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ABENO ABENO Associação Brasileira de Ensino Odontológico REVISTA DA Associação Brasileira de Ensino Odontológico Revista da Associação Brasileira de Ensino Odontológico - volume 8 - número 2 - julho/dezembro - 2008 volume 8 número 2 julho/dezembro 2008 ISSN 1679-5954 ABENO ABENO ABENO ABENO

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ABENOABENOAssociação Brasileira de Ensino Odontológico

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Copyright © Associação Brasileira de Ensino Odontológico, 2005Todos os direitos reservados .Proibida a reprodução no todo ou em parte, por qualquer meio, sem autorização da ABENO .

Catalogação-na-publicação(Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo)Revista da ABENO/Associação Brasileira de Ensino Odontológico . – Vol . 1, n . 1, (jan .-dez . 2001) .– São Paulo : ABENO, 2001-SemestralISSN# 1679-5954A partir de 2005, vol . 5, n . 1, a publicação passa a ser semestral .1 . Odontologia (Periódicos) I . Associação Brasileira de Ensino Superior (São Paulo)II . ABENOCDD 617 .6BLACK D05

Associação Brasileira deEnsino OdontológicoABENO

DirEtoriA (2006 a 2010)PresidenteAlfredo Júlio Fernandes NetoVice-PresidenteOrlando Ayrton de ToledoSecretário geralOdorico Coelho da Costa Neto1º SecretárioVanderlei Luis Gomestesoureiro geralRicardo Alves Prado1º tesoureiroSérgio de Freitas Pedrosa

CoNSELHo FiSCALEduardo Gomes Seabra (Presidente)Luiz Alberto Plácido Penna Maria da Glória Chiarello Matos Omar Zina Rita de Cássia Martins Moraes

ASSESSorES Do PrESiDENtEAntonio Cesar Perri de CarvalhoElen Marise de Oliveira OletoHorácio Faig LeiteJosé Dilson Vasconcelos de MenezesJosé Galba de Meneses GomesJosé Thadeu PinheiroLuiza Isabel Taveira da RochaMario Uriarte NetoOscar Faciola PessoaReinaldo Brito e DiasRicardo Prates Macedo

ComiSSão DE ENSiNoElaine Bauer Veeck (Presidente)Cresus Vinícius Depes de Gouveia Efigenia Ferreira e FerreiraLéo Kriger Nilce Emy Tomita Rui Vicente Oppermann

ComiSSão DE PóS-grADuAçãoSigmar de Mello Rode (Presidente)Adair Luis Stefanello BusatoAna Cristina Barreto BezerraAntônio de Lisboa Lopes CostaCélio PercinotoHilda Maria Montes R . de SouzaIsabela Almeida PordeusJosé Carlos PereiraLino João da Costa Nilza Pereira da CostaSamuel Jorge Moyses

ComiSSão DE ComuNiCAçãoVera Lúcia Silva Resende (Presidente)Ângelo Giuseppe Roncalli C . OliveiraCléo Nunes de SouzaNelson Rubens Mendes Loretto

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Sumáriov. 8, n. 2, julho/dezembro - 2008

ArtigoSreferencial teórico do projeto político pedagógico do curso de graduação em odontologia da universidade Federal de Santa Catarina

Theoretical reference for the teaching project of the school of dentistry at the Federal University of Santa CatarinaCláudio José Amante, Estera Muszkat Menezes, Ricardo de Souza Magini, Ricardo Tramonte, Vera Lúcia Bosco . . . . . . . . . . . . 109

Fórum de discussão – uma ferramenta à informação

Forum of discussion – an information toolMaria Letícia Borges Britto, Cleber Keiti Nabeshima . . . . . . . . . . . 114

o ensino em clínica integrada: novos paramêtros e antigos tabus

Teaching of integrated clinic: new guidelines and old taboosEduardo José Guerra Seabra, Isabela Pinheiro Cavalcanti Lima, Alfredo Júlio Fernandes Neto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118

A universidade Federal da Paraíba no contexto do SiNAES: a experiência do Curso de odontologia

The Federal University of Paraíba in the context of the National Evaluation System of Higher Education (SINAES): the dentistry course experienceFrancineide Almeida Pereira Martins, Maria Elba Dantas Pereira de Moura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126

A relação profissional-paciente na graduação: inserção e possibilidades a partir do contexto curricular

The professional-patient relation in undergraduate courses: insertion and possibilities based on the curricular contextMaria de Fátima Nunes, Claudio Rodrigues Leles, Naiara de Paula Ferreira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132

metodologias ativas no processo ensino-aprendizagem: possibilidade para uma prática educativa mais participativa na área da saúde

Active methodologies for the teaching-learning process: the possibility of a more participative educational practice in the health sciencesMirelle Finkler, Silviamar Campogara, Kenya Schmidt Reibnitz, Vânia Marli Schubert Backes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140

Publicação oficial da Associação Brasileira de Ensino Odontológico

Editor CientíficoVera Lúcia Silva Resende (UFMG)

Editores AdjuntosÂngelo Guiseppe Roncalli C . Oliveira (UFRN)Kátia Regina Hostilio Cervantes Dias (UFRJ/UERJ)Luísa Isabel Taveira Rocha (UFG)Nelson Rubens Mendes Loretto (UPE)

Conselho EditorialAdair Luis Stefanello Busato (ULBRA-RS)Ana Christina Claro Neves (UNITAU)Ana Cristina Barreto Bezerra (UCB)Ana Isabel Fonseca Scavuzzi (UNIME/UEFS)Antonio César Perri de CarvalhoAntônio de Lisboa Lopes Costa (UFRN)Arnaldo de França Caldas Júnior (UPE)Carlos de Paula Eduardo (FO-USP)Carlos Estrela (UFG)Célio Jesus do Prado (UFU)Célio Percinoto (FOA-UNESP)Cresus Vinícius Depes de Gouveia (UFF)Eduardo Batista Franco (FOB-USP)Eduardo Dias de Andrade (UNICAMP)Eduardo Gomes Seabra (UFRN)Efigenia Ferreira e Ferreira (UFMG)Elaine Bauer Veeck (PUC-RS)Elen Marise de Oliveira Oleto (UFMG)Gersinei Carlos de Freitas (UFG)Hilda Maria Montes Ribeiro de Souza (UERJ)Horácio Faig Leite (FOSJC-UNESP)Isabela Almeida Pordeus (UFMG)Jesus Djalma Pécora (FORP-USP)João Humberto Antoniazzi (FO-USP)José Carlos Pereira (FOB-USP)José Luiz Lage-Marques (FO-USP)José Ranali (UNICAMP)José Thadeu Pinheiro (UFPE)Léo Kriger (PUC-PR)Liliane Soares Yurgel (PUC-RS)Lino João da Costa (UFPB)Luiz Alberto Plácido Penna (UNIMES)Luiz Clovis Cardoso Vieira (UFSC)Manuel Damião de Sousa Neto (UNAERP)Marco Antonio Campagnoni (FOAR-UNESP)Maria Celeste Morita (UEL)Maria da Gloria Chiarello Matos (FORP-USP)Maria da Graça Kfouri Lopes (UnicenP)Maria Ercília de Araújo (FO-USP)Nilce Emy Tomita (FOB-USP)Nilza Pereira da Costa (PUC-RS)Omar Zina (UNIVAG)Oscar Faciola Pessoa (UFPA)Raphael Carlos Comelli Lia (FEB-SP)Ricardo Prates Macedo (ULBRA-RS)Rui Vicente Oppermann (UFRS)Samuel Jorge Moyses (PUC-PR)Sigmar de Melo Rode (FOSJC-UNESP)Simone Tetu Moysés (UFPar)Vanderlei Luís Gomes (UFU)Vania Ditzel Westphallen (PUC-PR)

indexaçãoA Revista da ABENO - Associação Brasileira de Ensino Odontológico está indexada nas seguintes bases de dados: BBO - Bibliografia Brasileira de Odontologia;LILACS - Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde .

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Desempenho dos alunos de graduação durante a clínica de radiologia odontológica

Undergraduate dental student performance during dental radiology clinical activitiesPedro Luiz de Carvalho, Mônica Cristina Camargo Antoniazzi, João Marcelo Ferreira de Medeiros, Nivaldo André Zöllner, Elídia Mara dos Santos Carvalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146

Percepções dos estudantes com relação ao mercado de trabalho em odontologia

Students’ perceptions with relation to the dental job marketSimone de Melo Costa, Paulo Rogério Ferreti Bonan, Sarah Jane Alves Durães, Mauro Henrique Nogueira Guimarães de Abreu . . . 152

interação ensino-serviço e a formação do cirurgião-dentista generalista: desafio enfrentado pelo curso de odontologia da uEFS

Education-Service interaction and the training of general practitioners: the challenge faced by the dentistry course of the UEFSAna Áurea Alécio de Oliveira Rodrigues, Adriano Maia dos Santos, Renato Queiroz dos Santos Junior, Jamilly de Oliveira Musse, Maria Bernadete C . Bené Barbosa, Ana Figueiredo Bomfim Matos, Fabrício dos Santos Menezes, Rodolfo Macedo Cruz Pimenta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 160

Análise do perfil educacional, do desempenho acadêmico e da valorização à iniciação científica

Analysis of educational profile, academic performance and importance given to scientific initiationSilvia Yamauchi, Patrícia Garcia de Moura, Sílvia Helena de Carvalho Sales Peres . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167

termo de Consentimento Livre e Esclarecido ilustrado

Illustrated Term of Free and Informed ConsentLiliana Gonçalves Araujo, Carlos Gramani Guedes, Malthus Fonseca Galvão, Sérgio de Freitas Pedrosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 174

Projeto integrado de apoio técnico e laboratorial em prótese fixa da Escola técnica de Saúde – universidade Federal de uberlândia

Integrated technical and laboratorial fixed prosthesis support project of the Technical School of Health – Federal University of UberlandiaPaulo Cézar Simamoto Jr, Fabiana Santos Gonçalves, Marco Antônio de Arruda Nóbilo, Veridiana Resende Novais, Sheila Rodrigues de Souza Porta, Alfredo Júlio Fernandes Neto . . . . . . . 179

APêNDiCESÍndice de artigos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183 Normas para apresentação de originais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 184

Publicação oficial da Associação Brasileira de Ensino Odontológico

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referencial teórico do projeto político pedagógico do curso de graduação em odontologia da universidade Federal de Santa Catarina

Uma Odontologia Contemporânea, que compreende a complexidade e as incertezas da história atual da humanidade, promotora da saúde e do cuidado humanizado

Cláudio José Amante*, Estera Muszkat Menezes**, Ricardo de Souza Magini***, Ricardo Tramonte****, Vera Lúcia Bosco***

* Professor Adjunto, Doutor, do Departamento de Estomatologia e Coordenador do Curso de Graduação em Odontologia da UFSC

** Professor Adjunto, Mestre, do Departamento Ciência da Informação da UFSC

*** Professor Adjunto, Doutor, do Departamento de Estomatologia da UFSC

**** Professor Adjunto, Doutor, do Departamento de Morfologia da UFSC

rESumoApresenta o referencial teórico do Projeto Políti-

co Pedagógico do Curso de Graduação em Odonto-logia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que representa o conjunto de princípios e de valores que irá orientar a uma série ordenada de atividades e de meios, articulados entre si, para a for-mação do Cirurgião-Dentista egresso de nossa insti-tuição . O Curso de Graduação em Odontologia da UFSC ao estabelecer este referencial teórico tem por objetivo contextualizar, investigar e ensinar os novos saberes e fazeres da Odontologia, necessário para formar Cirurgiões-Dentistas habilitados para o exer-cício de uma profissão contemporânea, promotora de saúde e fundamentada nos preceitos da ética, da moral, da ciência, da filosofia e, principalmente, vol-tada para realidade da nossa instituição de ensino, bem como ser referencia no Brasil, na produção de conhecimentos nas áreas Político-gerencial, Educa-cional e Cuidado à Saúde das Pessoas .

DESCritorESEducação em Odontologia . Educação em Saúde .

Ensino . Aprendizagem . Educação Superior .

o novo Projeto Político Pedagógico do Curso de Graduação em Odontologia da Universidade

Federal de Santa Catarina (UFSC), em concordância Resolução no 3/02 CNE/CES, de 19 de fevereiro de 2002, que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacio-nais do Curso de Graduação em Odontologia apontou para a necessidade de estabelecer novas metodologias educacionais, com o objetivo de ter uma estrutura curricular que garanta a formação de um Cirurgião-Dentista capacitado para o exercício de atividades referentes à saúde, principalmente aquelas destinadas a assistência do sistema estomatognático da popula-ção, pautado em princípios éticos, legais e na compre-ensão da realidade social, cultural e econômica do seu meio, dirigindo sua atuação para a transformação da realidade em benefício da sociedade .

Neste entendimento, estas Diretrizes Curriculares Nacionais devem ser adotadas por todas as ins tituições de ensino superior . Embora tenham ocorrido movi-mentos significati vos para uma reflexão crítica sobre

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Uma Odontologia Contemporânea, que compreende a complexidade e as incertezas da história atual da humanidade, promotora da saúde e do cuidado humanizado • Amante CJ, Menezes EM, Magini RS, Tramonte R, Bosco VL

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os modelos tradi cionais de formação profissional em diversas áreas da Saúde, principalmente na Medicina e na Enferma gem, em relação à Odontologia, existe um atraso his tórico destes movimentos de mudança, exigindo da qui para frente um esforço redobrado para que possamos integrar a saúde bucal dentro do novo con texto de ação interdisciplinar e multiprofis-sional, for mando um profissional com perfil adequa-do . Em contrapartida, o Ministério da Saúde tem se preocupa do em orientar o processo de formação dos recursos humanos da área, estabelecendo para tanto parceria com o Ministério da Educação .1

Nas últimas décadas, a educação dos profissionais de saúde tem sido profundamente repensada, prin-cipalmente em decorrência das mudanças políticas, econômicas, culturais, sociais e tecnológicas do mun-do contemporâneo . Essas mudanças têm implicado em redirecionamentos nas políticas de educação e de saúde, que, por sua vez, resgatam elementos funda-mentais para repensar a educação dos profissionais de saúde . No âmbito da educação, ressalta-se a rees-truturação do ensino superior redimensionando o seu papel de atender às novas demandas sociais, no que tange às evoluções científico-tecnológicas, trans-formações do mundo do trabalho, bem como, ao processo de organização social .2

No mesmo sentido, é lembrado que a universida-de conserva, memoriza, integra e ritualiza uma he-rança cultural de saberes, de idéias e de valores, por-que ela se incube de reexaminá-la, atualizá-la e transmiti-la, o que acaba por ter um feito regenerador . A universidade gera saberes, idéias, e valores que, posteriormente, farão parte dessa mesma herança . Por isso, ela é simultaneamente conservadora e gera-dora . Sendo assim, a universidade tem a missão e a função transecular que vão do passado ao futuro por intermédio do presente; tem a missão transacional que conserva, porque dispõe de uma autonomia que a permite efetuar esta missão, apesar do fechamento nacionalista das nações modernas .3

Sendo assim, cabe as universidades a realização de um esforço permanente destinado a identificar corre-tamente os problemas de saúde de cada município ou região, bem como apontar os mecanismos necessários pra resolvê-los e o ensino e a pesquisa devem ser dire-cionados para ações de impacto social que possibili-tem melhores condições de vida para a população .4

Paralelamente a todos estes processos de mudan-ças, surgiu a necessidade de se estabelecer em nosso país a Educação Permanente em Saúde em virtude da necessidade de tornar a rede pública de saúde um local de ensino-aprendizagem do exercício do trabalho, am-pliando a formação, a gestão, a atenção e a participação

nesta área específica de saberes e de práticas .5

Esta forma educacional em saúde colocou o SUS como um interlocutor nato das instituições formadoras, na formulação e aplicação dos projetos político-peda-gógicos de formação profissional . Em virtude deste fato, os Projetos Pedagógicos deverão promover e participar de todas as atividades possíveis para concretizar este processo de Educação Permanente em Saúde .6

Ainda nesta orientação, para que o ensino se cons-titua em prática vinculada aos interesses maiores da sociedade, é necessária uma redefinição dos projetos pedagógicos dos cursos de graduação e que eles rom-pam com os principais problemas já diagnosticados, dentre eles, a fragmentação curricular, as estratégias de ensino que estimulam a passividade discente e a pouca integração ensino-serviços-comunidade .7

Desta maneira, o Projeto Político Pedagógico do Curso de Graduação em Odontologia da UFSC pre-tende re-construir, dentro deste contexto complexo, global e multidimensional as Ciências Odontológicas e a vida de seus entes sociais – usuários cli-entes, disc-entes e doc-entes (professores e servidores técnicos ad-ministrativos) – observando a realidade brasileira e de nossa instituição constituída por diferentes falas .

Pretende também superar o legado histórico do século passado, belicoso, racionalista e moderno, bus-cando intensamente a formação de um profissional de saúde contemporâneo, reflexivo com a complexi-dade político social do presente momento, responsá-vel e mediador do seu meio ambiente .

Desta forma, o seu referencial teórico representa o conjunto de princípios e de valores que irá orientar a uma série ordenada de atividades e de meios, arti-culados entre si, para a formação do Cirurgião-Den-tista egresso de nossa instituição, bem como possibi-litará durante a sua operacionalização um redimensionamento dos conceitos, das crenças e dos valores de todos os atores .8 Ele se constitui de pressu-postos metodológicos e conceitos operacionais, cen-trado no aluno como sujeito da aprendizagem e apoiado no docente como facilitador e mediador do processo ensino-aprendizagem .

PrESSuPoStoS mEtoDoLógiCoSNeste direcionamento, apontado para a edifica-

ção de uma Odontologia contextualizada, que busca superar a fragmentação curricular da Ciência Moder-na, bem como formar Cirurgiões-Dentistas aptos para o exercício de uma profissão que atenda às novas demandas sociais, este Projeto Pedagógico está cons-tituído pelos seguintes pressupostos metodológicos: i. Uma Odontologia Contemporânea, que percebe

e compreende a complexidade e as incertezas

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Uma Odontologia Contemporânea, que compreende a complexidade e as incertezas da história atual da humanidade, promotora da saúde e do cuidado humanizado • Amante CJ, Menezes EM, Magini RS, Tramonte R, Bosco VL

da história atual da humanidade, promotora de saúde e voltada para o cuidado humanizado e integral dos indivíduos, da sua família e da sua sociedade, em todos os seus níveis e dentro das possibilidades e limitações políticas, econômicas, culturais, sociais e tecnológicas de nossa Institui-ção de Ensino Superior e de nosso país .

ii. Uma formação generalista baseada em evidências científicas e atividades reflexivas, direcionada para as principais necessidades da população brasileira, do sistema de saúde vigente no nosso país e aberta para todas as transformações sociais . Além destes aspectos, deverá também promover o trabalho em equipes constituídas por diversos profissionais, das mais distintas áreas do conhecimento e em todos os tipos possíveis de unidades de saúde, ga-rantindo desta forma, profissionais voltados para a promoção integral da saúde da população .

iii. Uma inserção precoce do Curso de Graduação em Odontologia, em conjunto com os demais Cursos do Centro Ciências da Saúde da UFSC na comunidade, proporcionando assim, uma vi-vência transdisciplinar mais efetiva da nossa rea-lidade, principalmente aquelas relacionadas com o Programa Saúde da Família e com a inclusão social . Além deste aspecto, esta nova metodolo-gia de ensino odontológico deverá reorganizar e incentivar a atenção básica, como estratégia privilegiada de substituição do modelo tradicio-nal centrado na doença .

iV. Uma mudança curricular que envolva todos os Departamentos de Ensino, um número expres-sivo e possível de disc-entes, doc-entes (professores e servidores técnicos administrativos) e atores da comunidade . Que favoreça uma carga horária adequada para o aluno desenvolver atividades complementares, conforme a sua vontade .

V. Um Curso de Odontologia articulado com os seg-mentos da sociedade responsáveis pela Gestão dos Serviços de Saúde Pública, principalmente com a Secretaria de Saúde do Município de Florianó-polis, reafirmando desta maneira, a formação de recursos humanos para a assistência de saúde; a universalidade do acesso, a eqüidade e a integra-ção das ações, presentes nos princípios constitu-cionais firmados pelo Sistema Único de Saúde .

Vi. Uma Capacitação permanente dos docentes des-tinada a construir o conhecimento científico e fi-losófico com autonomia para formar profissionais de saúde que saibam pensar e, ainda, para compre-enderem e participarem ativamente do aperfeiçoa-mento da proposta didático-pedagógica do Curso

de Graduação em Odontologia da UFSC . Vii. Um processo ensino-aprendizagem direciona-

do para metodologias de ensino, de pesquisa e de extensão construtivistas, sociologicamente orientados, que disponibilize um corpo docente mediador do conhecimento, promotor de desa-fios e de reflexões para serem superados com autonomia pelos discentes . Em outras palavras, estas metodologias de ensino deverão ultrapassar o instrucionismo da didática medieval de mera reprodução do conhecimento .

Viii. Um Projeto Político Pedagógico promotor de auto-avaliação de seus procedimentos visando o aperfeiçoamento da sua prática pedagógica . Em outras palavras, este sistema deverá garantir as informações que permitam ao Colegiado do Curso decidir sobre todas as mediações e todos os redirecionamentos que se fizerem necessá-rios, garantindo desta forma, a aprendizagem do aluno . Esta maneira de operar deverá tam-bém, converter-se num instrumento referencial e de apoio às decisões de natureza pedagógica, administrativa e estrutural e aos propósitos do Sistema Nacional de Avaliação da Educação su-perior (SINAES) .

oS CoNCEitoS oPErACioNAiSPara orientar e completar ainda mais o conjunto

de princípios e de valores já estabelecidos nos pres-supostos metodológicos, serão definidos e considera-dos os seguintes conceitos operacionais:

• a autonomia acadêmica curricular, • o contexto complexo, • a promoção de saúde das pessoas e, • o cuidado humanizado.

A autonomia acadêmica curricular A autonomia é a condição do sujeito determinar- se

por si mesmo, segundo as próprias leis .9 O sujeito au-tônomo deve ser compreendido como aquele que cir-cula e atua no conjunto da vida social de forma inde-pendente, participativa, capaz de estabelecer juízos de valor e assumir responsabilidades pelas escolhas .10

Para Paulo Freire a autonomia é a capacidade de decidir-se, de tomar o próprio destino em suas mãos . Diante de uma economia de mercado que invade todas as esferas de nossa vida, precisamos lutar – também atra-vés da educação – para criar na sociedade civil a capaci-dade de governar e controlar o desenvolvimento .11

Desta forma, a autonomia acadêmica curricular de-verá estar centrada nestes princípios de autodetermi-nação e permitir ao discente a busca de novos saberes

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e de outros fazeres para organizar e ampliar a sua for-mação profissional . Neste contexto, o projeto político pedagógico deve promover o desenvolvimento da au-tonomia discente, para que os alunos aprendam e con-tinuem a aprender por conta própria e por toda a vida .

o contexto complexoNo mundo biológico, a complexidade aparece em

sua plenitude no ser humano, com seus múltiplos sistemas e aparelhos interagindo para manter a sua homeostase . No mundo social a complexidade torna-se cada vez mais importante pelos avanços tecnológi-cos que permitem comunicações cada vez mais rápi-das entre pessoas, povos e nações .12

Em virtude deste fato, a educação das pessoas de-veria resgatar o Destino multifacetado do humano:

• o destino da espécie humana, • o destino individual, • o destino social, e • o destino histórico, todos entrelaçados e insepa-

ráveis .13

Para Miranda (1998) os mais recentes paradigmas das ciências sociais apregoam a necessidade de uma aprendizagem permanente voltada ao despertar da capacidade analítica e crítica bem como ao resgate da cidadania . A base desta acepção são as transformações sócio-históricas que presenciamos . Deste modo, o tra-balho educativo torna-se protagonista da edificação de uma sociedade mais igualitária e emancipadora . Esse um dos compromissos políticos de seus agentes através do exercício da práxis intencional .14 Neste mes-mo sentido, para Freire a práxis é a ação e a reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo .15

Sendo assim, nesta proposta pedagógica, o contexto complexo deverá retomar a idéia de que toda e qualquer informação específica e pontual da práxis odontológica apresentará apenas sentido viável quando ela estiver relacionada a um contexto complexo maior e multidi-mensional, no qual ela está inserida, permitindo desta maneira, uma transformação de todos os seus entes .

A promoção de saúde das pessoasAs ações de promoção da saúde concretizam-se

em diversos espaços, em órgãos definidores de polí-ticas, nas universidades e nos espaços sociais onde vivem as pessoas . As cidades, os ambientes de trabalho e as escolas são os locais onde essas ações têm sido propostas, procurando-se fortalecer a ação e o prota-gonismo local, incentivando a intersetorialidade e a participação social .16

Em contra partida, além daquelas ações específi-

cas de promoção, de prevenção, de reabilitação e de recuperação, a saúde tem que ser praticada como um direito social .17

Ela representa uma estratégia promissora para en-frentar os múltiplos problemas de saúde que afetam as populações humanas e seus entornos . Partindo de uma concepção ampla do processo saúde-doença e de seus determinantes, este autor propõe a articulação de sa-beres (técnicos e populares) e a mobilização de recur-sos institucionais e comunitários, públicos e privados, para seu enfrentamento e resolução18 (BUSS, 2000) .

Sendo assim, ela deve ser entendida como a cons-trução de políticas públicas saudáveis, através da cria-ção de ambientes que apóiem escolhas saudáveis, com o fortalecimento da ação comunitária, desenvolvi-mento de habilidades de autocontrole e autonomia pessoal para práticas de autocuidado .

o cuidado humanizadoDeve apresentar algumas características essen-

ciais, dentre elas, a sensibilidade, o respeito e a soli-dariedade . Deve também reconhecer que os entes envolvidos, nesta proposta pedagógica, expressam uma unidade genética, anatômica e cerebral que per-mite, dentre muitas coisas, um conjunto infinito de pessoas, de personalidades e de culturas .

Da mesma forma, ao se transpor a mesma idéia de cuidado para o plano mais concreto das práticas de saú-de, permanecerá intacto o seu conteúdo fundamental, o seu significado mais relevante . Cuidar da saúde de alguém é mais que construir um objeto e intervir sobre ele . Para cuidar há que se considerar e construir projetos; há que se sustentar, ao longo do tempo, certa relação entre a matéria e o espírito, o corpo e a mente, moldados a partir de uma forma que o sujeito quer opor à disso-lução, inerte e amorfa, de sua presença no mundo . A atitude de cuidar não pode ser apenas uma pequena e subordinada tarefa parcelar das práticas de saúde .19

Para refletir ainda mais sobre esta proposta de cuidado humanizado, foi encontrado nos escritos de Heidegger20 uma antiga narrativa figurada de Higino sobre o cuidado como metáfora para a fundamenta-ção de sua ontologia existencial:

Certa vez, atravessando um rio, “cura” viu um pedaço de

terra argilosa: cogitando, tomou um pedaço e começou a

lhe dar forma . Enquanto refletia sobre o que criara, inter-

veio Júpiter . A cura pediu-lhe que desse espírito à forma de

argila, o que ele fez de bom grado . Como a “cura” quis

então dar seu nome ao que tinha dado forma, Júpiter proi-

biu e exigiu que fosse dado seu nome . Enquanto “cura” e

Júpiter disputavam sobre o nome, surgiu também a Terra

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(tellus) querendo dar o seu nome, uma vez que havia forne-

cido um pedaço do seu corpo . Os disputantes tomaram

Saturno como árbitro . Saturno pronunciou a seguinte de-

cisão, aparentemente eqüitativa: “Tu, Júpiter, por teres dado

o espírito, deves receber na morte o espírito e tu, Terra, por

teres dado o corpo, deves receber o corpo” . Como, porém,

foi a “cura” quem primeiro o formou, ele deve pertencer à

cura enquanto viver . Como, no entanto, sobre o nome da

disputa, ele deve se chamar “homo”, pois feito de húmus .

CoNSiDErAçõES FiNAiSO Curso de Graduação em Odontologia da UFSC ao

estabelecer este referencial teórico tem por objetivo con-textualizar, investigar e ensinar os novos saberes e fazeres da Odontologia, necessário para formar Cirurgiões-Den-tistas habilitados para o exercício de uma profissão con-temporânea, promotora de saúde e fundamentada nos preceitos da ética, da moral, da ciência, da filosofia e, principalmente, voltada para realidade da nossa institui-ção de ensino, bem como ser referencia no Brasil, na produção de conhecimentos nas áreas Político-geren-cial, Educacional e Cuidado à Saúde das Pessoas .

AbStrACtTheoretical reference for the teaching project of the school of dentistry at the Federal University of Santa Catarina

The aim of this article is to present a theoretical reference for the Teaching Project of the School of Dentistry at the Federal University of Santa Catarina – UFSC, comprising a group of principles and values, which will guide a series of orderly activities and means, interconnected to one another, for the education of dentists in our institution . The aim of the School of Dentistry at UFSC, when establishing this theoretical reference, was to contextualize, investigate, and teach state-of-the-art dentistry, essential to train qualified professionals to practice a contemporary profession, promoting health and based on ethics, and on moral, scientific, and philosophic principles . In addition, this reference takes into consideration the socioeconomic reality of our institution and is aimed at referencing the knowledge produced in the policy, management, educational, and health care areas .

DESCriPtorSEducation, Dental . Health Education . Teaching .

Learning . Education, Higher . §

rEFErêNCiAS 1 . Morita MC, Kriger L . Mudanças nos cursos de Odontologia e

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Recebido em 20/08/2008

Aceito em 25/11/2008

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Fórum de discussão – uma ferramenta à informaçãoMaria Letícia Borges Britto*, Cleber Keiti Nabeshima**

* Mestre e Doutora em Endodontia pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo . Professora Coordenadora do Curso de Especialização em Endodontia da Universidade Cruzeiro do Sul

** Mestrando em Endodontia pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo . Especialista em Endodontia pela Academia Brasileira de Medicina Militar e HGeSP . Professor do Curso de Especialização em Endodontia da Universidade Cruzeiro do Sul

rESumoO desenvolvimento tecnológico tem como fina-

lidade aumentar a facilidade em tudo que nos ro-deia . No entanto, na era digital, o computador está inteiramente ligado no que se concerne numa das maiores fontes de informações, no qual resulta na facilidade ao acesso de aprendizado . Viabiliza-se na rede mundial de computadores um fórum de dis-cussões, visando à interação e troca de informações entre alunos e profissionais formados, sendo eles clínicos, especialistas, mestres e /ou doutores . Atra-vés disto se consegue uma grande quantidade de informações e discussões, onde resultou num cres-cente número de acessos das mais diversas regiões do Brasil e do mundo . Diante disto, pode-se verifi-car que o fórum de discussões pode ser uma grande ferramenta de fácil acesso, que viabiliza uma im-portante fonte formadora de opinião e atualização à distância .

DESCritorESEducação à Distância . Educação em Odontologia .

Internet .

todo conhecimento científico aplicado à resolu-ção de problemas denomina-se tecnologia .7

No entanto, a tecnologia é tão antiga quanto à história da humanidade, onde os seres humanos se utilizavam recursos naturais para produzir ferramen-tas, nas quais facilitavam seu trabalho .

Exemplos clássicos da antiguidade estão no pró-prio desenvolvimento da roda, como na descoberta do fogo, que facilitavam no transporte e no melhor aproveitamento dos alimentos .12

Na área da comunicação, pode-se destacar o surgimento do telefone, do rádio e da televisão, e mais recentemente falando, o surgimento do com-putador .

O primeiro computador foi criado nos anos 40, que através de um processamento de dados era utili-zado para cálculos matemáticos, no entanto, com o passar dos anos, tal máquina foi aperfeiçoada soman-do-se novas funcionalidades, e num curto período de tempo, obtivemos um equipamento capaz de realizar as mais diversas transações de comunicação mundial em questão de segundos .1

Sendo assim, não demorou muito para que a in-formática surtisse seu efeito no âmbito doméstico, tornando-se um dos recursos mais utilizados no en-tretenimento, diversão e educação .

Hoje a rede mundial de computadores, mais co-nhecida como Internet, disponibiliza um extenso conteúdo sobre os mais diversos assuntos, facilitando assim a pesquisa e aquisição de material didático para o melhor aprendizado do aluno, juntamente com entretenimento e diversão, e, podendo até se dizer sob “supervisão” .5,6

Através das facilidades e inovações que esta tec-nologia trouxe, surgiram também vários centros de discussões que podem ser realizados, de qualquer parte do mundo 24 horas por dia e 7 dias da semana, estes centros são chamados de fóruns, nos quais po-dem ser debatidos os mais diversos assuntos, sanan-do dúvidas e interagindo as mais diversas opiniões sobre os mesmos .3

Diante disto, leva-se a crer que o ensino deve acom-panhar este processo de desenvolvimento tecnológi-co, procurando estabelecer uma ponte de interativi-

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Revista da ABENO • 8(2):114-7 115

Fórum de discussão – uma ferramenta à informação • Britto MLB, Nabeshima CK

dade entre o informante e aquele que busca o conhecimento aprimorado facilitado .

Sendo assim, este trabalho objetivou buscar uma nova forma de abordagem de ensino ao aluno, utili-zando-se um fórum na internet como ferramenta para troca de informações e dúvidas .

mAtEriAL E métoDoSDesde 2005, foi disponibilizado na Internet, um

site com a finalidade de disponibilizar os mais diversos assuntos relacionados à Endodontia para todos os interessados no assunto .

Juntamente com este, foi adicionado um fórum na linguagem de programação php,11 e criados diver-sos tópicos sobre os assuntos da disciplina, com o in-tuito de interagir os mais diversos profissionais, sendo eles formados ou não .

O usuário era obrigado a se cadastrar fornecendo algumas informações pessoais, como nome, localiza-ção, especialidade e titulação, para que suas posta-gens e comentários fossem armazenados no banco de dados do provedor do site .

Desta maneira, toda vez que o usuário visitava o fórum, ele deveria entrar com seu nome e senha para que pudesse realizar comentários sobre assuntos dis-ponibilizados, bem como criar um novo tópico para discussão .

rESuLtADoSNo primeiro trimestre de 2005, o fórum contava

com 154 cadastrados, dentre eles graduandos, espe-cialistas, mestres, doutores e clínicos gerais .

Com 3 anos de existência, este número aumentou para mais de 6 mil inscritos, dentre eles profissionais estrangeiros de diversas partes do mundo, ou até mes-mo brasileiros que foram morar em outro pais e se sentiam em casa como relatavam .

Estabelece uma interação entre aquele que busca pelo saber e o mais experiente no assunto específico – o professor e estagiários .

Muitos alunos que tinham duvidas e receios de perguntar em sala de aula, utilizaram o fórum para sanar suas dúvidas .

Houve um crescimento logo no lançamento do mesmo, onde após este período estabeleceu-se uma constante média de visitantes durante 9 meses, após este período mostrou-se uma duplicação no número de visitantes se mantendo medianamente constante num período de mais 12 meses . Após este período intensificou-se um crescimento maior e evolutivo nos meses seguintes (Tabela 1 e Gráfico 1) .

DiSCuSSãoÉ evidente a busca por informações sobre o des-

conhecido . Tendo em vista que o Curso de Graduação em Odontologia objetiva a formação do Clínico Ge-ral, muitos detalhes de diversos assuntos deixam de ser abordados .

Desta maneira, a primeira fonte de informações que o profissional irá recorrer será a Internet, para esclarecimentos de quaisquer dúvidas, ou até mesmo a atualização de seus conhecimentos, caracterizando a educação de ensino à distância .

Sendo assim, Internet torna-se uma importante ferramenta de auxílio do ensino aos jovens alunos em vigência, uma vez que os mesmos estão vivendo intei-ramente ligados na era da informática, sendo esta a sua linguagem corriqueira diária .9

Utilizando-se deste ambiente familiar desta faixa etária, estaria incentivando-se o estudo associado ao entretenimento, tornando o ambiente pedagógico

2005 2006 2007 2008

Janeiro - 210 1184 4974

Fevereiro - 265 1207 4893

Março - 359 1435 5035

Abril - 356 1316 6277

Maio - 309 1722 7603

Junho - 320 2065 8004

Julho - 368 1569 7173

Agosto - 832 2465 8633

Setembro 339 1251 3305 11194

Outubro 2073 942 4583 10044

Novembro 585 1265 5524 10054

Dezembro 287 1242 5151 -

Total 3284 7719 31526 83882

tabela 1 - Acessos mensais no período de 2005 à 2008 .

gráfico 1 - Média de acessos no período de 2005 à 2008 .

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

8000

2005 2006 2007 2008

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Fórum de discussão – uma ferramenta à informação • Britto MLB, Nabeshima CK

116

mais agradável .10

A comunicação entre alunos via internet torna-se eficaz, uma vez que diminui a tensão de participação, onde o aluno se sente mais motivado para interagir e trocar informações .8

O fórum de discussão é uma base de dados bas-tante interessante, e abrangente . Uma vez que, o mes-mo é capaz de estabelecer uma interação entre aque-le que busca pelo saber e o mais experiente no assunto específico .

Vale ressaltar que, por ser uma discussão aberta, gera certo debate, principalmente no que se refere às técnicas e filosofias aprendidas, o que torna uma fonte de esclarecimentos e justificativas sobre o que cada um propõe a defender .

No início, o intuito era estabelecer uma fonte en-tre nossos alunos especificamente e nós - professores dos mesmos - para eventuais dúvidas e esclarecimen-tos, no entanto, a visita freqüente de alunos de outras instituições, bem como profissionais já formados, tornou-se freqüente, o que acabou gerando um fó-rum aberto para todos sob nossa supervisão .

Depois de tantos assuntos debatidos, foi criada uma área específica de casos clínicos, onde os pró-prios alunos postavam seus casos realizados em clíni-ca . Uma maneira prática de expor todos os casos de-corridos pelos alunos da disciplina, fato este inviável de se realizar através de aulas, devido ao curto perío-do de tempo da carga horária do curso . Aumentando desta forma os casos clínicos que cada aluno tratava .2

Os casos clínicos eram mantidos durante um pe-ríodo em aberto para as discussões, quando excedido este tempo limite, os casos eram fechados por um professor com suas respostas e observações de toda a discussão gerada, no entanto, isto causou um certo questionamento, pois os visitantes externos que liam todo o debate depois de fechados, queriam participar do mesmo, pedindo uma reabertura do caso ou tem-po ilimitado de discussão, o que seria inviável uma vez que o caso necessitava de respostas por ser inicial-mente dirigido especificamente aos alunos .4

Com isso, as maiores dúvidas, eram geradas em cima das próprias discussões, e também por questões levantadas pelo corpo docente, com a finalidade de incentivar o senso crítico .

Através da observação dos acessos, pode-se verifi-car que muitas vezes existia uma quantidade excessi-va e desproporcional de visitas em relação aos comen-tários, o que mostra que muitas pessoas utilizam o fórum como fonte de informação e que através da própria discussão ali já estabelecida, fora suficiente

para sanar eventuais dúvidas .Pode-se observar também uma grande quantida-

de de visitas estrangeiras dos mais variados lugares do mundo como Holanda, Japão, Canadá, Argenti-na, entre outros, mesmo o site sendo totalmente em português .

Entretanto, logo especialistas não endodontis-tas, sugestionaram a abertura de fóruns de outras especialidades da Odontologia como Prótese, Den-tística, Cirurgia, Periodontia, entre outros, o que resultou num fórum especializado em Endodon-tia, porém com abertura de discussões para outras especialidades .

CoNCLuSãoO fórum de discussão pode ser uma potente fer-

ramenta para a educação, no qual promove um con-tato direto e simultâneo de diferentes profissionais se interagindo dos mais variados lugares do mundo, es-timulando a discussão, para a formulação da opinião própria e de novos conhecimentos à aqueles profis-sionais que se encontram carentes de informação pela prórpia distância .

AbStrACtForum of discussion – an information tool

The purpose of technological development is to make everything that surrounds us easier . However, in the digital era, the computer is fully associated with what can be considered one of the largest sources of information and an easy way to access learning . The worldwide network of computers makes it possible to hold forums of discussions that enable the interaction and exchange of information between students and college graduate professionals, whether dentists, spe-cialists, masters and/or doctors . These forums pro-mote a great exchange of information and discussion, and enable greater access to several different regions of Brazil and of the world . Therefore, the forum of discussions may be seen as a great tool of easy access, to obtain an important instructional distance-tapped source of opinion and updating of information .

DESCriPtorSDistance Learning . Education, Dental . Internet . §

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Revista da ABENO • 8(2):114-7 117

Fórum de discussão – uma ferramenta à informação • Britto MLB, Nabeshima CK

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Recebido em 20/08/2008

Aceito em 25/11/2008

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o ensino em clínica integrada: novos parâmetros e antigos tabus

Dentro do processo de transição que o ensino odontológico atravessa, é preciso que se busque o perfil adequado de profissionais para exercerem a docência em Clínica Integrada em níveis de complexidade crescente

Eduardo José Guerra Seabra*, Isabela Pinheiro Cavalcanti Lima**, Alfredo Júlio Fernandes Neto***

* Professor Dr . da Clínica Integrada do curso de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN Mestre em Clínicas Odontológicas e Doutor em Ciências da Saúde - UFRN

** Professora Dra . da Clínica Integrada do curso de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN Mestre em Clínicas Odontológicas e Doutora em Ciência e Engenharia de Materiais pela UFRN

*** Prof . Dr . em Reabilitação Oral pela USP - Ribeirão Preto .

rESumoAs Diretrizes Curriculares Nacionais para cursos

de graduação em Odontologia, vigorantes no Brasil desde 2002 preconizam, entre outras coisas, a dispo-sição dos conteúdos teórico/práticos de algumas dis-ciplinas em clínicas integradas com níveis de comple-xidade crescente ao longo do curso . Por isso, é preciso que se repense com real profundidade no sen-tido pedagógico sobre os objetivos de integração de conteúdos, interdisciplinaridade e transdisciplinari-dade . A partir de comentários sobre sequências clíni-cas de tratamento odontológico interdisciplinar e sugestão de uma rotina clínica de planejamento e pro-cedimentos clínicos aberta a ser transdisciplinar, dis-cutem-se características inerentes ao ensino e a práti-ca em clínica integrada, bem como algumas características sobre competências docentes para esta “nova disciplina” visando incrementar o processo de transição vivido atualmente pelas escolas de Odonto-logia de um currículo tradicional para um integralista .

DESCritorESOdontologia .

A atual prática clínica odontológica atravessa uma fase de modificações e adaptações às exigências

mercadológicas e pedagógicas . A profissão de cirur-gião-dentista passou por diversos processos evolutivos ditados por fatores ora de ordem própria à prática da mesma, ora por necessidades extrínsecas, originando então a conhecida fase da super especialização . Nesta fase da prática profissional, era praticamente consen-sual que todo dentista depois de formado deveria enveredar para uma única especialidade, o que com o passar dos anos foi ocorrendo cada vez mais cedo . Este estágio gerou desarticulações do conhecimento científico, pois foi criada certa falsa independência entre áreas hoje sabidas serem de um mesmo conhe-cimento .

Efetivamente, o que aconteceu foi que cada pro-fissional tendia a ter vasto conhecimento em uma determinada especialidade, ou seja, saber cada vez mais sobre cada vez menos dentro do horizonte dos conhecimentos odontológicos ditos como “gerais” . O resultado prático disto era a dificuldade até mesmo de diagnosticar e assim, de planejar “fora de sua alça-da” e/ou para um eventual encaminhamento a um

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O ensino em clínica integrada: novos paramêtros e antigos tabus • Seabra EJG, Lima IPC, Fernandes Neto AJ

outro colega provavelmente também especialista E esta ocorrência foi passando a ser considerada nor-mal . Em decorrência da ausência de um planejamen-to realmente transdisciplinar, mesmo que feito por vários especialistas, há prejuízos financeiros direta ou indiretamente não só para o paciente, como também para o(s) profissional(is) envolvido(s) .

Um dos efeitos dessa prática ao longo dos anos é percebido quando se estuda propostas de sequências clínicas integradas para tratamento odontológico . Dificilmente são encontradas na literatura referên-cias sobre este assunto . Na maioria, senão em todas as IES (Instituições de Ensino Superior), cada disci-plina, mesmo clínicas integradas de uma mesma es-cola, adota uma postura “própria/individual” de como planejar e conduzir os casos, apesar das reali-dades locais serem obviamente particulares e funda-mentais neste processo, não se deve esquecer que o aluno deve ser formado dentro de um contexto de desenvolvimento de raciocínio resolutivo de proble-mas . Mas, o que o mercado de trabalho já vinha sina-lizando nos últimos anos, que é a importância da abrangência prática e teórica do cirurgião-dentista, vem se concretizando, tanto nos ambientes de aten-dimento aos pacientes propriamente ditos, sejam eles públicos ou privados, quanto dentro das instituições que discutem a prática do ensino odontológico e/ou as que a regulamentam . Isto certamente não quer dizer que o profissional da Odontologia não deva mais procurar uma especialização em sua atividade, mas sim, que não deve perder o caráter generalista com perfil preventivista da profissão, perfil este que contemple uma visão integralista do profissional egresso das graduações dentro de conceitos individu-ais e coletivos de atenção à saúde .

Dentro desta necessidade de mercado, o ensino odontológico também foi compelido a se conduzir diferentemente do modo convencional, que era ex-tremamente compartimentalizado em diferentes áre-as . Este processo culminou com a publicação em 2002 de novas Diretrizes Curriculares Nacionais para cur-sos de graduação em Odontologia . Tal documento oficializa e preconiza o direcionamento realmente integralista e generalista da prática de ensino e da formação profissional . Abordar-se-ão neste texto ra-ciocínios para desenvolvimento de seqüência clínica de plano de tratamento odontológico integrado, que possibilitem não um protocolo fechado, mas direcio-namento para prática clínica generalista,seja ela pra-ticada ou não em níveis de especialidade . Também serão tecidos comentários sobre práticas de ensino

em clínica integrada que estimulem seu funciona-mento dentro de princípios integralistas .

DESENVoLVimENtoToda prática profissional requer algum tipo de

normatização para otimizar o desenvolvimento de suas atividades . Tal procedimento em Odontologia pode se dar sob forma de um protocolo de atendi-mento clínico, de uma rotina formal de procedimen-tos ou de uma seqüência clínica a que o operador segue ou guia-se por ela ao conduzir seu tratamento .

Esta formalização de procedimentos preenche lacunas didáticas, servindo como roteiro para guiar o acadêmico ou o profissional em relação ao seu moddus operandi clínico visando a melhor forma possível de condução do tratamento odontológico .

A literatura é bem rica em protocolos de atendi-mento clínico dentro das especialidades ou, até mes-mo, de procedimentos clínicos . Vários exemplos po-dem ser citados como as seqüências clínicas para confecção de uma restauração ou de uma prótese, bem como um plano de tratamento periodontal en-volvendo procedimentos básicos e avançados . Mas esta mesma literatura é pobre quando nos referimos a seqüências clínicas para planos de tratamento abrangendo mais de uma área do conhecimento odontológico, como os traçados nas clínicas integra-das das faculdades de Odontologia, por exemplo:

Em 1997, LASCALA publicou uma proposta de sequência clínica onde a ordem de procedimentos de um tratamento odontológico integrado era a seguin-te:

• Periodontia;• Cirurgia;• Endodontia;• Dentística;• Prótese;• Controle e manutenção.

Como pode ser claramente observado, esta rotina de procedimentos era concatenada por especialida-des odontológicas onde se executa primeiro o trata-mento completo de uma área de conhecimento, para só então, se passar adiante à próxima especialidade . Não se pode condenar tal raciocínio, pois ele é resul-tante de todo o processo da super-especialização atra-vessado pela ciência Odontologia ao longo do século XX . No decorrer destes anos o conhecimento foi cada vez mais se alojando em compartimentos falsamente independentes, que se tornaram disciplinas do curso de Odontologia . As diversas áreas quase só se encon-

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O ensino em clínica integrada: novos paramêtros e antigos tabus • Seabra EJG, Lima IPC, Fernandes Neto AJ

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travam na clínica integrada ou no estágio supervisio-nado do último ano de cada curso . Vale frisar que este encontro era mais multidisciplinar que interdiscipli-nar, se levarmos em consideração o que a pedagogia define para cada termo . Ratificava-se assim, na forma-ção do discente esta imagem de conhecimentos iso-lados, disjuntos e descoordenados . Tal ocorrência justificada ora pela formação inerente aos professo-res, ora pela infra-estrutura das Instituições de Ensino Superior, ou pelas duas associadas .

Então, foi se percebendo a existência de uma la-cuna considerável entre protocolos clínicos e a práti-ca clínica, quando se objetivava sua realização de maneira interdisciplinar, ou seja, conhecimentos de determinada área perpassando por outras e vice-ver-sa .

Na prática, é facilmente detectável esta falta de integração disciplinar, pois gera um aumento grande no tempo de execução de um tratamento odontoló-gico . Isso se dá por fatores como a dificuldade para visualização geral do caso do paciente (como está, como deve ser concluído) pelo docente super espe-cializado, gerando orientações específicas para essa ou aquela área, ou esse ou aquele dente, tornando mais árduo o processo de aprendizagem para o aluno, que muitas vezes modifica o procedimento inicial em decorrência de necessidades previsíveis num planeja-mento transdisciplinar . O paciente é penalizado de diversas formas, mas as que chamam mais atenção são os desperdícios de tempo, de dinheiro, e fundamen-talmente, de estruturas bucais .

Podemos citar como exemplo básico um elemen-to dentário, tratado endodonticamente, restaurado (classe I de Black), que servirá como pilar para uma prótese parcial removível a grampo e apresenta perda óssea de 2,0 mm por doença periodontal crônica . Veja só que o planejamento clínico para este paciente abrangerá somente para a área deste elemento den-tário conhecimentos em Periodontia, Dentística, Ca-riologia, Endodontia, Prótese e Oclusão . E em situa-ções assim, destacamos o primeiro nó crítico do ensino de clínica integrada: será que para se planejar este caso é necessário compor uma junta odontológi-ca com docentes destas 06 disciplinas?

Outro nó crítico se apresenta quando se aplica para este caso a sequência clínica anteriormente des-crita, pode-se ter interpretação prática que só após a alta do tratamento periodontal, este paciente seja avaliado pela endodontia para avaliação do tratamen-to endodôntico existente e logo após, enviado à den-tística para verificar se é necessário ou não trocar a

restauração . Só então que terá início o planejamento para execução da prótese . O que pode decorrer a partir deste funcionamento é que numa prática odon-tológica no currículo antigo eminentemente especia-lizado, cada professor pelo hábito adquirido, enxerga apenas a sua área de conhecimento orientando a con-dutas clínicas que inviabilizem a passagem para a eta-pa posterior do tratamento .

Por exemplo, a prótese recomenda extensão da restauração para evitar que o apoio da PPRG se aloje em um nicho composto por dente e restauração; o aluno leva o paciente à dentística para realizar este procedimento; se não houver conhecimento e\ou prática generalista do docente em dentística ou am-plo contato entre os profissionais de cada área (no caso de haver ou não coincidência de horário entre os docentes), a etapa clínica da extensão da restaura-ção por indicação protética pode deixar de ser reali-zada pelo simples fato da restauração em questão encontrar-se em bom estado de conservação e sem recidiva de cárie detectada . Daí o aluno perde tempo, e um tratamento pode deixar de ser concluído dentro de seu semestre ou ano letivo . Isso traz obviamente um prejuízo enorme ao aprendizado, pois a fragmen-tação do conhecimento tornou-se empecilho para que o aluno concluísse seu caso em tempo hábil e partisse para um novo paciente e incrementasse sua rotina clínica com supervisão docente .

Uma prática clínica com funcionamento integra-lista consiste nos profissionais que nela transitam ado-tarem posicionamento e conduta de clínico geral em seu sentido amplo da expressão, assumindo tal pen-samento como filosofia de trabalho e não como exi-gência burocrática . O clínico geral é aquele profissio-nal que tem a melhor noção de conjunto de um paciente ou indivíduo, tanto no aspecto teórico, quanto no prático, por isso encontra-se mais apto a propiciar ao paciente uma solução realmente integra-da para seu problema .

É claro que nem todos os procedimentos clínicos estão na área de atuação do clínico geral . Então, se faz necessária a presença do profissional especializa-do em determinadas ocasiões . É preciso que se deixe bem claro que não é o fato de o profissional ser espe-cialista que inviabiliza sua atividade dentro de uma clínica integrada, mas sim o seu comportamento, que obrigatoriamente, pelas diretrizes político-pedagógi-cas atuais, deve permear todas as áreas do conheci-mento .

No âmbito do ensino e da prática clínica odonto-lógica, os docentes e profissionais da Odontopedia-

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tria sempre exerceram sua rotina clínica de uma ma-neira bem integralista, mas autores referência desta área do conhecimento trazem sequências clínicas também dispostas por especialidade, tais como a transcrita a seguir:

• Periodontias;• Exodontias;• Endodontias;• Dentisteria;• Cirurgias eletivas;• Controle e manutenção.

Apesar da prática clínica na odontopediatria ser integralista e poder servir de base para a adequação de docentes ao modo de ensinar em clínica integrada, a teoria continuava em compartimentos . E, transpon-do este raciocínio para a formação odontológica de uma maneira geral, apesar dos projetos pedagógicos dos cursos de Odontologia no Brasil preconizarem o perfil do egresso como um profissional generalista, essa formação se dá de forma bastante dificultada pela compartimentalização do ensino, entre outros fatores peculiares a cada curso .

O que se deve combater e evitar dentro do perfil de ensino odontológico que vigora por lei desde 2002 é a justaposição de conteúdos . De nada adianta fusio-nar disciplinas, se o conteúdo programático da cadei-ra resultante tratar-se de uma “simples” arrumação ordinal por especialidade odontológica dentro desta nova disciplina criada . Pedagogicamente, isso não gera qualquer mudança significativa .

Uma sequência clínica mais abrangente e que te-nha como objetivo principal possibilitar planejamen-to e execução de um plano de tratamento odontoló-gico que envolva mais de uma área de conhecimento ser realizado de maneira integrada e não justaposta, pode vir a desempenhar papel importante no desen-volvimento do ensino odontológico e, no perfil do egresso, vir a preencher mais fielmente a caracterís-tica de clínico geral com visão integrada e ampla da saúde preconizada pelas diretrizes curriculares . Uma proposta de protocolo ou de seqüência clínica consi-derada ideal não deve engessar a condução do trata-mento odontológico, mas sim guiá-lo .

Pode-se aqui citar mais uma situação clínica roti-neira em pacientes de clínica integrada de faculdades de Odontologia: imaginemos um caso clínico hipoté-tico onde o paciente necessita de procedimentos em dentística e posterior confecção de uma prótese par-cial removível a grampo . Pelas seqüências clínicas convencionais, deve-se primeiro realizar todas as res-

taurações necessárias para que se passe às etapas clí-nicas da prótese . E isso inclui a moldagem de estudo para planejamento protético . O aluno pode somente recorrer ao professor de prótese após o término da dentisteria .

Acrescentando princípios interdisciplinares e transdisciplinares nesta pequena parte do tratamen-to, é sabido que quando se molda um paciente para planejamento protético, deve-se também montar o caso em articulador . E este procedimento chamado de moldagem de estudo é consensual na literatura protética que faz parte das etapas clínicas prévias ao planejamento clínico-protético . O tipo de oclusão e as relações interdentárias e intermaxilares podem interferir diretamente na execução da prótese . E o que se planeja para a prótese pode também interferir na etapa clínica da dentística indicando extensões de restaurações . Logo, justifica-se a inserção da etapa clínica moldagem de estudo em tempo anterior a dentisteria . Então, por que não instituir este procedi-mento como via de regra para o planejamento clínico integrado envolvendo necessidade de prótese?

Uma efetiva sequência clínica protocolada é aque-la que permite variações suficientes para que a mesma possa servir de guia para as mais variadas situações clínicas existentes na odontologia integrada .

Sugerimos então um roteiro de procedimentos clínicos sequenciados que pode ser aplicado em dis-ciplinas de clínica integrada, bem como orientar a atividade clínica profissional: Tal arrumação baseia-se em princípios, não em procedimentos . O tratamento é dividido em quatro etapas, quais sejam o condicio-namento do meio bucal, o preparo de boca, a reabi-litação bucal e o controle e manutenção . Dentro de cada etapa, os procedimentos clínicos podem ser ade-quados em acordo com a realidade de cada paciente . Enfim, a sequência clínica de tratamento sugerida é a seguinte:1) Condicionamento do meio bucal;2) Preparo de boca;3) Reabilitação bucal;4) Controle e manutenção .

Obs.1: O operador julga o fator principal de pro-blema do paciente e estipula a ordem de procedimen-tos (Periodontia, exodontias, Endodontia, . . .) .

Obs.2: A sequência é interrompida por qualquer urgência ou intercorrência ao longo do tratamento .

Obs.3: A moldagem de estudo deve ser realizada o quanto antes para integrar- o planejamento proté-tico ao restante das etapas do tratamento .

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Este roteiro de tratamento odontológico, como se vê, permite várias composições de ordem de procedi-mentos, o que permite adequações para vários perfis de paciente e situações clínicas que podem ser encon-tradas no âmbito de uma clínica integrada de facul-dades de Odontologia . Ela poderia ser resumida em princípios que podem ser sequenciados em: descon-taminação (condicionamento do meio bucal); prepa-ro de boca e reabilitação . Já que a organização de conteúdos clínicos de um curso de graduação deve ser integrada tendo perdido a forma de disciplinas isoladas, a apreensão por parte do aluno destes prin-cípios torna-se facilitada . Este roteiro de atendimento clínico permite a organização de procedimentos por ordem dos princípios supracitados, independente-mente da área do conhecimento odontológico que pode estar disposta em alguns cursos de odontologia como disciplinas isoladas .

A abertura concebida por esta sequência clínica dentro do princípio do condicionamento do meio bucal objetiva o abarcamento neste roteiro se não da totalidade, mas da grande maioria dos pacientes de uma clínica integrada . Apesar da proporção de pa-cientes que possuem necessidade de se começar um tratamento por procedimentos periodontais, existem também situações onde a necessidade mais premente é de procedimentos endodônticos, de procedimentos como a escariação e selamento em massa de lesões cariosas ou, até mesmo, de exodontias .

É sabido que a formação docente não contempla, na enorme maioria dos casos, direcionamento clínico generalista, pelo contrário . Então, é preciso que se discuta e planeje uma adequada transição de perfis profissionais e, quanto maior for o número de instru-mentos que auxiliem a prática docente neste período, melhor se dará este processo .

Como organizar este funcionamento dentro da prática docente em clínica integrada? Um ponto cha-ve desta conduta está na etapa clínica do exame clí-nico para traçar o plano de tratamento . O planeja-mento definido em acordo com uma sequência clínica deve ser respeitado, salvo raríssimas exceções, por qualquer docente que vá orientar alguma etapa clínica de realização do tratamento . Entre os profes-sores deve haver o respeito mútuo de eventuais dife-renças de pensamento e de condutas . Tais discrepân-cias, se bem exploradas, possibilitam inclusive maior riqueza de aprendizado ao aluno, pois estimularão o desenvolvimento de seu senso crítico . Em níveis ini-ciais das clínicas integradas de cursos de graduação em Odontologia, contato, integração e boas doses de

afinação são extremamente importantes na condu-ção do processo de ensinagem/aprendizagem, pois mais importante é o embasamento que deve ser pas-sado ao aluno em relação à variação dos tipos de con-duta clínica para cada situação . Se os princípios de condicionamento do meio bucal, preparo de boca e reabilitação forem bem sedimentados nos alunos, eles aceitarão com muita propriedade as diferenças de opiniões inevitáveis existentes no corpo docente . À medida que a complexidade vai aumentando, pode-se até mesmo estimular a tomada de decisões pelo aluno dentre as várias opções existentes descritas na literatura e na prática clínica .

A gestão por parte de todos os professores (e não só do coordenador da disciplina) das diferenças de opiniões sobre os mais variados assuntos dentro da odontologia (como no exemplo clássico: amálgama X resina composta em dentes posteriores) é ponto essencial para o bom funcionamento de uma discipli-na de clínica integrada . Isso pode perfeitamente ser direcionado para um melhor nível de aprendizado, se houver respeito mútuo entre o corpo de professo-res bem como conhecimento amplo sobre as várias opções clínicas de procedimentos . Isso quer dizer que, em exemplo prático: um determinado professor vai orientar uma etapa clínica de uma restauração classe II de Black em um elemento dentário planeja-da por outro docente junto ao aluno para ser confec-cionada em resina composta . Este docente pode ser “partidário” do amálgama de prata, pode também (e deve) explicar o porquê de sua preferência com bas-tante rigor científico\clínico e cuidado para não de-negrir o pensamento do colega . Mas ele não deve deixar de dar seguimento ao caso clínico orientando o procedimento restaurador em resina composta . Fa-zendo isso, certamente o aluno sairá enriquecido, pois entrou em contato teórico/prático com diferen-tes convicções teóricas e pode praticar diferentes con-dutas clínicas ao longo de uma disciplina, além, de aumentar a sua bagagem teórico/prática para futuras discussões e decisões sobre planejamento de casos .

Para que isso funcione com propriedade, alguns requisitos básicos de um docente para trabalhar na clínica integrada são importantes:

• saber trabalhar em equipe, para que haja realmen-te o respeito mútuo entre docentes;

• conhecimento amplo para poder conduzir trata-mentos clínicos com diferentes procedimentos;

• perfil generalista da prática da profissão e do en-sino;

• abertura para conhecer e praticar diferentes con-

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dutas e técnicas em procedimentos clínicos, como por exemplo, em uma etapa clínica de moldagem de trabalho para confecção de uma coroa, o do-cente pode dar opção de que técnica o aluno vai escolher e, se a técnica for adequada ao caso, pro-ceder a orientação .

A equipe docente das disciplinas de clínica inte-grada de um curso de graduação em Odontologia deve ter composição de profissionais de ensino versá-teis de formação e, principalmente, de atuação . Não se pode formar o aluno cirurgião-dentista clínico ge-ral se a essência da prática docente nas clínicas inte-gradas tiver caráter especialista compartimentalizado por disciplinas . Não se pode pensar profundamente em integração, interdisciplinaridade e transdiscipli-naridade em clínica odontológica integrada se os agentes formadores deste processo atuarem cada um ensinando “sua área” de especialidade . A equipe do-cente de clínica integrada deve atuar em caráter inter e transdisciplinar envolvendo as especialidades como áreas de um mesmo conhecimento, e cada professor deve ser apto a orientar o aluno científica e tecnica-mente em procedimentos clínicos envolvendo todas as áreas do conhecimento odontológico, principal-mente em procedimentos relativos à área de atuação do clínico geral . O cumprimento desta condição pelo docente facilita extremamente sua adaptação ao en-sino de clínica integrada pelo currículo integralista proposto pelas diretrizes curriculares atuais vigentes desde 2002 .

As faculdades de Odontologia devem primar pela composição do quadro docente das clínicas integra-das por profissionais com perfil adequado evitando assim que professores sejam escalados para a clínica integrada meramente pela disponibilidade de horá-rio, facilidade de conciliação ou simples cumprimen-to de sua carga horária . Um bom caminho está na forma de contratação de profissionais pelas escolas . Os editais de concursos públicos para Clínica Integra-da devem ser o mais abertos quanto forem possíveis, para que os passos do processo seletivo selecionem profissionais com perfil adequado, modelo o qual já se pode encontrar em cursos como enfermagem, far-mácia, etc .

Então, sugere-se que concursos para clínica inte-grada exijam em seu edital o seguinte perfil de titu-lação: graduação em odontologia + mestrado (sem especificar área de concentração) + doutorado (sem especificar os cursos) .

A razão disso é que as etapas do processo (prova

escrita, análise de títulos, prova didática) em conjun-to sejam mais decisivas que a titulação do candidato . Nos dias de hoje encontramos profissionais que dire-cionaram suas pós-graduações em áreas como Bioquí-mica, Ciências da Saúde, Engenharia de Materiais, Educação, Pedagogia, entre outras . Dentro destas áreas podem estar docentes aptos a exercerem ativi-dade em clínica integrada, ou não, mas aí o processo seletivo detecta e filtra adequadamente . O mesmo princípio vala para pós-graduações como clínicas odontológicas ou em odontologia, onde estas podem abranger essências generalistas ou direcionar profis-sionais para uma área só, dificultando sua adaptação ao sistema ideal da clínica integrada .

Quanto à atividade docente em clínica integrada, imaginemos um expediente em uma clínica onde a equipe docente contém um professor de prótese, um de endodontia, um de periodontia e dois de dentís-tica clínica, além de 40 alunos atendendo em duplas . Se observarmos a relação professor/aluno exigida pelo Ministério da Educação, não há problema al-gum . Mas, na hipótese nada improvável de metade dos alunos marcarem seus pacientes de prótese para este dia por qualquer que seja a razão, o resultado obtido é de um docente para 20 alunos e os outros 04 docentes para os demais 20 alunos dependendo também dos procedimentos daquele dia de atendi-mento clínico . Pedagogicamente, nesta situação exis-te 01 docente sobrecarregado e 04 subaproveitados . O professor com sobrecarga de trabalho tem seu de-sempenho de ensino extremamente prejudicado, pois há um grande desgaste físico e mental deste de-vido ao grande número de orientações neste dia onde é sabido que a variância de nuances clínicas de um caso clínico para outro é praticamente imensurável . O desgaste aumenta a probabilidade de erros . Além do exposto, uma sobrecarga de trabalho gera como produto o fato do docente em questão limitar-se em suas orientações simplesmente a como realizar o pro-cedimento clínico . Perde-se então o objetivo princi-pal da prática no ensino odontológico: integrar teo-ria, ciência e prática, afinal o professor assoberbado deixa de usar a situação clínica que se apresenta a cada aluno para remetê-lo ao conhecimento teórico para tomar as decisões clínicas apropriadas . Logo, o prejuízo pedagógico de situações como esta é bastan-te relevante para o aluno .

As clínicas integradas ou as disciplinas clínicas compõem em média 35% da carga horária total de um curso de Odontologia e a prática clínica deve ser encarada pela gestão dos cursos e pelos docentes

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como um ambiente de ensino, como uma sala de aula onde o aluno vai receber subsídios teórico\práticos para a sua futura atividade profissional . Não se deve ver a clínica de uma faculdade puramente como o local onde o estudante de odontologia vai pôr em prática, conhecimentos recebidos em teoria . Tal visão seria uma dicotomização desnecessária e improduti-va .

Vivemos uma fase de transição entre os modos de disposição dos conteúdos e de ensino em faculdades de Odontologia . As Diretrizes Curriculares nacionais em sintonia com a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Superior preconizam a eliminação da or-ganização dos currículos em disciplinas isoladas com objetivo de evitar justaposição de conteúdos sem re-lacioná-los . É preciso que se tome muito cuidado nes-sas organizações curriculares, pois, com a fusão de disciplinas como periodontia, dentística, endodontia e oclusão, por exemplo, em disciplinas de clínicas integradas com níveis de complexidade crescente (tendência encontrada em cursos de odontologia atualmente), os conteúdos realmente sejam ordena-dos de maneira integrada, e não, que sejam justapos-tos dentro da carga horária destas disciplinas manten-do arranjo de disciplinas independentes . A situação compreende um agravante de risco, pois a formação dos docentes não se deu desta maneira na graduação, nem ao menos na pós-graduação . Então, o novo do-cente em Odontologia deve buscar auxílio e se apro-fundar no campo da Pedagogia e minimizar o aspec-to tradicional e intrínseco presente em cada um de nós onde ciência e técnica operatória são pontos fun-damentais da prática docente . O perfil do estudante atual exige que novas ferramentas de ensino sejam aplicadas, principalmente quando se fala sobre con-teúdos teóricos a serem ministrados .

Quando se pensa pedagogicamente, a construção de todo este processo deve ser feita coletivamente . Este raciocínio é consensual para qualquer autor em Pedagogia . Desde o projeto pedagógico de curso até o planejamento de cada um dos blocos disciplinares que possam ser formados este princípio é bastante crítico . A importância desta participação coletiva des-de o nascedouro é de extrema importância para o sucesso de sua implantação . Segundo PERRENAUD, se um projeto pedagógico é construído individual-mente ou por poucos, o resultante disso é que o res-tante da equipe docente incorpora uma tendência a se portar primariamente como críticos e, em seguida tomar papel de opositores do processo . E isso também vale para quando se traça o planejamento e execução

de uma composição de conteúdos a serem integrali-zados dentro da clínica integrada de complexidade crescente . As consequências de aprendizado para o aluno e de funcionamento da disciplina para os do-centes e gestores costumam ser desastrosas a curto e médio prazos, e isso pode gerar uma falsa impressão de ser falha no princípio pedagógico integralista .

Para finalizar, a Associação Brasileira de Ensino Odontológico (ABENO), em publicação em 2007 que trata da Implantação das Diretrizes Curriculares Na-cionais em Odontologia, relata uma predominância em valores percentuais bastante relevantes de cursos de graduação com graus de inovação em suas práticas de ensino consideradas incipientes ou até mesmo ain-da na forma tradicional . Ou seja, mais de cinco anos após a implantação das DCN’s, as escolas de odonto-logia estão encontrando dificuldades para realmente se adaptarem a práticas educacionais exigidas pela Lei de Diretrizes e Bases . Acreditamos que se conseguir-mos realmente instituir o funcionamento das clínicas integradas em complexidade crescente com princí-pios integralistas e permear os caminhos da transdis-ciplinaridade dentro destas disciplinas, daremos im-portante salto para a melhoria destes índices .

CoNCLuSõES• O caráter integralista na formação do cirurgião-

dentista com características de um cirurgião-den-tista com visão integral da saúde, capaz de atuar na atenção integral à saúde deve se firmar para cursos de graduação em Odontologia .

• A interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade são ojetivos a serem buscados pela prática docen-te, pois trata-se de um processo que só tende a ser mais profundamente recomendado pelas instân-cias superiores da educação superior .

• Dentro do ensino odontológico, as clínicas inte-gradas em níveis de complexidade crescente apontam para uma prática transdisciplinar, per-passando pela interdisciplinaridade de ensino e de formação profissional .

• É preciso que se planeje e execute o processo de transição de modos de ensino com bastante esme-ro, pois a simples adequação de conteúdos não caracteriza mudança significativa do processo en-sino\aprendizagem .

• O preparo docente tem fundamental importância para este processo .

• O fato de o professor ter formação especializada ou não, em absoluto, determina sua capacidade de estar presente na condução coletiva das clínicas

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integradas, mas sim sua conduta, que deve ter ca-ráter generalista e permear por todas as áreas do conhecimento dentro das competências atribuí-das ao clínico geral .

• Somente o desempenho generalista de cada mem-bro da equipe docente em clínica integrada pode contribuir efetivamente para dar ao aluno a for-mação profissional que as DCN’s se propõem .

AbStrACtTeaching of integrated clinic: new guidelines and old taboos

Since 2002, Brazilian National Curricular Guide-lines for undergraduate dentistry courses propound that the theoretical/practical content of some inte-grated clinic subjects with a growing level of complex-ity be made available throughout the duration of the course . Based on this, it is indispensable to rethink deeply and pedagogically about the real aims of sub-ject integration, both interdisciplinarily and transdis-ciplinarily . This article addresses the characteristics inherent to teaching and practicing the discipline of integrated clinic, based on comments about clinical sequences of interdisciplinary dentistry treatments and a suggested clinical planning routine and clinical procedures open to becoming transdisciplinary . It also discusses some teaching skill characteristics for this “new way of teaching” seeking to broaden the

present transition process experienced by dentistry courses from a traditional to an integral curriculum .

DESCriPtorSDentistry . §

rEFErêNCiAS 1 . Brasil . Ministério da Educação . Conselho Nacional de Educa-

ção . Câmara de Educação Superior . Resolução CNE-CES 3, de

19\02\2002 Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Cur-

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de março de 2002 . Seção 1, p . 10 .

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Implantação das Diretrizes Curriculares Nacionais em Odon-

tologia . Dental Press Editora . 2007 . 160 p .

4 . Perrenaud, P . 10 Novas Competências para Ensinar . Porto Ale-

gre . Artes Médicas Sul . 2000 .

5 . Universidade Federal do Rio Grande do Norte . Lei de Diretri-

zes e Bases da Educação Nacional . Estatuto e Regimento Geral

da UFRN- Ministério da Educação e do Desporto . Natal: EDU-

FRN; 1998 .

Recebido em 20/08/2008

Aceito em 25/11/2008 .

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A universidade Federal da Paraíba no contexto do SiNAES: a experiência do Curso de odontologiaFrancineide Almeida Pereira Martins*, Maria Elba Dantas Pereira de Moura**

* Professora do Departamento de Clínica e Odontologia Social-UFPB . Membro da CPA/UFPB

** Coordenadora Geral de Avaliação dos Cursos de Graduação e das Instituições de Ensino Superior do INEP/MEC

“Uma das principais finalidades do conhecimento é pro-

porcionar ao homem condições e possibilidades de uma

avaliação crítica do seu modo pessoal e social de viver .

Assim, o conhecimento se torna uma mola propulsora de

mudanças e transformações sociais . Necessário se faz, para

tanto, que o sujeito cognoscente possua coragem . Caso

contrário, como se opor, quando necessário, aos hábitos

arraigados, às interpretações críticas da realidade, ao po-

der que pretende amordaçar o conhecimento, às honra-

rias e recompensas que, em determinadas ocasiões, fun-

cionam como verdadeiros obstáculos na estrada da

obtenção da certeza e da busca da verdade?” (LUCKESI,

2000)5

rESumoEste artigo relata a experiência da Universidade

Federal da Paraíba-UFPB no contexto do Sistema Na-cional de Avaliação do Ensino Superior-SINAES . Dis-cute os principais resultados obtidos com a operacio-nalização da Auto-Avaliação Institucional e da Avaliação das Condições de Oferta do Curso de Gra-duação em Odontologia e do ENADE 2004 . Os rela-tórios dessas avaliações foram gerados com base na pesquisa documental e de campo realizadas pelas Co-missões de Avaliação (internas e externas), e apresen-tam um diagnóstico das condições organizacionais e estruturais do Curso e da Instituição . Destaca a rele-vância desses relatórios na elaboração do Projeto Pe-dagógico Institucional, no Plano de Desenvolvimento Institucional e nas atividades de operacionalização e auto-avaliação do Projeto Político Pedagógico do Cur-so de Odontologia .

DESCritorESLegislação do Ensino Superior . Avaliação Institu-

cional . Avaliação dos Cursos de Graduação . Plano de Desenvolvimento Institucional .

CoNtEXtuALiZAção HiStóriCA DA AVALiAção DA EDuCAção SuPErior brASiLEirA

A convivência da educação superior brasileira com processos institucionais avaliativos data de 1977, quando foi implantada a avaliação dos cursos de pós-graduação pela Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior-CAPES .

Somente na década de noventa, com o lançamen-to das bases do Programa Nacional de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras -PAIUB, a avaliação do ensino superior começa a se delinear, isso após várias tentativas de implantá-la, ao longo da década de 80, e de se tornarem freqüentes, na mídia escrita e eletrônica, as críticas ao sistema de ensino superior .

Pouco tempo depois, esse programa, inspirado em documentos da Associação Nacional dos Dirigen-tes das Instituições Federais de Ensino Superior-AN-DIFES, caracterizado por princípios emancipatórios e participativos, pela livre adesão das universidades, através da concorrência de projetos, e por ter dotação financeira própria, foi encerrado, abruptamente, pelo MEC, lançando por terra, na maioria das insti-tuições que a ele aderiram, os esforços empreendidos para instalar, nesses meios, a cultura da avaliação .

Três anos mais tarde, em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação-LDB preceituou a avaliação como prática para a supervisão e a regulação do Sis-tema Federal de Ensino Superior, atribuindo-lhe a função de realizar o monitoramento da oferta de edu-cação superior .

A partir de então, a avaliação dos cursos de gra-

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A Universidade Federal da Paraíba no contexto do SINAES: a experiência do Curso de Odontologia • Martins FAP, Moura MEDP

duação e das Instituições de Educação Superior-IES começa a aparecer como um processo contínuo e renovável em função dos limites de prazos impostos pela LDB para a autorização e reconhecimento de cursos e para o credenciamento de IES, todos reno-vados periodicamente mediante processo regular de avaliação .

Na seqüência, o Decreto N . 2 .026, de 10 de outu-bro de 1996, estabeleceu os procedimentos de avalia-ção mediante os seguintes instrumentos (BRASIL, 2004):1

a) Avaliação do desempenho individual da IES, em ensino, pesquisa e extensão;

b) Avaliação do ensino de graduação pelas condições de oferta desse ensino, pelos resultados dos exa-mes nacionais de desempenho dos estudantes e pela avaliação da pós-graduação − esta a continuar sendo feito pelas CAPES .

Quando isso ocorreu, já estava em curso a polê-mica Avaliação Nacional dos Estudantes-ENC, tam-bém conhecida como “PROVÃO”, cuja recente publi-cação dos primeiros resultados havia gerado uma torrente de críticas e de protestos que a acompanha-riam até a sua extinção .

Note-se que essas avaliações, propostas pelo Esta-do, findaram por tomar uma feição de instrumento de poder político, aplicado com fins que contraria-vam os propósitos e as ações emancipatórias propug-nadas no PAIUB .

No marco dessas contradições, a Conferência Mundial sobre Educação Superior realizada pela UNESCO, em Paris, no ano de 1998, realizava a dis-cussão dos sistemas e instituições de educação supe-rior na América Latina, apontando sérios problemas que comprometiam a qualidade, a pertinência e a equidade de suas contribuições às sociedades que os sustentavam .

A esse propósito, Dias Sobrinho (1998)4 já pontu-ava que a qualidade da educação superior está asso-ciada a três elementos:

• A qualidade é um conceito relativo a um determi-nado padrão de referência adotado, o que signi-fica ser possível, num universo de IES situadas em contextos socioeconômicos diferentes, configura-rem-se diferentes padrões de qualidade acadêmi-ca;

• A qualidade implica na necessidade de se estabe-lecer um sistema valorativo, dentre os vários siste-mas possíveis num determinado contexto societá-rio, a fim de evitar os riscos de transformar a qualidade numa utopia de referência, desvincula-

da de um determinado meio social;• Para emitir um juízo de valor sobre a qualidade

do ensino superior é indispensável estabelecer-se elementos comparativos (como, por exemplo, a relação entre avaliação externa e avaliação interna de um determinado curso de graduação) .

Nesse contexto diversificado de concepções filo-sóficas e políticas, emergiu o Plano Nacional de Edu-cação (PNE), editado por meio da Lei N . 10 .172, de 2001, que dispõe no seu art . 4o, que a União “institui-rá o Sistema Nacional de Avaliação e estabelecerá os mecanismos necessários ao acompanhamento das metas constantes do Plano Nacional de Educação”

Para atender a essas determinações legais, foi pu-blicado o Decreto de Nº . 3 .860, em julho de 2001, apresentando, em caráter definitivo, a partir de uma orientação política neoliberal, as bases conceituais e metodológicas para a avaliação da educação superior .

Porém, como instrumento de investigação e sen-do, também, uma construção sócio-histórico-cultural, a avaliação permite a coexistência de concepções di-ferenciadas e antagônicas, estabelecendo o contradi-tório . Esse fato, aliado a um caldo de cultura favorável, terminou por fazer germinar novas concepções de avaliação impregnadas das trocas e das influências de parte a parte .

Finalmente, emergindo de um processo democrá-tico e participativo coordenado pelo MEC, em 14 de abril de 2004, foi promulgada a Lei n . 10 .861, que instituiu o Sistema Nacional de Avaliação da Educa-ção Superior – SINAES, com o objetivo de assegurar processo nacional de avaliação das IES, dos cursos de graduação e do desempenho acadêmico de seus es-tudantes, atendendo ao art . 9o, VI, VIII e IX da LDB/96 (BRASIL, 2004) .2

Essa avaliação, concebida para ser um processo que “efetivamente vincula a dimensão formativa a um projeto de sociedade comprometido com a igualdade e a justiça social”, está fundamentada nos seguintes princípios, segundo as Diretrizes para a Avaliação das Instituições de Educação Superior (MEC/ CONAES, 2004):6,7

• Responsabilidade social com a qualidade da edu-cação superior;

• Reconhecimento à diversidade do sistema;• Respeito à identidade, à missão e à história das

instituições;• Globalidade institucional, pela utilização de um

conjunto significativo de indicadores considera-dos em sua relação orgânica;

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• Continuidade do processo avaliativo como instru-mento de política educacional para cada institui-ção e para o sistema da educação superior em seu conjunto .

O SINAES, portanto, expressa importante mudan-ça no sentido de superar uma lógica de avaliação fragmentária e classificatória porque estabelece maior abrangência e integra diferentes procedimen-tos avaliativos comprometidos com a qualidade aca-dêmica .

Consegue, assim, avançar para além da verificação realizada verticalmente (do MEC para as instituições e cursos), ao gerar um processo de avaliação compre-ensivo e pedagógico que parte da IES e a ela retorna, passando pela ação mediadora do poder público .

Outra vertente positiva desse processo advém de sua forma de operacionalização, pelo Instituto Na-cional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, segundo as diretrizes da Comissão Nacio-nal de Avaliação da Educação Superior-CONAES . Esse modelo operacional propicia uma melhor inte-gração da avaliação com as políticas de Estado, uma utilização mais eficiente dos resultados nos proces-sos regulatórios, com esperados reflexos sobre a me-lhoria da qualidade da educação superior brasileira, em seu conjunto .

AVALiAção iNStituCioNAL NA uFPb: A EXECução Do ProJEto AVALiES

O projeto Avalies-UFPB teve início em 2004, e foi elaborado por 11 comissões (CpDs) constituídas de discentes, docentes, funcionários técnico-administra-tivos e membros da comunidade externa, após a rea-lização de sete seminários de divulgação e sensibiliza-ção da comunidade universitária, com vistas a obter múltiplas e diferenciadas contribuições A metodolo-gia do projeto previu quatro etapas para o seu desen-volvimento:

• Pesquisa documental;• Pesquisa de campo, para suprir possíveis deficiên-

cias documentais;• Análise e crítica dos documentos e dados;• Elaboração e divulgação do relatório final.

Concluído em dezembro desse mesmo ano, o pro-jeto de Auto-avaliação Institucional da UFPB foi en-caminhado à apreciação da CONAES, vindo a receber o conceito máximo dessa comissão .

Em maio de 2005, quando as comissões de avalia-ção, coordenadas pela Comissão Própria de Avalia-

ção-CPA e pela Comissão Executiva de Avaliação Institucional-CEAI, tiveram acesso aos documentos indispensáveis à realização da pesquisa documental, já se preparavam para a fase da pesquisa de campo, tendo elaborado os seus instrumentos de coleta de dados .

Inicialmente, pensou-se em disponibilizar esses instrumentos on-line, objetivando-se conseguir uma participação mais ampla da comunidade acadêmica . Verificada, porém, a impossibilidade institucional de concretizar essa ação em tempo compatível com o demando para a aplicação dos questionários eletrô-nicos, as comissões optaram por realizar a pesquisa de campo com o emprego dos tradicionais formulá-rios impressos .

Nessa fase, foram realizadas as “caravanas de ava-liação”, para a aplicação dos instrumentos de coleta de dados nos nove centros da UFPB . Os membros da Comissão Executiva de Avaliação Institucional-CEAI compareciam em conjunto para aplicar os questioná-rios e realizar as entrevistas, demonstrando unidade, integração e compromisso com o processo avaliativo .

Representantes do centro visitado se responsabi-lizavam pela preparação do ambiente nos Centros e o convite de participação à comunidade . Vale ressal-tar, o apoio incondicional dos diretores dos centros à auto-avaliação institucional e às comissões de ava-liação mostrando-se bastante receptivos e grandes colaboradores .

Uma vertente metodológica que se revelou das mais eficazes foi trabalhar a auto-avaliação de forma integrada com a avaliação das condições dos cursos de graduação (entre o final de 2004 e o início de 2006, foram avaliados 14 cursos, de um total de 43) e com o ENADE 2005 - 2006 .

Essa nova frente de atuação produziu excelentes resultados para a avaliação institucional e, também, para a administração superior: as informações conti-das nos diversos relatórios e documentos produzidos pela CPA/CEAI, sobre o ENADE e a AVG, foram de grande valia àquele momento em que estavam sendo elaborados o Projeto Pedagógico Institucional e o Plano de Desenvolvimento Institucional .

A consolidação do relatório final, na sua versão preliminar, foi realizada de forma semelhante à ado-tada para o projeto AVALIES-UFPB: reuniram-se os relatórios produzidos pelas onze comissões, realizou-se a análise do seu conteúdo, e, obtido o consenso sobre o texto completo, finalizou-se o documento .

Em seguida, o relatório foi reproduzido e encami-nhado para a apreciação da Reitoria, Conselhos Su-

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periores, Direções de Centro, Coordenações de Cur-so e Chefias Departamentais, estabelecendo-se um prazo para o recebimento, por escrito, de adendos, correções e sugestões .

Recebidas as contribuições, foram apreciadas pe-las comissões e, quando houve consenso, incluídas ao texto do relatório . Concluídos os ajustes, o mesmo foi impresso, dando-se-lhe ampla divulgação (MOURA et al., 2006)8

AVALiAção DAS CoNDiçõES DE oFErtA Do CurSo DE oDoNtoLogiA DA uFPb

A experiência de avaliação do Curso de Odonto-logia da UFPB remete a 2002, quando da criação pela CPME/PRG da Comissão de Avaliação da Gradua-ção, que em caráter experimental instituiu a avalia-ção de desempenho docente, na óptica do discente, conferindo ao aluno relevância, credibilidade e par-ceria no processo avaliatório . Esse instrumento, apli-cado nos períodos letivos 2002 .2 2003 .1 e 2003 .2, aferiu ao Curso de Odontologia um Índice de De-sempenho Docente médio de 7 .0, em uma escala de 0 a 10 . Esperava-se que os resultados dessa avaliação subsidiassem políticas de melhoria do ensino da gra-duação no âmbito da Instituição . No entanto, verifi-cou-se a descontinuidade de uma ação transforma-dora de avaliação do processo ensino-aprendizagem que contribuía para a emancipação do aluno, como sujeito da ação, e aos docentes uma análise crítica do seu papel como educador .

A criação do SINAES como política de avaliação superior do MEC, inovou pela sua abrangência, pro-fundidade e metodologia ao integrar a Auto-avalia-ção, a Avaliação das Condições de Graduação-ACG e o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes-ENADE, e instituiu uma gama de informações diver-sificadas e extremamente relevantes para a avaliação e o planejamento acadêmico da IES, em particular, da UFPB .

No contexto do Curso de Odontologia, o proces-so de avaliação conquistou adesão e a participação responsável dos gestores, técnicos e docentes com a criação de uma comissão interna de avaliação, que foi subdividida em três grupos, segundo as dimensões a serem analisadas:

• organização didático-pedagógica, • corpo docente e • instalações.

Cada grupo foi responsável pela pesquisa docu-mental das respectivas dimensões, análise e compro-

vação das informações encaminhadas à coordenação . Essa fase, considerada a “anamnese”, detectou as po-tencialidades e fragilidades que fomentaram o diag-nóstico do curso .

Do ponto de vista da organização didático peda-gógica, o curso tinha como potencialidade um proje-to político pedagógico recém implantado e cami-nhando paralelamente com o currículo antigo . Essa multiplicidade de componentes curriculares sobre-carregava os docentes e gerava graus diferenciados de satisfação entre os estudantes . O projeto pedagó-gico inovou ao contemplar no currículo componen-tes curriculares como estágios supervisionados e se-minários de integração do primeiro ao último período do curso, o Trabalho de Conclusão do Curso -TCC, a criação de novas clínicas integradas, além da existente no final do curso, e o enfoque em atividades práticas e na saúde coletiva . Dá-se como certo que esse novo projeto contribuiu fortemente para o con-ceito Muito Bom da dimensão didático-pedagógica, quando da avaliação in loco.

Todavia, alguns aspectos deixaram a desejar e fo-ram apontados pela comissão de avaliação in loco: inexistência de mecanismos de apoio institucional pedagógico/psicopedagógico e de nivelamento do grau de conhecimentos adquiridos pelos alunos, oriundos de realidades diversificadas (ensino médio em escolas públicas, privadas, condições diversas); indefinição de uma política institucional de acompa-nhamento dos egressos e o escasso apoio a eventos, fragilizavam a gestão acadêmica . Esses aspectos tam-bém foram pontuados por Moura, Queiroz (2007)9

A dimensão corpo docente apresentou como principal deficiência a desatualização do currículo dos professores . Muitas das atividades de ensino, pes-quisa e extensão e artigos publicados em periódicos científicos deixaram de ser pontuados . A existência de um programa de pós-graduação (mestrado e dou-torado) no curso, onde são desenvolvidos projetos integrados com alunos da graduação, e o quantitati-vo de qualificação dos docentes, notoriamente con-tribuiram para a atribuição do conceito Muito Bom dessa dimensão .

A análise da dimensão instalações revelou defici-ências nas instalações físicas de alguns dos laborató-rios didáticos e das clínicas, e na manutenção preven-tiva de equipamentos . Essas clínicas e laboratórios foram avaliados com conceitos que oscilaram entre muito bom e insatisfatório . Até então, inexistia um plano institucional de expansão das instalações físicas e de aquisição e manutenção de instrumentos e equi-

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pamentos, o que contribuiu para o conceito Regular dessa dimensão .

Outras fragilidades detectadas referiam-se ao acervo limitado e pouco atualizado da biblioteca cen-tral, e à ineficácia do sistema de segurança do campus, diagnóstico semelhante foi relatado por Moura, Quei-roz (2007)9

Deve-se ressaltar que esse relatório subsidiou o subseqüente Planejamento de Desenvolvimento Ins-titucional da UFPB e, tão logo ele entrou na fase de execução, aquelas deficiências começaram a ser sa-nadas .

EXAmE NACioNAL DE DESEmPENHo DoS EStuDANtES – ENADE. A EXPEriêNCiA Do CurSo DE oDoNtoLogiA DA uFPb

O Exame Nacional de Desempenho do Estudan-te-ENADE representa um avanço na sistematização dos instrumentos avaliatórios por aferir o desempe-nho dos estudantes aos conteúdos programáticos propostos nas Diretrizes Curriculares dos cursos de graduação, às suas habilidades e competências, inse-ridos às realidade nacional, mundial e demais áreas do conhecimento .

No contexto do ENADE/2004, o Curso de Odon-tologia destacou-se por obter o desempenho máximo (5 .0), tendo sido o único da UFPB a atingir esse pa-tamar de excelência . Pode-se atribuir esse resultado a influência de vários fatores, entre os quais, a opera-cionalização do Projeto Político Pedagógico do curso, que traçou um novo perfil dos egressos, direcionou objetivos firmados na ética e na realidade sócio-eco-nômico-cultural da comunidade, inovou propostas metodológicas e conteúdos programáticos, além da gestão acadêmica interagir continuamente com a CPME/UFPB .

Secundariamente, as ações de sensibilização de-senvolvidas pela coordenação do curso, pela CPA e pela Coordenação para Melhoria do Ensino da Pró-Reitoria de Graduação . Destinada aos docentes e dis-centes do curso, essas ações ocorreram sob a forma de oficinas, divulgação do Manual e discussão da le-gislação pertinente, culminando com um ciclo de debates em áreas relevantes, dentre as quais a saúde coletiva e atualização clínica .

O relatório do ENADE-2004, divulgado posterior-mente pelo INEP, possibilitou ao Curso uma análise crítica e abrangente do seu projeto de curso, das suas instalações e do compromisso docente e subsidiou, posteriormente, a auto-avaliação do curso .

Do APrENDiZADo à EXPEriêNCiANa Universidade Federal da Paraíba, o processo

de avaliação representou uma experiência inédita e exitosa na história desta instituição, com a superação de obstáculos, doses elevadas de dedicação, persistên-cia e competência .

Possibilitou, principalmente, a compreensão so-bre a indissociabilidade entre avaliação e planejamen-to . Ao integrar-se a Auto-avaliação institucional, o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes-ENADE e a Avaliação das Condições de Graduação – ACG, teve-se acesso a informações diversificadas, mas conectadas entre si, capazes de subsidiar as polí-ticas institucionais de melhoria de ensino .

A avaliação deve, portanto, constituir-se prática rotineira nas instituições superiores, cuja eficácia está condicionada a ações conseqüentes, coordenadas e permanentes que garantam a manutenção, o moni-toramento e a atualização contínua dos bancos de dados gerados na auto-avaliação, e provoque a sensi-bilização permanente da comunidade acadêmica .

No entanto, a execução desse processo necessita de recursos financeiros que garantam as condições estruturais, assessoria qualificada e uma gestão dire-cionada para o crescimento e a consolidação da Ins-tituição .

Assim, no âmbito governamental, há que se aper-feiçoar políticas de incentivo à disseminação da cul-tura da avaliação, viabilizando a implantação de pro-gramas específicos de financiamento, por exemplo:

• bolsas de avaliação para os alunos atuarem em projetos de avaliação;

• permitir a aquisição de equipamentos e a contra-tação de serviços para as CPAs e

• estimular a formação continuada de recursos hu-manos para a avaliação .

A participação efetiva da gestora acadêmica do Curso na elaboração do Projeto Político Pedagógico do Curso, na Auto-Avaliação Institucional, como membro da CPA/CEAI/UFPB- coordenadora da Di-mensão 2-A Política para o Ensino, a Pesquisa, a Ex-tensão e Normas Operacionais; a participação em Oficinas Pedagógicas, Encontro de Capacitação de Gestores Acadêmicos e eventos relacionados a políti-cas de ensino, como a ABENO, fortaleceu o aprendi-zado e o aprofundamento em processos avaliatórios .

Finalizamos, referenciando a contextualização do SINAES pela Comissão Especial de Avaliação da Edu-cação Superior:

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A Universidade Federal da Paraíba no contexto do SINAES: a experiência do Curso de Odontologia • Martins FAP, Moura MEDP

“Uma visão abrangente dos processos avaliativos sem dis-

sociar estes da necessária regulação do Estado para fomen-

tar e supervisionar o sistema em seu conjunto, mas também

reconhece a importância de uma política capaz de refun-

dar a missão pública do sistema de educação brasileiro,

respeitando sua diversidade, mas tornando-o compatível

com as exigências de qualidade, relevância social e auto-

nomia” (CEA, 2004):3

AbStrACtThe Federal University of Paraíba in the context of the National Evaluation System of Higher Education (SINAES): the dentistry course experience

This article deals with the experience of the Fed-eral University of Paraíba-UFPB in the context of the National Evaluation System of Higher Education - SINAES . It discusses the main results obtained in ap-plying the Institutional Self-Evaluation tool that con-siders the conditions offered by the Dentistry Course and the ENADE-2004 . The reports from these evalu-ations were based on document research and on field work performed by internal and external Commis-sions of Evaluation . A diagnosis is presented of both the organizational and structural status of the course and of the Institution . The data point out the rele-vance of these reports in drawing up the Institutional Teaching Project, in the Institutional Development Plan and in activities for implementing and develop-ing the self-evaluation of the Political Teaching Proj-ect of the Dentistry Course .

DESCriPtorSHigher Education Legislation . Institutional Evalu-

ation . Evaluation Undergraduate Course . Institution-al Development Plan . §

rEFErêNCiAS 1 . Brasil . Decreto-Lei n .10 .861, de 14 de abril de 2004 . Institui o

Sistema Nacional de Educação Superior – SINAES e dá outras

providências; 2004 .

2 . _____________ . Portaria n . 2 .501, de 9 de julho de 2004 . Re-

gulamenta os procedimentos de avaliação do Sistema Nacional

de Avaliação da Educação Superior (SINAES), instituída na

Lei n . 10 .861 de 14 de abril de 2004 .

3 . Comissão Especial de Avaliação da Educação Superior-Brasil .

Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior SINAES:

bases para uma nova proposta da educação superior . Avaliação:

revista da Rede de Avaliação Institucional da Educação Supe-

rior, Campinas; 2004 .9(1):9-111, mar .

4 . Dias Sobrinho, J . Funcionamento e modos sociais de avaliação

institucional . Avaliação . Revista da Rede de Avaliação Institu-

cional da Educação Superior, Campinas; 1998 .3(2):65-76 .

5 . Luckesi CC et. al . Fazer universidade: uma proposta metodo-

lógica . 11aed . São Paulo:Cortez; 2000 . 232p .

6 . Ministério da Educação/MEC . Instituto Nacional de Estudos

e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira . Comissão Nacional

de Avaliação da Educação Superior . Roteiro de auto-avaliação

institucional . Brasília: Editoria, 2004

7 . _____________ .Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Edu-

cacionais Anísio Teixeira . Comissão Nacional de Avaliação da

Educação Superior . Instrumento de Avaliação Institucional

Externa . Brasília: Editoria, 2006 .

8 . Moura, Med de et al.li . O Sinaes na UFPB: Relato das experi-

ências da Comissão Própria de Avaliação e da Comissão Exe-

cutiva de Avaliação Institucional da Universidade Federal da

Paraíba . João Pessoa:Manufatura; 2006 . ISBN 85-87939-78-5,

121 pg .

9 . Moura, ME, Taigy, AC . A experiência da Universidade Federal

da Paraíba-UFPB no contexto do Sistema Nacional de Avalia-

ção da Educação Superior-SINAES . Edu Pro: C e T . Brasília;

2(1):209-18, jul-dez, 2007 .

Recebido em 20/08/2008

Aceito em 25/11/2008

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Revista da ABENO • 8(2):132-9132

A relação profissional-paciente na graduação: inserção e possibilidades a partir do contexto curricular

Dentro das habilidades e competências exigidas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais a graduação deve habilitar o acadêmico de odontologia a comunicar-se com pacientes, com profissionais da saúde e com a comunidade em geral

Maria de Fátima Nunes*, Claudio Rodrigues Leles**, Naiara de Paula Ferreira***

* Doutoranda em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Goiás

** Professor da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Goiás

*** Acadêmica da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Goiás

rESumoDe acordo com as habilidades e competências exi-

gidas pelas diretrizes curriculares para o curso de odontologia, o graduando deve ser capaz de comuni-car-se com pacientes, com profissionais da saúde e com a comunidade em geral . Para despertar essas competências interpessoais, as vivências durante a graduação são essenciais . Com o objetivo de recolher elementos da nova matriz curricular e dos projetos de extensão e pesquisa voltados à graduação que con-templassem, explícita ou implicitamente, a relação profissional-paciente na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Goiás (FO/UFG), reali-zou-se uma pesquisa documental da matriz curricular e ementas da nova estrutura curricular da FO/UFG e dos projetos de pesquisa e extensão cadastrados na instituição . Foram considerados a inserção e o con-texto da relação profissional-paciente nos âmbitos individual e coletivo . Observou-se que de um total de 60 disciplinas oferecidas no curso de odontologia da FO/UFG, 19 (31,7%) delas contemplam a relação profissional-paciente, e 4 (57,1%) de um total de 7 projetos de extensão voltados à graduação contem-plam tal temática . Os dados encontrados mostram a possibilidade de acadêmicos e docentes trabalhar a relação profissional-paciente, embora as disciplinas

clínicas não expressem essa relação em suas ementas .

DESCritorESRelações Interpessoais . Relações Dentista-Pacien-

te . Relações Profissional-Paciente . Humanização da Assistência .

As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para o Curso de Graduação em Odontologia³ (2002)

apontam a humanização da educação em odontolo-gia como um dos aspectos fundamentais para a con-cretização de novas bases para a educação superior, para a formação profissional e para a cidadania, con-textualizada com os reais problemas sociais brasilei-ros . Assim, as diretrizes curriculares determinam que entre suas habilidades e competências, o graduando deve ser capaz de comunicar-se com pacientes, com profissionais da saúde e com a comunidade em geral .

Na perspectiva de uma prática mais humanista é fundamental que a formação desse profissional tenha ênfase na atenção integral à saúde das pessoas . A for-ma de perceber saúde e doença e a forma de se ins-taurar a atenção (centrada no cuidado ou no trata-mento) estão diretamente relacionadas com a abordagem adequada ou não da relação profissional-paciente . De acordo com Pinto et al.19 (2004)

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Revista da ABENO • 8(2):132-9 133

A relação profissional-paciente na graduação: inserção e possibilidades a partir do contexto curricular • Nunes MF, Leles CR, Ferreira NP

“o cuidado inclui duas significações interligadas entre si:

a primeira, atitude de desvelo, atenção para com o outro

e, a segunda, de preocupação e de inquietação porque a

pessoa que tem cuidado se sente envolvida e afetivamente

ligada ao outro” .

Axelrud¹ (2007) descreve a importância de foca-lizar o paciente odontológico como um todo, a fim de obter melhores resultados clínicos . Vai além, dis-cutindo os arquetípicos dessa relação profissional-paciente através do simbolismo da boca que repre-senta a sede da palavra, veículo de entrada e saída, de prazer e agressividade e de contado com o mundo externo, incluindo aí o primeiro contato através do seio materno .

Mesmo assim, o que ainda se observa como domi-nante na graduação é a abordagem tecnicista e orga-nicista do modelo biomédico, no qual a centralidade está no órgão doente . Além disso, o modelo biomé-dico de atenção à saúde supervaloriza o aspecto indi-vidual sobre o coletivo, a especialização sobre a abor-dagem generalista, a mercantilização do ato odontológico, a centralização do tratamento na auto-ridade do profissional, a concepção estática do pro-cesso saúde-doença e a assistência curativa em detri-mento da prevenção e da promoção de saúde .

Embora o modelo biopsicossocial se contraponha ao modelo biomédico de atenção à saúde, no qual o cuidado é voltado para o ser, e o adoecer é contextu-alizado nas condições e formas de vida, as interven-ções no sentido de transformar o ensino daquela concepção tecnicista para uma prática mais humanis-ta são incipientes e isoladas . Assim, os cursos de gra-duação em odontologia tendem a negligenciar aspec-tos psicológicos, sociais e ambientais da doença, perdendo de vista o paciente como ser humano inte-gral que é, distanciando, conseqüentemente, o exer-cício profissional de uma prática socialmente cons-truída .

É na vida acadêmica que as atitudes corretas se estabelecem ou se distanciam do futuro profissional de saúde . Freitas et al.8 (2005) afirmam que

“os conceitos que os estudantes de odontologia trazem

podem ser mantidos ou reforçados durante o desenvolvi-

mento do curso, mas dificilmente serão reformulados” .

Propõem, ainda, que se reabra a discussão

“para os projetos pedagógicos que pretendam reformular

a formação odontológica em busca do profissional que já

é tecnicamente capaz, mas nunca foi socialmente sensível” .

Lazzarin et al.10 (2007) relacionam a qualidade do ensino de odontologia a um adequado modelo peda-gógico da universidade e do curso, e alertam que

“a qualificação e a atualização permanente (tanto técnica

quanto didático-pedagógica) do corpo docente são essen-

ciais para proporcionar uma formação generalista, huma-

nista, crítica e reflexiva” .

Afirma, ainda, que

“transformar o processo de educação de cirurgiões-dentis-

tas é complexo e dinâmico e requer mudanças nas con-

cepções de saúde e educação e suas práticas, nas relações

entre cirurgiões-dentistas e população, entre cirurgiões-

dentistas e demais profissionais de saúde, entre docentes

e discentes” .

A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) – Lei 9394/96 aponta para a possibilidade de introduzir mudanças na formação profissional que venham contribuir para uma reflexão sobre o relacionamento interpessoal, a humanização no atendimento, a centralidade nas ne-cessidades de saúde da população e não na lógica do mercado, e todos outros fatores que conduzam a uma melhor comunicação entre paciente e cirurgião-den-tista .

Buscando atender à LDB, em 2002, a Universida-de Federal de Goiás (UFG) aprovou seu novo Regi-mento Geral dos Cursos de Graduação (RGCG) que regulamenta a modificação dos modelos curriculares de seus cursos . E em 2006, a Faculdade de Odontolo-gia (FO) da UFG iniciou a implantação de seu novo currículo .

O objetivo deste estudo foi detectar nas ementas das disciplinas da nova matriz curricular e em projetos de extensão voltados à graduação da FO/UFG, con-teúdos relativos à relação humanista profissional-pa-ciente . Os resultados podem contribuir com discus-sões no meio acadêmico a respeito do tema em questão .

mAtEriAL E métoDoFoi realizada uma análise documental da nova

matriz curricular e ementário das disciplinas da FO/UFG, implementada a partir de 20064 (2007), bem como os projetos de extensão4 (2007) e de pesquisa com participação de acadêmicos5 (2007) cadastrados no âmbito institucional, com o objetivo de recolher

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Revista da ABENO • 8(2):132-9

A relação profissional-paciente na graduação: inserção e possibilidades a partir do contexto curricular • Nunes MF, Leles CR, Ferreira NP

134

elementos curriculares e de projetos voltados à for-mação do aluno de graduação . Nos documentos fo-ram identificadas e destacadas as possíveis contribui-ções de cada disciplina e/ou projeto para o desenvolvimento da relação profissional-paciente .

Foram contempladas as contribuições claramente explicitadas ou aquelas que pudessem potencial ou indiretamente chegar a essa condição .

A análise documental foi realizada por dois exa-minadores: uma acadêmica e uma docente da insti-

Semestre Disciplina Relação profissional-paciente (individual ou coletivo)

1° Genética e Evolução

Aconselhamento genético

1° Introdução à Antropologia e Sociologia

Sociedade, indivíduo e cultura. Diversidade cultural e relativismo. Ciências sociais e saúde bucal. O processo saúde-doença. A prática social na Odontologia.

2° Odontologia Coletiva I

Processo saúde-doença (determinantes). Promoção da saúde. Atividades práticas relativas ao processo saúde-doença e promoção da saúde.

3° Odontologia Coletiva II

Atividades práticas relativas à prevenção e educação em saúde.

3° Metodologia Científica II

Pesquisa qualitativa.

3° Bioética Bioética. O paciente individual e coletivamente considerado. Relação profissional-paciente: poder técnico versus poder moral. Bioética e Odontologia. A ética da responsabilidade: pública e individual. Saúde Pública e Bioética. A importância do Consentimento Livre e Esclarecido na prática profissional e na pesquisa científica. Ética na Pesquisa Científica envolvendo seres humanos. Elaboração de TCLE (Termo de Consentimento Livre e esclarecido). Análise de protocolos de pesquisa sob o ponto de vista ético.

4° Psicologia Aplicada à Odontologia

A relação entre o senso comum e ciência. Socialização e Identidade. Conceitos de personalidade, temperamento e caráter. Estrutura e funcionamento da personalidade: aparelho psíquico, energia mental e estados de consciência. Fases do desenvolvimento da personalidade. Abordagem psicodinâmica na prática profissional. Relação dentista-paciente. Conceitos de saúde e doença. Contribuição da Psicologia com relação aos primeiros contatos com o paciente.

4° Metodologia Científica III

Metodologia de pesquisa qualitativa: estudo de caso, pesquisa participativa, pesquisa-ação.

7° Odontologia Coletiva III

Epidemiologia. Necessidades em saúde bucal. Políticas públicas em saúde bucal / modelos de atenção. Planejamento (introdução, diagnóstico e necessidades de intervenção). Reconhecimento dos serviços de saúde. Planejamento (Diagnóstico da realidade e identificação das necessidades de intervenção).

7° Clínica Infantil II Filosofia do atendimento na clínica infantil.

8° Odontologia Coletiva IV

Planejamento em saúde. Elaboração, execução e avaliação de projeto para um grupo populacional junto ao serviço público.

8° Clínica Integrada VI

Atendimento clínico integral a pacientes.

9° Estágio / Extensão

Estágio de extensão no Campi de Firminópolis:atendimento clínico a pacientes nos serviços de saúde, promoção de atividades de educação e promoção de saúde.

9° Saúde e Sociedade

Conceituação de saúde e sociedade. Relações entre componentes sociais e a saúde dos indivíduos e dos grupos sociais. Introdução aos elementos constitutivos da sociedade. Determinantes sociais da saúde. Análise dos elementos constitutivos da relação saúde-sociedade.

9° Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais

Ética e Bioética. Vulnerabilidade. Psicologia para atendimento de PPNE. Atendimento clínico odontológico de PPNE adultos e infantis, executando planejamentos direcionados às debilidades dos pacientes. Promoção de saúde. Educação em saúde.

10° Odontologia Coletiva VI

Atenção clínica no serviço público. Aulas práticas nas unidades de saúde da Secretaria Municipal de Saúde.

10° Orientação Profissional

Relações interpessoais em Odontologia: profissional e paciente, profissional e equipe. Humanização e qualidade de vida.

Quadro 1 - Conteúdos das ementas de disciplinas da matriz curricular da FO/UFG com possibilidades de contemplar a relação profissional-paciente .

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A relação profissional-paciente na graduação: inserção e possibilidades a partir do contexto curricular • Nunes MF, Leles CR, Ferreira NP

tuição considerando os pacientes individual e coleti-vo, uma vez que a LDB aponta a necessidade de o acadêmico de odontologia ter sua formação voltada para o Sistema Único de Saúde (SUS) . Os conteúdos a serem examinados foram obtidos através de sites da UFG . Foi realizada uma análise exaustiva das ementas de cada disciplina e dos projetos de extensão . Nos projetos de pesquisa foram observados os títulos dos mesmos, visto que não há nenhuma outra informação disponível .

rESuLtADoSNo Quadro 1 são apresentados os itens das emen-

tas das disciplinas da matriz curricular da FO/UFG; no Quadro 2, os projetos de extensão e suas respec-tivas ementas; e no Quadro 3, os projetos de pesqui-sa cadastrados na Pós-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (PRPPG) com a participação dos acadêmicos da FO/UFG . Todos potencialmente contemplam a relação profissional-paciente (indivi-dual ou coletivo) .

De um total de 60 disciplinas oferecidas no curso de graduação, 19 (31,7%) contemplam a temática humanista da relação profissional-paciente, ao mes-mo tempo em que 4 (57,1) de um total de 7 projetos de extensão voltados à graduação também fazem a mesma abordagem . Dos 59 projetos de pesquisas da FO/UFG que estão cadastrados na PRPPG e que pos-suem a participação de acadêmicos da instituição, 8 (13,5%) apresentam indiretamente esta temática .

Das 31,7% disciplinas contempladas, a maioria são

disciplinas do núcleo de saúde coletiva e poucas ex-pressam de forma textual essa proposição .

DiSCuSSãoForam encontrados conteúdos no ensino, pesqui-

sa e extensão da FO/UFG, que expressam potencial-mente a existência da relação profissional-paciente . Proporcionalmente os projetos de extensão são os

Projetos de extensão

Café com idéias: parceria universidade - serviços - movimentos sociais na formação em saúde para a diversidade no SUS

Inseridas no contexto da reorientação da formação profissional em saúde e integrando o Programa Nacional de Reorientação Profissional em Saúde - Pró-Saúde, as Faculdades de Enfermagem e Odontologia da Universidade Federal de Goiás estabeleceram parceria com a ANEPS-GO (Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular e Saúde) para o desenvolvimento deste projeto.

Dente São, Corpo São: saneamento bucal em crianças internadas na Clinica Pediátrica do Hospital das Clínicas - UFG

O Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás conta com o Serviço de Odontologia que presta atendimento clínico às crianças e orienta pais e responsáveis sobre os cuidados com a saúde bucal de seus filhos. O hospital recebe pacientes sistemicamente comprometidos do município de Goiânia, região do Entorno e de outros Estados para internação, sendo necessária atenção à saúde bucal visado melhorar sua condição sistêmica.

NESO – Núcleo de Estudos em Sedação Odontológica

A ansiedade tem levado muitas pessoas, crianças e adultos, a resistirem ao tratamento odontológico.Como atenção de alta complexidade, propõe-se utilizar de estratégias farmacológicas no controle da ansiedade do paciente, enquanto se promove a dessensibilização frente ao atendimento odontológico e educação voltada à saúde bucal.

GEPETO – Grupo de Estudos sobre Pacientes Especiais e Tratamento Odontológico

O GEPETO é um projeto de ação social e prestação de serviços desenvolvido na Faculdade de Odontologia da UFG que tem por objetivo a atenção odontológica holística, educativa, preventiva e curativa para pacientes portadores de necessidades especiais.

Quadro 2 - Projetos de extensão da FO/UFG com possibilidades de contemplar a relação profissional-paciente .

Avaliação da percepcão de pacientes em relação ao tratamento com prótese dentária

Avaliação da auto-percepção da necessidade de tratamento protético de pacientes desdentados parciais em diferentes momentos após a perda de dentes

Estética dentária, qualidade de vida e satisfação com o corpo em indivíduos jovens

O impacto da má oclusão na qualidade de vida e auto-imagem do adolescente

Tratamento restaurador atraumático em crianças hospitalizadas: avaliação segundo criança, acompanhante e equipe odontológica

Controle farmacológico da resistência de crianças ao tratamento odontológico: percepções de acompanhantes e profissionais

Influência de uma ação educativa no nível de informação de escolares sobre a conduta em casos de avaliação dentária

Grau de satisfação e avaliação da necessidade de reembasamento em próteses parciais removíveis de extremidade livre em pacientes institucionalizados

Quadro 3 - Projetos de pesquisa com participação de acadêmicos cadastrados na Pós-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação com possibilidades de contemplar a relação profissional-paciente .

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A relação profissional-paciente na graduação: inserção e possibilidades a partir do contexto curricular • Nunes MF, Leles CR, Ferreira NP

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que mais apresentam este enfoque . Provavelmente devido ao caráter intervencionista junto à comuni-dade, os projetos de extensão, nesta e em outras ins-tituições se preocupem com questões sociais e de bem-estar .

O fato de encontrarmos esse conteúdo buscado nas ementas das disciplinas não garante que o mesmo será abordado de forma adequada, embora sua pre-sença seja um excelente indicativo . Da mesma manei-ra, o fato deste conteúdo não estar contemplado na ementa de alguma disciplina, não implica, necessa-riamente, a inexistência da abordagem e vivência do mesmo .

Segundo Leles et al.12 (2006) na construção dessa nova matriz curricular, observou-se a necessidade de uma reforma que contemplasse

“a superação do velho visando a construção do novo, bus-

cando quebrar paradigmas estabelecidos, formação do-

cente e adoção de práticas inovadoras, superando a visão

mecanicista, tecnicista e centrada nos aspectos biológicos,

o apego à organização compartimentalizada, fragmentada

e disciplinar e o desconhecimento do SUS [Sistema Único

de Saúde] por parte dos envolvidos no processo” .

No entanto, “quebrar paradigmas estabelecidos” envolve a necessidade percebida e o desejo de mu-dança dos atores envolvidos no processo . Embora existam estudos que comprovem a relação entre fa-tores psicossociais e saúde bucal (Fiske et al.,71998; Locker,131997; Marcenes et al.,142003), saúde e doen-ça continuam sendo percebidas de forma reducionis-tas, como fenômenos estritamente biológicos e tendo a alta tecnologia e os serviços de saúde como a chave para restaurar a saúde das pessoas .

É possível notar que em alguns momentos apare-ce claramente citada a relação profissional-paciente:

• em Bioética (O paciente individual e coletivamen-te considerado; Relação profissional-paciente: poder técnico versus poder moral),

• em Psicologia Aplicada à Odontologia (Contribui-ção da Psicologia com relação aos primeiros con-tatos com o paciente), e

• em Orientação Profissional (Relações interpesso-ais em odontologia: profissional e paciente, pro-fissional e equipe) .

As questões relacionadas à bioética são recentes na odontologia e necessitam ser discutidas na gradu-ação, despertando o acadêmico para uma possível vulnerabilidade do paciente durante o encontro clí-

nico . Garbin et al.9 (2002) analisam o respeito ao prin-cípio bioético da autonomia na relação cirurgião-dentista com crianças submetidas a tratamento odontológico e seus responsáveis em Araçatuba, SP . Os resultados do questionário aplicado a 97 respon-sáveis demonstraram que, embora 84,54% dos pais acreditassem que os filhos receberam um atendimen-to adequado, somente 34,02% deles participaram da decisão dos procedimentos, concluindo que houve negligência profissional em relação aos direitos dos responsáveis de participar do atendimento .

As relações interpessoais em odontologia que en-volvem profissional-paciente, profissional-equipe (disciplina de Orientação Profissional) é uma temá-tica muito relevante no momento em que a Estratégia Saúde da Família absorve grande número de profis-sionais da odontologia . A inserção dos acadêmicos no sistema de saúde vigente no país (SUS) torna explí-cito ao aluno a necessidade de uma realidade social onde deve haver

“o resgate do respeito à vida humana, levando-se em con-

ta as circunstâncias sociais, éticas, educacionais, psíquicas

e emocionais” (MENDONÇA et al .,15 2006) .

A necessidade de interagir com a equipe de tra-balho e de conviver no âmbito real da família retira o profissional do mundo fechado e isolado entre qua-tro paredes e exige habilidades como a de saber ouvir, de contextualizar seu saber com realidades até então desconhecidas, entre outras . Ajudar o aluno a com-preender a forma de viver e adoecer da maioria da população, sua linguagem verbal e corporal, pode levá-lo a conseguir se comunicar mais adequadamen-te com indivíduos e comunidade .

Nuto et al.17 (2006) referem-se ao

“anseio recente nos serviços de saúde por profissionais

mais envolvidos com a qualidade do atendimento à popu-

lação”,

já que o relacionamento profissional-paciente não deve se restringir à técnica, mas considerar a forma de lidar com as pessoas (TEIXEIRA20, 2000) . Esse pa-pel de formar um novo profissional tradicionalmente é cumprido ao longo do curso da FO/UFG e na maio-ria dos cursos no país quase que exclusivamente pelas Disciplinas de Odontologia Social e Sociologia . His-toricamente, a saúde coletiva tem sido a área que busca inserir o acadêmico de odontologia aos proble-mas reais das pessoas que recebem atenção do serviço

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A relação profissional-paciente na graduação: inserção e possibilidades a partir do contexto curricular • Nunes MF, Leles CR, Ferreira NP

público e que vivem em desigualdade de condições propiciadas pela conjuntura político-sócio-econômi-ca brasileira . Espera-se que através dos recursos dis-ponibilizados à FO/UFG através do Programa Nacio-nal de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-saúde), possa haver mudanças considerá-veis neste aspecto . O Pró-saúde tem como

“objetivo a integração com os serviços de saúde buscando

dar respostas às necessidades concretas da população bra-

sileira na formação de recursos humanos, na produção do

conhecimento e na prestação de serviço” .4

Nesse sentido, Marcos (1988) apud Tiedmann et al.21 (1995) afirma que

“toda prática profissional é o resultado de uma construção

social, e que, portanto, não é somente produto do que se

pratica ou do que ensina nas universidades, configurando-

se o ensino ao mesmo tempo o produtor do conhecimen-

to e o produto de uma multiplicidade de processos gerados

e desenvolvidos no conjunto da sociedade” .

Nas disciplinas de Metodologia Científica II e III, observamos a inserção da pesquisa qualitativa, a qual apresenta grandes possibilidades para o aprender ouvir, compreender e valorizar percepções, conheci-mentos e anseios dos usuários .

A inclusão da pesquisa qualitativa na graduação pode ser um avanço considerável, pois até então a pesquisa na área da saúde tem sido basicamente quan-titativa . Segundo Turato22 (2005), na abordagem qua-litativa em pesquisa

“o interesse do pesquisador volta-se para a busca do signi-

ficado das coisas, porque este tem um papel organizador

nos seres humanos . O que as “coisas” (fenômenos, mani-

festações, ocorrências, fatos, eventos, vivências, idéias,

sentimentos, assuntos) representam, dá molde à vida das

pessoas . conhecer as significações dos fenômenos do pro-

cesso saúde-doença é essencial para realizar as seguintes

coisas: melhorar a qualidade da relação profissional-pa-

ciente-família-instituição; promover maior adesão de pa-

cientes e da população frente a tratamentos ministrados

individualmente e de medidas implementadas coletiva-

mente; entender mais profundamente certos sentimentos,

idéias e comportamentos dos doentes, assim como de seus

familiares e mesmo da equipe profissional de saúde .”

Segundo Bottan et al.2 (2006),

“o envolvimento da clientela dos serviços de saúde em

ações que ultrapassem a sua mera utilização passiva é fun-

damental para a definição dos padrões de qualidade do

atendimento prestado . A participação desse segmento

contribui com a melhoria da qualidade dos serviços pres-

tados, pois a perspectiva do usuário fornece informações

essenciais” .

Em se tratando dos projetos de extensão desen-volvidos pela FO/UFG, podemos destacar, dentre os quatro pilares da educação, o aprender a viver juntos, necessário para compreender o outro e desenvolver a percepção das interdependências no respeito pelos valores do pluralismo e da compreensão mútua (De-lors,6 1999) .

O projeto Café com Idéias, que já abordou temas como diversidade sexual e o direito à saúde da popu-lação negra e indígena,

“coloca o homem como centro do processo de construção

da cidadania, comprometida e integrada à realidade social

e epidemiológica, às políticas sociais e de saúde” (Moysés

et al.,16 2003) .

O projeto NESO – Núcleo de Estudos em Sedação Odontológica propõe-se utilizar de estratégias farma-cológicas no controle da ansiedade do paciente, en-quanto se faz a dessensibilização frente ao tratamen-to odontológico e a promoção de saúde bucal dos pacientes que têm uma certa resistência e ansiedade em relação ao tratamento odontológico .

Por fim, a atenção ao paciente portador de neces-sidade especial (PPNE) é um aspecto bastante impor-tante e está contemplado, além de disciplina na gra-duação, nos projetos de extensão Dente São, Corpo São (atendimento odontológico às crianças internas no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás) e GEPETO (Grupo de Estudos sobre Pacientes Especiais e Tratamento Odontológico) . Segundo Pin-to et al.19 (2004), na abordagem da relação profissio-nal-paciente durante um atendimento ao PPNE, deve ser levado em consideração

“seus desejos, suas crenças, valores e percepções”,

visto que

“a sociedade, de uma forma geral, tende a segregar esses

indivíduos” .

Embora existam progressos perceptíveis nas

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A relação profissional-paciente na graduação: inserção e possibilidades a partir do contexto curricular • Nunes MF, Leles CR, Ferreira NP

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ementas quanto ao quesito relação profissional-pa-ciente, é preocupante que esta basicamente não apa-reça nas disciplinas clínicas, pois esses são momentos em que efetivamente se estabelece o encontro clínico . E a relação estabelecida entre os alunos da graduação e os usuários das clínicas odontológicas universitárias, salvo algumas peculiaridades legais por estarem en-volvidos alunos em formação sob a orientação de professor,

“reproduz o mesmo conjunto de variáveis social e cultural-

mente determinadas da relação paciente-profissional,

configurando-se a clínica como relevante espaço de refle-

xão e aprendizado da prática profissional” (TIEDMANN

et al.,21 2005) .

Pacca et al.18 (2003) em um estudo sobre a auto-imagem do cirurgião-dentista através de desenhos de alunos de graduação observaram que nos últimos pe-ríodos os alunos focalizaram menos o paciente do que no primeiro período:

“ . . .o que pode indicar falhas no processo de abordagem

da relação profissional-paciente durante o curso” .

Mesmo a temática da relação profissional-pacien-te fazendo parte do objetivo do curso de odontologia da FO/UFG, a transversalização do tema ocorre em apenas algumas disciplinas e projetos de extensão, enquanto deveria estar presente em todas as discipli-nas que apresentem direta ou indiretamente o encon-tro clínico e, também, se consolidar nas atitudes e ações adotadas pela instituição . No entanto, os dados encontrados nas ementas contidas na matriz curricu-lar e em projetos de extensão apresentam ao acadê-mico de odontologia da FO/UFG possibilidades de trabalhar a relação profissional-paciente no ensino, pesquisa e extensão (tripé da educação superior) .

Somente esse levantamento realizado não exaure a discussão sobre o tema, ao contrário, suscita e rea-firma a necessidade de um debate aprofundado sobre o mesmo dentro da comunidade acadêmica, uma vez que é indiscutível sua relevância para a formação pro-fissional, principalmente dentro dos padrões neces-sários para o exercício da odontologia nos dias de hoje .

CoNCLuSõES• Os conteúdos relativos à relação profissional-pa-

ciente na FO/UFG são encontrados em cerca de um terço das ementas contidas na matriz curricu-

lar e em mais da metade dos projetos de extensão .• As disciplinas clínicas não apresentam a relação

profissional-paciente expressas em suas ementas .

AbStrACtThe professional-patient relation in undergraduate courses: insertion and possibilities based on the curricular context

According to the abilities and skills required by the Brazilian National Curriculum Guidelines for un-dergraduate dentistry programs, students should be able to effectively communicate with patients, health professionals and the public at large . Integrating ex-periences throughout academic life is essential for encouraging these interpersonal skills, including in-teractions between health personnel and patients . The aim of this documental study was to identify ele-ments in the undergraduate curriculum matrix, and extension and research projects involving undergrad-uate students in the School of Dentistry of Goiás Fed-eral University, which explicitly or implicitly incorpo-rate aspects of professional-patient relationships in an individual and collective care context . It was ob-served that the issue of professional-patient relation-ships was included in 19 (31 .7%) out of a total of 60 disciplines of the curriculum and 4 (57 .1%) extension projects . Students have the opportunity to learn about theoretical aspects and practices related to interac-tions between dentists and patients throughout the curriculum . In contrast, although clinical disciplines have a close interaction with patients, the profession-al-patient relationship is not clearly documented in the curriculum .

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Recebido em 11/1/2008

Aceito em 20/11/2008

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metodologias ativas no processo ensino-aprendizagem: possibilidade para uma prática educativa mais participativa na área da saúdeMirelle Finkler*, Silviamar Campogara**, Kenya Schmidt Reibnitz***, Vânia Marli Schubert Backes****

* Professora Substituta do Departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catariana . Cirurgiã-dentista . Doutora em Odontologia

** Professora Adjunto do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria . Enfermeira . Doutora em Enfermagem

*** Professora Titular do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina . Enfermeira . Doutora em Enfermagem

**** Professora Associada do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina . Enfermeira . Doutora em Enfermagem

rESumoEste trabalho consiste em uma reflexão teórica so-

bre a utilização de metodologias ativas de ensino-aprendizagem, tais como a Metodologia da Problema-tização e da Aprendizagem Baseada em Problemas, no atual contexto de mudanças na formação de profissio-nais de saúde, buscando ressaltar os pressupostos teó-ricos e metodológicos que fundamentam uma prática educativa mais participativa e adequada à sociedade .

DESCritorESAprendizagem Ativa . Aprendizagem Baseada em

Problemas . Ensino Superior . Formação de Recursos Humanos . Educação em Odontologia . Ensino de En-fermagem .

A prática educativa é permeada por um dinâmico e complexo processo relacional, uma vez que é

desenvolvida por sujeitos sociais imersos em determi-nado contexto, sendo carregada de significados e orientada pela historicidade nela imbricada . Ao foca-lizarmos determinados aspectos desta prática, pode-mos perceber que alguns avanços já ocorreram, no sentido de estar menos arraigada a teorias tradicio-nais e mais participativa, valorizando os sujeitos nela

envolvidos e buscando responder mais adequada-mente às demandas sociais . Entretanto, a despeito destes avanços, muito ainda precisa ser feito .

Há muito a área da educação já não investe nas interrogações sobre os seus sujeitos, cujo reflexo está na forma de conceber o professor, o currículo, a his-tória, as leis, as teorias, os métodos educativos e o aluno . Isto pode estar associado ao fato de que as teorias científicas parecem dar todas as respostas ne-cessárias, sem contestação .21 Contudo, a utilização de teorias como forma de fundamentar a prática educa-tiva é uma necessidade, para instituições e educado-res . Quando não há uma explicitação dos pressupos-tos teóricos e filosóficos que fundamentam determinada prática, o educador tende a guiar-se por concepções ao nível do senso comum, que muitas vezes, alicerçam-se no viés tradicional .22

No entanto, particularmente no que se refere à prática educativa no ensino superior, diversos autores têm buscado problematizar o contexto em que se dá a formação de profissionais sob diversos aspectos (ins-titucional, comunitário, educador, educando, prática pedagógica), buscando a substituição do paradigma da transmissão do conhecimento pelo paradigma da construção do conhecimento .8

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Metodologias ativas no processo ensino-aprendizagem: possibilidade para uma prática educativa mais participativa na área da saúde • Finkler M, Campogara S, Reibnitz KS, Backes VMS

Além disso, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO, 1998)20 pu-blicou a Declaração Mundial sobre Educação Supe-rior, apresentando as bases para uma reforma da for-mação profissional no século XXI e esclarecendo a imperiosa necessidade de se estabelecer novos parâ-metros para a prática educativa, pressupondo o de-senvolvimento e a utilização de aportes teóricos me-nos tradicionais e mais participativos, como forma de contemplar a diversidade social existente e a comple-xidade do ser humano e suas relações .

Neste sentido, várias categorias profissionais bus-caram estabelecer um processo de discussão e refor-mulação de suas bases curriculares . Na área da saúde, em particular, este processo culminou com a divulga-ção das Diretrizes Curriculares Nacionais em 2001, para os diversos cursos que a compõem, com vistas a qualificar a formação de profissionais na área .

Ainda mais recentemente, o Ministério da Educa-ção em conjunto com a Secretaria de Educação Su-perior do Ministério da Educação, iniciaram o Pro-grama Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde, o PRÓ-SAÚDE, que tem como um de seus eixos básicos a ”mudança de metodologia na qual os estudantes assumam papéis mais ativos” na sua formação .3

Entretanto, esta discussão parece estar mobilizan-do apenas inicialmente alguns dos envolvidos, já que toda mudança é lenta e difícil . Experiências incipien-tes na introdução de mudanças nos processos de for-mação de recursos humanos apontam uma forte re-sistência dos docentes em aceitá-las, tanto em relação ao paradigma educativo dominante quanto em rela-ção à integração com os serviços e com a comunida-de4 . A prática docente em sala de aula ainda é forte-mente influenciada por abordagens tradicionais e por uma relação assimétrica entre professor-aluno .16 Além disso, este paradigma e sua metodologia têm sido insuficientes para o enfrentamento das realida-des atuais, sendo necessária a utilização de metodo-logias capazes de desenvolver um profissional crítico, que identifique os determinantes sociais que condi-cionam a sua atuação .11,22

Percebe-se, então, ser inevitável a discussão de pressupostos teóricos e metodológicos que contem-plem a prática educativa mais participativa e inclusiva, concebendo-a como um processo interativo e hori-zontal nas relações que estabelece, abrindo brechas para a transformação da realidade a partir da sua con-textualização, problematização e (re) significação . Para tanto, não basta elaborar e adotar teorias mais

progressistas, sem uma profunda reflexão sobre os valores e concepções imbricados ao nível institucio-nal, pessoal (educador/ educando) e nas formas/estratégias utilizadas para levar a cabo a prática alme-jada . É necessário que os sujeitos envolvidos estejam imbuídos de um espírito realmente renovador, trans-formador e solidário, para que a mudança paradig-mática tenha sucesso .

A adoção de metodologias de ensino mais partici-pativas tem sido alvo de discussão em alguns fóruns, como forma de concretizar uma prática educativa mais coerente com as exigências que à educação su-perior tem sido feitas . A questão da metodologia é uma das deficiências principais, devendo a definição do papel da universidade orientar o tipo de metodo-logia a ser empregado .22

Tais metodologias têm sido denominadas de ”Me-todologias Ativas de Ensino-Aprendizagem”, uma vez que envolvem ampla e dinâmica participação dos alu-nos na avaliação e resolução de problemas . No entan-to, esta concepção ainda é incipiente na área, havendo dificuldades inclusive para encontrar-se na literatura um suporte conceitual para tal termo . Fernandes et al . (2003)7 conceituam Metodologias Ativas como sendo

“ . . .metodologias que possibilitem o aprender a aprender,

que garantam o aprender fazendo e instaurem relações

democráticas dentro das instituições de ensino e prestado-

ras de serviços; metodologias centradas nos estudantes,

vistos como sujeitos do processo ensino-aprendizagem e

como cidadãos; metodologias fundamentadas nos princí-

pios da pedagogia interativa, na concepção pedagógica

critica e reflexiva, tendo como eixo central a participação

ativa dos estudantes em todo o processo, incluindo todos

os novos e diferentes cenários de prática .”

As dificuldades apontadas pelos docentes em tra-balhar com as metodologias ativas de ensino14 suge-rem a importância da discussão sobre alguns aspectos imprescindíveis na abordagem de Metodologias Ati-vas, dentre eles o processo ensino-aprendizagem, o que constitui um importante fundamento para a prá-tica educativa, uma vez que os valores e pressupostos nele implícitos ditarão a forma como a prática edu-cativa será compartilhada por quem ensina e por quem aprende .

Ao se utilizar metodologias diretivas, verticais e que não estimulem a percepção crítica do educando, acaba-se por anular o seu potencial criador e trans-formador . A aula por si só está longe de garantir qual-quer aprendizagem, pois não substitui o esforço de

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pesquisa e elaboração própria do aluno, que deve questionar, argumentar e fundamentar .6

A aprendizagem não deve ser considerada um processo passivo e individual de absorção de conhe-cimentos e de treino de competências básicas, mas sim, um processo de construção de conhecimento significativo . Para tanto, o trabalho pedagógico deve manter uma relação direta com as necessidades da vida e o educar precisa estar relacionado ao cotidiano do educador e do educando, para que a aprendiza-gem possa ser considerada significativa .22

O papel do educador também se constitui em im-portante aspecto a ser discutido na prática educativa . Dele se espera mais do que possuir e transmitir con-teúdos: espera-se que seja um orientador e facilitador na construção do conhecimento8 rumo à politização e à transformação da realidade .

Tão importante quanto o ensino dos conteúdos é o testemunho ético ao ensiná-los . O educador cons-ciente de seu papel deve estar aberto e disponível para refletir sobre seus próprios valores e sobre o contexto social em que desenvolve o seu fazer, a fim de possi-bilitar uma ação mais coerente, permitir a inovação e auxiliar seus alunos a sair da alienação .10

No entanto, freqüentemente as ações pedagógi-cas são inconsistentes, gerando dificuldades em dis-cutir e buscar inovações pedagógicas, as quais pressu-põem a instrumentalização e a competência para criar métodos que focalizem o aluno como sujeito, de forma que desenvolva seu aprendizado crítico e refle-xivamente, comprometendo-se com a transformação da realidade .15

Esta realidade foi amplamente discutida por Pau-lo Freire (1996),10 evidenciando-se em sua obra as concepções que devem orientar a prática educativa horizontalizada . Segundo o autor,

“não há docência sem discência, as duas se explicam e seus

sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se re-

duzem à condição de objeto, um do outro . Quem ensina

aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” .

Assim, percebemos a importância do educador para a criação e utilização de Metodologias Ativas, mais centradas no educando, mais horizontais, parti-cipativas e coerentes com a realidade social . O edu-cador deve buscar a chamada formação transdicipli-nar, que permite autonomia mental e espiritual e uma dialogicidade promotora e produtora de conheci-mentos e habilidades, com vistas à formação da cons-ciência social emancipadora .13

Por muito tempo e, enquanto o processo ensino-aprendizagem estiver orientado por teorias tradicio-nais, o educando foi e é considerado um ator passi-vo, mero receptáculo de conteúdos e informações, alienando-o de todo o contexto social em que está inserindo e com diminutas possibilidades de intervir ativamente em sua realidade . Considerar o educan-do um co-participante do processo educativo é antes de tudo, um compromisso ético e político . Esta prer-rogativa é referendada pela Declaração sobre o En-sino Superior (1998)20 na medida em que aponta a necessidade de educar estudantes para que sejam cidadãos bem informados e motivados, capazes de pensar criticamente e de analisar os problemas da sociedade, de procurar soluções e de aceitar respon-sabilidades sociais .

Ao defender a participação ativa do aluno como pressuposto indispensável para a prática educativa, Freire (1996)10 alerta que o educando, assumindo-se como sujeito também da produção do saber pode se convencer, definitivamente de que

“ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibi-

lidades para a sua produção ou a sua construção .”

Assim, mais do que empregar novos conceitos e inovações, percebemos ser necessária, uma confor-mação conceitual que fundamente estas ações . Na área da saúde, algumas experiências têm sido publi-cadas demonstrando a operacionalização de Metodo-logias Ativas no processo de ensino aprendizagem .

EXPEriêNCiAS Com mEtoDoLogiAS AtiVAS

As experiências com Metodologias Ativas que têm sido realizadas no ensino das profissões de saúde em-pregam, principalmente, a Metodologia Problemati-zadora, entendendo ser um instrumento adequado para articular a ação dos diferentes sujeitos sobre a realidade, e a Aprendizagem Baseada em Problemas, esta especialmente na formação em Medicina .8

Na perspectiva de uma Pedagogia problematiza-dora, diferentes caminhos alinhados aos princípios da concepção histórico-crítica da educação podem ser tomados, entre eles o da Metodologia da Proble-matização, a qual atribui-se um imenso potencial for-mativo por ser capaz de concretizar os princípios te-óricos e filosóficos de uma educação progressista e humanizadora .2

Dentre as principais idéias de Freire relacionadas à Metodologia da Problematização vale destacar o

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entendimento do indivíduo como sujeito da educa-ção; a sua interação com o mundo como fundamental por nele estar inserido historicamente; o educando como um ser da práxis que quanto mais reflete sobre a sua realidade, mais se compromete com a sua trans-formação, e que ao transformá-la, também se trans-forma; o conhecimento como um construto derivado do pensamento e da prática; o processo de conscien-tização como algo inacabado, pois a realidade volta sempre a tornar-se objeto de nova reflexão; e o obje-tivo da educação vinculado à criação de condições para o desenvolvimento de uma atitude reflexiva e crítica, comprometida com a ação que ajuda na supe-ração da relação entre oprimido e opressor .22

Ao propor a busca e a elaboração ativa e crítica do conhecimento pelo aluno, a Metodologia da Pro-blematização se destaca como uma Metodologia Ati-va, na qual aluno e professor buscam juntos o conhe-cimento, estabelecendo entre si uma relação democrática e de respeito,15 e que permite a transfor-mação dos sujeitos pelas inúmeras elaborações inte-lectuais que realizam, de forma associada à percepção social, política, ética da realidade .2

O esquema de trabalho construído por Charles Ma-guerez e divulgado por Bordenave e Pereira, o Método do Arco, constitui um caminho metodológico para ex-perimentar na prática vários princípios da Pedagogia Problematizadora,2 que se concretiza ao permitir suces-sivas aproximações entre o sujeito que aprende e o objeto a ser apreendido, numa relação teoria e prática, resultante da ação, da reflexão sobre a ação (práxis) e da nova ação transformada e transformadora .17

O método do Arco apresenta-se como uma alter-nativa metodológica apropriada ao ensino, estudo ou trabalho de temas relacionados com a vida em socie-dade, ou seja, temas que impliquem questões sociais, éticas, econômicas ou políticas . O arco é composto por cinco etapas, melhor descritas por Berbel (1998)1 como segue .

Inicialmente, os alunos são orientados a observar atentamente a realidade na qual se insere o tema em foco, registrando as questões que serão problemati-zadas . Busca-se identificar o que na realidade vivida é preocupante, necessário ou problemático e por meio de discussões entre os integrantes do grupo e o professor, finaliza-se esta etapa ao redigir o problema que guiará todas as etapas seguintes do método .

Após a definição do problema, faz-se um trabalho de reflexão acerca das suas possíveis causas e de todos os fatores envolvidos, aprofundando a busca das razões da existência do problema . Deste modo, os alunos são

levados a definir os pontos-chave a serem estudados, ou seja, quais os aspectos que precisam ser melhor com-preendidos para que a questão possa ser solucionada .

Na terceira etapa, a da teorização, os alunos vão a busca das informações de que necessitam, de acordo com os pontos-chave estabelecidos . Neste processo investigativo, utilizam livros, revistas, jornais, arqui-vos, palestras, entrevistas, consultas a especialistas, professores, à própria população, à Internet etc . Com o registro, análise, discussão das informações coleta-das e com as conclusões a que puderam chegar, o método segue para a etapa seguinte .

Como conseqüência da compreensão profunda do problema, elaboram-se hipóteses de solução . To-das as possibilidades pensadas devem ser registradas, incentivando-se a criatividade em sua formulação, pois os conhecimentos e as ações anteriores devem ser superados para que novas propostas possam mo-dificar a realidade em questão .

Discutidas as hipóteses, passa-se à etapa da aplicação à realidade, que é o momento da ação concreta sobre a realidade da qual foi eleito o problema, levando os alunos a operacionalizar a relação prática-teoria-práti-ca . Deste modo, o Arco de Maguerez se completa, pois partindo da realidade social a ela retorna, objetivando transformá-la, ainda que em pequenas proporções .

Já a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP ou Problem Basead Learning - PBL) é uma proposta de ensino-aprendizagem que emprega o problema como o elemento motivador do estudo e integrador do conhecimento, direcionando toda uma organiza-ção curricular, pois mais do que uma opção do pro-fessor, é uma opção de todo o corpo docente, admi-nistrativo e acadêmico9 . É, portanto, considerada uma proposta curricular1 .

A ABP é uma estratégia pedagógico/didática cen-trada no aluno, que tem sido aplicada com sucesso em algumas escolas médicas nos últimos 30 anos . As primeiras escolas médicas que o adotaram foram as escolas de McMaster (Canadá) e a de Maastricht (Ho-landa), mas na última década o método tem se difun-dido, inclusive sendo empregado em outros cursos da área da saúde, como enfermagem, fisioterapia, veterinária e odontologia . Ainda mais recentemente, escolas das áreas de humanas e algumas escolas de engenharia vêm utilizando este método, demonstran-do que não é específico à área médica, mas aplicável ao ensino de qualquer ramo do conhecimento19 .

A ABP é um tipo de Metodologia Ativa, pois esti-mula uma atitude ativa do aluno em busca do conhe-cimento, não sendo meramente informativa como é a

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Metodologias ativas no processo ensino-aprendizagem: possibilidade para uma prática educativa mais participativa na área da saúde • Finkler M, Campogara S, Reibnitz KS, Backes VMS

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prática pedagógica tradicional .1 Um de seus principais fundamentos é que o aluno precisa aprender a apren-der . Ele deve ser estimulado a buscar o conhecimento nos diversos meios atualmente disponíveis, fazendo da diversidade, ao contrário da unicidade do conheci-mento do professor, o objetivo deste método .19

O problema é o elemento central desta proposta, pois a partir dele, os estudos sobre um tema específico do currículo são desenvolvidos, sendo que cada tema é parte de um módulo temático . Os problemas são formu-lados através de uma descrição neutra do fenômeno para o qual se deseja uma explicação, de forma concreta, concisa e isenta de distrações, conduzindo o aprendiza-do a um número limitado de questões que sejam expli-cáveis pelos conhecimentos prévios dos alunos . Parale-lamente, são organizadas situações para o treinamento de habilidades e estágios de várias complexidades .1

A discussão do problema segue a técnica dos “sete passos” que consiste 1) na leitura do problema e esclarecimento dos ter-

mos desconhecidos; 2) na identificação das questões propostas; 3) na oferta de explicações sobre tais questões com

base no conhecimento prévio do grupo sobre o assunto;

4) no resumo das explicações; 5) no estabelecimento dos objetivos de aprendiza-

gem que favoreçam o aprofundamento do aluno e a complementação das explicações;

6) no estudo individual de acordo com os objetivos definidos; e

7) na rediscussão no grupo tutorial dos avanços no conhecimento obtidos pelo grupo9 .

O papel do tutor na ABP é o de ativar/facilitar a tutoria, assumindo a orientação geral deste processo conforme os passos acima, não devendo assumir a ex-plicação direta dos fenômenos em discussão .18 Já o gru-po tutorial é o local apropriado para o encorajamento do pensamento crítico, onde se pode levantar argumen-tos e idéias podem ser construídas de maneira criativa, permitindo a discussão grupal de problemas, espelhan-do futura prática profissional . Dessa forma, o aluno pode desenvolver competências para tornar-se um in-tegrante ativo com contribuições ao grupo, seja de aprendizagem, de pesquisa ou mesmo de trabalho . Além disso, de desenvolver suas habilidades de comu-nicação e de relacionamento interpessoal .9

Diante do exposto, percebe-se que tanto a Apren-dizagem Baseada em Problemas quanto a Metodolo-gia da Problematização empregam o problema como

o elemento central do processo de ensino-aprendiza-gem, embora constituam propostas metodológicas totalmente diferenciadas que assumem dimensões distintas, não podendo, portanto, serem confundi-das . O que se faz necessário ressaltar, no entanto, é que estas propostas compartilham o fato de serem inovadoras no sentido de buscarem a superação da postura pedagógica tradicional, procurando cami-nhos que viabilizam a abordagem interdisciplinar e integral dos temas, pautando todo o processo ensino-aprendizagem em questões contextualizadas e oriun-das do cotidiano do educador e do educando, reme-tendo-os sempre a sua realidade vivida .

CoNSiDErAçõES FiNAiSA implementação de metodologias ativas de ensi-

no-aprendizagem é fundamental para que mudanças amplas e profundas na formação de profissionais, particularmente os de saúde, possam acontecer .

A resistência a mudanças é grande entre os educa-dores, por constituir-se em um processo de idas e vin-das num movimento dinâmico e complexo, mas que permite uma nova qualidade para o processo ensino-aprendizagem, desde que ancorado em ações estraté-gicas fundamentadas em relações horizontais e na criação de espaços participativos e de reflexão crítica .14

Coadunadas com o pensamento de Corazza (2002)5, acreditamos que

“Esse é o tempo das pedagogias e dos currículos críticos,

radicais, emancipatórios, progressistas, cidadãos ( . . .) de

relacionar a Educação a questões de poder, saber e identi-

dade . ( . . .) De retirar todo o papel ingênuo, universalista e

eterno da Pedagogia, dando-lhe o que ela sempre mereceu:

a dimensão de ser, irredutivelmente, um campo político,

socialmente interessado, território de culturas em luta, e

muitíssimo forte para construir uma ou outra realidade,

uma ou outra sociedade, um ou outro valor, um ou outro

tipo de sujeito . É o tempo da Revolução em Educação .”

A formação na área da saúde, em especial, carece de um maior aporte de recursos metodológicos como possibilidade para atender qualitativamente as de-mandas do SUS . Neste sentido, tanto a Metodologia da Problematização como a Aprendizagem Baseada em Problemas constituem alternativas viáveis e exem-plos para se pensar novas possibilidades metodológi-cas adequadas à pratica educativa em saúde necessária neste início do novo século .

Ao destacar os pontos-chave e ao construir com os educandos as questões de aprendizagem, o educa-

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Metodologias ativas no processo ensino-aprendizagem: possibilidade para uma prática educativa mais participativa na área da saúde • Finkler M, Campogara S, Reibnitz KS, Backes VMS

dor legitima a busca do conhecimento despertando a curiosidade e a atitude investigativa . Este papel do professor é fundamental e requer muita sensibilidade e habilidade para perceber as situações que produ-zam significados estimulando a aprendizagem .12

No entanto, também é evidente a necessidade da discussão, no âmbito das escolas formadoras, dos pres-supostos relativos à pratica educativa em si, tais como o processo ensino-aprendizagem e o papel do educa-dor e do educando, pois somente assim a implemen-tação de novos métodos de ensino-aprendizagem poderá concretizar uma formação mais centrada no educando e mais qualificada para a sociedade que subsidia e depende desta formação .

AbStrACtActive methodologies for the teaching-learning process: the possibility of a more participative educational practice in the health sciences

This paper is a theoretical reflection on the use of active methodologies for teaching-learning, including the Methodology of Problematizing and of Problem-Based Learning, in the current context of changes in the education of health professionals, emphasizing particularly the theoretical and the methodological foundations of a more participative educational prac-tice and one better suited to social needs .

DESCriPtorSProblem-Based Learning . Education, Higher . Hu-

man Resources Formation . Education, Dental . Nurs-ing Education . §

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Recebido em 20/08/2008

Aceito em 25/11/2008

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Desempenho dos alunos de graduação durante a clínica de radiologia odontológicaPedro Luiz de Carvalho*, Mônica Cristina Camargo Antoniazzi**, João Marcelo Ferreira de Medeiros***, Nivaldo André Zöllner****, Elídia Mara dos Santos Carvalho*****

* Professor Responsável pela Disciplina de Imaginologia Dento-Maxilo-Facial do Departamento de Odontologia da Universidade de Taubaté

** Professor da Disciplina de Imaginologia Dento-Maxilo-Facial do Departamento de Odontologia da Universidade de Taubaté

*** Professor do Programa de Pós-Graduação em Odontologia, Área de Endodontia do Departamento de Odontologia da Universidade de Taubaté

**** Professor da Disciplina de Clínica Integrada do Departamento de Odontologia da Universidade de Taubaté

***** Aluna do Curso de Especialização em Radiologia Odontológica e Imaginologia do Departamento de Odontologia da Universidade de Taubaté

rESumoO presente estudo visa avaliar os alunos da disci-

plina de Imaginologia Dento-Maxilo-Facial, compa-rando alguns quesitos da prática de técnica radiográ-fica periapical realizada em manequins com dentes naturais e pacientes . Como base da pesquisa, foram analisadas radiografias obtidas nas aulas práticas, di-vididas em relação ao manequim com dentes naturais e pacientes . Nestas foram observados os seguintes critérios de qualidade: enquadramento do filme na região; distorção na imagem; exposição; direciona-mento do feixe de Raios X; e processamento radio-gráfico . As radiografias foram avaliadas, pelo mesmo operador . Os dados do desempenho dos alunos, se-guindo os critérios de qualidade estipulados e obtidos na avaliação foram tabulados, colocados em porcen-tagem e analisados estatisticamente pelo teste exato de Fisher para comparar os resultados dos exames radiográficos obtidos no manequim com dentes na-turais e pacientes, e o teste qui-quadrado para com-parar as falhas técnicas detectadas, ambos no nível de significância de 5% . Os achados experimentais per-mitiram concluir que: a estreita relação entre o apren-dizado pré-clínico e sua aplicação nas atividades clí-nicas no método integrado produz nítida capacitação

discente . E mais, o enquadramento do filme foi a falha técnica mais prevalente, no manequim e pacien-te . E por fim, o processamento radiográfico foi signi-ficativo nos resultados obtidos do paciente .

DESCritorESEnsino . Educação em Odontologia . Radiologia .

o ensino de Clínica em Radiologia é constituída de várias fases relacionadas entre si, e todas com o

seu papel na obtenção do sucesso na obtenção de exa-mes radiográficos . Um grande número de técnicas radiográficas intra e extrabucais são utilizados a fim de auxiliar no tratamento de um paciente . Todavia as va-riações anatômicas ou o estado físico do paciente nem sempre são considerados, o que ocasiona dificuldades para o operador e conseqüentemente dificuldades no diagnóstico . Tais dificuldades podem tornar-se ainda maior quando o operador é um aluno de graduação de Odontologia, ainda em fase de aprendizagem .

O ensino das técnicas radiográficas intrabucais cons-titui-se em um dos objetivos da Disciplina de Radiologia Odontológica . As técnicas radiográficas deveriam ser suficientemente simples a ponto de poderem ser trans-mitidas e entendidas no menor prazo de tempo possí-

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Desempenho dos alunos de graduação durante a clínica de radiologia odontológica • Carvalho PL, Antoniazzi MCC, Medeiros JMF, Zöllner NA, Carvalho EMS

vel . A iniciação para os acadêmicos torna-se um pouco complexa em função da existência dos diferentes mé-todos para as tomadas radiográficas intrabucais .

O Conselho Nacional de Educação - Câmara de Educação Superior10 (2002) instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Odontologia, a serem observadas na organização cur-ricular das Instituições do Sistema de Educação Su-perior do País . Este Conselho recomendou que o projeto pedagógico deve ser centrado no aluno como sujeito da aprendizagem e apoiado no professor como facilitador e mediador do processo ensino-aprendiza-gem . Este projeto pedagógico deverá buscar a forma-ção integral e adequada do estudante através de uma articulação entre a teoria e a prática .

As técnicas intrabucais têm sido avaliadas segundo diferentes fatores, que podem influir no resultado fi-nal e conferir a elas um valor interpretativo que venha ter a maior significância possível, liberando, assim, dados que efetivamente tenham importância para se-rem plenamente utilizados no diagnóstico . Estudos precisam ser encetados para identificação de fatores que afetam o apropriado treinamento dos estudantes em Radiologia Odontológica, bem como daqueles que podem impedir a transferência de dados obser-vados no treinamento para a prática . Uma vez esses fatores identificados, métodos poderão ser desenvol-vidos para permitir a implementação de estratégias educacionais apropriadas e corrigir influências nega-tivas na alta qualidade da Radiologia Odontológica .

O propósito de realizar essa avaliação de qual seria o desempenho dos alunos na execução das técnicas intrabucais de maneira que seja facilmente assimilado e que resulte em menor número de resultados inade-quados, estaremos trazendo benefícios aos pacientes de ambulatórios de escolas, no sentido de serem me-nos irradiados, ou seja, submetidos a menor quanti-dade de radiação .

O objetivo do presente estudo, tendo por base alguns critérios, pretende relacionar o aprendizado do laboratório com sua aplicação nas atividades clíni-cas durante o período da graduação, no método de ensino integrado .

mAtEriAL E métoDoSForam analisados os exames radiográficos realiza-

dos por alunos de graduação da Disciplina de Imagi-nologia Dento-Maxilo-Facial do Departamento de Odontologia da Universidade de Taubaté, empregan-do a documentação radiográfica das aulas práticas executadas em manequins e pacientes atendidos na

Clínica de Ensino de Radiologia . Durante o ano de 2005, foram analisadas 1 .004 radiografias periapicais, sendo 126 tomadas de manequins com dentes natu-rais, realizadas pela técnica da bissetriz, e 878 tomadas de pacientes, realizadas pela técnica do paralelismo, portadores da solicitação de exames radiográficos .

Para a obtenção dos exames radiográficos foram utilizados filme AGFA Dentus M2 Comfort com sen-sibilidade E, com tempos de exposição para cada re-gião da maxila ou mandíbula, do manequim com dentes naturais ou pacientes, conforme as especifica-ções do fabricante, com os aparelhos de Raios X He-liodent da Siemens, regulados de 60 kVp, 10 mA e a distância focal/filme de 20 cm para a técnica da bis-setriz, e 40 cm para a técnica do paralelismo .

O processamento foi realizado em câmara escura livre de vazamento de luz, com lâmpadas de seguran-ça equipadas com filtros KODAK GBX-2, fixadas a uma altura de 1,20 metros da mesa de trabalho . As soluções processadoras foram da KODAK, preparadas de acor-do com as instruções do fabricante, e o método de revelação executado foi o temperatura/tempo .

Depois de secas, as radiografias foram montadas em armações próprias para exames de boca toda pe-riapical, para os exames radiográficos dos pacientes, ou armações com dois ou quatro furos, para os resul-tados radiográficos dos manequins . A seguir exami-nadas em negatoscópio de luz uniforme, em ambien-te escurecido .15

As radiografias foram analisadas por um observa-dor, que foi calibrado previamente por exposição oral, analisando os seguintes critérios de avaliação:

1. resultado com boa qualidadeAs radiografias consideradas com boa qualidade

foram aquelas que apresentaram os seguintes critérios: presença de nitidez ou detalhe; mínimo de distorção; enquadramento correto do filme na região; ausência de artefatos; densidade e contraste adequados .

2. Enquadramento do filme radiográficoNão foi levado em consideração a posição do pi-

cote, devido ao filme estar embalado com filme de PVC, de modo que os alunos encontraram dificulda-des em identificar o picote .

As radiografias foram analisadas considerando: ade-quado, quando os dentes da região apresentaram regis-trados totalmente na imagem, com paralelismo entre a borda do filme e o plano oclusal . E inadequados, quan-do apresentou problemas relacionados com o posicio-namento do filme radiográfico na região do exame .

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3. Distorção da imagemNeste quesito foi considerada a presença de defor-

mação da imagem radiográfica, no plano vertical . Au-sente quando não ocorreram tais problemas técnicos .

4. Exposição do filme radiográficoAnálise do grau de escurecimento por aumento

ou redução dos fatores de exposição (miliampera-gem, quilovoltagem e tempo de exposição), assim foi adequada quando as tonalidades variaram do cinza médio a ligeiramente acima ou abaixo . Foi conside-rado inadequado quando o exame estive muito escu-ro ou claro, dificultando a avaliação do exame .

5. Direcionamento do feixe de raios XObservou se o filme foi totalmente sensibilizado

para ser adequado, já o inadequado quando ocorreu alguma parte do filme sem exposição (meia lua), ou

sobreposição interproximal .

6. Processamento radiográficoFoi observado o padrão de processamento (reve-

lação, fixação, lavagem, secagem e armazenamento) . Não foi considerado os possíveis erros de montagem na armação .

Os dados do desempenho dos alunos, seguindo os critérios de qualidade estipulados e obtidos na avalia-ção foram tabulados, colocados em porcentagem e analisados estatisticamente pelo teste exato de Fisher para comparar os resultados dos exames radiográficos obtidos no manequim com dentes naturais e pacientes, e o teste qui-quadrado para comparar as falhas técnicas detectadas, ambos no nível de significância de 5% .

rESuLtADoSOs resultados estão expressos nas Tabelas 1 e 2 .

tabela 1 - Resultados das avaliações das radiografias obtidas do manequim e pacientes .

Radiografias tecnicamente boas

(%)Radiografias inadequadas

(%) Total (%)

Manequim 62 6 64 7 126 13

Paciente 646 64 232 23 61 49

Total 708 70 296 30 1004 100

Teste Exato de Fisher (p-value < 0.0001).

gráfico 2 - Representação gráfica dos resultados radiográ-ficos inadequados (%) obtidos do manequim e pacientes .

8%

33%

3%

7%5%

4% 4% 4%2%

30%

0

5

10

15

20

25

30

35

a

a - Enquadramento b - Distorçãoc - Exposiçãod - Direcionamentoe - Processamento

cb ed

Manequim Paciente

(%)

gráfico 1 - Representação gráfica dos resultados das ava-liações das radiografias obtidas do manequim e pacientes .

6%

64%

7%

23%

0

10

20

30

40

50

60

70

Radiografias tecnicamente boas Radiografias inadequadas

Manequim Paciente

(%)

Enquadramento Distorção Exposição Direcionamento Processamento Total

Manequim 8% 3% 5% 4% 2% 22%

Paciente 33% 7% 4% 4% 30% 78%

Total 41% 10% 9% 8% 32% 100%

tabela 2 - Resultados radiográficos inadequados (%) obtidos do manequim e pacientes .

Teste Qui-Quadrado (χ2 = 46.257) (p-value < 0.0001).

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Desempenho dos alunos de graduação durante a clínica de radiologia odontológica • Carvalho PL, Antoniazzi MCC, Medeiros JMF, Zöllner NA, Carvalho EMS

DiSCuSSãoO presente estudo procurou avaliar o desempe-

nho dos alunos do curso de graduação tanto nas ati-vidades pré-clínicas como clínicas, empregando para isto radiografias realizadas pelos mesmos .

Na disciplina de Imaginologia Dento-Maxilo-Fa-cial do Departamento de Odontologia da UNITAU as atividades práticas têm início assim que os princí-pios básicos são discutidos, dentre elas são realizadas demonstrações de equipamentos e treinamento pré-clínico em manequim odontológico com dentes na-turais, com a finalidade de capacitar para o atendi-mento clínico de pacientes .7,10

Durante os trabalhos pré-clínicos, os alunos, com auxílio dos professores, iniciam o planejamento de um atendimento iniciando pela biossegurança da sala de exames e materiais a serem utilizados, realização dos exames, processamento radiográfico e monta-gem em armação . Nesse momento, o aluno realiza os mesmos procedimentos que deverão ser executados no paciente selecionado para realização de exames radiográficos . Este modelo de ensino de ação conco-mitante proporciona segurança, permitindo a prática preparatória passo a passo e a solução de prováveis dúvidas existentes diante de problemática semelhan-te . Mas não é só, segundo Bean1 (1969), Brandt2 (1983) e Brandt et al .3 (1997) sucederá de uma ma-neira geral, melhora no desempenho dos alunos quando os exames intra-orais forem realizados com o uso de posicionadores de filmes ou pela técnica do paralelismo .

A Tabela 1 corresponde aos resultados radiográfi-cos analisados obtidos do manequim e pacientes, onde se observa que 30% dos resultados apresenta-ram-se inadequados . Este resultado se apresentou similar ao encontrado por Rother e Schwartz14 (1976), maior que um estudo parecido realizado por Patel11 (1979) e menor que os trabalhos de Fortier8 (1979), Gasparini et al .9 (1992) e Pontual et al .13 (2005) com 75%, 13,5%, 91%, e 75% de resultados inadequados, respectivamente . As maiores dificuldades ocorreram no manequim, a justificativa deve-se ao fato de ser este o início do desenvolvimento das habilidades especí-ficas e que sem dúvida representam alto grau de difi-culdade . Bons resultados nos pacientes, fato que re-presenta de certa forma a capacitação discente na realização da tarefa com facilidade do posicionamen-to do filme e visualização do direcionamento do feixe de radiação .

Observando os critérios utilizados nas atividades pré-clínica versus clínica, observou-se maior adequa-

ção dos exames realizados na clínica, em pacientes . Claro está que os piores resultados obtidos nas ati-vidades pré-clínicas estão relacionados ao fato de serem os primeiros exames que os alunos realizam, os percentuais de insucesso decorrem do desprepa-ro do operador frente à complexidade da morfolo-gia do manequim para posicionamento do filme . Entre as principais dificuldades encontradas se des-taca o enquadramento filme, onde somente 41% dos casos estavam inadequados, seguida pelo pro-cessamento com 32% dos casos, distorção da ima-gem com 10% dos casos, exposição com 9% dos casos e por fim direcionamento do feixe de radiação X com 8% dos casos . Maiores informações podem ser encontradas na Tabela 2 que apresenta de forma comparativa os dados de inadequação dos procedi-mentos avaliados .

Crandell6 (1958), Fortier8 (1979), Consolo et al .5 (1990), Gasparine et al .9 (1992), Brandt et al .3 (1997), e Pontual et al .13 (2005), constataram problemas com o enquadramento do filme na região a ser radiogra-fada . Contudo, esse problema pode estar em função de variáveis como as variações anatômicas do pacien-te, desconforto em manter o filme na cavidade oral . Já no manequim, tem-se as limitações oferecidas pelo mesmo .

Quanto aos problemas de exposição do filme, pode ser atribuído em razão do primeiro contato com o filme e equipamentos . Contudo os aparelhos estavam bem calibrados, e os alunos usaram os fato-res de exposição segundo tabela adotada pela Disci-plina de Imaginologia Dento-Maxilo-facial da UNI-TAU . Nossos resultados nesse quesito foram similares aos de Rother e Schwarz14 (1976) e Consolo et al .5 (1990) .

Rother e Schwarz14 (1976), Fortier8 (1979), Patel e Greer12 (1986), Consolo et al .5 (1990), Gasparine et al .9 (1992), Brandt et al .3 (1997) e Pontual et al .13 (2005) e relataram problemas com a distorção da imagem, no entanto com percentuais maiores ao des-te trabalho . Ademais com relação à distorção, pode-se considerar na atividade pré-clínica: as limitações do manequim e dificuldade de visualização da bissetriz; e nas atividades clínicas: as dificuldades de manuseio do conjunto posicionador-filme com as características anatômicas intra-orais .

Problemas relacionados com o direcionamento do feixe de radiação X foram mencionados por Patel11 (1979), Patel e Greer12 (1986) e Consolo et al .5 (1990) em nosso estudo os fatores que contribuíram para esse problema foram: o primeiro contato com o equi-

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Desempenho dos alunos de graduação durante a clínica de radiologia odontológica • Carvalho PL, Antoniazzi MCC, Medeiros JMF, Zöllner NA, Carvalho EMS

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pamento e falta de orientação ao paciente por parte do aluno . Apesar disso, nossos resultados foram iguais para as atividades pré-clínicas e clínicas .

No que tange as falhas de processamento, obser-vamos alta freqüência de falhas, apesar das condições adequadas de iluminação e o processamento ser rea-lizado de forma padronizada conforme as especifica-ções dos fabricantes dos filmes e soluções processa-doras . Neste quesito, nossos resultados foram similares aos de Rother e Schwarz14 (1976), Collett4 (1980), Consolo et al .5 (1990) e Pontual et al .13 (2005) . Porém os alunos negligenciaram os aprendizados te-óricos, apesar de realizar um grande número de pro-cessamentos nas tomadas realizadas do paciente, sen-do que todas foram trabalhadas em câmara escura em forma de labirinto .

Diante dos resultados encontrados, foi possível observar que a simulação pré-clínica realizada apri-mora a experiência, porém, desperta para a necessi-dade da ação interativa pré-clínica/clínica, e um trei-namento adicional . A experiência pré-clínica deverá ser imediatamente colocada à prova na clínica de modo a aproveitar os conhecimentos recentes e apli-cá-los em pacientes . Nota-se que a evolução seqüen-ciada da habilidade exige por parte do corpo docen-te um estreito acompanhamento para não permitir a queda na performance nos detalhes vinculados a or-ganização . Tanto a ocorrência de erros bem como a qualidade radiográfica merece maior cuidado no acompanhamento, porém não constituem preocupa-ção eminente .

CoNCLuSõESOs achados experimentais permitiram concluir

que:1. A estreita relação entre o aprendizado pré-clínico

e sua aplicação nas atividades clínicas no método integrado produz nítida capacitação discente .

2. O enquadramento do filme foi a falha técnica mais prevalente, no manequim e paciente .

3. O processamento radiográfico foi significativo nos resultados obtidos do paciente .

AbStrACtUndergraduate dental student performance during dental radiology clinical activities

The present study aimed at evaluating students of Dental Radiology, comparing some requirements for performing the periapical radiograph technique car-ried out on manikins and patients . As a basis for the research, radiographs obtained in practical classes were analyzed and sorted in relation to manikins and

patients . The following criteria were also observed for sorting radiographs: diagnostic radiographs, film placement, image distortion, exposure, position of the tube head, and radiographic processing . It was observed that 30% of the results revealed faulty per-formances . Among the main difficulties found we can point out film placement problems, where only 41% of the cases were inadequate, followed by radiograph-ic processing for 32% of the cases, image distortion for 10% of cases, exposure for 9% of the cases, and finally, position of the tube head for 8% of the cases . The close relation between preclinical learning and its application to clinical activities in the integrated method produced a clear qualification of students . Furthermore, film placement problems were the most prevalent example of failure in both manikin and patient . Finally, processing failures were signifi-cant in the results obtained for the patient .

DESCriPtorSTeaching . Education, Dental . Radiology . §

rEFErêNCiAS bibLiográFiCAS 1 . Bean LR . Comparison of bisecting angle and paralleling meth-

ods of intraoral radiology . J Dent Educ . 1969;33(4):441-5 .

2 . Brandt C . Estudo comparativo do resultado radiográfico em-

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4 . Collett WK . Intraoral radiographic errors in films submitted

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sempenho de alunos de graduação na obtenção de radiografias

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Odontol Univ São Paulo . 1990;4(3):247-51 .

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dade de Odontologia de Piracicaba, no período de 1975 a 1988 .

Rev Odontol Univ São Paulo . 1992;6(3/4):107-14 .

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Revista da ABENO • 8(2):146-51 151

Desempenho dos alunos de graduação durante a clínica de radiologia odontológica • Carvalho PL, Antoniazzi MCC, Medeiros JMF, Zöllner NA, Carvalho EMS

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de Graduação em Odontologia . Parecer 1300/2001 . DO

07/12/2001 . CNS/CES 3 de 19/02/2002 . São Paulo: MEC,

2002 .

11 . Patel JR . Intraoral radiographic errors . Oral Surg Oral Med

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12 . Patel JR, Greer DF . Evaluating student progress through error

reduction intraoral radiographic technique . Oral Surg Oral

Med Oral Pathol . 1986;62(4):471-4 .

13 . Pontual MLA, Veoloso HHP, Pontual AA, Silveira MMF . Errores

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odontologia de Pernambuco – Brasil . Acta Odont Venez,

2005;43(1) . Disponible em URL: http//www.actaodontologica.

com/43_1_2005/errones_radiografias_intrabucales.asp .

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oral radiography . Stomatol DDR, v . 26, n . 12, p . 806-812,

1976 .

15 . Welander U, McDavid WD, Higgins NM, Morris CR . The effect

of viewing conditions on the perceptibility of radiographic

details . Oral Surg Oral Med Oral Pathol . 1983;56(6):651-4 .

Recebido para publicação em 20/03/2007

Aceito para publicação em 03/07/2008

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Percepções dos estudantes com relação ao mercado de trabalho em odontologiaSimone de Melo Costa*, Paulo Rogério Ferreti Bonan*, Sarah Jane Alves Durães**, Mauro Henrique Nogueira Guimarães de Abreu***

* Professores de Educação Superior do Curso de Odontologia da UNIMONTES

** Professora Titular do Centro de Ciências Humanas da UNIMONTES

*** Professor Titular do Curso de Odontologia do Centro Universitário Newton Paiva

rESumoO trabalho objetivou identificar e analisar as per-

cepções dos acadêmicos da Universidade Estadual de Montes Claros, Unimontes, com relação à Odontolo-gia e o mercado de trabalho . O estudo qualitativo foi realizado com estudantes de todos os períodos do curso, no ano de 2006 . A seleção da amostra foi a probabilística casual simples . O método utilizado foi a entrevista semi-estruturada . Há diferentes percep-ções concernentes ao mercado de trabalho em Odon-tologia . Percepções negativas como mercado satura-do, competitivo, banalizado e concorrência desleal . Em contrapartida, percepções positivas como merca-do amplo, carência de profissional especializado, re-cém-formados empregados e setor público favorecen-do o mercado de trabalho . Concluiu-se que, apesar das dificuldades encontradas no atual mercado de trabalho a oferta de empregos no setor público foi percebida como fator facilitador para inserção no mercado de trabalho .

DESCritorESMercado de Trabalho . Odontologia . Estudantes .

No contexto atual de transformações no mercado de trabalho em Odontologia surgem novas for-

mas de organização do trabalho objetivando a melho-ria da qualidade e da produtividade dos serviços . Por conceituação, a expressão mercado de trabalho refe-re-se ao contexto dentro do qual se forma livremente o valor do produto, bem ou serviço . Isso ocorre pelo ajustamento das ofertas e demandas . Essa definição se enquadra ao mercado odontológico pelo inter-

relacionamento de cuidados de saúde, pela demanda de usuários e pela oferta de serviços profissionais .33 Como conseqüência, se troca força de trabalho por um determinado salário .7

As transformações no mercado de trabalho em Odontologia deram-se progressivamente, ao longo do tempo . No final de 1960, a realidade era o exercí-cio liberal . Nos anos 70, diante da crise econômica e social, o mercado apresentava-se em transição, pas-sando do regime de trabalho liberal para assalaria-do .32 Na década de 80, revelou-se uma maior preocu-pação com o caráter social na formação e na prática profissional . Nesta década houve aumento progressi-vo da rede assistencial do setor estatal, que passou a ser o maior empregador dos cirurgiões-dentistas .25 Nos anos 90, cresce o número de empresas que pres-tam serviços odontológicos, os profissionais passam a se assalariar através da relação direta com clientes dos planos de saúde .32

Em vista dessa modificação de cenário, o modelo tradicional que o mercado atribuiu ao cirurgião-dentis-ta deve ser substituído por novos papéis .29 É necessário renovar a prática odontológica e rediscutir as atribui-ções e espaços de trabalho .1 Abordando essa temática, no Brasil, diversas pesquisas quantitativas foram reali-zadas, todavia, há escassez de estudos qualitativos sobre impressões relativas ao mercado de trabalho em Odon-tologia, particularmente na visão acadêmica .7

Este trabalho objetivou identificar e analisar as percepções dos acadêmicos do curso de Odontologia da Unimontes, com relação ao mercado de trabalho em Odontologia .

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Revista da ABENO • 8(2):152-9 153

Percepções dos estudantes com relação ao mercado de trabalho em odontologia • Costa SM, Bonan PRF, Durães SJA, Abreu MHNG

mAtEriAL E métoDoSO método utilizado na pesquisa qualitativa foi a

entrevista semi-estruturada, localizada entre a entre-vista livre e a dirigida .27,28 A abordagem qualitativa preocupa-se com um nível de realidade que não pode ser compreendido apenas pela quantificação, traba-lhando com o universo de aspirações, significados, motivos, valores, atitudes e crenças .3,6,27,28

Identificou-se o tamanho da amostra através de entrevistas abordando um número de indivíduos que permitiu certa reincidência de informações26 e anali-sando todos os períodos do curso e ambos os sexos . Dessa forma, dois acadêmicos foram entrevistados em cada período . A escolha da amostra foi probabilística casual simples e estratificada . O termo de consenti-mento livre e esclarecido foi obtido conforme a Re-solução 196/96 .9

Visando maior precisão na captura dos dados re-alizou-se a gravação das entrevistas em áudio, que posteriormente foram transcritas e, desenvolveu-se a análise de conteúdo .4,38,40

rESuLtADoS E DiSCuSSãoParticiparam 20 acadêmicos . A literatura esclare-

ce que o limite satisfatório para análise varia de 15 a 25 entrevistas individuais, sendo que o maior número não melhora necessariamente a qualidade, ou leva a uma compreensão mais detalhada .6

A partir da análise das entrevistas, as respostas foram pós-categorizadas conforme o Quadro 1 . A análise identificou quatro categorias: Mercado de Trabalho Saturado, Mercado de Trabalho Enfraque-cido, Mercado de Trabalho Amplo e Requisitos para se sobressair no Mercado de Trabalho . Embora os aspectos quantitativos não sejam particularmente relevantes neste estudo, o Quadro 1 revela que para um mesmo entrevistado, há ocorrência de percep-ções diversas quanto ao mercado de trabalho em Odontologia . Observou-se que as percepções positi-vas foram identificadas nas entrevistas referentes aos períodos mais avançados do curso, a partir do 6º período, o que sugere que com o avançar da gradu-ação o acadêmico passa a ter maiores informações acerca da profissão e possibilidades de mercado de trabalho .

Visões negativas sobre o mercado de trabalho em odontologiaMercado de Trabalho Saturado

Para 12 (60%) estudantes o mercado de trabalho em Odontologia está saturado . A saturação é perce-

bida tanto no que diz respeito às regiões geográficas, como também às especialidades odontológicas .

( . . .) tá um pouco saturado, mas a gente quando viaja vê

que tem lugar que tá precisando demais de profissional

especializado .( . . .)em algumas áreas da odontologia têm

muitos dentistas e em outras não (Entrevista 3)

Há percepções de que na mesma cidade há pontos diferentes de saturação do mercado, sendo que os bairros foram considerados locais mais favoráveis para inserção profissional .

Hoje em dia quem tá montando consultório particular, tá

montando em periferias porque o centro tá lotado (Entre-

vista 19) .

Observa-se na fala supracitada que o estudante quando fala em mercado de trabalho vislumbra a atu-ação profissional liberal . Tendência corroborada pela pesquisa29 que revelou o perfil do cirurgião-dentista brasileiro, sendo que, a maioria tem a auto-percepção de que ainda é profissional autônomo .Contrariando essa visão um outro estudo5 apontou que o trabalho liberal perde força e surge o trabalho assalariado di-reto, através de contratação, ou indireto através dos credenciamentos .

A fala transcrita abaixo demonstra que a prática odontológica ainda não é acessível para toda a popu-lação, mesmo em face do aumento de profissionais atuantes no mercado de trabalho:

Quadro 1 - Categorias Mercado de Trabalho em Odonto-logia e variáveis . Curso de Odontologia da Universidade Estadual de Montes Claros, Unimontes, Brasil, 2006 .

Categorias Variáveis n %

1 Mercado de Trabalho Saturado

•Região Geográfica•Área de Especialização

12 60

2 Mercado de Trabalho Enfraquecido

•Relação oferta x procura•Banalização da profissão•Competição desleal•Desunião da classe

5 25

3 Mercado de Trabalho Amplo

•Setor público•Áreas básicas•Diversidade de atuação

5 25

4 Requisitos para sobressair no Mercado de Trabalho

•Relacionamento inter-pessoal•Capacitação profissional•Versatilidade•Escolha da região•Setor público

13 65

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Revista da ABENO • 8(2):152-9

Percepções dos estudantes com relação ao mercado de trabalho em odontologia • Costa SM, Bonan PRF, Durães SJA, Abreu MHNG

154

( . . .)tá saturado, mas, engraçado, que nem todo mundo

tem o atendimento odontológico, e isto é que mata a gen-

te, né, porque saturado, mas não atende a população que

precisa (Entrevista 9) .

A argumentação do entrevistado é justificada pelo estudo5 que afirmou que a pouca procura por assis-tência odontológica também se deve à perda do poder aquisitivo da população; pois com baixos salários di-ficilmente as pessoas procurarão tratamento odonto-lógico no setor privado .

Uma outra questão percebida quanto à saturação do mercado de trabalho se deve ao fato das pessoas preferirem ficar na própria região:

( . . .)eu vejo a oportunidade de trabalho em outras regiões,

porque tem muitas pessoas que querem formar e ficar na

região deles (Entrevista 4) .

Corroborando a fala acima, o entrevistado 3, ape-sar de perceber pouca expectativa no mercado de trabalho da cidade em que reside, afirmou querer permanecer no local de residência .

Mas eu acho que pra mim vai ser melhor mesmo é aqui

em Montes Claros (Entrevista 3) .

Muitos profissionais recém-formados se dispõem a mudar de cidade e procurar novas oportunidades dentro da profissão,22 no entanto, outros resistem em se afastar das grandes cidades .20,41

Na visão do entrevistado 13, o mercado de traba-lho está saturado também em outras áreas da saúde:

Eu acho que não só de odonto, como também da medici-

na, que o mercado tá bem cheio (Entrevista 13) .

O mesmo entrevistado relata que a profissão não é o mais importante e sim, o perfil diferenciado do profissional .

Tem gente que conheço que antes fazia odonto agora tá

fazendo enfermagem, que diz que tava morrendo de fome

na profissão, agora tem que saber como que ele atuava,

porque até mesmo na enfermagem ele vai acabar morren-

do de fome . A gente tem que ter um perfil diferenciado

(Entrevista 13) .

Apesar da percepção de que há saturação no mer-cado de trabalho, identificou-se neste estudo que a Odontologia ainda foi considerada uma profissão que

oferece oportunidades pela possibilidade de trabalho autônomo, ascensão social e econômica:

Eu vejo a odontologia como uma grande oportunidade,

assim, porque o pessoal pode trabalhar por conta própria,

pode fazer seu horário ( . . .) se você for um bom profissio-

nal, você vai ter ascensão tanto social como econômica

(Entrevista 4) .

Essa visão corrobora o estudo16 em que 76,0% dos pesquisados afirmaram ser o prestígio social uma das motivações para escolha da profissão . É interessante observar que ainda nos dias atuais há percepção de que a Odontologia se caracteriza como profissão au-tônoma . Conceitualmente o exercício liberal com-preende32 clientela própria, posse de equipamentos e instrumental, liberdade de fixação de horários e trabalho isolado em consultório próprio .

Mercado de trabalho enfraquecidoPara 5 (25%) entrevistados o mercado de trabalho

encontra-se enfraquecido .

Infelizmente parece que a odontologia entrou numa ba-

nalização que tá avacalhando o mercado de trabalho (En-

trevista 5) .

Quando foi interrogado sobre o que queria dizer com o termo “banalização da profissão”, o entrevista-do esclareceu:

Vou dar um exemplo, não tem coisa pior que você chegar

ao centro e te entregarem um cartãozinho de atendimen-

to em consultórios com preços promocionais ( . . .) eu nun-

ca vi alguém entregar um cartãozinho da medicina . Isto

faz cair na banalização, acaba sendo falha do profissional,

porque ele não valoriza a profissão, não trabalha com ma-

teriais adequados e cobra preços promocionais ele acaba

com a qualidade e acaba ficando competitivo o que acaba

com a profissão (Entrevista 5) .

A percepção da banalização da profissão vai além da panfletagem, sendo considerada também, na for-ma de cobrança de honorários dos serviços odonto-lógicos prestados:

( . . .) o ortodôntico, paga só manutenção, o aparelho é de

graça, tudo isso eu acho que é uma banalização muito

grande da profissão, e com isto o mercado de trabalho está

diminuindo (Entrevista 5) .

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Percepções dos estudantes com relação ao mercado de trabalho em odontologia • Costa SM, Bonan PRF, Durães SJA, Abreu MHNG

A fala corrobora a imagem pública da Odontolo-gia associada à arte mecânica com vistas ao lucro . Devido a essa imagem a profissão caracterizou-se como atividade de caráter comercial .12 Com relação à percepção de ser a panfletagem uma ação irregular, essa visão é corroborada pelo Código de Ética,14 que determinou ser infração ética anunciar formas de comercialização que signifiquem competição desleal e que poluam o ambiente através de propaganda .

Outro fato percebido e que acarreta o enfraque-cimento do mercado de trabalho trata-se da relação oferta e procura, pois gera competição entre os pro-fissionais da odontologia:

( . . .)o mercado de trabalho às vezes assusta, realmente, têm

muitos profissionais e muitas faculdades estão abrindo, mui-

ta gente no mercado ( . . .) acho um pouco competitivo, pa-

rece que não tem muita união entre os profissionais, pare-

ce que um fala mal do outro, fala que o desempenho do

outro não foi tão bom quanto o do outro (Entrevista 7) .

A fala do entrevistado 7 demonstra que falta ética entre os profissionais da Odontologia, pois constituí infração ética criticar técnicas utilizadas por outros profissionais como sendo inadequadas ou ultrapassa-das .14

O grande número de faculdades foi considerado um dos agravantes da piora nas proporções profissio-nais e usuários dos serviços de saúde .

Seria o enfraquecimento da classe ( . . .), este enorme au-

mento de universidade, muita gente formando, a tendên-

cia é que tem muito profissional pra pouca gente (Entre-

vista 8) .

A alta competitividade na Odontologia identifica-da nas entrevistas foi corroborada por outros estu-dos19,23 que afirmaram ser a alta competitividade, a saturação do mercado de trabalho e o baixo poder aquisitivo das pessoas, as maiores dificuldades enfren-tadas pelos profissionais .

É interessante observar que os estudantes perce-bem que a competição dentro da classe odontológica já começa na graduação:

Até na sala de aula também está bem competitivo, não sei

se é por causa que já imagina que o mercado de trabalho

está saturado e já começa a pressão na sala de aula (Entre-

vista 7) .

A formação tecnicista, a falta de humanização da

saúde e o desrespeito às normas de biossegurança foram percebidas como falhas que geram competiti-vidade desleal . Para reduzir o valor do serviço, o pro-fissional oferece atendimento de baixa qualidade ferindo a ética profissional14 que advoga o zelo pela saúde e dignidade do paciente .

O dentista continua no modelo Flexineriano, não faz ana-

mnese não vê a história do paciente para atendimento ( . . .) .

E também tem muita clínica popular, desrespeita a profis-

são ( . . .) extração a R$5,00, banaliza os outros profissionais

( . . .) também não deve ter métodos de biossegurança, tá tão

barato, pra chegar e extrair sem esterilizar (Entrevista 7) .

Essa competição desleal gerada pelas chamadas “clínicas populares” foi percebida como fator que influencia negativamente no mercado de trabalho:

( . . .) quem vai gastar muito dinheiro, se tem lugar que faz

a R$5,00 . Agora, outros vão pensar: tá tão barato, tem al-

gum motivo! Mas eu acho que a maioria vai procurar o

mais barato (Entrevista 7) .

A questão da crise de prestígio na profissão apa-receu também em outras pesquisas8,36 . A crise abala o prestígio e o poder do profissional no mundo do tra-balho . A desvalorização da profissão não tem aconte-cido somente na Odontologia .

( . . .)tem sido muito desvalorizada a odontologia, mas eu

acho que também a saúde geral tem caído o nível do salá-

rio (Entrevista 20) .

A ameaça de proletarização e desprofissionaliza-ção do trabalho especializado foi abundante na déca-da de 80, especialmente em relação à medicina, ge-rando uma outra linha de análise sociológica das profissões: possibilidade dos médicos serem reduzi-dos à função proletária e da profissão deixar de ser uma atividade autônoma .26 Em contrapartida, para outros autores30,31 não se tratava de proletarização ou perda de dominância profissional, mas da redução da autonomia do profissional da medicina, na medida em que as elites utilizavam as profissões para cumprir seus propósitos de dominação econômica e social .

Nesse sentido32 não são os que vendem a força de trabalho que dirão o que querem receber, mas sim os que compram a força de trabalho . Esses por sua vez, procuram primeiramente ampliar o capital através da exploração do trabalho, pela apropriação da mais-valia .

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Percepções dos estudantes com relação ao mercado de trabalho em odontologia • Costa SM, Bonan PRF, Durães SJA, Abreu MHNG

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Visões positivas sobre o mercado de trabalho em odontologiaMercado de trabalho amplo para Odontologia

Para 5 (25%) entrevistados o mercado de trabalho apresenta-se favorável, na óptica que se “tem um mer-cado ainda amplo” . Essa percepção respaldou-se na alta e permanente demanda pelos serviços odontoló-gicos e pelo fato dos recém-formados já estarem em-pregados, através de concursos públicos .

Eu acho que a odontologia é uma área que sempre vai ter

demanda porque sempre vai tá alguém precisando de fazer

algum tratamento nem que seja por uma cárie ( . . .) todo

mundo que tá formando, está achando emprego, fizeram

concurso passaram (Entrevista 11) .

A ampliação dos serviços de saúde públicos, como Programa de Saúde da Família (PSF), foi um fato que favoreceu o mercado de trabalho:

( . . .)muito amplo o mercado de trabalho .A implantação da

saúde bucal no PSF (Entrevista 14) .

A implantação de serviços públicos alterou signi-ficantemente o mercado de trabalho, diminuindo a atuação do profissional liberal . No final de 1980, os postos de trabalho no setor público aumentaram, sendo que, atualmente, é o maior empregador na saúde .33

Para um entrevistado, apesar de a sociedade acre-ditar que o mercado de trabalho em Odontologia não está favorável, sua visão foi dessemelhante:

Apesar de que falam em todos os lugares aí, de que o mer-

cado de trabalho é horrível ( . . .) . Eu acho que o mercado

de trabalho não pode ser tão ruim porque eu sou um aca-

dêmico no 10º período, não estou formado e já tenho

proposta para trabalhar em uns 3 a 4 lugares (Entrevista

20) .

A adoção do trabalho assalariado ocorreu em fun-ção das mudanças que ocorreram no mercado de trabalho em Odontologia,20 que não se caracteriza mais por ser uma profissão essencialmente autôno-ma .11,24 Fato corroborado por estudo16 na cidade de São Paulo, em que 40% dos profissionais reportaram algum vínculo empregatício .

A possibilidade de atuação no serviço público foi constatada também no estudo realizado com gradu-andos de Odontologia, 86,4% afirmaram que o servi-ço privado exclusivo já não é mais a realidade .10 A

diminuição no exercício da profissão como autôno-ma atinge os formandos e suas expectativas de traba-lho .34 A implantação de serviços públicos, empresas e associações alteraram o mercado de trabalho,33,39 sendo que entre 1987 a 1992, o crescimento dos pos-tos de trabalho no setor público foi muito maior que no setor privado .35

A possibilidade de diversificação das formas de atuação, como divisão de despesas de um consultório particular, setor público, setor privado, docência, mestrado e pesquisa foram identificados na fala trans-crita abaixo:

Tem vários campos pra ta atuando, pode estar dividindo

consultório com outros profissionais, tem o serviço públi-

co, tem a faculdade, no caso de mestrado, tem área da

pesquisa ( . . .) .O mercado é bem amplo, tem várias opções

(Entrevista 19) .

Na perspectiva de atender as novas formas de atu-ação profissional a adoção do modelo das competên-cias objetiva adequar a formação da força de trabalho às exigências do sistema produtivo . Nesse contexto, competência profissional é a capacidade de articular conhecimentos, habilidades e atitudes, colocando-os em ação para resolução de problemas e enfrentamen-to de situações imprevisíveis no trabalho e no contex-to cultural .42 No modelo de competências a noção de empregabilidade fundamenta-se no fato de que o traba-lhador passa a ser responsável por sua inserção no mercado, mantendo as competências atualizadas .18

requisitos para sobressair no mercado de trabalho

Essa categoria foi identificada nas falas de 13 (65%) acadêmicos . Ao mesmo tempo em que os es-tudantes falam das dificuldades no mercado de tra-balho, eles sugeriram soluções para os problemas detectados . O relacionamento inter-pessoal com o paciente foi considerado um critério importante para sobressair no atual mercado de trabalho em Odonto-logia:

Muito importante, porque ele vê se o profissional é edu-

cado . Tem uma relação boa com ele, ele vai contar para as

pessoas lá na frente: oh aquele dentista ali, ele é muito

bom, é muito educado! (Entrevista 2) .

A qualificação profissional, ainda na graduação, foi apontada como requisito para enfrentamento do mercado de trabalho:

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Percepções dos estudantes com relação ao mercado de trabalho em odontologia • Costa SM, Bonan PRF, Durães SJA, Abreu MHNG

Obter o máximo de conhecimento na faculdade, pesquisar

nos livros, nos artigos, coisa assim (Entrevista 2) .

Se você tiver uma boa formação, uma perspectiva boa de

si mesmo ( . . .) eu acho que vai dar bem (Entrevista 15) .

Os entrevistados suscitaram o debate em torno da relação entre qualidade da formação e as capacidades de esforço e desempenho individual . Sugeriram que o sucesso acadêmico e profissional, e conseqüente-mente a entrada no mercado de trabalho, não depen-dem exclusivamente do tipo de formação, mas, de características individuais de cada um . Pode-se tam-bém, nessa perspectiva, dizer que na fala está presen-te não somente as contingências de oferta do curso e as contingências sociais de cada um, mas também, que o seu sucesso (ou não) depende da sua capacida-de ou mérito de aproveitar o que é ofertado .

A escola democrática oferece oportunidades a todos . Alguns conseguem melhores resultados duran-te a formação, ou porque aprendem com maior faci-lidade ou porque manifestam maior interesse pelas práticas de ensino .21 As competências e habilidades apontadas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para formação em Odontologia, mencionam que os estudantes devem “aprender a aprender”, e ter res-ponsabilidade e compromisso com a sua educação,2,29 desenvolvendo a habilidade de aprender e recriar constantemente, no sentido de uma educação conti-nuada .13

Na percepção dos estudantes a qualificação pro-fissional deve estender-se após a graduação, através dos cursos de pós-graduação:

Por isto é que eu falo que tem que especializar (Entrevista

3) .

Capacitação e versatilidade profissional foram apontadas como critérios para sobressair no mercado de trabalho:

Vai conseguir prevalecer quem ta mais capacitado, pra

quem é mais versátil (Entrevista 6) .

A formação de profissionais de saúde está ligada diretamente às oportunidades provindas do mercado de trabalho . Ou seja, o mercado de trabalho impõe qual área está mais promissora para escolha da for-mação .2 Estudo5 mostrou que 69,4% dos entrevista-dos consideraram indispensável fazer cursos de pós-graduação . A procura pela especialização é uma

forma de melhor competir no mercado de trabalho, obtendo melhor prestigio social e renda .37 A especia-lização prepara melhor para o exercício da profis-são .17

Ainda com relação à qualificação profissional atra-vés da especialização identificou-se neste estudo que a escolha da mesma deverá ser fundamentada em dois pontos: área de conhecimento com maior abrangên-cia e avaliar o que a população precisa .

Quando eu imagino em especializar talvez teria que ser

mais abrangente, eu teria que saber fazer mais coisas, tem

que ver o que já tem no mercado, o que a população pre-

cisa (Entrevista 7) .

Em outro estudo10 constatou-se que 98,1% dos estudantes pretendiam especializar . Neste estudo, além da capacitação profissional, há percepções de que, trabalhar com gosto, buscar a qualidade no ser-viço e aprender a gostar do que faz são detalhes que fazem o reconhecimento do profissional junto à so-ciedade . Detalhes que fazem a diferença,18 pois dian-te do crescimento das exigências de produtividade e de qualidade dos setores produtivos e considerando o atual mercado de trabalho instável e flexível, au-mentam-se os requerimentos relativos às qualifica-ções dos profissionais .

Dentre os requisitos para sobressair no mercado de trabalho, identificou-se o requisito buscar regiões com menor concentração de profissionais .

Buscar as cidades pequenas, os lugares mais longínquos

porque nos grandes centros realmente tá saturado (Entre-

vista 6) .

Também foi identificado como requisito questões relacionadas às condições de trabalho e remuneração profissional:

Não ficar sujeito às condições não dignas de trabalho, a

salários não dignos a sua formação (Entrevista 14) .

Percepção prevista pelo Código de Ética,14 que determina constituir dever do profissional recusar-se a exercer a profissão em âmbito onde as condições de trabalho não sejam dignas, seguras e salubres .

Quanto à dificuldade enfrentada no mercado de trabalho concernente à competitividade desleal iden-tificou-se neste estudo uma sugestão para resolução desse problema:

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Percepções dos estudantes com relação ao mercado de trabalho em odontologia • Costa SM, Bonan PRF, Durães SJA, Abreu MHNG

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Deveria ter uma tabela mínima, por exemplo, não poderia

ter extração por menos de R$50,00, tinha que ser de

R$50,00 para cima, mas só funcionar com esterilização por

isto, mas o mínimo seria R$50,00 e não R$5,00 (Entrevista

7) .

Em outro estudo32 os pesquisados mencionaram que as clínicas particulares ditas “populares” ofere-cem trabalhos de níveis baixíssimos, desmerecendo a classe e explorando seus membros . Desse modo, a autonomia e a qualidade do serviço fogem do contro-le do cirurgião-dentista, indo contra o modelo arte-sanal que enfatiza a qualidade do trabalho e a inde-pendência do profissional .

Outra questão identificada foi a percepção de ser o setor público requisito importante para aquisição de experiência profissional .

Eu acho que seria uma experiência boa ter um emprego

na prefeitura ( . . .) . Eu acho que são ótimas experiências

antes de você abrir o consultório (Entrevista 19) .

Diante das dificuldades encontradas no mercado de trabalho o trabalhador deve dominar o método científico, biológico e social .15 O trabalho no setor público exige do trabalhador decisões e escolhas de opções, e amplia as operações cognitivas para realiza-ção das atividades .18

CoNCLuSõESConcluiu-se que, há diferentes percepções acerca

do mercado de trabalho em Odontologia . Pontos ne-gativos foram identificados nas entrevistas dos acadê-micos como: mercado saturado, competitivo, banali-zado e desvalorizado, concorrência desleal, enfraquecimento da classe e profissão mal remune-rada . Em contrapartida, pontos positivos também foram identificados: mercado de trabalho amplo, lo-calidades com poucos profissionais especializados, a empregabilidade do recém-formado e a ampliação da saúde bucal no setor público . Portanto, apesar das dificuldades encontradas no atual mercado de traba-lho a oferta de empregos no setor público foi perce-bida como fator facilitador para inserção no mercado de trabalho .

AbStrACtStudents’ perceptions with relation to the dental job market

The study aimed at identifying and analyzing the perceptions of the students of the State University of

Montes Claros, Unimontes, with relation to the dental job market . This qualitative study was performed with students from all years of the course, in the year of 2006 . The selection of the sample was simple casual probabilistic . The method used was the semi-struc-tured interviewDifferent perceptions concerning the dental job market were observed . Negative percep-tions were that the market was saturated, trivial and competitive, and that competition was unfair . On the other hand, positive perceptions were that the market was ample, that specialized professionals were lacking, that jobs were being offered to new college graduates and that the public sector favored the job market . In conclusion, despite the difficulties found in the cur-rent job market, public sector insertion was perceived as a factor facilitating insertion in the job market .

DESCriPtorSJob Market . Dentistry . Students . §

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Recebido para publicação em 20/03/2007

Aceito para publicação em 30/04/2008

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interação ensino-serviço e a formação do cirurgião-dentista generalista: desafio enfrentado pelo curso de odontologia da uEFSAna Áurea Alécio de Oliveira Rodrigues, Adriano Maia dos Santos, Renato Queiroz dos Santos Junior, Jamilly de Oliveira Musse, Maria Bernadete C . Bené Barbosa, Ana Figueiredo Bomfim Matos, Fabrício dos Santos Menezes, Rodolfo Macedo Cruz Pimenta

rESumoO presente trabalho discute as novas práticas de-

senvolvidas na disciplina de Odontologia Preventiva e Social I (OPS I) do curso de Odontologia da UEFS, em consonância com as Diretrizes Curriculares Na-cionais (DCN) para o curso de Odontologia e às Po-líticas de Saúde Bucal no SUS, junto aos estudantes e profissionais da área de educação e de saúde . Utili-zando-se uma concepção problematizadora no pro-cesso de ensino-aprendizagem, o estágio curricular, sob orientação docente, tem aproximado os discentes da realidade que compõe as Unidades de Saúde da Família (USF) . Tal fato possibilita aos discentes e pro-fessores:a) vivenciarem a rotina e a prática do serviço de saú-

de; b) realizarem ações de promoção de saúde, com abor-

dagem sobre os fatores de risco ou proteção para doenças da boca e outros agravos;

c) acompanharem visitas domiciliares e atividades de educação em saúde, envolvendo Equipes de Saúde da Família, de Saúde Bucal e comunidade .O território de atuação das Equipes de Saúde da

Família (ESF) tem se constituído como cenário de formação dos profissionais de saúde, o que permite aos graduandos integrarem ações junto ao serviço e à comunidade, proporcionando aos mesmos a com-preensão do processo de trabalho da ESF e a impor-tância do conhecimento da realidade social da popu-lação como determinante da saúde geral e bucal . Esta estratégia visa, além da formação de um excelente técnico, um profissional generalista, com amplo co-nhecimento científico, sensível, que saiba cuidar, aco-lher e ouvir o usuário, responsabilizando-se por sua saúde .

DESCritorESOdontologia . Formação de Recursos Humanos .

Sistema Único de Saúde . Currículo .

Na Odontologia, é fato que as práticas curativas predominam sobre as preventivas, revelando

que a atenção odontológica prestada, ainda é, hege-monicamente, individual e, realizada no restrito am-biente clínico-cirúrgico .9 Garrafa e Moysés,5 brilhan-temente, categorizaram em 1996, a prática Odontológica como tecnicamente elogiável, [ . . .] cientificamente discutível [ . . .] e socialmente caótica – constatação que, infelizmente, permanece atual .

Numa visão restrita, independente da concepção de saúde que adotarmos, será preciso reconhecer, e considerar, que a debilidade do curativismo, mesmo colocando a necessidade de incorporar medidas pre-ventivas individuais e “de massa” (de alcance coletivo) como forma de equacionar os problemas de saúde mais agudos é ainda uma proposta de prática profis-sional centrada, apenas, na restauração ou preserva-ção dos corpos, já que não reconhece os determinan-tes políticos-sociais-psicológicos-culturais do adoecimento, ou, simplesmente, não se propõe a atu-ar integralmente sobre eles .

Nesse momento a saúde que passamos a definir é algo socialmente determinado, resultante das condi-ções de moradia, alimentação, saneamento básico, educação, salário, acesso aos diversos tipos de serviços de saúde e condições de trabalho em geral, por exem-plo . Campo em que se deve trabalhar intensiva e obri-gatoriamente com a integralidade, interdisciplinari-dade e a intersetorialidade . Quando falarmos das experiências inovadoras, esses três conceitos estarão juntos . Em especial, a integralidade que reflete ques-tões de natureza ideológica e de natureza técnica .

Se nos propusemos a lidar com problemas com-plexos, a integralidade deve estar em destaque nas ações de saúde, onde assistência é apenas um dos itens

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obrigatórios de qualquer proposta abrangente, cida-dã e ética .

Por isso, os atores/sujeitos sociais, incluindo todos os profissionais de saúde, comprometidos com os princípios do Sistema Único de Saúde, o SUS, preci-sam lutar para superar os obstáculos estruturais e conjunturais na organização dos serviços de saúde integralizando, democratizando e universalizando as suas ações . O grande desafio hoje, também na área da saúde bucal é a integralidade das ações e univer-salidade do acesso . É necessário, por exemplo, valo-rizar a saúde bucal nos planos municipais e estaduais e influir na organização e implementação das políti-cas de saúde, inclusive no que se refere aos recursos humanos

A política de saúde bucal do SUS busca favorecer a mudança da prática odontológica por meio da in-serção de pessoal técnico - Auxiliar de Consultório Dentário (ACD) e Técnico em Higiene Dental (THD) e do envolvimento de outros profissionais de nível superior (interdisciplinaridade), incorporação de novas tecnologias e ampliação de ações coletivas em saúde . Tais direcionamentos visam melhorar o perfil epidemiológico relacionado à saúde bucal, bem como, aumentar a cobertura assistencial para a popu-lação, garantindo a integralidade e a resolubilidade no cuidado odontológico . Incentiva-se, assim, práti-cas comunitárias que possibilitam o crescimento da consciência sanitária e a mobilização da sociedade civil em torno das questões de saúde .10

Questões como a promoção de saúde bucal, que significa a construção de políticas públicas saudáveis, através da criação de ambientes que apóiem escolhas benéficas, com o fortalecimento da ação comunitária, desenvolvimento de habilidades de autocontrole, au-tonomia pessoal para práticas de autocuidado em higiene e saúde e a orientação de serviços odontoló-gicos . Transcendendo-se, a dimensão meramente técnica para incorporar a dimensão política e social como aspectos essenciais; integrando a saúde bucal às demais práticas de saúde coletiva .13

Assim, a atenção à saúde bucal implica atuar, con-comitantemente, sobre o máximo possível de deter-minantes do processo saúde-doença bucal, exigindo uma abrangência que ultrapassa não apenas o âmbi-to da Odontologia, mas do próprio setor da saúde . Tudo isso requer a articulação e coordenação de ações intersetoriais, isto é, ações desenvolvidas no conjunto da sociedade (saneamento, educação, emprego, etc .) .9

Neste contexto, ao se analisar a formação nas es-

colas de Odontologia no Brasil, percebe-se um inten-so debate acerca da necessidade de mudanças nos currículos e nas práticas pedagógicas, pois a Odonto-logia não está satisfazendo às necessidades apresen-tadas pela sociedade . Embora a universidade esteja buscando ampliar sua relevância social, a produção de conhecimento e a formação profissional estão mar-cadas pela especialização, pela fragmentação e pelos interesses econômicos hegemônicos .3

As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para o curso de Odontologia trazem orientações no senti-do de superar tal situação, sendo um de seus objetivos formar profissionais de saúde para atuar no SUS com qualidade para atender às demandas da população; tendo um perfil generalista, tecnicamente competen-te e com responsabilidade social .2

Portanto, valorizam além da excelência técnica, a relevância social das ações de saúde e do próprio en-sino . Sem dúvida, isso implica na formação de profis-sionais capazes de prestar atenção integral e humani-zada, trabalhar em equipe e compreender melhor a realidade em que vive a população . Logo, nas escolas de Odontologia a formação do cirurgião-dentista, certamente necessita de uma nova abordagem para desenvolver competências e habilidades, que possibi-lite ao profissional ser capaz de:

• pensar criticamente; • tomar decisões; • ser líder; • atuar em equipes multiprofissionais; • planejar estrategicamente para contínuas mudan-

ças;• administrar e gerenciar serviços de saúde e • aprender permanentemente.2,9

Dessa forma, o ensino de graduação em Odonto-logia, proposto pelas DCN, estimula a interação ensi-no-serviço a fim de promover o desenvolvimento das habilidades supracitadas; desconstruindo a ideologia individualista da prevenção de saúde e tornando as escolas de Odontologia próximas à realidade da po-pulação brasileira2,8 Pois, o ensino odontológico deve preparar o aluno para o desempenho da sua vida pro-fissional com uma visão verdadeiramente integrada, e devendo abranger o todo,11 transportando os con-teúdos teóricos para o fórum da reflexão da prática, nos próprios locais onde esta se dá .4 Uma vez que, a melhor estratégia para a formação dos profissionais de saúde é através de experiências extramuros, ao nível de comunidades, onde os problemas de saúde e a necessidade de resolvê-los desempenham um for-te estímulo para o trabalho em equipe .14

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Há necessidade, das universidades se empenha-rem para assegurar oportunidades de aprendizagem ativa, que permitam experiências pessoais significati-vas e motivadoras ao invés de ministrarem conteúdos, como os de políticas de saúde, apenas em aulas teó-ricas .14

Neste sentido, as atividades de ensino/serviço de saúde bucal colocam-se num nível de troca, e devem, também, contribuir para desvendar os problemas apresentados pela realidade . Ressaltando-se que o estudante não deve servir apenas de mão-de-obra complementar para o serviço; mas ser capaz de refle-tir a sua formação profissional à luz do sistema de saúde .14

Assim, vários estudos que relatam experiências extramurais evidenciam a sensibilização dos discentes frente à realidade social na qual atuam através do SUS, extrapolando-se inclusive os limites biologicistas . Nes-te contexto, compreende-se que os estágios supervi-sionados, além das questões supracitadas, também contribuem para acabar com a fragmentação do co-nhecimento – freqüente nas escolas de Odontologia do Brasil, sendo um fator importante para auxiliar na mudança deste paradigma flexneriano .3,7,14

Dessa forma, a proposta implementada pelo com-ponente curricular Odontologia Preventiva e Social I (OPS I) da Universidade Estadual de Feira de San-tana demonstra uma tentativa de aproximar o serviço da comunidade através dos estágios nas Equipes de Saúde da Família (ESF) . Estratégia importante para evitar uma formação profissional dissociada da reali-dade (individualista), que infelizmente é o modelo de Odontologia predominante nas universidades bra-sileiras .8

Neste artigo buscou-se apresentar as novas estra-tégias de ensino aprendizagem que estão sendo ex-perimentadas, discutindo a contribuição das práticas para a formação do cirurgião-dentista generalista, com perfil adequado às demandas do Serviço Público de Saúde .

mAtEriAL E métoDoSA mudança no processo de ensino-aprendizagem

da disciplina OPS I, baseada nas orientações das DCN, teve início no segundo semestre do ano de 2006 . Seu principal objetivo foi promover a interação ensino-serviço-comunidade, nas atividades desenvolvidas por docentes e discentes, tornando estes sujeitos ati-vos no processo, por meio do desenvolvimento de atividades em unidades de saúde, escolas públicas, creches e instituições interessadas .

As áreas escolhidas levam em consideração aspec-tos como: análise da viabilidade do trabalho em par-ceria com os serviços existentes e a comunidade .

No estágio os alunos têm a oportunidade de viven-ciar a rotina e prática do serviço, realizar ações de promoção de saúde, com abordagem sobre os fatores de risco ou de proteção para as doenças da cavidade bucal e para outros agravos, visitas domiciliares e ati-vidades de educação em saúde .

No planejamento e no desenvolvimento das ações procura-se envolver a ESF, de Saúde Bucal, os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e a comunidade . Des-ta forma, os estudantes têm a oportunidade de unir teoria e prática simultaneamente, o que caracteriza o método da problematização, com o qual, se parte da realidade para um processo de ação-reflexão-ação .6

Neste contexto, as atividades realizadas pela disci-plina têm por objetivo:1) Articular, na experiência dos graduandos, a teoria

à prática, viabilizando experiências concretas de atividades pertinentes à sua formação;

2) Permitir ao discente:a) Identificar problemas de saúde e de “saúde

bucal” em uma comunidade, usando o arsenal teórico-metodológico da epidemiologia;

b) Conhecer a realidade das condições de saúde bucal da população;

c) Evidenciar a importância da promoção de saú-de e da prevenção das doenças bucais de risco para a comunidade;

d) Desenvolver ações de educação e comunicação em saúde;

e) Observar e analisar situações práticas que pode-rão servir de base para a teorização, elaborando e executando propostas de ações articuladas com escolas, instituições, empresas, órgãos pú-blicos e a sociedade em geral;

f ) Formular propostas de intervenção de acordo com a realidade da comunidade;

g) Analisar os avanços e/ou retrocessos que ocor-reram após a implantação da Unidade se Saúde da Família no bairro;

h) Discutir a interferência dos aspectos econômicos e sociais na saúde geral e bucal da comunidade .

Para alcançar tais objetivos, a disciplina planeja e realiza atividades que podem ser divididas em dois segmentos: atividades preparatórias para o estágio e atividades de campo (estágio propriamente dito) . Tais ações visam capacitar o estudante para a realiza-ção de um trabalho mais fundamentado, coerente e eficaz .

No primeiro segmento estão incluídos: Seminá-rios Científicos – nos quais são trabalhados temas de

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saúde ou transversais, cujos conhecimentos serão re-levantes para o estágio, entre eles Promoção de Saúde e Controle Ambiental; Seminários Pedagógicos com temas que envolvem saúde de forma integral, com a abordagem na linha do cuidado em saúde, da gestan-te e do bebê, da criança, do adolescente, do adulto e do idoso; Oficina de Territorialização – momento de construção, estudo e debate de conceitos fundamen-tais para possibilitar o conhecimento da área adscrita à USF; Oficina de Elaboração de Materiais – na qual os estudantes são motivados a utilizar sua criatividade a fim de elaborar recursos ilustrativos, lúdicos e inte-rativos de educação em saúde e Oficina sobre o Sis-tema de Informação em Saúde .

As atividades de visita aos locais do estágio super-visionado, que são orientadas por um roteiro de ob-servação; as reuniões de diagnóstico e de planejamen-

to com a equipe de saúde para construir de forma coletiva o cronograma de atividades (Figura 1); o pro-cesso de territorialização e o levantamento epidemio-lógico para reconhecimento das necessidades; as vi-sitas domiciliares seguidas de aplicação de questionários sócio-economico-culturais; as mesas demonstrativas com os recursos previamente elabo-rados; os seminários educativos; as palestras sobre diversos temas de saúde bucal e geral; as oficinas com os ACS (Figura 2) e as ações de educação e motivação para os diversos grupos na comunidade (Figura 3) foram classificadas como atividades de campo .

A cada dia de prática, os estagiários elaboram o diário de atividades, importante instrumento de re-gistro detalhado dos trabalhos desenvolvidos, profes-sores, alunos, Equipe de Saúde e comunidade avaliam conjuntamente as ações do dia e, ainda, o docente realiza uma avaliação diária e presencial da postura e das atitudes de cada estudante no campo de estágio, na perspectiva de uma avaliação que contribua para a formação do grupo .

Após estas etapas metodológicas, acontece a ela-boração e apresentação de um relatório com os resul-tados das atividades planejadas e desenvolvidas pelos grupos de estudantes, que conta com a participação conjunta de professores, representantes das equipes de saúde, gestor da atenção básica, orientadores e monitores .

rESuLtADoSA valorização da ESB em estratégias como o PSF

e sua ampliação no Projeto Brasil Sorridente, frutos das lutas e mobilizações da classe odontológica pare-cem estar contribuindo para uma nova forma de in-

Figura 3 - Atividades de Educação em Saúde com Escola-res e crianças na Unidade de Saúde .

Figura 1 - Reunião com Equipe de Saúde para identifica-ção dos problemas .

Figura 2 - Oficina com os ACS (temas: cárie dental, doen-ça periodontal, halitose, maloclusão, piercing) .

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serção dos profissionais no mercado de trabalho e para a expansão da perspectiva da saúde bucal, deter-minando uma ampliação da cobertura das ações a serem desenvolvidas .

Os resultados evidenciam a possibilidade de con-tribuições significativas na formação dos futuros pro-fissionais de saúde, a partir de processos de educação em saúde que se contrapõem ao rígido e fragmentado método flexneriano, centrado no ambiente da clíni-ca, voltado, principalmente, à atenção curativa, indi-vidualizada e focado na doença . Tal paradigma resul-ta em um ensino que não atende as reais necessidades de um sistema de saúde público, universal, integral e eqüitativo .

Na tentativa de mudar a prática hegemônica e tradicional vivenciada nas Instituições de Ensino Su-perior, um grupo de professores do componente cur-ricular OPS I propuseram mudanças, que foram im-plementadas a partir do segundo semestre do ano de 2006 .

A estratégia metodológica utilizada no desenvol-vimento das ações do estágio supervisionado foi a problematização, e já podemos observar a ocorrência de atividades, planejadas e executadas junto ao servi-ço e à comunidade . A experiência de transpor os li-mites da discussão para a atuação, já pode ser viven-ciado por quatro turmas de estudantes do curso de Odontologia da UEFS .

Um importante resultado desta nova prática de ensino-serviço que vem sendo vivenciada na Univer-sidade aconteceu no semestre 2007 .2 . Naquele mo-mento, idealizou-se um seminário interinstitucional, entre a UEFS e a Secretaria Municipal de Saúde de Feira de Santana, com o objetivo de debater com os profissionais das Equipes de Saúde e gestores, as ações, especialmente, de Saúde Bucal, desenvolvidas na cidade e nos distritos, e as contribuições dadas pelo curso de Odontologia, da UEFS .

Tal evento foi organizado e realizado pelos estu-dantes sob a coordenação dos professores da discipli-na OPS I e contou com a participação dos profissio-nais das Equipes de Saúde do Município e de representantes da Secretaria, firmando, desta forma, uma parceria promissora no que diz respeito a traba-lhar pela melhoria da saúde bucal, em Feira de San-tana .

É notável que, a partir da implementação das abor-dagens ativas, o estudante, ao se deparar com conte-údos da Saúde Coletiva, base principal da área de Odontologia Social, consegue compreender a impor-tância dos conceitos e temáticas estudados; procura

interagir com o conteúdo teórico para colocá-lo em prática durante o estágio e não apenas estudar para ser aprovado na avaliação tradicional; dedica-se e se emociona durante as atividades na comunidade, bus-cando gerar vínculo e acolhê-la da melhor forma pos-sível .

As unidades de saúde da família têm se constituí-do, portanto, em um significativo cenário de forma-ção dos profissionais de saúde, o qual permite aos discentes incorporarem ações junto ao serviço e à comunidade, proporcionando aos mesmos a possibi-lidade de compreender o processo de trabalho da equipe de saúde da família e a importância dos co-nhecimentos da realidade social da população como determinante da saúde e, conseqüentemente, da saú-de bucal .

DiSCuSSãoÉ verdade que a valorização da ESB em estratégias

como o Programa Saúde da Família (PSF) e sua am-pliação no Projeto Brasil Sorridente, frutos das lutas e mobilizações da classe odontológica, parecem estar contribuindo para uma nova forma de inserção dos profissionais no mercado de trabalho e para a expan-são da perspectiva da saúde bucal determinando uma ampliação da cobertura das ações a serem desenvol-vidas .

A proposta da OPS I tem procurado ser coerente com as transformações nos conceitos e realidade da saúde no Brasil e no mundo, inspira-se em inúmeros trabalhos teóricos realizados no Brasil e alguns relatos de experiências que vêem, gradativamente, configu-rando-se em um material vivo e que justificam a con-solidação de novas experimentações . Deste modo, pretende contribuir para a formação de um sujeito que possa exercer sua profissão de forma articulada ao contexto social, entendendo-a como uma forma de participação e contribuição social, criando víncu-lo, tendo postura ética, capaz de gerenciar, comuni-car, liderar, aprender e, dessa forma, fortalecer o SUS .

Infelizmente a educação, nas escolas de saúde, permanece, em muitos casos, reproduzindo o para-digma flexneriano, o qual fortalece a visão do profis-sional de saúde enquanto aquele que cuida da doen-ça, sustentando uma atitude mercadológica para com a vida, própria do sistema neoliberal . Além de se con-trapor ao paradigma da integralidade, subtraindo as possibilidades de diálogo entre as diferentes áreas do saber .

O componente curricular/disciplina vem tentan-do demarcar que a valorização excessiva do especialis-

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ta leva à especialização precoce, que é contrária às necessidades atuais de interdisciplinaridade e da inter-setorialidade para a formação de um profissional ge-neralista que enxerga o humano em sua integralidade .

Assim, o que se tenta evitar na formação do futu-ro cirurgião-dentista é seu descompasso com o SUS e com as necessidades demandadas pelas pessoas, visan-do trabalhar com base nos atuais indicadores epide-miológicos de saúde bucal . Pois, apesar da reorienta-ção do modelo de saúde – a partir da década de 90, através de políticas descentralizadoras – via munici-palização da saúde, e as novas estratégias de saúde, – a partir da institucionalização do SUS em 1988, PSF em 1994 e a Equipe de Saúde Bucal (ESB) no PSF em 2000 – prioriza-se a especialidade odontológica na formação e ocorre a predominância da lógica liberal na atuação profissional .

Cientes de que nos cursos de graduação, em Odontologia, os conteúdos presentes nos componen-tes curriculares/disciplinas sobre políticas públicas de saúde são insuficientes; que muitos docentes des-consideram a intersetorialidade ou negam a interdis-ciplinaridade; que as doenças bucais são apresentadas desconectadas da vida; têm uma imagem estigmatiza-da do SUS; não articulam sua prática acadêmica com os diferentes níveis de atenção à saúde e, muitas vezes, não se responsabilizam com a saúde do usuário .

Entendemos que a possibilidade de formação de um novo profissional generalista – que não significa saber um pouco de tudo de forma superficial, mas conhecer muito bem os diversos problemas que re-percutem no processo saúde/doença de cada indiví-duo e da coletividade, conseguindo resolvê-los – é necessária . Além disto, a incorporação dos conteúdos relativos às políticas de saúde nas ementas dos com-ponentes curriculares e uma articulação entre a aca-demia e o serviço público – com a utilização dos es-paços privilegiados de ensino-aprendizagem, as unidades de saúde – são fundamentais .

Logo, os educadores da OPS I, ao refletirem sobre os fatos aqui discutidos, propuseram alterações na forma de conduzi-la . Por meio de uma metodologia construtivista,1 a qual parte da observação da realida-de para uma aprendizagem dialógica e significativa, levando em consideração as emoções, a cultura e os conhecimentos prévios do aprendiz .12

Por conseguinte, as exigências das DCN, para os cursos de saúde e em específico o curso de Odonto-logia, têm infundido nos mesmos uma nova postura, já que as atuais não estão satisfazendo às necessidades da coletividade . Portanto, como já demonstrado a

OPS I tem tentado desenvolver atividades de ensino, de modo que estas sejam apreciadas por todos os en-volvidos (discentes, docentes e comunidade) .

A intenção é promover uma aprendizagem que envolva a auto-iniciativa, atingindo dimensões afeti-vas e intelectuais, para ultrapassar a reprodução do conhecimento em direção à sua construção, o que observamos tornar o conhecimento mais sólido e du-radouro . Assim, a educação participativa, com a inte-ração ensino-serviço, prática-teoria permite, então, uma reconstrução do conhecimento prévio, somado aos novos e a possibilidade de intervenção e mudan-ça da realidade, objetivo final do aprendizado .

CoNSiDErAçõES FiNAiSAs DCN para o curso de Odontologia deixam cla-

ro o papel esperado do futuro cirurgião-dentista como agente modificador da realidade, sendo recomenda-da a formação de um profissional ético, generalista, propondo, além de outras estratégias pedagógicas, a realização de estágios curriculares em parte da carga horária do curso . A disciplina OPS I é, portanto, um exemplo desta tentativa de experimentação, para atin-gir novos resultados, que têm sido interpretados po-sitivamente . Espera-se, que os docentes, sujeitos deste processo, possam, cada vez mais, aperfeiçoarem-se metodologicamente e enquanto seres humanos sen-síveis, estimular outros educadores e educandos a assumirem a responsabilização dos novos percursos da educação e das necessidades sociais, visando trans-formação e não manutenção da realidade .

Ampliar e qualificar o acesso da população aos serviços de saúde é, portanto, uma estratégia priori-tária para a reestruturação da atenção à saúde no Brasil . O processo de preparação e valorização de sujeitos estratégicos para a consolidação da saúde, incluindo evidentemente a “saúde bucal”, é um fator essencial a ser considerado no sentido de legitimação dos mesmos, na perspectiva de uma prática de saúde integral, que envolva a ação de diversos profissionais seguramente comprometidos com a qualidade de vida da população, transformando a realidade e vis-lumbrando um futuro onde as nossas extremas con-tradições consigam ser superadas .

AbStrACtEducation-service interaction and the training of general practitioners: the challenge faced by the dentistry course of the UEFS

This paper discusses the new practices developed in the discipline of Preventive and Social Dentistry I

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(OPS I) of the UEFS Dentistry Course according to the National Curriculum Guidelines (DCN) for Den-tistry Courses and Oral Health Policies of the SUS, in relation to students and professionals of the educa-tion and health areas . Using a problematizing ap-proach to the teaching-learning process, curricular internship under teacher guidance has brought stu-dents closer to the reality that makes up the Family Health Units (USF) . This fact makes it possible for students and professors a) to experience the routine and practice of the health service, b) to carry out ac-tions to promote health with an approach focusing on risk factors or protection against diseases of the mouth and other aggravations, and c) to monitor home visits and activities in health education involv-ing Family Health Teams, oral health and the com-munity . The locus of operation of the Family Health Teams (ESF) has become the area of training of the health professionals, thus allowing students to inte-grate actions in their services and in the community, thus giving them an understanding of the ESF work process and the importance of knowing the social reality of the population as a determinant of general and oral health . This strategy aims not only at training excellent technicians, but also at training a generalist professional with broad scientific knowledge, who is sensitive, who knows how to care, welcome and listen to patients, and who feels responsible for their health .

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Recebido em 20/08/2008

Aceito em 25/11/2008 .

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o Ministério da Educação preocupado com o es-tabelecimento de uma articulação entre a edu-

cação superior e a saúde, delibera sobre as novas Di-retrizes Curriculares Nacionais (DCNs), em 2000, visando uma formação de profissionais capazes de prestar atenção integral mais humanizada, trabalha-rem em equipe e compreender melhor à realidade em que vive a população . O cirurgião-dentista deve ser capaz de pensar criticamente, tomar decisões, ser líder, atuar em equipes multiprofissionais, planejar estrategicamente para contínuas mudanças, adminis-trar e gerenciar serviço de saúde e aprender perma-nentemente .4,18 Diante desta visão, os Ministérios da Saúde e da Educação instituíram em novembro de 2005 o Programa Nacional de Reorientação da For-mação Profissional em Saúde (Pró-Saúde) para os cursos de graduação em Medicina, Enfermagem e Odontologia, para incentivar transformações do pro-cesso de formação, geração de conhecimentos e pres-tação de serviços à comunidade, para abordagem integral do processo de saúde-doença, buscando ofe-recer à sociedade profissionais habilitados para res-ponder às necessidades da população brasileira e à operacionalização do SUS .5

Nas escolas públicas os processos de avaliação im-plantados e as DCNs têm gerado um movimento de mudanças e muitos desafios à comunidade acadêmi-ca da área de odontologia, tanto em termos curricu-lares como pedagógicos .21 Para Secco e Pereira21 (2004) ainda que a clínica possa suprir as necessida-des individuais e privadas com qualidade técnica re-conhecida, existe uma distância entre o ensino de odontologia e a perspectiva de universalização da saú-de bucal em relação às demandas da realidade brasi-leira .

rESumoO objetivo deste estudo foi identificar o perfil edu-

cacional, o desempenho acadêmico nas diferentes disciplinas e a valorização à pesquisa . Trata-se de um estudo retrospectivo realizado por meio da coleta de dados secundários, pautado no posicionamento do aluno em seu ingresso na instituição e no desempenho durante o curso de odontologia, nas diferentes ativi-dades básicas, clínicas e de extensão . A amostra foi constituída por egressos do curso de odontologia da Faculdade de Odontologia de Bauru – Universidade de São Paulo (FOB-USP), no período de 2001 a 2005 (n = 244), sendo 45,9 % do gênero masculino e 54,1% feminino . A maior parte dos alunos que entra no cur-so de Odontologia da FOB-USP é proveniente de en-sino fundamental e médio de escolas particulares, predominantemente do período diurno, prepararam-se em cursinho pré-vestibular e grau de escolaridade dos pais em nível superior . Os alunos que obtiveram melhor classificação no exame vestibular apresenta-ram melhor desempenho durante a graduação nas disciplinas básicas e clínicas (p = 0,001 e p = 0,026), não houve, porém, essa correlação com as disciplinas de extensão (p = 0,577) . Mais da metade dos alunos se interessou e desenvolveu iniciação científica (52,8%) . Conclui-se que o desempenho nas discipli-nas de graduação esteve relacionado à classificação no vestibular, a maioria dos estudantes desenvolveu pes-quisas em iniciação científica e a IES avaliada conse-guiu oferecer o tripé necessário à formação dos pro-fissionais, envolvendo ensino, pesquisa e extensão .

DESCritorESEstudantes de Odontologia . Educação em Odon-

tologia . Diretrizes . Apoio à Pesquisa .

Análise do perfil educacional, do desempenho acadêmico e da valorização à iniciação científica

Uma reflexão sobre o papel da Universidade em oferecer ensino, pesquisa e extensão na integralidade da formação do profissional odontólogo

Silvia Yamauchi*, Patrícia Garcia de Moura**, Sílvia Helena de Carvalho Sales Peres***

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Moimaz et al.17 (2004) relataram que as entidades continuam formando grande quantidade de profis-sionais de saúde que na sua maioria desconhecem o SUS, seus princípios e novos modelos de atenção . A integração Universidade-Comunidade, por meio de estágios supervisionados, serviços extramuros e clíni-ca integrada, surge como proposta para preencher essas lacunas, fazendo com que eles conheçam a rea-lidade social na qual estão inseridos . Diante disto, realizaram um estudo com 80 ex-alunos da turma de 1999 do curso de graduação em Odontologia da FOA – UNESP, com o objetivo de avaliar, sob a ótica dos acadêmicos, a importância do Serviço Extramuro Odontológico na formação profissional . Foi possível concluir que as atividades extramuros conseguiram sensibilizar os alunos frente à realidade social na qual atuam, e com isso contribuir para sua formação pro-fissional .

As atividades extramurais não podem ser percebi-das como isoladas do restante da IES . Elas devem ser assumidas pelo conjunto de disciplinas da instituição e resgatar a integridade da extensão odontológica, acabando com a antipedagógica compartimentaliza-ção do conhecimento .17

Além das atividades de extensão, a Universidade pode incentivar os alunos à pesquisa por meio da iniciação científica . Segundo Castro9 (2002) é a pos-sibilidade de colocar o estudante de graduação desde cedo em contato direto com a atividade científica e engajá-lo na pesquisa . Nesta perspectiva, a iniciação científica caracteriza-se como um canal adequado de auxílio para a formação de uma nova mentalidade no aluno e como um instrumento de formação de recur-sos humanos qualificados .

Junqueira et al.15 (2002) realizaram um estudo para delinear o graduando de odontologia da Facul-dade de Odontologia de São José dos Campos . Veri-ficaram que os alunos preferem mais aulas práticas que teóricas . Além disso, concluíram que os forman-dos estão conscientes das dificuldades do mercado de trabalho, apresentam insegurança quanto às ativida-des clínicas e ao relacionamento pessoal e mercado-lógico com os futuros pacientes .

Gushi et al.14 (2004) realizaram uma pesquisa com objetivo de investigar as modificações que ocorreram no perfil profissional dos cirurgiões-dentistas de acor-do com o ano de formação na Faculdade de Odonto-logia de Piracicaba, no período de 1960 a 1997 . Os resultados obtidos sugerem a tendência de que os dentistas formados há mais tempo tiveram maior fa-cilidade de adquirir consultório e que uma avaliação

do perfil profissional é importante para a compreen-são do futuro da profissão .

Quanto ao ingresso dos estudantes nas universi-dades, Calazans, Guimarães Jr e Luz7 (2001) realiza-ram um estudo com o objetivo de conhecer a proce-dência escolar dos acadêmicos, trazendo informações adicionais ao perfil do futuro cirurgião-dentista . Ob-servaram que os alunos da rede privada que fizeram complementação de ensino com cursos pré-vestibu-lar, obtiveram maior êxito no exame vestibular, in-gressando em maior número na universidade .

Considerando que o ensino deve ser centrado no aluno, este estudo objetivou identificar o perfil edu-cacional dos egressos do Curso de Odontologia da Faculdade de Odontologia de Bauru – Universidade de São Paulo (FOB-USP), o desempenho acadêmico nas diferentes disciplinas e a valorização da pesquisa por meio da iniciação científica .

mAtEriAL E métoDoSEsse projeto foi encaminhado e aprovado pelo

Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Odon-tologia de Bauru (protocolo nº 73/2007) . A amostra foi constituída por registros de egressos do curso de Odontologia da FOB-USP, no período de 2001 a 2005 (n = 250), sendo excluídos os alunos transferidos de outras IES e alunos desistentes do curso, totalizando 244 registros .

Trata-se de um estudo retrospectivo realizado por meio de coleta de dados secundários, como descritos abaixo .

Para caracterizar o perfil socioeconômico-demo-gráfico familiar do aluno à época em que ingressou no curso de Odontologia da FOB-USP, os dados sobre gênero, escolaridade dos pais, se o curso de Ensino Fundamental e Médio foi público e/ou privado e ca-racterísticas do ensino médio foram obtidos na Co-missão Permanente de Vestibular (dados dos concur-sos vestibulares referentes de 1998 a 2002) .

Foi também analisado o desempenho no vestibu-lar e nas disciplinas de graduação por meio do regis-tro de egresso dos alunos (2001-2005) cedido pela Seção de Graduação da FOB-USP .

A identificação do interesse dos alunos à iniciação científica foi coletada por meio de um relatório obti-do no Comitê de Ética em Pesquisa, apresentando o número de alunos que desenvolveram pesquisa cien-tífica .

Para determinar o resultado do ensino posicionan-do o aluno quanto ao seu desempenho na graduação, as disciplinas foram separadas da seguinte maneira:

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1. Disciplinas básicas: anatomia, histologia e embrio-logia, materiais dentários, saúde coletiva, bioquí-mica, metodologia de pesquisa e estatística, mi-crobiologia, fisiologia, cariologia, farmacologia e patologia .

2. Disciplinas de clínicas: oclusão, prótese, dentística, endodontia, radiologia, orientação profissional, anestesiologia, cirurgia, estomatologia, periodon-tia, clinica integrada reabilitadora e restauradora .

3. Disciplinas de extensão: odontologia preventiva, odontologia sanitária, deontologia, legislação e odontologia legal .

A análise estatística pautou-se nas notas das disci-plinas somadas de acordo com a classificação nas di-ferentes atividades e obtidas as médias . Foi utilizado o programa Statistica 7 .0 e aplicado o teste de corre-lação de Pearson entre a classificação no exame ves-tibular e as notas obtidas pelos alunos durante a gra-duação . Foi considerado nível de significância p ≤ 0,05 .

Com os demais dados coletados, elaborou-se um agrupamento inicial e geral por turma, através da confecção de um banco de dados no Microsoft Excel 2007, que foi utilizado para a descrição e análise dos dados .

rESuLtADoSA FOB-USP formou, de 2001 a 2005, em media

48,8 cirurgiões-dentistas por ano . Dos 244 alunos,

88,1% (215) eram procedentes da região sudeste, sendo 81,5% (199) do Estado de São Paulo; 5,7% (14) eram procedentes da região sul; 3,6% (9) da região Centro-Oeste; 2,05 (5) da região Nordeste e apenas 0,4% (1) era procedente da região Norte . Esses dados estão mais detalhados na Tabela 1 .

Mais que a metade da amostra, 54,1% (132), é constituída por alunos do gênero feminino, sendo 45,9% (112) do gênero masculino . Apenas no ano de 2003 o número de alunos do gênero masculino 56% (28) ultrapassa de alunos do gênero feminino 44% (22) (Tabela 2) .

Quanto ao grau de instrução dos pais, concentrou-se no nível universitário (superior) completo ou in-completo, sendo 74,0% (185) para o pai e 64,0% (160) para a mãe . Os resultados relacionados à esco-laridade dos pais distribuídos por ano podem ser vi-sualizados na Tabela 3 .

A análise descritiva do perfil dos ingressantes quanto ao estudo médio, fundamental e pré-vestibu-lar está representada na Tabela 4 . Pode-se observar que entre os matriculados no curso de odontologia nos anos de 1998 a 2002 (n = 250), no ensino funda-mental quase metade dos alunos estudaram em esco-las particulares, já no ensino médio a maioria (86%) o concluiu somente em escolas particulares . Quanto ao período em que realizaram o ensino médio, pre-dominou o período diurno (92,4%) . Entre os matri-culados no curso de odontologia nos anos de 1998 a 2002, 23,6% (59) não se prepararam em um cursinho

Região2001 2002 2003 2004 2005 Total

n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%)

Norte - - 1 2,1 - - - - - - 1 0,5

Nordeste 1 2,2 1 2,1 2 4,0 1 1,9 - - 5 2,0

Centro-Oeste 4 8,7 - - 2 4,0 - - 3 6,0 9 3,7

Sul 3 6,5 2 4,3 6 12,0 3 5,9 - - 14 5,7

Sudeste 38 82,6 43 91,5 40 80,0 47 92,2 47 94,0 215 88,1

Total 46 100 47 100 50 100 51 100 50 100 244 100

tabela 1 - Distribuição de alunos que se formaram durante 2001 à 2005 na FOB-USP, segundo o ano e a região de pro-cedência .

Gênero2001 2002 2003 2004 2005 Total

n % n % n % n % n % n %

Masculino 22 47,8 20 42,6 28 56,0 21 41,2 21 42,0 112 45,9

Feminino 24 52,2 27 57,4 22 44,0 30 58,8 29 58,0 132 54,1

Total 46 100 47 100 50 100 51 100 50 100 244 100

tabela 2 - Distribuição dos alunos formados entre os anos 2001 a 2005 da FOB-USP, segundo o gênero .

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pré-vestibular e 75,2% (188) se prepararam .Os alunos que obtiveram melhor classificação no

exame vestibular apresentaram melhor desempenho durante a graduação nas disciplinas de básicas e clí-nicas (p = 0,001 e p = 0,026), não houve, porém, essa correlação com as disciplinas de extensão (p = 0,577) .

A porcentagem de alunos que desenvolveram ini-ciação científica na graduação foi de 52,8% (129) .

DiSCuSSãoNa FOB-USP são matriculados anualmente 50 alu-

nos advindos do concurso vestibular organizado pela Fundação Universitária para o Vestibular-Fuvest, no entanto, o número de egressos não é o mesmo, tendo em vista que alguns trancam sua matrícula, reprovam ou transferem-se .

Houve discreto predomínio de estudantes do gê-nero feminino (54,10%) . Segundo Costa11 (1992), torna-se clara a progressiva feminização do trabalho, com predomínio de profissionais jovens, com altíssi-ma concentração na região sudeste . Outros estudos nacionais têm detectado o crescimento do número de mulheres na profissão odontológica .3,6,8,10,15,19

A pesquisa educacional acadêmica tem indicado que uma das mais importantes dimensões explicativas do desempenho de estudantes encontra-se radicada em sua origem familiar .13 O presente estudo observou

que a maioria dos pais possui o nível universitário de escolaridade, estando de acordo com o estudo de Ferreira13 (1999) .

O ensino escolar brasileiro favorece os vestibulan-dos cujos pais têm nível superior . O mesmo ocorren-do com o turno no qual o vestibulando estudou no segundo grau, uma vez que o turno da tarde ou da manhã aumenta de forma significativa as chances de aprovação no vestibular, enquanto o estudo no turno noturno as reduz .13 Isto explica os achados deste es-tudo em que a maioria dos alunos (92,4%) realizou o ensino médio no período diurno .

Pode-se observar que a maior parte dos alunos ingressantes na IES avaliada é oriunda de escolas par-ticulares . Esses dados são semelhantes aos encontra-dos por Brustolin et al.6,7,15,19 Sabe-se que historicamen-te no Brasil o acesso ao ensino superior é influenciado pela origem social do estudante . Pesqui-sas educacionais têm demonstrado que alunos oriun-dos de escolas públicas obtêm mais sucesso nos pro-cessos seletivos das instituições de ensino superior privadas, enquanto os provenientes de escolas parti-culares, em sua maioria, conseguem êxito nos proces-sos seletivos das instituições públicas de ensino supe-rior . A dualidade escola privada e pública tem sido utilizada para explicar em parte as diferenças de de-sempenho dos candidatos na seleção à educação su-

1998 1999 2000 2001 2002 Total

n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%)

Qual o grau de instruçäo mais alto que seu pai obteve?

Não freqüentou escola ou tem o primário incompleto

1 2,0 1 2,0 - - - - - - 2 0,8

Primário completo 1 2,0 2 4,0 2 4,0 4 8,0 1 2,0 10 4,0

Ginasial (5a a 8a série do 1° grau) completo ou incompleto

3 6,0 1 2,0 3 6,0 5 10,0 2 4,0 14 5,6

Colegial (2° grau) completo ou incompleto 6 12,0 7 14,0 9 18,0 5 10,0 8 16,0 35 14,0

Universitário (completo ou incompleto) 38 76,0 36 72,0 36 72,0 36 72,0 39 78,0 185 74,0

Não respomderam a questão 1 2,0 3 6,0 - - - - - - 4 1,6

Qual o grau de instrução mais alto que sua mãe obteve?

Não freqüentou escola ou tem o primário incompleto

1 2,0 1 2,0 1 2,0 - - - - 3 1,2

Primário completo 4 8,0 2 4,0 1 2,0 1 2,0 2 4,0 10 4,0

Ginasial (5a a 8a série do 1° grau) completo ou incompleto

5 10,0 3 6,0 1 2,0 6 12,0 1 2,0 16 6,4

Colegial (2° grau) completo ou incompleto 11 22,0 6 12,0 15 30,0 15 30,0 7 14,0 54 21,6

Universitário (completo ou incompleto) 26 52,0 34 68,0 32 64,0 28 56,0 40 80,0 160 64,0

Não responderam a questão 3 6,0 4 8,0 - - - - - - 7 2,8

tabela 3 - Grau de escolaridade dos pais dos ingressantes em odontologia da FOB-USP no período de 1998-2002 .

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perior .2

Embora venha emergindo gradualmente outras formas de ingresso nas instituições de ensino supe-rior, como o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) ou o Sistema de Cotas, o exame vestibular ainda é predominante como mecanismo de seleção de estudantes para um curso de graduação, sobretudo nas universidades públicas, onde se verifica que a re-lação candidato/vaga é imensamente maior do que nas universidades particulares .1,16,20 Nesse contexto de competitividade e exclusão, os cursinhos pré-vestibu-lares constituíram-se, nas últimas décadas, em uma possibilidade de incremento no preparo, visando à aprovação no concorrido exame, como mostra neste estudo em que a maioria dos alunos fez curso prepa-ratório para o vestibular .

O fato de os alunos com maior desempenho no vestibular serem aqueles que obtiveram maior êxito nas disciplinas básicas e clínicas pode ser explicado pelo maior uso do cognitivo nestas e predominar o afetivo nas disciplinas de extensão . Considerando que o exame vestibular é exclusivamente teórico, exigin-do capacidade cognitiva e não aptidões relacionadas a habilidades inter-pessoais como desenvoltura, con-firma a correlação encontrada no presente estudo . Enquanto que nas disciplinas de extensão, nos seus diferentes cenários de prática, por possuir uma carac-terística mais dinâmica a fim de formar e/ou capaci-tar o aluno a desenvolver uma visão humanística e, portanto, atenção integral do paciente,5 o desempe-nho do acadêmico foi independente do seu desem-penho no vestibular .

1998 1999 2000 2001 2002 Total

n (%) n (%) n (%) n (%) n) (%) n (%)

Onde fez seus estudos de ensino fundamental?

Só em Escola Pública (Estadual ou Municipal) 15 30,0 12 24,0 7 14,0 15 30,0 14 28,0 63 25,2

Só em Escola Particular 27 54,0 22 44,0 26 52,0 21 42,0 25 50,0 121 48,4

Maior parte em Escola Pública 2 4,0 6 12,0 8 16,0 5 10,0 4 8,0 25 10,0

Maior parte em Escola Particular 4 8,0 5 10,0 7 14,0 6 12,0 7 14,0 29 11,6

Metade em cada tipo de Escola 2 4,0 4 8,0 2 4,0 2 4,0 - - 10 4,0

Não responderam a questão - - 1 2,0 - - 1 2,0 - - 2 0,8

Onde você realizou seus estudos de ensino médio?

Só em Escola Pública (Estadual ou Municipal ou federal)

4 8,0 1 2,0 2 4,0 6 12,0 - - 13 5,2

Só em Escola Particular 42 84,0 44 88,0 43 86,0 41 82,0 45 90,0 215 86,0

Maior parte em escola pública 3 6,0 - - 1 2,0 3 6,0 3 6,0 10 4,0

Maior parte em escola particular 1 2,0 3 6,0 4 8,0 - - 2 4,0 10 4,0

Metade em escola pública, metade em particular - - 1 2,0 - - - - - - 1 0,4

Não responderam a questão - - 1 2,0 - - - - - - 1 0,4

Em que período você realizou seus estudos de ensino médio?

Diurno (só manhã ou só tarde ou integral) 49 98,0 47 94,0 47 94,0 43 86,0 45 90,0 231 92,4

Noturno 1 2,0 - - 2 4,0 - - 1 2,0 4 1,6

Maior parte diurno - - 1 2,0 - - 4 8,0 4 8,0 9 3,6

Maior parte noturno - - - - 1 2,0 - - - - 1 0,4

Não responderam a questão - - 2 4,0 - - 3 6,0 - - 5 2,0

Você se preparou, por quanto tempo, ou está se preparando em algum cursinho pré-vestibular?

Não 13 26,0 11 22,0 14 28,0 8 16,0 13 26,0 59 23,6

Sim, até um semestre 4 8,0 5 10,0 2 4,0 4 8,0 1 2,0 16 6,4

Sim, de um semestre a um ano 20 40,0 19 38,0 16 32,0 18 36,0 20 40,0 93 37,2

Sim, de um ano a dois anos 10 20,0 10 20,0 10 20,0 16 32,0 9 18,0 55 22,0

Sim, mais de dois anos 3 6,0 3 6,0 7 14,0 4 8,0 7 14,0 24 9,6

Não responderam a questão - - 2 4,0 1 2,0 - - - - 3 1,2

tabela 4 - Perfil dos ingressantes quanto ao ensino médio, fundamental e curso pré-vestibular .

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No curso de Odontologia da FOB-USP os egressos tiveram a oportunidade de participar como bolsistas ou voluntários em programas como: Programa de Iniciação Científica – Pibic, vinculado ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnoló-gico – CNPq; Iniciação Científica da FAPESP (Funda-ção de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo); Programa de Educação Tutorial - PET, vinculado à SESu-MEC .

A iniciação científica tem como trabalho específi-co, inserir o aluno no desenvolvimento de uma pes-quisa em conjunto com um orientador, sobre uma linha temática . Esta experiência apresenta um papel importante para o desenvolvimento científico, crítico e reflexivo na integração da formação acadêmica com a futura atividade profissional12 gerando um perfil de odontólogo preconizado nas Novas Diretrizes Curri-culares Nacionais dos cursos de graduação em Odon-tologia .4 Diante destas considerações, o presente es-tudo demonstrou resultados favoráveis uma vez que mais da metade dos alunos se interessou pela inicia-ção científica .

Frente a reforma curricular aliada ao Projeto Pró-saúde a partir de 2006 tornou-se relevante a realização de mais pesquisas para verificar a influência dessas mudanças no perfil do aluno que ingressou após esse período .

CoNCLuSõESO perfil educacional do graduando da FOB-USP

está pautado no ensino particular ou privado, em pe-ríodo diurno e o desempenho na maioria das disci-plinas da graduação esteve relacionado à classificação no vestibular . A IES avaliada parece oferecer o tripé necessário a formação integral dos profissionais, en-volvendo ensino, pesquisa e extensão .

AbStrACt Analysis of educational profile, academic performance and importance given to scientific initiation

The purpose of this study was to identify educa-tional profile and academic performance in the dif-ferent disciplines, and to determine the importance given to scientific initiation . It was a retrospective study carried out by collecting secondary data, based on how the student ranked upon entry to the institu-tion, and his dentistry course performance in the dif-ferent basic, clinical and extension disciplines . The sample was made up of students who graduated from the Dentistry course at the Bauru Dental School – São

Paulo University (FOB-USP), between the years of 2001 and 2005 (n=244), 45 .9% of whom were male and 54 .1% were female . Most of the people who enroll in the FOB-USP Dentistry course come from private elementary and high schools, mostly attending morn-ing classes . They take preparatory college-board courses and have parents that have completed col-lege . The best qualified students on the college en-trance exam showed the best performance in college, in basic and clinical disciplines (p=0 .001 and p=0 .026); however, this correlation did not apply to the exten-sion disciplines (p=0 .577) . More than half of the stu-dents were interested in and engaged in a scientific initiation program (52 .8%) . It can be concluded that the student’s performance in certain disciplines was related to his/her rank on the college entrance exam . In the present study the higher education institution assessed offered the necessary three-pronged base to provide training to professionals, namely, education, research and extension activities .

DESCriPtorSStudents, Dental . Education, Dental . Guidelines .

Research Support . §

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Recebido em 20/08/2008

Aceito em 25/11/2008 .

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tológico de consultórios, clínicas particulares e insti-tuições, cuja finalidade é informar ao paciente, ou a seu representante legal, riscos, benefícios, vantagens, desvantagens e quaisquer outras condições específi-cas do tratamento . O documento reforça a relação de confiança entre o profissional e o paciente e possibi-lita legitimar a conduta do profissional no caso de demandas judiciais .

A utilização do TCLE se tornou de suma impor-tância principalmente após a vigência do Código de Defesa do Consumidor (CDC), Lei nº 8 .078 de 11/09/1990 .4 Atualmente, um número progressivo de conflitos éticos e de responsabilidade civil contra cirurgiões-dentistas reflete a transformação na atitu-de da sociedade frente à relação de consumo de pro-dutos e serviços . Nos últimos seis anos, a quantidade de processos envolvendo erro médico que chegou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) aumentou 200% . O STJ entende que deve ser aplicado o CDC na rela-ção de prestação de serviços por profissionais liberais . A presidente da Segunda Seção, ministra Nancy An-drighi ressalta:

“A responsabilidade do médico, ao contrário do que ocor-

re no restante das leis consumeristas, continua sendo sub-

jetiva, ou seja, depende da prova da culpa do médico” .17

Segundo Kfouri Neto10 (2007), para que se carac-

rESumoEste trabalho tem como objetivo propor o uso do

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Ilustra-do (TCLEI), adequado ao Código de Defesa do Con-sumidor e demais leis aplicáveis, de modo simples para profissionais e acessível aos pacientes . Tendo em vista que nos casos de processos judiciais, o ônus da prova recai sobre os profissionais, cabe a estes a res-ponsabilidade na elaboração e arquivamento dos prontuários . A ocorrência de processos na área, en-volvendo tratamentos executados em clínicas de ins-tituições educacionais de graduação e pós-graduação em odontologia, reforça a preocupação dos docentes para a aplicação do TCLEI . A sua utilização no meio acadêmico, visa instruir e preparar os acadêmicos para a vida profissional, assim como resguardar a ins-tituição e os docentes orientadores responsáveis pelo acompanhamento dos pacientes . É comum que pa-cientes destas instituições tenham dificuldade no en-tendimento de um termo convencional, apenas tex-tual .

DESCritorESOdontologia Legal . Defesa do Consumidor . Con-

sentimento Esclarecido . Educação Continuada .

o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) é parte integrante do prontuário odon-

termo de Consentimento Livre e Esclarecido ilustrado

Proposta de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Ilustrado sob a ótica forense direcionado para instituições de ensino odontológico

Liliana Gonçalves Araujo*, Carlos Gramani Guedes**, Malthus Fonseca Galvão***, Sérgio de Freitas Pedrosa****

* Especialista em Odontologia Legal e Prótese dentária

** Professor Adjunto da Disciplina de Prótese Dentária da Universidade de Brasília

*** Professor da Universidade de Brasília e da pós-graduação em Odontologia Legal da ABO-DF

**** Coordenador do curso de Odontologia da Universidade de Brasília

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Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Ilustrado • Araujo LG, Guedes CG, Galvão MF, Pedrosa SF

terize a responsabilidade civil do profissional, pela não obtenção do consentimento informado, deve-se estabelecer relação clara entre a falta de informação e o prejuízo final . A culpa surge pela falta ou inade-quação do esclarecimento . Não é necessário negli-gência no tratamento . Quanto ao nexo causal, a víti-ma deve demonstrar que o dano provém de um risco acerca do qual deveria ter sido alertada, a fim de de-liberar sobre a aceitação ou não do tratamento .

Este fato denota a necessidade dos docentes cirur-giões-dentistas, orientadores, se resguardarem com uma documentação completa e eficaz frente aos pro-blemas jurídicos que possam advir da prática profis-sional .

ProPoStAO Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Ilustrado (TCLEI) foi formulado de acordo com o CDC, com o Código de Ética Odontológico (COE), com o princípio da autonomia e com as demais legis-lações aplicáveis especificamente para disciplina de Prótese Dentária, podendo a mesma idéia ser aplica-da em especialidades diversas . O formato de folder propõe desmistificar a aparência de contrato, tornan-

do-o mais acessível ao paciente (Figura 1) . Conforme o tipo de tratamento a ser executado, foram listados os principais riscos, benefícios, vantagens, desvanta-gens e cuidados a serem esclarecidos com um espaço que possibilita a inclusão de condições específicas de cada paciente . Ilustrações, com referências bibliográ-ficas, integram o documento auxiliando o entendi-mento e a participação ativa dos pacientes, no pro-cesso de decisão e aceitação, nos tratamentos propostos .

DiSCuSSãoSegundo Silva16 (1997), Teixeira18(2008) e Velo20

(2008) o prontuário bem elaborado pode substituir o contrato . Os principais documentos integrantes do prontuário do paciente são:

• planos de tratamento com opção aceita pelo pa-ciente;

• TCLE; • fichas de identificação, diagnóstico, anamnese e

de atendimento clínico; • cópia de receituários, atestados e encaminhamen-

tos; • cópias ou fotografias de modelos e exames com-

Figura 1 - Folder Ilustrado

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Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Ilustrado • Araujo LG, Guedes CG, Galvão MF, Pedrosa SF

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plementares devendo os documentos estarem datados e assinados .

O TCLE foi uma das primeiras obrigações éticas em pesquisa, em decorrência de abusos cometidos na área científica . Estando relacionado diretamente ao princípio bioético da Autonomia . Segundo Clotet

6(1993) o Autonomia é o princípio do respeito às pessoas, permite que elas se autogovernem ou sejam autônomas . O princípio da autonomia requer que o profissional respeite a vontade do paciente ou do seu representante, assim como seus valores morais e cren-ças .

A Constituição Federal, no capítulo dos Direitos e Garantias Fundamentais em seu Artigo 5°, II rege:

Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma

coisa senão em virtude de lei .

O mesmo direito, de consentir ou de recusar, é assegurado pelo COE . Este código define como infra-ção ética disposição, no Capítulo V seção I Artigo 7°, IV:

Deixar de esclarecer adequadamente os propósitos, riscos,

custos e alternativas do tratamento .7

Indiscutivelmente, o CDC despertou a sociedade para os seus direitos

perante os prestadores de serviços, o que inclui os profissionais da área da saúde . Esta legislação institui que são direitos básicos do consumidor:

Artigo 6º, inciso III:

a informação adequada e clara sobre os diferentes produ-

tos e serviços, com especificação correta de quantidade,

características, composição, qualidade e preço, bem como

sobre os riscos que apresentem

e, em seu Artigo 31°:

A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem

assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas

e em língua portuguesa .4

Outra grande inovação do CDC foi a possibilidade da inversão do ônus da prova, resultando com que o paciente pudesse ajuizar a ação sem ter documentos comprobatórios, cabendo ao profissional apresentá-los . Para Kfouri Neto10 (2002), nas questões referentes ao TCLE, competirá ao paciente provar o eventual

vício de consentimento .Para Pêgo (1999) citado por Almeida1 (2004), na

grande maioria dos processos éticos instaurados nos Conselhos de Odontologia, os profissionais não co-meteram erros técnicos, mas sim de falta de esclare-cimento adequado sobre os riscos e alternativas dos tratamentos propostos . A possibilidade de anulação do TCLE, pela falta de entendimento dos leigos, mo-tivou a elaboração deste trabalho .

Para Vaz, Reis19 (2007) as diferenças individuais culturais, educacionais e psicológicas devem ser leva-das em consideração . A linguagem utilizada para com o paciente deve ser compatível com o seu grau de compreensão, devendo ser simples, inteligível, respei-tosa, clara e objetiva, evitando-se termos científicos, não explicados, o que os torna incompreensíveis . A adaptação da informação, de modo a atingir a melhor forma de comunicação e permitir o entendimento, resultou na preocupação com o uso vocabulário, for-mato do texto e adequação das imagens .

Martins12 (2005) relata que as ilustrações são im-portantes recursos para a comunicação de idéias cien-tíficas . Imagens são mais facilmente lembradas do que suas correspondentes representações verbais . As ilus-trações foram selecionadas em bibliografia . Poderiam ter sido utilizadas fotografias de arquivo pessoal, des-de que acompanhadas de autorização para utilização de dados e que não revelasse a identidade do pacien-te . Um fator de extrema importância é a expectativa do paciente . Por esta razão deve-se deixar bem claro que estas ilustrações são em caráter demonstrativo e que não significam promessas de resultados, procu-rando ilustrar mais limitações e riscos do que resulta-dos estéticos .

Goldim8 (2006) e Biondo-Simões5 (2007) relatam que a adequação vocabular é uma das características fundamentais do processo de consentimento . Muitas palavras utilizadas na área da saúde são uma lingua-gem profissional, que pode não ter significado claro para as demais pessoas, necessitando de esclareci-mentos adicionais . A utilização de palavras, frases ou parágrafos longos dificulta o acompanhamento da leitura e a compreensão das idéias que estão sendo apresentadas . A sugestão é que sejam utilizadas pala-vras cotidianas, frases curtas, evitando-se utilizar letras de tamanho pequeno .

Alguns outros aspectos devem ser considerados pressupostos de validade do consentimento informa-do . O TCLE deve evidenciar riscos e benefícios do tratamento, possíveis alternativas, custos, assim como necessita da assinatura do paciente ou do responsável

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Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Ilustrado • Araujo LG, Guedes CG, Galvão MF, Pedrosa SF

antes do início do tratamento, ser voluntário e de preferência personalizado .

Acredita-se que uma das maiores dificuldades para os profissionais seja explicar condições específi-cas de tratamentos a leigos . Dentro de cada especia-lidade odontológica é possível prever algumas possi-bilidades de intercorrências, índice de sucesso, limitações de técnicas . Segundo Vaz e Reis19 (2007), o conhecimento dos riscos para o paciente também é fundamental para que ele decida com validade so-bre o mesmo; consentindo ou não para que o trata-mento se realize .

Segundo Barros2 (1998), Quintela e Daruge15

(1998), Lima11 (2002) e Nunes14 (2006) relatam que sempre que possível deverão ser apresentadas ao pa-ciente alternativas de tratamento . O paciente deve ter efetiva participação no processo decisório, escolhen-do o que lhe for mais conveniente, após a minuciosa explicação . Essas possibilidades devem ser concreti-zadas no prontuário, seja na forma de planos de tra-tamento, documentos específicos ou contratos, de-vendo ter a assinatura do paciente .

Geralmente a questão de custos está relacionada ao Contrato de Prestação de Serviços, porém no TCLE podem constar acordos firmados quanto à pos-sibilidade de alteração de custos, tendo em vista in-tercorrências .

Quintela e Daruge15 (1998), Nunes e Fernandes13 (2000) assim como Lima11 (2002) afirmam que o con-sentimento informado deve ser realizado antes do início de qualquer procedimento respeitando alguns princípios como o da autonomia .

Segundo o CEO e Vaz, Reis(2007) as exceções para a aplicação do TCLE são:i. Determinadas circunstâncias onde pode ocorrer

a ação não autônoma: o indivíduo incapaz;ii. Casos de atendimento de urgência ou emergência

onde não há condições para a obtenção da explica-ção do procedimento ou da assinatura do paciente ou responsável (CEO Cap . 5 Art . 7° XII) .

Nunes14 (2006) destaca aspectos imprescindíveis ao consentimento informado: toda informação deve ser dada pelo profissional responsável, num momen-to em que o paciente tenha toda a capacidade e tem-po razoável, para equacionar toda a extensão da in-formação . O paciente deve ter tempo de concretizar dúvidas e não deve se sentir obrigado a assinar o do-cumento no momento do esclarecimento, não deve-rá ser coagido ou ameaçado para consentir, pois tem o direito de recusar a submeter-se ao tratamento que lhe for proposto . A persuasão é aceita, podendo o

profissional apontar qual procedimento seria o mais indicado segundo o tipo de material, durabilidade ou outros fatores próprios de cada especialidade .

Goldim8 (2006), Vaz e Reis19 (2007) asseveram que é desaconselhável que seja feito um consentimento padrão para cada tipo de procedimento .

Com a possibilidade da elaboração informatizada e a disponibilização de impressão o documento pode ser facilmente individualizado com as condições es-pecíficas, anotações de restrições, exclusões ou alte-rações necessárias . Em casos de impossibilidade de personalização é importante que se disponibilize um espaço na estrutura do documento para esclareci-mentos específicos .

CoNSiDErAçõES FiNAiSA proposta para a execução do TCLEI, no forma-

to de folder, cumpre a exigência das legislações apli-cáveis e é um instrumento para reforçar a relação de confiança entre profissional/paciente ou docente/aluno/paciente . O documento não pode ser conside-rado uma carta de alforria para a ocorrência de de-mandas . Deve ser lembrado que as falhas de conduta ética, sejam entre profissionais ou entre estes e pa-cientes, são as maiores causas dos litígios . Conhecer as expectativas dos pacientes, ter um bom relaciona-mento e torná-los participativos nas decisões, influen-cia não só o resultado clínico do tratamento, mas também pode evitar eventuais atritos .

A utilização do TCLEI no meio acadêmico contri-bui não só para a minimização das possíveis reclama-ções, mas também aprimora nos alunos os preceitos deontológicos necessários ao exercício profissional no mercado de trabalho .

AbStrACtIllustrated Term of Free and Informed Consent

This study aimed at proposing use of an Illustrat-ed Free and Informed Consent Term (FICT), adapt-ed to comply with the Consumer Defense Code and other relevant laws, in a fashion made simple to pro-fessionals and accessible to patients . In view of the fact that the burden of proof is on the professional in cases of legal disputes, it is the responsibility of these professionals to draft and file clinical records . The lawsuits involving treatments performed in clinics run by institutions offering undergraduate and graduate studies in dentistry reinforce the concern of profes-sors regarding application of an illustrated FICT . Its academic implementation is intended to instruct and prepare students for their professional life, and also

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Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Ilustrado • Araujo LG, Guedes CG, Galvão MF, Pedrosa SF

178

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DESCriPtorSForensic Dentistry . Consumer Advocacy . Informed

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Recebido em 20/08/2008

Aceito em 25/11/2008

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Projeto integrado de apoio técnico e laboratorial em prótese fixa da Escola técnica de Saúde – universidade Federal de uberlândiaPaulo Cézar Simamoto Jr*, Fabiana Santos Gonçalves*, Marco Antônio de Arruda Nóbilo**, Veridiana Resende Novais***, Sheila Rodrigues de Souza Porta*, Alfredo Júlio Fernandes Neto****

* Professores do Curso Técnico em PróteseDentária da ESTES/UFU

** Professor Titular da Área de Prótese e Periodontia da FOP/UNICAMP

*** Aluna de Pós-graduação em Materiais Dentários da FOP/UNICAMP

**** Professor Titular da Área de Prótese fixa, Oclusão e Materiais Odontológicos da FOUFU/UFU

rESumoO presente trabalho teve como objetivo ofertar

estágio profissionalizante para a educação profissio-nal na área de prótese fixa, bem como suprir carências relacionadas à confecção técnica e laboratorial de elementos protéticos, para o desenvolvimento e su-porte de clínicas de extensão e projetos de pesquisa da Faculdade de Odontologia da Universidade Fede-ral de Uberlândia (FOUFU), por meio da elaboração de trabalhos protéticos na área de prótese fixa nas dependências do Curso Técnico em Prótese Dentária da Escola Técnica de Saúde (CTPD/ESTES) . Os tra-balhos foram realizados em forma de estágio super-visionado, pelos estudantes da ESTES, que além de se capacitarem por meio de treinamento teórico/prático, na confecção de diversos tipos de próteses, interagiram com trabalhos de pesquisa e ofertaram à comunidade carente a oportunidade de usufruírem de aparelhos de qualidade e sem custos .

DESCritorESTécnicos em Prótese Dentária . Educação . Capaci-

tação Profissional .

A melhor qualificação dos trabalhadores constitui obstáculo a ser superado no caminho para um

desenvolvimento econômico que reduza as desigual-dades e promova o bem estar social .1

Na odontologia existe uma ênfase no treinamen-

to clínico e na padronização de técnicas, desvalori-zando o ensino como produção de conhecimento . Deveria ser estabelecido relação indissociável entre o ensino, a pesquisa e a extensão .3 A arte do ensino e da pesquisa odontológica deve ser constantemente refletida, a ponto de prestigiar o ensino baseado em evidências científicas, discutido e passível de mudan-ças de forma dinâmica .5 Nessa mudança de paradig-mas na educação, o estudante sente-se desafiado a explorar e aprofundar seu conhecimento, a questio-nar e reconstruir o conhecimento já difundido .4 A educação profissional como suporte aos trabalhos odontológicos deve ser inserida nesse mesmo contex-to de mudanças de paradigmas, uma vez que estamos qualificando profissionais para atuarem de forma in-tegrada com o cirurgião dentista .

A melhoria da qualidade do processo de ensino e aprendizagem propõe que a transformação das prá-ticas profissionais deva estar baseada na reflexão crí-tica sobre as práticas reais de profissionais em ação no mercado de trabalho . Indica-se, portanto que os processos de qualificação dos profissionais da saúde tenham como referência as necessidades de saúde das pessoas e das populações, bem como tendências de mercado e inovações científicas, tendo como objetivo a transformação das práticas profissionais e da pró-pria organização do trabalho, sendo estruturados a partir da problematização do processo de trabalho .8

Assim a atualização técnica científica é apenas

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Revista da ABENO • 8(2):179-82

Projeto integrado de apoio técnico e laboratorial em prótese fixa da Escola Técnica de Saúde – Universidade Federal de Uberlândia • Simamoto Jr PC, Gonçalves FS, Nóbilo MAA, Novais VR, Porta SRS, Fernandes Neto AJ

180

um dos aspectos da transformação das práticas e não o seu foco central . A formação e desenvolvimento do aluno dentro dos cursos de Educação Profissional e Tecnológica, devem englobar a pratica multi e in-terdisciplinar, envolvimento com pesquisa a qual desperta curiosidade e inquietação em relação ao conhecimento e vivência profissional com obriga-ções reais .9

Trabalhos protéticos, principalmente relaciona-dos à prótese fixa, demandam na sua elaboração local apropriado (área para enceramento, fundição, apli-cação de porcelana ou cerômeros), equipamentos específicos (fornos, maçarico, centrifuga, motores), além de mão de obra especializada .7 Fatores como esses anteriormente mencionados aliados aos custos elevados dos materiais envolvidos e técnica sensível para confecção dos trabalhos odontológicos,2 geram produto final com alto valor agregado, motivo este que dificulta a oferta de estágios na área, e quando ofertados não permitem contato direto com fins de aprendizado e de crescimento prático, para o técnico em formação .

Nessas circunstâncias, passa-se a exigir do traba-lhador uma visão ampla do processo de trabalho em que está inserido,capacidade de diagnóstico, de solu-cionar problemas, de decidir, de intervir no processo de trabalho, de atuar em equipe, de auto-organizar-se . Essas exigências do mercado produtivo remetem para a educação a responsabilidade de propiciar ao aluno o domínio dos códigos instrumentais de linguagem, da matemática e de conteúdos científicos .6

Assim, este projeto teve por objetivo oferecer aos participantes a integração do ensino, pesquisa e ex-tensão, ofertando de forma multidisciplinar, por meio de estágios na área de prótese fixa, no apoio as atividades clínicas de extensão e na execução da metodologia de projetos de pesquisa relacionados à área de Reabilitação Oral, bem como facilitar o in-tercâmbio e interação entre unidades, corpo docen-te e alunos .

mEtoDoLogiAO projeto de apoio técnico e laboratorial em pró-

tese fixa da Escola Técnica de Saúde da Universidade Federal de Uberlândia (ESTES/UFU) acontece na forma de estágios extracurriculares ofertados aos alu-nos e acontece nas dependências do laboratório de prótese da escola .

Os projetos de pesquisa relacionados à clínica de extensão em Disfunção Têmporo Mandibular e Trau-matismo Dento-Alveolar, bem como os trabalhos de

metalurgia e reabilitação relacionados a projetos de pesquisa e iniciação científica são enviados pela Fa-culdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia (FOUFU) . Esses projetos são, então, ana-lisados pela coordenação do Curso Técnico em Pró-tese Dentária (CTPD) da ESTES/UFU, considerando três pontos importantes:

• a viabilidade da confecção dos trabalhos, • o orçamento e • o grau de dificuldade para a execução dos mes-

mos .

Assim, elabora-se um cronograma integrado de atuação entre os alunos da FOUFU e os alunos do CTPD da ESTES/UFU . A seqüência percorrida até a execução final dos trabalhos segue o organograma abaixo (Figura 1) .

Realizam-se encontros periódicos de atualização e formação do aluno, para debate e avaliação dos protocolos técnicos de elaboração dos trabalhos protéticos, por meio de leitura crítica de artigos e capítulos de obras relevantes para a área em ques-tão, bem como apresentação, sob a forma de semi-nários, dos projetos de pesquisa a serem confeccio-nados no laboratório do CTPD/ESTES pelos alunos da FOUFU .

Os trabalhos laboratoriais são confeccionados pe-los estudantes do curso profissionalizante com a su-pervisão e orientação dos docentes . Posteriormente, feita uma avaliação e catalogação das etapas labora-toriais e entrega dos trabalhos . Todos os trabalhos passam por um rígido controle de qualidade que vai da padronização das técnicas até a aferição periódica dos equipamentos utilizados .

Para finalizar o processo de aprendizagem, os alu-nos do CTPD são convidados a assistir às defesas de

Programa de pós graduaçãoe clínicas de extensão

FOUFU

ESTES

Cronogramaintegrado

SemináriosExecução laboratorial

Entrega dostrabalhos

Defesas dedissertação

FOUFUFigura 1

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Projeto integrado de apoio técnico e laboratorial em prótese fixa da Escola Técnica de Saúde – Universidade Federal de Uberlândia • Simamoto Jr PC, Gonçalves FS, Nóbilo MAA, Novais VR, Porta SRS, Fernandes Neto AJ

dissertação dos alunos de pós-graduação da FOUFU, quando têm a oportunidade de estar em contato di-reto com os resultados científicos que seu trabalho ajudou a produzir . Quanto aos trabalhos clínicos, os estudantes recebem após a entrega dos mesmos, ava-liação dos profissionais .

rESuLtADoSDurante os anos de 2006 e 2007 foram realizadas

1 tese de doutorado, 5 dissertações de mestrado, 6 trabalhos de iniciação científica e foram confecciona-dos aparelhos protéticos destinados à pacientes aten-didos em clínicas de Extensão (Gráfico 1) .

Totalizaram-se 544 núcleos metálicos fundidos (NMF), 390 coroas totais metalocerâmicas (CTMC) e 22 placas oclusais (Gráfico 2) .

Além disso, o estágio permite a confecção de ma-terial didático e documentação fotográfica que, pos-

teriormente, são revertidos para os próprios alunos na forma de apostilas e aulas mais dinâmicas .

DiSCuSSãoAtualmente, o Laboratório de Prótese Dentária

do Hospital Odontológico (FOUFU), que atua como referência na elaboração de próteses fixas e aparelhos protéticos, encontra-se sobrecarregado dos próprios serviços gerados pela comunidade a qual assiste em convênio com o SUS, impossibilitando ao mesmo, atenção diferenciada aos alunos em estágios profis-sionalizantes, clinicas de extensão e a crescente de-manda de projetos de pesquisa gerados pelo Progra-ma de Pós-Graduação em Odontologia da FOUFU . Neste sentido, muitos projetos de pesquisa relaciona-dos à odontologia restauradora são alterados ou têm seus cronogramas comprometidos mediante a falta de local específico, disponibilidade de técnicos em prótese dentária e/ou recursos financeiros para sua conclusão em laboratórios particulares, fato também observado em grande parcela da população de Uber-lândia, a qual se vê excluída de tratamento odontoló-gico especializado (Prótese Fixa) pelo mesmo motivo, alto valor agregado aos trabalhos .

Em contrapartida, alunos do Curso Técnico em Prótese Dentária (CTPD) efetivamente matriculados nas disciplinas de Prótese Fixa I, II e III, apresentam carência para complementação de carga horária re-lacionados a estágios na área específica de Prótese Fixa, fato determinante para o desestímulo perante a matéria . Com intuito de atuar diretamente nessas deficiências, a oferta de estágio direcionado as disci-plinas anteriormente mencionadas, garantem ao alu-no formação acadêmica mais democrática, sólida e em sintonia com o mercado de trabalho .

A oferta de estágio na área de prótese fixa possi-bilitou a inserção da pesquisa e da interdisciplinari-dade no curso profissionalizante, tornando os alunos mais motivados com o aprendizado e, principalmen-te, mais próximos da realidade que o mercado de trabalho exige, o que está de acordo com Busato et al .3 (2001), ao afirmar a importância da indissociabi-lidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão . Obser-vou-se também um menor índice de desistência, uma vez que a disciplina de prótese fixa é ofertada nos últimos períodos do curso .

É possível observar que os cursos técnicos da área de saúde estão em constante construção, buscando acompanhar as exigências do mundo do trabalho face às novas tecnologias, o que está de acordo com Amân-cio1 (1997), ao afirmar que a estrutura curricular e o

0

1

2

3

4

5

2006 2007

Clínicas de extensão

Iniciação Científica

Dissertação de mestrado

Tese de doutorado

gráfico 1 - Quantidade de projetos realizados em 2006 e 2007 .

0

100

200

300

400

2006 2007

NMF

CTMC

Placas oclusais

gráfico 2 - Quantidade de próteses confeccionadas em 2006 e 2007 .

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Projeto integrado de apoio técnico e laboratorial em prótese fixa da Escola Técnica de Saúde – Universidade Federal de Uberlândia • Simamoto Jr PC, Gonçalves FS, Nóbilo MAA, Novais VR, Porta SRS, Fernandes Neto AJ

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conteúdo destes cursos estão sendo permanentemen-te (re)desenhados para contemplar as mudanças em relação à tríade educação-trabalho-saúde .

A aquisição de conhecimentos básicos e a formação de habilidades cognitivas são condições essenciais para que o estudante consiga conviver com a quantidade e a velocidade de informações, selecionando as que con-siderar mais relevantes .Isso demonstra, conforme afir-mativa de Cardoso4 (2007), ponto fundamental para melhorar a formação do aluno, desafiando-o a questio-nar e reconstruir o conhecimento que lhe foi repassado .

Assim, fica evidente a importância da criação de estágios profissionalizantes como uma forma de esti-mular os estudantes e melhorar a qualificação e ha-bilidade dos mesmos frente ao mercado de trabalho . O educador tem um papel importante na educação profissional devendo estar sempre atento às inova-ções científicas e aproximá-las da realidade dos cursos profissionalizantes .

CoNCLuSãoProjetos extensionistas cumprem o seu papel

quando conseguem modificar e melhorar a realidade além de suas fronteiras e assim, alterar a sua própria história . Desta forma podemos observar com a reali-zação do estágio um maior envolvimento e motivação dos alunos do último ano, bem como um menor ín-dice de desistência e abandono do curso, melhoria do material didático, formação de monitores para auxílio aos alunos ingressantes e, principalmente, a importância da interdisciplinaridade e da pesquisa no processo de ensino- aprendizagem .

AbStrACtIntegrated technical and laboratorial fixed prosthesis support project of the Technical School of Health – Federal University of Uberlandia

The present work aimed to offer professional trai-ning for professional education in the area of fixed prosthesis, and to address the technical and labora-torial deficiencies in making prosthetic elements, for the development and support of extension clinics and research projects of the Dental School of the Federal University of Uberlândia (FOUFU), by performing

prosthetic work in the area of fixed prosthesis at the Technical Dental Prostheses Course facilities of the Technical School of Health (CTPD/ESTES) . The work was performed as supervised training for the students of ESTES, who not only were qualified to make several types of prostheses through theoretical/practical training, but also based themselves on rese-arch work . They then offered the poor community the opportunity to use these quality devices at no cost .

DESCriPtorSDental Technicians . Education . Professional

Training . §

rEFErêNCiAS bibLiográFiCAS 1 . Amâncio Filho A . Cenários e situações da formação em saúde

no Brasil . Boletim técnico do Senac, Rio de Janeiro,1997,

23(3):11-25 .

2 . Anusavice KJ . Phillips Materiais Dentários, 11 ed, 412p, 2005 .

3 . Busato ALS, Fernandes C, Gonzáles PAH, Macedo RP . O ensi-

no, a pesquisa e a extensão na odontologia, In: Estrela C . Me-

todologia Científica: ensino e pesquisa em odontologia . São

Paulo: Artes Médicas; 2001 . p .339-46 .

4 . Cardoso, SMV . A formação do dentista no contexto do século

XXI: a pesquisa como princípio pedagógico . Revista da ABE-

NO, 2007, 7(1):54-57 .

5 . Estrela C . A arte do ensino e da pesquisa odontológica . RO-

BRAC 2002; 11 (31):54-6 .

6 . Mello GN . Políticas públicas de educação . Estudos avançados .

Universidade de São Paulo, 1991, 5(12):7-47 .

7 . Pegoraro LF . Prótese Fixa . Artes Médicas, 313p, 2004 .

8 . Roschke MA . Política de educação e desenvolvimento para o

SUS/ Caminhos para a educação permanente em saúde/ Pólos

de educação permanente em saúde . Ministério da Saúde, 41p,

2003 .

9 . Simamoto-Júnior PC et al . Projeto integrado de apoio técnico

e laboratorial em prótese fixa da Escola Técnica de Saúde –

UFU . Anais eletrônicos do 25oCIOSP, v .25, p172-172, 2007 .

10 . Uema RK . Congresso Paulista de Técnicos em Prótese Dentá-

ria . São Paulo, ITM, 9, 2005 .

Recebido em 20/08/2008

Aceito em 25/11/2008

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Índice de artigosv. 8, n. 2, julho/dezembro - 2008

Revista da ABENO • 8(2):183 183

Abreu, Mauro Henrique Nogueira Guimarães de . . . . . . . . . . . . . . . . . . .152

Amante, Cláudio José . . . . . . . . . . . . . .109Antoniazzi, Mônica Cristina

Camargo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .146Araujo, Liliana Gonçalves . . . . . . . . . . .174Backes, Vânia Marli Schubert . . . . . . . .140Barbosa, Maria Bernadete C . Bené . . . .160Bonan, Paulo Rogério Ferreti . . . . . . . .152Bosco, Vera Lúcia . . . . . . . . . . . . . . . . . .109Britto, Maria Letícia Borges . . . . . . . . .114Campogara, Silviamar . . . . . . . . . . . . . .140Carvalho, Elídia Mara dos Santos . . . . .146Carvalho, Pedro Luiz de . . . . . . . . . . . .146Costa, Simone de Melo . . . . . . . . . . . . .152Durães, Sarah Jane Alves . . . . . . . . . . . .152Ferreira, Naiara de Paula . . . . . . . . . . . .132Finkler, Mirelle . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .140Galvão, Malthus Fonseca . . . . . . . . . . . .174

Gonçalves, Fabiana Santos . . . . . . . . . . .179Guedes, Carlos Gramani . . . . . . . . . . . .174Leles, Claudio Rodrigues . . . . . . . . . . . .132Lima, Isabela Pinheiro Cavalcanti . . . .118Magini, Ricardo de Souza . . . . . . . . . . .109Martins, Francineide Almeida

Pereira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .126Matos, Ana Figueiredo Bomfim . . . . . .160Medeiros, João Marcelo Ferreira de . . .146Menezes, Estera Muszkat . . . . . . . . . . . .109Menezes, Fabrício dos Santos . . . . . . . .160Moura, Maria Elba Dantas

Pereira de . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .126Moura, Patrícia Garcia de . . . . . . . . . . .167Musse, Jamilly de Oliveira . . . . . . . . . . .160Nabeshima, Cleber Keiti . . . . . . . . . . . .114Fernandes Neto, Alfredo Júlio . . .118, 179Nóbilo, Marco Antônio

de Arruda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .179

Novais, Veridiana Resende . . . . . . . . . .179Nunes, Maria de Fátima . . . . . . . . . . . . .132Pedrosa, Sérgio de Freitas . . . . . . . . . . .174Peres, Sílvia Helena de Carvalho

Sales . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .167Pimenta, Rodolfo Macedo Cruz . . . . . .160Porta, Sheila Rodrigues de Souza . . . . .179Reibnitz, Kenya Schmidt . . . . . . . . . . . .140Rodrigues, Ana Áurea Alécio

de Oliveira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .160Santos Junior, Renato Queiroz dos . . . .160Santos, Adriano Maia dos . . . . . . . . . . .160Seabra, Eduardo José Guerra . . . . . . . .118Simamoto Jr, Paulo Cézar . . . . . . . . . . .179Tramonte, Ricardo . . . . . . . . . . . . . . . . .109Yamauchi, Silvia . . . . . . . . . . . . . . . . . . .167Zöllner, Nivaldo André . . . . . . . . . . . . .146

Autores

Consumer Advocacy . . . . . . . . . . . . . . . .174Curriculum . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .160Dental Technicians . . . . . . . . . . . . . . . .179Dentist-Patient Relations . . . . . . . . . . . .132Dentistry . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .118, 152Distance Learning . . . . . . . . . . . . . . . . .114Education . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .179Education, Continuing . . . . . . . . . . . . .174Education,

Dental . . . . . . . . .109, 114, 140, 146, 167Education, Higher . . . . . . . . . . . . .109, 140Evaluation Undergraduate Course . . . .126

Forensic Dentistry . . . . . . . . . . . . . . . . .174Guidelines . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .167Health Education . . . . . . . . . . . . . . . . . .109Higher Education Legislation . . . . . . . .126Human Resources Formation . . . .140, 160Humanization of Assistance . . . . . . . . .132Informed Consent . . . . . . . . . . . . . . . . .174Institutional Development Plan . . . . . .126Institutional Evaluation . . . . . . . . . . . . .126Internet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .114Interpersonal Relations . . . . . . . . . . . . .132Job Market . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .152

Learning . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .109Nursing Education . . . . . . . . . . . . . . . . .140Odontology . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .160Problem-Based Learning . . . . . . . . . . . .140Professional Training . . . . . . . . . . . . . . .179Professional-Patient Relations . . . . . . . .132Radiology . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .146Research Support . . . . . . . . . . . . . . . . . .167Students . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .152Students, Dental . . . . . . . . . . . . . . . . . . .167SUS (Brazilian Health Care System) . . .160Teaching . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .109, 146

Descriptors

Apoio à Pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . .167Aprendizagem Ativa . . . . . . . . . . . . . . . .140Aprendizagem Baseada em

Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .140Aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .109Avaliação dos Cursos de Graduação . . .126Avaliação Institucional . . . . . . . . . . . . . .126Capacitação Profissional . . . . . . . . . . . .179Consentimento Esclarecido . . . . . . . . .174Currículo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .160Defesa do Consumidor . . . . . . . . . . . . .174Diretrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .167Educação à Distância . . . . . . . . . . . . . . .114Educação Continuada . . . . . . . . . . . . . .174

Educação em Odontologia . . . .109, 114, 140, 146, 167

Educação em Saúde . . . . . . . . . . . . . . . .109Educação Superior . . . . . . . . . . . . . . . . .109Educação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .179Ensino de Enfermagem . . . . . . . . . . . . .140Ensino Superior . . . . . . . . . . . . . . . . . . .140Ensino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .109, 146Estudantes de Odontologia . . . . . . . . . .167Estudantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .152Formação de Recursos

Humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140 , 160Humanização da Assistência . . . . . . . . .132

Internet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .114Legislação do Ensino Superior . . . . . . .126Mercado de Trabalho . . . . . . . . . . . . . .152Odontologia Legal . . . . . . . . . . . . . . . . .174Odontologia . . . . . . . . . . . . . .118, 152, 160Plano de Desenvolvimento

Institucional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .126Radiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .146Relações Dentista-Paciente . . . . . . . . . .132Relações Interpessoais . . . . . . . . . . . . . .132Relações Profissional-Paciente . . . . . . .132Sistema Único de Saúde . . . . . . . . . . . .160Técnicos em Prótese Dentária . . . . . . . .179

Descritores

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Revista da ABENO • 8(2):184184

Normas para apresentaçãode originais

5. texto: Deverá seguir, dentro do possível, a seguinte estrutura:

a) Introdução: deve apresentar com clareza o objetivo do trabalho e sua relação com os outros trabalhos na mesma linha ou área . Extensas revisões de literatura devem ser evitadas e quando possível substituídas por referências aos trabalhos bibliográficos mais recentes, onde certos aspectos e revisões já tenham sido apresentados . Lembre-se que trabalhos e resumos de teses devem sofrer modificações de forma a se apresentarem adequadamente para a publicação na Revista, seguindo-se rigorosamente as normas aqui publicadas .

b) Material e métodos: a descrição dos métodos usados deve ser suficientemente clara para possibilitar a perfeita compreensão e repetição do trabalho, não sendo extensa . Técnicas já publicadas, a menos que tenham sido modificadas, devem ser apenas citadas (obrigatoriamente) .

c) Resultados: deverão ser apresentados com o mínimo possível de discussão ou interpretação pessoal, acompanhados de tabelas e/ou material ilustrativo adequado, quando necessário . Dados estatísticos devem ser submetidos a análises apropriadas .

d) Discussão: deve ser restrita ao significado dos dados obtidos, resultados alcançados, relação do conhecimento já existente, sendo evitadas hipóteses não fundamentadas nos resultados .

e) Conclusões: devem estar baseadas no próprio texto . f) Agradecimentos (quando houver) .

6. Abstract: Resumo do texto em inglês . Sua redação deve ser paralela à do resumo em português .

7. Descriptors: Versão dos descritores para o inglês . Para sua determinação, consultar a lista de “Descritores em Ciências da Saúde - DeCS” (http://decs.bvs.br) (no máximo 5) .

8. referências bibliográficas: Devem ser ordenadas alfabeticamente, numeradas e normatizadas de acordo com o Estilo Vancouver, conforme orientações publicadas no site da “National Library of Medicine” (http://www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html) . Para as citações no corpo do texto deve-se utilizar o sistema numérico, no qual são indicados no texto somente os números-índices na forma sobrescrita . A citação de nomes de autores só é permitida quando estritamente necessária e deve ser acompanhada de número-índice e ano de publicação entre parênteses . Todas as citações devem ser acompanhadas de sua referência bibliográfica completa e todas as referências devem estar citadas no corpo do texto . As abreviaturas dos títulos dos periódicos deverão estar de acordo com o “List of Journals Indexed in Index Medicus” (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?db=journals) . A exatidão das referências bibliográficas é de responsabilidade dos autores .

Vi. Endereço - E-mail, telefone e fax de todos os autores . Obs .: Qualquer alteração de endereço, telefone ou e-mail deve ser imediatamente comunicada à Revista . §

i. missão - A Revista da ABENO - Associação Brasileira de Ensino Odontológico é uma publicação quadrimestral que tem como missão primordial contribuir para a obtenção de indicadores de qualidade do ensino Odontológico, respeitando os desejos de formação discente e capacitação docente, com vistas a assegurar o contínuo progresso da formação profissional e produzir benefícios diretamente voltados para a coletividade . Visa também produzir junto aos especialistas a reflexão e análise crítica dos assuntos da área em nível local, regional, nacional e internacional .ii. originais - Os originais deverão ser redigidos em português ou inglês e digitados na fonte Arial tamanho 12, em página tamanho A4, com espaço 1,5 e margem de 3 cm de cada um dos lados, perfazendo o total de no máximo 17 páginas, incluindo quadros, tabelas e ilustrações (gráficos, desenhos, esquemas, fotografias etc .) ou no máximo 25 .000 caracteres contando os espaços .iii. ilustrações - As ilustrações (gráficos, desenhos, esquemas, fotografias etc .) deverão ser limitadas ao mínimo indispensável, apresentadas em páginas separadas e numeradas consecutivamente em algarismos arábicos . As respectivas legendas deverão ser concisas e localizadas abaixo e precedidas da numeração correspondente . Nas tabelas e nos quadros a legenda deverá ser colocada na parte superior . As fotografias deverão ser fornecidas em mídia digital, em formato tif ou jpg, tamanho 10 x 15 cm, em no mínimo 300 dpi . Não serão aceitas fotografias em Word ou Power Point . Deverão ser indicados os locais no texto para inserção das ilustrações e de suas citações .iV. Encaminhamento de originais - Solicita-se o encaminhamento dos originais de acordo com as especificações descritas no item II para o endereço eletrônico www.abeno.org.br . A submissão “on-line” é simples e segura pelo padrão informatizado disponível no site, no ícone “Revista Online” . Somente opte pelo encaminhamento pelo correio diante da necessidade de publicação de ilustrações em formato tif/jpg e alta resolução (veja especificações no item III) . Endereço: REVISTA DA ABENO - Associação Brasileira de Ensino Odontológico - ABENO Nacional - SCS Q . 08 Bloco B-50 Sala 37 - Ed . Venâncio 2000 - CEP: 70333-900 - Brasília - DF .

V. A estrutura do original1. Cabeçalho: Quando os artigos forem em português,

colocar título e subtítulo em português e inglês; quando os artigos forem em inglês, colocar título e subtítulo em inglês e português . O título deve ser breve e indicativo da exata finalidade do trabalho e o subtítulo deve contemplar um aspecto importante do trabalho .

2. Autores: Indicação de apenas um título universitário e/ou uma vinculação à instituição de ensino ou pesquisa que indique a sua autoridade em relação ao assunto .

3. resumo: Representa a condensação do conteúdo, expondo metodologia, resultados e conclusões, não excedendo 250 palavras e em um único parágrafo .

4. Descritores: Palavras ou expressões que identifiquem o conteúdo do artigo . Para sua determinação, consultar a lista de “Descritores em Ciências da Saúde - DeCS” (http://decs.bvs.br) (no máximo 5) .