Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos...

117
H Q a e a n l T Quando os quadrinhos viram série

Transcript of Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos...

Page 1: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

HQ a e an lTQuando os quadrinhos

viram série

Page 2: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – HABILITAÇÃO EM PUBLICIDADE E PROPAGANDA

LIZANDRA QUADROS DE FRANCESCHI

HQS NA TELA: QUANDO OS QUADRINHOS VIRAM SÉRIE

CAXIAS DO SUL 2016

Page 3: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

1

LIZANDRA QUADROS DE FRANCESCHI

HQS NA TELA: QUANDO OS QUADRINHOS VIRAM SÉRIE

Monografia de Conclusão do Curso de Comunicação Social, habilitação em Publicidade e Propaganda da Universidade de Caxias do Sul, apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel. Orientador (a): Prof. Dr. Ivana Almeida da Silva

CAXIAS DO SUL

2016

Page 4: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

2

LIZANDRA QUADROS DE FRANCESCHI

HQS NA TELA: QUANDO OS QUADRINHOS VIRAM SÉRIE

Monografia de Conclusão do Curso de Comunicação Social, habilitação em Publicidade e Propaganda da Universidade de Caxias do Sul, apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel. Aprovado (a) em: ____/____/2016.

Banca Examinadora

_________________________________

Prof. Dr. Ivana Almeida da Silva Universidade de Caxias do Sul – UCS

_________________________________

Prof. Me. Eduardo Luis Cardoso Universidade de Caxias do Sul – UCS

_________________________________

Prof. Me. Myra Adam de Oliveira Gonçalves Universidade de Caxias do Sul – UCS

Page 5: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos os que me acompanharam ao longo destes anos de estudo.

Devo reconhecer o esforço de todos os docentes na minha caminhada de formação

acadêmica, assim como o apoio dos colegas, amigos e familiares.

Quero agradecer, em especial, àqueles que incentivaram e estiveram

presentes durante o processo de construção deste trabalho de conclusão de curso,

ao qual dediquei grande parte de meu tempo.

Agradeço a minha orientadora, Ivana Almeida da Silva, que me orientou com

carinho e dedicação ao longo desse semestre.

A todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, o meu

muito obrigada.

Page 6: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

4

“Sonhos nos salvam.

Sonhos nos elevam e nos transformam (...)”

Superman

Page 7: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

5

RESUMO

O tema deste estudo é a transposição narrativa das histórias em quadrinhos do gênero de super-heróis para o formato de série televisiva, evidenciando as diferenças e semelhanças encontradas em cada um desses meios. O conceito principal utilizado como base para este trabalho foi a Remediação. No desenvolvimento do mesmo foi utilizado o método da pesquisa bibliográfica, a fim de auxiliar a entender questões mais amplas como: a origem dos super-heróis na mitologia e as suas diferentes Eras – Ouro, Prata, Bronze e Moderna; a definição e a história dos quadrinhos, além de os elementos principais que compõe sua narrativa. Outro método selecionado foi a análise de imagem que foi utilizada para comparar as séries escolhidas e suas respectivas histórias em quadrinhos. Para cada série foi determinado um aspecto diferente a ser analisado. O propósito deste estudo é identificar os diferentes recursos utilizados na transposição das histórias em quadrinhos para as séries de televisão.

Palavras-chave: História em quadrinhos. Super-heróis. Séries. Televisão.

Page 8: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

6

ABSTRACT

The main theme of this study is the narrative transposition of the superhero comics to the television series, showing the differences and similarities found it in each one of these means. The main concept that was used as basis to this study was Remediation. In the development of this study was used the bibliographic research method to understand bigger questions like the superheroes’ origins in mythology and their many Ages such as Golden, Silver, Bronze and Modern. Also the definition of comics, its history and the main elements that are part of the comic’s narrative. Another method that was chosen was the image analysis that was used to compare the chosen series and their comic books. To each series was determined a distinct subject to be analyzed. The purpose of this study is to identify the many resources used to transpose the comic books into television series. Keywords: Comics. Superheroes. Series. Television.

Page 9: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

7

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Símbolo de devoção ................................................................................. 18

Figura 2 – Histoires en Estampes ............................................................................. 20

Figura 3 – O Menino Amarelo ................................................................................... 21

Figura 4 – O Diário de Anne Frank biografia gráfica ................................................. 23

Figura 5 – Action Comics nº 1 ................................................................................... 30

Figura 6 – Detective Comics nº 1 .............................................................................. 32

Figura 7 – Fredric Wertham ....................................................................................... 34

Figura 8 – Showcase nº 4 ......................................................................................... 36

Figura 9 – Watchmen ................................................................................................ 40

Figura 10 – Balão-fala ............................................................................................... 44

Figura 11 – Balão-pensamento ................................................................................. 44

Figura 12 – Balão-cochicho ....................................................................................... 45

Figura 13 – Balão-berro ............................................................................................ 45

Figura 14 – Balão-trêmulo ......................................................................................... 45

Figura 15 – Balão-vibrado ......................................................................................... 46

Figura 16 – Balão-de-linhas-quebradas .................................................................... 46

Figura 17 – Balão-glacial ........................................................................................... 47

Figura 18 – Balão-uníssono ...................................................................................... 47

Figura 19 – Balões-intercalados ................................................................................ 48

Figura 20 – Balão-mudo ............................................................................................ 48

Figura 21 – Balão-zero ou ausência de balão ........................................................... 49

Figura 22 – Balões-duplo .......................................................................................... 49

Figura 23 – Balão-composto ..................................................................................... 50

Figura 24 – Balão-sonho ........................................................................................... 50

Figura 25 – Balão de apêndice cortado ..................................................................... 51

Figura 26 – Balões-especiais .................................................................................... 51

Figura 27 – Manuscrito medieval .............................................................................. 61

Figura 28 – Exemplo de página dominical ................................................................ 63

Figura 29 – Exemplo de Tira de Jornal ..................................................................... 63

Figura 30 – Exemplos de Fanzine ............................................................................. 64

Figura 31 – Exemplo de Revista Periódica ............................................................... 65

Figura 32 – Exemplo de Graphic Novel ..................................................................... 66

Page 10: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

8

Figura 33 – Exemplo de manual didático .................................................................. 67

Figura 34 – Exemplo de Storyboard .......................................................................... 68

Figura 35 – Exemplo de Vídeo BD ou BD Clip .......................................................... 69

Figura 36 – Cena do filme Sortie de l'usine Lumière à Lyon. .................................... 70

Figura 37 – Nick Carter: Le roi des déctectives ......................................................... 73

Figura 38 – Flash Gordon (1936) .............................................................................. 74

Figura 39 – Série Batman (1966 – 1968) .................................................................. 75

Figura 40 – Bruce Wayne na HQ .............................................................................. 82

Figura 41 – Bruce Wayne no série ............................................................................ 83

Figura 42 – Jim Gordon na HQ ................................................................................. 86

Figura 43 – Jim Gordon na série ............................................................................... 86

Figura 44 – Capa dos quadrinhos de Supergirl ......................................................... 90

Figura 45 – Abertura da série Supergirl .................................................................... 91

Figura 46 – Transformação de Barry Allen nos quadrinhos ...................................... 96

Figura 47 – Transformação de Barry Allen na série .................................................. 97

Figura 48 – Green Arrow nos quadrinhos ............................................................... 102

Figura 49 – Green Arrow na série ........................................................................... 103

Page 11: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

9

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11

1.1 METODOLOGIA .................................................................................................. 13

2. HISTÓRIA EM QUADRINHOS ............................................................................. 16

2.1 CONCEITO E BREVE HISTÓRIA DOS QUADRINHOS ..................................... 17

2.2 HISTÓRIA EM QUADRINHOS DE SUPER-HERÓIS .......................................... 24

2.2.1 Os Mitos e os Heróis ...................................................................................... 25

2.2.2 Era de Ouro ..................................................................................................... 28

2.2.3 Era de Prata .................................................................................................... 35

2.2.4 Era de Bronze ................................................................................................. 37

2.2.5 Era Moderna .................................................................................................... 39

3. HISTÓRIA EM QUADRINHOS DO PAPEL E ALÉM ............................................ 42

3.1 HQ: ELEMENTOS DE SUA LINGUAGEM .......................................................... 42

3.2 HQ ALÉM DO PAPEL ......................................................................................... 55

3.2.1 Manifestações Midiáticas das HQs ............................................................... 62

3.3 HQ E SÉRIES: OS QUADRINHOS NA TV .......................................................... 71

4. ANÁLISE ............................................................................................................... 79

4.1 GOTHAM – PERSONAGENS ............................................................................. 81

4.2 SUPERGIRL – ABERTURA ................................................................................ 88

4.3 THE FLASH – EFEITOS VISUAIS ...................................................................... 94

4.4 ARROW – SEQUÊNCIA .................................................................................... 100

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 107

6. REFERÊNCIAS ................................................................................................. 110

Page 12: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

10

Page 13: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

11

1. INTRODUÇÃO

As histórias em quadrinhos1 existem há muito tempo. A data exata de sua

origem não pode ser determinada, porém, sabe-se que são mais antigas do que

imaginamos. Alguns estudiosos do tema acreditam que as antigas pinturas rupestres,

feitas pelos homens pré-históricos, já poderiam ser consideradas uma forma de

expressão rudimentar do que viria a ser, posteriormente, os quadrinhos que

conhecemos.

Desde sua origem os quadrinhos foram sofrendo diversas alterações ao longo

dos anos, aprimorando-se e adaptando-se aos novos modelos de sociedade. Essas

mudanças ocorreram, especialmente, em sua estrutura. Enquanto no passado os

quadrinhos eram encontrados apenas em papel, hoje em dia aparecem nos mais

variados formatos e mídias. Dentre essas transposições é importante ressaltarmos o

meio televisivo.

A televisão é um significativo meio de comunicação da massa, que há anos

domina a preferência do público. A sua programação inclui filmes, novelas, telejornais,

e o mais importante para este estudo, as séries. Há uma grande produção de séries

televisivas – principalmente americanas – que utilizam como base para seus temas

as histórias dos antigos quadrinhos de super-heróis.

Baseando-se nesse cenário esse trabalho busca reunir informações com o

propósito de responder ao seguinte problema de pesquisa: como se configura a

adequação dos quadrinhos de super-heróis nas séries televisivas? A fim de

responder a essa questão, busca-se refletir e comparar, baseando-se em autores e

teorias, como ocorre a transposição do meio quadrinhístico2 para o televisivo,

analisando as diferenças e semelhanças encontradas em cada meio.

1 Segundo Iannone e Iannone (1995), no Brasil as histórias em quadrinhos também são chamadas de HQs, quadrinhos, gibis e revistas em quadrinhos. Para este estudo serão utilizados os termos HQs e quadrinhos.

2 Dos quadrinhos.

Page 14: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

12

Para justificar esse estudo partimos do pressuposto de que há poucos anos

atrás a chamada cultura geek3 não era “bem-vista” na sociedade. Qualquer pessoa

considerada geek ou nerd era, de certa forma, ridicularizada, e até mesmo humilhada.

Porém, num curto período de tempo, houve uma grande mudança cultural, na qual o

movimento nerd cresceu e ganhou força. Hoje, existe inclusive convenções e eventos

específicos para esse público. O que até pouco tempo atrás era motivo de vergonha

para muitos, acabou se tornando motivo de orgulho.

Com essa mudança cultural as histórias de super-heróis, que já existiam há

muitos anos, repentinamente voltaram a fazer parte da mídia. Com base no tema

super-heróis foram desenvolvidas produções cinematográficas, séries televisivas e

até as antigas HQs voltaram a ganhar força no comércio.

Nesse contexto, a proposta desta pesquisa é analisar as diferentes formas

midiáticas que as HQs podem ocupar. Assim, esse trabalho tem como objetivo geral

descobrir o que ocorre na transposição das HQs para as séries televisivas.

Dentre os objetivos específicos estão: estudar a história dos quadrinhos e sua

evolução, analisar os diferentes elementos da linguagem quadrinhística, analisar os

diferentes formatos nos quais os quadrinhos podem ser transformados, buscar um

entendimento do que é um seriado e, por fim, analisar e relacionar histórias em

quadrinhos e séries televisivas.

O trabalho constitui-se, em seu desenvolvimento, em três capítulos. O capítulo

2 traz uma breve passagem pela história dos quadrinhos, além de sua conceituação.

Também são retratadas as histórias de super-heróis, desde sua origem na mitologia

antiga até as diversas Eras que compõe sua narrativa.

No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos

quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens, até

elementos específicos da linguagem quadrinhística, como o balão e as

onomatopeias4. Também é feita uma breve abordagem do conceito de remediação,

3 Sinônimo de nerd. Alguém que se interessa por assuntos tecnológicos, histórias de ficção científica, jogos eletrônicos e outras características da cultura pop. Fonte: Signifcados. Disponível em: <http://www.significados.com.br/geek/>. Acesso em: 12 jun. 2016.

4 É o processo de formação de palavras ou fonemas com o objetivo de tentar imitar o barulho de um som, quando são pronunciadas. Fonte: Significados. Disponível em: <http://www.significados.com.br/onomatopeia/>. Acesso em: 12 jun. 2016.

Page 15: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

13

definição que auxilia no entendimento da evolução e mudança das mídias. É visto no

estudo as diversas manifestações midiáticas dos quadrinhos enfatizando, enfim, as

séries televisivas.

O capítulo 4 traz a análise de HQs e séries televisivas, a fim de aplicar os

conceitos estudados anteriormente, buscando assim a elucidação de nosso problema

de pesquisa.

1.1 METODOLOGIA

O ponto de partida para este trabalho de pesquisa é a pesquisa bibliográfica,

cuja intenção é o levantamento de informações teóricas que servirão como subsídios

para o embasamento da pesquisa. Stumpf (2005 p. 51) acredita que "a revisão

bibliográfica é o planejamento global inicial de qualquer trabalho de pesquisa".

Marconi e Lakatos (2006) atestam que um trabalho com muitas referências não é

considerado um problema, mas sim algo que contribuirá para o bom resultado da

pesquisa.

Gil (2002) acredita que um bom suporte bibliográfico assegura que as

informações coletadas sejam identificadas, simplificando o momento da análise. Para

o autor "a principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao

investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela

que poderia pesquisar diretamente." (GIL, 2002, p. 45).

Desta maneira, na realização deste trabalho que apresenta conhecimentos de

diversas áreas, como comunicação, história e arte, é relevante realizar um cruzamento

de informações entre diversos campos de estudo.

O objetivo central deste trabalho, que envolve descobrir de que forma ocorre a

transposição das HQs para as séries televisivas, necessita também do apoio do

seguinte tipo de estudo: a análise de imagem. A imagem é um elemento fundamental

tanto da narrativa quadrinhística, como da narrativa televisiva, no caso aqui a série.

No senso comum e atual a utilização da palavra imagem, de acordo com Joly

(2007) refere-se, geralmente, à imagem midiática. É aquela que está presente em

nosso dia-a-dia e que criticamos frequentemente, que é de certa forma invasora, e

simultaneamente, parte de nossas vidas.

Page 16: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

14

Sobre a análise de imagem, Coutinho (2005) afirma que é imprescindível

entender as imagens como produtos comunicacionais, em particular aquelas que se

apresentam através dos meios de comunicação de massa- na situação aqui

apresentada: as HQs no formato de revistas e as séries televisivas com esta

abordagem, na televisão.

O autor citado anteriormente considera as imagens como documentos e formas

de narração, pois nelas estão contidas histórias e discurso. Joly (2007) acrescenta

que a imagem é uma forma de linguagem, muito específica e heterogênea, que

diferencia-se do mundo real, através de signos próprios. Por ser repleta de signos e

significados, a análise de uma imagem necessita de atenção e cuidados, a fim de que

o verdadeiro sentido pretendido pelo autor não se perca.

Interpretar uma mensagem, analisá-la, não consiste certamente em tentar encontrar ao máximo uma mensagem preexistente, mas em compreender o que essa mensagem, nessas circunstâncias, provoca de significações aqui e agora, ao mesmo tempo que se tenta separar o que é pessoal do que é coletivo. De fato, são necessários, é claro, limites e pontos de referência para uma análise (JOLY, 2007, p. 44).

Para Joly (2007) uma boa análise é definida, primeiramente, pelos seus

objetivos. A definição do objetivo da análise, segundo a concepção da autora, é

primordial para um bom desempenho da mesma. "A análise por si só não se justifica

e tampouco tem interesse. Deve servir a um projeto, e é este que vai dar sua

orientação, assim como permitirá elaborar sua metodologia" (JOLY, 2007, p. 49-50).

O primeiro passo da análise de imagem, de acordo com Bauer e Gaskell (2003),

é a escolha das imagens que serão analisadas. Estas, dependem diretamente dos

objetivos do trabalho e, obviamente, da disponibilidade do conteúdo. Na segunda fase

é necessário identificar o conjunto total de elementos que compõem o material. Essa

descrição deve apenas englobar os elementos, sem analisá-los de maneira

conotativa. Na terceira etapa, por fim, é feita a análise de elementos significativos nas

imagens, e que estejam relacionados com a problemática do estudo.

Neste trabalho, a fim de estabelecer um paralelo entre HQs e séries televisivas,

buscamos inicialmente as séries: Gotham, Supergirl, The Flash e Arrow. Baseadas

em quadrinhos, essas narrativas necessitam de um contraponto no impresso para a

análise. Assim buscamos na publicação Os Novos 52 o material necessário para a

abordagem proposta ao final do estudo.

Page 17: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

15

Page 18: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

16

2. HISTÓRIA EM QUADRINHOS

Oliveira (2007) afirma que ao longo do processo da comunicação humana é

possível perceber uma interação entre diversas formas de linguagem. Nesse cenário,

a história em quadrinhos vem se apresentando como um significativo veículo de

integração de inúmeros mecanismos comunicativos, demonstrando um expressivo

potencial e dando possibilidade para a construção de várias narrativas.

Antes mesmo dos quadrinhos se expandirem pelo mundo, imagens – com ou

sem acompanhamento de texto – já eram uma prática de narrativa comum de diversos

povos há muitos anos atrás. Desde a era Pré-Histórica, com a introdução da arte

rupestre, as figuras já eram utilizadas para exemplificar acontecimentos

De acordo com McCloud (1995) ainda na era Pré-Colombiana5, já haviam sido

encontrados manuscritos com formatos similares ao dos quadrinhos. É possível que

já houvessem outros casos ainda anteriores a esse. O autor destaca também que não

há como dizer ao certo quando ou onde os quadrinhos originaram-se, porém, um fato

tão importante para as histórias em quadrinhos quanto a palavra escrita, foi a invenção

da imprensa.

Outra observação feita pelo autor é que ao longo dos anos o formato dos

quadrinhos foi sendo alterado, e aos poucos tornou-se o que conhecemos hoje.

Apesar de lenta, sua expansão foi grande ao redor do mundo – inclusive no Brasil – e

atualmente este veículo, também conhecido como a Nona Arte, acabou por ser

transportado para diversos outros meios, desde o cinema e a televisão, até a internet.

São inúmeros os formatos que as HQs podem ter, além dos mais variados

assuntos que podem ser tratados nas mesmas. Sua abrangência é grande e

complexa, e necessita de uma atenção especial para que possamos entendê-la

completamente.

Dessa forma, neste capítulo, buscamos compreender mais os quadrinhos,

iniciando com sua conceituação e uma breve abordagem histórica, e por fim,

especificamente, apresentaremos os quadrinhos de super-heróis, os quais

5 O período abrange as subdivisões das épocas histórica e pré-histórica do continente americano, antes de ser colonizado pelos europeus. Fonte: Estudo Prático. Disponível em: <http://www.estudopratico.com.br/civilizacoes-pre-colombianas/>. Acesso em: 29 mar. 2016.

Page 19: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

17

analisaremos as origens na antiga mitologia, além de sua evolução e as mudanças

ocorridas através de suas diferentes Eras.

2.1 CONCEITO E BREVE HISTÓRIA DOS QUADRINHOS

McCloud (1995) atesta que o universo dos quadrinhos é imenso e variado. E

para termos uma definição completa do termo, precisamos abarcar todos os seus

tipos. Segundo o autor, a conceituação dos quadrinhos é mais ampla do que

imaginamos: “Quadrinhos é um termo que merece ser definido porque se refere ao

meio em si, não a um objeto específico como "revista" ou "gibi". Todos podemos

visualizar um gibi. Mas o que são quadrinhos?” (MCCLOUD, 1995, p. 4).

O autor enfatiza que as histórias em quadrinhos foram denominadas arte

sequencial por Will Eisner. Isso, porque, no momento em que são colocadas juntas

em sequência - mesmo que essa seja composta apenas por duas imagens - elas

deixam de ser simples figuras e se tornam uma arte em sequência. Para o mesmo, as

histórias em quadrinhos são: “Imagens pictóricas e outras justapostas em sequência

deliberada destinadas a transmitir informações e/ou a produzir uma resposta no

espectador” (MCCLOUD, 1995, p. 9).

Cagnin (1975, p. 119) também formula um conceito similar onde imagem e texto

devem ser levados em consideração para um total entendimento: “A HQ, ainda que

identificada pela imagem, invariavelmente vem acompanhada do texto, dos elementos

lingüísticos, que se fundem com a imagem e forma o código narrativo quadrinizado”.

Cirne (1975) atesta que o objeto artístico em questão é complexo e envolve

uma série de relações estruturais, que, para serem plenamente entendidas é

necessário um aprofundamento em seus temas e modos formais. Assim, para que

haja compreensão dos mecanismos de comunicação de uma história em quadrinhos

devemos saber interpretar todo o conjunto de componentes sígnicos que o formam.

O autor sintetiza ainda que não é possível ler uma história em quadrinhos da

mesma maneira que lemos um romance, um filme ou uma obra plástica. Suas

expressões estéticas são diferenciadas assim como seus espaços criativos. Apesar

de partilharem uma leitura focada nos discursos e manifestações artísticas, há formas

de leituras individuais para cada recurso estético.

Eisner (1989) também acredita que o leitor necessita exercer habilidades

interpretativas tanto visuais quanto verbais para a compreensão dos quadrinhos. Para

Page 20: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

18

o autor as regências de arte e literatura sobrepõe-se mutuamente, assim, a leitura

desse veículo exige uma combinação de percepção estética e esforço intelectual.

No ponto de vista do autor, de uma maneira simples, nos quadrinhos há o

emprego de uma sucessão de imagens repetitivas e símbolos reconhecíveis. Estes,

quando utilizados sucessivamente para expressar ideias semelhantes, se tornam uma

linguagem, ou forma literária. E é justamente esse emprego disciplinado que gera a

"gramática" dessa forma de arte sequencial.

Para compreender uma imagem é necessária uma comunhão de experiência,

segundo Eisner (1989). Dessa forma, para que haja a total compreensão da

mensagem o artista deverá também compreender a experiência de vida do leitor. É

fundamental que haja essa interação, pois, o artista está rememorando imagens

arquivadas nas mentes de ambos. Esse método de comunicação pode ter sucesso ou

não, dependendo da facilidade do leitor em entender o significado, além do impacto

emocional causado pela imagem.

Ainda de acordo com Eisner (1989) as letras são como imagens. Afinal, as

palavras são compostas por letras. Letras nada mais são do que símbolos

aprimorados a partir de imagens que se originaram em formatos comuns. Dessa

maneira, à medida que sua função se torna mais sofisticada, acabam se tornando

mais simples e subjetivas.

Para ilustrar a interação entre imagem e escrita, o autor sugere que tomemos

por exemplo a progressão de uma expressão em particular, desde seu uso na

antiguidade até a era moderna com as tiras de quadrinhos. Para tanto, vejamos a

seguir, o hieróglifo egípcio utilizado para demonstração de devoção, e também o

símbolo chinês de mesmo significado, além da ilustração em quadrinhos. Podemos

perceber uma grande semelhança entre ambos.

Figura 1 – Símbolo de devoção

Fonte: EISNER, Will. Quadrinhos e arte sequencial. São Paulo: Martins Fontes, 1989. p. 15.

Page 21: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

19

Como já vimos a combinação de texto e imagem é de grande importância para

as histórias em quadrinhos. Porém, devemos levar em consideração que é possível

que as histórias sejam contadas apenas com ilustrações, sem texto.

De acordo com Eisner (1989) imagens sem palavras, apesar de supostamente

representarem uma maneira mais rudimentar de narrativa gráfica, na realidade,

exigem certa sofisticação por parte do leitor. É indispensável a experiência em comum,

além de um histórico de observações para que haja interpretação correta dos

sentimentos do autor.

Outro importante ponto destacado pelo autor é a respeito do número limitado

de imagens nos quadrinhos. Enquanto no cinema ideias ou emoções podem ser

expressadas por diversas imagens sequenciais, que passadas rapidamente

demonstram movimento real, no meio impresso essas expressões são apenas

simuladas, o que pode dificultar a compreensão da história.

De acordo com Ramos (2009) muitas são as denominações dadas para esse

meio, e a existência desse exagero dá-se, justamente, em função da falta de

conhecimento das diferentes características e gêneros do mesmo. O autor afirma

ainda que, não devemos ver os quadrinhos como uma forma de literatura, pois, isto

seria tentar encontrar rótulos aceitos pela sociedade ou pela academia. Para ele

quadrinhos são quadrinhos e como tal possuem linguagem e mecanismos próprios

para representar seus elementos narrativos.

Desde suas origens as histórias em quadrinhos possuem uma narrativa própria.

Como já vimos anteriormente, é difícil definir um evento específico que exemplifique

essa origem, pois, além de serem muitos fatos envolvidos, cada autor possui sua visão

sobre os acontecimentos.

Segundo Moya (1996) um dos maiores ilustradores do mundo, Rudolph Töpffer,

pode ser considerado o precursor dos quadrinhos. O autor conta que no ano de 1816

um pintor suíço chamado Wolfgang Adam Töpffer ao visitar a Inglaterra passou a

apreciar as gravuras, levando-as para a Suíça. Ao longo dos anos publicou pranchas

que exibiam imagens de camponeses e vilarejos. Seu filho Rudölph, na época com 18

anos, ficou admirado pelo trabalho do pai e pretendia ser pintor como ele, mas não

pôde devido a problemas de visão. Rudölph se tornou um escritor famoso. Após o

sucesso, começou a criar histórias com imagens, onde cada desenho era

Page 22: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

20

acompanhado de poucas linhas de texto. Seu livro foi publicado entre os anos de 1846

e 1847, intitulado Histoires en Estampes.

Figura 2 – Histoires en Estampes

Fonte: <http://www.images-chapitre.com/ima0/original/111/9581111_6097469.jpg>. Acesso em: 30

mar. 2016.

O autor afirma ainda que além de Töpffer, Wilhelm Busch – poeta, artista e

humorista, juntamente com Georges Colomb – sob o pseudônimo de Christophe,

também são considerados pioneiros nas histórias em quadrinhos. Moya (1996)

assegura que apesar de Colomb nunca ter utilizado balões de falas em suas histórias,

ele escrevia textos sob os quadros desenhados, utilizando técnicas e ângulos

diferenciados. A respeito de Busch o autor atesta que sua primeira história com

ilustrações foi publicada em 1860 intitulada O Camundongo, ou Sonho Disturbado,

uma História Europeia dos Tempos6. No Brasil, as legendas de Busch foram

traduzidas por Olavo Bilac e lançadas pela editora Melhoramentos. Sua história mais

famosa, em nosso idioma foi intitulada como Juca e Chico.

De acordo com Moya (1996), no Brasil quem se destacou como precursor dos

quadrinhos foi Angelo Agostini, um italiano que mudou-se para o país aos 16 anos.

Começou sua carreira como desenhista, e em 1867 começou a criar suas primeiras

histórias ilustradas, com o personagem Nhô Quim, seguido de Zé Caipora.

6 Die Maus oder die gestorte Nachtrube, Eine europäisch Zeitgeschichte, no original.

Page 23: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

21

“O Menino Amarelo/Yellow Kid de Richard F. OutCault é considerada a primeira

história em quadrinhos continuada com personagem semanal, aos domingos, em

cores no Sunday New York Journal. Foi motivo do início dos comics”. (MOYA, 1996,

p. 22). Outro personagem famoso de Outcault segundo Moya (1996) foi Buster Brown,

conhecido no Brasil como Chiquinho, anteriormente figurante em O Menino Amarelo.

Suas histórias foram publicadas no país pela revista O Tico-Tico em 1905.

Figura 3 – O Menino Amarelo

Fonte: <http://www.semorelha.com.br/wp-content/uploads/2010/03/menino-amarelo-WEB.jpg>.

Acesso em: 01 mai. 2016.

No mesmo ano o jornal New York Herald publicou a primeira página colorida

da história Little Nemo in Slumberland de Winsor McCay. Contava a narrativa de um

menino chamado Nemo que todas as noites sonhava com Slumberland e nas manhãs

seguintes voltava para a realidade.

Outro importante nome na história dos quadrinhos é Pat Sullivan criador de O

Gato Félix7. “Sua obra foi posteriormente transformada no primeiro desenho animado

sonoro e o primeiro filme de animação a ser apresentado em televisão na emissão

histórica da NBC, em 1930." (MOYA, 1996, p. 59). O autor atesta também que

7 Felix The Cat, no original.

Page 24: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

22

Georges Remi, sob o pseudônimo de Hérge inventou um dos personagens mais

conhecidos no mundo dos quadrinhos, Tintim. As histórias das aventuras do

personagem a princípio eram publicadas no jornal católico anticomunista Le Petit

Vingtième. Com o sucesso, suas tiras passaram a ser feitas em álbuns, publicados

pela editora Casterman.

Segundo Moya (1996) o famoso marinheiro Popeye, foi criado por Elzier Crisler

Segar em 17 de janeiro de 1929, e fez sua primeira aparição na tira intitulada Thimble

Theatre8. O sucesso do novo personagem fez com que ele assumisse a narrativa

principal da história. De acordo com o autor Popeye pode ser considerado um

antecipador dos super-heróis com superpoderes, já que o seu poder provém do

espinafre. Wimpy, o comedor de sanduíches amigo de Popeye, passou a ser utilizado

em logos de lanchonetes do mundo inteiro. Para Moya (1996) o lançamento de Buck

Rogers e Tarzan mudaram completamente o rumo das HQs.

O sucesso das HQs fez com que elas se expandissem para os mais diversos

países. De acordo com Iannone e Iannone (1995) em cada país há uma maneira

diferenciada de referir-se às HQs. A autora lista alguns exemplos como: nos países

de língua inglesa as HQs são conhecidas por comics ou graphic novels; na Espanha

são chamadas de tabeos; na França sua nomenclatura é bandes dessinés; na Itália

fumetti; em países da América Latina, com exceção do Brasil, são conhecidas por

chiste, monito, muñequito, historieta ou comics.

Desde seus primórdios até os dias atuais, as HQs foram ganhando cada vez

mais força, e hoje, anos após sua criação, seus personagens e histórias ainda

possuem forte presença no dia-a-dia dos jovens e adultos.

Devido à grande variação relacionada aos assuntos que podem ser retratados

em uma história em quadrinhos existem, consequentemente, vários gêneros de HQs.

Ramos (2009) afirma que a diversidade de gêneros está ligada às variadas

temáticas das histórias como: terror, detetive, faroeste, infantil, aventura, ficção

científica, humor, biográfica (figura 4), erótica, dentre outros.

Desde seus primórdios até os dias atuais, as HQs foram ganhando cada vez

mais força, e hoje, anos após sua criação, seus personagens e histórias ainda

possuem forte presença no dia-a-dia dos jovens e adultos.

8 Teatro em miniatura, na tradução.

Page 25: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

23

Devido à grande variação relacionada aos assuntos que podem ser retratados

em uma história em quadrinhos existem, consequentemente, vários gêneros de HQs.

Ramos (2009) afirma que a diversidade de gêneros está ligada às variadas

temáticas das histórias como: terror, detetive, faroeste, infantil, aventura, ficção

científica, humor, biográfica (figura 4), erótica, dentre outros.

Figura 4 – O Diário de Anne Frank biografia gráfica

Fonte: <https://www.juniorlibraryguild.com/images/9780809026852/InteriorArt/9780809026852-

annefrank1_zoom.jpg>. Acesso em: 01 mai. 2016.

Para este estudo, é válido aprofundarmos no gênero super-heróis, que veremos

a seguir.

Page 26: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

24

2.2 HISTÓRIA EM QUADRINHOS DE SUPER-HERÓIS

Dos diversos gêneros de HQs existentes, um dos mais conhecidos e

possivelmente mais admirados pelos consumidores de HQs é o de super-heróis. Rosa

(2015) afirma que esses personagens são um fenômeno popular de grande

repercussão mundial. Sua presença alcança inúmeros países, nos mais variados

formatos midiáticos. Desde sua primeira aparição nas revistas em quadrinhos, sua

estima por parte da população cresceu, se tornando os principais personagens em

programas de rádio, séries de televisão, desenhos animados e produções

cinematográficas, além da enorme gama de produtos de merchandising

desenvolvidos para diversas faixas-etárias.

Segundo Moya (1996) antes do surgimento do fenômeno dos super-heróis os

quadrinhos costumavam narrar histórias com temáticas humorísticas, porém no ano

de 1929 houve a Quebra da Bolsa de Nova Iorque, o que provocou uma grande crise

econômica no país. O cenário socioeconômico da época influenciou diretamente na

mudança de leitura da população, pois, o público não gostaria de ler sobre piadas e,

sim, sobre seres extraordinários que tivessem o poder de salvá-los daquela situação,

mesmo que apenas no imaginário. Assim, na década de 1930, surgiu o primeiro super-

herói da história dos quadrinhos o Superman9.

A presença de seres com poderes e forças inimagináveis já existiam muito

antes da invenção das histórias em quadrinhos. Muitos desses personagens serviram

de inspiração para a criação dos super-heróis tendo alguns deles, inclusive, histórias

de vida similares. Os super-heróis podem ser considerados “verdadeiros deuses da

mitologia moderna” (ROSA, 2015, p. 3).

A fim de conseguirmos um completo entendimento da história dos super-heróis,

veremos uma breve comparação dessas personagens com os seres da mitologia

antiga.

9 Super-Homem, na tradução.

Page 27: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

25

2.2.1 Os Mitos e os Heróis

De acordo com Campbell (1997) em todas as partes do mundo, nas mais

diversas épocas e nas mais variadas circunstâncias são contados mitos. Estes são a

origem de praticamente tudo em nossa sociedade, desde as religiões e filosofias, além

da própria forma social dos homens pré-históricos, e até mesmo algumas descobertas

científicas. "Não seria demais considerar o mito a abertura secreta da qual as

inexauríveis energias do cosmos penetram nas manifestações culturais humanas”

(CAMPBELL, 1997, p. 5-6).

Para Campbell (1997) os heróis estão presentes nos mitos, nos contos de fadas

e histórias em geral, inclusive dos quadrinhos. O autor os define como alguém, homem

ou mulher, que foi capaz de superar suas limitações pessoais e atingir uma forma

genuinamente válida. Silva (2011) complementa o pensamento, afirmando que a

palavra "herói" nas histórias em quadrinhos é utilizada para se referir a personagens

que diferentemente dos demais possuem valores morais e realizam ações fora do

comum:

Ele se dedica a lutar por uma causa nobre. É dotado de qualidades como força, inteligência e ética. Segue um código de conduta exemplar e é incorruptível. Liberdade, fraternidade justiça, coragem, sacrifício etc., são alguns dos ideais dignos que guiam o herói em sua jornada com motivações sempre moralmente justas (SILVA, 2011, p. 3).

É importante definirmos, antes de mais nada, a diferença entre herói e super-

herói. Silva (2011) acredita que o super-herói, como o próprio nome sugere, possui

poderes sobrenaturais, habilidades fora do comum para os humanos. Já os heróis não

necessitam de super-poderes. Contudo, alguns autores afirmam que possuir poderes

sobre-humanos não seria uma característica fundamental para ser um super-herói.

Ambos os termos podem definir personagens altruístas, que dedicam sua vida a salvar

aqueles que necessitam de ajuda. A respeito da diferenciação de termos, Viana (2003,

online) atesta que: “O herói possui habilidades excepcionais, mas humanamente

possíveis, enquanto o super-herói possui habilidades sobre-humanas (...) e só pode

existir havendo um mundo habitado por esses super-poderosos”.

De acordo com Rosa (2015) relacionar o universo do super-heróis com os mitos

é enriquecedor, apesar de óbvio. Sua essência é composta por uma fórmula similar à

do misticismo originário dos antigos deuses e heróis mitológicos. Para ele desde a

Page 28: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

26

criação do Superman, considerado primeiro super-herói, as histórias do gênero vêm

passando por mudanças e evoluindo gradativamente.

Dessa forma, o Superman só seria poderoso por ser um alienígena, o Homem-

Aranha por ter sido picado por uma aranha radioativa, Bruce Banner se transformou

no Hulk porque foi atingido por raios-gama. Assim, todos seriam anteriormente

pessoas comuns, que só adquiriram poderes devido a algum “castigo” da providência.

O autor afirma que os antigos oradores que narravam através da locução as

tradições das civilizações, utilizavam um recurso narrativo muito similar ao dos

quadrinhos de super-heróis, na qual uma “semidivindade” era a personagem central

das histórias. Como exemplo, temos a Mulher Maravilha que é uma semidivindade,

assim como Hipólita10 e Pentesileia11 da antiga mitologia Grega.

Há também os heróis como o Gavião Arqueiro que mesmo sem poderes

extraordinários, são habilidosos em alguma arte, neste caso o arco e flecha. Este

último caso também pode ser comparado com os antigos heróis gregos, como por

exemplo o Ulisses da Odisseia12, que também era muito habilidoso com o instrumento.

Rosa (2015) exemplifica sua teoria de que os quadrinhos de super-heróis se

assemelham à mitologia utilizando como exemplo uma simples comparação entre o

Homem-Formiga da Marvel, e uma passagem da história de Zeus, onde o deus se

transforma em formiga para ter relações com mulheres humanas, voltando a sua

forma natural. O super-herói em questão é capaz de encolher ao tamanho de uma

formiga e posteriormente, retornar a seu tamanho de origem, obviamente para outros

fins.

Baseado na comparação das histórias de super-heróis e das antigas divindades

mitológicas, o autor chega à conclusão de que assim como os deuses antigos, os

super-heróis também se posicionam “acima da lei”. Segundo as lendas, os deuses

poderiam punir a população humana. Assim também fazem alguns heróis. Batman é

10 Rainha das amazonas, tribo de mulheres guerreiras. Filha do deus da guerra Ares com a amazona Otréra, irmã de Menalipe, Antíopa e Pentesiléia. (KURY, 2009, p. 203).

11 Amazona. Irmã de Hipólita. Um dia estava caçando com sua irmã Hipólita e acidentalmente a acertou com sua lança, matando-a. Após a morte da irmã juntou-se à guerra de Troia. (KURY, 2009, p. 315-316).

12 A Odisséia narra a história do herói Ulisses ao regressar à sua pátria após o término da Guerra de Troia. (TORRESINI, 2005, p. 37).

Page 29: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

27

um bom exemplo desse caso, pois, agindo como vigilante, ele mesmo é juiz, júri e

carrasco dos vilões, sem se importar com a lei.

Outro exemplo de semelhança narrativa entre mitologia e o universo dos super-

heróis citado pelo autor é a história dos X-Men da Marvel, na qual o mutante Magneto

inicia sua jornada trabalhando em parceria com o Professor X, ao decorrer da trama

acaba optando por trilhar um caminho oposto e se torna o principal rival do professor

Xavier. Essa narrativa é similar à do gigante guerreiro Ájax, o segundo mais poderoso

– perdendo apenas para Aquiles, na Guerra de Troia. Assim, quando Ájax foi

enganado e perdeu sua devida recompensa, se voltou contra seu grupo de antigos

companheiros.

O autor também comenta que nas histórias de super-heróis sempre há

situações caóticas, seja algum desastre natural, evento fora do comum ou um

supervilão atacando a cidade, dentre outros. Apesar de todo o caos ocorrido, os heróis

sempre conseguem combate-lo e vencer o mal. Na mitologia clássica o “Caos” é o

primeiro ser que apareceu no universo, podendo ser considerado uma divindade

primordial. De todas as formas de consciência divina, é a mais antiga.

Eco (2001) acredita que há sim uma diferença clara entre figuras

superpoderosas, como o Superman, e as antigas personagens das mitologias

clássicas, sendo esta a estrutura de suas histórias. Para o autor, a estrutura do mito

e a estrutura da narrativa quadrinhística são distintas. Para exemplificar sua tese, usa

como exemplo uma personagem religiosa, de origem humana ou divina. Esta,

mantinha suas características eternas e os eventos ocorridos em sua vida eram

definitivos. As histórias contadas sobre a personagem eram sempre as mesmas, pois,

aquilo que já havia ocorrido era irreversível.

Já nas histórias em quadrinhos ocorre o contrário, o que o autor define como

civilização do romance. Enquanto as histórias clássicas se referiam à acontecimentos

já ocorridos e conhecidos pelo povo, as histórias em quadrinhos narram eventos novos

e imprevisíveis para os leitores. Assim, os acontecimentos não teriam ocorrido antes

da narrativa, e sim durante.

Para Quella-Guyot (1994) o herói propriamente dito já é mito, baseado na

imagem de um ser perfeito, porém, os personagens das histórias em quadrinhos

estariam muito longe de serem semelhantes a esses deuses. Para a autora são as

personagens correspondentes aos heróis americanos que tem maior participação

desse ideal. Quella-Guyot (1994), assim como Eco (2001), acreditam que o que

Page 30: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

28

realmente cativa o público não é apenas o fato de super-heróis terem poderes

extraordinários. O que realmente nos cativa, na visão dos autores, é a identidade

secreta do herói que é tão comum quanto a vida de qualquer outra pessoa real. Um

exemplo seria o Superman, e sua identidade secreta Clark Kent. Assim, seríamos

cativados por essa duplicidade, pelo fato de que além da personagem ter esses

poderes incríveis, ele ainda teria uma vida tão comum quanto a nossa.

Segundo Rosa (2015) a admiração que sentimos pelos super-heróis provém da

nossa necessidade de transferirmos nossos anseios para outros seres

superpoderosos, capazes de nos salvarem das mais diversas situações. Seja através

de superforça, ultrainteligência, supervelocidade, capacidade de voar, ou qualquer

outra habilidade contraditória às leis da física, vemos essas figuras do imaginário com

o mesmo olhar que nossos antepassados viam seus heróis mitológicos.

A verdade é que apesar de toda a evolução da humanidade nós, seres

humanos, ainda sentimos a necessidade da existência dessas figuras e de seus atos

heroicos. Seja em função de seus superpoderes, ou de suas identidades secretas, ou

ambos, continuamos os cultuando até hoje, e provavelmente, daqui a muitos anos

ainda será assim.

Apesar dos heróis dos quadrinhos, como já vimos, terem semelhança com os

deuses antigos, sua história se iniciou muitos anos depois, e passou por diversas

mudanças e fases, as chamadas “Eras”, que veremos a seguir.

2.2.2 Era de Ouro

As histórias de super-heróis passaram por quatro principais fases, ou Eras,

como ficaram conhecidas. A respeito dessas Eras, Krakhecke (2009) afirma:

A “era de ouro” iniciada em 1938 com o aparecimento de Superman, leva esse nome, pois foi a época que os quadrinhos do gênero atingiram vendagens astronômicas, encerrando-se em 1954, com a crise dos quadrinhos associados ao aumento da delinqüência juvenil [...] A “era de prata”, que se iniciou em 1956, foi marcada com a reformulação das HQs de super-heróis, além da implantação de um código de censura. Esta fase se encerra em meados da década de 1970 [...] a “era de bronze”, que ocorre devido a uma crise no mercado editorial no gênero de super-heróis, tal como ocorreu ao fim da segunda guerra mundial, com o fechamento de diversas editoras e uma queda nas vendas, e se estenderá até o final dos anos 1980. (KRAKHECKE, 2009. p. 54).

Page 31: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

29

De acordo com Callari (s.d.) a chamada Era de Ouro13 é uma fase dos

quadrinhos americanos que teve início em meados dos anos 1930 até o final da

década de 1950. Para a maioria dos historiadores da área o marco inicial desse

período é a criação do personagem Superman, considerado por muitos o primeiro

super-herói da história dos quadrinhos. A popularidade do Superman pelo público, fez

com que, em pouco tempo, o gênero se difundisse e dominasse as páginas e revistas

de jornais.

Moya (1996) afirma que dentre as demais histórias de sucesso dessa categoria,

que surgiram na mesma época, podemos citar Batman, Robin, Mulher Maravilha,

Capitão Marvel, Capitão América, dentre outras.

Callari (s.d.) acredita também que essa Era foi muito produtiva para os

quadrinhos, pois, a base do estilo que marca o gênero de super-heróis até os dias

atuais foi iniciada nessa época. Alguns personagens desenvolvidos tinham uma

formulação tão sólida que se mantiveram fortes ao longo dos anos, e até hoje são

conhecidos pelo público. Essa época também marcou o início das duas maiores

editoras do gênero, Marvel14 e DC Comics15, que até então, eram nomeadas

respectivamente Timely e National Allied Publications.

Segundo o autor até então a utilização de personagens fixos nas histórias em

quadrinhos não era algo comum, a partir dessa era que essa prática passou a ser

utilizada com mais frequência. Dentre os principais personagens da Era de Ouro,

podemos destacar:

Os heróis da primeira fase da DC Comics: Batman, Superman, Aquaman, Eléktron, Gavião Negro, Lanterna Verde, Jay Garrick (o primeiro Flash), a Sociedade da Justiça (primeiro grupo de super-heróis) e a Mulher Maravilha; os primeiros heróis da Marvel: Capitão América, Tocha Humana, Namor e Ka-Zar; e o Shazam! da Fawcett (CALLARI, s.d., p. 25).

De acordo com o autor vários desses heróis continuaram a existir ao longo da

Era de Prata, sendo que alguns deles foram reformulados, como é o caso da

personagem Flash. No fim dos anos 1940, os quadrinhos do gênero tiveram uma

queda nas vendas, causada pela Segunda Guerra Mundial. A conexão que o público

13 Golden Age, no original.

14 Disponível em: <http://marvel.com/>. Acesso em: 11 mai. 2016.

15 Disponível em: <http://www.dccomics.com/>. Acesso em: 11 mai. 2016.

Page 32: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

30

sentia com diversas personagens acabou se perdendo, e histórias mais sombrias com

temas de horror e crime passaram a fazer parte do cotidiano. Ainda assim, algumas

revistas como a Action Comics e a Detective Comics persistiram, e sobreviveram ao

fim da Era.

Segundo Rosa (2015) Superman fez sua primeira aparição na revista Action

Comics 1, lançada em junho de 1938, desenvolvida pelo escritor Joe Shuster e pelo

desenhista Jerry Siegel.

Figura 5 – Action Comics nº 1

Fonte:

<http://vignette4.wikia.nocookie.net/marvel_dc/images/5/5a/Action_Comics_1.jpg/revision/latest?cb=20140125003421>. Acesso em: 11 mai. 2016.

A história narrava um planeta chamado Krypton que iria ser destruído. O

cientista Jor-El para salvar seu filho Kal-El o colocou em um pequeno foguete e o

enviou para o espaço antes da destruição do planeta. A nave acaba chegando na

Terra e cai nas proximidades de uma pequena cidade no interior do Kansas, chamada

Smallville. Jonathan e Marta Kent, encontram o menino e o criam como se fosse seu

próprio filho. O nomeiam como Clark Kent.

Page 33: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

31

Com o passar dos anos o jovem Clark foi crescendo, e desenvolvendo poderes

diferentes dos humanos como super força, velocidade, resistência, invulnerabilidade,

sopro congelante, super audição, poderes extra-sensoriais e visuais, longevidades,

capacidade de voar, inteligência e regeneração. Essas habilidades se desenvolvem

devido à luz solar amarela da Terra, enquanto o sol do Krypton era vermelho.

Durante a vida adulta Clark decide morar na cidade de Metrópolis, onde

começou a trabalhar como repórter no jornal Planeta Diário, onde conheceu Lois Lane,

por quem se apaixonou. Clark decide usar seus poderes em prol da humanidade,

ajudando a trazer paz e justiça ao mundo, assim criou um uniforme para si mesmo, e

se tornou o Superman.

De acordo com Rosa (2015) na Era de Prata o super-herói foi reinventado, mas

não tanto quanto os outros heróis da DC Comics. Nessa fase, ajudou a fundar a Liga

da Justiça. Além dessa história, também envolveu-se em algumas parcerias como,

por exemplo, com o fotógrafo James Olsen e Batman. Tem por inimigo principal o

empresário Lex Luthor.

O autor afirma também que depois da Crise das Infinitas Terras16, o Superman

passou por outra reformulação sendo lançadas as bases das histórias que

conhecemos hoje. O super-herói já foi principal personagem de filmes, games,

literatura e séries televisivas, como Smallville da Warner Channel, que narrava suas

histórias na adolescência. Outras histórias também foram derivadas da sua, como é o

caso da Supergirl, prima do Superman, que também teria vindo de Krypton para a

Terra e se torna uma super-heroína.

Outro grande super-herói da Era de Ouro foi o Batman. Callari (s.d.) atesta que

sua primeira aparição ocorreu na revista Detective Comics #27, lançada em maio de

1939. Diferentemente dos demais heróis do gênero, o Batman não era um ser com

poderes que provinham de forças sobrenaturais, e sim, um ser humano comum, cujo

treinamento físico e mental, somado a uma grande quantia de dinheiro e traumas da

16 Crisis on Infinite Earths, no original. Série de HQs publicada pela DC Comics em doze edições de 1985 a 1986. O intuito dessa saga era acabar com o conceito de multiverso utilizado pela editora. Nesse conceito existiriam várias Terras ocupando o mesmo local no espaço, porém, vibrando em pulsações diferentes, por isso, não eram vistas entre si. Em cada Terra existiriam versões diferentes dos mesmos personagens. Esse conceito estava confundindo os leitores das HQs. Na saga Crise nas Infinitas Terras esse conceito foi terminado, restando apenas uma Terra. Fonte: CAPACITOR. Disponível em: <http://ocapacitor.uol.com.br/quadrinhos/nota-crise_nas_infinitas_terras_saga_fundamental_da_dc_comics_completa_30_anos-11530.html>. Acesso em: 11 mai. 2016.

Page 34: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

32

infância, resultou num vigilante noturno. Sua história fez com que o público se

identificasse, e logo, se tornou grande sucesso.

Figura 6 – Detective Comics nº 1

Fonte:

<http://vignette1.wikia.nocookie.net/marvel_dc/images/a/a8/Detective_Comics_27.jpg/revision/latest?cb=20140906210315>. Acesso em: 11 mai. 2016.

A história sobre a origem do herói, segundo Callari (s.d.) foi narrada apenas na

revista Detective Comics 33, porém, maiores detalhes a respeito da infância do herói

só foram revelados anos depois em junho de 1948, na revista Batman 43. Rosa (2015)

afirma que a origem da personagem sofreu alterações ao longo dos anos, contudo,

sua essência manteve-se a mesma.

Aos oito anos de idade, Bruce Wayne foi ao cinema com seus pais. Ao saírem

foram atacados por um ladrão, que assassinou os pais do menino na sua frente. Esse

evento traumatizou a criança. A medida que ia crescendo procurava maneiras de

combater a criminalidade na cidade onde residia, assim, passou a estudar artes

marciais, técnicas de investigação e de disfarce, direito, ventriloquismo, dentre outras

atividades. Durante seu crescimento tinha por tutor seu mordomo Alfred, que

Page 35: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

33

continuou ajudando Bruce mesmo depois da vida adulta. Seus pais eram milionários,

e ao falecerem, deixaram todo a dinheiro para seu único filho. Assim, usufruindo da

herança de família, criou uma nova identidade, se inspirando num morcego que

entrara por sua janela, e se tornou Batman.

Rosa (2015) conta que, ainda durante a Era de Ouro, Batman foi um dos

primeiros super-heróis a ter um parceiro-mirim, o Robin. Callari (s.d.) complementa ao

afirmar que isso ocorreu devido à falta de identificação do público jovem por parte do

super-herói adulto, então os criadores resolveram desenvolver um parceiro que

tivesse a mesma faixa etária, o mesmo comportamento e falasse da mesma maneira.

O autor também acredita que o Batman possui a maior galeria de coadjuvantes dos

quadrinhos, sendo alguns deles: o comissário Gordon, o mordomo Alfred, Batwoman,

Batgirl, Batwing, Mulher-gato, dentre tantos outros.

As histórias de super-heróis fizeram grande sucesso junto ao público, porém, a

aceitação não foi unânime. De acordo com Howe (2013) um grave empecilho para as

HQs de super-heróis surgiu com o psiquiatra Fredric Wertham17.

De acordo com o site Guia do Estudante18, Wertham escreveu um artigo para

a edição de 29 de maio de 1947 da revista Saturday Review of Literature acusando

os quadrinhos de conterem alto teor de violência e perversões sexuais. Seu

argumento era baseado no fato de 90% dos delinquentes juvenis lerem HQs,

consequentemente, as HQs seriam a causa da delinquência e criminalidade juvenil.

O site afirma ainda que em 1948 o psiquiatra fez uma palestra intitulada "A

Psicopatologia das Histórias em Quadrinhos". O público do evento foi suficiente para

lotar o ginásio no qual ocorrera. No fim do mesmo ano a revista Time noticiou uma

queima de HQs em diversas cidades americanas.

Segundo Howe (2013) em 1954 Wertham publicou sua obra de maior sucesso,

o livro Sedução dos Inocentes19. Ele continha ilustrações explícitas de espancamento,

17 Fredric Wertham (20 mar. 1895 - 18 nov. 1981) foi um psiquiatra alemão. Iniciou os estudos de medicina na Inglaterra na King's College of London University, porém terminou o curso na Alemanha na Universities of Erlangen em Munich e Würzburg em 1921. Fez pós-graduação em psiquiatria trabalhando em Londres, Paris e Vienna. Em 1932 mudou-se para Nova Iorque para trabalhar como psiquiatra sênior no departamento de hospitais da cidade. Fonte: American National Biography. Disponível em: <http://www.anb.org/articles/14/14-01160.html>. Acesso em: 11 mai. 2016.

18 Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/frederick-wertham-inimigo-hq-435365.shtml>. Acesso em: 11 mai. 2016.

19 Seduction of the Innocent, no original.

Page 36: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

34

assassinatos e sadomasoquismo. No livro o psiquiatra acusava Batman e Robin de

serem gays; afirmava que a Mulher Maravilha mostrava desvios sexuais, e até o

Superman foi considerado como mau exemplo, pois apresentava poderes que

desafiavam as leis da física. Portanto, suas histórias eram consideradas impróprias

para o público infanto-juvenil.

Figura 7 – Fredric Wertham

Disponível em: http://contraversao.com/wp-content/uploads/2014/03/Dr.-Fredric-Wertham-Reading-Shock-1160x480.jpg. Acesso em: 11 mai. 2016.

Howe (2013) atesta ainda que devido a confusão causada pelo livro foi criado

no Senado americano um subcomitê para investigar as histórias, tendo Wertham

como perito. A polêmica resultou na criação do CCA20. O Código não permitia que as

capas incluíssem palavras como terror ou horror. Sob nenhuma circunstância as HQs

poderiam conter vampiros, zumbis, lobisomens ou fantasmas. Também não era

permitido desrespeitar o sagrado matrimônio. As HQs que não tivessem o selo do

Código de Ética não poderiam ser distribuídas. Isso resultou na queda de vendas de

HQs.

20 Comics Code Authority. Código de ética dos quadrinhos, na tradução.

Page 37: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

35

2.2.3 Era de Prata

Segundo Callari (s.d.) a Era de Prata se estendeu de 1956 até meados dos

anos 1970, e com ela houve o surgimento de alguns dos maiores artistas dos

quadrinhos como Stan Lee e Jack Kirby, que foram de grande importância para o

desenvolvimento da Marvel.

Como já vimos previamente após a publicação do livro Seduction of the

Innocent, houve grande queda na venda de quadrinhos no final da década de 1950.

Callari (s.d.) afirma que o início oficial da Era de Prata está marcado pela nova versão

da personagem The Flash da DC Comics, em outubro de 1956. Após sua

reformulação, outros personagens também passaram por transformações, como o

Lanterna Verde.

Porém, o momento mais representativo dessa Era aconteceu uma década

depois, quando Stan Lee criou super-heróis com características mais humanas, que

passassem por conflitos psicológicos e emocionais que fizeram o público se relacionar

com as personagens. O conceito já havia sido utilizado anteriormente – o próprio

Batman é um exemplo disso – contudo a maneira com que Lee retratou esses heróis

foi diferente de qualquer outra, fazendo com que sofressem problemas comuns do

cotidiano, como arrumar dinheiro para pagar as contas.

Outra característica importante da Era de Prata segundo Callari (s.d.) foi a

união dos gêneros super-herói e ficção. Diferente da Era de Ouro, onde mitologia e

magia eram partes importantes da história, nessa época o tema principal era a ciência.

Um exemplo são as personagens vindas de outros planetas como J’onn J’onnz o

Caçador de Marte e as próprias reformulações dos heróis da Era de Ouro para a de

Prata, como Flash que adquiriu seus poderes através da ciência.

De acordo com Rosa (2015) Flash apareceu pela primeira vez em Flash Comics

1, em janeiro de 1940, com os roteiros de Gardner Fox e desenhos de Harry Lampert.

Foram ao total quatro gerações de personagens que assumiram o papel de Flash. O

primeiro – ainda na Era de Ouro – foi Jay Garrick (Joel Ciclone no Brasil), um

universitário que acidentalmente inalou compostos químicos no laboratório da

universidade em que estudava e acabou ganhando supervelocidade. Ele então

desenvolveu um uniforme para si, com um capacete que remetia ao personagem

grego Hermes e se tornou o Flash. Era um membro ativo da Sociedade da Justiça e

teve diversas aventuras durante a Era de Ouro, porém, foi preso em uma redoma por

Page 38: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

36

seus inimigos, ficando em estado de animação suspensa até ser resgatado por seu

sucessor Barry Allen.

O Flash da Era de Prata fez sua primeira aparição na 4ª edição da revista

Showcase. Tratava-se de Barry Allen, um jovem cientista que trabalhava na perícia

policial de Central City, e acidentalmente recebeu um banho de produtos químicos

quando seu laboratório foi atingido por um raio. A mistura dos produtos e da

eletricidade lhe deu a capacidade de acessar a Força de Aceleração e adquirindo

supervelocidade, além de seus reflexos terem sido ampliados. Ele assumiu a

identidade de Flash utilizando um uniforme completamente diferente de seu

antecessor, e foi um dos fundadores da Liga da Justiça. Durante a saga Crise nas

Infinitas Terras, Barry acabou morrendo ao tentar salvar o Multiverso do Antimonitor.

Figura 8 – Showcase nº 4

Fonte:

<http://vignette3.wikia.nocookie.net/marvel_dc/images/f/fc/Showcase_4.jpg/revision/latest?cb=20070104213243>. Acesso em: 11 mai. 2016.

Nesse período ainda era utilizado o antigo conceito da DC Comics de

Multiverso. Refere-se a época em que a editora criara diversas Terras Paralelas onde

heróis diferentes em versões alternativas ocupavam cada local.

Page 39: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

37

Esse conceito foi utilizado pela primeira vez na 123ª edição da revista The

Flash, publicada em setembro de 1961, nomeada Flash of Two Worlds21, onde há um

encontro entre os Flashs da Era de Prata, Barry Allen, e o anterior da Era de Ouro,

Jay Garrick. Devido a sua grande velocidade, o Flash teria a capacidade de viajar

entre as diferentes Terras.

Havia milhares de Terras, contudo, as mais importantes para a história seriam

as Terras 1, 2 e 3. A 1ª equivale o universo principal de Flash. Na 2ª viveram as

primeiras versões de heróis, como Jay Garrick. Na 3ª existiria versões malignas das

personagens.

Devido à grande confusão dos fãs por parte das diversas narrativas em Terras

diferentes, a editora acabou optando por acabar com a teoria do Multiverso através

da saga Crise nas Infinitas Terras, já citada anteriormente.

A respeito do término da Era de Prata, não há um completo consenso segundo

Callari (s.d.). Os fãs da DC Comics acreditam que o término tenha sido com a série

inovadora do Lanterna Verde e do Arqueiro Verde. Fãs da Marvel apontam o término

para o brutal assassinato de Gwen Stacy, namorada do Homem-Aranha.

Independentemente de qual evento tenha sido, a questão social é a mesma, histórias

com orientação mais adulta, maior aumento na violência e abordagem de problemas

sociais de uma maneira mais realista.

2.2.4 Era de Bronze

Para Callari (s.d.) diferente das outras Eras anteriores, esta não tem um marco

inicial definido, pois não existe consenso dentre os historiadores e fãs a respeito disso.

Mas pode-se afirmar com certeza que está relacionada a mudança das abordagens e

temáticas das histórias. Neste novo momento, as personagens que até então eram

imutáveis, passaram a crescer e evoluir, o que acompanhava, de certa maneira, as

mudanças sociais da época. Tratava-se de um período pós-guerra do Vietnã, o auge

da Guerra Fria, onde havia luta pelos direitos de classes e preconceito racial. Nesse

viés, a nova geração de história em quadrinhos passou a abordar temas como estes,

refletindo a realidade do mundo.

21 Flash de Dois Mundos, na tradução.

Page 40: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

38

O autor também afirma que dentre os possíveis eventos que marcaria o início

dessa Era, podemos destacar o momento em que Robin abandona o Batman para

entrar na faculdade; também a parceira dos heróis Arqueiro Verde e Lanterna Verde,

que viajavam pelos Estados Unidos enfrentando problemas sociais, além da revelação

de que o antigo parceiro do Arqueiro Verde, Ricardito22, era viciado em drogas. Essas

temáticas mais fortes e adultas marcaram uma grande mudança em relação as

histórias que já vinham sido produzidas até então.

De acordo com o autor, as aventuras de Conan o Bárbaro, repletas de erotismo

e violência, também são um bom exemplo da mudança nas histórias. A criação de

Luke Cage pela Marvel em 1970 fez com que ele se tornasse o primeiro super-herói

negro a ter sua própria revista. A editora lançou também a série A Tuma de Drácula,

que marcara de maneira definitiva a volta das histórias de horror, após anos de

afastamento devido ao Comic Code.

Rosa (2015) atesta que no ano de 1979 a DC publicou The World of Krypton23,

a primeira minissérie em quadrinhos da história, causando uma revolução nos

formatos. Em seguida, outras histórias começaram a fazer o mesmo. Houve também

reformulações em X-Men24 e na Turma de Titãs25, que passou a se chamar Novos

Titãs.

Segundo o autor nesta época a Marvel também voltou a apostar em histórias

de terror, criando super-heróis que se mantinham na fronteira entre os dois gêneros –

como exemplo podemos citar o Motoqueiro Fantasma –, desenvolveu personagens

femininas de alguns de seus mais conhecidos personagens, investiu em heróis

urbanos, aproveitou a moda das artes marciais deste período, e ainda desbravou todo

o universo cósmico. Dentre as personagens femininas criadas nesta época, tanto da

DC quanto da Marvel podemos destacar: a Miss Marvel (posteriormente alterada para

Capitã Marvel), a Mulher-Aranha, Mulher-Hulk, Gata-Negra, Tigresa.

22 Speedy, no original.

23 O Mundo de Krypton, na tradução.

24 Uma equipe de heróis mutantes da Marvel Comics, criados por Stan Lee e Jack Kirby em 1963. Fonte: Omelete. Disponível em: <https://omelete.uol.com.br/x-men/>. Acesso em: 15 mai. 2016.

25 Grupo de heróis adolescentes. Originalmente composto por Robin (parceiro de Batman), Kid Flash (parceiro do Flash) e Aqualad (de Aquaman). Futuramente vieram Moça-Maravilha (da Mulher-Maravilha), e Ricardito (de Arqueiro Verde). Com o passar do tempo novos integrantes foram surgindo, todos adolescentes. Fonte: Guia dos quadrinhos. Disponível em: <http://www.guiadosquadrinhos.com/personagem/turma-tita/1371>. Acesso em: 15 mai. 2016.

Page 41: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

39

Assim como não há consenso sobre seu início, também não há sobre o seu

término. Alguns historiadores nem consideram que tenha tido um fim. Normalmente,

é atribuído o período entre 1985 a 1986 como seu término, pois nesta época houve

outras mudanças no formato das HQs, como o surgimento das graphic novels, a

publicação de Batman O Cavaleiro das Trevas da DC, e Guerras Secretas da Marvel.

“Seja como for, a Era de Bronze corresponde a um dos períodos mais ricos da

publicação de quadrinhos da história”. (CALLARI, s.d., p. 59).

2.2.5 Era Moderna

Rosa (2015) afirma que a Era Moderna não é uma nomenclatura oficial

desenvolvida por historiadores, e sim informal criada por fãs, que é marcada pela

publicação de quadrinhos a partir da década de 1980 até os dias atuais. É considerada

como informal pois não há nenhum consenso a seu respeito, sobre início – alguns

acreditam que essa ainda nem iniciou –, término, nem mesmo sobre suas reais

características.

O autor atesta também que nesta época a caracterização das personagens,

tanto da Marvel quanto da DC, se tornaram ainda mais sombrias, realistas e

opressivas. Como exemplo dessa característica, podemos citar as HQs da DC

Watchmen (figura 9) e Batman Cavaleiro das Trevas.

Page 42: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

40

Figura 9 – Watchmen

Fonte: <http://pipocacombo.com/wp-content/uploads/2009/03/watchmen_hq.jpg>. Acesso em: 15 mai.

2016.

Para aqueles que defendem essa nomenclatura, um dos marcos iniciais seria

a ascensão e consagração das graphic novels, além da criação das novas editoras

importantes deste mercado como a Dark Horse Comics, desenvolvida em 1986 e hoje

se tornou a terceira maior editora do mundo. Dentre suas publicações mais famosas

estão: Hellboy, Conan, Ghost, e Concreto, além de alguns materiais licenciados como

RoboCop, Alien, Predador e Buffy a Caça Vampiros.

Nesta época também foram criados selos dentro das próprias editoras para

diferenciar seu material adulto do infantil e juvenil. Quem começou esta prática foi a

DC, com a criação do selo Vertigo, e a Marvel só veio a responder anos depois com

a criação do selo Marvel Max.

Mesmo não sendo considerada uma nomenclatura oficial, as mudanças dessa

Era e as histórias que ela trouxe e continua trazendo foram de grande importância

para a história dos quadrinhos, pois reflete fortes mudanças sociais e psicológicas em

relação as anteriores, acompanhando juntamente as mudanças do mundo.

Page 43: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

41

Page 44: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

42

3. HISTÓRIA EM QUADRINHOS DO PAPEL E ALÉM

Como vimos brevemente no capítulo anterior, as histórias em quadrinhos

tiveram sua origem nas tiras de jornais de impresso. Com o passar dos anos, as

mudanças sociais e os avanços tecnológicos essas histórias passaram a ocupar os

mais diversos formatos, sendo que, atualmente, podemos acessá-las em diferentes

meios, inclusive na internet.

A mudança do meio em que as histórias em quadrinhos estão inseridas altera

o formato de leitura, interferindo diretamente na maneira como o leitor irá receber sua

mensagem. Por exemplo, ao ler uma HQ na internet não temos a possibilidade do

toque da folha de papel, por mais que este meio tente simular um livro, a sensação da

leitura é diferente, especialmente para os leitores que nasceram antes dessa nova

apropriação, e ainda estão muito ligados à antiga “cultura do papel”.

Portanto, é importante para este estudo que façamos uma breve recapitulação

da história do papel, desde suas origens até o formato que refere-se ao objetivo de

estudo deste trabalho. Também não podemos deixar de conhecer, de maneira sucinta,

os demais meios em que as histórias em quadrinhos podem aparecer, afinal, sua

origem está atrelada ao papel, mas, hoje vivemos na Era da Tecnologia e com ela

veio a apropriação das HQs para diversas mídias diferentes.

Outro ponto importante a ser analisado é a maneira como essas histórias são

transpostas para os demais meios. Neste trabalho vamos seguir os conceitos de

remediação desenvolvidos por Bolter e Grusin (1998). Visto que o foco deste estudo

é perceber de que forma as histórias em quadrinhos são transformadas em séries

televisivas, também é de suma importância fazermos uma passagem pela história das

séries.

Também veremos as diferentes características das histórias em quadrinhos, e

os principais elementos que as compõe, como o quadro, os diferentes tipos de balões,

as onomatopeias, as personagens, o tempo de narrativa, dentre outros.

3.1 HQ: ELEMENTOS DE SUA LINGUAGEM

Como já vimos brevemente no capítulo anterior, as histórias em quadrinhos

possuem uma linguagem própria, que usualmente é estruturada através da

combinação de dois códigos, o linguístico e das imagens. Apesar da possibilidade de

Page 45: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

43

serem analisados separadamente, estes, se complementam para uma total

compreensão da leitura.

Couperie et al (1970) afirma que como meio de comunicação, a história em

quadrinhos conseguiu se equiparar ao cinema e à televisão, e que assim como os

mesmos ela se encontra aprisionada entre imagem e texto, e a maior dificuldade seria,

justamente, em separar esses elementos. Cagnin (1991 apud SILVA, 2001) afirma

que o destaque na linguagem dos quadrinhos está nas imagens, pois é através da

ambientação, das cores, dos enquadramentos, que podemos perceber as

características das personagens e a evolução da história.

O autor também atesta que um dos elementos principais que marca a

linguagem dos quadrinhos é a utilização dos balões de fala ou de pensamentos. De

acordo com Acevedo (1990), esta utilização do balão é justamente o que diferencia

os quadrinhos das demais formas narrativas existentes. O autor continua, ao afirmar

que o balão possua dois elementos: “o continente (corpo e rabicho) e o conteúdo

(linguagem escrita ou imagem)." (ACEVEDO, 1990, p. 101).

Iannone e Iannone (1995) acreditam que o balão é um elemento fundamental

das HQs, pois, ele pode abranger tanto texto quanto imagens, que representam as

falas das personagens, além de pensamentos e sonhos. Para Silva (2001) outros

elementos linguísticos são utilizados para superar algumas limitações do gênero,

como, por exemplo, a falta de som. Para isso, há diversos recursos como alteração

nos tamanhos de fonte – que podem expressar uma alteração na tonalidade da

personagem - ou nos formatos de balões, que exemplificam diferentes emoções. A

respeito dessas modificações, Cagnin (1975) define que os seguintes tipos de balão

são os principais:

Balão-fala: Também chamado de “balão de fala”. Possivelmente o mais

conhecido dos tipos, além de o mais neutro. Possui contorno regular,

reto ou curvilíneo, com apêndice num formato que lembra zigue-zague:

Page 46: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

44

Figura 10 – Balão-fala

Fonte: RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: Contexto, 2009. p. 37.

Balão-pensamento: Seu contorno é ondulado, e seu apêndice possui

formato de bolhas. Sua forma é nebulosa, lembrando uma nuvem. Indica

pensamento, sonhos e lembranças:

Figura 11 – Balão-pensamento

Fonte: RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: Contexto, 2009. p. 37.

Balão-cochicho: Composto por linhas pontilhadas. É utilizado para

indicar tonalidade de voz baixa:

Page 47: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

45

Figura 12 – Balão-cochicho

Fonte: RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: Contexto, 2009. p. 37.

Balão-berro: Formado por extremidades voltadas para fora, remetendo

a uma “explosão”. Indicação de tonalidade de voz alta:

Figura 13 – Balão-berro

Fonte: RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: Contexto, 2009. p. 37.

Balão-trêmulo: Inteiramente desenvolvido por linhas tortas. Indica medo

ou voz tenebrosa:

Figura 14 – Balão-trêmulo

Fonte: RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: Contexto, 2009. p. 38.

Page 48: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

46

Balão-vibrado: Seu contorno possui pequenas ondulações – diferente

das existentes no balão de pensamento. São utilizados para indicar voz

tremida:

Figura 15 – Balão-vibrado

Fonte: RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: Contexto, 2009. p. 38.

Balão-de-linhas-quebradas: É composto por pequenas pontas, como se

fossem pequenas faíscas elétricas. Sugerem falas provenientes de

aparelhos eletrônicos:

Figura 16 – Balão-de-linhas-quebradas

Fonte: RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: Contexto, 2009. p. 38.

Balão-glacial: Tem esse nome, pois, remete a gelo derretido. É utilizado

para demonstrar desprezo de algum personagem, ou choro:

Page 49: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

47

Figura 17 – Balão-glacial

Fonte: RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: Contexto, 2009. p. 38.

Balão-uníssono: Possui o mesmo contorno de um balão de fala normal,

porém, é utilizado para sugerir que vários personagens estejam falando

a mesma coisa ao mesmo tempo:

Figura 18 – Balão-uníssono

Fonte: RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: Contexto, 2009. p. 39.

Balões-intercalados Utilização de balões localizados entre os balões de

determinada personagem, representando a fala de outro interlocutor:

Page 50: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

48

Figura 19 – Balões-intercalados

Fonte: RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: Contexto, 2009. p. 39.

Balão-mudo: Balão cujo conteúdo não é representado por falas, e sim,

por algum sinal gráfico, como uma sequência de pontos, por exemplo;

Figura 20 – Balão-mudo

Fonte: RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: Contexto, 2009. p. 39.

Balão-zero ou ausência de balão: É a inexistência do balão, onde as

falas ficam soltas. Pode ser utilizado com ou sem apêndice.

Page 51: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

49

Figura 21 – Balão-zero ou ausência de balão

Fonte: RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: Contexto, 2009. p. 39.

Balões-duplo: Refere-se a dois momentos distintos de fala.

Figura 22 – Balões-duplo

Fonte: RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: Contexto, 2009. p. 40.

A respeito da concepção de balões-duplo, Ramos (2009) acredita que é

necessário revermos o conceito. Para ele, essa definição não é ampla o suficiente,

pois refere-se à existência de apenas dois momentos de fala, quando, na verdade, os

balões podem determinar vários momentos distintos de diálogos. Assim, Ramos

(2009) sugere que uma alteração para balão-composto.

Page 52: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

50

Figura 23 – Balão-composto

Fonte: RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: Contexto, 2009. p. 40.

Eguti (2001 apud RAMOS, 2009, p. 41) afirma que existam ainda mais três tipos

de balões:

Balão-sonho: Evidencia através de imagens o conteúdo do sonho de

determinada personagem;

Figura 24 – Balão-sonho

Fonte: RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: Contexto, 2009. p. 41.

Balão de apêndice cortado: É utilizado para demonstrar a voz de um

emissor que não está presente no quadro.

Page 53: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

51

Figura 25 – Balão de apêndice cortado

Fonte: RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: Contexto, 2009. p. 41.

Balões-especiais: Aparecem quando há a necessidade de demonstrar

algum sentimento de determinado personagem, assumindo uma forma

que conote a esse sentimento.

Figura 26 – Balões-especiais

Fonte: RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: Contexto, 2009. p. 41.

Em relação a localização dos balões Quella-Guyot (1994) afirma que a posição

do balão não é aleatória e dá-se de maneira premeditada, a fim de facilitar a leitura.

Ordenados da esquerda para a direita, de cima para baixo, explana de maneira clara

a cronologia das falas. Em casos onde há diálogos grandes, pode ocorrer de os

balões, invadirem uns aos outros, assim, o último cobriria parte do seguinte.

De acordo com Silva (2001) outro elemento característico dos quadrinhos é a

utilização de onomatopeias, palavras, letras e desenhos que simbolizam

determinados sons e ruídos, que não podem ser realmente emitidos. Alguns exemplos

comuns são os sons das lutas nas histórias de super-heróis, representados por "pow",

Page 54: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

52

"boom", "splash", dentre outros. Quella-Guyot (1994) acredita que as onomatopeias

compõem a sonoplastia, trilha sonora, dos quadrinhos. Mesmo nas histórias “sem

palavras” pode haver casos de onomatopeias, pois, através das mesmas é possível

que façamos a distinção dos sons da história.

A respeito da linguagem dos quadrinhos e da utilização do balão e das

onomatopeias, Cirne (2000) afirma:

Os quadrinhos, como linguagem, têm a sua especificidade, que não reside propriamente no balão: reside, antes, no modo narrativo visual capaz de agenciar elipses gráficas e espaciais. O desencadeamento de imagens (“congeladas” no tempo e no espaço) será sempre relacional, cuja tessitura significante apontará para a eficácia das relações críticas entre os diversos planos/enquadramentos de cada série ou estória. Caso contrário, não teremos um quadrinho de consequências estéticas, inclusive narracionais e gráficas, realmente produtivas. Aqui, o elemento semântico da informação textual, contido em balões ou simples legendas, filtra-se na travessia icônica de todos os elementos constitutivos do discurso quadrizante. Assim, Flash Gordon (Raymond), Príncipe Valente (Foster) e Tarzan (Foster e Hogarth), em suas melhores estórias (anos 30 e 40), são clássicos sem usarem o balão; muitas onomatopeias, nos super-heróis, por exemplo, são mais expressivas na medida em que contêm elevada temperatura visual: a pobreza semântica de um plaft, de um bang, de um zuum ou de um vapt, pode ser substituída pela riqueza plástica de sua exploração iconográfica, onde o abstrato se transforma em concreto, seja metalinguístico ou não. (CIRNE, 2000. p. 29).

Os quadrinhos possuem ainda diversos outros elementos que contribuem na

composição de sua estrutura. O quadro é um dos elementos principais nos

quadrinhos, pois, é através dele que podemos identificar as sequências da história.

Eisner (1989) afirma que para termos uma boa compreensão dos eventos e ordem

cronológica é necessário separá-la em quadros. De acordo com McCloud (1995) cada

quadro numa história em quadrinhos representa um momento único no tempo. Entre

cada momento “congelado”, há momentos intermediários desenvolvidos por nossa

mente, o que causaria a ilusão de movimento. Assim, para o autor, o quadro pode ser

considerado o principal elemento dos quadrinhos.

Iannone e Iannone (1995) acreditam que o formato mais usual dos quadrinhos

é o retângulo, formando uma moldura através da utilização de linhas retas. Para Silva

(2010) os formatos mais comuns de enquadramento são quadros regulares, que

possibilitam uma configuração dos conjuntos de maneira mais fácil e revela uma maior

transparência a respeito do conteúdo, contudo, restringem a liberdade criativa. Nesse

viés, o autor acredita que existam diversos formatos nos quadrinhos, tanto regulares

quanto irregulares.

Page 55: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

53

O autor atesta ainda que o uso de quadros regulares – quadrados ou

retângulos, com a utilização de linhas retas – compõe um layout comum dos

quadrinhos, utilizado, na grande maioria das vezes, em tiras de jornal, além de

algumas revistas em quadrinhos. Há também o caso das tiras que não possuem

quadros propriamente regulares, contudo, sua estrutura central permanece simétrica,

facilitando a veiculação da tira em espaços estreitos. Segundo o autor há uma grande

alternância entre quadros regulares e irregulares, podendo aparecer nos mais

variados formatos, apesar de não serem usuais, como: quadros circulares, quadros

panorâmicos, quadros irradiados, quadros inclinado, cortes diagonais e quebra na

ortogonalidade, layout de página livre, quebra dos quadros, o quadro como estrutura

opressiva e ainda os quadros com formatos inusitados.

Outra importante parte dos elementos das histórias em quadrinhos são as

personagens. Brait (2006) visualiza a personagem como um ser que pertence ao

mundo ficcional. Hamon (s.d. apud BRAIT 2006) define que existam três tipos de

personagens:

Personagens “referencias”: Trata-se daqueles que remetem a algo fixo,

conhecidas comumente por personagens históricas. Esse tipo de

personagem está atrelada a uma cultura, e sua assimilação depende do

nível de conhecimento do leitor a respeito dessa cultura. Essa condição

mantém o efeito do real, e auxilia esse tipo de personagem a ser

designada como herói.

Personagens “embrayeurs”: São aquelas que servem como elemento de

ligação e só conseguem ter um sentido completo quando relacionadas a

demais elementos da narrativa, pois não possuem nenhum significado

exterior. Como exemplo a autora cita Watson, parceiro de Sherlock

Holmes.26.

Personagens “anáforas”: São as personagens que só são

compreendidas inteiramente a partir da rede de relações construída pelo

26 Detetive fictício criado por Sir Arthur Conan Doyle. Sherlock é um homem da ciência e da razão, resolvendo seus casos com metodologia científica e lógica dedutiva. Seu assistente e aprendiz é o doutor John Watson. Fonte: Info Escola. Disponível em: <http://www.infoescola.com/biografias/sherlock-holmes/>. Acesso em: 14 mai. 2016.

Page 56: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

54

tecido da obra. Um exemplo dessa categoria citado pela autora é

Diadorim, de Grande Sertão Veredas27.

A autora explica ainda que baseando-se nessas classificações, pode também

existir personagens que se enquadrem como integrantes das três categorias

simultaneamente.

Há uma grande variação na forma de representação entre personagens do

sexo feminino e masculino. Algo comum na narrativa ao tratar das personagens

femininas é o estereótipo corporal. A respeito disso Brandão (2006, p. 33) atesta que

"a mulher representada na literatura, entrando num circuito, produzindo efeitos na

literatura, muitas vezes acaba por se tornar um estereótipo que circula como verdade

feminina." Mesmo nas histórias em quadrinhos, o estereótipo do corpo feminino é

muito presente. Algumas personagens, como Mulher-Maravilha e Mulher-Gato, por

exemplo, utilizam roupas justas que evidenciam sua curvatura corporal, além de

vestimentas curtas que deixam a mostra partes de seu corpo, como as pernas.

Apesar dessa prática ser antiga, continua valendo até os dias atuais. Pela

concepção de Santaella (2003) o corpo é o principal sintoma do pós-modernismo,

cultura que está extremamente preocupada com o prazer imediato, o presente, aqui e

agora. A autora também acredita que “a palavra de ordem está no corpo forte, belo,

jovem, veloz, preciso, perfeito, inacreditavelmente perfeito”. (SANTAELLA, 2003, p.

127).

Essa técnica de sexualização das personagens femininas é utilizada a fim de

alavancar o mercado, visto que muitos dos leitores do gênero são do sexo masculino,

principalmente jovens. Dessa maneira, o corpo se transforma em mercadoria.

Outra técnica comum referente às personagens é a utilização dos arquétipos.

Mark e Pearson (2003) afirmam que antigamente, na Roma e na Grécia, os arquétipos

eram o alicerce dos mitos. Para as autoras existem 12 arquétipos, sendo eles: o

inocente, o explorador, o sábio, o herói, o fora-da-lei, o mago, o cara comum, o

27 Uma das maiores obras da literatura brasileira, escrita por Guimarães Rosa. Diadorim é a personagem-chave do romance. Tida como homem durante quase toda a narrativa. Apenas nas últimas páginas o narrador conta que, depois de sua morte, quando o corpo é despido e lavado, descobre-se que se tratava de uma mulher. Fonte: Guia do Estudante. Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/literatura/grande-sertao-veredas-resumo-obra-guimaraes-rosa-700263.shtml>. Acesso em: 14 mai. 2016.

Page 57: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

55

amante, o bobo da corte, o prestativo, o criador e o Governante. Para este trabalho é

relevante falarmos sobre o Herói, também conhecido por “o guerreiro, o cruzado, o

libertador, o super-herói, o soldado, o atleta vencedor, o matador de dragões, o

competidor e o jogador de equipe." (MARK; PEARSON, 2003, p. 114)

O lema desse arquétipo é "Onde há vontade, há um caminho." (MARK;

PEARSON, 2003, p. 113). As autoras atestam que praticamente todos os super-heróis

se enquadram nesse arquétipo, visto que seus rivais são os Fora-da-Lei. Os heróis

geralmente são encontrados nos campos de batalha ou competições atléticas, nas

ruas ou em qualquer lugar onde haja uma pessoa em necessidade. Sua vontade é de

transformar o mundo num local melhor para se viver. Seu desejo é demonstrar seu

valor através de ações destemidas e difíceis. A meta de sua vida é usar suas

habilidades para melhorar o planeta. Seu medo é de ser fraco e vulnerável, não tendo

assim as características necessárias para persistir e vencer. A estratégia utilizada

pelos heróis é de tornar-se o mais forte, poderoso e competente quanto possível. A

armadilha desse arquétipo é a arrogância, e o desenvolvimento da necessidade

eterna de um vilão com quem lutar. Seus dons incluem coragem e competência. Os

maiores motivos de orgulho para os heróis são seu foco, disciplina e capacidade de

tomar decisões árduas.

A ativação do arquétipo do herói, de acordo com as autoras, pode resultar tanto

em buscas por desafios ambiciosos quanto em outras mais singelas, que percebem

as injustiças e problemas e realizam apenas as ações necessárias para o momento

em questão. Em ambas as hipóteses, a maneira com que o herói se fortalece é a

mesma, através de desafios. Sentem-se desrespeitados ao perceberem qualquer

sinal de injustiça, respondendo de maneira rápida e decisiva. Assim, tornam-se

protetores de todos que julgam inocentes, frágeis ou incapazes de se

autodefenderem. Com isso, nesse arquétipo, é trabalhado a energia, o foco, a

disciplina e a determinação.

3.2 HQ ALÉM DO PAPEL

Gonçalves (2013) acredita que ao longo dos anos houve muitas transformações

nos processos de escrita e de leitura, sendo que cada uma delas atendeu às

necessidades e as exigências da fase cultural e social que representam. Porém, essas

Page 58: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

56

mudanças não representam uma ruptura da fase anterior, mas sim "uma revolução

nas estruturas do suporte material do escrito assim como nas maneiras de ler"

(CHARTIER, 1998, p. 13 apud GONÇALVES, 2013, p. 29). A autora atesta também

que desde a argila até o texto impresso, novas práticas de leitura foram inventadas.

Essas práticas se transformam devido a evolução social e ao surgimento de novos

suportes de leitura, que mesmo renovando sua técnica continua utilizando alguns

elementos de seu antecessor. O livro moderno e o de Gutenberg, por exemplo, ambos

usufruem da paginação, da numeração e dos índices que foram originalmente

inventados no códice.

A respeito dos suportes de leitura Marcuschi (2003, p. 25) faz a seguinte

afirmação "o suporte tem a ver centralmente com a ideia de um portador do texto, mas

não no sentido de transporte ou veículo, nem como um suporte estático e sim como

um locus no qual o texto se fixa e que tem repercussão sobre o gênero que suporta".

Nesse contexto podemos perceber que o suporte tem uma função fundamental

na circulação da escrita na sociedade, facilitando a leitura das pessoas. Ainda de

acordo com Marcuschi (2003), cada suporte dispõe de seus próprios fins

comunicativos, e pode ser tanto concreto e materializado, quanto de realidade virtual,

como, por exemplo, a internet cujo suporte é o próprio visor do computador.

Gonçalves (2013) acredita que existam diversos suportes, da mesma maneira

que existem numerosos gêneros textuais. Dessa forma, a invenção de novos suportes

é resultado da manifestação de novos gêneros textuais. Essa mudança também pode

estar relacionada à transformação de um gênero em outro. Um exemplo desse caso

é o e-mail, que originou-se da carta e do bilhete, mas após o surgimento da internet e

do suporte digital, manifestou-se como um novo gênero.

A leitura também passa por alterações de acordo com o suporte em que se

encontra. Marcuschi (2003) exemplifica isso ao comparar a leitura de uma revista com

a leitura de um outdoor. Numa leitura feita em revista, o leitor tende a se concentrar

mais, se aprofundando no assunto que está sendo tratado, já uma leitura de outdoor

é feita de maneira mais rápida e geralmente com grande distância entre o leitor e o

texto, dificultando a atenção aos detalhes. Outra diferença importante é que um texto

de revista é consideravelmente maior e mais completo do que um texto de outdoor,

sendo que no primeiro caso há mais espaço, possibilitando maior quantidade de texto.

Ao analisarmos uma revista impressa e uma digital, também temos diferenças na

leitura, pois a mudança de suporte pode interferir diretamente na leitura.

Page 59: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

57

Nós não operamos do mesmo modo com os textos suportes diversos, mas isso não significa ainda que os suportes veiculem conteúdos diversos para os mesmos textos. O suporte não muda o conteúdo, mas nossa relação com ele, não só por permitir anotações, mas por manter um contato diferenciado com ele. (MARCUSCHI, 2003, p. 28).

Gonçalves (2013) resume a ideia de suporte afirmando ser o lugar onde

qualquer texto se concretiza, dando oportunidade para uma nova realização: a leitura.

O suporte além de apresentar o texto, o transforma acessível ao leitor. Também é

dinâmico, e pode causar modificações no gênero textual dependendo do ambiente no

qual está localizado.

Marcuschi (2003) atesta que existam diversos suportes na nossa sociedade, e

estes modificam-se baseados em seu uso. Alguns suportes existem desde muitos

anos, e são parte importante da vida das pessoas, podendo aparecer em diferentes

formatos: desde os desenhos nas paredes das cavernas até o papel impresso, assim

como no ambiente virtual, através da tela de computador. Nossa sociedade está

repleta de ambientes textuais, e consequentemente, diversos suportes, que trazem

características específicas de cada um deles.

Essa diversidade de suportes está atrelada também às mudanças tecnológicas.

De acordo com Bolter e Grusin (1998) na nossa sociedade as tecnologias estão se

expandindo muito rápido, tanto que nós não estamos conseguindo acompanhar seu

ritmo. Nossa vontade é de multiplicar a mídia e ao mesmo tempo deletar todos os

seus traços, ou seja, apagá-la no próprio ato de multiplicá-la. Antigos eletrônicos e até

mesmo a própria mídia impressa estão tentando manter seu lugar dentro dessa nova

cultura digital, assim, ambas as mídias antigas e atuais estão utilizando das lógicas

de imediação e hipermediação, a fim de se refazerem.

Para Thornbunr e Jenkins (2003) nenhuma tecnologia ao "nascer" é realmente

nova ou original. Essa mudaria de acordo com o contexto cultural da época em que

está, mas ainda herdaria formas, partes, hábitos das tecnologias que lhe originaram.

Assim, percebemos que após a invenção de uma nova tecnologia, sua evolução

depende diretamente do contexto tecnológico em que se enquadra. (THORBURN;

JENKINS, 2003). O sucesso e aceitação dessas novas tecnologias são resultados do

modo como renova as antigas convenções, dando origem a práticas original e novas

utilizações.

Page 60: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

58

Gonçalves (2011) acredita que assumindo os códigos representacionais das

prévias tecnologias, as novas acabam por homenagear as anteriores, porém

necessitam além disso superar de alguma maneira esse meio antecedente, atraindo

a atenção do público e instaurando-se cultural e socialmente. Para tanto é necessário

proporcionar ao público uma experiência enaltecedora, completa, que seja "única" e

"real", causando uma necessidade de renovação como requisito para que sobrevivam

às tecnologias que lhes precedem e lhes originam (BOLTER, 2007).

O primeiro autor a perceber essa questão de evolução e reapropriação da mídia

foi McLuhan, pelo seu ponto de vista "o conteúdo de qualquer meio ou veículo é

sempre outro meio ou veículo. O conteúdo da escrita é a fala, assim como a palavra

escrita é conteúdo da imprensa e a palavra impressa é conteúdo do telégrafo"

(MCLUHAN, 2000, p. 22). A ideia do autor não era defender a premissa de que a força

das novas tecnologias depende apenas das tecnologias anteriores, mas que se

fundamenta na relação de incorporação desses meios entre si, acrescentando ao

novo algumas particularidades próprias. Dessa maneira, o novo meio não apenas

copia o anterior, mas lhe acrescenta algo novo. (BOLTER e GRUSIN, 1998;

THORBURN e JENKINKS, 2003).

Partindo do conceito desenvolvido anteriormente por Marshal McLuhan, os

autores Bolter e Grusin (1998) criaram um novo e mais aprofundado conceito a

respeito da renovação entre as tecnologias, o qual denominaram remediação.

Gonçalves (2011) afirma que a remediação seria um processo de intermédio

entre tecnologias, passando pelo permanente processo de renovar-se e redefinir-se

na sociedade, onde os media precedentes – característicos da era anterior –

morreriam por completo. Suas funcionalidades são incorporadas e modificadas pelos

novos media que vão surgindo, ocupando novos nichos e aderindo as novas

exigências das sociedades atuais. Para Thorburn e Jenkins (2003) remediação é a

busca de equilíbrio entre a inovação e a tradição, cujo objetivo é a evolução.

Gonçalves (2011, p. 41) atesta que "os novos media digitais consistem em

remediações de géneros artísticos e culturais que nos são bastante próximos, tais

como a escrita, pintura, televisão, rádio, cinema e fotografia, entre outros”. Nos

processos de remediação ocorrem também contradições. A pluralidade e o grande

número de novas tecnologias acabam impondo às mesmas que duelem por nossa

atenção, ocasionando conjuntamente relações contraditórias envolvendo homenagem

e rivalidade.

Page 61: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

59

Alguns exemplos citados por Bolter e Grusin (1998) e Bolter (2007) a respeito

de remediações executadas pelos media visuais atuais são os jogos de computador,

que são uma forma de remediação em relação ao cinema ao demonstrarem uma

espécie de "filmes interativos"; a realidade virtual também é uma forma de remediação

do cinema e da pintura de perspectiva; a fotografia digital representa uma forma de

remediação da fotografia analógica.

Bolter e Grusin (1998) detectaram também outros dois diferentes métodos de

representação relacionados à remediação, sendo eles a imediação e a

hipermediação, que contribuem para a explicação dessas relações contraditórias

entre as diversas tecnologias. A imediação está relacionada a transparência, ou seja,

procura tornar o meio invisível, transparente, para que este não seja percebido,

enquanto a hipermediação retrata justamente o oposto, sua intenção é deixar-nos

conscientes de que o meio está presente durante o processo entre observador e

representação.

Xavier (2008) explica a diferenciação entre a transparência e a opacidade,

utilizando como princípio a composição da imagem e do som cinematográfico. No

primeiro, há o que o autor define por “efeito-janela”, refere-se à relação intensa entre

o espectador e o mundo demonstrado pela câmera, este é estruturado, porém,

conserva a aparência de uma realidade autônoma. No segundo caso vemos as

operações que fortalecem a ciência da imagem como um produto de superfície,

deixando a tela opaca, fazendo-nos perceber a existência do equipamento técnico e

textual que fornece a representação.

Com o passar dos anos e o aumento de estudos referentes à esta área,

comprovou que apenas essa classificação acima não é o suficiente para explicar a

relação entre o cinema e outras artes, porém, como este estudo não visa esta

abordagem, e sim o conceito de remediação, a explanação acima já é o bastante para

o entendimento e exemplificação das diferenças entre opacidade e transparência,

relacionadas à imediação e hipermediação respectivamente.

Para Bolter e Grusin (1998) a contínua oscilação entre transparência e

opacidade possibilita-nos entender por completo esse processo de remediação

utilizado pelos media, pois, nos faz constatar que apesar da contradição, estas duas

lógicas não apenas coexistem, mas também são interdependentes uma da outra; a

própria remediação ao tentar reformular um meio a fim de uma experiência imediata,

acaba tornando-nos cientes do meio enquanto meio.

Page 62: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

60

Os autores acreditam as lógicas da remediação advêm há vários séculos,

trazendo manifestações desde a época da Renascença e do nascimento da pintura

de perspectiva. Por sua perspectiva tanto um manuscrito medieval, quanto uma

pintura do século XVII ou uma aplicação repleta de botões e janelas multimídia

representam expressões midiáticas. Nos manuscritos medievais, as letras iniciais das

palavras são maiores, mais elaboradas e decoradas que as demais, porém, ainda

integram o mesmo texto.

Nós seríamos desafiados a apreciar essa integração entre texto e imagem

(figura 27). Em diversas aplicações multimídia, os gráficos e ícones também possuem

duplo papel, assim como nos antigos manuscritos, fazendo com que as imagens nos

“espiem” através das palavras. A hipermediação fazia-se presente, principalmente,

através da representação fracionada do espaço, e nos obrigava a ficarmos

conscientes da presença do meio.

Gonçalves (2011) também acredita que a remediação seja uma manifestação

de tendência antiga. Outras manifestações como pintura, fotografia, televisão e

cinema desde a antiguidade também vem procurando satisfazer nosso ideal de

transparência, usufruindo das mesmas técnicas utilizadas pelas tecnologias digitais

atuais, como o apagamento, a perspectiva linear e a automatização.

A autora também acredita que por estar diretamente relacionada as diferentes

lógicas da remediação, a imagem assumiu um importante papel nessa cultura. Há

infinitas possibilidades para esse meio atualmente, desde edições fotográficas e

efeitos especiais à vídeo conferências. Devido a isso a imagem se torna mais cativante

ao espectador do que um texto comum na tela.

Page 63: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

61

Figura 27 – Manuscrito medieval

Fonte: <https://s-media-cache-

ak0.pinimg.com/736x/39/c4/c4/39c4c4c872234ae4c382db3807734249.jpg>. Acesso em: 06 mai. 2016.

A hipermediação, segundo a autora, é derivada da palavra "hipermídia" que

retrata a experiência do resultado de cruzamento entre a televisão com as novas

tecnologias da informática. Bolter e Grusin (1998) afirmam que esse termo foi adotado

pela primeira vez por Bob Cotten e Richard Oliver em 1993, cuja intenção era

categorizar os ambientes compostos pelos diferentes media, tais como texto, imagem,

vídeo e som, que podem se transforar em aplicações interativas para a Web.

Os autores também atestam que apesar da imediação ter se manifestado ainda

na época da Renascença e permanecer até os dias atuais, cada manifestação deveria

ser analisada individualmente, pois, em cada era pode ter um significado diferente,

assim como cada público também pode ter sua visão individual.

Assim, podemos concluir que segundo a concepção de Bolter e Grusin (1998)

pela lógica da imediação, o meio em si deveria desaparecer. Porém, frequentemente,

em ambas as mídias novas e antigas o meio continua a aparecer. Essas lógicas

Page 64: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

62

contraditórias do meio digital são mutuamente dependentes, ou seja, a imediação

depende da hipermediação.

Com isso percebemos que de acordo com a mudança de suporte, também há

mudança de formato, como é o caso das histórias em quadrinhos, que apesar de

terem se originado no papel através das tiras de jornais e das revistas, como já vimos

anteriormente, podem passar para diversos outros formatos, dependendo da mídia

em que será transmitida, ou seja, o suporte utilizado. Um exemplo é a transposição

das histórias em quadrinhos para o meio televisivo, transformando assim, algo que

até então era estático, composto por desenhos e palavras em algo com movimento e

falas audíveis. Apesar da grande mudança na maneira como a história será

apresentada, a história em si, sua base é a mesma, mudando apenas a forma como

será emitida. O que nos remete novamente a McLuhan (2000), ao afirmar que os

conteúdos de cada mídia, pertencem sempre a outra mídia.

Assim, a seguir, veremos os diversos suportes em que as histórias em

quadrinhos podem aparecer, explicando, brevemente, de que maneira ocorrem essas

apropriações e transposições.

3.2.1 Manifestações Midiáticas das HQs

A forma mais conhecida dos quadrinhos é sua veiculação em formato impresso,

como, por exemplo, em revistas e tiras de jornais. Porém, é possível encontrar

também outras categorias, que se encaixariam em diferentes formatos, desde ou mais

tradicionais até alguns experimentais. A seguir, serão apontados e brevemente

descritos, os diversos formatos midiáticos das histórias em quadrinhos, pela visão de

Franco (2004), sendo eles: página dominical, tira de jornal, fanzines, revistas

periódicas ou comic books, álbuns e graphic novels, manuais didáticos, story boards,

HQ radiofônica e HQ ao vivo, vídeo BD ou BD clip, E-comics ou BD Interative ou

HQtrônica.

Página dominical: Uma das primeiras e mais importantes formas de publicação

de histórias em quadrinhos na atualidade. Surgiu por volta do século XX,

quando alguns jornais americanos passaram a publicar nos jornais de domingo

poucas páginas de quadrinhos. Na grande maioria dos casos, a história inteira

ou um capítulo da mesma era publicado em página única.

Page 65: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

63

Figura 28 – Exemplo de página dominical

Fonte: <http://3.bp.blogspot.com/-aXXZA03i0IY/U5FZ_41-

52I/AAAAAAAATeE/3h_SXwgwrSI/s1600/MaryPerkins01_0015.jpg>. Acesso em: 08 mai. 2016.

Tira de Jornal: Popular ainda nos dias atuais em diversos jornais ao longo do

mundo, foi uma das primeiras formas de histórias em quadrinhos a serem

veiculadas. É caracterizada, principalmente, por seu formato que tende a ser

horizontal com dois a quatro quadros - podendo variar de acordo com cada HQ

– dispostos lado a lado em uma coluna única. Podem ser publicados

diariamente ou semanalmente. Segundo a definição de Ramos (2009) como

exemplos desse meio, temos as tiras cômicas, tira de classificados, tiras

seriadas e tiras cômicas seriadas.

Figura 29 – Exemplo de Tira de Jornal

Fonte: RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: Contexto, 2009.

Page 66: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

64

Fanzines: Originalmente eram publicações independentes criadas por fãs de

alguns personagens de histórias em quadrinhos, séries de TV, cinema, ficção

científica, dentre outros. Hoje em dia, os fanzines de quadrinhos, também

conhecidos por revistas alternativas de quadrinhos, possuem grande liberdade

de expressão, pois não se inserem nas leis regidas pelo mercado dos

quadrinhos, podendo assim, serem distribuídos pelos correios e possuírem

uma tiragem menor que a dos quadrinhos de editoras. Na grande maioria das

vezes, são constituídos por desenhos ou até mesmo colagens, e copiados para

custos menores.

Figura 30 – Exemplos de Fanzine

Fonte: <http://perrogordo.cl/wp-content/uploads/2012/09/coleccion-fanzines-chilenos.jpg>. Acesso

em: 08 mai. 2016.

Page 67: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

65

Revista periódica ou Comic Book: Também conhecido no Brasil como "Gibi", é

um dos formatos mais comuns na publicação de histórias em quadrinhos. Essa

consiste em publicações em forma de revista, cujas dimensões utilizadas no

Brasil são 19x13,5cm (formatinho) e 26x17cm (formato americano). Um

exemplo bem conhecido de revista em quadrinhos brasileira é a Turma da

Mônica (figura 31), criada por Maurício de Souza.

Figura 31 – Exemplo de Revista Periódica

Fonte: <http://image.slidesharecdn.com/hq-lendasdofolclore-turmadamonica-120825200254-

phpapp02/95/hq-lendas-do-folclore-turma-da-monica-1-728.jpg?cb=1345925022>. Acesso em: 08 mai. 2016.

Page 68: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

66

Álbuns e Graphic Novels: Difere-se das revistas em quadrinhos pois remetem

a um livro de fotografia. Em seu material geralmente é utilizado papel de maior

qualidade, com arte refinada e encadernação luxuosa. Normalmente possuem

enredos mais longos e complexos, na sua grande maioria voltados ao público

adulto. Na Europa esse tipo de publicação é muito comum.

Figura 32 – Exemplo de Graphic Novel

Fonte: <https://images-na.ssl-images-

amazon.com/images/G/01/littlEMS/Twilight_Jacob_150._V214073583_.jpg>. Acesso em: 08 mai. 2016.

Manuais didáticos: As histórias em quadrinhos podem ser utilizadas também

para a fabricação de manuais didáticos e cartilhas dos mais diversos temas.

Como possui grande potencialidade didática, principalmente quando voltado

para crianças onde as imagens são essenciais, as cartilhas foram e ainda são

muito usadas para campanhas de conscientização. A característica mais

marcante desse tipo de publicação é sua objetividade, tanto da linguagem

quanto da composição visual, facilitando a compreensão do leitor.

Page 69: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

67

Figura 33 – Exemplo de manual didático

Fonte:

<http://www.seguranca.balneariopinhal.rs.gov.br/imagens/dinamicas/seguranca/Cartilha_Transito_01.jpg>. Acesso em: 08 mai. 2016.

Storyboards: Não são produzidos para fins comerciais, são utilizados apenas

como um elo entre os quadrinhos e o cinema. Tem por finalidade ilustrar o

roteiro escrito de um filme, demonstrando possíveis ângulos, que servirão de

orientação para o diretor e demais pessoas envolvidas na produção

cinematográfica. Um exemplo interessante é do filme Sin City, que tem sua

origem a partir das HQs. A imagem a seguir é o Storyborard do segundo filme

da franquia Sin City – A Dama Fatal28.

28 A Dame to Kill For, no original.

Page 70: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

68

Figura 34 – Exemplo de Storyboard

Fonte: <https://s.yimg.com/ny/api/res/1.2/F1gcdu79I8kaKTWNZDBxUA--

/YXBwaWQ9aGlnaGxhbmRlcjtzbT0xO3c9ODAwO2lsPXBsYW5l/http://magazines.zenfs.com/resizer/FIT_TO_WIDTH-w1275/04c5848106e1dc7f5739d07ed31856adfbd66082.jpg>. Acesso em: 08 mai.

2016.

HQ Radiofônica e HQ ao vivo: Funciona como uma mudança da linguagem da

história em quadrinhos para outro suporte, no caso desse o radiofônico. A

primeira experiência desse caso foi feita em março de 2000 pelo quadrinhista

Gazy Andraus que fez uma transposição de duas HQs para o rádio, são elas:

Esquizofrenia das Agradáveis, criada por Xalberto, e Um Diálogo Além do

Humano, do próprio Andraus. Para isso foi desenvolvida uma narração

juntamente com efeitos sonoros, algo similar as antigas radionovelas. Esse fato

ocorreu na rádio Universitária AM em Goiânia.

Vídeo BD ou BD Clip (HQ em vídeo): Assim como as HQs radiofônicas estas

também exigem uma mudança de suporte, porém, para o audiovisual.

Normalmente em suas produções, são utilizadas técnicas de digitalização, e

seus efeitos visuais são criados a partir de software de edição de vídeo. O

primeiro caso de vídeo BD conhecido ocorreu em 1985, pelo quadrinhista Enki

Bilai que produziu um vídeo tendo por base os croquis de sua HQ denominada

Los Angeles. No ano 1993, o também quadrinhista Will Eisner realizou uma

Page 71: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

69

experiência similar ao adaptar o clássico da literatura americana Moby Dick29,

para a televisão. Nessa produção para dar sensação de movimento à HQ,

Eisner utilizou textos e balões que ficavam sobrepostas às imagens.

Figura 35 – Exemplo de Vídeo BD ou BD Clip 30

Fonte: <https://www.youtube.com/watch?v=Wb-Qjf_uDNc>. Acesso em: 08 mai. 2016.

E-comics ou BD Interative ou HQtrônica: A mais atual experimentação no

segmento de linguagem das HQs. É resultado de uma produção híbrida, que

une elementos comuns das HQs aos recursos visuais e sonoros, além de

elementos hipermidiáticos. Dentre seus principais elementos, podemos

destacar: interatividade, animação, diagramação dinâmica, trilha sonora,

efeitos sonoros, tela infinita e narrativa multilinear. Segundo as concepções do

29 Narra a história do marinheiro Isamael, que parte para a ilha de Nantucket em busca de trabalho no mercado de caça às baleias. Lá, ele embarca no baleeiro Pequod, para uma viagem de três anos nos mares do sul. O capitão do navio é Ahab, um homem sombrio que ostenta uma enorme cicatriz do rosto ao pescoço e uma perna artificial, feita de osso de baleia. Ele é obcecado por encontrar a fera responsável por seus ferimentos e que nenhum arpoador jamais conseguiu abater, a temível Moby Dick. Fonte: Ediouro. Disponível em: <http://ediouro.com.br/novo/livro/moby-dick>. Acesso em: 08 mai. 2016.

30 Vídeo baseado na HQ "Atemporal" desenvolvida originalmente por Luendey Maciel. Produção feita pelos alunos da disciplina Oficina de História em Quadrinha da UFPR. Acesso em: 08 mai. 2016.

Page 72: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

70

autor existem três diferentes gerações de HQtrônica, cada uma com suas

especificações e características31

Outra manifestação midiática na qual os quadrinhos podem aparecer é o

Cinema. Apesar desta não estar dentro da classificação do autor, é válido vermos uma

breve explicação a seu respeito:

Cinema: O cinema atual consiste em "projeções públicas de imagens

animadas". (COMPACCI, 2014, p. 9). O autor afirma ainda que o cinema

originou-se de diversas inovações que partem desde o domínio da fotografia

até a síntese do movimento, através da utilização de uma mescla entre a

persistência* da visão e a criação de jogos óticos. O autor afirma ainda que o

"Sortie de l'usine Lumière à Lyon32" (figura 36) é conhecido como o primeiro

filme audiovisual exibido na história.

Figura 36 – Cena do filme Sortie de l'usine Lumière à Lyon.

Fonte: <https://multigraphias.files.wordpress.com/2011/05/lumic3a8re-sadoul2-

dissertac3a7c3a3o1.jpg>. Acesso em: 08 mai. 2016.

31 Ver FRANCO, Edgar. As HQtrônicas de terceira geração. Disponível em: <http://www.anpap.org.br/anais/2012/pdf/simposio2/edgar_franco.pdf>. Acesso em: 08 mai. 2016.

32 Empregados deixando a fábrica Lumière, na tradução.

Page 73: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

71

As histórias em quadrinhos ainda podem ser transpostas para mais um formato

de manifestação midiática além dos que foram citados anteriormente: trata-se das

séries televisivas. Como esse gênero em específico será a base para a análise deste

trabalho, será necessária uma contextualização maior a seu respeito, portanto o

mesmo terá seu próprio subcapítulo, que veremos a seguir.

3.3 HQ E SÉRIES: OS QUADRINHOS NA TV

As séries são definidas por Oz (2015, p. 4) como "filmes sequência, produzidos

com um número limitado de episódios curtos que contabilizam, no total, uma história

completa. Foram apresentados nos cinemas durante a primeira metade do século XX".

A autora atesta que séries e seriados não são sinônimos. As séries estão relacionadas

à continuidade, assim, os episódios se complementam. Para entender uma série é

necessário acompanhá-la seguindo a sequência dos episódios e temporadas. Os

seriados por sua vez, não têm necessidade de manter continuidade. Os episódios

podem ser acompanhados de maneira aleatória sem que haja perda de sentido.

A autora também acredita que as séries são classificadas, atualmente, como

um tipo de filme B, por tomarem como base fórmulas simples de estruturação e terem,

na grande maioria, baixos orçamentos, salvo exceções que possuem superproduções

de grande orçamento. Antigamente, a construção das séries variava entre dez a

quinze episódios, que terminavam, usualmente, com a personagem principal em

algum tipo de perigo supostamente não solucionável, o que causava curiosidade por

parte do público, fazendo com que os mesmos assistissem ao próximo episódio a fim

de descobrir como a situação iria se solucionar. Esse recurso foi nomeado

Cliffhanger33.

Brum (2009) acredita que foi com base na literatura que as séries adquiriram

armação suficiente para alcançar o sucesso. Era necessário narrar uma história que

fosse completa, mas ao mesmo tempo deixasse questões não finalizadas, fazendo

com que os telespectadores voltassem a assistir na semana seguinte para descobrir

33 “Recurso de roteiro que se caracteriza pela exposição do personagem a uma situação limite, precária, como um dilema ou confronto com uma revelação surpreendente”. (OZ, 2015, p. 5).

Page 74: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

72

as respostas dessas questões e o que aconteceria a seguir na história. Essa estrutura

utilizada na televisão, tem características que se originaram dos folhetins e contos. Oz

(2015) complementa, ao afirmar que esses fascículos eram, normalmente, quinzenais,

e narravam histórias policiais e de aventura. Se tornaram muito populares na Europa,

principalmente na França.

A tela pequena vai distraindo com histórias, noite após noite, os olhos de milhares de pessoas para evitar que seja trocada, ou desposada por outro programa. Como nos contos, as atrações de televisão trazem um relato que encanta. E assim são preservados por anos [...] Manter o público é o mote principal dos seriados (BRUM, 2009, p. 2).

Segundo a autora, a origem das séries estaria atrelada ao cinema, que durante

os anos de 1908 a 1920 apresentou os chamados "filmes em série", que se

transformaram nas principais exibições das casas de projeção. A primeira série

cinematográfica, de acordo com a autora, foi Nick Carter: Le roi des déctectives34, de

1908. Sua trama se baseava em novelas americanas populares. Foi dirigido por

Victorin Jasset, conhecido por ter grande imaginação e improvisar o roteiro durante as

gravações. Sua produção contou seis episódios cujas histórias eram completas

individualmente. Seu lançamento foi cronometrado, com intervalos de quinze dias

entre cada episódio, passando uma ideia de continuidade para o público. No ano de

1909 foi desenvolvida uma sequência.

34 Rei dos detetives, na tradução.

Page 75: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

73

Figura 37 – Nick Carter: Le roi des déctectives

Fonte: OZ, Fernanda. Seriados de A a Z: um guia completo para quem é louco por seriados. Rio de

Janeiro: Ediouro, 2015. p. 7.

Devido ao êxito, foram produzidas imitações da série ao redor do mundo,

segundo Oz (2015). Um exemplo bem conhecido é o detetive Sherlock Holmes. A

popularidade e o sucesso de Nick Carter abriram precedentes para disseminação da

série, iniciando uma era repleta de produções do gênero. Em 1910 houve o

lançamento de Arsène Lupin contra Sherlock Holmes35, um grande sucesso entre o

público. Já em 1913 foi desenvolvido Protea, no qual a personagem principal era

interpretada como uma mulher fatal. Uma das seriadas mais conhecidas da época foi

Fantômas criado por Louis Feuillade. Na história a personagem principal realizava

diversas performances, se passando por rei, pedinte, médico, dentre outros, enquanto

era perseguido pelo detetive Juve. A técnica de filmes em série só migrou para os

35 Na história Sherlock Holmes e Watson investigavam o ladrão Arsène Lupin.

Page 76: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

74

Estados Unidos em meados de 1912 com What Happened to Mary36, produzido por

Edison Company e a revista The Ladies World37. Até o ano de 1915 o público alvo das

séries americanas era o feminino. A partir dessa data, que as séries passaram a ter

títulos e protagonistas masculinos.

Apenas durante a primeira metade do século XX que as séries se

popularizaram dentre crianças e jovens, segundo a autora. Até a década de 1960 as

sessões de cinema comumente eram precedidas por um episódio de série, inclusive

no Brasil. Com o aumento do interesse do povo pelas séries, as emissoras de

televisão passaram a adquiri-los, transmitindo ao público episódios diários ou

semanais, dependendo da produção. A maioria das tramas retratava faroeste, porém,

outros gêneros também eram produzidos como dramas, espionagem, ficção científica,

aventuras na selva, e até adaptações de livros. Uma das maiores produções,

relacionada a despesas cinematográficas, foi Flash Gordon de 1936. A produção de

ficção científica, baseada nas histórias em quadrinhos de mesmo nome foi

desenvolvida pela Universal Studios38 com um total de 13 episódios.

Figura 38 – Flash Gordon (1936)

Fonte: OZ, Fernanda. Seriados de A a Z: um guia completo para quem é louco por seriados. Rio de

Janeiro: Ediouro, 2015. p. 10.

36 O que aconteceu com Mary, na tradução.

37 O mundo das damas, tradução nossa.

38 Disponível em: <http://www.universalstudios.com/>. Acesso em: 14 mai. 2016.

Page 77: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

75

A primeira série a apresentar o gênero de super-heróis, de acordo com Brum

(2009), foi Batman de 1966 a 1968, com base na história em quadrinhos de mesmo

nome, a série trazia um tom cômico. Era produzida pela emissora ABC com um

formato inusitado, transmitindo dois episódios por semana, com trinta minutos cada.

No primeiro, narrava a história, o vilão e o conflito, terminando sempre com um desafio

que era interrompido por uma narração, cuja voz afirmava que a resolução do caso

ocorreria na mesma "bat-hora39" no mesmo "bat-canal40". No próximo episódio, os

heróis conseguiam resolver o caso, e obviamente, Batman e Robin sempre venciam

o vilão. Com o passar do tempo o formato diferenciado perdeu o carinho e a

popularidade por parte do público. Assim na terceira e última temporada da série a

emissora decidiu alterar seu formato, para um único episódio semanal, com um total

de 1h de duração. O que também não funcionou. Os telespectadores já haviam se

cansado das aventuras da dupla dinâmica.

Figura 39 – Série Batman (1966 – 1968)

Fonte: <http://procrastination.com.br/wp-content/uploads/2015/10/002-batman-theredlist.jpg>. Acesso

em: 14 mai. 2016.

39 Trocadilho feito a partir da união das palavras Batman e hora.

40 Trocadilho feito a partir da união das palavras Batman e canal.

Page 78: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

76

A produção de um filme é muito similar à de uma série, como atesta Oz (2015),

podendo ser distinguida em poucos aspectos, como distribuição e roteiro. Pela

percepção da autora existem 5 passos principais numa produção de séries, são eles

roteiro, pré-produção, filmagem, pós-produção e distribuição.

Roteiro: A partir da ideia para a história, o escritor desenvolve um roteiro

baseando-se no tipo de produção - séries, longas, curtas. Após a finalização

do roteiro, se o produto não receber financiamento direto, é inscrito em editais.

Comparato (2009) acrescenta que para termos um bom roteiro é necessário

que este tenha ideia, conflito, personagens, ação dramática, tempo dramático

e unidade dramática.

Pré-produção: Após adquirir a verba, começa a preparação da equipe, que

inclui escolha de locação, contratação de pessoal capacitado, equipe técnica e

elenco. A equipe técnica é a responsável por aprontar os materiais, como

cenografia e câmeras. É definido o cronograma de filmagem.

Filmagem: A captação das cenas é feita pela equipe de filmagem de acordo

com o cronograma. Comumente as cenas que necessitam de grandes cenários

são gravadas em estúdio, podendo também serem feitas de forma externa.

Pós-produção: O material gravado é encaminhado para a edição, onde o

profissional responsável pela montagem irá estruturar o vídeo, juntando as

cenas conforme prévias instruções do roteiro. Os efeitos especiais, correção de

colorido e áudio, são desenvolvidos nessa etapa.

Distribuição: Após a finalização do produto, o material é encaminhado para os

cinemas e festivais. As séries, por sua vez, são enviados para os canais de

televisão.

Oz (2015) afirma que o grande aumento de interesse por parte do público

resultou, consequentemente, no crescimento da produção de séries televisivos. Nos

dias atuais, existem canais pagos da TV por assinatura que exibem diariamente séries

recentes. Outra maneira de ter acesso a essas séries é através da internet, que é

importante contribuinte para a propagação do gênero. São disponibilizados diversas

séries na rede, tanto para serem baixados no computador dos espectadores, quanto

Page 79: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

77

para serem vistos por reprodutores de vídeos online, ou até mesmo por streaming41

como é o caso da Netflix42. Assistir aos episódios pela internet tem suas vantagens,

pois, geralmente são liberados na rede antes da televisão; por serem portáteis podem

ser assistidos a qualquer hora que o espectador desejar em qualquer meio digital

como tablets, smartphones, notebooks, dentre outros. Isso sem falar que na internet

não há comerciais, o que agrada a muitos telespectadores.

Com isso podemos perceber que apesar de serem um fenômeno relativamente

novo, suas origens são antigas e trazem consigo características de outros meios de

comunicação, que com o passar do tempo, foram sendo agregadas e modificadas.

Podem ser transmitidos em diversos formatos, desde a televisão até o meio online.

Contudo, este trabalho, visa analisar o comportamento e as características da série

no seu meio mais tradicional, o televisivo, cuja análise veremos no próximo capítulo.

41 "Tecnologia de transmissão ao vivo de dados através da internet". Fonte: Significados. Disponível em: <http://www.significados.com.br/streaming/>. Acesso em: 14 mai. 2016.

42 Serviços de streaming de vídeos que conta com vários filmes e séries de televisão. Fonte: Oficina da Net. Disponível em: <https://www.oficinadanet.com.br/post/14513-o-que-e-netflix>. Acesso em: 14 mai. 2016.

Page 80: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

78

Page 81: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

79

4. ANÁLISE

Neste capítulo o estudo voltou-se às HQs e as séries televisivas, buscando

demonstrar de que maneira é feita esta transposição de um meio para o outro, e quais

as características de cada meio são alteradas ou permanecem iguais.

Para tanto foram escolhidas quatro séries com a temática super-heróis, sendo

elas: Gotham (2014), Supergirl (2015), The Flash (2014) e Arrow (2012). Em cada

uma delas será analisado um aspecto diferente em relação às suas respectivas HQs.

A fim de escolher os objetos de análise, foi feito um levantamento de todo o

material envolvendo séries que retratassem super-heróis, além de histórias em

quadrinhos do mesmo gênero. Em cada série foi analisado um elemento, e assim

comparado com as HQs.

Em Gotham o foco são as personagens. Já em Supergirl a análise é feita

através de uma comparação entre a capa da história em quadrinhos e a abertura da

série. Em The Flash a análise envolve a comparação dos efeitos visuais dos

quadrinhos em relação à série, e por último, em Arrow, a análise aborda uma página

dos quadrinhos e uma cena da série, analisando a forma como cada uma demonstra

a mesma sequência/ideia.

Antes que a análise e as comparações pudessem ser feitas, foi necessário

assistir a todos os episódios já lançados das séries selecionadas, assim como ler as

histórias em quadrinhos referentes a cada série, a fim de encontrar elementos

similares ou iguais que estivessem presentes em ambos os meios. O critério de

escolha para as imagens analisadas foi a similaridade de fatos que se reprisam/

repetem- tanto no meio televisivo quanto nas histórias em quadrinhos.

Levando em consideração que as histórias em quadrinhos de super-heróis

possuem diversas coleções que foram publicadas ao longo dos anos, e algumas delas

são muito antigas e difíceis de serem encontradas, a coleção selecionada para a

análise foi "The New 5243".

43 Os Novos 52, na tradução.

Page 82: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

80

De acordo com o site Omelete44 (2011) Os Novos 52 foram lançados pela

editora DC Comics em 2011 com o intuito de comemorar os 70 anos da editora, e

republicar todas as suas histórias de sucesso. As novas publicações foram

anunciadas durante a Comic Con45 2011, no painel46 da editora. Como a intenção da

editora era republicar suas histórias, alguns fãs ficaram apreensivos com as

mudanças que poderiam ser feitas nos enredos originais.

Ainda segundo Omelete (2011) a respeito das alterações narrativas das

histórias Dan DiDio, o publisher47 da DC, afirmou que:

Estamos montando um universo melhor, mais acessível e mais vibrante. Numeração não importa se não há conteúdo para preencher essas edições. Queremos ampliar o mercado e torná-lo mais forte do que ele jamais foi. Estamos pedindo muito de vocês, nós sabemos, mas esperem pelas primeiras edições. (DIDIO, 2011, online).

O site atesta também que durante o painel, ficou evidenciado que as novas

publicações não farão referências às edições e histórias anteriores. A cronologia das

histórias foi zerada, assim, toda a mitologia necessária para a compreensão dessas

HQs estará nas próprias edições. Este fato torna mais acessível para que novos

leitores possam acompanhar as revistas.

Quanto às séries, foi necessário adquirir os episódios para que uma análise

detalhada pudesse ser feita, pausando em determinados momentos, repetindo cenas

quando necessário, e comparando com os quadrinhos. Desse modo, segue-se para a

busca de maior esclarecimento para nossa problemática.

44 Disponível em: <https://omelete.uol.com.br/quadrinhos/artigo/dc-comics-os-novos-52-comic-con-2011/>. Acesso em: 01 jun. 2016.

45 Convenção voltada para fãs de quadrinhos, cinemas, séries de TV, desenhos animados, jogos eletrônicos e demais atividades referentes à cultura pop. As maiores convenções mundiais da atualidade ocorrem em San Diego, Nova Iorque e Salt Lake City, nos EUA. Fonte: Comic Con Experience. Disponível em: <http://contato.ccxp.com.br/hc/pt-br/articles/202215484-O-que-%C3%A9-uma-Comic-Con->. Acesso em: 01 jun. 2016.

46 Panel, no original. Derivado da mesa-redonda, no qual os expositores debatem os assuntos entre si e o público serve como espectador. Em alguns casos, como o da Comic Con, o público pode fazer perguntas. Fonte: Manager. Disponível em: <http://www.manager.com.br/reportagem/reportagem.php?id_reportagem=403>. Acesso em: 01 jun. 2016.

47 Editor, tradução nossa.

Page 83: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

81

4.1 GOTHAM – PERSONAGENS

Sinopse

A série acompanha a narrativa da cidade de Gotham antes dos eventos das

histórias em quadrinhos do Batman, narrando fatos da época em que o bilionário

Bruce Wayne ainda era criança. O foco principal da trama é o passado do comissário

James “Jim” Gordon na época em que ele ainda era um detetive de polícia e lidava

com personagens que se tornariam grandes vilões e heróis no universo da DC

Comics. A cronologia da história começa com a morte misteriosa dos pais de Bruce,

e a busca do detetive para capturar os assassinos dos Wayne, além de resolver os

demais crimes da cidade.

Por trás das câmeras

A série televisiva Gotham é desenvolvida pela emissora Fox, exibiu sua

primeira temporada, nos Estados Unidos, de 22 de setembro de 2014 a 04 de maio

de 2015, totalizando 22 episódios. Sua segunda temporada foi transmitida com data

inicial em 21 de setembro de 2015 a 16 de maio de 2016, completando 21 episódios.

No Brasil é transmitido pelo canal Warner Channel.

De acordo com o site AdoroCinema48, a primeira temporada de Gotham teve

uma média de 6,1 milhões de espectadores por episódio, números bons para a

emissora Fox.

A respeito do sucesso da série o presidente da Fox, David Madden (2015)

afirmou que:

É preciso uma equipe muito especial para contar as histórias de Gotham. Para as duas últimas temporadas, honramos a mitologia de Gotham e trouxemos à vida com profundidade, emoção e drama memorável. Este elenco incrivelmente talentoso redefiniu esses personagens icônicos para uma nova geração, e não poderíamos estar mais orgulhosos desta série. (MADDEN, 2015, online).

48 Disponível em: <http://www.adorocinema.com/series/serie-16973/audiencias/>. Acesso em: 30 mai. 2016.

Page 84: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

82

Devido ao grande sucesso em relação ao público, em 16 de março de 2016 foi

confirmado no Twitter oficial da série a renovação para a terceira temporada da

mesma, já encomendada com um total de 22 episódios.

Análise

Esta análise busca inicialmente a comparação das personagens Bruce

Wayne/Batman e Jim Gordon das HQs e da série Gotham. Como vimos no capítulo 3

as personagens são parte essencial da narrativa, sem as quais não existiria história.

Nesse aspecto, serão também analisadas características que envolvem tanto o

enredo e a história quanto o quesito estético. Na questão enredo também serão

citadas algumas referências de HQs anteriores às analisadas, para uma melhor

contextualização dos fatos.

Figura 40 – Bruce Wayne na HQ

Fonte: Batman nº 1, p. 16 (esquerda); Batman nº 3, p. 12 (direita).

Page 85: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

83

Figura 41 – Bruce Wayne na série

Fonte: Gotham 2ª temporada, episódio 04 (esquerda); Gotham 2ª temporada, episódio 18 (direita).

O Bruce Wayne das HQs “Os Novos 52” (figura 40) é muito semelhante ao

Bruce das HQs anteriores, em idade e porte físico. Todos já são representados com

faixa-etária adulta. Nas HQs “Ano Um”, que contam a história de como a personagem

se tornou o Batman, Bruce Wayne tinha 25 anos quando assumiu a identidade do

homem-morcego.

Diferente do Batman que conhecemos nos quadrinhos, o Bruce Wayne da série

(figura 41) é um pré-adolescente de aproximadamente 13 anos. Na HQ Bruce Wayne

já é adulto, e, portanto, já atua como Batman, sendo ele a personagem principal e o

herói de sua história. Na série isso não ocorre, visto que a personagem é bem mais

nova, e a história narra sua origem e desenvolvimento através de eventos que

antecedem as HQs “Ano Um”.

As HQs, tanto antigas quanto “Os Novos 52”, mantêm um padrão similar em

relação ao figurino da personagem. A roupa do Batman é retratada em todas com as

cores preta e cinza, capa, máscara, símbolo de morcego no peito e cinto de utilidades.

Na série, como Bruce Wayne ainda não se transformou no Batman, esse figurino não

foi apresentado. A personagem é retratada com roupas normais do dia-a-dia ou

ternos.

Nas HQs, diferente da série, a personagem raramente é mostrada com roupas

comuns. Na grande maioria das cenas o vemos vestido como Batman. Porém, nos

momentos em que é retratado desta maneira, geralmente veste ternos. Outro estilo

Page 86: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

84

aderido por ambas as personagens, tanto da série quanto das HQs, é a camisa social,

seguida de uma blusa de lã sobreposta de casaco, como pode ser evidenciado nas

figuras 40 e 41, lado direito.

Apesar da diferença de idade, e algumas diferenças óbvias no corpo da

personagem, as características físicas do Bruce das HQs (figura 40) e da série (figura

41) são similares. A tonalidade e corte de cabelo, a cor dos olhos, e o formato do rosto.

As expressões faciais do menino também lembram muito as da personagem original,

assim como sua postura.

O Batman é conhecido por ser um justiceiro. Para ele os fins justificam os

meios, ou seja, a personagem não se opõe em quebrar algumas regras ou leis, desde

que tenha o resultado desejado. Muitas vezes o Batman age como juiz, júri e carrasco.

Essa atitude da personagem se assemelha a das antigas divindades mitológicas,

como vimos no capítulo 2.

O Bruce Wayne da série, apesar de ser mais jovem que o original, já apresenta

algumas características e atitudes similares às da personagem da HQ, como acreditar

– em alguns momentos – que está acima da lei, e tenta “fazer justiça com as próprias

mãos”. Após a morte de seus pais o menino decide que irá encontrar os responsáveis

pelo assassinato e vinga-los. Podemos ver nessa atitude o princípio das futuras ações

aderidas pela personagem.

Apesar da história relatar fatos anteriores ao Batman, muitas personagens

conhecidas das HQs estão presentes, e são retratadas em suas origens. Um exemplo

interessante é Selina Kyle, a mulher-gato. Nas HQs a personagem e o Batman

mantêm uma relação complicada, que se baseia em amor e ódio mútuo. Na série

Selina, assim como Bruce, é representada como uma adolescente. Por se tratar de

dois jovens, diferente das HQs, não há envolvimento amoroso entre eles. Porém, há

uma forte amizade que, em determinados momentos, resulta em desentendimentos e

brigas, algo semelhante às HQs.

O mordomo Alfred também é um bom exemplo de personagem secundário. Nas

HQs Alfred é muito fiel à Bruce, e o auxilia de todas as maneiras possíveis, sendo,

muitas vezes seu álibi. Na série, após a morte dos pais de Bruce, Alfred se tornou o

guardião legal do menino. O mordomo é como figura paterna para Bruce, o auxiliando

em tudo o que precisa. Após o evento traumático da morte de seus pais Bruce decide

se tornar mais forte fisicamente, e aprender a se defender. Alfred o ensina golpes de

Page 87: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

85

luta e o ajuda no preparo físico, além de desenvolver também tarefas domésticas

como cozinhar e limpar a casa.

Nas HQs Bruce Wayne é a personagem central da história, sendo assim, o

herói – ou vigilante – da mesma. Porém, como a série narra os eventos antes de sua

transformação em Batman, ele deixa de ser o herói e se torna uma presença

secundária. Seguindo as classificações dos arquétipos definidas por Mark e Pearson

(2003), o Bruce da série se enquadraria como o explorador. O principal desejo desse

arquétipo é ser livre para descobrir quem realmente é, e sua estratégia baseia-se em

buscar e experimentar coisas novas. Após a morte dos pais de Bruce – evento inicial

da série – o menino decide descobrir quem é o assassino e vingar-se. Para tanto

percebe que, antes de mais nada, precisa descobrir quem se tornou após esse fato

traumático, e passa a experimentar novas atitudes.

O público-alvo das HQs e da série é diferenciado. Numa pesquisa desenvolvida

pelo Ibope (2010) foi demonstrado que há 4 gerações no Brasil e o número de

respectivos em cada categoria: Baby Boomers – acima de 46 anos, composta por

17,6 milhões de pessoas um total de 27% da população brasileira; Geração X – 30 a

45 anos, 20,7 milhões, totalizando 32%; Geração Y – 20 a 29 anos, 15,3 milhões, total

de 23%; Geração Z – 12 a 19 anos, 15,3 milhões, computou 18%.

Assim, acredita-se que o público-alvo das HQs seja, em sua grande maioria, a

geração X e Baby Boomers. Claro que isso não exclui a possiblidade da existência de

leitores das gerações Y e Z. Ainda mais nos dias atuais, nos quais o tema super-heróis

está em grande evidência, inclusive no cinema e na televisão. Contudo, esse público

mais jovem não teve o mesmo contato com as HQs que os de mais idade, que

cresceram lendo essas revistas.

A respeito do público-alvo da série, a apresentação dos personagens configura

a mesma direcionada para as gerações Y e Z. Na mesma pesquisa foi comprovado

que nos itens mais importantes do dia-a-dia está o aparelho de TV com 69% dos votos

na geração Y e 65% na Z. O item televisão é o segundo colocado na lista de

prioridades de ambas as gerações, perdendo apenas para o telefone celular na

geração Y, e computador com acesso à internet na Z.

Isso nos mostra que o público-alvo da série televisiva encontra-se entre essas

duas gerações. Muitos desses telespectadores, devido sua idade, provavelmente, não

tiveram contato com as HQs originais, e conheceram a história da personagem através

da série, dos diversos filmes desenvolvidos, ou até mesmo das HQs “Os Novos 52”.

Page 88: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

86

A personagem Jim Gordon da HQ (figura 42) é bem mais velho do que sua

versão televisiva (figura 43), o que influencia diretamente em suas características

físicas e maneira de agir. A personagem da HQ tem barba e bigode e cabelos mais

longos do que a da série. O cigarro é algo importante para o Jim Gordon dos

quadrinhos, sendo em quase todas as cenas em que aparece, a personagem está

fumando. Em versões anteriores das HQs a personagem é mostrada fumando

charutos. Na série a personagem não fuma. O uso de óculos também é uma diferença

na constituição da personagem entre HQ e série, talvez em função de sua diferença

de idade.

A honestidade e a vontade de acabar com a criminalidade da cidade de Gotham

é a mesma tanto nas HQs, quanto na série.

Figura 42 – Jim Gordon na HQ

Fonte: Batman nº 30, p. 20 (esquerda); Batman nº 19, p. 3 (direita).

Figura 43 – Jim Gordon na série

Fonte: Gotham 2ª temporada, episódio 16 (esquerda); Gotham 2ª temporada, episódio 08 (direita).

Page 89: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

87

Na HQ Jim Gordon é uma personagem secundária, que em alguns momentos,

auxilia o Batman, e o chama sempre que necessita de ajuda. Na série a personagem

possui um destaque bem maior, visto o Batman ainda não existe, o detetive Gordon

que resolve todos os crimes.

Na série Jim Gordon ainda é um simples detetive da polícia que busca prender

os vilões da cidade de Gotham. Essa alteração na narrativa da história traz uma

mudança grande em relação ao foco principal da série, que volta-se para Jim Gordon,

deixando Bruce Wayne (Batman), como secundário.

Dessa maneira, podemos dizer que, diferente das HQs, Jim Gordon é o

verdadeiro herói da série. A personagem não se enquadra como super-herói, devido

ao fato de que o mesmo não possui nenhum poder especial. Contudo, segundo a

concepção de Viana (2003, online), já vista anteriormente no capítulo 2 “o herói possui

habilidades excepcionais, mas humanamente possíveis, enquanto o super-herói

possui habilidades sobre-humanas”.

O Jim Gordon das HQ tem uma boa relação com o Batman. Tanto nas antigas

quanto nas novas, a personagem não hesita em chamar o justiceiro – através do Bat

sinal – quando há uma situação em que o mesmo não consiga resolver. Na série é

mostrado o desenvolvimento dessa amizade entre eles, que começou com uma

promessa feita pelo detetive para o menino, afirmando que capturaria os criminosos

que assassinaram os pais de Bruce.

Nas HQs “Ano Um” também há uma versão da história sobre como Jim Gordon

e Batman se tornaram amigos. Como nas HQs Bruce já é adulto e já atua como

Batman, a amizade das personagens tem início quando a esposa e o filho recém-

nascido de Jim são capturados por criminosos e Bruce salva o menino.

O Jim Gordon das HQs é casado com a personagem Bárbara. Na série, Jim

namorava Bárbara e acabou terminando o relacionamento ao perceber que a mesma

precisa de auxílio psicológico.

Os Novos 52 nos evidencia que a HQ tem um respeito maior pela história

original do que a série- Gotham. Mesmo com as HQs lançando algumas modificações,

as alterações não parecem tão significativas. Já a série, neste caso, buscou mudanças

mais profundas na história a ser contada, alterando características físicas e

cronológicas das personagens, além do enredo propriamente dito.

Page 90: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

88

4.2 SUPERGIRL – ABERTURA

Sinopse:

Quando Kara Zor-El era criança, o planeta Krypton onde residia estava

morrendo, por isso seus pais a enviaram para a Terra. O mesmo foi feito com seu

primo bebê Kal-El. Kara, por ser mais velha, deveria tomar conta dele, contudo, sua

nave saiu de curso ficando "perdida" no espaço. Ao chegar na Terra anos haviam se

passado e o seu primo já adulto havia se tornado o Superman. Ele a encaminhou para

uma família na qual confiava, os Denvers. Um casal com uma filha adolescente

poucos anos mais velha que Kara, Alex Denvers. Por muitos anos Kara escondeu

seus poderes do mundo, até que um dia devido a um acidente de avião ela foi forçada

a revelá-los. Após o fato, passou a trabalhar para o DEO49, juntamente com sua irmã

adotiva. Quando não está salvando o mundo, Kara trabalha como assistente de Cat

Grant na CatCo Worldwide Media, sua identidade secreta.

Por trás das câmeras:

A série televisiva Supergirl foi produzido pela emissora CBS50, exibindo sua

primeira temporada, nos Estados Unidos, de 26 de outubro de 2015 a 18 de abril de

2016, totalizando 20 episódios. Devido ao sucesso e boa receptividade do público em

relação ao mesmo, este foi renovado para uma nova temporada que estreará por volta

de outubro de 2016, como a maioria das séries de Fall Season51. No Brasil é

transmitido pela Warner Channel52.

Originalmente foi produzida pela emissora norte-americana CBS. Em maio de

2016 teve os direitos de produção adquiridos pela The CW53, que também produz

séries com o mesmo tema. Sendo assim, The CW passará a produzir a mesma a partir

de sua segunda temporada.

49 Sigla de Department of Extra-Normal Operations. Em tradução nossa, Departamento de Operações Extranormais. 50 Disponível em: <http://www.cbs.com/>. Acesso em: 15 mai. 2016. 51 O período inicia no outono do hemisfério norte, geralmente entre final de setembro e início de outubro e se estende até maio do ano seguinte. 52 Disponível em: <http://www.warnerchannel.com/br/>. Acesso em: 15 mai. 2016. 53 Disponível em: <http://www.cwtv.com/>. Acesso em: 15 mai. 2016.

Page 91: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

89

Foi desenvolvido um crossover54 entre as séries Supergirl e The Flash, mesmo

quando a série ainda pertencia à emissora CBS. O episódio foi ao ar durante a

programação de Supergirl, sendo o décimo oitavo da temporada, denominado: Worlds

Finest55, referência a uma antiga HQ da DC Comics na qual seus super-heróis mais

famosos se encontravam e lutavam juntos. Um crossover dos personagens já havia

ocorrido previamente nas HQs Os Novos 52 da super-heroína.

De acordo com o site AdoroCinema56, a série manteve bons números ao longo

da temporada. O próprio site calcula uma média de telespectadores por episódio,

tendo por base os números de audiência da primeira exibição nos Estados Unidos –

reprises, outros países e episódios assistidos online ou por download não são

computados. O resultado final foi uma média de 7,7 milhões de espectadores, por

episódio.

O site também mantém um rankig de melhores séries, de acordo com as notas

atribuídas por usuários. Este é classificado de acordo com a década de criação de

cada série. Na categoria de 2010 a 2019, a série encontra-se na 73ª posição, um

número relativamente bom para uma série em seu primeiro ano. De um total de 5

estrelas, a série computou a nota 4,7.

Análise

Esta análise é realizada a partir da comparação da capa de uma edição das

HQs da Supergirl com a abertura de um episódio. Em ambos os casos a abertura é o

primeiro contato do leitor/telespectador com o meio, podendo ser forte influenciadora

no seu uso/ fruição.

Foi escolhida a capa da revista nº 0, pois esta HQ narra os eventos da origem

da personagem- os mesmos que são retratados na abertura da série.

54 Evento fictício que reúne dois ou mais personagens, cenários ou acontecimentos sem nenhuma relação em prévia em algum meio, como filmes, quadrinhos, seriados. 55 Os melhores do Mundo, tradução nossa. 56 Disponível em: <http://www.adorocinema.com/series/serie-18159/audiencias/>. Acesso em: 31 mai. 2016.

Page 92: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

90

Figura 44 – Capa dos quadrinhos de Supergirl

Fonte: Supergirl nº 0, capa.

Page 93: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

91

Figura 45 – Abertura da série Supergirl

Fonte: Supergirl 1ª temporada, episódio 03.

A capa é uma parte importante da composição das HQs – assim como de outros

meios de leitura – pois, trata-se do primeiro contato do leitor com o meio em questão.

Segundo White (2005 apud RIZZI, 2013) a capa pode ser considerada um cartaz em

miniatura, que transmite uma mensagem. Essa mensagem deve ser boa o suficiente

a ponto de chamar a atenção do público mesmo que este esteja passando de forma

rápida. Isso exemplifica a importância da capa na hora da compra, sendo um grande

recurso de venda. Para Ali (2009 apud RIZZI, 2013, p. 49) a função da capa é:

“impactar, chamar a atenção, despertar interesse pela edição”.

Page 94: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

92

Para Fonseca (2008, p. 248-249), a capa pode ser definida como “cobertura

externa de material flexível (brochura) ou rígido (capa dura ou cartonada),

confeccionada em papel, cartolina, cartão, couro ou outro material, que envolve

cadernos ou que constituem a obra”. O autor também afirma que pode ser considerado

capa qualquer recurso que possibilite às páginas de um livro, ou outro meio,

manterem-se unidas e protegidas, desde que seja de fácil abertura. Atesta também

que, comumente, a capa apresenta identificação, que pode ser simples composta

apenas de título e nome do autor, ou elaborada, acompanhada de imagens e efeitos.

As capas das HQs da personagem se enquadram, no conceito do autor,

trazendo identificação composta de título da publicação, número/edição, autores, e

logo da editora. Trazendo ainda, em sua composição, ilustrações.

A capa da revista (figura 44) possui um layout simples. Um fundo branco com

pequenos quadros em preto que trazem algumas cenas que estão presentes no

interior da revista. A personagem principal está situada ao centro, com papel rasgado

ao seu redor, como se a mesma tivesse "ultrapassado" a revista e tentasse sair dela.

A capa vermelha usada pela personagem está desenhada de maneira que passa

sensação de movimento, querendo demonstrar que ela estaria usando seu poder de

voo. Seu braço esquerdo está erguido com punho fechado, símbolo de força, assim

como o movimento feito pelos super-heróis quando sobrevoam.

Para Avillez (2001), a abertura cinematográfica, assim como a de uma série, é

importante pois retrata características do meio:

No cinema a abertura de um filme deve ser a identidade dele expressada e exprimida nos segundos em que e se apresentam os créditos principais, não apenas uma maneira estilizada de se apresentar os nomes envolvidos na produção, mas podendo ser quase como um filme próprio contando de maneira quase subliminar a história de todo o filme resumida, seja antes ou seguida pela premissa (AVILLEZ, 2011, p. 36).

A abertura (figura 45) de todos os episódios de Supergirl começa com a técnica

do flashback, mostrando eventos passados referentes à vida da personagem. A

narração dos fatos é feita com a própria voz da personagem principal que conta

brevemente sua trajetória desde seu planeta natal Krypton, até a sua vinda ao planeta

Terra, o motivo de sua mudança (imagens 01 a 04), a maneira como viveu ao longo

dos anos escondendo seus poderes do mundo através de sua identidade secreta

Page 95: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

93

(imagem 05), e como se transformou na heroína Supergirl (imagens 06 a 08). A

seguinte narração é feita pela personagem:

Quando eu era criança meu planeta Krypton estava morrendo. Eu fui enviada à Terra para proteger meu primo. Mas a minha cápsula saiu de curso, e quando cheguei aqui, meu primo já havia crescido e se tornado o Superman. Então, eu escondi os meus poderes, até que recentemente, um acidente me forçou a revelar-me para o mundo. Para muitos, sou uma assistente na CatCo Worldwide Media. Mas em segredo, trabalho com minha irmã adotiva no DEO para proteger minha cidade de vida alienígena e qualquer outro que possa prejudicá-la. Eu sou a Supergirl. (SUPERGIRL, 3º episódio da 1ª temporada, tradução nossa).

Os eventos retratados na abertura da série (figura 45), como já falado

anteriormente, são equivalentes a história contida na revista em quadrinhos nº 0, cuja

intenção é situar os leitores com a história prévia da personagem, antes de se tornar

a super-heroína.

Assim como a HQ altera as capas a cada nova edição da revista, a abertura da

série também sofre algumas alterações, menores que as da HQ. A grande maioria das

cenas, assim como a narração da personagem se mantém iguais. Porém, em alguns

episódios, enquanto a personagem narra que protege a cidade contra quem possa

prejudicá-la, as cenas se adaptam à medida que novos vilões vão aparecendo.

Diferente da capa da revista (figura 44) onde uma imagem apenas dá a ideia

de movimento pelo recurso do desenho, na série há o movimento quadro a quadro/

fotogramas. Portanto, a maneira encontrada para exemplificar essa abertura foi

através de cenas em flashback – técnica utilizada por várias séries. Outra técnica que

poderia ter sido utilizada seria a do símbolo da personagem ocupando grande espaço

na tela, técnica muito comum no meio televisivo, porém, Supergirl optou por não

utilizar essa estratégia na abertura. Na série o logo aparece antes do primeiro intervalo

comercial, com aproximadamente 10 minutos de episódio já transcorridos, e também

no final de seus episódios, sendo esta a última imagem a ser vista pelos

telespectadores, antes dos créditos.

As cenas mostradas na abertura (figura 45), na grande maioria, não condizem

com as da capa. As imagens de 01 a 04, por fazerem referência à vida de Kara antes

de se tornar uma super-heroína, não possuem nenhum elemento que possa ser

comparado com a capa, que retrata a personagem adulta. Contudo, a comparação

Page 96: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

94

dos eventos mostrados nessas imagens em relação a algumas das páginas do interior

da revista, possuem grande similaridade. A imagem 05 se distancia completamente

do universo da revista, visto que, na mesma, a personagem não possui uma

identidade secreta, mantendo-se como Supergirl o tempo todo.

A imagem 06, pode ser levemente assemelhada por evidenciar a personagem

de corpo inteiro, centralizada, utilizando a mesma vestimenta. Na cena também

podemos ver um leve movimento na capa vermelha que compõe o vestuário da

personagem, assim como ocorre na capa da revista em quadrinhos.

A imagem número 07 também se assemelha um pouco em relação à capa da

revista em quadrinhos, visto que o símbolo da roupa da personagem está centralizado

e em evidência, podemos perceber o mesmo nos quadrinhos. Na revista, a maneira

como o símbolo está desenhado é diferente, porém, fica claro que trata-se do famoso

“S” que tanto a Supergirl quanto o Superman utilizam.

De todas as imagens presentes na abertura (figura 45) a mais similar é

certamente a número 08, que retrata a personagem voando. Apesar da diferença de

ângulos entre cada imagem – na revista em quadrinhos a personagem está na vertical,

enquanto na série está na horizontal – a personagem em si mantém uma postura

parecida. Em ambas ela está com o braço esquerdo esticado e punho fechado. Nas

duas imagens também podemos ver uma simulação de movimento nos cabelos, que

acompanhariam o vento à medida que a personagem voa. Outra característica igual

– já citada em outras imagens anteriormente – é a impressão de movimento

transmitida pela capa.

4.3 THE FLASH – EFEITOS VISUAIS

Sinopse:

Barry Allen era um detetive forense que, passou grande parte de sua vida

buscando respostas para o assassinato de sua mãe. Barry foi atingido por um raio

que, misturado com os elementos químicos de seu laboratório, o colocou nove meses

em coma. Ao acordar descobriu que havia ganhado super-velocidade. Passou então

a utilizar seus poderes para patrulhar Central City, cidade onde reside, assumindo a

identidade de Flash.

Page 97: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

95

Por trás das câmeras:

A série televisiva The Flash é desenvolvida pela emissora The CW, exibindo

sua primeira temporada, nos Estados Unidos, de 07 de outubro de 2014 a 19 de maio

de 2015, totalizando 23 episódios. Sua segunda temporada foi transmitida com data

inicial em 06 de outubro de 2015 a 24 de maio de 2016, completando também 23

episódios. No Brasil é transmitido pela Warner Channel, porém, na televisão aberta a

Rede Globo exibiu a primeira temporada.

A série é um spin-off57 de outra série televisiva do mesmo canal "Arrow", sendo

que a primeira aparição do personagem Barry Allen foi na própria série do arqueiro

verde. Outro spin-off da mesma foi gerado a partir da combinação das duas séries já

citadas, denominado Legends of Tomorrow. Diversos crossovers já foram produzidos

entre as séries. Em maio de 2016, a emissora comprou os direitos de Supergirl, e no

mesmo mês já foi anunciado um grande crossover para dezembro de 2016 incluindo

todas as quatro séries com a temática de super-herói que a emissora possui.

Segundo o site AdoroCinema58 a primeira temporada teve em média 3,8 milhões

de espectadores por episódio, e a segunda 3,6 milhões.

Análise

A análise desta série é baseada através da comparação dos efeitos visuais

utilizados nas HQs, ilustração, e dos efeitos visuais trabalhados para a versão

televisiva, gerados por computação gráfica.

A análise desta série é baseada através da comparação dos efeitos visuais

utilizados nas HQs, ilustração, e dos efeitos visuais trabalhados para a versão

televisiva, gerados por computação gráfica.

Tietzmann (2010) afirma que denominações como trucagem e efeitos especiais

também são aceitáveis para definir os efeitos visuais. Mitchell (2004, p. 8 apud

Tietzmann, 2010, p. 32) acredita que há três possíveis justificativas para o uso desses

57 Qualquer obra narrativa cujo universo é derivado de uma ou mais obras previamente existentes.

58 Disponível em: <http://www.adorocinema.com/series/serie-16955/audiencias/>. Acesso em: 31 mai. 2016.

Page 98: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

96

efeitos no meio cinematográfico, ou televisivo, sendo elas: "criar coisas que não

existem (e não poderiam existir), preservar elenco e equipe de situações de risco e

consertar ou ajustar imagens que não tenham sido captadas de maneira integralmente

satisfatória."

Foi escolhida para a análise a revista nº 0, e o nono episódio da segunda

temporada da série Arrow que consta a primeira aparição da personagem, antes de

ter sua própria série. Tanto a HQ quanto o episódio em questão narram os eventos de

origem do The Flash.

Figura 46 – Transformação de Barry Allen nos quadrinhos

Fonte: Flash Comics nº 0, p. 4.

Page 99: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

97

Figura 47 – Transformação de Barry Allen na série

Fonte: Arrow 2ª temporada, episódio 9.

Na HQ (figura 46) a mensagem é passada em um único grande quadro, temos

o uso de uma página inteira. A técnica de uso de quadros menores dentro da página,

Page 100: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

98

assim como a utilização de zoom – técnica que mostra num quadrado menor um

detalhe mais aproximado da cena – não ocorre.

Para demonstrar movimento, o corpo da personagem é desenhado três vezes

ao longo da página, cada vez com uma distância maior um do outro, a fim de

representar que a força do raio que a atingiu fez com que a mesma fosse jogada para

longe. Isso possibilita também a ilusão de movimento. O grande foco da imagem, para

o leitor, é o desenho da luz que envolve o personagem, as cores utilizadas para passar

a ideia desse momento, e também a onomatopeia utilizada.

Na série (figura 47) temos a possibilidade de assistir a mesma ideia da HQ.

Temos o movimento da cena, em uma sequência em que a personagem é atingida

pelo raio (figura 47 – imagens de 03 a 06) e é jogada para longe (imagens 07 a 10),

em uma alternância de planos.

As HQs utilizam como técnica a ilustração, normalmente são desenvolvidos por

um único artista. No caso de The Flash o ilustrador é Francis Manapul. O trabalho é

praticamente manual, utilizando materiais artísticos e papel, os desenhos são feitos

segundo a história que será contada.

Já na série, é necessária uma grande equipe. Assim, é possível trazer à vida

essas histórias através de efeitos visuais. Numa entrevista sobre o making off da série,

o supervisor de efeitos visuais Armen Kevorkian59 afirmou que:

Nós tentamos trazer parte ciência, o que é visualmente legal para a tela, e a equipe realmente colocou sangue e suor nisso. Nós decidimos ainda de início em escanear [o ator principal] e construir uma cópia digital. Foi caro e trabalhoso, mas valeu a pena. (KEVORKIAN, 2015, tradução nossa).

Os raios que atingem a personagem (figura 47 – imagens de 03 a 07) também

foram desenvolvidos através de efeitos visuais gerados por computação gráfica.

Nas HQs como não há possibilidade de ouvir sons, esses são representados

através das onomatopeias e balões. No caso desta página (figura 46) em específico,

a onomatopeia utilizada para simbolizar o som do raio acertando a personagem e

quebrando o vidro de seu laboratório é “Tha-Kooooooom”. A falta de áudio também

dificulta a narração, portanto, os pensamentos da personagem foram demonstrados

59 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=4naqAerEXOM>. Acesso em: 03 jun. 2016.

Page 101: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

99

através de pequenas caixas de texto retangulares amareladas, com escritas em preto.

Poderia ter sido utilizada a técnica do balão tradicional, porém, foi optado por uma

utilização diferenciada.

Na série, assim como no cinema, o som é parte importante da sequência.

Eisentein (s.d. apud Martin, 1990, p. 111) afirma: “O som não foi introduzido no cinema

mudo: saiu dele. Surgiu da necessidade que levou nosso cinema mudo a ultrapassar

os limites da pura expressão plástica”. Isso nos evidencia que, com a evolução das

produções cinematográficas, surgiu a necessidade de transmitir sons durante as

cenas. Essa técnica se incorporou à sequência, e não deixou mais de ser utilizada.

Além da trilha sonora presente durante toda a sequência, também é possível

ouvir demais fenômenos sonoros ambientes, que para Martin (1990) se subdividem

em dois grupos: Ruídos naturais, sons que temos na natureza como vento, água,

trovões, etc; Ruídos humanos, diferenciados entre mecânicos (carros, aviões,

máquinas, etc), palavras-ruído (sons humanos como plano de fundo) e a música ruído

(transmitida em fundo sonoro). O autor afirma ainda, que esses ruídos são utilizados

a fim de passar realidade à cena.

Na sequência da série podemos ouvir nitidamente uma mescla entre ruídos

naturais e humanos. Como exemplos temos o repetitivo som de raios e trovões, os

frascos tiritando e os elementos químicos contidos nesses recipientes borbulhando; é

audível o som do vidro quebrando no momento em que o raio invade o laboratório,

assim como a chuva caindo dentro do ambiente; a personagem, ao ser atingida com

a força do raio, é jogada para o outro lado da sala, derrubando móveis e quebrando

objetos, esses sons também são audíveis, assim como o do corpo da personagem ao

atingir o chão. Após a queda, a personagem desmaia, e conseguimos ouvir o som de

faíscas ao seu redor. O som da chuva e dos trovões permanece até o final da

sequência.

Page 102: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

100

4.4 ARROW – SEQUÊNCIA

Sinopse:

Na série, o jovem bilionário Oliver Queen é dado como morto após um grande

naufrágio. Após cinco anos, ele é encontrado com vida em uma ilha do Oceano

Pacífico. Quando retorna para sua casa, Oliver esconde a verdade sobre quem se

tornou e tenta resolver as pendências de sua antiga vida. Ao se conectar com as

pessoas ao seu redor, Oliver secretamente cria Arrow, um vigilante que luta contra o

mal presente na sociedade e ergue a glória na cidade. Porém, o detetive Quentin

Lance, está determinado a desmascarar e prender o novo herói.

Por trás das câmeras:

A série televisiva Arrow é desenvolvido pela emissora The CW, de todas as

séries ativas com tema de super-herói que a emissora possui, esta é a mais antiga e

consequentemente a que possui mais temporadas. Exibiu sua primeira temporada,

nos Estados Unidos, de 10 de outubro de 2012 a 15 de maio de 2013, totalizando 23

episódios. Sua segunda temporada foi transmitida com data inicial em 09 de outubro

de 2014 a 14 de maio de 2015, completando também 23 episódios. A terceira

temporada ocorreu de 08 de outubro de 2014 a 13 de maio de 2015, com o mesmo

número de episódios. Sua quarta e última temporada – até então – foi ao ar de 07 de

outubro de 2015 a 25 de maio de 2016, novamente com 23 episódios. No Brasil, assim

como as demais, é transmitido pela Warner Channel.

Segundo o site AdoroCinema60 a primeira temporada da série teve uma média

de 3,2 milhões de espectadores por episódio. Na segunda temporada o número foi de

2,6 milhões, na terceira 2,8 milhões e na quarta 2,6 milhões. O site também mantém

um rankig de melhores séries, de acordo com as notas atribuídas por usuários. Este

é classificado de acordo com o ano de criação de cada série. Na categoria de 2010 a

2016, a série encontra-se na 10ª posição. De um total de 5 estrelas, a série computou

4,7.

60 Disponível em: <http://www.adorocinema.com/series/serie-10839/audiencias/>. Acesso em: 31 mai. 2016.

Page 103: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

101

Análise

Esta análise será feita através da comparação entre os dois tipos de sequência

distintos. Na quadrinhística trata-se da página, e do uso da sobreposição e

alinhamento de quadros da mesma. A série, por sua vez, apresenta suas sequências

através de cenas com movimento, que são vistas individualmente.

Para Aumont (2009, p. 47 apud SEABRA, 2014, p. 73):

A cena designa originalmente, no teatro grego, uma construção em madeira, a skené, no meio da zona de representação, e depois, por extensão, toda esta zona de representação (o palco) e o lugar imaginário onde se desenrola a ação. Por uma nova extensão de sentido, o termo passou depois a designar um fragmento de ação dramática que se desenrola numa mesma cena, ou seja, uma parte unitária da ação. Daí decorre um determinado valor atemporal ligado ao termo: a cena vale para uma certa unidade, indeterminada, de duração. (AUMONT, 2009, p. 47 apud SEABRA, 2014, p. 73).

Foi escolhida para a análise a revista nº 2, página 8, e o segundo episódio da

quarta temporada da série Arrow, cuja sequência mostra cenas similares. Na HQ a

personagem está fugindo de vilão que a persegue, e para tanto corre e salta por

telhados, à noite. Na série, não foi possível encontrar uma cena que se encaixasse

exatamente nesses critérios, portanto, foi escolhida a cena com maior similaridade

que pode ser encontrada. A sequência retrata a personagem principal em busca de

um vilão, que para não ser percebido, corre e salta por contêineres.

Page 104: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

102

Figura 48 – Green Arrow nos quadrinhos

Fonte: Arqueiro Verde nº 2, p. 8.

Page 105: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

103

Figura 49 – Green Arrow na série

Fonte: Arrow 4ª temporada, episódio 2.

Na HQ (figura 48) vemos uma imagem maior e centralizada que ocupa grande

parte da página, nela a personagem está aparentemente correndo. Há ainda outros

três quadros menores, dois quadrados com borda preta, localizados na parte superior

da página. O quadro da esquerda mostra a personagem correndo sobre um telhado,

através de um plano inteiro, que, nos apropriando dos termos do cinema e da

Page 106: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

104

fotografia, podemos chamá-lo de plano inteiro61. No quadro da direita evidencia a

personagem saltando deste telhado para o chão, utilizando um plano ainda mais

amplo que o anterior, podemos chamá-lo de plano geral62. Já o último quadro,

localizado no canto inferior direito, é de formato retangular, com uma borda grossa e

branca. Nele podemos ver um zoom na personagem, que é mostrada em plano

aproximado63, segurando uma de suas flechas.

Na sequência da série (figura 49) foram selecionados 8 frames que melhor se

encaixavam em relação à cena representada na HQ.

O movimento nos quadrinhos e na série é diferenciado. Enquanto no primeiro

caso a sensação de movimento é causada devido a sobreposição de quadros em

linha, no segundo o movimento acontece em função dos fotogramas, que ao serem

passados de forma rápida, causam movimento. A respeito do movimento em

produções audiovisuais, Aumont et al (1995) afirma que:

A imagem em movimento é uma imagem em perpétua transformação, que mostra a passagem de um estado da coisa representada para um outro estado, o movimento exige o tempo. [...] Qualquer objeto, de qualquer paisagem, por mais estáticos que sejam, encontram-se, pelo simples fato de serem filmados, inscritos na duração e oferecidos à transformação. (AUMONT et al, 1995, p. 91).

Dessa forma, enquanto na HQ todas as ilustrações que compõe a cena estão

em quadros dentro da mesma página, na série as cenas são passadas

separadamente, o que não nos permite ver todos os elementos de uma só vez.

Podemos perceber então que o movimento nas HQs é, de certa forma, mais

lento do que o movimento da série. A figura 48 que nos mostra a página de HQ, utilizou

um quadro grande de página inteira, e três menores com detalhes mais específicos.

Enquanto na figura 49, a mesma sequência demonstrada através da série, foram

necessários diversos quadros para demonstrá-la. A sequência na série teve uma

duração de 18 segundos focando na personagem principal. Enquanto na HQ, a

mesma cena pode ser demonstrada em uma página, composta de 4 quadros.

61 A personagem está situada próxima dos limites do quadro. (PUPO, 2011, p. 141).

62 A personagem é diminuta, ou até mesmo inexistente. (PUPO, 2011, p. 141).

63 A personagem é apresentada do peito para cima. (PUPO, 2011, p. 141).

Page 107: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

105

A sequência da série (figura 49), assim como na HQ, também demonstra uma

mudança de planos e enquadramento. Na imagem 01 vemos a personagem atirando

uma de suas flechas. Na imagem 02 a personagem analisa o local atingido pela flecha.

Em ambas as imagens foram utilizadas o plano americano64.

Na imagem 03 (figura 49) vemos a personagem andando sobre um contêiner.

Já na imagem 04 (figura 49) temos a sequência da mesma, na qual a personagem

está se preparando para saltar. Nas imagens 05 e 06 (figura 49) podemos ver a

personagem “no ar”, após pular do contêiner. Nas quatro imagens citadas acima,

podemos identificar um plano geral ou inteiro.

Na imagem 07 vemos que o arqueiro já chegou ao chão, caindo de joelhos,

pega uma de suas flechas e aponta para o possível vilão. Essa cena foi feita em plano

inteiro. Já na imagem 08 é dado um zoom na personagem principal, evidenciando sua

face e as flechas que segura. Nessa cena temos um grande primeiro plano65.

Outra diferença em relação à página e a sequência é o colorido das cenas. Na

HQ (figura 48), devido à melhor colorido da página, podemos observar melhor as

características da imagem, como o local onde a cena situa-se, ao figurino utilizado

pela personagem principal, os movimentos feitos pela mesma. Até o céu é mais claro

e estrelado, com a presença de uma lua cheia.

Já na série a sequência é mais escura. Esse fato é algo característico da série

Arrow que, na grande maioria, apresenta cenas com tonalidade mais escuras.

Especialmente aquelas que ocorrem à noite. O colorido da sequência interfere

diretamente na maneira como enxergamos a cena. Nas imagens 01 e 02, roupa

escura da personagem, juntamente com o fundo escuro do céu à noite, dificulta

enxergá-lo. A situação se repete nas imagens de 03 a 06. Na imagem 07 a

predominância de tons escuros não nos permite visualizar o rosto da personagem. Já

na imagem 08 podemos ver o rosto do herói, porém, o cenário ao redor não.

64 A personagem é apresentada dos joelhos para cima. (PUPO, 2011, p. 141).

65 A personagem é apresentada dos ombros para cima. (PUPO, 2011, p. 141).

Page 108: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

106

Page 109: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

107

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho tinha como tema a relação entre os quadrinhos e as séries

televisivas que abordam o tema de super-heróis. Mais precisamente, o problema de

pesquisa assim se apresentava: como se configura a adequação dos quadrinhos

de super-heróis nas séries televisivas? Para solucionar este problema foram

abordadas reflexões e comparações entre quadrinhos e séries televisivas.

De acordo com o que vimos no capítulo 2, abordando a história dos quadrinhos,

pudemos perceber que a temática dos super-heróis é antiga, e sua origem está

atrelada a personagens da antiga mitologia. Também vimos que ao longo dos anos

houve mudanças no universo dos super-heróis, que foram modificando suas

características de acordo com cada Era estudada. Assim, suas abordagens estavam

ligadas diretamente a fatos históricos de determinados períodos.

No capítulo 3 - história em quadrinhos: do papel e além, vimos os elementos

que compõe a linguagem das HQs, assim como suas diversas manifestações

midiáticas. Foi visto brevemente também a origem e evolução das séries televisivas,

até tornarem-se o que conhecemos hoje.

As diversas histórias, em suas respectivas Eras, juntamente com o avanço

tecnológico e mudanças midiáticas, permitiram às HQs se transformarem em séries

televisivas. Para que essa transposição ocorresse, foram necessárias algumas

mudanças em sua estrutura. Assim, partimos para nossa análise, separando

elementos que nos permitiram um olhar mais acurado para o entendimento da relação

HQ e série.

Na série Gotham o objetivo era analisar a personagem, e pudemos perceber

que grandes mudanças foram feitas nas HQs que conhecemos. O próprio fato de

narrar uma história que antecede às HQs originais comprova isso. Alterações são

feitas até no protagonismo da série, que toma por herói um personagem secundário

nas HQs. O verdadeiro herói das HQ, nesse caso, passa para segundo plano.

No quesito “abertura” sabemos que ambas são o primeiro contato do leitor ou

telespectador, com o meio em questão. Na HQ impressa, o primeiro contato com o

leitor é a capa. Na série o espectador tem uma abertura, o que provoca experiências

iniciais diferenciadas com as histórias contadas. As capas trazem ilustrações

Page 110: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

108

estáticas, necessitando de recursos específicos para que chamem a atenção do leitor.

Como vimos, elas são de forte importância na hora da compra. Já a abertura da série

utiliza elementos como cenas/ sequências, com o recurso do áudio e efeitos visuais.

As imagens presentes na abertura da série, em sua maioria, não remetem às capas

da HQ.

Na questão “efeitos visuais” verificamos que produção, em cada meio, é feita

de maneira diferenciada. Enquanto os efeitos visuais nas revistas são baseados em

ilustrações, os efeitos visuais nos seriados são produzidos através de computação

gráfica. Também percebemos que o áudio é elemento importante para o complemento

da cena na série.

No aspecto “sequência” vimos que os quadrinhos conseguem demonstrar mais

de um momento dentro da mesma página. Nas séries a sequência é feita quadro-a-

quadro. Apesar dessa diferença, ambos apresentam movimentos de câmera.

Dependendo do que pretende ser mostrado, tanto nos quadrinhos quanto nas séries,

há uma aproximação ou afastamento da imagem.

Concluímos então que os quadrinhos e as séries distinguem em alguns

aspectos, porém, em outros, são muito similares. Apesar da diferença técnica e

estrutural eles apresentam algumas características em comuns entre si, visto que as

séries em questão são baseadas em quadrinhos.

Outra observação que pode ser feita é que o meio interfere diretamente na

construção, tanto narrativa quanto estrutural, pois de acordo com cada meio são

necessários recursos diferenciados.

Podemos perceber também que a opção de escolha do leitor/telespectador

pode ser feita em função dessas características. Existe uma presença muito forte da

chamada “cultura do papel” em nossa sociedade. Ou seja, pessoas que preferem o

contato com o papel impresso, folhear páginas. Estes preferem o meio em seu âmbito

original. Há, porém, quem opte por produção audiovisuais repletas de recursos e

efeitos especiais.

Cada meio, para qual os quadrinhos são transpostos, nos traz características e

experiências diferentes. A maneira como lemos uma HQ é diferente da maneira como

assistimos uma série. A série permite ainda que seu público expanda seus

Page 111: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

109

conhecimentos sobre quadrinhos, e talvez busque a história no formato impresso. Ela

possibilita o surgimento, talvez, de um novo leitor de HQs.

Pudemos perceber, ao final, que de qualquer maneira, as histórias de super-

heróis estão presentes em nosso dia-a-dia, independentemente do meio. O sucesso

desses personagens somado ao crescimento do movimento nerd no mundo fez com

que essas histórias voltassem a ser lembradas e queridas pelo público de diversas

gerações.

As pessoas gostam de ouvir histórias sobre seres com poderes extraordinários,

e isso, na antiguidade era feito através da narrativa oral. Depois tivemos a

oportunidade da leitura, especialmente dos quadrinhos. E hoje, um caminho

interessante para explorar o tema é através das séries televisivas, que nos

apresentam uma experiência diferenciada, e que nos permite um contato curioso e

inovador com o universo fascinante dos quadrinhos.

Page 112: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

110

6. REFERÊNCIAS

ACEVEDO, Juan. Como fazer história em quadrinhos. São Paulo: Global, 1990. AUMONT, Jacques. et al. A estética do filme. São Paulo: Papirus, 1995. AVILLEZ, Gerson Machado de. Procurando o novo: Tratado dos clichês. [S.l.: s.n.], 2011. BAUER, Martin W.; GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis: Vozes, 2003. BOLTER, Jay David; GRUSIN, Richard. Remediation: Understanding the new media. Cambridge: Massaschusetts Institute of Technology, 1999. BRAIT, Beth. A personagem. São Paulo: Ática, 2006. BRANDÃO, Ruth Silviano. Mulher ao pé da letra: a personagem feminina na literatura. Belo Horizonte: UFMG, 2006. CAGNIN, Antonio Luiz. Os quadrinhos. São Paulo: Ática, 1975. CALLARI, Alexandre. Universo dos super-heróis. São Paulo: Discovery, (s.d.). CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Pensamento-Cultrix, 1997. CHARTIER, Roger. A aventura do livro: Do leitor ao navegador. São Paulo: UNESP, 1998. CIRNE, Moacy. Para ler os Quadrinhos. Petrópolis: Vozes, 1975. CIRNE, Moacy. Quadrinhos, sedução e paixão. Petrópolis: Vozes, 2000. COMPACCI, Claudio. A História Dos Primeiros 120 Anos Do Cinema. [S.l.: s.n.], 2014. v.1. COMPARATO, Doc. Da criação ao roteiro. 4.ed. rev., atual. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. 448 p. COUPERIE, Pierre et al. História em quadrinhos e comunicação de massa. São Paulo: Museu de Arte de São Paulo Assis Chateubriand, 1970. COUTINHO, I. Leitura e análise de imagem. In: DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio (Org.). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas, 2005. ECO, Umberto. Apocalípticos e integrados. São Paulo: Perspectiva, 2001. EISNER, Will. Quadrinhos e arte sequencial. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

Page 113: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

111

FONSECA, Joaquim da. Tipografia & design gráfico: design e produção gráfica de impressos e livros. Porto Alegre: Bookman, 2008. FRANCO, Edgar Silveira. HQtrônicas: do suporte papel à rede internet. São Paulo: Annablume; Fapesp, 2004. GARDIES, René. Compreender o CINEMA e as IMAGENS. Lisboa: Texto & Grafia, 2008. GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002. HOWE, Sean. Marvel comics: a história secreta. São Paulo: Leya Brasil, 2013. IANNONNE, Leila Rentroia; IANNONE, Roberto Antonio. O mundo das histórias em quadrinhos. São Paulo: Moderna, 1995. JENKINS, Henry; THORBURN, David. Democracy and new media: media in transation. Cambridge: The MIT Press, 2003. JOLY, Martine. Introdução à análise da imagem. São Paulo: Papirus, 1996. KURY, Mário da Gama. Dicionário de mitologia grega e romana. Rio de Janeiro: Zahar, 2009. LÉVY, Pierre. O que é o virtual. São Paulo: Editora 34, 1996. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2006. MARK, Margaret; PEARSON, Carol S. O herói e o fora-da-lei: como construir marcas extraordinárias usando o poder dos arquétipos. São Paulo: Pensamento-Cultrix, 2003. MARTIN, Marcel. A linguagem cinematográfica. São Paulo: Brasiliense, 1990. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: Ângela P. Dionísio. Gêneros Textuais e Ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003. MCCLOUD, Scott. Desvendando os quadrinhos. São Paulo: Makron Books, 1995. MCCLOUD, Scott. Reinventig comics. New York: Paradox Press, 2000. MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação: Como extensões do homem. São Paulo: Pensamento-Cultrix, 2000. MOYA, Álvaro de. História da história em quadrinhos. São Paulo: Brasiliense, 1996.

Page 114: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

112

OZ, Fernanda. Seriados de a a z: um guia completo para quem é louco por seriados. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações, 2015. PUPO, João F. Fotografia, som e cinema: para dar vida às suas ideias. Alfragide: Texto, 2011. QUELLA-GUYOT, Didier. A história em quadrinhos. São Paulo: Loyola, 1994. RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: Contexto, 2009. ROSA, Franco de. (org). Almanaque dos super-heróis e vilões. São Paulo: Discovery, 2015. SANTAELLA, Lúcia. Cultura das mídias. São Paulo: Experimento, 2003. SEABRA, Jorge. Cinema: tempo memória análise. Imprensa da Universidade de Coimbra: [s.n.], 2014. SILVA, Fabio Luiz Carneiro Mourilhe. O quadro nos quadrinhos. Rio de Janeiro: Multifoco, 2010a. STUMPF, I. Pesquisa bibliográfica. In: DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio (Org.). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas, 2005. TORRESINI, Elizabeth W. Rochadel. A soberania: o mito em homero, ésquilo, sófocles e eurípides. In: FLORES, Moacyr (Org.). Mundo Greco-Romano: arte, mitologia e sociedade. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2005. XAVIER, Ismail. O discurso cinematográfico: a opacidade e a transparência. São Paulo: Paz e Terra, 2008.

ARTIGOS

BOLTER, Jay David. Remediation and the Language of New Media. In: Northern Lights 2007: Digital Aesthetics and Communication: Conceptual and Theoretical Reassessments. Copenhagen, 2007. p. 25-38. CIRNE, Moacy. Heróis e personagens: talvez sim, talvez ficção. Estudos de Psicologia, Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 2 (1) p. 86-108. 1996. EGUTI, Clarícia Akemi. A representatividade da oralidade nas histórias em quadrinhos. São Paulo, 2011. 183 f. Dissertação (Mestrado em Filologia e Língua Portuguesa) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. FRANCO, Edgar. As HQstrônicas de terceira geração. In: ANPAP. XXI encontro nacional da ANPAP. Rio de Janeiro, 2012. Anais... Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, 2012. p. 232-246.

Page 115: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

113

GONÇALVES, Eva Maria Calvinho. Do códex ao e-book: o papel do design de comunicação na remediação da experiência de leitura do livro digital. Mestrado em design de comunicação e novos media. Universidade de Lisboa, Lisboa, 2011. GONÇALVES, Lilia A. C. A leitura e as novas formas de ler: um breve histórico. Revista eletrônica do Instituto de Humanidades, XXXIV, 2010. Universidade Unigranrio, Rio de Janeiro. p. 25-32. ISSN-1678-3182. KRAKHECKE, Carlos André. Representações da guerra fria nas historias em quadrinhos BATMAN – O Cavaleiro das Trevas e Watchen (1979-1987). Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2009. 145 f. Dissertação (mestrado em História). Porto Alegre, 2009. O LIVRO, a biblioteca e leitura: conhecer o passado para entender a (r)evolução tecnológica. In: XXV Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documento e Ciência da Informação, Florianópolis, 2013. Anais... Universidade Federal do Alagoas (UFAL), Maceió, 2013, p. 1-10. SILVA, Nadilson M. da. Elementos para a análise das Histórias em Quadrinhos. In: Intercom, XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação, Campo Grande, 2001. p. 1-15. TIETZMANN, Roberto. Efeitos visuais como elementos de construção da narrativa cinematográfica em King Kong. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Porto Alegre, 2010.

REVISTAS ELETRÔNICAS

IBOPE mídia. Gerações Y e Z: juventude digital. 2010. Disponível em: <http://www4.ibope.com.br/download/geracoes%20_y_e_z_divulgacao.pdf>. Acesso em: 01 jun. 2016. OLIVEIRA, Maria Cristina Xavier. História em quadrinhos e suas múltiplas linguagens. Revista Crioula, São Paulo, n. 2, p.1-12, nov. 2007. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/crioula/article/viewFile/52719/56574>. Acesso em: 12 abr. 2016. SILVA, Rafael Laytynher. A contribuição das histórias em quadrinhos de super-heróis para a formação de leitores críticos. Revista Anagrama: Revista científica interdisciplinar da graduação. São Paulo: UESC; Ano X, 1 ed. set-nov. 2011. Disponível em: <http://www.usp.br/anagrama/SilvaLaytynher_hqleituracritica.pdf>. Acesso em: 12 abr. 2016. VIANA, Nildo. Super-heróis e axiologia. Revista espaço acadêmico. Maringá: UEM; ISSN: 15196186; Ano II, n. 22, mar. 2003. Disponível em: <http://www.espacoacademico.com.br/022/22cviana.htm>. Acesso em: 25 mar. 2016.

Page 116: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

114

SITES CONSULTADOS AMERICAN NATIONAL BIOGRAPHY. Disponível em: <http://www.anb.org/articles/14/14-01160.html>. Acesso em: 11 mai. 2016. ADORO CINEMA. Disponível em: <http://www.adorocinema.com>. Acesso em: 30 mai. 2016. CAPACITOR. Disponível em: <http://ocapacitor.uol.com.br/quadrinhos/nota-crise_nas_infinitas_terras_saga_fundamental_da_dc_comics_completa_30_anos-11530.html>. Acesso em: 14 mai. 2016. CBS. Disponível em: <http://www.cbs.com/>. Acesso em: 31 mai. 2016. COMIC CON EXPERIENCE. Disponível em: <http://contato.ccxp.com.br/hc/pt-br/articles/202215484-O-que-%C3%A9-uma-Comic-Con->. Acesso em: 01 jun. 2016. THE CW. Disponível em: <http://www.cwtv.com/>. Acesso em: 31 mai. 2016. ESTUDO PRÁTICO. Disponível em: <http://www.estudopratico.com.br/civilizacoes-pre-colombianas>. Acesso em: 29 mar. 2016. FOX. Disponível em: <www.fox.com>. Acesso em: 30 mai. 2016. GUIA DO ESTUDANTE. Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/prensa-gutenberg-435887.shtml>. Acesso em: 11 mai. 2016. GUIA DOS QUADRINHOS. Disponível em: <http://www.guiadosquadrinhos.com/>. Acesso em: 15 mai. 2016. IMDB. Disponível em: <http://www.imdb.com>. Acesso em: 30 mai. 2016. INFO ESCOLA. Disponível em: <http://www.infoescola.com/biografias/sherlock-holmes/>. Acesso em: 14 mai. 2016. MANAGER. Disponível em: <http://www.manager.com.br/reportagem/reportagem.php?id_reportagem=403>. Acesso em: 01 jun. 2016. OFICINA DA NET. <https://www.oficinadanet.com.br/post/14513-o-que-e-netflix>. Acesso em: 14 mai. 2016. OMELETE. Disponível em: <https://omelete.uol.com.br>. Acesso em: 01 jun. 2016. SIGNIFICADOS. Disponível em: <http://www.significados.com.br/streaming/>. Acesso em: 14 mai. 2016.

Page 117: Quando os quadrinhos viram série - Frispit · No capítulo 3 é abordado os principais elementos da linguagem dos quadrinhos, desde elementos comuns da narrativa, como as personagens,

115

UNIVERSAL STUDIOS. Disponível em: <http://www.universalstudios.com/>. Acesso em: 14 mai. 2016. YAHOO MOVIES. Disponível em: <https://www.yahoo.com/movies/robert-rodriguez-certainly-didnt-have-to-look-87641433612.html>. Acesso em: 22 abr. 2016. SÉRIES ARROW. Criadores: Andrew Kreisberg, Greg Berlanti e Marc Guggenheim. The CW:

EUA, 2012. 42 min, cor.

GOTHAM. Criador: Bruno Heller. FOX: EUA, 2014. 42 min, cor. SUPERGIRL. Criadores: Ali Adler, Andrew Kreisberg e Greg Berlanti. The CW: EUA, 2015. 42 min, cor. THE FLASH. Criadores: Andrew Kreisberg, Geoff Johns e Greg Berlanti. The CW: EUA, 2014. 42 min, cor.