Rachel Hauck ● O Vestido de Noiva

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A história de quatro mulheres unidas por uma milagre [algumas páginas]. Ao pesquisar a história do vestido, Charlotte passa a conhecer as mulheres que o usaram, suas histórias de promessas, dor e destino.

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Rachel Hauck

São Paulo 2013

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! e Wedding DressCopyright © 2013 by Ágape EditoraCopyright © 2012 by Rachel Hauck

All rights reserved! is licensed work published under license

Agente literária Silvia Bastos S.L.Rights managed by Silvia Bastos S.L., agencia literária

Coordenação editorial: Ana Claudia de Mauro Tradução: Cristina S. Boa Diagramação: Selma Consoli – MTb 28.839 Capa: Monalisa Morato Revisão: Jéssica Dametta

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Índices para catálogo sistemático:1. Ficção cristã : Literatura norte-americana

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2013IMPRESSO NO BRASIL

PRINTED IN BRAZILDIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À

NOVO SÉCULO EDITORA LTDACEA – Centro Empresarial Araguaia IIAlameda Araguaia, 2190 – 11º Andar

Bloco A – Conjunto 1111CEP 06455-000 – Alphaville – SP

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Hauck, RachelO vestido de noiva / Rachel Hauck ; [tradução Cristina S. Boa].

-- São Paulo : Ágape, 2013.Título original: ! e wedding dress.1. Ficção cristã 2. Ficção norte-americana I. Título.

12-14786 CDD-813

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Para Jesus, o noivo glorioso.

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Capítulo Um

Charlotte14 de Abril

Foi a brisa, uma mudança invisível no ar, que a fez erguer os olhos e passear por entre os carvalhos. Charlotte parou no gramado bem cuidado da propriedade Ludlow para respirar o ar puro, observando os elementos do dia – o céu azul, as árvores primaveris, a luz do sol re= etida no para--brisa do carro.

Naquela manhã, ela acordara com a necessidade de pensar, orar, chegar mais perto do céu. Vestira seus shorts favoritos e dirigira até a montanha.

Porém, em vez da solidão que buscava, Charlotte encontrou seu peda-cinho de Red Mountain muito movimentado e apinhado de compradores e caçadores de pechinchas. O leilão anual Ludlow de antiguidades para angariar fundos para caridade tomava conta dos jardins exuberantes da propriedade.

Charlotte ergueu os óculos escuros e os apoiou no topo da cabeça, ressentida da intrusão. Aquele era o seu refúgio pessoal, mesmo que o resto do mundo não soubesse disso. Sua mãe costumava levá-la ali para piqueniques, estacionando em uma estradinha de cascalho, e levando Charlotte furtivamente até o perímetro da propriedade dos Ludlow, rin-do e sussurrando “Psiu”, como se estivessem escapando ilesas de alguma travessura cometida.

Ela sempre encontrava um bom lugar atrás de uma colina, onde esten-dia um cobertor, abria um pote de frango frito ou um saco do McDonald’s e, admirando Birmingham, a Cidade Mágica como era chamada, além do vale, murmurava com um suspiro:

– Não é lindo?

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– Sim – Charlotte sempre respondia, embora seus olhos se mantives-sem > xos na mãe, e não nas luzes de Birmingham, pois era a mulher mais linda que Charlotte já vira.

Agora, quase dezoito anos após sua morte, continuava sendo a mulher mais linda que Charlotte já vira. Sua mãe tinha um jeito simples de ser, um dom que não tivera tempo de transmitir à > lha antes de morrer.

Gritos invadiram o momento de Charlotte com sua mãe. Compradores e licitantes entravam e saíam da tenda armada no gramado lateral, onde ocorria o leilão.

Protegendo os olhos da luz do sol, Charlotte > cou ali parada, sentindo a brisa na pele, observando e tentando decidir o que fazer. Voltar para casa ou caminhar pela propriedade? Não precisava ou queria qualquer coisa que pudesse estar debaixo da tenda. Não tinha dinheiro para comprar nada, mesmo que quisesse.

O que precisava era re= etir, ou orar, sobre as di> culdades surgidas re-centemente entre ela e a família de Tim. Mais especi> camente, Katherine, a cunhada dele. Tudo aquilo a forçava a reconsiderar o grande passo que estava prestes a dar.

Quando Charlotte se virou na direção de seu carro, o vento voltou a atingi-la e ela olhou para trás. Através das árvores e além da tenda, as ja-nelas do segundo andar da mansão Ludlow, construída de pedras e vidro, re= etiam a luz dourada da manhã e pareciam observar os acontecimentos nos jardins.

No momento em que o vento provocou o movimento na paisagem, uma sombra passou pela janela, e a casa pareceu piscar para Charlotte. Venha e veja...

– Olá – cumprimentou uma mulher de > gura imponente. – Não está indo embora tão cedo, está? – perguntou, aproximando-se com uma caixa nas mãos.

Charlotte a reconheceu de pronto. Não pelo nome ou pelo rosto, mas pela aura. Uma das clássicas mulheres sulistas que viviam em Birmingham, de pele aveludada, calça com vinco, blusa de algodão, sempre usando um discreto colar de pérolas. Ela parou diante de Charlotte, ofegante.

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– Você ainda nem foi à tenda do leilão. Vi quando estacionou, querida. Ora, vamos, temos lindas peças este ano. É sua primeira vez aqui? – En-> ou a mão na caixa e retirou um catálogo. – Tive de correr até meu carro para pegar mais. O movimento está enorme este ano. Bem, pode notar pelo número de carros estacionados. Lembre-se de que toda a renda vai para a Fundação Ludlow. Distribuímos milhões em concessões e bolsas de estudo na cidade.

– Admiro a fundação há muito tempo – Charlotte replicou, folheando o catálogo.

– Sou Cleo Favorite, presidente da Fundação Ludlow. – Estendeu a mão. – Você é Charlotte Malone.

Charlotte observou Cleo por um momento, apertando sua mão de-vagar.

– Devo me impressionar pelo fato de você me conhecer, ou seria me-lhor sair correndo e gritando na direção do meu carro?

Cleo sorriu, exibindo dentes que combinavam com as pérolas.– Minha sobrinha se casou no ano passado.– Entendo. Ela comprou o vestido na minha loja?– Sim, e, por algum tempo, achei que ela estava mais entusiasmada

em trabalhar com você na escolha do vestido do que em se casar com o noivo. Você tem uma loja e tanto.

– Tive muita sorte. – Mais que qualquer menina órfã e pobre poderia sonhar. – Quem é sua sobrinha?

– Elizabeth Gunter. Ela se casou com Dylan Huntington.Cleo começou a caminhar na direção da tenda. Charlotte a acompa-

nhou para não parecer rude.– É claro que me lembro de Elizabeth. Foi uma noiva linda.– E queria que o mundo inteiro soubesse disso – Cleo acrescentou

com uma risada. – Ela quase levou meu irmão à falência, mas só se casa uma vez, certo?

– Pelo que sei, a ideia é essa.Com o polegar, Charlotte tocou seu anel de noivado, a razão de sua

ida até ali, e parou pouco antes da entrada da tenda.

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– Está procurando por algo especí> co, Charlotte? Algo para sua loja? – Cleo depositou a caixa de catálogos sobre uma mesa e seguiu pelo cor-redor principal, como se esperasse que Charlotte a seguisse. – Temos belos guarda-roupas. O catálogo informa o número do lote, o local e horário dos lances. O leiloeiro vai até cada peça. Achamos que assim seria mais fácil... Ora, o que importa? É um grande leilão e funciona muito bem. Diga-me o que está procurando.

Cleo inclinou a cabeça para o lado e cruzou as mãos à altura da cintura.Charlotte entrou na tenda.– Na verdade, Cleo – vim até aqui para pensar –, minha loja de noivas

é estritamente contemporânea. Por outro lado, é sempre interessante dar uma olhada.

Ela poderia re= etir e orar enquanto caminhava pelos corredores, certo?– Sim, claro. E pode até encontrar algo que a agrade, enquanto... estiver

olhando – Cleo comentou com uma piscadela. – Funciona melhor se você se permite gastar um pouco do seu dinheiro suado.

– Tentarei me lembrar disso.Cleo se afastou, e Charlotte escolheu um corredor lateral para percor-

rer, examinando as peças como se as respostas que procurava pudessem estar escondidas entre as antiguidades.

Talvez ouvisse: “Ele é o homem certo”, ao passar por um armário ou guarda-roupa do século XX.

Mas, provavelmente, não. Suas respostas não costumavam aparecer simplesmente, vindas do reino dos céus. Nem surgir diante dela de re-pente. Charlotte tinha de se esforçar para obter as respostas em sua vida. Arregaçava as mangas, avaliava a situação, calculava os custos e tomava sua decisão. Jamais teria aberto sua loja, Malone & Co., se não tivesse agido assim.

Parou diante de uma mesinha para vestíbulo e deslizou os dedos pela madeira escura. Gert uma tinha igual no vestíbulo de sua casa. O que te-ria acontecido com o móvel? Charlotte se curvou para veri> car se o lado debaixo fora marcado com pincel atômico vermelho.

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Não fora. Charlotte seguiu adiante. Aquela não era a mesa de Gert. Ah, ela havia > cado tão furiosa quando descobrira as travessuras de Charlotte com o pincel atômico.

No > nal do corredor, parou com um suspiro. Deveria voltar para a cidade. A> nal, tinha hora marcada no cabeleireiro um pouco mais tarde.

No entanto, seguiu pelo corredor ao lado, deixando os pensamentos se concentrarem em Tim e no con= ito em seu coração.

Quatro meses antes, ela estivera perfeitamente acomodada em sua vida constante, previsível e confortável. Então, o empreiteiro que reformara sua loja a persuadira a aceitar um convite para o jantar de > m de ano em sua casa. E a > zera sentar-se ao lado de Tim Rose, o que havia mudado a vida de Charlotte.

Uma escrivaninha velha e opaca chamou sua atenção. Charlotte parou diante dela e deslizou a mão pela superfície. Se a madeira pudesse falar, que histórias contaria?

De um marido calculando as > nanças da família? Ou de uma criança resolvendo um problema de matemática? De uma esposa escrevendo uma carta para seus pais?

Quantos homens e mulheres haviam se sentado diante daquela escri-vaninha? Um ou centenas? Quais eram seus sonhos e esperanças?

Uma peça de mobília sobrevivendo ao tempo. Era isso o que ela queria? Sobreviver, ser parte de algo importante?

Queria sentir que fazia parte da família Rose. Katherine, certamente, não fazia Charlotte sentir-se parte da coleção gregária de irmãos, tias, tios, primos e amigos de uma vida inteira.

Quando Tim contou a Charlotte, na primeira vez em que saíram juntos, que tinha quatro irmãos, ela sequer fazia ideia de como era viver assim. Parecia excitante. Ela o enchera de perguntas. Charlotte só tivera sua mãe. E a velha Gert quando sua mãe morrera.

Nunca tivera um irmão ou irmã, quanto menos quatro. E, um menino?Teria sido por esse motivo que aceitara o pedido de casamento de Tim

Rose depois de quatro meses de namoro? No momento, não tinha certeza de que seu motivo era amor. Nem sabia ao certo se era o desejo de fazer parte de uma família grande.

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Charlotte olhou para o anel de noivado de platina e um diamante de um quilate, que pertencera à avó de Tim.

Mas o anel não tinha respostas. Ela não tinha respostas.– Charlotte Malone? – Uma mulher roliça, de aparência simpática,

aproximou-se pelo outro lado de uma mesa de jantar. – Li sobre você na revista Southern Weddings. É igualzinha à foto que publicaram.

– Espero que isso seja bom – Charlotte replicou com um sorriso.– Ah, é, sim. Sua loja parece ser mágica. Fez com que eu desejasse

estar me casando outra vez.– Tivemos muita sorte por publicarem aquela matéria.O telefonema da editora no outono anterior fora mais uma onda em

uma maré de sorte na vida de Charlotte.– Sou casada há 32 anos e leio Southern Weddings tão religiosamente

quanto a Bíblia. Adoro casamentos. E você?– Adoro vestidos de noiva, com certeza – disse Charlotte.– Imagino.O riso da mulher ainda ecoava no ar quando ela se despediu e seguiu

adiante, tocando de leve o braço de Charlotte ao passar por ela.Charlotte realmente amava vestidos de noiva. Desde garotinha, o bri-

lho dos vestidos brancos a deixava atordoada. Adorava a maneira como o semblante de uma noiva mudava quando ela experimentava o vestido perfeito, como suas esperanças e seus sonhos se re= etiam em seu olhar.

Na verdade, estava prestes a sofrer a mesma transformação: a prova do vestido perfeito, o brilho das esperanças e sonhos em seu olhar.

Mas, então, qual era o problema? Por que a hesitação? Havia conside-rado quinze vestidos, mas não provara nenhum. O dia 23 de junho estava chegando.

Em fevereiro do ano anterior, Charlotte mal conseguia se sustentar, investindo todo o seu capital em estoque e fazendo apenas os reparos in-dispensáveis para manter de pé sua loja, que funcionava em uma casinha construída em 1920, em Mountain Brook.

Fora então que ocorrera o depósito de um cheque anônimo no valor de cem mil dólares em sua conta bancária. Depois de algumas semanas

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de pânico e euforia na tentativa de descobrir quem poderia ter lhe dado tanto dinheiro, Charlotte resgatara seu presente e, > nalmente, reformara sua loja. E tudo havia mudado.

Tawny Boswell, Miss Alabama, tornou-se sua cliente e Charlotte > cou famosa. A editora da Southern Weddings telefonou. E, para fechar o ano com chave de ouro, Charlotte foi ao jantar de > m de ano e se sentou ao lado de um homem atraente, que encantou a todos os convidados. Quan-do Charlotte tomou a última colherada da sopa de ostras servida como entrada, Tim Rose já havia conquistado seu coração também.

O toque suave do destino provocou um arrepio em sua alma quando ela sentiu a brisa que soprava na montanha acariciar suas pernas. Estaria sentindo cheiro de chuva? Inclinando a cabeça para enxergar além da borda da tenda, Charlotte não viu nada além do sol glorioso iluminando o céu azul cristalino. Não havia uma nuvem sequer à vista.

Passou para o corredor seguinte e seu telefone vibrou no bolso da calça jeans. Dixie.

– Ei, Dix, tudo em ordem na loja?– Sossegado, mas Tawny ligou. Quer encontrar você amanhã, às três.Domingo?– Está tudo certo? Ela pareceu bem ao telefone? Como se ainda esti-

vesse satisfeita conosco?Charlotte passara meses tentando encontrar o vestido de noiva per-

feito para Miss Alabama, passando noites inteiras acordada na cama, murmurando orações ao Deus do amor, pedindo que a ajudasse a realizar os sonhos de Tawny.

Então, descobrira uma pequena e nova grife de Paris e concluíra que havia descoberto uma mina de ouro em forma de seda branca.

– Ligue de volta para ela e con> rme o encontro para amanhã. Temos queijo e torradas su> cientes? Café, chá, água e refrigerantes?

– Estamos bem abastecidas. Tawny parecia entusiasmada, e não acho que vá dizer que pretende mudar de loja.

– Há quanto tempo trabalhamos juntas no ramo de vestidos de noiva, Dix?

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– Cinco anos, desde que você abriu a loja. – Dix, sempre calma e pragmática.

– E quantas vezes perdemos uma cliente no último instante? – Mesmo depois de incontáveis horas de pesquisa junto a grifes para encontrar o vestido perfeito.

– Não sabíamos o que estávamos fazendo naquela época. Somos es-pecialistas agora – Dixie a> rmou.

– Você sabe muito bem que não tem nada a ver conosco. Escute, vou ligar para Tawny e dizer a ela que teremos prazer em recebê-la amanhã.

– Já > z isso. Não achei que você pensaria em recusar o pedido dela. – A voz de Dixie sempre carregava o peso da con> ança. Ela era um presente dos céus. Uma viga de sustentação para o sonho de Charlotte. – Onde você está, a> nal, Char?

– Em Red Mountain, na propriedade Ludlow. Vim até aqui para pensar, mas me deparei com a multidão do leilão anual. Estou passeando entre as antiguidades enquanto conversamos.

– Está se referindo às coisas ou às pessoas?Charlotte sorriu, observando as cabeças grisalhas que pontilhavam

os corredores.– Um pouco dos dois – respondeu.Parou diante de uma vitrine fechada, repleta de joias. Peças exclusivas

eram complementos perfeitos para suas noivas. Charlotte mantinha um estoque de colares, brincos, pulseiras e tiaras, todos exclusivos. Eram as pequenas coisas que a ajudavam a manter seu sucesso.

– Falando em casamentos – Dixie murmurou em voz baixa e lenta.– Era disso que falávamos?– Não é do que falamos sempre? Os convites do seu casamento con-

tinuam sobre a mesa da sala de estoque, Charlotte. Quer que eu os leve para casa esta noite?

Dix e o marido, Jared, que ela chamava de Dr. Gostosão, moravam em Homewood, no apartamento vizinho ao de Charlotte.

– Espere... jura? Ainda estão na sala de estoque? Pensei que já os tinha levado para casa.

– Se levou, eles voltaram andando.

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– Ha, ha, como você é engraçadinha, Dixie. Sim, claro, leve-os para casa. Posso começar a cuidar deles amanhã, quando voltar da igreja. Preciso perguntar à Sra. Rose se ela já fez a lista de convidados do lado de Tim...

– Vai encontrar Tawny às três.– Certo, bem, depois do encontro com ela. Ou, talvez, eu cuide deles

na segunda-feira à noite. Acho que não tenho nada marcado para segunda à noite.

– Charlotte, posso fazer uma pergunta?– Não...– Vai se casar dentro de dois meses e...– Tenho estado muito ocupada, Dixie, só isso. – Charlotte sabia onde

a amiga pretendia chegar. Estivera fazendo as mesmas perguntas a si mes-ma havia semanas, e a necessidade de encontrar respostas a levara até a montanha naquela manhã de sábado. – Ainda há tempo.

– Mas seu tempo está se esgotando.Ela sabia. Ela sabia.– Deveríamos ter marcado o casamento no outono. Noivado rápido,

casamento rápido... está me deixando atordoada.– Tim é um homem incrível, Charlotte.Ela sabia. Ela sabia. Mas era incrível para ela?– Escute, preciso ir. Preciso descer a montanha dentro de poucos

minutos para ir ao cabeleireiro. Ligo para você mais tarde.– Divirta-se esta noite, Charlote. Não deixe Katherine aborrecê-la.

Diga a ela que te deixe em paz. Esteja lá, simplesmente, junto de Tim. Lembre-se de porquê você se apaixonou.

– Vou tentar.Charlotte desligou, enquanto o conselho de Dixie ecoava em sua mente.

“Lembre-se de porquê você se apaixonou.”Fora tudo muito romântico, de fazer disparar o coração. Charlotte

não estava certa de que seria capaz de identi> car uma razão real e sólida em meio ao turbilhão. Quando percorria o corredor para deixar a tenda, descobriu-se sendo praticamente arrastada para um lado, por uma pequena multidão que se formava.

Sorriu para o homem ao seu lado e tentou desviar dele.

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– Com licença – murmurou.Ele não se moveu, permanecendo plantado no lugar, olhando > xa-

mente para a peça a ser leiloada.– Desculpe, mas se me der licença, sairei do seu caminho. Vai fazer um

lance por aquele... – Charlotte olhou por cima do ombro. – Baú? – Aquele baú horroroso?

– Aproximem-se todos – anunciou o leiloeiro, subindo no pequeno patamar posicionado ao lado do baú.

O grupo de quinze ou vinte pessoas se adiantou, levando Charlotte consigo. Ela tropeçou e perdeu um sapato.

– Logo daremos início aos lances – acrescentou o leiloeiro.Tentando sem sucesso localizar o sapato perdido, Charlotte acabou

por decidir esperar para procurar melhor. Os interessados naquela peça pareciam muito determinados. Quanto tempo poderia demorar o leilão? Dez minutos? Talvez fosse divertido acompanhar o processo de perto.

Vinte dólares. O baú não parecia valer mais do que isso. Charlotte olhou em volta para ver quem, em sua opinião, estaria disposto a desem-bolsar dinheiro por uma caixa de madeira feia, velha e coberta de marcas, com alças desgastadas de couro ressecado.

O leiloeiro era um homem sem qualquer traço distinto. Estatura e peso medianos. Cabelos que, um dia, poderiam ter sido castanhos, mas agora eram... grisalhos? Cor de cinzas?

No entanto, vestia uma camisa púrpura brilhante, en> ada dentro da calça cinza chumbo presa por suspensórios de couro. Subiu no patamar com seus tênis Nike muito brancos e limpos.

Charlotte sorriu. Gostou dele, embora quando ele a encarasse, o fogo azul em seus olhos > zesse o espírito dela se agitar. Ela deu um passo para trás, mas permaneceu ilhada por todos os lados.

– Este é o lote número zero – ele informou com uma voz profunda que envolveu Charlotte.

Lote número zero? Ela folheou o catálogo. Não havia lote número zero. Consultou a lista alfabética na última página, mas não encontrou nenhum baú, arca ou bagagem.

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– Esta peça foi resgatada de uma casa poucos minutos antes de sua demolição. Foi feito em 1912. – Ele se inclinou para o grupo. – Foi feito para uma noiva.

Seu olhar se > xou em Charlotte, que teve um sobressalto. Por que ele a estava encarando? Tratou de esconder a mão com o anel de noivado atrás das costas.

– Tem cem anos de idade. Um século. A madeira e o couro são ori-ginais, e a peça inteira se encontra em boa condição, apesar de um tanto ressecada.

– O que aconteceu com o fecho? – O homem à esquerda de Charlotte apontou com o catálogo para o latão retorcido que mantinha a tampa fechada.

– Bem, essa é uma história à parte. O fecho foi soldado. – O leiloeiro voltou a se inclinar para a audiência. Mais uma vez, seus olhos azuis pe-netrantes pararam em Charlotte. Ele arqueou as sobrancelhas num gesto teatral. – Por uma garota de coração partido.

As mulheres do grupo murmuraram “Oh” e se puseram na ponta dos pés para ver melhor o baú, enquanto Charlotte recuava mais um passo. Por que ele dirigia sua atenção a ela? Pressionou a mão contra o calor intenso que se acendeu em seu peito.

– Mas para quem se dispuser a abri-lo, há um grande tesouro dentro do baú.

Estudou a audiência, que parecia aumentar, e piscou. Muitos riram, e o leiloeiro se mostrou satisfeito por ter conseguido atrair a atenção de todos.

Muito bem, Charlotte > nalmente compreendeu. Não havia, de fato, nenhum grande tesouro dentro do baú. Ele só queria que as pessoas acre-ditassem que poderia haver. Era um vendedor e tanto. Parabéns!

– Iniciaremos os lances em 5 – ele decretou.Várias pessoas se afastaram, aliviando a pressão que Charlotte sentia,

como se estivesse presa ali. O ar fresco se movimentando em torno de suas pernas era agradável.

– Alguém dá 5? – perguntou novamente.

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Charlotte estudou os semblantes dos interessados. Ora, vamos, alguém tem de oferecer cinco dólares. Agora que o baú tinha um preço e havia sido alvo do riso alheio, sua simpatia despertara. E ouvir um pouco de sua história alterava sua aparência insigni> cante.

Todas as pessoas, todas as coisas, precisam de amor.Mais cinco segundos se passaram. Por favor, alguém, faça um lance.– Dou 5 – Charlotte anunciou, erguendo seu catálogo.Doaria o baú para a igreja. Estavam sempre precisando de peças onde

pudessem guardar brinquedos para as crianças da creche, ou onde levar os itens necessários às viagens missionárias.

– Tenho 500 dólares. – O leiloeiro ergueu a mão, agitando os dedos. – Alguém dá 550?

– Espere... 550? – ela repetiu, chocada. – Não, não, ofereci 5 dólares.– Mas o lance inicial era 500, cinco notas de 100 – ele esclareceu. –

Deve sempre considerar o custo, moça. Agora, sabe o preço. Quem dá 550?Por favor, alguém, ofereça 550. Como podia ter sido tão estúpida? A

cena do velhinho inocente a enganara direitinho.O homem ao lado de Charlotte ergueu o catálogo.– Dou 550.Charlotte suspirou, pressionando a mão contra o peito. Obrigada, caro

senhor. Voltou a folhear o catálogo à procura de uma descrição, alguma informação, qualquer coisa sobre o baú, mas, de> nitivamente, ele não constava da lista.

– Tenho 550, alguém dá 600?Os olhos azuis do leiloeiro brilhavam animados, suas faces estavam

coradas. O ar da montanha debaixo da tenda era quente para abril.A mulher mais próxima de Charlotte ergueu a mão.– Dou 600.Três pessoas se afastaram. Charlotte estreitou os olhos e examinou o

baú, pensando que deveria aproveitar a oportunidade e se retirar também. Sua experiência no processo do leilão até aquele momento já era mais que su> ciente.

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Além disso, queria almoçar antes de ir para o cabeleireiro. Quando saísse do salão, teria tempo apenas de voltar para casa e se trocar, antes que Tim fosse buscá-la às seis.

– Tenho 600, alguém dá 650? – A cabeça do leiloeiro balançava a cada sílaba.

– Dou 650. – O homem à esquerda de Charlotte. – Poderei desmontá--lo e usar as partes em uma caldeira que estou restaurando.

– Dou 700 – disse Charlotte, as palavras explodindo em seus lábios. Limpou a garganta e encarou o leiloeiro. Desmontá-lo? Nunca. Algo den-tro dela se rebelou diante da ideia de destruir o baú. – Este baú merece cuidados e atenção.

– Sem dúvida, minha jovem. Eu mesmo o resgatei. E o que eu resgato nunca é destruído. – Os olhos do leiloeiro brilhavam a cada palavra, pro-vocando arrepios em Charlotte. – Alguém dá 750?

A mulher ao lado dela ergueu a mão.– Dou 8. – Charlotte disparou, sem nem sequer esperar que o lance

fosse aumentado. – Dou 800.Corra! Vá embora! Charlotte tentou se virar, mas suas pernas se recu-

saram a obedecer, e seus pés continuaram plantados no gramado Ludlow. Um sopro de brisa refrescou o suor em sua testa.

Ela não queria o baú. Não precisava dele. Seu apartamento era con-temporâneo, pequeno e, até agora, bem organizado. Exatamente como ela gostava.

Malone & Co. era uma loja requintada, elegante e so> sticadamente contemporânea. Onde ela colocaria um baú velho? E havia, ainda, o fato de ela ter gasto todo o seu dinheiro na reforma. Até o último centavo. E sua conta bancária pessoal tinha apenas o su> ciente para arcar com as despesas de uma pequena cerimônia de casamento. Oitocentos dólares por um baú não fazia parte do orçamento. Se tivesse de gastar todo aquele dinheiro, compraria um par de sapatos Christian Louboutin.

– Ele te chama, não é mesmo? – indagou o homem de camisa púrpura, inclinando-se na direção de Charlotte e erguendo as sobrancelhas espessas.

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Page 22: Rachel Hauck ● O Vestido de Noiva

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– Infelizmente, sim – ela respondeu, pensando que Tim teria um ataque se ela levasse aquela coisa para casa.

Charlotte voltou a estudar o baú. Quem seria o homem ou a mulher que o possuíra no passado? E quanto à noiva de 1912 que o leiloeiro men-cionara? Ela não desejaria que seu baú velho e desgastado tivesse um lar?

– Dou 850 – ofereceu outro homem.– Mil dólares – Charlotte falou e, imediatamente, cobriu os lábios

com a mão.Porém, era tarde demais. O lance estava feito.Ah, teria de se explicar com Tim.– Vendido – o leiloeiro declarou, espalmando as mãos uma contra a

outra e retirando um papel do bolso. – O baú pertence à senhorita.Charlotte leu o papel impresso. “Redimido. $1.000”. Virou-se para o

leiloeiro.– Espere, senhor, desculpe, mas como sabia...Ele se fora. Juntamente com o restante do grupo e o burburinho de

vozes. Charlotte encontrava-se completamente sozinha, exceto pelo baú velho e uma leve agitação no ar fresco.

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