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Quando Deus me pediu as sapatilhas
Gisela Matos
Quando Deus me
pediu as sapatilhas
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Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Gisela Matos
1a edição, novembro/2008
Editora Profetas da Dança
Rua Antônio Pinto Lana, 231 Loja 1 Europa
32043-045 Contagem/MG
Tel.: (31) 3390-1449 Nextel: 55*8*62123
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Capa: Júlio Carvalho
Gisela Matos
Email: [email protected]
As citações bíblicas foram extraídas da
versão Revista e Atualizada, de João Ferreira de Almeida,
salvo indicação em contrário.
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sem autorização por escrito da autora.
FICHA CATALOGRÁFICA
CIP-Brasil. Catalogação na fonte.
M433 Matos, Gisela
Quando Deus me pediu as sapatilhas /
Gisela Matos. 1ed.
Belo Horizonte: Editora Profetas da Dança, 2008. 136p.
ISBN: 978-85-906310-1-9
1. Dança e vida cristã. 2. Arte no reino de Deus.
I. Título.
CDD: 212.1
CDU: 231.11
Bibliotecária responsável:
Maria Aparecida Costa Duarte 2 CRB/6-1047 2
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Dedicatória
Dedico este livro a todos os ministérios de
dança que hoje, como guerreiros, têm atuado dentro
de suas congregações, muitas vezes sem apoio,
sem incentivo, mas mesmo assim têm continuado.
Aqueles que realmente têm levado seu chamado a
sério, têm colhido frutos.
Dedico, em especial, a você, líder de equipe que,
assim como eu, há muitos anos, trava uma batalha para
caminhar com a arte no reino de Deus, a você pastor
que tem acreditado nesse chamado e luta contra o
preconceito de muitos em relação a dança.
Dedico também às pessoas que venceram a
barreira da idade, que já estão maduras, mas têm
o prazer de dançar na presença de Jesus, mulheres e
homens vencedores, que não têm dado importância a
comentários sem fundamento, como se a idade fosse
barreira para Deus agir em nossa vida.
Dedico a todos os que freqüentam nossos con-
gressos, que mandam e-mails, que nos telefonam,
que têm acreditado em nós, aos que são o cumpri-
mento de uma das palavras de Deus em nossas vidas.
Obrigada por cada abraço, cada gesto de carinho,
muitas vezes tão rápido, mas com certeza nunca 3 despercebido. 3
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Quando Deus me pediu as sapatilhas
E dedico ainda à nossa cobertura espiritual,
pastor Thomas e pastor Judsson, obrigada por serem
amigos, pastores e companheiros de muitas lutas
e vitórias.
Não há outro como Tu,
não há outro que eu prefira além de Ti, e as
batidas do meu coração clamam o teu nome,
Jesus.
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Quando Deus me pediu as sapatilhas
Sumário
7 Etapas
9 Agradecimentos
11 O silêncio das palavras
15 Quando Deus me pediu as sapatilhas
19 O pedido
27 Entendendo o meu chamado
33 Entendendo o que é o deserto
39 Deserto em 1998
51 Vale da Bênção
61 Testemunho da Escola Profetas
da Dança, em 2004
71 Um caráter forte
83 Perseverança
87 Aquilo que somos se reflete no que fazemos
103 Bailarinos que entregaram as sapatilhas
121 Superando limites
135 Palavras finais
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Quando Deus me pediu as sapatilhas
Etapas
Um livro, como qualquer outro projeto, tem
etapas a seguir: escrever, corrigir, diagramar,
imprimir... enfim, todos os passos são importantes
e muitas vezes não damos valor a esses profissionais.
Vou começar falando da capa: fiquei impres-
sionada quando vi a capa do livro; por isso quero
honrar a vida do Júlio, esse irmão extremamente
talentoso, que conseguiu expressar exatamente o
sentimento e o propósito desta obra.
Quando vi a capa, me lembrei do ano de 2002,
quanto fiz um propósito com Deus: orava todos os dias
às 5:30h da manhã com minhas sapatilhas de ponta,
entregando-as ao Senhor Jesus.
Quantas experiências vivi com Deus através
da dança, quantas lágrimas derramei na presença
do Senhor dançando, quantas batalhas travei com
movimentos e quantas palavras eu desenhava e
expressava e ainda expresso, palavras vindas do
coração de Deus; dancei em momentos únicos e
inesquecíveis de minha vida. E sei que vou dançar
por muitos anos e viver muitos momentos pro-
fundos em Deus.
7 Obrigada, Júlio, por sua sensibilidade. Que 7
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Deus possa a cada dia mais enchê-lo de criatividade
e talento.
Obrigada, Sharles, por se preocupar com cada
detalhe da produção.
Que o Senhor recompense a cada um que se
envolve conosco neste projeto.
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Agradecimentos
Agradeço a Deus por ouvir minha oração, no ano
de 1996, quando pedi para que Ele resgatasse meu dom
de escrever. Aqui está mais um fruto daquela oração!
Agradeço ao meu marido, pastor Oziel, pelo
carinho, por acreditar em meu chamado e por ser
alguém que sempre me incentivou a continuar.
Amo você!
Aos meus filhos amados, Jeiel e Israel, que
sempre entenderam e participaram desta caminhada.
Lindos!!!
À equipe Dança Pelas Nações, amigos mais
chegados que irmãos, obrigada mesmo pelo carinho,
confiança e amizade de cada um de vocês.
Enfim, a Jesus seja toda honra, glória e louvor!
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O silêncio das palavras
Depois destes anos sem publicar outro livro, eu
tinha a idéia, o título, a direção, mas não sentia ser a
hora certa para publicar alguma coisa.
Depois do primeiro livro lançado, eu já tinha
mudado de cidade e com isso toda a equipe que
formei ficou no Espírito Santo, enquanto eu estava
em Minas Gerais.
Você não tem idéia de como isso foi difícil para
mim. Eu morava em uma cidade pequena, já estava
estabelecida na igreja; meu marido, que hoje é pastor,
na época era presbítero e juntos pastoreávamos a
equipe de dança.
O ministério havia crescido muito; começamos
com uma equipe que ministrava só na igreja e de
repente Deus nos levantou na nação brasileira e em
outras nações.
Nos primeiros quatro anos em Minas Gerais,
tive experiências boas e ruins e confesso que aprendi
muito nesse período, por isso acho que este é o
momento oportuno para compartilhar algumas expe-
riências vividas. 11 11
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Nesse ano de mudança tão radical pois ima-
gine só: na minha cidade, Colatina/ES, nós tínhamos
casa própria, muitos amigos e deixamos tudo. Mais à
frente, em outro capítulo, falarei mais detalhadamente
sobre isso. Mas por estas palavras você pode perceber
que ser chamado por Deus não é tão simples como
muitos pensam; confesso que eu mesma pensava
assim. Parece tudo tão bonito, tão simples, mas saiba,
amado: aquilo que vemos é só uma pequena parte; é
o resultado de muitas lágrimas, lutas, demonstrações
de coragem, trabalho duro e muita, mas muita fé!!!
Querido leitor, espero que você seja abençoado
por este livro. Mais do que ser uma ferramenta, ele
mostra a realidade de muitas experiências que nós,
ministros de Deus, precisamos aprender e muitas
vezes aprendemos com erros e dificuldades; então,
espero que você possa aprender algo com essas
experiências, com os meus erros (não é fácil expor
nossos erros...).
Para mim, que escrevo, as palavras são liberta-
doras; são como um machado quebrando correntes.
Quando escrevo, procuro expressar quem sou e
aquilo que sinto; e o mais importante: aquilo que Deus
ministra e revela ao meu coração. Com muito temor
digo isso, pois em minha adolescência, quando não
conhecia Jesus, eu já escrevia muito. Lembro do que
me disse uma professora, na sétima série, quando leu
uma poesia que fiz: "Você será uma grande escritora!
Invista nessa carreira". Na época, não dei impor-
tância, pois a única coisa que batia em meu coração
era a vontade de ser uma atleta de handebol, o que, 12 12
aliás, fui durante anos... O tempo passou, conheci
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Jesus, e uma das minhas primeiras orações foi para
que Deus restaurasse meu dom de escrever. Pelo
retorno que tive com meu primeiro livro publicado,
creio que Deus me ouviu!
Quero aqui agradecer e dizer que a cada e-mail,
cada telefonema, cada testemunho dado pessoal-
mente sobre ele, eu sentia uma palavra de Deus para
continuar. Pessoas de tão longe, que não conheço, mas
que foram tocadas pelas palavras que Deus ministrou
ao meu coração... Pessoas de outras nações, onde
ainda não pisei, mas que através do livro foram
ministradas.
Tenho consciência de que sou apenas um canal,
mas que toda fonte vem do Senhor Jesus!
Amo fazer isto, escrever, e espero que você já
esteja sendo tocado pelo poder Deus!!!
Então, vamos descobrir porque Deus nos pede
coisas tão simples, que para nós parecem tão valiosas...
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Quando Deus me
pediu as sapatilhas
É muito duro pensar que as coisas que geral-
mente são tão importantes para nós devem ser
entregues a Deus.
Quando Deus começou a me falar sobre a dança,
em 1996, eu não imaginava ser tão longo o caminho
entre ser apenas um bailarino e ser um profeta.
Percebi que havia uma grande diferença entre dançar
apenas e profetizar através da dança... Por um tempo,
pensei que meu talento, meu dom, poderia fazer
com que me achegasse mais às pessoas, ganhasse
almas, mas percebi que para ter acesso ao coração
das pessoas, eu precisava me achegar mais e mais ao
coração de Deus.
A experiência que tive com Deus foi muito
forte e particular; a capa deste livro pode traduzir
exatamente o aconteceu comigo.
Tive que abrir mão por algum tempo daquilo
que eu mais amava fazer, para poder entender o que
Deus queria fazer em mim e através de mim.
Percebi, então, que no momento em que Deus
começa a nos limpar, não o faz de forma superficial, 15 não varre o meio do caminho, tirando apenas a 15
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Quando Deus me pediu as sapatilhas
poeira aparente; não, Ele levanta o tapete e tira tudo
do lugar.
Quando limpamos apenas aquilo que estamos
vendo em nossa casa, a visita que chega, olha e pensa
que está tudo limpo, mas nós que habitamos nessa casa
sabemos que há muita sujeira escondida.
Assim é o Espírito Santo em nós: Ele sabe que
precisamos ser limpos, mesmo que a nossa aparência
diga o contrário.
O meu dom, por alguns momentos, foi como
um tapete, que escondia muitas áreas nas quais eu
ainda precisava ser tratada. Quem poderia imaginar
que a Gisela, a líder da dança, precisava ser tratada,
moída?
Entendi que naquele momento em que me
pediu as sapatilhas Deus estava me dizendo: "Filha, é
hora de limpar mais ainda o seu coração".
Muitas pessoas questionam a dança na igreja,
mas eu sou um exemplo do poder das artes nas mãos
de Deus. A minha conversão se deu através da
música.
Quantas e quantas pessoas me entregaram
folhetos, mas no dia em que fui a um culto, sentei-me
no último banco e ouvi uma canção que dizia: "...você
tem valor, o Espírito Santo se move em você". Minha
vida nunca mais foi a mesma. Depois, através da
dança, pude expressar o meu amor a Jesus e viver
experiências maravilhosas em Deus. 16 A dança me ensinou algumas lições impor- 16
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tantes; então, comecei a dançar para Deus e pude
viver mais experiências maravilhosas, e ainda as
tenho vivido.
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O pedido
Eu já estava ministrando desde 1996, mas só
em 1998, decidi que precisava aprender mais; fui,
então, à única academia de balé que havia em minha
cidade. Ao conversar com a secretária para me matri-
cular, ela comentou: "Você deve ser da turma dos avan-
çados...". "Não!", respondi. Ela me olhou e disse:
"Então dos intermediários?". Eu disse: "Não, nunca
fiz aula; tenho que começar do básico do básico". Ela
me olhou de cima a baixo e explicou: "Mas não temos
turmas só de adultos; você vai ter que fazer aulas com
meninas bem novinhas. Algum problema?". Res-
pondi que não, mas confesso que quando vi aquelas
meninas novinhas, flexíveis e com aquela roupa rosa,
meu coração bateu mais forte; mas prossegui .
Na primeira aula, a professora já me olhou de
lado, me mandou ir para barra e seguir as meninas.
Ela disse que provavelmente eu teria muita difi-
culdade e teria que me esforçar bastante.
O tempo foi passando e cada dia Deus ia me
dando graça. Com seis meses de aula, eu já havia me
desenvolvido bem mais do que o normal; com um ano,
já estava mais adiantada que as meninas. Lembro-me
de que certo dia a professora me disse: "Estou im- 19 pressionada com o seu desempenho; vou colocá-la 19
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separada, em outra barra, para poder lhe dar exer-
cícios mais puxados".
Eu me esforçava ao máximo; chegava em casa,
anotava o que tinha aprendido, treinava e, sempre que
podia, saía da escola em que eu dava aula de educa-
ção física e ia para a academia mais cedo, observava
as outras aulas, assistia à aula do avançado e ficava
sonhando em dançar um dia daquela forma para
o Senhor. Mas via também a soberba de algumas
pessoas. Nessa turma, estava a melhor bailarina da
escola; ela era muito altiva, fazia questão de se
mostrar melhor o tempo todo, observando nos olhares
das outras meninas a inveja, a cobiça. Nesse dia,
comecei a ver o lado obscuro da arte: a competição,
o orgulho, a auto-suficiência.
Bem, os anos passaram e com três anos de aula
eu já dançava nas pontas, fazia também aulas de jazz
e nesse tempo meu corpo havia mudado completa-
mente, minha flexibilidade, minha postura, minha
força... em alguns momentos, até auxiliava a profes-
sora... realmente, Deus trabalhou na minha vida.
Então recebi o convite de uma escola para dar aulas
para crianças de quatro a seis anos de idade. Procurei
saber a opinião da minha professora e ela disse: "Você
consegue, sim; já é professora de educação física, tem
uma excelente consciência corporal mas procure um
curso para se aprimorar"... E justamente nessa época
apareceu um curso em Belo Horizonte! Deus é fiel!
Fui então para Belo Horizonte (nessa época,
ainda morava no Espírito Santo) e fiz um curso de 20 Metodologia de Balé para Crianças. Depois desse 20
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curso, comecei então a dar aulas. Foi um sucesso!
No primeiro mês, já havia mais de trinta alunas.
Lembro-me de um dia em que estava dando
aula: uma senhora me procurou ao final da aula e se
apresentou; simplesmente, ela era a diretora de
uma escola enorme e me convidou para dar aulas lá
também. Esse foi mais um sucesso: quarenta e cinco
alunos.
Quando a proprietária da Academia na qual eu
fazia aulas soube que as coisas estavam dando certo
para mim, começou a me perseguir; foi até as dire-
toras, disse que eu era uma péssima aluna, que não
sabia nada, que ia machucar as crianças... foi terrível.
Minha professora na época ficou muito triste com isso,
pois ela sabia da minha dedicação, do meu esforço
e da minha responsabilidade.
A dona da academia, certo dia, entrou na minha
aula e me humilhou na frente das outras alunas. Foi
muito triste. Fiquei calada, pois sabia do meu poten-
cial; eu já era professora e via nela uma inveja muito
grande.Eu não concorria com ela, pois só dava aulas
para os alunos da escola; as aulas não eram abertas a
outras pessoas.
No ano seguinte, quando fui fazer minha ma-
trícula, pois apesar de tudo era a única academia que
havia na cidade, ela me disse: "Não quero você na
minha academia; você não dança nos festivais, só faz
aula; eu não gosto de você".
Fiquei estática diante disso, me senti mal de- 21 mais, agradeci e desliguei o telefone. Nesse momento, 21
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Quando Deus me pediu as sapatilhas
parei e chorei na presença do Senhor; não entendia o
que estava havendo, pois a dança é o meu dom, fazia
para Deus, nunca me promovi, ensinava tudo para as
meninas do ministério... fiquei muito confusa.
Eu me sentei à beira da cama, me ajoelhei e orei:
"Deus, o Senhor sabe como eu amo dançar, que danço
para Te agradar, que amo ensinar e compartilhar com
a minha equipe; o que está havendo? Por que essa porta
se fechou?".
De repente toca meu telefone, eu atendo e era
uma irmã do Mato Grosso. Ela disse: "Gisela, tenho
uma palavra de Deus para você: `Lugar de profeta é
na montanha' e Deus manda lhe dizer que a sua dança
não terá compromisso com a dança deste mundo".
Comecei a chorar e tive que desligar o telefone, quan-
do Deus mais uma vez falou ao meu coração: "Filha,
você não percebeu, mas a dança está tomando um
lugar no seu coração; Eu vejo muito além das suas
intenções; não fique triste; Eu serei seu professor. E
mais: enviarei profissionais até você".
Chorei muito quando Deus me disse isso, pois
achava que estava fazendo o melhor, mas percebi que
Deus queria muito, mas muito mais de mim; percebi
o cuidado Dele.
No dia seguinte, subi ao terraço de minha casa
e disse: "E aí, Deus, estou aqui; vamos começar a
nossa aula?". E Deus começou a ministrar coisas
maravilhosas em meu coração; via ministrações,
coreografias, atos proféticos... e foi assim por dois
anos, justamente nos dois anos em que Deus rompeu 22 o ministério, em que viajamos o Brasil todo, que 22
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Quando Deus me pediu as sapatilhas
pisamos pela primeira vez nas nações.
No ano de 2002, quando eu estava na Escola
do Clamor, uma americana me abraçou, pois me viu
chorando, e eu disse a ela o que havia acontecido. Ela
olhou nos meus olhos e disse: "Quem é essa mulher
para interromper os planos de Deus em sua vida?".
Aquilo foi muito forte, e foi naquele momento que
decidi fazer algo: durante uma semana, acordava
às 5:30 da manhã e orava durante uma hora, sozinha;
e do primeiro ao último dia, levei minhas sapatilhas
de ponta. No primeiro dia, orei e disse: "Deus,
entrego-Te as minhas sapatilhas! Entrego-Te o meu
dom! Que o Senhor faça como quiser!".
Isso aconteceu em julho de 2002, o ano em que
recebi a visão do ministério; vi uma bailarina de
costas com uma bandeira na cabeça e Deus me disse:
"É assim que vocês vão dançar, profetizando a
mudança da mente das nações!".
Foi um ano-chave, em que as palavras de Deus
começaram a se tornar reais e Deus começou a
restituir muitas coisas, que nos tinham sido saqueadas
em 1998, quando passamos por um grande deserto.
Nesse ano também, eu estava ministrando na
Igreja Batista de Contagem, igreja na qual congrego
atualmente, quando observei que uma irmã, aparen-
tando ter uns quarenta anos, fazia os movimentos
perfeitos, desenhados... no final da oficina, perguntei
a ela se dançava e para minha surpresa, era uma baila-
rina profissional. Ela me disse: "Deus usou você para
me fazer dançar novamente; gostaria que você fosse à 23 minha casa". 23
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Quando Deus me pediu as sapatilhas
Fui à sua casa e ela me contou seu testemunho.
Era muito rica, abrira mão de tudo depois de ser
curada de um câncer nos ossos e hoje vivia para a obra
do Senhor. Ficou comigo um dia inteiro, me deu
aulas, me deu livros preciosos de balé, e assim es-
tava cumprindo-se a palavra de que Deus traria
profissionais a mim.
Em 2004, voltei a fazer aulas. Meu Deus!
Quantas portas Deus abriu! Nesse mesmo ano, estive
em Nova York, fiz vários cursos na Broadway e con-
fesso que no momento em que entrei na sala de aula
em Nova York, lembrei de tudo o que passei, de cada
palavra que me foi dada, palavras de coragem; mas
também lembrei das pessoas que nunca acreditaram
em meu chamado.
Em uma das aulas, sentia-me como uma criança,
como quem sonha, como quem realiza sonhos...
Entregar as sapatilhas foi para mim um ato de
fé e coragem; fé por confiar em Deus e nas suas
promessas, coragem por renunciar a algo que tanto
amava fazer. Eu poderia ter ido a cidades vizinhas e
até tentei para fazer aulas, mas percebi que o pro-
cesso de Deus é a melhor escolha.
Quando Deus me pediu as sapatilhas, aprendi
a dançar com Ele.
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Quando Deus me pediu as sapatilhas
Pelos vales que passamos
Desertos que enfrentamos
Um caráter é gerado em nós
Simplicidade nasce
Perseverança é real
E assim entendemos que o que somos
Reflete no que fazemos
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Quando Deus me pediu as sapatilhas
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Entendendo o
meu chamado
"Eis aqui o meu servo, a quem sustenho, o meu
escolhido, em quem a minha alma se compraz; pus sobre ele
o meu Espírito, e ele promulgará o direito para os gentios"
(Is 42.1).
Algumas das muitas perguntas que passam por
nossa mente no momento em que Deus começa a nos
dirigir é: Por que eu? Como vou fazer? Será que tenho
o dom? Quando vai começar? Lutas querem dizer que
estou no caminho errado?
Estas e outras perguntas passam por nossa
mente quando Deus nos dá uma promessa. Geral-
mente, olhamos para nós mesmos e pensamos que
nunca vamos dar conta daquilo. Comigo não foi
diferente; olhava para mim e pensava: "Deus, acho
que ouvi demais!".
Em quantos momentos me sentia pressionada
como em uma parede entre o que eu via e a Palavra de
Deus sobre a minha vida; em quantos momentos meu
esposo me levantava e dizia: "Olha, Deus já está
movendo"!
A sensação mais complicada para mim foi o fato
de ser diferente das pessoas; enquanto todos estavam 27 preocupados em fazer uma faculdade e conseguir um 27
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Quando Deus me pediu as sapatilhas
bom emprego, lá estava a Gisela pensando nas nações...
eu me sentia mal por isso; encontrava meus amigos de
escola, advogados, médicos e eles me olhavam como
se eu estivesse perdida em meio aos meus sonhos.
Mal sabiam como eu já havia me encontrado.
Minha família sempre se manteve calada;
enfim, sempre foi omissa; na verdade, nunca tive
uma boa idéia de família; eles só observavam, mas
sentia olhares que desejavam que desse errado.
Sei que muitos que estão lendo este livro, se
sentem ou já se sentiram assim. Neste capítulo,
compartilho um pouco daquilo que Deus me ensinou
sobre o chamado Dele em minha vida, sobre esse
começo tão difícil, sobre essa resposta tão maravi-
lhosa que tenho vivido com Deus.
Lembre-se de uma coisa: você não é nem será o
único a ser desacreditado; isso faz parte do processo;
as pessoas em sua maioria agem como Tomé: têm
que ver os resultados. Mas isso não pode fazer com
que você desista ou vacile com relação ao propósito
que Deus colocou em sua vida. Olhe para isso como
um incentivo a fazer cada vez melhor para Deus.
No momento em que Deus chamou você, Ele já
tinha um destino para você, um sonho.
Vemos na Palavra de Deus histórias como a de
Davi, Moisés, José do Egito, pessoas tão improváveis...
vemos na história da Igreja: Lutero, John Wesley,
Calvino, pessoas comuns que marcaram e mudaram
a história. Mas o que eles tinham de diferente? 28 Coragem para responder ao chamado de Deus. 28
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Eles não ficaram olhando para si mesmos e
pensando: "Ah, eu não posso, eu não tenho recursos".
Eles se lançaram ao destino que Deus preparou para
eles. Deus não está procurando pessoas prontas; Ele
quer formar seu coração.
Vamos falar aqui de três coisas importantes para
que você entenda esse chamado:
1. Não ache que Deus vai escolher apenas bai-
larinos para estarem no ministério de dança, pois não
vai; Ele procura adoradores na verdade isso mesmo
Ele mesmo quer preparar você. Até mesmo um bai-
larino profissional, com todo seu conhecimento, tem
que ser moldado por Deus; Ele quer mais que passos;
Ele quer o seu coração. Sua dança não é apenas para
emocionar as pessoas, mas para trazer a glória de Deus;
você dança adorando a um Deus que é revelado a você;
essa revelação deve fluir em seus movimentos. Uma
das formas que Deus usa para nos formar é a prova-
ção, ou seja, lutas, dificuldades, e no meio das lutas
somos fortificados: "Pelo que sinto prazer nas fraquezas,
nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas an-
gústias, por amor de Cristo. Porque quando sou fraco, então
é que sou forte" (2 Co 12.10). Onde você pensa que é
fraco, aí mesmo, nesse lugar tão sensível, Deus fará de
você uma fortaleza.
Outra coisa relacionada às provações é a perse-
verança: "E não somente isso, mas também nos gloriamos
nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz
perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência,
esperança. Ora, a esperança não confunde, porque o amor
de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, 29 29
que nos foi outorgado" (Rm 5.3-5).
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
2. Se Deus está mexendo em alguma área de
sua vida, não desista; com certeza, Ele fará de novo
e de uma forma melhor. Mas, veja só: a minha casa
está caindo, está em pedaços... Não se preocupe; Ele
está reformando para lhe dar algo muito, mas muito
melhor.
3. Preciso ser obediente: obedecer envolve
algumas condições básicas que, se forem seguidas, nos
levarão ao êxito: ouvir a Palavra de Deus e responder;
ouvir com o coração submisso; confiar na Palavra de
Deus e agir de acordo com ela.
Mesmo quando não vemos nada, precisamos ter
coragem para caminhar em direção às promessas de
Deus. Quando eu estava falida, sem dinheiro, sem
nada, e Deus me falou que eu ia ministrar em muitos
lugares, fiquei pensando vários dias; eu não tinha di-
nheiro, capacitação, esperança... não tinha nada, mas
resolvi me dispôr e hoje vejo os frutos daquela difícil,
mas abençoada posição que assumi.
A obediência nos treina também para parti-
cipar do reino inabalável de Jesus; pessoas treinadas
pelo Espírito Santo encherão a Terra do poder de Deus.
Sei que em muitas ocasiões é complicado obedecer a
pessoas que julgamos não serem bons líderes, mas
nunca esqueça que toda autoridade é estabelecida por
Deus (Rm 9.17). E fazendo a nossa parte, Deus, com
certeza, vai nos honrar.
4. Recursos: Outro aspecto complicado desse
chamado é a geração de recursos: quando começamos 30 a nossa equipe, não tínhamos nada, roupas, acessóri- 30
os, sapatilhas; então meu primeiro sentimento foi: "Por
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
que a igreja não nos fornece o material, visto que
estamos servindo a Deus?". Mal sabia eu que mais uma
vez Deus estaria me ensinando. A igreja não investia
em nosso ministério; então meu marido nos disse algo:
"Vamos trabalhar!". Começamos então com cantinas,
almoços e na nossa pouca arrecadação podíamos ver
a provisão de Deus.
Lembro-me de uma vez quando íamos fazer um
cachorro-quente: fomos ao supermercado comprar os
ingredientes. Oziel, meu marido, estava conosco. Fui
comprar a salsicha e estava pegando a mais barata,
pois assim o lucro seria maior, pensava. Quando Oziel
viu aquilo, chamou a minha atenção e disse: "Não com-
pre dessa; compre da melhor, pois temos que oferecer
o que gostaríamos de receber". Respondi: "Mas aí fica
mais caro", ao que ele respondeu: "Você não gosta de
receber o melhor para o ministério? então aprenda a
dar". Obedeci a meu esposo e realmente o nosso
cachorro-quente vendia muito, tinha até reserva antes
do culto; mas sinceramente nunca pensei que essa se-
mente fosse gerar tantos frutos. Dez anos se passaram,
o ministério cresceu, lançamos a marca PD (Profetas
da Dança) e eu sempre sonhei em ter sapatilhas com a
nossa marca.
Lembro-me que há uns quatro anos, procurei
um pequeno fabricante, que nos desprezou e disse que
não queria me atender. O tempo passou e, certo dia,
em nosso escritório, recebemos um contato da Capézio
propondo-nos uma parceria. Ficamos maravilhados
com as mãos de Deus. Atualmente, a Capézio faz as
nossas sapatilhas com uma qualidade reconhecida 31 mundialmente e depois que fechamos contrato com 31
ela, o Oziel olhou para mim e disse: "Lembra, anos
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
atrás, quando lhe falei para dar o melhor? Eis aí o
resultado!". Mesmo nas coisas simples, Deus age
poderosamente. Lembre-se disto: você não poderá
tocar nos recursos de Deus, até que decida fazer o
impossível.
5. Faça algumas perguntas a si mesmo: Por que
eu danço? Quero que Deus realmente trabalhe em meu
caráter? Será que entendo que este dom que Deus me
deu é para a glória Dele?
6. Quando entendemos que Deus realmente nos
chamou, então percebemos o quanto na verdade
somos honrados, pois fomos escolhidos dentre
muitos: "Porque o Senhor teu Deus o escolheu de entre
todas as tuas tribos para ministrar em o nome do Senhor, ele
e seus filhos, todos os dias" (Dt 18.5).
32 32
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
5
Entendendo o
que é o deserto
"Recordar-te-ás de todo o caminho pelo qual o Senhor,
teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te
humilhar, para te provar, para saber o que estava no teu
coração, se guardarias ou não os seus mandamentos"
(Dt.8.2).
Essa palavra realmente me causa arrepios.
Sempre que falamos de deserto, pensamos em um
lugar em que não temos recursos, nos sentimos sós
e perguntamos também: "Por que estamos aqui? Será
que Deus não poderia me tratar de outra forma?".
Quando, em 1998, enfrentei um grande de-
serto, pensava exatamente assim. Nova convertida,
apenas três anos de vida com o Senhor, não ima-
ginava que Deus usava coisas tão difíceis para treinar
seus filhos. Pensava que servir a Jesus era apenas estar
com Ele em paz, sem tribulações. Como desde de
criança sofri muito, achava que minha quota de sofri-
mento já estava esgotada e que de agora em diante
tudo seria muito bom e sem problemas.
Vamos, então, entender o que é deserto:
Deserto não é lugar de punição e reprovação.
Lemos em Lc 3.22: "E o Espírito Santo desceu sobre ele 33 em forma corpórea como pomba; e ouviu-se uma voz voz do 33
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
céu: Tu és meu filho amado, em ti me comprazo". O mesmo
Espírito Santo que desceu sobre Jesus em forma de
pomba, logo a seguir em Lucas 4.1 o conduziu para o
deserto: "Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão,
e foi guiado pelo mesmo Espírito, no deserto".
Deserto não significa rejeição, mas preparo
divino. "Eis que se me adianto, ali não está; se torno para
trás, não o percebo. Se opera à esquerda, não o vejo; escon-
de-se à direita, e não o diviso. Mas ele sabe o meu caminho;
se ele me provasse, sairia eu como o ouro" (Jó 23.8-10). Um
sintoma que geralmente se manifesta no deserto é que
parece que não achamos Deus; é assim que nos senti-
mos. Mas o que precisamos entender é que quando
nos convertemos, Deus age assim como uma mãe, que
socorre o bebê ao menor gemido; mas enfim chega
o momento em que precisamos crescer e amadurecer
e então Deus precisa deixar que cada um passe por
determinadas situações, assim como a mãe precisa
soltar a mão do bebê para que aprenda a andar sozi-
nho. Para aprender, o bebê vai levar alguns tombos,
mas sem esses tombos ele nunca aprenderia. Mas
lembre-se: Ele nunca nos abandona. "De maneira algu-
ma te deixarei, nunca jamais te abandonarei" (Hb 13.5b).
Deus não o jogou no deserto e disse: "Vá e
se vire"; pelo contrário, sem Ele jamais seremos
aprovados e no deserto vemos a mão de Deus agir
poderosamente.
Para aqueles que obedecem a Deus, o deserto
não é lugar de derrota: Jesus, mesmo fraco e faminto,
derrotou Satanás com a Palavra de Deus; e, mesmo no
deserto, o povo de Israel era perseguido e Deus fala- 34 34
va: "Lutem"! E eles venciam. Venceram os amorreus
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
(Nm 21.21-25), os midianitas (Nm 31.1-11) e o povo de
Basã (Nm 21.33-35).
Outros aspectos importantes do deserto:
Deus nos expõe eliminando nossas impurezas
"Tira da prata a escória, e sairá vaso para o ourives"
(Pv 25.4). Quantas vezes achamos que Deus não nos
ama quando somos expostos de alguma forma, mas
pare e pense quantas vezes Deus falou com você sobre
essa área de sua vida e você não dava a devida aten-
ção; dói muito se expor. Em algumas áreas da minha
vida, como a financeira por exemplo, tive que ser
mesmo exposta para entender meu egoísmo; também
precisou vir à luz, pois eu não via, achava que estava
certa, até que Deus usou uma pessoa para me con-
frontar e hoje agradeço a Deus por esses momentos
doloridos, mas que geraram frutos de arrependimento.
Testar nossas reações espontâneas
"Sabendo que a provação de vossa fé, uma vez con-
firmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter
ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada
deficientes" (Tg 1.3-4). Domínio próprio. Precisamos
aprender a amortecer choques; não podemos ser
escravos das circunstâncias. Lembro-me da época em
que perdemos nossa empresa, ficamos muito mal, sem
dinheiro, sem reputação e muito endividados; não
havia dinheiro para nada, mal dava para comer. Uma
amada irmã de nossa igreja sempre me dava tickets-
alimentação e certo dia, eu estava no supermercado
comprando algumas coisas. De repente, a dona de uma 35 loja na qual eu tinha uma dívida falou alto perante 35
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
todos os que estavam na fila do caixa: "E aí, dona
Gisela, quando vai me pagar? Deixe de ser enrolada"!
Ela falava alto e eu morava numa cidade pequena,
todos me conheciam e só Deus sabe a humilhação que
senti. Todos na cidade sabiam que eu estava falida. Eu
andava pelas ruas e me sentia doente, pois as pessoas
me olhavam de uma forma estranha. No momento em
que ela gritou, a minha vontade carnal foi de revidar,
mas sabia que precisava honrar o nome de Jesus;
então abaixei a cabeça, sofri o dano e pedi que Deus
entrasse em minha causa. Foi duro demais, porém saí
daquele lugar aprovada! Entenda algo: não temos que
reagir e sim agir no Espírito; não podemos pisar no
terreno do inimigo, aceitando suas provocações.
Testar nossa obediência em longo prazo
Perseverança produz caráter e caráter, perse-
verança. Deus não é intolerante nem perfeccionista.
O mais importante da vitória é mantê-la. Como é
importante manter a visão que Deus compartilhou
conosco. Algumas pessoas passam por nossas equipes
digo passam, porque realmente não permanecem
pois não entendem a vontade de Deus para uma equi-
pe. Não é fácil para os líderes manterem a visão, pois
somos questionados, provados, desafiados, às vezes
por pessoas da própria equipe. Eu paguei um preço
caro por isso; fui julgada, chamada de "general", pois
Deus havia me falado sobre disciplina, sobre servir e
não conseguia entender pessoas que só dançavam e
não sabiam servir em outras áreas, ficavam conver-
sando na hora do culto, só sabiam ministrar se esti- 36 vessem na frente. Quando comecei confrontar isso, fui 36
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
apedrejada, quando sonhei com as nações, fui motivo
de chacota; mas hoje posso dizer que valeu a pena
obedecer e vale a pena correr com a visão que Deus
tem nos dado, mesmo que em determinados mo-
mentos possamos nos sentir abandonados em meio
à batalha. Quantas vezes me senti assim; via uma
muralha se erguendo e via poucos para me ajudar a
derrubá-la, mas percebi que poucas pessoas, ou seja,
um pequeno exército comprometido com Deus pode
desbaratar uma multidão enfurecida, pois o Senhor
toma a nossa causa e vai à nossa frente!
Devemos entender que estar no deserto é
apenas um tempo para sermos treinados por Deus.
Quando vemos os atletas correndo, nadando,
ganhando medalhas, muitas vezes não temos idéia
do que aquela pessoa passou para chegar até ali; o
processo é doloroso muitas vezes, leva muito tempo,
mas quando olhamos aquele belo resultado, vemos que
tudo valeu a pena. Jesus sofreu muito por nós, mas
quando Ele nos vê com o coração quebrantado na Sua
presença, com certeza vê que valeu a pena cada gota
daquele sangue. Para termos um bom resultado,
precisamos aprender a viver cada fase do processo,
por mais doloroso que possa parecer.
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Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
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Quando Deus me pediu as sapatilhas
6
Deserto em 1998
Nunca tive uma vida fácil. Aliás, essa palavra
nunca me foi familiar. Antes mesmo de nascer, já
sofria por erros que não eram meus, mas graças a Deus,
em 1995, às vésperas do meu casamento, conheci a
Jesus e minha vida mudou completamente.
Eu e Oziel sempre fomos pobres: ele trabalhava
em uma fábrica e eu nessa época trabalhava em uma
empresa de consórcio. Depois de um tempo, o Oziel
foi para a mesma empresa que eu e logo depois foi
aprovado na seleção de uma multinacional. O detalhe
é que nessa época o Oziel ainda era uma pessoa bem
calada e o gerente dessa multinacional o contratou, mas
não acreditava nele e dizia que ele havia passado nos
testes, mas provavelmente não ficaria no emprego.
Mas, ao contrário de suas previsões, Oziel se destacou
na equipe, principalmente porque trabalhava muito,
andava a pé pois não tínhamos carro viajava de
carona para outras cidades. Muitas vezes, no começo,
passava o dia todo sem comer, mas Deus foi nos
honrando e aos poucos ele foi se destacando.
Eu também fui trabalhar nessa empresa, mas
logo saí, pois queria me dedicar a dar aulas em minha
área, educação física. Com o passar do tempo, Oziel 39 começou a ganhar bem na empresa, mas infelizmente 39
ambos éramos muito imaturos e gastávamos mal
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
o nosso dinheiro, com luxos, pagando almoços e
jantares para os amigos, trocando de carro a toda hora,
enfim, não pensamos em investir em algo mais sólido.
Nessa época, tínhamos uma casa muito simples,
de apenas dois cômodos, um quarto com suíte e uma
cozinha. Com o nascimento do meu filho mais velho,
em março desse ano, a casa ficou bem apertada e
então decidimos aumentá-la. Um engenheiro fez
a planta com a qual estávamos sonhando, mas algo
aconteceu:
Certa pessoa, que, aliás, é minha parenta, me
procurou, dizendo que gostaria de vender a escolinha
dela para mim; disse que a escola estava bem, mas que
gostaria de seguir outros rumos. Conversei com Oziel,
pois sempre pensamos em ter um negócio próprio;
oramos e entendemos que era de Deus, mas erramos,
pois não procuramos um advogado ou um contador;
simplesmente acreditamos na palavra dela.
No inicio, foi tudo bem: a creche estava com
setenta alunos, os pais estavam gostando do nosso
trabalho; a creche também nos ajudava quando
tínhamos alguma atividade da igreja. Mas com o
tempo percebi que havia alguns problemas, tais como
funcionárias registradas de forma errada, dívidas
com impostos, e de repente me vi em uma arapuca.
Quando resolvi pôr as coisas no lugar, percebi que a
arrecadação não era suficiente. Tentei então conversar
com as funcionárias, mas para minha surpresa elas
mesmas haviam denunciado a creche no ministério
do trabalho. Então, literalmente, começamos a viver
uma guerra. 40 40
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Havia na creche duas funcionárias que não se
conformavam com a mudança de dono, pois na
gestão anterior elas eram como gerentes, ou seja,
faziam o que queriam, e quando assumi muita coisa
mudou.
Em determinado mês, precisei atrasar o salário
delas. Aí, então, instalou-se o caos. Tentei negociar,
mas não houve jeito, e sei que você vai se surpreender
com o que vai ler agora, mas aconteceu comigo: três
funcionárias se reuniram e começaram a tramar um
golpe, o qual eu mesma nunca esperei. Certo dia,
enquanto eu não estava na escola, elas entraram em
meu escritório e pegaram os contatos dos pais. Então
começaram a pôr seu plano em prática: agiam normal-
mente comigo, mas ocultamente, já estavam prepa-
rando um lugar e avisando alguns pais. Cerca de
quinze dias depois, as três pediram demissão no
mesmo dia. Achei estranho, tentei negociar com elas,
mas não conseguia entender. O pior é que uma delas
se fazia o tempo todo de minha amiga, se mostrava
companheira, mas foi umas das que me traíram.
No dia da demissão, fui falar com ela, mas ela disse
que foi mera coincidência, pois havia arranjado
outro emprego.
No outro dia pela manhã, nada menos que
cinqüenta pais tiraram as crianças da escola, cada um
com uma desculpa; mas analisando hoje percebo que
tudo foi bem combinado. Fiquei em estado de choque,
pois sentia que a escola estava indo por água abaixo.
Quando então consegui falar com uma mãe de
aluno, ela me revelou tudo: elas haviam ligado para 41 41
os pais, dizendo que a escola ia fechar, que havia
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
meses estavam sem receber os salários e assim, com
a ajuda de um dos pais, que era empresário, conse-
guiram em quinze dias montar outra creche, para que
os pais não ficassem desamparados.
Amado, mais uma vez fiquei em choque; Oziel,
justamente nessa época, estava passando por um
problema sério, pois a empresa em que trabalhava
entrou em uma crise terrível em nosso estado e fechou
as filiais, sem honrar seus compromissos financeiros
com os funcionários. Ele recebeu algo como dez por
cento do que deveria. Ou seja, juntou tudo ao mesmo
tempo, sem falar que o dinheiro que íamos usar para
construir a casa tinha sido entregue nas mãos da
pessoa de quem compramos a creche.
No dia seguinte, havia apenas vinte alunos. Eu
só chorava. E ainda outra professora pediu demissão
e foi trabalhar na outra creche. Isso me doeu muito,
pois essa pessoa é crente e literalmente me aban-
donou quando eu mais precisava. Fiquei irada na
época, pois ela ainda levou com ela mais dez alunos.
Eu olhava a situação e pensava: "Onde eu errei,
Oziel?". Pois eu é que desejara essa creche e agora olha-
va meu marido abatido e não conseguia me perdoar
por aquilo. E com apenas dez alunos, a situação ficou
insustentável e aí sim tive que encerrar as atividades.
No dia em que entregamos o local, sentia-me
vencida, envergonhada, humilhada. E ainda entreguei
com dívidas, muitas dívidas. As duas funcionárias que
haviam ficado entraram na justiça contra mim, uma
pedindo trinta mil reais, a outra, quinze mil. Tivemos 42 que enfrentar esses julgamentos e como não tinha 42
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
dinheiro para pagar advogados, apelei para advo-
gados gratuitos que existem nas faculdades e me dei
mal, muito mal mesmo.
A primeira funcionária, que me pediu os trinta
mil reais, estava endemoninhada; ela olhava para mim
e dizia: "Quero tudo o que é seu, se vire". Até mesmo
o advogado dela se compadeceu da minha situação,
mas ela não voltava atrás. Ela foi à empresa na qual
eu, graças a Deus, estava trabalhando logo depois que
perdemos tudo e fez um escândalo: gritou comigo, me
pegou pelo braço, me amaldiçoou, disse que eu jamais
seria dona de nada. Nesse dia, sim, me senti a pior
criatura da terra. Fui correndo para o estúdio do meu
pastor, sentei lá e fiquei horas chorando e tremendo.
Todos do prédio assistiam mudos aquela cena de
humilhação; ninguém me ajudou, ninguém chamou
a polícia; ficaram ali como se estivessem vendo
uma cena de filme.
Dei queixa na polícia, mas não deu em nada.
Logo depois do episódio fui "convidada" a sair da
empresa. Enquanto isso, Oziel, desempregado, procu-
rava emprego, nosso filho tinha alergia a leite comum
e só podia tomar um leite caríssimo, de soja. Como
nós mal tínhamos o que comer, tive que pedir ajuda
em minha igreja.
Talvez você esteja pensando: "Pedir? Mas as
pessoas não viam a sua situação?". O que posso dizer
é que na verdade as pessoas da igreja estavam interes-
sadas em descobrir o que eu tinha feito de errado para
passar por tudo aquilo. Muitas pessoas chegavam
até mim e diziam: "Confesse seu pecado". Mas eu não 43 43
havia pecado!
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Nesse momento Deus levantou uma irmã
abençoada para nos ajudar, a Mazinha, esposa do
pastor, que sempre nos dava uma oferta, tickets ali-
mentação, nos emprestava cheques, a única pessoa que
nos estendeu a mão, exceto o próprio pastor.
Enquanto isso, Oziel estava certo dia em um
supermercado. Pegou uma embalagem de lâmpada,
pois era um ramo em que ainda não havia procurado
emprego, anotou o telefone 0800 e entrou em contato
para falar com o setor de vendas. Conseguiu então o
contato com o gerente e disse: "Preciso trabalhar, será
que você teria uma vaga?". Ele respondeu: "Ligue-me
daqui a um mês". Oziel ligou, conversou com ele e
nesse dia Deus usou aquele homem, que disse assim:
"Eu não conheço você, mas sinto paz em nossa
conversa; gostei de você. Apesar da pouca idade, me
parece maduro. Então preste atenção: daqui a um
mês está para surgir uma vaga em Minas Gerais,
para o interior do estado; então entre em contato
comigo de novo".
Essa resposta gerou uma esperança no coração
do Oziel, mas não no meu; eu estava ferida demais.
Gente, era cobrador na minha porta dia e noite, no
meu emprego. Certo dia, ao voltar para casa, minha
vizinha disse que um cobrador tinha me procurado
com um facão na mão.
Depois que saí dessa empresa, fui trabalhar em
uma butique muito refinada; trabalhava na emba-
lagem e ficava ali, vendo aquelas pessoas gastando rios
de dinheiro com roupas e pensava por quanto tempo
eu havia sido assim também. 44 44
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Minha casa estava aos pedaços; como não
havia dinheiro para fazer o terraço, quando chovia
pingava pela casa toda, menos no berço do meu filho.
Meus móveis, os poucos que tinha, estavam se
acabando; eu tinha receio de voltar para casa e
encarar aquela triste realidade.
Ficamos dois meses sem água e energia. Um
vizinho enchia minha caixa dágua e fez uma extensão
de sua energia para minha casa, para que ao menos eu
ligasse a geladeira. Com os processos na justiça,
perdi meu freezer, meu microondas; foi realmente
um grande deserto.
Certo dia, cheguei em casa mal e lá estava meu
marido em cima da laje, orando e dizendo: "Deus, eu
Te adoro por tudo isto e sei que o Senhor vai nos tirar
desta situação!". Diante daquela cena, comecei a
chorar, pois me sentia abandonada por Deus, rejei-
tada na igreja, no meu trabalho as pessoas me
olhavam como a falida, e eu não sabia para onde ir.
Alguns dias se passaram. Nós tínhamos um
carro, comprado através de um financiamento, mas não
estávamos conseguindo pagar. Então, um oficial de
justiça foi à nossa casa e o levou. Oziel me ligou e deu
a notícia. Fiquei mal demais. Quase não tínhamos
dinheiro para a gasolina, o tanque vivia na reserva,
mas eu amava aquele carro; era a única coisa que nos
havia restado... fiquei muito mal mesmo, mas enfim
tinha que trabalhar e sorrindo.
Nesse dia, no final do expediente, fui direto para
a igreja. Lembro-me que me sentei no primeiro banco, 45 perguntando o que estava fazendo ali. Sentia-me tão 45
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
mal, mas sabia que precisava estar ali. De repente
chegou à igreja um pastor, de outra cidade. Ele olhou
para mim e disse: "Moça, hoje Deus lhe tomou algo
que você amava, não é?". Respondi: "Sim, mas como
você sabe?". Ele me olhou nos olhos e disse: "Deus me
falou e me deu uma direção para você; entre ali
naquela sala, pegue um papel e uma caneta e escreva
tudo o que você quer de Deus". Olhei para ele e disse:
"Eu vou escrever, mas espero que você não leia e
venha me dar um `revelamento'!".
Então escrevi e dei a ele, que guardou o papel
em sua Bíblia e depois foi pregar. Ao final de sua
palavra, me chamou e disse: "Gisela, Deus me mostra
você como uma desbravadora nas nações, você vai a
muitas terras, vai falar a muitas pessoas. Prepare-se!".
Eu chorei muito; na verdade, confesso que não
queria um chamado; só queria que Deus pagasse
minhas dívidas e devolvesse o que eu tinha antes, mas
Deus tinha algo muito maior na minha vida.
Depois dele, foi um pastor americano à minha
igreja e mais uma vez liberou uma palavra sobre a
minha vida, dizendo que meu pastor deveria tirar os
bancos da igreja, pois eu e minha equipe íamos
dançar sobre a injustiça. Esse dia foi muito forte em
minha vida. Ele ainda disse que meu marido seria um
homem bom e daí por diante vi as coisas começarem a
mudar em nossas vidas.
Depois dessas palavras, Oziel foi chamado por
aquela empresa de lâmpadas e começou a trabalhar
em Minas Gerais. Como ainda morávamos no Espí- 46 rito Santo, ele às vezes ficava quinze dias fora. Eu me 46
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
sentia tão sozinha, mas com esse emprego já conse-
guimos pagar algumas dívidas e ficamos assim, anos
e anos, pagando dívidas.
Durante esse período viemos para Belo Hori-
zonte, no ano de 2002, e fizemos uma escola de mis-
sões, quando Deus me falou através de um preletor,
que Ele havia me chamado como uma Profeta da Dan-
ça, não apenas como bailarina, e mais à frente, ainda
nessa escola, Deus me deu a visão da bailarina com a
bandeira no cabelo, e ela estava de costas.
Em dezembro desse ano de 2002, recebemos
uma palavra que Deus nos usaria para levar o fogo
Dele pelo Brasil. Esse irmão era um presbítero em
nossa igreja e nesse dia ele me chamou no final do culto
e me disse que havia visto um vestido verde, com ra-
jadas de fogo, com as bandeiras de todos os estados
do Brasil, e que Deus havia mostrado a ele o significado.
Depois disso, nesse mesmo culto, outro irmão
disse que tivera uma visão conosco: viu um caixão
imenso dentro da igreja e nele estava sendo velado um
gigante; de repente, o gigante sentava no caixão e di-
zia: "Vocês não vão conseguir me deter". Nesse mo-
mento, ele disse que as portas da igreja se abriam e ele
via a mim e à minha equipe entrando com um vestido
verde, com espadas nas mãos e quando dançávamos,
um buraco imenso se abriu e esse gigante foi sugado.
Antes dele me relatar essa visão, pedi à Sueli que de-
senhasse para mim o vestido que o presbítero havia
visto, inclusive o confeccionamos; então mostrei a esse
outro irmão e ele ficou chocado, pois era exatamente o
que tinha visto! 47 47
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Depois disso, realmente começamos a ministrar
em todo o Brasil, lançamos nosso site e em uma
semana começamos a receber convites de todo Brasil.
Depois recebemos um convite para ir ao Canadá e a
partir daí não paramos mais, ministrando pelo Brasil
e por várias nações, como Grécia, Itália, EUA, etc.
Esse relato mostra claramente o processo que
Deus me fez passar. Por isso, amado, tenho tanto
temor; sei de onde Deus me tirou e onde Ele mesmo
tem me colocado; sei cada passo, cada lágrima que
derramei, para estar onde estou hoje.
Sei mais do que nunca que Deus escolhe
aqueles que não são; vivo isso todos os meus dias,
pois tudo o que sou devo a Ele. Quando estou em
alguma viagem, quando gravei os dvd's , sempre
me lembrava de tudo o que passei e posso dizer: valeu
a pena!
A profundidade do processo que Deus usa
para nos preparar, vai muito além do que meras
convicções; nunca pensei que teria forças para passar
por tudo isso, mas hoje sei que tudo posso naquele
que me fortalece!
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Quando Deus me pediu as sapatilhas
Vales que jorram vida
"Tu fazes rebentar fontes nos vales, cujas águas
correm entre os montes" (Sl 104.10).
Da mesma forma que passamos por desertos em
nossa caminhada, também passamos pelos vales.
O vale, a princípio, é um nome que assusta; pen-
samos em um lugar fundo, pensamos no vale da som-
bra da morte, no vale de ossos secos, mas independente-
mente da idéia que cada um de nós tenha, o vale é um
lugar em que vivemos batalhas e vitórias e, conseqüen-
temente, podemos crescer e aprender mais de Deus.
É interessante pensar que onde não vemos abso-
lutamente nada, Deus pode fazer brotar vida: "Eis que
faço cousa nova, que está saindo à luz; porventura não o
percebeis? Eis que porei um caminho no deserto, e rios no ermo"
(Is 43.19) .
A Bíblia nos relata neste texto que Deus fará um
caminho no deserto, rios no ermo, ou seja, em um lugar
desabitado. Esse deserto e esse lugar ermo éramos nós,
você e eu. Antes que Jesus habitasse em nós, éramos chei-
os de nossas próprias idéias e convicções, mas hoje Deus
tem nos enchido e onde você e eu estávamos secos o 49 Senhor fez brotar um rio de vida. 49
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Quando Deus me pediu as sapatilhas
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Quando Deus me pediu as sapatilhas
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Vale da Bênção
Vamos basear estas meditações em 2 Crônicas
20:1-30. Este é o Vale da Bênção e veremos aqui pontos
interessantes sobre uma grande vitória; veremos
estratégias maravilhosas de um homem que soube
entender a vontade de Deus.
"Então vieram alguns que avisaram a Josafá,
dizendo: Grande multidão vem contra ti dalém do mar e da
Síria; eis que já estão em Hazazom-Tamar, que é En-Gedi"
(2 Cr 20.2).
Aquilo que vem contra nós, com um aviso e uma
certeza: Não temos chance!
Quantos de nós já fomos desafiados assim,
quantas vezes ouvimos isso das pessoas à nossa volta:
"Cuidado! Isso vai dar errado. Esse ministério não é
para você. Olhe a sua idade!". Eu mesma já ouvi isso
muitas vezes. Quando começamos a orar pelas nações,
fomos chamados de sonhadores. Certa vez, um irmão
orou assim: "Deus, tira essa idéia fictícia de nações do
coração desse ministério".
Bem no início do meu chamado, uma irmã me
perguntou assim: "Você não se acha ridícula dançan-
do? Olhe a sua idade, você já tem filho. Dança é para 51 adolescente!". 51
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Posso dizer que meu ministério foi o vale da
bênção. Quantos desafios passei, e passo ainda,
quantas vezes o inimigo se levantou querendo nos
assustar, nos desanimar. Quando ficamos, com cento
e cinqüenta alunos de nossa Escola Profetas da Dança,
no meio de um tiroteio, em 2004, no Rio de Janeiro,
o inimigo soprava em meu ouvido para que desis-
tisse: "Olhe ao seu redor, Gisela; olhe que tragédia,
que vergonha".
Mal sabia ele que Deus estava ali, consolando
meu coração. No dia seguinte, os alunos diziam: "Esta
noite mudou minha vida, me encorajou, me ensinou
que o ministério não é brincadeira".
Quando minha mãe foi assassinada, me senti
mal, fiquei triste, desolada; pensava: "Meu Deus como
lidar com isto?".
Quando as pessoas perguntavam por minha
mãe e eu tinha que falar, elas se espantavam; mas,
amado, Deus nos fortalece. Deus me consolou de um
modo sobrenatural, pois ela havia sido batizada
apenas uma semana antes. Mas não é fácil, pois o
inimigo nesses momentos se levanta; é como se ele
olhasse para mim e dissesse: "Olha aí: você perdeu"!
Mas tudo coopera para o nosso bem, tudo mesmo;
mesmo na dor, nas angústias, nas lutas... Deus sabe o
quanto a minha alma se abateu, mas tenho que ser
guiada pelo Espírito Santo, não pelas emoções, e mais
uma vez experimentei Deus consolando e curando o
meu coração, o meu esposo, o ministério todo, os meus
amigos. Deus nos fortalece e nos permite passar por
essas situações. 52 52
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Vamos ver agora alguns passos que podem nos
ajudar a passar pelo vale:
Não procure culpado; clame ao Senhor
"Judá se congregou para pedir socorro ao Senhor;
também de todas as cidades de Judá veio gente para buscar
ao Senhor" (2 Cr 20.4).
Quantas vezes alguma coisa dá errado ou
somos desafiados para fazer algo grande e parece que
nada flui como planejamos e a primeira coisa que
fazemos é procurar quem é o culpado? Essa não é uma
boa atitude; devemos, assim como Josafá, apresentar
a situação diante de Deus, orar, pedir a Deus que
venha em nosso socorro.
Imagine uma equipe de socorro, chegando para
atuar em um acidente de carro e ao invés de ajudarem
as vítimas, pararem e perguntarem: "Antes de qual-
quer coisa, queremos saber de quem foi a culpa"! E lá
estão as vítimas, presas às ferragens, morrendo,
enquanto eles discutem o que houve, de quem é a
culpa, como vão disciplinar os culpados. Nesse meio
tempo as pessoas feridas já terão morrido.
Quantas vezes agimos assim, ao invés de bus-
carmos a Deus; ficamos discutindo de quem é a culpa
e enquanto isso o inimigo age, pessoas são feridas,
morrem. Busque ao Senhor!
Alinhe-se com o caráter de Deus e clame por justiça
"Se algum mal nos sobrevier, espada por castigo,
peste ou fome, nós nos apresentaremos diante desta casa e
diante de ti, pois o teu nome está nesta casa; e clamaremos a 53 ti na nossa angústia, e tu nos ouvirás e livrarás. Agora, 53
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
pois, eis que os filhos de Amom e de Moabe e os do monte
Seir, cujas terras não permitiste a Israel invadir, quando
vinham da terra do Egito, mas deles se desviaram e não os
destruíram, eis que nos dão o pago, vindo para lançar-nos
fora da tua possessão, que nos deste em herança. Ah! Nosso
Deus, acaso, não executarás tu o teu julgamento contra
eles? Porque em nós não há força para resistirmos a essa
grande multidão que vem contra nós, e não sabemos nós
o que fazer; porém os nossos olhos estão postos em ti"
(2 Cr 20.9-12).
Deus tem propósitos para nós, não "boas
idéias". Clamamos a Ele, pois confiamos em Sua
Palavra sobre nossas vidas. Agimos de acordo com o
caráter de Deus, não de acordo com nossas emoções,
e muitas vezes podemos até sofrer o dano, mas
sabemos que Ele se levantará em nosso favor.
Reconheça a falta de direção e força
"Porque em nós não há força para resistirmos a essa
grande multidão que vem contra nós..." (2 Cr 20.12b).
Quantas vezes nossos ministérios passam por
momentos difíceis, quando parece que nada anda, não
conseguimos prosseguir; isso é complicado, mas
nessa fase o quebrantamento é essencial.
Reconhecer que estamos fracos não é errado.
Como Deus pode agir na vida de alguém que pensa
que é auto-suficiente, que nunca reconhece erros? Não
somos super-heróis, não temos super-poderes, nem
cinto de utilidades. Às vezes, vejo desenhos e filmes
com meus filhos e fico pensando que há ocasiões em
que julgamos poder resolver as coisas com os nossos 54 "poderes": minha oração poderosa, minha estratégia 54
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
infalível. Mas somos apenas vasos nas mãos do oleiro.
A humildade é algo precioso há um capítulo falando
sobre isso. Davi optou pelo simples e venceu Golias,
ou seja, derrubou um gigante, sem uma armadura, pois
a armadura era muito complicada para ele.
Não abra a mão de esperar a direção do céu
"... porém os nossos olhos estão postos em ti"
(2 Cr 20.12b).
"Não temais, nem vos assusteis por causa desta
grande multidão, pois a peleja não é vossa, mas de Deus"
(2 Cr 20 15b).
Pôr os olhos em Deus é reconhecer que Dele
vem a melhor solução, Dele vem o socorro, por pior
que a situação possa parecer; Ele está no controle e as
circunstâncias não podem desviar o nosso foco.
Deus assume a peleja. Eu entendo, como boa
sangüínea que sou, como é difícil esperar. Quando me
converti, queria um Deus rápido, que resolvesse tudo,
mas bem rapidamente.
Como eu tinha dificuldade para entender que o
tempo de Deus é diferente do nosso e queria muitas
vezes fazer as coisas do meu jeito, e algumas vezes fiz
e o resultado não foi dos melhores; mas aprendi.
"Amanhã, descereis contra eles; eis que sobem pela la-
deira de Ziz; encontra-los-eis no fim do vale" (II Cr. 20.16 a).
Vejam este versículo: Deus nos estimula a ir até
o fim do vale. É isto mesmo, desistir é fácil, mas Deus
quer passar junto com você, quer ensiná-lo a perseve- 55 rar e crer em Sua mão poderosa. 55
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Não interfira na ação de Deus, Deus porá emboscada
contra o nosso inimigo
"Não temais nem vos assusteis; amanhã saí-lhes ao
encontro, porque o Senhor é convosco" (2 Cr 20.17b).
Não tente ajudar a Deus, não tente dar um jei-
tinho, não queira manipular; Deus tem Seus meios.
Muitas vezes, o processo pode ser longo, mas vale
a pena. O inimigo pensa que está lutando contra
nós e percebe que na realidade luta com o Senhor
dos exércitos!
Louve a Deus no meio da batalha
"Aconselhou-se com o povo, e ordenou cantores para
o Senhor, que, vestidos de ornamentos sagrados, e mar-
chando à frente do exército, louvassem a Deus, dizendo:
Rendei graças ao Senhor, porque a sua misericórdia dura
para sempre" (2 Cr 20.21).
Como já referi acima, em 2004, no Rio de Ja-
neiro, ficamos no meio de um tiroteio. Um momento
que marcou foi quando meu marido, Pr. Oziel, con-
vocou o povo para adorar ao Senhor, e começaram a
cantar: "Sob a sombra de Tuas asas". Esse gesto foi
maravilhoso! E assim como podemos ler nos versos 21
a 24 que Deus colocou emboscadas no meio do ini-
migo e eles foram vencidos, assim Deus fez conosco
naquele dia: nos deu vitória e hoje estou aqui viva,
testemunhando para você através deste livro.
Teremos, no capítulo a seguir, a história dessa
batalha.
56 56
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Um grande despojo nos aguarda
"Vieram Josafá e o seu povo para saquear os des-
pojos, e acharam entre os cadáveres riquezas em abun-
dância e objetos preciosos; tomaram para si mais do que
podiam levar, e três dias saquearam o despojo, pois era
muito" ( 2 Cr 20.25).
Hoje, olho para tudo o que passou e vejo tudo o
que estamos colhendo. Sofremos muito, mas hoje
estamos colhendo o fruto de muitas lágrimas, de mui-
to trabalho. No DVD II, trabalhamos como nunca.
Lembro-me que gravamos um dia até as quatro
e meia da manhã e no dia seguinte, às oito da manhã,
já estávamos de pé. Antes da gravação, tivemos
muitas lutas com a montagem da estrutura, a ilu-
minação, o piso. Meu Deus, deveríamos ter começado
a gravar na segunda-feira, às oito da manhã, mas
devido aos problemas com a montagem, só come-
çamos na terça-feira, às oito da noite. A gravação
estava marcada para terça-feira às onze e meia da
manhã. Já estávamos lá, maquiados, prontos, espe-
rando, mas surgiu outro imprevisto e eu sentei nesse
momento; confesso que estava cansada e abatida,
abaixei minha cabeça e fiquei pensando: "Deus, o que
está havendo? Pai, nós investimos pesado neste
DVD, financeiramente, espiritualmente, mas não
consigo ver o resultado de nada". Nesse momento,
o Paulo Ferry, o fotógrafo que estava nos servindo,
disse assim: "Gisela, quando Deus me tirou do
mundo, me disse que eu me envolveria em grandes
projetos e eu estou aqui para encorajá-la: levante-se,
guerreira! Você não tem idéia do que vai ser este DVD 57 na vida das pessoas". 57
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Amado, aquilo foi como um tiro, foi como se
eu ouvisse: "Levanta e sacode a poeira"! Meu marido
estava com o pessoal da iluminação; fui até lá e o
abracei. Ele me disse: "Eu acredito em você, neste
projeto, mas acima de tudo Eu creio em Deus"!
Realmente a gravação foi um marco; os teste-
munhos não param de chegar de pessoas que foram
tocadas; o monólogo da noiva tem renovado a fé das
pessoas e realmente a gravação do monólogo foi um
momento único e marcante para todos.
O testemunho do cuidado de Deus vai se espalhar,
trazendo um tempo de paz
"Assim, o reino de Josafá teve paz, porque Deus lhe
dera repouso por todos os lados" (2 Cr 20.30).
Quando compartilhamos aquilo que Deus tem
feito, podemos encorajar outras pessoas. Algumas
situações que passei em minha vida, situações
complicadas, me faziam pensar assim: "Porque estou
passando por isto?".
Depois, percebi que Deus colocava em meu
caminho pessoas que estavam passando por coisas
parecidas, ou até mesmo iguais, e como eu já havia
passado por aquilo, podia consolá-las e dizer: "Olhe
para mim; eu consegui e você vai conseguir também".
Creia, tenha fé; Deus sabe como me é difícil
contar meu testemunho, mas sempre quando acabo,
vejo o mover de Deus e às vezes fico horas ouvindo as
pessoas e ouço testemunhos abençoados; recebo
e-mails dizendo: "Você me encorajou! Eu abri meus 58 olhos, conseguir ver além dos meus problemas". Isso 58
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
me faz entender que valeu a pena.
Esta palavra é para todos nós, que fomos
encontrados por Deus, que passamos pelos vales
ou ainda vamos passar, mas com uma certeza:
chegaremos até o final nos braços do nosso Amado!
59 59
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
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Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
8
Testemunho da Escola
Profetas da Dança, em 2004
Era uma sexta-feira, penúltimo dia da Escola
Profetas da Dança; tínhamos tido programações o dia
todo e naquele dia em especial Deus nos orientou que
no culto da noite passássemos uma fita que fala sobre
o evangelho no México, da luta que os nossos irmãos
passaram naquele país. É interessante dizer que o
título dessa fita é "Deus é mais forte que as armas".
É uma fita bem forte, que nos mostra a realidade dura
vivida por aqueles irmãos que aceitaram a Jesus e
tinham que enfrentar os caciques daquela região. Em
um desses confrontos, nossos irmãos ficaram três dias
dentro da igreja, sem água, sem comida, sem poder
sair, pois lá fora estavam os caciques com armas,
facas, etc., tentando entrar para matá-los e com
apenas uma telha de aço segurando a porta, não
conseguiam entrar. No terceiro dia, Deus falou com
eles: "Agora vocês vão sair glorificando". E os irmãos
saíram desarmados, apenas seguindo a direção de
Deus e os caciques, quando os viram, saíram corren-
do, um matando o outro, e os irmãos saíram vito-
riosos, com as armas do Senhor!
Assistimos a fita e foi um quebrantamento muito
grande. Os alunos tinham preparado uma surpresa
para nós e logo após o filme foi lindo: eles lavaram 61 nossos pés, deram testemunhos, fizeram agradeci- 61
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
mentos. Quando já estávamos no final do lava-pés,
começou um barulho como uma chuva de granizo no
teto da igreja, mas na verdade não era uma chuva; eram
tiros, muitos tiros.
Lá fora estava havendo um confronto entre
a polícia e os traficantes de uma favela. O tiroteio
começou por volta das nove e meia da noite e durou
mais ou menos umas três horas. Quando começaram
os tiros, nos jogamos todos no chão éramos mais de
cento e cinqüenta pessoas: alunos internos e externos,
pastores, crianças, uma irmã de nosso ministério
grávida de quatro meses em questão de segundos,
estávamos no chão, perguntando-nos o que estava
acontecendo.
Depois de uns dez minutos, os tiros pararam.
Pensamos que já estava tudo calmo e fomos comer
os salgadinhos, tortas, enfim, tudo o que eles haviam
preparado, mas infelizmente aqueles tiros eram só
o começo de uma longa noite. Depois de alguns
minutos, enquanto comíamos, os tiros recomeçaram.
Era como um sonho; não consegui entender aquilo.
Durante o tiroteio, fomos para o berçário, pois
ele fica abaixo do nível do chão, e para o gabinete
pastoral. No berçário, Oziel ficou com os alunos
solteiros, enquanto eu e mais um coordenador fomos
para o gabinete pastoral, que era bem grande, com as
mães e as crianças.
As horas se foram passando, alguns alunos
começaram a chorar... nesse momento, Oziel estava
lá em baixo, no berçário, com um grupo maior e eu 62 estava no gabinete com as mulheres e as crianças. 62
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
O meu grupo em particular estava bem agitado:
crianças chorando, eu estava muito nervosa, pois
afinal aqueles alunos, de várias partes do Brasil, eram
nossa responsabilidade e eu olhava para eles com
medo, muito medo, e dizia: "Deus, por quê? Isso nun-
ca aconteceu antes aqui. Por que justamente hoje, com
todas estas pessoas?". E naquele momento, não
conseguia ouvir respostas; só ouvia choro, via rostos
apavorados, mas de repente o grupo do pastor Oziel
começou a adorar! Eles cantavam aquela canção que
diz: "Sob a sombra de suas asas"!
Estávamos orando, mas numa situação como
aquela você vai ficando sem palavras, então come-
çamos a adorar também e era interessante que
íamos adorando e os tiros aumentando; uma loucura!
Amado, adorar em uma circunstância assim é
bem diferente, pois você se vê numa situação de risco,
a sua vida toda passa pela sua mente como um filme,
você engasga, sua voz some; e eu me lembro que no
meio daquela adoração, os tiros iam ficando mais
fortes e começamos a ficar nervosos. Então, uma
senhora que estava na sala, olhou para nós e disse:
"Ué! Onde estão os profetas agora? Onde está a
adoração? Eu tenho certeza que nada vai nos acon-
tecer Deus está no controle".
Naquele momento abaixei minha cabeça e
percebi que não confiamos em Deus. É fácil cantar que
confiamos quando está tudo certinho, estamos em
nossas igrejas e de lá vamos em segurança para nossas
casas, mas cantar com um monte de tiros passando
pertinho de nós, nossa vida em risco, realmente é muito 63 63
difícil. Na verdade, naquele dia Deus estava nos ensi-
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
nando a mergulhar fundo na presença Dele. Ado-
ração não é só rolar no chão, gritar; é um estilo de vida,
é incondicional, e naquele momento, penso que os alu-
nos estavam tendo talvez a maior palestra da escola.
Ir para as nações não é brincadeira, é muito
sério, e inclui situações de risco como essa; talvez
não tão intensas, mas temos que estar preparados e
creio que ali foi um grande treinamento.
Eu pensava: "Deus, onde está a paz que excede
a todo o entendimento? Eu quero senti-la! Mas ela
parece tão distante". E nessa hora pude descobrir que
nesses momentos de luta, de risco, ou nós nos deses-
peramos ou então mergulhamos fundo em Deus. E
quando opta pela segunda hipótese, você descobre um
lugar secreto, um lugar de paz, um lugar nos braços
de Deus, onde Ele o protege e lhe faz enxergar além.
"Caiam mil ao teu lado, e dez mil à tua direita; tu
não serás atingido" (Sl 91.7) foi exatamente a nossa
realidade, mas como a nossa mente humana entende
que seremos atingidos, é uma luta, entre a carne e o
Espírito. Nesse momento você vive a Palavra e tem
que colocá-la em prática, confiando no Deus do
impossível!
Mas isto ainda não foi a pior parte; o pior foi
quando a polícia entrou na igreja. Os policiais
bateram no portão era por volta de meia-noite e
pediram para entrar. Parecia cena de filme, os portões
se abriram e de repente entraram correndo seis poli-
ciais com fuzis nas mãos. O comandante disse que
iam apenas olhar do terraço da igreja, para resgatar 64 três policias feridos, mas na verdade eles começaram 64
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
a atirar. Foi terrível!
Começamos então a orar para que eles fossem
embora, pois o nosso medo era que os traficantes alve-
jassem a igreja. Começamos a orar e adorar com
mais intensidade e um tenente olhava aquilo e ficou
impressionado com aqueles jovens.
Em certo momento, fui lá e pedi aos policiais
que saíssem, pois estavam pondo nossas vidas em
risco, mas o tenente me disse para ficar calma, que nada
ia acontecer. Eu nunca tinha visto policiais tão
armados. Não eram armas comuns, eram AR-15.
Quando me deparei com seis deles dentro da igreja,
acho que desmaiei, perdi os sentidos por alguns
segundos e logo me levantei, pois a nossa irmã grá-
vida começou a chorar. Então falei: "Deus, não deixe
acontecer nada com esta criança". Aqueles momentos
foram horríveis e novamente eu me entregava ao
Senhor, pedia a Ele que me fortificasse e novamente
sentia que Ele estava no controle.
Enfim, os policiais foram embora; antes de sair
o tenente pediu desculpa pelo transtorno e disse que
não era para levarmos aquela imagem do Rio de
Janeiro.
Lá pelas duas horas da manhã, os tiros pa-
raram e então os pastores da igreja disseram que já
podíamos sair e ir para os alojamentos. Mas quando
nos dirigimos ao portão da igreja e o abrimos, co-
meçou tudo de novo: tiros e mais tiros.
Voltamos então todos para dentro da igreja e 65 decidimos passar a noite ali mesmo. Enfim, tivemos 65
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
que dormir na igreja, estava muito frio e lá não havia
roupas de cama, colchões e nos bancos da igreja não
podíamos deitar, pois essa parte do templo fica bem
na frente da rua e nós estávamos na parte de trás da
igreja.
Então Oziel viu um tapete vermelho (desses
de casamento) e o abriu lá atrás onde o pessoal estava
e os alunos se deitaram. Eu estava no gabinete
pastoral com as crianças e algumas mulheres. Aco-
modamos a Duda, que estava grávida, no sofá e com
tecidos do ministério fizemos as camas das crianças.
Elas dormiam como se nada estivesse acontecendo.
Eu não consegui dormir; fiquei olhando aquelas
pessoas e agradecendo a Deus por Sua fidelidade,
pelo cuidado com todos.
Entendi, então, que nesse dia Deus permitiu
tudo aquilo para que pudéssemos entender que
nações não são brincadeira; ir para uma nação é algo
muito sério. Não podemos ir para uma nação por emo-
ção. Quando estivemos em Toronto, também sentimos
a frieza das pessoas, a falta de conhecimento da Pala-
vra de Deus, o amor pelas riquezas. Nós não chega-
mos lá assim: "Canadá, seja livre"! Trabalhamos com
a igreja; até mesmo porque não tivemos oportunidade
de ir às ruas, pois lá não se pode pregar nas ruas sem
autorização. Mas trabalhamos com a igreja, com as
pessoas que estavam lá e, interessante, profetizamos
que a igreja ia para as ruas, profetizar, arrebatar almas
e logo depois que estivemos lá os irmãos participaram
de uma marcha para Jesus nas ruas de Toronto, "Jesus
in the City" e profetizaram, tiveram trios elétricos e 66 essa igreja na qual ministramos participou com lou- 66
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
vor e dança, e eles falaram conosco: "Olhe, irmã, nós
nos sentimos envergonhados, porque vocês do Brasil,
sabiam mais do Canadá do que nós que estamos aqui
e quando passamos pelas ruas vimos realmente um
povo sem identidade, carente, mas que não sabe que
precisa de Jesus". Quando ela me disse isso, e por
outros testemunhos, entendi como Deus se preocupa
com a igreja. Naquele tempo em que estivemos lá, Ele
queria trabalhar com a sua noiva. Naquela noite, na
igreja, sentimos frio, cansaço, medo, angústia; sen-
timos na pele o que aquelas pessoas que moram nas
favelas vivem no seu dia-a-dia. Lembro-me que lá
pelas quatro horas da manhã eu estava conversando
com as alunas do Sul e elas me disseram: "Isto acon-
tece em nosso país e nós muitas vezes só nos preo-
cupamos com nossas vidas".
Às seis da manhã, saímos e saímos vitoriosos,
entendendo que o Senhor é Deus!
Pense bem: pisamos no Rio de Janeiro, a terra
do carnaval, para afrontar a dança de Salomé; pes-
soas de várias nações vêm para ver mulheres nuas
dançando e nós estávamos ali, confrontando esse
espírito com a dança profética, que traz a presença de
Deus. Foi demais! Que intercessão! Que vitória! Nesse
dia, Deus também havia dado para algumas pessoas
visões do livramento que estaríamos vivendo.
Uma irmã, mãe de uma aluna, me ligou às
22:40h daquela noite e perguntou: "Gisela, está acon-
tecendo algo?", ao que respondi: "Está sim; estamos
no meio de um tiroteio". Ela falou: "Amada, não se
preocupe; hoje um homem de Deus entrou no meu 67 67
escritório e disse: `Hoje ainda Deus vai dar um grande
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
livramento à sua filha'". Logo depois, outra irmã,
também mãe de uma aluna, estava na reunião de
intercessão da igreja em São Paulo e Deus, exatamente
na hora que começaram os tiros, mandou que eles
orassem repreendendo o espírito de morte. E ainda
um pastor de Mato Grosso do Sul, esposo de uma
aluna, estava orando também naquele momento e
viu sete anjos enormes em volta da igreja, e é inte-
ressante que ele via alguns desses anjos massageando
as nossas costas, pois Deus falava com eles que está-
vamos cansados. Quando a esposa dele contou o que
havia acontecido, ele ficou feliz demais com o cui-
dado de Deus.
Enfim, foram alguns meninos e meninas e vol-
taram homens e mulheres de Deus. As nossas leves
e momentâneas tribulações produzem em nós um
eterno peso de glória (2 Co 4.17).
68 68
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Em busca da minha identidade
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Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
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Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
9
Um caráter forte
Deus não se importa com o que as pessoas
pensam de nós, mas com quem nós somos.
Caráter: aquilo que você é, quando ninguém o
está vendo.
Reputação: é o que as pessoas pensam de nós.
Uma das coisas mais difíceis de serem tratadas
em nós é o nosso caráter. Quantas pessoas chegam até
nós cheias de talentos, mas totalmente sem caráter. Isto
deve ser encarado como algo primordial dentro de um
ministério.
Sempre gostei de observar as pessoas. Para
aqueles que se candidatavam a estar conosco no
ministério de dança, eu sempre dava tarefas como
arrumar a sala de dança, trabalhar nas cantinas que
fazíamos, etc., e muitos nessas tarefas simples, que
aparentemente nada tinham a ver com a dança,
eram reprovados, pois gostavam de dançar, mas
não de servir.
E umas das características marcantes em minha
equipe é realmente a de servir. Quem nos conhece
de perto, sabe disso. Creio que esta é razão de minha 71 equipe não ser grande, pois poucos estão de fato 71
dispostos a trabalhar na obra; a dança é apenas o
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
resultado de muito trabalho e esforço, aquilo que as
pessoas vêem, mas o ministério vai muito além disso.
Em nossa escola, as mesmas pessoas que dan-
çam, servem de várias maneiras. Lembro-me de que
este ano, em julho, uma aluna me disse que jamais
imaginou que as pessoas que os estavam recebendo,
ajudando carregar as malas, eram os ministros de
dança e louvor.
Ela ainda relatou que quando entrou no audi-
tório e viu a Carla limpando o chão, Deus já começou
a falar com ela sobre servir mesmo quando as pessoas
não vêem o que você esta fazendo ou não dão valor a
esse trabalho.
Vamos, então, falar neste capítulo de carac-
terísticas importantes para um caráter forte.
Coragem
Corajoso é aquele que, mesmo com medo,
prossegue em obediência a Deus: "Porque Deus não
nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, amor e
moderação" (2 Tm 1.7).
Quando pensa em alguém corajoso, talvez você
imagine alguém enfrentando um leão, andando de
montanha russa, desafiando alturas, mas coragem é
algo que vai muito além dessas coisas. Responder a
um chamado de Deus é um ato de extrema coragem,
pois a partir desse momento a nossa vida passará por
uma série de mudanças. Deus não nos dá um contrato
marcando o dia e a hora que as coisas vão acontecer;
Ele nos dá a Sua palavra, nos dá uma promessa, e pre- 72 cisamos crer e começar a andar nessa direção. 72
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
De nada adianta dizer que tenho um chamado
e não andar em direção a ele, ficar parado, esperando
que outros invistam em mim. Querido, o primeiro a
investir deve ser você, financeiramente, espiritual-
mente, doando seu tempo, seu trabalho. Isso já fará
parte da sua resposta ao chamado.
Quantas pessoas que conheço dizem que têm
um chamado de Deus, mas não andam; dizem que seus
líderes não acreditam nelas, que não têm recursos. Mas,
se eu mesmo não crer em mim e no meu chamado,
como outros vão crer? Se eu mesmo não invisto em
mim... Isto mesmo, eu tenho que dar o primeiro passo,
sair do meu conforto, abrir mão, e aí, sim, Deus
vai mover outros para estarem comigo, para investir
em mim. Mas tudo deve ter um começo, e isso diz
respeito a nós.
Alguns aspectos de coragem que vou abordar
farão você perceber a profundidade dessa caracte-
rística e como isso vai gerar frutos em nossas vidas.
Coragem para fazer a escolha certa: Deus não
nos obriga a nada, mas temos que escolher o caminho
que vamos seguir. Quando Jesus falou ao jovem rico:
"Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos
pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem, e
segue-me" (Mt 19.21), aquele jovem não voltou, e a
Bíblia nos fala no verso 22 que ele se retirou triste,
pois seu coração estava ali, nas riquezas. Em muitas
ocasiões, nos põe em situações nas quais agimos exa-
tamente como esse jovem: não abrimos mão; por isso
a coragem é necessária para se fazer a escolha certa. 73 Coragem para vencer o pecado: o diabo su- 73
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
gere, mas a escolha é nossa. Quantas vezes caímos
nas armadilhas do inimigo, porque fazemos as
escolhas erradas, coisas simples, mas que geram
conseqüências desastrosas, por causa da mentira,
da fofoca, da confusão, da lascívia, da prostituição.
Conheço tantas pessoas que depois de passarem por
situações de pecado, dizem: "Eu poderia ter evitado
isso. Se tão-somente eu tivesse ouvido o meu líder".
Pense bem, amado, e escolha a santidade, mesmo que
isso possa ser duro no momento, pois lá na frente terá
bons resultados.
Coragem para mostrar quem realmente sou:
não precisamos de capas nem de máscaras; Deus
conhece cada um de nós. O jejum demonstra o quanto
preciso de Deus.A falsidade não agrada a Deus; as
pessoas podem até fingir ser o que não são, mas um
dia tudo vem a tona e quando isso acontece as pessoas
perdem a confiança em nós.
Coragem para obedecer: Abrão obedeceu a
Deus e foi um homem muito abençoado.Ele deixou
tudo e foi sendo guiado por Deus. Quantas vezes,
líder, Deus fala algo conosco e teimamos ou que-
remos fazer de nosso jeito? Liderados que desobe-
decem, quebram princípios; para obedecer, é
preciso ter coragem, pois em muitas ocasiões a
nossa vontade não é a vontade de Deus.
Coragem para reconhecer nossos erros nos re-
lacionamentos: Uma situação difícil para muitos é
admitir que estão errados. Há pessoas que vivem no
erro anos e anos, mas não o admitem nem tentam
mudar. Mais uma vez, peço a atenção dos líderes: 74 74
não tenham vergonha de assumir seus erros. É muito
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
difícil, para uma pessoa que está em posição de
liderança, reconhecer seus erros, pois pensamos:
"E agora? Será que vão confiar em mim?". Mas saiba
que o ato de reconhecer demonstra maturidade e um
coração disposto a recomeçar.
Coragem para renunciar: Muitos de nós, em
muitas ocasiões, recebemos propostas tentadoras em
nosso trabalho, em nossa vida pessoal; mas, saiba,
precisamos ter coragem de dizer não a tudo aquilo
que não condiz com a palavra de Deus. Quantas
moças têm acabado com seu chamado, por se envol-
verem em casamentos errados; quantos rapazes se
desviam por causa de paixões carnais e depois
choram arrependidos; quantas moças, na pressa de
se casar, deixam de renunciar a um relacionamento
pecaminoso e assim abrem mão do sonho de Deus.
A renúncia, que às vezes se mostra tão dolorosa, traz
resultados poderosos em nossas vidas.
Disciplina
Pelo fato de terem tanta dificuldade com esta
palavra no reino de Deus, as pessoas muitas vezes não
entendem que chegar pontualmente nos horários dos
ensaios, cultos, programações, não é fazer um favor
para Deus; isto é um compromisso nosso.
Disciplina envolve duas coisas:
1. Adiar o meu prazer;
2. Decisão antecipada eu decido disciplinar
esta área da minha vida. 75 75
Quantas pessoas sofrem com isso e não conse-
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
guem ter tempo para orar, ler a Bíblia; sentem-se mal
por isso, mas não conseguem mudar essa situação.
Disciplina é uma decisão.
Em minha academia, muitas vezes tenho difi-
culdade com isso; os alunos estranham a exigência da
pontualidade, das roupas adequadas, de prender o
cabelo. É isso mesmo: parecem coisas bobas e muita
gente pensa não ter qualquer importância, mas um
bom bailarino é disciplinado, e nós que usamos a
dança para o Senhor não devemos esquecer que
temos que fazer o melhor para Ele, o nosso melhor.
O melhor envolve todas as áreas de nossa vida.
Quando chego ao ensaio no horário marcado, de-
monstro meu compromisso com Deus e com meus
irmãos. A bênção é minha, eu devo fazer a minha
parte. Há pessoas que às vezes usam uma desculpa
"Ah! meu líder não chega na hora". Mas antes do
compromisso com o seu líder, você tem um com-
promisso com Deus, portanto, faça a sua parte e com
certeza Deus verá o seu esforço e recompensará.
Visão
Pessoas de visão vêem além daquilo que apa-
renta. O homem vê o exterior, porém Deus vê o
coração: "Porque o SENHOR não vê como vê o homem.
O homem vê o exterior, porém o SENHOR, o coração"
(1 Sm 16.7b).
Habilidade dada por Deus para enxergar além da
aparência das pessoas, como Jesus (Mt 16.18).
Quantas vezes entram mendigos, prostitutas, 76 76
em nossas igrejas e não sabemos o que fazer; olhamos
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
aquela pessoa destruída e pensamos: "Meu Deus, não
tem jeito! Ele pode até aceitar Jesus, mas nunca vai
trabalhar na obra". Lembro-me de algumas pessoas
que me procuravam na igreja, dizendo que gostariam
de fazer parte da equipe de dança e eu ficava assus-
tada, pois pensava: "E agora, Deus, o que faço?".
Alguns tímidos, alguns com auto-piedade, sem
habilidade alguma; isso mesmo: não conseguiam se
movimentar, manifestavam temperamentos difíceis,
orgulho, etc. Mas, amados, hoje olho esses irmãos e
mais uma vez creio que Deus é ilimitado. A Letícia,
por exemplo, tinha tantas dúvidas e hoje vemos a
autoridade com que ela ministra, o talento com que
interpreta, pois além de dançar, é uma atriz talentosa.
E tantos outros, alguns que estão em outros minis-
térios, mas que passaram conosco momentos de
muita superação. Creio que se tivesse olhado com
meus olhos de professora, teria perdido grandes
pérolas que fazem parte de nossa história.
Habilidade para entender o que Deus quer fazer atra-
vés de você. Isto tem muito a ver com a nossa identi-
dade.
Quando descobre aquilo que Deus quer fazer
através da sua vida, você não segue modismos ou
tendências, não se preocupa em ser o maior; você
simplesmente segue a vontade de Deus e, assim
como Moisés, será um libertador. Seja qual for o
nosso chamado, somos libertadores de cativos; nossa
identidade nasce e sabemos quem somos; e quando
sei quem eu sou, as palavras más, as dificuldades, as
barreiras não me impedem, pois a identidade traz 77 77
força e liberdade. O inimigo tenta nos confundir, mas
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
sabemos quem somos e a Quem servimos.
Uma pessoa que sabe quem é torna-se uma
fortaleza nas mãos de Deus; ela vive, respira, anda,
enfim, faz a vontade do Pai e não precisa copiar nada
nem ninguém, pois sabe qual é o propósito de Deus
em sua vida.
Perseverança é mais fácil desistir do que perseverar
Se realmente temos um chamado de Deus, esta
característica tem que nos acompanhar. Falo isto
com autoridade, pois após treze anos de ministério,
aprendi como é importante perseverar.
Deus quer gerar em você um caráter perseve-
rante, ou seja, fazer de você uma pessoa que não
desiste, mesmo quando não pode ver nada, mesmo
quando todos dizem que não vai dar certo. Jesus
perseverou até o final (Hb 12.2); mesmo sabendo tudo
o que iria passar, ele preferiu obedecer ao Pai.
Perseverar não é a escolha mais fácil, pois é bem
mais cômodo, quando a situação fica complicada, você
dizer: "É... vamos parar por aqui; Deus não está nos
ajudando". Mas quero desafiar o leitor a persistir.
Quantas vezes fazemos projetos e nos programamos e
na hora de tomar posse parece que perdemos tudo.
Mas lá na frente podemos analisar e ver a miseri-
córdia de Deus.
Quantas vezes você foi desacreditado, as
pessoas olhavam para você e diziam: "Não vai dar
certo, esse ministério não é para você". Eu mesma ouvi
tanto isso. Quantos projetos eu apresentei e as pessoas 78 riram de mim, mas, amado, decidi perseverar e hoje 78
podemos ver os frutos dessa escolha.
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
"Sabendo que a provação da vossa fé, uma vez con-
firmada, produz perseverança" (Tg 1.3), ou seja, nas lutas
devemos levantar nossa cabeça e ser aprovados
pelo Senhor; a luta pode ser grande, mas a vitória será
maior, com certeza!
Se você está dentro de uma caverna, com pro-
blemas, com medo, há duas opções: ou volta atrás e
deixa tudo de lado, ou enfrenta seus medos e contem-
pla a vitória e o despojo que Deus guardou para você!
Amor
O amor também faz parte desse caráter forte e
vamos falar de quatro tipos de amor:
Amor terno (Ef 4.32): Perdoar uns aos outros,
sentir a pessoa com o coração de Deus; esse amor
desafia cada um de nós, pois nem sempre é fácil
perdoar; mas é a melhor decisão a ser tomada, pois
vai gerar quebrantamento.
Amor firme (Mt 23.13-20): Falar a verdade
sempre. Jesus sempre falava a verdade. Muitos líderes
por medo de perder pessoas não falam a verdade e
assim criam em suas equipes pessoas doentes, que não
podem ser exortadas nunca, ficam mimadas e sem
limites.
Pelo fato de falar a verdade, perdi, sim, algu-
mas pessoas; fiquei triste na época, mas hoje percebo
como Deus foi fiel conosco; doeu muito, mas muito
mesmo, principalmente porque eram fatos que preci-
savam ser tratados, mas a reação dessas pessoas nos
surpreendeu; não é fácil lidar com a perda, mas ela 79 também faz parte da nossa caminhada. Outros rea- 79
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
giram bem, entenderam e cresceram. É assim mesmo:
a verdade pode doer, mas quando ouvimos algo e
decidimos mudar, crescemos em Deus.
Amor sacrificial (Lc 10.30-37): Essa história é
tão simples, mas nos ensina como é difícil sacrificar-se
por alguém. Quando que me tornei mãe, percebi, a
partir desse momento, que os meus filhos são mais
importantes do que muitas coisas. Quando o bebê
nasce, nossa vida se transforma por completo; aquele
pequeno ser torna-se o centro da casa e os pais se
sacrificam de todo modo para dar o melhor para seus
filhos.
Em nossa vida ministerial ensinei isso à minha
equipe. Somos uma família e sempre que precisamos
nos sacrificamos uns pelos outros. Certa ocasião,
ingressou em nosso ministério uma amada que tinha
vindo do mundo. Ela começou a estar conosco nos
ensaios e enquanto a discipulava percebi que ela
precisava mudar o modo de se vestir. É fácil acusar o
erro, mas precisamos ajudar a pessoa a mudar. Então
reunimos a equipe e fizemos uma semeadura entre nós
e doamos um guarda-roupa para ela; Ela chorou
muito naquele dia e disse que percebeu como Jesus
a ama em todos os detalhes, pois até as cores e os
modelos eram como se ela tivesse escolhido.
Amor radical (Mt 5.39-41): Não gostamos de ser
humilhados. Um tapa é muito humilhante. Virar a face
significa sofrer o dano, deixar que Deus resolva. Não
devemos reagir e sim agir no espírito oposto.
A verdadeira satisfação vem do sacrifício, não 80 da auto-gratificação. 80
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Perseverança
Nascida sem querer
Criada pela avó
Indo de casa em casa
Essa era eu
Rejeitada me sentia
E sempre ouvia
Que seria como minha mãe
Perdida pela vida
Adolescente revoltada
Oprimida, que andava só
Que procurava respostas
Que escrevia, pois não tinha coragem
Coragem para falar
Essa fui eu
Só andava de preto
Pois assim que me sentia
Dentro e fora do meu ser
Aos 18 anos, encontro Jesus
Que muda minhas vestes
Que lava as minhas feridas
Que arrebata o meu coração
Então entendi o que é a vida 81 81
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Casada com apenas 19 anos
Aprendi a ser amada e cuidada
Aprendi o que é ter família
Aprendi a amar
Das provações que vieram
Uma coisa aprendi
Amigos são poucos
Os que eu pensava que eram amigos
Se tornaram juízes acusadores
E outros tão distantes
Se tornaram irmãos
E Jesus a todo momento
Se mostrava no controle de tudo
E como um professor na sala de aula
Ele desenhava no quadro da minha vida
Situações que me ensinaram a ser
Forte, corajosa, guerreira e perseverante.
Lágrimas, lágrimas, lágrimas
Incontáveis companheiras
De dia e de noite
Meu Deus
Foram muitas que meu amado colheu
Silêncio, silêncio, silêncio
Muitas vezes fiquei dentro dele
Muitas vezes me calei
Diante das acusações
Que abatiam a minha alma
82 82
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Disseram que eu nunca ia ser nada
Disseram que eu era ridícula dançando
Disseram que nações eram um sonho
Um sonho impossível, uma ficção
Os homens disseram
Mas Deus disse:
Você vai ser uma desbravadora
Vai pregar para muitas pessoas
Vai ser uma Profeta da Dança
Vai pisar em muitas nações
Bailarina profissional
Pregando pelo Brasil todo
Ministrando nas nações
Muito prazer: esta sou eu
As palavras dos homens
Realmente são dos homens
Mas a Palavra de Deus
Esta, sim, é a verdade
Isto me faz perseverar
83 83
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
84 84
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
10
Aquilo que somos se
reflete no que fazemos
É comum pensarmos que no momento em que
Deus nos chama, tudo já está resolvido em nossa vida;
julgamos que o fato de entendermos aquilo que Deus
quer para nós já nos torna totalmente aprovados dian-
te Dele. Deus chamou Saul e o ungiu, porém ele não
foi aprovado.
Na verdade, o chamado de Deus é só o início
de um grande processo de aprendizado, pelo qual
todos temos que passar. Isso atinge a cada um de nós
individualmente e às pessoas que estão ao nosso
redor também, principalmente aquelas que se dispõem
a estar conosco nessa jornada de muitas mudanças.
Entre o chamado de Deus e a realização do
mesmo existe um meio que muitas vezes queremos
pular; é como se você imaginasse uma grande ponte
entre você e o resultado. Mas essa ponte tem obstá-
culos, não é tão fácil como você imaginava; nesse
momento você deve escolher se passa pelo processo
ou simplesmente pula.
Quando optamos por passar pelo processo de
preparo, colhemos frutos abençoados, temos o nosso
caráter moldado; mas quando não queremos ser tra-
tados por Deus, também chegamos lá na frente, mas 85 percebemos que estamos do mesmo jeito, não há 85
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
marcas em nós, nada foi acrescentado nem perdido;
mais uma vez nos deparamos conosco mesmos e
descobrimos que estamos exatamente no mesmo
lugar. Quero que você observe: as duas opções
levam ao final da ponte, mas o resultado é totalmente
diferente.
Vejo que a primeira coisa que Deus faz, geral-
mente, é nos mostrar quem somos e quando somos
confrontados com o nosso eu, temos duas alter-
nativas: ou nos analisamos para ver os nossos erros e
no que podemos mudar, ou simplesmente seguimos
com os mesmos erros. Olhar para nós mesmo leva-nos
a ver coisas profundas; vivemos anos e anos acusando
as pessoas ao nosso redor de egoístas, impacientes,
mas na verdade muitas vezes nós que o somos. Mas é
mais fácil jogar para bem longe as coisas que nos
afligem, é mais fácil deixar os nossos erros bem cala-
dos e escondidos, mas a vontade de Deus para nós e
que nesses momentos possamos realmente dar um
passo para mudanças. Quantas vezes vamos a con-
gressos, escolas de treinamento, etc., e saímos ilu-
didos, achando que esses treinamentos vão fazer de
nós vasos prontos para cumprir aquilo que achamos
ser o chamado de Deus para nós. Somos bombar-
deados por palavras e visões; muitas vezes temos a
ilusão de pensar que o nosso ministério está formado
se tão-somente juntarmos um pouco de cada coisa
que vimos ali.
Fazemos eventos no Brasil e no exterior e
vemos como Deus realmente trabalha na vida das
pessoas; contemplamos milagres... quantos testemu- 86 nhos eu recebo de pessoas que foram totalmente 86
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
transformadas em meio aos nossos eventos. Fazemos
também uma escola todos os anos, mas sempre tenho
falado aos irmãos que ali é só uma gota daquilo que
Deus quer fazer na vida de cada um deles, que jamais
devem querer ser iguais a nós, mas sim buscar aquilo
que Deus quer fazer através de cada um deles.
Flechas que dançam
Se entendemos que Deus nos chamou, também
entendemos que Ele quer nos lançar; aí, então, já
começamos a caminhar nessa ponte e quando damos
os primeiros passos começamos a ver quantas coisas
nos aguardam pelo caminho: dificuldades, provações.
Inclusive, nas Escrituras Sagradas, podemos ver o após-
tolo Paulo discorrendo sobre isso:
"E não somente isto, mas também nos gloriamos nas
próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz per-
severança; e a perseverança, experiência; e a experiência,
esperança. Ora, a esperança não confunde, porque o amor
de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo,
que nos foi outorgado" (Rm 5.3-5).
Parece triste ouvir isso, mas Deus tem um for-
mão; esquecemos que Jesus foi um carpinteiro e ele
quer tirar suas arestas e criar algo belo em você,
através do ministério que você exerce.
Agora pense em uma flecha: ela não se lança
sozinha, precisa do arqueiro e o arqueiro precisa do
arco; mas quem é o arqueiro e o arco? Certa vez, ouvi
algo que me chamou a atenção: nós somos as flechas,
o arco é a igreja e o arqueiro é Jesus. Isto nos leva
a uma grande reflexão: eu entendi o meu chamado, 87 Deus falou comigo, tenho investido nesse chamado 87
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
através de seminários, estudos, mas preciso colocar
em prática esse chamado na igreja local, na qual
congrego, pois ela é que me enviará; é na igreja que
começo a dar os primeiros passos, aprendo a servir
e também, muitas vezes, sou lixado, testado, mas é
exatamente esse o arco que Jesus tem usado para nos
lançar às nações da terra.
Ouço pessoas dizerem: "A minha igreja não tem
visão", mas quero que você pense que Deus pode
estar usando você para levar algo novo à sua congre-
gação. Eu sei que há igrejas que ainda não aceitam
a dança; outras que aceitam, mas só em momentos
especiais; outras não permitem a dança espontânea.
Mas, sabe de uma coisa, amado? Precisamos entender
qual é o propósito de Deus para tais momentos. Se esse
for mesmo o chamado de Deus na sua vida, não se
desespere: Deus vai abrir todas as portas!
Congreguei em uma igreja que durante anos não
aceitava a dança; apenas suportava; creio que você me
entende. Lembro-me de como era complicado: toda vez
que íamos ministrar, alguém sempre fazia algum
comentário. Com a equipe de louvor não era dife-
rente: sempre que ia ministrar fora, se sobrasse algum
lugar então éramos convidados; mas se não fossemos,
não fazia a menor diferença. Assim foi por algum
tempo, até que Deus nos honrou naquele lugar; mas
esses anos de lutas serviram como um aprendizado
para cada um de nós. Muitas vezes eu quis desistir;
ouvia cada coisa, mas resolvi acreditar e hoje tenho
colhido os frutos dessa caminha. Em Tiago 1.2-4,
lemos o seguinte: 88 88
"Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
passardes por várias provações, sabendo que a provação da
vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a
perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfei-
tos e íntegros, em nada deficientes".
O sofrimento, realmente, não nos agrada, mas
não consigo imaginar a nossa equipe hoje sem termos
passado o que passamos. Tenho a convicção de que
Deus chamou cada membro da nossa equipe, mas
também sei o que cada um de nós passou. Excluindo-
se as perseguições na igreja, Deus trabalhou e tra-
balha individualmente em cada um. Por isso, creio
que você que está lendo este livro de fato é ou está
sendo preparado para ser uma flecha nas mãos de
Deus!
Sendo discípulos
Jesus fez discípulos, mas o interessante é
perceber que cada um deles era diferente: um era
médico, outro era pescador, etc. Jesus podia ter esco-
lhido só carpinteiros, pois era sua profissão, mas o que
Ele queria que eles imitassem não era Seu modo de
andar, falar (quis dizer aqui no sentido físico), vestir,
mas sim a sua santidade, o seu amor ao próximo, o
seu amor a Deus Pai.
Há uma grande diferença entre aparência e
autenticidade. Deus quer nos fazer autênticos, porque
aquilo que somos vai refletir no que fazemos. Você não
pode ser um ministro retalho, ou seja, um pedaço de
cada ministro que você vê. O chamado de Deus é algo
muito sério! Precisamos buscar em Deus o que Ele quer
de nós. Quando você for a uma oficina de dança, um 89 seminário, não pegue tudo o que viu para simples- 89
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
mente fazer igual. Não. Peça a Deus para ministrar
ao seu coração o que deve fazer. Sempre ia a con-
gressos de dança e sempre ficava embriagada, sugava
tudo mesmo, não perdia nada, mas quando chegava
em minha igreja, aplicava dentro das nossas reali-
dades. Por exemplo, você aprende uma seqüência
de passos, mas o que pode ser acrescentado a essa
seqüência? E aí, amado, você e sua equipe começam
a crescer e isso será transmitido à igreja e também
por onde vocês ministrarem.
Um outro exemplo que posso usar é uma his-
tória bem simples: havia um caçador e um guia na
floresta. O caçador disse: "Eu quero saber onde fica o
leão". O guia respondeu: "Venha, é deste lado". Ele
viu as marcas das pegadas do leão e logo parou e
disse: "Está bem até aqui; não quero ver o leão, ficar
perto dele; só quero saber onde ele está". Muitas vezes
nós somos assim; não queremos tocar em Jesus, só
saber onde Ele está, ou seja, um relacionamento
superficial, aparente, sem autenticidade.
Precisamos definir também se queremos apenas
ser conhecidos ou se realmente queremos um ministé-
rio com profundidade. Esta frase me marcou: "Enquan-
to alguns apenas constróem, outros cavam mais e mais
fundo para estabelecer sua base" (Rick Joiner).
Quantas vezes nossas equipes não ultrapassam
determinado ponto, ficam sempre na mesma. Uma das
coisas que tenho percebido é que falta autencidade,
ou seja, preciso entender quem sou, principalmente se
me proponho a ser líder de uma equipe. Vejo tantas
equipe iguais, vejo tantos líderes buscando ser exata- 90 90
mente o que outros ministros são, parados, olhando
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
para o homem. Deus quer gastar tempo conosco, para
nos ensinar a ter a identidade Dele. Quando você vê
alguém ministrando e pensa: "É isso que quero fazer",
isso não anula a sua identidade; Deus vai usar você na
dança, mas Ele não vai anular a sua identidade; você
não precisa se vestir da mesma forma, falar, ou até
mesmo dançar do mesmo jeito; Deus tem algo para
você, particular, exclusivo, que vai ser liberado no
momento em que você se dispuser para Ele.
Voltando a falar da ponte
Usei a figura da ponte pois é algo que nos dá
uma boa idéia daquilo que quero passar. Uma ponte
sempre liga um lugar a outro e através do sangue de
Jesus somos ligados ao reino celestial. Jesus é a ponte
que muda o nosso caminho, que nos leva a lugares
altos e também profundos em Deus.
Em todas as pontes, há sempre um apoio para
as mãos; podemos identificar esse apoio como sendo
o Espírito Santo, que nos dá consolo, nos fortifica, para
que cada um de nós não desista da caminhada. As
pontes são construídas, porque sem elas não conse-
guiríamos passar para o outro lado. Isto mesmo, sem
Jesus nós não podemos passar, não podemos mesmo.
Pense nisto se por algum momento você tender a
tomar decisões por si mesmo ou pensar: "Eu já sei"!
Mas a minha pergunta para você é: "Quero
mesmo passar pelas etapas necessárias para que Deus
cumpra a sua vontade em minha vida?".
Deus me chamou, mas agora preciso decidir
se vou responder a esse chamado; não posso ficar 91 parado, deitado, pensando: "Agora tudo virá em 91
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
minhas mãos. Deus me mandou cantar, então as
músicas caírão do céu; vou dançar: então, enquanto
durmo, meu corpo será treinado para isso". Não é
assim que funciona. Deus realmente opera milagres.
Operou e tem operado em minha vida, mas pre-
cisamos tirar a nossa cabeça do travesseiro e começar
a trabalhar em prol desse chamado, pois Deus não
está preocupado com aquilo que você demonstra ser,
mas em quem você realmente é.
Simplicidade
"Mas receio que, assim como a serpente enganou a
Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a
vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a
Cristo" (2 Co 11.3).
Simplicidade é um estilo de vida. Humildade é
uma condição do coração. A simplicidade reflete um
coração humilde e traz consigo os princípios básicos
de Jesus.
Hoje tenho visto as pessoas se preocuparem em
fazer grandes coisas, como grandes eventos, grandes
apresentações. A princípio, não há nada de errado
nisso, mas precisamos sempre nos lembrar que
devemos ser simples e entender sempre qual é a
vontade de Deus para nós.
Uma coisa que às vezes me deixa triste é ver
líderes usando pessoas para se promover. Por exem-
plo: "Em minha equipe só tem bailarinos profissionais;
o nosso é o grupo mais forte da igreja".
Tenho temor ao ouvir esses comentários, pois 92 sempre devemos pensar que Deus realmente usa pes- 92
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
soas comuns para fazer grandes coisas, mas Deus é o
único digno da glória e da honra. Quando começamos
a pensar: "Este ministério não vive sem mim. Veja como
danço bem. A minha equipe é a melhor da cidade",
estamos desviando os olhos do Senhor e colocando em
nós mesmos e isso não é bom; só nos traz resultados
desastrosos.
Vamos então meditar sobre o que a falta de
simplicidade pode gerar e espero que possa abrir seus
olhos e coração para que Deus fale com você.
A falta de simplicidade tem gerado:
Ministros retalhos: pessoas totalmente sem
identidade, simplesmente copiam de tudo um pouco
daquilo que acham que é certo; não entendem o seu
próprio chamado; estão nas equipes porque acham
"legal" estar; afinal, é bom estar lá na frente. Quando
percebemos pessoas assim em nossa equipes, preci-
samos instruí-las a se encontrar. Deus nos fez únicos,
com características diferentes.
Quando me converti, achava que Deus não
amava os sangüíneos, pois somos agitados, não para-
mos, muitas vezes queremos brigar, reagir, e lembro
que no meu discipulado eu dizia para a missionária:
"Quero ser como você", mas então comecei a perceber
que Deus nos ama como somos. Ele trabalhou muito
no meu temperamento, mas assim como ao nosso
irmão Pedro, Ele queria me usar também. Quando
entendi isso, percebi que eu e meu esposo nos comple-
tamos. Pastor Oziel é calmo, tranqüilo, mas um com-
pleta o outro. Em minha equipe, temos um pouco de 93 tudo: sangüíneos, melancólicos, fleumáticos, e cada um 93
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
tem seu papel; um agita, outro acalma, outro planeja,
outro traz à realidade o que foi planejado, e assim
cumprimos o nosso chamado.
Idolatria: é triste falar disto, mas tenho visto
também ministros que precisam de seguranças para
sair de eventos e pessoas que falam que o sonho delas
é ser como tais ministros. Amado, isto dói demais no
coração de Deus; tenha cuidado quando alguém
começar a tomar o lugar de Jesus no seu coração,
ou algo como faculdade, trabalho, carro. Quantas
pessoas são tão abençoadas por Deus em sua vida
material, mas não põe nada disso a serviço do Senhor;
idolatram seus carros, suas casas; quantos ministérios
de dança idolatram suas vestes... Fico chocada com
essas coisas. Fui idólatra durante dezoito anos de
minha vida, mas às vezes me deparo com essa atitude
na casa do Senhor.
Lembro de uma igreja à qual fui no sul do
Brasil: havia um púlpito de vidro imenso, lindo
demais! Chegamos para ministrar e como a Duda
havia preparado um ato profético, pedi para que o
púlpito fosse arrastado um pouco para o lado e recebi
uma reposta assim: "NÃO!!! Este púlpito só sai daqui
na cantata de Natal; deste tipo de púlpito, existem
apenas alguns no Brasil; por favor cuidado"!
Na hora me espantei com a atitude e até disse
para a Duda que tomasse cuidado ao dançar. No
domingo pela manhã, eu estava ministrando e minha
Bíblia estava em cima do púlpito, quando de repente
em meio à ministração comecei a falar sobre o
orgulho. Quando falei exatamente a palavra "orgulho", 94 94
encostei no púlpito e toda a parte de cima se quebrou.
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Fiquei em estado de choque, com a manifestação de
Deus. Literalmente, fiquei imóvel. Naquele momento,
a líder do louvor subiu à plataforma e disse que eu
não tinha idéia do quanto Deus havia me usado, pois
ali estava sendo quebrado muito mais do que um
púlpito, mas de fato o orgulho daquela congregação.
As pessoas do congresso começaram a dar glória e
finalizamos aquele evento muito abençoados pelo
poder de Deus.
Competições: quando deixamos de ser simples,
preocupamo-nos em ser melhores que os outros.
Quantas igrejas têm problemas com equipes. Por exem-
plo, a igreja tem duas equipes de dança que sempre
disputam entre si. Não vejo problemas em ter mais de
uma equipe de dança ou louvor na igreja, mas devem
caminhar cada uma em sua visão, sem se preocupar
em ser superiores umas às outras. Quantas cidades
conheço em que os eventos têm que ser feito fora das
igrejas, caso contrário os pastores não permitem a ida
de suas ovelhas. Isso me entristece demais, pois
devemos ser um. A Bíblia nos fala que devemos amar
nossos irmãos e quando competimos o amor anda a
quilômetros de nós.
O inimigo nos engana facilmente: quando
começamos buscar honras e títulos para nós, tornamo-
nos presas fáceis do inimigo, iludimo-nos com a fama,
com os melhores lugares. Quando estamos nesse
ponto, somos um alvo perfeito para o inimigo. Não
queremos mais andar com os irmãos em geral, mas
somente com um grupo seleto; nosso ministério se
torna uma equipe elitizada demais para que qualquer 95 pessoa tenha acesso; dificultamos ao máximo qualquer 95
aproximação e assim nos tornamos estrelas.
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Os dons que recebemos de Deus são para
edificar a igreja, não a nós mesmos. Cuidado se você
está edificando um reino para a sua equipe; cuidado
quando as pessoas olham apenas para você e não vêem
nada além de suas habilidades. Pessoas cheias do
Espírito buscam o reino de Deus, expressam o reino
de Deus, exaltam a Jesus, não a si mesmas.
No inicio de meu ministério, as pessoas tinham
um imenso interesse em minha formação profissional,
como eu sofria com isso, pois não era bailarina profis-
sional, apenas estava ali deixando Deus me usar e
podia ver na expressão das pessoas a decepção,
mesmo depois de terem visto Deus agindo através da
minha vida.
Já alguns profissionais ficavam espantados co-
migo e minha equipe e glorificavam a Deus, pois viam
em nós um milagre, porque mesmo com tão pouco
conhecimento, Deus nos usava de forma muito forte.
Hoje, a Duda e eu somos profissionais, mas não
nos iludimos com isto. Não me sinto mais especial por
isso; apenas mais capacitada para fluir e ensinar, o que,
aliás, é algo que amo fazer: compartilhar com as
pessoas o que sei e com quem tenho muito a aprender.
Começamos a querer agradar somente aos
homens: já vi isso acontecer muitas vezes. Quantas
equipes começam bem, buscando ao Senhor acima de
tudo. A Bíblia nos orienta a buscá-Lo de todo o nosso
coração (Dt 4.29). Quando começamos ter o desejo de
agradar aos homens, fatalmente nos frustramos, pois
o ser humano sempre quer mais. "Porventura, procuro 96 eu, agora, o favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro 96
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria
servo de Cristo" (Gl 1.10).
Quando temos um coração humilde,
experimentamos coisas maravilhosas da parte de Deus.
Honra: "O temor do SENHOR é a instrução da
sabedoria, e a humildade precede a honra" (Pv 15.33).
"A soberba do homem o abaterá, mas o humilde de espírito
obterá honra" (Pv 29.23).
Estes dois versículos falam de algo que tantos
buscam, mas que só encontramos através da
humildade. Quantas situações em que, mesmo tendo
razão, eu me calei; quantas vezes já fui humilhada.
Na hora me senti mal, mas hoje posso ver os frutos
dessas atitudes; ando em meio ao sonho de Deus para
minha vida; vejo as palavras de Deus sendo cumpridas;
vejo acusações e calúnias que me feriram tanto sendo
destruídas pelo poder de Deus e pela ação Dele em
nossas vidas.
Quantas vezes vi meu marido abaixar a cabeça,
ficar triste, mas hoje vejo que Deus já estava minis-
trando tamanha sabedoria no coração desse homem.
Cuidado: "Tens ouvido, SENHOR, o desejo dos
humildes; tu lhes fortalecerás o coração e lhes acu-
dirás" (Sl 10.17). Deus ouve o coração humilde, o
coração quebrantado na presença Dele. Lembro-me
do dia em que estava no hospital, no parto do Israel e
ele teve uma parada respiratória após o nascimento.
Quando deram a notícia ao meu marido, ele pensou:
"Eu posso me desesperar ou confiar no Senhor e nas
promessas de Deus para a vida do meu filho". Deus
havia nos dito que esse filho seria um homem de Deus. 97 97
Lembro-me que até levamos a bandeira de Israel para
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
o hospital, devido ao nome do bebê. Quando saí do
centro cirúrgico, cheguei a meu quarto e não vi o bebê.
Então, perguntei o que havia acontecido e Oziel
muito triste me deu a notícia. Naquele exato mo-
mento, a enfermeira entrou com meu filho no quarto,
dentro da incubadora. Eu chorei, pois queria pegá-lo
no colo e não podia, mas passados uns vinte minutos
ele deu um grito dentro da incubadora e bateu a mão-
zinha na mascara de oxigênio A Duda, que estava
comigo no quarto, saiu correndo para chamar a enfer-
meira. Quando ela veio e o médico com ela, Israel já
estava muito bem, com a temperatura boa e foi tirado
da incubadora. Examinaram-no todo, mas não encon-
traram nada e no outro dia já fomos embora para casa,
agradecidos pelo o que o Senhor fez.
Dias depois, quando fui levá-lo à pediatra do
meu filho mais velho, ela disse que soube o que acon-
teceu, pois o consultório dela era dentro do hospital e
me disse assim: "Agradeça a Deus pois ele livrou seu
filho da morte; ele teve uma parada respiratória; a
situação foi grave, não foi tão simples como passaram
para vocês, mas graças a Deus ele está vivo e sem
seqüelas" (essa médica é cristã) e quem conhece meu
filho, sabe que hoje ele é uma flecha. Glória a Deus!
Justiça: "Guia os humildes na justiça e ensina aos
mansos o seu caminho" (Sl 25.9).
Quantas vezes você já se sentiu injustiçado? Eu
já me senti muitas vezes assim e nesses momentos tudo
parece tão negro ao nosso redor; mas não há escu-
ridão que possa esconder algo de Deus. Sei que alguns
leitores deste livro estão vivendo anos de injustiça no 98 98
seu trabalho, na sua vida pessoal, na sua vida minis-
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
terial, mas posso falar de experiência própria: entre-
gue nas mãos do Senhor e Ele no momento certo vai
fazer a justiça Dele, não a nossa. Enquanto não per-
doamos, Deus não pode tratar.
Vivi algo muito triste em minha equipe, com
uma pessoa que caminhou comigo durante anos. Ela
se levantou contra mim com calúnias e difamações e
quando fui confrontá-la a respeito, ela se rebelou mais
ainda, chamou o pastor da igreja, me acusou, disse que
o pessoal do ministério não gostava de mim, que não
gostava de estar na equipe; foi terrível para mim.
Depois dessa situação, tudo foi esclarecido,
conversei com a equipe, e tudo não passava de uma
crise pessoal dela.
No outro dia eu sentei com meu esposo, con-
versamos, oramos e no domingo cheguei para essa
pessoa e disse: "Olhe, amada, amamos você, a per-
doamos, mas não dá para caminharmos juntos; afinal,
não é a primeira vez que isto acontece, mas desta vez
foi sério demais". Ela ficou ali parada, olhando para
mim; chorou, gritou e realmente naquele momento vi
que ela não havia mudado em nada, pois mais uma
vez queria me convencer na base do choro. Ela se acal-
mou, entendeu, e fomos então para o culto.
Nesse dia, havia uma missionária em nossa
igreja, pois meu marido estava realizando uma escola
de cura. Depois que ela pregou, olhou para mim, me
chamou lá na frente e disse: "Águia! Tentaram ferir
suas asas, mas saiba de uma coisa: Deus já sarou essa
ferida e agora você vai voar mais alto". 99 99
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Eu me senti amada por Deus; percebi a serie-
dade de ter um chamado e como o Senhor sempre
está no controle, pois só Ele e meu marido sabiam o
quanto chorei, o quanto meu coração estava triste, o
quanto doeu ter tomado aquela decisão, mas entendi
por essa palavra que tinha feito a coisa certa.
A simplicidade nos traz um entendimento
profundo de quem é o Senhor. Temos a revelação de
um Deus tão forte, soberano, majestoso, poderoso, mas
que ao mesmo tempo usa pessoas simples como eu e
você, usa pessoas que pensavam não ter dom algum,
um Deus que desperta sonhos que julgamos serem
impossíveis, mas Ele é o Deus do impossível.
A simplicidade de Jesus nos confronta. Ele
amava as pessoas. Ele não quer apenas saber quem eu
sou, mas quer se relacionar comigo.
O maior exemplo de simplicidade em nossas
vidas é o próprio Jesus, que se fez carne e morreu por
nós, morte de cruz, e nos deixou um exemplo de vida
a ser seguido e pregado pelas nações da terra.
100 100
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
11
Bailarinos que
entregaram as sapatilhas
Carla Char Melo Sampaio
Olá, amado, meu nome é Carla Char Melo
Sampaio. Tenho vinte e seis anos, sou casada há dois
anos e meio com o Ricardo Sampaio, ministro de
louvor, bênção em minha vida.
Sou bailarina e professora de balé clássico e jazz.
Atualmente, tenho uma escola de dança em
Jaboticabal, interior de São Paulo, trabalho em uma
escola de dança em Ribeirão Preto e em um projeto de
balé clássico na Prefeitura de Monte Alto/SP. Sou
membro da Igreja Internacional da Família Cristã
de Jaboticabal/SP e atuo como líder do ministério de
dança da Igreja desde o seu início, em 2000.
Quero compartilhar com o amado leitor um
pouquinho da minha história e como o Senhor me
cercou e me atraiu para o seu chamado.
Desde que me entendo por gente, amo dançar;
faz parte da genética da minha família,. Quando
criança, todas as nossas brincadeiras envolviam
dança e apresentações para a família. Lembro-me que
dançava com meu pai; ele me pegava e me erguia...
sentia-me a bailarina! Mal imaginava os sonhos que
estavam sendo plantados em meu coração. Nasci em 101 101
São Paulo e quando ia entrar no balé, mudamos para
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
o interior e somente aos nove anos comecei a fazer jazz
a única modalidade existente em minha cidade até
então mas parei aos catorze. Seguia dançando
muito em bailes, festas, boates, carnaval. Eu não
parava! Mas para honra e glória do nome do Senhor,
Ele me salvou.
Converti-me aos quinze anos e foi pra valer;
deixei o mundo, parei de dançar, de ir a bailes. Aban-
donei tudo, porque sentia um vazio muito profundo
em minha alma após cada festa e no dia em que me
converti esse vazio acabou, pois foi preenchido.
Então, não precisei mais daquela falsa alegria.
Naquela época, ainda não se falava em dança
na Igreja como ministério. Entristecia-me ao ver todos
os jovens, tão entendidos sobre o louvor, cifras, etc., e
eu, nada. Aquilo era grego para mim. Lembro-me de
um dia em que todos estavam falando sobre isso e eu
disse que a única coisa que sabia fazer era dançar.
Todos riram, não por maldade, mas porque o que eu
ia fazer com dança? Deus realmente quebra os con-
ceitos do homem.
Naquela tarde, cheguei em casa, coloquei-me
de joelhos no meu quarto e pedi para que o Senhor me
desse um dom, porque eu queria fazer alguma coisa
para ele. Então tomei uma posição e comecei a es-
tudar violino; fui entender de partituras! Mas não deu
para continuar. Ainda não era isso.
No final do ano de 1998, a Igreja da qual fa-
zíamos parte promoveu uma noite de talentos e há
pouco tempo eu havia comprado o cd do até então 102 desconhecido "Diante do Trono". Comprei, obvia- 102
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
mente, pela foto da Isabel Coimbra atrás. Então, eu e
minha irmã, Cassiana, e mais duas irmãs em Cristo,
coreografamos a música Manancial.
Foi tudo muito simples, desde as roupas até os
movimentos, porque tínhamos medo de escandalizar;
e a Igreja recebeu, foi uma bênção.
Depois disso, em julho de 1999, minha irmã e
eu fomos enviadas pela Igreja da qual fazíamos parte
para um workshop de mímica e dança, em Campinas,
com Carisma Endo. Foi tremendo! Fomos fortemente
impactadas e nossas vida e visão mudaram. Lá, recebi
unção para o chamado. Minha maneira de adorar foi
transformada, tornou-se mais intensa quando ainda
estava no banco; precisava expressar minha adoração
ao Senhor que me salvou.
Amado, quero ressaltar aqui um detalhe:
percebo que muitos querem "dançar" no altar, mas
quando não estão lá na frente com suas vestes de
louvor, não demonstram esse anseio, nem sequer
levantam as mãos nem fecham os olhos, mas ficam
desatentos ao mover do Senhor. Esses não perma-
necem, porque Deus tem levantado uma geração de
adoradores extravagantes, que dançam diante da sua
presença e não dependem de estar com sapatilhas
nos pés. Deus nos tira de detrás das malhadas.
Deus vê a sua adoração quando você está no seu
quarto, nu ou vestido, porque ele vê suas vestes
espirituais. Deus não procura técnica, bailarinos; Ele
busca corações sedentos.
Depois disso, o Senhor me pediu que fosse para 103 o Ministério do qual faço parte até hoje. Nesse meio 103
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
tempo, estava desesperada para passar no vestibular.
Estudei muito, porque precisava passar em uma fa-
culdade pública e era o meu sonho de infância. Sem-
pre amei estudar e fazer faculdade era tudo o que eu
mais queria em minha vida. Mas chegou o final do ano e
como queria um curso muito difícil, não passei. Sabia
das dificuldades de pagar o cursinho, mas como todos
os meses eu havia recebido milagres para pagar, acredi-
tei que o mesmo se repetiria no ano seguinte. Mas não
foi assim. As portas se fecharam. Não pude continuar.
Então fiz um propósito de jejum e oração com o
Senhor, pedindo, no meu quarto, para que Ele abrisse
as portas na minha área profissional, me desse
direção, que a mão Dele fosse sobre mim e que Ele me
desse sabedoria e discernimento. Essas eram minhas
palavras, que jamais esqueci.
Nesse meio tempo, para não ficar parada, fui
procurar um curso de balé, porque havia recebido
essa instrução no workshop. Fui para Ribeirão Preto,
cidade vizinha. O mais engraçado é que depois que
somei todos os gastos com mensalidade e viagens,
dava para pagar o cursinho. Mas antes de perceber
isso, fui ao reencontro da minha Igreja e no final de
uma ministração fui abraçar o pastor Pedro e ele
começou a dizer: "O Senhor manda lhe dizer que Ele
vai abrir as portas na sua área profissional, que agora
que você está no caminho certo a mão Dele será sobre
você e Ele está lhe dando sabedoria e discernimento".
Fiquei deslumbrada! Eram as mesmas palavras
que usava no meu quarto para orar! Deus é maravi-
lhoso e não nos deixa confundidos! 104 104
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
A partir daí, irmãs de várias Igrejas procuravam
a mim e àa minha irmã para darmos aula. Ajudamos a
formar vários ministérios, para a glória de Deus.
A dança aqui gerou união, não havia disputas. Com
o ministério da Igreja não foi diferente, foi uma
bênção. Deus nos levantou como colunas na Igreja,
como profetas realmente, porque orávamos, interce-
díamos. Sempre entendemos que ministério de
dança é muito mais que dançar ou colocar uma roupa
bonita; é exercer um sacerdócio.
Hoje, a maioria saiu, infelizmente; não é fácil
permanecer no chamado. Muitos abandonaram ao
aceitar o primeiro manjar que o diabo ofereceu, ou
quando receberam a bênção que tanto queriam
namorado, marido, filho, faculdade, trabalho vi
muitos desistirem. Mas chamado é chamado, não dá
pra parar ou abrir mão, independentemente das
circunstâncias, custe o que custar. Hoje, estamos eu e
minha irmã somente. Mas prosseguimos.
Mas voltando à minha história, mesmo assim
não abandonava o sonho de estudar; achava que tinha
que fazer isso de qualquer forma. Tentei de tudo, mas
não conseguia, porque não conseguia entender o
plano de Deus para mim.
Eu e minha família passamos por uma fase
financeira muito difícil, que parecia não ter fim.
Tive que trabalhar no que não queria, mas consegui
voltar ao balé. Fui convidada pela Silvana a fazer o
curso técnico em sua escola e Deus foi me ajudando.
Fazia trufas para pagar mensalidades e despesas de
viagem. Foi difícil, me sentia sozinha, parecia que 105 105
nunca ia conseguir dançar como as meninas de lá,
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
mas não desisti.
Ainda assim, queria ter um trabalho normal,
levava currículos. Mas as portas se fechavam. Até que
um dia Deus usou uma profeta para me falar que Ele
ia abrir portas, mas Ele também ia fechar todas as
que fossem necessárias. E vivi um tempo de portas
fechadas, deserto, mas depois Deus começou a enviar
alunas para mim, até de outras cidades, peguei aula
em creche, escolas... Chorava pelo calor, dava aula em
lugares sem estrutura, ganhava pouco. Perguntava
para Deus, o porquê daquela situação, para que todo
aquele sofrimento; andava a pé de uma escola para
outra, ia a outras cidades de ônibus, enfrentei chuva e
muito calor, sono, cansaço, e ainda algumas feridas
na alma para completar. Mas Deus sempre usou
profetas falando para eu não parar, para eu continuar.
O Senhor me deu cânticos, palavras, e ia seguindo
com meu chamado celebrando festa ao Senhor. No
meu deserto, a Palavra que me sustentava era:
"Alegrei-me nas suas promessas como quem acha um
grande despojo".
Motivos para eu desistir não faltaram, mas a
Palavra de Deus era sempre: "Não desista, creia, eu
vou fazer por você, você está pagando o preço".
Estava muito bem no ministério, mas houve um
tempo em que fui tremendamente ferida, parecia que
aquela dor nunca ia passar, achei que era o fim, as
pessoas foram saindo, desistindo e tudo de uma ma-
neira muito desagradável, achei que era o fim, que ti-
nha sonhado em vão. Estava restringindo o meu cha-
mado às quatro paredes da minha Igreja. 106 106
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Deus até me pediu para eu parar de ministrar
por um tempo, para eu receber e fiquei um ano para-
da. Ajudava somente ministérios de outras Igrejas,
devido ao meu trabalho.
Mas me formei como bailarina, fui chamada
para dar aula na escola em que estudo, o que foi mara-
vilhoso para mim e depois me formei como profes-
sora. Em certo domingo, sonhando com a minha
escola, acordei e entrei na internet, a fim de buscar
informações para tudo o que precisava e dos produtos
de dança que queria vender. Achei o site do Minis-
tério Dança pelas Nações, li sobre a Academia e
pensei: "Preciso conhecer esse lugar". Então vi as
informações sobre a Escola Profetas da Dança, em
Ribeirão Preto, bem nas minhas férias. Falei com meu
marido, meus pastores e fui. Ainda ferida, com receio
e sem querer nada na emoção.
Ficava engolindo cada palavra, sugando o
máximo que podia nas oficinas e fui me abrindo como
há tempos não fazia; fui sendo curada, conseguindo
liberar perdão para a pessoa que me feriu e recebi
muitas palavras. Escrevi tudo, para não esquecer.
Quando voltei já não era mais a mesma. Aleluia!
As palavras se cumpriram, abri minha escola em um
lugar prontinho, Deus foi suprindo minhas neces-
sidades e minha irmã e eu recomeçamos o ministério.
Foi tremendo! As lutas continuaram, estamos sozinhas,
mas no começo deste ano, falei com o Oziel que
queria ir novamente para a escola, mas desta vez com
meu marido, e ele e a Gisela me convidaram para
fazer parte da equipe. Amado, eu chorei de alegria por 107 mais de uma semana! Eu ria sozinha! A minha boca 107
se encheu de alegria e minha língua de júbilo; eram as
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
promessas se cumprindo.
Hoje, eu e meu marido fazemos parte dessa equi-
pe maravilhosa. Sinto-me honrada por ter obedecido ao
Senhor. Deus está mudando nossos planos e ensinando-
nos o foco certo e a nos dispormos mais para a obra.
A faculdade? Se o Senhor quiser que eu faça,
então farei. Demorei, mas aprendi que é Dele que
dependo e não dos títulos desta terra. Entreguei.
Amado, isso é apenas uma pincelada do que
Deus fez por mim, mas creio que muito mais Ele ain-
da fará e nos surpreenderá com Sua graça e Seu amor.
Você, que está lendo este livro, não desista do
seu chamado. Creia, obedeça, siga em frente. Muitos
dos que me questionaram, hoje me apóiam e vêem que
é o Senhor Quem opera em minha vida. Não faltam
portas abertas para glória do Senhor!
A você, deixo esta palavra: "Agindo Deus, quem
impedirá?".
E invista no seu chamado, pague o preço. A
Palavra nos ensina que "aquele que tem habilidade,
adquira entendimento" (Pv 1.5). O Senhor proverá se
você se dispuser. O seu corpo é o seu instrumento e
você precisa conhecê-lo para usá-lo para o Senhor.
Tudo em mim começou porque entendi este princípio
e que precisava aprender mais. Faço o meu melhor,
porque Ele me deu o Seu melhor.
Que Deus o abençoe muito.
108 Carla Char Melo Sampaio 108
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Carla é uma pessoa muito especial, pois vi a
transformação que ela sofreu. Desde que Deus co-
meçou a mexer em sua dança, eu a vi passando pelo
caminho entre a bailarina Carla e essa profeta que
hoje dança ao mesmo tempo com delicadeza e muita
autoridade. Ela e seu marido, Ricardo, são um casal
precioso que tem nos servido com o seu melhor!
Gisela Matos
Rafael Birkholz
Meu nome é Rafael Birkholz. Tenho vinte anos,
sou professor de dança, dou aula de jazz contem-
porâneo; já danço há oito anos e nesse tempo todo em
que danço descubro que não sei nada e tudo o que sei
ainda é pouco; e a cada dia procuro saber mais, para
assim dar ao meu Deus o meu tudo, pois Ele é o motivo
pelo qual danço e pelo qual estou escrevendo isto hoje.
A dança sempre esteve presente em minha vida.
Desde os sete anos já dançava, mas nunca havia pas-
sado pela minha cabeça que um dia poderia me tornar
um bailarino. A dança era minha diversão: dançava
samba, axé, street, forró, músicas gauchescas, mas nada
muito sério.
Após dois anos da minha conversão, o pastor
resolveu introduzir a dança na igreja. Então algo
dentro de mim despertou, uma chama começou a
queimar, e resolvi fazer aula. No início era meio
difícil, mas era preciso passar por essa dificuldade para
poder crescer. Comecei a ministrar na igreja após um 109 ano fazendo aula, orando, jejuando, ensaiando. Pois 109
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
ministério de dança não é sair rodopiando sem
direção pela igreja;, é preciso pagar um preço e eu
precisava entender isso; e esse tempo foi precioso,
pois cresci e aprendi. No início, foi complicado; o
preconceito por conta de um homem dançar era
grande; membros do próprio ministério de louvor
falavam; hoje entendem e já não falam mais e apóiam.
Meus pais muitas vezes disseram para eu desistir, mas
graças a Deus pelo seu propósito para comigo que me
fez ver que eu tinha um chamado: "Antes que eu te
formasse no ventre, te conheci, e antes que saísse da
madre, te santifiquei, e às nações te dei por profeta"
(Jr 1:5). Isso me motivou, e ao meu pastor que sempre
me defendeu. Muitas vezes pensei em desistir, por ser
o único homem, mas Deus novamente me fez ver Davi
quando entrou em Jerusalém e dançou com todas as
suas forças e Mical o desprezou. Muitos estavam
fazendo isso comigo, mas Deus tinha um propósito
na minha vida e me honraria, como fez com Davi.
Isso me motivou a dar a cara para bater e por conta
disso o Pai tem me honrado e muitos homens após
terem me visto dançar, disseram que seus minis-
térios romperam e hoje não têm vergonha e nem
medo de dançar. Deus me deu uma palavra que fala
que Ele me levaria a lugares aonde nunca fui, se
eu o buscasse e entregasse a Ele o meu dom, e eu
seria um canal de bênção para outros homens
despertarem seu chamado.
Eu fiz isso e hoje vejo essa palavra se cum-
prindo. Estou com um ministério fora de série, um
ministério que Deus sonhou para mim e que vai além
de quatro paredes. Glorifico a Deus por isso, pois 110 tenho aprendido muito. Agradeço a Deus por confiar 110
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
a mim este dom e este chamado; aos meus pais, por
acreditarem em mim; aos meus pastores, Dal'Sotto e
Fátima; ao ministério Tabernáculo de Adoradores;
ao meu grande irmão e amigo, Jéferson Zimmer, que
sempre me incentiva e me apóia; e à minha
intercessora, Cláudia, que está sempre disposta.
Obrigado, Gisela e Oziel, e ministério Dança pelas
Nações, que acreditaram em mim e fazem parte desta
história que Deus está escrevendo.
Tudo o que sei deve-se a Deus que me capa-
citou e ao esforço que fiz e faço para dar a Ele o meu
melhor, pois como diz Davi: "Não oferecerei ao
Senhor holocaustos que não me custem nada".
Rafael Birkholz
Rafael está há dois anos com a nossa equipe.
Agradeço a Deus pela vida dele. Ele é muito talentoso,
mas tem colocado tudo isso nas mãos do Senhor!
Gisela Matos
111 111
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Simone Galdino Dias Hermoso
Quando menina, meus pais me matricularam
em uma escola de dança. Aulas técnicas muito rígidas
e um treinamento bastante sério e disciplinado
fizeram parte do meu crescimento. A dedicação e o
esforço são marcas de uma bailarina. Cresci e me
formei como bailarina profissional, até que um dia
fiquei muito doente com labirintite e os médicos dis-
seram que se eu não me cuidasse nunca mais poderia
dançar. Entrei em pânico e fiz de tudo, mas a labirintite
nunca passou, apenas estabilizava. Acabei a facul-
dade e me casei em 2000. Com a correria do dia-a-dia,
problemas diversos começaram a acontecer. Não sei
explicar, mas a única coisa que me lembrei foi de
minha amiga Verônica, de cinco anos de faculdade,
que falava de Jesus para mim. Então, em 2002, decidi
ir à igreja dela para ver se conseguia resolver uma
monte de problemas.
Lembro-me que no início fiquei muito preocu-
pada, pois não queria deixar a dança e a minha luta
interior foi muito grande. Estava disposta a seguir este
Jesus mas ainda ficava em dúvida em relação à dança.
Vi que na Igreja dela havia umas meninas que
dançavam, mas logo critiquei pois não via a mesma
dedicação das minhas aulas durante tantos anos.
Confesso que quando procurei Jesus, fui atrás
da bênção e não do Abençoador, mas para minha
surpresa me apaixonei por Cristo. No início, escolher
entre participar dos espetáculos da companhia e
dançar na igreja foi uma luta muito grande dentro da
minha alma. Entender que os aplausos não eram mais 112 para mim, que os aplausos não eram mais uma recom- 112
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
pensa pelo meu suor e dedicação, foi muito difícil, mas
estava realmente disposta a me entregar a este Jesus,
pois tinha fome da Palavra. Fiz uma escolha, deixando
o grupo de dança de que participava para dedicar
tudo o que tinha aprendido a Jesus. Dediquei-me a
aprender mais de Cristo e por incrível que pareça
quando danço para Ele não sinto mais as tonturas da
labirintite que sentia antes. Glória a Deus!
Nesse período, fiquei sabendo da Escola Pro-
fetas da Dança, em Mauá/SP, 2005; e quando percebi
já estava lá, vendo a Gisela, a Duda, o Hebert e toda
equipe ministrando. Apesar de já estar na igreja havia
mais ou menos dois anos dançando e dirigindo o
ministério de dança, fui à escola cheia do meu "eu do
saber", cheia da minha "técnica soberana"; e Deus me
quebrou inteira. Ao ver a Duda ministrando pensei:
"Essa moça deve ter anos de aula em contemporâneo
profissional; como ela dança bem!". Ao descobrir que
tudo o que a Duda sabia de dança foi Deus quem lhe
ensinou, entrei em choque. Isso não é possível!
No momento em que vi a Gisela subir dan-
çando no altar, parando, levantando seu olhar para o
céu, dando um sorriso, percebi que ela se expressava
para Deus com muita pureza. O que era aquilo? Que
mistério era aquele, que face de Deus era aquela?
Que dança tão simples e tão linda! Percebi então que
não sabia dançar; senti que toda a minha técnica era
um monte de "nada" e não existia um passo técnico
bem formado que eu fizesse, em minha grande sabe-
doria ridícula, que poderia alcançar a glória de Deus.
Então me rendi e disse para Deus que gostaria 113 113
de aprender a dançar daquela forma, como uma
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
adoradora, com um coração verdadeiro. Eu me
rendi e confessei a Deus todo o meu orgulho de ser e
acontecer. A presença de Deus na vida da Gisela me
ensinou mais do que qualquer técnica de dança.
Hoje, entendo que tenho que continuar me
dedicando e treinando com muito mais zelo e dis-
ciplina, pois esta é a parte que cabe a mim; mas
também entendo que hoje danço para que as pessoas
vejam a face de Deus, sendo abençoadas em cada
movimento. Hoje, meu desejo não é mais dançar em
palcos pois descobri os altares do Senhor, onde a Luz
é mais forte, onde o Amor é mais intenso, onde pesso-
as podem ser curadas, onde o melhor movimento é
estar prostrada, esvaziando-me para que a graça de
Deus brilhe e transborde.
Certa vez, decidi fazer um curso de jazz inter-
mediário aqui em São Paulo, com a verdadeira
intenção de me exercitar e aprender algo novo para
usar nas ministrações e pude ver homens e mulheres
que dançavam numa perfeição técnica surpreen-
dente. Dentro de mim, eu dizia: "Meu Deus, como eles
dançam bem!, É muito lindo e perfeito! E a expressão
deles é muito intensa e bonita também; como eu
queria dançar assim...". Ops! Na hora, em segundos,
o Espírito Santo sussurrou: "Olhe bem isso, Simone;
olhe bem esses movimentos, olhe bem essa expressão,
pois é MORTO, é tudo MORTO, está MORTO, são mo-
vimentos MORTOS". No mesmo instante estremeci
e tudo aquilo que aos meus olhos reluzia como ouro e
beleza transformou-se em esqueletos mortos fazendo
movimentos egocêntricos e inúteis. Fechei os olhos 114 e mais uma vez pedi perdão a Deus. Mas Ele dizia: 114
"Abra os olhos e veja, e nunca esqueça disso. Agradeci
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
mais uma vez por Sua misericórdia e por me fazer ver
o mundo espiritual como realmente é; como somos
feios por dentro, quando temos um talento egocêntrico,
se este talento não for usado para honra e glória do
Autor dos talentos. Por isso, todos nós que atuamos
na arte devemos vigiar e orar em todo o tempo e lugar
(até em uma sala de aula), ser astutos como a serpente
(para fugir da aparência do mal) mas simples como
a pomba.
Hoje, entendo que meu talento não visa aplau-
sos dos homens, mas busca a manifestação da glória
do Senhor, curando e libertando vidas com uma dan-
ça que vem do Coreógrafo Maior, Jesus. Louvo a Deus
por fazer parte deste ministério tão abençoado, com
alegrias, gargalhadas, muita unção, suor e muitas
lutas, pois hoje minha vida não é minha, mas de
Cristo.
Agradeço a Deus por me dar a honra de poder
fazer a obra DELE com a dança. Jesus, eu Te amo;
minha vida é tua.
Simone Galdino Dias Hermoso
Simone está conosco há três anos. Ela é uma
pessoa muito especial, profissional competente, tanto
na dança quanto na profissão em que atua, como
gerente de markenting. Esforçada e agitada, não
pára. Quando estamos juntas, então, é uma festa!
Gisela Matos
115 115
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Ludmila Nunes Leão
Meu nome é Ludmila Nunes Leão. Nascida em
Belo Horizonte, tenho vinte e quatro anos e o que mais
amo nesta vida é dançar para o Senhor!
Eu me converti em setembro de 2004 e sou a pri-
meira de toda a minha família a se render aos pés de
Nosso Pai. Formei-me como bailarina em dezembro de
2002 e em janeiro de 2007 me formei em educação física.
Eu tinha apenas quatro anos de idade quando
um médico ortopedista me encaminhou para o balé,
devido a um problema nos pés. Mal sabia eu que este
era o começo do dedilhar da música que Deus havia
escrito para minha vida.
Cresci bailando, sendo encaminhada para os
melhores grupos e escolas de dança da época, consi-
derada como um grande talento. Com apenas dez anos
de idade já havia alcançado o tão sonhado estágio das
sapatilhas de ponta!
Então aos doze anos de idade, me indicaram
para uma prova de seleção para o Cefar, Centro de
formação artística da Fundação Clóvis Salgado,
Palácio das Artes. Passei de primeira nas três provas
que foram aplicadas. Assim, comecei a trilhar o meu
dom como carreira profissional: a dança!
Nessa escola pude aprender e experimentar as
mais diversas técnicas de dança: balé clássico, balé
moderno e contemporâneo, dança folclórica e outros.
Pude também me aperfeiçoar com conhecimentos to-
talmente aplicados à dança, como anatomia humana, 116 teatro, música, história da dança e vários outros. 116
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Nem imaginava que tudo isso foi preparado por
Deus para mim antes mesmo de ser formada no
ventre da minha mãe. Sempre pense em sua vida como
uma grande obra, cujo personagem principal é você,
mas o Autor, com sua tremenda perfeição, é quem faz
o que quiser dela.
No ano de 2002, chegava ao término do pe-
ríodo de profissionalização naquela escola, mas todos
os meus sonhos haviam sido frustrados (tempora-
riamente). Por quê? Eu havia conhecido a arte em
sua perfeição, pois foi criada por Deus (Tg 1.17), mas
também conheci o homem, em sua plenitude, e o lado
obscuro que existe dentro dele quando age por si
mesmo. Por causa de certas situações e decepções,
jurei a mim mesma que nunca mais dançaria!
Foi justamente nesse momento que o Autor da
minha história resolveu se revelar. Num momento
crítico dentro de mim, em que tudo parecia perfeito e
feliz superficialmente, havia um vazio que só foi
preenchido quando ouvi a voz do Espírito pela
primeira vez. Não consegui me conter e em menos de
um mês estava totalmente rendida aos pés do Senhor
Jesus, quebrando todos os paradigmas religiosos,
sentimentais, emocionais, que existiam dentro de mim
e me tornavam uma pessoa que achava que poderia
sonhar e realizar em sua soberba seus próprios sonhos.
Em sua infinita sabedoria, Deus me permitiu
permanecer por um período de um ano em uma Igreja
cristã tradicional, e somente depois do processo de
consolidação e cura, me enviou para uma Igreja batis-
ta na qual o ministério de dança e sua líder já sabiam 117 117
da minha história e me esperavam de braços abertos.
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Ainda não entendia, e para falar a verdade, não
queria este chamado para mim, pois as lembranças
ainda eram fortes. Foi então num belo sábado de
novembro que fui convidada pelo grupo para ir a um
encontro de ministérios de dança, no qual a palavra
ministrada era: 2 Sm 6.14: "Davi dançava com todas
as suas forças...". A voz do Espírito disse bem forte
dentro do meu coração: "Filha, quero que dance para
mim. Eu te fiz para dançar para mim".
Naquele momento abandonei todas as resis-
tências contra dançar e resolvi louvar ao Deus da
dança com tudo que sou e o que tenho, como Davi. No
mesmo mês, me batizei e mergulhei nos ensaios
daquele ministério e até hoje procuro fazer o que Deus
espera de um verdadeiro adorador.
O que mais me deixa constrangida é que mesmo
Ele tendo construído toda esta trajetória, a cada passo
que dou em direção a Ele, em busca de dançar por
Ele e para Ele, em total intimidade com Ele, mais Ele
derrama danças do céu sobre mim.
O que tenho a dizer a você é: vale a pena se
entregar cada dia mais!
Ludmila Nunes Leão
Ludmila foi aluna de nossa Escola Profetas da
Dança. Neste ano de 2008, trabalha conosco como
professora em nossa academia.Uma pessoa simples
que Deus tem transformado a cada dia.
Gisela Matos 118 118
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Superando limites
Enfrentando barreiras
Obedecendo e crendo
Duas histórias de vida
De pessoas que decidiram
Que Deus podia fazer delas
Profetas da Dança
Mesmo quando não sabiam
Como dançar
Mas com seus corações
Totalmente movidos e guiados
Pelo Deus que faz caminhos
No deserto de vidas
Sofridas e desacreditadas
Mas por Ele amadas
Aprenderam a dançar
Uma dança que vai além de movimentos
Professoras hoje são
Ensinando por esta e outras nações
Enfim...
Superando limites
119 119
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Letícia Souza Barros
Você precisa ser forte? Ele é o Todo-poderoso.
Precisa ser sábio? Ele criou a sabedoria. Precisa de cura?
Ele é o bálsamo. Necessita de uma direção? Ele é o
próprio caminho. Deseja ser amado de uma maneira
sincera, por alguém que consiga sentir seus senti-
mentos? Então eu tenho uma pergunta para fazer. Que
amor poderia ser maior do que o do sangue derra-
mado, declarado em público, assumindo o nosso
opróbrio e a nossa derrota, para que você e eu pu-
déssemos viver?
O que mais um Deus infinito poderia realizar
em sua vida...
Minha família não tinha condições financeiras
para que eu pudesse me vestir direito e só não
faltavam à mesa arroz, feijão, pão e café. O chão da
minha casa quase sempre era barro e lama, comple-
tamente descolado do assoalho. Quando chovia, a
poeira proveniente dos tacos soltos se misturava à
água que entrava pelos buracos do teto. E olha que
esta é apenas uma pequena parte da história, que
neste aspecto se repetiu por catorze anos. Passei
a infância, a adolescência e a juventude em um
ambiente de privações físicas e emocionais e a minha
maior vocação era ser um zero à esquerda.
Explicar com palavras a maneira poderosa como
Deus agiu em minha vida (isto inclui a dança) é uma
tarefa muito complexa, mas o engraçado é que o
motivo desta dificuldade existir é de uma beleza 120 120
extrema. O fato é que Deus é perfeito em todos os Seus
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
caminhos; Ele é absoluto, completo, e eu pude sentir
isso na minha carne. Palavras não seriam suficientes,
em si mesmas, para expressar a nobreza da obra de
um Deus perfeito em seres repletos de deformidades,
mas tudo bem, vou me arriscar.
Durante a nossa história (chamo assim porque
na verdade a minha história de vida se confunde com
o momento em que Deus entrou nela) o Senhor nunca
foi um personagem que, posando de bom moço, cum-
pria um papel na minha existência aparecendo do
nada de vez em quando para me dar uma ajuda ou
bons conselhos. Ele estava lá a cada instante; e posso
afirmar que comemos quilos de sal juntos. Os mo-
mentos mais críticos e difíceis que passei acabaram por
se tornar elementos desencadeadores de uma paixão
profunda por Deus.
Tribulações e experiências vivas do amor de
Deus caminharam juntas durante minha vida.
Quando tinha apenas sete anos de idade, o Senhor
implantou um chamado real na minha vida ainda
muito curta. Durante a pregação de uma missionária
que visitava minha igreja, o Senhor despertou meu
coração para levar seu amor a outras nações. O
próprio Deus cativou minha alma nas palavras
daquela mulher, que testemunhava em meio ao
pranto, como era magnífico servir a Deus. Ela relatou
episódios de escassez, humilhações, vitórias, fé, supe-
ração e plenitude de vida. Eu não passava de uma
criança, mas uma vontade perpétua de estar com
aquele Deus, tão cheio de amor e de paixão, arrebatou
a minha alma. Naquela noite, fiz uma oração que 121 comprometeu o restante da minha vida. Pedi para que 121
o Senhor me permitisse ser como aquela missionária,
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
cujo motivo de estar na terra era ser um canal do amor
de Deus para a humanidade. Enquanto orava, tive
como que uma visão de Jesus entrando no meio da
igreja e foi uma experiência extraordinária que me
trouxe grande alegria. Pobre de mim. Com pouca
experiência de vida, diante de toda aquela glória, não
percebi que aquela era a ponta de um iceberg gigan-
tesco e eu ainda teria que comer muito sal (com Jesus)
aos poucos e a seu tempo.
Difícil de entender uma escolha tão profunda
ainda na infância, não é mesmo? Em inúmeros
momentos eu mesma duvidada com toda sinceridade
do meu coração. As violências sofridas, dificuldades
financeiras, fraquezas emocionais, problemas e mais
problemas. Minha vida parecia ser um círculo vicioso
de derrotas. Como única cristã da família, vivi aquilo
tudo praticamente sozinha, suportando um peso espi-
ritual maior que eu. Minha "sorte" é que Deus é maior
que a própria vida e me sustentou em tudo. Posso
concordar literalmente com o amigo Davi quando disse
que para Deus até as trevas não são escuras. Mesmo
diante de todas as maldições que me cercavam e erros
que cometi por causa da minha humanidade, Deus
focou seus olhos no meu coração que o amava. Muitas
pessoas me olhavam como se eu fosse uma caverna
escura, mas o Senhor estava produzindo um jardim
para seu proveito, em um ambiente silencioso e de
lágrimas.
A minha relação com as artes não foi mais fácil
do que em outras áreas da minha história. Cultivei
desde a infância o sonho de ser bailarina, mas na 122 época minha família lutava para se alimentar e balé 122
era coisa de gente rica. Dançar ardia em meu coração
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
e com dez anos de idade perguntei à minha mãe se eu
poderia vender chup-chup na rua para pagar aulas de
dança. Fiz até as contas de quantos precisaria vender
para conseguir a mensalidade. Minha mãe sorriu e nem
me respondeu; afinal, era uma idéia absurda, moti-
vada por um sonho "passageiro". Esse amor pela
dança até hoje é um mistério para mim. Minha mãe
conta que certa vez, ao entrar na sala de casa, ela se
deparou comigo dançando sozinha, sem música e
eu tinha apenas três anos! Ela conta que eu me abaixa-
va, levantava os braços e girava. É claro que eu não
me lembro dessa ocasião e nem quando começou esta
paixão pela dança. Só me recordo que ao ver uma
bailarina dançar, meu coração parecia dançar junto
com ela.
Quando cursava a quarta série, comprei num
bazar uma sapatilha de ponta, quebrada, só para ter o
prazer de vê-la no pé. É claro que nunca a usei e logo
vi que foi uma bobagem, mas na sexta série, todos os
dias, quando voltava da escola, passava em frente a
uma loja e namorava uma caixinha de música. Era um
porta-jóias musical que tinha uma bailarina que dan-
çava enquanto a música tocava. Pelo menos uma vez
por semana eu entrava na loja e perguntava o preço. É
óbvio que nunca comprei o bibelô e ficou só na vonta-
de, que passou junto com adolescência. Quando me
tornei jovem, precisei trabalhar e estudar e no momento
em que poderia custear as aulas os horários das aca-
demias nunca batiam com a minha disponibilidade.
Ao me tornar adulta, acabei por mudar para
outro estado e conheci a Gisela e o Dança pelas Na- 123 ções. Ela foi a minha primeira professora de balé e nem 123
imaginava que eu havia esperado vinte e dois anos
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
por uma aula. Sei que parece um assunto tolo, uma
esperança medíocre, mas nunca consegui parar de
sonhar com essa arte. Afinal, do que somos feitos, além
de esperanças?
Confesso que o tempo e a espera me trouxeram
muitos problemas e frustrações, que aliados a outras
situações de derrota, abriram lacunas em minha vida.
Hoje, entendo que as dificuldades tornaram meus
sonhos completos em Deus. Quando fiz a primeira aula
de dança, eu nem podia acreditar; foi sublime. Queria
aprender tudo, fazer o melhor, e apesar de já ter o
corpo endurecido por causa do tempo, mesmo com
as dores dos alongamentos, sentia como se aqueles
fossem doces momentos. Essa situação pode parecer
cruel, mas pra mim é perfeita e agradável. Na ver-
dade, Deus me revelou o melhor da festa.
A Gisela me ensinou tandis, piruetas, alonga-
mentos e tudo mais em relação à dança, mas, além da
técnica, através dessa irmã e da perseverança nas tri-
bulações, recebi o privilégio de experimentar o Deus
da dança, do universo, da vida! O emaranhado de
diversidades tornou-se peças de um quebra-cabeças
em que Deus foi ordenando uma por uma. Aprendi
coisas preciosíssimas, maiores do que todos os meus
sonhos. Cada ponto desconectado da minha vida foi
se encontrando e em meio ao caos Deus formou meu
caráter.
Deus se revelou em cada pessoa que me esten-
deu a mão e o que poderia ser interpretado simples-
mente como "integrantes do ministério" tornaram-se
irmãos, parceiros e amigos, pelos quais tenho admi- 124 124
ração e respeito. Pude sentir o milagre de aprender
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
em dois anos técnicas que talvez aprendesse em cinco.
Conhecer o tempo da música, sustentar o
corpo, girar, adquirir expressão corporal e ser criati-
vo, para muitos pode ter sido um processo comum,
mas para mim foi genuinamente especial. A dança tem
um lugar único nos meus sentimentos. Quando elevo
meus braços, elevo junto o meu coração. Quando
salto, deixo que meu espírito vá completamente, pre-
so aos olhos de Deus. Tudo se torna oração. Por isso na
dança me alongo tanto e me curvo, ou giro, ou me
prostro;, é porque de alguma forma, do mais corriquei-
ro ao mais complexo dos gestos, na verdade, o que me
impulsiona a fazê-los é a tentativa de chamar a aten-
ção de Deus e, claro, para agradecer-Lhe. Quando
danço, cada célula do meu corpo celebra, em uma
explosão de sentimentos, a altura, a profundidade, a
largura do toque de Deus em meu ser. Coisas que nem
o melhor dos estúdios de dança poderia ensinar.
Como disse no início, não é fácil descrever a
amplitude das obras de Deus e este texto é só uma som-
bra de tudo o que Ele fez em minha vida. Atualmente,
cinco anos depois de dar os primeiros passos técnicos
de dança, Deus abriu portas em uma academia de balé
muito bem conceituada de Belo Horizonte. Não
disse? O Senhor é completo! Vai entender... Se anali-
sarmos os fatos, Deus me mostrou que Ele não de-
pende de homens renomados para ensinar, enviando
uma filha fiel, simples e muito talentosa como a Gisela,
para me treinar de uma maneira excelente. Agora,
estou em uma sala de bailarinos excepcionais, e veja
só, estou conseguindo acompanhar o ritmo deles. 125 125
A multiforme graça de Deus regando a vida do
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
cristão, quando esse decide depender do Deus vivo!
Esta é a mensagem que gostaria de colocar. Não quero
dizer que uma pessoa que tinha a dança como um
ídolo, vivia em um pedestal, por que é ou foi o maior
bailarino do mundo, não possa ser um ministro de
dança usado por Deus. Algumas vezes me pergunto
por que cargas d'água Jeová usou esses caminhos para
tratar a minha vida. Respondo: somos únicos e Ele
quebranta um por um, faz a dedo mesmo; e é óbvio
que não seria igual para todos. O ponto que gostaria
de chegar é na onipotência de Deus e em seu zelo por
nós. Verdadeiramente, não importa quem fomos ou
somos. Se ricos ou pobres, mestres, aprendizes, fracos
ou altivos. Importa, sim, quem Deus é e em qual de
Seus sonhos Ele vai realizar nossas vidas.
Letícia Souza Barros
Letícia está há cinco anos na equipe. Atriz
profissional, enfermeira, hoje graduando-se em jorna-
lismo, é uma pessoa extremamente criativa, única,
sempre serva ela me serviu durante um ano em minha
casa; apesar de ter sido chamada para trabalhar em um
bom hospital na época, ficou comigo no período em que
o Israel nasceu. Estávamos ainda nos recuperando de
nossa falência, não tinha condições de pagar uma
pessoa, e ela trabalhou em minha casa; ela simples-
mente descobriu um princípio precioso, o de servir.
Deus a honrou tremendamente. Depois disso, foi
chamada para trabalhar no Hemonúcleo, com um
excelente salário, mas nunca esqueceu o sonho de ser
jornalista e agora graças a Deus está realizando. 126 126
Gisela Matos
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Venuzia Carrara Gomes da Silva Prando
Meu nome é Venusia Carrara Gomes da Silva
Prando, nascida e criada em uma pequena cidade do
interior do Espírito Santo. Dizem que de Colatina não
pode sair muita coisa boa. Em geral para se ter uma
idéia a maior expectativa dos jovens colatinenses é
terminar o ensino médio e trabalhar no comércio da
cidade. Não há variedades de ocupação ou opções de
lazer; tudo se resume em cultivo da terra e criação de
gado e criação de gado e cultivo da terra. As dife-
renças sociais são absurdas e até o hospital público
da cidade é comparado, literalmente, a um açougue.
Os moradores da cidade não têm acesso à arte e
a maior iniciativa em relação a movimentos culturais
na região fica restrita ao "entretenimento", ou seja,
shows musicais.
Em Colatina, os ricos são extremante pode-
rosos e os pobres chegam perto de serem miseráveis,
mas o inusitado disso é que, grosso modo, pobres ou
ricos, eles são igualmente soberbos. A sociedade em
geral é adoradora da própria imagem e superficial,
sepulcro caiado mesmo! As pessoas enxergam apenas
o que está diante dos olhos delas, ou do umbigo, e não
conseguem sonhar, por estarem agarradas a uma
cultura de mediocridade. Tente deixar em um balde,
sem tampa de vedação, uma dúzia de caranguejos.
Nenhum deles consegue sair e todos acabam cozidos
em uma panela! É a vida de caranguejo puxar um ao
outro para o fundo do balde. Normalmente, isso é o
que acontece com algumas pessoas que ousam buscar
algo fora do espírito de miséria espiritual e intelectual 127 que age na vida dos habitantes. É. Não é um mar de 127
rosas, principalmente quando se trata de ministério,
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
um trabalho que não é transcendente (já que exige ação
física para não terminar em teoria), mas é preciso
transcender a carne para receber no espírito. Ima-
ginem colocar em prática essa fé, mas viver em um
ambiente que generalizadamente tem uma auto-
estima baixa. De Colatina não pode sair nada de bom.
Cresci pensando assim.
Minha história pessoal não foge muito à de
várias famílias da região. Meu pai abandonou a mim
e minhas duas irmãs quando eu ainda estava prati-
camente no colo, ainda um bebê. Tenho origem muito
humilde e desde que me tenho por gente precisei tra-
balhar para ajudar minha mãe a colocar comida em
casa e para não ficarmos sujeitas a ser despejadas da
casa alugada. Foram dificuldades enormes eu não
brincava de bonecas e sim de fazer bolos e biscoitos
para vender. Ora lavando, ora passando roupa para
fora, e no meio disso tudo, como se diz por aqui, era
cortada no coro. Apanhei muito, sendo que da última
surra tenho marcas até hoje. Fui castigada com um
moedor de carnes na ocasião, tinha nove anos de idade.
Se medirmos em porcentagens, somando meu
histórico familiar e as possibilidades de ascensão soci-
al que crianças com meu perfil têm, pode-se afirmar
que eu tinha noventa por cento de chances de ser uma
pessoa fracassada em diversas áreas. Deprimida, amar-
gurada, pensando baixo, refletindo todos os maus atos
sofridos. Como havia mencionado, em geral, esse é o
perfil de vários colatinenses. Cresci uma adolescente
sem expectativas, órfã do amor de um pai, e elogiada
pela mãe com palavras semelhantes a inútil, pregui- 128 çosa, dentre outras, que não convém mencionar aqui. 128
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Verdadeiramente, eu não via saída para mim; tudo o
que eu conhecia estava misturado a trabalho duro e
humilhações. Diante disto, posso afirmar com todo o
meu coração que Deus traz à existência uma vida que
nunca existiu, traça um caminho onde não vemos
caminho e faz com que haja paz até em meio à guerra.
O meu grandioso Pai me encontrou no meio de
um deserto de almas. Ele atraiu primeiro o coração
ainda infame da minha mãe. Isto não é lindo? Ele não
atribuiu a ela suas culpas, mas ofereceu o perdão. Ela
começou freqüentar uma igreja no centro da cidade e
eu e minha irmã mais nova começamos a ir com ela.
Recebemos visitas em casa, orações, etc. Eu não gos-
tava muito porque eles falavam de uma coisa que eu
não entendia muito bem. Amor de Deus, perdão e paz.
Eu dizia para mim mesma: como Deus pode dizer que
me ama, mas me deixou passar por tudo aquilo? Eu
não entendia nada; era muito oprimida, mas o estra-
nho, era que ao mesmo tempo me sentia irresistivel-
mente atraída para estar lá e ouvir aquelas palavras
novamente. Comecei a ser freqüente na igreja e a mi-
nha vida nunca mais foi a mesma. Certa vez, em uma
das ministrações de louvor, senti tanta paz naquela
música animada, mas eu estava tão desesperada que
desejei profundamente que aquela paz invadisse o
meu ser não saísse nunca mais. Ao descer aquelas
escadas, entreguei definitivamente minha vida ao
Senhor Jesis. Eu tinha catorze anos de idade e foi a
melhor decisão da minha vida.
Amém, glória a Deus, Jesus no coração, uma
vida nova pela frente, cheia de sonhos, expectativas, 129 transformações agora vai ser fácil! É. Não foi bem 129
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
assim. Impossível, claro que não, porque agora, antes
de mexerem comigo, teriam que mexer com o Deus do
impossível, mas tive que ter muita fé para conseguir
permanecer. Primeiro minha mãe deixou o evangelho
e minha irmã mais nova engravidou aos quinze anos,
se desviou e ficamos eu e Deus. Fui muito humilhada,
perseguida, esnobada. Muitas lágrimas, incontáveis
lágrimas, que só eu, meu travesseiro e Deus sabíamos.
Não deixei de ir à igreja. Lá era o meu porto
seguro. Digo, o mover de Deus na vida daquelas pes-
soas, o amor Dele derramado sobre mim por meio de
pessoas que não tinham o meu sangue, mas me ama-
vam como se tivéssemos sido gerados no mesmo lar.
Comecei a me relacionar com a Gisela e sua família.
Uma mulher corajosa, cheia de fé e prática em Deus.
Ela não parava; líder dos adolescentes e o Oziel,
presbítero da igreja na época, formaram um grupo de
dança de adolescentes. Eu amava ir à reunião dos
adolescente, aos ensaios do grupo de dança, e ficava
ansiosa para ir ao culto de domingo. Recebi um
cuidado muito especial: a Gisela, principalmente, foi
uma mãezona. Sua determinação sempre me causou
admiração; sua atitude diante do senhor me ensinou
que vale a pena sonhar os sonhos Dele, e ao entregar
suas sapatilhas inspirou a muitos a sacrificarem-se
por amor a Deus e ao Seu Reino!
Tenho doces lembranças do tempo em chegá-
vamos mais cedo à igreja e orávamos, dançávamos,
até sem música, em meio a uma presença tão linda
de Deus. Unção fresca e suave no lugar secreto.
Ali mesmo, onde só Deus pode nos ver, Ele implantou 130 em mim o caráter de um adorador. 130
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Precisaríamos de mais um livro para falar de
tudo o que Deus realizou em nossas vidas, seus feitos
e maravilhas. É por isso que todas as vezes que danço,
celebro as lutas, as conquistas e a vergonha de satanás
que tentou me prender no fracasso. Hoje, tenho algo
para mostrar à sua tentativa. Em um lugar de vazio
emocional, Deus trouxe sentimentos preciosos. Em um
ambiente seco de criatividade e instrução, Deus
derramou Seu Espírito criativo, capacitou meu corpo
físico para ensinar a outros que como eu viveram
longe das maravilhas de produzir e conhecer arte. Eu
poderia ter permanecido escondida no sentimento de
depressão, mas quando Deus falou comigo: "Lázaro,
vem pra fora", deixei para trás as ataduras das
minhas feridas e confiei no chamado que Ele tem
para seus filhos. Deus usa as coisas loucas deste
mundo para confundir aos sábias! Eu jogava handboll
e hoje sou professora de balé clássico. Vai entender o
Senhor Jesus! Ele é muito lindo mesmo. Quando tinha
cinco anos de idade, sonhei que ia viajar de avião. Para
a minha realidade, isso era uma piada. Aos vinte, fiz
minha primeira viagem de avião para Belém do Pará,
para ministrar em um congresso de dança.
As pessoas disseram que eu não seria nada, mas
eu digo que sou o que a Bíblia diz que sou; eu sou o
que Jesus diz que sou. Aos dezessete anos, conheci meu
marido e aos dezenove anos nos casamos. Hoje, aos
vinte e cinco, tenho uma filha linda e posso afirmar
que sou completa e extremamente feliz. Recebi um
chamado para levar o evangelho a todas as nações; já
pisei em quase todos os estados brasileiros e sei que
Deus me levará às nações para dançar sobre as injusti- 131 ças dos povos. Deus, que me resgataste do império das 131
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
trevas para o reino da Tua maravilhosa luz, eu Te amo,
Senhor, razão da minha vida. Amo dançar para ele com
tudo o que há em mim, com todas as minhas forças.
Eu dançarei até os confins da terra, se for preciso. Nin-
guém, mas ninguém mesmo, vai me segurar!
Venuzia Carrara Gomes da Silva Prando
Duda é filha, companheira, amiga. Cami-
nhamos juntas há treze anos, literalmente de mãos
dadas. Passamos vales, desertos e lutas juntas, mas
temos vivido juntas os sonhos de Deus. Professora de
balé clássico, atua em uma academia e em um projeto
da prefeitura de sua cidade.
Gisela Matos
132 132
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Palavras finais
Tudo o que você leu neste livro, mais do que
palavras, são fatos que falam por si sós. Entendi que
era o momento certo para publicar estas histórias, pois
nós que ministramos ao Senhor devemos entender o
princípio de sermos servos e adoradores antes de tudo.
Artistas com o coração totalmente voltado para
o Senhor, entendendo o seu papel no Reino e desem-
penhando esse papel da melhor forma possível. Sem
radicalismos, apenas na liberdade do Espírito Santo
de Deus, fluindo e liberando a Palavra de Deus,
através das artes.
Eu me converti através de uma canção; temos
testemunhos de pessoas que foram curadas, libertas,
se converteram e assim temos caminhado levando o
fogo de Deus pelas nações da terra.
Espero que sua vida tenha sido edificada e que
o Espírito Santo tenha ministrado ao seu coração.
As artes podem ser instrumentos nas mãos de
Deus. Basta que você tenha a disposição de entregar
seu dom nas mãos de Deus, de ser um vaso nas mãos
Dele, um vaso de honra.
133 Quando nos colocamos por inteiro nas mãos de 133
Gisela Matos
Quando Deus me pediu as sapatilhas
Deus, com nossa mente, nosso coração, nossa alma,
nossas habilidades, somos vasos derramando bálsa-
mo de cura, revelando a pessoa de Deus e mostrando
o caminho da salvação.
Deus abençoe a todos!
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