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Aprodução audiovisual também fun-ciona hoje como um importante ins-

trumento de expressão popular. Atra-vés do vídeo, de relativo baixo custo,suas realidades e pleitos ganham voz eaté certa notoriedade. A história deuma cidade brasileira erguida para otratamento de hansenianos comoveuplatéia e jurados da IV Vídeo Saúde,Mostra Nacional de Vídeos em Saúde2003. Produzido por Andréia Pasquini,�Os Melhores Anos de Nossa Vida� foio grande vencedor desta edição.

Organizada pela Vídeo Saúde Dis-tribuidora da Fundação Oswaldo Cruz(Fiocruz), a Mostra contou com 231trabalhos audiovisuais (número recor-de de participantes). �Mundos Possí-veis�, de Emília Moreira, MilenaRodrigues e Priscila Santos, tambémse destacou. A produção, que ficouem segundo lugar, relata a particula-ridade da comunicação entre osautistas. �Vozes do Morro�, dirigidopor Adelina Pontual, retrata a luta deum grupo de mulheres no combate à

Aids em sua comunidade. O vídeo ar-rebatou o terceiro lugar.

Os organizadores do evento desta-caram ainda, com prêmio especial, a pro-dução conjunta da Tv Puc-Rio e o Proje-to Comunicar: �Fome: A dor do Vazio�.

Contatos para a inclusão de ci-dades e eventos na agenda da Mos-tra e obtenção de cópias dos vídeospodem ser feitos com: Vídeo Distri-buidora / DCS / CICT, através dos te-lefones 2290-4745 e 3882-9111 ou doe-mail [email protected]

IV Mostra Nacional de Vídeos sobre Saúde

Vídeos Premiados3º LUGAR

Vozes do Morro

2º LUGAR

Mundos Possíveis

MENÇÃO HONROSA

A Peleja � Série Revistado Trabalhador

PRÊMIO ESPECIAL FOME ZERO

Fome: A Dor do Vazio

MENÇÃO HONROSA

Dasadawa � Saúde Bucal

MENÇÃO HONROSA

Muito Prazer

1º LUGAR

Os Melhores Anosde Nossas Vidas

Nº 17 � Janeiro de 2004

editorialeditorialeditorialeditorialeditorial

Comunicação em Saúde! IV Mostra Nacional de Vídeossobre Saúde 2

Editorial! Viver com saúde e dignidade 3

Cartum 3

Cartas 4

Destaques 4

Súmula da Imprensa 5

Toques da Redação 7

4º Congresso Interno da Fiocruz! O futuro em debate 7

Idosos! Viver mais e melhor 8! �O PASI me espera� 10

12ª Conferência Nacional de Saúde! O início de uma nova políticade saúde 11

Ética e Tecnologia! O placebo no banco dos réus 12

Farmácia Popular! De promessa a ação de governo 13

Atenção à Saúde! Alma-Ata, conquistas e fracassos 14

O Sus Verde! Avança o plano de saúde paraa Amazônia Legal 15

Serviços 18

Pós-Tudo! O Sobrevivente 19

Capa: Aristides Dutra

Nossa garota da capa deste mês é AdelinaBack Eyng, 81 anos, viúva e moradora daComunidade do Amorim, ao lado daFiocruz, Rio de Janeiro.

Agradecimentos especiais a Gustavo Alvespela ilustração da página 8.

Cazaquistão, 1978. Uma declaraçãosobre atenção à saúde redigida

a muitas mãos na cidade de Alma-Ataé assinada por 137 países e 67 orga-nismos internacionais. Vinte e cincoanos depois, a Radis se volta para oOriente. Enquanto a mídia destaca osacordos comerciais costurados pelogoverno brasileiro com os árabes e acaptura de Saddam Hussein � que,pelo aspecto sensacional do feito,parece legitimar para muitos as guer-ras �preventivas� americanas que in-dustrializam a morte �, abrimos nos-sas páginas para celebrar o resgatedos princípios e compromissos daConferência Internacional de Alma-Ata. Maduros nos anos 70, os idososde hoje não viram concretizado osonhado objetivo de Alma-Ata: �Saú-de para todos no ano 2000�. Depen-dem exclusivamente do Sistema Úni-co de Saúde, ainda incapaz de umaatenção integral e humanizada, 73%dos homens e mulheres brasileiros.Muitos deles, porém, são comoAdelina Back Eyng, 81 anos, a nossa�garota da capa�. Estão buscandocoletivamente, aliados a programas einstituições voltados para a terceiraidade (inclusive do SUS), viver emmelhor condição física e mental, par-ticipar da vida social e política, exigira garantia e a ampliação de direitos,continuar produtivos e felizes. A cadaano, 650 mil brasileiros completam 60

Viver com saúde e dignidade

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anos e, em 20 anos, teremos a sextamaior população idosa do planeta.Para Renato Veras, diretor da Univer-sidade da Terceira Idade, da Uerj, odesafio da nossa sociedade é nãoapenas alongar o tempo de vida, masampliar a sua qualidade. O governoanunciou que vai assegurar o direitodo cidadão à assistência farmacêuti-ca por meio de farmácias popularese recuou nas dificuldades impostasaos idosos beneficiários da Previdên-cia. Em debates recentes, pesquisa-dores e autoridades reconhecem anecessidade de que os medicamen-tos tenham sua eficácia comprovadaem estudos conduzidos de forma éti-ca. Mas a vida do idoso tem que sermais do que a de um cidadão semobstáculos a obter seus remédiosprescritos ou as justas aposentadori-as e pensões sem filas. É preciso teruma vida plena de atenção, cuidadose dignidade. Ainda nesta edição, asprimeiras notícias da 12ª ConferênciaNacional de Saúde, que abordou to-dos esses temas e aprovou diretrizese propostas que podem tornar o sis-tema de saúde mais eficiente e hu-mano se, de fato, encaminhadas pe-los governantes. Em nossa próximaedição, traremos uma cobertura maisextensa do megaevento.

Rogério Lannes RochaCOORDENADOR DO RADIS

ARISTIDES DUTRA

RADIS 17 ! JAN/2004

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USO DA INFORMAÇÃO � O conteúdo da revista Radispode ser livremente utilizado e reproduzido em qual-quer meio de comunicação impresso, radiofônico,televisivo e eletrônico, desde que acompanhado doscréditos gerais e da assinatura dos jornalistas respon-

sáveis pelas matérias reproduzidas. Solicitamos aosveículos que reproduzirem ou citarem conteúdo denossas publicações que enviem para o Radis um exem-plar da publicação em que a menção ocorre, as refe-rências da reprodução ou a URL da Web.

RADIS é uma publicação impressa e onlineda Fundação Oswaldo Cruz, editada peloPrograma Radis (Reunião, Análise e Difusãode Informação sobre Saúde), da Escola Na-cional de Saúde Pública (Ensp).

Periodicidade MensalTiragem 42 mil exemplaresAssinatura GrátisPresidente da Fiocruz Paulo BussDiretor da Ensp Jorge Bermudez

PROGRAMA RADISCoordenação Rogério Lannes RochaEdição Marinilda Carvalho

Reportagem Cláudio Cordovil(subeditor), Jesuan Xavier e KatiaMachado

Arte Aristides Dutra (subeditor) eHélio Nogueira

Estudos e Projetos Justa Helena Franco(gerência de projetos), JorgeRicardo Pereira e Laïs Tavares

Secretaria de Administração e Infra-Estrutura Onésimo Gouvêa,Márcia Pena, Cícero Carneiro,Cleonice Vieira, Osvaldo JoséFilho (informática) e Ita Goes(estágio supervisionado)

EndereçoAv. Brasil, 4.036, sala 515 - ManguinhosRio de Janeiro / RJ � CEP 21040-361Telefone (21) 3882-9118Fax (21) 3882-9119

E-Mail [email protected] www.ensp.fiocruz.br/publi/radisImpressão e FotolitoEdiouro Gráfica e Editora SA

CEFET-ES � RADIS EM SALA DE AULA

M eu nome é Aldo MarcelloCostaBicalho. Estou cursando o

5º período de Tecnologia em Sanea-mento Ambiental no Centro Federalde Educação Tecnológica (Cefet) doEspírito Santo. A professora GiovanaVenturim, que ministra a disciplinaSaúde Pública, pediu que fizéssemosa solicitação da assinatura da revistaque, pela elevada qualidade da publi-cação, despertou nosso interesse.

Aldo Marcello CostaBicalho

A pedido da professora GiovanaVenturim, que ministra aulas de

Saúde Pública e VigilânciaEpidemiológica no Cefet-ES, estousolicitando assinatura da Radis.

Graciele Petarli Venturoti

Sou Magno de Lyrio, estudante doCurso de Tecnologia em Saneamento

Ambiental. Minha instituição de ensinoé o Cefet-ES. Estou no 5º período, fa-zendo diversas disciplinas relacionadasà área de saúde. Para melhor formaçãoprofissional venho pedir que me enviemas publicações do Programa Radis.

Magno de Lyrio

Tendo em vista as excelentes refe-rências e a inegável importância

desta tão conceituada revista, princi-palmente para o curso superior deTecnologia e Saúde Pública em Sanea-mento Ambiental, venho, por indica-ção da professora Giovana Venturim,do Cefet-ES, pedir para fazer parte dogrupo de assinantes da revista Radis.

Fábio Cruz Pontes

* Todos os alunos são do Cefet deCariacica, Espírito Santo.

! Nota da RadisQueridos alunos, a Radis agradece a aten-ção da professora Giovana Venturim einforma que os nomes dos quatromissivistas já estão em nosso cadastro.A próxima edição da revista, a de nú-mero 18, será entregue gratuitamentenos endereços indicados nas cartas.

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�Bomba suja�,enfim uma vacina?

O poeta Ferreira Gullar deu dimen-são artística à diarréia, que mata

milhares de crianças no Brasil, comseu poema A bomba suja.

Por exemplo, a diarréia,no Rio Grande do Norte,de cem crianças que nascem,setenta e seis leva á morte.É como uma bomba Dque explode dentro do homemquando se dispara, lenta,a espoleta da fome

(Íntegra no livro Dentro da Noite Veloz,1962, ou no endereço de internetwww.pedagogiaemfoco.pro.br/repofegu.htm#bomsu).

Agora, o Brasil testa uma vaci-na contra o rotavírus, um dos prin-cipais causadores das diarréias infan-tis e principal causa de até 25% dasmortes por diarréia em menores de5 anos. O teste em Fase 3 é realiza-do no Instituto Evandro Chagas, doMinistério da Saúde, em Belém, com4 mil bebês entre 2 e 4 meses, e noHospital das Clínicas de Porto Ale-gre, com 500 recém-nascidos. A va-cina via oral, produzida com orotavírus humano atenuado, estimu-la a produção de anticorpos, espe-cialmente na mucosa intestinal, comeficácia superior a 85% para as for-mas mais graves, as que causam de-sidratação e morte.

Segundo a OMS, o rotavírus mataentre 600 mil e 800 mil crianças por anono mundo. Os testes realizados no Brasilfazem parte de uma grande testagemconduzida em 12 países da América Lati-na, totalizando 60 mil crianças. Se tudocorrer bem até 2005, quando serão con-cluídos os testes, a vacina poderá inte-grar o Programa Nacional de Imunizaçõesdo Ministério da Saúde.

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Prêmio Direitos Humanos

Oprofessor Mario Sayeg, do Depar-tamento de Administração e Pla-

nejamento em Saúde da Ensp/Fiocruz, foi agraciado com o PrêmioDireitos Humanos, categoria Idosos-Personalidade. O prêmio, entreguepelo vice-presidente da República,José Alencar, é um reconhecimentodo governo federal ao trabalho de-senvolvido na área de direitos hu-manos. A homenagem é concedidadesde 1995.

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SÚMULA DA IMPRENSASÚMULA DA IMPRENSASÚMULA DA IMPRENSASÚMULA DA IMPRENSASÚMULA DA IMPRENSA

OBESIDADE EM CRIANÇAS E JOVENS

A obesidade infanto-juvenil tempreocupado os vários segmentos

do setor Saúde. Vários estudos indi-cam que o número de crianças e ado-lescentes acima do peso aumentoude 3% para 15%, de 1975 a 1997. Se-gundo os índices de 1997, quando foifeito um último levantamento sobrea obesidade infanto-juvenil, existemcerca de 6,7 milhões de crianças ejovens obesos entre 6 e 18 anos.

De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), a obesida-de nessa população cresceu 240% nosúltimos 20 anos no Brasil. Esses dadospoderão ser conferidos no documen-to Projeto Escola Saudável, enviado pelaSociedade Brasileira de Endocrinologiae Metodologia (SBEM) e várias outrasinstituições aos ministérios da Saúdee da Educação. Essa iniciativa tem oobjetivo de alertar o governo paratomar as medidas necessárias, evitan-do uma situação semelhante à dos Es-tados Unidos, onde se estima que, noritmo em que cresce o número depessoas acima do peso, o país todopoderá se tornar obeso em 30 anos.Para conter o crescimento da obesi-dade, o governo federal tem incenti-vado estados e municípios a contrata-rem nutricionistas que possamplanejar refeições mais equilibradasna rede de creches e escolas.

�DOE VIDA� VOCÊ TAMBÉM

O Ministério da Saúde (MS) esti-mula a doação de órgãos com a

campanha Doe Vida � Seja um doa-dor de órgãos, que está no ar desdeo dia 19 de novembro de 2003. O ob-jetivo do MS, conforme informou oministro Humberto Costa, é zerar afila de transplantes de córnea até2007 e reduzir ao máximo a fila detransplantes dos demais órgãos.

Hoje, segundo Humberto Costa,há 56 mil pessoas aguardando na filade transplantes. Desse total, 23 milesperam por uma córnea. Apesar dasleis criadas desde 1997, a melhor ini-ciativa é ainda a decisão da famíliapela doação dos órgãos. Por isso acampanha do Ministério da Saúde trazo lema �Se você é um doador avise asua família. Se você tem doador nasua família, atenda à vontade dele�.

De acordo com o MS, o Brasil regis-tra o segundo maior número detransplantes, com 8 mil cirurgiasanuais, estando atrás apenas dosEstados Unidos, que realiza 11 miltransplantes.

Mas isso não é o suficiente. Paraa realização das cirurgias, o Brasil con-ta com 22 centrais de captação deórgãos, 450 hospitais capacitados paratransplantes, cerca de 1.000 equipesespecializadas, além de gastos do go-verno de R$ 280 milhões, dos quaisR$ 106 milhões em medicamentos in-dicados a transplantados.

Paralelamente à campanha, ogoverno pretende capacitar as equi-pes de saúde que atuam na emergên-cia para melhor identificar um doa-dor em potencial. Além disso, oMinistério da Saúde deseja contribuirpara o desenvolvimento de novas te-rapias capazes de reduzir as filas deespera, como o emprego de células-tronco na revascularização cardíaca.Para tanto, o MS deve destinar aindaneste ano cerca de R$ 80 milhões àpesquisa clínica, sobretudo para es-tudos das novas terapias.

O BRASIL DORME MAL

A insônia afeta quase metade dapopulação brasileira: o proble-

ma atinge 40% das pessoas, de acor-do com a Organização Mundial deSaúde (OMS). O assunto foi ampla-mente discutido em congresso reali-zado no fim do ano passado, em Vitó-ria. Pesquisa do Laboratório do Sono,da Universidade Federal de São Paulo(Unifesp), revelou que 93% dos brasi-leiros apresentam algum tipo de difi-culdade para dormir.

A insônia transitória é aquela quenão dura mais de 30 dias. A pessoatem uma dívida para pagar, um paren-

te doente e passa a dormir mal. De-pois, tudo se resolve. Já a insôniacrônica é um sintoma de uma doen-ça, como alteração respiratória oudistúrbio do movimento � explicou opneumologista Flávio Guimarães, emreportagem publicada no jornal Ex-tra em 17/11/2003.

Em contrapartida, os dados doestudo demonstraram que o brasilei-ro está aderindo ao hábito da sesta.Das cerca de 2 mil pessoas ouvidas pelainstituição, 42% disseram gostar de tirarum rápido cochilo após o almoço.

DIABETE (I)

A Organização Mundial de Saúde(OMS) alerta para o crescimento

da diabete nos países em desenvol-vimento, que poderá afetar cercade 284 milhões de pessoas até 2030.Segundo estudos da Organização, oBrasil poderá representar a sétimamaior população de diabéticos da-qui a 30 anos. Em 2000, o país regis-trou 4,5 milhões de pessoas com adoença. Mas, como nos demais paí-ses emergentes o número de dia-béticos vem crescendo, prevê-seque o Brasil alcance a marca de 11,3milhões de casos da doença até2030. A preocupação da OMS se jus-tifica pelo fato de que, em 1985, omundo registrava apenas 30 milhõesde diabéticos, sendo a maioria pro-veniente de países ricos. Hoje, jásão ao todo 177 milhões de pessoascom diabete, e a doença vem sen-do a causa de uma a cada 20 mortesregistradas no mundo. A OMS expli-ca que o aumento da doença, ca-racterizada pelo excesso de glicoseno sangue devido à incapacidade deo organismo produzir o hormônioinsulina em níveis suficientes ou denão produzi-lo, é conseqüência damudança no estilo de vida ocorridanos últimos anos. A prática de ativi-dades físicas vem sendo reduzida ese consome cada vez mais alimentosricos em açúcar e gordura.

DIABETE (II)

Para o controle mais eficaz dadiabete, a Associação Americana

de Diabete lançou recentemente umdocumento contendo diretrizes maisrígidas para o diagnóstico da doença,

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que foi publicado na edição de no-vembro da revista científica DiabetesCare. Com as novas regras, a taxa deglicose no sangue de um paciente emjejum só poderá ser considerada nor-mal quando for menor que 100 mili-gramas por decilitro de sangue. An-tes, considerava-se como normal umataxa de até 110 miligramas pordecilitro de sangue. No caso das ta-xas registradas de 100 para cima e até125 miligramas por decilitro de san-gue, o diagnóstico é de pré-diabete.Com o novo parâmetro, o número debrasileiros com pré-diabete que erade 5 milhões passará para 6 milhões.A mudança nas diretrizes para diag-nóstico da diabete tem o objetivo,segundo a associação, de evitar quepessoas com taxas de glicose entre100 e 110 fiquem sem controle, jáque especialistas no assunto vêm no-tando, na prática clínica, que quan-do alcança a marca dos 100 miligra-mas por decil itro de sangue aglicose pode causar lesões na pare-de das artérias e, conseqüentemente,doenças cardiovasculares.

AIDS NO MUNDO

Os números da Aids são assusta-dores em todo o mundo. De acor-

do com relatório do programa de Aidsda Organização das Nações Unidas(ONU), a Unaids, cerca de 5 milhõesde pessoas foram infectadas pelo ví-rus HIV e 3 milhões morreram devidoà doença no ano de 2003. Esse é omaior registro ao longo da história daepidemia. Segundo levantamento daUnaids, hoje o mundo registra 40 mi-lhões de pessoas portadoras do vírus.Desse total, 2,5 milhões são criançasmenores que 15 anos. A doença atin-giu, em 2003, 14 mil pessoas por dia.Em 2003, a epidemia cresceu da se-guinte maneira: a América do Norteregistrou entre 790 mil e 1,2 milhãode pessoas contaminadas pelo HIV, 36mil e 54 mil novos casos da doença e

12 mil e 18 mil mortes; a América Lati-na teve entre 1,3 milhão e 1,9 milhãode contaminados, 45 mil e 80 mil no-vos casos e 49 mil e 70 mil mortes; aEuropa Oriental e a Ásia Central re-gistraram entre 1,2 milhão e 1,8 mi-lhão de pessoas contaminadas, 180mil e 280 mil novos casos da doençae entre 23 e 37 mil mortes; a Áfricado Norte e o Oriente Médio tiveramentre 470 mil e 730 mil contamina-dos pelo vírus, 43 mil e 67 mil novoscasos e 35 mil e 50 mil mortes; a Áfri-ca Subsaariana � que teve o pioríndice � registrou entre 25 milhõese 28,2 milhões de pessoas contami-nadas, 3 milhões e 3,4 milhões denovos casos e 2,2 milhões e 2,4 mi-lhões de mortes; o leste da Ásia e oPacífico registraram entre 700 mil e1,3 milhões de pessoas contamina-das, 150 mil e 270 mil de novos casosda doença e 3 mil e 58 mil mortes; osul e sudeste da Ásia tiveram entre4,6 milhões e 8,2 milhões de conta-minados, 610 e 1,1 milhão de novoscasos e entre 330 mil e 590 mil mor-tes provocadas pela Aids; e a Áustriae a Nova Zelândia registraram en-tre12 mil e 18 mil pessoas contami-nadas, 700 e mil novos casos e menosque 100 mortes.

AIDS, DUAS REALIDADES

No Brasil, a infecção por HIV en-tre usuários de drogas injetáveis

diminuiu bastante entre 1994 e 2001.Segundo estudo da OMS realizado emtrês cidades, a incidência do vírusnesse grupo caiu de 63% para 42% emSantos (SP), de 49% para 7% em Salva-dor e de 25% para 8% no Rio de Janei-ro. Apresentada pelo infectologista daFiocruz Francisco Inácio Bastos, no VSimpósio Brasileiro em Pesquisa sobreHIV/Aids, em novembro de 2003, essanova realidade se deve ao fato de queos novos usuários de drogas injetáveisnão têm mais o costume de compar-tilhar seringas, diminuindo a transmis-são do vírus da Aids, e ao trabalhode prevenção, que inclui programasde troca de seringas e distribuiçãode preservativos desenvolvidos porautoridades e ONGs.

Para Bastos, em entrevista ao jor-nal O Globo de 27/11/2003, não é ver-dade que esse grupo seja refratárioa mudanças. Pelo contrário, afirmou,�a circulação de informações na mídiae as campanhas de massa chegam atéele e podem provocar mudança decomportamento�. Sabe-se que hojeos usuários de drogas injetáveis re-presentam cerca de 30% dos 277.153

casos de Aids registrados no Brasil.Se a realidade brasileira me-

lhorou quanto à incidência do ví-rus da Aids, pelo menos entre ogrupo de usuár ios de drogasinjetáveis, o mesmo não acontececom os países africanos. Segundoalerta do Fundo das Nações Uni-das para a Infância (Unicef), a Áfri-ca registra mais de 11 milhões decrianças órfãs com menos de 15anos devido ao vírus da Aids. Onúmero preocupa: até 1990 estavaabaixo de um milhão de crianças.Com o avanço da epidemia de Aidsestima-se que, até 2010, aproxima-damente 40 milhões de criançasafricanas terão perdido um dos paisou mesmo os dois.

A preocupação é maior com aregião da África Subsaariana, ondeestão de 25 milhões a 28,2 milhões deportadores do HIV. Segundo o Unicef,o maior aumento de órfãos poderáocorrer em países como Botsuana,Lesoto, Zimbábue e Suazilândia. Ne-les, a Aids afeta mais de 30% da popu-lação, levando pelo menos duas emcada cinco crianças a perderem ospais até 2010 � em 80% desses casospor causa do HIV. Para o Unicef, aregião carece de sistemas nacionaisque atendam às crianças órfãs, vistoque, das 40 nações do continenteafricano com quadro de epidemia deAids, somente seis têm políticas deassistência aos órfãos.

Outro problema, que começaantes mesmo da morte dos pais, dizrespeito à falta de recursos dos por-tadores do vírus. Devido à doença, ospais deixam de trabalhar, o gasto comremédios é maior, a renda familiar caie os filhos são obrigados a deixar aescola para trabalhar e suprir asnecessidades da família.

QUEM PRATICA ATIVIDADE FÍSICA

A prática de exercício físico nãosó reduz a incidência de doen-

ças como a diabete ou problemas decoração e de obesidade como tam-bém melhora a qualidade de vida. Aafirmação é do cardiologista Mar-cos Benchimol, em entrevista aojornal Extra, em 3/12/2003, expli-cando que a atividade física con-traria os riscos do sedentarismo.Apesar de proporcionar uma vidamais saudável, o exercício físico émuito pouco praticado pelos bra-sileiros. Segundo uma pesquisa re-alizada pela Organização Pan-ame-ricana de Saúde (Opas), apenas 13%dos brasileiros reservam parte de

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SÚMULA DA IMPRENSA é produzida a par-tir da leitura crítica dos principais jor-nais diários e revistas semanais do país.

4º congresso interno da fiocruz4º congresso interno da fiocruz4º congresso interno da fiocruz4º congresso interno da fiocruz4º congresso interno da fiocruz

seu tempo livre para praticar, pelomenos, 30 minutos de atividades fí-sicas, uma vez por semana, e os 87%restantes não fazem nenhum tipode exercício físico. O percentualestá abaixo dos Estados unidos,onde 38% da população reserva seutempo livre para o exercício, e daEuropa, onde 32% da populaçãotêm tal hábito. Para Vítor Matsuda,consultor da Organização Mundialde Saúde (OMS) para atividades fí-sicas, esses dados não provam queos brasileiros sejam mais sedentá-rios do que os americanos ou eu-ropeus. Isso porque, se considera-das as atividades diárias como ocaminhar para o trabalho, o Brasilsegue os dados mundiais, onde 60%a 70% da população são sedentários.

FAO AJUDA O FOME ZERO

Em dezembro, o ministro de Se-gurança Alimentar, José Graziano,

participou em Roma da 32ª Confe-rência Geral da FAO (agência da ONUpara alimentação e agricultura) e as-sinou com a entidade termo de co-operação que prevê US$ 6 milhõespara o Fome Zero nos próximos trêsanos. A FAO já havia desbloqueadoum fundo de US$ 1 milhão em apoioàs ações de combate à fome e àmiséria no Brasil.

Os recursos serão destinados aoFome Zero em todo o país. �Vamosfazer, num primeiro momento, aformatação dos programas banco dealimentos, restaurantes populares,hortas e viveiros comunitários, meren-da escolar e todos os programas desegurança alimentar que fazem partedo cardápio do Fome Zero�, desta-cou Graziano, em entrevista à RádioFrança Internacional.

SURTO INDIGESTO NA DOZE � Um sur-to de infecção intestinal acometeucentenas de participantes da 12ª Con-ferência Nacional de Saúde. Nos doisúltimos dias do evento, muitos fica-ram no hotel, e na Academia de Tênis,longas filas se formaram nos toaletese no posto médico, onde receberamsoro para reidratação. Uma delegadade Minas chegou a ser levada ao hos-pital. Algumas vítimas denunciaram �umfeijão estragado�, outras um �sanduí-che suspeito�, segundo nosso repór-ter Fontes Fidedignas.

MUITO BARULHO POR NADA � FontesFidedignas, que é dado a uma investi-gação sociológica, teve a prova de queprecisava sobre o fato de o risco ser aassinatura da sociedade contemporâ-nea. Vítima de assalto em seu carro,no Rio, a bióloga Dália dos PrazeresRodrigues (Fiocruz) teve roubadasamostras clínicas que supostamente

Durante três dias, o futuro daFiocruz foi amplamente debati-

do durante a Plenária Extraordináriade Recursos Humanos do IV Congres-so Interno da instituição, realizado naEscola Nacional de Saúde Pública Sér-gio Arouca, no Rio. As discussões gi-raram em torno do tema �Valorizaçãodo servidor público: um desafio parao novo governo�. Cerca de 300 dele-gados eleitos pelas diversas unidadesda Fiocruz discutiram avaliação dedesempenho, regulação da força detrabalho, planos de carreiras, políti-cas de benefícios e reforma do Esta-do. O objetivo era traçar diretrizespara a gestão interna de recursoshumanos.

Ficou decidido que a incorpora-ção de pessoal na Fiocruz se dará peloRegime Jurídico Único da União (RJU).Durante a transição serão aceitasoutras formas de contratação � sobregras específicas para cada modali-dade. Foram aprovados a expansão da

rede credenciada e os serviços doFio-Saúde para as unidades da Fiocruzem outros estados. Além disso, o Fio-Saúde deve ser substituído por umafundação de assistência e voltar aoferecer o plano básico sem ônuspara os servidores.

A Fiocruz deverá ampliar o di-reito à creche para todos os ser-vidores e assegurar que empresascontratadas garantam esse direitoa seus trabalhadores. Os delega-dos resolveram também dar o pra-zo de um ano para a extinção dacomplementação salarial via funda-ções de apoio. Decidiu-se ainda pelamanutenção e revisão do atual pla-no de carreira da Fiocruz, o Planode Ciência e Tecnologia (C&T). Ao fimdo encontro, a Plenária determinoua avaliação do sistema descentrali-zado de recursos humanos e a am-pliação dos mestrados profissionais,assim como a melhoria do Programade Capacitação Profissional.

O futuro em debate

poderiam oferecer danos à saúde. Amídia deitou e rolou. Dadas em mo-mento de nervosismo, as declaraçõesda bióloga se mostraram infundadas. Amídia não perdoou. E transformou ocaso em história rocambolesca. Depoisde muito estardalhaço, a caixa comas amostras foi encontrada intacta.

PARA AMENIZAR O PRECONCEITO �Por encomendado Ministério daSaúde, a ECT lan-çou em dezembroselo criado peloartista plásticoDarlan Rosa (idea-lizador do Zé Go-tinha, da campanha contra a pólio),para marcar a luta contra o HIV e aAids e manifestar respeito aossoropositivos. São 4 milhões de selos,de 74 centavos. Pedidos: Agência deVendas a Distância, Av. PresidenteVargas, 3.077, 23º andar, 20210-973, Rio/ RJ. Tel.: (21) 2503-8095; e-mail:[email protected]

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Jesuan Xavier

�Uma coisa é alongar otempo de vida e outraé ampliar a qualidadedela por anos a mais�. A

frase, dita pelo diretor da Universi-dade da Terceira Idade (Unati) daUerj, Renato Veras, resume o desafio

idososidososidososidososidosos

Viver mais e melhor

a ser enfrentado por toda a socieda-de brasileira nas próximas décadas.Segundo ele, a terceira idade sofrehoje por não existir na ponta final dosistema de saúde um profissional trei-nado especificamente para lidar comsuas demandas. Das 119 Faculdadesde Medicina do país, apenas quatrotêm disciplinas ligadas à geriatria.

�Embora a expectativa de vida

aumente em todo o mundo, vemos aquino Brasil um movimento no mínimo cu-rioso�, observa. �Enquanto as univer-sidades formam um número cada vezmaior de pediatras (atualmente exis-tem cerca de 80 mil profissionais tra-balhando nessa área), temos apenas 550geriatras espalhados pelo país.�

É fato que o conhecido �país dosjovens� vem ganhando cabelos

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Aprovado no ano passado peloSenado, o Estatuto do Idoso ga-

rante uma série de leis que darãomais qualidade de vida aos cidadãosbrasileiros com idade acima de 60anos. Entre outras determinações,o direito a meia-entrada em even-tos culturais e esportivos, priori-dade nos processos judiciais e es-tacionamentos públicos, e puniçõesmais severas a quem maltratar e atémesmo abandonar alguém da ter-ceira idade. Instituições de ensi-no, públicas e privadas, ficam obri-gadas a incluir disciplinas quetratem do assunto. No que diz res-peito à área de saúde, o Estatutoproíbe que os planos de saúde co-brem mais caro dos idosos e assegurao fornecimento de medicamentos.

Pesquisa divulgada em dezem-bro do ano passado revelou

que a expectativa de vida do bra-sileiro passou para 71 anos � em1980, era de apenas 62,5 anos. Oestudo constatou que as mulhe-res vivem mais do que os homens(em torno de 7,6 anos). A diferen-ça é explicada por diversos fato-res biológicos e ambientais, en-tre eles causas externas (violênciae acidente). Com essa nova taxade mortalidade, o Brasil fica na 88ªposição no ranking da ONU, situ-ando-se acima da média mundial(65,4 anos). O ranking compara aexpectativa de vida em 192 paí-ses. Em primeiro lugar está o Ja-pão, com esperança de vida de81,6 anos. Em seguida vêm Suécia(80,1), Hong Kong (79,9), Islândia(79,8) e Canadá (79,3). O últimodo ranking é a Zâmbia, com 32,4anos. Próximos ao Brasil estão pa-íses como Colômbia (72,2)Suriname (71,1) China (71,0),Paraguai (70,9) e Equador (70,8).

brancos a cada ano. De acordo comlevantamento do Instituto Brasileirode Geografia e Estatística (IBGE), apopulação do Brasil com idade acimados 60 anos já beira os 16 milhões.

� São praticamente 9% do totalde cidadãos, que não têm um atendi-mento especializado. Não digo issoapenas em relação à saúde, mas tam-bém em transporte, educação e atéem diversão � diz Veras.

MAIORIA DEPENDE DO SUSSegundo pesquisa do Núcleo de

Estudos em Saúde Pública e Envelhe-cimento (Nespe) do Ministério da Saú-de, 73% dos idosos brasileiros depen-dem exclusivamente do sistema públicode saúde. �Por mais que haja boa von-tade da parte dos milhares de agen-tes públicos de saúde, o atendimentoainda está longe do ideal�, diz. Paraele, a abordagem ao idoso realmenteprecisa ser diferente do normal, masrespeitando os seus limites. �Vemos,em muitos casos, uma certainfantilização nesse contato com osmais velhos, e não é isso que eles que-rem e não é isso que deve ser feito.�

Veras não é de todo pessimista.O país começa a engatinhar naconscientização do respeito à terceiraidade, pensa ele, que cita o recenteepisódio do recadastramento da Previ-dência como exemplo de mobilizaçãonacional em favor do idoso.

Na ocasião, o Ministério da Previ-

dência, para tentar descobrir as frau-des no setor, exigiu o recadastramentode idosos. O que se viu foram cenasdramáticas de milhares de aposenta-dos e pensionistas, muitos em cadei-ras de rodas e macas, em filas intermi-náveis do INSS. A suspensão imediatade cerca de 105 mil benefícios � sus-peita-se de que pelo menos um terçodesse total seja fraudulento � cau-sou indignação em toda a sociedade.Pressionado, o ministro da Previdên-cia, Ricardo Berzoini, foi obrigado arecuar e pedir desculpas públicas.

Nem se discute se o ministroestava bem-intencionado ou não, dizVeras. Mas, ao baixar exigências des-cabidas para aquelas pessoas, hou-ve uma grita geral, a sociedade pro-testou e ele teve que recuar. �Essetipo de movimento já é um avanço�,festeja.

650 MIL IDOSOS A CADA ANODe acordo com a Organização

Mundial de Saúde (OMS), o Brasil passa-rá a ocupar, daqui a 20 anos, o sextolugar no ranking de idosos � atualmen-te, o país está em 12º. A cada ano, 650mil novos brasileiros passam a figurar nacamada acima dos 60 anos.

Veras acha que teremos que pas-sar por uma revolução cultural paraatender às necessidades desse públi-co específico, que cresce vertigino-samente. Vários países da Europa, porexemplo, já pensam o idoso há muitotempo, lembra. �Lá eles sempre exis-tiram para a sociedade: as criançasaprendem nas escolas que devem res-peitar e se aconselhar com os maisexperientes�, diz. �Aqui, infelizmen-te, a terceira idade é considerada,por muitos, apenas uma transição atéa morte.�

O diretor da Unati destaca ain-da que o perfil urbano de nossas ci-dades também precisaria ser repen-sado. Num mundo ideal, diz Veras,

engenheiros e arquitetos fariam pro-jetos voltados não só para os idososcomo deficientes físicos em geral,pois há carência de rampas de aces-so nas calçadas, corrimãos nos pré-dios públicos, elevadores com espa-ço para cadeiras de rodas etc. �Éclaro que tudo isso custa muito caro,e essa revolução se faz com vontadepolítica�.

Cientes da crescente deman-da da terceira idade, parlamentaresque fizeram a Constituição de 1988incluíram as primeiras diretrizes daPolítica Nacional do Idoso � que ter-minou virando referência para a ela-boração do Estatuto do Idoso. O di-retor da Unati lembra que o perfilurbano de nossas cidades tambémprecisaria ser repensado.

Na opinião dele, graças aos avan-ços da medicina, a pessoa que nãomorrer por causa externa (violênciaou acidente) chegará à terceira ida-de. A discussão que se faz necessáriaagora é: com que qualidade viverá apartir de então?

Publicações

! Terceira idade: desafio para oterceiro milênio, Renato Veras(Editora Unati-Uerj)

!Antropologia, Saúde e Envelhe-cimento, Maria Minayo e Carlos E.ACoimbra Júnior (Editora Fiocruz)! Rejuvenescer a Velhice, Maria L.Mousinho (Editora UNB)! Repensando aposentadoria comqualidade, Lucia França (EditoraUnati-Uerj)! Corporeidade e Terceira Idade �A marginalização do corpo do idoso,

Para saber maisRegina Simões (Editora Unimep)! A saúde do idosos: a arte de cui-dar (Editora Unati-Uerj)! Memória e Sociedade, Eclea Bosi(Editora Companhia das Letras)! O arco da velha: poemas para ainfância, Maria Aparecida RodriguesFontes (Editora Unati-Uerj)

Sites com mais informaçõeswww.ipea.gov.brwww.ensp.fiocruz.brwww.ibge.gov.brwww.saude.gov.brwww.unati.uerj.br

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Chegar à terceira idade e aindaprojetar planos para o futuro.

Quem vê as aulas de dança voltadas aosidosos que acontecem todas as quar-tas e quintas-feiras no Centro de Saú-de da Escola Nacional de Saúde Públi-ca, da Fiocruz, no Rio deJaneiro, percebe de imedi-ato que existe vida com qua-lidade após os 60 anos.

Apesar das dificulda-des orçamentárias de umdepartamento ligado aosetor público, o Progra-ma de Atenção à Saúdedo Idoso (PASI) tem hojecadastrados cerca de130 idosos.

� Não posso negar que há ca-rência de material e pessoal, mas pro-curamos trabalhar com o que temosde melhor: a força de vontade. Sabe-mos que o PASI representa para mui-tos a única forma de atenção dispen-sada a eles �, afirma a coordenadorado Programa, Leila Rasina Mendes.

Ela dirige o trabalho da equipe,que conta com assistente social, psi-cólogo, nutricionista, fisioterapeuta,pedagogo e até artesão. �Neste momen-to, estamos procurando um geriatra. Onosso último acabou se desligando por

motivos profissionais.� Leila explica que o

PASI tem como objetivomelhorar a qualidade de vidado idoso, e �não apenastratá-lo quando apresentaalguma doença�. Procura-mos ir mais a fundo, diz ela:organizamos diversas ativida-des, como aulas de dança,palestras e passeios, sempre

procurando a interação e a integraçãoentre eles e a sociedade. �Os resulta-dos são incríveis�, afirma. �A auto-esti-ma dos idosos melhora muito.�

Ela conta uma curiosidade: o gru-po cadastrado reúne apenas 16 ho-mens. �Eles têm mais restrições emprocurar um programa voltado para aterceira idade, preferem ficar em casa

retraídos ou, quando muito, vão até apraça para jogar alguma coisa (geral-mente baralho ou jogos de tabuleiro)�,diz Leila. �O trabalho com eles é maisdifícil. São extremamente tímidos.�

Adelina Back Eyng, 81 anos, viúva,9 filhos, 17 netos e apaixonada por dan-ça, encontrou no PASI bons amigos comoJosué Inácio do Nascimento, 70 anos.Ele conta que conseguiu se livrar de umaforte depressão. �Aqui é o melhor lugardo mundo. Quando perdi meu filho,achei que a vida não tinha mais graça.Cheguei ao PASI completamente desa-nimado. Hoje, sou outra pessoa�, diz,em meio ao seu harém. �Tenho algumaspaquerinhas sim�, confirma, encabula-do, o senhor que faz questão de exibiras cinco tatuagens que fez ao longo davida. �Cada uma tem uma história com-prida. Se você tiver tempo, conto como maior prazer.� (J.X.)

* Título de música feita por dois par-ticipantes do Programa de Atenção àSaúde do Idoso.

�O PASI me espera�*

Atenção e dedicação paraaprender a dançar a polca

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AAs tatuagens de Josué

escondem sua timidez,que desaparece

nas aulas de dançaNa camiseta, uma mensagem de orgulho:A terceira idade brilha como o sol

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12ª conferência nacional de saúde12ª conferência nacional de saúde12ª conferência nacional de saúde12ª conferência nacional de saúde12ª conferência nacional de saúde

Na abertura, delegados e convidados lotaram o plenário

A12ª Conferência Nacional deSaúde, realizada entre osdias 7 e 11 de dezembro, naAcademia de Tênis de

Brasília, marcou a história da SaúdePública brasileira. Primeiro pelo nú-mero de participantes: aproximada-mente três mil delegados, entre usu-ários, trabalhadores, gestores eprestadores de serviços do SistemaÚnico de Saúde (SUS), além dos cer-ca de 1.000 observadores e convida-dos, fora as pessoas que acompanha-ram os trabalhos pela internet.Segundo, pela participação intensivados presentes nos cinco dias de con-ferência, inclusive na plenária final,que terminou depois das 4 da manhãdo dia 12, o momento mais exaustivoda conferência, e também de maiorrelevância para a saúde do país: da ple-nária saíram as propostas para um SUSde fato universal, eqüitativo e integral.

A 12ª se destacou ainda por umacalorosa atmosfera política, pelo climade alegria nos vários shows ao longo doevento � de Gilberto Gil, Dominguinhos,Nei Matogrosso, Filhos de Gandhi, ZezéMotta, entre outros � e pela presen-ça, no último dia, do presidente da Re-pública, Luiz Inácio Lula da Silva,esperado com ansiedade.

Na abertura do encontro, o mi-nistro da Saúde, Humberto Costa, foiovacionado pela platéia � fato raroem conferências de saúde � ao rea-firmar seu compromisso de colocarem prática as propostas aprovadaspela Doze. �Antecipamos a 12ª CNS,pois sabíamos que precisávamos an-tes de tudo ouvir a sociedade, paraentão planejar o futuro do SUS�, dis-se. O ministro aproveitou para fazero balanço de um ano de governo, pe-ríodo em que, segundo informou, fo-ram investidos R$ 150 milhões a maisem serviços de Atenção Básica,direcionados R$ 368 milhões a maisao Programa Saúde da Família (PSF) eampliou-se o acesso a medicamentospara doenças como hepatite e Aids.

Sarah Escorel, presidente do Cen-tro Brasileiro de Estudos em Saúde(Cebes) e relatora-adjunta da confe-rência, foi outra importante persona-lidade na abertura. Sua fala, no tem-po cedido pelo coordenador-adjunto,

O início de uma nova política de saúde

Eduardo Jorge, por um lado arrancourisos da platéia, quando chamou aatenção para a mesa composta ape-nas por autoridades masculinas. Poroutro, emocionou a todos ao lembrarde Sérgio Arouca, com quem foi casa-da e teve filhos, e ao convocar os pre-sentes a participarem de uma mudan-ça na política sanitária do país. Comodisse, �somos autores e atores da his-tória que estamos construindo�.

As discussões sobre �a saúde quetemos e o SUS que queremos�, con-forme o lema da conferência, come-çaram na segunda-feira 8/12, com 10mesas-redondas. Foi um dia longo �mais de 30 horas de palestras e 60 ex-positores, algumas encerradas após ameia-noite �, para o aprofundamentodas reflexões sobre os eixos temáticos:Financiamento da Saúde, Trabalho naSaúde, Controle Social e GestãoParticipativa, Organização da Atençãoà Saúde, Três Esferas de Governo e aConstrução do SUS, Intersetorialidadedas Ações de Saúde, Informação e Co-municação em Saúde, Direito à Saúdee Seguridade Social e a Saúde.

Dos temas discutidos, Financiamen-to do SUS atraiu o maior número departicipantes. O ponto alto da discus-são foi o descumprimento da EmendaConstitucional nº 29 em 17 estados eem 41% dos municípios, como informou

o secretário-executivo do Ministério daSaúde, Gastão Wagner. Também provo-cou debate a necessidade de ampliaçãodos recursos e de fiscalização do bomuso do dinheiro disponível, como alertouo médico e professor Gilson Carvalho.

Na terça-feira 9/12, a conferên-cia se transferiu para as salas da Uni-versidade de Brasília, onde 98 grupospassaram o dia em debates. Como ex-plicou Eduardo Jorge, �essa partici-pação é um dos momentos-chave deuma conferência de saúde, a maioroportunidade de consulta democráti-ca aos representantes da sociedade�.

Na plenária final decidiu-se votarapenas as propostas mais polêmicas,como a descriminalização do aborto,a extinção do projeto de lei que re-gula o Ato Médico e a forma decontratação dos Agentes Comunitári-os de Saúde. Com aplausos e apitos, aplenária rejeitou as propostas do abor-to e do Ato Médico e aprovou acontratação de agentes por proces-so seletivo público. Os demais pontosserão encaminhados aos estados paraque se aprofunde o debate. Em segui-da, as decisões passarão ao ConselhoNacional de Saúde para aprovação. Ouseja, a Doze continua. (K.M.)

! Na próxima edição da revista Radis,cobertura completa da 12ª CNS

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ética e tecnologiaética e tecnologiaética e tecnologiaética e tecnologiaética e tecnologia

Houve uma época, em mea-dos da década de 90, quequalquer repórter que seaventurasse a falar sobre

ética com cientistas corria o risco dereceber uma resposta marota. �Éticaé um problema da sociedade; o meutrabalho é pesquisar�. Mas parece queos tempos são outros. Tanto assim queo Rio de Janeiro abrigou durante trêsdias, na primeira semana de dezem-bro, a Terceira Sessão da ComissãoMundial de Ética do ConhecimentoCientífico e Tecnológico (Comest).

Foram discutidos �A ética no usoda água doce�, �A ética e a nanotecno-logia�, e �O desenvolvimento da ciên-cia e tecnologia e a sustentabilidade�,dentre outros temas. Mas o desta-que ficou por conta da discussão so-bre �Implicações éticas da pesquisacom seres humanos nos países em de-senvolvimento�.

Mas, vista assim de perto, aboutade dos cientistas sobre a ética,expressa no primeiro parágrafo destamatéria, tem sua razão de ser. Um gran-de estudioso das conflituosas relaçõesentre ética e ciência na moderna so-ciedade industrial é o filósofo alemãoKarl-Otto Apel que, com JurgenHabermas, elaborou as bases da �éti-ca do discurso�. Para Apel, os resul-tados da ciência representam umdesafio moral para a humanidade. E,segundo ele, o que vai complicar umpouco a relação entre ética e ci-ência é a ênfase desta última naidéia de objetividade neutra, isen-ta de valores. Ora, onde não há va-lores, fica difícil fundar uma ética.Mas para ele este é um falso pro-blema. Quando reunidos, os cien-tistas praticam uma certa ética. Ofato é que ainda hoje é comum ci-entistas acharem que ética signi-fica apenas fazer �boa ciência�, ecom integridade.

COBAIAS HUMANAS No século 20, um dos campos

onde a reflexão sobre ética e ci-ência vicejou foi na questão da prá-tica da experimentação em sereshumanos. As atrozes imagens decobaias humanas sendo submetidasa torturantes experimentos na Ale-

O placebo no banco dos réusmanha nazista inspiraram o Códigode Nuremberg e outros que visa-vam proteger os sujeitos envolvi-dos na pesquisa exigindo seu con-sentimento voluntário para delaparticipar, limitando as investiga-ções em pessoas vulneráveis (comocrianças ou detentos), ou institu-indo comitês de ética de pesquisavisando resguardar os direitos dospacientes. Atualmente, o mais im-portante documento do gênero é aDeclaração de Helsinque, da Asso-ciação Médica Mundial, que, lançadaem 1964, já passou por cinco revi-sões, sendo que a última delas noano 2000.

As mudanças que mais gerarampolêmica por parte dos pesquisa-dores nesta última revisão e que fo-ram consideradas uma vitória paraos pacientes pelas associações quelutaram pelas modificações envol-vem os parágrafos 29 e 30 da refe-rida declaração. E dizem respeito,em l inhas gerais, ao uso deplacebos (medicamentos inócuosministrados a um grupo de pacien-tes para fins de pesquisa) e ao aces-so ao melhor tratamento disponí-vel a todos os sujeitos envolvidosno estudo. Por conta disso, a FDA(organização que controla drogase alimentos nos EUA) e os organis-mos reguladores de medicamentosda União Européia desconsiderama última versão do documento, ale-gando que tais posições afetam acientificidade dos estudos.

OS VILÕES DA SAÚDEPela nova recomendação, os

placebos só podem ser usados emestudos quando não houver outraterapia disponível para comparaçãocom o procedimento que está sen-do testado. Na eventualidade deexistir uma droga apropriada nomercado, o teste deverá compararo novo produto com aquele já dis-ponível. Placebos ferem os direitosdos pacientes de várias maneiras.No passado, em testes realizadoscom bebês africanos e asiáticos,visando avaliar o efeito de curtoprazo de um antiretroviral na pre-venção da transmissão do vírus HIV

de mãe para filho, alguns deles fo-ram deliberadamente infectadospelos cientistas por conta do usode placebos.

No evento da Comest, que é umacomissão de 18 membros nomeadospelo diretor geral da Unesco, WilliamSaad-Hossne, representando a Comis-são Nacional de Ética em Pesquisa, de-fendeu a necessidade de os países cria-rem normas locais para os casos deexperimentação em seres humanos.�O problema das implicações éticas napesquisa assume uma prepoderânciamaior do que na ética em geral por-que, na pesquisa, podem ocorrerfreqüentemente diversas assimetriasentre inúmeros atores: o sujeito dapesquisa, o pesquisador, a instituição,o patrocinador, a sociedade e os pró-prios governos�. Ele destacou aespecificidade destes problemas nocontexto dos países subdesenvolvidos.

BRASIL NA VANGUARDASaad-Hossne detalhou a Resolu-

ção 196, de outubro de 1996, quedispõe sobre o assunto no País, des-tacando seu caráter, não só consul-tivo, mas também operacional. �Essaresolução, quando foi criada, nãopretendia deixar vazios operacionais,não apenas recomendar, mas criarum mecanismo de controle efetivode acompanhamento�. O Brasil atu-almente conta com cerca de 400comitês de ética em pesquisa, con-gregando cerca de 5 mil pessoas quese reúnem mensalmente para discu-tir as pesquisas de suas instituições.Saad-Hossne estimou que no anopassado foram realizados no paíscerca de 1.500 estudos envolvendoseres humanos.

César Jacoby, representando oMinistério da Saúde, apresentou aposição oficial do Brasil sobre osparágrafos 29 e 30, após as inúme-ras polêmicas por eles suscitadas eainda em curso. O Brasil decidiunão promover alterações nos pará-grafos em questão, mas prosseguirna discussão. Tudo indica que estaquerela será resolvida na próximaAssembléia Geral da AssociaçãoMédica Mundial, que deverá ocor-rer em Tóquio, em 2004. (C.C.)

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Uma das promessas de cam-panha do presidente LuizInácio Lula da Silva virouação de governo, segun-

do anunciou o ministro da Saúde,Humberto Costa, na abertura da 12ªConferência Nacional de Saúde, emBrasília: a criação de farmácias popu-lares em todo o país. A proposta éinstalar unidades farmacêuticas nosestados, ligadas aos laboratórios ofi-ciais, que possam vender a preçosmais baixos os medicamentos de quea população necessita. A polêmica emtorno do assunto, porém, é grande.

Na Conferência Municipal deSaúde de Niterói (RJ), que ocorreuno fim de setembro de 2003, algunsmanifestantes pediam, em faixas ecartazes, a não-implantação do pro-jeto, já que é obrigação do sistemade saúde oferecer gratuitamente àpopulação os remédios necessári-os, ou seja, todos os produtos queconstam na lista da Relação Nacio-nal de Medicamentos Essenciais(Rename) do SUS. A plenária finalda Conferência aprovou o fim da Far-mácia de R$ 1, projeto da governa-dora do Rio de Janeiro, RosinhaMatheus, que tinha a intenção deimplantar unidades farmacêuticaspúblicas no estado, oferecendo re-médios por este preço.

Como parte integrante e indis-sociável das políticas públicas de saú-de, a Assistência Farmacêutica é umdireito do cidadão, como previsto naLei Orgânica da Saúde (Lei 8.080/90),e cabe ao Estado promover todos osmeios ao seu alcance para permitiracesso a serviços com qualidade, in-clusive medicamentos essenciais. Daío impasse em torno do tema. Os crí-ticos alegam que é dever do Estadosuprir a população dos remédios deque necessitam. Argumentam tam-bém que os laboratórios oficiais dopaís, já sobrecarregados com a pro-dução dos medicamentos destinadosàs unidades de saúde do SUS, devi-do à falta de investimento e infra-estrutura, não têm condições de su-prir a produção extra a ser repassadaàs farmácias populares.

Para os defensores da propos-ta, a farmácia popular se justifica

FFFFFARMÁARMÁARMÁARMÁARMÁCIA POCIA POCIA POCIA POCIA POPULPULPULPULPULARARARARAR

De promessa a ação de governo

pelo baixo custo dos remédios ofe-recido aos que podem escolher usarou não o SUS. �Sabemos que muitosnão estão usando o SUS e os servi-ços que oferece�, diz Maria HelenaBaumgarten, conselheira fiscal daFederação Nacional dos Trabalhado-res da Agricultura e representantedos trabalhadores rurais no Conse-lho Nacional de Saúde (CNS), na I Con-ferência Nacional de Medicamentose Assistência Farmacêutica, em se-tembro de 2003. �É preciso, portan-to, discutir se a população opta pornão usar o sistema porque ela podeou porque o sistema não dá contade atender às suas demandas.�

Na opinião de Noberto Rech, di-retor da Assistência Farmacêutica doMinistério da Saúde, na medida emque os 17 laboratórios oficiais farma-cêuticos atuantes hoje no país con-sigam cumprir a tarefa de fornecermedicamentos ao SUS, tendo sua ca-pacidade de produção aumentada, háa possibilidade de se pensar na cria-ção de farmácias de dispensação, li-gadas aos laboratórios, que vendamremédios a preços reduzidos. Isso sig-nificaria, segundo Noberto, que osremédios custariam nessas unidadesaté 2.000% a menos em relação ao pre-ço de mercado. �Esses laboratóriossão hoje considerados parceiros doSUS, mas, para que possam atender atoda a demanda do SUS e ter esto-que para venda extra, precisam con-

tinuar recebendo recursos para am-pliar sua capacidade produtiva�, dis-se Noberto na I Conferência Nacio-nal de Medicamentos.

Implantar farmácias popularesvai ao encontro da proposta do go-verno, ao pensar uma Política de As-sistência Farmacêutica, de ampliaçãodo acesso da população aos medica-mentos essenciais. Nesse sentido, al-gumas ações estruturantes são fun-damentais. Para Noberto Rech, épreciso maior compromisso dos la-boratórios de farmácia com o SUS;maior autonomia do país na produ-ção de medicamentos, agregando aprodução de medicamentos que se-jam estratégicos e que influenciemos gastos em saúde, como é o casodos remédios de combate ao vírusda Aids; mecanismos efetivos deregulação econômica de mercado,tanto de medicamentos quanto deinsumos estratégicos para a saúde;e uma alíquota menor do ICMS paraa cesta básica de medicamentos,proporcionando redução de 15% a16% no custo do remédios.

ONDE EXISTEApesar dos contratempos, a far-

mácia popular já vem sendo instaladaem algumas cidades. Em Pernambuco,uma rede de 13 unidades farmacêuti-cas vende cerca de 70 medicamentosfabricados pelo Laboratório Farmacêu-tico de Pernambuco (Lafepe), e ou-tros 100 genéricos que são compra-dos de outros laboratórios. De acordocom Guilherme Robalinho, secretáriode Saúde do estado de Pernambuco,as farmácias populares contribuempara ampliar o acesso aos medicamen-tos essenciais, cobrindo cerca de 90%das necessidades da população comprodutos de uso contínuo.

No município de Niterói, no Es-tado do Rio, foi inaugurada a Farmá-cia Popular Vital Brazil, ligada ao la-boratório oficial de mesmo nome, naqual pessoas com mais de 60 anospodem comprar qualquer medicamen-to por R$ 1. A farmácia conta comanalgésicos, anti-hipertensivos, medi-camentos para úlcera e vitaminas,contabilizando ao todo 33 tipos demedicamentos. (K.M.)

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aaaaatençãtençãtençãtençãtenção à so à so à so à so à saaaaaúdúdúdúdúdeeeee

V inte cinco anos depois daassinatura da Declaração deAlma-Ata, o objetivo princi-pal do documento não foi

alcançado. Isso é fato. Acatado em1978 por 137 países e 67 organismosinternacionais, o documento final daConferência Internacional sobreAtenção Básica à Saúde, na cidadede Alma-Ata, no Cazaquistão, estabe-lecia o compromisso de �saúde paratodos no ano 2000�.

Para refletir sobre os reais moti-vos que levaram algumas daquelas dire-trizes a não saírem do papel, o Minis-tério da Saúde, com a OrganizaçãoPan-Americana de Saúde (Opas/OMS),organizou no início de dezembro umseminário internacional de grandes pro-porções. Durante dois dias, na Acade-mia de Tênis, em Brasília, ministros daSaúde de 12 países e autoridades daárea discutiram amplamente o tema.

Apesar de todas as dificuldades,o modelo brasileiro do Sistema Úni-

co de Saúde (SUS) foi quase unani-midade entre os participantes. �Mui-tos se perguntam: o que fracassou?Na verdade, acho que desde a assi-natura do termo de Alma-Ata tive-mos alguns avanços importantes�,disse Mirta Roses, diretora da Opas.Para ela, passamos por grandes ca-tástrofes, políticas e econômicas,que prejudicaram muito o ideal dasaúde para todos no mundo. Mas,mesmo assim, há bons projetos emandamento, como o do Brasil, disse.E a descentralização, que ontem erauma recomendação, hoje é uma re-alidade. �Aqui, a expectativa de vidajá ultrapassou os 70 anos, e isso éuma conquista�, festejou.

Nils Kastberg, diretor-geral doUnicef, lembrou a queda mundial namortalidade. �O índice é hoje o me-nor dos últimos cinco anos, e vemosum amplo acesso a remédios essen-ciais e trabalhos importantes nocombate a cólera�, disse. Kastberg

Alma-Ata, conquistas e fracassos

destacou que no Brasil o número deagentes de saúde cresce a cada ano.�Atualmente, cerca de 86 mil agen-tes atendem 80 milhões de pessoas,uma ampla cobertura, que dá exce-lentes resultados.�

Na abertura do seminário, o mi-nistro da Saúde, Humberto Costa,enfatizou que o SUS é baseado emmuitas das diretrizes de 1978. �O Siste-ma Único de Saúde segue à risca al-guns dos pontos acordados há váriosanos�, disse. �Quando o texto da de-claração de Alma-Ata menciona que opovo tem o direito e o dever de parti-cipar, individual ou coletivamente, noplanejamento e na implementação daatenção à saúde, isso pode ser enca-rado como uma menção à prática docontrole social, assegurada por lei noBrasil desde 1990.�

Como exemplo real de projetoque atende aos princípios do docu-mento assinado no distante país da ÁsiaCentral, o secretário de Atenção à

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Mirta Roses: �Aqui, aexpectativa de vida já

ultrapassou os 70 anos, eisso é uma conquista�

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Declaração de Alma-AtaOs 10 pontos principais:

1) A saúde é um estado de completobem-estar físico, mental e social, e éum direito humano fundamental. Omais alto nível de saúde possível é umobjetivo social prioritário em todo omundo, o que requer a ação de mui-tos setores.

2) A desigualdade na saúde é ina-ceitável.

3) O desenvolvimento econômico esocial é essencial para alcançar-se asaúde para todos, e a saúde é es-sencial para o desenvolvimento sus-tentável e a paz no mundo.

4) As pessoas têm o direito e o de-ver de participar no planejamentoe na implementação de sua aten-ção sanitária.

5) Um objetivo principal de todosos governos e da comunidade in-ternacional deve ser a promoção,para todos os habitantes do mun-do, no ano 2000, de um nível desaúde que lhes permita levar umavida produtiva social e economica-mente. A atenção primária à saúde(APS) é a chave para se alcançaresse objetivo.

6) A APS baseia-se na prática, em pro-vas científicas e na metodologia etecnologia socialmente aceitáveis,

acessíveis universalmente com a par-ticipação social, e a um custo que acomunidade e o país possam supor-tar. É o foco principal do sistema sa-nitário e seu primeiro nível de con-tato, aproximando ao máximo aatenção sanitária do lugar onde aspessoas vivem e trabalham.

7) A APS reflete as condições dopaís e de suas comunidades, e diri-ge-se aos principais problemas sa-nitários da comunidade, dando pri-oridade aos mais necessitados.

8) Os governos devem formular po-líticas e planos de ação para esta-belecer a APS como parte de umsistema nacional de saúde integra-do e em coordenação com outrossetores. Isso requer o exercício devontade política, a fim de mobili-zar recursos internos e externos.

9) O êxito da saúde, para a popu-lação de um país, afeta e benefi-cia diretamente qualquer outropaís. Todos os países devem co-operar para assegurar a APS emtodo o mundo.

10) Pode-se conseguir um nível acei-tável de saúde para o mundo em 2000,mediante uso melhor dos recursosmundiais, grande parte dos quais segastam hoje em conflitos militares.

Fonte: Opas

Saúde do Ministério da Saúde, Jor-ge Solla, falou aos participantes so-bre as bases do Programa de Saúdeda Família (PSF), que terá sua cober-tura ampliada no Brasil. �Temos ocompromisso de dobrar, em quatroanos, o número de equipes de pro-fissionais do PSF. Isso atingiria 100milhões de pessoas.�

O presidente da FundaçãoOswaldo Cruz (Fiocruz), Paulo Buss,fez duras críticas à política arma-mentista de alguns países desen-volvidos. Segundo ele, os recursosinternacionais empregados para acompra de armas deveriam ser des-tinados a fins mais nobres. �Queesse dinheiro, hoje dirigido à des-truição, fosse para a compra demedicamentos�, disse, arrancan-do aplausos da platéia. �O mundoprecisa acordar para a situaçãodramática que acontece em vári-os países africanos, asiáticos e la-tino-americanos.�

Num dos discursos mais espera-dos do evento, o diretor-geral daOrganização Mundial de Saúde (OMS),Jong Wook Lee, fez um balanço dos25 anos de Alma-Ata. Para ele, a cres-cente violência mundial, a falênciaeconômica de muitos países e o apa-recimento da Aids dificultaram ocumprimento da declaração. �Algunssistemas de saúde estão falindo�, la-mentou. �Cerca de 500 mil mulheresmorrem anualmente durante o partoou a gravidez, o que é inconcebível.�O surgimento do vírus HIV, ainda au-sente na época de Alma-Ata, trouxeo que considera o pior desastre dahistória, a Aids, que provocou a mor-te de 30 milhões de pessoas. �E, ape-sar dos avanços no combate à do-ença, ainda hoje o HIV mata amaior parte dos infectados nos pa-íses pobres�, disse.

AJUDA A OUTRAS NAÇÕESLee elogiou o modelo brasilei-

ro de combate à Aids. Ele lembrouque, no país, 135 mil portadoresdo vírus HIV recebem tratamentogratuito, que inclui o coquetel demedicamentos.

O ministro Humberto Costaconfirmou que o Brasil ampliarásua ajuda a outras nações no com-bate ao vírus HIV. Ele disse queatualmente o Ministério da Saúdebrasileiro treina agentes de saú-de de 10 países para atender do-entes de Aids.

Além disso, ressaltou, portado-res de HIV desses países � Paraguai,Bolívia, Colômbia, El Salvador, Re-pública Dominicana, Moçambique,

Namíbia, Quênia, Burquina Faso eBurundi � também recebem medi-camentos fabricados no Brasil.�Queremos quintuplicar o númerode estrangeiros que recebem nos-sa ajuda, chegando a cinco mil.�Hoje, são 100 pacientes em cada país.

O ministro concedeu a Meda-lha da Ordem do Mérito Médico a

Halfdan Mahler, diretor-geral eméritoda OMS. �Em suas mãos, a idéia frágil[a saúde como direito humano] ga-nhou forças e foi criando raízes navida de muitas outras pessoas, paraas quais os homens, as mulheres, ascrianças e os idosos são o centro detoda a política, seja ela social ounão�, disse. (J.X.)

Buss e Lee: catástrofespolíticas impediram o avanço

dos princípios de Alma-Ata

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Katia Machado

Como desdobramento da 1ªOficina de PlanejamentoRegional �Construindo umaAgenda de Saúde para a

Amazônia Legal�, realizada em agostode 2003, que abriu as discussões so-bre planejamento de ações de saúdena região, foi promovido, no mês denovembro, o 1º Encontro das Comis-sões Intergestores Bipartite (CIB) daAmazônia Legal. O evento teve comoobjetivo discutir as estratégias de in-corporação do plano pelos estados emunicípios da região e promover umdiagnóstico dos principais problemasexistentes para o funcionamento daCIB e a busca de estratégias e ativi-dades para a sua superação.

O Encontro foi organizado pelogrupo de trabalho (GT) Saúde Amazô-nia, que é composto por represen-tantes das secretarias Executiva, deAssistência à Saúde, de Vigilância emSaúde, de Gestão do Trabalho e Edu-cação na Saúde e de Ciência,Tecnologia e Insumos Estratégicos e

Avança o plano de saúdepara a Amazônia Legal

O SUS VERDEO SUS VERDEO SUS VERDEO SUS VERDEO SUS VERDE

Subsecretaria de Orçamento e Pla-nejamento do Ministério da Saúde(MS), da Agência Nacional de Vigilân-cia Sanitária (Anvisa) e da FundaçãoNacional de Saúde (Funasa). Tambémparticipou da organização o Núcleo deAcompanhamento, Integração e Desen-volvimento do Saúde Amazônia (Naid), in-tegrado por representantes regionais doMinistério da Saúde, do Conselho Nacio-nal de Secretários de Saúde (Conass), doConselho Nacional de Secretários Muni-cipais de Saúde (Conasems), da Fiocruz/AM e pela plenária nacional de Saúde daRegião Norte.

Foi possível mapear alguns proble-mas e desafios a serem enfrentados,como a inexistência de estudos na re-gião que viabilizem a formulação de po-líticas de Saúde para os pequenos mu-nicípios e para os grupos em situaçãode vulnerabilidade, como é o caso dosquilombolas, dos índios, de acampados,assentados e populações ribeirinhas.

RESULTADOSDestacam-se entre as conclusões

da reunião: a necessidade de que osEstados constituam representação

técnica com diferentes atores paraanálise crítica do plano de Saúde paraa Amazônia Legal; que promovam a di-vulgação dessa iniciativa; e que defi-nam prazos para implementação doplano. No encontro, sugeriu-se queo plano seja socializado entre as se-cretarias estaduais e municipais deSaúde, conselhos e fóruns de Saúde,além de acompanhado pelas CIBs. Aexecução das ações sugeridas peloGT Saúde Amazônia e Naid depende,portanto, de algumas iniciativas. En-tre elas, a divulgação e a discussãodo plano com as secretarias de Saú-de e com os colegiados dos estadosque compõem a Amazônia Legal �Acre, Amazonas, Amapá, Pará,Rondônia, Roraima, Tocantins, MatoGrosso e Maranhão �, a inclusão denovas ações, a adequação do planode Saúde para a Amazônia Legal aoPlano Plurianual da região (PPA), a pro-moção de encontro macrorregionalpara definir as estratégias deimplementação e gestão e formar umgrupo de trabalho em cada estado paraaprofundar propostas e estratégias paraa execução dessa iniciativa.

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O 1º Encontro da CIB foi tambémum importante espaço para discutiras estratégias de gestão do que sepropõe para a Amazônia Legal. Noencontro, destacaram-se os seguin-tes pontos:

1) Implementar um modelo de fi-nanciamento que considere as neces-sidades da região;

2) adequar os planos regionais deinvestimento para orientar a alocaçãode recursos com base no desenvolvi-mento sustentável e na expansão einteriorização da atenção à saúde;

3) ampliar e qualificar a ofertade ensino profissional;

4) rever o modelo de gestão daatenção à saúde indígena;

5) estabelecer uma política degestão, regulamentação e regulaçãodo trabalho em saúde na região;

6) aprofundar a discussão sobreAtenção Primária para além da estra-tégia Saúde da Família e adequar talestratégia considerando as dificulda-des de deslocamento, populacionale de distância;

7) ampliar as ações de Vigilân-cia Ambiental nos estados da regiãoamazônica;

8) estimular, ampliar e melhoraros serviços e ações de saneamento emlocalidades com população inferior a2.500 habitantes e em áreas rurais;

9) estimular o desenvolvimentode medicamentos fitoterápicos jun-to às instituições de pesquisas e uni-versidades da região;

10) ampliar os serviços de altacomplexidade.

Na reunião, falou-se ainda danecessidade de ampliação do Naid,de fortalecimento de instâncias decontrole social da região, das esco-las técnicas locais e das ações e res-ponsabilidades intersetoriais, decapacitação dos gestores municipaise estaduais de saúde e de inclusãona agenda do plano de trabalhos so-ciais com população em situação devulnerabilidade. O encontro repre-sentou um importante espaço parase pensar em uma política específi-ca para investimentos em municípi-os pequenos, repensar a integraçãoe a supervisão da atuação das ONGsnos estados e discutir melhor a situ-ação dos povos indígenas, incorpo-rando-a efetivamente ao SistemaÚnico de Saúde (SUS).

PROBLEMAS DACOMISSÃO BIPARTITE

A CIB é hoje uma importante fer-ramenta para a prática do controlesocial e para a execução do plano deSaúde para a Amazônia Legal. No en-contro, alguns problemas foram apon-tados: a ausência de uma Câmara Téc-nica na CIB, a falta de estrutura, depessoal de apoio e de recursos finan-ceiros para manter adequadamente oConselho de Secretários Municipais deSaúde (Cosems) da Região Norte, o altocusto para a realização das reuniõesda CIB e do Cosems, a dificuldade de

acesso a informações sobre normas erecursos financeiros e a granderotatividade dos representantes na CIB.

Para resolver tais questões, ogrupo destacou a necessidade de oMinistério da Saúde (MS) viabilizar aarticulação entre os gestores de saú-de da região, o Sistema de Proteçãoda Amazônia (Sipam) e a Eletronortepara a utilização da rede de comuni-cação e informações dessas institui-ções, de integrar os núcleos do MScom estados e municípios, de melho-rar a divulgação da pauta de reuniãoe das resoluções da CIB, de criar ouativar as Câmaras Técnicas da Comis-são e as câmaras de compensaçãointerestaduais e de programar agen-das interestaduais e reuniões macroe microrregionais.

Quadro desfavorável

O quadro de saúde da AmazôniaLegal é um dos mais desfavo-

ráveis do país. Entre as doençasendêmicas presentes destaca-se amalária, que representa 99% doscasos em todo país. A Amazônia so-fre com o alto índice de dengue,cuja média de incidência é de 433casos para cada 100 mil habitantes,superando a média nacional de 141casos para cada 100 mil habitantes.A Aids representa também grave pro-blema de saúde pública para a re-gião: ao contrário do resto do Bra-sil, lá a doença vem crescendosubstancialmente, devido às condi-ções precárias de vida da popula-ção amazônica, ao baixo acesso àsmedidas de prevenção e de contro-le e à precariedade dos própriosserviços de saúde.

Não apenas as doenças resul-tam em um quadro preocupante.

A região da Amazônia Legal conta comuma rede assistencial pequena paraatender toda a população, que é dequase 22 milhões de pessoas. A redepública de saúde, que representa 78%da região, dispõe apenas de 8.523 uni-dades de saúde, sendo 131 de altacomplexidade e as demais distribuídasentre postos, centros de saúde e pe-quenos hospitais. O número de leitospor habitantes é o menor do país,apresentando taxa de 2,14 leitos pormil habitantes. O mesmo acontececom a cobertura de serviços de saú-de. Sabe-se que 19% dos municípiosda região contam com um único pos-to de saúde como referência. Dessetotal, 30 municípios não possuem se-quer uma unidade de saúde.

A região precisa ainda superar osaltos índices de óbitos por causas maldefinidas ou por causas definidas, comotambém o índice de mortalidade infantil.

Segundo dados do Ministério da Saú-de, de 2001, o número de óbitos porcausas mal definidas na região repre-senta 24,4% das mortes, superando amédia nacional que é de 15,1%. A si-tuação é ainda pior no estado doAcre, onde a taxa é de 31,7%. Quan-to aos óbitos causados por afecçõesoriginadas no período perinatal, oíndice chega a 10,5%, enquanto quea média nacional é de 6%. Já os óbi-tos causados por doenças infeccio-sas e parasitárias, como malária, he-patite e dengue, representam 7,7%,superando a média nacional que éde 6,9%. Em relação à mortalidade in-fantil, a região registra uma taxa de36,4 por mil nascidos vivos, maior quea taxa nacional de 29,6 por mil nasci-dos vivos. O problema é ainda maiornos estados do Maranhão, onde a taxade mortalidade infantil é de 40,7, e doAcre, com uma taxa de 31,7.

O RADIS ADVERTE

Cobrar a execução das decisõesda 12ª Conferência Nacional deSaúde faz bem à saúde.

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SSSSSERERERERERVIÇVIÇVIÇVIÇVIÇOSOSOSOSOS

EVENTOS

1º CONGRESSO BRASILEIRO DE PREVENÇÃODA TRANSMISSÃO VERTICAL DO HIV/AIDS

Oevento busca promover a trocade experiências entre profissi-

onais, valorizando o trabalho deONGs que trabalham para a reduçãodos índices de transmissão verticaldo HIV/AIDS.Data: 8 a 11 de março de 2004Local: Espaço Cultural José Lins doRego, João Pessoa (PB)Mais informações: (83) 247-4424/247-6299 ou www.eventos-e-consultoria.com.br

5º CONGRESSO BRASILEIRO DE BIOÉTICA

Promovido pela Sociedade Brasileirade Bioética, o Congresso tem

como tema Bioética e Cidadania.Data: 13 a 15 de maio de 2004Local: Mar Hotel, Recife (PE)Mais informações: (81) 3463-0871 ouwww.sbbioetica.org.br

1º ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃOINTERNACIONAL DE AVALIAÇÃOTECNOLÓGICA

OPrimeiro Encontro Anual da Asso-ciação Internacional de Avaliação

Tecnológica (HTAi) traz o tema �HTA �ontem, hoje e amanhã�. Interessadosdevem enviar resumos até 15 de ja-neiro. Os temas: avaliação de políti-cas e práticas de saúde; qualidade ecusto-efetividade de serviços clíni-cos; administração efetiva e organi-zação de serviços de saúde.Data: 30 de maio a 2 de junho de 2004Local: Krakow, PolôniaMais informações: [email protected] ouwww.htai.org

6º CONGRESSO BRASILEIRO DEEPIDEMIOLOGIA

Interessados em participar com tra-balhos devem mandar resumos até

12 de janeiro à Secretaria do Con-gresso, se por correio, e até 19 dejaneiro, por endereço eletrônico.Haverá duas modalidades de trabalho:texto tradicional (textos descritivosou analíticos sobre estudos e pesqui-sas de interesse da epidemiologia); eimagens (objetos ou experiências em

forma de vídeo e ensaio contendofotografia, gravura e desenho.Data: 19 a 23 de junho de 2004Local: Centro de Convençõesde Pernambuco, Recife (PE)Mais informações (81) 3227-1902o uwww.congressoepidemiologia2004.com.br

CURSOS

CURSOS DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA DAFACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA DA USP

OPrograma de Verão da Faculdadede Saúde Pública da USP ofere-

ce, entre 24 de janeiro e 13 de feve-reiro, cursos de extensão coordena-dos pela Comissão de Cultura eExtensão Universitária. São 29 cursos,com carga horária de 15 a 40 horas.As inscrições vão até 9 de janeiro.Mais informações: (11) 3066-7787 ouwww.fsp.usp.br/cverao

CONCURSO

ENSAIOS SOBRE PSICOPATOLOGIAFUNDAMENTAL

OPrêmio Internacional Pierre Fédidade Psicopatologia Fundamental,

da Associação Universitária de Pesqui-sa em Psicopatologia Fundamental,contempla ensaios inéditos, em formade artigo para a Revista Latino-Ameri-cana de Psicopatologia Fundamental,sobre temas relacionados à área, paraincentivar a produção de trabalhos ci-entíficos que contribuam para o avan-ço do conhecimento sobre tratamen-to e prevenção do sofrimento psíquico.O ganhador receberá R$ 2 mil (se bra-sileiro) ou 700 dólares (se estrangeiro).Podem concorrer maiores de 18 anos,exceto membros da Associação Univer-sitária de Pesquisa em PsicopatologiaFundamental. Enviar ensaios, até 31 dejulho, à associação, Rua Tupi, 397/104,01233-001, São Paulo, SP.Mais informações no sitewww.psicopatologiafundamental.org

PUBLICAÇÕES

LANÇAMENTOS � EDITORA FIOCRUZ

Recepção do Darwinismono Brasil, organizado porHeloisa Maria Bertol Domin-gues, Magali Romero Sá eThomas Glick, reúne arti-gos sobre a recepção dateoria de Darwin nos mais diversos cam-

pos científicos, até o século 20. Apartir das controvérsias sobre odarwinismo, os trabalhos mostramcomo a teoria contribuiu para a cri-ação de argumentos ideológicos nosmais diversos campos do saber, sen-do muito comum a confusão entredarwinismo e evolucionismo. O livroindica que a recepção de Darwin noBrasil foi menos problemática doque na maioria dos países, princi-palmente naqueles com pilares nocatolicismo.

Quando a Vida ComeçaDiferente: o bebê e suafamília na UTI neonatal,organizado por MariaElizabeth Lopes Moreira,Nina de Almeida Braga eDenise Streich Morsch, sobre o dia-a-dia de uma UTI Neonatal, traz ex-periências dos profissionais envol-vidos no processo de internação derecém-nascidos de risco e testemu-nhos da família que vê seu bebê in-ternado em cenário tão distante dosonhado quarto do bebê. O livroprocura responder às questões co-tidianas da UTI Neonatal, em lingua-gem acessível a todos que vivenciameste momento de expectativa e in-segurança.

O dilema preventivista:contribuição para com-preensão e crítica da Me-dicina Preventiva foi es-crito, há 27 anos, porSérgio Arouca como tesede doutoramento, defendida na fa-culdade de Ciências Médicas daUnicamp. Hoje, esse trabalho é pu-blicado sob a forma de livro que sedesenvolve em três partes: 1) expo-sição sumária da obra de Foucault esuas críticas; 2) desenvolvimento deum quadro teórico; 3) estudo daMedicina Preventiva, suas regras daformação discursiva e as relaçõescom instâncias não-discursivas. O li-vro desdobra-se, ainda, em sete ca-pítulos: introdução; metodologia; aemergência da Medicina Preventiva;os conceitos básicos; os conceitosestratégicos, as regras da formaçãodiscursiva e a Medicina Preventiva ea sociedade.

Mais informações: Editora FiocruzAv. Brasil, 4.036, ManguinhosRio de Janeiro (RJ) 21040-361Tel.: (21) 3882-9039Site: www.fiocruz.br

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PÓS-TUDOPÓS-TUDOPÓS-TUDOPÓS-TUDOPÓS-TUDO

O sobrevivente

Cláudio Cordovil

Numa terça-feira daquelas de solsorridente, desenhadas com lápis-

de-cera, como na música do Toquinho,pleno meio-dia, um casal de assaltantesme rendeu quando saía do meu aparta-mento rumo ao sagrado trabalho. Ele,armado, supostamente com umaMagnum � imortalizada (???) porClint Eastwood em Dirty Harry �,como fazia questão de me dizer, e quenão tive a disposição de conferir; ela,grávida, provavelmente com uma pis-tola, que ele ordenara que pegasse.

Depois, seguiu-se o que já é depraxe, e pouparei os leitores de umadescrição alentada do que os jornaisjá banalizam. Por que o que me inte-ressa aqui é falar do que os diários nãocostumam revelar na enxurrada de fa-tos policiais que já lhes relataram e que,à força da repetição, nos transformama todos em polianas, a menina paraquem o maior infortúnio vivido é nadadiante da desgraça do semelhante, quepoderia lhe acometer.

Falar da vítima e de sua huma-nidade aviltada, falar da dura re-composição de uma alteridadeflagelada, cultuada que já fôra nostrês mil livros compulsados em mi-nha biblioteca, falar do estressepós-traumático, problema de saúdepública aparentemente invisível nes-te país, no qual o Estado brasileiroenxovalha seus cidadãos sistematica-mente com a perversa instituição daimpunidade.

Mas para os admiradores de fa-tos policiais (que esta raça existe),um pouco de música para os ouvidos.Ordenaram que voltasse ao aparta-mento. Perguntaram se o técnico queestava em casa já havia saído. Revista-ram-me, indagaram se tinha arma na-quele momento. Levaram-me para o ba-nheiro, pediram para ficar de bruços.Custei a entender. Nessas horas o QI éde Forrest Gump. Descobri que era paraficar deitado, com a cara voltada parao chão, bem próximo ao vaso sanitário,guardado pela mulher grávida.

Assim, como já me havia sido ex-plicado que o que os motivara era abusca de jóias, armas e dólares (de-pois vim a saber que isso é um jargãoda categoria), e eu disse que não as

tinha, sabia (ou pelo menos era o quese podia depreender do imagináriocinematográfico que carregava namente) que iria morrer. Por quatrovezes, o bandido voltou ao banheiro,lamentando não encontrar nada edizendo que tinha todo o tempo domundo para ali permanecer. Foram 30longos e penosos minutos. Um trailerde seqüestro. Mas, brincando depoliana, poderia ter sido pior...

Nos últimos 15 minutos dessesofrimento indizível, R., um menino de12 anos, meu vizinho, foi rendido ecolocado no banheiro junto comigo.Chorava muito, dizia que sua mãe erapobre e sofria de problemas renais.Ela não chegara à residência, provi-dencialmente.

Quando se sai ileso de uma experi-ência destas, naturalmente a vida não émais a mesma. E talvez jamais será. Oslivros que se leu, os habermas, os levinas,os vattimos, os walzers, todos catequistasda tolerância, se arriscam a tornar-seletra morta. E a violência mediada pelosórgãos de comunicação é mero simula-cro, onde a dimensão sonegada é a dosofrimento psíquico da vítima.

Com a chegada de R. ao nossocativeiro temporário, entendi na car-ne o que Levinas já me ensinara na-quelas leituras prazenteiras num tem-po em que ali existia um lar: que nossahumanidade só se manifesta na alte-ridade. Acuado como presa inerte dedois caçadores, recompus minha hu-manidade com a chegada de R.

Conversamos sobre mo-lecagens da infância, per-guntei se era ele que rou-bava meus jornais de fimde semana. Um riso maro-to se estampou numa ex-pressão de pavor. Decidi-mos ali que seríamos amigospara sempre. E que eu jáestava fortalecido paramorrer ou viver.

Hoje, passados novedias do incidente, sou umforagido. Nunca mais pudever R. Meu paradeiro é ig-norado. Comigo carrego, talcomo aqueles meninosfujões dos desenhos anima-dos antigos, minha trouxinhade restos de subjetividade(tesouros sem valor, livros,

cds, minha dissertação de mestradopor completar, meu pc). O restanteda casa, tijolos fundamentais do queme tornara eu, e que me compuse-ram ao longo de 15 anos de residên-cia segura, permanece lá. Até um diaquando serão recolhidos para que euainda possa voltar a acreditar nasprédicas intelectuais dos meus ilus-tres companheiros pensadores, com-bustível das minhas lutas.

Ensinam os manuais: �Ter de ex-por-se novamente ao local pode ser in-suportável para o paciente. (...) A pes-soa pode afastar-se do convívio sociale outras atividades mesmo que não re-lacionadas ao evento. Pode passar a sen-tir-se diferente das outras pessoas.Pode passar a ter dificuldade de sentirdeterminadas emoções, como se hou-vesse um embotamento geral dos afe-tos. Pode passar a encarar as coisascom uma perspectiva de futuro maisrestrita, passando a viver como se fos-se morrer dentro de poucos anos, semque exista nenhum motivo para isso�.

Duros caminhos me aguardam.Mas hoje a esperança voltou. Me pe-guei olhando para as fisionomias daspessoas, para a beleza dos rostos fe-mininos nas ruas, para o reluzente diade sol. Já pego o ônibus mais confian-te, ainda na floresta do alheamento aque se reduz a consciência no pós-trauma. Mas com a marca do sobrevi-vente; de quem já viveu o pior. E dequem agora verdadeiramente sabe quea vida realmente não tem preço.

AD

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Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

50 anos contribuindo para a melhoria das condiçõesde vida e saúde da população brasileira

www.ensp.fiocruz.brRua Leopoldo Bulhões, 1.480

sala 310 � ManguinhosRio de Janeiro / RJ � 21041-210

Tel: (21) 2598-2525 R. 2546Fax: (21) 2290-0484