Que Diferença é Essa

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Que diferença é essa que incomoda tanto?: Territórios, redes, identidades de gênero e sexualidades divergentes. Introdução: Esta pesquisa tenta em certa medida dar vasão a algumas inquietações oriundas de observações descompromissadas. A ocasião destas observações se deu ao longo de visitas a um parque público de grande circulação na cidade de Teresina. Este parque abrange uma faixa de dois quilômetros que margeia um rio e fica próximo aos shoppings principais da cidade. Circulam diariamente por esse parque cerca de 10.000 pessoas que se utilizam deste espaço principalmente para atividades de lazer, que na maioria das vezes consiste em prática esportes. A faixa etária dos que frequentam o parque é bem abrangente e vai de recém-nascidos à idosos, porém, é considerável o número de grupos jovens que lá estão frequentemente. Dentre estes jovens é provável que exista uma grande diversidade de territorialidades, especificamente, é do interesse desta pesquisa perceber grupos e sujeitos em suas representações de gênero e discursos a cerca das sexualidades. Ter como foco da pesquisa as performances de gênero, bem como a sexualidade como marcador identitário está ligado diretamente a alguns eventos que ocorreram no campo, e que como pesquisador me fizeram problematizar algumas situações e atores sociais. O evento de maior representatividade foi protagonizado por um grupo de “goys”, o que como categoria etic define sujeitos do “sexo feminino” (de acordo com o discurso médico) que não se

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Que diferença é essa que incomoda tanto?: Territórios, redes, identidades de

gênero e sexualidades divergentes.

Introdução:

Esta pesquisa tenta em certa medida dar vasão a algumas inquietações oriundas

de observações descompromissadas. A ocasião destas observações se deu ao longo de

visitas a um parque público de grande circulação na cidade de Teresina. Este parque

abrange uma faixa de dois quilômetros que margeia um rio e fica próximo aos

shoppings principais da cidade. Circulam diariamente por esse parque cerca de 10.000

pessoas que se utilizam deste espaço principalmente para atividades de lazer, que na

maioria das vezes consiste em prática esportes. A faixa etária dos que frequentam o

parque é bem abrangente e vai de recém-nascidos à idosos, porém, é considerável o

número de grupos jovens que lá estão frequentemente. Dentre estes jovens é provável

que exista uma grande diversidade de territorialidades, especificamente, é do interesse

desta pesquisa perceber grupos e sujeitos em suas representações de gênero e discursos

a cerca das sexualidades.

Ter como foco da pesquisa as performances de gênero, bem como a sexualidade

como marcador identitário está ligado diretamente a alguns eventos que ocorreram no

campo, e que como pesquisador me fizeram problematizar algumas situações e atores

sociais. O evento de maior representatividade foi protagonizado por um grupo de

“goys”, o que como categoria etic define sujeitos do “sexo feminino” (de acordo com o

discurso médico) que não se identificam com o gênero socialmente atribuído. Na

ocasião passeava de braços dados um casal quando foram agredidos primeiro

verbalmente, depois fisicamente, por um policial “a paisana”. O agressor através de

gritos e xingamentos dizia que a uma delas (que vestia roupas socialmente definidas

como masculinas) que “não deveria se portar de tal maneira num ambiente familiar!”.

Depois de tal incidente iniciaram-se algumas campanhas que protestavam o direito de

“ir e vir” e “livre amar” destes sujeitos. A pesquisa então esteve direcionada por

questões que estão intrinsecamente ligadas as normas de gênero que regulam de certa

maneira o espaço de atuação destes sujeitos.

Quando mergulhei neste campo de inúmeras possibilidades necessitava de um

aporte teórico metodológico capaz de direcionar a pesquisa para um recorte de viés

antropológico, e foi em Perlonguer que encontrei algumas respostas a minhas

inquietações. Passei então a questionar o impacto do território na formulação de

algumas identidades que são tidas como desviantes, e de como são articuladas estas

redes sociais.

Dados etnográficos:

O campo.

Ao descrever as situações representativas do cotidiano deste espaço percebi que

as corporeidades assumem um papel de enorme significação. Seja nas atividades físicas,

praticas de esportes ou passeios de um final de tarde, os corpos estão sempre em

evidência. Aparecem então algumas questões básicas como: O que dizem estes corpos?

Que idealizações estão presentes nas articulações de gênero? Quais as

performatividades evocadas para dar significado às interações sociais neste contexto?

O parque assumiria para esses atores sociais um espaço de afirmação das

performances de gênero como uma repetição de atos ensaiados e devem ser atualizados

por atores individuais como em Butler (1998). Este espaço de negociações entre o

socialmente estabelecido como normal e o divergente é de suma importância para o

desenvolvimento das relações sociais de afirmação da identidade de gênero.

Os sujeitos.

O grupo ou “quase grupo” constituinte desta pesquisa nos oferece alguns

elementos para a percepção de algumas das atuações do biopoder já denunciado em

Foucault (1985). Quando dizem que em casa, na escola, no trabalho ou em outros

ambientes é mais difícil transgredir as regras de gênero, bem como as normas que

regulam a sexualidade. O que teriam a dizer sobre seus corpos os atores sociais

envolvidos nestas dinâmicas? Quando se articulam determinadas tensões de gênero

sempre aparecem discursos a cerca do que a “sociedade” considera normal e as

possibilidades de afirmação de cada grupo. No caso dos goys, ir até o parque e fazer

dele uma zona livre do poder institucionalizado, ou pelo menos onde as negociações são

mais abertas.

As metodologias.

Etnografar tais discursos é de certa forma uma incursão metodológica em grande

escala, onde Foucault ao tratar dos “ditos e não ditos” afirma que para estudar os

procedimentos de controle bem como as delimitações dos discursos é necessário que se

perceba as diferentes maneiras de não dizer e como são distribuídos os não ditos.

Discussão teórica:

A noção de territorialidade (Perlonger).

A noção de redes (Brah).

Pensar a experiência e a formação do sujeito comoprocessos é reformular a questão da “agência”. O “eu” e o “nós”que agem não desaparecem, mas o que desaparece é a noção deque essas categorias são entidades unificadas, fixas e já existentes,e não modalidades de múltipla localidade, continuamentemarcadas por práticas culturais e políticas cotidianas.As identidades de g

ênero (Butler).

O efeito do biopoder e suas biopolíticas (Foucault, 1985) objetivam disciplinar os corpos e regular os prazeres da população por meio de normas que são garantidas pelo sistema sexo/gênero/desejo/práticas sexuais (produtor e guardião da heteronormatividade) (Butler, 2001), e, nesta perspectiva, toma travestis, transexuais e transgêneros como corpos abjetos, insignificantes e esquecidos pelas políticas públicas. Essa ideia de corpo abjeto, que passamos a usar através de Judith Butler (2003), inicialmente nos remetia a pensar sobre as pessoas à margem social, sem assistência e credibilidade civil, pessoas que de alguma forma tiveram suas vidas impossibilitadas de reconhecimento e que se juntaram a tantas outras, denominadas por Herbert Daniel (1989) de “morte civil”.

Desvio e divergência (Carrara, Simões).

As pesquisas sobre sociabilidade tendem a dar ênfase às práticas e expressões de corpos – em

termos que às vezes lembram as “materializações corporais” de Judith Butler (1993) – referidas

a sujeitos designados de formas múltiplas. Essa preocupação com as diferentes expressões dos

corpos ou corporalidades tendeu crescentemente a pleitear noções de “marcadores sociais da

diferença” e “interseccionalidades”. Mas (tal como também acontece com Butler) em muitos

trabalhos a articulação privilegiada é a que se dá entre corpo, sexualidade e gênero.

Conclusões:

Para uma antropologia...