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0 RAFAEL DUTRA DA ROSA MISSÃO JOVEM LASSALISTA E A EXPERIÊNCIA MISSIONÁRIA DA EQUIPE DE JOVENS MISSIONÁRIOS LASSALISTAS – PANELA VELHA CANOAS, 2012

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RAFAEL DUTRA DA ROSA

MISSÃO JOVEM LASSALISTA E A EXPERIÊNCIA MISSIONÁRIA DA EQUIPE DE

JOVENS MISSIONÁRIOS LASSALISTAS – PANELA VELHA

CANOAS, 2012

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RAFAEL DUTRA DA ROSA

MISSÃO JOVEM LASSALISTA E A EXPERIÊNCIA MISSIONÁRIA DA EQUIPE DE

JOVENS MISSIONÁRIOS LASSALISTAS – PANELA VELHA

Trabalho de conclusão apresentado ao Curso de Teologia do Centro Universitário La Salle – Unilasalle, como exigência parcial para a obtenção de grau de Bacharel em Teologia.

Orientação: Profª Zenilde Sganzerla

CANOAS, 2012

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RAFAEL DUTRA DA ROSA

MISSÃO JOVEM LASSALISTA E A EXPERIÊNCIA MISSIONÁRIA DA EQUIPE DE

JOVENS MISSIONÁRIOS LASSALISTA - PANELA

Trabalho de conclusão apresentado ao Curso de Teologia do Centro Universitário La Salle – Unilasalle, como exigência parcial para a obtenção de grau de Bacharel em Teologia.

Aprovado pela banca examinadora em 11 de dezembro de 2012.

BANCA EXAMINADORA:

_____________________________________

Profª Zenilde Sganzerla

Unilasalle

_____________________________________

Prof. M.e Itacir Antonio Gasparin

Unilasalle

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Aos meus pais, Renato e Luiza, e à

minha irmã, Júlia, eternamente grato

por tudo o que sou e o que serei

futuramente.

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AGRADECIMENTOS

Logicamente que gostaria de agradecer muitas pessoas que contribuíram,

seja de forma direta ou indireta, na realização desse trabalho e no meu percurso

como acadêmico de Teologia no Centro Universitário La Salle – UNILASALLE.

Os primeiros responsáveis pela pessoa que sou e que continuarei buscando

ser são os meus pais, Renato e Luiza, e a minha irmã, Júlia. A eles sou eternamente

grato por todo o apoio que recebi, por todos os ensinamentos que levo comigo e por

simplesmente serem o meu alicerce, o meu chão, minha fonte de energia

renovadora e motivadora.

Obviamente que gostaria de mencionar os meus amigos e companheiros de

caminhada pastoral que me inspiraram a redigir essa monografia: a Equipe de

Jovens Missionários Lassalistas – Panela Velha. Essas pessoas não somente me

inspiraram a escrever esse trabalho, mas me inspiraram e continuam me inspirando

a acreditar que o trabalho pastoral pode, de fato, mudar a vida das pessoas e

continuar dando brilho a nossa juventude. Muitos passaram pela Equipe Panela

Velha, mas gostaria de mencionar os mais importantes para mim: Andre Luiz Dall’

Acqua, Bianca Wurlitzer Castillo, Bruno Correia de Oliveira, Cilene Bridi, Gabriel do

Nascimento Dornelles, João Luís Sombrio, Jonas Vanderlei Theisen, Laís dos

Santos Boneli, Luís Carlos Dalla Rosa, Maurício Perondi, Ricardo Cherobin, Roberta

Spohr Schreiner e Tânia Elisa Mascarello.

Agradecimentos também demais pessoas que passaram e deixaram sua

marca significativa em minha vida: pessoal de São Miguel d’Oeste, de Santa

Catarina, principalmente do Colégio La Salle Peperi, pessoal da Comunidade e

Colégio La Salle Niterói, de Canoas, Rio Grande do Sul (principalmente os amigos

que criei no tempo em que trabalhei em tal comunidade educativa, como os jovens

estudantes participantes da pastoral e professores), os grupos de jovens da Pastoral

da Juventude Estudantil Lassalista e a Comunidade La Salle Sapucaia.

Muitas dessas pessoas não somente me ajudaram em meu caminho discente,

mas auxiliam de maneira significativa na minha formação como um ser humano

integral, seja na forma de como me relacionar com os outros ou em simplesmente

enxergar um real sentindo em minha vida.

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RESUMO

O referente trabalho de conclusão de curso tem como linha de produção a exposição

de determinadas atividades de jovens que se propuseram a levar a prática de um

trabalho evangelizador/missionário e de exercício ao voluntariado não somente

como simples exercício de assistencialismo, mas como um projeto de vida,

mostrando toda a sua fidelidade ao carisma do fundador do Instituto, São João

Batista de La Salle (ao qual faziam parte quando eram estudantes da Rede La

Salle), ao modelo de vida de Jesus Cristo e às propostas deixadas pela Pastoral da

Juventude Estudantil Lassalista - PJEL. Primeiramente, o estudo tem como base um

referencial teórico, que está fundamentado em documentos e estudos pastorais da

Igreja que abordam a evangelização e toda sua problemática e o conceito sobre

juventude, baseado no Documento de Aparecida, nas Diretrizes Gerais da Ação

Evangelizadora e na Evangelização da Juventude. Em seguida, o estudo estará

voltado ao projeto de missão organizado por uma juventude específica. O projeto

aqui relatado está intitulado como Missão Jovem Lassalista e os sujeitos

motivadores do mesmo são jovens que concluíram seu processo estudantil e

pastoral nas escolas da Rede La Salle, que posteriormente se reuniram e formaram

um grupo, a Equipe de Jovens Missionários Lassalistas – Panela Velha. Para

compor essa parte do estudo, foram utilizados documentos específicos do próprio

Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs (Irmãos Lassalistas), principalmente o Plano

de Pastoral da então Província Lassalista de Porto Alegre, e de relatos e textos

arquivados pelo Setor de Pastoral da Rede La Salle referente à própria Missão

Jovem Lassalista.

Palavras-chave: Evangelização. Juventude. Missão Jovem Lassalista. Equipe de

Jovens Missionários. Juventude Lassalista.

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ABSTRACT

The referring term paper has the means of production the exposure of certain

activities in which young people proposed to lead the practice of

evangelizing/missionary work and the exercise of volunteering activities, not only as

a simple assistencialism, but as a life’s project. A work that exposes all of its fidelity

to the charism of the founder of the Institute St. John Baptist de La Salle (in which

these young people belonged when they were students at La Salle Network), to the

life model of Jesus Christ and to the proposals left by the Lassalian Youth Ministry.

Primarly, the study is based on a theoretical framework, which is based in pastoral

studies and documents left by the Church that discuss the evangelization and its

issues, and the concept about the youth, such as the Aparecida Document, The

General Guidelines of Evangelizing Action and the Evangelization of the Youth.

Then, the study will be directed to mission project organized by a particular group of

young people. The project here reported is titled “Lasallian Youth Mission” and the

ones that are behind the project are the same young people who completed their

study and pastoral process at schools of the La Salle Network, who later got together

and formed a group, the Team of Young Missionaries named as “Panela Velha”. For

composing this part of the study, it was used some specific documents of the

Lassalian Brothers Institute, especially the Pastoral Plan of the former Lasallian

Province of Porto Alegre, texts and reports filed by the Pastoral Division of the La

Salle Network about the Lasallian Youth Mission itself.

Keywords: Evangelization. Youth. Lasallian Youth Mission. Team of Young

Missionaries. Lassalian Youth.

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LISTA DE SIGLAS

DGAE Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora

DA Documento de Aparecida

DP Documento de Puebla

EJ Evangelização da Juventude

EN Evangelii Nuntiandi

PJEL Pastoral da Juventude Estudantil Lassalista

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................... 10

2 EVANGELIZAÇÃO ................................................................................ 11

2.1 O que é evangelizar? ........................................................................... 11

2.1.1 Fundamentos da evangelização............................................................ 13

2.1.2 Quem é chamado para ser agente da evangelização?......................... 16

2.2 O principal alvo da evangelização: os pobres ................................. 17

2.3 Os desafios atuais da evangelização ................................................. 21

2.3.1 Campo sociocultural............................................................................... 24

2.3.2 Campo socioeconômico......................................................................... 25

2.3.3 Campo sociopolítico............................................................................... 26

2.3.4 Campo socioecológico........................................................................... 26

2.3.5 Campo socioreligioso............................................................................. 27

3 JUVENTUDE.......................................................................................... 28

3.1 O que é juventude? .............................................................................. 28

3.1.1 Características do ser jovem.................................................................. 28

3.1.2 Dados atuais da juventude brasileira..................................................... 32

3.1.2.1 Realidade socioeconômica................................................................... 33

3.1.2.2 Realidade religiosa................................................................................ 34

3.1.3 O jovem e a participação na sociedade.................................................. 36

3.2 A missão do jovem na Igreja ................................................................ 38

4 MISSÃO JOVEM LASSALISTA E AS EXPERIÊNCIAS MISSIONÁR IAS DA

EQUIPE DE JOVENS MISSIONÁRIOS LASSALISTAS – PANELA VELHA ... 42

4.1 O que é juventude lassalista? ............................................................... 42

4.2 O que é, de fato, a Missão Jovem Lassalista? .................................... 44

4.2.1 Os agentes motivadores da Missão Jovem Lassalista: Equipe de Jovens

Missionários Lassalistas – Panela Velha............................................................ 45

4.2.2 A Missão Jovem Lassalista na Vila Santa Marta...................................... 46

4.2.3 Atividades de cunho prático e resultados expressivos da Missão Jovem

Lassalista............................................................................................................. 48

4.3 CRESCER: Curso de Formação Integral Lassalista – Um a renovação da

Missão Jovem Lassalista proposta pela Equipe de Jov ens Missionários –

Panela Velha ...................................................................................................... 50

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4.4 Relato dos jovens que constituem a Equipe de Jovens Missionários

Lassalistas - Panela Velha, colocando em pauta o q ue tal experiencia lhe

significa ............................................................................................................ 51

5 CONCLUSÃO .................................................................................................... 54

REFERÊNCIAS................................................................................................. 56

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1 INTRODUÇÃO

A evangelização, proposta deixada por Jesus Cristo para ir ao encontro dos

povos, de tempos em tempos necessita de uma adaptação de acordo com a

realidade que a interpela. Os desafios sempre virão à tona e sempre haverá a

necessidade de chamar ou capacitar pessoas que deem um novo viés ao trabalho

missionário/evangelizador nos tempos atuais.

Um exemplo referente à isso é a Missão Jovem Lassalista, ideal de

evangelização/missão proposto por um grupo de jovens (Equipe de Jovens

Missionários Lassalistas – Panela Velha) que se sentiu desafiado a seguir os

estudos pastorais realizados a partir de seu processo estudantil nas escolas da

Rede La Salle como um projeto de vida.

De fato, existem muitos trabalhos semelhantes a esse que são exercidos,

porém poucos são divulgados, e um dos principais objetivos desse trabalho é deixar

o mesmo como material referencial no que se diz respeito às missões jovens, às

novas formas de evangelização e sobre o protagonismo estudantil.

Primeiramente, será apresentado no trabalho os conceitos e problemáticas

referentes à evangelização: o que é, quais são os seus fundamentos, quem é

chamado para evangelizar, qual o alvo principal da evangelização e os desafios

atuais que a evangelização é chamada a ser testemunho e sinal de esperança

Continuando, será abordado, a partir de uma análise pastoral (e não sistêmica

ou em nível de censo) o tema decorrente a juventude, uma das opções que a Igreja

fez, depositando nela todo o sinal de confiança e de renovação da evangelização

dos povos.

Por fim, será exposto todo o trabalho da Missão Jovem Lassalista: o que é, de

onde vem, quais são suas inspirações, quem a organizou, os impactos que causou e

o significado de tal trabalho na vida desses jovens.

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2 EVANGELIZAÇÃO

2.1 O que é evangelizar?

Segundo Strieder (1976, p. 75) evangelizar é uma forma de vincular a Igreja

ao mundo, a qual define especificamente sua missão em seu meio. A evangelização

acontece por si só quando há o encontro entre essas duas realidades, pois são

nesses âmbitos que o Evangelho se manifesta como o “poder de Deus para a

salvação de todos os que o crêem” (Rom 1,16), sendo sinal àqueles que também

não carregam em si uma crença. De fato, evangelizar não é uma ação restrita

somente a proclamação da palavra; há uma amplitude em torno de seu contexto. O

Evangelho desafia os homens ao engajamento de uma transformação de sua

própria história. Jesus, em sua atividade pública, trabalhou para que a

evangelização fosse uma maneira de se espalhar a palavra, executando na ação e

na prática uma forma de concretização do mesmo. Na citação abaixo, Strieder

continua realizando sua provocação acerca de tal assunto:

O Novo Testamento insiste em descrever o caráter dinâmico do Evangelho. Evangelizar é muito mais do que uma verbalização da mensagem. Evangelizar é em si mesmo uma ação. Dizer “Senhor, Senhor” pode ofender a Deus; é necessário fazer a sua vontade para obedecer-lhe (STRIEDER, 1976, p. 77).

Não há a possibilidade de situar o conceito de Evangelho sem relacionar

com a pessoa de Jesus. Assim como Ele, mostrando ser o verbo encarnado e uma

novidade para irromper no mundo terreno, visando responder as expectativas de um

povo sofrido pela opressão, o Evangelho se mostra como sua própria pessoa, sua

própria palavra e sua própria ação. Evangelizar, antes de anunciar a palavra, é

colocar presente a realidade de Jesus Cristo nos sinais dos tempos; é vivenciar a

própria realidade de sua pessoa (OLIVEIRA, VALLE, ANTONIAZZI, 1978, p. 77).

Pelo Evangelho, somos chamados a ser testemunho da vida e anunciadores

de Jesus Cristo. Quando aderimos sua missão, aderimos também a nossa

comunidade, a nossa participação profética e missionária na Igreja e lançamos

caminhos para a transformação da sociedade. Como exigência primeira, evangelizar

nos impele anunciar a pessoa de Jesus Cristo, tendo como consequência uma

experiência querigmática compartilhada e vivenciada em grupos, os quais são

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chamados a serem os discípulos e protagonistas de uma nova sociedade, sendo

sinal e prova do Reino de Deus existente em nosso meio (EJ. n.8).

Vale-se deixar levar pelas palavras da própria autoridade eclesiástica de tal

contexto, Papa Paulo VI, acerca de missão da Igreja frente à evangelização dos

povos frente ao mundo:

Nós queremos confirmar, uma vez mais ainda, que a tarefa de evangelizar todos os homens constitui a missão essencial da Igreja; tarefa e missão, que as amplas e profundas mudanças da sociedade atual tornam ainda mais urgentes. Evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar, ou seja, para pregar e ensinar, ser o canal do dom da graça, reconciliar os pecadores com Deus e perpetuar o sacrifício de Cristo na santa missa, que é o memorial da sua morte e gloriosa ressurreição (EN, n 10).

Ainda presenciando uma fundamentação bíblica, outra figura importante que

nos ajuda a refletir e assumir o Evangelho em nossas vidas é a do Apóstolo Paulo.

O mesmo sempre anunciara com rigor em suas palavras que “evangelizar não é um

título de glória para mim; é, antes, uma necessidade que se me impõe; ai de mim se

eu não evangelizar”. Com essas palavras, Paulo nos quis colocar que assumir o

Evangelho como prática de vida é antes de tudo uma condição de continuar

revivendo e preservando o clima pascal; é uma condição essencial de fidelidade a

Jesus Cristo. Sendo evangelizador e missionário, seremos assim experimentadores

da fecundidade e da alegria no momento em que estamos convictos de nossa

vocação (DGAE, p. 157).

Assumir o Evangelho é dispor-se a mudança, é vestir-se do novo, pois como

a própria Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, de Paulo VI, nos enfatiza, a Boa

Nova se espalhará no momento em que houver homens novos, os quais se

revestiram pelo batismo e pela vida assumida no Evangelho.

A evangelização nos desafia a estar a caminho do próximo, especificamente

ao excluído de uma participação social, pois espalhar a Boa Nova é estar em

articulação com os mesmos, mostrando-se como uma nova força de mobilização

social, tendo em vista uma sociedade mais participativa e aberta.

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2.1.1 Fundamentos da evangelização

De fato, todo aquele que acolheu a Boa Nova como prática essencial de sua

vida, acaba por reunir e assumir, pela figura de Jesus, sua prática, sua edificação e

o seu viver entre os homens. Ou seja, da mesma forma em que somos

evangelizados, também nos sintamos evangelizadores.

A Boa Nova do reino que vem e que já começou, de resto, é para todos os homens de todos os tempos. Aqueles que a receberam, aqueles que ela congrega na comunidade da salvação, podem e devem comunicá-la e difundi-la ulteriormente (EN, n.8).

Como toda competência e complexidade de qualquer atividade em que se

exija atingir uma grande massa, a evangelização não deixa de ser diferente. O

“como evangelizar” se apresentará sempre como uma problemática atual frente aos

sinais dos tempos, pois a maneira de introduzir um trabalho

missionário/evangelizador deverá estar de acordo com as mudanças em que o

tempo, os lugares e as culturas nos exigem, fazendo que nos sintamos desafiados a

descobrir o que há de novo e a nos adaptarmos a certo contexto. Somos incumbidos

de forma ousada e prudente a sempre remodelarmos os processos de

evangelização frente aos homens de nosso tempo, para que haja um trabalho eficaz

diante da adaptação que nos é exigida (EN, n 35).

O projeto salvífico de Deus se realiza na humanidade através de um povo, o Povo de Deus, com a missão de ser luz para as nações. Também a Igreja Primitiva se entendeu como Novo Povo de Deus, que deveria levar a salvação de Jesus Cristo através dos séculos para todos os homens e mulheres. Vivendo e proclamando os valores do Reino de Deus, a Igreja é, assim, o “sacramento universal da salvação” (DGAE, n. 47).

Frente aos desafios que a evangelização nos compete, as atuais Diretrizes

Gerais da Ação Evangelizadora (2008, n. 51) nos apresentam quatro exigências

intrínsecas acerca de sua competência: o serviço, o diálogo, o anúncio e o

testemunho de comunhão. Na medida em que o evangelizador/missionário exerce

seu discipulado, o mesmo deve mostrar que o seu trabalho está a serviço pela vida

e pela dignidade humana, dignidade esta que está à mercê diante das ameaças e

situações desumanizantes incompatíveis com a causa do Reino.

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Estar a serviço é estar a favor do dinamismo da libertação integral da pessoa

e da humanização, através de atos que oportunizam a reconciliação dos seres

resultando em sua inserção na sociedade. O serviço apresenta como pressuposto o

respeito coletivo, o conhecimento da vida, tanto no contexto social quanto em seu

âmbito essencial (descobertas dos anseios, frustações, alegrias e tristezas que

rodeiam um indivíduo). O serviço, em si, nos direciona a uma conversão pastoral, ou

seja, estar disposto a ser missionário, estar tomado pela inspiração de atitudes que

venham a mudar as estruturas sociais (organizações, movimentos, associações), em

favor da justiça, da paz, do amor, e, sobretudo, do Reino de Deus.

O serviço atingirá tal proporção na medida em que houver disposição,

primeiramente, para a escuta e para o diálogo, que nos proporcionam o sentido da

vida, da nossa fé e da nossa oração (DGAE, n. 51). O diálogo também se encaixa

como elemento acolhedor a todos que complementam um setor social, a fim de que

aconteça uma atenção humanitária e pastoral em meio aos problemas e desafios

que o cerca.

Segundo as próprias palavras do Santo Padre Bento XVI, ao discursar de

forma inaugural à Conferência de Aparecida:

[...] é necessário promover o diálogo sobre as grandes questões éticas, apresentadas a uma sociedade que precisa, urgentemente, escolher entre a insensatez de um egoísmo desenfreado e a racionalidade de uma ordem social construída sobre valores universais, como, por exemplo, o reconhecimento da dignidade da pessoa humana e a preservação do meio ambiente, e da vida, a consciência humana e a liberdade, entre outros.

Nas palavras de nossa autoridade eclesiástica, o diálogo se torna peça

chave aos valores que dão sentido para uma sociedade que busca viver de forma

igualitária, justa e, acima de tudo, humana. Fazer com que passemos de uma cultura

de morte para uma cultura de vida é uma missão que diz respeito à todos os

membros da sociedade, à todos os humanos, especificamente aos que estão pela

causa do Reino, do Evangelho, da missão (DGAE, n. 196).

A partir da proposta que o diálogo nos remete, somos possibilitados a

esclarecer as razões e as esperanças que carregamos, para, enfim, realizar o

anúncio da palavra de Jesus em nosso meio. A atividade missionária tem como

ápice proclamar, de maneira clara, a salvação aos homens como dom da graça e de

misericórdia do nosso Deus. Cabe ao evangelizador/missionário suscitar, acolher e

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partilhar a fé de Jesus Cristo que tem depositada em si. O anúncio da palavra de

Deus também tem como especificidade o incentivo de animação, de contribuição e

de integração entre as diversas formas de se fazer pastoral, afim de que a Igreja

consiga difundir seu ministério a todos os campos sociais. O anúncio, entre suas

diversas ramificações, não está e nem deve estar fadado somente ao uso e

verbalizações de belos discursos; mas, estar assumindo atitudes e práticas que

estejam em favor da vida.

De nossa fé que nos é suscitada, somos impelidos a dar o nosso

testemunho de comunhão, através do amor que vem a unir todos os seres que

creem em Jesus e na Missão da Igreja no mundo. O testemunho de comunhão nos

provoca a promover, a efetivar de fato e a dinamizar toda forma de partilha, caso

contrário, não estará colocado à prova nossa prática de comunhão. As próprias

Diretrizes da Ação Evangelizadora nos ajudam a refletir sobre tal ponto:

Numa perspectiva de testemunho e co-responsabilidade, é preciso superar todas as desigualdades econômicas e sociais existentes no interior da Igreja. É preciso tornar mais efetiva e dinâmica a circulação e partilha de recursos materiais e humanos entre dioceses e paróquias ricas e pobres. Sem esse testemunho visível de comunhão, perde-se a identidade cristã da Igreja, fica eliminado o mistério da koinonia, da unidade eclesial e do Espírito, e se destrói uma das quatro exigências intrínsecas da evangelização: o testemunho da comunhão (DGAE, n. 199).

Como a DGAE (2008, n. 52) nos complementa, essa sequência de cunho

pedagógico – serviço-diálogo-anúncio-comunhão – se mostra como ordem essencial

da evangelização, tendo como o anúncio do Evangelho às massas fonte prioritária

permanente em uma missão que visa, acima de tudo, tocar às massas.

Evangelização e missionariedade se complementam, pois suas determinadas

finalidades são abrir o diálogo entre todos os cristãos e realizar a salvação dos

homens.

Cabível a sua tarefa, sempre é e será necessária ter a consciência

missionária de ir ao encontro de todas as pessoas. E que esse encontro atinja não

somente a dimensão física, mas sua totalidade enquanto pessoa, sua dimensão

integral. Ser sinal do Reino de Deus é experimentar tal busca: a busca com aqueles

que não participam ativamente da comunidade, que não seguem os ideais cristãos,

que estão à margem da sociedade. A valorização do encontro pessoal é uma das

formas de se evangelizar e de realizar a salvação do homem. Entretanto, que essa

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mesma busca seja organizada, atenta, planejada e de acordo com a realidade que a

atividade evangelizadora/missionária aconteça.

2.1.2 Quem é chamado para ser agente da evangelização?

Toda a Igreja, portanto, é chamada para evangelizar; no seu grêmio, porém, existem diferentes tarefas evangelizadoras que hão de ser desempenhadas. Tal diversidade de serviços na unidade da mesma missão é que constitui a riqueza e a beleza da evangelização. Passamos a recordar, em breves palavras, essas tarefas (EN, n. 61).

Como reforça a citação acima, todos os membros tem a missão de exercer o

trabalho evangelizador nas comunidades, com o acréscimo de que o trabalho

missionário atinja a específica necessidade de tal local, devido à gama e à

diversidade que caracterizam o nosso mundo. São estes os principais agentes de

nossa evangelização: os bispos e os sacerdotes, os religiosos, os leigos, as famílias,

os ministérios diversificados e os jovens.

Aos bispos e padres competem, pela honra de seu título, agirem em nome

Cristo como os educadores da fé, a fim de que haja união entre o povo de Deus, e

que o mesmo seja sempre restabelecido com os sinais da vida de Jesus, através

dos sacramentos. É ser sinal de animação na comunidade que está reunida em

torno de Cristo.

A exemplo de sua vida consagrada, os religiosos representam o dinamismo

e a total entrega a evangelização, tendo como sua santidade o maior exemplo e

testemunho, através de sua entrega total à missão, pobreza e despojamento dos

bens materiais. Através dessa consagração, os religiosos se mostram o exemplo de

uma excelência voluntária e livre de qualquer escolha que tenha feito a não propagar

o Evangelho às pessoas.

Aos leigos também cabe o papel de evangelização no mundo, tendo como

competência colocar em prática todas as atividades de cunho cristão à tona, a

serviço do povo, a serviço das obras sociais, econômicas, culturais e artísticas. A

família é um espaço reservado para que o Evangelho seja transmitido e irradiado,

fazendo com que seus membros tenham consciência de sua missão, havendo uma

evangelização mútua entre si: de pais para filhos, de filhos para pais.

Os ministérios diversificados é ação, juntamente dos leigos e dos

presbíteros, para o serviço da comunidade eclesial. Tal ministério visa modelar

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meios de que haja uma evangelização eficaz do Evangelho, para que o mesmo

atenda todas as fontes e necessidades atuais da humanidade e da Igreja. Por fim,

outro meio evangelizador e um dos principais componentes norteadores desse

trabalho é a juventude. Devido às circunstâncias em que nos encontramos

atualmente, muita de nossa responsabilidade é estar com o olhar atento à realidade

juvenil, já que é uma faixa etária que se mostra crescente em nosso meio. É

essencialmente importante despertar o jovem para o apostolodo, ao trabalho

missionário, à evangelização, pois é cada vez mais evidente a confiança que a Igreja

e vários membros da sociedade estão depositando neles. O jovem se mostra como

o futuro, o novo jeito de atingir as pessoas.

Mesmo com as variáveis mudanças e os constantes desafios que as

realidades dos povos sofrem, unicamente cabe a nós, discípulos e missionários que

aderimos o Evangelho como fonte de enriquecimento e discernimento para nossas

ações, estarmos atentos à elas, através dos valores que mostram, das suas

limitações emergentes, das suas angústias e de seus clamores de esperança. Na

atualidade cultural que nos encontramos, é cada vez mais importante a

conscientização de quem a única certeza de salvação que nos move vem da pessoa

de Cristo. A realidade humana está transcorrendo pelo olhar compassivo de Deus,

que como maior prova de seu amor absoluto, enviou-nos o seu Filho, como a prova

viva da boa notícia aos pobres e aos pecadores.

Nós, missionários/evangelizadores, em conjunto com os principais agentes da

ação evangelizadora (bispos e padres, leigos, família, ministérios específicos e

jovens), devemos anunciar o Evangelho, sempre tendo em vista a presença do

próprio Cristo presente em nosso meio. Sua presença no meio dos povos não

aparenta uma ameaça, e sim o poder de salvação e libertação daqueles que estão

pela eterna e incessante busca de sua dignidade em meio às tantas provações

existentes (DA, n. 30).

2.2 O principal alvo da evangelização: os pobres

Há diversos meios em que um trabalho evangelizador/missionário pode ser

inserido, pois como fora relatado antes, a diversidade e a gama de necessidades,

sejam elas sociais ou pessoais, são extensas e desafiadoras. Entretanto, o desafio

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em que é exigida uma atenção especial, uma visão crítica, atenciosa e sensível se

perpassa na realidade do pobre.

A necessidade de um trabalho para com os pobres não somente visa a

libertação de sua condição física e material, mas sua libertação integral enquanto

pessoa e membro de uma sociedade. Mesmo com a globalização crescente e

expansiva no contexto mundial, muitos de nossos irmãos continuam a mercê da

pobreza, até mesmo vivendo em condições miseráveis. Como o próprio Documento

de Puebla (1975, p. 275) nos enfatiza, não somente os pobres necessitam de uma

conversão, mas a Igreja também, tendo em vista uma opção preferencial à eles e

um olhar atento à sua integralidade.

Ser sinal de esperança aos pobres é dar a prova de excelência na missão

evangelizadora e profética deixada por Jesus. O compromisso evangélico deve ser

espelhado à exemplo das práticas de Cristo, que fez homem e pobre para ajudar os

mais necessitados. A própria santidade papal, João Paulo II, expressa a importância

da missão e a vocação que foi deixada à Igreja em relação aos pobres:

Desejai vivamente este encontro porque me sinto solidário convosco e porque, sendo pobres, tendes direito a meu particular desvelo; e o motivo é este: o papa vos ama porque sois prediletos de Deus. Ele mesmo, ao fundar sua família, a Igreja, tinha presente a humanidade pobre e necessitada. Para remi-la, enviou precisamente seu Filho, que nasceu pobre e viveu entre os pobres para nos tornar ricos com sua pobreza. De Maria, que eu em seu canto do Magnificat, proclama que a salvação de Deus tem muito a ver com a justiça para com os pobres, “parte também o compromisso autêntico com os outros homens, nossos irmãos, especialmente pelos mais pobres e necessitados e pela necessária transformação da sociedade (DP, n. 1143 e 1144).

A luta pelo direito do povo, especialmente os pobres e oprimidos, não é

originária dos tempos atuais. O direcionamento de seus direitos encontra-se

registrado até mesmo na Sagrada Escritura, na qual o profeta Isaías explicitara em

suas palavras: “Eis o meu servo, que eu amparo, que eu eleito, delícia de meu

coração. Coloquei sobre ele o meu espírito e ele levará o direito (mishpat) às

nações”. A busca incessante pelo direito dos pobres simboliza algo muito mais

amplo. Na figura da pessoa marginalizada da sociedade, nos deparamos, de forma

simbólica, com os atos de injustiça e de desordem social escancarados em nosso

meio, resultando na urgência de criação de um sistema justo e igualitário (DUSSEL,

1982, p. 489).

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Com a reflexão acima, é notório perceber que o direito dos pobres é algo que

está e sempre foi promulgado pelo nosso próprio Deus. Ele mesmo é representante

da força defensora e testemunhante pela causa: “Serei uma testemunha preparada

contra os homens que oprimem o operário, a viúva e o órfão; que cometem injustiça

contra o estrangeiro” (Mal 3,5).

Continuando no pensamento de Dussel (1982, p. 450), o direito que estamos

tanto nos referindo está direcionado, também, na perspectiva do sagrado e do

absoluto, não estando fadado somente ao seu termo em si. O direito dos pobres é o

acesso a sua própria salvação diante de uma realidade que se posiciona como um

objeto de pecado e de injustiça. É um direito que visa lutar contra sua própria

alienação. Por isso, é dever também da Igreja de defender o homem que está em

busca pelos seus direitos. Estar a favor dos direitos fundamentais da pessoa

humana é ir de acordo com a própria natureza humana; é agir humanamente.

Somos instigados pelo Evangelho a sermos pobres, igualmente como Jesus

foi, estando a serviço deles sem depositar a espera de uma recompensa ou algo

relativo à valores. Quando manifestamos nossa generosidade, somos exemplos da

generosidade de Deus para com sua humanidade e da gratuidade apostólica (DA, n.

31).

Nunca é tarde mencionar novamente que não há possibilidade de não

relacionar uma trabalho missionário/evangelizador com a figura de Jesus Cristo, pois

ele mesmo fez pobre e humano, assim como nós o somos. Estar a serviço desse

povo é estar em uma posição privilegiada (porém, sem exclusividade) em seu

seguimento. Na medida que agimos como evangelizadores a anunciadores

proféticos, estamos assumindo e ressignificando cada vez a nossa posição de filhos

de Deus. O próprio Concílio Vaticano II nos traça alguma prioridades exigentes de

tal prática, a fim de que se torne um trabalho eficaz:

Cumprir antes de mais nada as exigências da justiça, para não ficar dando como ajuda de caridade aquilo que já se deve em razão da justiça; suprimir as causas e não só os efeitos dos males e organizar os auxílios de forma tal que os que o recebem se libertem progressivamente da dependência externa e se bastem a si mesmos (DP, n 1145).

Quando há, de fato, um compromisso idealizador com os pobres, ao mesmo

tempo há a descoberta do potencial que a própria comunidade carente tem para

exercer e passar adiante a experiência evangelizadora, através de seu testemunho

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evangélico expressado pela caridade, pelo serviço e pela total disposição ao

acolhimento do dom de Deus em suas vidas.

De nossa fé em Cristo nasce também a solidariedade como atitude permanente de encontro, irmandade e serviço. Ela há de se manifestar em opções e gestos visíveis, principalmente na defesa da vida e dos direitos mais vulneráveis e excluídos, e no permanente acompanhamento em seus esforços por serem sujeitos de mudança e de transformação de sua situação. O serviço da caridade da Igreja entre os pobres é um campo de atividade que caracteriza decisiva vida cristã, o estilo eclesial e a programação pastoral (DA, n 394).

Levando em consideração (mais uma vez) São Paulo, ser pobre é fazer uso

dos bens que nos são guardados sem que haja certa absolutização sobre os

mesmos, pois eles se encaixam apenas como meios de acesso ao Reino de Deus. A

esse modelo de vida, podemos defini-la como “pobreza evangélica”, ou seja:

despojar-se de bens materiais e colocar-se a serviço de Deus de uma maneira

simples, sóbria e austera, trazendo junto de si o espírito comunitário, capaz de

compartilhar sua vida, seja ela material ou espiritual, tendo como consequência o

amor ao próximo. A pobreza evangélica se apresenta como um desafio emergente

na atualidade contemporânea, caracterizada pelo materialismo massivo juntamente

com sua sociedade de consumo (DP, n. 1148-1152).

De fato, sempre haverá uma mudança de olhar aos diversos pontos críticos

que venham a ameaçar a vida na sociedade. Com a pobreza, não é diferente. Com

a globalização existente em nosso meio, há grande concentração de bens e

poderios nas mãos daqueles que são bem empossados de recursos, recursos estes

tanto monetários quanto humanos. A consequência dessa distribuição resulta na

exclusão daqueles que não tem acesso aos novos meios de integração, fazendo

com que a desigualdade se torne algo cada vez mais presente. Não nos deparamos

somente com a pobreza material, mas com a pobreza em conhecimento. É

necessário, obviamente, levantar uma consciência de cunho evangelizador a essa

“nova espécie” de pobreza. A Igreja sempre deverá estar atenta a tal questão,

intervindo nas questões sociológicas e políticas, sendo exemplo de justiça dos

homens excluídos de qualquer atividade ou recurso social. Isso se mostra explícito

nas próprias palavras do nosso atual Santo Padre, Bento XVI:

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A Igreja está convocada a ser “advogada da justiça e defensora dos pobres” diante das intoleráveis desigualdades sociais e econômicas que clamam ao “céu”. Temos muito que oferecer, “visto que não há dúvida de que a Doutrina Social da Igreja é capaz de despertar esperança em meio às situações mais difíceis, porque, se há esperança para os pobres, não haverá para ninguém, nem sequer para os chamados ricos”.

A opção pelos pobres está implícita no Deus que se fez humano e pobre por

nós, tendo como proposta tentadora enriquecer a humanidade com sua pobreza. Ao

realizarmos tal opção, estamos por realçar nossa fé em Jesus Cristo. No entanto,

façamos com que essa mesma escolha não se apresente de forma exclusiva, muito

menos excludente, pois todos se mostram detentores do direto da salvação (DA, n.

392).

2.3 Os desafios atuais da evangelização

Do mesmo modo que Jesus interpelou na Terra para ser sinal de bondade em

meios aos clamores vigentes pertencentes ao seu contexto, a evangelização se

apresenta com um ato contínuo de transformação em meios às mudanças do tempo.

É exigência própria da evangelização em estar atenta às diversas situações

que presenciamos e vivemos, seguido de um espírito aberto e solidário mediante

aos desafios e dúvidas do nosso tempo. Os campos culturais, religiosos, sociais,

políticos, econômicos e ecológicos se destacam como os principais desafios para a

evangelização atual. No entanto, um dos maiores desafios permanentes em relação

a isso é evangelizar o próprio ambiente interno; é atrair novos adeptos pela causa,

que devido ao mau exemplo de tempos outrora, se afastaram da Igreja e todo tipo

de trabalho missionário/evangelizador. São apontados como erros os métodos

conservadores impostos pela Igreja e a desatualização dos desafios emergentes.

Perante a essa situação, um dos objetivos (entre vários que se encaixam) da

evangelização é colocar à tona uma conversão, uma reaproximação pastoral,

visando responder às carências daqueles que não sentiram-se acolhidos. Caso

contrário, a comodidade e a indiferença acabam por provocar um “estancamento” no

serviço missionário, deixando com que o sofrimento dos povos aumentem (DGAE, n.

55). O parágrafo 33 do Documento de Aparecida nos enfatiza muito bem como

devemos nos portar diante dos desafios atuais:

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Os povos da América Latina e do Caribe vivem hoje uma realidade marcada por grandes mudanças que afetam profundamente suas vidas. Como discípulos de Jesus Cristo, sentimo-nos desafiados a discernir “os sinais dos tempos”, à luz do Espírito Santo, para nos colocar a serviço do Reino, anunciado por Jesus, veio para que todos tenham vida e “para que a tenham em plenitude” (Jo 10, 10).

Com certeza, um dos maiores desafios que competem à evangelização

mediante à atualidade é, sem dúvida, o fenômeno da globalização. De fato, as

ciências tecnológicas oportunizam aos seres humanos o poder da comunicação e da

interação entre diversas localidades geográficas, não vendo na distância um

empecilho para tal exercício.

Entretanto, há de se ter uma visão mais crítica em relação a esse

determinado assunto. Na medida em que se é proporcionada uma comunicação

virtual pelos meios de redes sociais, ocorrem simultaneamente consequências que

venham a afetar a vida social do indivíduo, seja ela em seu meio político,

econômico, cultural, científico, educativo, esportivo, artístico e, também, religioso.

Nós, como membros da Igreja, devemos estar interessados não somente nos

benefícios que a globalização nos traz, e sim nos “malefícios” que por ocasião

interferem no sentido afetivo, religioso e ético daqueles que estão, incansavelmente,

em busca da glória divina. Grande parte da existência desse novo contexto social

vem da complexidade e da falta de brilho que o ser humano enxerga na sociedade,

fazendo com que nasça o infinito desejo de informações excessivas que lhe

garantam o exercício de poderio a um determinado ramo da sociedade. Tal desafio

nos ajuda a não fecharmos os olhos diante de uma realidade que está a mercê de

tamanha complexidade. É comum que muitos estejam tomados pela preferência de

enxergar a realidade tendo como ponto de partida informações de cunho político,

econômico ou científico. Porém, nada disso propõe, de fato, uma visão mais

coerente e abrangente. Se nos limitarmos somente a essas formas de visão,

acabamos por limitar as próprias pessoas que compõem nosso corpo social,

fazendo com que caiam em frustração e angústia diante de uma realidade que se

mostra muito mais ampla e complexa. O modo massivo que o meio de comunicação

adentrou em nosso meio resultou em uma invasão de todos os espaços e nos meios

de diálogo, fazendo com que todos os seus membros estejam limitados às

informações simultâneas, às distrações e entretenimentos e à espera pela

expectativa de um prestígio social.

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As próprias Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora 2011-2015 (n. 25)

também nos ajudam a refletir sobre as mudanças que atingem a própria maneira do

ser humano enxergar a vida:

Por isso, estamos em uma mudança de época, pois ela já não atinge somente este ou aquele aspecto concreto da existência. As mudanças de época atingem os próprios critérios de compreender a vida, tudo o que a ela diz respeito, inclusive a própria maneira de entender Deus. O nome de Jesus Cristo é utilizado para expressar atitudes até mesmo opostas ao Reino de Deus, deixando confusos os que querem efetivamente viver o discipulado missionário.

O que se trata não é pregação de uma exclusão ou desmoralização dessas

novidades que estão presentes em nosso contexto; trata-se de dar novo sentido, a

fim de a evangelização possa se adaptar diante de tal complexidade. Ao inaugurar a

Conferencia de Aparecida, o Papa Bento XVI proferiu muito bem ao dizer que “só

quem reconhece a Deus conhece a realidade e pode responder a ela de modo

adequado e realmente humano”. Ou seja, é necessária a realização de um

recomeço do mistério da plenitude de nossa vocação humana mediante ao nosso

atual contexto. Ressignificar o sentido da vocação é zelar pela vida humana e pela

nossa vocação apostólica, missionária e evangelizadora; vocação que dificilmente a

política, a ciência, a economia e os meios de comunicação poderão nos

proporcionar integralmente. É nosso dever que as pessoas não fiquem temerosas

com a diversidade cultural presente, e sim discerni-las para o bom uso de tais

“ferramentas”, sem com que as mesmas interfiram na prática de sua liberdade,

liberdade esta que deve ser exercida de maneira alegre, prazerosa, esperançosa e,

acima de tudo, responsável (DA, n. 40-42). Seguindo ainda as reflexões das

Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora (um dos documentos magnos acerca da

evangelização), podemos ver a mesma pensa a respeito das novidades que estão

rodando em nosso contexto universal:

A novidade das profundas transformações, que acontecem também em nosso país, diferentemente do ocorrido em outras épocas, têm alcance global que, como diferenças e matizes, afetam o mundo inteiro, atingindo todas as dimensões da vida humana. “Um fator determinante dessas mudanças é a ciência e a tecnologia, com sua capacidade de manipular geneticamente a própria vida dos seres vivos, e com sua capacidade de criar uma rede de comunicações de alcance mundial. [...] como se costuma dizer, a história se acelerou e as próprias mudanças se tornam vertiginosas, visto que se comunicam com grande velocidade de todos

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os cantos do planeta”, configurando uma mudança de época, mais quem uma época de mudanças (DGAE, n. 13).

Como evangelizadores e missionários, não nos cabe o papel de realizar uma

análise técnico-científica de nossa realidade. O que realmente somos incumbidos é

refletir (para depois agir) sobre o como o fenômeno da globalização vem a afetar

àqueles que são fiéis a Deus, e que por isso, se mostram limitados a essa nova

frente de codificações e domínios técnicos, que por ventura, venham a ocultar o

sentido da vida humana como um todo. Somos impelidos, também, a olharmos a

realidade sociocultural de uma maneira mais humilde, tendo sempre a ciência de

sua complexidade e abrangência em meio às simplificações que lhe foram impostas

em um passado não muito distante.

Sigamos, então, uma linha de raciocínio das Diretrizes da Ação

Evangelizadora do Brasil e do Documento de Aparecida, tendo em vista a sabedoria

dos clamores que a evangelização nos anuncia. Seus campos mais específicos são:

contexto sociocultural, contexto econômico, contexto sociopolítico, contexto

ecológico e contexto religioso.

2.3.1 Campo sociocultural

Nosso contexto cultural se mostra fragmentado em relação aos referenciais

que são sentido a todo tipo de experiência humana, favorecendo o crescimento de

crises existenciais dos indivíduos, fazendo com os mesmos estejam tomados pelas

angústias e frustações por não conseguirem dar sua contribuição nos

relacionamentos interpessoais.

Bem, no entanto, não se pode negar a positividade e aos avanços que a

globalização proporcionou ao campo cultural. O que acarreta negativamente é a

desigualdade das distribuições desses frutos ao restante do globo universal, fazendo

com poucos sejam favorecidos e que muitos tenham pouco (ou quase nada desse

acesso). Demais preocupações acerca da realidade giram em torno da eterna

intervenção humana e agressiva ao meio ambiente e a violência como um círculo

vicioso em nosso meio urbano. Diante destes riscos que unicamente desfavorecem

a vida no meio social, às pessoas apenas resta a busca pela satisfação pessoal por

meio das influências que a avidez mercadológica e a publicidade ilusória causa nas

mesmas. O desejo momentâneo se denomina como um sinônimo de felicidade, ou

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como um consolo em meio a essa realidade que está exposta pela cultura

consumista, econômica e hedonista.

O ser humano está severamente influenciado, que até mesmo adotara uma

postura ética diferenciada, ou seja, se julga dono de suas próprias decisões,

deixando-se levar pela lógica individualista e narcisista. Entretanto, não é cabível

que estejamos somente atentos aos aspectos negativos. Entre diversas atribuições,

se destacam o valor da liberdade pessoal, tanto em sua consciência quanto em

experiência de vida, dando reais significados pela busca de sentido da vida; a

necessidade da construção do próprio futuro, tendo como consequência positiva o

encontro e partilha de experiências com o outro, tendo como interesse a busca por

uma resposta. Entre os perigos e afirmações, o único meio de conforto e de apoio se

baseia na figura familiar, mesmo que ela, também, esteja “ameaçada” por tal

realidade presente.

Mesmo que estejamos expostos a essas adversidades e novidades, tenham

a consciência de que isso faz parte de todo trabalho de evangelização, e para o

mesmo ter sua eficácia, necessitamos (sempre) saber que o nosso Senhor estará

nos acompanhando com seu espírito de fé e vida.

2.3.2 Campo socioeconômico

A dimensão econômica é umas das articulações que tenham obtido maior

êxito quanto se trata de globalização, pois ela dinamiza toda uma concentração de

poder e de vens, que por vias de fato, são destinados à uma pequena e privilegiada

taxa da população mundial, fazendo com que àqueles que não tem acesso a

capacitação ou informação estarem cada vez mais a beira da desigualdade e da

pobreza.

Somos impelidos a enxergar nesses pobres não somente sua precariedade

em questão de matéria ou de posse, mas da pobreza que dá início à exclusão e à

exploração, tendo como consequência a “formação” de seres supérfluos e

descartáveis para a sociedade.

Outro mal que atinge a realidade socioeconômica é o desemprego, fruto da

diminuição da mão-de-obra qualificada no mercado, fazendo com que as indústrias

optem pela criação de novos mecanismos, estabelecendo-se, assim, uma

fragmentação da produção e a flexibilidade nas relações trabalhistas. As

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populações rurais também se mostram vítimas da pobreza em razão do difícil

acesso às terras e das mínimas condições de renda que por ora deviam oferecer

uma vida digna. Outro fenômeno existente é a frequente mobilidade humana, em

detrimento das raras oportunidades de emprego que existem em suas terras de

origem. De fato, a realidade econômica em que muitos indivíduos estão impostos, os

leva a caminhos e condições barbáries, tudo em troca da renda e da sobrevivência,

tais como: exploração do trabalho infantil e a exploração do trabalho sexual,

principalmente com as crianças e adolescentes.

Em meio a tais adversidades, não há como negar as melhorias significativas,

com a diminuição do desemprego seguido do acesso a empregabilidade formal,

fazendo com que a população obtenha significativa renda e o poder de consumo

maior em suas próprias mãos, favorecendo, assim, uma crescente econômica em

nosso meio.

2.3.3 Campo sociopolítico

Infelizmente, é inquestionável a condição que a política vem a se posicionar

nos últimos tempos: tendência ao individualismo, crescimento do próprio poder

econômico, desconfiança do povo em relação ao seu ministério e inúmeros e

intermináveis casos de escândalos e corrupção; o que da mesma maneira, não

exclua no povo a esperança de construção de um mundo melhor. Tendo o

continente latino-americano com exemplo, há nas pessoas uma crescente

conscientização pela criação de políticas públicas que devam favorecer o povo,

tendo em vista boas condições para a saúde, à economia, à segurança alimentar, à

moradia e ao emprego.

Estas pequenas, mas significativas atitudes, são sinais de esperança e de

um futuro harmonioso em meio a realidade que está a beira da violência, resultado

da falta de Deus no coração dos homens.

2.3.4 Campo socioecológico

O Brasil é detentor de uma riquíssima biodiversidade, que mesmo assim,

está a par das cobiças internacionais, que como consequência fatal, venham a

“promover” a destruição de nossas matas, a extinção de diversas espécies, a

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devastação da floresta amazônica e constantes invasões agressivas aos povos

indígenas.

Infelizmente, é de se lamentar que nem mesmo a própria natureza, fruto

simbólico da obra máxima da criação do nosso Deus Pai, está livre desses

constantes investimentos por parte do mercado financeiro e do capitalismo agrário.

2.3.5 Campo socioreligioso

Não há como excluir uma análise religiosa em meio aos desafios atuais da

evangelização, pois até a mesma está a mercê de uma tendência individualista.

As pessoas estão buscando a religião com uma fonte de satisfação ou de

conforto pessoal; o que não deixa de ser errado, mas, sabemos que na religião há

uma abrangência em torno de sua proposta: o reconhecimento de nosso Deus

criador através da nossa prática de vivência comunitária, estando sempre a

disposição do serviço e da causa do reino de Deus em nossa atualidade. Caso a

religião servir apenas de modo utilitarista, acabamos por banaliza-la.

Diante de tal situação, também é crescente a articulação de diversos

movimentos religiosos, mostrando cada vez a diversidade no modo de crer, de ser e

de anunciar o Evangelho.

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3 JUVENTUDE

3.1 O que é juventude?

Primeiramente, há de se ter uma compreensão precisa (no sentido pastoral)

sobre juventude. Conforme Puebla (1979) deixou relatado, a juventude não é um

simples grupos de pessoas, mas uma atitude à vida, demonstrada através de seu

inconformismo que os provoca a questionar tudo e todos e de seu espírito de

aventura que os faz levar a assumirem compromissos e situações radicais. Mostra-

se sensível aos problemas da sociedade, através da invasão dos sistemas

controladores e das hipocrisias. A juventude é o sinal da liberdade, da alegria e da

felicidade. E através desse dinamismo presente, ela se torna capaz de renovar e

evangelizar as diferentes culturas e realidades.

3.1.1 Características do ser jovem

Conforme a reflexão mencionada pelo Frei Rubens da Mota (2011, p. 11), a

juventude está inserida, primeiramente, em uma fase de desordem. Desordem essa

que especifica a complexidade que há em torno de seu ser e viver, a partir das

transformações que as pessoas dessa faixa etária presenciam em seu ciclo de vida.

Ser jovem é estar sempre em busca do novo, não significando que tais

características venham a criticar a indecisão nos rumos que cada um busca em sua

vida. Muitos desafios a adversidades sociais estão à tona. A juventude não se

mostra a par dessa mesma situação; mesmo que esteja ela ameaçada pelos

caminhos que a faça desviar da prática do bem, ela mesma se põe como sinal de

esperança e jovialidade na vida social.

A instabilidade também faz parte da realidade juvenil. Os jovens se mostram

instáveis na dimensão sentimental, na busca pela liberdade, na projeção de sua

vida. Estas e outras instabilidades resultam nos jovens sentimentos de insegurança,

fazendo com que os mesmos se conflitam em tomar decisões importantes em sua

vida, em optar pela prática do prazer pessoal ou em ser estáveis nos compromissos

que assumem, e no planejamento de seu futuro, seja ele vocacional ou profissional.

A intersubjetividade também faz parte da realidade pessoal do jovem, pois é

sempre desafiador realizar um trabalho com eles, seja no sentido evangelizador,

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catequético, formal ou técnico. Eles mesmos nos propõem a certas quebras de

paradigmas que carregamos em nosso jeito de ser e agir diante da vida. É

praticamente impossível estar fadado a planos e seguir formalidades diante de um

exercício de aproximação com os jovens. Essa aproximação é relacional, ou seja,

cada um aprende com outro. O jovem é capaz de proporcionar uma relação de

mútuo aprendizado, mostrando que é sujeito detentor de uma renomada reflexão.

Somente conheceremos a realidade dos jovens na medida em que houver

disponibilidade dos adultos em ouvi-los. Ser ouvinte e receptivo com o jovem é

estabelecer uma postura realista e dinamizadora perante as relações e desafios

constantes que estão iminentes no campo societário.

Dando continuidade sobre a linha de pensamento do Frei Rubens (2011), é

perceptível de maneira nítida o otimismo presente nas expressões da juventude.

Obviamente que ela nunca há de fechar os olhos e cair em uma mera hipocrisia de

que a sociedade já está com suas questões emergentes resolvidas. De fato, o

contexto social ainda mostra situações desfavoráveis para a juventude como a

violência e o acesso ao uso de drogas. No entanto, ela mesma não se minimiza

nesse contexto para se caracterizar: ela supera suas tristezas e medos mostrando

quem realmente é e para o que é capaz.

Nunca é tarde deixar de mencionar o Documento de Aparecida para dar

destaque a tal assunto, já que se trata de uma análise pastoral sobre os traços que

caracterizam o jovem:

Merece atenção especial a etapa da adolescência. Os adolescentes não são crianças nem jovens. Estão na idade da procura de sua própria identidade, de independência frente aos pais, de descoberta do grupo. Nessa idade, facilmente podem ser vítimas de falsos líderes constituindo grupos. É necessário estimular a pastoral dos adolescentes, com suas próprias características, que garanta perseverança e o crescimento na fé. O adolescente procura uma experiência de amizade com Jesus (DA, n. 442).

Esse trecho menciona claramente a caracterização da juventude na busca

de si mesma e da pertença a um grupo social. O estímulo ao trabalho pastoral com

ela nada mais é do que chama-los a dar novos ares para a evangelização, sendo

assim, sinal da renovação da Igreja, mencionado inicialmente no Documento da

Pastoral da Juventude no Brasil (1986): “o futuro da sociedade e da Igreja depende

da capacidade de escutar o que acontece no mundo jovem e de respeitar sua

própria sensibilidade”.

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Direcionando para um ponto de vista um tanto sócio-psicológico, no

adolescente/jovem se é nota-se que, mesmo com o abandono das ideias de quando

os mesmos eram seres infantes de um pensamento coletivo e intelectual, há a

grande capacidade se inflamarem nas causas que possibilitam a busca de seu

discernimento próprio de vida, diante de uma situação abstrata ou dificultosa, dando

lugar ao desenvolvimento de sua capacidade intelectual e social a partir de

experiências que lhes permitam explorar todo o bem comum espalhado na

humanidade. O jovem percebe a importância do caminhar junto para a construção

não somente de sua, mas de uma história coletiva (NASIO, 2011, p.16).

Em uma citação, Zagury (2009, p.30) menciona o poder que o jovem tem

para se inserir em uma causa de mudança na sociedade:

Há um crescente interesse pelas coisas que ocorrem no mundo, e preocupações sociais. Começam a perceber com acuidade – às vezes com angústia – as diferenças sociais. É o momento do sonho, em que se acreditam serem verdadeiros “super-homens”, capazes de corrigir as injustiças, de endireitar o mundo [...] tornando-os cidadãos não apenas preocupados com seu próprio bem-estar, mas com a melhoria e aperfeiçoamento da sociedade como um todo.

Inúmeras características poderiam estar presentes nesse trabalho, já que a

juventude é um tema amplo e que de acordo com uma contextualização, o ponto de

vista sobre ela acaba sendo outro. Muito se fala em análise por fases; a geração Y é

um fenômeno crescente em relação a isso. Mas não cabe nesse trabalho realizar

uma análise (somente) técnica da juventude, mas uma análise que adote o ponto de

vista pastoral, evangelizador, pois Deus também confiou nos jovens a missão de

evangelizar o mundo.

Como antes havia mencionado (e nunca será tarde mencionar) não há como

desenvolver esse trabalho não estando presentes aspectos bíblicos e/ou teológicos.

Deus se mostra presente no meio dos jovens, pois a partir de que o mesmo Deus se

fez presente na vida humana, é ilícito pensar a realidade humana sem sua presença

em nosso meio. Não haverá com analisar a sociedade sem que haja o coração do

próprio Deus batendo, interpelando pela justiça e pelo amor dos homens

(PASTORAL DA JUVENTUDE DO BRASIL, n.47).

Mesmo com a beleza e o salutar presente nas expressões juvenis, seria

errôneo dizer que o trabalho de aproximação pastoral e/ou catequético acontece de

uma forma simples. O mesmo implica muitos desafios, devido às características que

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o jovem carrega em si, e que antes fora mencionado, tais como as indecisões, as

incertezas, a intersubjetividade, a desordem pessoal, e outros aspectos. No entanto,

são apontadas, pelo estudo da CNBB referente à Pastoral da Juventude do Brasil

(1986, n.51-57), algumas reflexões que venham a ajudar na formação intelectual de

nossos jovens, onde são apontadas três dimensões: psicoafetiva, mística e política.

Na dimensão psicoafetiva , são apontadas as relações de afeto, o

conhecimento de si mesmo e dos outros. Há a necessidade pela busca de meios

que venham a ajudar os jovens a superar os obstáculos em sua vida, como o próprio

sentimento de incerteza diante de uma situação.

A dimensão mística procura explorar no jovem sua dimensão libertadora,

tendo como ênfase a evangelização que tanto fora tratada na Carta Apóstolica

Evangelii Nuntiandi, no documento da Catequese Renovada e nas Diretrizes da

Ação Pastoral da Igreja do Brasil, donde essa mesma dimensão mística faz

despertar no jovem o anúncio, a denúncia, o testemunho, a participação dos

sacramentos e a o serviço do bem comum. A força principal que deve mover a

juventude para o trabalho missionário está unicamente na pessoa de Jesus Cristo,

alicerce principal de toda a existência humana.

Por fim, a dimensão política auxilia a fomentação de um senso crítico e

analítico da realidade que vivem, através da busca por estudos e leituras enraizados

nas ciências humanas, a fim de que haja a transformação na sociedade.

A respeito do exercício de aproximação e acolhida para com jovem, Dalla

Rosa (2009, p.16) expôs sua ideia a cerca de tal assunto em um artigo,

especificando de forma sucinta e crítica:

Acolher o outro não significa fazer com que o outro entre na minha casa no intuito de acomodá-lo conforme os meus critérios. Em outras palavras, o outro que vem a mim e pede acolhida traz uma boa nova, uma surpresa, o inaudito me desinstala. Oferecer hospedagem, portanto, é ter uma atitude desvelada e não alérgica diante do outro que vem a mim. [...] na medida em que o ser humano se abre para o outro e busca, diante dele, assumir uma atitude de acolhida, a vida vai como que se revelando em mais vida (DALLA ROSA, 2009, p. 16).

Estar atento aos aspectos que caracterizam a juventude é, acima de tudo,

estar atento à realidade, é conhecê-lo integralmente. O conhecimento deles se

mostra como condição essencial para realizar-se algo, sem isso, não há como amar

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os jovens e muitos menos chama-los ao caminho da evangelização missionária (EJ,

n. 10).

3.1.2 Dados atuais da juventude brasileira

Como pastores, convocamos toda a Igreja a investir na evangelização da juventude, para que seja dinamizadora do corpo eclesial e social. Esperamos que a juventude do Brasil acolha também esta convocação em Maria, a jovem de Nazaré, anuncie o Cristo ressuscitado como o jovem do Evangelho (cf. Mc 16,6-7): “Não vos assusteis! Procurais Jesus, o nazareno, aquele que foi crucificado? Ele ressuscitou! Ele vai a nossa frente em Galileia”. (EVANGELIZAÇÃO DA JUVENTUDE, n. 250).

O fenômeno da modernidade e da pós-modernidade proporcionou aos seres

humanos mudanças de pensamentos decorrentes ao seu contexto. Inicialmente, a

Igreja tentou resistir a essa mudança, fazendo com que houvesse o afastamento de

juventude, pois a linguagem, as expressões e a maneira de viver avançaram

juntamente com a modernidade. Por isso a suma importância que o Concílio

Vaticano II traz para a história da Igreja é a necessidade de um ajuste da Igreja

frente às problematizações do tempo. De fato, tanto a juventude quanto a Igreja se

mostram influenciadas por esses fenômenos, exercendo mudanças de

comportamento, de mentalidade e de valores. No entanto, ficar a par dessa situação

é fechar os olhos para a realidade juvenil; evangelização não dialógica com a

realidade presente é uma evangelização de verniz, que resiste aos ventos contrários

(EVANGELIZAÇÃO DA JUVENTUDE, n. 14).

Conforme o documento Evangelização da Juventude (n. 26-28) nos

especifica (entres outras amarras já explícitas ao longo desse trabalho) a juventude

se caracteriza em ao mesmo tempo como uma fase que concentra um misto de

problemas e desafios pessoais com o seu poder de energia e criatividade para o

engajamento à uma causa. A juventude já não se trata mais por ser uma mera

passagem para a vida adulta, devido a sua extensão e transformação, gerando mais

complexidade e significância perante a sociedade. Somos convidados a estarmos

atentos a dois elementos que venham a elaborar o perfil do jovem brasileiro:

realidades socioeconômica e sociorreligiosa.

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3.1.2.1 Realidade socioeconômica

Tendo como referencial o documento da Evangelização da Juventude (n. 29-

35), vale lembrar que para por em um parâmetro organizacional, as pesquisas se

baseiam em dados de organismos internacionais, nas quais o termo jovem é

enquadrado em pessoas que estejam na faixa etária de 15 a 24 anos. Em últimas

pesquisas feitas, aponta-se que a juventude brasileira esteja representada por uma

estimativa de 34 milhões de pessoas.

Nossa juventude brasileira tem como riqueza a sua ampla diversidade,

manifestada entre as diferentes formas de ser e agir diante de nossa sociedade,

mostrando-se como uma força contingente muito importante em nosso meio,

contribuindo significativamente no processo de desenvolvimento, tanto técnico como

moral/político do Brasil.

Muitos adjetivos podem ser enquadrados a nossa juventude, entre as que

tomam maior destaque são a classe social em que pertence, cor, etnia, sexo, local

de moradia, responsabilidade que exercem perante o seu círculo familiar, gosto

musical e estilo cultural. Existe uma quantidade, embora não muito significativa, de

jovens que tem um alto padrão de vida.

No entanto, grande parte dos 34 milhões espalhados em nosso território

nacional estão a beira da exclusão social, sendo minimizada pela vulnerabilidade

social a qual é exposta, em virtude do descaso e da fragilidade que o sistema

educacional está atualmente exposto; das constantes mudanças e cobranças no

mercado de trabalho, mostrando o pouco preparo dos jovens; da falta de um apoio

de proteção social, da drogadição exposta, caminho esse que ameaça juventude ao

vício; a banalização da sexualidade, a qual leva os jovens à pouca informação sobre

tal assunto, estando expostos aos vírus HIV e à gravidez precoce das meninas; a

violência e pouco acesso às atividades de cunho esportivo, lúdico, cultural e digital.

Outra situação merecedora de atenção é a exposição dos jovens aos

problemas emocionais, fruto da relativização que os mesmos dão aos bens

materiais, fazendo com que se isente o bem maior e principal alicerce da juventude,

a família. Expostos por uma realidade que vem a assombrar o brilho da juventude,

se é resumido em três marcas os temores que a juventude está realmente exposta:

o medo do desemprego, o medo da morte precoce, em decorrência da violência

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urbana e o medo de estar dependente do mundo virtual, em virtude das novidades

ou “fugas” que a Internet oferece aos jovens.

Infelizmente, esses dados estão cada vez marcados na história da

juventude. O próprio Documento de Estudo da CNBB n. 44, em relação a Pastoral

da Juventude do Brasil, mostra como a realidade juvenil enfrentava problemas

emergentes em sua época, sendo que o mesmo estudo fora disponibilizado no ano

de 1986:

Os jovens são as grandes vítimas de uma estrutura social injusta: “jovem mão-de-obra barata; repressão por parte da sociedade; não participação do jovem nos processos decisórios da sociedade e da Igreja; falta de canais especializados de participação; impossibilidade de os jovens, na sua maioria, poderem viver a própria juventude, frustração por falta de condições para estudar e trabalhar, levando a fugas; avanço do espírito consumista, que tem a juventude como alvo preferido; tipo de educação vigente que incentiva o individualismo e a competividade; peso de ideologias que não respeitam os valores de uma sociedade justa e fraterna; ausência dos jovens na vida eclesial; desemprego e prostituição avassaladores; êxodo rural de jovens; contravalores enaltecidos pelos meios de comunicação social (PASTORAL DA JUVENTUDE DO BRASIL, n. 4).

Mesmo que estejamos impactados por esse quadro preocupante, é cada vez

mais necessária uma promoção de mudança que venham a atingir profundamente

as estruturas do desenvolvimento social-ecônomico que o país está subordinado,

fazendo com que reorientem seus investimentos, tendo em vista a melhoria do

acesso à educação, à criação de empregos, à estrutura urbana, à saúde, à cultura e

ao lazer e à segurança pública – bem esse que proporcionaria tão somente os

jovens quanto a população brasileira geral em si.

3.1.2.2 Realidade religiosa

Levando em conta ainda o Documento da Evangelização da Juventude (n.

40), estima-se que o perfil religioso se iguale ao perfil populacional da juventude do

Brasil, sendo que significativa parte se considerem pertencentes à uma

denominação religiosa.

Na população jovem, podemos intensificar o fenômeno da dinamização do

campo religioso existente em seu meio, como a busca de algo que dê sentido a vida

de fé de cada jovem, através de expressões religiosas um tanto exotéricas, fazendo

com que se nasça a ideia de uma “Nova Era”, ou seja, interligar o ser humano com o

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cosmo, dando ênfase às questões holísticas do ser, como a defesa da saúde

psíquica da pessoa e o respeito e defesa pela biosfera existente em nosso planeta.

A tudo isso pode estar relacionada a eterna busca do ser humano pelo seu sentido

de vida. A pessoa que se mostra interessada pela vida, sempre se propõe um

questionamento, seja ele no campo profissional, acadêmico ou afetivo. A experiência

em diversos campos religiosos propõe ao jovem (como as pessoas em geral) novos

vínculos, colocando, por muitas vezes, em questão a olhar religioso herdado pela

própria família (EVANGELIZAÇÃO DA JUVENTUDE, n. 42-43).

Constata-se que jovens que estão vinculados à uma forma institucional de

religião costumam dispor de seu tempo para atividades a nível de grupo, devido a

alegria e ocasiões especiais que as mesmas proporcionam. Automaticamente, a

disponibilidade em exercer atividades grupais fica reduzida de acordo com as

opções que os jovens terão de enfrentar pela frente: estudos universitários ou o

próprio trabalho. O trabalho evangelizador/missionário da Igreja deve estar sempre

atento às questões emergentes da juventude ou da adolescência, para que se tenha

eficácia no mesmo, respondendo de forma adequada e diferencial a cada realidade

em si.

Na vida da Igreja, tem se percebido grande participação eclesial da

juventude, como a participação na liturgia, no canto, na catequização de outros

jovens, em diversas pastorais (em especial, na Pastoral da Juventude), nos

movimentos eclesiais, entre demais ramos existentes de atuação. Por isso, é

crescente nesse meio de ação a busca pela vocação sacerdotal e religiosa e a

responsabilidade com que os demais jovens estão exercendo não somente a

animação da fé de sua comunicação, mas a intensa busca pelo serviço dos mais

pobres, tendo em vista a construção de futuro melhor para sociedade.

No entanto, como antes mencionado, o exercício de aproximação ou de

acolhida para com os jovens é desafiador. Infelizmente, muitos não se sentem

valorizados ou encantados o suficiente a acabam não solidificando seu engajamento

dentro da comunidade, proporcionado assim um afastamento. É de suma

importância que toda a comunidade eclesial em si tenha esse poder de sensibilidade

e de acolhida para com eles.

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3.1.3 O jovem e a participação na sociedade

O interesse da juventude brasileira (e mundial, também) pelas causas

sociais/políticas se solidificou nos anos 60 e 70. Grande parte dela estava atenta aos

problemas que a sociedade enfrentava na época e traziam consigo reflexões

baseadas em estudos sociológicos, principalmente em Marx e Engels. Como

contraponto a toda essas racionalidades existentes apareciam os hippies com seus

ideais românticos e idealistas.

No cenário educacional brasileiro, estudantes secundaristas e universitários

realizavam marchas e protestos sociais em prol de uma melhoria social e igualitária

que proporcionasse uma qualidade de vida para todos. Tão somente a luta da

juventude estava engajada para um âmbito social, bem como a juventude expunha

nesses atos de revolução a busca por uma identificação própria, a luta pela sua

própria liberdade individual.

Muitos jovens de tal contexto adotavam uma postura reacionária, ou seja,

abriam mão de todo conforto existente em seu ambiente familiar para ser

independente financeiro. Fazia parte do instinto da juventude de viver o seu mundo,

de procurar o seu ambiente. Uns se reuniam em pequenas repúblicas estudantis,

outros alugavam pequenas peças em sociedade com amigos ou colegas. O

desconforto e a situação financeira nem sempre agradável não abalavam o jovem,

pois viver a sua maneira e ter o seu “cantinho” eram objetivos pessoais e idealizados

que estava carregando consigo (ZAGURY, 2009, p. 249-250).

Se olharmos a realidade atual a qual estamos vivenciando, seria fácil

entender ou pré-julgar que a juventude está desinteressada pelas causas políticas

ou sociais. De modo esporádico um grupo ou outro ainda está engajado, mas não é

visível um movimento uniforme que desperte na juventude um interesse geral. Mas,

a culpa é da juventude? De fato, houve uma quebra de confiança, um desencanto

frente às organizações políticas que por ora deviam estar unicamente responsáveis

pelo bem comum de toda sociedade.

Não há como ter inspiração social e revolucionária frente aos inúmeros

casos de escândalos de corrupção que envolvem as pessoas públicas, que,

infelizmente, venham a proporcionar uma crise ética e moral do próprio ser humano

em si. Ao descrever sobre a participação da juventude com a sociedade, a filósofa

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Tânia Zagury (2009, p. 251) expôs de forma provocativa esse desinteresse que tanto

é exposto pela sociedade da juventude frente à realidade social e política:

Como crer naqueles que, por força de sua função legislativa, executiva, ou judiciária, deveriam defender os direitos dos cidadãos e, ao contrário, a cada dia, parecem estar mais e mais submersos num mundo de corrupção e, principalmente, impunidade? Não seria este também um fator decisivo no suposto desinteresse dos jovens pela política, pela coisa pública?

A realidade juvenil está à beira de uma opressão de sua autenticidade e de

sua autonomia, devido ao exacerbado desejo de manipulação frente aos próprios

jovens, tendo como mediação uma sociedade cada vez mais consumista e com

dificuldade de incluir em seu espaço a dedicação para a solidariedade, para a

tolerância, para o respeito. Dalla Rosa (2009, p.16), em um artigo seu na Revista

Mundo Jovem, traz de forma reflexiva e desafiadora o que se deve fazer com a

juventude diante dessa realidade:

Diante desse contexto, indagar-se pelo rosto da juventude é perguntar-se pela própria possibilidade de um mundo a ser construído nas bases da justiça, da esperança, da vida que não se deixa esmorecer diante das tragédias humanas. A ética da alteridade convoca-nos a denunciar as ideologias que se utilizam da juventude como objeto de consumo e, ao mesmo tempo, anunciar o jeito novo de caminhar que eclode no rosto dos jovens.

A juventude também tem como característica a responsabilidade da

dinamização do corpo social; quando não há autenticidade ou abertura ao diálogo

por parte dos adultos para com jovens, essa dinamização se esvai, fazendo com que

o jovem não se sinta levado a sério. Tal indiferença os leva a caminhos ideológicos

que, de certa forma, não é novidade: consumismo, acesso livre às drogas,

banalização da sexualidade, tentação do ateísmo e alienação (PUEBLA, n. 1170-

1171).

O documento de Puebla, em um parágrafo, consegue exprimir toda ideia

acerca da persistência e da vontade que o jovem tem de continuar o processo de

mudança que a sociedade tanto nos impele, mesmo com as contrariedades

existentes nesse meio:

[...] Por outro lado, é indubitável haver jovens que se sentiram frustrados pela falta de autenticidade de alguns líderes seus ou se sentiram enfastiados por uma civilização de consumo. Outros, pelo contrário, em resposta às múltiplas formas de egoísmo, desejam construir um mundo de paz, justiça e amor.

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Finalmente, comprovamos que não poucos descobriram a alegria da entrega a Cristo, não obstante as variadas e rudes exigências de sua cruz (PUEBLA, n. 1176).

As imagens predominantes em relação à juventude, sejam nos meios de

comunicação ou na opinião pública, se divergem: por um lado é destacado nos

jovens a beleza, as saúde, a alegria e a despreocupação dos compromissos. Por

outro lado, são apresentadas a força, a ousadia, a coragem, a generosidade, o

espírito aventureiro e o gosto pelo risco. Na medida em que tais características

forem analisadas por um senso comum, há de se considerar que a juventude

brasileira é individualista, consumista e desinteressada pelas atividades políticas.

Entretanto, em contrapartida a essa opinião, alguns estudos apontaram que os

jovens desejam participar ativamente da vida social e que, inclusive, apresentam

muitas ideias tendo em vista a melhoria da situação do país. Ou seja, o jovem quer

participar, quer contribuir. A problemática aqui presente é que os próprios jovens

veem nos atuais espaços de participação como inadequados ou distante de sua

realidade cotidiana.

3.2 A missão do jovem na Igreja

Levando em conta tudo que fora relatado até então, podemos enxergar todo

o potencial (em nível societário-político) que a juventude tem para exercer a

mudança. Obviamente, seria errônea não denominar, também, a vocação da

juventude frente à conjuntura eclesial, como força mobilizadora e renovadora da

ação missionária em razão dos inúmeros desafios que não somente a sociedade

como um todo implica, mas a Igreja também.

A juventude é vista pela Igreja como sinal de sua própria renovação, dando

concretude à sua própria vocação de estar em constante rejuvenescimento.

Atualmente, há diversos meios que os jovens usam para ramificar o que eles

entendem como Igreja; alguns a assumem e a amam do jeito que ela é, através de

sua sacramentalidade existente; outros vivem em constante questionamento e

acabam pressionando a Igreja, exigindo que ela seja o modelo de serviço e de

praticidade naquilo que foi vivido na pessoa de Cristo. Ou seja, nem mesmo a

estrutura eclesial/religiosa está a par da visão reflexiva e crítica dos jovens. Muitos

jovens que estão tomados pela repressão que a sociedade os impõe, carregam

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consigo uma grande inquietação. E eles acabam buscando na Igreja a sua liberdade

social, tendo em vista expressar todo e qualquer sentimento que não conseguem

deixar impactado na conjuntura social. Infelizmente, nem mesmo os jovens

engajados no caminho evangelizador se mostram livres das ameaças que venham a

alienar seu protagonismo comunitário cristão, devido a pouca planificação ou uma

programação pastoral adequada que corresponda de fato a história do jovem, seja

ela particular, social ou eclesial. Da mesma forma que há carência de uma figura

política que realmente dê seu exemplo de participação e serviço social, os jovens

também sentem a falta de assessores preparados que deem o cerne para sua

caminhada pastoral e evangelizadora (PUEBLA, n. 1178-1181).

Em meios aos inúmeros questionamentos e indecisões, o jovem, ao estar

vinculado com a Igreja e com a sociedade, assim como toda pessoa comprometida à

praticidade do Evangelho, deve unicamente ver como modelo de vida a pessoa de

Jesus Cristo. Mesmo que ela não se dê por conta, a juventude, através de seu

instinto renovador, vai ao encontro do Cristo.

Os jovens, ao estarem vinculados com a Igreja, se deparam com a dimensão

libertadora de Jesus Cristo, que enquanto esteve presente na Terra, colocou em

prática, através de sua bem-aventurança, a lei do amor entre os homens. Jesus

apresenta-se como um amigo e fiel companheiro dos jovens, que juntos, lutam pela

realização de sua comunidade.

Jesus não deixou como seu legado a sistematização de planos políticos,

sociais e econômicos, mas seu próprio exemplo de vida, fazendo nortear qualquer

sistema ou modelo histórico. Pertence à sociedade o clamor de novas estruturações

políticas que tragam ânimo e alento às pessoas que a compõem. Animados pela fé

em Jesus e pela eterna sede de mudança, a juventude carrega em si o desafio de se

libertar do egoísmo, da injustiça, da violência e da manipulação ideológica

desenvolvida pela cultura midiática (PASTORAL DA JUVENTUDE DO BRASIL,

n.42).

Jesus Cristo convida os jovens, através da Igreja, a anuncia-lo e a fazê-lo presente no meio da sociedade e dos povos, e a confrontarem permanentemente os acontecimentos e as estruturas sociais com o Reino anunciado e implantado na História pelo mistério de sua vida, morte e ressurreição. Os jovens, são, pois, convocados a desenvolver um amor pessoal e comunitário cada vez maior a Jesus Cristo, consagrando a própria vida à construção do Reino de Deus (PASTORAL DA JUVENTUDE DO BRASIL, n. 33).

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Com o convite dado pelo próprio Jesus Cristo, é de suma importante que o

próprio jovem carregue em si a consciência de que o mesmo faz parte da Igreja, a

fim de que seja exaltada a experiência da comunhão e da participação. A juventude

deve ver a Igreja como um espaço que dê a autonomia que em tantos outros

espaços não consegue. Exemplificando suas ações na pessoa de Jesus Cristo, o

jovem promove a defesa da dignidade humana, sendo sinal da renovação do povo,

da bem-aventurança e da construção de um corpo social justo e igualitário. Para

isso, a Igreja deve-se colocar em posição de contínua abertura para o diálogo e para

as críticas. É necessidade da própria Igreja ter abertura para o jovem, para que o

sinal de libertação que ela tanto prega esteja sensível aos valores do Reino:

A Igreja confia nos jovens. Eles são a sua esperança. A Igreja vê na juventude da América Latina um verdadeiro potencial para o presente e o futuro de sua evangelização. Por ser verdadeira dinamizadora do corpo social e especialmente do corpo eclesial, a Igreja faz uma opção preferencial pelos jovens, com vistas à sua missão evangelizadora no Continente (PUEBLA, n. 1186).

Para que a missão do jovem na Igreja e na sociedade seja eficaz e

condizente com aquilo que compete com a evangelização/trabalho missionário, a

mesma Igreja se prontifica em oferecer uma ação especializada, ou seja, uma

pastoral orgânica que venha a levar em conta a historicidade presente nos jovens de

nosso Continente; que esteja atenta ao amadurecimento de fé dos mesmos; que

esteja preparada para orientar a juventude na sua vocação; e, acima de tudo, que

ofereça fundamentações eficazes que lhes proporcionem participação ativa e efetiva

no corpo social e eclesial.

A Pastoral da Juventude se apresenta como principal meio orgânico para a

fundamentação da fé juvenil e formação para o mundo emergente de mudança, pois

ela é capaz de difundir o modelo de Cristo vivo presenta nas comunidades; de

despertar no jovem uma espiritualidade que lhe proporcione autenticidade em seu

ministério apostólico e/ou prático; de formar (também) a juventude na dimensão

sócio-político e estrutural, oferecendo-lhes a oportunidade de seu amadurecimento

crítico diante dos contravalores existentes em nossa cultura; de estimular a

capacidade criativa presente nos jovens, para que eles criem os próprios sistemas

de mudança e de evangelização em nosso meio.

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Seja a pastoral juvenil uma pastoral da alegria e da esperança, que transmita a mensagem alegre da salvação a um mundo muitas vezes triste, oprimindo e desesperançado, em busca de sua libertação (PUEBLA, n. 1205).

A Pastoral da Juventude se apresenta como principal cerne da juventude na

Igreja, oferecendo a ela a formação articulada que lhe permita uma comunicação

entre os períodos e fases eminentes dos jovens. Essa articulação propõe,

sobretudo, o protagonismo social, pois a juventude não busca atrelar suas ideias e

seus princípios em nível de grupo; ela procura espalhar seus ensinamentos para os

demais, caso o contrário, seria um grupo isolado e abstrato.

Nas palavras da santidade episcopal, o Papa Paulo VI, a Pastoral da

Juventude tem, além de suas inúmeras competências, ajudar o jovem, através do

conhecimento da verdade, partindo da pessoa Jesus Cristo, acessos que deem

sentido em uma ação salvífica-libertadora da sociedade, construindo assim, a

“Civilização do Amor”, tendo como o jovem a própria figura do “Homem Novo”, a fim

de que ele seja evangelizado, para que sinta o desafio de, mais tarde, evangelizar o

próximo através de práticas missionárias, baseadas nos valores cristãos

(PASTORAL DA JUVENTUDE NO BRASIL, n. 45).

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4 MISSÃO JOVEM LASSALISTA E AS EXPERIÊNCIAS MISSION ÁRIAS DA

EQUIPE DE JOVENS MISSIONÁRIOS LASSALISTAS – PANELA VELHA

[...] Por esta razão, todo o esforço para uma juventude sadia corresponde à revitalização permanente do corpo social. O dinamismo dos jovens, seu espírito de aventura, sua abertura aos valores da liberdade, justiça, fraternidade, paz e sua denúncia profética das situações de injustiça, anunciam o mundo sonhado por Deus (CNBB, 1986, p.10).

Depois de toda uma problematização feita acerca da evangelização e da

realidade juvenil presentes nesse trabalho, a questão está baseada na seguinte

reflexão: como enquadrar a juventude como fonte evangelizadora das massas?

A ideia desse trabalho é mostrar como é possível contextualizar um trabalho

de evangelização das massas, tendo a juventude como o agente motivador da

mesma. Devido a objetividade do mesmo, nos basearemos no projeto de uma

juventude lassalista, como testemunho desse novo olhar de evangelização presente

em nosso meio: Missão Jovem Lassalista.

4.1 O que é juventude lassalista?

A Rede La Salle, seguindo os princípios de seu santo fundador – São João

Batista de La Salle – tem como carisma a educação, visando promover aos seus

estudantes o desenvolvimento não somente de sua capacidade técnica e intelectual,

mas a sua integralidade, enquanto pessoa, através de elementos (educação

humana e cristã, solidária e participativa) para contribuir na transformação da

sociedade. A própria Rede La Salle, através de uma documentação elaborada

acerca da educação e pastoral – Plano de Pastoral (2006) – nos convida a refletir

sobre o papel da escola na vida do educando:

Atualmente, fala-se da escola como o lugar onde se adquire uma educação de qualidade ou uma excelência cognitiva. Porém, o que de deve caracterizá-la primordialmente é o encontro vivo e vital com a cultura. Um encontro sistemático e crítico, caracterizado pelo diálogo entre a geração atual e a tradição cultural, numa fusão de horizontes onde surge algo novo. E mais, alguns ainda concebem a escola como sendo o centro de conhecimentos, ou seja, onde o estudante “adquire” conhecimentos. Ela é mais que isso, é um espaço de construção do conhecimento, portanto ela não é um fim em si, mas sim, um meio (PLANO DE PASTORAL, 2006, p.14).

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Tendo em vista a missão que lhe é confiada, a Rede La Salle sente-se

chamada a ouvir e a atender os clamores vigentes das juventudes que compõem

suas escolas, dando auxílio naquilo que se é prezado no crescimento e

amadurecimento pessoal. A missão confiada por São João Batista de La Salle de

educar e evangelizar os jovens está registrada em documento a nível de instituto:

As instituições lassalistas e sua pedagogia estão centradas nos jovens, adaptadas ao tempo em que estes vivem e solícitas em prepará-los para assumirem o seu lugar na sociedade. Caracterizam-se pela vontade de colocar os meios de salvação ao alcance dos jovens, pela formação humana de qualidade e pelo anúncio explícito de Jesus Cristo (REGRA DO INSTITUTO DOS IRMÃOS DAS ESCOLAS CRISTÃS, n. 13).

Tendo a juventude como principal alvo de evangelização, a educação

lassalista está fiel ao seu próprio carisma fundante e também à missão da Igreja,

que em 1979, através da documentação de Puebla, firmou seu compromisso com os

pobres e com os jovens.

De acordo com a especificação feita por esse mesmo plano, umas das formas

de explorar o protagonismo juvenil dos estudantes da Rede La Salle vem das bases,

ou seja, dos grupos de jovens.

Os grupos de jovens são meios privilegiados que os estudantes têm para

despertarem e formarem sua liderança. Aos jovens que se sentem chamados a

adentrarem nessa proposta, são oportunizados a eles todo um processo de

formação integral, a qual abrange a sua personalidade, sua integração grupal, o

conhecimento de sua sexualidade, o despertar da consciência crítica e política, a

valorização e o encontro com a mística e com a espiritualidade, a valorização da

família, entre diversos aspectos. Tais vivências proporcionadas são feitas em

encontros sistemáticos e semanais, fazendo com que os jovens contemplem a ação,

a formação e a espiritualidade, através de reflexões motivadoras, oração, cantos e

diversão.

Mesmo que esses jovens estudantes exerçam sua liderança pastoral em um

ambiente escolar, a mesma ação não está impedindo que estejam vinculados à

missão da Igreja, pois a Pastoral da Juventude Estudantil Lassalista (PJEL) nada

mais exerce (assim como todo trabalho pastoral) o processo de amadurecimento da

fé do jovem estudante lassalista. A PJEL propõe ao jovem estudante lassalista o

seguimento de Jesus Cristo vivenciado na escola como o seu todo. Em um artigo da

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Revista Integração (meio de comunicação interna da Rede La Salle), é mencionado

o papel da Pastoral da Juventude na escola:

A Pastoral da Juventude está totalmente ligada à educação, principalmente quando se fala em Pastoral da Juventude Estudantil. Nela acreditamos por isso desenvolvemos o processo de educação na fé. Este processo não se dá de um dia para o outro. Exige que o jovem seja dinâmico, que olhe a sociedade da maneira crítica, que amadureça sua espiritualidade e reze o mundo e a vida através do seguimento de Jesus de Nazaré. [...] Ajudar o jovem estudante a fazer esse processo é ajuda-lo a atravessar uma trilha que tem muitos obstáculos e que leva tempo. Alguns ficam pelo meio do caminho, outros permanecem em pé e seguem bravamente até o fim. No final da trilha deseja-se formar um adulto comprometido com o planeta, com a sociedade, com a família, com os amigos, com a educação e preocupado com a formação de crianças e adolescentes (BRIDI, 2012, p. 54).

Os grupos de jovens de todas as Comunidades Educativas Lassalistas

constituem uma pastoral específica, a Pastoral da Juventude Estudantil Lassalista –

PJEL. A proposta da PJEL consiste no desenvolvimento humano e cristão desses

jovens, para que futuramente se sintam desafiados a realizarem experiências que

personalizem sua fé, sua vivência em comunidade e o seu compromisso na causa

do Reino de Deus.

4.2 O que é, de fato, a Missão Jovem Lassalista?

Alicerçando a construção deste sonho com experiências concretas, muitos grupos de jovens do Brasil, América Latina e Caribe, vão a outras comunidades para fazer missões juvenis; passam dias visitando as famílias, conhecendo a realidade e realizando encontros com jovens, crianças e adultos e formando grupos. Também há experiências de trabalhos dessa natureza feitos em escola, com jovens estudantes (9º Caderno de Estudos da Pastoral da Juventude do Brasil, 1996, p.8,)

Missão Jovem é toda a ação planejada da juventude (nesse caso específico,

a juventude lassalista) com o intuito de ser testemunho de fé cristã para as pessoas

de diferentes realidades.

Como agentes evangelizadores e seguidores da proposta de Jesus Cristo,

somos impelidos por Ele próprio a sermos sujeitos de Missão:

A Missão Jovem é para a juventude um momento de fortalecer o seu protagonismo. É o próprio Deus que nos convoca a darmos testemunho vivo de tudo aquilo que refletimos nos nossos grupos sobre os Evangelhos, fatos e palavras de Jesus sobre a vida de Jesus Cristo. É o momento de sermos iguais àquelas sementes que caíram em terra boa e renderam muitos frutos (Mt 13,8).

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A palavra protagonista vem do mundo do teatro e significa ator principal. O jovem deve estar no palco, atuando, e não na plateia assistindo passivamente. Por isso, durante as Missões Jovens é indispensável que a juventude esteja à frente dos trabalhos, chamando os outros jovens à caminhada da civilização do amor, botando em prática um dos grandes princípios da Pastoral da Juventude que é o jovem “jovem evangelizando o próprio jovem” (FREITAS, , p. 28).

Trata-se de realizar, de uma maneira jovem, a evangelização das massas,

pois, seguindo o convite de nosso próprio Deus, somos instigados a sair de nossa

própria realidade para nos colocarmos a serviço diante daqueles que são

empobrecidos e excluídos de toda e qualquer participação social. A evangelização

nos desafia a estar a caminho dessas pessoas, pois espalhar a Boa Nova é estar

em articulação com os oprimidos, mostrando-se como uma nova força de

mobilização social, tendo em vista uma sociedade mais participativa e aberta

(COUTO; BATAGIN, 1997).

4.2.1 Os agentes motivadores da Missão Jovem Lassalista: Equipe de Jovens

Missionários Lassalistas – Panela Velha

[...] Acreditamos que o protagonismo juvenil e que os jovens tem um grande potencial de transformação e de contribuição para os projetos sociais. Diferentes de muitos que veem os jovens como apáticos ou incapazes, apostamos na participação de jovens que se comprometam com realidades de pobreza e exclusão social e se empenham para contribuir com sua transformação. Em segundo lugar porque acreditamos que para a plena realização dos Direitos Humanos e da vida digna para as pessoas se faz necessário que sejam possibilitadas condições práticas e concretas de vida digna (PERONDI, Formulário do Prêmio dos Direitos Humanos, 2008).

A Missão Jovem, de fato, é uma das linhas de ações que a Rede La Salle tem

como proposta no âmbito pastoral, com o intuito de fortalecer nos estudantes que

participam dos grupos de jovens os seguintes aspectos: oportunidade de

experimentar, de uma forma intensa, a vivência de um trabalho de inserção social;

fazer com que esses mesmos jovens sintam-se capacitados na contribuição de

projetos e situações concretas de pobreza e exclusão social; desenvolvimento do

espírito missionário nos jovens e nos assessores da PJEL (PLANO DE PASTORAL,

2006).

Ainda seguindo as orientações propostas pelo Plano de Pastoral da Rede La

Salle (2006, p.41), “participam das missões os estudantes que passaram por um

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processo de formação mais intenso na comunidade educativa de origem, na pastoral

da Província ou da Pastoral da Juventude Estudantil do seu regional”.

Ou seja, os agentes motivadores dessa ação missionária são jovens que, com

seu processo de pastoral já terminado (pois já haviam concluído todo o seu

processo educativo dentro da escola), sentiram-se desafiados a dar continuidade e a

assumir a PJEL como um projeto de vida. Esses mesmos jovens estudantes

(oriundos de diversas Comunidades Educativas Lassalistas, especificamente dos

estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina), decidiram usufruir de toda a

formação humana e cristã adquirida nos grupos de jovens para agir na sociedade

através do trabalho missionário, dando ênfase à dimensão do serviço, aspecto tão

bem lembrado quanto se trata de evangelização e de seguimento a Jesus Cristo.

Esse grupo de jovens foi intitulado de Equipe de Jovens Missionários

Lassalistas – Panela Velha. A denominação “Panela Velha” vem da ocasião desses

jovens terem atribuído uma relativa experiência com toda a formação interna

adquirida pelos encontros de seus grupos de jovens.

Em linhas práticas, a Missão Jovem Lassalista nada mais é do que a

concretude e o exercício da prática de toda formação humana e cristã que a PJEL

propõe aos seus educandos em sua rede de ensino. Também abarca todas as

problemáticas que um trabalho missionário tem como especificidade: evangelização

com o intuito de ser testemunho da fé cristã para as demais realidades e ser

testemunho do protagonismo juvenil, protagonismo que nos é confiado pela

sociedade e principalmente pela Igreja.

4.2.2 A Missão Jovem Lassalista na Vila Santa Marta

Ansiosos pelo novo desafio, a partir de 2007 esses jovens decidiram inserir-se

em uma comunidade periférica da cidade de São Leopoldo – Vila Santa Marta.

A Vila Santa Marta é composta por, aproximadamente, 5.000 habitantes, onde

há duas escolas, de Ensino Fundamental, que atendem as necessidades

educacionais dos jovens pertencentes a esse bairro, seguido de projetos que

auxiliam na formação cidadã dos mesmos, como a Creche Santa Marta, Projeto

Escola Aberta, Alfabetização de Adultos, Associação de Meninos e Meninas da

Progresso (AMEP) e ProJovem. Estes projetos funcionam devido ao apoio das

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escolas, dos religiosos e da ONG Trilha Cidadã (PROJETO NATAL SOLIDÁRIO,

2010).

De acordo com a sistematização elaborada por um dos idealizadores do

projeto, Perondi (2008), essa comunidade que os jovens buscaram se inserir é

destacada pela sua grande vulnerabilidade social, devido ao pouco investimento dos

órgãos públicos, afetando qualquer alternativa que vise a melhoria de sobrevivência

socioeconômica dos habitantes da comunidade.

Em um formulário recorrente à Premiação dos Direitos Humanos, promovido

pela UNESCO, Perondi (2008) deixou muito bem relatado como nasceu o projeto da

Missão Jovem Lassalista e como foi se dando o conhecimento da realidade para o

exercício da prática missionária:

O projeto é coordenado pela Equipe de Jovens Missionários Lassalistas e está dividido em duas partes: Pré-Missão Jovem e a Missão Jovem. A primeira etapa destina-se a fazer uma pesquisa junto aos moradores e instituições da Vila Santa Marta sobre as principais necessidades do local. [...] Na segunda etapa, serão desenvolvidas atividades que atenderão algumas das necessidades levantadas durante a Pré-Missão. Entres estas se encontram a falta de alternativas formativas e culturais para os jovens, falta de fontes de renda para os moradores do local, falta de organização dos trabalhadores, principalmente os desempregados (PERONDI, 2008).

Diante de tal sistematização, é notório que o índice de desemprego é

significativo em tal comunidade, onde muitos não encontram maneiras dignas de

sobrevivência. Claramente os mais afetados diante dessa situação de

marginalização são os jovens e os adolescentes, pois, diante de uma situação onde

não são oportunizadas alternativas básicas, como uma educação de qualidade, um

trabalho digno e um local que favoreça a prática do esporte e da cultura, não seria

surpresa alguma ver esses jovens se direcionarem a caminhos não condizentes da

prática do bem.

Outro clamor vigente da comunidade é a busca por espaços que oportunizem,

não somente aos jovens dessa comunidade, mas a todos os habitantes em geral

(especialmente às mulheres da localidade), espaços que ofereçam a essas pessoas

capacitação técnica, para que elas mesmas criem alternativas próprias de trabalho e

de renda.

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4.2.3 Atividades de cunho prático e resultados expressivos da Missão Jovem

Lassalista

Sensíveis e atentos à realidade que tanto interpela pelo auxílio não somente

assistencialista, mas integral da pessoa como um todo, a Equipe de Jovens

Missionários Lassalistas, através de pesquisas realizadas com os moradores da Vila

Santa Marta, pensou em alternativas que pudessem contribuir na melhoria

socioeconômica dos mesmos:

a) Em 2008, com toda uma problematização sistematizada a respeito da

comunidade, a Equipe de Jovens Missionários Lassalistas – Panela Velha,

elaborou como plano de ação oficinas (que no final de cada etapa, eram

entregues certificados validando capacidade para exercício de tal

profissão) que oportunizassem geração de renda, através de uma feira de

economia solidária (PERONDI, 2008);

b) Nesse mesmo período, foram realizadas as seguintes oficinas, visando a

capacitação técnica, mesmo que de forma imediata, aos componentes da

comunidade Santa Marta: informática básica para jovens, biscoitos

decorativos para época de Natal, artesanato com material reciclável,

culinária, fabricação de sabão e oficinas lúdicas com as crianças

(PERONDI, 2008);

c) Com os frutos colhidos, vindo dos trabalhos realizado nas oficinas, foi

realizada uma “Feira de Economia Solidária”, com o objetivo de

comercializar todo o material que foi produzido pelos participantes das

oficinas. Os jovens missionários da Equipe Panela Velha coordenaram todo

o processo de realização das oficinas (PERONDI, 2008);

d) Com os trabalhos realizados nas Escolas da Vila Santa Marta, o Panela

Velha tornou-se uma referência para a juventude local, tanto que uma

menina da comunidade começou a integrar a Equipe de Jovens

Missionários;

e) No dia 10 de dezembro de 2008, na Assembleia Legislativa do Rio Grande

do Sul, o projeto “Missão Jovem Lassalista” foi contemplado com a

premiação do Prêmio dos Direitos Humanos, na categoria Protagonismo

Juvenil na Promoção dos Direitos Humanos, coordenada pela UNESCO,

pela Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia

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Legislativa, pela Secretaria Estadual da Justiça e do Desenvolvimento

Social e pela Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho (disponível em:

http://www.lasalle.edu.br/portal/noticia.php?pg=1&id=830. Acesso 16 abr

2012);

f) No período de 2010, ainda na Vila Santa Marta, o trabalho da Missão

Jovem ainda estava voltado à realização desses cursos e oficinas nas

dependências do Centro Comunitário Nossa Senhora Aparecida, local que

a comunidade usufrui para reuniões associativas e celebrações

eucarísticas. No entanto, o Centro Comunitário Nossa Senhora Aparecida

encontrava-se em péssimo estado físico, não favorecendo um atendimento

de qualidade às senhoras que estavam realizando os cursos (PROJETO

NATAL SOLIDÁRIO, 2010);

g) Por se tornar referência social na Vila Santa Marta, o Panela Velha, em

parceria com a Rede La Salle, através do slogan “Sou Lassalista e ouso

transformar”, organizou uma campanha visando a arrecadação de fundos

financeiros para a reforma da comunidade Nossa Senhora Aparecida.

Todos os valores arrecadados foram imediatamente aplicados no Centro

Comunitário entre os dias 8, 9 e 10 de dezembro de 2010 e em janeiro de

2011. Com o êxito da Campanha, foi realizada uma festa inaugural do

espaço para as crianças do local, em razão das festividades do final do ano

de 2010. No ano seguinte, os próprios moradores usufruíram do restante

do dinheiro em reparos que ainda estavam faltando no local (BONELI;

BRIDI; SCHREINER, 2011).

Com tantos resultados significativos, a Equipe de Jovens Missionários

Lassalistas continuou oferecendo monitoramento dos projetos realizados, para que

os mesmos pudessem ser ampliados e elaborados pelos próprios moradores do

local. O monitoramento foi realizado através de reuniões com as lideranças da

comunidade, com o objetivo de organizar uma cooperativa própria da Vila Santa

Marta; realização de momentos formativos com os trabalhadores que participaram

das oficinas de 2008, tendo em vista abordar com eles a “Economia Solidária” e o

Cooperativismo; envolvimentos e convites para demais jovens participarem da

Missão Jovem Lassalista (PERONDI, 2008).

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Diante de tanto trabalho realizado nesse período de três anos, a Equipe de

Jovens Missionários Lassalistas, mesmo não atuando mais nesse espaço de forma

gradativa, em razão de ampliar novos horizontes, continuou, de maneira simbólica e

afetiva, tendo uma relação de parceria com os moradores da Vila Santa Marta,

oportunizando a eles o tempo e o espaço para que pudessem ser protagonistas de

sua própria história.

4.3 CRESCER: Curso de Formação Integral Lassalista – Uma renovação da

Missão Jovem Lassalista proposta pela Equipe de Jov ens Missionários

Lassalistas – Panela Velha

De acordo com o aspecto introdutório desse trabalho, a evangelização é algo

complexo e desafiador, pois há muitas realidades que necessitam da presença de

pessoas que coloquem em prática a vida de Cristo.

Cientes de uma renovação em relação à Missão Jovem, a Equipe de Jovens

Missionários Lassalistas – Panela Velha acrescentou em sua frente de trabalho o

auxílio na formação de jovens (estudantes da Rede La Salle) que estejam dispostos

e desafiados a realizarem uma experiência de Missão ou de Voluntariado Juvenil.

Com isso, a Equipe de Jovens Missionários Lassalistas, juntamente com o Setor de

Educação e Pastoral da (então) Província Lassalista de Porto Alegre, apresentou

como proposta um curso, denominado CRESCER – Curso de Formação Integral

Lassalista.

O Curso CRESCER, inspirado pelo projeto de Voluntariado vivenciado por

alguns Irmãos e jovens lassalistas do Equador, tem por objetivo oferecer ao jovem

estudante da Rede La Salle uma experiência que lhe proporcione formação humana,

cristã, lassalista sócio-política, pedagógica e prática. A abrangência de toda essa

formação tem o intuito de, também, oferecer desempenho eficaz de sua vida

pessoal, comunitária e apostólica, através de engajamentos em projetos que lhe

visem a transformação da vida social. Sua metodologia é baseada em encontros

vivenciais que permitam o jovem a explorar sua dimensão mística, espiritual, social,

pessoal e comunitária. Boneli (2011), em um meio de comunicação interna da Rede

La Salle – Invocare - ,esclarece a proposta do Curso CRESCER:

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[...] o CRESCER é um espaço de discernimento vocacional, onde o jovem pode buscar a formação que lhe permitirá um desempenho eficaz na vida pessoal e junto à sociedade. Além de possibilitar vivência comunitária e experiência de fé, o Curso também deseja motivar os jovens a fazerem um itinerário vocacional e a engajarem-se em projetos como Missão Jovem Lassalista e o Voluntariado Juvenil Lassalista, propondo ações e projetos comprometidos com a transformação da realidade em que se vive. Dividido em três etapas ao longo do ano, o Curso trabalhará temáticas como Realidades Juvenis, Pedagogia Lassalista e Experiência Missionária (BONELI, 2011, p.2).

O Curso é realizado em três etapas, com as seguintes abordagens: na

primeira etapa, denominada Crescer por Dentro , são trabalhados conteúdos

referentes ao autoconhecimento, integração grupal, conhecimento geral das

realidades juvenis e o carisma lassalista; na segunda etapa, Crescer para o Outro ,

são expostas aos jovens que estão realizando o curso assessorias referentes à

evangelização da juventude, pedagogia lassalista, missão jovem e mística – tendo

em vista a preparação deles para Missão Jovem; por fim, na terceira etapa, Crescer

para o Serviço , são trabalhados, de forma prática, a missão educativa lassalista, a

experiência missionária e o projeto de vida, aspectos esses que dão o último passo

para os jovens concluintes do Curso CRESCER exercerem a Missão Jovem

Lassalista, agora na cidade de Pelotas, nas comunidades periféricas que ficam nas

proximidades de uma obra educativa pertencente a Rede La Salle, Escola La Salle

Hipólito Leite.

Concluindo, assim como a Equipe de Jovens Missionários Lassalistas –

Panela Velha se encorajou a alguns anos atrás colocar em serviço todo o seu

aprendizado vindo dos encontros da Pastoral da Juventude Estudantil Lassalista em

suas escolas através da Missão Jovem, o Curso CRESCER se apresenta como uma

renovação da mesma Missão, fazendo com que esses jovens estudantes que

realizaram o Curso não deixem o espírito missionário, solidário e cristão se esvaírem

em meio as constantes mudanças que o tempo nos proporciona.

4.4 Relato dos jovens que constituem a Equipe de Jo vens Missionários

Lassalistas – Panela Velha, colocando em pauta o qu e tal experiência lhe

significa

Diante de toda essa experiência realizada, obviamente é de fundamental

importância deixar aqui, registrado, o que a Missão Jovem Lassalista e a

participação na Equipe de Jovens Missionários Lassalistas – Panela Velha

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proporcionou e ainda proporciona a essas pessoas envolvidas, que de fato, se

desafiaram e colocaram a evangelização dos pobres e da juventude como um

projeto pessoal de vida:

a) A prática de missão jovem é uma das distintas maneiras de se colocar à

disposição para realizar algo edificante num dado contexto social. Nisso,

deve-se sempre ter presente que uma prática de missão não é o fim em si

mesmo. Mas, uma prática que é baseada fundamentalmente na pedagogia

vivencial de Jesus Cristo. Onde não se busca a própria satisfação, mas o

sentido de algo maior através da acolhida do outro. Poder me colocar

nesse processo de abertura ao diferente e de ajuda aos mais

necessitados, através da disposição de meus talentos, é o que me motiva

a continuar em missão. E, perceber que cada vez mais os jovens estão

envolvidos com causas sociais é fonte de exemplo e estímulo para quem

deseja preservar a Vida (Jonas Vanderlei Theisen – membro do Panela

Velha).

b) Ser missionário é romper com a casca que nos protege e sair afora, a

procura do outro! Desde 2009, participo das atividades missionárias,

promovidas pelo grupo Panela Velha, e desde então meu olhar sobre o

mundo mudou. Participar da Missão Jovem nos permite conhecer

realidades que até então eram distantes, e mais do que isso, possibilita

que saíamos do senso comum, e assim, percebemos que estamos

também inseridos nessas realidades, enquanto sociedade. A missão

jovem possibilitou que, além da consciência, eu sentisse a sede de

mudança, de transformação. Ser conivente com um sistema injusto, que

aliena as pessoas e castra os seus sonhos, é algo que não consigo mais!

Essa experiência a cada dia amplia mais o meu horizonte de mundo e o

torna mais distante aos meus olhos, mas ao mesmo tempo, me concede

maior força e sentido para lutar pela construção dele (Bruno Correia

Oliveira – membro do Panela Velha).

c) A Missão Jovem me fez perceber-me como pessoa no mundo. Esse é o

diferencial que ela proporciona para quem se permite viver essa

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experiência. Ver o mundo de uma forma que a maioria das pessoas não

vê. Perceber os detalhes, sensibilizar-se com situações que

(aparentemente) não têm efeitos sobre minha vida, mas atingem outras

vidas. E é isso que me faz ser humano de verdade, dar-se conta de que

não estamos sozinhos nesse mundo, e tampouco nossos interesses são

únicos nele (Laís dos Santos Boneli – membro do Panela Velha).

d) Ser Panela Velha é poder transformar todos os nossos sonhos em

realidade. É saber que eu não vim ao mundo por acaso, é perceber que

sozinha eu não sou nada. Mas ser Panela Velha é, acima de tudo, ser

família que constrói, arrisca, erra, supera e, fim, vence. É mudança,

construção. Ser Panela Velha é amar as pessoas, é dedicação, é entrega,

é ser diferente! (Roberta Spohr Schreiner – membro do Panela Velha).

e) Ser Panela é doar-se ao próximo, acolher o outro, assim como Jesus fazia

com seu povo para exercer ao exercer sua missão. E nós, jovens

missionários, vemos em seu modelo de vida um exemplo, pois, aos

escolhermos os pobres para realizar tal trabalho, nos damos conta que

estamos continuando o seu projeto. O pobre, que é visto pela sociedade

como um ser marginalizado e sem futuro, nos olhos do Panela Velha é

visto como um ser potencial de exercer o seu próprio protagonismo. Acima

de tudo, o Panela Velha é uma família (Rafael Dutra da Rosa – membro

do Panela Velha).

Os depoimentos aqui deixados são frutos de toda uma experiência vivida de

forma integral. Os jovens da Equipe de Jovens Missionárias Lassalistas – Panela

Velha, de acordo com todo o seu processo pastoral oportunizado pela Pastoral da

Juventude Estudantil (PJEL), se sentiram fieis a proposta da educação lassalista e

decidiram levar a pastoral como um projeto de vida. De acordo com as palavras do

Superior Geral dos Irmãos das Escolas Cristãs – Lassalistas, Ir. Álvaro Rodríguez

Echeverría, “ser fiel ao carisma lassalista significa, hoje, responder com criatividade

às novas formas de desumanização às novas pobrezas, aos chamados que nos faz

o mundo dos excluídos”.

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Ou seja, motivados pelo projeto de vida de Jesus e pela pedagogia de nosso

santo fundador, São João Batista da La Salle, a Equipe de Jovens Missionários

Lassalistas apresenta como resposta aos clamores vigentes da evangelização a

atuação nas comunidades carentes, visando a transformação e mobilização não

somente material, mas integral e humana dessas pessoas, e ao chamado de novas

pessoas para dar continuidade a esse processo de Missão, através do Curso

CRESCER.

5 CONCLUSÃO

Todo aquele que se sentiu chamado pelo modelo de vida de Jesus Cristo

através dos ensinamentos que a Igreja propõe, seja na catequese e/ou

(principalmente) no trabalho pastoral, é também convidado a ser responsável pela

evangelização e missão de sua comunidade. Assumindo a sua comunidade, o Cristo

continuará vivo através de tal prática.

O trabalho pastoral nos convida a ser um sinal de esperança às diversas

necessidades emergentes da sociedade, não se atendo somente ao uso de

conceitos técnicos, mas respeitando e aceitando a pessoa pela sua integralidade.

E através do exemplo desse chamado que a Equipe de Jovens Missionários

Lassalistas – Panela Velha decidiu colocar-se a serviço da sociedade, a serviço dos

que mais necessitam. Através dessa prática, a Equipe Panela Velha coloca à tona o

que a Igreja mais conclamou ao assumir a juventude como uma de suas opções: ser

o sinal de renovação frente aos desafios que a sociedade nos chama.

Obviamente que toda a motivação dessas pessoas ao constituírem tal grupo

veio do envolvimento nos grupos de jovens de suas escolas (escolas da Rede La

Salle), a partir da formação que a Pastoral da Juventude Estudantil Lassalista

(PJEL) lhes ofereceu. Mesmo assim, esses jovens estavam representando a Igreja e

os seus ideais dentro do ambiente escolar. A partir do momento que uma escola tem

como um de seus planos de ações a Pastoral, ela se mostra prontamente

preocupada com a formação como um todo do educando, seja ela técnica e

humana.

Toda essa formação humana proporcionada pela PJEL a esses estudantes

deveria, de alguma forma, ser colocada em prática. E foi isso que aconteceu.

Encorajados pelo espírito pastoral proporcionado pela Igreja e pela Rede La Salle,

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eles assumiram a prática missionária como seu plano de ação, através de seu

envolvimento na Vila Santa Marta, em São Leopoldo, e no auxílio de formação para

outros jovens, para que os mesmos possam dar continuidade e renovem a Missão

Jovem Lassalista, através do Curso de Formação Integral Lassalista – CRESCER.

Realmente, os resultados, pelo pouco tempo de trabalho, foram significativos

e expressivos, através dos cursos de formação profissionalizante, das atividades

lúdicas com as crianças do local e do envolvimento dos jovens missionários com as

famílias.

Entretanto, o mais importante deixar aqui registrado não só os resultados

obtidos pelos trabalhos realizados pela Equipe de Jovens Missionários – Panela

Velha, mas despertar e sensibilizar para as possibilidades existentes em nossa

realidade de exercer a pastoral e provocar a mudança.

E de fato, essa mudança aconteceu, tanto para as famílias que foram

atingidas pelo trabalho da Equipe Panela Velha quanto aos próprios jovens

motivadores desse projeto, que ao exercerem essa prática missionária levaram

consigo a ideia de que poderiam ser protagonistas de sua própria história, não se

acomodando com as divergentes e emergentes situações de desumanização

existentes em nosso contexto social.

Que o trabalho realizado pela Equipe de Jovens Missionários Lassalistas –

Panela Velha sirva de exemplo para as demais juventudes e pessoas que visem

contribuir para a transformação da sociedade, por mais simples que tal ação seja,

mas que provoque mudança no sentido externo (ao trabalhar com as pessoas) e no

sentido interno (ao enxergar sentido no trabalho que está realizando).

Todos somos convidados, assim como Jesus Cristo, e levando em

consideração o exemplo de vida do fundador do Instituto das Escolas Cristãs, São

João Batista de La Salle, a não nos acomodarmos e nos alienarmos com a

realidade existente.

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REFERÊNCIAS

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