por alguém (e não ter o

trabalho de se auto-servir) é muito mais cômodo. Nada disso poderia ser encontrado

numa vending.

“Eu acho, tipo assim, que é um ambiente muito mais agradável etal. Não é aquela questão do tipo você... Porque assim, quando você vainuma vending machine o seu objetivo é o produto; quando você vai numrestaurante, o seu objetivo talvez não seja só a refeição. Porque tudo queestá ali te proporcionando uma boa conversa com os amigos, uma boaconversa com a família. É diferente (...)” (M.F., 20, f.);

“Tem toda essa coisa que eu te falei do glamour, do cara te servir,você sentar e ficar numa mesa, conversar, tempo, estar no meio social,vendo gente bonita. É diferente do que você pegar um negócio e comer”(F.G.G., 23, f.).

Porém, quando o assunto é bares de rua, a atitude dos consumidores é de evitar

esse canal de venda devido ao ambiente comumente desagradável, desconfortável, ou

seja, muito barulhento, bagunçado e, mais que isso, sujo e repleto de freqüentadores

alcoolizados (este último é um fator que incomoda mais às mulheres). As poucas

vantagens que eles percebem nesses bares, que reconheceram como “botecos”, são a

possibilidade de interagir com pessoas e a oferta maior de produtos que nas VMs.

“Eu não gosto muito de freqüentar esse tipo de lugar, porque temmuito homem, tem muito bêbado, sabe?! Não todos, mas às vezes vocêaté evita entrar, você é mulher, está sozinha. Então, a máquina está ali, émais rapidinho, é mais limpinho, sei lá. E a vantagem do bar, também,talvez seja a variedade, né, que não tem na máquina. A máquina tem umacoisa mais de praticidade. Acho que é isso.” (F.M., 20, f.);

“Ah, eu não sou muito chegada a um pé-de-chinelo, não gostomuito daquele clima, aquele clima alcoolizado de lá. Nada contra aspessoas que bebem, mas eu não gosto, (...) Nesse caso, comparando, coma máquina não dá pra você sentar, conversar com os seus amigos. E obom de você estar num bar é você poder estar conversando com aspessoas, né, que estão lá com você, mas eu preferia a máquina, eu achoque é mais limpo. Nesses botecos, a gente pensa logo em barata, em rato,sujeira, não é muito confortável. Pessoas bêbadas, pessoas gritando, não,não dá” (F.C., 20, f.).

Quando o grupo é solicitado a pensar nas mudanças de seus hábitos de compra

em virtude da introdução das máquinas de venda, não são capazes de citar grandes

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mudanças diretamente ligadas a isso. Em alguns casos, entretanto, percebem que a

presença da máquina induz a compra, tendo passado a estimular o consumo

principalmente de besteiras, ou a facilita quando se está com pressa.

“(...) hoje em dia já está até pela oportunidade, né?! Às vezes,você nem está com sede, mas, por exemplo, você chega ali no Metrô etem aquela máquina vermelha, assim, linda, você chega ali coloca umreal. É facilidade, entendeu?! Acho que não mudou nada assim emcompras porque eu continuei indo a lanchonete, a essas coisas. É sóassim uma coisa que você está passando e compra, você olha... euacredito que seja bem-feito o marketing da coisa, as cores tal pra techamar a atenção realmente e você ir lá e comprar, e a facilidade. (...)”(M.S., 18, m.);

“Não, a mudança é basicamente... tipo, quando você não tem umdeterminado produto, você tem a disponibilidade da máquina, você àsvezes prefere ir à máquina, para adquirir o produto porque o atendimentoé mais rápido, tudo é muito mais fácil. Então, a partir do momento emque comecei a usar, eu dei uma prioridade a isso, sabe, a outras coisas,assim, a comprar em estabelecimentos comerciais, lanchonetes, no casode refrigerantes especificamente” (T.B.B., 17, f.).

Embora não achem que as máquinas tenham exercido alguma transformação no

seu comportamento de compra, os entrevistados têm suas preferência de locais para

consumir por VM. Para eles o ambiente mais favorável para consumo automático é o

shopping center, seguido dos cursos em geral (especialmente faculdades, colégios e

cursinhos de línguas) e meios de transporte (trens, barcas e, principalmente, metrô).

Também não deixaram de lembrar das casas de show, dos postos de gasolina, dos

escritórios (trabalho) e dos banheiros públicos.

Outro aspecto que deve ser mencionado é a forte percepção – os filmes são os

grandes responsáveis por isso - de que o consumo por vendings é maior em outros

países que no Brasil. Os mais citados pelo grupo foram os Estados Unidos da América

(por unanimidade), Canadá, Austrália, Japão e os países da Europa (principalmente

Holanda e Inglaterra, e excluindo a França).

“(...) A vida imita a arte e arte imita a vida. Então você estáfazendo um filme de uma determinada pessoa, de uma classe média, umapessoa média e que tem os cotidianos médios. E aparece que estãoutilizando os serviços de uma vending machine. Agora, dificilmente num

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filme brasileiro você vai colocar como realidade do Brasil uma pessoaque sai, vai ali na esquina e usa uma máquina de vending machine, sabe?!(...) num país industrializado, rico e economicamente bem desenvolvido écotidiano: você vê mesmo nos filmes que isso aparece; vai lá o galã e usauma máquina de refrigerante, sabe, para um determinado serviço.” (M.F.,20, f.);

“(...). A França, por exemplo, eu acho que não ia colar porque elestêm aquele costume, aquela coisa tibetana. (...) tem aqueles vários cafés eeu acho que não ia colar. Eles gostam de sentar, eles tem aquele hábito desentar para beber, saboreando as coisas, de pedir para o garçom, olhar omenu. (...)” (L.,21, f).

As justificativas para o maior consumo nesses países são diversas. Alguns

consideram que a explicação está no desenvolvimento sócio-econômico do país,

refletido no grau de instrução e no potencial de consumo do povo. Um país com alto

índice de analfabetismo e baixa renda per capta, como o Brasil, por exemplo, não

comportaria as máquinas, pois a população não teria, respectivamente, educação

suficiente para saber lidar com elas e dinheiro sobrando para comprar seus produtos (em

geral, supérfluos).

Outros colocam a culpa no desenvolvimento tecnológico, que sendo baixo pode

acarretar uma menor oferta de máquinas (pouca disseminação e variedade de produtos).

O Brasil estaria muito atrasado em relação aos países citados como maiores

consumidores por máquina.

Há ainda aqueles que preferem dizer que é uma questão de tempo e,

consequentemente, de hábito/costume, ou seja, que no Brasil as máquinas foram

introduzidas tão recentemente que os brasileiros ainda não conseguiram se acostumar a

conviver com elas e aproveitar suas facilidades.

E, finalmente, existem os que acreditam na influência da visão de mundo da

população, do fator cultural. Esse é o pensamento da maioria. A cultura relacional do

brasileiro, na qual as relações sociais impõem um ritmo um pouco mais lento, estaria em

oposição ao ritmo de vida acelerado dos norte-americanos. Nos EUA, a cultura do

“Time is Money”, além do consumismo ferrenho, combinaria perfeitamente com a

praticidade que as máquinas de auto-serviço oferecem.

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“Não sei, a visão de mundo deles (entende-se: dos norte-americanos) é muito diferente. O brasileiro, apesar de ter a vida corrida,ainda pesa um pouco essa coisa do contato, de você sentar, de você tertempo, nem que seja de 10 minutos, de sentar, de saborear as coisas.Acho que isso eles não têm. (...). Acho que para eles tudo é tempoperdido, tempo morto, uma competição danada, então você tem que ser omelhor e você precisa de tempo para ser o melhor. Eu acho também, seilá, que esse negócio de vending machine surgiu lá, não sei. Então, sei lá,acho que eles estão mais adaptados. A gente ainda não teve muito tempo,não teve muito contato. Apesar de que, demora... inserir alguma coisa nocostume de um povo demora um século às vezes. Agora, eu acho que elestêm isso um pouco mais arraizado” (L., 21, f.);

“Acho que eles (novamente, lê-se: os norte-americanos) estãomais acostumados a essa cultura de produtos que facilitassem a vidadeles. Eles têm produtos eletrodomésticos práticos que facilitam a vidadesde a década de 50 e 60. E aqui no Brasil acho que as coisas soammuito retardadas, assim. Eu acho que eles têm mais a cultura de usomesmo, de consumo também - a sociedade é muito consumista. Eles sãomuito práticos, eu acho também. Eles têm uma cultura de que oeletrodoméstico é uma coisa que você não precise ter tanto trabalho. Sevocê pudesse ficar sentado e a máquina fizesse tudo, acho que elesficavam. Acho que é uma questão cultural, mesmo. Na Europa, tem aInglaterra, Holanda... Austrália, eu acho que eles devem usar muito”(L.Q., 22, f.).

Quando o assunto é o futuro das máquinas no Brasil, o grupo estudado concorda

que a tendência é o aumento do consumo automatizado. A globalização traria mais

rapidamente as novidades em termos de tecnologia para o nosso país e o povo brasileiro,

que, segundo eles, adora o que é novo e é bastante consumista, importaria os hábitos de

fora com mais facilidade ainda. As outras causas desse crescimento na compra por VMs

seriam as seguintes: a evolução, sofisticação e disseminação dos próprios equipamentos;

e a renovação das gerações (as mais antigas, pouco acostumadas com as máquinas, com

o tempo, darão lugar as mais novas, que já estarão nascendo em ambientes adaptados à

tecnologia de máquinas de vendas).

Observa-se que os entrevistados, de forma sensata, não consideraram a

população brasileira homogênea o suficiente para que pudessem especular qual seria o

futuro do país como um todo em relação às máquinas. Por isso, todas as repostas que

deram se referiram basicamente aos grandes centros do Brasil, regiões que eles

conheciam melhor.

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De todo modo, acreditam que a ampliação do consumo por máquinas deveria

ocorrer gradualmente, para que a população se habitue pouco a pouco com as mudanças.

“(...) vai depender muito do órgão, da empresa, da pessoa, que põeessas maquinas no mercado, entendeu?! Eu acho que se elas fossemdisseminadas gradualmente e as pessoas, conseqüentemente, fossem sehabituando a usar, fossem aprendendo a usar, como por exemploaprenderam a usar o cartão-telefônico e estão aprendendo a usar o celular,eu acredito que com essa coisa gradual eles consigam infiltrar mesmo nanossa economia, no nosso dia-a-dia, esse tipo de máquina, sabe?! (...).”(F.C., 20, f.).

Uma das mais fortes preocupações quando se fala em futuro das máquinas no

Brasil é o desemprego que isso pode gerar (e já estaria gerando). Essa questão foi muito

comentada pelos respondentes da pesquisa, que consideram a substituição

indiscriminada da mão-de-obra humana pelas VMs um descaso do governo.

“(...) em se botando um tipo de máquina dessa, vai ocorrer umaalteração com certeza, na parte pelo menos econômica, financeira, de umlugar, de uma cidade, porque você pensa... você vai deixar de contratarpessoas pra fazer isso, como ocorreu no campo quando com o aumentoda tecnologia, das máquinas, que passaram a fazer os trabalhos que antesos agricultores faziam (...)” (F.C., 20, f.);

“E o lance do emprego, eu acho que se a gente tivesse até umapolítica melhor a gente não se preocuparia tanto com esse tipo deemprego, sabe, da pessoa vendendo a ficha, sabe?! Eu acho que a gentese preocupa pela política que a gente vive, pela situação que a gente vive.Aí já foge um pouco das máquinas, né?! É um problema mais político,sabe?! Se a gente tivesse uma situação melhor acho que a gente não ia sepreocupar com o emprego que as pessoas perdem por causa dasmáquinas; elas são inevitáveis. (...).” (D.J.S., 19, f.);

“(...) eu acho que no Brasil, em termos de nível de educação, nóssomos muito prejudicados, temos um prejuízo muito grande, um abismomuito grande. Então, de repente, para você vender basta que a pessoasaiba as operações matemáticas fundamentais ela pode vender, pode lidarcom o dinheiro. Agora, para ser um técnico de uma máquina você temque ter todo um conhecimento que, aí sim, digamos, se 50% dapopulação está apta para vender então eu diria que só 10% da populaçãoestá apta para ser técnico. Talvez uma redução ainda maior. (...). Tudobem, é uma avanço tecnológico? É. Prova de desenvolvimento? É. Mas,ao mesmo tempo, acho que você tem que saber introduzir o avançotecnológico e, ao mesmo tempo que você introduz o avanço tecnológico,

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você tem que saber como você vai absorver a mão-de-obra que estáexcedente. Vai ter emprego? Vai ter condição de estudo para, sabe, serabsorvido por um outro setor da economia? Se não tiver, eu acho que nãovale a pena” (M.F., 20, f.).

Os entrevistados aproveitaram a conversa para darem sugestões ao setor de

vending machines. Eles acreditam que alguns outros tipos de máquina de vender

poderiam fazer sucesso por aqui, seja por alguma preferência pessoal, seja por

observação do público em geral. Na relação de bebidas, sugeriram sucos naturais, mate e

cerveja, esta última por ser uma “paixão nacional”. Na de comidas, estão produtos

naturais (ex: barra de cereais), salgadinhos, churros, sorvete e chocolates (esta sugestão

foi citada por quem só conhece as máquinas nos EUA). Ainda foram mencionados os

seguintes: produtos de higiene pessoal, como escova e pasta de dentes, itens de

primeiros socorros, remédios (sem exigência de receita), jornais e revistas, cigarro

(aproveitando o vício do fumante), pilhas e baterias, absorventes, maquiagem

(especialmente batom), bijouterias (anéis, brincos, cordões e pulseiras) e, também,

bilhetes de metrô.

Curiosamente, porém, os mais citados foram materiais de escritório, como lápis,

caneta, borracha, bloquinho de anotações, disquete e CD-Rom, camisinhas, assim como

existem nos Estados Unidos, em geral em banheiros públicos, e coisinhas que mexem

com “febres”, manias temporárias, a exemplo de bonequinhos de Pokémon, anéis da

Xuxa, bolinhas de gude, etc.

“Pensei aqui, assim, sei lá, um pensamento louco: material deescritório de repente, talvez você está desesperado, não tem caneta, nãotem disquete, não tem CD. Sei lá, ter uma maquininha que vocêcomprasse coisinhas de escritório, - não sei se isso seria legal -,bloquinho. Se for num lugar específico que tenha gente que compra isso,acho que seria uma coisa legal” (F.G.G., 23, f.);

“Porque aí é que está: tem muita gente que não compra camisinhana drogaria, na farmácia porque: ‘Ah, eu vou chegar e vou pedircamisinha?!’. Do tipo, ‘vou pegar uma camisinha e vou passar lá no caixapara comprar, o que vão pensar de mim?!’ Ainda mais nessa cidade dehoje, que, assim, uma mulher: ‘Ai, eu, uma mulher, vou chegar nafarmácia?’ Maior bobeira. Então, de repente, tipo é bobeira? Não temcomo, sabe, acabar com essa bobeira? Então coloca ali uma máquina.(...). Do tipo, é uma forma de evitar a AIDS usar camisinha? É. As

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pessoas muitas vezes não usam porque têm vergonha de ir na lojacomprar? É. Então coloca uma máquina dessas num lugar, assim, superdiscreto, que não tenha...” (M.F., 20, f.);

“Criança adora bonequinho, essas bobagens. Aí se você botasseaqueles bonequinhos que tem no McDonald’s agora – agora não sei -, osbichinhos lá... uma máquina com aqueles bichinhos ia fazer o maiorsucesso. Já pensou a criança passando, nem está pensando naquilo, masaí vê aquela máquina ‘mãe, eu quero’. Na hora, ia vender. A mãe só prase livrar ela não iria dar 2 ou 3 reais pra compra o bichinho?! Lógico queiria. Tem que mexer com a necessidade” (S., 21, f.).

Houve também sugestões quanto a outros locais em que essas máquinas

deveriam ser instaladas. Alguns responderam de forma mais generalizada, indicando

quaisquer locais de grande circulação de pessoas, lugares distantes de estabelecimentos

comerciais ou mesmo próximos a estes mas como uma segunda opção de canal de

vendas.

Outras idéias, mais específicas, foram: cinemas, casas noturnas, meios de

transportes (trens, barcas, ônibus), todas as estações de metrô, rodoviárias, colégios,

faculdades, hospitais, empresas (escritórios de trabalho), academias de ginástica,

banheiros, praias e nas ruas.

Os participantes dessa pesquisa são de opinião que essas máquinas deveriam

existir também na universidade onde estudam (aliás, pouquíssimos repararam que já há

VMs de cartão telefônico e de refrigerantes na UERJ). Apesar de cada um ter seus

motivos particulares para pensarem assim, concordam no seguinte ponto: que elas não

são introduzidas ali porque as cantinas já supririam as necessidades dos consumidores

locais e, mais que isso, não permitiriam a concorrência de máquinas.

Outras sugestões versaram sobre o que poderia mudar nas máquinas para

melhorar o consumo através delas. A maioria reclamou uma maior variedade de

produtos a serem vendidos por VMs, podendo estas opções estarem inclusive numa

mesma máquina, uma maior diversidade de bebidas nas vendings de refrigerantes

(outras marcas, água, sucos etc.) e uma ampla distribuição de máquinas (distribuídas em

mais locais). Outra idéia é a de unir bebidas e comidas numa única máquina para

facilitar a compra casada.

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“Então, seria legal que a gente pensasse nessas coisas, encontrassemais variedade ou uma máquina assim ‘máquina de alimentação’. Aoinvés de ser Coca-cola, teria Coca-cola, guaraná e Pepsi, e mais umascomidas assim tipo... as pessoas geralmente consomem juntos... Donuts.Tem máquina de Donuts, também. Donuts, não sei quê. Pô, legal. Vocêvai fazer um lanche aí tem a máquina do lanche, pronto” (S., 21, f.);

“Eu acho que se existisse mais... Se tivesse em mais lugares,variedade eu acho também. Se você restringir o refrigerante, vocêdiminui... Quanto mais você abre o leque de variedade de produtos, vocêaumenta o uso da máquina” (L.Q., 22, f.).

O grupo preferiria que existissem formas de pagamento mais abrangentes, desde

a mais simples de aceitar moedas (todas as versões e anos) como alternativa para as

notas até a mais criativa de se inventar um cartão com créditos semelhantes aos cartões

telefônicos. Em meio a isso, enfatizaram a necessidade de todas as máquinas vendedoras

darem troco, até mesmo em cédulas (atualmente, quando a máquina dá troco, ela o faz

em moedas).

Fazem, ainda, comentários sobre alguns detalhes a que os fabricantes deveriam

dar atenção. O buraco de saída do produto não deve estar nem tão alto que uma criança

não possa alcançar nem tão baixo que um adulto tenha que se abaixar demais para

pegar, por exemplo. Também, poderia ser um pouco maior para evitar que machuquem

a mão na hora de retirar o produto. Aconselham também que as VMs devem ser fáceis

de operar, com instruções claras e botões auto-sugestivos.

“E... Ah, é horrível ter que a baixar, também, para pegar láembaixo. Isso é chato. Se tivesse, sei lá, alguma coisa, não sei se dá parafazer uma balança que suba e... Sei lá, alguma coisa: o negócio caiu masaí ele sobe por um elevadorzinho, para você não ter que descer e ficar decócoras, pegar. É ruim, né?!” (F.G.G., 23, f.);

“Uma máquina que não me machuque, né?! (risos) Não corte, queeu saia ileso no final, que eu sobreviva (risos). (...) eu fui... botei, caiu onegócio, quando eu fui tirar me cortei todo, ficou sangrando, foi horrível(risos). Porque tem um negócio que é assim, é não sei o quê, não caíaexatamente... eu acho que aquele buraco devia ser maior. Eu acho queaquele buraco devia ser um pouco maior. Aí eu fui botar a mão, assim,minha mão não é muito grande, mas também não é muito pequena, tem...aí quando saiu, eu tirei, estava tudo sangrando (...) Instruções, eu achoque tem que ter sempre, mesmo que depois já tenha, assim, tipo, grandeparte das pessoas já sabem usar, eu acho que sempre tem que ter, porque

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sempre vai ter um que vai... esqueceu, não vai saber na hora” (E.S.C., 18,m.).

Quanto ao design, deve ser agradável aos olhos e num formato mais atual,

arredondado. O colorido da máquina é importante para chamar a atenção do

consumidor, mas sempre evitando a poluição visual de muitas figuras e cores

misturadas. Para ajudar na identificação do produto que se está vendendo, pode-se usar a

sua foto na frente ou um vidro transparente para que seja visualizado.

“Eu acho que a estética da maquininha precisa melhorar, né?!Precisa ser mais bonita e, assim mais cibernética, sei lá, tipo maisarredondada, mais assim, chamar as pessoas, né?! (...) eu acho que tudoque é bonito você tem vontade de usar. Faz esses barulhos, coisasrobóticas, assim transparentes, um ar de tecnologia, né?! Metálicas,assim. Acho que podiam, sei lá, investir em alguma coisa assim, maisbonita, com luzes. Sabe aqueles vidros transparentes, mas que tem cor,meio laranja, em meio azul, meio verde? Uma coisa mais incrementada.(…). Não basta ser uma geladeira gigante.” (F.G.G., 23, f.);

“Sempre na vista as coisas, porque chama mais atenção. Acho queàs vezes isso perde... Algumas máquinas já têm, de refrigerante achoque... Por exemplo, da Coca-cola tem escrito só Coca-cola. Não sei seisso chama... É, chama a atenção porque é um letreiro, mas eu acho quechamava mais atenção se você botasse o produto assim, sabe,borbulhando, porque a pessoa tem vontade de pegar aquele produto, édiferente. Sempre a exposição do produto. Uma coisa assim: os botõesmais práticos, tipo com as figurinhas, moeda. E só isso. O importante, 1mmais ou menos para todo mundo ficar acessível” (L., 21, f.);

Outras dicas interessantes são a de se criar um diferencial para a mercadoria de

máquina, a exemplo de uma lata diferente, e a de oferecer acessórios como canudinho,

copos descartáveis e saquinhos para as balas.

A máquina de venda automática ideal deveria ser mais interativa. O usuário

poderia usar uma tela para teclar e fazer seu pedido, por exemplo. E quando a vending

tivesse sido recém-abastecida, haveria um alerta de que as bebidas ainda estariam

quentes. Para aumentar a interação, haveria sempre um telefone para reclamações fácil

de encontrar e a máquina entregaria uma nota fiscal ao ser efetuada a compra.

Alguns dos consumidores entrevistados foram futuristas o suficiente para

desejarem uma máquina falante, que conversasse com o cliente.

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“Ah, não sei, acho que podia ter uma vozinha, talvez tipo quandovocê chegasse na frente ela falasse alguma coisa, falar bom-dia, boatarde. Pode ser, pode ser. Tipo assim, ‘após o escolher o produto coloquea moeda num recipiente, aperte o botão e aguarde, depois pegue láembaixo’. Uma coisa assim para ajudar quem não sabe, né?! E parahumanizar um pouquinho o negócio, né?! (...) Fora isso, não sei: talvez setivesse um lugar para sugestões tipo ‘Você foi bem atendido? Não? Liguepara este telefone’, sei lá, um retorno assim. A gente ter uma máquinalargada só pegando o dinheiro das pessoas, não querendo servir melhor...Uma coisa assim, não sei” (F.G.G., 23, f.).

Quanto aos preços praticados nas vendas por máquinas, eles não têm do que

reclamar, uma vez que classificam-nos como preço de mercado, um valor semelhante ao

que lhes é cobrado em estabelecimentos comerciais, sendo às vezes até mais barato que

nestes.

Em meio às sugestões dos próprios entrevistados, a pesquisadora apresentou três

hipóteses de novas formas de pagamento em vending machines. A primeira delas seria

usar o cartão de crédito para fazer compras, passando-o nas máquinas, mas essa idéia

não agradou ao grupo. As principais razões para isso são as seguintes: o receio de não

conseguirem controlar os gastos, a vergonha ou insensatez de usar um cartão de crédito

para descontar valores tão baixos e, mais que essas, o medo de o cartão ser clonado.

“Eh... mas o cartão de crédito já é uma coisa mais complicadapela questão do assalto, pela questão do uso, dos juros que você paga,né?! Eu não gosto de usar cartão de crédito, nem tenho, nem minha mãetem, por causa dessa questão dos juros, só paga mês que vem e tal; vocêacaba ficando dependente. A maioria das pessoas são dependentes docartão” (M.S., 18, m.);

“Eu acho que é muito pouco. É muito estranho: sai lá no seuextrato um real, ‘que isso? Que que essa louca está fazendo? Pagando umreal no cartão’. É que nem passar cheque de um real, dois reais, sabe?! Sónum caso extremo, você não tem dinheiro, não tem mesmo, aí você temque passar, vai fazer o quê?” (S., 21, f.);

“Confuso, porque eu acho que esse negócio de clonagem decartão você pode ficar muito... Você não sabe se colocaram algummaterial ali para copiar seu número, copiar o seu código. Então vocêficaria muito sujeito, assim muito exposto. Então eu acho que é arriscado,eu teria medo.” (M.F., 20, f.).

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Um pouco mais bem aceita que a do cartão de crédito foi a opção de usar o

celular para efetuar a compra automática discando um número fornecido pela própria

máquina. Mesmo assim, a grande maioria ainda é resistente a esta forma de pagamento,

argumentando que existem muitos problemas inerentes ao próprio sistema de telefonia,

como as dificuldades de conexão e as possibilidades de fraudes ou erros. Outros

entendem que seria trabalhoso usar um aparelho um tanto complexo para substituir algo

que já é simples – o tradicional dinheiro (em notas ou moedas).

“É, acho que seria interessante, mas se a gente fosse parar parapensar um pouco na telefonia celular, teria muita gente hoje no país semconseguir adquirir produto algum, porque têm áreas em que o telefonecelular não pega. Só se fosse alguma coisa assim, independente disso:você ligava o telefone, discava como um serviço que não estivesseacoplado ou que fosse da responsabilidade da telefonia celular, sabe?! Aíeu acho que seria mais tranqüilo.” (T.B.B., 17, f.);

“Eu acho que tudo agora que envolve tecnologia tem o ladoprático, mas tem o lado perigoso também, porque eu acho que muitagente já está conseguindo entender disso, lidar com isso e criar sistemasem que você possa... Tem sempre alguém que cria um sistema que burla,tem como pegar o seu número, descobrir o número do seu cartão, onúmero do seu telefone... Eu acho que o dinheiro ainda é o mais seguro.”(L.Q., 22, f.);

“(...) Sinceramente acho que não ia colar, entendeu?! Acho que iaser um pouco mais trabalhoso. Tudo bem, é só um número que você vailá e liga, mas às vezes o celular não está a mão. Eu acho mais ou menos”(C.H., 18, m.).

A hipótese preferida do grupo – cada entrevistado com seu motivo particular -

foi a de se criar um cartão específico para as compras em vending machines, parecido

com cartão telefônico, contendo um número de créditos a serem usados. Alguns,

inclusive, já haviam antecipado essa idéia como uma sugestão pessoal de alternativa ao

cartão de crédito e ao aparelho celular.

“(...) Igual tem nesses lugares como o Playcenter, esses lugares dejogos eletrônicos, onde você passa o cartão e vai debitando: ‘Ah, querojogar uma partida desse jogo’. Você passa lá e vai diminuindo.” (...)(M.F., 20, f.);

“Acho que esse seria o ideal, até melhor do que o dinheiro.Porque com o dinheiro, às vezes, a carteira... você está num lugar público

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e você não sabe quem está no teu lado. O cartão não, você tira vai e passae acabou, entendeu?! Se você perder não vai ser uma grande perda,porque não é um cartão de crédito. Também não vai ser uma grandeperda se roubarem o teu cartão, não tem nada, eu acho que seria o meiomais prático, até melhor do que o dinheiro.” (V.B., 23, f.);

“Me agrada muito mais isso, porque você consegue se controlarquando você quer e tal. Eu gosto disso, eu acho bacana.” (G.A., 19, m.).

Frisaram, ainda, que a validade do cartão especial deveria ser longa ou, pelo

menos, que houvesse a opção de cartões com poucos créditos, e deram conselhos sobre

os melhores lugares de venda, como bancas de jornal, bares, lojinhas de rua, estações de

metrô, ambulantes etc., incluindo máquinas especiais para vender esses cartões ou

mesmo recarregá-los.

Entretanto, o ideal mesmo seria que o cartão servisse para todas as vending

machines e, extrapolado, que fosse universal, podendo ser usado em outros aparelhos

também, como telefones públicos. Para isso, os créditos viriam em dinheiro e não em

unidades.

Em outro momento, os estudantes tentaram delinear o perfil de dois tipos de

consumidor por máquina: o freqüente e o resistente. Ao descreverem o consumidor

típico de vending machines, caracterizaram-no como alguém que busca rapidez, por ser

muito atarefado, impaciente, prático ou dinâmico. Além de ter esse perfil apressado,

estaria habituado a lidar com máquinas em geral ou, pelo menos, teria alguma afinidade

com elas, desenvolvendo algum fascínio pela modernidade. A curiosidade inerente a

esse consumidor, que não tem conflitos com novidades, faz dele uma pessoa descolada,

nada acanhada. Pode até ser um idoso consumista ou um “coroa” atraído pelo visual da

máquina, mas geralmente é uma pessoa jovem, de uma geração já adaptada aos

costumes tecnológicos contemporâneos.

“(...) ela é agitada, com pressa, vida corrida. Mesmo que estejacom pressa pra dormir, sabe, chegar em casa pra deitar no sofá, mas,assim, a vida dela funciona a mais quilômetros por hora do que outras.Eu percebo que as pessoas geralmente se utilizam de mais tecnologia doque outras, algumas, assim. Foi como eu falei, esse meu amigo teminternet, tem rádio, já tem MD, já tem DVD. Ele transa bem com tudo.Só faz as coisas do banco – depósito, não sei o quê – pelos caixaseletrônicos, entendeu?! Tudo bem que... Mesmo que não tenha fila, ele

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faz pelo caixa eletrônico. Assim, ele acha prático, ele pega lá, ele faz odele, não tem que...” (M.S., 18, m.);

“Acho que são pessoas assim, por exemplo, que não têmproblemas com novidade, sabe?! Elas estão sempre dispostas a... Porquetem que aquelas pessoas que são mais acanhadas, assim: ‘Às vezes euvou chegar na máquina, será que vai dar algum problema? Vouconseguir?’. Geralmente, são as mais despojadas, as mais assim quetopam qualquer coisa. (...)” (T.B.B., 17, f.);

“Acho que esse negócio de ser moderno, também até pelacuriosidade. Tem gente que eu conheço que é curiosa, quer mexer. Essascoisas. É gente da minha idade, a maioria que eu conheço, que usa asmáquinas. A minha mãe não usaria a máquina. Caixa eletrônico debanco... ela tem medo. Pelo menos eu acho que nunca imaginaria elamexendo numa máquina. Acho que uma pessoa, assim, da nossa idade,mais novo, que vive esse negócio de tecnologia, é mais fácil” (V.B., 23,f.).

Para desenhar, com mais detalhes, o perfil do ‘consumidor freqüente por vending

machines’, pediu-se que os entrevistados fizessem um exercício de imaginação.

Deveriam criar um personagem que fosse um assíduo comprador por máquinas,

segundo alguns atributos determinados, quais sejam idade, atividade principal, sexo,

classe sócio-econômica, cor de pele, religião, traço de personalidade e hobbies.

No imaginário do grupo entrevistado, o consumidor médio por VM ficou

representado assim: jovem, entre 15 e 21 anos, exercendo a atividade de estudante, o

que é coerente com a idade apresentada (as profissões dinâmicas, como empresário,

jornalista, vendedor e profissional de Internet, foram citadas por uma minoria, um

pequeno grupo que elegeu uma idade mais elevada, em torno dos 25 anos); do sexo

masculino; classe sócio-econômica B/média, por conta do potencial de consumo, e de

cor branca, essa relacionada à classe escolhida; de religião indefinida, podendo também

ser ateu ou católico, praticante ou não (esse foi o aspecto em que os entrevistados mais

titubearam, muitas vezes optando pelo catolicismo por considerarem um padrão

brasileiro); de personalidade sociável (com muitas outras atividades além do

estudo/trabalho), agitada (os respondentes usaram expressões como “estressada”,

“impaciente”, “ansiosa”, “apressada” e “ elétrica”), moderna (esse é um termo um tanto

vago que caracterizaria pessoas antenadas, versáteis, dinâmicas, que adoram novidades

e não têm medo de tecnologia; pelo contrário, são íntimas de máquinas) e um tanto fria,

pela busca de praticidade na forma de comprar; e, finalmente, com hobbies variados,

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mas intimamente ligados a todos os aspectos anteriores, como praticar esportes

(especialmente futebol, skate e estilos radicais), sair com os amigos (os programas

costumam ser shopping center, cinema e discoteca, de preferência com música

eletrônica), navegar na Internet (aproveitando para entrar nas salas de bate-papo), ver

televisão a cabo e estudar inglês.

Em contraposição, estão os consumidores resistentes às máquinas de venda

automática. Por exemplo, 25% dos estudantes abordados inicialmente, pelo questionário

aplicado, nunca haviam utilizado uma máquina de auto-serviço, o que surpreendeu o

grupo entrevistado, que acabou tendo dificuldades em explicar o porquê (talvez por uma

resistência crítica, própria de estudantes de comunicação social).

“Eu acho muito estranho. Parece até uma pessoa que não moraaqui, não é da nossa realidade, porque isso é tão comum né?! Nunca terusado... Não sei, eu não vejo uma explicação assim. Parece um ET,assim.” (F.M., 20, f.);

“Eu acho que mesmo que você ache que é... ‘ah, é meiodesnecessário e tal’, mas como é que nunca tiveram curiosidade dechegar lá e ‘ah, eu vou ver como é que é’, entendeu?! ‘Eu vouexperimentar, pelo menos para ver se é legal, se me ajuda em algumacoisa’. Assim, eu não consigo imaginar por quê.” (D.J.S., 19, f.);

“(...) Eu vejo uma maquininha e quero ver, quero aprender amexer, sabe?! As luzes, tudo chama a atenção, entendeu?! Acho muitafalta de curiosidade nunca ter chegado na frente de uma máquina e nemvisto uma máquina ou ter contato... É muito out do mundo, é muito forado mundo. Porque qualquer lugar, você vai numa favela e tem umamaquininha dessa de chicletes. Você vai num barzinho da esquina, umboteco não se da onde e tem. Acho meio difícil.” (L., 21, f.)

A impressão do grupo é de que os consumidores mais resistentes às máquinas de

venda automáticas têm características bastante definidas. Seriam pessoas idosas, maioria

acima dos 60 anos, que não viveram a cultura de máquina durante a sua juventude, ou

pouco esclarecidas, que ignoram as informações sobre essa tecnologia, ou gente de

baixo poder aquisitivo, que têm outras prioridades de consumo. Também é possível que

sejam jovens, bem-informadas e de classe média, mas tenham certa aversão às

inovações tecnológicas, seja por vergonha de errar ou por medo dos problemas.

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Mas dentre esses aspectos, o que o grupo considerou como fator de influência

predominante sobre o consumo automático foi a idade. Seguem alguns depoimentos

sobre a compra pelos mais velhos:

“A tendência das pessoas de mais idade é se intimidar diante deuma máquina, criando uma certa resistência ao seu uso. Acredito que osmais jovens, por estarem mais acostumados com a tecnologia e abertos anovidades, usem as VMs com maior freqüência. Posso estar errada, poisnão tenho embasamento teórico ou científico sobre o assunto” (F.C., 20,f.);

“Tipo assim, eu falo dos meus amigos porque é todo mundo porvolta dos 20, 20 e poucos anos e tal. Eu vejo assim, já os meus pais, sabe,têm muito mais preconceito de usar a máquina, de não entender: ‘Ah, émuito botãozinho; os desenhos são pequenos, eu não vou ler, vou ter quebotar os óculos’. Assim, os meus avós jamais chegariam perto - eu falopelos meus avós. Acredito que, de uma forma geral, as pessoas maisidosas têm mais preconceito com relação à máquina” (M.F., 20, f.).

“(...) Ou, então, no início, pelo menos no início mostrar como é.Isso tem que ter; às vezes, tem pessoas mais idosas que nem cogitam apossibilidade, sabe como é?! Acho, assim, que tem assim: tem jovens quecogitam a possibilidade já da Internet, que isso é muito batido hoje emdia, computador em si, tem os meia-idade, que alguns cogitam, outrosnão, e tem os idosos, que eu acho que já estão bem mais à parte disso,sabe?! Eu acho que é muito longe pra eles ainda essa coisa. Aliás, tipoassim, microondas, essas coisas, eles têm aversão a isso, sabe?!” (M.S.,18, m.).

“A infância dela, a adolescência dela não foi habituada com essascoisas, de botão, de jogo eletrônico e tudo. Então a gente está muito maisacostumada a mexer e botar a cara... Minha mãe fica com vergonha demexer no negócio, de não saber colocar e ter que perguntar. Eu acho queé mais fácil para a nossa geração, sabe?! Da minha idade, eu tenho 23, sefor mais nova então é melhor ainda porque estão mais acostumadas aindado que a gente.” (V.B., 23, f.).

Por fim, na qualidade de consumidores experientes de VMs, os estudantes deram

conselhos de como acabar, ou pelo menos diminuir, o índice de resistência ao uso dessas

máquinas. Seguem as ações mais importantes: instruções visíveis, simples e claras;

pessoal treinado, pelo menos no início, para explicar e demonstrar como elas

funcionam; marketing do canal, principalmente propaganda, usando anúncios e

promoções; e aumento da variedade de produtos visando a atender a gostos variados.

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5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE PESQUISAS FUTURAS

Mesmo antes de iniciar esse trabalho já se podia suspeitar que a venda

automática estava engatinhando no Brasil, já que eram raras as publicações a respeito, o

índice de utilização das VMs para consumo era baixo e o assunto não costumava ser

enfocado em muitas pesquisas. Mas, após terminá-lo, a suspeita foi reforçada, como se

pode perceber pelo exposto a seguir. Vejamos.

Em meio à crescente competição por market share na Indústria de bebidas e

alimentos, as máquinas de venda automática – vending machines – surgem como mais

uma opção de canal de distribuição, para atender aos consumidores, escoando

mercadorias. No entanto, parece que o Setor de venda automática ainda não têm noção

da importância da VM como alternativa de meio de vendagem.

Isso pode ser inferido das conversas com os representantes do setor,

especialmente quando demonstram o pouco interesse em conhecer o consumidor por

máquinas, a começar pela quase inexistência de iniciativas de pesquisas com o cliente.

Entendendo o consumidor, eles estariam aptos a adaptar as máquinas vendedoras à

realidade, à cultura, em que ele se insere, mas não é essa a atitude que vêm tomando.

Apesar de eles não estarem totalmente alheios aos sentimentos dos consumidores

por vending, percebendo neles, por exemplo, os receios de errar no manuseio, do troco

falhar, de não receber o produto e ter problemas com a nota, as estratégias das empresas

costumam girar mais em torno dos pontos de venda: para que um local seja aprovado e

ali seja instalada (ou mantida) uma VM é preciso atingir algumas metas, como o número

de circulação de pessoas, o ponto de equilíbrio nas vendas, o índice de vandalismo na

região etc. Enfim, enquanto fazem elaborados planejamentos para decidir onde instalar

uma máquina de auto-serviço, ignoram as necessidades de quem vai utilizá-las.

A distância tecnológica entre a Indústria brasileira e a norte-americana, o alto

investimento inicial com equipamentos - a maioria importados – e o atraso temporal na

introdução das máquinas aqui são as poucas explicações do Setor para as indagações

sobre o baixo índice de consumo automático pelos brasileiros.

É certo que os Estados Unidos está tecnologicamente mais avançado que o

Brasil. Lá o consumidor já pode manusear os produtos antes de escolher e comprá-los

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com cartão de crédito ou celular e, em breve, com palmtop. Mais que isso, os softwares

de controle de dinheiro, fluxo de mercadorias e estoque estão mais desenvolvidos a cada

dia. Obviamente, o preço, em valor real, das vending machines é bem mais baixo que

aqui – afinal, são eles os maiores fabricantes dessas máquinas no mundo -,

proporcionando uma ampla distribuição delas por todo o país e, conseqüentemente,

facilitando o acesso dos consumidores a essa nova opção de canal de venda. E, é claro

também que, tendo sido uns dos primeiros do mundo a implementar o uso das vending

machines, os Estados Unidos têm a vantagem de já terem habituado sua população a

comprar por máquina. São mais de 20 anos de diferença com relação ao Brasil, que só

conheceu as maquininhas eletrônicas em 1992.

Mas nenhum desses fatores pode ser entendido como determinante do fracasso

nas vendas automáticas para brasileiros; seria uma conclusão demasiado maniqueísta. É

até compreensível que sejam usados para explicar o pouco uso das máquinas, afinal não

se havia escutado ainda o que os próprios consumidores teriam a dizer, uma falha em

que os representantes mesmos admitem ter incorrido. A seguir estão alguns resultados

das entrevistas feitas com o grupo-consumidor selecionado – os estudantes de

comunicação social consumidores freqüentes por vending machines –, proporcionando

um melhor entendimento do comportamento de consumo automatizado dos brasileiros.

Vale salientar que o comportamento dos consumidores em questão não reflete o

comportamento geral do consumidor brasileiro, uma vez que aquele possui

características particulares, próprias de estudantes universitários, em especial o espírito

crítico típico de aprendizes de jornalismo e relações públicas. A interpretação

encontrada aqui é, portanto, tomada a partir de um determinado ponto de vista, ou seja,

um retrato dos valores culturais de um grupo específico que não pode ser generalizado

para outros grupos.

Os estudantes ‘consumidores freqüentes por vending machines’ percebem as

máquinas de maneira muito particular, mas não estão habituados a pensar sobre o

assunto, trocar experiência a respeito (sequer conheciam a expressão em inglês que

denomina as máquinas vendedoras) e expor suas idéias, tendo apenas se dado conta das

suas próprias sensações e necessidades com relação à compra por máquina por causa das

entrevistas a que foram submetidos durante o desenvolvimento dessa dissertação.

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À medida que as conversas iam fluindo, os entrevistados iam refletindo mais a

fundo sobre as suas atitudes no relacionamento com as VMs. Quando perguntados sobre

a primeira vez em que usaram uma máquina de vender, por exemplo, demoraram a

responder, mas, com o tempo, foram se lembrando de detalhes da situação, inclusive de

que foram tomados de grande entusiasmo à época. Também recordaram com minúcia as

mudanças nos equipamentos e se haviam sido de seu agrado e mesmo as transformações

no seu próprio comportamento de consumo em vista de uma nova alternativa de canal.

Ou seja, apesar da falta de hábito em conversar sobre vending machines, ao serem

estimulados a falar, os consumidores se tornaram uma rica fonte de informação.

Contatou-se que os consumidores são bons conhecedores das máquinas que

usam, tendo eles citado inúmeros tipos de produtos que são vendidos por elas. A lista

incluiu os caça-níqueis, pois os associaram a vending machines de diversão; para eles a

definição de VMs, ‘máquinas de vender coisas’, não exclui a venda de serviços, tal

como o divertimento. E percebe-se também que para que aprendam a utilizar uma

máquina de venda é importante praticar a compra automática, i.e., não basta olhar ou

ouvir falar que elas existem, é preciso mexer realmente, o que vem acontecendo com

relação às máquinas de refrigerantes no Brasil. Por estarem mais disseminadas aqui, o

brasileiro vem criando um hábito tão forte em utilizá-las que acabam sendo

consideradas como uma vending fácil de operar, ao contrário das demais, reconhecidas

como complicadas pela maioria.

Rapidez e praticidade versus desemprego, anti-socialização, falhas operacionais

e fraco atendimento ao cliente: esse é o dilema do consumidor por máquinas. Ao mesmo

tempo que adoram poder fazer compras com facilidade, ficam chateados com os erros

que as máquinas apresentam e os problemas que podem gerar na sociedade. As

máquinas vendedoras ainda são percebidas como as culpadas pela perda de emprego dos

vendedores ambulantes, o que é verificado pelo sentimento de pena do consumidor

pelos que deixam de trabalhar ao serem substituídos por “robôs”.

Não parece ser só o sentimento humanitário que faz com que os entrevistados às

vezes prefiram comprar em autônomos a comprar em máquinas. Eles vêem os

vendedores humanos como garantia de que receberão o produto e não terão sua cédula

roubada – dois dos problemas mais comentados -, além de terem a quem recorrer caso

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haja algum defeito na mercadoria (o atendimento ao cliente das vendings é pouco

conhecido dos consumidores). Na visão deles, lidar com o homem é menos arriscado,

mas mesmo assim, ainda que prometam nunca mais consumir por máquina depois de

lidarem com algum erro, voltam a usar as máquinas de auto-serviço, o que indica que o

hábito de máquina não se perde depois de adquirido, embora as muitas falhas concorram

para que isso aconteça e o ambulante continue disputando o mercado. Mesmo porque,

em verdade, os entrevistados acreditam que sempre haverá espaço para ambos os tipos

de canal.

Uma outra observação é que o consumidor gostaria de poder pagar pelo produto

da forma que melhor lhe convier (cédula, moeda, cartão especial, cartão de crédito etc.)

e não se preocupar se a máquina dá troco ou não, o que seria muito mais cômodo e

menos angustiante. A expectativa de que terão uma bebida gelada também não deveria

ser frustrada, o que poderia ser resolvido com algum mecanismo de aviso ao público de

que as máquinas foram recém-abastecidas. E, finalmente, para os iniciantes ou mais

distraídos, informações claras e fáceis de enxergar ajudariam no manuseio correto da

VM, diminuindo o índice de erro. Essas são soluções razoavelmente simples que

inclusive amenizariam o receio de muitos no uso de máquinas de auto-serviço.

É natural que eles, por outro lado, consigam ver vantagens em se comprar por

máquinas, afinal são consumidores assíduos desse meio, mas são conscientes das

desvantagens. Numa comparação com outros canais de venda, o senso-crítico dos

respondentes permite que eles discriminem pontos positivos e negativos: variedade do

supermercado X facilidade da VM; flexibilidade do ambulante X credibilidade da VM;

conforto do delivery X agilidade da VM; o conjunto segurança-multifuncionalidade-

conveniência-variedade das lojas de conveniência X preços mais baratos da VM;

socialização do bar X limpeza da VM; glamour do restaurante X objetividade da VM.

Mas, dentre todas essas opções de canais, a preferência unânime dos consumidores foi

pelos restaurantes, reforçando mais uma vez a valorização do relacionamento

interpessoal, uma vez que o ambiente proporciona relações não só com o garçom mas

também com as companhias à mesa e os desconhecidos ao redor.

É essa necessidade de relacionar-se do brasileiro, associada ao baixo

desenvolvimento sócio-econômico e tecnológico do país, além do retardo de 20 anos na

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introdução das máquinas aqui, que poderia explicar o fraco desempenho das vendas

automáticas no Brasil em relação a outros países na visão dos próprios consumidores.

Eles enxergam com nitidez a existência dessa lacuna entre nós e países menos

relacionais como Estados Unidos, Canadá, Japão, Austrália e algumas nações européias.

No entanto, acreditam que esse atraso não perdurará, justificando que o povo brasileiro é

consumista e curioso com novidades o bastante para se adaptar à ‘cultura de máquina’.

Ou seja, embora entendam que temos características diferentes das de outros países onde

as vendings são um sucesso, não deixam de crer que a situação da venda automática no

Brasil poderá se reverter com o tempo. Aqui, incluem a questão do desemprego, que

poderá ser sanada com ajuda do governo – idéia paternalista – em realocar os

vendedores ou prepará-los melhor para desempenhar outras funções.

Além do desemprego, outro problema estrutural que preocupa os consumidores

por vendings é a possibilidade de as máquinas causarem uma anti-socialização entre as

pessoas, pelo desaparecimento do contato humano. Os entrevistados não conseguiram se

imaginar vivendo numa sociedade em que, por exemplo, todos os vendedores fossem

substituídos por máquinas, ou mesmo freqüentando, hoje, locais que só houvesse auto-

serviço como as Vending Rooms nos Estados Unidos, a não ser por interesse inicial de

conhecer esses ambientes. Sentiriam falta do relacionamento com o atendente, seja

simplesmente pelo papo seja pelas vantagens dele decorrentes como sanar dúvidas, dar

um jeitinho nos problemas, customizar a compra etc. Enfim, eles ainda valorizam o

atendimento personalizado.

Tanto que quererem transportar essa personalização, encontrada na relação com

o vendedor humano, para as máquinas. Dessa forma, aconselham que se criem

diferenciais para as mercadorias de máquinas, como acessórios facilitadores (canudinho,

copos descartáveis, saquinho de bala), que se aumente a comunicabilidade entre usuário-

máquina, seja por tela e teclado interativos, seja por avisos automáticos (para quando as

bebidas ainda estão quentes ou a VM está fora de operação, por exemplo), seja por meio

de um telefone de reclamações de fácil acesso. A necessidade de humanizar a relação

com as vendings é tão forte que alguns consumidores disseram que a máquina ideal seria

uma VM falante que cumprimentasse o cliente, perguntasse o que ele deseja e como

deseja, sugerisse a compra de determinados produtos e agradecesse ao final.

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E os consumidores não medem esforços para dar sugestões de melhoria da

máquina. A partir das suas próprias necessidades de consumo automático e da

observação, eles dão outras dicas ao setor: variar os produtos, incluindo novas opções

de bebidas (sucos naturais, mate e cerveja) e de comidas (produtos naturais,

salgadinhos, churros, sorvete e chocolates), produtos de higiene (escova e pasta de

dentes), itens de primeiros socorros, remédios, jornais e revistas, cigarro, pilhas e

baterias, absorventes, maquiagem, bijouterias, bilhetes de metrô e, os mais citados,

materiais de escritório, camisinha e brinquedinhos; expandir os locais de venda,

instalando máquinas especialmente em cinemas, casas noturnas, meios de transportes

(trens, barcas, ônibus), todas as estações de metrô, rodoviárias, colégios, faculdades,

hospitais, empresas (escritórios de trabalho), academias de ginástica, banheiros, praias e

nas ruas; modificar os equipamentos para que possam oferecer variedade na mesma

máquina ou comida e bebida juntos; atentar para detalhes como a altura ideal do buraco

de saída para que esteja ao alcance de todos, o tamanho desse buraco para que não

machuque ninguém, botões auto-explicativos e design mais agradável.

Aproveitando essa boa-disposição dos entrevistados em dar idéias para melhorar

a aceitação das máquinas, foram apresentadas a eles três hipóteses de formas e

pagamento inovadoras: cartão de crédito, telefone celular e cartão especial para

máquinas. A reação dos consumidores foi de cautela em todas elas, justificada em

grande parte pelo medo de fraudes, fraudes estas consideradas por eles mesmos como

parte do dia-a-dia brasileiro. Em separado, o cartão de crédito lhes pareceu caro demais

para compras tão baratas e o celular complicado demais para compras tão simples, mas

o cartão específico para compras por VMs lhes agradou bastante. Com ele, o portador

tem maior controle sobre os gastos, se sente mais seguro (se roubarem, a perda não é tão

relevante) e aproveita uma maior praticidade que com as notas (as cédulas de real

quando amarrotadas são cuspidas).

Ao final pôde-se delinear dois perfis opostos de consumo por vending machines:

o consumidor freqüente e o consumidor resistente. O constrangimento, sentimento

comum aos que não têm o hábito de usar máquinas de auto-serviço, por exemplo, não

faz parte do dia-a-dia dos usuários freqüentes – acostumados a lidar com qualquer tipo

de máquina -, que somente se sentem assim quando são atentamente observados pelas

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pessoas em sua volta. Reflexo disso é que eles sempre têm iniciativa de ajudar às

pessoas que acham complicado consumir por máquina, explicando passo-a-passo como

operá-las.

Esse despojamento é explicado em parte por uma característica comum aos

consumidores por vending: a curiosidade. Qualquer novidade que surja no mercado de

venda automática deixa de sê-la imediatamente para eles, até porque é uma maneira de

se divertirem também. Aqui, faz-se uma breve interrupção da análise dos perfis de

consumidor, para salientar que alguns depoimentos, curiosamente, se referem às

máquinas como passatempo, o que é contraditório à razão de elas existirem, pois têm o

objetivo justamente de tornar a vida das pessoas mais prática pelo consumo ágil. Então,

se o setor apelasse em atrair o público visualmente (com design, cores e desenhos

agradáveis), estaria abarcando mais consumidores, um segmento que não

necessariamente quer uma bebida/comida rápida, mas sim se distrair com a nova

tecnologia.

De volta à análise dos perfis, o consumidor típico – ‘consumidor freqüente por

vending machines’ - seria alguém que busca rapidez, está habituado a lidar com

máquinas em geral ou, pelo menos, teria alguma afinidade com elas, é curiosa, não tem

problemas com novidades e é geralmente jovem. Eles explicam que a questão da idade

não é definitiva, melhor dizendo, basta que as próximas gerações se adaptem aos novos

costumes tecnológicos para que, daqui a algum tempo, não haja mais diferenciação por

idade (os velhos de hoje dariam lugar a novos velhos, já habituados ao uso de máquinas

vendedoras).

No imaginário do grupo consumidor entrevistado, a quem foi aplicada uma

técnica projetiva, o personagem ‘consumidor freqüente por vending machines’ ficou

assim: idade entre 15 e 21 anos, estudante, homem, classe sócio-econômica B ou média,

branco, religião indefinida, sociável, agitado, ‘moderno’, um tanto frio, e com hobbies

variados (pratica esportes, sai com os amigos, navega na Internet, vê televisão a cabo e

estuda inglês).

A impressão do grupo é de que os consumidores mais resistentes às máquinas de

venda automática também têm características bem definidas. Seriam pessoas acima dos

60 anos, que não viveram a cultura de máquina durante a sua juventude, ou pouco

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esclarecidas, que ignoram as informações sobre essa tecnologia, ou gente de baixo poder

aquisitivo, que têm outras prioridades de consumo, ou jovens avessos às inovações

tecnológicas, seja por vergonha de errar, por medo dos problemas ou por pura crítica.

Entretanto, na visão do consumidor, existem soluções a essa resistência. Além da

utilização de instruções mais visíveis, simples e claras, de pessoal treinado para explicar

e demonstrar como as máquinas funcionam, no início, de mais ousadia no marketing do

canal como alternativa para o consumidor, e de aumento da variedade de produtos

visando a atender a gostos variados, é essencial que a introdução das máquinas seja feita

mais gradualmente para que não cause um choque no povo brasileiro e ele se adapte

pouco-a-pouco a esse consumo automático.

O grande mérito dessa dissertação foi, portanto, ter abordado a visão do

consumidor, com suas opiniões, sugestões e questionamentos, mostrando que se as

máquinas já existentes aqui se adequassem às exigências deles muito provavelmente

teriam maior sucesso.

Mais que isso, se, como se notou, as pessoas que têm o hábito de usar as

máquinas de venda automática têm prazer em falar do assunto - o mesmo entusiasmo de

um iniciante curioso com as máquinas foi o que norteou o desenrolar das entrevistas,

provando que eles realmente acharam interessante a oportunidade de poderem se

expressar quanto ao tema44 -, é recomendável que se aproveite isso com freqüência para

que o setor de venda automática esteja sempre em consonância com os seus

consumidores, que ficaram inútil e infelizmente calados por tanto tempo.

O presente trabalho pode ser caracterizado ainda como precursor de estudos

acadêmicos brasileiros sobre vendas automáticas. Sendo assim, abre caminho para

inúmeros outros, diretamente ou indiretamente relacionados a esse. É possível sugerir

temas de pesquisas a serem fundamentados ou, pelo menos, apoiados por referência,

nesse, a saber:

44 A entrevistadora não notou sinais de cansaço, tédio ou aborrecimento em nenhum dos entrevistados.

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- Qual a influência da cultura brasileira no comportamento de consumo por

máquinas, ou seja, de que maneira as peculiaridades da nossa cultura poderia estar sendo

responsável pelo baixo índice de compra por vending machines;

- Como adaptar a compra automática à realidade brasileira. A partir, talvez, do

estudo proposto acima, apresentar sugestões de mudanças no Setor para melhor atender

às necessidades do consumidor brasileiro;

- Entender as preferências do consumidor por vending e, conseqüentemente, os

pontos fortes e fracos do sistema, por meio de pesquisa que revelasse a percepção dos

consumidores com relação a cada tipo de máquina vendedora;

- Desenhar o perfil do ‘consumidor freqüente por vending machines’, o que

facilitaria ao setor de venda automática focar no público mais inclinado a comprar por

VMs;

- Por que alguns grupos (etários, sócio-econômicos etc.) ainda não se adaptaram

aos canais automáticos e como reverter esse quadro de resistência;

- Como é o relacionamento do brasileiro com as máquinas, especialmente com as

vending machines, em comparação (ou não) com outros povos;

- Comparar mais a fundo as crenças dos representantes do setor – entrevistá-los

em quantidade - com as reais necessidades dos compradores por máquinas, para

evidenciar a lacuna existente entre a percepção de cada lado do sistema de venda

automática;

Enfim, ao entender a situação das Vending Machines no Brasil, a presente

dissertação ajudaria a lançar idéias para publicações acadêmicas mais específicas que

essa, uma vez que ainda há escassez de estudos nessa área.

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7. ANEXOS

Anexo 1: Pesquisa eletrônica de preferência (consumidores brasileiros)

4Qual é o tipo de produto que você procura em vending machines?

Refrigerantes 29.60%

Sucos 20.00%

Achocolatados 12.00%

Isotônicos /

Energéticos

7.20%

Chás 3.20%

Outros 28.00%

Fonte: http:\\www.vending.com.br

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Anexo 2: Questionário de pesquisa definitivo

QUESTIONÁRIO DE PESQUISA

O questionário tem como objetivo estudar o grupo “estudantes universitários do

curso de Comunicação Social da UERJ”, observando especialmente seu consumo por

máquinas automáticas, tecnicamente conhecidas como vending machines (máquinas que

vendem produtos como refrigerantes, cartões de celular, snacks etc.). Seus resultados

farão parte da dissertação de mestrado de uma ex-aluna da FCS, que agradece

antecipadamente a atenção dos futuros colegas e se coloca a disposição para quaisquer

outros esclarecimentos.

Período: ____

Idade: ____ anos

Sexo: ____

Bairro de residência: _________________________

Renda familiar média: R$ ___________

(obs: o preenchimento desse último campo não é obrigatório, mas importante)

1) Você usa vending machines? (desconsidere as ATMs, ou seja, os caixas eletrônicos

de banco)

(a) Sim

(b) Não

2) Com que freqüência você as utiliza? (= quantas vezes por semana em média)

(a) Sempre (= todos os dias)

(b) Quase sempre (= 6 ou 5 vezes por semana)

(c) Geralmente (= 4 ou 3 vezes por semana)

(d) Às vezes (= 2 ou 1 vez por semana)

(e) Quase nunca (= menos de 1 vez por semana)

(f) Nunca (= não uso)

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3) Porque você as usa com a freqüência respondida no item 2?

4) Quais produtos você mais compra por meio de máquinas automáticas?

5) Você teria disponibilidade para conversar mais a respeito em outra ocasião?

(a) SIM

(b) NÃO

6) Se sim, como eu faço para marcar uma entrevista? (Se possível, disponibilizar nome,

telefone e horário mais adequado)

7) Comentários a respeito da pesquisa e seu objeto:

Muito obrigada pela atenção.

Rio de Janeiro, fevereiro-março de 2001.

Renata Razuk

Jornalista pela UERJ

e mestranda em Marketing pelo COPPEAD/UFRJ

OBS: Após completar o formulário, favor deixá-lo na Secretaria da FCS ou com a

própria pesquisadora.

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Anexo 3: Roteiro para a entrevista com os consumidores

ROTEIRO DE ENTREVISTA (CONSUMIDORES)

4[Perguntas iniciais para tirar quaisquer dúvidas sobre o questionário preenchido

anteriormente]

4O que você entende por vending machines? (=máquinas automáticas)

4Já as conhecia por esse nome ou foi só a partir do preenchimento do meu

questionário? Por quais nomes você as conhecia?

4Lembra-se da primeira vez em que você utilizou máquinas automáticas? Quando foi?

Qual máquina usou? Como foi essa experiência? (sensações etc.)

4De lá pra cá, por existirem a vendings e você já conhecê-las, alguma coisa mudou nos

seus hábitos de compra em geral?

4Nesse tempo, você percebeu mudanças nas máquinas em si? (na sua

operacionalização, layout, pontos de venda diferentes). Você gostou dessas mudanças?

(lembrar da mudança das fichas para dinheiro em espécie)

4Que máquinas você já conhece (produtos) mesmo que não as tenha usado? Quais já

usou? Quais usa com mais freqüência?

4Qual você considera mais fácil de usar? Por quê?

4Você pode confirmar/repetir com que freqüência usa as máquinas de venda

automática, em vezes por semana? Explique melhor seus motivos para usá-las com essa

freqüência. (=Por que não as usa com mais freqüência?)

4O que você acha dos preços praticados nas vendas por máquinas?

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4Dentre as pessoas de seu convívio (amigos, parentes etc.), você consegue estimar

quantos usam as VMs com freqüência? O que essas pessoas têm em comum?

4Na pesquisa com os questionários, cerca de 25% dos respondentes disseram NUNCA

terem usado uma vending. Você consegue imaginar por quê?

4Como é o seu relacionamento com as máquinas em geral (não necessariamente as

vendings)?

4Conte-me alguma situação em que se sentiu constrangido de utilizá-la;

4E uma situação em que sentiu orgulhoso ou pelo menos feliz de saber utilizá-la;

4Você já ajudou alguém a operar uma máquina de venda automática? Como foi?

4Você acha que pessoas como você, que têm o hábito de utilizar essas máquinas,

tendem a querer ajudar quando percebem alguém com dificuldades?

4Na sua opinião, como são as pessoas (características gerais) que MENOS consomem

por máquina?

4O que poderia ser feito para incentivar essas pessoas mais resistentes a utilizar as

VMs?

4Você já comprou numa VM, mesmo sem sede/fome, pelo simples fato de querer

mexer na máquina, por curiosidade?

4Qual ou quais são as vantagens de se comprar por meio de máquinas? (enumerar)

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4E as desvantagens? (enumerar)

4E quais você considera serem os maiores problemas das máquinas de venda

automática? Você já enfrentou problemas ao tentar usar uma máquina de venda

automática? Como lidou com a situação?

4Você percebeu que existe um número de telefone 0800 para atendimento ao cliente

colado nas máquinas? Já utilizou esse serviço?

4O que poderia mudar para que você passasse a comprar mais por esse canal?

4Entre utilizar a máquina e comprar o produto num ambulante que esteja passando ou

num bar ao lado, o que prefere? (incluir a questão do preço ser igual caso surja alguma

dúvida a respeito). Por quê? E se fosse uma lanchonete?

4Para você, em quais outros locais deveria haver máquinas de vender? Por quê?

4E na UERJ, por exemplo?

4Você conhece as VMs da UERJ (a de refrigerantes do 11º e de cartão-telefônico no

térreo)? Já utilizou alguma delas?

4Quais os locais de sua preferência para se comprar por vending?

4Em que países você imagina que as VMs sejam mais utilizadas do que aqui? Qual

seria o motivo disso?

4Você acha que o brasileiro pode passar a comprar tanto através de máquinas como os

consumidores desses países que você comentou? O que falta para eles passarem a

comprar mais por elas?

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4Como você imagina o futuro das máquinas de vender no Brasil?

4Imagine que todos os vendedores humanos fossem substituídos por máquinas. Você

sentiria falta do contato interpessoal?

4Você freqüentaria um local onde só existissem mesinhas ao centro e várias máquinas

de auto-serviço ao redor?

4Fale-me a respeito de outros meios que utiliza para fazer compras e quais as

vantagens e desvantagens em relação às máquinas (comparar): supermercados, lojas de

conveniência, ambulantes/camelôs, bares de rua, restaurantes, delivery (por telefone ou

internet), etc.

4Agora, tente me descrever o consumidor por máquinas no Brasil. Como ele é na sua

opinião? Façamos um exercício de imaginação, criando um personagem a partir das

seguintes variáveis: idade, profissão, cor, sexo, religião, classe sócio-econômica,

hobbies e personalidade.

4Que tipo de máquina de vender ainda não foi inventado e você acha que seria sucesso

por aqui?

4Como seria a vending machine ideal, na sua opinião?

4Eu tenho três hipóteses de novas formas de pagamento. Eu vou citá-las e gostaria de

saber o que você acha delas como alternativa para o pagamento em dinheiro: cartão de

crédito; celular; e cartão com créditos no mesmo estilo do cartão-telefônico.

4Gostaria de falar algo mais sobre as máquinas vendedoras?

Muito obrigada pela entrevista. Gostaria de poder entrar em contato novamente caso

precise de mais informações ou queira esclarecer alguma dúvida. É possível?

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Anexo 4: Resultados do pré-teste com o questionário provisório

Antes da concretização da primeira fase de pesquisa com o grupo dos estudantes

de comunicação – aplicação do questionário-filtro –, foi feito um pré-teste para auxiliar

na sua validação. Esse teste aconteceu durante o primeiro dia de inscrição em disciplina

(no total, foram seis dias) da Faculdade de Comunicação Social da UERJ, quando a

pesquisadora observou os seguintes problemas no questionário provisório:

1 - alguns alunos não conheciam as máquinas automáticas por vending machines, termo

utilizado logo na introdução, e assim questionaram o seu uso;

2 - às vezes os respondentes incluíam o uso das ATMs, como se fossem vending

machines, ou seja consideravam o uso de caixas automáticos de bancos ao responder o

item 1 (“Você usa vending machines?”) e afins;

3 - os estudantes não costumavam colocar ao lado da freqüência o número de vezes por

semana em que usavam as máquinas, como havia sido pedido pela pesquisadora no item

2 – “Com que freqüência você utiliza as vendings? (ao lado, escrever quantas vezes por

semana em média)”;

4 - ainda no item 2, havia a tendência de se marcar a letra C, freqüência ‘às vezes’, o

que pode ser explicado por ser mais confortável escolher a resposta intermediária (havia

um número ímpar de opções: cinco), especialmente quando se está em dúvida;

5 - a maioria dos respondentes não entendeu o item 3 (“Por que você as usa [a

freqüência respondida no item 2]?”), uma vez que em geral respondia simplesmente por

que usa (ou não) as máquinas e não por que as usa com a freqüência respondida no item

anterior;

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6 - No item 7 (“comentários a respeito da pesquisa e seu objeto”), muitos fizeram

perguntas em vez de comentários, devido à curiosidade que a pesquisa suscitou;

Por isso, a pesquisadora achou importante reformular o questionário e, para cada

um dos problemas acima citados, tomou as seguintes medidas, respectivamente:

1 – acrescentou-se na introdução às perguntas a expressão “tecnicamente conhecidas

como vending machines”, além de explicar entre parêntesis a função dessas máquinas;

2 - no item 1 foi colocada a explicação entre parêntesis “desconsidere as ATMs, ou seja,

os caixas eletrônicos de banco”;

3 - especificou-se a freqüência nas próprias opções de resposta para facilitar;

4 - a freqüência foi desmembrada em 6 tipos diferentes (número par de opções), para

evitar a tendência de respostas intermediárias que costuma ocorrer quando existe

número ímpar de respostas;

5 - a pergunta ficou mais clara ao se explicitar de forma direta na pergunta “(...) com a

freqüência respondida no item 2”;

6 – a pesquisadora se colocou a disposição para esclarecimentos e ofereceu seu telefone

para contato a fim de atender às curiosidades dos estudantes;

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Anexo 5: Dados (nome, telefone e localização) das empresas atuantes no setor de

vending machines no Brasil

OPERADORES:

A.G. Machines Com. Al Ltda (71) 240-5244 Salvador - BA

Acanthus Vending Imp. Exp. e Com. (11) 3341-1059 / 881-

9282

São Paulo - SP

AF Vendind (11) 9900-5906 São Paulo - SP

AR5 Vending Systems Ltda (61) 274-1732 Brasília - DF

Auto Food Alim. Autom. (31) 3371-0864 Curitiba - PR

Automatic Food (51) 33283465 Porto Alegre - RS

Aut-o-Matik Com. E Rep. Ltda. (21) 601-1504 Rio de Janeiro - RJ

Auvicom Convenience Machines (11) 603-2904 / 603-3175 Guarulhos - SP

Barista Vending Systems Alimentos Ltda (41) 343-5702 Curitiba - PR

Beggia Com. Imp. e Exp. Ltda. (19) 269-4066 Campinas - SP

Br Vending Ltda (11) 39310787 39318397 São Paulo - SP

Brassol - Brasília Alim. E Sorvetes Ltda. (61) 361-6060 Brasília - DF

Brasvending Comercial Ltda. (11) 835-3600 São Paulo - SP

Café Automatic Ltda. (41) 339 – 1570 Curitiba - PR

Café Florença Express (21) 287 – 8101 Rio de Janeiro - RJ

Center Machine (19) 255 – 2641 Campinas - SP

Coin Machine (11) 3224 – 8703 São Paulo - SP

Companhia do Expresso (81) 466 – 5371 Recife - PE

DAB - Distr. Autom. Do Brasil Ltda. (11) 832 – 7353 São Paulo - SP

Del Rey Coffee Machine (34) 3236-4988 Uberlândia – MG

Drink Line (21) 892 – 6940 Rio de Janeiro - RJ

Drinks e Snacks Com. Ltda. (51) 225 – 0727 Porto Alegre - RS

Emporium NaturAll Produtos Saudáveis

Ltda.

(31) 492 – 9192 Belo Horizonte -

MG

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Freepoint Imp. E Exp. Ltda. (51) 331 – 2158 Porto Alegre - RS

Gomes e Calecari Ltda. (41) 243 – 9313 Curitiba - PR

GR - Serviços de Alimentação (11) 3858 – 3975 São Paulo - SP

Laccaffè Vending Machines (85) 261-5055 Fortaleza - CE

Lamace - Com. Imp. E Exp. Ltda (11) 425 – 7234 São Roque - SP

LHS Comércio e Importação Ltda. (71) 379 – 3603 Lauro de Freitas -

BA

Mac Frescor Comércio Ltda. (32) 231 – 4476 Juiz de Fora - MG

Máquinas de Bolinha (35) 822 – 5234 Lavras - MG

Mix Machine (11) 531 – 3107 São Paulo - SP

Non - Stop (11) 4123 – 4588 S. B. do Campo - SP

Onyxcom Com. Prest. Serv. Ltda. Me (11) 6962 – 2145 São Paulo - SP

Pamphili Coffe Ltda (21) 560 – 6845 Rio de Janeiro - RJ

Press & Get (11) 5642 –0707 São Paulo - SP

Quinck Vending (11) 3306 – 0102 Barueri - SP

Rentexpress Com.e Repr. Ltda. (24) 222 – 2216 Petrópolis - RJ

Rhema Serv. Com. Máquinas Ltda. (11) 6946 – 6574 São Paulo - SP

Richter Repres. De Máquinas (41) 272 – 5651 Curitiba - PR

RVS - Rio Vending Systems Ltda (21) 584 – 3447 Rio de Janeiro - RJ

Sorimpex do Brasil Ind. E Com. Ltda. (51) 343 – 1622 Porto Alegre - RS

Speed Snak Vending Ltda. (21) 9741-3752 Rio de janeiro - RJ

Tok Take (11) 3622 – 2400 São Paulo - SP

Tonyquest Representações (61) 3524594 Brasília – DF

Top Café (11) 246 – 2277 São Paulo - SP

Vend - O - Matik Com. Ltda. (27) 229 – 7209 Vitória - ES

Vendamatic Ltda. (11) 3746 – 9182 São Paulo - SP

Vincitore / Italian Coffee (41) 222 – 7124 Curitiba - PR

Vompar Refrescos S/A (47) 232 – 9000 Blumenau - SC

DISTRIBUIDORES DE MÁQUINAS

A & A Comércio de Máquinas (51) 346-6448 Porto Alegre - RS

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Acanthus Vending Imp. Exp. e Com. (11) 3341-1059 / 881-

9282

São Paulo - SP

ACT Vending Machines (11) 55054010 São Paulo - SP

ATA VM Srv. De Manutenção S/C

Ltda - ME

(11) 5513-8617 São Paulo - SP

Autovending Brasil (11) 572-6838 São Paulo - SP

Auvicom Convenience Machines (11) 603-3175 Guarulhos - SP

Azkoyen Com. Internac. S/A (11) 603 31 75 São Paulo - SP

Coin Machine (11) 224 8703 São Paulo - SP

D & R All Trade Ltda. (11) 7392-5838 Jundiaí - SP

Dasher (11) 246-3711 São Paulo - SP

Distribuidora de Bebidas Arinos Ltda. (65) 531-2016 Sinop - MT

Distribuidora de Bebidas Fogaça Ltda (051) 466-07-68 Canoas – RS

Dock Machine Com. Imp. Exp. LTDA (11) 6692111 66923336 São Paulo - SP

Futurema (11) 573-6999 São Paulo - SP

Iveri Comercial (11) 3645-2842 São Paulo - SP

IZI Serviços & Informática Ltda. (11) 221-3384 São Paulo - SP

Jireh Cooler Corp. 001 (954) 943-8842 Pompano Beach Flórida –

USA

Jose Hilton Pereira da Silva (92) 625 5580 Manaus – AM

LG Vending Machine do Brasil (11) 211-2725 / 212-

2657

São Paulo - SP

Luis Carlos Assis (71) 381-7593 Salvador - BA

Luppa / SAECO (11) 6192-3013 São Paulo - SP

Máquinas Marapé (15) 251-1178 Tatuí - SP

Non Stop (11) 458-95 88 S. B. do Campo - SP

PPA Rondonia (69) 229-4232 Porto Velho - RO

Press & Get (11) 5642-0707 São Paulo – SP

Rowe South America (11) 450-3298 Mauá - SP

Saeco do Brasil (11) 6914-5944 São Paulo - SP

Scaff Máquinas Automáticas (11) 3758-5858 São Paulo - SP

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V.E. South +1 954 491 7300 Fort Lauderdale - FL -

USA

Vendamatic Ltda. (11) 3746- 9182 São Paulo - SP

Vimáquinas (31) 721 7099 Belo Horizonte - MG

FABRICANTES

Dixie-Narco 1803-266-5000 Estados Unidos (USA)

General Icy (11) 3306-0102 Barueri - SP

Mareze e Martnelli (21) 714 1919 043 423 3444 Apucarana - PR

Metalfrio (11) 6333-9000 São Paulo - SP

Unimaq (11) 6421 23 16 Guarulhos - SP

ASSISTÊNCIA TÉCNICA

ACT Vending Machines (11) 5505-4010 São Paulo - SP

ATA VM - Serv. de Manutenção

S/C Ltda - ME

(11) 5513-8617 / 5513-3022 São Paulo - SP

Auvicom Convenience Machines (11) 603-2904 / 603-3175 Guarulhos - SP

Coffee and Cream Ltda 55 31 32879090 / 99727231/

99788460

Belo Horizonte - MG

Coopmief (21) 7841-2251 Nilópolis - RJ

Dock Machine Com. Imp Ltda (11) 6692-1211/0116692-

3336

São Paulo - SP

HF Refrigeração (11) 5515-0772 / 9991-6767 São Paulo - SP

Linstec Ltda 081 34392555 Recife/Olinda – PE

Metalfrio (11) 6947- 0056 São Paulo - SP

Rowe South America (11) 450 32 98 Mauá - SP

Tecnopires Vending Machines (11) 7677-1542 São Bernardo do Campo

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- SP

Tecnopires Vending Machines Ltda XX11 4345 1542/4084 São Bernardo do Campo

- SP

Tonyquest Representações (61) 3524594 Brasília - DF

Vendamatic Ltda (11) 3746-9182 São Paulo - SP

SISTEMAS DE PAGAMENTO

ACT Vending Machines (11) 5505-4010 São Paulo - SP

Auvicom Convenience Machines ltda (11) 603-3175 Guarulhos - SP

Blue Note (92) 991-7175 Manaus - AM

Dock Machine Com. Imp. Ltda (11) 6692-1211/6692-

3336

São Paulo - SP

Mktg & Sales (71) 9965-5722 Salvador - BA

Mtt&Card. Aut. Comercial (19) 256-18-91 / 256-

5641

Campinas - SP

Music Ware Ltda. (11) 4227-1211 São Caetano do Sul - SP

Pagé Bombas Ltda. (45) 523-9045 Foz do Iguaçu - PR

Renterpress Com e Representações

Ltda

(24) 2222 2162 / 2216 /

2266

Petrópolis – RJ

Rentexpress (24) 222-2666 Rio de janeiro - RJ

Rentexpress Co. e Repr. Ltda (24) 2222 2666 / 2162 /

2216

Petrópolis – RJ

Rowe South America (11) 450-3298 Mauá - SP

Tecnopires Vending Machines (11) 7677-1542 / 7677-

4084

São Bernardo do Campo –

SP

OUTROS

Advocacia Quiscak (11) 3104 - 7099 São Paulo - SP

Auvicom Convenience Machines (11) 603-2904 / 603-3175 Guarulhos - SP

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Centro de Serviços Vending

Brasil

(11) 570 - 1424 São Paulo - SP

De La Rue Cash Systems Ltda (11) 7922 - 8900 Cotia - SP

Dock Machine Com. Imp Ltda (11) 6696-1211/6692-3336 São Paulo - SP

Henrique Daher (41) 222-7409 Curitiba - PR

Iveri Comercial (11) 3845 - 2642 São Paulo - SP

MAF Informática (11) 570 - 1424 São Paulo - SP

Malharia Adelina Ltda. (11) 6163-1304 São Paulo - SP

Mrobles (47) 433 - 2754 Joinville - SC

Rowe South America (11) 450-3298 Mauá - SP

SEMAB - Com. Sev.

Manutenção

(11) 275-1500 São Paulo - SP

Semp Topshiba Informática (11) 9976 - 5106 São Paulo - SP

V.E. South +1 954 491 7300 Fort Lauderdale - FL -

USA

Fonte: http:\\www.vending.com.br

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Anexo 6: Resultados estatísticos do questionário-filtro

Embora não muito relevantes para sugerir conclusões a essa pesquisa, os

questionários apontaram alguns resultados estatísticos interessantes. Foram recolhidos

um total de 89 questionários completos, que apresentaram os seguintes números quanto

à freqüência de uso das VMs por semana:

NUNCA MENOS DE 1 X 1 ou 2 X 3 ou 4 X 5 ou 6 X TODOS OS DIAS

22 33 22 08 02 02

Pelos dados acima, conclui-se que, aproximadamente, 25% dos respondentes

nunca usaram uma máquina automática em toda sua vida, 37% deles usam-na menos de

uma vez por semana, 25% as utilizam uma ou duas vezes pelo mesmo período, 9% por

três ou quatro vezes, 2% com a freqüência de cinco ou seis vezes semanais e a mesma

fração (2%) para uso diário