Quer pagar quanto?

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“Q uer pagar quanto?”, gritava à exaustão um insistente garoto- propaganda de uma rede de magazines. Parafraseando o famoso slo- gan, poderíamos dizer que quem quiser comprar orgânicos também pode esco- lher quanto quer pagar por eles. Pesquisa do Idec levantou os preços de sete ali- mentos orgânicos (repolho verde, berin- jela, pimentão verde, chuchu, tomate, cebola e alface americana) em quatro ca- pitais do país e concluiu que a diferença de preço de um mesmo produto pode chegar a 463%, dependendo do canal de venda (grandes supermercados, feiras de orgânicos e entregas em domicílio). É o caso de Curitiba, onde a média de preço de um pé de alface americana é de es- trondosos R$ 3,94 em supermercados e de R$ 0,70 em feiras de orgânicos. Em 100% dos casos, os preços mais baixos foram os praticados por feirantes. Os supermercados, no outro extremo, apresentaram valores mais salgados em 68% dos casos. E as entregas em do- micílio tiveram ofertas menos vantajosas em 32% dos casos. Veja o resultado com- pleto no quadro Onde É Mais Barato. Se considerada a lógica de mercado aplicada à maioria das atividades eco- nômicas, os grandes distribuidores ten- dem a oferecer preços mais baixos que os dos pequenos comerciantes. Claro, quem tem mais capital de giro e mais pontos de venda também tem mais poder de bar- ganha na hora de negociar com o produ- tor. Mas isso não se aplica ao setor de orgânicos: no caso das feiras, o comer- ciante é quase sempre o próprio produ- tor. Assim, sem intermediários, é maior a 16 Revista do Idec | Abril 2010 CAPA Os alimentos orgânicos, felizmente, vieram para ficar. Mas seus preços variam bastante: são bem mais caros em supermercados e mais baratos em feiras especializadas. É o que revela pesquisa do Idec Quer pagar quanto? FOTOS IZILDA FRANÇA probabilidade de o preço final ser mais baixo. Araci Kamiyama, engenheira agrô- noma da equipe de agricultura sustentá- vel da Secretaria de Meio Ambiente de São Paulo, comenta que a logística também infla- ciona os preços em supermercados. “As grandes redes gastam mais com distribuição e também demandam itens que encarecem os produtos, como embalagens. Além disso, elas entendem que a demanda por orgânicos se concentra, sobretudo, em um público de maior poder aquisitivo e, por isso, cobram preços mais elevados”, justifica. Prova disso é a política de marketing do Grupo Pão de Açúcar, uma das maiores redes de super- mercados do país. As lojas Pão de Açúcar, assu- midamente dirigidas a um público mais abastado, têm 600 itens orgânicos em seu portfólio. Já as lojas Compre Bem, que pertencem ao mesmo grupo e cujo público-alvo é a “classe média po- pular”, têm apenas 40 itens orgânicos à disposição dos clientes. CRESCIMENTO CHINÊS Os números que envolvem a produção e o mer- cado de orgânicos no Brasil e no mundo impres- sionam. Embora possam ser questionados, existe praticamente um consenso de que o setor vem crescendo em ritmo acelerado nos últimos anos. O mercado mundial movimenta hoje cerca de US$ 50 bilhões, e segundo Fábio Ramos, diretor da consultoria especializada em orgânicos Agrosuisse, o setor cresceu 235% entre 1999 e 2008. No Brasil, o avanço dos orgânicos também vem ocorrendo a passos largos. Fábio estima que a média anual de crescimento é de 30%. O Gru- po Pão de Açúcar afirma estar incrementando suas vendas em taxas de 40% ao ano – em 2009, o faturamento com esse tipo de produto foi de R$ 58 milhões. Em relação à área de produção, o Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) fala em 1,5 milhão de hectares. Se comparado aos cerca de 300 milhões de hectares de toda a ativi- dade agropecuária brasileira, o número ainda é tímido, mas está bem acima dos 800 mil estima- dos em 2007. Revista do Idec | Abril 2010 17 O sistema hidropônico nada tem a ver com o or- gânico. O primeiro, ao contrário do que se pensa, uti- liza adubos químicos e produtos como inseticidas e fungicidas. A principal diferença em relação ao sis- tema convencional é que a planta não tem contato com o solo, pois “cresce” na água. Não confunda

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Pesquisa do Idec aponta as variações de preços dos alimentos orgânicos entre feiras e supermercados. A diferença pode chegar a 463%!

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Page 1: Quer pagar quanto?

“Quer pagar quanto?”, gritava àexaustão um insistente garoto-propaganda de uma rede de

magazines. Parafraseando o famoso slo-gan, poderíamos dizer que quem quisercomprar orgânicos também pode esco-lher quanto quer pagar por eles. Pesquisado Idec levantou os preços de sete ali-mentos orgânicos (repolho verde, berin-jela, pimentão verde, chuchu, tomate,cebola e alface americana) em quatro ca-pitais do país e concluiu que a diferençade preço de um mesmo produto podechegar a 463%, dependendo do canal devenda (grandes supermercados, feiras deorgânicos e entregas em domicílio). É ocaso de Curitiba, onde a média de preçode um pé de alface americana é de es-trondosos R$ 3,94 em supermercados ede R$ 0,70 em feiras de orgânicos.

Em 100% dos casos, os preços maisbaixos foram os praticados por feirantes.Os supermercados, no outro extremo,apresentaram valores mais salgados em68% dos casos. E as entregas em do-micílio tiveram ofertas menos vantajosasem 32% dos casos. Veja o resultado com-pleto no quadro Onde É Mais Barato.

Se considerada a lógica de mercadoaplicada à maioria das atividades eco-nômicas, os grandes distribuidores ten-dem a oferecer preços mais baixos que osdos pequenos comerciantes. Claro, quemtem mais capital de giro e mais pontos devenda também tem mais poder de bar-ganha na hora de negociar com o produ-tor. Mas isso não se aplica ao setor deorgânicos: no caso das feiras, o comer-ciante é quase sempre o próprio produ-tor. Assim, sem intermediários, é maior a

16 Revista do Idec | Abri l 2010

CAPA

Os alimentos orgânicos,felizmente, vierampara ficar. Mas seuspreços variam bastante:são bem mais caros emsupermercados e maisbaratos em feirasespecializadas. É o querevela pesquisa do Idec

Quer pagarquanto?

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probabilidade de o preço final sermais baixo.Araci Kamiyama, engenheira agrô-

noma da equipe de agricultura sustentá-vel da Secretaria de Meio Ambiente de São

Paulo, comenta que a logística também infla-ciona os preços em supermercados. “As grandesredes gastam mais com distribuição e tambémdemandam itens que encarecem os produtos,como embalagens. Além disso, elas entendem quea demanda por orgânicos se concentra, sobretudo,em um público de maior poder aquisitivo e, porisso, cobram preços mais elevados”, justifica.Prova disso é a política de marketing do GrupoPão de Açúcar, uma das maiores redes de super-mercados do país. As lojas Pão de Açúcar, assu-midamente dirigidas a um público mais abastado,têm 600 itens orgânicos em seu portfólio. Já aslojas Compre Bem, que pertencem ao mesmogrupo e cujo público-alvo é a “classe média po-pular”, têm apenas 40 itens orgânicos à disposiçãodos clientes.

CRESCIMENTO CHINÊSOs números que envolvem a produção e o mer-

cado de orgânicos no Brasil e no mundo impres-sionam. Embora possam ser questionados, existepraticamente um consenso de que o setor vemcrescendo em ritmo acelerado nos últimos anos. O

mercado mundial movimenta hoje cerca de US$50 bilhões, e segundo Fábio Ramos, diretor daconsultoria especializada em orgânicos Agrosuisse,o setor cresceu 235% entre 1999 e 2008.

No Brasil, o avanço dos orgânicos também vemocorrendo a passos largos. Fábio estima que amédia anual de crescimento é de 30%. O Gru-po Pão de Açúcar afirma estar incrementandosuas vendas em taxas de 40% ao ano – em 2009,o faturamento com esse tipo de produto foi deR$ 58 milhões.

Em relação à área de produção, o Ministério deAgricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)fala em 1,5 milhão de hectares. Se comparado aoscerca de 300 milhões de hectares de toda a ativi-dade agropecuária brasileira, o número ainda étímido, mas está bem acima dos 800 mil estima-dos em 2007.

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O sistema hidropônico nada tem a ver com o or-gânico. O primeiro, ao contrário do que se pensa, uti-liza adubos químicos e produtos como inseticidas efungicidas. A principal diferença em relação ao sis-tema convencional é que a planta não tem contatocom o solo, pois “cresce” na água.

Não confunda

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Quando se pensa em orgânicos, a primeira ideiaque vem à mente são alimentos saudáveis, já quenão é permitido o uso de fertilizantes sintéticossolúveis, agrotóxicos e transgênicos em sua pro-dução. Além disso, aplicam-se princípios que con-templam o emprego responsável dos recursos na-turais. De acordo com pesquisa da Latin Panel de2007, 54% das pessoas que preferem orgânicossão motivadas por preocupação com a saúde.

O conceito de orgânico, no entanto, pressupõesustentabilidade não apenas ambiental, mas tam-bém social e econômica. “O movimento agroeco-lógico coloca em debate o atual modelo de desen-volvimento agrícola. O foco é a agricultura fami-liar, ou seja, um modelo de organização de merca-do que não explore a mão de obra e não concentre

capital”, afirma Dênis Monteiro, secretário executi-vo da Articulação Nacional de Agroecologia.

Tudo isso para dizer que crescimento rápido nãosignifica, necessariamente, crescimento bom. Co-mo o setor de orgânicos se tornou bastante lucra-tivo, corre o risco de se tornar um “negócio” comoqualquer outro, em que a velha lei de mercado ditaas regras. Araci Kamiyama lembra, por exemplo,que há alguns anos o mercado de orgânicos, em-bora ainda incipiente, baseava-se principalmentena relação direta entre produtor e consumidor. Eque, hoje, 80% do mercado está nas mãos dasgrandes redes de varejo. Já Fábio Ramos cita nú-meros diferentes: "Há cerca de cinco anos o per-centual era de 70%, e hoje é de 50%”.

Independentemente de qual seja o número exa-

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CAPA

Onde é mais barato

3,62

Repolhoverde

(cabeça)

Verde: menores preços Vermelho: maiores preços NE: alimento não encontrado

Supermercado

2,74Entrega em domicílio

1,83Feira orgânica

97,45% 83,60% 66,77% 13,26% 115,29% 87,33% 79,07%

9,18

Berinjela(kg)

8,315,00

12,30

Pimentãoverde (kg)

15,769,45

7,13

Chuchu(kg)

NE6,30

12,81

Tomate(kg)

12,705,95

11,24

Cebola(kg)

9,676,00

3,88

Alfaceamericana

(pé)

2,782,17

Variação menor/maior

SÃO PAULO (SP)

2,28Supermercado

4,20Entrega em domicílio

2,00Feira orgânica

110%

2,993,402,00

5,686,755,00

3,36NE

1,50

10,78NE

3,00

4,97NE

2,00

2,23NE

1,00Variação menor/maior

RECIFE (PE)

3,22Supermercado

2,00Entrega em domicílio

1,50Feira orgânica

114,66%

7,018,003,00

6,155,003,00

NENENE

11,975,003,50

9,564,004,00

3,941,300,70

Variação menor/maior

CURITIBA (PR)

NESupermercado

2,59Entrega em domicílio

2,16Feira orgânica

19,90%

70%

166,66%

106,48%

35%

105%

60,32%

124%

NE

300%

259,33%

242%

89,94%

148,50%

139%

107,87%

123%

462,85%

60,69%

4,462,592,16

5,904,153,68

6,482,101,62

4,986,993,68

NE4,492,16

NE2,293,68

Variação menor/maior

FORTALEZA (CE)

Preços (R$) Preços (R$) Preços (R$) Preços (R$) Preços (R$) Preços (R$) Preços (R$)

Preços (R$) Preços (R$) Preços (R$) Preços (R$) Preços (R$) Preços (R$) Preços (R$)

Preços (R$) Preços (R$) Preços (R$) Preços (R$) Preços (R$) Preços (R$) Preços (R$)

Preços (R$) Preços (R$) Preços (R$) Preços (R$) Preços (R$) Preços (R$) Preços (R$)

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to, a evidência é que gradativamente o pequenoprodutor de orgânico se torna refém das grandesempresas. “Se ele vende em feiras, a margem delucro é bem maior, mas quantitativamente vendepouco. Assim, muitas vezes ele prefere vender emmaior quantidade [para as grandes redes], mesmosabendo que vai ter menos lucro”, diz Araci. Aconsequência disso é a mudança no perfil da la-voura orgânica: em vez de se ter uma plantaçãobastante diversificada – um dos princípios do sis-tema orgânico –, o agricultor passa a focar empoucos tipos de alimento, com o intuito de obterum volume de produção maior e, assim, poderatender à demanda dos supermercados.

Para Roberto Mattar, coordenador de agroecolo-gia do MAPA, a saída para o pequeno agricultor éa união, pois só assim vai sobreviver e ter poder debarganha com as grandes empresas. Mas o con-sumidor também tem papel importante nesseprocesso. “Frequentar feiras de orgânicos é umamaneira de incentivar o pequeno produtor e decontar com preços mais acessíveis”, acreditaAdriana Charoux, pesquisadora do Idec e autorado estudo dos preços de orgânicos.

É comum o argumento de que a produçãoorgânica não daria conta de garantir a oferta dealimentos em larga escala e a preços acessíveis.“Isso não passa de preconceito”, declara Araci, quecita um estudo da Food and Agriculture Orga-nization – FAO (organismo das Nações Unidaspara a agricultura e a alimentação), segundo o qual“a produção de orgânicos incrementa a disponibi-lidade de alimentos e o acesso a eles nos locaisonde a pobreza e a fome são mais graves (…). Odesafio não é nem agronômico, nem econômico: épolítico-social”. Mas para que isso se concretize éinegável a importância de incentivos governamen-tais, como a Lei Federal no 11.947/2009, regula-mentada pela Resolução no 38/2009, que prevêque no mínimo 30% dos recursos destinados àcompra de alimentos por escolas públicas deverãoser utilizados na aquisição de gêneros alimentíciosoriundos da agricultura familiar. Essa legislação

também prioriza os alimentos orgânicos. “Isso sig-nifica a democratização de acesso a um alimentomais saudável e um estímulo à conversão do sis-tema convencional ao sistema orgânico”, comemo-ra Ana Flávia Badue, educadora ambiental e dire-tora do Instituto Kairós.

ELA VEM CHEGANDO

Para controlar a produção de orgânicos no país,o governo federal, por meio do MAPA, criouo Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformida-de Orgânica (Sisorg). Assim, um selo oficial per-mitirá ao consumidor identificar os alimentos quesão de fato orgânicos (aqueles compostos por nomáximo 5% de ingredientes não orgânicos. Osprodutos que tiverem menos de 70% de ingredi-entes orgânicos não receberão o selo).

Os agricultores têm até 31 de dezembro desteano para se adaptar às regras previstas pela “lei deorgânicos” (Lei no 10.831/2003) e sua posterior re-gulamentação (decretos no 6.323/2007 e no 7.048/2009). Estão previstas duas modalidades de con-trole. Uma já é bastante conhecida: as empresascertificadoras (que agora deverão ser credenciadaspelo MAPA) verificam se determinado produtorsegue à risca as regras da agricultura orgânica.

A novidade é a certificação por “sistemas parti-cipativos de garantia da qualidade orgânica” – pro-dutores, técnicos, transportadores, armazenado-res, consumidores e organizações sociais poderãose unir e criar “pessoa jurídica” que, credenciadapelo MAPA, poderá exercer a função de empresacertificadora. “É um sistema bastante inclusivo,pois tende a ser mais barato que a certificação con-vencional”, observa Roberto Mattar, do MAPA.

Há ainda uma terceira forma de garantir a pro-cedência prevista pela “lei de orgânicos”: a relaçãodireta entre produtores e consumidores. O produ-tor de orgânicos que aderir a essa modalidade rece-berá periodicamente órgãos fiscalizadores do go-verno, mas os produtos não receberão o selo oficial.A garantia de que eles são realmente orgânicosocorrerá pelo vínculo entre os produtores e uma“organização de controle social” (que pode ser asso-ciação, cooperativa ou consórcio de agricultores).

Revista do Idec | Abri l 2010 19

“Frequentar feirasorgânicas é uma maneirade incentivar o pequenoprodutor e de contar compreços mais acessíveis”

Adriana Charoux, pesquisadora do Idec

Selo do governoidentificaráos produtosorgânicos a partirdo ano que vem

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AÇÃO

MAP

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20 Revista do Idec | Abri l 2010

Como foi feita a pesquisaNo início de 2010 foram levantados os preços de 18 frutas,

verduras e legumes orgânicos encontrados em supermercados,feiras livres especializadas nesse tipo de alimento e serviços deentrega em domicílio de sete capitais do país: Belém (PA), CampoGrande (MS), Curitiba (PR), Fortaleza (CE), Recife (PE), Rio deJaneiro (RJ) e São Paulo (SP).

O levantamento foi realizado em parceria com entidades asso-ciadas ao Fórum Nacional de Entidades Civis de Defesa doConsumidor (FNECDC) — Instituto para o Consumo EducativoSustentável (Icones — Belém), Associação Brasileira da Cidadaniae do Consumidor (Abccon — Campo Grande), Associação dosConsumidores de Produtos Orgânicos do Paraná (Acopa —Curitiba), Associação Brasileira de Economistas Domésticos(Abed — Fortaleza), Associação de Defesa da Cidadania e doConsumidor (Adeccon — Recife), Associação Brasileira doConsumidor (Abracon — Rio de Janeiro) — e uma organização quedesenvolve estudos na área de consumo e agroecologia, o CentroEcopedagógico Bicho do Mato (Recife).

No entanto, como nem sempre os 18 itens selecionados foram

encontrados em todas as cidades ou estavam disponíveis nos trêscanais de venda, a pesquisa foi limitada a sete alimentos — repo-lho verde, berinjela, pimentão verde, chuchu, tomate, cebola ealface americana. Belém e Rio de Janeiro foram excluídas doestudo, pois nelas não foram encontrados os sete alimentos.Campo Grande não consta dos resultados finais, pois os orgâni-cos são vendidos somente em supermercados.

Em cada localidade foram selecionados os supermercados commaior faturamento. As feiras e serviços de entrega foram escolhi-dos por meio de consulta ao portal <planetaorganico.com.br>.

Para calcular a média de preços dos alimentos foram visitadostrês supermercados em cada cidade e três bancas (no caso defeiras que tinham várias ban-cas vendendo os mesmosprodutos). Para os serviçosde entrega (quando haviamais de um na cidade) tam-bém se trabalhou com amédia de preço.

CAPA

Acomunidade acadêmica não entrou em consen-so sobre qual alimento é mais nutritivo – o con-vencional ou o orgânico –, já que o conceito de

“mais nutritivo” é relativo. Elaine de Azevedo, nutri-cionista especializada em alimentos orgânicos e pós-doutoranda na Faculdade de Saúde Pública da Uni-versidade de São Paulo (USP), explica que “valornutricional” pode ser interpretado de duas maneiras.A primeira diz respeito aos macronutrientes – subs-tâncias capazes de gerar energia (carboidratos, pro-teínas e lipídios) – e a segunda, aos micronutrientes(vitaminas, minerais e fitoquímicos).

Sob a ótica dos macronutrientes, praticamentenão há diferença entre alimentos orgânicos e con-vencionais. Explica-se: o grande diferencial da agri-cultura orgânica é o manejo da terra. No entanto,como a síntese de carboidratos e lipídios quase nãoé influenciada pela qualidade do solo, os teoresdessas substâncias tendem a ser os mesmos nosdois tipos de alimentos.

A exceção seria a proteína, cujo teor, acredite,tende a ser maior em alimentos não orgânicos. Aexplicação é: a agricultura convencional utiliza fer-tilizantes que contêm nitrogênio, que é a base dasproteínas. “Mas são alimentos desequilibrados ecom mais nitratos livres, que no organismo setransformam em nitrito, substância cancerígena”,pondera Elaine.

No campo dos micronutrientes, os orgânicos sesobressaem. A agência britânica de alimentos FoodStandards Agency (FSA) publicou no ano passadouma pesquisa que aponta que, em alguns alimen-tos pesquisados, os orgânicos têm 12,7% a mais deproteína; 53,6% a mais de betacaroteno; 8,3% decobre; 7,1% de magnésio; 6% de fósforo; 2,5% depotássio; 8,7% de sódio; 10,5% de enxofre; e11,3% de zinco.

Quanto aos fitoquímicos, os teores também sãomaiores: na média, 13,2% a mais de compostosfenólicos (antioxidantes que combatem o enve-lhecimento de células) e 38,4% de flavonoides(que têm ação anticancerígena, entre outras). Osnúmeros são da Agência Francesa de SegurançaSanitária de Alimentos. A explicação é simples:como na cultura orgânica não se usam agrotóxicos,o sistema natural de defesa das plantas é ativado,gerando esse tipo de substância.

Em relação aos alimentos de origem animal, Elai-ne afirma que a qualidade da gordura dos orgâni-cos é, em geral, superior à dos convencionais.

Questão de saúde

Saiba maisPara saber onde comprar orgânicos em sua cidade, acesse os

portais <www.prefiraorganicos.com.br>, do Ministério da Agricul-tura, Pecuária e Abastecimento, e <planetaorganico.com.br>

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TOS

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Um livro paramudar o mundo

Revista do Idec | Abri l 2010 21

Maria Cecília Castro Gasparian*

Ler o livro Honrar a criança: co-mo transformar este mundo foium prazer para mim, pois há

muitos anos trabalho em prol deuma sociedade mais justa. Tambémfiquei feliz em saber que existempessoas (e muitas!) preocupadascom as gerações vindouras e coma “saúde” do planeta.

Baseada na proposta de um no-vo modelo de educação e de rela-cionamento social, a obra pretendeorganizar a sociedade em torno dasnecessidades básicas do ser huma-no, ou seja, amor, respeito, cuida-do e aceitação, colocando a criançasempre em primeiro lugar. Em sín-tese, fala de amor ao próximo,igualdade, tolerância, compaixão esustentabilidade, e nos incita a re-ver nossos valores e nossas atitudesfrente à perpetuação da espécie hu-mana na Terra.

É muito triste para mim, que mededico há mais de 40 anos à for-mação de professores, saber quesomos a única espécie que nãocuida de sua prole adequadamentee que precisamos, em pleno século21, alertar pais e educadores de quenossas crianças e jovens necessitamser cuidados.

Os organizadores Raffi Cavou-kian e Sharna Olfman foram cau-telosos na hora de selecionar os te-mas, entre os quais estão: cresci-mento emocional, vulnerabilidadenos primeiros anos de vida, papelda família, espiritualidade, estímu-lo ao consumo infantil, sustenta-

bilidade, cenários futuros e mui-tas outras questões fundamentais –todas tratadas com profundidade.Os autores dos artigos são pen-sadores do nosso tempo com re-nome internacional e visões inova-doras nas áreas de psicologia, edu-cação, economia, administraçãoe religião.

O livro é dividido em duas partese cinco seções que tratam da forma-ção moral e social da criança. A pri-meira parte – Necessidades univer-sais: as chaves do jardim – enfoca acriança pessoal, a cultural e a plane-tária. A segunda parte – Resgatandonosso futuro – aborda as mudançasque ocorreram no mundo.

Todos os artigos estão estreitamen-te ligados à corrente filosófica hono-ring the child (“honrar a criança”).Fundada por Raffi Cavoukian, ela vêas crianças como pessoas criativa-mente inteligentes, respeita sua in-dividualidade, reconhece-as comomembros da comunidade e lhes ofe-rece a formação de que precisam pa-ra florescer.

Espero que todos possam usu-fruir desta leitura e sentir, comoeu, a alegria de saber que ainda po-demos salvar o planeta e as gera-ções futuras.

DIV

ULG

AÇÃO

*Psicopedagoga, mestre e doutoraem Educação pela PontifíciaUniversidade Católica de São Paulo(PUC/SP) e terapeuta de família.Foi presidente nacional da AssociaçãoBrasileira de Psicopedagogia (ABPp)de 2001 a 2003

Título: Honrar a criança: como transformar este mundoOrganizadores: Raffi Cavoukian e Sharna OlfmanTradução: Alyne AzumaEditado por: Instituto AlanaAno: 2009Páginas: 336Preço: R$ 32

CULTURA CONSUMERISTA

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