Questão 39 - Das Pessoas Referidas à Essência - Suma Teologíca - Sto. Tómas de Aquino

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Em seguida, vamos tratar das Pessoas quanto às relações ou propriedades. E discutem-se quatroartigos:Art. 1 Se, em Deus, a relação é o mesmo que Pessoa.(I Sent., dist. XXVI, q. 2, a. 1; dist. XXXIII, a. 2; Compend. Theol., cap. LXVII).O primeiro discute-se assim. Parece que em Deus, a relação não é o mesmo que pessoa.1. Pois, entre coisas idênticas, multiplicada uma, também as outras se multiplicam. Ora, numamesma pessoa podem existir várias relações. Assim, na Pessoa do Pai há a paternidade e aespiração comum. Ainda mais: pode uma só relação existir em duas pessoas; assim a espiraçãocomum existe no Pai e no Filho. Logo, relação não é o mesmo que pessoa.

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  • Suma

    teolgica

    Tomas de Aquino

  • Prima pars

    PRIMEIRA PARTE

  • TRATADO DE DEO TRINO

    Questo 39: Das Pessoas referidas essncia.

    Depois de termos tratado, em absoluto, das Pessoas divinas, resta tratar das Pessoas referidas

    essncia, s propriedades e aos atos nocionais, e das relaes delas entre si.

    Ora, na primeira destas questes discutem-se oito artigos:

    Art. 1 Se em Deus, essncia o mesmo que Pessoa.

    (Supra. Q. 3, a. 3; I Sent., dist. XXXIV, q. 1, a. 1; III dist. VI, q. 2, ad 2).

    O primeiro discute-se assim. Parece que em Deus no essncia o mesmo que pessoa.

    1. Pois, nos seres em que essncia o mesmo que pessoa ou suposto, necessariamente h, para

    uma natureza, s um suposto, como claro em todas as substncias separadas. Porque, de causas

    idnticas realmente, uma no pode ser multiplicada sem que as outras tambm o sejam. Ora em

    Deus, h uma s essncia e trs Pessoas, como do sobredito resulta1. Logo, essncia no o

    mesmo que pessoa.

    2. Demais. De um mesmo sujeito no se pode fazer uma afirmao e uma negao

    simultaneamente e da mesma vez. Ora, a afirmao e a negao verificam-se na essncia e na pes-

    soa; pois, esta distinta e aquela no o . Logo, no se identificam pessoa e essncia.

  • 3. Demais. Nada a si mesmo sujeito. Ora, a pessoa sujeita essncia, sendo por isso chamada

    suposto ou hipstase. Logo, no se identificam pessoa e essncia.

    Mas, em contrrio, Agostinho: O mesmo dizer pessoa do Pai e substncia do Pai2.

    SOLUO Aos que refletirem na simplicidade divina esta questo no padece dvidas. Pois j

    demonstramos3 que a divina simplicidade exige em Deus a identidade de essncia e de suposto;

    este, nas substncias intelectuais, no difere da pessoa. Mas a dificuldade surge, de conservar a

    essncia a sua unidade, embora multiplicadas as Pessoas divinas. E por dizer Bocio que a relao

    multiplica a Trindade das pessoas4, afirmaram alguns5 que, em Deus, a essncia e a pessoa

    diferem, do mesmo modo por que diziam que as relaes so assistentes, considerando-as

    somente como relativas a um termo e no como realidades.

    Mas, como antes j demonstramos6, se bem que as relaes existam acidentalmente nas coisas

    criadas, em Deus so a prpria essncia divina. Donde se segue que, em Deus, a essncia no

    difere realmente da pessoa, embora as Pessoas entre si se distingam realmente. Pois pessoa, como

    dissemos7, significa relao enquanto subsistente na natureza divina. Porm a relao, comparada

    com a essncia, no difere realmente, seno s racionalmente; mas comparada com a relao

    oposta, dela se distingue realmente em virtude da sua oposio. Assim, permanece una a essncia

    e trs, as Pessoas.

    DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. Nas criaturas, no podem os supostos dis-

    tinguir-se pelas relaes, mas ho necessariamente de distinguir-se pelos princpios essenciais;

    porque as relaes, nas criaturas, no so subsistentes.Porm em Deus as relaes so subsistentes;

    logo, os supostos podem distinguir-se enquanto mutuamente se opem. Mas nem por isso se

    distingue a essncia; porque as prprias relaes mutuamente se no distinguem, enquanto

    realmente idnticas essncia.

  • RESPOSTA SEGUNDA. Diferindo em Deus a essncia e a pessoa, pelo modo de conceber da

    inteligncia, segue-se que um atributo se pode afirmar de uma, que se nega de outra; e por

    conseguinte suposta uma, no se supe a outra.

    RESPOSTA TERCEIRA. Impomos nomes a Deus ao modo das coisas criadas, como disse-

    mos8. E como as naturezas das coisas criadas se individuam pela matria, sujeita natureza

    especfica, resulta que os indivduos se chamam sujeitos, supostos ou hipstases. Donde vem que

    tambm as Pessoas divinas se chamam supostos ou hipstases, sem que nelas haja qualquer supo-

    sio ou sujeio real.

    1. Q. 28, a. 3; q. 30, a. 2.

    2. VII de Trin., c. 6.

    3. Q. 3 a. 3.

    4. De Trin., c. 6.

    5.Gilbertus Porretanus, cf. I q. 28, a. 2, c.

    6. Q. 28, a. 2

    7. Q. 29, a. 4.

    8. Q. 13, a. 1 ad 2; a. 3

    Art. 2 Se devemos dizer que as trs Pessoas so de uma s essncia.

    (I Sent., dist. XXV, exposit. text.; dist. XXXIV, q. 1, a. 2).

    O segundo discute-se assim. Parece que no devemos dizer serem as trs Pessoas de uma s

    essncia.

  • 1. Pois, diz Hilrio: O Padre, o Filho e o Esprito Santo so trs certamente pela substncia, porm

    um pela consonncia1. Ora, a substncia a essncia de Deus. Logo, no so as trs Pessoas de

    uma s essncia.

    2. Demais. Nada devemos afirmar de Deus que no esteja expresso pela autoridade da Sagrada

    Escritura, como est claro em Dionsio2. Ora, nunca a Sagrada Escritura diz, que o Pai, o Filho e o

    Esprito Santo sejam de uma s essncia. Logo, tal no devemos afirmar.

    3. Demais. A natureza divina o mesmo que a essncia divina. Bastaria, pois, dizer, segundo

    parece, que as trs Pessoas tm a mesma natureza.

    4. Demais. No se costuma dizer, que a pessoa da essncia, mas antes, que esta daquela. Logo,

    no parece conveniente dizer, que as trs Pessoas so de uma s essncia.

    5. Demais. Segundo Agostinho, no dizemos que as trs Pessoas provm de uma s essncia,

    para que se no pense que, em Deus, uma coisa a essncia e outra, a pessoa3. Mas como as

    preposies, tambm os casos oblquos encerram a idia de transio. Donde, pela mesma razo

    no devemos dizer, que as trs Pessoas so de uma s essncia.

    6. Demais. O que pode ser ocasio de erro no se deve dizer de Deus. Ora, dizer que as trs

    Pessoas so de uma s essncia ou substncia d ocasio a erro. Assim, diz Hilrio: A substncia

    una predicada do Pai e do Filho significa ou um ser subsistente, em dois sentidos diversos; ou uma

    substncia dividida em duas substncias imperfeitas; ou uma terceira substncia primria

    apropriada e assumida pelas duas outras4. Por onde, no se deve dizer, que as trs Pessoas sejam

    de uma s substncia.

  • Mas, em contrrio, diz Agostinho, que o nome homoousion firmado no Conclio Niceno, contra os

    Arianos, significa o mesmo que dizer serem as trs Pessoas de uma s essncia5.

    SOLUO Como dissemos6, o nosso intelecto nomeia as coisas divinas, no ao modo delas,

    pois assim no nas pode conhecer; mas ao modo das coisas criadas. Ora, nas coisas sensveis, das

    quais o nosso intelecto tira a sua cincia, a natureza de uma espcie se individualiza pela matria,

    fazendo a natureza a funo de forma e o indivduo, de suposto da forma. Por isso, tambm em

    Deus, pelo seu modo de significar, a essncia como a forma em relao s trs Pessoas. Assim, na

    ordem das coisas criadas, dizemos que uma forma pertence ao ser do qual ela ; como a sade ou

    a beleza, a um certo homem. Porm no dizemos que um ser, que tem uma forma, pertena a essa

    forma, seno acrescentando um adjetivo designativo de tal forma; assim, dizemos: que esta

    mulher de egrgia forma, este homem de perfeita virtude. E semelhantemente, como, em Deus,

    a multiplicidade de pessoas no implica a da essncia, dizemos que uma s a essncia das trs

    Pessoas; e que as trs Pessoas so de uma s essncia, entendendo-se, que esses genitivos so

    empregados para designarem a forma.

    DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. Substncia, no caso, se toma como hipstase

    e no como essncia.

    RESPOSTA SEGUNDA. Embora no se encontre textualmente dito na Escritura que as trs

    Pessoas so de uma s essncia, encontra-se, todavia, nesse sentido. Como nos lugares: Eu e o Pai

    somos uma mesma coisa(Jo 10, 30); O Pai est em mim, e eu no Pai (Jo 38; 14, 10). E o mesmo se

    conclui de muitos outros lugares.

    RESPOSTA TERCEIRA. Designando a natureza o princpio do ato, e derivando, porm, a

    essncia do verbo ser, podem considerar-se da mesma natureza os seres que convm em algum

    ato, como, p. ex., todos os que aquecem; mas da mesma essncia se no podem chamar seno os

    que tm o mesmo ser.Poronde, melhor exprimimos a unidade divina dizendo que as trs Pessoas

    so de uma s essncia, do que dizendo que so de uma s natureza.

  • RESPOSTA QUARTA. A forma, absolutamente falando, de ordinrio expressa como

    pertencendo ao ser do qual ; p. ex.: a virtude de Pedro. Porm, inversamente, no costumamos

    dizer, que pertence forma o ser que a tem, seno quando queremos determin-la ou design-la.

    E ento se requerem dois genitivos, significando um a forma e o outro, a determinao dela; como

    se dissermos: Pedro de grande virtude. Ou ento se requer um genitivo com a fora de dois,

    como se dissermos:Este homem de sangue, i. , derramador de muito sangue. Ora, a essncia

    divina, considerada forma em relao pessoa, convenientemente se chama essncia da pessoa.

    Porm no, inversamente; salvo se se fizer um acrscimo designao da essncia; p. ex., dizendo,

    que o Padre uma pessoa de essncia divina, ou que as trs Pessoas so de uma s essncia.

    RESPOSTA QUINTA. A preposio de (por e de) no designa relao de causa formal, mas

    antes, de causa eficiente ou material. Ora, estas causas sempre se distinguem dos seres dos quais o

    so; pois, nenhum ser a sua prpria matria ou o seu princpio ativo. Porm, h seres, que so a

    sua prpria forma como o demonstram todos os seres imateriais. Logo, quando dizemos que as

    trs Pessoas so de uma s essncia, significando essncia, forma, no queremos dizer seja uma

    coisa a essncia e outra, a pessoa, o que assim seria se dissssemos, que as trs Pessoas so

    provenientes da mesma, essncia.

    RESPOSTA SEXTA. Diz Hilrio: Muito prejudicadas ficariam as coisas santas se deixassem de

    o ser porque muitos assim no as reputam. Assim, se entendem mal a expresso homoousion, que

    isso me importa a mim, que bem a entendo?7 E antes: Pois, uma substncia pela mesma

    propriedade de gerao e no resultante de pores, de uma unio ou comunho8.

    1. De Synod., in exposit., Fidei Antioch.

    2. I cap. De div. nom.

    3. De Trin., l. VII, c. 6.

    4. De Synod., num. 68.

    5. II Contra Maximum, c. 14 (al. Lib. III).

    6. Q. 13, a. 1, ad 2; a. 3

  • 7. De Synod., num. 85, 86.

    8. Ibid., num. 71.

    Art. 3 Se os nomes essenciais, como o de Deus, se predicam das trs Pessoas no singular ou

    plural.

    (I Sent., dist. IX, q. 1, art. 2).

    O terceiro discute-se assim. Parece que os nomes essenciais, como o de Deus, no se predicam

    das trs Pessoas, no singular, mas no plural.

    1. Pois, assim como homem significa o que tem humanidade, assim Deus, o que tem a

    divindade. Ora, as trs Pessoas tm todas as trs a divindade. Logo, as trs Pessoas so trs Deuses.

    2. Demais. Diz a Escritura (Gn 1, 1): No principio criou Deus o cu e a terra, estando no texto

    hebraicoElohim, que se pode interpretar como deuses ou juzes. O que assim dito, por causa da

    pluralidade das Pessoas. Logo, as trs Pessoas so vrios deuses e no um s Deus.

    3. Demais. O vocbulo coisa, empregado em sentido absoluto, parece significar a substncia.

    Ora, esse vocbulo se predica no plural, das trs Pessoas. Assim, diz Agostinho: As coisas de que

    devemos gozar so o Padre, o Filho e o Esprito Santo1. Logo, tambm os outros nomes essenciais

    podem predicar-se no plural, das trs Pessoas.

    4. Demais. Assim como Deus significa o que tem a divindade, assim Pessoa significa que

    subsiste em alguma natureza intelectual. Ora, dizemos trs Pessoas. Logo, pela mesma razo,

    podemos dizer trs Deuses.

  • Mas, em contrrio, a Escritura (Dt 6, 4): Ouve Israel, o Senhor nosso Deus o nico Senhor.

    SOLUO Dos nomes essenciais, uns exprimem a essncia, substantivamente, outros, porm,

    adjetivamente. Os primeiros predicam-se das trs Pessoas s no singular e no no plural; porm

    os segundos dos trs se predicam no plural.

    E a razo que os nomes substantivos significam a substncia de uma coisa; porm os adjetivos, o

    acidente, inerente ao sujeito. Ora, a substncia, tendo o ser por si, tambm por si tem a unidade

    ou a multiplicidade; e por isso, a singularidade ou a pluralidade do nome substantivo

    considerada em relao forma significada pelo nome. Os acidentes, porm, existindo num

    sujeito, tambm deste recebem a unidade ou a multiplicidade. Por isso, nos adjetivos, consideram-

    se a singularidade e a pluralidade relativamente aos supostos.

    Ora, nas criaturas, uma mesma forma no tem vrios supostos seno pela unidade da ordem;

    assim, a forma da multido ordenada. Por onde, os nomes que significam essa forma, sendo

    substantivos e empregados no singular, predicam-se de vrios; no, porm, se fossem adjetivos.

    Assim, dizemos que muitos homens so um colgio, um exrcito ou um povo; mas dizemos que

    vrios homens so colegiados. Ora, em Deus, a essncia divina expressa, como se disse2, em

    sentido formal; pois, simples e soberanamente una, como demonstramos3. Por onde, os nomes

    que significam substantivamente a essncia divina, predicam-se das trs Pessoas no singular e no

    no plural. E a razo de dizermos, que Scrates, Plato e Ccero so trs homens; e no que o

    Padre, o Filho e o Esprito Santo so trs deuses, seno um s. Porque nos trs supostos da

    natureza humana h trs humanidades; ao contrrio, nas trs Pessoas s h uma essncia divina.

    Mas os nomes, que significam a essncia, como adjetivos, predicam-se das trs Pessoas no plural,

    por causa da pluralidade dos supostos. Pois, adjetivamente, dizemos trs existentes, trs sbios, ou

    trs eternos, incriados e imensos. Substantivamente, porm, dizemos, como Atansio diz no

    Smbolo, um incriado, imenso e eterno4.

    DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. Embora signifique o que tem a divindade,

    contudo o nome de Deus tambm tem outra significao, pois empregado substantivamente, ao

  • passo que a expresso tem a divindade o adjetivamente. Por onde, embora sejam trs os que

    tm a divindade, da se no segue a existncia de trs deuses.

    RESPOSTA SEGUNDA. Lnguas diversas tm modo diverso de falar. Por isso, onde os Gre-

    gos dizem trs hipstases, por causa da pluralidade dos supostos, os Hebreus dizem Elohim no

    plural. Ns, porm, no dizemos, no plural, nem deuses nem substncias, para no referirmos a

    pluralidade substncia.

    RESPOSTA TERCEIRA. O nome de coisa pertence aos transcendentais. Por isso, enquanto

    implica relao, predica-se de Deus no plural; mas, quando significa substncia, no singular, Por

    isso, diz Agostinho, no mesmo lugar, que a mesma Trindade uma realidade suma.

    RESPOSTA QUARTA. A forma significada pelo nome de pessoa no a essncia ou a na-

    tureza, mas a personalidade. Por onde, sendo trs as personalidades, i. , trs propriedades

    pessoais, no Padre, no Filho e no Esprito Santo, dos trs se predicam no no singular mas, no

    plural.

    1. De doctr. Christ., L. I, c. 5.

    2. a. 2

    3. Q. 3, a. 7; q. 11, a. 4

    4. In Symbolo Quicumque

    Art. 4 Se os nomes essenciais concretivos podem ser supostos pela Pessoa, de modo a ser

    verdadeira a proposio seguinte: Deus gerou a Deus.

    (I Sent., dist. IV, q. 1 a. 2; dist. V, q. 1, a. 2).

  • O quarto discute-se assim. Parece que os nomes essenciais concretivos no podem ser supostos

    pela pessoa, de modo a ser verdadeira a proposio Deus gerou a Deus.

    1. Pois, como dizem os lgicos, um termo singular significa e supe a mesma realidade. Ora, o

    nome de Deus um termo singular, porque no pode ser predicado no plural, como se disse1.

    Logo, significando a essncia, tomado pela essncia e no, pela pessoa.

    2. Demais. O termo tomado como sujeito no restringe pelo termo tomado como predicado, em

    razo da significao deste, mas somente em razo do tempo juntamente significado. Ora, quando

    digo Deus cria esse nome supe a essncia. Logo, quando digo Deus gerou o termo Deus

    no pode, em razo do predicado nocional, ser suposto pela pessoa.

    3. Demais. Se verdadeira a proposio Deus gerou porque o Padre gera; igualmente o ser

    esta outra Deus no gera porque o Filho no gera. Logo, h Deus gerador e Deus no gerador.

    Donde parece seguir-se, que h dois Deuses.

    4. Demais. Se Deus gerou a Deus, ou a si mesmo se gerou como Deus, ou gerou outro Deus.

    Ora, a si mesmo como Deus, no; pois, segundo Agostinho, nenhuma coisa a si mesma se gera2.

    Nem outro Deus, pois, s h um. Logo, falsa a proposio Deus gerou a Deus.

    5. Demais. Se Deus gerou a Deus, este ltimo o Deus Padre, ou um Deus que no o Padre. Se

    o Deus Padre, ento este gerado. Se um Deus, que no o Padre, ento h um que no o Padre,

    o que falso. Logo, no se pode dizer, que Deus gerou a Deus.

    Mas, em contrrio, diz o Smbolo: Deus de Deus3.

  • SOLUO Alguns disseram, que o nome de Deus e outros semelhantes, so, por natureza,

    propriamente supostos pela essncia; mas, com um adjunto nocional, empregam-se como

    supostos pela pessoa. E parece que esta opinio nasceu da considerao da divina simplicidade,

    que exige se identifiquem em Deus o possuidor e o possudo. Assim, o ser que tem a divindade,

    que o significado do nome Deus, identifica-se com a divindade.

    Mas, na propriedade das locues, no devemos atender somente coisa significada, mas tambm

    ao modo de significar. Ora, como o nome de Deus significa a essncia divina como ela existe no

    ser que a tem, assim o nome de homem significa a humanidade no suposto. Donde o dizerem

    outros, e melhor, que o nome de Deus, pelo modo de significar, pode propriamente ser suposto

    pela pessoa, como o nome de homem. Por isso, umas vezes, o nome de Deus suposto pela

    essncia, como quando dizemos Deus cria; porque esse predicado convm ao sujeito em razo

    da forma significada, que a divindade. Outras vezes, porm, supe a pessoa: uma somente como

    quando dizemos Deus gera; ou duas como quando dizemos Deus espira; ou trs, como no

    lugar da Escritura (1 Ti 1, 17): Ao rei dos sculos, imortal, invisvel, a Deus s honra e glria.

    DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. O nome de Deus, embora convenha com os

    termos singulares por no se multiplicar a forma significada, todavia, convm com os termos co-

    muns por se encontrar esta em vrios supostos. Por onde, no necessrio seja sempre suposto

    pela essncia, que significa.

    RESPOSTA SEGUNDA. A objeo procede contra os que diziam, que o nome de Deus no

    tem natural suposio pela pessoa.

    RESPOSTA TERCEIRA. No se aplica do mesmo modo o nome de Deus, quando suposto

    pela pessoa, e o nome de homem. Pois, como a humanidade, forma significada pelo nome de

    homem, realmente se divide em diversos supostos, tal forma, em si, suposta pela pessoa, mesmo

    nada se acrescentando que o determine, em relao pessoa, que um suposto distinto. Porque a

    unidade ou comunidade da natureza humana no real, mas somente, lgica. Por isso, o termo de

    homem no suposto pela natureza comum seno por exigncia de algum acrscimo; p. ex.,

    quando dizemos homem espcie. Ora, a forma significada pelo nome de Deus, a saber, a

  • essncia divina, uma mesma e comum, realmente. Por isso suposta, em si, pela natureza

    comum; mas a sua suposio se determina, em relao pessoa, por um adjunto. E, portanto,

    quando dizemos Deus gera, o nome de Deus, em razo do ato nocional, suposto pela pessoa

    do Padre. Ao contrrio, quando dizemos Deus no gera, nada acrescentamos que determine esse

    nome pessoa do Filho, a locuo ser verdadeira, como se dissssemos O Deus gnito no

    gera. Donde se no segue, que haja um Deus gerador e um Deus no gerador; salvo se

    acrescentamos alguma propriedade pessoal; como, p. ex., se dissermos O Padre o Deus

    gerador e o Filho o Deus no gerador. Donde no resulta que existam vrios deuses; pois, o

    Padre e o Filho so um s Deus, como dissemos4.

    RESPOSTA QUARTA. Falsa a proposio o Padre gerou-se a si mesmo Deus, porque o se,

    exprimindo reciprocidade, designa o mesmo suposto. Nem a isto contrrio o dito de Agostinho,

    que Deus Padre gerou a um outro de Si mesmo. Porque, o pronome se ou um ablativo e significa

    gerou outro, diferente de si; ou exprime uma relao simples e, assim, importa identidade de

    natureza, mas sendo a locuo imprpria ou enftica e significando gerou outro simlimo a si.

    Do mesmo modo, falsa a proposio gerou outro Deus. Pois, embora o Filho seja outro que

    no o Pai, como dissemos5, todavia se no pode dizer, que seja outro Deus. Porque se entenderia,

    que a significao do adjetivo outro recasse sobre o substantivo Deus, exprimindo ento uma

    distino da divindade. Certos porm admitem a proposio gerou outro Deus, considerando

    outro, um substantivo, e construindo Deus, como aposto expresso outro que Deus. Mas,

    este modo de falar imprprio e devemos evit-lo para no darmos ocasio a erro.

    RESPOSTA QUINTA. falsa a proposio Deus gerou um Deus que o Deus Padre,

    porque Padre, construdo a como aposto de Deus, restringe-o a exprimir a pessoa do Padre, e o

    sentido gerou um Deus, que o prprio Padre; sendo ento o Padre gerado, o que falso. Por

    isso, verdadeira a negativa gerou um Deus que no o Deus Padre. Se porm se entender, que

    no h aposto e que se deve fazer uma interposio de palavras, ento, inversamente, a afirmativa

    seria verdadeira e a negativa, falsa, sendo o sentido gerou um Deus, que o Deus que o Padre.

    Mas essa explicao forada e, por isso, melhor que a afirmativa seja negada simplesmente e a

    negativa concedida. Contudo, Prepositino disse, que tanto falsa a negativa como a afirmativa6.

    Pois, o relativo que, na afirmativa, pode implicar o suposto; mas, na negativa, implica o

    significado e o suposto. Por onde, o sentido da afirmativa : ser Deus Padre convm Pessoa do

    Filho. E o da negativa: ser Deus Padre no somente no convm Pessoa do Filho, mas, nem

  • divindade deste. Mas isto irracional porque, segundo o Filsofo, a um mesmo sujeito pode

    convir a afirmao e a negao7.

    1. Q. 39, a. 3.

    2. I de Trin., c. 1.

    3. In Symbolo Nicaeno.

    4. Q. 39, a. 3

    5. Q. 31, a. 2

    6. Summa

    7. Per Hermen., c. 6; 17, a, 26-33.

    Art. 5 Se os nomes essenciais tomados em abstrato podem ser supostos pela Pessoa, de modo a

    ser verdadeira a proposio: a essncia gera a essncia.

    (I Sent., dist. V, q. 1, a. 1, 2; De Um. Verb., a. 1, ad 12; Contra Errores Graec., cap. IV; in Decretal.,

    II).

    O quinto discute-se assim. Parece que os nomes essenciais, tomados em abstrato, podem ser

    supostos pela pessoa, de modo a ser verdadeira a proposio a essncia gera a essncia.

    1. Pois, Agostinho diz: O Pai e o Filho so uma mesma sabedoria porque so uma mesma

    essncia; e, em particular, a sabedoria da sabedoria, como a essncia da essncia1.

    2. Demais. As coisas, que em ns esto, geram-se ou corrompem-se com a nossa gerao ou a

    nossa corrupo. Ora, o Filho gerado. Logo, estando no Filho essncia divina, parece que esta

    gerada.

  • 3. Demais. Deus o mesmo que a essncia divina, como do sobredito resulta2. Ora, como se viu,

    verdadeira a proposio Deus gera a Deus. Logo, tambm o esta outra a essncia gera a

    essncia.

    4. Demais. O que predicado de um sujeito pode ser suposto por ele. Ora, a essncia divina o

    Pai. Logo, ela pode supor-se pela pessoa do Pai. E, portanto, a essncia gera.

    5. Demais. A essncia um princpio gerador, pois o Pai, que gerador. Se, portanto, a

    essncia no for um princpio de gerao, ser a essncia geratriz e no geratriz, o que

    impossvel.

    6. Demais. Agostinho diz: O Pai o princpio de toda a divindade3. Ora, s e princpio, gerando

    ou espirando. Logo, o Pai gera ou espira a divindade.

    Mas, em contrrio, diz Agostinho, que nada se gera a si mesmo4. Ora, se a essncia gera a essncia,

    no gera seno a si mesma; pois, no h nada em Deus, que se distinga da essncia divina. Logo, a

    essncia no gera a essncia.

    SOLUO Nesta matria, errou o abade Joaquim5 quando asseverou, que, como se diz Deus

    gerou a Deus, tambm se pode dizer a essncia gerou a essncia; considerando, que, por causa

    da divina simplicidade, no se distingue Deus, da divina essncia. Mas, nisto se enganou, pois

    que, para haver verdade numa proposio, devemos considerar no somente a coisa significada,

    seno tambm o modo de significar, como j vimos6. Por onde, embora, na realidade, seja Deus o

    mesmo que a divindade, contudo, o modo de significar no o mesmo em ambos os casos. Pois, o

    nome de Deus, significando a essncia divina, no ser que a tem, pelo modo da sua significao -

    lhe natural poder ser suposto pela pessoa. E assim, as propriedades das pessoas podem ser

    predicadas do nome de Deus, podendo dizer-se que Deus gerado ou gerador, como vimos7.

  • Mas, o nome de essncia no pode, pelo modo da sua significao, ser suposto pela pessoa; porque

    significa a essncia como forma abstrata. Logo, as propriedades das Pessoas, pelas quais se

    distinguem umas das outras, no podem ser atribudas essncia; o que significaria, que h uma

    distino na essncia divina, como h distino nos supostos.

    DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. Para nos fazer entender a unidade da essncia

    e da pessoa, os santos Doutores por vezes manifestaram o seu pensamento de modo mais

    expressivo do que o permite a natureza do assunto. Por isso, as suas expresses no se devem

    amplificar, mas, explicar; por ex., os nomes abstratos, pelos concretos, ou mesmo pelos nomes

    pessoais. Assim, quando dizem essncia da essncia, ou sabedoria da sabedoria, o sentido

    o Filho, que essncia e sabedoria, vem do Pai, que essncia e sabedoria. Demais, nesses nomes

    abstratos devemos atender a uma certa ordem. Assim, o que prprio do ato mais proximamente

    se refere s pessoas; porque os atos se atribuem aos supostos. Por onde, menos imprpria a

    proposio natureza da natureza, ou sabedoria da sabedoria, do que esta essncia da

    essncia.

    RESPOSTA SEGUNDA. Nas criaturas, o gerado no recebe a mesma natureza, numerica-

    mente, que a do gerador; mas diversa, numericamente, que comea no gerado, de novo, pela

    gerao e extingue-se pela corrupo. Portanto, o gerado gera-se e corrompe-se por acidente. Ora,

    o Deus gerado tem a mesma natureza, numericamente, que o gerador. Logo, a natureza divina do

    Filho no gerada, nem por essncia nem por acidente.

    RESPOSTA TERCEIRA. Embora Deus e a divina essncia sejam realmente idnticos, con-

    tudo, em razo do modo de significar de uma e da outra, devemos nos referir a cada qual, de

    modo diverso.

    RESPOSTA QUARTA. A essncia divina predicada do Pai por modo de identidade, por

    causa da divina simplicidade. Mas, da se no segue, que possa ser suposta pelo Pai, por causa do

    modo diverso de significar. A objeo seria porm procedente, relativamente aos conceitos, que se

    predicam uns dos outros, como o universal, do particular.

  • RESPOSTA QUINTA. A diferena entre os nomes substantivos e adjetivos est em impli-

    carem aqueles o seu suposto; ao passo que estes no, pois ligam a realidade significada ao subs-

    tantivo. Por isso, dizem os lgicos que os nomes substantivos supem, ao passo que os adjetivos

    no supem, mas copulam. Portanto, os nomes pessoais substantivos podem ser predicados da

    essncia por causa da identidade. Nem de tal resulta, que a propriedade pessoal determine uma

    essncia distinta. Mas atribuda ao suposto implicado pelo nome substantivo. Ao passo que os

    adjetivos nocionais e os pessoais no podem ser predicados da essncia, seno com um

    substantivo adjunto. Por isso, no podemos dizer que a essncia geratriz. Podemos, porm, dizer

    que a essncia uma realidade geratriz, ou Deus gerador, supondo-se realidade e Deus pela

    pessoa; mas no, se forem supostos pela essncia. Assim no hcontradio em dizer-se, que a

    essncia uma realidade geratriz e uma realidade no geratriz; porque, no primeiro caso,

    realidade tomada como pessoa; no segundo, como essncia.

    RESPOSTA SEXTA. A divindade, enquanto a mesma em vrias pessoas, tem certa conve-

    nincia com a forma do nome coletivo. Por isso, quando dizemos O Pai o princpio de toda

    divindade, isso pode significar a universalidade das Pessoas, por ser ele de todas as Pessoas divinas

    o princpio. Nem por isso h de necessariamente ser o princpio de si mesmo, do mesmo modo

    que um indivduo do povo chamado guia de todo o povo, no, porm de si mesmo. Ou podemos

    dizer que o Pai o princpio de toda divindade, no por ger-la ou espir-la, mas, porque a

    comunica, gerando-a e espirando-a.

    1. VII de Trin., c. 2.

    2. Q. 3, a. 3.

    3. IV de Trin., c. 20.

    4. I de Trin., c. 1.

    5. Cf. Decretal Gregor. 91, 1, tit 1, c. 2.

    6. Q. 39, a. 4.

    7. Ibid.

  • Art. 6 Se as Pessoas podem ser predicadas dos nomes essenciais concretos, de modo a dizermos:

    Deus as trs Pessoas ou a Trindade.

    (I Sent., dist. IV, q. 2, a, 2, ad 4, 5,).

    O sexto discute-se assim. Parece que as Pessoas no podem predicar-se dos nomes essenciais

    concretos, de modo a dizermos Deus as trs Pessoas ou a Trindade.

    1. Pois, a proposio um homem todo homem falsa porque Scrates no todo homem,

    nem Plato, nem qualquer outro. Ora, semelhantemente, a proposio Deus a Trindade no

    pode ser verificada em nenhum dos supostos da natureza divina; pois, nem o Pai a Trindade,

    nem o Filho, nem o Esprito Santo. Logo, falsa a proposio Deus a Trindade.

    2. Demais. Os inferiores no se predicam dos seus superiores seno por predicao acidental,

    como quando digo um animal homem; pois, um acidente para o animal ser homem. Ora, o

    nome de Deus est para as trs Pessoas como um nome comum, para os inferiores, segundo

    Damasceno1. Logo, os nomes das Pessoas no podem ser predicados do nome de Deus, seno

    acidentalmente.

    Mas, em contrrio, Agostinho: Cremos que um mesmo Deus a Trindade una do nome divino2.

    SOLUO Como j dissemos3, embora os nomes pessoais ou os adjetivos nocionais no

    possam ser predicados da essncia, contudo os substantivos o podem, por causa da identidade real

    da essncia e da pessoa. Ora, a essncia divina idntica realmente no s a cada uma das pessoas,

    mas s trs. Por isso uma pessoa, as duas ou as trs podem ser predicadas da essncia, como se

    dissermos A essncia o Pai, o Filho e o Esprito Santo. E como o nome de Deus pode, por si,

    ser suposto pela essncia, como vimos4, assim como verdadeira a proposio A essncia as

    trs Pessoas tambm o ser esta outra Deus as trs Pessoas.

  • DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. Como dissemos5, o nome de homem pode,

    em si, ser suposto pela pessoa; mas, pelo seu adjunto, pode ser tomado pela natureza comum.

    Assim, falsa a proposio Um homem todo homem, por no poder ser verificada em

    nenhum suposto. Ora, o nome de Deus , em si mesmo, tomado pela essncia. Por onde, embora

    de nenhum dos supostos da natureza divina seja verdadeira a proposio Deus a Trindade

    contudo verdadeira pela essncia. E foi por no atender a isso que Porretano a negou6.

    RESPOSTA SEGUNDA. Quando dizemos Deus ou a divina essncia o Pai h predicao

    por identidade, e no como a de um inferior predicado do superior; porque em Deus no h

    universal nem singular. Por onde, como implica predicao essencial a proposio o Pai Deus

    assim tambm esta outra Deus o Pai implica predicao essencial e, de nenhum modo;

    acidental.

    1. De Fide Orth., l. III, c. 4.

    2. De Fide Catholica, Serm. I.

    3. Q. 39, a. 5, ad 5

    4. Q. 39, a. 4 ad 3.

    5. Ibid.

    6. Comm. In Boet De Trin., ad Ioannem Diac.

    Art. 7 Se os nomes essenciais devem ser apropriados s Pessoas.

    (I Sent., dist. XXXI, q. 1, a. 2; De Verit., q. 7, a. 3).

    O stimo discute-se assim. Parece que os nomes essenciais no devem ser apropriados s

    pessoas.

  • 1. Pois, devemos evitar o que pode redundar em erro de f, quando falamos de Deus; porque,

    como diz Jernimo, por palavras desordenadamente proferidas incorre-se em heresia. Ora,

    apropriar a uma das Pessoas o que comum s trs pode levar a um erro contra a f. Pois

    poderamos entender que somente a essa Pessoa convm o que se lhe apropria, ou que mais lhe

    convm, que s outras. Logo, os atributos essenciais se no devem apropriar s Pessoas.

    2. Demais. Os atributos essenciais empregados em abstrato, significam ao modo da forma. Ora,

    uma Pessoa no se comporta, em relao outra, como forma; pois a forma no se distingue do

    suposto ao qual pertence. Logo, os atributos essenciais, sobretudo empregados em abstrato, no se

    devem apropriar s Pessoas.

    3. Demais. O prprio anterior ao apropriado, pois pertence ao deste. Ora, os atributos

    essenciais, pelo modo de os compreendermos, so anteriores s Pessoas, como o comum

    anterior ao prprio. Logo, os atributos essenciais no devem ser apropriados.

    Mas, em contrrio, a Escritura (1 Cor 1, 24): Cristo, virtude de Deus e sabedoria de Deus.

    SOLUO conveniente, para explicar as verdades da f, apropriar os atributos essenciais s

    Pessoas. Pois, embora a Trindade das Pessoas no possa ser provada demonstrativamente, como

    vimos1, convm entretanto que seja declarada por certas noes mais manifestas. Ora, os

    atributos essenciais das Pessoas nos so mais manifestos, pela razo, do que as prprias; porque,

    pelas criaturas, das quais temos conhecimento, podemos com certeza chegar ao conhecimento das

    propriedades essenciais; no, porm, ao das propriedades pessoais, como vimos2. Assim, pois,

    como recorremos semelhana de vestgio ou de imagem, que descobrimos nas criaturas, para a

    manifestao das Pessoas divinas, assim tambm, para a dos atributos essenciais. E a esta

    manifestao das Pessoas pelos atributos essenciais se chama apropriao.

    Ora, as Pessoas divinas podem ser manifestadas pelos atributos essenciais, de dois modos. De um

    modo, por via de semelhana; e assim, os atributos pertencentes ao intelecto apropriam-se ao

  • Filho, que procede ao modo do intelecto, como Verbo. De um outro modo, por dissemelhana;

    assim, o poder apropriado ao Pai, como diz Agostinho, porque de ordinrio nossos pais tornam-

    se fracos na velhice, o que no devemos pensar de Deus.

    DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. Os atributos essenciais no os apropriamos s

    Pessoas de modo a os considerar prprios delas; mas para os manifestar por via de semelhana ou

    dissemelhana, como vimos. Donde se no segue nenhum erro para a f; ao contrrio, melhor se

    manifesta assim a verdade.

    RESPOSTA SEGUNDA. Se os atributos essenciais se apropriassem s Pessoas de modo que

    lhes fossem prprios, seguir-se-ia, que uma estaria para a outra na relao de forma. O que refuta

    Agostinho3, mostrando que o Pai no sbio pela sabedoria que gerou, como se s o Filho fosse

    sabedoria; de modo que o Pai s possa chamar-se sabedoria simultaneamente com o Filho, e no,

    separado deste. Ora, a verdade que o Filho se chama sabedoria do Pai porque sabedoria pela

    sabedoria do Pai. Pois, cada um , por si mesmo, sabedoria, e ambos simultaneamente so uma s

    sabedoria. Por onde, o pai no sbio pela sabedoria que gerou, mas pela sua sabedoria essencial.

    RESPOSTA TERCEIRA. Embora o atributo essencial, na sua noo prpria, seja anterior

    Pessoa; segundo o modo de inteligir, contudo, em razo de ser apropriado, nada impede seja o

    prprio da Pessoa anterior ao apropriado. Assim como a cor posterior ao corpo enquanto corpo,

    mas naturalmente anterior ao corpo branco, enquanto branco.

    1. Q. 32, a. 1.

    2. Ibid, ad 1.

    3. VII de Trin., c. 1.

    Art. 8 Se os nomes essenciais so convenientemente atribudos ou apropriados s Pessoas pelos

    santos doutores.

    (I Sent., dist. XIV, exposit. litt.; dist. XXXI, q. 2, a. 1; q. 3, a. 1; dist. XXXIV, q. 2; dist. XXXVII q. 1,

    a. 3, ad 5; De Verit., q. 1, a. 7; a. 3; ad Rom., cap. XI, lect. V; II ad Cor., cap. XIII, lect. III).

  • O oitavo discute-se assim. Parece que os nomes essenciais so inconvenientemente atribudos

    ou apropriados s Pessoas pelos santos Doutores.

    1. Pois, Hilrio diz: A eternidade est no Pai; a beleza, na Imagem; o uso, no Dom1. Com cujas

    palavras introduz trs nomes prprios das Pessoas, a saber: o de Pai, o de Imagem, prprio ao

    Filho, como se disse2; e o de Dom, prprio ao Esprito Santo, como se demonstrou3. E introduz

    tambm trs apropriados; pois, a eternidade a apropria ao Pai; a beleza, ao Filho; o uso, ao

    Esprito Santo. E parece que irracionavelmente. Porque a eternidade implica a durao da

    existncia; a beleza, por seu lado, o princpio do existir; e o usorespeita operao. Ora, a

    essncia e a operao no vemos que sejam apropriadas a nenhuma das Pessoas. Logo, parecem

    inconvenientes estes apropriados s Pessoas.

    2. Demais. Diz Agostinho: No Pai est a unidade; no Filho, a igualdade; no Esprito Santo, a

    combinao da unidade e da igualdade4. E parece que inconvenientemente. Pois, uma Pessoa no

    formalmente denominada por aquilo que se apropria a outra; assim, o Pai no sbio por

    sabedoria gerada, como se disse5. Mas no mesmo lugar acrescenta: Todas essas trs coisas so uma

    s por causa do Pai; todas iguais, por causa do Filho; todas conexas, por causa do Esprito Santo.

    Logo, no se apropriam convenientemente s Pessoas.

    3. Ainda. Segundo Agostinho, ao Pai se atribui o poder; ao Filho, a sabedoria; ao Esprito Santo,

    a bondade6. Mas, isto parece inadmissvel. Assim, a virtude prpria do poder; e, entretanto, a

    Escritura a considera propriedade do Filho, quando diz (1 Cor 1, 24): Cristo, virtude de Deus; e

    tambm do Esprito Santo, segundo o lugar (Lc 6, 19): Saa dele uma virtude que curava a todos.

    Logo, o poder no deve ser apropriado ao Pai.

    4. Ainda. Agostinho diz: No se devem compreender indiscriminadamente as palavras do

    Apstolo dele, por ele e nele, pois, diz dele, por causa do Pai; por ele, por causa do Filho; nele, por

    causa do Esprito Santo7. Mas isto parece inconvenientemente dito. Pois, o dizer nele parece

  • importar a relao de causa final, que a primeira das causas. Logo, essa relao causal deveria ser

    apropriada ao Pai, que princpio sem principio.

    5. Ainda. A verdade aparece na Escritura como apropriada ao Filho (Jo 16, 6): Eu sou o caminho

    e a verdade e a vida. E semelhantemente, o livro da vida, segundo o salmo (Sl 39, 8): Na cabeceira

    do livro est escrito de mim; o que a Glosa comenta: i. , junto do Pai, que a minha cabea. Do

    mesmo modo, a expresso Aquele que ; pois, aquilo da Escritura (Is 65, 1) Eu me dirijo s

    naes, diz a Glosa: Fala o Filho, que disse a Moiss: Eu sou quem sou. Ora, parece que esses

    atributos so considerados prprios ao Filho e no, apropriados. Pois a verdade,segundo

    Agostinho, a suma semelhana do princpio, sem nenhuma dissemelhana8; e portanto parece

    que propriamente convm ao Filho, que tem princpio. Tambm o ser livro da vida parece-lhe

    prprio, por significar um ser, de outro, porque todo livro escrito por algum. E enfim, a

    expresso Que parece prpria ao Filho. Porque, se pelas palavras de Moiss Eu sou quem

    sou a Trindade quem fala, ele poderia tambm ter dito: Aquele que o Pai, o Filho e o Esprito

    Santo mandou-me para vs.Logo, tambm a seguir poderia dizer: Aquele que o Pai, o Filho e o

    Esprito Santo mandou-me para vs, declarando uma Pessoa certa. Ora, isto falso, pois nenhuma

    Pessoa Pai e Filho e Esprito Santo. Logo, no pode a referida expresso ser comum Trindade,

    mas prpria do Filho.

    SOLUO O nosso intelecto, que parte das criaturas para chegar ao conhecimento de Deus,

    deve consider-lo do modo pelo qual as considera.Ora, o exame de qualquer criatura faz-nos

    descobrir nelas quatro coisas, na ordem seguinte. Primeira, que, considerada absolutamente, um

    ser. Segunda, que se manifesta como una. Terceira, que dotada de virtude operativa e causal.

    Quarta, que tem relao com os seus efeitos. Donde o aplicarmos a Deus essa qudrupla

    considerao.

    Por onde, se do primeiro modo considerarmos Deus absolutamente, no seu ser mesmo, ento a

    apropriao de Hilrio significa que a eternidade apropriada ao Pai; a beleza ao Filho; o uso, ao

    Esprito Santo.

  • Pois eternidade, enquanto significa o ser no principiado, tem semelhana com a propriedade do

    Pai, de ser princpio sem princpio.

    A beleza ou especiosidade tem semelhana com os prprios do Filho. Pois, trs condies exige a

    beleza. Primeiro, a integridade ou perfeio; donde vem, que coisas mesquinhas so por isso

    mesmo feias. Segundo, a proporo devida ou consonncia. E, por fim, o esplendor, que nos leva a

    chamarmos belas s coisas de colorido brilhante. Ora, pela primeira condio, a beleza tem

    semelhana com a propriedade do Filho, por trazer o Filho em si, verdadeira e perfeitamente, a

    natureza do Pai. Por isso, Agostinho, indicando-o, diz na sua exposio: Em quem, i. , no

    Filho, est suma e primeira vida, etc9. Pela segunda ela convm com a propriedade do Filho,

    como imagem expressa do Pai. Por isso chamamos bela imagem, que representa perfeitamente o

    seu objeto, embora feio. Ao que aludeAgostinho quando diz: Em quem h to grande

    convenincia, e a primeira igualdade, etc.10. Finalmente, pela terceira, convm com a propriedade

    do Filho, enquanto Verbo, que a luz e esplendor do intelecto, no dizer de Damasceno11. E a isto

    alude Agostinho, quando diz: Como Verbo perfeito a quem nada falta, e como arte de Deus

    onipotente, etc12.

    Quanto ao uso, ele tem semelhana com as propriedades do Esprito Santo, tomando-se, o uso em

    sentido lato, segundo o qual usar compreende em si tambm o gozar; pois, usar submeter

    alguma coisa ao imprio da nossa vontade; e gozar usar com prazer, como diz Agostinho13. Ora,

    o uso pelo qual o Pai e o Filho mutuamente se gozam convm com a propriedade do Esprito

    Santo, enquanto Amor. E a isso se refere Agostinho: Aquela dileo, aquele prazer, aquela

    felicidade ou beatitude chamada uso por ele14. Quanto ao uso, pelo qual gozamos de Deus, ele

    tem semelhana com a propriedade do Esprito Santo, enquanto Dom. E isso o mostra Agostinho

    quando diz: Na Trindade o Esprito Santo a suavidade do Gerador e do Gerado, derramando-se

    sobre ns com grande largueza e fertilidade15.

    Por onde, claro que a eternidade, a especiosidade e o uso se atribuem ou apropriam s Pessoas;

    no porm a essncia ou a operao. Porque, sendo por natureza comum, no tm nenhuma

    semelhana com as propriedades das Pessoas.

  • Pela segunda considerao, vemos que Deus uno. E assim, Agostinho apropria a unidade ao Pai;

    a igualdade, ao Filho; a concrdia ou o nexo, ao Esprito Santo. O que tudo manifestamente

    importa a unidade, mas de modo diferente. Assim, a unidade tem sentido absoluto, nada mais

    pressupondo. Por isso se apropria ao Pai que no pressupe nenhuma outra pessoa, por ser

    princpio sem princpio. Porm a igualdade importa a unidade em relao a outro ser; pois, igual

    a outro o ser que tem a mesma quantidade que ele.Por isso a igualdade se apropria ao Filho,

    princpio com princpio. O nexo, enfim, implica unidade de dois seres. Por isso se apropria ao

    Esprito Santo, enquanto o Esprito Santo procede das duas Pessoas.

    Por onde tambm podemos entender o dito de Agostinho, que os trs so um, por causa do Pai;

    iguais, por causa do Filho; conexos, por causa do Esprito Santo. Pois, claro que uma atribuio

    pertence primariamente ao ser ao qual primeiro convm; assim, dizemos que todos os seres

    inferiores vivem, pela alma vegetativa, na qual primeiramente se encontra a essncia da vida deles.

    A unidade, por seu lado, imediatamente existe na Pessoa do Pai, mesmo se, por impossvel,

    fossem removidas as outras Pessoas. Por isso as outras Pessoas recebem do Pai a unidade. Mas,

    removidas elas, no existe no Pai a igualdade, a qual imediatamente aparece, reposto o Filho. Por

    isso, todos se consideram iguais por causa do Filho; no que o Filho seja princpio da igualdade do

    Pai; mas que, se no fosse o Filho igual ao Pai, este no poderia chamar-se igual. Pois, a sua

    igualdade primeiramente considerada em relao ao Filho; assim, mesmo o ser o Esprito Santo

    igual ao Pai vem do Filho. Semelhantemente, excludo o Esprito Santo, nexo das outras duas

    Pessoas, no poderamos compreender a unidade de ligao entre o Pai e o Filho. Por isso que so

    conexos pelo Esprito Santo; pois, posto o Esprito Santo, compreendemos porque o Pai e o Filho

    podem chamar-se conexos.

    Segundo, porm, o terceiro ponto de vista, pelo qual consideramos em Deus a virtude suficiente

    para causar, tem lugar uma terceira apropriao, a saber, a do poder, da sabedoria e da bondade.

    Essa apropriao se funda na idia de semelhana, se levarmos em conta a realidade das divinas

    pessoas; e na idia de dissemelhana, se levarmos em conta a realidade das criaturas. Assim,

    o poder tem a natureza de princpio, e por isso tem semelhana com o Pai celeste, princpio de

    toda divindade. Mas falta, por vezes, ao pai humano, por causa da velhice. A sabedoria, por sua

    vez, tem semelhana com o Filho celeste, como Verbo, que nada mais do que o conceito da

    sabedoria. Falta, porm, s vezes aos filhos dos homens, quando ainda em tenra idade. Por fim,

    a bondade, razo e objeto do amor, tm semelhana com o Esprito divino, que Amor. Mas

    parece repugnar ao esprito terreno, por importar um certo impulso violento, conforme diz a

  • Escritura (Is 25, 4): O esprito dos robustos como um torvelinho que impele uma parede. Quanto

    virtude, ela se apropria ao Filho e ao Esprito Santo, no no sentido em que chamamos virtude

    potncia mesma de um ser, mas no sentido em que s vezes chamamos virtude ao que resulta da

    potncia desse ser, quando dizemos que um ato virtuoso a virtude de um agente.

    Finalmente, o quarto ponto de vista, pelo qual consideramos a Deus em relao aos seus efeitos,

    tem lugar a apropriao de quem, por quem e em quem. Pois, a preposio de importa por vezes a

    relao de causa material, o que no possvel em Deus. Outras vezes, porm, importa relao de

    causa eficiente; a qual convm a Deus em razo da sua potncia ativa; e por isso se apropria ao pai,

    do mesmo modo que a potncia. Quanto preposio por, ela designa s vezes a causa mdia

    (instrumental), como quando dizemos que o ferreiro trabalha por meio do martelo. E assim, s

    vezes a preposio por no um apropriado, mas prprio do Filho, segundo aquilo da Escritura

    (Jo 1, 3): Todas as coisas foram feitas por ele; no que o Filho seja instrumento, mas por ser em si

    princpio com princpio. Outras vezes, porm, a preposio por designa uma relao de forma

    pela qual o agente opera; como quando dizemos que o artfice opera pela arte. Por onde, como a

    sabedoria e a arte se apropriam ao Filho, assim tambm a locuo por quem. Enfim, a

    preposio em denota propriamente a relao de continente. Ora, Deus contm as coisas de duplo

    modo. De um modo, pelas semelhanas delas; no sentido em que dizemos que as coisas esto em

    Deus por estarem na cincia dele. E assim a locuo nele mesmo, deve apropriar-se ao Filho.

    Mas, de outro modo, as coisas esto contidas em Deus, enquanto Deus pela sua bondade as

    conserva e governa, conduzindo-as ao fim conveniente. E assim a locuo em quem se apropria,

    como a bondade, ao Esprito Santo. Nem necessrio, que a relao de causa final, embora seja

    esta causa a primeira das causas, se aproprie ao Pai, princpio sem princpio. Porque as Pessoas

    divinas, das quais o Pai o princpio, no procedem como tendendo a um fim, pois cada uma

    delas o ltimo fim; mas por uma processo natural, considerada como pertencente

    essencialmente, antes, potncia natural.

    Quanto ao que se objeta, concernente a outros pontos, devemos responder, que a verdade,

    pertencendo ao intelecto, como j vimos16, apropria-se ao Filho, embora no lhe seja prpria.

    Pois a verdade, como dissemos17, pode serconsiderada em relao ao intelecto ou ao objeto. Pois,

    assim como o intelecto e o objeto, essencialmente considerados, so realidades essenciais e no

    pessoais, assim tambm a verdade. Ora; a definio aduzida de Agostinho, da verdade enquanto

    apropriada ao Filho. Quanto ao livro da vida, ele importa diretamente o conhecimento; mas,

    indiretamente, a vida, pois , como dissemos18, o conhecimento que Deus tem dos que devem

  • alcanar a vida eterna. Por isso se apropria ao Filho, embora a vida se aproprie ao Esprito Santo,

    por importar um certo movimento interior,convindo assim com o prprio do Esprito Santo,

    como Amor. Mas ser escrito por outro no da essncia do livro, como tal, mas enquanto

    produto da arte. Por isso no implica origem, nem nada de pessoal, mas, apropriado Pessoa.

    Quanto expresso Que , ela apropriada Pessoa do Filho, no na noo prpria dessa

    expresso, mas como adjunto; a saber, enquanto que a fala de Deus a Moiss prefigurava a

    liberdade do gnero humano, operada pelo Filho. Contudo, tomadorelativamente, poderia o que

    referir-se, s vezes, Pessoa do Filho e ento seria tomado em sentido pessoal como por exemplo,

    se dissssemos: O Filho o gerado que , do mesmo modo que o Deus gerado pessoal. Mas

    tomado como indefinido, o sentido essencial. Embora o pronome este, gramaticalmente

    falando, diga respeito a uma pessoa certa, todavia qualquer coisa susceptvel de designao pode,

    gramaticalmente falando, ser designada por esse pronome, se bem no seja, por natureza, pessoa;

    assim, dizemos esta pedra e este asno. Por onde, a essncia divina, gramaticalmente falando,

    enquanto significa e suposta pelo nome de Deus, pode ser designada pelo pronome este, conforme

    a Escritura (Ex 15, 2): Este o meu Deus e eu o glorificarei.

    1. II de Trin., num. 1.

    2. Q. 35, a. 2

    3. Q. 38, a. 2

    4. I De Doctr. Christ., c.5.

    5. Q. 39, a. 7 ad 2; q. 37, a. 2, arg. 1.

    6. Vide Hug. De S. Vict., de Sacram., l. I, p. II, c. 6, 8.

    7. De Trin., L. VI, c. 10.

    8. De Vera Religione, c. 36.

    9. De Trin., l, VI, c. 10.

    10. Ibid.

    11. De Fide Orth., l. 1, c. 13.

    12. Loco prox. Cit., 3.

  • 13. X de Trin., c. 11.

    14. De Trin., l. VI, c. 10.

    15. Loco proxime cit.

    16. Q. 16, a. 1.

    17. Ibid.

    18. Q. 24, a. 1.