QUEM É KAMUKÁ

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QUEM É KAMUKÁ? Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no Faceboo kCompartilhar no Orkut Àgo ye ègbón! Existem três temas muito freqüentes nas discussões nas comunidad es sobre religiões afro-brasileiras do Orkut: a balança, saber ou não que se ocupa e o Orixá Xangô Kamuká. O texto a seguir é parte de uma das discussões mais qualificad as de que já participei. Tentar falar sobre este Orixá tão introspectivo não é uma tarefa das mais fáceis para mim tendo em vista que sou da Nação Ijexá. Digo isso porque a Nação Ijexá não cultua esse Orixá. Xangô Kamuká é um Orixá exclusivo da Nação Cabinda por isso peço antecipadas desculpas aos cabindeiros por qualquer erro que eu possa manifestar no que concerne a prática, cultura, tradição ou fundamentos dessa divindade tão enigmática. O que sei sobre Kamuká é o que aprendi aqui e ali, com o que os cabindeiros me falavam ou com pessoas de outros lados que conheciam alguma coisa dele, além do que li em poucos livros como o do escritor e Babalorixá Paulo Tadeu Barbosa Ferreira e o do Prof. Dr. Norton Figueiredo Corrêa, além do que é postado nos tópicos das comunidades do Orkut como: “Nação Cabinda”, “Batuque do RS” e “Sou Batuqueiro Sim e Daí”. E o que sei é que Kamuká só seria cultuado na cabinda e que nenhuma outra nação deveria ou poderia cultuá-lo, pois esse Orixá é o do fundador dessa nação. O que sei também é que o assentamento desse Orixá é feito no balé, pois teria ele grande aproximação com eguns. Meu tio-avô carnal, Cláudio de Oxum Docô, falecido babalorixá de Cabinda me disse inclusive que nem devemos pronunciar esse nome (Kamuká) dentro de casa, pois poderia atrair algum tipo de mal, porém sou totalmente cético sobre isto. Dizem ainda que Kamuká reside no cemitério, mais precisamente no forno (lugar onde se cremam os ossos) e que, por conta disso, se prestaria só ao dano. Esses são alguns dos motivos pelos quais não se dá cabeça de filhos para esse Orixá (que a essa altura me pergunto se é Orixá mesmo). Vejam bem, não estou afirmando nada, estou apenas relatando o que me contaram. Por outro lado tenho minhas pesquisas históricas e o que encontrei é que, segundo Norton Corrêa, quem fundou a nação Cabinda em Porto Alegre foi um africano chamado Gululu. No entanto a insistência dos descendentes de Cabinda em afirmar que o surgimento dessa nação se dá com o Esá (título que se dá a pais e mães-de-santo falecid os) Valdemar Antonio dos Santos, me leva a questionar se Gululu e V

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Àgo ye ègbón!

Existem três temas muito freqüentes nas discussões nas comunidades sobre religiõesafro-brasileiras do Orkut: a balança, saber ou não que se ocupa e o Orixá Xangô Kamuká.O texto a seguir é parte de uma das discussões mais qualificadas de que já participei.Tentar falar sobre este Orixá tão introspectivo não é uma tarefa das mais fáceis para mimtendo em vista que sou da Nação Ijexá.Digo isso porque a Nação Ijexá não cultua esse Orixá. Xangô Kamuká é um Orixáexclusivo da Nação Cabinda por isso peço antecipadas desculpas aos cabindeiros porqualquer erro que eu possa manifestar no que concerne a prática, cultura, tradição oufundamentos dessa divindade tão enigmática.O que sei sobre Kamuká é o que aprendi aqui e ali, com o que os cabindeiros me falavamou com pessoas de outros lados que conheciam alguma coisa dele, além do que li em

poucos livros como o do escritor e Babalorixá Paulo Tadeu Barbosa Ferreira e o do Prof.Dr. Norton Figueiredo Corrêa, além do que é postado nos tópicos das comunidades doOrkut como: “Nação Cabinda”, “Batuque do RS” e “Sou Batuqueiro Sim e Daí”. E o que seié que Kamuká só seria cultuado na cabinda e que nenhuma outra nação deveria oupoderia cultuá-lo, pois esse Orixá é o do fundador dessa nação.O que sei também é que o assentamento desse Orixá é feito no balé, pois teria ele grandeaproximação com eguns. Meu tio-avô carnal, Cláudio de Oxum Docô, falecido babalorixáde Cabinda me disse inclusive que nem devemos pronunciar esse nome (Kamuká) dentrode casa, pois poderia atrair algum tipo de mal, porém sou totalmente cético sobre isto.Dizem ainda que Kamuká reside no cemitério, mais precisamente no forno (lugar onde secremam os ossos) e que, por conta disso, se prestaria só ao dano. Esses são alguns dosmotivos pelos quais não se dá cabeça de filhos para esse Orixá (que a essa altura mepergunto se é Orixá mesmo).Vejam bem, não estou afirmando nada, estou apenas relatando o que me

contaram.Por outro lado tenho minhas pesquisas históricas e o que encontrei é que, segundo NortonCorrêa, quem fundou a nação Cabinda em Porto Alegre foi um africano chamado Gululu.No entanto a insistência dos descendentes de Cabinda em afirmar que o surgimento dessanação se dá com o Esá (título que se dá a pais e mães-de-santo falecidos) ValdemarAntonio dos Santos, me leva a questionar se Gululu e V

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aldemarnão seriam a mesma pessoa.Cabinda é uma região da África que já foi independente, mas que hoje é uma província deAngola. Seus habitantes são originários do tronco lingüístico bantu e são os Bakongo,Bauoio, Baluango, Basundi, entre outros. Gululu é um nome notadamente bantu.Acreditoque Gululu seja oriundo de Cabinda, provavelmente bakongo, pois essa etnia veio

traficada para o Brasil em grande quantidade. Os Bakongo (singular Nkongo) cultuavam osNkisi, espíritos mágicos ligados à natureza ou aos ancestrais. Na metafísica dos bantu, osNkisi pertenciam ao seu lugar de origem e jamais eram movidos de lugar. Por isso, quandoeles vieram para o Brasil, seus Nkisi ficaram na África. A sua profunda religiosidade os fez,então, serem atraídos para as religiões que conheceram aqui no Brasil. O catolicismo e ascrenças indígenas os influenciaram e sincretizando-as com suas próprias crençasacabaram por dar origem à tão conhecida religiosidade popular do brasileiro.Os sudaneses (complexo cultural Jeje-Nagô) vieram em menor número durante todo oprocesso escravagista sendo que em grande quantidade só a partir de século XIX.Diferentemente das crenças bantus, na metafísica dos sudaneses para onde iam suasdivindades e ancestrais os acompanhavam. Por isso, ao chegarem no Brasil, trouxeramconsigo sua cultura religiosa. É bem provável que uma parte dos bantus também tenham

migrado para a religião desses sudaneses cultuando os Orixás.É possível que Gululu seja um desses africanos de origem bantu que aprendeu a culturados Orixás aqui no Brasil com sudaneses, mas resolveu fundar uma sociedade religiosa

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com negros originários da mesma região, batizando sua nação, então, de Cabinda. Issoexplicaria a cultura de Orixás e Voduns na nação de Cabinda que deveria cultuar Nkisi,mas não o faz. Mas isso não explica o Kamuká no culto.Existe em Angola - bem distante de Cabinda por sinal - uma etnia bantu denominadaMbundu/Kamuka (http://www.embaixadadeangola.org/cultura/linguas/l_mbunda.html). Issonão diz muito exceto que a origem do nome Kamuká, agora comprovadamente, é bantu. E

se hipoteticamente Gululu for o nome africano de Valdemar já que os escravizados erambatizados com nomes ocidentais quando chegavam no Brasil? Daí a coisa começa a seencaixar. Kamuká pode ser um Nkisi nsi, espírito ancestral ligado a um clã familiar. Esseespírito pode ser de um ente falecido que volta incorporado num descendente seu. Comose vê, a cosmogonia dos bantus é bem diferente da dos sudaneses. Entre esses últimos,espíritos de ancestrais (eguns) e divindades (Orixás) não se misturam e só os Orixás éque podem tomar “emprestado” o corpo de um humano. Agora refletindo: se Valdemar (ou Gululu) cultuava Kamuká por que este era o Nkisi nsi desua família, fica explicado o porquê de Kamuká não pegar mais filhos, nem de poderbaixar em alguém. Por outro lado, também fica explicado do porquê desse “Orixá” ser cultuado próximo ou junto ao balé, pois na cosmogonia iorubá Kamuká seria um egun.Espero ter contribuído para despertar o interesse nessa pesquisa. Por outro lado peço

paciência para comigo aos cabindeiros que cultuam Kamuká de forma diferente dadescrita nestas poucas linhas e sobretudo aos que não são da Nação Cabinda mas quetambém cultuam esse grandioso Orixá.

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