Radicalismo palestino não justifica genocídio em gaza

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Para que um acordo de paz tenha início entre palestinos e israelenses, é preciso, entre outras coisas, que as fronteiras pré-1967 sejam respeitadas. É preciso que haja também um acordo sobre Jerusalém transformando-a em uma cidade internacional sob o controle das Nações Unidas haja vista que há um profundo desacordo entre palestinos e israelenses sobre sua divisão, a imediata retirada dos colonos israelenses de terras palestinas, o retorno de refugiados das guerras árabe-israelenses a suas antigas terras e o reconhecimento da Palestina como Estado independente. Se os dois lados quiserem viver em paz, eles precisam se submeter às leis internacionais. Em primeiro lugar, Israel deveria se retirar das terras ocupadas na Cisjordânia, a partir de 1967, de acordo com resoluções da ONU e o Hamas deve cessar as hostilidades contra Israel. Sem esta solução haverá apenas a continuidade das guerras, com algumas tréguas, mas não a paz duradoura.

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RADICALISMO PALESTINO NÃO JUSTIFICA GENOCÍDIO EM GAZA

Fernando Alcoforado*

A Faixa de Gaza (Ver mapa) é um território palestino composto por uma estreita faixa de terra no Oriente Médio localizada na costa oriental do Mar Mediterrâneo, que faz fronteira com o Egito no sudoeste (11 km) e com Israel no leste e no norte (51 km). O território tem 41 quilômetros de comprimento e apenas de 6 a 12 quilômetros de largura, com uma área total de 365 quilômetros quadrados. A Faixa de Gaza tem uma população de cerca de 1,7 milhão de habitantes. Com uma taxa de crescimento anual de aproximadamente 3,2%, a Faixa de Gaza é um dos territórios mais densamente povoados do planeta. A área sofre uma escassez crônica de água e praticamente não tem indústrias. Sua infraestrutura é precária. A designação Faixa de Gaza deriva do nome da sua principal cidade, Gaza, cuja existência remonta à Antiguidade.

Mapa 1- Mapa da Faixa de Gaza

Mapa da Faixa de Gaza mostrando as áreas urbanas, campos de refugiados e pontos de travessia na fronteira.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Faixa_de_Gaza

Como resultado da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) com a derrota do Império Otomano que dominou a Faixa de Gaza e toda a Palestina durante centenas de anos, esta região passou para o controle da Grã-Bretanha. Majoritariamente árabe, a região, que até 1917 pertencia ao Império Otomano e depois, até 1948, foi um protetorado britânico, passou a ter uma população judaica cada vez maior. Nos primeiros anos de mandato britânico na Palestina, houve confrontos entre árabes e judeus. Tanto israelenses quanto palestinos reivindicavam sua parte da terra com base na história, na religião e na cultura.

O conflito entre israelenses e palestinos remonta ao início do século passado. Entre a segunda metade do século 19 e a primeira metade do século 20, uma migração em massa de judeus de vários países para a Palestina provocou uma mudança na

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demografia local. As grandes potências vencedoras da Primeira Guerra Mundial decidiram o destino da Palestina a favor dos judeus, servindo-se para isso da Liga das Nações, configurando, desta forma, a prepotência que sempre caracterizaram as relações internacionais ao longo da história. Os palestinos viram no patrocínio que deram primeiro a Grã-Bretanha e depois a Liga das Nações ao projeto sionista de criação do lar nacional judaico na Palestina a negação do seu direito à independência.

Em 1947, pouco antes da retirada dos britânicos da Palestina, a Organização das Nações Unidas (ONU) pôs em prática um plano de divisão do território em duas partes: uma para os judeus e outra para os palestinos. A insatisfação em torno do mapa definido pela ONU gerou uma guerra civil entre os dois povos. Com a saída dos britânicos, em 1948, países árabes vizinhos tentaram invadir o recém-criado Estado de Israel. Mas, ao término do conflito, os israelenses derrotaram os árabes militarmente, mantiveram seu território e os palestinos perderam a chance de criar seu próprio Estado, já que Israel ocupou parte do território destinado aos palestinos pela ONU, o Egito passou a controlar a Faixa de Gaza e a Jordânia ficou com a Cisjordânia.

A Faixa de Gaza adquiriu suas fronteiras atuais com o fim dos combates da guerra de 1948, confirmado pelo Acordo de Armistício entre Israel e Egito em 24 de fevereiro de 1949. A Faixa de Gaza tornou-se uma área diretamente administrada por um governador militar egípcio até 1967. Com a Guerra dos Seis Dias, Israel anexou e ocupou a Faixa de Gaza em 1967. A guerra de 1967 é o cerne da problemática mais recente que dificulta a solução do conflito com a constituição de dois Estados (Israel e Palestina). Com as fronteiras de 1967, Jerusalém oriental teria que pertencer aos palestinos, que a querem como capital. E esse parece que é um dos pontos menos negociáveis por parte de Israel, que tem uma população decidida a ter Jerusalém como capital.

Em conformidade com os Acordos de Oslo assinados com Israel em 1993, a Autoridade Palestina se tornou o órgão administrativo que governa os centros populacionais palestinos. Em 2005, Israel decidiu retirar seus colonos e militares da Faixa de Gaza, entregando sua administração à Autoridade Nacional Palestina (ANP) devido a dificuldade de conviver em um pequeno espaço com a população palestina. Apesar disso, Israel manteve o controle do espaço aéreo, das águas territoriais e das fronteiras. Na prática, a Faixa de Gaza sofre o cerco de Israel por terra e pelo mar e, na fronteira com o Egito, sofre com restrições exercidas por este país contra sua população. Esta situação é similar à enfrentada pela população de origem judaica que viveu no Gueto de Varsóvia na Polônia durante a Segunda Guerra Mundial e que, em seguida, foi dizimada nos campos de concentração pelos nazistas. Ressalte-se que duas forças políticas (Fatah e Hamas) passaram a se digladiar pelo poder da ANP- Autoridade Nacional Palestina que resultou do Acordo de Oslo em 1993. A eleição do Hamas em janeiro de 2006 para liderar o Conselho Legislativo Palestino congelou as relações entre Israel e a Autoridade Nacional Palestina. Após várias batalhas de rua o Hamas expulsou totalmente de Gaza, onde estava concentrada, a Autoridade Nacional Palestina dominada pelo Fatah, considerada muito conciliadora com Israel, levando este país a cortar a entrada nesta região de todos os suprimentos. O recente acordo entre o Hamas e o Fatah para a formação de um governo de coalizão dificultou o retorno de negociações que incluam o Hamas no processo de paz. O impasse é devido, principalmente, à resistência do Hamas em reconhecer o direito de Israel a existir, a renunciar a violência ou aceitar os acordos anteriores assinados entre

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Israel e a ANP e à resistência das potências mundiais em reconhecer a legitimidade do movimento islâmico como representante dos palestinos.

Visto como um grupo terrorista por Israel, pelos Estados Unidos e por países europeus, o Hamas sofreu uma série de sanções por parte desses países. O governo israelense ampliou a vigilância sobre Gaza, aumentando seu controle sobre as fronteiras e restringiu a circulação de produtos e pessoas entre os dois territórios. Desde então, houve uma série de confrontos abertos entre as duas partes: o governo israelense e o Hamas. Em geral, os confrontos envolvem o lançamento de foguetes pelo Hamas a cidades de Israel e ataques de Israel a Gaza, por meio de bombardeios e ofensivas terrestres. Além dos confrontos abertos que resultaram em centenas de mortes (na maioria, de palestinos), a relação entre israelenses e palestinos nas últimas décadas tem sido marcada por atentados, conflitos entre militares israelenses e civis palestinos, intifadas (revoltas populares) e tentativas de acordos de paz que sempre são emperradas por algum motivo.

Nos últimos dias, o mundo tem acompanhado a intensificação do conflito entre israelenses e palestinos na Faixa de Gaza. Até o momento, morreram mais de 600 palestinos, 25 soldados e 2 civis israelenses na sequência dos bombardeios iniciados em julho pelo governo israelense contra a Faixa de Gaza. A nova espiral de violência foi desencadeada após o sequestro e homicídio, em junho, de três jovens judeus na Cisjordânia (um ataque que Israel atribuiu ao Hamas, grupo islâmico que controla a Faixa de Gaza) seguido da morte de um jovem palestino queimado em Jerusalém por extremistas judeus. A partir daí, tiveram início os lançamentos de foguetes do Hamas e os bombardeios de Israel.

A resposta aos atentados praticados pelo Hamas contra o Estado de Israel não deveria ser o bombardeio indiscriminado contra populações civis da Faixa de Gaza e não propriamente contra alvos do Hamas como o que vem sendo praticado pelas forças armadas israelenses. Trata-se de um verdadeiro ato de genocídio contra o povo palestino indefeso da Faixa de Gaza que deveria ser objeto de punição dos governantes do Estado de Israel por tribunal internacional. Tanto os governantes do Estado de Israel quanto os dirigentes do Hamas precisam entender que não há solução militar para este conflito. Israel não viverá sem os atentados do Hamas, nem o povo de Gaza ficará livre dos bombardeios de Israel sem um acordo de paz.

Para que um acordo de paz tenha início entre palestinos e israelenses, é preciso, entre outras coisas, que as fronteiras pré-1967 sejam respeitadas. É preciso que haja também um acordo sobre Jerusalém transformando-a em uma cidade internacional sob o controle das Nações Unidas haja vista que há um profundo desacordo entre palestinos e israelenses sobre sua divisão, a imediata retirada dos colonos israelenses de terras palestinas, o retorno de refugiados das guerras árabe-israelenses a suas antigas terras e o reconhecimento da Palestina como Estado independente. Se os dois lados quiserem viver em paz, eles precisam se submeter às leis internacionais. Em primeiro lugar, Israel deveria se retirar das terras ocupadas na Cisjordânia, a partir de 1967, de acordo com resoluções da ONU e o Hamas deve cessar as hostilidades contra Israel. Sem esta solução haverá apenas a continuidade das guerras, com algumas tréguas, mas não a paz duradoura.

*Fernando Alcoforado, 74, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor

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universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.