Quer um horizonte?
-
Upload
anacecilia-bastos -
Category
Documents
-
view
223 -
download
2
description
Transcript of Quer um horizonte?
2
3
Copyright © 2012 by Grupo de Pesquisa Contextos e Trajetórias
de Desenvolvimento
EDITORES: Julianin Araujo Santos e José Eduardo Ferreira CAPA: Mário Vitor de Sousa Bittencourt Bastos CONTRACAPA: Álvaro Machado PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: Julianin Araujo Santos Orientandas, orientandos, colegas, amigos e familiares Quer um horizonte? 2012 (Produção independente) Salvador 2012 1ª edição Impresso Fox Copiadora Tel.: 3015-0088
4
SUMÁRIO
Prefácio
Isabel Lima
Ana Cecília
José Newton
Orientandas(os)
Anamélia Lins e Silva Franco
Ana Karina Cangussú
Ana Karina Santos
Bartira Improta
Camila Lisboa
Delma Barros
José Eduardo Ferreira Santos
Feizi Milani
Julianin Araujo Santos
Letícia Marques
Lia Lordelo
5
Lílian Perdigão - Uma orientadora para a vida toda
Luiz Fernando Calaça - CECÍLIA
Marianna Medrado
Marilena Ristum
Mirela Iriart - Do traço, da palavra e da escuta
Miriã Alves Ramos Alcântara
Renata Moreira
Roberta Takei
Sandra Meneses
Sara Chaves
Sílvia e Mílton
Vívian Volkmer
Viviane Mutti
Colegas, amigos e familiares
Ana Maria Almeida
Isabel Lima
Jaan Valsiner
Marina Massimi
6
Marcia Myriam Gomes - Com Verso Azul
Angela Branco
Antônio Marcos Chaves
Denise Coutinho
Lívia Simão
Naomar de Almeida Filho
Marcelo Castellanos
Miguel Mafould
Maria Cláudia Santos Lopes de Oliveira
Kenneth R. Cabell
Elaine Pedreira Rabinovith
Ana Clara de Sousa Bittencourt Bastos
Antônio Virgílio Bittencourt Bastos
Mário Vítor de Sousa Bittencourt Bastos
Música Maternos
José Eduardo Ferreira Santos
Aposentadoria?
José Euclimar Xavier de Menezes
7
Pre
fáci
o
8
Este livro emoldura uma homenagem dos amigos
estudantes, dos colegas amigos e de todos que conhecem a
Professora Doutora Ana Cecília de Sousa Bittencourt Bastos. Um
livro que reúne espelhos. Em cada um deles está refletida, com
alegria e afeto, a nossa própria homenageada. Foi muito fácil
buscar as suas páginas: elas foram escritas por Ana Cecília nas
histórias das pessoas que assinam seus depoimentos.
Trata-se aqui de um texto ampliado no contexto do
trabalho da jovem Psicóloga que lecionou de 1980 a 2010 na
UFBA. Tem-se um texto que assimila, de forma especular, a
imagem de alguém que realizou e realiza diferenciadamente o
seu trabalho.
A diferença deste labor docente foi se aprimorando ao
longo dos anos. A olaria, entre Itapagipe e o Crato, ali
permaneceu conferindo o selo de qualidade. Com esta origem de
mestres, os critérios da autenticidade, da solidariedade e da
generosidade foram tingindo, ano após ano, a matéria cromática
que Ana ajudou a imprimir nos depoimentos dos seus alunos.
Sabe Nossa Senhora da Penha as muitas penhas e
penhascos que ela, a sua afilhada, atravessou. Tudo em ousadia,
9
em aprender com, em parceria com, em abraço com. Ana
aprendeu, seja pela família grande, seja pelo traço Cearense, a
andar em penca, para alegria nossa. Andar só dói e custa.
Acompanhada, ela puxa os demais, abre a roda, estica a ciranda,
atravessa o mapa do Nordeste, passa pelo Brasil inteiro, avança o
continente, faz ponte com a Estrela Dalva e fala, em Inglês e em
Francês, com outras constelações.
Um livro para uma professora que se aposentou. Esta foi
uma ideia inicial exclusivamente dos seus parceiros jovens, dos
estudantes que lhe conhecem e lhe acompanham. Mas a
docente está continuamente a trabalhar. Onde o aposento da
professora? Quem a vê não imagina o quanto o tear, humilde e
singelo, tece no labirinto do tempo.
Superando-se, cada dia mais, Ana vivencia no seu
trabalho de pesquisa, de docência, de comunidade acadêmica, a
experiência do horizonte: quer um pouquinho?
Ela pergunta e vai servindo as possiblidades de trabalho e
de alianças.
Serve horizonte a nossa amiga na sua mesa de escrever
artigos, livros e poemas.
10
No texto The Fire of Life, o Filósofo Richard Rorty
lamentou não ter lido mais poesia durante a vida:
I now wish that I had spent somewhat more of my life
with verse. This is not because I fear having missed out
on truths that are incapable of statement in prose. There
are no such truths; there is nothing about death that
Swinburne and Landor knew but Epicurus and Heidegger
failed to grasp. Rather, it is because I would have lived
more fully if I had been able to rattle off more old
chestnuts — just as I would have if I had made more
close friends. Cultures with richer vocabularies are more
fully human — farther removed from the beasts — than
those with poorer ones; individual men and women are
more fully human when their memories are amply
stocked with verses.
Ana Cecília vive a poesia na sua vida produtiva e deste sal
da palavra confere verso ao horizonte de cada jovem,
11
acendendo, na chama da docência, a sua permanência que
transcende o espaço da sala de aula, é aula em si.
Este livro emoldura poesia e amizades, pois assim nos
tornamos, com o reconhecimento da grandeza do exemplo de
Ana Cecília, mais plenamente humanos em nossas memórias
estocadas em versos-espelho.
Isabel Maria Sampaio Oliveira Lima
Notre Dame, Fevereiro, 2012
12
An
a C
ecíli
a
13
ANA CECÍLIA Eu e Ruth, seus felizes pais.
Outra vida sagrou-a no batismo.
No Educandário São João Bosco, de Crato, Ceará, cursou
até o penúltimo ano do segundo grau, que foi concluído no
Colégio Sacramentinas, em Salvador.
Abre-se então, bem definido, o desejo de prosseguir nos
estudos.
Nessa fase da vida, surge-lhe Antônio Virgílio, de igual
vocação acadêmica. Do venturoso matrimonio, nascem Mário
Vitor e Ana Clara, que em nada os têm decepcionado.
A família amplia-se. Vítor desposa Luciana. Para a alegria
de todos, eis que vem ao mundo Mariana, sadia e bela.
Na Universidade Federal da Bahia, concluíra o mestrado
em Psicologia. Na Universidade de Brasília, o casal inaugura o
Doutorado em Psicologia, então aberto, com apenas duas vagas.
De fato, a Universidade embasou-os e revigorou-se para
novos embates e perspectivas.
14
A mão de Deus desceu, amorosa, sobre Ana Cecília que,
no movimento Comunhão e Libertação, sempre procura mais ser
para melhor servir.
Aposentada como professora da UFBa, assumiu,
recentemente, o magistério no Doutorado em Família da
Universidade Católica de Salvador.
A equilibrada vivacidade espiritual de Ana Cecília agrega
amigos em diferentes áreas. Um Outro, no mistério da vida,
indica-lhe e assegura-lhe o sentido de um verdadeiro apostolado.
Para os irmãos e respectivas famílias, jamais foi omissa.
Eu e Ruth, seus pais, de joelho agradecemos a Deus,
porque geramos Ana Cecília.
E pela inocência e beleza de Mariana, nossas orações
culminam em aleluia.
Salvador, fevereiro de 2012
José Newton
15
Ori
enta
nd
as(o
s)
16
SONETO ANTIGO
Responder a perguntas não respondo. Perguntas impossíveis não pergunto.
Só do que sei de mim aos outros conto: de mim, atravessada pelo mundo.
Toda a minha experiência, o meu estudo, sou eu mesma que, em solidão paciente, recolho do que em mim observo e escuto muda lição, que ninguém mais entende.
O que sou vale mais do que o meu canto.
Apenas em linguagem vou dizendo caminhos invisíveis por onde ando.
Tudo é secreto e de remoto exemplo.
Todos ouvimos, longe, o apelo do Anjo. E todos somos pura flor de vento.
Há pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre.
Cecília Meireles
Querida Aninha,
Há tempos, você me deu um Cecília Meireles de aniversário. Eu
como uma adolescente li avidamente e agora cada dia faz mais
sentido.
Estou muito feliz com este momento, 2012 começa forte. Vou
escrever sobre a nossa história. Nós somos as principais sabedoras
17
mas... fico emocionada quando lembro e para quem não é poeta
lembranças são uma via de emocionar pessoas.
Então... nos anos oitenta eu sabia que você e Virgílio tinham
sido alunos de Jacy Baixota, minha mãe, em psicogenética, mas ao
entrar para o curso de psicologia, nos encontramos algumas vezes no
saudoso PEES1 e depois tive a chance de participar da reunião de
Departamento em que soubemos da aprovação de vocês no doutorado
da UNB e assim vocês foram... Não tive a oportunidade de ser aluna de
vocês, o que sinto falta.
Depois, eu decidi ir para Brasília fazer mestrado, e você estava
lá no dia da minha entrevista de seleção, seu comentário sobre a cor
da minha roupa, minhas preferências por lilás, me faz lembrar da
roupa, uma calça roxa com uma blusa manteiga com flores como
hortências.
Entrando para o mestrado em Psicologia do Desenvolvimento
tive Célia Zannon como orientadora que também era sua orientadora
no Doutorado. Estive presente na sua defesa de tese e com aquelas
perguntas, aquela “argüição”, aprendi que “são sete os modos de
partilhar” e posso dizer que por serem sete, as sete vidas dos gatos, os
1 Programa de Estudos Epidemiológicos e Sociais coordenado pelos
professores Naomar de Almeida Filho e Vilma Santana no Departamento de Medicina Preventiva.
18
setes dons do Espírito Santo e alguns outros sete, sabemos, mais
ainda, temos fé, que em sete sempre cabe mais um.
Temos na UNB vários amigos em comum, entre eles nossa
saudosa Jô, com quem Aninha cursou os créditos do doutorado e por
quem fui adotada como “filha mulher”.
Voltei para Salvador mestre e Ana preocupada e cuidadosa comigo me
propôs e elaboramos um projeto de pesquisa: “Saúde: dever do
estado, assunto de Família”. Este não foi aprovado mas... foi um início.
Eram tempos diferentes, Naomar e Andrea Caprara propuseram que
me candidatasse ao doutorado no Instituto de Saúde Coletiva e quem
irá me orientar: “Ana”, disse Naomar. Parecia fácil, óbvio, hoje vejo
como foi um ato generoso. Os temas, os autores, a pesquisa, tudo era
outro, diferente dos interesses de Aninha.
Cumprimos a tarefa, aí constatei que tínhamos outros comuns:
meu Pai foi aluno do Professor (Prof. José Newton), pai de Ana. Meu
pai veio de Feira de Santana para estudar no Colégio Antônio Vieira. O
Professor foi seu professor de Português. Meu pai conta que o
Professor e D. Rute moravam na Cidade Baixa, “eles tinham muitos
filhos”, meu pai com alguns colegas freqüentavam a casa do Professor
aos domingos à tarde quando iam corrigir um Jornalzinho que
escreviam.
19
Depois... eu ensinando na Ruy Barbosa tive oportunidade de
ser Professora de Ana Clara. Não acho que ela guarda grandes
recordações, mas aconteceu mais uma ponte, um laço.
Ao terminar o doutorado Ana recomendou meu nome para
integrar um Programa de Pós-graduação que estava se formando na
UCSal, o Programa em Família na Sociedade Contemporânea. Fiquei na
UCSAL sete anos... Ao sair Aninha entrou para UCSAL e ocupou a
“minha mesa”. Levou para lá mais gatos, porque eu e nossa amiga Bel
já partilhávamos alguns. Se for possível fazer entender foi um
contentamento, uma honra, saber que Aninha usaria o computador, a
cadeira, o lugar.
Somos amigas, sabemos quem somos, contamos uma com a
outra, para o trabalho e para viver a vida, temos muitos temas,
partilhamos simplicidades. Quando Aninha me falou que ia se
aposentar, desejei que ela fizesse pela sua saúde, agora quando ela diz
que nunca trabalhou tanto como depois de aposentada, nós ouvimos
rindo, uma verdade inquestionável, mas tudo é motivo de conquista
para quem está por perto, para com quem partilha.
Aninha, meu muito obrigada. Este ano de 2012 será o
décimo aniversário da minha Defesa de Tese. Muito obrigada
pela sua Liberdade, pela sua humanidade. Você sabe que tenho
um desejo de fazer doutorado novamente, este desejo nasce da
20
saudade boa do que vivemos, e dessa vez estudarei as
Maternagens com identidade e interesse comuns.
Seremos sempre Aninhas uma para outra.
Salvador, 22/02/2012
Anamélia Lins e Silva Franco
21
“Se te contentas com os frutos ainda verdes, toma-os, leva-os, quantos quiseres.
Se o que desejas, no entanto, são os mais saborosos, maduros, bonitos e suculentos,
deverás ter paciência. Senta-te sem ansiedades.
Acalma-te, ama, perdoa, renuncia, medita e guarda silêncio. Aguarda.
Os frutos vão amadurecer." Hermógenes
Ana, querida, sua tranqüilidade e amorosidade tem sido
inspiração para todos nós. Obrigada por cada gesto de incentivo
e por estar ao meu lado neste processo de amadurecimento.
Você e Bel se transformaram em dois anjos na minha vida. Como
acredito que nada é por acaso, sei que muitos frutos ainda virão.
Reconheço em você a verdadeira alma de um mestre, que
pacientemente nos ensina a seguir nosso caminho.
Obrigada!
Beijos Ana Karina Cangussú
Um misto de doçura, firmeza e leveza em meio ao
ambiente árduo e competitivo da ciência.
Essas características da professora Ana pude perceber
desde meu primeiro contato com ela durante a entrevista para a
seleção do mestrado, já nas aulas da sua disciplina foi fácil
22
entender como conseguir esta proeza, sua paixão pelo que faz é
o segredo do seu sucesso.
Não esqueço o dia em que recebi meu projeto de
pesquisa de mestrado com suas observações, também tão doces
e incentivadoras.
Só quem é aluno sabe o quanto uma palavra de incentivo
faz diferença. Com certeza, Ana fez e faz diferença para muitos
alunos que já conviveram e ainda convivem e trabalham com ela.
Lembro claramente de quando me deu parabéns pela
minha defesa de mestrado, não foi um parabéns qualquer, mas
sincero e cheio de amor.
Agora acolhida por ela nesta fase só confirmo e vivencio
tudo que já havia experienciado, só que de um lugar mais
privilegiado, vendo de perto como combinar de forma perfeita
doçura e sucesso.
Ana Karina Santos
23
O desafio de escrever para você começou desde o nome. Como
iniciar?
Ana? Me parecia muito frio... Orientadora? Distante até
demais... Tia? Muito intimo e talvez não fosse a ocasião... O que
fazer então se para mim você é tudo isso?
Optei por unir tudo em uma palavra que sintetiza bem o meu
sentimento por ti: Mãe.
Exemplo de dedicação, carinho e família. Você consegue viver
em harmonia com a dureza técnica da vida e a leveza poética do
amor. Que orgulho sinto de ter bebido dessas águas pacíficas e
translúcidas por tantos anos e é isso que torna meu carinho por
ti tão especial.
Mãe de minha Clara irmã, te sinto como parte da minha história
e no decorrer da minha trajetória você passou a ocupar um
espaço de destaque: admiração.
Te desejo todas as simples maravilhas do mundo junto às cores
mais belas, para que você possa pintar cotidianamente seu arco-
íris. Escutei essa canção hoje e ela me fez lembrar muito de ti, da
forma como a vejo... A magia e o encanto de brincar de viver e
encontrar a felicidade.
24
“Quem me chamou Quem vai querer voltar pro ninho E redescobrir seu lugar Pra retornar
E enfrentar o dia-a-dia Reaprender a sonhar Você verá que é mesmo assim, que a história não tem fim Continua sempre que você responde sim à sua imaginação A arte de sorrir cada vez que o mundo diz não
Você verá que a emoção começa agora Agora é brincar de viver E não esquecer, ninguém é o centro do universo Que assim é maior o prazer
Você verá que é mesmo assim, que a história não tem fim Continua sempre que você responde sim à sua imaginação A arte de sorrir cada vez que o mundo diz não
E eu desejo amar todos que eu cruzar pelo meu caminho Como eu sou feliz, eu quero ver feliz Quem andar comigo, vem”.
(Brincar de viver- Maria Bethânia)
Fica em paz e com muito carinho meu.
De sua orientanda, sobrinha,
Bartira
25
Difícil tarefa essa de deixar um relato para Ana Cecilia, ela
que é reconhecida pela sua competência profissional e querida
pelo seu jeito acolhedor para com todos. Ficamos juntas por um
ano, quando participei do grupo Maternos enquanto Apoio
Técnico. Foi tempo suficiente para descobrir a grandeza dessa
mulher, seu brilho expandindo-se a todos. Com ela, adquiri
perspectivas novas de conhecimento e aprendi a ser uma pessoa
mais sensível.
Gostaria muito que soubesse, Ana, o quanto sua
existência representa para as pessoas à sua volta. Você é um
grande exemplo, em diferentes perspectivas (mãe, pesquisadora,
amiga)... É impressionante como consegue desempenhar todas
essas funções de um modo competente e bonito!
Agradeço por toda a acolhida, a confiança e o zelo para
com o meu aprendizado e o de tantos outros que tiveram a sorte
de encontrá-la pelo caminho. Mais do que uma orientadora,
você assumiu muito bem o papel da grande matriarca do grupo!
Particularmente, são tantas as portas que você me abriu
que eu não seria capaz de listá-las rapidamente. Agradeço por
cada uma delas! Admiro muito você, com todas as suas facetas,
26
apenas aparentemente antagônicas: forte e sensível, intelectual
e poeta, rigorosa com evidências e repleta de fé.
Dentre muitas coisas, você me ensinou que é possível ser
cientista sem perder a doçura necessária de um ser humano que
simplesmente sente, sem medo de se resignar diante dos tantos
mistérios que rodeiam esse mundo. Receba aí um abraço cheio
do mais sincero carinho, na certeza de que qualquer homenagem
seria pequena para brindá-la com as boas coisas que você
merece. Você terá sempre o nosso mais puro carinho, junto a um
desejo sincero de que alcance inúmeras outras vitórias em sua
caminhada.
Abraço grande, Camila
27
Ana, eu hesitei em escrever esta mensagem por dois
motivos: o primeiro deles é que sou pouco afeita a
demonstrações públicas de afeto; o segundo é porque eu sabia
que ia me repetir dado que sempre deixo você saber, através da
nossa relação, o quanto a admiro.
Decidi, no entanto, abrir uma exceção por causa do
caráter perene desta homenagem. Quero então dizer para a
minha querida orientadora Ana Cecília que aprecio demais o
modo como ela suavemente nos guia pelas estradas da
construção de discursos com sentido suficiente para figurar no
panteão da empresa dita científica.
Ana, você tem a capacidade extraordinária de "endurecer
sem perder a ternura". Você nos orienta sem dor, como sempre
repito nas reuniões do grupo. Por tudo isto me sinto afortunada
na condição de sua orientanda e só tenho a agradecer por poder
desfrutar de bons momentos de vida no nosso grupo de estudos
e pesquisa. Ana, um abraço com muito carinho!
Delma Barros Filho
28
Professora Ana Cecília de Sousa Bastos, minha orientadora
Síntese da beleza da vida acadêmica e da poesia;
admiração de poeta pelos poetas, de Caetano e Chico, de Carlos
Machado a Bruno Tolentino, passando pela força de Carlos
Drummond de Andrade, sem deixar de dialogar com Adélia
Prado, passando por tantos poetas que fazem parte de nossa
constelação, Ana Cecília é a própria poesia que se transforma em
vida, academia, Psicologia e desenvolvimento humano em
contexto para quem teve o prazer de ter sido seu aluno ou
orientando.
Um rio que deságua em outros mares, mas sempre com a
coerência de ser rio e mar, com a abertura para enxergar a
novidade nos estudos e nas teorias.
Rio que nasce no Crato, de família amorosa, católica e de
pais professores de dignidade sem par, chega à Bahia, por
Itapagipe, depois passa por Salvador inteira, se aprofundando no
Vale das Pedrinhas, Novos Alagados e trazendo a poética do
desenvolvimento para as famílias, jovens, crianças, mães,
29
Programa de Saúde da Família, divulgando, através de
publicações no Brasil e no mundo, essa novidade.
Ter sido orientando da professora Ana Cecília foi uma
escola de aprendizado e de vida, pois orientação é encontro,
mistério e partilha de um tempo para que algo novo, sempre
ancorado na tradição, surja.
Ana Cecília é o encontro com professores do Brasil e do mundo
que engrandecem a Universidade: Ana Maria Almeida Carvalho,
Elaine Pedreira Rabinovich, Jaan Valsiner, Maria Clotilde Rossetti
– Ferreira, João Carlos Petrini, Marina Massimi, Miguel Mahfoud,
os queridos professores do Programa de Psicologia da UFBA, os
professores do ISC – UFBA, da UCSAL, do Mestrado e Doutorado
em Família Contemporânea e tantos pesquisadores que estão
em diálogo constante com ela, e, para nossa alegria, começam a
dialogar conosco.
Contribuir com a sociedade, dialogar com as melhores
universidades do mundo, orientar pessoas tão díspares e
comprometidas, formar gerações de professores, profissionais e
pesquisadores, analisar a pobreza, maternidade e a violência
quebrando os estereótipos, é um legado que a Bahia não poderia
30
deixar passar em brancas nuvens quando da sua merecida (mas
não querida por nós) aposentadoria da Universidade Federal da
Bahia.
“Nós precisamos ser educados para a beleza”, disse este
seu eterno orientando em uma entrevista.
O encontro com a professora Doutora Ana Cecília de Sousa
Bastos é responsável por essa minha educação à beleza e à
atividade de pesquisa que não cessa, pois “a vida é dinâmica”.
30 de novembro de 2011
José Eduardo Ferreira Santos
31
Que posso dizer a respeito de Ana Cecília? Muito pouco,
com certeza!
Posso apenas dizer que ela foi e é uma das maiores
bênçãos que Deus me concedeu. Porque encontrar um bom
orientador para o doutorado é difícil, mas encontrar uma
excelente orientadora para o doutorado e para a vida toda... é
milagre!
Não tenho a menor sombra de dúvida que, não fosse por
ela, eu não teria concretizado essa grande conquista. Ana “me
acolheu, escutou, valorizou, encorajou, norteou e apoiou em
todas as etapas deste empreendimento, oferecendo inúmeras
lições faladas, escritas e silenciosas do que é ser uma verdadeira
educadora e uma pessoa do mais elevado quilate”.
Uma das virtudes de Ana Cecilia é a capacidade de
encorajar todos com quem entra em contato. Conheço
pouquíssimas pessoas que tenham desenvolvido o
encorajamento ao grau que ela pratica cotidianamente. Elogiar,
inspirar e motivar são atitudes incorporadas ao seu modo de ser.
Por isso, quando ela não se comporta assim, em situações Extraído dos meus agradecimentos a Ana Cecília, em minha
tese.
32
extremas, é um choque para o interlocutor. Quero registrar um
exemplo, que foi uma extraordinária lição de vida para mim.
Na reta final para a entrega de minha tese, dediquei três
semanas a tempo integral para terminar a redação da mesma. A
cada encontro, Ana me dava tarefas e prioridades que
precisavam ser asseguradas para a conclusão do trabalho. Um
dia, enquanto eu me dedicava à escrita, empolguei-me com um
assunto que, embora relacionado ao meu objeto, não estava no
foco, nem poderia ser considerado prioritário. Passei um dia
inteiro escrevendo duas ou três páginas sobre isso, sentindo a
inspiração fluir e as ideias sendo registradas com clareza e
precisão. Quando fui me reunir com Ana, eu estava orgulhoso de
minha produção e fiz questão que ela lesse aquelas páginas,
imaginando que ela também se entusiasmaria. Para meu
espanto, ela não fez um único comentário sobre aquela
digressão. Nenhum elogio, tampouco qualquer crítica. Pude
apenas perceber em seu rosto a decepção de quem estava vendo
os dias e horas se esgotarem, enquanto eu me dava ao luxo de
perder o foco. Aquele silêncio de minha orientadora, de alguém
que em todas as oportunidades destacou os aspectos positivos
33
de minha pessoa, de meu trabalho, de minha pesquisa... doeu
profundamente. Doeu muito mais do que se ela houvesse me
esbofeteado ou xingado. Saí de lá sinceramente arrependido por
não haver atendido às suas orientações. Saí de lá consciente do
poder da autoridade fundamentada no amor. Saí de lá
determinado a fazer de minha tese algo “condigno de seus
esforços”*.
O que tenho a dizer sobre Ana Cecília é muito pouco
diante da pessoa que ela é, diante de tudo o que tem feito por
tantas e tantas pessoas, direta e indiretamente. Só sei que, para
mim, ela faz toda a diferença do mundo!!!
Salvador, 28 de dezembro de 2011.
Feizi Masrour Milani
34
Trabalhar com você Ana tem sido, para mim, um
aprendizado e a descoberta de que existem de fato pessoas que
exercem o papel de professora, de orientação e de facilitação da
produção do conhecimento. Nesse universo acadêmico eu não
esperava encontrar pessoa tão amorosa e dedica não apenas a
sua carreira, mas a formação dos estudantes.
Para mim você é um exemplo de pesquisadora e
profissional. Você é muito generosa, e como poucas pessoas
sabe reconhecer o trabalho de cada um e sabe possibilitar
crescimento. Além disso, é motivador para qualquer jovem,
como eu, que pensa em ser um dia pesquisadora, sua capacidade
de agregar tanta diversidade sem cercear o direito de autonomia
das pessoas.
Conviver com você todo esse tempo me faz acreditar que
na academia é possível construir conhecimento com afetividade.
Obrigada pelo seu apoio, saiba que este foi e tem sido
fundamental para meu desenvolvimento pessoal e profissional.
Com você estou aprendendo muito mais do que teoria, mas
lições de vida. Grata por fazer parte de minha trajetória de vida.
Beijos. Julianin Araujo Santos
35
Conheci Ana quando estudava psicologia em 1997, na
turma de metodologia de pesquisa em psicologia. Foi uma
experiência marcante, pois foi o meu primeiro contato com o
pensamento científico. Ainda imatura, não compreendia muito
bem o “funcionamento” da ciência, mas me sentia instigada nas
aulas a pensar criticamente a psicologia científica. Não por acaso,
nos encontramos em uma seleção para auxiliar de pesquisa no
ISC e pude ouvir que o trabalho desenvolvido naquela disciplina
garantiu a minha vaga no estágio. Acho que este foi o primeiro
passo que dei na minha carreira acadêmica e posso dizer,
orgulhosamente, impulsionada pela interação com minha
querida professora Ana Cecília.
A partir daí nunca mais me afastei da ciência e a presença
de Ana tornou-se cada vez mais constante. Fui da primeira turma
do mestrado do Programa de Pós-graduação em Psicologia da
UFBA em 2002 (saudades daquele tempo...) e pude ter o
privilégio de ter sido orientada por Ana nesse período. Foi um
momento de trabalho intenso e grandes desafios, mas também
com grandes recompensas. Pude me aproximar mais e ver a
delicadeza e a profundidade que existia naquela orientadora tão
36
afetiva e presente na vida dos orientandos. Percebi o quanto ela
partilhava com o orientando todas as alegrias e angústias de um
trabalho acadêmico; torcia para que os projetos dessem certo,
sofria quando a vida não tomava o rumo esperado, compreendia
quando a gente simplesmente “travava” diante da tela do
computador e grandiosamente, nos dava asas para voar.
Partilhei com Ana os momentos mais importantes da
minha carreira profissional (e da minha vida pessoal também).
Ana estava presente quando vivi a minha primeira experiência
como professora, organizei o meu primeiro plano de curso,
defendi a minha dissertação do mestrado, casei-me, inseri-me no
mercado de trabalho, e até mesmo à distância, ela acompanhou
o nascimento e o desenvolvimento de minha filha. Enfim... Ana
Cecília merece toda a minha gratidão e afeto pela sua presença
sempre amorosa em minha vida.
Um beijo e um abraço bem apertado da sua eterna
orientanda,
Letícia Marques
37
Minha Ana,
Não sei o quanto tenho a dizer quando me é algo
encomendado, mas um recado cheio de amor pra você pode
começar por aquela história na casa de minha mãe. Lembra da
enquete? Estávamos em família e tínhamos que pensar em quem
escolheríamos como mãe, caso não tivéssemos a nossa própria.
Não acompanhei a votação passo a passo, mas Ana Cecília foi
campeã de audiência. Isso não é lindo?
Eu não sei bem, Ana, mas acho que vai por aí a sensação
que tenho ao pensar em você. Agradeci a você em minha tese
assim: agradeço a Ana por me sentir sempre em seus
pensamentos. Sei que não é isso exatamente, mas só posso lhe
agradecer por todas as vezes em que você me acolhe e me
orienta, os momentos em que lembra de mim por qualquer
motivo – até para traduzir Valsiner (risos) – e agradecer,
sobretudo, pelo seu olhar cheio de poesia e humanidade sobre
tudo e todos que merecem sua humanidade e poesia. É um olhar
fora do comum, com uma força criadora incrível; quase
maternal. Acho que é isso. E talvez por isso você tenha sido a
mais votada.
38
Felicidades de transbordar pra você. Conte sempre
comigo, tá?
Um beijo enorme,
Lia
39
Uma orientadora para a vida toda
Ter uma pessoa humana, acolhedora e atenciosa como
orientadora é mesmo um presente que ganhei desde o primeiro
dia em que comecei a trabalhar com Ana. Ana nos abraça com
“toda a nossa vida”, pois é cuidadosa e compreensiva com cada
um de seus orientandos. Consegue com seu jeito sereno nos
educar, guiando-nos para caminhos que jamais percorreríamos
se não tivéssemos alguém como ela a nos orientar. Digo que nos
educa, porque é também firme nos momentos necessários,
ocasiões nas quais nos provoca a assumirmos responsabilidades,
através das quais crescemos e amadurecemos.
Aprendemos ainda que “água mole em pedra dura, tanto
bate até que fura”, haja vista nossos progressos como
orientandos. Lapidados pelos “toques” de Ana, que
pacientemente insiste, até que estejamos prontos a dar mais um
passo.
Às vezes nos referimos a ela como nossa mãe, com a qual
aprendemos a ter “modos”, modos de olhar, modos de
compartilhar, modos de amar. Seu exemplo de vida nos comove,
e nos move.
40
Ainda mais, descobrimos o mundo da poesia, que nos
desperta para a beleza de cada gesto e palavra.
E finalmente, incrementamos nossos currículos quando
desfrutamos de bons momentos com Ana e nossos colegas de
grupo, nos quais recuperamos a alegria de viver, compartilhando
nossas histórias, vivenciando pequenos prazeres, em qualquer
lugar do mundo. É claro, se possível, e de preferência, passando
uma tarde em Itacimirim.
Afinal, aprendemos com Ana, que precisamos sempre
recuperar as forças e recarregar as baterias, pois ainda teremos
muitos desafios pela frente, já que nossas possibilidades são
infinitas.
Para nós, a premissa de que “orientador é para a vida
toda” é verdadeira, sendo assim, seguiremos firmes, carregando
sempre Ana Cecília em nossos corações. Quem tem um “recurso
simbólico” tão rico e precioso, segue feliz o seu caminho, mesmo
que este seja difícil.
Por isso, Ana Cecília, minha querida orientadora e amiga,
obrigada por ser uma presença tão importante em minha vida.
Beijos, Lílian Perdigão
41
CECÍLIA
Abro caminho, na memória...
O tempo vivido do agora
Que não se perde no tempo do acaso.
É recordação sensível e perene
Do nascer e viver eternamente
Cada palavra como poesia.
Palavras – perenes memórias
Do nascer e viver do parto
Do nascer e viver homem mulher
Do nascer e viver poeta sonhando
Do nascer e viver mil sentidos
Palavras não são só palavras...
Palavras são aberturas que dão passagem
Para caminhos ocultos e visíveis
No dia-a-dia de nossos dias
de cotidianidade mesma e sempre única
42
Na extraordinária emergência de Vida.
Nesse tempo que foi e vem e vai e fica
Vivemos cada dia uma nova gestação
De idéias, projetos, desejos..., felicidade!
Do encontro de um sorriso e um olhar
De mãe, amiga, companheira, poeta
Muitas faces de ti, Ana.
Um beijo carinho
Do seu pequeno poeta
Andarilho
Luiz Fernando Calaça
43
Ana, querida,
Que honra em poder dividir momentos presentes e futuros com
você.
Estou muito feliz com essa nova etapa que se inicia, em poder
ser sua orientanda.
Um beijo enorme,
Marianna Medrado
Fevereiro/2012
44
Algumas palavras para Ana Cecília, com muito carinho.
Quando penso em minha trajetória de formação
acadêmica, a minha primeira e feliz constatação é a de que tive
três ótimos orientadores. Quando me perguntei, porém, quais
são os meus critérios para tal julgamento, minha resposta foi,
inicialmente, pouco concisa, e eu diria até, um pouco confusa, já
que estamos falando de pessoas tão diferentes como Isaias
Pessotti, Carolina Bori e Ana Cecília Bastos. Entretanto, essa
confusão só durou os exatos minutos em que me restringi a
analisar detalhes ou estilos de orientação. Ao pensar no que
realmente foi importante para mim enquanto pessoa e para a
minha formação acadêmica, a tarefa tornou-se mais fácil.
Embora os três orientadores tivessem estilos diversos (Isaias com
um “ar professoral”, Carolina com um “ar enigmático” e Ana com
um “ar acolhedor”), percebi que há dois valores comuns
estampados nessas três pessoas e que, sem nenhum esforço,
saltam aos olhos: o valor da alteridade e o valor da autonomia.
Aliada à capacidade de trabalho e à competência, a
preocupação com a emancipação do outro é uma característica
45
marcante de Ana Cecília. E isso implica, necessariamente, em
outras características: a generosidade, o compartilhamento e a
solidariedade. Ana está sempre indo para frente, evoluindo, mas
ela não vai sozinha. Carrega sempre um grupo de pessoas junto
com ela, em um movimento contínuo de promoção do outro.
E faz tudo com o jeito mais doce do mundo, que sempre
nos encanta a todos. Sem reprimendas, sem coerções, sem
cobranças exageradas... E isto funciona? Basta olhar para o
grupo que trabalha com ela para perceber o envolvimento, a
seriedade e a produtividade nas suas realizações acadêmicas.
Mas, essa docilidade não implica em passividade. Na sua
trajetória acadêmica/intelectual, Ana é desbravadora, não se
conforma facilmente aos padrões tradicionais; está sempre
procurando ultrapassá-los de alguma forma, sempre
empurrando os limites um pouco à frente.
Obrigada, Ana, por ser assim e por me incluir no seu rol
de compartilhamento.
Marilena
46
Do traço, da palavra e da escuta:
Do traço liso, reto,
tracejado, quase oblíquo
Da palavra, margem
cujo núcleo escapa
abrindo múltiplas significações
Da escuta, acolhida
receptáculo do silêncio e da palavra
Com ela, ou através dela aprendi que escrever é tecer
palavras, parir idéias e também se constituir como sujeito.
Sujeito da fala, da escrita, que pode comunicar ao outro, criando
campos de sentidos compartilhados.
Compartilhamos mais do que conhecimento, experiências,
memórias, afetos. Como numa maternagem, Ana me permitiu
nascer como pesquisadora, cujo ofício de escrever, é o de criar
mundos visíveis, dar voz ao outro. Não só a minha voz pôde ser
dita, mas a voz dos jovens a quem entrevistei, em cujo encontro
descobri que produzir dados é resignificar experiências de vida.
Ética e subjetivamente, as orientações de Ana,
permitiram-me traçar alguns caminhos, chaves de interpretação,
decifrando com muita sensibilidade, as possibilidades da escrita
47
e da escritura do outro, com traçados métricos, mas também
estéticos.
A Ana Cecília agradeço a firmeza frágil da
mulher/mãe/orientadora, que nos conduz no mundo das
palavras, lançando luz sobre o que pode ser dito e silenciado.
Mirela Figueiredo Iriart
48
Ana Cecília,
Em nossa longa história (afinal nos conhecemos em 1993)
aprendi com minha querida mestre (e agora, 'muito chiq', minha
colega) muito sobre o melhor dos melhores temas da psicologia.
Seria muito se fosse só isso. Muito além de mestre, sua presença
bela, bem humorada e ao mesmo tempo crítica ampliou muitos
horizontes e me fez sonhar e realizar tantas coisas boas.
Serei eternamente grata a você com quem ainda desejo
compartilhar muitos sonhos.
Miriã
49
Ana Cecília, minha mãe acadêmica.
Mãe é exatamente a palavra;
Pois que amor, paciência e coragem;
São pedrinhas valiosas abundantes em você!
Minha querida orientadora;
Orienta-me muito mais que o mestrado, mas na vida, sim!
Você é sabedoria de uma delicadeza incomensurável.
Uma poetisa; uma grande mulher; uma importante
pesquisadora.
Minha doce e querida Ana Cecília;
Serei eternamente grata por tudo o que aqui não necessito falar!
Obrigada por aceitar-me como sou!
O universo dança em alegria por cada conquista sua, e são
muitas!
E nós, seus orientandos, somos também obra sua, sempre
seremos.
Cada canto dos nossos caminhos tem sua marca.
50
É com muita honra e felicidade em meu coração que te falo o
quanto és amada!
Não há palavras. São lições transmitidas de coração para
coração.
O Silêncio é suficiente, é a conexão com a fonte.
Tenho agora o sal das lágrimas e o doce da gratidão.
Continue Ana, pois sua jornada nessa vida já é completa luz!
Renata Moreira da Silva - (04 de Janeiro de 2012)
51
Ana,
Fazer esse depoimento sobre você é algo que me
emociona muito, pois traz a tona alguns anos de história da
minha própria vida. Fui tentar me recordar e ao que consta você
faz parte dela ha pelo menos 10 anos. E aí, ao pensar na minha
própria trajetória, lembrar do que eu era com 20 anos, (Eu-
estudante de psicologia, Eu-menina) e o que me tornei agora aos
quase 30 (Eu-mãe, Eu-quase doutora, Eu-professora, Eu-mulher),
percebo que de fato você foi essencial em diversos momentos.
Você costuma dizer que eu vivo as coisas de forma muito
acelerada, e de fato é uma verdade. Mas saiba que se eu
consegui chegar aonde cheguei, você é uma das grandes
responsáveis por isso, e não é da boca para fora que eu lhe
chamo de minha “mãe acadêmica”.
Mãe é aquela que acolhe, apóia, ensina, tem humildade
para aprender, passa o melhor de si, se apega, mas sabe deixar
voar, comemora as vitórias, consola nas derrotas, ama na
medida certa. Obrigada por ser essa grande mãe, mãe dos
maternos, mãe acadêmica, mãe de vida!
52
Com amor de uma de suas filhas acadêmicas mais
antigas.
Roberta Takei
53
Sandra e Ana
Tão pouco ainda de convivência.
Difícil dizer de ti, sem a influência do dizer do outro e
do seu próprio.
Há tantas falas, escritos, poesias, livros...
Sinto essa presença, mas não quero me contagiar.
Deixo aqui o que há de singular do encontro;
pouco, mas intenso.
O que de você esta em mim.
De partida, ousadia!
Lanço-me nessa forma poética, já a dizer de nós.
Retorna um desejo inspirado, em parte, por parte de ti:
o casulo temporário.
Nos encontros sinto sua sensibilidade, além da poesia.
Me encanto da doçura e força em uma mesma mulher.
Reencontro com os opostos que coabita o mesmo ser.
Bem ali, sala de aula, espaço muito além do visível.
Refaço-me, compartilho em silencio o seu encanto pela vida.
54
Um sentimento me retira do encanto: a distancia.
Pensei ser o tempo, tosco engano.
O tempo nada, tudo é o espaço que mantemos.
Imagino quando encurtarmos a distancia.
Sandra Meneses
55
Descobri em Ana Cecília não apenas uma orientadora
flexível, que dá liberdade ao estudante e o ensina através dessa
liberdade concedida. Descobri em Ana Cecília não apenas uma
pessoa paciente e generosa, mas sobretudo uma amiga, uma
pessoa para quem a diferença geracional, o status de professora
e quaisquer outros atributos que a vida e a experiência lhe
trouxeram, não a colocam em patamar de superioridade em
relação a nós, estudantes. O respeito a cada uma de nossas
singularidades, algumas até incômodas, é o que mais admiro em
Ana. Posso dizer que nessa vida eu não a conheci, eu a encontrei.
Sara Santos Chaves
56
Querida Ana,
Tivemos com você uma rica experiência: aprendemos a ser bons
pesquisadores, compartilhamos o afeto mais sincero da nossa
amizade e ainda ganhamos uma família, cujo fruto mais lindo é
Davi.
Te amamos muito!
Silvinha e Mílton
57
Querida Ana...
Trilhar a trajetória acadêmica – repleta de desafios e
obstáculos – tendo você como guia, é um privilégio, um presente
que a vida me proporcionou. Cada dia ao seu lado tem me
ensinado sobre a pessoa que um dia gostaria de ser: atenciosa e
afetuosa com as pessoas, muito competente profissionalmente,
sensível à realidade humana e comprometida com a realização
de mudanças – tudo isso, sem perder a simplicidade. Apesar de
saber das tantas qualidades que possui, às vezes ainda percebo-
me surpresa com o modo especial pelo qual lida com as pessoas
que te cercam, em particular, nós, seus orientandos.
A sua sensibilidade de, em muitos momentos, conseguir
enxergar a pessoa por trás do acadêmico, do estudante, torna-
te, ao meu ver, uma pessoa e orientadora diferenciada. Além, é
claro, de toda a reflexão teórica, repleta de criatividade e poesia,
que nos propicia a cada encontro contigo. Deste modo, só tenho
que te agradecer por tudo e desejar que encontre ao longo do
caminho da vida muitas alegrias e realizações.
Beijo grande, Vívian
58
Conviver com Ana Cecília foi um presente que a vida
acadêmica me proporcionou, mas que trouxe repercussões
significativas para os diversos posicionamentos que assumo vida
afora...
Conheci primeiro seus Poemas, ao acaso, o que me
despertou o interesse em conhecê-la pessoalmente. Tive o
privilégio de ser sua aluna e orientanda no Mestrado em
Psicologia da UFBa, como também sua bolsista de Apoio Técnico
da CAPEs.
A rica experiência de participar do grupo de pesquisa sob
sua coordenação também foi muito marcante, tanto no sentido
intelectual quanto afetivo. E quem não quer se envolver com as
atividades do CONTRADES? Eu, particularmente, estive tão
envolvida que tive de me afastar para vivenciar a maternidade
em todo o seu pulsar... Afinal, uma vez Maternos, sempre
materno!
Sua generosidade é contagiante, a habilidade em
equilibrar o desenvolvimento intelectual com o moral, algo raro
nesse mundo, vasto mundo... Seus ensinamentos são tão
59
substanciais que continuam a nos alimentar através do tempo e
dos diferentes espaços que adentramos.
Sou grata pelo privilégio de conhecê-la.
Saudades,
Viviane Mutti
60
Co
lega
s, a
mig
os
e fa
mili
ares
61
Ana Cecília (para mim, sempre Aninha)
Acho que talvez nem todas as pessoas consigam atravessar a
vida conservando uma espécie de essência, uma inteireza que de
alguma forma as define, faz com que a gente as reconheça, as
reencontre apesar do tempo e da distância.
A menina que conheci em 1977 numa sala de aula do Mestrado
em Educação da UFBA; que perdi de vista durante vários anos, e
que reencontrei e reencontro hoje, já avó, é sempre a mesma
menina: encantada com o conhecimento e a descoberta,
movida/ comovida pelo que pode aprender com as pessoas
simples para quem seus olhos se voltam, e pelo que pode
retribuir a elas. A menina que não levanta a voz nem quando se
descabela com os milhões de dados que acumulou, mas que
continua sempre buscando, porque é com/ por eles que
aprende e compreende. Aninha poetisa até quando escreve um
texto científico; mística na relação com o mundo; sábia na
relação com as pessoas, que cativa com sua suavidade e sua
capacidade de escutar; idealista, mas nunca dogmática, sempre
receptiva e compreensiva para um modo diferente de pensar,
para uma outra perspectiva.
62
É essa alma de criança, que todos temos, mas nem todos
conseguimos expressar com tanta sinceridade, que encontro
transparente em Aninha, alma e coração de menina na mulher
esposa, mãe, professora, pesquisadora, militante e – que
privilégio! – minha amiga.
Com carinho,
Ana
31 de dezembro 2011
63
Há muitas maternidades na minha comadre Ana
Eu a amo porque ela as recolhe em autentico e generoso gesto
Eu não seria o que sou sem a minha co-madre.
Esta é a sua condição: a de ser mana, sendo mãe e a de ser
maternal, sendo irmã.
Ana coleciona mapas de maternidade, costurando-lhes pontes
de afeto, assertiva e eficazmente.
Ela vira o avesso até daquilo que é cru, amargo ou lento dando-
lhe, afinal, uma outra forma de ser bom, este selo de
humanidade.
Os da minha geração e os das gerações seguintes, uma vez tendo
passado a chuva ou recebido a sombra na estação solar de Ana,
sabem muito bem, alfabetizados que estão, da professora filha
dos professores.
Na vida de minha comadre, tudo se metamorfoseia, até aquilo
que é chato ou triste.
No futuro, como no presente, nada resiste ou resistirá a esta
lição que nutre Ana em sua gestacional existência humana.
Possa o comadrio entre fé e poesia virar rio no tempo.
64
Possa, enquanto rio, desatar nos oceanos e ninar a terra inteira.
Amém.
Bel
65
Dear Ana,
Your poetic spirit
invigorates all
your young students
and creates
new reality
of young
creating
new
knowledge.
Jaan
27/02/2012
Jaan Valsiner
66
O sorriso de Ana Cecilia Bastos nos traz a luminosidade solar da
Bahia de todos os Santos. A dimensão poética é realmente parte
de sua pessoa e a faz olhar a realidade com o ponto de fuga a
que toda poesia verdadeira remete: sua infindável abertura ao
Mistério. Mesmo a realidade mais dura e mais sofrida, como são
os contextos da vida humana marcados pelas condições de
pobreza material a qual ela dedicou tantos trabalho de pesquisa,
é transfigurada por este olhar à espreita da revelação de uma
beleza escondida, mas sempre presente. Esta atenção ao valor
presente em cada experiência humana é o que dá energia de
atuação, abertura e impulso criativo às suas pesquisas.
A maternidade é tema caro a Ana Cecília e objeto de tantos
estudos por ela desenvolvidos: e este tema a meu ver nos
remete imediatamente à área mais ampla de atuação de Ana
Cecília: a Psicologia Cultural. Hanna Arendt afirma que a cultura
é a construção de uma morada onde o humano possa ser
cultivado, uma construção feita por atos humanos realizados
para além das meras atividades voltadas à sobrevivência da
espécie. Parece-me que a opção de Ana Cecília pela Psicologia
Cultural e sua maneira de atuá-la nos trabalhos científicos acerca
67
da experiência humana da maternidade, possa ser entendida à
luz desta afirmação. O que torna o humano tal e proporciona um
desenvolvimento saudável também do psiquismo humano é a
possibilidade da existência de um lugar onde o ser humano possa
ser acolhido e reconhecido: uma mãe, uma morada, uma cultura.
Obrigada Ana Cecília, por tudo o que você é e por este olhar que
conduz também o nosso na direção e no horizonte de sua
mirada!
Marina
68
Com Verso Azul
Foram infinitos. São infinitos os dias de convívio com ela.
A infinitude da qual números não dão conta. Só a poesia. Dá
conta do impossível de dizer, do imponderável. Dito mesmo por
ela: “De tudo fica a poesia”. Eram infinitos, insuportavelmente
infinitos aqueles dias. Eu aqui, ela em Brasília. Me vejo
hospedada na casa de familiares. Desesperadamente na casa que
não é a minha. Desesperadamente porque não escolhi estar
aqui. Desesperada-mente não escolho. Me encolho entre as
quatro paredes de um quarto e escrevo. E as palavras no
caderno são borrões encharcados de tão desesperadamente. Um
dia, a título de consolo, escrevo no meu caderno: “Ceciliana, o
azul do teu verso e basta”. Basta para conter o que transborda
sem borda. O insuportável transborda sem borda.
Por um instante basta para conter a torrente de lágrimas.
É o azul do seu verso e por um instante algo foge do sentido
convencional, foge das palavras ditas em tom piedoso, foge das
tentativas de apaziguar o que não é apaziguável. “Ceciliana, o
azul do teu verso e basta”. Basta para eu me permitir viver mais
69
um dia, apesar do exílio. Nesse meu tempo de dor aqui, sem que
eu saiba, em Brasília ela pega algum caderno e escreve:
“Viagem”
“Ela registrou seus sonhos no caderno que lhe dei de
presente.
Ela arrumou na mala pedaços de sua alma.
Suas veias abertas sangram em despedida.
Ela diz adeus para lugar nenhum e parte, sem quandos nem
ondes.
Fantasmas melancólicos dormem em sua cama solitária.
A lágrima sobre a mesa”.
“Ela” no poema, era eu. Sou eu. E é verdade factual que
Ana Cecília me presenteou com um caderno para registrar meus
sonhos. Naqueles tempos idos, tão longínquos, quando eu ainda
nada sabia de psicanálise e sonhava em profusão.
É da verdade poética eu ter arrumado na mala pedaços
de minha alma. Ninguém viaja de alma inteira para um destino
indesejado. E era preciso trancar na mala a alma em pedaços. Do
70
contrário ela não viria. Permaneceria lá, inteira, e desapontada
com este meu corpo de marionete.
É da maior verdade poética que eu tinha veias abertas
sangrando em despedida. Acho que é de Eduardo Galeano um
livro intitulado “As Veias Abertas da América Latina”. Fala de
devastação feita pelo imperialismo às nossas riquezas naturais.
Eu era a América Latina devastada, me despedindo da minha
riqueza usurpada que ficou para trás. Ana Cecília fala no seu
poema, de uma hemorragia que nada estanca. O adeus que dou
quando parto, é a lugar nenhum. Adeus a mim mesma que
parecia irresgatável. Sem que eu pudesse me devolver a mim
mesma. “Sem quandos nem ondes”. Eu não sabia por quanto
tempo, nem onde teria que ficar.
A cama que lá deixei, vazia, solitária, abrigava como leito,
a melancolia dos fantasmas. Abrigava a pergunta “o que o outro
quis de mim?”. Irrespondível, porque impossível despertar do
sono os fantasmas. A angústia, intolerável, qual sentinela insone
aqui, vela o sono fantasmagórico que se apossa impertinente da
minha cama, lá. Ao olhar da poeta não escapa, ainda que apenas
uma, a lágrima sobre a mesa.
71
O poema “Viagem”, transcrição quase possível da minha
dor quando me mudei de São Paulo para Salvador, está na
página 105 do livro “A Impossível Transcrição” de autoria de Ana
Cecília.
Foram infinitos, são infinitos os dias de convívio com ela.
A impressão é que a conheço desde sempre, desde que o mundo
é mundo. Difícil imaginar minha vida sem o azul do verso de Ana
Cecília. Se formos pela discutível verdade dos fatos, eu a conheci
em 1972. Fazemos agora 40 anos de amizade. Segundo ela, o
que a interessou em mim foi a minha calça marca TOPEKA, signo
de pobreza. Naquela época, o sonho de consumo de um
estudante recém-ingresso na UFBA era possuir uma calça de
marca LEE. Na sala de aula, éramos, as duas, únicas a estampar a
nossa condição sócio-econômica desprivilegiada, numa etiqueta
de calça. Isso, segundo ela conta, a aproximou de mim. Nela me
interessou a dramaticidade do seu rosto imóvel, qual a máscara
de teatro japonês. Sua voz quase inaudível, pedindo licença. O
seu rosto de músculos impassíveis, muito branco, podendo, a
qualquer momento, se perturbar assumindo o tom de uma rosa
escarlate. A sua boca pequena, a sua fala contida. O rosto de Ana
72
Cecília, como um texto de Clarice Lispector, encerra um drama
de modo silente, pudico, que somente se insinua sem
estardalhaço. Finalmente irrompe, violento, quando ela
enrubesce.
Havia também nela um certo ar de Macabea
(personagem principal do romance “A Hora da Estrela” de Clarice
Lispector), quando chamava cebola de “cibola” e se deixava
divagar por entre fantasias “poliânicas” que a faziam,
perigosamente, acreditar-se imune, totalmente dispersa e
desatenta à cruel realidade da maldade humana. Ana Cecília
pairava acima, inatingível, como se asas tivesse, de tudo o que
possa ser mesquinho, pequeno e perverso.
Então nos tornamos amigas. Ambas de calça TOPEKA,
ambas apaixonadas por Carlos Drummond de Andrade.
A minha amizade com Ana Cecília sempre foi o
privilegiado espaço da transgressão para mim. Se com os demais
outros eu me sentia convocada, nas décadas de 70 e 80, a ser a
behaviorista com ares de cientista que tudo sabe e a tudo pensa
poder controlar, ao lado de Ana Cecília eu era a alma super
sensível e delicada no acolhimento à poesia, o lado alternativo
73
que lia com encantamento “O Eu Dividido”, livro que
representava o discurso da anti-psiquiatria, e era também a
simpatizante do existencialismo, embora jamais tenha partilhado
com Ana sua paixão por Simone de Beauvoir.
Generosa e conciliadora, Ana conseguia enxergar a
escritora em Simone. Eu, nada conciliadora embora generosa,
não conseguia tolerar o tom de militância imprimido por Simone
à sua relação com Sartre, o que para mim tornava menor o seu
mérito como escritora. Eu e Ana embora tivéssemos opiniões
diferentes, não discordávamos. Ana Cecília não se dá ao trabalho
de discordar. Não me lembro de jamais tê-la visto participando
de uma discussão acalorada. Simplesmente ela pensa como
gosta e ao outro autoriza fazer o mesmo.
Como eu estava dizendo, a minha amizade com Ana
Cecília foi um espaço para o exercício da transgressão. Hoje, eu
sei, que graças a este espaço se abriram na minha trajetória
pessoal, atalhos cuja travessia resultou no meu desejo por
ocupar o lugar de psicanalista. Dentro daquela professora
universitária pretensiosa e arrogante que eu era, não se apagou
a centelha da Marcia de calça TOPEKA que Ana Cecília reconhecia.
74
Dentre as pessoas que se dispuseram a homenagear Ana
Cecília pela sua aposentadoria da UFBA, há uma, a mesma que
me convidou a escrever sobre Ana, indignada com o fato de os
doutores da UFBA não haverem manifestado nenhum apreço
pelos longos anos de serviço prestados por Ana. A indignação
desta pessoa tem o tom otimista de quem acredita poder tirar
leite de pedra. Não podendo tirar se surpreende. Arroubos de
juventude otimista.
Na minha leitura, o silêncio dos doutores acadêmicos é a
maior homenagem que eles poderiam prestar a Ana Cecília.
Como que dizer “você não pertence à nossa tribo”. E não
pertence mesmo. Quando eu me afastei da UFBA para estudar
na USP e tendo planos de voltar, eu indiquei Ana Cecília para
ocupar o meu lugar. Não por ser minha grande amiga, nem por
ter competência indiscutível. O ouvido de Ana Cecília não se
afina muito bem com a palavra “competência”. Indiquei, por ser
ela minha parceira de transgressão, tendo uma enorme
vantagem sobre mim: concilia-dora, ela convive com qualquer
tribo sem fazer rupturas. Ana Cecília tem o raríssimo dom de
ocupar com serenidade seu lugar, qualquer que seja a tribo, sem
75
se sentir convocada a reverenciar caciques. Ela consegue
permanecer fazendo seu trabalho com seriedade a despeito de
quaisquer senões. Eu não queria no meu lugar uma pessoa
apenas muitíssimo competente e séria. Eu, apaixonada que era
pelos meus alunos, queria deixar para eles a do verso azul, do
“Eu Dividido” da calça TOPEKA. A que como Carlos, veio pra ser
“gauche” na vida. E assim foi.
Ana Cecília prestou longos anos de serviço à UFBA sem
trair seu estilo pessoal. Jamais deu indícios de pertencimento ao
como chama Lacan, “Discurso Universitário”. Manteve-se
sempre afastada do que hoje considero pernicioso, discurso
positivista cientificista. Sem desrespeitar as regras da instituição,
com sabedoria, manteve-se acima e ausente das disputas de
poder, da tendência ao carreirismo, do afã de publicar para
rechear o currículo. Embora eu não tenha exatamente
acompanhado seu trabalho na UFBA por ela própria (preferimos
conversar sobre poesia do que sobre academia – rimou), tenho
notícias dela por dois ex ainda orientandos seus. Jovens
iluminados pela centelha do entusiasmo por um fazer
socialmente relevante, por escutar nas suas pesquisas o outro
76
assenhoreado e reconhecido no seu lugar de sujeito. Não o
sujeito da investigação dita científica. Mas o sujeito da
subjetividade a quem Ana sempre cuidou de dar voz nos seus
estudos qualitativos. Tão longe esteve ela dos “cacoetes” da
academia, que eu me permiti chorar copiosamente de emoção,
sem me censurar, na defesa de mestrado de seu orientando
Dinho. Primeira ocasião em que voltei a colocar meus pés em
São Lázaro, depois dos dolorosos “acidentes” de percurso que
cercaram a minha saída definitiva da UFBA. É que eu não estava
indo à UFBA. Eu estava indo assistir Dinho. E há alguém mais que
Dinho capaz de representar e testemunhar o que foi a passagem
de Ana Cecília pela UFBA?
Marcia Myriam Gomes
Salvador, Fevereiro de 2012
77
Ana Cecília querida,
Flores precisam de luz, pássaros de liberdade ... Pessoas
como você, não apenas precisam de luz e liberdade, mas
também irradiam toda essa beleza em movimento vivida com
alegria, muita luz e o sentido de liberdade que nos leva a criar, a
descobrir, a desvendar, e nos instiga a viver plenamente.
Felicidade é o nome dessa luz, que você tão lindamente
compartilha com todos nós.
Com carinho,
Angela
78
Cara Ana Cecília,
Sinto-me muito honrado por sua amizade e coleguismo.
Tanto pessoal como profissionalmente trocamos experiências
que têm sido muito importantes para mim.
Um grande abraço,
Antônio Marcos
Itacimirim (BA), 27/02/2012
79
José Newton e Ruth são seus pais. Eu os admirei antes
mesmo de tê-la conhecido. Deles, ela recolheu o dom da poesia,
a doçura firme, o sentido pleno da palavra educar, o xale com
que abraça delicadamente a vida. Antonio Virgílio, seu marido,
meu mestre de sempre, com quem ela partilha a graça de Mário
Vítor e Ana Clara. Mariana, primeira neta, novo elo de sua
ciranda encantada. Seus irmãos, muito queridos, de quem ela
fala com brilho nos olhos e no sorriso, aqui presentes sob o
nome de Maria Beatriz; os gatos; um paraíso chamado
Itacimirim; o grupo de pesquisa; nossa casa em São Lázaro; uma
maneira toda própria de viver a religião (da forma mais singular
que eu já conheci); a ampla, criativa e renovada Psicologia que
suas mãos tecem para todos nós; seu casulo (permanentemente)
temporário; amigos condensados nos nomes de Isabel Maria
Sampaio Oliveira Lima, Bruno Lúcio de Carvalho Tolentino, Carlos
Machado e Elaine Pedreira Rabinovich; a poesia que inunda sua
vida em mistério tecido de memória; seu silêncio cheio de sons,
sua música em palavras; tantas canções de Caetano; a força de
um nome Crato; o céu no final do mês de maio; o mar visto por
80
seus olhos; uma vaga lembrança do tempo com todo o meu
amor e gratidão
Era uma vez... a impossível transcrição do que ela é para mim:
Ana Cecília.
Denise Coutinho
23 de fevereiro de 2012
81
Ana, minha Mate, é ótimo ser sua colega e amiga! Uau! Que
frase feita para uma presentear uma poetisa! Mas é isso! Um
beijo, esperando sempre contar com essa “Maitisse”!
Lívia
82
Ana Cecília foi minha aluna no Mestrado em Saúde
Comunitária da UFBA.
Luminosa, sensata, brilhante, carinhosa e alegre.
Quando ela voltou do Doutorado brasiliense,
compartilhamos por vários anos o curso de Metodologia da
Pesquisa Científica daquele programa.
Continuava sensata, brilhante, carinhosa e alegre, sempre
luminosa. Organizamos um modelo de curso que pretendia
articular pesquisa quantitativa (minha área) e qualitativa (sua
área). Concluímos que nada disso fazia sentido: nem separar
qualidade de quantidade nem juntá-las nesse estranho híbrido
“quali-quanti”.
Terminamos mudando tudo no curso, a começar pelo
nome, para Epistemologia e Metodologia da Pesquisa em Saúde,
pois concordamos que a pesquisa científica não tem o
monopólio dos saberes.
Muito jovem (privilégio feminino), aposentou-se, porque
não tinha mais paciência com a sisuda insensatez da burocracia
acadêmica.
83
Ana jubilou-se para continuar sensata, carinhosa e alegre,
sempre luminosa, brilhante.
Naomar de Almeida Filho
23 de fevereiro de 2012
84
Ana,
Estou muito contente em conhecer uma pessoa tão gentil e que
consegue traduzir essa gentileza em eventos, situações e
processos tão convidativos a trocas interessantes entre as
pessoas.
Sou grato pela abertura e interesse!
Forte Abraço
Marcelo
85
Ana Cecília,
Sua presença chegou de presente, de surpresa, com
silêncio ... e ficou. Para sempre.
“seu olhar faz melhor o meu”.
Quero meus olhos brilhando sempre mais.
Obrigado. Gratidão infinita.
Deus te faça feliz!
Miguel
27/02/2012
86
Querida Ana,
Tenho muita alegria de ter passado a compartilhar de sua
amizade, carinho, da intimidade de sua casa, da sua família – seja
em Clark ou em Salvador.
Te agradeço pela chance de estar nesse momento
singular de seu grupo, em Itacimirim!!
Merecida homenagem de seus queridos alunos, que eu
endosso com alegria!!
Felicidades!!
Maria Cláudia
87
Ana Cecília!
Thank you so so so much for allowing me this cultural and
intellectual experience.
I am now Brazilian – having experienced carnival, having
learned Portuguese, and having eaten all of your delicious food.
Also thank you for this wonderful workshop. The intellectual
stimulation from all of the wonderful people you brought here
cannot be mattered anywhere else. Most importantly, you will
Always be my adopted Brazilian Mother!
Kenneth R. Cabell
88
Ana rima
com banana
Cecília rima
com Bahia
Na Bahia
tem muitas
bananas
mas só uma
Ana Cecília
amiga.
Elaine
89
Mãe, amiga, confidente... Em alguns momentos já
começa a exercer o papel de filha em sua própria casa (rs).
Misturam-se os papéis. És também para mim professora e
orientadora, assim como materna para os seus alunos.
Difícil definir tal relação e tal sentimento.
Apenas posso dizer que és o exemplo para mim e não sei
o que seria da minha vida se não fosse o calor do seu abraço e a
ternura do seu olhar, sempre me encorajando e me acolhendo.
Te amo!
Ana Clara
90
Há homenagens formais e que menos dizem da pessoa do
que da posição que ela ocupa. Todavia, há homenagens que
nascem da necessidade de expressar o reconhecimento tanto à
pessoa quanto ao papel que ela desempenha na nossa vida ou na
vida de um grupo, de uma comunidade. Este certamente é o
caso do gesto tecido por alunos e colegas de Ana Cecília neste
momento. Todos queremos expressar o que significa tê-la
conosco nos seus múltiplos papéis de esposa, mãe, colega,
professora, amiga. E esse desejo coletivo tem uma razão muito
simples e muito clara – a sua forma verdadeira de ser e se
posicionar no mundo, aliada à sua capacidade de estabelecer
vínculos profundos e autênticos com as pessoas das quais se
aproxima. Vínculos que sempre apóiam, ajudam e direcionam as
pessoas para alcançarem o melhor de si. Uma capacidade que,
como vemos, não se limita às fronteiras locais e nacionais, pelos
amigos que conseguiu fazer nesta trajetória de pesquisa e que
estão vindos de diferentes partes do mundo para discutir os
trabalhos realizados por sua equipe.
O momento é o mais oportuno, como um gesto de
agradecimento após todo o empenho e dedicação para realizar
91
este evento científico tão importante para o seu grupo de
pesquisa, em especial para tantos alunos, futuros pesquisadores
da Psicologia. É também uma mensagem de que valeu a pena
não transformar a aposentadoria em uma dedicação exclusiva à
poesia, por ela tão desejada, apesar da forma tão natural com
que a poesia se integra ao seu fazer científico e profissional.
E eu que tenho a felicidade de tê-la como companheira,
fico imensamente feliz por vê-la realizando sonhos, alcançando
objetivos e concretizando esta trajetória como pesquisadora e
professora da forma tão significativa, que torna mais do que
merecida esta homenagem coletiva.
Virgílio
92
Como resumir Ana Cecília numa fotografia, mesmo que
esta valha mais que mil palavras?
Como condensar a leveza de sua alma, a doçura de seu
olhar e o colorido de seu sorriso em um único registro?
Seria muita pretensão minha, ou tudo caberia numa foto-
poesia?
Mário Vítor Bastos
93
Mú
sica
Mat
ern
os
94
Maternos (José Eduardo Ferreira Santos)[1]
Para Ana Cecília de Sousa Bastos e os “Maternos” Esse nome Carrega minha mãe Outras mães Outros chãos De viver De criar Esses olhos Que escapam dos véus Novos céus Novo mar Novos céus Olhos meus Esse filho Que é parte de mim É um milagre Que vem E eu não sei Traduzir
[1] Composta em 16 de dezembro de 2011.
95
“E eu não sei traduzir...”
Assim termina os versos da canção que acabamos de
interpretar. Ela, a canção, assim como a noite que se inicia, é a
nossa tentativa de tradução do nosso amor e profundo
agradecimento a você, Ana Cecília.
Amigos, orientandos, colegas de profissão, família e
alunos, estamos aqui para te oferecer esse presente, essas
palavras, poemas e essa canção.
Uma tradução de tantos momentos e dedicação à UFBA
durante todos esses anos, é o que te entregamos nesta noite.
Com carinho,
“Maternos”
Itacimirim – Bahia, 27 de fevereiro de 2012
96
Ap
ose
nta
do
ria?
97
Tento uma espécie de breve genealogia do Programa em
Família na Sociedade Contemporânea da UCSAL. Há quase 12
anos, “o pai da criança”, o doutor em sociologia/PUC-SP, Prof.
Giancarlo Petrini, hoje Bispo da Diocese de Camaçari, teve a
iniciativa de, implantando na Bahia uma sessão do Pontifício
Instituto João Paulo II, propor a um conjunto de companheiros, a
criação de um mestrado em Ciências da Família, adequando a
matriz curricular da sede em Roma à realidade local. Um desses
companheiros foi Dom Lucas Neves, articulador, junto às
autoridades em Roma, do empreendimento. Com a chancela do
hoje Patriarca de Veneza, Angelo Scola, criou-se no Brasil um
mestrado com forte ênfase nas Ciências Humanas e Sociais
Aplicadas, cujo foco traduzia, para o âmbito antropológico, os
princípios cristãos relativos ao debate acerca da família. Este é o
berço do que hoje se chama Programa em Família na Sociedade
Contemporânea da UCSal, Programa que mantém, através de
várias ações acadêmicas conjuntas, fortes relações com o
Instituto João Paulo II, nutridas esses anos por publicações
conjuntas, circulação internacional de professores, a exemplo do
98
que vemos hoje aqui, com as presenças do Presidente do IGP2,
Melina, e de Lafiti.
Meu relato se concentra na organização que o Programa
teve que efetivar frente a reestruturação do Stricto Sensu em
andamento no Brasil. À época de origem do mestrado, ainda sob
a chancela exclusiva do IGPII, de 1998 a 2003, a CAPES cobrava
uma inscrição de mestrado e doutorado no sistema nacional de
pós-graduação, o que veio a coincidir com a demanda da UCSal
em criar níveis de pesquisa avançadas. O cientista político dr.
Petrini, com sua habilidade de articulador, ensejou atender a
demandas isoladas, fazendo-as convergentes. Fato é que, após
um intenso investimento no sentido de ajustar a proposta
internacional à realidade nacional, criou-se o Programa em
Família na Sociedade Contemporânea, hoje unidade acadêmica
da UCSal, inscrita no Comitê Interdisciplinar da CAPES. Seu
escopo é a promoção do desenvolvimento de pesquisas
sistemáticas, avançadas e interdisciplinares com foco no tema
família, contando com especialização, mestrado acadêmico e
doutorado.
99
Naqueles anos iniciais, o nome da Profa. Dra. Ana Cecília
Bastos oferecia ao Programa três coisas de suma importância: 1.
sua pertença a um Programa consolidado da UFBA/ISC, sua
produtividade impressionante, sua generosa inciativa de apoiar a
criação deste Programa, ao qual ofereceu inúmeros suportes
como colaborar na composição do corpo docente que ofereceria
o suporte e a sustentação a um Programa Acadêmico de Stricto
Sensu deste porte; 2. o exercício de docência em disciplinas-
chave, como metodologia, em cujo espaço foi extremamente
democrática convocando vários professores a participarem dos
desafios de pensar a reflexão e a prática de produção de
conhecimento a partir de um arrojado arcabouço metodológico;
3. a competência em fazer circular pesquisadores de nível
internacional no âmbito do Programa, muitas vezes condividindo
visitas programadas para o seu Programa de origem com n[os
outros, que iniciávamos a gestão do Família na Sociedade
Contemporânea. Costumo dizer que a Profa. Ana Cecília foi,
efetivamente, um útero fecundíssimo para a geração dos
primeiros esboços de funcionamento do Programa que hoje se
tornou o que podemos conferir.
100
À época, a Profa. Ana Cecília não podia formalizar sua
inserção plena no Programa, em razão de seu vínculo profissional
com a UFBa. Não obstante, sempre foi colaboradora ativa,
entusiasta da idéia, e parceira comprometida em todas as ações
necessárias ao desenvolvimento e consolidação do Programa. De
2000 a 2011 passou-se uma década, para finalmente uma das
“gestantes” do Programa se tornasse efetivamente membro de
suporte de uma Unidade Acadêmico de Stricto Sensu com
visíveis esforços de crescimento e consolidação de parte dos
profissionais aqui vinculados. “Aninha”, como os mais próximos a
chamamos, se aposentando da UFBA, pôde ter disponibilidade
para vir contribuir com maior oficialidade a que o Programa
continue essa história de progressão na fabricação do
conhecimento, como passo agora a relatar.
No seu histórico, Família na Sociedade
Contemporânea/UCSal já conta com duas avaliações trienais,
delas obtendo notas 4 e 5 respectivamente (2006 e 2009), e
alguns elementos formais conferem a força crescente desse
jovem Programa, com dados visíveis de consolidação: é o único
centro brasileiro que estuda sistemática e interdisciplinarmente
101
a família. Também é registrado como o único com nota 5 no
Comitê Interdisciplinar criado por uma instituição particular (são
17 instituições públicas no Brasil com esta nota no Comitê
Interdisciplinar). De todos os 17 Programas, é o exclusivo no
nordeste a obter este conceito da CAPES. E o único com somente
10 doutores, número menor entre todos os programas do
sistema CAPES. O sistema registra, na média, o dobro de
pesquisadores associados aos programas congêneres, sobretudo
aqueles que possuem o curso de doutorado. Em termos técnicos:
trata-se de uma proposta inovadora, e os indicadores obtidos
pelos docentes por ela responsáveis o confirmam.
A área de concentração é Família em Mudança, e suas
linhas de pesquisa são: Família e sociedade (3), Contextos
familiares e subjetividade (4), e Direito, família e sociedade (3),
que promovem um contínuo esforço de interpenetração nas
atividades que realiza. A Profa. Batos se inscreve na área de
Contextos familiares e subjetividade, como o 5o. Integrante
desse núcleo vigoroso de produção de conhecimento.
Tendo como resultado mais relevante de sua
consolidação a formação de mestres (135 até o momento) e
102
doutores (2), o Programa fomenta pesquisas que buscam a multi
referencialidade e a verticalização de temas que cobram a
convergência e o cruzamento das especialidades que lhe
fornecem suporte. Tais pesquisas reiteram o exercício acadêmico
em docência e pesquisa, dado que forma competências para a
lide com redes conceituais e metodológicas sustentadoras do
tema que privilegia.
Reconhecido em fins de 2004 pela CAPES, o Programa
contemplava em seu projeto original um curso de Mestrado,
visando formar pesquisadores e professores para assumirem
posições de liderança em instituições regionais vinculada à
Educação Superior. Desde que se instaurou e iniciou seu
percurso de consolidação, o Programa constatou que parte
significativa de sua demanda está profissionalmente vinculada às
Administrações Públicas nos âmbitos federal, estadual e
municipal (parte atua como funcionários públicos), ou atuando
no ensino superior (na condição de professores da rede pública
ou privada) ou desenvolvem atividades como profissionais
liberais (em consultórios/escritórios particulares, clínicas e
hospitais) ou ainda em ONG’s, dando atenção à complexidade do
103
fenômeno familiar. Deste modo, o Programa colabora para a
difusão de conhecimento e a emergência de interligações entre a
UCSal e a comunidade local/regional e internacional. Os campos
nos quais os estudantes formados atuam são o direito de família,
o serviço social, a saúde coletiva, o cuidado com infância,
adolescência e velhice e o plano de políticas para a juventude,
migrações e igualdade, e ações voltadas para a afirmação da
cidadania/combate à pobreza.
Como passo decisivo no itinerário de consolidação do
Programa, foi implantado em 2008 o curso de Doutorado,
conseqüência natural do seu primeiro triênio de funcionamento.
Trata-se do primeiro Doutorado instalado na UCSAL, inédito em
sua configuração temático-interdisciplinar no cenário acadêmico
brasileiro, mantendo a organicidade pedagógica da Proposta
original apresentada ao Governo Federal. A implantação do
doutorado traz como incremento ao Programa a adição de uma
nova linha de pesquisa nomeada de Família, direito e sociedade.
Por que essas três linhas? Elas estruturam o Programa: 1.
pela existência de uma demanda dos pesquisadores para
sistematizar uma rede epistêmica da família referenciada
104
interdisciplinarmente no direito, na sociologia, na psicologia; 2.
pela exigência crescente do tratamento conferido à família
considerando a complexidade com que o fenômeno hoje se
organiza. Os resultados das pesquisas aqui desenvolvidas,
disponíveis no Banco de Teses e Dissertações, bem como na
produção dos artigos, livros e capítulos de livros, reiteram e
reforçam o forte investimento dos profissionais que aqui atuam
na construção de um centro de pesquisa de referência no tema.
Se por um lado os pesquisadores do Programa utilizam o
repertório de autores, teorias, conceitos e métodos comuns aos
centros de pesquisa nacionais e internacionais na matéria, por
outro, busca refletir e inovar na produtividade reflexivo-
metodológica e empírica no debate sobre a família, introduzindo
variantes específicas da realidade brasileira, colaborando
fortemente, inclusive, com publicação científica que agrega valor
à produtividade nacional sobre o tema. Vale destaque a
publicação que a profa. Bastos organizou, contando com a
colaboração de vários membros deste Programa: Living in
Poverty: Developmental Poetics of Cultural Realities. 1 ed.
Charlotte, NC, Estados Unidos: IAP - Information Age Publishing,
105
2009, articulando uma problemática relevante acerca da
organização familiar, através de um debate em torno da
Psicologia Cultural, campo de pesquisa que tem explorado com
vigor, em cooperação constante e fecunda com o psicólogo Jaan
Valsiner, pesquisador do âmbito internacional, cuja amizade tem
rendido ao Programa Família na Sociedade Contemporânea
tantos frutos.
Atualmente surgem fortes indicadores para este jovem
Programa projetar e inserir em sua estrutura uma nova linha de
pesquisa em Saúde e políticas públicas da Família, para que se
albergue os inúmeros pesquisadores da àrea, desejosos de aqui
poderem realizar os seus projetos de modo mais adequado, fato
que potencializa a oportunidade de parcerias com órgãos de
governos e ongs que trabalham diretamente na intervenção das
dinâmicas familiares.
A interdisciplinaridade caracterizadora das investigações
aqui desenvolvidas cruza diversas abordagens que reconhecem a
família como matriz do processo civilizatório, o que solicita do
Programa a construção de um marco teórico-conceitual mais
abrangente, capaz de integrar com rigor, diferentes níveis de
106
análise, representados, por amostra, na enumeração que se
segue: 1. Espaço social: é nele que os seus membros participam e
atribuem significado a eventos que lhes conferem identidade
(Lévi-Strauss, 1976); 2. Fato social pleno: é a partir de suas
fronteiras que os indivíduos estabelecem intercâmbios
constitutivos das mediações entre grupos sociais (Mauss, 1932);
3. A família é considerada espaço de vivência das ocorrências
elementares constitutivas da vida (Sarti, 2003); 4. É reputada
como lugar de estruturação psíquica que oferece aporte ao
desenvolvimento dos sujeitos (Mizhari, 2004); 5. É entidade
promotora do desenvolvimento da cidadania (Pereira, 2004); 6.
Possui estatuto de fundamento social (Giddens, 2005; Therborn,
2006); 7. Tem como atribuição o estabelecimento das normas
basilares de conduta (Braganholo, 2005); 8. Rede de relações que
tem significado concreto e simbólico através da qual é formada a
identidade, a solidariedade e a conexão com o contexto social
(Donati, 1996); 9. É constructo social, mediante o qual o
imaginário acerca do parentesco consubstancia sentido de vida
(Piscitelli, 2006), etc.
107
Do ponto de vista da estrutura da UCSal, o Programa
contribui significativamente. Isso ocorre sob três modalidades
principais: a maioria dos docentes está envolvida no ensino de
disciplinas de cursos das ciências humanas. Todos os professores
orientam alunos da graduação em iniciação científica, contando
com incentivo de agências de fomento – FAPESB, CNPq e cota da
própria UCSal, além dos voluntários. Essa presença tem
projetado a imagem do Programa como centro formação
acadêmica de profissionais qualificados, que busca estimular o
ingresso de alunos na carreira de pesquisador, incentivando
potenciais candidatos a participarem das seleções, disseminando
um modo peculiar de fazer pesquisa em Família, o
interdisciplinar. Um dos resultados dessa inserção se verifica com
a presença de egressos da UCSal nos processos seletivos do
Programa, o que significa investimento na formação continuada
no âmbito institucional. Vale notar que um número também
expressivo de candidatos e estudantes do Programa é de
professores do próprio quadro da Universidade, o que
demonstra que a política de re-qualificação e formação
108
continuada do seu corpo docente tem funcionado
positivamente.
Todos os docentes do Programa desenvolvem seus projetos
específicos de pesquisa fomentados por órgãos públicos. Merece
destaque o projeto coletivo que teve dois anos de duração e
investigou práticas e crenças parentais de educação de filhos.
Esta pesquisa, coletiva intitulada “Gênero e família em mudança:
participação de pais no cuidado cotidiano de filhos pequenos”,
teve recursos aprovados em edital específico do CNPq. Sua
concepção mobilizou os docentes das três Linhas de Pesquisa,
assim como vários estudantes do Programa, cujos esforços
convergiram para a interdisciplinaridade, em busca de
levantamento de questões relevantes do cotidiano da família nos
dias atuais. Mediante a utilização de dispositivos de mensuração
de práticas e concepções dos pais no cuidado com os filhos, o
projeto teve como objetivo geral contribuir para uma reflexão
interdisciplinar sobre paternidade, maternidade e redes de
apoio, acessando debates sobre geração, gênero e sentidos de
feminilidade e masculinidade no contexto contemporâneo, sobre
o processo de reconstrução das figuras paternas e maternas, tal
109
como se reflete na vida cotidiana da família, pensada como
agente primário de cuidado, de socialização e de aculturação, de
preservação ou de transformação de valores, de relações e de
lugares sociais e também de contradições e violências.
Exatamente por isso, nele se indagou: como são os pais e mães
de hoje na vida cotidiana? Como se dão as relações sociais no
grupo familiar considerando a tríade mãe, pai e filhos? Qual o
lugar dos outros membros da família nos cuidados com os filhos
pequenos? Que modelos dispõem os filhos/filhas, e que
caminhos podem ser supostos para essa geração futura? Em que
medida vêm sendo desestabilizadas categorias como a divisão
sexual do trabalho e do poder, considerando em particular ciclo
e curso de vida de diversos de grupos familiares?
Dos projetos executados até o presente momento, esse
ganha relevo por ser, desde a sua gênese à sua execução, análise
dos resultados, etc., obra coletiva que caracteriza,
significativamente, a busca continuada de integração do corpo
docente e o envolvimento desejado com os alunos na construção
de conhecimento interdisciplinar, o que exige exercício dialógico
em relação a conceitos e métodos disciplinarizados. A
110
contribuição da Ana Cecília no desenvolvimento desse projeto foi
muito fértil.
Destacamos como mecanismo que tem sido utilizado pelo
Programa para consolidar as suas metas a circulação do corpo
docente, dos mestrandos e dos doutorandos, quer seja
nacionalmente, quer seja internacionalmente, que têm
frequentado centros de pesquisa do país e do mundo, se
beneficiando e reciprocedendo estes benefícios através do
intercâmbio de métodos, autores, conceitos, teorias que lidam
com o tema da família. Este dispositivo confere uma visibilidade
mais acentuada de ocupação continuada do Programa em
manter o foco de seus objetivos, justamente por investir
fortemente no escambo, junto a pesquisadores de outras
instituições, de um modus faciendi inovador no âmbito da
investigação. A intensa participação dos pesquisadores do
Programa em reuniões científicas internacionais e nacionais é um
outro fator que promove a sua inscrição no cenário dos centros
que se afirmam como inovadores nos estudos interdisciplinares
de família. Prova disso é este importante Seminário Internacional
"Famiy and culture" organizado e executado pela Profa. Ana
111
Cecília e sua equipe de trabalho, constituída por colegas,
inclusive do Programa, orientandos e colaboradores diversos.
Ademais, o tópico publicação tem recibido cuidados do
Programa, bem além das exigências estabelecidas pela CAPES
para avaliar as estratégias de manutenção deste centro como
uma referência de excelência no cenário de investigação
interdisciplinar em Família. O número de publicações próprias é
impressionante, a exemplo da Coleção Família na Sociedade
Contemporânea, composta por 5 volumes, publicada pelas
Edições Paulinas, além de coletâneas, resultantes de organização
de reuniões científicas aqui realizadas. Neste particular, uma
simples visita o link Lattes do CNPq poderá subsidiar as
informações acerca da produção que a Profa. Ana cecília tem
organizado e feito autoralmente, como mebro integrante do
nosso Programa.
Um outro dado importante a ser declarado é a submissão
e aprovação, no ano de 2010, de Projeto de infra-estrutura
elaborado pelos Programas da UCSAL, com forte presença do
Programa em Família na Sociedade Contemporânea,
apresentado ao edital da FINEP, cujos recursos serão investidos
112
no incremento das condições ideais estruturais para fazer
pesquisa. Especificamente para Família, a construção do edifício
para ampliar os espaços de pesquisa existentes contempla a
criação do “Observatório de família(s)”, voltado, sobretudo, para
estudos de família em área urbana em situação de pobreza.
Neste projeto também está incluída a construção de um estúdio
de pesquisa que adequará o espaço de gravação de entrevistas
com convidados que visitam o Programa, bem como albergará
equipamentos adquiridos em outros projetos em um dispositivo
mais ajustado de gravação e editoração de reuniões científicas,
produzindo multimeios.
Todos esses indicadores parecem documentar que o
jovem Programa Família na Sociedade Contemporânea foi um
dispositivo acadêmico acertado pela UCSal para oxigenar o
presente e o futuro de desafios de uma Instituição
cinquentenária que, não obstante a passagem do tempo, dá
mostras de vitalidade, particularmente na pós-graduação,
avaliada externamente com critérios universais e transparentes
de um sistema que nos reconhece como centro de formação de
excelência e de produção de pesquisa de relevância.
113
Nesse âmbito se inscreve a mais jovem aquisição da casa.
Na verdade, “prata da casa”, a quem muito rapidamente
aprendemos a admirar, por reunir competência, firmeza e uma
extrema doçura, que acolhe generosamente um número
impressionante de parceiros, estimulando muito positivamente a
investir fortemente neste Programa. Nossa reverência a você,
grande amiga.
José Euclimar Xavier de Menezes
114