Quando Deus Me Pediu as Sapatilhas

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Quando Deus me pediu as sapatilhas

Gisela Matos

1a edição, novembro/2008

Editora Profetas da DançaRua Antônio Pinto Lana, 231 Loja 1 – Europa32043-045 Contagem/MGTel.: (31) 3390-1449 – Nextel: 55*8*62123http://www.dancapelasnacoes.com.brhttp://www.profetasdadanca.com.brE-mail: [email protected]: [email protected]

Capa: Júlio Carvalho

Gisela MatosEmail: [email protected]

As citações bíblicas foram extraídas daversão Revista e Atualizada, de João Ferreira de Almeida,salvo indicação em contrário.

Todos os direitos reservados.É proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio,sem autorização por escrito da autora.

FICHA CATALOGRÁFICACIP-Brasil. Catalogação na fonte.

Matos, Gisela

Quando Deus me pediu as sapatilhas /Gisela Matos. – 1ed. –Belo Horizonte: Editora Profetas da Dança, 2008. 136p.ISBN: 978-85-906310-1-9

1. Dança e vida cristã. 2. Arte no reino de Deus.I. Título.

CDD: 212.1CDU: 231.11

Bibliotecária responsável:Maria Aparecida Costa DuarteCRB/6-1047

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Dedicatória

Dedico este livro a todos os ministérios dedança que hoje, como guerreiros, têm atuado dentrode suas congregações, muitas vezes sem apoio,sem incentivo, mas mesmo assim têm continuado.Aqueles que realmente têm levado seu chamado asério, têm colhido frutos.

Dedico, em especial, a você, líder de equipe que,assim como eu, há muitos anos, trava uma batalha paracaminhar com a arte no reino de Deus, a você pastorque tem acreditado nesse chamado e luta contra opreconceito de muitos em relação a dança.

Dedico também às pessoas que venceram abarreira da idade, que já estão maduras, mas têmo prazer de dançar na presença de Jesus, mulheres ehomens vencedores, que não têm dado importância acomentários sem fundamento, como se a idade fossebarreira para Deus agir em nossa vida.

Dedico a todos os que freqüentam nossos con-gressos, que mandam e-mails, que nos telefonam,que têm acreditado em nós, aos que são o cumpri-mento de uma das palavras de Deus em nossas vidas.Obrigada por cada abraço, cada gesto de carinho,muitas vezes tão rápido, mas com certeza nuncadespercebido.

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E dedico ainda à nossa cobertura espiritual,pastor Thomas e pastor Judsson, obrigada por seremamigos, pastores e companheiros de muitas lutase vitórias.

Não há outro como Tu,não há outro que eu prefira além de Ti, e asbatidas do meu coração clamam o teu nome,

Jesus.

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Sumário

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EtapasAgradecimentosO silêncio das palavrasQuando Deus me pediu as sapatilhasO pedidoEntendendo o meu chamadoEntendendo o que é o desertoDeserto em 1998Vale da BênçãoTestemunho da Escola Profetasda Dança, em 2004Um caráter fortePerseverançaAquilo que somos se reflete no que fazemosBailarinos que entregaram as sapatilhasSuperando limitesPalavras finais

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Um livro, como qualquer outro projeto, temetapas a seguir: escrever, corrigir, diagramar,imprimir... enfim, todos os passos são importantese muitas vezes não damos valor a esses profissionais.

Vou começar falando da capa: fiquei impres-sionada quando vi a capa do livro; por isso querohonrar a vida do Júlio, esse irmão extremamentetalentoso, que conseguiu expressar exatamente osentimento e o propósito desta obra.

Quando vi a capa, me lembrei do ano de 2002,quanto fiz um propósito com Deus: orava todos os diasàs 5:30h da manhã com minhas sapatilhas de ponta,entregando-as ao Senhor Jesus.

Quantas experiências vivi com Deus atravésda dança, quantas lágrimas derramei na presençado Senhor dançando, quantas batalhas travei commovimentos e quantas palavras eu desenhava eexpressava e ainda expresso, palavras vindas docoração de Deus; dancei em momentos únicos einesquecíveis de minha vida. E sei que vou dançarpor muitos anos e viver muitos momentos pro-fundos em Deus.

Obrigada, Júlio, por sua sensibilidade. Que

Etapas

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Deus possa a cada dia mais enchê-lo de criatividadee talento.

Obrigada, Sharles, por se preocupar com cadadetalhe da produção.

Que o Senhor recompense a cada um que seenvolve conosco neste projeto.

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Agradeço a Deus por ouvir minha oração, no anode 1996, quando pedi para que Ele resgatasse meu domde escrever. Aqui está mais um fruto daquela oração!

Agradeço ao meu marido, pastor Oziel, pelocarinho, por acreditar em meu chamado e por seralguém que sempre me incentivou a continuar.Amo você!

Aos meus filhos amados, Jeiel e Israel, quesempre entenderam e participaram desta caminhada.Lindos!!!

À equipe Dança Pelas Nações, amigos maischegados que irmãos, obrigada mesmo pelo carinho,confiança e amizade de cada um de vocês.

Enfim, a Jesus seja toda honra, glória e louvor!

Agradecimentos

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O silêncio das palavras

Depois destes anos sem publicar outro livro, eutinha a idéia, o título, a direção, mas não sentia ser ahora certa para publicar alguma coisa.

Depois do primeiro livro lançado, eu já tinhamudado de cidade e com isso toda a equipe queformei ficou no Espírito Santo, enquanto eu estavaem Minas Gerais.

Você não tem idéia de como isso foi difícil paramim. Eu morava em uma cidade pequena, já estavaestabelecida na igreja; meu marido, que hoje é pastor,na época era presbítero e juntos pastoreávamos aequipe de dança.

O ministério havia crescido muito; começamoscom uma equipe que ministrava só na igreja e derepente Deus nos levantou na nação brasileira e emoutras nações.

Nos primeiros quatro anos em Minas Gerais,tive experiências boas e ruins e confesso que aprendimuito nesse período, por isso acho que este é omomento oportuno para compartilhar algumas expe-riências vividas.

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Nesse ano de mudança tão radical – pois ima-gine só: na minha cidade, Colatina/ES, nós tínhamoscasa própria, muitos amigos e deixamos tudo. Mais àfrente, em outro capítulo, falarei mais detalhadamentesobre isso. Mas por estas palavras você pode perceberque ser chamado por Deus não é tão simples comomuitos pensam; confesso que eu mesma pensavaassim. Parece tudo tão bonito, tão simples, mas saiba,amado: aquilo que vemos é só uma pequena parte; éo resultado de muitas lágrimas, lutas, demonstraçõesde coragem, trabalho duro e muita, mas muita fé!!!

Querido leitor, espero que você seja abençoadopor este livro. Mais do que ser uma ferramenta, elemostra a realidade de muitas experiências que nós,ministros de Deus, precisamos aprender e muitasvezes aprendemos com erros e dificuldades; então,espero que você possa aprender algo com essasexperiências, com os meus erros (não é fácil expornossos erros...).

Para mim, que escrevo, as palavras são liberta-doras; são como um machado quebrando correntes.

Quando escrevo, procuro expressar quem sou eaquilo que sinto; e o mais importante: aquilo que Deusministra e revela ao meu coração. Com muito temordigo isso, pois em minha adolescência, quando nãoconhecia Jesus, eu já escrevia muito. Lembro do queme disse uma professora, na sétima série, quando leuuma poesia que fiz: “Você será uma grande escritora!Invista nessa carreira”. Na época, não dei impor-tância, pois a única coisa que batia em meu coraçãoera a vontade de ser uma atleta de handebol, o que,aliás, fui durante anos... O tempo passou, conheci

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Jesus, e uma das minhas primeiras orações foi paraque Deus restaurasse meu dom de escrever. Peloretorno que tive com meu primeiro livro publicado,creio que Deus me ouviu!

Quero aqui agradecer e dizer que a cada e-mail,cada telefonema, cada testemunho dado pessoal-mente sobre ele, eu sentia uma palavra de Deus paracontinuar. Pessoas de tão longe, que não conheço, masque foram tocadas pelas palavras que Deus ministrouao meu coração... Pessoas de outras nações, ondeainda não pisei, mas que através do livro foramministradas.

Tenho consciência de que sou apenas um canal,mas que toda fonte vem do Senhor Jesus!

Amo fazer isto, escrever, e espero que você jáesteja sendo tocado pelo poder Deus!!!

Então, vamos descobrir porque Deus nos pedecoisas tão simples, que para nós parecem tão valiosas...

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É muito duro pensar que as coisas que geral-mente são tão importantes para nós devem serentregues a Deus.

Quando Deus começou a me falar sobre a dança,em 1996, eu não imaginava ser tão longo o caminhoentre ser apenas um bailarino e ser um profeta.

Percebi que havia uma grande diferença entre dançarapenas e profetizar através da dança... Por um tempo,pensei que meu talento, meu dom, poderia fazercom que me achegasse mais às pessoas, ganhassealmas, mas percebi que para ter acesso ao coraçãodas pessoas, eu precisava me achegar mais e mais aocoração de Deus.

A experiência que tive com Deus foi muitoforte e particular; a capa deste livro pode traduzirexatamente o aconteceu comigo.

Tive que abrir mão por algum tempo daquiloque eu mais amava fazer, para poder entender o queDeus queria fazer em mim e através de mim.

Percebi, então, que no momento em que Deuscomeça a nos limpar, não o faz de forma superficial,não varre o meio do caminho, tirando apenas a

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poeira aparente; não, Ele levanta o tapete e tira tudodo lugar.

Quando limpamos apenas aquilo que estamosvendo em nossa casa, a visita que chega, olha e pensaque está tudo limpo, mas nós que habitamos nessa casasabemos que há muita sujeira escondida.

Assim é o Espírito Santo em nós: Ele sabe queprecisamos ser limpos, mesmo que a nossa aparênciadiga o contrário.

O meu dom, por alguns momentos, foi comoum tapete, que escondia muitas áreas nas quais euainda precisava ser tratada. Quem poderia imaginarque a Gisela, a líder da dança, precisava ser tratada,moída?

Entendi que naquele momento em que mepediu as sapatilhas Deus estava me dizendo: “Filha, éhora de limpar mais ainda o seu coração”.

Muitas pessoas questionam a dança na igreja,mas eu sou um exemplo do poder das artes nas mãosde Deus. A minha conversão se deu através damúsica.

Quantas e quantas pessoas me entregaramfolhetos, mas no dia em que fui a um culto, sentei-meno último banco e ouvi uma canção que dizia: “...vocêtem valor, o Espírito Santo se move em você”. Minhavida nunca mais foi a mesma. Depois, através dadança, pude expressar o meu amor a Jesus e viverexperiências maravilhosas em Deus.

A dança me ensinou algumas lições impor-

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tantes; então, comecei a dançar para Deus e pudeviver mais experiências maravilhosas, e ainda astenho vivido.

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Eu já estava ministrando desde 1996, mas sóem 1998, decidi que precisava aprender mais; fui,então, à única academia de balé que havia em minhacidade. Ao conversar com a secretária para me matri-cular, ela comentou: “Você deve ser da turma dos avan-çados...”. “Não!”, respondi. Ela me olhou e disse:“Então dos intermediários?”. Eu disse: “Não, nuncafiz aula; tenho que começar do básico do básico”. Elame olhou de cima a baixo e explicou: “Mas não temosturmas só de adultos; você vai ter que fazer aulas commeninas bem novinhas. Algum problema?”. Res-pondi que não, mas confesso que quando vi aquelasmeninas novinhas, flexíveis e com aquela roupa rosa,meu coração bateu mais forte; mas prossegui .

Na primeira aula, a professora já me olhou delado, me mandou ir para barra e seguir as meninas.Ela disse que provavelmente eu teria muita difi-culdade e teria que me esforçar bastante.

O tempo foi passando e cada dia Deus ia medando graça. Com seis meses de aula, eu já havia medesenvolvido bem mais do que o normal; com um ano,já estava mais adiantada que as meninas. Lembro-mede que certo dia a professora me disse: “Estou im-pressionada com o seu desempenho; vou colocá-la

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O pedido

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separada, em outra barra, para poder lhe dar exer-cícios mais puxados”.

Eu me esforçava ao máximo; chegava em casa,anotava o que tinha aprendido, treinava e, sempre quepodia, saía da escola em que eu dava aula de educa-ção física e ia para a academia mais cedo, observavaas outras aulas, assistia à aula do avançado e ficavasonhando em dançar um dia daquela forma parao Senhor. Mas via também a soberba de algumaspessoas. Nessa turma, estava a melhor bailarina daescola; ela era muito altiva, fazia questão de semostrar melhor o tempo todo, observando nos olharesdas outras meninas a inveja, a cobiça. Nesse dia,comecei a ver o lado obscuro da arte: a competição,o orgulho, a auto-suficiência.

Bem, os anos passaram e com três anos de aulaeu já dançava nas pontas, fazia também aulas de jazze nesse tempo meu corpo havia mudado completa-mente, minha flexibilidade, minha postura, minhaforça... em alguns momentos, até auxiliava a profes-sora... realmente, Deus trabalhou na minha vida.

Então recebi o convite de uma escola para dar aulaspara crianças de quatro a seis anos de idade. Procureisaber a opinião da minha professora e ela disse: “Vocêconsegue, sim; já é professora de educação física, temuma excelente consciência corporal – mas procure umcurso para se aprimorar”... E justamente nessa épocaapareceu um curso em Belo Horizonte! Deus é fiel!

Fui então para Belo Horizonte (nessa época,ainda morava no Espírito Santo) e fiz um curso deMetodologia de Balé para Crianças. Depois desse

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curso, comecei então a dar aulas. Foi um sucesso!No primeiro mês, já havia mais de trinta alunas.

Lembro-me de um dia em que estava dandoaula: uma senhora me procurou ao final da aula e seapresentou; simplesmente, ela era a diretora deuma escola enorme e me convidou para dar aulas látambém. Esse foi mais um sucesso: quarenta e cincoalunos.

Quando a proprietária da Academia na qual eufazia aulas soube que as coisas estavam dando certopara mim, começou a me perseguir; foi até as dire-toras, disse que eu era uma péssima aluna, que nãosabia nada, que ia machucar as crianças... foi terrível.Minha professora na época ficou muito triste com isso,pois ela sabia da minha dedicação, do meu esforçoe da minha responsabilidade.

A dona da academia, certo dia, entrou na minhaaula e me humilhou na frente das outras alunas. Foimuito triste. Fiquei calada, pois sabia do meu poten-cial; eu já era professora e via nela uma inveja muitogrande.Eu não concorria com ela, pois só dava aulaspara os alunos da escola; as aulas não eram abertas aoutras pessoas.

No ano seguinte, quando fui fazer minha ma-trícula, pois apesar de tudo era a única academia quehavia na cidade, ela me disse: “Não quero você naminha academia; você não dança nos festivais, só fazaula; eu não gosto de você”.

Fiquei estática diante disso, me senti mal de-mais, agradeci e desliguei o telefone. Nesse momento,

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parei e chorei na presença do Senhor; não entendia oque estava havendo, pois a dança é o meu dom, faziapara Deus, nunca me promovi, ensinava tudo para asmeninas do ministério... fiquei muito confusa.

Eu me sentei à beira da cama, me ajoelhei e orei:“Deus, o Senhor sabe como eu amo dançar, que dançopara Te agradar, que amo ensinar e compartilhar coma minha equipe; o que está havendo? Por que essa portase fechou?”.

De repente toca meu telefone, eu atendo e erauma irmã do Mato Grosso. Ela disse: “Gisela, tenhouma palavra de Deus para você: ‘Lugar de profeta éna montanha’ e Deus manda lhe dizer que a sua dançanão terá compromisso com a dança deste mundo”.Comecei a chorar e tive que desligar o telefone, quan-do Deus mais uma vez falou ao meu coração: “Filha,você não percebeu, mas a dança está tomando umlugar no seu coração; Eu vejo muito além das suasintenções; não fique triste; Eu serei seu professor. Emais: enviarei profissionais até você”.

Chorei muito quando Deus me disse isso, poisachava que estava fazendo o melhor, mas percebi queDeus queria muito, mas muito mais de mim; percebio cuidado Dele.

No dia seguinte, subi ao terraço de minha casae disse: “E aí, Deus, estou aqui; vamos começar anossa aula?”. E Deus começou a ministrar coisasmaravilhosas em meu coração; via ministrações,coreografias, atos proféticos... e foi assim por doisanos, justamente nos dois anos em que Deus rompeuo ministério, em que viajamos o Brasil todo, que

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pisamos pela primeira vez nas nações.

No ano de 2002, quando eu estava na Escolado Clamor, uma americana me abraçou, pois me viuchorando, e eu disse a ela o que havia acontecido. Elaolhou nos meus olhos e disse: “Quem é essa mulherpara interromper os planos de Deus em sua vida?”.Aquilo foi muito forte, e foi naquele momento quedecidi fazer algo: durante uma semana, acordavaàs 5:30 da manhã e orava durante uma hora, sozinha;e do primeiro ao último dia, levei minhas sapatilhasde ponta. No primeiro dia, orei e disse: “Deus,entrego-Te as minhas sapatilhas! Entrego-Te o meudom! Que o Senhor faça como quiser!”.

Isso aconteceu em julho de 2002, o ano em querecebi a visão do ministério; vi uma bailarina decostas com uma bandeira na cabeça e Deus me disse:”É assim que vocês vão dançar, profetizando amudança da mente das nações!”.

Foi um ano-chave, em que as palavras de Deuscomeçaram a se tornar reais e Deus começou arestituir muitas coisas, que nos tinham sido saqueadasem 1998, quando passamos por um grande deserto.

Nesse ano também, eu estava ministrando naIgreja Batista de Contagem, igreja na qual congregoatualmente, quando observei que uma irmã, aparen-tando ter uns quarenta anos, fazia os movimentosperfeitos, desenhados... no final da oficina, pergunteia ela se dançava e para minha surpresa, era uma baila-rina profissional. Ela me disse: “Deus usou você parame fazer dançar novamente; gostaria que você fosse àminha casa”.

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Fui à sua casa e ela me contou seu testemunho.Era muito rica, abrira mão de tudo depois de sercurada de um câncer nos ossos e hoje vivia para a obrado Senhor. Ficou comigo um dia inteiro, me deuaulas, me deu livros preciosos de balé, e assim es-tava cumprindo-se a palavra de que Deus trariaprofissionais a mim.

Em 2004, voltei a fazer aulas. Meu Deus!Quantas portas Deus abriu! Nesse mesmo ano, estiveem Nova York, fiz vários cursos na Broadway e con-fesso que no momento em que entrei na sala de aulaem Nova York, lembrei de tudo o que passei, de cadapalavra que me foi dada, palavras de coragem; mastambém lembrei das pessoas que nunca acreditaramem meu chamado.

Em uma das aulas, sentia-me como uma criança,como quem sonha, como quem realiza sonhos...

Entregar as sapatilhas foi para mim um ato defé e coragem; fé por confiar em Deus e nas suaspromessas, coragem por renunciar a algo que tantoamava fazer. Eu poderia ter ido a cidades vizinhas – eaté tentei – para fazer aulas, mas percebi que o pro-cesso de Deus é a melhor escolha.

Quando Deus me pediu as sapatilhas, aprendia dançar com Ele.

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Pelos vales que passamosDesertos que enfrentamos

Um caráter é gerado em nósSimplicidade nascePerseverança é real

E assim entendemos que o que somosReflete no que fazemos

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”Eis aqui o meu servo, a quem sustenho, o meuescolhido, em quem a minha alma se compraz; pus sobre eleo meu Espírito, e ele promulgará o direito para os gentios”(Is 42.1).

Algumas das muitas perguntas que passam pornossa mente no momento em que Deus começa a nosdirigir é: Por que eu? Como vou fazer? Será que tenhoo dom? Quando vai começar? Lutas querem dizer queestou no caminho errado?

Estas e outras perguntas passam por nossamente quando Deus nos dá uma promessa. Geral-mente, olhamos para nós mesmos e pensamos quenunca vamos dar conta daquilo. Comigo não foidiferente; olhava para mim e pensava: “Deus, achoque ouvi demais!”.

Em quantos momentos me sentia pressionadacomo em uma parede entre o que eu via e a Palavra deDeus sobre a minha vida; em quantos momentos meuesposo me levantava e dizia: “Olha, Deus já estámovendo”!

A sensação mais complicada para mim foi o fatode ser diferente das pessoas; enquanto todos estavampreocupados em fazer uma faculdade e conseguir um

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Entendendo omeu chamado

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bom emprego, lá estava a Gisela pensando nas nações...eu me sentia mal por isso; encontrava meus amigos deescola, advogados, médicos e eles me olhavam comose eu estivesse perdida em meio aos meus sonhos.Mal sabiam como eu já havia me encontrado.

Minha família sempre se manteve calada;enfim, sempre foi omissa; na verdade, nunca tiveuma boa idéia de família; eles só observavam, massentia olhares que desejavam que desse errado.

Sei que muitos que estão lendo este livro, sesentem ou já se sentiram assim. Neste capítulo,compartilho um pouco daquilo que Deus me ensinousobre o chamado Dele em minha vida, sobre essecomeço tão difícil, sobre essa resposta tão maravi-lhosa que tenho vivido com Deus.

Lembre-se de uma coisa: você não é nem será oúnico a ser desacreditado; isso faz parte do processo;as pessoas em sua maioria agem como Tomé: têmque ver os resultados. Mas isso não pode fazer comque você desista ou vacile com relação ao propósitoque Deus colocou em sua vida. Olhe para isso comoum incentivo a fazer cada vez melhor para Deus.

No momento em que Deus chamou você, Ele játinha um destino para você, um sonho.

Vemos na Palavra de Deus histórias como a deDavi, Moisés, José do Egito, pessoas tão improváveis...vemos na história da Igreja: Lutero, John Wesley,Calvino, pessoas comuns que marcaram e mudarama história. Mas o que eles tinham de diferente?Coragem para responder ao chamado de Deus.

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Eles não ficaram olhando para si mesmos epensando: "Ah, eu não posso, eu não tenho recursos".Eles se lançaram ao destino que Deus preparou paraeles. Deus não está procurando pessoas prontas; Elequer formar seu coração.

Vamos falar aqui de três coisas importantes paraque você entenda esse chamado:

1. Não ache que Deus vai escolher apenas bai-larinos para estarem no ministério de dança, pois nãovai; Ele procura adoradores na verdade – isso mesmo– Ele mesmo quer preparar você. Até mesmo um bai-larino profissional, com todo seu conhecimento, temque ser moldado por Deus; Ele quer mais que passos;Ele quer o seu coração. Sua dança não é apenas paraemocionar as pessoas, mas para trazer a glória de Deus;você dança adorando a um Deus que é revelado a você;essa revelação deve fluir em seus movimentos. Umadas formas que Deus usa para nos formar é a prova-ção, ou seja, lutas, dificuldades, e no meio das lutassomos fortificados: “Pelo que sinto prazer nas fraquezas,nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas an-gústias, por amor de Cristo. Porque quando sou fraco, entãoé que sou forte” (2 Co 12.10). Onde você pensa que éfraco, aí mesmo, nesse lugar tão sensível, Deus fará devocê uma fortaleza.

Outra coisa relacionada às provações é a perse-verança: “E não somente isso, mas também nos gloriamosnas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produzperseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência,esperança. Ora, a esperança não confunde, porque o amorde Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo,que nos foi outorgado” (Rm 5.3-5).

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2. Se Deus está mexendo em alguma área desua vida, não desista; com certeza, Ele fará de novoe de uma forma melhor. Mas, veja só: a minha casaestá caindo, está em pedaços... Não se preocupe; Eleestá reformando para lhe dar algo muito, mas muitomelhor.

3. Preciso ser obediente: obedecer envolvealgumas condições básicas que, se forem seguidas, noslevarão ao êxito: ouvir a Palavra de Deus e responder;ouvir com o coração submisso; confiar na Palavra deDeus e agir de acordo com ela.

Mesmo quando não vemos nada, precisamos tercoragem para caminhar em direção às promessas deDeus. Quando eu estava falida, sem dinheiro, semnada, e Deus me falou que eu ia ministrar em muitoslugares, fiquei pensando vários dias; eu não tinha di-nheiro, capacitação, esperança... não tinha nada, masresolvi me dispôr e hoje vejo os frutos daquela difícil,mas abençoada posição que assumi.

A obediência nos treina também para parti-cipar do reino inabalável de Jesus; pessoas treinadaspelo Espírito Santo encherão a Terra do poder de Deus.

Sei que em muitas ocasiões é complicado obedecer apessoas que julgamos não serem bons líderes, masnunca esqueça que toda autoridade é estabelecida porDeus (Rm 9.17). E fazendo a nossa parte, Deus, comcerteza, vai nos honrar.

4. Recursos: Outro aspecto complicado dessechamado é a geração de recursos: quando começamosa nossa equipe, não tínhamos nada, roupas, acessóri-os, sapatilhas; então meu primeiro sentimento foi: “Por

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que a igreja não nos fornece o material, visto queestamos servindo a Deus?”. Mal sabia eu que mais umavez Deus estaria me ensinando. A igreja não investiaem nosso ministério; então meu marido nos disse algo:“Vamos trabalhar!”. Começamos então com cantinas,almoços – e na nossa pouca arrecadação podíamos vera provisão de Deus.

Lembro-me de uma vez quando íamos fazer umcachorro-quente: fomos ao supermercado comprar osingredientes. Oziel, meu marido, estava conosco. Fuicomprar a salsicha e estava pegando a mais barata,pois assim o lucro seria maior, pensava. Quando Ozielviu aquilo, chamou a minha atenção e disse: “Não com-pre dessa; compre da melhor, pois temos que oferecero que gostaríamos de receber”. Respondi: “Mas aí ficamais caro”, ao que ele respondeu: “Você não gosta dereceber o melhor para o ministério? então aprenda adar”. Obedeci a meu esposo e realmente o nossocachorro-quente vendia muito, tinha até reserva antesdo culto; mas sinceramente nunca pensei que essa se-mente fosse gerar tantos frutos. Dez anos se passaram,o ministério cresceu, lançamos a marca PD (Profetasda Dança) e eu sempre sonhei em ter sapatilhas com anossa marca.

Lembro-me que há uns quatro anos, procureium pequeno fabricante, que nos desprezou e disse quenão queria me atender. O tempo passou e, certo dia,em nosso escritório, recebemos um contato da Capéziopropondo-nos uma parceria. Ficamos maravilhadoscom as mãos de Deus. Atualmente, a Capézio faz asnossas sapatilhas com uma qualidade reconhecidamundialmente e depois que fechamos contrato comela, o Oziel olhou para mim e disse: “Lembra, anos

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atrás, quando lhe falei para dar o melhor? Eis aí oresultado!”. Mesmo nas coisas simples, Deus agepoderosamente. Lembre-se disto: você não poderátocar nos recursos de Deus, até que decida fazer oimpossível.

5. Faça algumas perguntas a si mesmo: Por queeu danço? Quero que Deus realmente trabalhe em meucaráter? Será que entendo que este dom que Deus medeu é para a glória Dele?

6. Quando entendemos que Deus realmente noschamou, então percebemos o quanto na verdadesomos honrados, pois fomos escolhidos dentremuitos: ”Porque o Senhor teu Deus o escolheu de entretodas as tuas tribos para ministrar em o nome do Senhor, elee seus filhos, todos os dias” (Dt 18.5).

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“Recordar-te-ás de todo o caminho pelo qual o Senhor,teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para tehumilhar, para te provar, para saber o que estava no teucoração, se guardarias ou não os seus mandamentos”(Dt.8.2).

Essa palavra realmente me causa arrepios.Sempre que falamos de deserto, pensamos em umlugar em que não temos recursos, nos sentimos sóse perguntamos também: “Por que estamos aqui? Seráque Deus não poderia me tratar de outra forma?”.

Quando, em 1998, enfrentei um grande de-serto, pensava exatamente assim. Nova convertida,apenas três anos de vida com o Senhor, não ima-ginava que Deus usava coisas tão difíceis para treinarseus filhos. Pensava que servir a Jesus era apenas estarcom Ele em paz, sem tribulações. Como desde decriança sofri muito, achava que minha quota de sofri-mento já estava esgotada e que de agora em diantetudo seria muito bom e sem problemas.

Vamos, então, entender o que é deserto:

Deserto não é lugar de punição e reprovação.Lemos em Lc 3.22: “E o Espírito Santo desceu sobre eleem forma corpórea como pomba; e ouviu-se uma voz voz do

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Entendendo oque é o deserto

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céu: Tu és meu filho amado, em ti me comprazo”. O mesmoEspírito Santo que desceu sobre Jesus em forma depomba, logo a seguir em Lucas 4.1 o conduziu para odeserto: “Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão,e foi guiado pelo mesmo Espírito, no deserto”.

Deserto não significa rejeição, mas preparodivino. “Eis que se me adianto, ali não está; se torno paratrás, não o percebo. Se opera à esquerda, não o vejo; escon-de-se à direita, e não o diviso. Mas ele sabe o meu caminho;se ele me provasse, sairia eu como o ouro” (Jó 23.8-10). Umsintoma que geralmente se manifesta no deserto é queparece que não achamos Deus; é assim que nos senti-mos. Mas o que precisamos entender é que quandonos convertemos, Deus age assim como uma mãe, quesocorre o bebê ao menor gemido; mas enfim chegao momento em que precisamos crescer e amadurecere então Deus precisa deixar que cada um passe pordeterminadas situações, assim como a mãe precisasoltar a mão do bebê para que aprenda a andar sozi-nho. Para aprender, o bebê vai levar alguns tombos,mas sem esses tombos ele nunca aprenderia. Maslembre-se: Ele nunca nos abandona. “De maneira algu-ma te deixarei, nunca jamais te abandonarei” (Hb 13.5b).

Deus não o jogou no deserto e disse: “Vá ese vire”; pelo contrário, sem Ele jamais seremosaprovados e no deserto vemos a mão de Deus agirpoderosamente.

Para aqueles que obedecem a Deus, o desertonão é lugar de derrota: Jesus, mesmo fraco e faminto,derrotou Satanás com a Palavra de Deus; e, mesmo nodeserto, o povo de Israel era perseguido e Deus fala-va: “Lutem”! E eles venciam. Venceram os amorreus

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(Nm 21.21-25), os midianitas (Nm 31.1-11) e o povo deBasã (Nm 21.33-35).

Outros aspectos importantes do deserto:

Deus nos expõe eliminando nossas impurezas

“Tira da prata a escória, e sairá vaso para o ourives”(Pv 25.4). Quantas vezes achamos que Deus não nosama quando somos expostos de alguma forma, maspare e pense quantas vezes Deus falou com você sobreessa área de sua vida e você não dava a devida aten-ção; dói muito se expor. Em algumas áreas da minhavida, como a financeira por exemplo, tive que sermesmo exposta para entender meu egoísmo; tambémprecisou vir à luz, pois eu não via, achava que estavacerta, até que Deus usou uma pessoa para me con-frontar e hoje agradeço a Deus por esses momentosdoloridos, mas que geraram frutos de arrependimento.

Testar nossas reações espontâneas

“Sabendo que a provação de vossa fé, uma vez con-firmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve teração completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nadadeficientes” (Tg 1.3-4). Domínio próprio. Precisamosaprender a amortecer choques; não podemos serescravos das circunstâncias. Lembro-me da época emque perdemos nossa empresa, ficamos muito mal, semdinheiro, sem reputação e muito endividados; nãohavia dinheiro para nada, mal dava para comer. Umaamada irmã de nossa igreja sempre me dava tickets-alimentação e certo dia, eu estava no supermercadocomprando algumas coisas. De repente, a dona de umaloja na qual eu tinha uma dívida falou alto perante

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todos os que estavam na fila do caixa: “E aí, donaGisela, quando vai me pagar? Deixe de ser enrolada”!Ela falava alto e eu morava numa cidade pequena,todos me conheciam e só Deus sabe a humilhação quesenti. Todos na cidade sabiam que eu estava falida. Euandava pelas ruas e me sentia doente, pois as pessoasme olhavam de uma forma estranha. No momento emque ela gritou, a minha vontade carnal foi de revidar,mas sabia que precisava honrar o nome de Jesus;então abaixei a cabeça, sofri o dano e pedi que Deusentrasse em minha causa. Foi duro demais, porém saídaquele lugar aprovada! Entenda algo: não temos quereagir e sim agir no Espírito; não podemos pisar noterreno do inimigo, aceitando suas provocações.

Testar nossa obediência em longo prazo

Perseverança produz caráter e caráter, perse-verança. Deus não é intolerante nem perfeccionista.O mais importante da vitória é mantê-la. Como éimportante manter a visão que Deus compartilhouconosco. Algumas pessoas passam por nossas equipes– digo passam, porque realmente não permanecem –pois não entendem a vontade de Deus para uma equi-pe. Não é fácil para os líderes manterem a visão, poissomos questionados, provados, desafiados, às vezespor pessoas da própria equipe. Eu paguei um preçocaro por isso; fui julgada, chamada de “general”, poisDeus havia me falado sobre disciplina, sobre servir enão conseguia entender pessoas que só dançavam enão sabiam servir em outras áreas, ficavam conver-sando na hora do culto, só sabiam ministrar se esti-vessem na frente. Quando comecei confrontar isso, fui

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apedrejada, quando sonhei com as nações, fui motivode chacota; mas hoje posso dizer que valeu a penaobedecer – e vale a pena correr com a visão que Deustem nos dado, mesmo que em determinados mo-mentos possamos nos sentir abandonados em meioà batalha. Quantas vezes me senti assim; via umamuralha se erguendo e via poucos para me ajudar aderrubá-la, mas percebi que poucas pessoas, ou seja,um pequeno exército comprometido com Deus podedesbaratar uma multidão enfurecida, pois o Senhortoma a nossa causa e vai à nossa frente!

Devemos entender que estar no deserto éapenas um tempo para sermos treinados por Deus.Quando vemos os atletas correndo, nadando,ganhando medalhas, muitas vezes não temos idéiado que aquela pessoa passou para chegar até ali; oprocesso é doloroso muitas vezes, leva muito tempo,mas quando olhamos aquele belo resultado, vemos quetudo valeu a pena. Jesus sofreu muito por nós, masquando Ele nos vê com o coração quebrantado na Suapresença, com certeza vê que valeu a pena cada gotadaquele sangue. Para termos um bom resultado,precisamos aprender a viver cada fase do processo,por mais doloroso que possa parecer.

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Nunca tive uma vida fácil. Aliás, essa palavranunca me foi familiar. Antes mesmo de nascer, jásofria por erros que não eram meus, mas graças a Deus,em 1995, às vésperas do meu casamento, conheci aJesus e minha vida mudou completamente.

Eu e Oziel sempre fomos pobres: ele trabalhavaem uma fábrica e eu nessa época trabalhava em umaempresa de consórcio. Depois de um tempo, o Ozielfoi para a mesma empresa que eu e logo depois foiaprovado na seleção de uma multinacional. O detalheé que nessa época o Oziel ainda era uma pessoa bemcalada e o gerente dessa multinacional o contratou, masnão acreditava nele e dizia que ele havia passado nostestes, mas provavelmente não ficaria no emprego.Mas, ao contrário de suas previsões, Oziel se destacouna equipe, principalmente porque trabalhava muito,andava a pé – pois não tínhamos carro – viajava decarona para outras cidades. Muitas vezes, no começo,passava o dia todo sem comer, mas Deus foi noshonrando e aos poucos ele foi se destacando.

Eu também fui trabalhar nessa empresa, maslogo saí, pois queria me dedicar a dar aulas em minhaárea, educação física. Com o passar do tempo, Ozielcomeçou a ganhar bem na empresa, mas infelizmenteambos éramos muito imaturos e gastávamos mal

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Deserto em 1998

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o nosso dinheiro, com luxos, pagando almoços ejantares para os amigos, trocando de carro a toda hora,enfim, não pensamos em investir em algo mais sólido.

Nessa época, tínhamos uma casa muito simples,de apenas dois cômodos, um quarto com suíte e umacozinha. Com o nascimento do meu filho mais velho,em março desse ano, a casa ficou bem apertada eentão decidimos aumentá-la. Um engenheiro feza planta com a qual estávamos sonhando, mas algoaconteceu:

Certa pessoa, que, aliás, é minha parenta, meprocurou, dizendo que gostaria de vender a escolinhadela para mim; disse que a escola estava bem, mas quegostaria de seguir outros rumos. Conversei com Oziel,pois sempre pensamos em ter um negócio próprio;oramos e entendemos que era de Deus, mas erramos,pois não procuramos um advogado ou um contador;simplesmente acreditamos na palavra dela.

No inicio, foi tudo bem: a creche estava comsetenta alunos, os pais estavam gostando do nossotrabalho; a creche também nos ajudava quandotínhamos alguma atividade da igreja. Mas com otempo percebi que havia alguns problemas, tais comofuncionárias registradas de forma errada, dívidascom impostos, e de repente me vi em uma arapuca.Quando resolvi pôr as coisas no lugar, percebi que aarrecadação não era suficiente. Tentei então conversarcom as funcionárias, mas para minha surpresa elasmesmas haviam denunciado a creche no ministériodo trabalho. Então, literalmente, começamos a viveruma guerra.

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Havia na creche duas funcionárias que não seconformavam com a mudança de dono, pois nagestão anterior elas eram como gerentes, ou seja,faziam o que queriam, e quando assumi muita coisamudou.

Em determinado mês, precisei atrasar o saláriodelas. Aí, então, instalou-se o caos. Tentei negociar,mas não houve jeito, e sei que você vai se surpreendercom o que vai ler agora, mas aconteceu comigo: trêsfuncionárias se reuniram e começaram a tramar umgolpe, o qual eu mesma nunca esperei. Certo dia,enquanto eu não estava na escola, elas entraram emmeu escritório e pegaram os contatos dos pais. Entãocomeçaram a pôr seu plano em prática: agiam normal-mente comigo, mas ocultamente, já estavam prepa-rando um lugar e avisando alguns pais. Cerca dequinze dias depois, as três pediram demissão nomesmo dia. Achei estranho, tentei negociar com elas,mas não conseguia entender. O pior é que uma delasse fazia o tempo todo de minha amiga, se mostravacompanheira, mas foi umas das que me traíram.No dia da demissão, fui falar com ela, mas ela disseque foi mera coincidência, pois havia arranjadooutro emprego.

No outro dia pela manhã, nada menos quecinqüenta pais tiraram as crianças da escola, cada umcom uma desculpa; mas analisando hoje percebo quetudo foi bem combinado. Fiquei em estado de choque,pois sentia que a escola estava indo por água abaixo.

Quando então consegui falar com uma mãe dealuno, ela me revelou tudo: elas haviam ligado paraos pais, dizendo que a escola ia fechar, que havia

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meses estavam sem receber os salários e assim, coma ajuda de um dos pais, que era empresário, conse-guiram em quinze dias montar outra creche, para queos pais não ficassem desamparados.

Amado, mais uma vez fiquei em choque; Oziel,justamente nessa época, estava passando por umproblema sério, pois a empresa em que trabalhavaentrou em uma crise terrível em nosso estado e fechouas filiais, sem honrar seus compromissos financeiroscom os funcionários. Ele recebeu algo como dez porcento do que deveria. Ou seja, juntou tudo ao mesmotempo, sem falar que o dinheiro que íamos usar paraconstruir a casa tinha sido entregue nas mãos dapessoa de quem compramos a creche.

No dia seguinte, havia apenas vinte alunos. Eusó chorava. E ainda outra professora pediu demissãoe foi trabalhar na outra creche. Isso me doeu muito,pois essa pessoa é crente e literalmente me aban-donou quando eu mais precisava. Fiquei irada naépoca, pois ela ainda levou com ela mais dez alunos.

Eu olhava a situação e pensava: “Onde eu errei,Oziel?”. Pois eu é que desejara essa creche e agora olha-va meu marido abatido e não conseguia me perdoarpor aquilo. E com apenas dez alunos, a situação ficouinsustentável e aí sim tive que encerrar as atividades.

No dia em que entregamos o local, sentia-mevencida, envergonhada, humilhada. E ainda entregueicom dívidas, muitas dívidas. As duas funcionárias quehaviam ficado entraram na justiça contra mim, umapedindo trinta mil reais, a outra, quinze mil. Tivemosque enfrentar esses julgamentos e como não tinha

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dinheiro para pagar advogados, apelei para advo-gados gratuitos que existem nas faculdades e me deimal, muito mal mesmo.

A primeira funcionária, que me pediu os trintamil reais, estava endemoninhada; ela olhava para mime dizia: “Quero tudo o que é seu, se vire”. Até mesmoo advogado dela se compadeceu da minha situação,mas ela não voltava atrás. Ela foi à empresa na qualeu, graças a Deus, estava trabalhando logo depois queperdemos tudo e fez um escândalo: gritou comigo, mepegou pelo braço, me amaldiçoou, disse que eu jamaisseria dona de nada. Nesse dia, sim, me senti a piorcriatura da terra. Fui correndo para o estúdio do meupastor, sentei lá e fiquei horas chorando e tremendo.Todos do prédio assistiam mudos aquela cena dehumilhação; ninguém me ajudou, ninguém chamoua polícia; ficaram ali como se estivessem vendouma cena de filme.

Dei queixa na polícia, mas não deu em nada.Logo depois do episódio fui “convidada” a sair daempresa. Enquanto isso, Oziel, desempregado, procu-rava emprego, nosso filho tinha alergia a leite comume só podia tomar um leite caríssimo, de soja. Comonós mal tínhamos o que comer, tive que pedir ajudaem minha igreja.

Talvez você esteja pensando: “Pedir? Mas aspessoas não viam a sua situação?”. O que posso dizeré que na verdade as pessoas da igreja estavam interes-sadas em descobrir o que eu tinha feito de errado parapassar por tudo aquilo. Muitas pessoas chegavamaté mim e diziam: “Confesse seu pecado”. Mas eu nãohavia pecado!

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Nesse momento Deus levantou uma irmãabençoada para nos ajudar, a Mazinha, esposa dopastor, que sempre nos dava uma oferta, tickets ali-mentação, nos emprestava cheques, a única pessoa quenos estendeu a mão, exceto o próprio pastor.

Enquanto isso, Oziel estava certo dia em umsupermercado. Pegou uma embalagem de lâmpada,pois era um ramo em que ainda não havia procuradoemprego, anotou o telefone 0800 e entrou em contatopara falar com o setor de vendas. Conseguiu então ocontato com o gerente e disse: “Preciso trabalhar, seráque você teria uma vaga?”. Ele respondeu: “Ligue-medaqui a um mês”. Oziel ligou, conversou com ele enesse dia Deus usou aquele homem, que disse assim:“Eu não conheço você, mas sinto paz em nossaconversa; gostei de você. Apesar da pouca idade, meparece maduro. Então preste atenção: daqui a ummês está para surgir uma vaga em Minas Gerais,para o interior do estado; então entre em contatocomigo de novo”.

Essa resposta gerou uma esperança no coraçãodo Oziel, mas não no meu; eu estava ferida demais.Gente, era cobrador na minha porta dia e noite, nomeu emprego. Certo dia, ao voltar para casa, minhavizinha disse que um cobrador tinha me procuradocom um facão na mão.

Depois que saí dessa empresa, fui trabalhar emuma butique muito refinada; trabalhava na emba-lagem e ficava ali, vendo aquelas pessoas gastando riosde dinheiro com roupas e pensava por quanto tempoeu havia sido assim também.

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Minha casa estava aos pedaços; como nãohavia dinheiro para fazer o terraço, quando choviapingava pela casa toda, menos no berço do meu filho.Meus móveis, os poucos que tinha, estavam seacabando; eu tinha receio de voltar para casa eencarar aquela triste realidade.

Ficamos dois meses sem água e energia. Umvizinho enchia minha caixa dágua e fez uma extensãode sua energia para minha casa, para que ao menos euligasse a geladeira. Com os processos na justiça,perdi meu freezer, meu microondas; foi realmenteum grande deserto.

Certo dia, cheguei em casa mal e lá estava meumarido em cima da laje, orando e dizendo: “Deus, euTe adoro por tudo isto e sei que o Senhor vai nos tirardesta situação!”. Diante daquela cena, comecei achorar, pois me sentia abandonada por Deus, rejei-tada na igreja, no meu trabalho as pessoas meolhavam como a falida, e eu não sabia para onde ir.

Alguns dias se passaram. Nós tínhamos umcarro, comprado através de um financiamento, mas nãoestávamos conseguindo pagar. Então, um oficial dejustiça foi à nossa casa e o levou. Oziel me ligou e deua notícia. Fiquei mal demais. Quase não tínhamosdinheiro para a gasolina, o tanque vivia na reserva,mas eu amava aquele carro; era a única coisa que noshavia restado... fiquei muito mal mesmo, mas enfimtinha que trabalhar – e sorrindo.

Nesse dia, no final do expediente, fui direto paraa igreja. Lembro-me que me sentei no primeiro banco,perguntando o que estava fazendo ali. Sentia-me tão

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mal, mas sabia que precisava estar ali. De repentechegou à igreja um pastor, de outra cidade. Ele olhoupara mim e disse: “Moça, hoje Deus lhe tomou algoque você amava, não é?”. Respondi: “Sim, mas comovocê sabe?”. Ele me olhou nos olhos e disse: “Deus mefalou e me deu uma direção para você; entre alinaquela sala, pegue um papel e uma caneta e escrevatudo o que você quer de Deus”. Olhei para ele e disse:“Eu vou escrever, mas espero que você não leia evenha me dar um ‘revelamento’!”.

Então escrevi e dei a ele, que guardou o papelem sua Bíblia e depois foi pregar. Ao final de suapalavra, me chamou e disse: “Gisela, Deus me mostravocê como uma desbravadora nas nações, você vai amuitas terras, vai falar a muitas pessoas. Prepare-se!”.

Eu chorei muito; na verdade, confesso que nãoqueria um chamado; só queria que Deus pagasseminhas dívidas e devolvesse o que eu tinha antes, masDeus tinha algo muito maior na minha vida.

Depois dele, foi um pastor americano à minhaigreja e mais uma vez liberou uma palavra sobre aminha vida, dizendo que meu pastor deveria tirar osbancos da igreja, pois eu e minha equipe íamosdançar sobre a injustiça. Esse dia foi muito forte emminha vida. Ele ainda disse que meu marido seria umhomem bom e daí por diante vi as coisas começarem amudar em nossas vidas.

Depois dessas palavras, Oziel foi chamado poraquela empresa de lâmpadas e começou a trabalharem Minas Gerais. Como ainda morávamos no Espí-rito Santo, ele às vezes ficava quinze dias fora. Eu me

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sentia tão sozinha, mas com esse emprego já conse-guimos pagar algumas dívidas e ficamos assim, anose anos, pagando dívidas.

Durante esse período viemos para Belo Hori-zonte, no ano de 2002, e fizemos uma escola de mis-sões, quando Deus me falou através de um preletor,que Ele havia me chamado como uma Profeta da Dan-ça, não apenas como bailarina, e mais à frente, aindanessa escola, Deus me deu a visão da bailarina com abandeira no cabelo, e ela estava de costas.

Em dezembro desse ano de 2002, recebemosuma palavra que Deus nos usaria para levar o fogoDele pelo Brasil. Esse irmão era um presbítero emnossa igreja e nesse dia ele me chamou no final do cultoe me disse que havia visto um vestido verde, com ra-jadas de fogo, com as bandeiras de todos os estadosdo Brasil, e que Deus havia mostrado a ele o significado.

Depois disso, nesse mesmo culto, outro irmãodisse que tivera uma visão conosco: viu um caixãoimenso dentro da igreja e nele estava sendo velado umgigante; de repente, o gigante sentava no caixão e di-zia: “Vocês não vão conseguir me deter”. Nesse mo-mento, ele disse que as portas da igreja se abriam e elevia a mim e à minha equipe entrando com um vestidoverde, com espadas nas mãos e quando dançávamos,um buraco imenso se abriu e esse gigante foi sugado.Antes dele me relatar essa visão, pedi à Sueli que de-senhasse para mim o vestido que o presbítero haviavisto, inclusive o confeccionamos; então mostrei a esseoutro irmão e ele ficou chocado, pois era exatamente oque tinha visto!

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Depois disso, realmente começamos a ministrarem todo o Brasil, lançamos nosso site e em umasemana começamos a receber convites de todo Brasil.Depois recebemos um convite para ir ao Canadá e apartir daí não paramos mais, ministrando pelo Brasile por várias nações, como Grécia, Itália, EUA, etc.

Esse relato mostra claramente o processo queDeus me fez passar. Por isso, amado, tenho tantotemor; sei de onde Deus me tirou e onde Ele mesmotem me colocado; sei cada passo, cada lágrima quederramei, para estar onde estou hoje.

Sei mais do que nunca que Deus escolheaqueles que não são; vivo isso todos os meus dias,pois tudo o que sou devo a Ele. Quando estou emalguma viagem, quando gravei os dvd’s , sempreme lembrava de tudo o que passei e posso dizer: valeua pena!

A profundidade do processo que Deus usapara nos preparar, vai muito além do que merasconvicções; nunca pensei que teria forças para passarpor tudo isso, mas hoje sei que tudo posso naqueleque me fortalece!

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Vales que jorram vida

“Tu fazes rebentar fontes nos vales, cujas águascorrem entre os montes” (Sl 104.10).

Da mesma forma que passamos por desertos emnossa caminhada, também passamos pelos vales.

O vale, a princípio, é um nome que assusta; pen-samos em um lugar fundo, pensamos no vale da som-bra da morte, no vale de ossos secos, mas independente-mente da idéia que cada um de nós tenha, o vale é umlugar em que vivemos batalhas e vitórias e, conseqüen-temente, podemos crescer e aprender mais de Deus.

É interessante pensar que onde não vemos abso-lutamente nada, Deus pode fazer brotar vida: “Eis quefaço cousa nova, que está saindo à luz; porventura não opercebeis? Eis que porei um caminho no deserto, e rios no ermo”(Is 43.19) .

A Bíblia nos relata neste texto que Deus fará umcaminho no deserto, rios no ermo, ou seja, em um lugardesabitado. Esse deserto e esse lugar ermo éramos nós,você e eu. Antes que Jesus habitasse em nós, éramos chei-os de nossas próprias idéias e convicções, mas hoje Deustem nos enchido e onde você e eu estávamos secos oSenhor fez brotar um rio de vida.

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Vamos basear estas meditações em 2 Crônicas20:1-30. Este é o Vale da Bênção e veremos aqui pontosinteressantes sobre uma grande vitória; veremosestratégias maravilhosas de um homem que soubeentender a vontade de Deus.

“Então vieram alguns que avisaram a Josafá,dizendo: Grande multidão vem contra ti dalém do mar e daSíria; eis que já estão em Hazazom-Tamar, que é En-Gedi”(2 Cr 20.2).

Aquilo que vem contra nós, com um aviso e umacerteza: Não temos chance!

Quantos de nós já fomos desafiados assim,quantas vezes ouvimos isso das pessoas à nossa volta:“Cuidado! Isso vai dar errado. Esse ministério não épara você. Olhe a sua idade!”. Eu mesma já ouvi issomuitas vezes. Quando começamos a orar pelas nações,fomos chamados de sonhadores. Certa vez, um irmãoorou assim: “Deus, tira essa idéia fictícia de nações docoração desse ministério”.

Bem no início do meu chamado, uma irmã meperguntou assim: “Você não se acha ridícula dançan-do? Olhe a sua idade, você já tem filho. Dança é paraadolescente!”.

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Vale da Bênção

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Posso dizer que meu ministério foi o vale dabênção. Quantos desafios passei, e passo ainda,quantas vezes o inimigo se levantou querendo nosassustar, nos desanimar. Quando ficamos, com centoe cinqüenta alunos de nossa Escola Profetas da Dança,no meio de um tiroteio, em 2004, no Rio de Janeiro,o inimigo soprava em meu ouvido para que desis-tisse: “Olhe ao seu redor, Gisela; olhe que tragédia,que vergonha”.

Mal sabia ele que Deus estava ali, consolandomeu coração. No dia seguinte, os alunos diziam: “Estanoite mudou minha vida, me encorajou, me ensinouque o ministério não é brincadeira”.

Quando minha mãe foi assassinada, me sentimal, fiquei triste, desolada; pensava: “Meu Deus comolidar com isto?”.

Quando as pessoas perguntavam por minhamãe e eu tinha que falar, elas se espantavam; mas,amado, Deus nos fortalece. Deus me consolou de ummodo sobrenatural, pois ela havia sido batizadaapenas uma semana antes. Mas não é fácil, pois oinimigo nesses momentos se levanta; é como se eleolhasse para mim e dissesse: “Olha aí: você perdeu”!Mas tudo coopera para o nosso bem, tudo mesmo;mesmo na dor, nas angústias, nas lutas... Deus sabe oquanto a minha alma se abateu, mas tenho que serguiada pelo Espírito Santo, não pelas emoções, e maisuma vez experimentei Deus consolando e curando omeu coração, o meu esposo, o ministério todo, os meusamigos. Deus nos fortalece e nos permite passar poressas situações.

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Vamos ver agora alguns passos que podem nosajudar a passar pelo vale:

Não procure culpado; clame ao Senhor

“Judá se congregou para pedir socorro ao Senhor;também de todas as cidades de Judá veio gente para buscarao Senhor” (2 Cr 20.4).

Quantas vezes alguma coisa dá errado – ousomos desafiados para fazer algo grande e parece quenada flui como planejamos – e a primeira coisa quefazemos é procurar quem é o culpado? Essa não é umaboa atitude; devemos, assim como Josafá, apresentara situação diante de Deus, orar, pedir a Deus quevenha em nosso socorro.

Imagine uma equipe de socorro, chegando paraatuar em um acidente de carro e ao invés de ajudaremas vítimas, pararem e perguntarem: “Antes de qual-quer coisa, queremos saber de quem foi a culpa”! E láestão as vítimas, presas às ferragens, morrendo,enquanto eles discutem o que houve, de quem é aculpa, como vão disciplinar os culpados. Nesse meiotempo as pessoas feridas já terão morrido.

Quantas vezes agimos assim, ao invés de bus-carmos a Deus; ficamos discutindo de quem é a culpae enquanto isso o inimigo age, pessoas são feridas,morrem. Busque ao Senhor!

Alinhe-se com o caráter de Deus e clame por justiça

“Se algum mal nos sobrevier, espada por castigo,peste ou fome, nós nos apresentaremos diante desta casa ediante de ti, pois o teu nome está nesta casa; e clamaremos ati na nossa angústia, e tu nos ouvirás e livrarás. Agora,

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pois, eis que os filhos de Amom e de Moabe e os do monteSeir, cujas terras não permitiste a Israel invadir, quandovinham da terra do Egito, mas deles se desviaram e não osdestruíram, eis que nos dão o pago, vindo para lançar-nosfora da tua possessão, que nos deste em herança. Ah! NossoDeus, acaso, não executarás tu o teu julgamento contraeles? Porque em nós não há força para resistirmos a essagrande multidão que vem contra nós, e não sabemos nóso que fazer; porém os nossos olhos estão postos em ti”(2 Cr 20.9-12).

Deus tem propósitos para nós, não “boasidéias”. Clamamos a Ele, pois confiamos em SuaPalavra sobre nossas vidas. Agimos de acordo com ocaráter de Deus, não de acordo com nossas emoções,e muitas vezes podemos até sofrer o dano, massabemos que Ele se levantará em nosso favor.

Reconheça a falta de direção e força

“Porque em nós não há força para resistirmos a essagrande multidão que vem contra nós...” (2 Cr 20.12b).

Quantas vezes nossos ministérios passam pormomentos difíceis, quando parece que nada anda, nãoconseguimos prosseguir; isso é complicado, masnessa fase o quebrantamento é essencial.

Reconhecer que estamos fracos não é errado.Como Deus pode agir na vida de alguém que pensaque é auto-suficiente, que nunca reconhece erros? Nãosomos super-heróis, não temos super-poderes, nemcinto de utilidades. Às vezes, vejo desenhos e filmescom meus filhos e fico pensando que há ocasiões emque julgamos poder resolver as coisas com os nossos“poderes”: minha oração poderosa, minha estratégia

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infalível. Mas somos apenas vasos nas mãos do oleiro.A humildade é algo precioso – há um capítulo falandosobre isso. Davi optou pelo simples e venceu Golias,ou seja, derrubou um gigante, sem uma armadura, poisa armadura era muito complicada para ele.

Não abra a mão de esperar a direção do céu

“... porém os nossos olhos estão postos em ti”(2 Cr 20.12b).

“Não temais, nem vos assusteis por causa destagrande multidão, pois a peleja não é vossa, mas de Deus”(2 Cr 20 15b).

Pôr os olhos em Deus é reconhecer que Delevem a melhor solução, Dele vem o socorro, por piorque a situação possa parecer; Ele está no controle e ascircunstâncias não podem desviar o nosso foco.

Deus assume a peleja. Eu entendo, como boasangüínea que sou, como é difícil esperar. Quando meconverti, queria um Deus rápido, que resolvesse tudo,mas bem rapidamente.

Como eu tinha dificuldade para entender que otempo de Deus é diferente do nosso e queria muitasvezes fazer as coisas do meu jeito, e algumas vezes fiz– e o resultado não foi dos melhores; mas aprendi.

“Amanhã, descereis contra eles; eis que sobem pela la-deira de Ziz; encontra-los-eis no fim do vale” (II Cr. 20.16 a).

Vejam este versículo: Deus nos estimula a ir atéo fim do vale. É isto mesmo, desistir é fácil, mas Deusquer passar junto com você, quer ensiná-lo a perseve-rar e crer em Sua mão poderosa.

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Não interfira na ação de Deus, Deus porá emboscadacontra o nosso inimigo

“Não temais nem vos assusteis; amanhã saí-lhes aoencontro, porque o Senhor é convosco” (2 Cr 20.17b).

Não tente ajudar a Deus, não tente dar um jei-tinho, não queira manipular; Deus tem Seus meios.Muitas vezes, o processo pode ser longo, mas valea pena. O inimigo pensa que está lutando contranós e percebe que na realidade luta com o Senhordos exércitos!

Louve a Deus no meio da batalha

“Aconselhou-se com o povo, e ordenou cantores parao Senhor, que, vestidos de ornamentos sagrados, e mar-chando à frente do exército, louvassem a Deus, dizendo:Rendei graças ao Senhor, porque a sua misericórdia durapara sempre” (2 Cr 20.21).

Como já referi acima, em 2004, no Rio de Ja-neiro, ficamos no meio de um tiroteio. Um momentoque marcou foi quando meu marido, Pr. Oziel, con-vocou o povo para adorar ao Senhor, e começaram acantar: “Sob a sombra de Tuas asas”. Esse gesto foimaravilhoso! E assim como podemos ler nos versos 21a 24 que Deus colocou emboscadas no meio do ini-migo e eles foram vencidos, assim Deus fez conosconaquele dia: nos deu vitória e hoje estou aqui viva,testemunhando para você através deste livro.

Teremos, no capítulo a seguir, a história dessabatalha.

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Um grande despojo nos aguarda

“Vieram Josafá e o seu povo para saquear os des-pojos, e acharam entre os cadáveres riquezas em abun-dância e objetos preciosos; tomaram para si mais do quepodiam levar, e três dias saquearam o despojo, pois eramuito” ( 2 Cr 20.25).

Hoje, olho para tudo o que passou e vejo tudo oque estamos colhendo. Sofremos muito, mas hojeestamos colhendo o fruto de muitas lágrimas, de mui-to trabalho. No DVD II, trabalhamos como nunca.

Lembro-me que gravamos um dia até as quatroe meia da manhã e no dia seguinte, às oito da manhã,já estávamos de pé. Antes da gravação, tivemosmuitas lutas com a montagem da estrutura, a ilu-minação, o piso. Meu Deus, deveríamos ter começadoa gravar na segunda-feira, às oito da manhã, masdevido aos problemas com a montagem, só come-çamos na terça-feira, às oito da noite. A gravaçãoestava marcada para terça-feira às onze e meia damanhã. Já estávamos lá, maquiados, prontos, espe-rando, mas surgiu outro imprevisto e eu sentei nessemomento; confesso que estava cansada e abatida,abaixei minha cabeça e fiquei pensando: “Deus, o queestá havendo? Pai, nós investimos pesado nesteDVD, financeiramente, espiritualmente, mas nãoconsigo ver o resultado de nada”. Nesse momento,o Paulo Ferry, o fotógrafo que estava nos servindo,disse assim: “Gisela, quando Deus me tirou domundo, me disse que eu me envolveria em grandesprojetos e eu estou aqui para encorajá-la: levante-se,guerreira! Você não tem idéia do que vai ser este DVDna vida das pessoas”.

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Amado, aquilo foi como um tiro, foi como seeu ouvisse: “Levanta e sacode a poeira”! Meu maridoestava com o pessoal da iluminação; fui até lá e oabracei. Ele me disse: “Eu acredito em você, nesteprojeto, mas acima de tudo Eu creio em Deus”!

Realmente a gravação foi um marco; os teste-munhos não param de chegar de pessoas que foramtocadas; o monólogo da noiva tem renovado a fé daspessoas e realmente a gravação do monólogo foi ummomento único e marcante para todos.

O testemunho do cuidado de Deus vai se espalhar,trazendo um tempo de paz

“Assim, o reino de Josafá teve paz, porque Deus lhedera repouso por todos os lados” (2 Cr 20.30).

Quando compartilhamos aquilo que Deus temfeito, podemos encorajar outras pessoas. Algumassituações que passei em minha vida, situaçõescomplicadas, me faziam pensar assim: “Porque estoupassando por isto?”.

Depois, percebi que Deus colocava em meucaminho pessoas que estavam passando por coisasparecidas, ou até mesmo iguais, e como eu já haviapassado por aquilo, podia consolá-las e dizer: “Olhepara mim; eu consegui e você vai conseguir também”.

Creia, tenha fé; Deus sabe como me é difícilcontar meu testemunho, mas sempre quando acabo,vejo o mover de Deus e às vezes fico horas ouvindo aspessoas e ouço testemunhos abençoados; receboe-mails dizendo: “Você me encorajou! Eu abri meusolhos, conseguir ver além dos meus problemas”. Isso

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me faz entender que valeu a pena.

Esta palavra é para todos nós, que fomosencontrados por Deus, que passamos pelos valesou ainda vamos passar, mas com uma certeza:chegaremos até o final nos braços do nosso Amado!

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Era uma sexta-feira, penúltimo dia da EscolaProfetas da Dança; tínhamos tido programações o diatodo e naquele dia em especial Deus nos orientou queno culto da noite passássemos uma fita que fala sobreo evangelho no México, da luta que os nossos irmãospassaram naquele país. É interessante dizer que otítulo dessa fita é “Deus é mais forte que as armas”.É uma fita bem forte, que nos mostra a realidade duravivida por aqueles irmãos que aceitaram a Jesus etinham que enfrentar os caciques daquela região. Emum desses confrontos, nossos irmãos ficaram três diasdentro da igreja, sem água, sem comida, sem podersair, pois lá fora estavam os caciques com armas,facas, etc., tentando entrar para matá-los e comapenas uma telha de aço segurando a porta, nãoconseguiam entrar. No terceiro dia, Deus falou comeles: “Agora vocês vão sair glorificando”. E os irmãossaíram desarmados, apenas seguindo a direção deDeus e os caciques, quando os viram, saíram corren-do, um matando o outro, e os irmãos saíram vito-riosos, com as armas do Senhor!

Assistimos a fita e foi um quebrantamento muitogrande. Os alunos tinham preparado uma surpresapara nós e logo após o filme foi lindo: eles lavaramnossos pés, deram testemunhos, fizeram agradeci-

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Testemunho da EscolaProfetas da Dança, em 2004

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mentos. Quando já estávamos no final do lava-pés,começou um barulho como uma chuva de granizo noteto da igreja, mas na verdade não era uma chuva; eramtiros, muitos tiros.

Lá fora estava havendo um confronto entrea polícia e os traficantes de uma favela. O tiroteiocomeçou por volta das nove e meia da noite e duroumais ou menos umas três horas. Quando começaramos tiros, nos jogamos todos no chão – éramos mais decento e cinqüenta pessoas: alunos internos e externos,pastores, crianças, uma irmã de nosso ministériográvida de quatro meses – em questão de segundos,estávamos no chão, perguntando-nos o que estavaacontecendo.

Depois de uns dez minutos, os tiros pararam.Pensamos que já estava tudo calmo e fomos comeros salgadinhos, tortas, enfim, tudo o que eles haviampreparado, mas infelizmente aqueles tiros eram sóo começo de uma longa noite. Depois de algunsminutos, enquanto comíamos, os tiros recomeçaram.Era como um sonho; não consegui entender aquilo.

Durante o tiroteio, fomos para o berçário, poisele fica abaixo do nível do chão, e para o gabinetepastoral. No berçário, Oziel ficou com os alunossolteiros, enquanto eu e mais um coordenador fomospara o gabinete pastoral, que era bem grande, com asmães e as crianças.

As horas se foram passando, alguns alunoscomeçaram a chorar... nesse momento, Oziel estavalá em baixo, no berçário, com um grupo maior e euestava no gabinete com as mulheres e as crianças.

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O meu grupo em particular estava bem agitado:crianças chorando, eu estava muito nervosa, poisafinal aqueles alunos, de várias partes do Brasil, eramnossa responsabilidade e eu olhava para eles commedo, muito medo, e dizia: “Deus, por quê? Isso nun-ca aconteceu antes aqui. Por que justamente hoje, comtodas estas pessoas?”. E naquele momento, nãoconseguia ouvir respostas; só ouvia choro, via rostosapavorados, mas de repente o grupo do pastor Ozielcomeçou a adorar! Eles cantavam aquela canção quediz: “Sob a sombra de suas asas”!

Estávamos orando, mas numa situação comoaquela você vai ficando sem palavras, então come-çamos a adorar também – e era interessante queíamos adorando e os tiros aumentando; uma loucura!

Amado, adorar em uma circunstância assim ébem diferente, pois você se vê numa situação de risco,a sua vida toda passa pela sua mente como um filme,você engasga, sua voz some; e eu me lembro que nomeio daquela adoração, os tiros iam ficando maisfortes e começamos a ficar nervosos. Então, umasenhora que estava na sala, olhou para nós e disse:“Ué! Onde estão os profetas agora? Onde está aadoração? Eu tenho certeza que nada vai nos acon-tecer Deus está no controle”.

Naquele momento abaixei minha cabeça epercebi que não confiamos em Deus. É fácil cantar queconfiamos quando está tudo certinho, estamos emnossas igrejas e de lá vamos em segurança para nossascasas, mas cantar com um monte de tiros passandopertinho de nós, nossa vida em risco, realmente é muitodifícil. Na verdade, naquele dia Deus estava nos ensi-

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nando a mergulhar fundo na presença Dele. Ado-ração não é só rolar no chão, gritar; é um estilo de vida,é incondicional, e naquele momento, penso que os alu-nos estavam tendo talvez a maior palestra da escola.

Ir para as nações não é brincadeira, é muitosério, e inclui situações de risco como essa; talveznão tão intensas, mas temos que estar preparados – ecreio que ali foi um grande treinamento.

Eu pensava: “Deus, onde está a paz que excedea todo o entendimento? Eu quero senti-la! Mas elaparece tão distante”. E nessa hora pude descobrir quenesses momentos de luta, de risco, ou nós nos deses-peramos ou então mergulhamos fundo em Deus. Equando opta pela segunda hipótese, você descobre umlugar secreto, um lugar de paz, um lugar nos braçosde Deus, onde Ele o protege e lhe faz enxergar além.

“Caiam mil ao teu lado, e dez mil à tua direita; tunão serás atingido” (Sl 91.7) foi exatamente a nossarealidade, mas como a nossa mente humana entendeque seremos atingidos, é uma luta, entre a carne e oEspírito. Nesse momento você vive a Palavra e temque colocá-la em prática, confiando no Deus doimpossível!

Mas isto ainda não foi a pior parte; o pior foiquando a polícia entrou na igreja. Os policiaisbateram no portão – era por volta de meia-noite – epediram para entrar. Parecia cena de filme, os portõesse abriram e de repente entraram correndo seis poli-ciais com fuzis nas mãos. O comandante disse queiam apenas olhar do terraço da igreja, para resgatartrês policias feridos, mas na verdade eles começaram

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a atirar. Foi terrível!

Começamos então a orar para que eles fossemembora, pois o nosso medo era que os traficantes alve-jassem a igreja. Começamos a orar e adorar commais intensidade e um tenente olhava aquilo e ficouimpressionado com aqueles jovens.

Em certo momento, fui lá e pedi aos policiaisque saíssem, pois estavam pondo nossas vidas emrisco, mas o tenente me disse para ficar calma, que nadaia acontecer. Eu nunca tinha visto policiais tãoarmados. Não eram armas comuns, eram AR-15.Quando me deparei com seis deles dentro da igreja,acho que desmaiei, perdi os sentidos por algunssegundos e logo me levantei, pois a nossa irmã grá-vida começou a chorar. Então falei: “Deus, não deixeacontecer nada com esta criança”. Aqueles momentosforam horríveis e novamente eu me entregava aoSenhor, pedia a Ele que me fortificasse e novamentesentia que Ele estava no controle.

Enfim, os policiais foram embora; antes de sairo tenente pediu desculpa pelo transtorno e disse quenão era para levarmos aquela imagem do Rio deJaneiro.

Lá pelas duas horas da manhã, os tiros pa-raram e então os pastores da igreja disseram que jápodíamos sair e ir para os alojamentos. Mas quandonos dirigimos ao portão da igreja e o abrimos, co-meçou tudo de novo: tiros e mais tiros.

Voltamos então todos para dentro da igreja edecidimos passar a noite ali mesmo. Enfim, tivemos

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que dormir na igreja, estava muito frio e lá não haviaroupas de cama, colchões – e nos bancos da igreja nãopodíamos deitar, pois essa parte do templo fica bemna frente da rua e nós estávamos na parte de trás daigreja.

Então Oziel viu um tapete vermelho (dessesde casamento) e o abriu lá atrás onde o pessoal estavae os alunos se deitaram. Eu estava no gabinetepastoral com as crianças e algumas mulheres. Aco-modamos a Duda, que estava grávida, no sofá e comtecidos do ministério fizemos as camas das crianças.Elas dormiam como se nada estivesse acontecendo.Eu não consegui dormir; fiquei olhando aquelaspessoas e agradecendo a Deus por Sua fidelidade,pelo cuidado com todos.

Entendi, então, que nesse dia Deus permitiutudo aquilo para que pudéssemos entender quenações não são brincadeira; ir para uma nação é algomuito sério. Não podemos ir para uma nação por emo-ção. Quando estivemos em Toronto, também sentimosa frieza das pessoas, a falta de conhecimento da Pala-vra de Deus, o amor pelas riquezas. Nós não chega-mos lá assim: “Canadá, seja livre”! Trabalhamos coma igreja; até mesmo porque não tivemos oportunidadede ir às ruas, pois lá não se pode pregar nas ruas semautorização. Mas trabalhamos com a igreja, com aspessoas que estavam lá e, interessante, profetizamosque a igreja ia para as ruas, profetizar, arrebatar almase logo depois que estivemos lá os irmãos participaramde uma marcha para Jesus nas ruas de Toronto, “Jesusin the City” e profetizaram, tiveram trios elétricos eessa igreja na qual ministramos participou com lou-

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vor e dança, e eles falaram conosco: “Olhe, irmã, nósnos sentimos envergonhados, porque vocês do Brasil,sabiam mais do Canadá do que nós que estamos aquie quando passamos pelas ruas vimos realmente umpovo sem identidade, carente, mas que não sabe queprecisa de Jesus”. Quando ela me disse isso, e poroutros testemunhos, entendi como Deus se preocupacom a igreja. Naquele tempo em que estivemos lá, Elequeria trabalhar com a sua noiva. Naquela noite, naigreja, sentimos frio, cansaço, medo, angústia; sen-timos na pele o que aquelas pessoas que moram nasfavelas vivem no seu dia-a-dia. Lembro-me que lápelas quatro horas da manhã eu estava conversandocom as alunas do Sul e elas me disseram: “Isto acon-tece em nosso país e nós muitas vezes só nos preo-cupamos com nossas vidas”.

Às seis da manhã, saímos – e saímos vitoriosos,entendendo que o Senhor é Deus!

Pense bem: pisamos no Rio de Janeiro, a terrado carnaval, para afrontar a dança de Salomé; pes-soas de várias nações vêm para ver mulheres nuasdançando e nós estávamos ali, confrontando esseespírito com a dança profética, que traz a presença deDeus. Foi demais! Que intercessão! Que vitória! Nessedia, Deus também havia dado para algumas pessoasvisões do livramento que estaríamos vivendo.

Uma irmã, mãe de uma aluna, me ligou às22:40h daquela noite e perguntou: “Gisela, está acon-tecendo algo?”, ao que respondi: “Está sim; estamosno meio de um tiroteio”. Ela falou: “Amada, não sepreocupe; hoje um homem de Deus entrou no meuescritório e disse: ‘Hoje ainda Deus vai dar um grande

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livramento à sua filha’”. Logo depois, outra irmã,também mãe de uma aluna, estava na reunião deintercessão da igreja em São Paulo e Deus, exatamentena hora que começaram os tiros, mandou que elesorassem repreendendo o espírito de morte. E aindaum pastor de Mato Grosso do Sul, esposo de umaaluna, estava orando também naquele momento eviu sete anjos enormes em volta da igreja, e é inte-ressante que ele via alguns desses anjos massageandoas nossas costas, pois Deus falava com eles que está-vamos cansados. Quando a esposa dele contou o quehavia acontecido, ele ficou feliz demais com o cui-dado de Deus.

Enfim, foram alguns meninos e meninas e vol-taram homens e mulheres de Deus. As nossas levese momentâneas tribulações produzem em nós umeterno peso de glória (2 Co 4.17).

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Em busca da minha identidade

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Deus não se importa com o que as pessoaspensam de nós, mas com quem nós somos.

Caráter: aquilo que você é, quando ninguém oestá vendo.

Reputação: é o que as pessoas pensam de nós.

Uma das coisas mais difíceis de serem tratadasem nós é o nosso caráter. Quantas pessoas chegam aténós cheias de talentos, mas totalmente sem caráter. Istodeve ser encarado como algo primordial dentro de umministério.

Sempre gostei de observar as pessoas. Paraaqueles que se candidatavam a estar conosco noministério de dança, eu sempre dava tarefas comoarrumar a sala de dança, trabalhar nas cantinas quefazíamos, etc., e muitos nessas tarefas simples, queaparentemente nada tinham a ver com a dança,eram reprovados, pois gostavam de dançar, masnão de servir.

E umas das características marcantes em minhaequipe é realmente a de servir. Quem nos conhecede perto, sabe disso. Creio que esta é razão de minhaequipe não ser grande, pois poucos estão de fatodispostos a trabalhar na obra; a dança é apenas o

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Um caráter forte

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resultado de muito trabalho e esforço, aquilo que aspessoas vêem, mas o ministério vai muito além disso.

Em nossa escola, as mesmas pessoas que dan-çam, servem de várias maneiras. Lembro-me de queeste ano, em julho, uma aluna me disse que jamaisimaginou que as pessoas que os estavam recebendo,ajudando carregar as malas, eram os ministros dedança e louvor.

Ela ainda relatou que quando entrou no audi-tório e viu a Carla limpando o chão, Deus já começoua falar com ela sobre servir mesmo quando as pessoasnão vêem o que você esta fazendo ou não dão valor aesse trabalho.

Vamos, então, falar neste capítulo de carac-terísticas importantes para um caráter forte.

Coragem

Corajoso é aquele que, mesmo com medo,prossegue em obediência a Deus: “Porque Deus nãonos tem dado espírito de covardia, mas de poder, amor emoderação” (2 Tm 1.7).

Quando pensa em alguém corajoso, talvez vocêimagine alguém enfrentando um leão, andando demontanha russa, desafiando alturas, mas coragem éalgo que vai muito além dessas coisas. Responder aum chamado de Deus é um ato de extrema coragem,pois a partir desse momento a nossa vida passará poruma série de mudanças. Deus não nos dá um contratomarcando o dia e a hora que as coisas vão acontecer;Ele nos dá a Sua palavra, nos dá uma promessa, e pre-cisamos crer e começar a andar nessa direção.

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De nada adianta dizer que tenho um chamadoe não andar em direção a ele, ficar parado, esperandoque outros invistam em mim. Querido, o primeiro ainvestir deve ser você, financeiramente, espiritual-mente, doando seu tempo, seu trabalho. Isso já faráparte da sua resposta ao chamado.

Quantas pessoas que conheço dizem que têmum chamado de Deus, mas não andam; dizem que seuslíderes não acreditam nelas, que não têm recursos. Mas,se eu mesmo não crer em mim e no meu chamado,como outros vão crer? Se eu mesmo não invisto emmim... Isto mesmo, eu tenho que dar o primeiro passo,sair do meu conforto, abrir mão, e aí, sim, Deusvai mover outros para estarem comigo, para investirem mim. Mas tudo deve ter um começo, e isso dizrespeito a nós.

Alguns aspectos de coragem que vou abordarfarão você perceber a profundidade dessa caracte-rística e como isso vai gerar frutos em nossas vidas.

Coragem para fazer a escolha certa: Deus nãonos obriga a nada, mas temos que escolher o caminhoque vamos seguir. Quando Jesus falou ao jovem rico:“Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aospobres, e terás um tesouro no céu; depois vem, esegue-me” (Mt 19.21), aquele jovem não voltou, e aBíblia nos fala no verso 22 que ele se retirou triste,pois seu coração estava ali, nas riquezas. Em muitasocasiões, nos põe em situações nas quais agimos exa-tamente como esse jovem: não abrimos mão; por issoa coragem é necessária para se fazer a escolha certa.

Coragem para vencer o pecado: o diabo su-

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gere, mas a escolha é nossa. Quantas vezes caímosnas armadilhas do inimigo, porque fazemos asescolhas erradas, coisas simples, mas que geramconseqüências desastrosas, por causa da mentira,da fofoca, da confusão, da lascívia, da prostituição.Conheço tantas pessoas que depois de passarem porsituações de pecado, dizem: “Eu poderia ter evitadoisso. Se tão-somente eu tivesse ouvido o meu líder”.Pense bem, amado, e escolha a santidade, mesmo queisso possa ser duro no momento, pois lá na frente terábons resultados.

Coragem para mostrar quem realmente sou:não precisamos de capas nem de máscaras; Deusconhece cada um de nós. O jejum demonstra o quantopreciso de Deus.A falsidade não agrada a Deus; aspessoas podem até fingir ser o que não são, mas umdia tudo vem a tona e quando isso acontece as pessoasperdem a confiança em nós.

Coragem para obedecer: Abrão obedeceu aDeus e foi um homem muito abençoado.Ele deixoutudo e foi sendo guiado por Deus. Quantas vezes,líder, Deus fala algo conosco e teimamos ou que-remos fazer de nosso jeito? Liderados que desobe-decem, quebram princípios; para obedecer, épreciso ter coragem, pois em muitas ocasiões anossa vontade não é a vontade de Deus.

Coragem para reconhecer nossos erros nos re-lacionamentos: Uma situação difícil para muitos éadmitir que estão errados. Há pessoas que vivem noerro anos e anos, mas não o admitem nem tentammudar. Mais uma vez, peço a atenção dos líderes:não tenham vergonha de assumir seus erros. É muito

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difícil, para uma pessoa que está em posição deliderança, reconhecer seus erros, pois pensamos:“E agora? Será que vão confiar em mim?”. Mas saibaque o ato de reconhecer demonstra maturidade e umcoração disposto a recomeçar.

Coragem para renunciar: Muitos de nós, emmuitas ocasiões, recebemos propostas tentadoras emnosso trabalho, em nossa vida pessoal; mas, saiba,precisamos ter coragem de dizer não a tudo aquiloque não condiz com a palavra de Deus. Quantasmoças têm acabado com seu chamado, por se envol-verem em casamentos errados; quantos rapazes sedesviam por causa de paixões carnais e depoischoram arrependidos; quantas moças, na pressa dese casar, deixam de renunciar a um relacionamentopecaminoso e assim abrem mão do sonho de Deus.A renúncia, que às vezes se mostra tão dolorosa, trazresultados poderosos em nossas vidas.

Disciplina

Pelo fato de terem tanta dificuldade com estapalavra no reino de Deus, as pessoas muitas vezes nãoentendem que chegar pontualmente nos horários dosensaios, cultos, programações, não é fazer um favorpara Deus; isto é um compromisso nosso.

Disciplina envolve duas coisas:

1. Adiar o meu prazer;

2. Decisão antecipada – eu decido disciplinaresta área da minha vida.

Quantas pessoas sofrem com isso e não conse-

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guem ter tempo para orar, ler a Bíblia; sentem-se malpor isso, mas não conseguem mudar essa situação.Disciplina é uma decisão.

Em minha academia, muitas vezes tenho difi-culdade com isso; os alunos estranham a exigência dapontualidade, das roupas adequadas, de prender ocabelo. É isso mesmo: parecem coisas bobas e muitagente pensa não ter qualquer importância, mas umbom bailarino é disciplinado, e nós que usamos adança para o Senhor não devemos esquecer quetemos que fazer o melhor para Ele, o nosso melhor.

O melhor envolve todas as áreas de nossa vida.Quando chego ao ensaio no horário marcado, de-monstro meu compromisso com Deus e com meusirmãos. A bênção é minha, eu devo fazer a minhaparte. Há pessoas que às vezes usam uma desculpa“Ah! meu líder não chega na hora”. Mas antes docompromisso com o seu líder, você tem um com-promisso com Deus, portanto, faça a sua parte e comcerteza Deus verá o seu esforço e recompensará.

Visão

Pessoas de visão vêem além daquilo que apa-renta. O homem vê o exterior, porém Deus vê ocoração: “Porque o SENHOR não vê como vê o homem.O homem vê o exterior, porém o SENHOR, o coração”(1 Sm 16.7b).

Habilidade dada por Deus para enxergar além daaparência das pessoas, como Jesus (Mt 16.18).

Quantas vezes entram mendigos, prostitutas,em nossas igrejas e não sabemos o que fazer; olhamos

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aquela pessoa destruída e pensamos: “Meu Deus, nãotem jeito! Ele pode até aceitar Jesus, mas nunca vaitrabalhar na obra”. Lembro-me de algumas pessoasque me procuravam na igreja, dizendo que gostariamde fazer parte da equipe de dança e eu ficava assus-tada, pois pensava: “E agora, Deus, o que faço?”.

Alguns tímidos, alguns com auto-piedade, semhabilidade alguma; isso mesmo: não conseguiam semovimentar, manifestavam temperamentos difíceis,orgulho, etc. Mas, amados, hoje olho esses irmãos emais uma vez creio que Deus é ilimitado. A Letícia,por exemplo, tinha tantas dúvidas e hoje vemos aautoridade com que ela ministra, o talento com queinterpreta, pois além de dançar, é uma atriz talentosa.E tantos outros, alguns que estão em outros minis-térios, mas que passaram conosco momentos demuita superação. Creio que se tivesse olhado commeus olhos de professora, teria perdido grandespérolas que fazem parte de nossa história.

Habilidade para entender o que Deus quer fazer atra-vés de você. Isto tem muito a ver com a nossa identi-dade.

Quando descobre aquilo que Deus quer fazeratravés da sua vida, você não segue modismos outendências, não se preocupa em ser o maior; vocêsimplesmente segue a vontade de Deus e, assimcomo Moisés, será um libertador. Seja qual for onosso chamado, somos libertadores de cativos; nossaidentidade nasce e sabemos quem somos; e quandosei quem eu sou, as palavras más, as dificuldades, asbarreiras não me impedem, pois a identidade trazforça e liberdade. O inimigo tenta nos confundir, mas

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sabemos quem somos e a Quem servimos.

Uma pessoa que sabe quem é torna-se umafortaleza nas mãos de Deus; ela vive, respira, anda,enfim, faz a vontade do Pai e não precisa copiar nadanem ninguém, pois sabe qual é o propósito de Deusem sua vida.

Perseverança – é mais fácil desistir do que perseverar

Se realmente temos um chamado de Deus, estacaracterística tem que nos acompanhar. Falo istocom autoridade, pois após treze anos de ministério,aprendi como é importante perseverar.

Deus quer gerar em você um caráter perseve-rante, ou seja, fazer de você uma pessoa que nãodesiste, mesmo quando não pode ver nada, mesmoquando todos dizem que não vai dar certo. Jesusperseverou até o final (Hb 12.2); mesmo sabendo tudoo que iria passar, ele preferiu obedecer ao Pai.

Perseverar não é a escolha mais fácil, pois é bemmais cômodo, quando a situação fica complicada, vocêdizer: “É... vamos parar por aqui; Deus não está nosajudando”. Mas quero desafiar o leitor a persistir.Quantas vezes fazemos projetos e nos programamos ena hora de tomar posse parece que perdemos tudo.Mas lá na frente podemos analisar e ver a miseri-córdia de Deus.

Quantas vezes você foi desacreditado, aspessoas olhavam para você e diziam: “Não vai darcerto, esse ministério não é para você”. Eu mesma ouvitanto isso. Quantos projetos eu apresentei e as pessoasriram de mim, mas, amado, decidi perseverar e hojepodemos ver os frutos dessa escolha.

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“Sabendo que a provação da vossa fé, uma vez con-firmada, produz perseverança” (Tg 1.3), ou seja, nas lutasdevemos levantar nossa cabeça e ser aprovadospelo Senhor; a luta pode ser grande, mas a vitória serámaior, com certeza!

Se você está dentro de uma caverna, com pro-blemas, com medo, há duas opções: ou volta atrás edeixa tudo de lado, ou enfrenta seus medos e contem-pla a vitória e o despojo que Deus guardou para você!

Amor

O amor também faz parte desse caráter forte evamos falar de quatro tipos de amor:

Amor terno (Ef 4.32): Perdoar uns aos outros,sentir a pessoa com o coração de Deus; esse amordesafia cada um de nós, pois nem sempre é fácilperdoar; mas é a melhor decisão a ser tomada, poisvai gerar quebrantamento.

Amor firme (Mt 23.13-20): Falar a verdadesempre. Jesus sempre falava a verdade. Muitos líderespor medo de perder pessoas não falam a verdade eassim criam em suas equipes pessoas doentes, que nãopodem ser exortadas nunca, ficam mimadas e semlimites.

Pelo fato de falar a verdade, perdi, sim, algu-mas pessoas; fiquei triste na época, mas hoje percebocomo Deus foi fiel conosco; doeu muito, mas muitomesmo, principalmente porque eram fatos que preci-savam ser tratados, mas a reação dessas pessoas nossurpreendeu; não é fácil lidar com a perda, mas elatambém faz parte da nossa caminhada. Outros rea-

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giram bem, entenderam e cresceram. É assim mesmo:a verdade pode doer, mas quando ouvimos algo edecidimos mudar, crescemos em Deus.

Amor sacrificial (Lc 10.30-37): Essa história étão simples, mas nos ensina como é difícil sacrificar-sepor alguém. Quando que me tornei mãe, percebi, apartir desse momento, que os meus filhos são maisimportantes do que muitas coisas. Quando o bebênasce, nossa vida se transforma por completo; aquelepequeno ser torna-se o centro da casa e os pais sesacrificam de todo modo para dar o melhor para seusfilhos.

Em nossa vida ministerial ensinei isso à minhaequipe. Somos uma família e sempre que precisamosnos sacrificamos uns pelos outros. Certa ocasião,ingressou em nosso ministério uma amada que tinhavindo do mundo. Ela começou a estar conosco nosensaios e enquanto a discipulava percebi que elaprecisava mudar o modo de se vestir. É fácil acusar oerro, mas precisamos ajudar a pessoa a mudar. Entãoreunimos a equipe e fizemos uma semeadura entre nóse doamos um guarda-roupa para ela; Ela choroumuito naquele dia e disse que percebeu como Jesusa ama em todos os detalhes, pois até as cores e osmodelos eram como se ela tivesse escolhido.

Amor radical (Mt 5.39-41): Não gostamos de serhumilhados. Um tapa é muito humilhante. Virar a facesignifica sofrer o dano, deixar que Deus resolva. Nãodevemos reagir e sim agir no espírito oposto.

A verdadeira satisfação vem do sacrifício, nãoda auto-gratificação.

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Nascida sem quererCriada pela avó

Indo de casa em casaEssa era eu

Rejeitada me sentiaE sempre ouvia

Que seria como minha mãePerdida pela vida

Adolescente revoltadaOprimida, que andava sóQue procurava respostas

Que escrevia, pois não tinha coragemCoragem para falar

Essa fui euSó andava de preto

Pois assim que me sentiaDentro e fora do meu ser

Aos 18 anos, encontro JesusQue muda minhas vestes

Que lava as minhas feridasQue arrebata o meu coraçãoEntão entendi o que é a vida

Perseverança

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Casada com apenas 19 anosAprendi a ser amada e cuidada

Aprendi o que é ter famíliaAprendi a amar

Das provações que vieramUma coisa aprendiAmigos são poucos

Os que eu pensava que eram amigosSe tornaram juízes acusadores

E outros tão distantesSe tornaram irmãos

E Jesus a todo momentoSe mostrava no controle de tudo

E como um professor na sala de aulaEle desenhava no quadro da minha vida

Situações que me ensinaram a serForte, corajosa, guerreira e perseverante.

Lágrimas, lágrimas, lágrimasIncontáveis companheiras

De dia e de noiteMeu Deus

Foram muitas que meu amado colheu

Silêncio, silêncio, silêncioMuitas vezes fiquei dentro dele

Muitas vezes me caleiDiante das acusações

Que abatiam a minha alma

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Disseram que eu nunca ia ser nadaDisseram que eu era ridícula dançandoDisseram que nações eram um sonho

Um sonho impossível, uma ficção

Os homens disseramMas Deus disse:

Você vai ser uma desbravadoraVai pregar para muitas pessoasVai ser uma Profeta da Dança

Vai pisar em muitas nações

Bailarina profissionalPregando pelo Brasil todoMinistrando nas nações

Muito prazer: esta sou eu

As palavras dos homensRealmente são dos homens

Mas a Palavra de DeusEsta, sim, é a verdade

Isto me faz perseverar

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É comum pensarmos que no momento em queDeus nos chama, tudo já está resolvido em nossa vida;julgamos que o fato de entendermos aquilo que Deusquer para nós já nos torna totalmente aprovados dian-te Dele. Deus chamou Saul e o ungiu, porém ele nãofoi aprovado.

Na verdade, o chamado de Deus é só o iníciode um grande processo de aprendizado, pelo qualtodos temos que passar. Isso atinge a cada um de nósindividualmente e às pessoas que estão ao nossoredor também, principalmente aquelas que se dispõema estar conosco nessa jornada de muitas mudanças.

Entre o chamado de Deus e a realização domesmo existe um meio que muitas vezes queremospular; é como se você imaginasse uma grande ponteentre você e o resultado. Mas essa ponte tem obstá-culos, não é tão fácil como você imaginava; nessemomento você deve escolher se passa pelo processoou simplesmente pula.

Quando optamos por passar pelo processo depreparo, colhemos frutos abençoados, temos o nossocaráter moldado; mas quando não queremos ser tra-tados por Deus, também chegamos lá na frente, maspercebemos que estamos do mesmo jeito, não há

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Aquilo que somos sereflete no que fazemos

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marcas em nós, nada foi acrescentado nem perdido;mais uma vez nos deparamos conosco mesmos edescobrimos que estamos exatamente no mesmolugar. Quero que você observe: as duas opçõeslevam ao final da ponte, mas o resultado é totalmentediferente.

Vejo que a primeira coisa que Deus faz, geral-mente, é nos mostrar quem somos e quando somosconfrontados com o nosso eu, temos duas alter-nativas: ou nos analisamos para ver os nossos erros eno que podemos mudar, ou simplesmente seguimoscom os mesmos erros. Olhar para nós mesmo leva-nosa ver coisas profundas; vivemos anos e anos acusandoas pessoas ao nosso redor de egoístas, impacientes,mas na verdade muitas vezes nós que o somos. Mas émais fácil jogar para bem longe as coisas que nosafligem, é mais fácil deixar os nossos erros bem cala-dos e escondidos, mas a vontade de Deus para nós eque nesses momentos possamos realmente dar umpasso para mudanças. Quantas vezes vamos a con-gressos, escolas de treinamento, etc., e saímos ilu-didos, achando que esses treinamentos vão fazer denós vasos prontos para cumprir aquilo que achamosser o chamado de Deus para nós. Somos bombar-deados por palavras e visões; muitas vezes temos ailusão de pensar que o nosso ministério está formadose tão-somente juntarmos um pouco de cada coisaque vimos ali.

Fazemos eventos no Brasil e no exterior evemos como Deus realmente trabalha na vida daspessoas; contemplamos milagres... quantos testemu-nhos eu recebo de pessoas que foram totalmente

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transformadas em meio aos nossos eventos. Fazemostambém uma escola todos os anos, mas sempre tenhofalado aos irmãos que ali é só uma gota daquilo queDeus quer fazer na vida de cada um deles, que jamaisdevem querer ser iguais a nós, mas sim buscar aquiloque Deus quer fazer através de cada um deles.

Flechas que dançam

Se entendemos que Deus nos chamou, tambémentendemos que Ele quer nos lançar; aí, então, jácomeçamos a caminhar nessa ponte e quando damosos primeiros passos começamos a ver quantas coisasnos aguardam pelo caminho: dificuldades, provações.Inclusive, nas Escrituras Sagradas, podemos ver o após-tolo Paulo discorrendo sobre isso:

“E não somente isto, mas também nos gloriamos naspróprias tribulações, sabendo que a tribulação produz per-severança; e a perseverança, experiência; e a experiência,esperança. Ora, a esperança não confunde, porque o amorde Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo,que nos foi outorgado” (Rm 5.3-5).

Parece triste ouvir isso, mas Deus tem um for-mão; esquecemos que Jesus foi um carpinteiro e elequer tirar suas arestas e criar algo belo em você,através do ministério que você exerce.

Agora pense em uma flecha: ela não se lançasozinha, precisa do arqueiro e o arqueiro precisa doarco; mas quem é o arqueiro e o arco? Certa vez, ouvialgo que me chamou a atenção: nós somos as flechas,o arco é a igreja e o arqueiro é Jesus. Isto nos levaa uma grande reflexão: eu entendi o meu chamado,Deus falou comigo, tenho investido nesse chamado

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através de seminários, estudos, mas preciso colocarem prática esse chamado na igreja local, na qualcongrego, pois ela é que me enviará; é na igreja quecomeço a dar os primeiros passos, aprendo a servire também, muitas vezes, sou lixado, testado, mas éexatamente esse o arco que Jesus tem usado para noslançar às nações da terra.

Ouço pessoas dizerem: “A minha igreja não temvisão”, mas quero que você pense que Deus podeestar usando você para levar algo novo à sua congre-gação. Eu sei que há igrejas que ainda não aceitama dança; outras que aceitam, mas só em momentosespeciais; outras não permitem a dança espontânea.Mas, sabe de uma coisa, amado? Precisamos entenderqual é o propósito de Deus para tais momentos. Se essefor mesmo o chamado de Deus na sua vida, não sedesespere: Deus vai abrir todas as portas!

Congreguei em uma igreja que durante anos nãoaceitava a dança; apenas suportava; creio que você meentende. Lembro-me de como era complicado: toda vezque íamos ministrar, alguém sempre fazia algumcomentário. Com a equipe de louvor não era dife-rente: sempre que ia ministrar fora, se sobrasse algumlugar então éramos convidados; mas se não fossemos,não fazia a menor diferença. Assim foi por algumtempo, até que Deus nos honrou naquele lugar; masesses anos de lutas serviram como um aprendizadopara cada um de nós. Muitas vezes eu quis desistir;ouvia cada coisa, mas resolvi acreditar e hoje tenhocolhido os frutos dessa caminha. Em Tiago 1.2-4,lemos o seguinte:

“Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o

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passardes por várias provações, sabendo que a provação davossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, aperseverança deve ter ação completa, para que sejais perfei-tos e íntegros, em nada deficientes”.

O sofrimento, realmente, não nos agrada, masnão consigo imaginar a nossa equipe hoje sem termospassado o que passamos. Tenho a convicção de queDeus chamou cada membro da nossa equipe, mastambém sei o que cada um de nós passou. Excluindo-se as perseguições na igreja, Deus trabalhou e tra-balha individualmente em cada um. Por isso, creioque você que está lendo este livro de fato é ou estásendo preparado para ser uma flecha nas mãos deDeus!

Sendo discípulos

Jesus fez discípulos, mas o interessante éperceber que cada um deles era diferente: um eramédico, outro era pescador, etc. Jesus podia ter esco-lhido só carpinteiros, pois era sua profissão, mas o queEle queria que eles imitassem não era Seu modo deandar, falar (quis dizer aqui no sentido físico), vestir,mas sim a sua santidade, o seu amor ao próximo, oseu amor a Deus Pai.

Há uma grande diferença entre aparência eautenticidade. Deus quer nos fazer autênticos, porqueaquilo que somos vai refletir no que fazemos. Você nãopode ser um ministro retalho, ou seja, um pedaço decada ministro que você vê. O chamado de Deus é algomuito sério! Precisamos buscar em Deus o que Ele querde nós. Quando você for a uma oficina de dança, umseminário, não pegue tudo o que viu para simples-

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mente fazer igual. Não. Peça a Deus para ministrarao seu coração o que deve fazer. Sempre ia a con-gressos de dança e sempre ficava embriagada, sugavatudo mesmo, não perdia nada, mas quando chegavaem minha igreja, aplicava dentro das nossas reali-dades. Por exemplo, você aprende uma seqüênciade passos, mas o que pode ser acrescentado a essaseqüência? E aí, amado, você e sua equipe começama crescer e isso será transmitido à igreja e tambémpor onde vocês ministrarem.

Um outro exemplo que posso usar é uma his-tória bem simples: havia um caçador e um guia nafloresta. O caçador disse: “Eu quero saber onde fica oleão”. O guia respondeu: “Venha, é deste lado”. Eleviu as marcas das pegadas do leão e logo parou edisse: “Está bem até aqui; não quero ver o leão, ficarperto dele; só quero saber onde ele está”. Muitas vezesnós somos assim; não queremos tocar em Jesus, sósaber onde Ele está, ou seja, um relacionamentosuperficial, aparente, sem autenticidade.

Precisamos definir também se queremos apenasser conhecidos ou se realmente queremos um ministé-rio com profundidade. Esta frase me marcou: "Enquan-to alguns apenas constróem, outros cavam mais e maisfundo para estabelecer sua base" (Rick Joiner).

Quantas vezes nossas equipes não ultrapassamdeterminado ponto, ficam sempre na mesma. Uma dascoisas que tenho percebido é que falta autencidade,ou seja, preciso entender quem sou, principalmente seme proponho a ser líder de uma equipe. Vejo tantasequipe iguais, vejo tantos líderes buscando ser exata-mente o que outros ministros são, parados, olhando

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para o homem. Deus quer gastar tempo conosco, paranos ensinar a ter a identidade Dele. Quando você vêalguém ministrando e pensa: “É isso que quero fazer”,isso não anula a sua identidade; Deus vai usar você nadança, mas Ele não vai anular a sua identidade; vocênão precisa se vestir da mesma forma, falar, ou atémesmo dançar do mesmo jeito; Deus tem algo paravocê, particular, exclusivo, que vai ser liberado nomomento em que você se dispuser para Ele.

Voltando a falar da ponte

Usei a figura da ponte pois é algo que nos dáuma boa idéia daquilo que quero passar. Uma pontesempre liga um lugar a outro e através do sangue deJesus somos ligados ao reino celestial. Jesus é a ponteque muda o nosso caminho, que nos leva a lugaresaltos e também profundos em Deus.

Em todas as pontes, há sempre um apoio paraas mãos; podemos identificar esse apoio como sendoo Espírito Santo, que nos dá consolo, nos fortifica, paraque cada um de nós não desista da caminhada. Aspontes são construídas, porque sem elas não conse-guiríamos passar para o outro lado. Isto mesmo, semJesus nós não podemos passar, não podemos mesmo.Pense nisto se por algum momento você tender atomar decisões por si mesmo ou pensar: “Eu já sei”!

Mas a minha pergunta para você é: “Queromesmo passar pelas etapas necessárias para que Deuscumpra a sua vontade em minha vida?”.

Deus me chamou, mas agora preciso decidirse vou responder a esse chamado; não posso ficarparado, deitado, pensando: “Agora tudo virá em

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minhas mãos. Deus me mandou cantar, então asmúsicas caírão do céu; vou dançar: então, enquantodurmo, meu corpo será treinado para isso”. Não éassim que funciona. Deus realmente opera milagres.Operou e tem operado em minha vida, mas pre-cisamos tirar a nossa cabeça do travesseiro e começara trabalhar em prol desse chamado, pois Deus nãoestá preocupado com aquilo que você demonstra ser,mas em quem você realmente é.

Simplicidade

“Mas receio que, assim como a serpente enganou aEva com a sua astúcia, assim também seja corrompida avossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas aCristo” (2 Co 11.3).

Simplicidade é um estilo de vida. Humildade éuma condição do coração. A simplicidade reflete umcoração humilde e traz consigo os princípios básicosde Jesus.

Hoje tenho visto as pessoas se preocuparem emfazer grandes coisas, como grandes eventos, grandesapresentações. A princípio, não há nada de erradonisso, mas precisamos sempre nos lembrar quedevemos ser simples e entender sempre qual é avontade de Deus para nós.

Uma coisa que às vezes me deixa triste é verlíderes usando pessoas para se promover. Por exem-plo: “Em minha equipe só tem bailarinos profissionais;o nosso é o grupo mais forte da igreja”.

Tenho temor ao ouvir esses comentários, poissempre devemos pensar que Deus realmente usa pes-

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soas comuns para fazer grandes coisas, mas Deus é oúnico digno da glória e da honra. Quando começamosa pensar: “Este ministério não vive sem mim. Veja comodanço bem. A minha equipe é a melhor da cidade”,estamos desviando os olhos do Senhor e colocando emnós mesmos e isso não é bom; só nos traz resultadosdesastrosos.

Vamos então meditar sobre o que a falta desimplicidade pode gerar e espero que possa abrir seusolhos e coração para que Deus fale com você.

A falta de simplicidade tem gerado:

Ministros retalhos: pessoas totalmente semidentidade, simplesmente copiam de tudo um poucodaquilo que acham que é certo; não entendem o seupróprio chamado; estão nas equipes porque acham“legal” estar; afinal, é bom estar lá na frente. Quandopercebemos pessoas assim em nossa equipes, preci-samos instruí-las a se encontrar. Deus nos fez únicos,com características diferentes.

Quando me converti, achava que Deus nãoamava os sangüíneos, pois somos agitados, não para-mos, muitas vezes queremos brigar, reagir, e lembroque no meu discipulado eu dizia para a missionária:“Quero ser como você”, mas então comecei a perceberque Deus nos ama como somos. Ele trabalhou muitono meu temperamento, mas assim como ao nossoirmão Pedro, Ele queria me usar também. Quandoentendi isso, percebi que eu e meu esposo nos comple-tamos. Pastor Oziel é calmo, tranqüilo, mas um com-pleta o outro. Em minha equipe, temos um pouco detudo: sangüíneos, melancólicos, fleumáticos, e cada um

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tem seu papel; um agita, outro acalma, outro planeja,outro traz à realidade o que foi planejado, e assimcumprimos o nosso chamado.

Idolatria: é triste falar disto, mas tenho vistotambém ministros que precisam de seguranças parasair de eventos e pessoas que falam que o sonho delasé ser como tais ministros. Amado, isto dói demais nocoração de Deus; tenha cuidado quando alguémcomeçar a tomar o lugar de Jesus no seu coração,ou algo como faculdade, trabalho, carro. Quantaspessoas são tão abençoadas por Deus em sua vidamaterial, mas não põe nada disso a serviço do Senhor;idolatram seus carros, suas casas; quantos ministériosde dança idolatram suas vestes... Fico chocada comessas coisas. Fui idólatra durante dezoito anos deminha vida, mas às vezes me deparo com essa atitudena casa do Senhor.

Lembro de uma igreja à qual fui no sul doBrasil: havia um púlpito de vidro imenso, lindodemais! Chegamos para ministrar e como a Dudahavia preparado um ato profético, pedi para que opúlpito fosse arrastado um pouco para o lado e recebiuma reposta assim: “NÃO!!! Este púlpito só sai daquina cantata de Natal; deste tipo de púlpito, existemapenas alguns no Brasil; por favor cuidado”!

Na hora me espantei com a atitude e até dissepara a Duda que tomasse cuidado ao dançar. Nodomingo pela manhã, eu estava ministrando e minhaBíblia estava em cima do púlpito, quando de repenteem meio à ministração comecei a falar sobre oorgulho. Quando falei exatamente a palavra “orgulho”,encostei no púlpito e toda a parte de cima se quebrou.

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Fiquei em estado de choque, com a manifestação deDeus. Literalmente, fiquei imóvel. Naquele momento,a líder do louvor subiu à plataforma e disse que eunão tinha idéia do quanto Deus havia me usado, poisali estava sendo quebrado muito mais do que umpúlpito, mas de fato o orgulho daquela congregação.As pessoas do congresso começaram a dar glória efinalizamos aquele evento muito abençoados pelopoder de Deus.

Competições: quando deixamos de ser simples,preocupamo-nos em ser melhores que os outros.Quantas igrejas têm problemas com equipes. Por exem-plo, a igreja tem duas equipes de dança que sempredisputam entre si. Não vejo problemas em ter mais deuma equipe de dança ou louvor na igreja, mas devemcaminhar cada uma em sua visão, sem se preocuparem ser superiores umas às outras. Quantas cidadesconheço em que os eventos têm que ser feito fora dasigrejas, caso contrário os pastores não permitem a idade suas ovelhas. Isso me entristece demais, poisdevemos ser um. A Bíblia nos fala que devemos amarnossos irmãos e quando competimos o amor anda aquilômetros de nós.

O inimigo nos engana facilmente: quandocomeçamos buscar honras e títulos para nós, tornamo-nos presas fáceis do inimigo, iludimo-nos com a fama,com os melhores lugares. Quando estamos nesseponto, somos um alvo perfeito para o inimigo. Nãoqueremos mais andar com os irmãos em geral, massomente com um grupo seleto; nosso ministério setorna uma equipe elitizada demais para que qualquerpessoa tenha acesso; dificultamos ao máximo qualqueraproximação e assim nos tornamos estrelas.

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Os dons que recebemos de Deus são paraedificar a igreja, não a nós mesmos. Cuidado se vocêestá edificando um reino para a sua equipe; cuidadoquando as pessoas olham apenas para você e não vêemnada além de suas habilidades. Pessoas cheias doEspírito buscam o reino de Deus, expressam o reinode Deus, exaltam a Jesus, não a si mesmas.

No inicio de meu ministério, as pessoas tinhamum imenso interesse em minha formação profissional,como eu sofria com isso, pois não era bailarina profis-sional, apenas estava ali deixando Deus me usar epodia ver na expressão das pessoas a decepção,mesmo depois de terem visto Deus agindo através daminha vida.

Já alguns profissionais ficavam espantados co-migo e minha equipe e glorificavam a Deus, pois viamem nós um milagre, porque mesmo com tão poucoconhecimento, Deus nos usava de forma muito forte.

Hoje, a Duda e eu somos profissionais, mas nãonos iludimos com isto. Não me sinto mais especial porisso; apenas mais capacitada para fluir e ensinar, o que,aliás, é algo que amo fazer: compartilhar com aspessoas o que sei e com quem tenho muito a aprender.

Começamos a querer agradar somente aoshomens: já vi isso acontecer muitas vezes. Quantasequipes começam bem, buscando ao Senhor acima detudo. A Bíblia nos orienta a buscá-Lo de todo o nossocoração (Dt 4.29). Quando começamos ter o desejo deagradar aos homens, fatalmente nos frustramos, poiso ser humano sempre quer mais. “Porventura, procuroeu, agora, o favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro

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agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seriaservo de Cristo” (Gl 1.10).

Quando temos um coração humilde,experimentamos coisas maravilhosas da parte de Deus.

Honra: “O temor do SENHOR é a instrução dasabedoria, e a humildade precede a honra” (Pv 15.33).“A soberba do homem o abaterá, mas o humilde de espíritoobterá honra” (Pv 29.23).

Estes dois versículos falam de algo que tantosbuscam, mas que só encontramos através dahumildade. Quantas situações em que, mesmo tendorazão, eu me calei; quantas vezes já fui humilhada.Na hora me senti mal, mas hoje posso ver os frutosdessas atitudes; ando em meio ao sonho de Deus paraminha vida; vejo as palavras de Deus sendo cumpridas;vejo acusações e calúnias que me feriram tanto sendodestruídas pelo poder de Deus e pela ação Dele emnossas vidas.

Quantas vezes vi meu marido abaixar a cabeça,ficar triste, mas hoje vejo que Deus já estava minis-trando tamanha sabedoria no coração desse homem.

Cuidado: “Tens ouvido, SENHOR, o desejo doshumildes; tu lhes fortalecerás o coração e lhes acu-dirás” (Sl 10.17). Deus ouve o coração humilde, ocoração quebrantado na presença Dele. Lembro-medo dia em que estava no hospital, no parto do Israel eele teve uma parada respiratória após o nascimento.Quando deram a notícia ao meu marido, ele pensou:“Eu posso me desesperar ou confiar no Senhor e naspromessas de Deus para a vida do meu filho”. Deushavia nos dito que esse filho seria um homem de Deus.Lembro-me que até levamos a bandeira de Israel para

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o hospital, devido ao nome do bebê. Quando saí docentro cirúrgico, cheguei a meu quarto e não vi o bebê.Então, perguntei o que havia acontecido e Ozielmuito triste me deu a notícia. Naquele exato mo-mento, a enfermeira entrou com meu filho no quarto,dentro da incubadora. Eu chorei, pois queria pegá-lono colo e não podia, mas passados uns vinte minutosele deu um grito dentro da incubadora e bateu a mão-zinha na mascara de oxigênio A Duda, que estavacomigo no quarto, saiu correndo para chamar a enfer-meira. Quando ela veio e o médico com ela, Israel jáestava muito bem, com a temperatura boa e foi tiradoda incubadora. Examinaram-no todo, mas não encon-traram nada e no outro dia já fomos embora para casa,agradecidos pelo o que o Senhor fez.

Dias depois, quando fui levá-lo à pediatra domeu filho mais velho, ela disse que soube o que acon-teceu, pois o consultório dela era dentro do hospital eme disse assim: “Agradeça a Deus pois ele livrou seufilho da morte; ele teve uma parada respiratória; asituação foi grave, não foi tão simples como passarampara vocês, mas graças a Deus ele está vivo e semseqüelas” (essa médica é cristã) e quem conhece meufilho, sabe que hoje ele é uma flecha. Glória a Deus!

Justiça: “Guia os humildes na justiça e ensina aosmansos o seu caminho” (Sl 25.9).

Quantas vezes você já se sentiu injustiçado? Eujá me senti muitas vezes assim e nesses momentos tudoparece tão negro ao nosso redor; mas não há escu-ridão que possa esconder algo de Deus. Sei que algunsleitores deste livro estão vivendo anos de injustiça noseu trabalho, na sua vida pessoal, na sua vida minis-

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terial, mas posso falar de experiência própria: entre-gue nas mãos do Senhor e Ele no momento certo vaifazer a justiça Dele, não a nossa. Enquanto não per-doamos, Deus não pode tratar.

Vivi algo muito triste em minha equipe, comuma pessoa que caminhou comigo durante anos. Elase levantou contra mim com calúnias e difamações equando fui confrontá-la a respeito, ela se rebelou maisainda, chamou o pastor da igreja, me acusou, disse queo pessoal do ministério não gostava de mim, que nãogostava de estar na equipe; foi terrível para mim.

Depois dessa situação, tudo foi esclarecido,conversei com a equipe, e tudo não passava de umacrise pessoal dela.

No outro dia eu sentei com meu esposo, con-versamos, oramos e no domingo cheguei para essapessoa e disse: “Olhe, amada, amamos você, a per-doamos, mas não dá para caminharmos juntos; afinal,não é a primeira vez que isto acontece, mas desta vezfoi sério demais”. Ela ficou ali parada, olhando paramim; chorou, gritou e realmente naquele momento vique ela não havia mudado em nada, pois mais umavez queria me convencer na base do choro. Ela se acal-mou, entendeu, e fomos então para o culto.

Nesse dia, havia uma missionária em nossaigreja, pois meu marido estava realizando uma escolade cura. Depois que ela pregou, olhou para mim, mechamou lá na frente e disse: “Águia! Tentaram ferirsuas asas, mas saiba de uma coisa: Deus já sarou essaferida e agora você vai voar mais alto”.

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Eu me senti amada por Deus; percebi a serie-dade de ter um chamado e como o Senhor sempreestá no controle, pois só Ele e meu marido sabiam oquanto chorei, o quanto meu coração estava triste, oquanto doeu ter tomado aquela decisão, mas entendipor essa palavra que tinha feito a coisa certa.

A simplicidade nos traz um entendimentoprofundo de quem é o Senhor. Temos a revelação deum Deus tão forte, soberano, majestoso, poderoso, masque ao mesmo tempo usa pessoas simples como eu evocê, usa pessoas que pensavam não ter dom algum,um Deus que desperta sonhos que julgamos seremimpossíveis, mas Ele é o Deus do impossível.

A simplicidade de Jesus nos confronta. Eleamava as pessoas. Ele não quer apenas saber quem eusou, mas quer se relacionar comigo.

O maior exemplo de simplicidade em nossasvidas é o próprio Jesus, que se fez carne e morreu pornós, morte de cruz, e nos deixou um exemplo de vidaa ser seguido e pregado pelas nações da terra.

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Quando Deus me pediu as sapatilhas

Carla Char Melo Sampaio

Olá, amado, meu nome é Carla Char MeloSampaio. Tenho vinte e seis anos, sou casada há doisanos e meio com o Ricardo Sampaio, ministro delouvor, bênção em minha vida.

Sou bailarina e professora de balé clássico e jazz.Atualmente, tenho uma escola de dança emJaboticabal, interior de São Paulo, trabalho em umaescola de dança em Ribeirão Preto e em um projeto debalé clássico na Prefeitura de Monte Alto/SP. Soumembro da Igreja Internacional da Família Cristãde Jaboticabal/SP e atuo como líder do ministério dedança da Igreja desde o seu início, em 2000.

Quero compartilhar com o amado leitor umpouquinho da minha história e como o Senhor mecercou e me atraiu para o seu chamado.

Desde que me entendo por gente, amo dançar;faz parte da genética da minha família,. Quandocriança, todas as nossas brincadeiras envolviamdança e apresentações para a família. Lembro-me quedançava com meu pai; ele me pegava e me erguia...sentia-me a bailarina! Mal imaginava os sonhos queestavam sendo plantados em meu coração. Nasci emSão Paulo e quando ia entrar no balé, mudamos para

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Bailarinos queentregaram as sapatilhas

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o interior e somente aos nove anos comecei a fazer jazz– a única modalidade existente em minha cidade atéentão – mas parei aos catorze. Seguia dançandomuito em bailes, festas, boates, carnaval. Eu nãoparava! Mas para honra e glória do nome do Senhor,Ele me salvou.

Converti-me aos quinze anos – e foi pra valer;deixei o mundo, parei de dançar, de ir a bailes. Aban-donei tudo, porque sentia um vazio muito profundoem minha alma após cada festa e no dia em que meconverti esse vazio acabou, pois foi preenchido.Então, não precisei mais daquela falsa alegria.

Naquela época, ainda não se falava em dançana Igreja como ministério. Entristecia-me ao ver todosos jovens, tão entendidos sobre o louvor, cifras, etc., eeu, nada. Aquilo era grego para mim. Lembro-me deum dia em que todos estavam falando sobre isso e eudisse que a única coisa que sabia fazer era dançar.Todos riram, não por maldade, mas porque o que euia fazer com dança? Deus realmente quebra os con-ceitos do homem.

Naquela tarde, cheguei em casa, coloquei-mede joelhos no meu quarto e pedi para que o Senhor medesse um dom, porque eu queria fazer alguma coisapara ele. Então tomei uma posição e comecei a es-tudar violino; fui entender de partituras! Mas não deupara continuar. Ainda não era isso.

No final do ano de 1998, a Igreja da qual fa-zíamos parte promoveu uma noite de talentos e hápouco tempo eu havia comprado o cd do até entãodesconhecido “Diante do Trono”. Comprei, obvia-

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mente, pela foto da Isabel Coimbra atrás. Então, eu eminha irmã, Cassiana, e mais duas irmãs em Cristo,coreografamos a música Manancial.

Foi tudo muito simples, desde as roupas até osmovimentos, porque tínhamos medo de escandalizar;e a Igreja recebeu, foi uma bênção.

Depois disso, em julho de 1999, minha irmã eeu fomos enviadas pela Igreja da qual fazíamos partepara um workshop de mímica e dança, em Campinas,com Carisma Endo. Foi tremendo! Fomos fortementeimpactadas e nossas vida e visão mudaram. Lá, recebiunção para o chamado. Minha maneira de adorar foitransformada, tornou-se mais intensa quando aindaestava no banco; precisava expressar minha adoraçãoao Senhor que me salvou.

Amado, quero ressaltar aqui um detalhe:percebo que muitos querem “dançar” no altar, masquando não estão lá na frente com suas vestes delouvor, não demonstram esse anseio, nem sequerlevantam as mãos nem fecham os olhos, mas ficamdesatentos ao mover do Senhor. Esses não perma-necem, porque Deus tem levantado uma geração deadoradores extravagantes, que dançam diante da suapresença e não dependem de estar com sapatilhasnos pés. Deus nos tira de detrás das malhadas.Deus vê a sua adoração quando você está no seuquarto, nu ou vestido, porque ele vê suas vestesespirituais. Deus não procura técnica, bailarinos; Elebusca corações sedentos.

Depois disso, o Senhor me pediu que fosse parao Ministério do qual faço parte até hoje. Nesse meio

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tempo, estava desesperada para passar no vestibular.Estudei muito, porque precisava passar em uma fa-culdade pública e era o meu sonho de infância. Sem-pre amei estudar e fazer faculdade era tudo o que eumais queria em minha vida. Mas chegou o final do ano ecomo queria um curso muito difícil, não passei. Sabiadas dificuldades de pagar o cursinho, mas como todosos meses eu havia recebido milagres para pagar, acredi-tei que o mesmo se repetiria no ano seguinte. Mas nãofoi assim. As portas se fecharam. Não pude continuar.

Então fiz um propósito de jejum e oração com oSenhor, pedindo, no meu quarto, para que Ele abrisseas portas na minha área profissional, me dessedireção, que a mão Dele fosse sobre mim e que Ele medesse sabedoria e discernimento. Essas eram minhaspalavras, que jamais esqueci.

Nesse meio tempo, para não ficar parada, fuiprocurar um curso de balé, porque havia recebidoessa instrução no workshop. Fui para Ribeirão Preto,cidade vizinha. O mais engraçado é que depois quesomei todos os gastos com mensalidade e viagens,dava para pagar o cursinho. Mas antes de perceberisso, fui ao reencontro da minha Igreja e no final deuma ministração fui abraçar o pastor Pedro e elecomeçou a dizer: “O Senhor manda lhe dizer que Elevai abrir as portas na sua área profissional, que agoraque você está no caminho certo a mão Dele será sobrevocê e Ele está lhe dando sabedoria e discernimento”.

Fiquei deslumbrada! Eram as mesmas palavrasque usava no meu quarto para orar! Deus é maravi-lhoso e não nos deixa confundidos!

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A partir daí, irmãs de várias Igrejas procuravama mim e àa minha irmã para darmos aula. Ajudamos aformar vários ministérios, para a glória de Deus.A dança aqui gerou união, não havia disputas. Como ministério da Igreja não foi diferente, foi umabênção. Deus nos levantou como colunas na Igreja,como profetas realmente, porque orávamos, interce-díamos. Sempre entendemos que ministério dedança é muito mais que dançar ou colocar uma roupabonita; é exercer um sacerdócio.

Hoje, a maioria saiu, infelizmente; não é fácilpermanecer no chamado. Muitos abandonaram aoaceitar o primeiro manjar que o diabo ofereceu, ouquando receberam a bênção que tanto queriam –namorado, marido, filho, faculdade, trabalho – vimuitos desistirem. Mas chamado é chamado, não dápra parar ou abrir mão, independentemente dascircunstâncias, custe o que custar. Hoje, estamos eu eminha irmã somente. Mas prosseguimos.

Mas voltando à minha história, mesmo assimnão abandonava o sonho de estudar; achava que tinhaque fazer isso de qualquer forma. Tentei de tudo, masnão conseguia, porque não conseguia entender oplano de Deus para mim.

Eu e minha família passamos por uma fasefinanceira muito difícil, que parecia não ter fim.Tive que trabalhar no que não queria, mas conseguivoltar ao balé. Fui convidada pela Silvana a fazer ocurso técnico em sua escola e Deus foi me ajudando.Fazia trufas para pagar mensalidades e despesas deviagem. Foi difícil, me sentia sozinha, parecia quenunca ia conseguir dançar como as meninas de lá,

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mas não desisti.

Ainda assim, queria ter um trabalho normal,levava currículos. Mas as portas se fechavam. Até queum dia Deus usou uma profeta para me falar que Eleia abrir portas, mas Ele também ia fechar todas asque fossem necessárias. E vivi um tempo de portasfechadas, deserto, mas depois Deus começou a enviaralunas para mim, até de outras cidades, peguei aulaem creche, escolas... Chorava pelo calor, dava aula emlugares sem estrutura, ganhava pouco. Perguntavapara Deus, o porquê daquela situação, para que todoaquele sofrimento; andava a pé de uma escola paraoutra, ia a outras cidades de ônibus, enfrentei chuva emuito calor, sono, cansaço, e ainda algumas feridasna alma para completar. Mas Deus sempre usouprofetas falando para eu não parar, para eu continuar.O Senhor me deu cânticos, palavras, e ia seguindocom meu chamado celebrando festa ao Senhor. Nomeu deserto, a Palavra que me sustentava era:“Alegrei-me nas suas promessas como quem acha umgrande despojo”.

Motivos para eu desistir não faltaram, mas aPalavra de Deus era sempre: “Não desista, creia, euvou fazer por você, você está pagando o preço”.

Estava muito bem no ministério, mas houve umtempo em que fui tremendamente ferida, parecia queaquela dor nunca ia passar, achei que era o fim, aspessoas foram saindo, desistindo e tudo de uma ma-neira muito desagradável, achei que era o fim, que ti-nha sonhado em vão. Estava restringindo o meu cha-mado às quatro paredes da minha Igreja.

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Deus até me pediu para eu parar de ministrarpor um tempo, para eu receber e fiquei um ano para-da. Ajudava somente ministérios de outras Igrejas,devido ao meu trabalho.

Mas me formei como bailarina, fui chamadapara dar aula na escola em que estudo, o que foi mara-vilhoso para mim e depois me formei como profes-sora. Em certo domingo, sonhando com a minhaescola, acordei e entrei na internet, a fim de buscarinformações para tudo o que precisava e dos produtosde dança que queria vender. Achei o site do Minis-tério Dança pelas Nações, li sobre a Academia epensei: ”Preciso conhecer esse lugar”. Então vi asinformações sobre a Escola Profetas da Dança, emRibeirão Preto, bem nas minhas férias. Falei com meumarido, meus pastores e fui. Ainda ferida, com receioe sem querer nada na emoção.

Ficava engolindo cada palavra, sugando omáximo que podia nas oficinas e fui me abrindo comohá tempos não fazia; fui sendo curada, conseguindoliberar perdão para a pessoa que me feriu e recebimuitas palavras. Escrevi tudo, para não esquecer.Quando voltei já não era mais a mesma. Aleluia!As palavras se cumpriram, abri minha escola em umlugar prontinho, Deus foi suprindo minhas neces-sidades e minha irmã e eu recomeçamos o ministério.Foi tremendo! As lutas continuaram, estamos sozinhas,mas no começo deste ano, falei com o Oziel quequeria ir novamente para a escola, mas desta vez commeu marido, e ele e a Gisela me convidaram parafazer parte da equipe. Amado, eu chorei de alegria pormais de uma semana! Eu ria sozinha! A minha bocase encheu de alegria e minha língua de júbilo; eram as

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promessas se cumprindo.

Hoje, eu e meu marido fazemos parte dessa equi-pe maravilhosa. Sinto-me honrada por ter obedecido aoSenhor. Deus está mudando nossos planos e ensinando-nos o foco certo e a nos dispormos mais para a obra.

A faculdade? Se o Senhor quiser que eu faça,então farei. Demorei, mas aprendi que é Dele quedependo e não dos títulos desta terra. Entreguei.

Amado, isso é apenas uma pincelada do queDeus fez por mim, mas creio que muito mais Ele ain-da fará e nos surpreenderá com Sua graça e Seu amor.

Você, que está lendo este livro, não desista doseu chamado. Creia, obedeça, siga em frente. Muitosdos que me questionaram, hoje me apóiam e vêem queé o Senhor Quem opera em minha vida. Não faltamportas abertas para glória do Senhor!

A você, deixo esta palavra: “Agindo Deus, quemimpedirá?”.

E invista no seu chamado, pague o preço. APalavra nos ensina que “aquele que tem habilidade,adquira entendimento” (Pv 1.5). O Senhor proverá sevocê se dispuser. O seu corpo é o seu instrumento evocê precisa conhecê-lo para usá-lo para o Senhor.Tudo em mim começou porque entendi este princípioe que precisava aprender mais. Faço o meu melhor,porque Ele me deu o Seu melhor.

Que Deus o abençoe muito.

Carla Char Melo Sampaio

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Carla é uma pessoa muito especial, pois vi atransformação que ela sofreu. Desde que Deus co-meçou a mexer em sua dança, eu a vi passando pelocaminho entre a bailarina Carla e essa profeta quehoje dança ao mesmo tempo com delicadeza e muitaautoridade. Ela e seu marido, Ricardo, são um casalprecioso que tem nos servido com o seu melhor!

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Rafael Birkholz

Meu nome é Rafael Birkholz. Tenho vinte anos,sou professor de dança, dou aula de jazz contem-porâneo; já danço há oito anos e nesse tempo todo emque danço descubro que não sei nada e tudo o que seiainda é pouco; e a cada dia procuro saber mais, paraassim dar ao meu Deus o meu tudo, pois Ele é o motivopelo qual danço e pelo qual estou escrevendo isto hoje.

A dança sempre esteve presente em minha vida.Desde os sete anos já dançava, mas nunca havia pas-sado pela minha cabeça que um dia poderia me tornarum bailarino. A dança era minha diversão: dançavasamba, axé, street, forró, músicas gauchescas, mas nadamuito sério.

Após dois anos da minha conversão, o pastorresolveu introduzir a dança na igreja. Então algodentro de mim despertou, uma chama começou aqueimar, e resolvi fazer aula. No início era meiodifícil, mas era preciso passar por essa dificuldade parapoder crescer. Comecei a ministrar na igreja após umano fazendo aula, orando, jejuando, ensaiando. Pois

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ministério de dança não é sair rodopiando semdireção pela igreja;, é preciso pagar um preço e euprecisava entender isso; e esse tempo foi precioso,pois cresci e aprendi. No início, foi complicado; opreconceito por conta de um homem dançar eragrande; membros do próprio ministério de louvorfalavam; hoje entendem e já não falam mais e apóiam.Meus pais muitas vezes disseram para eu desistir, masgraças a Deus pelo seu propósito para comigo que mefez ver que eu tinha um chamado: “Antes que eu teformasse no ventre, te conheci, e antes que saísse damadre, te santifiquei, e às nações te dei por profeta”(Jr 1:5). Isso me motivou, e ao meu pastor que sempreme defendeu. Muitas vezes pensei em desistir, por sero único homem, mas Deus novamente me fez ver Daviquando entrou em Jerusalém e dançou com todas assuas forças e Mical o desprezou. Muitos estavamfazendo isso comigo, mas Deus tinha um propósitona minha vida e me honraria, como fez com Davi.Isso me motivou a dar a cara para bater e por contadisso o Pai tem me honrado e muitos homens apósterem me visto dançar, disseram que seus minis-térios romperam e hoje não têm vergonha e nemmedo de dançar. Deus me deu uma palavra que falaque Ele me levaria a lugares aonde nunca fui, seeu o buscasse e entregasse a Ele o meu dom, e euseria um canal de bênção para outros homensdespertarem seu chamado.

Eu fiz isso e hoje vejo essa palavra se cum-prindo. Estou com um ministério fora de série, umministério que Deus sonhou para mim e que vai alémde quatro paredes. Glorifico a Deus por isso, poistenho aprendido muito. Agradeço a Deus por confiar

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a mim este dom e este chamado; aos meus pais, poracreditarem em mim; aos meus pastores, Dal’Sotto eFátima; ao ministério Tabernáculo de Adoradores;ao meu grande irmão e amigo, Jéferson Zimmer, quesempre me incentiva e me apóia; e à minhaintercessora, Cláudia, que está sempre disposta.Obrigado, Gisela e Oziel, e ministério Dança pelasNações, que acreditaram em mim e fazem parte destahistória que Deus está escrevendo.

Tudo o que sei deve-se a Deus que me capa-citou e ao esforço que fiz e faço para dar a Ele o meumelhor, pois como diz Davi: “Não oferecerei aoSenhor holocaustos que não me custem nada”.

Rafael Birkholz

Rafael está há dois anos com a nossa equipe.Agradeço a Deus pela vida dele. Ele é muito talentoso,mas tem colocado tudo isso nas mãos do Senhor!

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Simone Galdino Dias Hermoso

Quando menina, meus pais me matricularamem uma escola de dança. Aulas técnicas muito rígidase um treinamento bastante sério e disciplinadofizeram parte do meu crescimento. A dedicação e oesforço são marcas de uma bailarina. Cresci e meformei como bailarina profissional, até que um diafiquei muito doente com labirintite e os médicos dis-seram que se eu não me cuidasse nunca mais poderiadançar. Entrei em pânico e fiz de tudo, mas a labirintitenunca passou, apenas estabilizava. Acabei a facul-dade e me casei em 2000. Com a correria do dia-a-dia,problemas diversos começaram a acontecer. Não seiexplicar, mas a única coisa que me lembrei foi deminha amiga Verônica, de cinco anos de faculdade,que falava de Jesus para mim. Então, em 2002, decidiir à igreja dela para ver se conseguia resolver umamonte de problemas.

Lembro-me que no início fiquei muito preocu-pada, pois não queria deixar a dança e a minha lutainterior foi muito grande. Estava disposta a seguir esteJesus mas ainda ficava em dúvida em relação à dança.Vi que na Igreja dela havia umas meninas quedançavam, mas logo critiquei pois não via a mesmadedicação das minhas aulas durante tantos anos.

Confesso que quando procurei Jesus, fui atrásda bênção e não do Abençoador, mas para minhasurpresa me apaixonei por Cristo. No início, escolherentre participar dos espetáculos da companhia edançar na igreja foi uma luta muito grande dentro daminha alma. Entender que os aplausos não eram maispara mim, que os aplausos não eram mais uma recom-

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pensa pelo meu suor e dedicação, foi muito difícil, masestava realmente disposta a me entregar a este Jesus,pois tinha fome da Palavra. Fiz uma escolha, deixandoo grupo de dança de que participava para dedicartudo o que tinha aprendido a Jesus. Dediquei-me aaprender mais de Cristo e por incrível que pareçaquando danço para Ele não sinto mais as tonturas dalabirintite que sentia antes. Glória a Deus!

Nesse período, fiquei sabendo da Escola Pro-fetas da Dança, em Mauá/SP, 2005; e quando percebijá estava lá, vendo a Gisela, a Duda, o Hebert e todaequipe ministrando. Apesar de já estar na igreja haviamais ou menos dois anos dançando e dirigindo oministério de dança, fui à escola cheia do meu “eu dosaber”, cheia da minha “técnica soberana”; e Deus mequebrou inteira. Ao ver a Duda ministrando pensei:“Essa moça deve ter anos de aula em contemporâneoprofissional; como ela dança bem!”. Ao descobrir quetudo o que a Duda sabia de dança foi Deus quem lheensinou, entrei em choque. Isso não é possível!

No momento em que vi a Gisela subir dan-çando no altar, parando, levantando seu olhar para océu, dando um sorriso, percebi que ela se expressavapara Deus com muita pureza. O que era aquilo? Quemistério era aquele, que face de Deus era aquela?Que dança tão simples e tão linda! Percebi então quenão sabia dançar; senti que toda a minha técnica eraum monte de “nada” e não existia um passo técnicobem formado que eu fizesse, em minha grande sabe-doria ridícula, que poderia alcançar a glória de Deus.

Então me rendi e disse para Deus que gostariade aprender a dançar daquela forma, como uma

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adoradora, com um coração verdadeiro. Eu merendi e confessei a Deus todo o meu orgulho de ser eacontecer. A presença de Deus na vida da Gisela meensinou mais do que qualquer técnica de dança.

Hoje, entendo que tenho que continuar mededicando e treinando com muito mais zelo e dis-ciplina, pois esta é a parte que cabe a mim; mastambém entendo que hoje danço para que as pessoasvejam a face de Deus, sendo abençoadas em cadamovimento. Hoje, meu desejo não é mais dançar empalcos pois descobri os altares do Senhor, onde a Luzé mais forte, onde o Amor é mais intenso, onde pesso-as podem ser curadas, onde o melhor movimento éestar prostrada, esvaziando-me para que a graça deDeus brilhe e transborde.

Certa vez, decidi fazer um curso de jazz inter-mediário aqui em São Paulo, com a verdadeiraintenção de me exercitar e aprender algo novo parausar nas ministrações e pude ver homens e mulheresque dançavam numa perfeição técnica surpreen-dente. Dentro de mim, eu dizia: “Meu Deus, como elesdançam bem!, É muito lindo e perfeito! E a expressãodeles é muito intensa e bonita também; como euqueria dançar assim...”. Ops! Na hora, em segundos,o Espírito Santo sussurrou: “Olhe bem isso, Simone;olhe bem esses movimentos, olhe bem essa expressão,pois é MORTO, é tudo MORTO, está MORTO, são mo-vimentos MORTOS”. No mesmo instante estremecie tudo aquilo que aos meus olhos reluzia como ouro ebeleza transformou-se em esqueletos mortos fazendomovimentos egocêntricos e inúteis. Fechei os olhose mais uma vez pedi perdão a Deus. Mas Ele dizia:“Abra os olhos e veja, e nunca esqueça disso. Agradeci

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mais uma vez por Sua misericórdia e por me fazer vero mundo espiritual como realmente é; como somosfeios por dentro, quando temos um talento egocêntrico,se este talento não for usado para honra e glória doAutor dos talentos. Por isso, todos nós que atuamosna arte devemos vigiar e orar em todo o tempo e lugar(até em uma sala de aula), ser astutos como a serpente(para fugir da aparência do mal) mas simples comoa pomba.

Hoje, entendo que meu talento não visa aplau-sos dos homens, mas busca a manifestação da glóriado Senhor, curando e libertando vidas com uma dan-ça que vem do Coreógrafo Maior, Jesus. Louvo a Deuspor fazer parte deste ministério tão abençoado, comalegrias, gargalhadas, muita unção, suor e muitaslutas, pois hoje minha vida não é minha, mas deCristo.

Agradeço a Deus por me dar a honra de poderfazer a obra DELE com a dança. Jesus, eu Te amo;minha vida é tua.

Simone Galdino Dias Hermoso

Simone está conosco há três anos. Ela é umapessoa muito especial, profissional competente, tantona dança quanto na profissão em que atua, comogerente de markenting. Esforçada e agitada, nãopára. Quando estamos juntas, então, é uma festa!

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Ludmila Nunes Leão

Meu nome é Ludmila Nunes Leão. Nascida emBelo Horizonte, tenho vinte e quatro anos e o que maisamo nesta vida é dançar para o Senhor!

Eu me converti em setembro de 2004 e sou a pri-meira de toda a minha família a se render aos pés deNosso Pai. Formei-me como bailarina em dezembro de2002 e em janeiro de 2007 me formei em educação física.

Eu tinha apenas quatro anos de idade quandoum médico ortopedista me encaminhou para o balé,devido a um problema nos pés. Mal sabia eu que esteera o começo do dedilhar da música que Deus haviaescrito para minha vida.

Cresci bailando, sendo encaminhada para osmelhores grupos e escolas de dança da época, consi-derada como um grande talento. Com apenas dez anosde idade já havia alcançado o tão sonhado estágio dassapatilhas de ponta!

Então aos doze anos de idade, me indicarampara uma prova de seleção para o Cefar, Centro deformação artística da Fundação Clóvis Salgado,Palácio das Artes. Passei de primeira nas três provasque foram aplicadas. Assim, comecei a trilhar o meudom como carreira profissional: a dança!

Nessa escola pude aprender e experimentar asmais diversas técnicas de dança: balé clássico, balémoderno e contemporâneo, dança folclórica e outros.Pude também me aperfeiçoar com conhecimentos to-talmente aplicados à dança, como anatomia humana,teatro, música, história da dança e vários outros.

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Nem imaginava que tudo isso foi preparado porDeus para mim antes mesmo de ser formada noventre da minha mãe. Sempre pense em sua vida comouma grande obra, cujo personagem principal é você,mas o Autor, com sua tremenda perfeição, é quem fazo que quiser dela.

No ano de 2002, chegava ao término do pe-ríodo de profissionalização naquela escola, mas todosos meus sonhos haviam sido frustrados (tempora-riamente). Por quê? Eu havia conhecido a arte emsua perfeição, pois foi criada por Deus (Tg 1.17), mastambém conheci o homem, em sua plenitude, e o ladoobscuro que existe dentro dele quando age por simesmo. Por causa de certas situações e decepções,jurei a mim mesma que nunca mais dançaria!

Foi justamente nesse momento que o Autor daminha história resolveu se revelar. Num momentocrítico dentro de mim, em que tudo parecia perfeito efeliz superficialmente, havia um vazio que só foipreenchido quando ouvi a voz do Espírito pelaprimeira vez. Não consegui me conter e em menos deum mês estava totalmente rendida aos pés do SenhorJesus, quebrando todos os paradigmas religiosos,sentimentais, emocionais, que existiam dentro de mime me tornavam uma pessoa que achava que poderiasonhar e realizar em sua soberba seus próprios sonhos.

Em sua infinita sabedoria, Deus me permitiupermanecer por um período de um ano em uma Igrejacristã tradicional, e somente depois do processo deconsolidação e cura, me enviou para uma Igreja batis-ta na qual o ministério de dança e sua líder já sabiamda minha história e me esperavam de braços abertos.

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Ainda não entendia, e para falar a verdade, nãoqueria este chamado para mim, pois as lembrançasainda eram fortes. Foi então num belo sábado denovembro que fui convidada pelo grupo para ir a umencontro de ministérios de dança, no qual a palavraministrada era: 2 Sm 6.14: “Davi dançava com todasas suas forças...”. A voz do Espírito disse bem fortedentro do meu coração: “Filha, quero que dance paramim. Eu te fiz para dançar para mim”.

Naquele momento abandonei todas as resis-tências contra dançar e resolvi louvar ao Deus dadança com tudo que sou e o que tenho, como Davi. Nomesmo mês, me batizei e mergulhei nos ensaiosdaquele ministério e até hoje procuro fazer o que Deusespera de um verdadeiro adorador.

O que mais me deixa constrangida é que mesmoEle tendo construído toda esta trajetória, a cada passoque dou em direção a Ele, em busca de dançar porEle e para Ele, em total intimidade com Ele, mais Elederrama danças do céu sobre mim.

O que tenho a dizer a você é: vale a pena seentregar cada dia mais!

Ludmila Nunes Leão

Ludmila foi aluna de nossa Escola Profetas daDança. Neste ano de 2008, trabalha conosco comoprofessora em nossa academia.Uma pessoa simplesque Deus tem transformado a cada dia.

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Enfrentando barreirasObedecendo e crendoDuas histórias de vida

De pessoas que decidiramQue Deus podia fazer delas

Profetas da Dança

Mesmo quando não sabiamComo dançar

Mas com seus coraçõesTotalmente movidos e guiados

Pelo Deus que faz caminhos

No deserto de vidasSofridas e desacreditadas

Mas por Ele amadasAprenderam a dançar

Uma dança que vai além de movimentos

Professoras hoje sãoEnsinando por esta e outras nações

Enfim...Superando limites

Superando limites

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Letícia Souza Barros

Você precisa ser forte? Ele é o Todo-poderoso.Precisa ser sábio? Ele criou a sabedoria. Precisa de cura?Ele é o bálsamo. Necessita de uma direção? Ele é opróprio caminho. Deseja ser amado de uma maneirasincera, por alguém que consiga sentir seus senti-mentos? Então eu tenho uma pergunta para fazer. Queamor poderia ser maior do que o do sangue derra-mado, declarado em público, assumindo o nossoopróbrio e a nossa derrota, para que você e eu pu-déssemos viver?

O que mais um Deus infinito poderia realizarem sua vida...

Minha família não tinha condições financeiraspara que eu pudesse me vestir direito e só nãofaltavam à mesa arroz, feijão, pão e café. O chão daminha casa quase sempre era barro e lama, comple-tamente descolado do assoalho. Quando chovia, apoeira proveniente dos tacos soltos se misturava àágua que entrava pelos buracos do teto. E olha queesta é apenas uma pequena parte da história, queneste aspecto se repetiu por catorze anos. Passeia infância, a adolescência e a juventude em umambiente de privações físicas e emocionais e a minhamaior vocação era ser um zero à esquerda.

Explicar com palavras a maneira poderosa comoDeus agiu em minha vida (isto inclui a dança) é umatarefa muito complexa, mas o engraçado é que omotivo desta dificuldade existir é de uma belezaextrema. O fato é que Deus é perfeito em todos os Seus

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caminhos; Ele é absoluto, completo, e eu pude sentirisso na minha carne. Palavras não seriam suficientes,em si mesmas, para expressar a nobreza da obra deum Deus perfeito em seres repletos de deformidades,mas tudo bem, vou me arriscar.

Durante a nossa história (chamo assim porquena verdade a minha história de vida se confunde como momento em que Deus entrou nela) o Senhor nuncafoi um personagem que, posando de bom moço, cum-pria um papel na minha existência – aparecendo donada de vez em quando para me dar uma ajuda oubons conselhos. Ele estava lá a cada instante; e possoafirmar que comemos quilos de sal juntos. Os mo-mentos mais críticos e difíceis que passei acabaram porse tornar elementos desencadeadores de uma paixãoprofunda por Deus.

Tribulações e experiências vivas do amor deDeus caminharam juntas durante minha vida.Quando tinha apenas sete anos de idade, o Senhorimplantou um chamado real na minha vida aindamuito curta. Durante a pregação de uma missionáriaque visitava minha igreja, o Senhor despertou meucoração para levar seu amor a outras nações. Opróprio Deus cativou minha alma nas palavrasdaquela mulher, que testemunhava em meio aopranto, como era magnífico servir a Deus. Ela relatouepisódios de escassez, humilhações, vitórias, fé, supe-ração e plenitude de vida. Eu não passava de umacriança, mas uma vontade perpétua de estar comaquele Deus, tão cheio de amor e de paixão, arrebatoua minha alma. Naquela noite, fiz uma oração quecomprometeu o restante da minha vida. Pedi para queo Senhor me permitisse ser como aquela missionária,

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cujo motivo de estar na terra era ser um canal do amorde Deus para a humanidade. Enquanto orava, tivecomo que uma visão de Jesus entrando no meio daigreja e foi uma experiência extraordinária que metrouxe grande alegria. Pobre de mim. Com poucaexperiência de vida, diante de toda aquela glória, nãopercebi que aquela era a ponta de um iceberg gigan-tesco e eu ainda teria que comer muito sal (com Jesus)aos poucos e a seu tempo.

Difícil de entender uma escolha tão profundaainda na infância, não é mesmo? Em inúmerosmomentos eu mesma duvidada com toda sinceridadedo meu coração. As violências sofridas, dificuldadesfinanceiras, fraquezas emocionais, problemas e maisproblemas. Minha vida parecia ser um círculo viciosode derrotas. Como única cristã da família, vivi aquilotudo praticamente sozinha, suportando um peso espi-ritual maior que eu. Minha “sorte” é que Deus é maiorque a própria vida e me sustentou em tudo. Possoconcordar literalmente com o amigo Davi quando disseque para Deus até as trevas não são escuras. Mesmodiante de todas as maldições que me cercavam e errosque cometi por causa da minha humanidade, Deusfocou seus olhos no meu coração que o amava. Muitaspessoas me olhavam como se eu fosse uma cavernaescura, mas o Senhor estava produzindo um jardimpara seu proveito, em um ambiente silencioso e delágrimas.

A minha relação com as artes não foi mais fácildo que em outras áreas da minha história. Cultiveidesde a infância o sonho de ser bailarina, mas naépoca minha família lutava para se alimentar e baléera coisa de gente rica. Dançar ardia em meu coração

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e com dez anos de idade perguntei à minha mãe se eupoderia vender chup-chup na rua para pagar aulas dedança. Fiz até as contas de quantos precisaria venderpara conseguir a mensalidade. Minha mãe sorriu e nemme respondeu; afinal, era uma idéia absurda, moti-vada por um sonho “passageiro”. Esse amor peladança até hoje é um mistério para mim. Minha mãeconta que certa vez, ao entrar na sala de casa, ela sedeparou comigo dançando sozinha, sem música – eeu tinha apenas três anos! Ela conta que eu me abaixa-va, levantava os braços e girava. É claro que eu nãome lembro dessa ocasião e nem quando começou estapaixão pela dança. Só me recordo que ao ver umabailarina dançar, meu coração parecia dançar juntocom ela.

Quando cursava a quarta série, comprei numbazar uma sapatilha de ponta, quebrada, só para ter oprazer de vê-la no pé. É claro que nunca a usei e logovi que foi uma bobagem, mas na sexta série, todos osdias, quando voltava da escola, passava em frente auma loja e namorava uma caixinha de música. Era umporta-jóias musical que tinha uma bailarina que dan-çava enquanto a música tocava. Pelo menos uma vezpor semana eu entrava na loja e perguntava o preço. Éóbvio que nunca comprei o bibelô e ficou só na vonta-de, que passou junto com adolescência. Quando metornei jovem, precisei trabalhar e estudar e no momentoem que poderia custear as aulas os horários das aca-demias nunca batiam com a minha disponibilidade.

Ao me tornar adulta, acabei por mudar paraoutro estado e conheci a Gisela e o Dança pelas Na-ções. Ela foi a minha primeira professora de balé e nemimaginava que eu havia esperado vinte e dois anos

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por uma aula. Sei que parece um assunto tolo, umaesperança medíocre, mas nunca consegui parar desonhar com essa arte. Afinal, do que somos feitos, alémde esperanças?

Confesso que o tempo e a espera me trouxerammuitos problemas e frustrações, que aliados a outrassituações de derrota, abriram lacunas em minha vida.Hoje, entendo que as dificuldades tornaram meussonhos completos em Deus. Quando fiz a primeira aulade dança, eu nem podia acreditar; foi sublime. Queriaaprender tudo, fazer o melhor, e apesar de já ter ocorpo endurecido por causa do tempo, mesmo comas dores dos alongamentos, sentia como se aquelesfossem doces momentos. Essa situação pode parecercruel, mas pra mim é perfeita e agradável. Na ver-dade, Deus me revelou o melhor da festa.

A Gisela me ensinou tandis, piruetas, alonga-mentos e tudo mais em relação à dança, mas, além datécnica, através dessa irmã e da perseverança nas tri-bulações, recebi o privilégio de experimentar o Deusda dança, do universo, da vida! O emaranhado dediversidades tornou-se peças de um quebra-cabeçasem que Deus foi ordenando uma por uma. Aprendicoisas preciosíssimas, maiores do que todos os meussonhos. Cada ponto desconectado da minha vida foise encontrando e em meio ao caos Deus formou meucaráter.

Deus se revelou em cada pessoa que me esten-deu a mão e o que poderia ser interpretado simples-mente como “integrantes do ministério” tornaram-seirmãos, parceiros e amigos, pelos quais tenho admi-ração e respeito. Pude sentir o milagre de aprender

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em dois anos técnicas que talvez aprendesse em cinco.

Conhecer o tempo da música, sustentar ocorpo, girar, adquirir expressão corporal e ser criati-vo, para muitos pode ter sido um processo comum,mas para mim foi genuinamente especial. A dança temum lugar único nos meus sentimentos. Quando elevomeus braços, elevo junto o meu coração. Quandosalto, deixo que meu espírito vá completamente, pre-so aos olhos de Deus. Tudo se torna oração. Por isso nadança me alongo tanto e me curvo, ou giro, ou meprostro;, é porque de alguma forma, do mais corriquei-ro ao mais complexo dos gestos, na verdade, o que meimpulsiona a fazê-los é a tentativa de chamar a aten-ção de Deus e, claro, para agradecer-Lhe. Quandodanço, cada célula do meu corpo celebra, em umaexplosão de sentimentos, a altura, a profundidade, alargura do toque de Deus em meu ser. Coisas que nemo melhor dos estúdios de dança poderia ensinar.

Como disse no início, não é fácil descrever aamplitude das obras de Deus e este texto é só uma som-bra de tudo o que Ele fez em minha vida. Atualmente,cinco anos depois de dar os primeiros passos técnicosde dança, Deus abriu portas em uma academia de balémuito bem conceituada de Belo Horizonte. Nãodisse? O Senhor é completo! Vai entender... Se anali-sarmos os fatos, Deus me mostrou que Ele não de-pende de homens renomados para ensinar, enviandouma filha fiel, simples e muito talentosa como a Gisela,para me treinar de uma maneira excelente. Agora,estou em uma sala de bailarinos excepcionais, e vejasó, estou conseguindo acompanhar o ritmo deles.

A multiforme graça de Deus regando a vida do

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cristão, quando esse decide depender do Deus vivo!Esta é a mensagem que gostaria de colocar. Não querodizer que uma pessoa que tinha a dança como umídolo, vivia em um pedestal, por que é ou foi o maiorbailarino do mundo, não possa ser um ministro dedança usado por Deus. Algumas vezes me perguntopor que cargas d’água Jeová usou esses caminhos paratratar a minha vida. Respondo: somos únicos e Elequebranta um por um, faz a dedo mesmo; e é óbvioque não seria igual para todos. O ponto que gostariade chegar é na onipotência de Deus e em seu zelo pornós. Verdadeiramente, não importa quem fomos ousomos. Se ricos ou pobres, mestres, aprendizes, fracosou altivos. Importa, sim, quem Deus é e em qual deSeus sonhos Ele vai realizar nossas vidas.

Letícia Souza Barros

Letícia está há cinco anos na equipe. Atrizprofissional, enfermeira, hoje graduando-se em jorna-lismo, é uma pessoa extremamente criativa, única,sempre serva – ela me serviu durante um ano em minhacasa; apesar de ter sido chamada para trabalhar em umbom hospital na época, ficou comigo no período em queo Israel nasceu. Estávamos ainda nos recuperando denossa falência, não tinha condições de pagar umapessoa, e ela trabalhou em minha casa; ela simples-mente descobriu um princípio precioso, o de servir.Deus a honrou tremendamente. Depois disso, foichamada para trabalhar no Hemonúcleo, com umexcelente salário, mas nunca esqueceu o sonho de serjornalista e agora graças a Deus está realizando.

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Venuzia Carrara Gomes da Silva Prando

Meu nome é Venusia Carrara Gomes da SilvaPrando, nascida e criada em uma pequena cidade dointerior do Espírito Santo. Dizem que de Colatina nãopode sair muita coisa boa. Em geral – para se ter umaidéia – a maior expectativa dos jovens colatinenses éterminar o ensino médio e trabalhar no comércio dacidade. Não há variedades de ocupação ou opções delazer; tudo se resume em cultivo da terra e criação degado e criação de gado e cultivo da terra. As dife-renças sociais são absurdas e até o hospital públicoda cidade é comparado, literalmente, a um açougue.Os moradores da cidade não têm acesso à arte ea maior iniciativa em relação a movimentos culturaisna região fica restrita ao “entretenimento”, ou seja,shows musicais.

Em Colatina, os ricos são extremante pode-rosos e os pobres chegam perto de serem miseráveis,mas o inusitado disso é que, grosso modo, pobres ouricos, eles são igualmente soberbos. A sociedade emgeral é adoradora da própria imagem e superficial,sepulcro caiado mesmo! As pessoas enxergam apenaso que está diante dos olhos delas, ou do umbigo, e nãoconseguem sonhar, por estarem agarradas a umacultura de mediocridade. Tente deixar em um balde,sem tampa de vedação, uma dúzia de caranguejos.Nenhum deles consegue sair e todos acabam cozidosem uma panela! É a vida de caranguejo – puxar um aooutro para o fundo do balde. Normalmente, isso é oque acontece com algumas pessoas que ousam buscaralgo fora do espírito de miséria espiritual e intelectualque age na vida dos habitantes. É. Não é um mar derosas, principalmente quando se trata de ministério,

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um trabalho que não é transcendente (já que exige açãofísica para não terminar em teoria), mas é precisotranscender a carne para receber no espírito. Ima-ginem colocar em prática essa fé, mas viver em umambiente que generalizadamente tem uma auto-estima baixa. De Colatina não pode sair nada de bom.Cresci pensando assim.

Minha história pessoal não foge muito à devárias famílias da região. Meu pai abandonou a mime minhas duas irmãs quando eu ainda estava prati-camente no colo, ainda um bebê. Tenho origem muitohumilde e desde que me tenho por gente precisei tra-balhar para ajudar minha mãe a colocar comida emcasa e para não ficarmos sujeitas a ser despejadas dacasa alugada. Foram dificuldades enormes – eu nãobrincava de bonecas e sim de fazer bolos e biscoitospara vender. Ora lavando, ora passando roupa parafora, e no meio disso tudo, como se diz por aqui, eracortada no coro. Apanhei muito, sendo que da últimasurra tenho marcas até hoje. Fui castigada com ummoedor de carnes – na ocasião, tinha nove anos de idade.

Se medirmos em porcentagens, somando meuhistórico familiar e as possibilidades de ascensão soci-al que crianças com meu perfil têm, pode-se afirmarque eu tinha noventa por cento de chances de ser umapessoa fracassada em diversas áreas. Deprimida, amar-gurada, pensando baixo, refletindo todos os maus atossofridos. Como havia mencionado, em geral, esse é operfil de vários colatinenses. Cresci uma adolescentesem expectativas, órfã do amor de um pai, e elogiadapela mãe com palavras semelhantes a inútil, pregui-çosa, dentre outras, que não convém mencionar aqui.

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Verdadeiramente, eu não via saída para mim; tudo oque eu conhecia estava misturado a trabalho duro ehumilhações. Diante disto, posso afirmar com todo omeu coração que Deus traz à existência uma vida quenunca existiu, traça um caminho onde não vemoscaminho e faz com que haja paz até em meio à guerra.

O meu grandioso Pai me encontrou no meio deum deserto de almas. Ele atraiu primeiro o coraçãoainda infame da minha mãe. Isto não é lindo? Ele nãoatribuiu a ela suas culpas, mas ofereceu o perdão. Elacomeçou freqüentar uma igreja no centro da cidade eeu e minha irmã mais nova começamos a ir com ela.Recebemos visitas em casa, orações, etc. Eu não gos-tava muito porque eles falavam de uma coisa que eunão entendia muito bem. Amor de Deus, perdão e paz.Eu dizia para mim mesma: como Deus pode dizer queme ama, mas me deixou passar por tudo aquilo? Eunão entendia nada; era muito oprimida, mas o estra-nho, era que ao mesmo tempo me sentia irresistivel-mente atraída para estar lá e ouvir aquelas palavrasnovamente. Comecei a ser freqüente na igreja e a mi-nha vida nunca mais foi a mesma. Certa vez, em umadas ministrações de louvor, senti tanta paz naquelamúsica animada, mas eu estava tão desesperada quedesejei profundamente que aquela paz invadisse omeu  ser não saísse nunca mais. Ao descer aquelasescadas, entreguei definitivamente minha vida aoSenhor Jesis. Eu tinha catorze anos de idade e foi amelhor decisão da minha vida.

Amém, glória a Deus, Jesus no coração, umavida nova pela frente, cheia de sonhos, expectativas,transformações – agora vai ser fácil! É. Não foi bem

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assim. Impossível, claro que não, porque agora, antesde mexerem comigo, teriam que mexer com o Deus doimpossível, mas tive que ter muita fé para conseguirpermanecer. Primeiro minha mãe deixou o evangelhoe minha irmã mais nova engravidou aos quinze anos,se desviou e ficamos eu e Deus. Fui muito humilhada,perseguida, esnobada. Muitas lágrimas, incontáveislágrimas, que só eu, meu travesseiro e Deus sabíamos.

Não deixei de ir à igreja. Lá era o meu portoseguro. Digo, o mover de Deus na vida daquelas pes-soas, o amor Dele derramado sobre mim por meio depessoas que não tinham o meu sangue, mas me ama-vam como se tivéssemos sido gerados no mesmo lar.Comecei a me relacionar com a Gisela e sua família.Uma mulher corajosa, cheia de fé e prática em Deus.Ela não parava; líder dos adolescentes e o Oziel,presbítero da igreja na época, formaram um grupo dedança de adolescentes. Eu amava ir à reunião dosadolescente, aos ensaios do grupo de dança, e ficavaansiosa para ir ao culto de domingo. Recebi umcuidado muito especial: a Gisela, principalmente, foiuma mãezona. Sua determinação sempre me causouadmiração; sua atitude diante do senhor me ensinouque vale a pena sonhar os sonhos Dele, e ao entregarsuas sapatilhas inspirou a muitos a sacrificarem-sepor amor a Deus e ao Seu Reino!

Tenho doces lembranças do tempo em chegá-vamos mais cedo à igreja e orávamos, dançávamos,até sem música, em meio a uma presença tão lindade Deus. Unção fresca e suave – no lugar secreto.Ali mesmo, onde só Deus pode nos ver, Ele implantouem mim o caráter de um adorador.

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Precisaríamos de mais um livro para falar detudo o que Deus realizou em nossas vidas, seus feitose maravilhas. É por isso que todas as vezes que danço,celebro as lutas, as conquistas e a vergonha de satanásque tentou me prender no fracasso. Hoje, tenho algopara mostrar à sua tentativa. Em um lugar de vazioemocional, Deus trouxe sentimentos preciosos. Em umambiente seco de criatividade e instrução, Deusderramou Seu Espírito criativo, capacitou meu corpofísico para ensinar a outros que como eu viveramlonge das maravilhas de produzir e conhecer arte. Eupoderia ter permanecido escondida no sentimento dedepressão, mas quando Deus falou comigo: “Lázaro,vem pra fora”, deixei para trás as ataduras dasminhas feridas e confiei no chamado que Ele tempara seus filhos. Deus usa as coisas loucas destemundo para confundir aos sábias! Eu jogava handbolle hoje sou professora de balé clássico. Vai entender oSenhor Jesus! Ele é muito lindo mesmo. Quando tinhacinco anos de idade, sonhei que ia viajar de avião. Paraa minha realidade, isso era uma piada. Aos vinte, fizminha primeira viagem de avião para Belém do Pará,para ministrar em um congresso de dança.  

As pessoas disseram que eu não seria nada, maseu digo que sou o que a Bíblia diz que sou; eu sou oque Jesus diz que sou. Aos dezessete anos, conheci meumarido e aos dezenove anos nos casamos. Hoje, aosvinte e cinco, tenho uma filha linda e posso afirmarque sou completa e extremamente feliz. Recebi umchamado para levar o evangelho a todas as nações; jápisei em quase todos os estados brasileiros e sei queDeus me levará às nações para dançar sobre as injusti-ças dos povos. Deus, que me resgataste do império das

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trevas para o reino da Tua maravilhosa luz, eu Te amo,Senhor, razão da minha vida. Amo dançar para ele comtudo o que há em mim, com todas as minhas forças.Eu dançarei até os confins da terra, se for preciso. Nin-guém, mas ninguém mesmo, vai me segurar!

Venuzia Carrara Gomes da Silva Prando

Duda é filha, companheira, amiga. Cami-nhamos juntas há treze anos, literalmente de mãosdadas. Passamos vales, desertos e lutas juntas, mastemos vivido juntas os sonhos de Deus. Professora debalé clássico, atua em uma academia e em um projetoda prefeitura de sua cidade.

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Tudo o que você leu neste livro, mais do quepalavras, são fatos que falam por si sós. Entendi queera o momento certo para publicar estas histórias, poisnós que ministramos ao Senhor devemos entender oprincípio de sermos servos e adoradores antes de tudo.

Artistas com o coração totalmente voltado parao Senhor, entendendo o seu papel no Reino e desem-penhando esse papel da melhor forma possível. Semradicalismos, apenas na liberdade do Espírito Santode Deus, fluindo e liberando a Palavra de Deus,através das artes.

Eu me converti através de uma canção; temostestemunhos de pessoas que foram curadas, libertas,se converteram e assim temos caminhado levando ofogo de Deus pelas nações da terra.

Espero que sua vida tenha sido edificada e queo Espírito Santo tenha ministrado ao seu coração.

As artes podem ser instrumentos nas mãos deDeus. Basta que você tenha a disposição de entregarseu dom nas mãos de Deus, de ser um vaso nas mãosDele, um vaso de honra.

Quando nos colocamos por inteiro nas mãos de

Palavras finais

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Deus, com nossa mente, nosso coração, nossa alma,nossas habilidades, somos vasos derramando bálsa-mo de cura, revelando a pessoa de Deus e mostrandoo caminho da salvação.

Deus abençoe a todos!

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