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RAFAEL FERRAZ ALVES Desenvolvimento e caracterização de vetores não virais para entrega gênica baseados em proteínas e lipossomas São Paulo 2014

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RAFAEL FERRAZ ALVES

Desenvolvimento e caracterização de vetores não virais para entrega

gênica baseados em proteínas e lipossomas

São Paulo

2014

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RAFAEL FERRAZ ALVES

Desenvolvimento e caracterização de vetores não virais para entrega

gênica baseados em proteínas e lipossomas

Dissertação apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências

São Paulo

2014

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RAFAEL FERRAZ ALVES

Desenvolvimento e caracterização de vetores não virais para entrega

gênica baseados em proteínas e lipossomas

Dissertação apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências

Área de Concentração: Engenharia Química

Orientador: Prof. Dr. Adriano Rodrigues Azzoni

São Paulo

2014

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Aos meus pais pelo amor e por sempre estarem ao meu lado.

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Agradecimentos

Primeiramente gostaria de agradecer ao meu orientador Adriano pela paciência

e dedicação despedido para a minha formação ao logo do mestrado. Neste

sentido através de inúmeras discussões científicas pude compartilhar de seus

valiosos conhecimentos que reacenderam em mim ainda mais a curiosidade

pelas descobertas, sempre visando o bem para a sociedade. Além disso,

através da sua simplicidade, respeito e disposição em ouvir e ajudar ao

próximo foi capaz de aumentar minha esperança e fé na fraternidade do ser

humano.

Eu também gostaria de agradecer de maneira especial à Professora Lucimara,

pela colaboração científica e pelas inúmeras reuniões que acrescentaram muito

à minha pesquisa e a dissertação. Vale ressaltar que, mesmo não existindo no

regimento da Pós-graduação da USP a figura de co-orientador para o

Mestrado, fica aqui registrado que a Professora Lucimara o foi de fato,

desempenhado esse papel de forma impecável.

À Professora Iolanda do Instituto de Química da USP (Bloco 10) por permitir o

uso do equipamento Zetasizer para a realização das medições dos parâmetros

físico-químicos dos complexos, e à Márcia pelo suporte técnico.

Ao Professor Sandro da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP (Bloco

17) pelo uso do Citômetro de Fluxo. Em especial gostaria de agradecer à

Renata Albuquerque pelo suporte técnico e pelos inúmeros conselhos dados

quando os resultados obtidos não eram agradáveis e nem animadores.

A todos os professores do GenBio, Aldo, Andreas, Pedro e Beatriz, pelas

inúmeras discussões científicas e por todo o suporte em geral.

Aos amigos da Unicamp, Marcelo, Marianna e Tiago pelos ensinamentos

compartilhados para a realização deste projeto.

Aos amigos do Genbio e agregados: Luis Mercier, Wesley, Bruno Labate,

Pedro Henrique, Letícia, Bianca, Giovani, Luiz Castelhano, Fernanda Bacciotti,

Maira, Tião, Bruno Oishi, Geise Ferreira, Guilherme, Daniel Campos, Paula,

Mari, Lidiane, Valter, Orlinda, Andrea e Mira. O tempo que passamos juntos foi

fundamental do ponto de vista científico, mas principalmente pelos momentos

de descontração extramente necessários para um ambiente profissional

saudável.

Aos amigos Joca, Rodrigo, Lucas Caixeta, Bruna Fernandes, Janaína, Eduardo

Razza, Lucas Palma, Danilo Bezerra, Marta Lopes e Leonardo Mendes que

sempre me apoiaram e ajudaram em todos os momentos. A jornada por mais

árdua que seja sempre é mais tranquila quando se tem um ombro amigo para

contar.

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À minha namorada, Priscila pela paciência nos momentos de mau humor, mas

principalmente pelo amor e carinho que sempre me amparou nos momentos

difíceis e turbulentos.

À toda a minha família, em especial meus pais Mauro e Rose por transmitirem

para mim todos os valores essenciais (amor, esperança, honestidade,

fraternidade e confiança) para poder buscar a felicidade a cada momento. Ao

meu irmão, Danilo, pelos conselhos e pelas “brigas” que sempre me motivaram

a querer o melhor e a não desistir nunca. A família é à base da vida.

À Fapesp, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, pelo

auxilio financeiro, tanto na forma de minha bolsa de estudos, como também de

auxílio à pesquisa, permitindo assim a realização deste trabalho.

Ao CNPq, pela bolsa de estudos nos meses iniciais do mestrado, e também

pelo auxílio financeiro à pesquisa.

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“ A ciência sem religião é paralítica – a

religião sem ciência é cega”

Albert Einstein

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Resumo

Um dos principais limitantes do desenvolvimento de protocolos eficientes de

terapia gênica e vacinação com DNA provém da baixa eficiência de

transferência gênica por parte dos vetores não-virais. Isso surge,

principalmente, pela dificuldade de transporte de DNA estrangeiro do exterior

para o núcleo das células alvo, devido à presença de inúmeras barreiras. O

principal objetivo do trabalho realizado foi o desenvolvimento e caracterização

de novos vetores não virais multifuncionais, capazes de realizar eficientemente

a entrega de material genético (DNA plasmidial, pDNA) ao núcleo de células de

mamífero (HeLa). Para esse fim, complexos binários (CBs) foram formados

combinando-se pDNA à protamina ou proteínas recombinantes (TRP3)

anteriormente desenvolvidas por nosso grupo. Foi também estudado o

encapsulamento destes CBs em lipossomas catiônicos, formados pelos lipídios

EPC:DOPE:DOTAP, gerando então complexos pseudo-ternários (CPTs). Os

estudos com a protamina revelaram que os CPTs formados apresentavam

tamanhos relativamente pequenos (< 123 nm) e com valores de potencial zeta,

variando de +22,8 mV a +36,3 mV, nas várias relações mássicas

(pDNA:protamina) estudadas (1:0,5; 1:0,7, 1:0,9 e 1:1). Os ensaios de

transfecção mostraram que o CPT na relação 1:0,5 (CB) obteve o melhor nível

de transfecção das células (17,1%) com um nível de viabilidade celular de

73,2%. Os ensaios utilizando a TRP3 mostraram que os CPTs formados

adquiriram tamanhos pequenos (< 134 nm) e valores de potencial zeta entre

+36,8 mV e +11,9 mV dependendo da relação mássica do CB (1:1, 1:30 e

1:60). Os ensaios de transfecção mostram que os CPTs formados com a TRP3

aumentaram o nível de transfecção em todas as relações de pDNA-TRP3

usadas (1:1; 1:30 e 1:60). Vale ressaltar que nas relações mássicas 1:30 e 1:60

houve um aumento significativo na transfecção (25,2% e 24,5%,

respectivamente). Os ensaios de citotoxicidade mostram que os CBs não

afetaram a viabilidade célular, entretanto quando combinada ao lipossoma foi

observado aumento da citotoxicidade. Finalmente, os resultados indicam que

a TRP3 associada ao lipossoma (CPTs) aumenta a eficiência de entrega de

pDNA sugerindo um efeito sinérgico entre essas duas moléculas na superação

das várias barreiras físicas, químicas e difusionais encontradas na célula.

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Abstract

One of the major challenges on the development of efficient protocols for gene

therapy and DNA vaccination is the low efficiency of gene transfer by non viral

vectors. This is mainly attributed to the fact that, during the traffic to target cells

nuclei, plasmid vectors must overcome a series of physical, enzymatic and

diffusional barriers. The objective of this work was the development and

characterization of new multifunctional non-viral vectors, based on lipids and

proteins, able to delivery efficiently the foreign pDNA (plasmid DNA) to the

nucleus of mammalian cells. A model pDNA containing the reporter gene GFP

was complexed to protamine or the recombinant protein (TRP3), forming “binary

complexes” (BC). In addition, we studied the ability of the cationic liposomes

(EPC:DOPE:DOTAP) to encapsulate this binary complexes to form “pseudo-

ternary complexes” (PTCs). The studies of size (DLS) and zeta potencial

revealed that both proteins were able to condense pDNA to form small

complexes (BCS and PTCs) (~100 nm) and positively charged (+11,9 mV a

+36,8 mV), both interesting characteristics for transfections. However, the CPTs

formed by TRP3 was that showed the highest transfections level (25,3%). The

cytotoxicity assays indicated the BCs had a low effect on the cell viability. On

the other hand, the biggest effect on cell death was found when PTCs were

used. The results indicated the TRP3 associated to liposomes (PTCs)

increased the delivery efficiency due to differences in the intracellular trafficking,

suggesting a synergic effect between these different molecules in the vector in

order to overcome the barriers found inside the cell.

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Lista de Figuras

Figura 1. Vetores utilizados para transporte Vetores utilizados para

transporte de material genético (DNA/RNA) em ensaios clínicos

registrados na base de dados do periódico Journal of Gene

Medicine, Inglaterra. ....................................................................19

Figura 2. Principais barreiras à expressão gênica durante o tráfego de

vetores de pDNA: (1) degradação do pDNA por nucleases

extracelulares, (2) entrada na célula; (3) endocitose; (4)

degradação de pDNA no endossoma; (5) escape do endossoma;

(6) degradação de pDNA por nucleases citosólicas; (7) entrada no

núcleo; (8) transcrição; (9) exportação do mRNA; (10)

tradução........................................................................................22

Figura 3. . Estrutura molecular de cada um dos lipídios normalmente usados

para a formação do lipossoma catiônico: A, EPC (lipídio

estrutural); B, DOTAP (lipídio catiônico) e C, DOPE (co-lipídio ou

“helper”)........................................................................................30

Figura 4. Esquema ilustrativo da proteína recombinante TRP3 desenvolvida

por nosso grupo contendo os seguintes domínios específicos:

cauda de histidina (H6); domínio de ligação ao DNA

(DNAbinding); cadeia leve da dineína RP3; e peptídeo

membranoativo TAT....................................................................34

Figura 5. Ilustração dos diferentes domínios e sequências da proteína

TRP3 e da sua complexação com pDNA, originando um

complexo binário (CB) de carga

positiva.........................................................................................34

Figura 6. Ilustração das etapas de complexação, entrada na célula e

tráfego intracelular de um vetor baseado em cadeias leves de

dineína, como a TRP3. O complexo binário (CB) formado entre o

pDNA e a proteína recombinante (TRP3) pode ser ou não

encapsulado em um lipossoma formando o complexo pseudo-

ternário (CPT) antes de ser apresentado às células. Essa

estratégia, desenvolvida e estudada por nosso grupo, busca

partículas capazes de entrar na célula, facilitar o escape dos

endossomas e explorar a rede de microtúbulos para facilitar o

tráfego intracelular e entrada no núcleo (Figura adaptada de

Toledo et al., 2012).......................................................................40

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Figura 7. Mapa do plasmídeo pVAX1GFP descrito em detalhe por Azzoni

et al. (2007). O plasmídeo foi desenvolvido originalmente com a

denominação pVAX1 pela empresa Invitrogen para utilização em

estudos de vacinação por DNA....................................................41

Figura 8. Análise qualitativa do pDNA pVAX1GFP purificado (Kit ILLustra

MiniPrep- GE) através da técnica de eletroforese em gel de

agarose (0,8%). 1) Marcador de peso molecular (1Kb

Fermentas);2) pVAX1GFP purificado pelo Kit..............................50

Figura 9. Análise da interação do pDNA com a protamina pelo ensaio de

retardo em gel de agarose (0,8%). Foram estudadas cinco

relações mássicas pDNA:protamina (1:0,5; 1:1; 1:2; 1:5; 1:10),

como mostrado na legenda da figura...........................................51

Figura 10. Determinação do tamanho médio de partículas do CB

(pDNA:protamina) em várias relações mássicas, mostrando que

com uma maior quantidade de protamina o complexo tende a se

manter estável (diâmetro reportado está ponderado em número

de partículas). Os números próximos a cada ponto indicam as

relações mássicas usadas

(pDNA:protamina)......................................................................52

Figura 11. Determinação do potencial zeta dos CBs (pDNA:protamina) para

diferentes relações mássicas, mostrando a mudança para

valores positivos a partir da relação

1:1,5...........................................................................................54

Figura 12. Análise da incorporação do complexo binário (pDNA:protamina)

pelos lipossomas para formação dos CPTs em gel de agarose

(0,8%). M, marcador de massa molecular (1 Kb, fermentas),

pDNA (Controle) e as 5 relações mássicas estudadas do

complexo pDNA:protamina (1:0,5; 1:0,7; 1:0,8; 1:0,9 e

1:1).............................................................................................55

Figura 13. Distribuição do tamanho dos CPTs formados pela combinação

do pDNA:protamina emrelações mássicas variadas (1:0,5; 1:0,7;

1:0,9; 1:1 e 1:1,5) com o lipossoma catiônico (quantidade

fixa).............................................................................................56

Figura 14. Determinação do potencial zeta dos CPTs formados a partir da

combinação do CBs (relações mássicas variadas) com o

lipossoma catiônico EPC/DOPE/DOTAP (volume

fixo).............................................................................................58

Figura 15. Gel SDS-PAGE (13,5%) mostrando a expressão da TRP3 em

E.coli BL21 (DE3) e a purificação por cromatografia de afinidade

Ni-NTA. Legenda: (M) Marcador de massa molecular; (1) Fração

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solúvel contendo a proteína; (2) Fração de eluição com 500 mM

de imidazol (concentrada); (3) Fração de eluição com 500 mM

de imidazol.................................................................................59

Figura 16. Análise da interação do pDNA com a TRP3 (CBs) pelo ensaio

de retardo em gel de agarose (0,8%). Foram estudadas seis

relações mássicas pDNA:TRP3 (1:0,5; 1:1; 1:2; 1:5; 1:30 e 1:60),

como mostrado na legenda do gel............................................60

Figura 17. Determinação do diâmetro médio, em número, do complexo

binário (CBs) pDNA:TRP3 em várias relações mássicas. Os

números próximos a cada ponto indicam as relações mássicas

(pDNA:TRP3) estudadas............................................................61

Figura 18. Medidas da potencial zeta dos CBs (pDNA:TRP3) para

diferentes relações mássicas (1:4, 1:8, 1:30 e 1:60), mostrando a

mudança para valores positivos a partir da relação 1:8. O ensaio

foi feito em triplicata... ...............................................................62

Figura 19. Análise da incorporação do complexo binário (pDNA:TRP3)

pelos lipossomas em gel de agarose (0,8%) para a formação dos

CPTs. pDNA (Controle positivo) e as 4 relações mássicas

estudadas do complexo pDNA:TRP3 (1:1; 1:4; 1:30;

1:60)...........................................................................................63

Figura 20. Distribuição dos tamanhos, em número, dos complexos

pseudo-ternários (CTPs) formados pela combinação do

pDNA:TRP3 em relações mássicas variadas (1:1, 1:4, 1:30 e

1:60) com o lipossoma (quantidade

fixa).............................................................................................64

Figura 21. Medidas do potencial zeta dos complexos pseudo-ternários

(CTPs) formados a partir da combinação do pDNA:TRP3

(relações mássicas variadas) com o lipossoma catiônico

(quantidade fixa).........................................................................65

Figura 22. Eficiência de transfecção das células HeLa utilizando-se os

complexos binários pDNA:protamina (1:0,1; 1:0,5 e 1:1,5) e

pDNA:TRP3 (1:1; 1:30 e 1:60), e complexos pseudo-ternários

nas mesmas relações avaliadas para o complexo binário. Os

complexos pDNA:Lipossoma e pDNA:lipofectamina incluídos

como controles. Os ensaios foram realizados em triplicata.......66

Figura 23. Ensaio de citotoxicidade de todos CBs, CPTs, lipossoma e

lipofectamina, usando tanto a protamina como a TRP3 como

agente condensador do material genético. As barras de erros

indicam o desvio entre ensaios realizados em

triplicata......................................................................................72

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Figura 24. Ensaio de transfecção em célula HeLa utilizando-se diferentes

dosagens (1,5 µg, 1,0 µg, 0,8 µg, 0,5 µg e 0,3 µg) dos CPTs

contendo a proteína TRP3 na relação 1:30. O experimento foi

realizado em triplicata e as barras de erro indicam o desvio

padrão........................................................................................74

Figura 25. Ensaio de citotoxicidade em célula HeLa utilizando-se diferentes

dosagens (1,5 µg, 1,0 µg, 0,8 µg, 0,5 µg e 0,3 µg) dos CPTs

contendo a proteína TRP3 na relação 1:30. O experimento foi

realizado em triplicata e as barras de erro indicam o desvio

padrão........................................................................................75

Figura 26. Ensaio de transfecção usando a droga cloroquina para se avaliar

o envolvimento dos endossomas na eficiência de transfecção de

células HeLa. Os complexos usados foram: CB (1:60), CPT

(1:30) e DNA:lipossoma. Os experimentos foram realizados em

triplicata.....................................................................................76

Figura 27. Ensaio de transfecção utilizando a droga nocodazol para se

avaliar o envolvimento dos microtúbulos na eficiência de

transfecção de células HeLa. Os complexos usados foram: CB

(1:60), CPT (1:30) e DNA:lipossoma. Os dados obtidos do CB

(*) foram obtidos pela aluna Marianna Favaro (Favaro, 2012). Os

experimentos foram realizados em triplicata.............................78

Figura 28. Ensaio de Acessibilidade ao DNA. Os resultados comparam a

intensidade de fluorescência do DNA presente nos CBs e CPTs

em relação ao DNA livre, usado como controle do

experimento................................................................................79

Figura 29. Microscopia eletrônica de transmissão dos complexos binários

(CBs) nas relações 1:30 (A) e 1:60 (B), e dos complexos

pseudo-ternários (CPTs) nas relações 1:30 (C) e 1:60 (D). As

setas vermelhas mostram o halo do lipossoma formado nos

CPTs. As escalas de barras indicam 100 nm em todas as

micrografias (A, B, C e

D)................................................................................................81

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Lista de Tabelas

Tabela I. Tamanho médio e polidispersidade dos CPTs formados com

diferentes relações mássicas (pDNA:protamina)

.....................................................................................................57

Tabela II. Tamanho médio e polidispersidade dos CPTs formados com

diferentes relações mássicas (pDNA:TRP3)................................64

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Sumário

1. Introdução......................................................................................................17

2. Revisão Bibliográfica.....................................................................................21

2.1 Entrada de Transgenes nas Células............................................................22

2.2 Tráfego Intracelular de Transgenes e o Papel dos Microtúbulos................23

2.3 Translocação pela Membrana Nuclear........................................................25

2.4 Lipossomas como Vetores de Entrega Gênica............................................27

2.5 Proteínas e Peptídeos como Vetores de Entrega Gênica...........................30

2.6 Vírus Artificiais.............................................................................................35

3. Objetivos........................................................................................................39

3.1 Objetivos Gerais..........................................................................................39

3.2 Objetivos Específicos...................................................................................39

4. Metodologia...................................................................................................41

4.1 Purificação de Plasmídeos..........................................................................41

4.2 Purificação da Proteína Recombinante TRP3 ............................................42

4.3 Formação dos Complexos Binários.............................................................42

4.4 Formação dos Complexos Pseudo-ternários...............................................43

4.5 Ensaio de Migração em Gel de Agarose.....................................................43

4.6 Tamanho Hidrodinâmico Médio...................................................................43

4.7 Potecial Zeta................................................................................................44

4.8 Acessibilidade ao DNA................................................................................46

4.9 Microscopia Eletrônica de Transmissão .....................................................46

4.1.0 Cultura e Transfecção de Células de Mamíferos......................................47

4.1.1 Viabilidade Celular....................................................................................48

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5. Resultados e Discussões...............................................................................50

6. Conclusões....................................................................................................82

7. Sugestões......................................................................................................84

8. Referências....................................................................................................85

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Introdução

A terapia gênica nasceu há 50 anos com estudos pioneiros conduzidos

por Szybalska e Syzbalski (1962), nos quais os pesquisadores relataram a

primeira transferência gênica a células de mamíferos. Assim a terapia gênica

pode ser definida como um procedimento destinado a introduzir em um

organismo vivo, com o uso de técnicas do DNA recombinante, genes sadios

para substituir, manipular ou suplementar genes inativos ou não funcionais

(Linden, 2010). Com os avanços tecnológicos atuais, a medicina moderna

acrescenta, a cada dia, descobertas importantes em áreas de investigação

destinadas ao desenvolvimento de novos tratamentos para doenças ainda

incuráveis. Neste sentido, a expectativa de curar doenças genéticas baseia-se

na identificação de genes responsáveis pela sua patogênese e sobre os

avanços das tecnologias do DNA recombinante que permitam a manipulação

do genoma de forma eficiente e segura (Watson et al., 2006). Ao mesmo

tempo, avanços nas áreas de biologia celular e molecular relativos à

compreensão dos mecanismos associados a eventos patogênicos, aumentam

a expectativa de que a manipulação genética possa ser aplicada a uma série

de doenças (Colleman e Tsongalis, 2009). Assim, a primeira aplicação da

terapia gênica na clínica médica aconteceu nos anos 90 em um paciente que

sofria de uma doença causada pela deficiência da enzima adenosina

desaminase (ADA), importante para o desenvolvimento do sistema imune. Na

ocasião, depois de relativo sucesso com o tratamento convencional a base de

administração desta enzima, o paciente voltou a apresentar sintomas da

doença. Assim, os médicos optaram por um tratamento experimental baseado

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na terapia gênica, na qual foi comprovada a eficácia da abordagem utilizada

(Anderson et al., 1990).

Uma das principais barreiras ao desenvolvimento da terapia gênica para a

prática médica ainda é a segurança, que está diretamente relacionada aos

vetores de entrega gênica (Linden, 2010). Vetores são definidos como os

agentes que, associados ao gene terapêutico, são responsáveis pela sua

proteção e transporte do exterior para o interior das células alvo, fenômeno

este também chamado de “entrega gênica”. Os vetores virais, apesar de serem

mais eficientes na entrega do material genético em comparação aos vetores

não virais, estão geralmente associados às respostas imunológicas adversas e

inflamatórias algumas vezes graves (Edelstein et al., 2007; Saccardo et al.,

2009). Nesse sentido, tem crescido as pesquisas focadas no desenvolvimento

de vetores não virais eficientes (Samadikhah et al., 2011; Hoyer e Neundorf,

2011; Arukuusk et al., 2013), de forma que estes possam incorporar as

principais vantagens dos vírus (condensação do DNA, reconhecimento celular,

entrada na célula, tráfego intracelular e translocação nuclear), entretanto

evitando as propriedades indesejadas dos mesmos (patogenicidade, toxicidade

e reações inflamatórias e imunes) (Rubanyi, 2001). A Figura 1 sumariza os

principais vetores utilizados em testes clínicos até o ano de 2012.

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Figura 1. Vetores utilizados para transporte de material genético (DNA/RNA) em ensaios

clínicos registrados na base de dados do periódico Journal of Gene Medicine, Inglaterra.

Seguindo este raciocínio, vários esforços têm focado no aumento da

eficiência de vetores não virais e, para isso, tem-se intensificado a utilização de

adjuvantes de natureza catiônica capazes de interagir com o pDNA (DNA

plasmidial contendo o gene terapêutico) de forma a condensar e proteger esse

material genético dos fluidos extracelulares. Dentre estes veiculadores

podemos destacar os lipossomas catiônicos capazes de proteger o DNA dos

fluídos intersticiais e de interagir com as células (Gregoriadis, 1993; Lasic,

1997), e as proteínas multifuncionais que através de domínios específicos são

capazes de mimetizar as atividades virais relevantes para entrega do material

genético (Espín et al., 2011).

Entretanto, apesar de bons resultados terem sido alcançados através do

desenvolvimento de vetores não virais usando lipossomas catiônicos e

proteínas multifuncionais, a falta de estudos sistemáticos e comparativos tem

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comprometido o entendimento dos efeitos que as diferentes moléculas e

ligantes exercem no mecanismo de transfecção (Ferrer-Miralles et al., 2008).

No sentido de aumentar as expectativas relativas à aplicação da terapia

gênica na prática médica, este trabalho visa a contribuir com o

desenvolvimento e a caracterização de novos vetores não virais, baseados na

incorporação de proteínas recombinantes e lipossomas catiônicos em um

mesmo complexo (vetor), buscando correlacionar parâmetros físico-químicos

(tamanho, potencial zeta, dentre outros) com eficiência de transfecção do

material genético em células de mamíferos. Assim como o trabalho visa o

desenvolvimento de um vetor eficiente para uma futura aplicação terapêutica in

vivo, é de extrema importância avaliar a citotoxicidade destes complexos (CBs

e CPTs) nas células HeLa.

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2. Revisão da Literatura

A entrega eficiente e segura de material genético é um problema

recorrente nos estudos de terapia gênica e vacinação com DNA (Edelstein et

al., 2007, Cohen et al., 2009). Neste contexto, a escolha do vetor a ser utilizado

na entrega do material genético é fator de importância fundamental. De forma

geral, esses vetores são classificados como vetores virais e não virais, e a

escolha daquele a ser utilizado baseia-se, principalmente, na natureza da

doença a ser tratada e nas necessidades relativas ao tempo e a intensidade da

expressão do gene terapêutico a ser inserido (Audouy et al, 2002). Vetores

virais continuam sendo os mais eficientes, pois suas características naturais

permitem o reconhecimento celular mediado por receptores específicos,

internalização na célula, escape de vesículas endossomais, transporte ao longo

dos microtúbulos e translocação nuclear. Entretanto, vetores virais são

complexos e custosos de se produzir, além de estarem associados a respostas

imunológicas e inflamatórias algumas vezes graves (Edelstein et al., 2007;

Saccardo et al., 2009). Considerados mais seguros, os vetores não-virais são

menos eficientes no transporte do material genético quando comparados aos

vetores virais. Isto ocorre devido à elevada degradação por nucleases extra e

intracelulares, dificuldade de internalização por endocitose e locomoção do

pDNA no congestionado ambiente intracelular, além da dificuldade de superar

a barreira representada pela membrana nuclear (Ruponen et al, 2009) (Figura

2).

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22

1

2 3

4

5

6

7

8

9

10

Figura 2. Principais barreiras à expressão gênica durante o tráfego de vetores de pDNA: (1)

degradação do pDNA por nucleases extracelulares, (2) entrada na célula; (3) endocitose; (4)

degradação de pDNA no endossoma; (5) escape do endossoma; (6) degradação de pDNA por

nucleases citosólicas; (7) entrada no núcleo; (8) transcrição; (9) exportação do mRNA; (10)

tradução.

2.1 Entrada de Transgenes na Célula

Aumentos expressivos na eficiência de internalização celular de vetores

não virais (principalmente DNA plasmidial) têm sido alcançados utilizando-se

adjuvantes de natureza catiônica que interagem, condensam e protegem o

material genético, formando nanopartículas com características físico-químicas

(tamanho de partículas e cargas) essenciais para interação com a membrana

celular, primeiro passo para a entrada na célula. Dentre estes adjuvantes estão

os lipídeos ou lipossomas catiônicos (Audouy et al., 2002), lipossomas

fusogênicos sensíveis à variação de pH (Yuba et al., 2008), polímeros

modificados de polietilenoimina (PEI) (Nimesh et al., 2007) ou conjugados

lipossomas-procatiônico-protamina-DNA (Zhong et al., 2007). Além de facilitar

a internalização do pDNA através da endocitose, a formação dos complexos

adjuvante-pDNA é eficiente na proteção do plasmídeo contra a degradação

por nucleases (de Paula et al., 2007).

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Sabe-se que esses vetores não virais, também conhecidos como “vírus

artificiais”, para serem capazes de transfectar o DNA de maneira eficiente nas

células, precisam estar com tamanho e morfologia adequados (nanoescala)

para que possam interagir eficientemente com a membrana celular e serem

absorvidos, similarmente ao que ocorre com as partículas virais naturais (Jiand

et al., 2008). Também é relatada na literatura a importância da carga líquida

positiva da partícula, visto que os complexos geralmente entram na célula após

a interação com a membrana carregada negativamente (Frohlich, 2012;

Medina-Kauwe et al., 2005).

2.2 Tráfego Intracelular de Transgenes e o Papel dos Microtúbulos

Apesar da entrada do pDNA nas células ser grandemente facilitada pelo

uso de lipídeos ou polímeros catiônicos (até centenas de milhares de cópias

por célula), poucas cópias chegam efetivamente ao interior dos núcleos, sendo

a maior parte retida na região perinuclear e degradada no interior dos

endossomas tardios e lisossomas (Zabner et al., 1995; Azzoni et al., 2007).

Uma das principais diferenças entre a entrada de vetores virais e não virais nas

células está no recrutamento, por parte dos vetores virais, de proteínas

motoras associadas aos microtúbulos (MT) para o rápido transporte intracelular

até a periferia do núcleo da célula alvo (Leopold e Pfister, 2006). Os

microtúbulos são filamentos polarizados do citoesqueleto formados por

heterodímeros igualmente orientados de α e β-tubulina e também proteínas

associadas ao MT como a kinesina 1 e as dineínas citoplasmáticas (Döhner et

al., 2005; Kunwar et al, 2013). Sua extensa rede é utilizada para o transporte

de uma variedade de cargas (organelas membranosas e proteínas) para

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regiões celulares específicas (Schroer & Sheetz, 1991). Em células cuja rede

de microtúbulos está disposta de forma radial, a extremidade “menos” dos MTs

está orientada para o centrossoma, próximo ao núcleo da célula, enquanto a

extremidade “mais” está orientada para a periferia da célula. Alguns vírus

utilizam os MTs para o movimento intracelular, dentre eles podemos citar o

citomegalovírus, o vírus da imunodeficiência humana, herpes simplex e

adenovírus (Ogawa-Goto et al., 2003; Bukrinskaya et al., 1998; Penfold et al.,

1994; Suomalainen et al., 1999). Apesar dos avanços, ainda há pouco descrito

sobre os mecanismos de interações entre as partículas virais e o sistema de

transporte intracelular via microtúbulos. Sabe-se, entretanto, que esse

transporte geralmente envolve a associação com as dineínas, também

conhecidas como motores moleculares.

Dentre as famílias de proteínas motoras já descritas, são as dineínas

citoplasmáticas as responsáveis pelo transporte intracelular de cargas pela

rede de MTs no sentido da periferia da célula para o centro de organização de

microtúbulos/centrossoma (Tzfira, 2006). As dineínas são complexos proteicos

(20S) constituídos por duas cadeias pesadas (CP, 520 kDa), duas cadeias

intermediárias (CI, 74 kDa), algumas cadeias leves intermediárias (CLI, 53-57

kDa), e várias cadeias leves (CL) das famílias LC8, TcTex/Rp3 e

LC7/roadblock (Döhner et al., 2005). As cadeias pesadas são responsáveis

pela ligação ao MT, hidrólise de ATP e movimento, enquanto as cadeias CI,

CLI e CL são responsáveis pela ligação às cargas e regulação da atividade

motora. Variações na composição das subunidades de ligação (CL e CLI)

acarretam interações com diferentes tipos de cargas (Döhner et al., 2005;

Pfister et al., 2006). Além disso, existe a necessidade de outras proteínas

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como ativadores ou adaptadores, incluindo as Dinactinas e a Lis 1, para que

possa ser regulada a atividade motora das dineínas (Kardon et al., 2009). Em

um trabalho realizado por Moseley e colaboradores (2007), foi enfatizado o

papel crucial das Dineínas como facilitadoras do translado da proteína P do

vírus da raiva e da poliproteína Gag do vírus M-PMV, através da associação

das proteínas com as cadeias leves de dineína LC8 e TcTex-1,

respectivamente.

Quanto aos plasmídeos, até pouco tempo acreditava-se que o

movimento dessas moléculas no interior de células transfectadas ocorria por

difusão livre ou interações não específicas com componentes do citoplasma

(Lukacs et al., 2000; Lechardeur et al., 2005). Foi apenas mais recentemente

que o trabalho de Vaughan e Dean (2006) demonstrou, ainda que por

mecanismos não elucidados, que o tráfego de plasmídeos em direção ao

núcleo depende da ação de Dineínas em seu movimento pela rede de MTs.

Ondrej e colaboradores (2007) demonstraram que a ligação a microtúbulos e

transporte ao longo destes filamentos polarizados é imprescindível para a

eficiente transfecção de células utilizando-se lipoplexos (complexos pDNA-

lipídeos catiônicos). Nesse contexto, a utilização ou desenvolvimento de

proteínas ou peptídeos capazes de intermediar interações com dineínas tem

sido apontado como uma alternativa promissora para a entrega de agentes

terapêuticos (inclusive DNA) ao núcleo das células (Mastrobattista et al., 2006;

Grosse et al., 2007).

2.3 Translocação pela membrana nuclear

A membrana nuclear, última barreira à entrada do vetor plasmidial no núcleo,

tem sido um obstáculo relativamente mais fácil de superar. Hoje se

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compreende bem o mecanismo clássico de translado de proteínas para o

interior do núcleo (Alvisi et al., 2006; Stewart, 2007) e sabe-se que, para

adentrar ao núcleo, qualquer molécula maior que aproximadamente 40 kDa

precisa ser transportada ativamente através dos complexos dos poros

nucleares (CPN). Múltiplas cópias de aproximadamente 30 diferentes proteínas

(nucleoporinas) formam esses grandes complexos moleculares (~120 nm de

diâmetro e 70 nm de profundidade) que se localizam no envelope nuclear

(Stewart, 2007). O translado de proteínas para o núcleo envolve o

reconhecimento de sequencias de localização nuclear (um ou dois “clusters” de

resíduos de aminoácidos básicos) na proteína alvo por parte de proteínas

importadoras (α e β importinas). O complexo é então reconhecido e

transportado através do CPN (Alvisi et al., 2006; Stewart, 2007). O translado de

pDNA através de CPNs tem sido estudado através da utilização de peptídeos

ou proteínas contendo sequências de localização nuclear (SLN). Parker e

colaboradores (2005) estudaram a utilização de polilisina (Lis16) para a

condensação e importação nuclear de pDNA. Foi verificado aumento da

expressão do gene repórter, principalmente para células em divisão. Mais

recentemente, um abrangente estudo realizado por Collins e colaboradores

(2007) utilizando SLN SV40 mostrou que, apesar de importantes, essas

sequências por si só não são eficientes na transfecção de células que não

estejam em divisão.

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2.4 Lipossomas como vetores de entrega gênica

Os lipossomas são estruturas agregadas de fosfolipídios em forma de

bicamada cujo volume aquoso central encontra-se circundado por uma ou

várias lamelas concêntricas, com diâmetros variáveis (dezenas de nanômetros

a dezena de micra) (Lasic, 1993). Esses compostos têm como características

possuírem compatibilidade química e biológica com as membranas celulares, o

que facilita a entrega de fármacos e material genético às células. Os

lipossomas tem mostrado uma melhora na farmacocinética e na distribuição de

agentes terapêuticos e, além disso, são eficazes na proteção das moléculas da

degradação e na liberação sustentada do material encapsulado (Chang e Yeh,

2012).

Os lipossomas catiônicos surgiram como uma promessa para a entrega

gênica devido a sua relativa baixa toxicidade e imunogenicidade (Duarte et al.,

2012). Além disso, são capazes de interagir eletrostaticamente com o DNA

(carregado negativamente), produzindo um complexo condensado e compacto

que reduz sua susceptibilidade a nucleases, favorecendo a transferência

eficiente do material genético (El-Aneed, 2004). Esses lipossomas podem

conter apenas o lipídio catiônico ou ainda incorporarem lipídios neutros como o

DOPE (1,2-Dioleoil-sn-Glicero-3-fosfoetanolamina) e Colesterol. Vários lipídios

catiônicos têm sido empregados, dentre eles podemos destacar os que contêm

grupos quaternários de amônio, como o DDAB (brometo de dimetildioctadecil

amônio), DOTAP (1,2 dioeloil-3-trimetilamônio-propano) e o DODAP (1,2 Diacil-

3 dimetilamônio-propano) que são os mais usados pelos seus benefícios na

transfecção (Labas et al., 2010). Vale destacar a necessidade de utilização

concomitante de lipídios estruturais como o EPC (Fosfatidilcolina de Ovo) para

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a formação dos lipossomas, visto que apenas os lipídios catiônicos não

induzem a formação dos lipossomas. Além disso, pensando no processo de

liberação do material genético no citoplasma celular, é necessário que estes

sejam liberados da membrana endossomal após a entrada por endocitose.

Nesse sentido, é importante a presença de lipídios auxiliadores (“helpers”),

também conhecidos como fosfatidil-etanolaminas (PEs) que intensificam o

processo de liberação por possuírem propriedade fusogênicas, que facilitam a

desestabilização da membrana endossomal (Felgner et al, 1994, Mochizuki et

al., 2013). Dentre essa classe de moléculas, podemos citar o DOPE como de

grande utilidade nos estudos de transfecção in vitro de lipídios catiônicos

(Nayerossadat et al., 2012). A figura 3 representa a estrutura molecular de

cada um dos lipídios citados anteriormente, normalmente utilizados para a

formação de lipossomas catiônicos: lipídio estrutural (EPC), lipídio catiônico

(DOTAP) e o lipídio helper (DOPE).

A Lipofectamina (Invitrogen) é um exemplo bastante usado de lipídeo

catiônico que atua como adjuvante complexando moléculas de ácido nucleico

para que estas possam superar a repulsão eletrostática da membrana celular.

Apesar de aumentar a eficiência da entrega de pDNA, lipídeos catiônicos

podem apresentar como desvantagem a super-estabilização do complexo, o

que inibiria a liberação do DNA através da interação com poliânions no interior

da célula (Oana et al., 2009), além da toxicidade associada à sua propriedade

natural de fusão a membranas (Zhang et al., 2001; Vázquez et al., 2008). Em

um trabalho realizado por De La Torre e colaboradores (2009) foi desenvolvido

um lipossoma catiônico composto por EPC/DOPE/DOTAP para veiculação de

uma vacina gênica contra tuberculose. Para isso o plasmídeo DNA-hsp65 foi

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incorporado no interior das estruturas lipídicas. Os resultados se mostraram

reprodutíveis, apresentado níveis de citotoxicidade próximos aos encontrados

com a utilização apenas do DNA. Também, foi demonstrado o efeito profilático

desta vacina, com a vantagem adicional de ser menos invasiva pela

administração intranasal (Rosada et al., 2008; de La Torre et al., 2009).

Em sequência a esse estudo, Balbino e colaboradores (2012) buscaram

correlacionar as propriedades físico-químicas e estruturais dos complexos

contendo pDNA/lipossomas catiônicos com eficiência de transfecção in vitro.

Os resultados mostraram que diferenças na relação de cargas dos complexos

(R +/-) causam um impacto significativo no número de lamelas e, por

conseguinte na conformação dos complexos, o que resultou em diferentes

níveis de transfecção. Em outro trabalho desenvolvido pelo mesmo grupo,

foram avaliados os parâmetros do processo de produção do mesmo complexo

(pDNA/Lipossoma catiônico) usando dois dispositivos microfluídicos

(focalização hidrodinâmica simples e o misturador com barreiras em

microcanais) e o efeito destes na transfecção de células de mamíferos. Os

resultados obtidos pelos pesquisadores mostraram que o pDNA incorporado

dentro das estruturas lipídicas foi diferente nos dois dispositivos, e que a

temperatura influencia apenas no tamanho médio das partículas produzidas

pelo dispositivo simples (Balbino et al, 2013).

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30

A

B

C

2.5 Peptídeos e Proteínas como vetores de entrega gênica

Mais recentemente, tem sido intensificado o estudo de peptídeos

membrano-ativos, ricos em arginina e lisina, como facilitadores da entrega

gênica (Ferrer-Miralles et al., 2008). Como os lipídeos e polímeros anteriores, a

natureza catiônica destes peptídeos permite a condensação e proteção do

ácido nucleico (Ferrer-Miralles et al., 2008). Exemplos destes peptídeos são o

TAT do vírus da imunodeficiência humana (HIV) e o peptídeo penetratina (ou

antennapedia de Drosophila) (Astriab-Fisher et al., 2002; Moschos et al., 2007).

O TAT é um peptídeo de 11 aminoácidos capaz de carrear moléculas tanto

através da membrana plasmática quanto nuclear (Nitin et al., 2009). Já a

penetratina é um peptídeo anfifílico que possui diversos resíduos de arginina e

lisina em sua cadeia, que interagem e condensam DNA, além de atuarem

ativamente na transposição de membranas, facilitando assim a internalização

Figura 3. Estrutura molecular de cada um dos lipídios normalmente usados para a formação

do lipossoma catiônico: A, EPC (lipídio estrutural) R1 e R2, nas posições Sn-1 e sn-2

correspondem a cadeias acila de diferentes comprimentos e graus de insaturação; B,

DOTAP (lipídio catiônico) e C, DOPE (co-lipídio ou “helper”).

R1

R2

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na célula e também o escape de vesículas endossomais (Ferrer-Miralles et al.,

2008). Outra molécula muito utilizada em estudos de entrega gênica é o

peptídeo protamina ou sulfato de protamina (Caracciolo et al, 2011; Chen et al,

2011; Yuan et al, 2013). Esta molécula (massa molecular entre 4000 – 4250

Da) caracteriza-se por possuir uma cadeia de aminoácidos rica em arginina. A

protamina foi primeiramente isolada do esperma de peixes maduros, e sua

principal função é interagir e compactar o DNA genômico para que este possa

ser entregue ao núcleo do óvulo (Tsuchiya et al, 2006). Sua aplicação nos

estudos de entrega gênica se deve principalmente a esta característica

intrínseca de compactação do material genético, ajudando a superar um dos

principais obstáculos nessa área, a degradação intra e extracelular por

nucleases. Além disso, a protamina possui sinal de localização nuclear o que

pode favorecer a entrada do complexo no núcleo das células (Reynolds et al,

2005). No estudo realizado por Sanz et al (2012) foi desenvolvido um vetor não

viral, baseado em nano tubos de carbono complexado com a protamina e a

cloroquina. Os resultados mostraram que este novo vetor foi capaz de

aumentar a entrega gênica e a expressão do gene repórter (luciferase). Dentre

os motivos para essa melhora da eficiência de transfecção os autores citam a

capacidade de translocação nuclear proporcionada pela protamina devido ao

seu sinal de localização nuclear.

De forma geral, a condensação de DNA plasmidial de forma a criar

partículas toroidais capazes de penetrar em células de mamífero requer uma

sequência de aminoácidos positivos (lisinas ou, principalmente, argininas) de

no mínimo 6 a 10 resíduos (Rudolph et al., 2003). A forma de entrada dos

vetores não-virais nas células pode ser a endocitose mediada por clatrina,

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caveolae, macropinocitose, entre outras diferentes formas de interação e é

também dependente do tamanho da partícula (Ferrer-Miralles et al., 2008).

Apesar de vários trabalhos terem abordado o tema, pouco ainda se sabe sobre

os mecanismos de entrada celular e a rota intracelular em transfecções

mediadas por peptídeos e proteínas. Mais recentemente, o consenso de que

um único tipo de vetor pode ser internalizado por diferentes rotas (clatrina

dependente, caveolae, etc.) e que estas, de forma geral, levam aos

endossomas tardios e lisossomas, enfatiza que o escape de endossomas é

fundamental para uma transfecção eficiente (Vázquez et al., 2008). Nesse

sentido, a adição de resíduos de histidina nos peptídeos e proteínas pode

facilitar a liberação dos complexos através de um efeito conhecido como

“esponja de prótons”. Esse efeito relatado anteriormente acontece devido a

entrada facilitada de prótons para dentro da vesícula, que causa um aumento

da pressão osmótica, responsável pelo rompimento mecânico do

endossoma.(Midox et al., 2009).

Recentemente nosso grupo tem trabalhado no desenvolvimento de

vetores não virais capazes de melhorar a eficiência da transfecção de DNA

plasmidial em células de mamíferos (Hela). Para isso, têm sido desenvolvidas

proteínas multifuncionais com diferentes domínios, cujas funções visam

superar as inúmeras barreiras encontradas (entrada celular, escape

endossomal, proteção contra nucleases, transporte intracelular e entrada

nuclear) no transporte deste material genético ao logo do citoplasma até a

expressão proteica no núcleo da célula alvo. Nesse sentido, no trabalho de

Toledo et al. (2012) sob orientação do Dr. Adriano R. Azzoni foi produzida uma

proteína recombinante (LC8, cadeia leve da dineína) com diferentes domínios

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(ligação ao DNA e interação com motores moleculares), visando aumentar a

eficiência de transfecção em células de mamíferos. Os resultados mostraram

que a proteína de fusão LC8 foi capaz de condensar o pDNA e formar

complexos carregados positivamente e interagir in vitro com a cadeia leve da

dineína. Os ensaios de transfecção indicaram que a LC8 foi capaz de

transfectar eficientemente células HeLa, e com uma baixa citotoxicidade. Em

outro trabalho recente desenvolvido pelo grupo, foi produzida outra proteína

recombinante (RP3-Db) baseada na cadeia leve da dineína (RP3) e possuindo

um domínio de ligação ao DNA para entrega gênica. Os resultados mostraram

que a RP3-Db foi capaz de interagir com os motores moleculares e interagir

eficientemente com o material genético. Os ensaios de transfecção indicam

que a abordagem utilizada foi capaz de aumentar a eficiência de transfecção

em células HeLa (Toledo et al, 2013). Tendo em vista os resultados

promissores obtidos anteriormente com a RP3-Db o grupo decidiu investir

esforços nesta proteína. Seguindo esta mesma estratégia para entrega gênica,

foi desenvolvida outra proteína multifuncional (TRP3) baseada na cadeia leve

da dineína (RP3), possuindo um domínio de ligação ao pDNA (citado

anteriormente) e ainda fusionada com um domínio TAT (peptídeo membrano

ativo) para facilitar a entrada nuclear do complexo. Os resultados mostram que

a TRP3 foi capaz de condensar o pDNA, formando partículas toroidais com

tamanho pequeno (< 100 nm) e com potencial zeta positivo. Os ensaios de

transfecção em células de mamíferos (HeLa) mostram que o complexo formado

pela TRP3 teve uma excelente capacidade de transferência do material

genético (superior às proteína estudada anteriormente, LC8 e RP3-Db) e com

um baixa citotoxicidade nas células (Favaro et al, 2012). A Figura 4 mostra de

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forma ilustrativa a proteína TRP3 com os diferentes domínios, desenvolvida por

nosso grupo e que foi utilizada neste trabalho em combinação com o lipossoma

catiônico para a formação de um novo vetor não viral para entrega gênica. Na

Figura 5 podemos observar de maneira ilustrativa a proteína recombinante

TRP3 interagindo com o pDNA para a formação do complexo binário (pDNA-

TRP3) carregado positivamente.

Figura 4. Esquema ilustrativo da proteína recombinante TRP3 desenvolvida por nosso grupo

contendo os seguintes domínios específicos: cauda de histidina (H6); domínio de ligação ao

DNA (DNAbinding); cadeia leve da dineína RP3; e peptídeo membranoativo TAT.

Figura 5. Ilustração dos diferentes domínios e sequências da proteína TRP3 e da sua

complexação com pDNA, originando um complexo binário (CB) de carga positiva.

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2.6 Vírus Artificiais

Dentro da concepção de que vetores virais são pouco seguros e os

vetores não-virais são pouco eficientes, foi criado o conceito de “vírus

artificiais”, que seria um sistema capaz de unir a segurança de vetores não-

virais com e eficiência de vetores virais, o que pode ser obtido adicionando-se

(i) ligantes de diferentes naturezas que estimulam o direcionamento celular e

facilitam a entrada na célula, (ii) peptídeos fusogênicos que evitam a

degradação endossomal, (iii) sinais de localização nuclear que tornam a

entrada no núcleo mais eficiente, sempre em diferentes associações com o

pDNA em busca de mimetizar os vírus verdadeiros (Müller et al., 2001;

Mastrobattista et al., 2006). Em geral, os efeitos das moléculas ligantes

utilizadas para aumentar a eficiência dos vetores não-virais são estudados

isoladamente, de modo que o desenvolvimento de vírus artificiais bem

sucedidos tem sido comprometido pela falta de estudos sistemáticos e

comparativos (Ferrer-Miralles et al., 2008). Uma vez que o vírus artificial deve

anexar pequenos peptídeos e proteínas, além de polímeros ou lipídeos

catiônicos ao DNA, é importante que estas moléculas sejam incorporadas sem

inibir ou dificultar a função do vetor em si (Roth e Sundaram, 2004; Ferrer-

Miralles et al., 2008). O primeiro trabalho a demonstrar a viabilidade de

utilização in vivo destes complexos foi o reportado por Li e Huang (1997), onde

foi mostrado que a inclusão de protamina ao sistema DNA-DOTAP (lipídeo

catiônico) aumentou sensivelmente a estabilidade e eficiência de entrega

gênica do vetor em camundongos. A criação de novos vetores de entrega

gênica, intitulados “vírus artificiais”, formados a partir da conjugação de

diferentes estratégias (peptídeos catiônicos, polímeros ou lipídeos) em um só

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vetor e capazes de congregar diferentes capacidades tem gerado novas e

promissoras expectativas na área de terapia e vacinação gênicas (Ferrer-

Miralles et al., 2008; Lamarre e Ryadnov, 2011). Nesse sentido, a interação de

lipídios catiônicos com o DNA, por meio de interação eletrostática para a

formação de lipoplexos (Ma et al., 2007) tem se destacado como um promissor

sistema de entrega, se tornando um componente chave para o

desenvolvimento de carregadores multicomponentes (Koyanova e Tenchov,

2011). Além disso, para se aumentar a eficiência de transfecção, estes lipídios

podem ser associados a peptídeos membrano ativos, como a TAT

(Transcriptional Activator Protein) (Gupta et al, 2007), o peptídeo SAP ("Sweet

Arrow Peptide") (Del Pozo- Rodrigues et al, 2009) ou a protamina (Yuan H. et

al, 2010).

Um estudo realizado por Delgado et al. (2012) avaliou a capacidade de

transfecção de um novo vetor não viral baseado na combinação de protamina,

nanopartículas lipídicas sólidas (NLS) e dextrana depois da administração

sistêmica a ratos. Os resultados obtidos mostraram que o vetor Dex-Prot-DNA-

NLS teve maior capacidade de transfecção nas células com alta taxa de

atividade de endocitose mediada por clatrina/caveolae. Outra abordagem

interessante no desenvolvimento de vetores não virais multicomplexos foi o

relatado por Li Peng et al. (2012). Neste trabalho eles desenvolveram um

carregador multifuncional pH sensitivo baseado na técnica “layer by layer”

(“camada por camada”). Para isso, primeiramente o DNA foi condensado com

protamina dentro de um núcleo catiônico, posteriormente foi adicionado outra

camada de DNA, seguida pelo lipossoma catiônico e finalmente a chitosana.

Os resultados de transfecção in vitro e in vivo demonstraram que o complexo

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não só foi capaz de se proteger das interações (não específicas) com

componentes do soro como também aumentou o tempo de circulação no

sangue e a eficiência de transfecção.

Os trabalhos desenvolvidos pelo nosso grupo de pesquisa tem mostrado

que a estratégia usada no desenvolvimento de vetores não virais para entrega

gênica tem sido pertinente. Como já descrito anteriormente, nos trabalhos de

Toledo e colaboradores (2012 e 2013), sob orientação do Prof. Adriano R.

Azzoni foram produzidas proteínas recombinantes baseadas em cadeia leve da

dineína (LC8 e RP3), contendo diferentes domínios de ligação ao DNA, visando

a aumentar a eficiência de transfecção em células de mamíferos. Os resultados

mostraram que essas proteínas de fusão foram capazes de condensar o pDNA

e formar complexos carregados positivamente, além e interagir in vitro com a

cadeia leve da dineína. Os ensaios de transfecção indicaram que a LC8 foi

capaz de transfectar eficientemente células HeLa, e com uma baixa

citotoxicidade.

Como relatado anteriormente, no trabalho conduzido por Balbino e

colaboradores (2012) sob orientação da Profa. Lucimara Gazziola (co-

orientadora deste trabalho) caracterizou-se as propriedades físico-químicas dos

complexos formados pela combinação do pDNA com lipossomas catiônicos

(LC) formados por EPC/DOPE/DOTAP. Os resultados obtidos mostraram que

diferentes razões de carga molar do complexo (pDNA/lipossoma) resultam em

diferentes eficiências de transfecção. Dando continuidade às pesquisas do

grupo, a proposta deste trabalho é o desenvolvimento e a caracterização de

complexos pseudo-ternários formados pela combinação do pDNA, proteínas

recombinantes de fusão e o lipossoma catiônico, buscando utilizar duas

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estratégias diferentes de entrega gênica (transporte via microtúbulos por parte

da proteína e melhora na entrada na célula e escape endossomal por parte do

lipossoma), sempre buscando correlacionar os parâmetros físico-químicos à

eficiência de transfecção em células de mamíferos.

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3. Objetivos

3.1 Objetivos Gerais

- Desenvolvimento de novos vetores não-virais baseados em DNA plasmidial,

proteínas recombinantes e lipídios (complexos pseudo-ternários ou “vírus

artificiais”), capazes de atuar como transportadores de transgenes, em estudos

de terapia e vacinação gênicas.

- Contribuir para um melhor conhecimento do efeito das características físico-

químicas dos complexos pseudo-ternários sobre a entrada de transgenes nas

células e transporte intracelular através do citoplasma, correlacionando-os com

a eficiência de transfecção.

3.2 Objetivos Específicos

- Expressão em E. coli e purificação da proteína de fusão TRP3 baseada na

cadeia leve de dineína e já desenvolvida por nosso grupo (Favaro, 2012).

- Estudos de condensação (pDNA-proteína) e encapsulação deste complexo

binário em lipossomas catiônicos, resultando em complexos pseudo-ternários.

Vale lembrar que, uma vez que o lipossoma catiônico é formado por diferentes

lipídios (EPC, DOPE e DOTAP), foi adotado a nomenclatura de complexo

“pseudo-ternário” ao invés de ternário, como relatado por de La Torre et al.

(2009).

- Caracterização físico-química dos complexos binários e pseudo-ternários

formados através de determinação do potencial zeta, diâmetro e distribuição de

tamanho das partículas, e análise morfológica através de microscopia

eletrônica de transmissão (MET).

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- Estudos de transfecção buscando-se correlacionar os parâmetros ou

características físico-químicas dos complexos com a eficiência de transfecção

de células de mamífero em cultura (HeLa).

A Figura 6 demonstra a estratégia geral utilizada neste trabalho para a

formação do vetor não viral, baseado na utilização da proteína recombinante

(TRP3) e no lipossoma catiônico para a formação do complexo pseudo-ternário

(CPT), buscando mimetizar as características importantes presentes nos

vetores virais responsáveis pela alta eficiência de transferência do material

genético para o núcleo da célula alvo.

Figura 6. Ilustração das etapas de complexação, entrada na célula e tráfego intracelular de um

vetor baseado em cadeias leves de dineína, como a TRP3. O complexo binário (CB) formado

entre o pDNA e a proteína recombinante (TRP3) pode ser ou não encapsulado em um

lipossoma formando o complexo pseudo-ternário (CPT) antes de ser apresentado às células.

Essa estratégia, desenvolvida e estudada por nosso grupo, busca partículas capazes de entrar

na célula, facilitar o escape dos endossomas e explorar a rede de microtúbulos para facilitar o

tráfego intracelular e entrada no núcleo (Figura adaptada de Toledo et al., 2012).

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4. Metodologia

4.1 DNA plasmidial (pDNA): Nos ensaios de caracterização in vitro dos

complexos e também nos ensaios de transfecção foram usados o plasmídeo

modelo pVAX1GFP (3697 pb), descrito em detalhe por Azzoni et al. (2007)

(Figura 7). Trata-se de um plasmídeo desenhado para emprego em vacinas de

DNA, mas contendo o gene da proteína repórter GFP. Em resumo, o vetor

possui um promotor do citomegalovírus humano (CMV), gene repórter (green

fluorescent protein – GFP), gene de resistência à Kanamicina e origem de

replicação procariota pMB1.Para a obtenção dos plasmídeos em quantidade e

qualidade adequada para os ensaios posteriores, as células de E.Coli (DH 5α)

forma colocadas para crescer em tubos falcon (1,5 ml) contendo meio LB

(Luria-Bertani) e kanamicina (30µg/mL), sob agitação e temperatura adequada

(37°C) overnight. Posteriormente as células contendo os plamídeos foram

purificados através do Kit comercial da GE Healthcare (ILLustra PlasmidMini

Spin Kit) seguindo as recomendações do fabricante.

pVAXlGFP

3697 bp

Kan

GFP

BGH polyA signal

CMV promoter

Kan promoter

pUC origin

Bpu AI (1717)

Hin d III (713)

Eco R I (754)

Xba I (1491)

Bam H I (731)

Bam H I (1485)

Nde I (286)

Nde I (762)

Spe I (51)

Spe I (737)

Figura 7. Mapa do plasmídeo pVAX1GFP descrito em detalhe por Azzoni et al. (2007). O

plasmídeo foi desenvolvido originalmente com a denominação pVAX1 pela empresa Invitrogen

para utilização em estudos de vacinação por DNA.

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4.2 Purificação da proteína recombinante TRP3: Para expressão e

purificação da TRP3, foi utilizado o protocolo desenvolvido pela aluna Marianna

Favaro em sua dissertação de mestrado (Favaro, 2012). Em resumo, células

de E.coli (BL 21) contendo o plasmídeo (pet 28) de expressão da proteína

foram colocadas para crescer em frascos Erlenmeyer contendo meio LB (Luria-

Bertani), 30 µg/mL de kanamicina e colocadas a 37°C sob agitação (300 rpm)

até atingirem um OD600 de 0,8 quando foram induzidas com IPTG na

concentração de 100 mM. Após 20 horas, as células foram recolhidas por

centrifugação, suspensas em tampão apropriado e rompidas por sonicação

como descrito por Azzoni et al. (2004). A TRP3 foi purificada por cromatografia

em resina de agarose-IDA-Ni2+ por meio da interação com o His-Tag. A

avaliação da pureza da proteína purificada foi realizada por eletroforese SDS-

PAGE.

4.3 Formação do complexo binário pDNA:protamina e pDNA:TRP3: Para a

formação do complexo binário nas diferentes relações mássicas, foi adicionado

primeiramente 1 µg de DNA (127 ng/µL) ao microtubo e posteriormente

quantidades crescentes de protamina ou TRP3 (1 mg/mL), e completado com

PBS (pH 7,4) e Hepes (pH 7,3), respectivamente, para um volume final de 30

µL. Esses complexos foram incubados à temperatura ambiente (24°C) por 10

minutos. Para a realização dos ensaios físico-químicos (tamanho de partículas

e potencial zeta), completamos essa solução contendo os complexos com água

(Milli-Q) filtrada (0,22 µm) para um volume final de 1 mL e transferimos para

cubeta apropriada (Altmann-DTS 1061) para posterior leitura no equipamento

Zetasizer (Malvern).

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4.4 Formação do complexo pseudo-ternário pDNA:protamina:lipossoma e

pDNA:TRP3:lipossoma: Para a formação do complexo pseudo-ternário,

primeiramente foi formado o complexo binário da mesma forma como foi

explicado anteriormente, adicionando o pDNA, protamina ou TRP3

(quantidades variadas) e completando o volume para 30 μL com PBS (pH 7,4)

ou Hepes (pH 7,3) e incubado por 10 minutos à temperatura ambiente (24°C).

Posteriormente, a essa solução contendo os complexos binários foram

adicionados 15 μL de lipossoma (quantidade fixa de lipossoma em todas as

relações binárias) na concentração de 2,4 mM, seguido por agitação em vórtice

por 40 segundos e incubação em gelo (0-4°C) por 10 minutos. Seguiu-se uma

nova agitação em vórtice por 10 segundos e incubação a temperatura ambiente

por 30 minutos. Para os ensaios de tamanho de partículas e potencial zeta foi

adicionado água (Milli-Q) filtrada (0,22 µm) para um volume final de 1 mL.

4.5 Ensaio de migração em gel de agarose: A técnica de eletroforese em gel

de agarose (0,8%) foi usada para determinação da relação mássica para a

completa condensação do pDNA pela protamina e pela TRP3 (complexo

binário), e posteriormente para a completa incorporação desses complexos

dentro das estruturas lipídicas (complexo pseudo-ternário). As corridas foram

realizadas em tampão TAE a voltagem constante de 60 V.

4.6 Determinação do diâmetro hidrodinâmico médio: O diâmetro

hidrodinâmico médio e a distribuição do tamanho dos complexos binário e

pseudo-ternários foram determinados pelo espalhamento de luz dinâmico

(Zetasizer Nano ZS, Malvern) usando o laser Ne-He e as medidas do ângulo

de espalhamento de 173° (backscattering). Essa técnica baseia-se na

dependência das flutuações de intensidade do espalhamento de luz em função

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do tempo, devido ao movimento browniano das partículas em suspensão.

Partículas menores se difundem mais rápido que as maiores e a taxa de

flutuação da intensidade de luz espalhada variam de acordo com a velocidade

de difusão (New, 1990). O diâmetro hidrodinâmico das partículas foi calculado

através do valor do coeficiente de difusão translacional aplicado à equação de

Stokes-Eistein (abaixo).

Onde: d(H) é o diâmetro hidrodinâmico; D é o coeficiente de difusão

translacional; K é o coeficiente de Boltzmann, T é a temperatura absoluta e ƞ é

viscosidade absoluta do solvente. O diâmetro médio das partículas e o índice

de polidispersidade das mesmas foram estimados por análise de algoritmo

CONTIN através de transformação inversa de Laplace da função de

autocorrelação. Para a determinação experimental, os complexos binários e

pseudo-ternários foram formados como descrito anteriormente em um volume

final de 30 µL. Posteriormente essa solução contendo os complexos foi

completada com 970 µL de água Milli-Q (filtrada em membrana de 0,22 µm),

totalizando um volume final de 1 mL, que foi transferido para a cubeta

apropriada (Altmann/ DTS 1061) antes das análises. Todas as medidas foram

feitas em triplicatas a 24°C, de modo que as amostras foram estabilizadas por

2 minutos no equipamento antes da leitura.

4.7 Determinação do potencial zeta: O potencial zeta (ζ) é uma medida

eletrocinética que envolve os efeitos do movimento e fenômeno elétrico na

dupla camada (Stern e difusa). Estas camadas são formadas pela presença de

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contra-íons ao redor da superfície coloidal para neutralizar essas cargas. A

camada stern é a mais próxima e a primeira a envolver o coloide, sendo

formada apenas pelos contra-íons, já a camada difusa também é formada por

contra-íons que sofrem repulsão pela camada Stern ao tentar se aproximar do

coloide. Essa variação de contra-íons que ocorre entre a superfície do coloide e

o seio do líquido promove a formação de um potencial elétrico, que é

denominado potencial de superfície. Assim, se um campo elétrico é aplicado, o

fenômeno de eletroforese ocorre, pois a partícula coloidal irá se movimentar,

com velocidade que depende do potencial elétrico criado entre a camada que

envolve a partícula e o seio do líquido, além da viscosidade, da constante

dielétrica do meio e da intensidade do campo elétrico. Nesse contexto, o

potencial zeta é a medida de um fenômeno de superfície definido como

potencial elétrico no ponto que separa a camada Stern e a camada difusa.

Assim, o potencial dos complexos estudados foi medido pela aplicação de um

campo elétrico através das amostras, e os valores dos potenciais zeta foram

obtidos pela medida da velocidade de mobilidade eletroforética das partículas

usando a técnica anemométrica de Laser Doppler. De maneira resumida, os

complexos binários e pseudo-ternários foram formados como descrito

anteriormente em um volume final de 30 µL. Posteriormente essa solução

contendo os complexos foi completada com 970 µL de água Milli-Q (filtrada em

membrana de 0,22 µm), totalizando um volume final de 1 mL, que foi

transferido para a cubeta apropriada (Altmann/ DTS 1061) antes das análises.

Todas as medidas foram feitas em triplicatas a 24°C, de modo que as amostras

foram estabilizadas por 2 minutos no equipamento antes da leitura. Tanto as

medidas de tamanho quanto do potencial zeta das partículas foram realizadas

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no laboratório coordenado pela professora Dra. Iolanda M. Cuccovia do

Instituto de Química da USP (Bloco 10).

4.8 Acessibilidade da sonda de fluorescência ao DNA incorporado nos

complexos binários (CBs), pseudo-ternários (CPTs) e ao lipossoma: Foi

avaliada a acessibilidade ao DNA dos complexos binário (CB), pseudo-ternário

(CPT) e lipossoma através da fluorescência utilizando a sonda comercial

PicoGreen, que possui propriedade de fluorescência quando conjugada a

DNA fita dupla em solução. Resumidamente, a solução de trabalho foi

preparada através da diluição (200x) da solução stock do Pico Green em

tampão TE (10 mM Tris-HCl/ 1 mM EDTA, pH 5). Para a realização do ensaio

foram adicionados 100 µL da solução de trabalho ao mesmo volume dos

complexos estudados e então incubado por 3 minutos. A intensidade de

fluorescência foi mensurada usando um fluorímetro de placa (Gemini XS,

Molecular Device) usando os comprimentos de onda de excitação e emissão

de 485 nm e 525 nm, respectivamente. A intensidade de fluorescência foi

expressa em valores percentuais, em relação à intensidade de fluorescência

emitida pelo DNA livre.

4.9 Morfologia dos complexos binário (CB) e pseudo-ternário (CPT)

através de microscopia eletrônica de transmissão (MET): A técnica de

microscopia eletrônica de transmissão foi utilizada para a visualização da

morfologia dos complexos binários (CBs) e pseudo-ternários (CPTs).

Resumidamente, aproximadamente 3 µL de cada amostra (CB ou CPT)

produzida segundo protocolo descrito anteriormente, foi diluída 10x e colocada

em telas de cobre contendo filme de carbono, sendo ali incubada por 5

minutos. O excesso do líquido foi removido com papel apropriado. Para a

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coloração negativa das telas, foi utilizada uma gota de acetato de uranila (1%

p/v) em solução salina 0,9%, que foi então adicionada às telas e incubada

durante 1 minuto a temperatura ambiente, de modo que o excesso também foi

eliminado e o material foi mantido a temperatura ambiente para que a tela

pudesse ser seca ao ar. O modelo do microscópio usado foi o Leo 906E

(Zeiss, Germany) com voltagem de 100 kV, junto com uma câmera MEGA

VIEW III/Olympus e o software ITEM E 23082007/Olympus Soft Imaging

Solutions GmbH.

4.1.0 Cultura e transfecção de células de mamífero: Células HeLa (“Human

epitheloid carcinoma”), foram crescidas em meio F-12 (Ham - nutrient mixture,

Gibco, Inglaterra) contendo 10% (v/v) de soro fetal bovino (Gibco, Inglaterra).

As células foram primeiramente crescidas em frascos de cultura para células

aderentes de 25 cm2 e incubadas em ambiente umidificado contendo 5% de

CO2 e à temperatura de 37°C. Após atingirem a confluência, as células foram

tripsinizadas e semeadas em placas de cultura de 24 poços (5 x 105 células por

poço). As células foram incubadas por 48 horas até atingir o nível de

confluência de 70-80% e então transfectadas com as diferentes soluções

contendo os complexos pDNA-protamina/TRP3 (1,0 μg de pDNA + massas

crescentes de protamina ou TRP3 em 100 μL de meio, por poço) e

pDNA:protamina/TRP3:lipossomas (1,0 μg de pDNA + massas crescentes de

protamina ou TRP3 + 15 μL lipossoma (2,4 mM) em 100 μL de meio, por poço).

A determinação do nível de transfecção dos complexos estudados foi realizada

após 24 horas do início do experimento através da utilização do Citômetro de

Fluxo modelo FACSCANTO II (BD). Também foi realizado um ensaio de

transfecção com diferentes dosagens dos CPTs (1:30) para buscar uma

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quantidade de material que atingiriam um eficiente nível de transporte do pDNA

com uma menor taxa de morte celular, buscando dessa forma uma aplicação in

vivo segura e eficiente. Para avaliar a contribuição do microtúbulos no tráfego

intracelular dos complexos, as células foram pré-incubadas por 2 horas com

nocodazol (25 µM) para rompimento dos microtúbulos. A droga foi dissolvida

em DMSO, e para o controle negativo foi usada uma solução de igual volume

sem a droga. As transfecções na presença de cloroquina foram realizadas

para avaliar a contribuição da degradação endossomal aos complexos binários

e ternários estudados. As células foram pré-incubadas por 4 horas com

cloroquina (100 µM). Para todos os ensaios com as drogas mencionados

anteriormente, as células pré-tratadas foram incubadas na presença de

diferentes complexos por 4 horas, depois que o meio foi substituído por um

meio de crescimento fresco. Depois de 24 horas, as células foram coletadas, e

a expressão do gene repórter GFP foi mensurado como descrito anteriormente.

Os ensaios utilizando o citômetro foram realizados no laboratório coordenado

pelo Prof. Dr. Sandro Rogério de Almeida no Departamento de Análises

Clínicas e Toxicológicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP

(Bloco 17).

4.1.1 Determinação da citotoxicidade: Células vivas com membranas

intactas são diferenciadas pela capacidade de excluir corantes que penetram

facilmente em células mortas ou danificadas. Nesse sentido o corante Iodeto

de propídio (IP) tem sido utilizado para corar células inviáveis de vários tipos.

Para avaliarmos se os complexos estudados possuem efeito na viabilidade

celular realizamos o teste com o IP. Seguindo as instruções do protocolo, foi

adicionado 1 µL de Iodeto de propídio (2,0 mg/mL) em aproximadamente 105

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células lavadas e ressuspendidas em 1,0 mL de PBS em tubos de cultura de

poliestireno. Posteriormente as células foram incubadas por 5 minutos em

gelo, no escuro e analisadas no citômetro de fluxo com excitação a 488 nm e

emissão coletada a 550 nm.

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50

5. Resultados e Discussão

5.1 Purificação do DNA Plasmidial (pDNA)

A primeira atividade desempenhada neste trabalho foi o estabelecimento

de uma metodologia adequada para a purificação do pDNA utilizado nos

experimentos. A extração e purificação utilizando o kit comercial GE ILLustra

resultou em pDNA de elevada pureza, com relação A260nm/A280nm próxima de

1,9 e majoritariamente na forma superenovelada. A Figura 8 apresenta uma

análise qualitativa do pDNA purificado, análise esta que foi feita através de

eletroforese em gel de agarose (0,8%). A determinação da concentração desse

material, por espetrometria utilizando o equipamento NanoDrop (Thermo

Scientific), indicou a concentração de 127 ng/µL, adequada aos ensaios

subsequentes.

1 2

3.0 KB

2.0 KB

Figura 8. Análise qualitativa do pDNA pVAX1GFP purificado (Kit ILLustra MiniPrep- GE)

através da técnica de eletroforese em gel de agarose (0,8%). Legenda: 1) Marcador de peso

molecular (1Kb Fermentas) 2) pVAX1GFP purificado pelo Kit.

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5.2 Caracterização Físico-Química dos Complexos Formados com a

Utilização da Proteína Protamina

5.2.1 Caracterização do Complexo Binário (pDNA:protamina)

Para avaliação da interação entre a protamina e o pDNA nas diferentes

relações mássicas utilizamos a técnica de mobilidade em gel de agarose

(Figura 9). Os resultados mostram que com o aumento da relação mássica de

protamina, o material genético (pDNA) interage intensamente com a mesma e

começa a se condensar, formando partículas que não migram no gel, devido a

sua forma (geralmente esféricas) e carga positiva (o pDNA é originalmente

"negativo"). Dessa forma, há uma alteração no padrão de migração do pDNA

justamente devido à interação eletrostática entre o pDNA (negativo) e a

protamina (carga líquida positiva).

Figura 9. Análise da interação do pDNA com a protamina pelo ensaio de retardo em gel de

agarose (0,8%). Foram estudadas cinco relações mássicas pDNA:protamina (1:0,5; 1:1; 1:2;

1:5; 1:10), como mostrado na legenda da figura.

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Observa-se na Figura 9 que, a partir de 0,5 μg de protamina por

micrograma de pDNA, já verifica-se interação entre as moléculas, o que fica

mais evidente na relação mássica de 1:1.

A Figura 10 apresenta o perfil de tamanho das partículas formadas pela

interação do pDNA com a protamina, em diferentes relações mássicas

(pDNA:Protamina). Em todas as relações estudadas nos ensaios foram

utilizados 1 µg de DNA, desse modo foi variada apenas a massa de protamina

adicionada (0,5 µg, 1 µg, 2 µg, 2,5 µg e 5 µg). As medidas de tamanho das

partículas, indicam que em uma baixa relação mássica (1:0,5) o complexo

possui um tamanho médio menor quando comparado a relações crescentes de

protamina. Pode-se observar que com o aumento de protamina o complexo

começa a se formar, sendo que o diâmetro médio encontra-se ao redor de 800

nm e valor máximo na relação 1:1(em torno de 1300 nm).

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

Diâ

me

tro

dio

(nm

)

Relação Mássica (pDNA:protamina)

1:0,5

1:1

1:1,5 1:21:2,5

1:5

Determinação do Potencial Zeta dos CBs (pDNA:protamina)

Figura 10. Determinação do tamanho médio de partículas do CB (pDNA:protamina) em

várias relações mássicas, mostrando que com uma maior quantidade de protamina o

complexo tende a se manter estável (diâmetro reportado está ponderado em número de

partículas). Os números próximos a cada ponto indicam as relações mássicas usadas

(pDNA:protamina).

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53

Nossos resultados estão em acordo com os obtidos por Caracciolo et al.

(2011) que relataram que esse fenômeno ocorre devido a partícula exibir nessa

relação mássica uma carga próxima da neutralidade, que tende a favorecer a

agregação. Posteriormente, aumentos sucessivos de protamina levam a uma

diminuição do tamanho e estabilidade dos complexos formados. Considerando-

se que tanto o pDNA como as membranas celulares são carregadas

negativamente, uma característica necessária aos vetores que transportam

DNA é possuírem uma carga superficial positiva, de modo a haver uma

interação eletrostática entre estes vetores e a superfície celular, passo inicial

para a entrada na célula via endocitose.

A Figura 11 mostra o perfil do potencial zeta do CB (pDNA:protamina)

nas diferentes relações mássicas estudadas. As medidas de potencial zeta

feitas em triplicatas indicam que, ao adicionar quantidades crescentes de

protamina, a carga superficial negativa do complexo muda para valores

positivos. Além disso, observa-se que a partir da relação 1:1,5, os valores da

carga tendem a se manter constantes, mesmo adicionando quantidades

crescentes de protamina. Os resultados de diâmetro, migração e potencial zeta

estão em acordo. As proporções mássicas 1:1 a 1:1,5 referem-se à região de

isoneutralidade, onde o potencial zeta cruza a região de valor zero. Nesta

região, o diâmetro dos complexos tende a ser máximo devido à aglomeração

das moléculas, o que pode ser evidenciado no pico da Figura 8 na relação 1:1.

Além disso, foi notado que nesta mesma relação (1:1) houve a completa

incorporação de todo o DNA na estrutura formada, obsevado pelo gel na figura

7. A partir da relação 1:1,5, com aumento da quantidade de protamina, as

propriedades físico-químicas (potencial zeta e diâmetro médio) mantém-se

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constantes, indicando que esta é uma faixa ótima para os estudos de

transfecção.

-50

-40

-30

-20

-10

0

10

20

30

40

50

Po

ten

cial

Ze

ta (

mV

)

Relação Mássica(pDNA:protamina)

1 :0,5

1:1

1:1,51:2 1:2,5

1:5 1:10 1:15 1:20

5.2.2

5.2.2 Caracterização dos Complexos Pseudo-ternários (CPTs,

pDNA:protamina:lipossoma)

A habilidade dos lipossomas catiônicos em incorporar o CB

(pDNA:protamina) em diferentes relações mássicas dentro de suas estruturas

foi avaliada através do ensaio de migração em gel de agarose (0,8%) (Figura

12). O pDNA livre migra em direção ao pólo positivo, gerando dois tipos de

bandas, como pode ser observado na Figura 10. Nota-se que o lipossoma foi

capaz de incorporar os complexos binários nas várias relações mássicas

Figura 11. Determinação do potencial zeta dos CBs (pDNA:protamina) para diferentes

relações mássicas, mostrando a mudança para valores positivos a partir da relação 1:1,5.

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55

pDNA:protamina estudadas (1:0,5; 1:0,7, 1:0,9 e 1:1), indicando que mesmo

em elevadas concentrações, a presença da protamina não inibe o

encapsulamento do CB, o que poderia acontecer devido a carga altamente

positiva da protamina (repulsão eletrostática com o também positivo

lipossoma). Para todas as relações mássicas de pDNA:protamina usadas

foram adicionadas quantidades fixas de lipossomas (15 µl na concentração de

2,4 mM) para a formação do complexo pseudo-ternário. Vale ressaltar que

essa quantidade de lipossoma escolhida para a o encapsulamento dos

complexos binários (pDNA:protamina) foi baseada no trabalho de Balbino e

colaboradores (2012), onde os melhores resultados de transfecção do

complexo pDNA/lipossoma foram obtidos quando se utilizou a relação molar de

cargas (R+/-) de 3. Assim, convertendo-se estes valores para relações

mássicas, chegamos ao volume de lipossoma usado no presente estudo.

M pDNA 1:0,5 1:0,7 1:0,8 1:0,9 1:1

Figura 12. Análise da incorporação do complexo binário (pDNA:protamina) pelos lipossomas

para formação dos CPTs em gel de agarose (0,8%). Legenda: M, marcador de massa molecular

(1 Kb, fermentas), pDNA (Controle) e as 5 relações mássicas estudadas do complexo

pDNA:protamina (1:0,5; 1:0,7; 1:0,8; 1:0,9 e 1:1).

3.0 Kb

2.0 Kb

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56

A Figura 13 apresenta a distribuição dos tamanhos dos complexos

pseudo-ternários formados pela combinação do pDNA:protamina (diferentes

relações mássicas) com o lipossoma. Pode-se observar que nas relações

usadas para a formação do complexo pDNA:protamina não houve uma

variação considerável do tamanho quando essas partículas foram combinadas

com o lipossoma para a formação do complexo pseudo-ternário. Foram obtidos

também valores da polidispersidade dos complexos pseudo-ternários

formados, como podemos observar na Tabela I. Pode-se notar que, nas

relações 1:0,7, 1:0,9 e 1:1 do complexo binário combinado com o lipossoma, os

valores obtidos de polidispersidade foram maiores quando comparados às

demais relações estudadas.

0

20

40

60

80

100

120

140

Diâ

me

tro

dio

(nm

)

Relação mássica (pDNA:protamina)

1:0,5

1:0,71:0,9 1:1

1:1,5

Figura 13. Distribuição do tamanho dos CPTs formados pela combinação do

pDNA:protamina em relações mássicas variadas (1:0,5; 1:0,7; 1:0,9; 1:1 e 1:1,5) com o

lipossoma catiônico (quantidade fixa).

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57

Relação Mássica Diâmetro Médio

(nm)

Polidispersidade

(PDI)

1:0,5 123,1 ± 2,3 0,310 ± 0,015

1:0,7 101,9 ± 0,9 0,588 ± 0,066

1:0,9 108,6 ± 3,9 0,662 ± 0,061

1:1 106,0 ± 3,9 0,566 ± 0,162

1:1,5 110,4 ± 0,9 0,379 ± 0,050

Lipossoma Vazio 96,4 ± 0,4 0,115 ± 0,011

Os valores de diâmetro médio obtidos para os complexos pseudo-

ternários, variando entre 100 nm e 120 nm, são parecidos aos obtidos por

Balbino e colaboradores (2012), onde a combinação do pDNA com o lipossoma

catiônico formou partículas com tamanho variando entre 100 nm e 130 nm. É

interessante ressaltar que os complexos pseudo-ternários apresentaram

diâmetro menor quando comparados aos complexos binários, indicando a

capacidade de estabilização dos lipossomas.

A Figura 14 mostra o perfil de distribuição do potencial zeta dos

complexos pseudo-ternários formados pela combinação do complexo

pDNA:protamina em várias relações mássicas (1:0,5; 1:0,7; 1:0,9; 1:1 e 1:1,5)

com o lipossoma catiônico. Pode-se observar que para todos os casos

estudados, os complexos apresentaram potencial zeta positivo, mostrando a

viabilidade para as transfecções in vitro. Além disso, para os casos em que a

proporção pDNA:protamina estava entre 1:0,5 até 1:0,9 com a incorporação

dos lipossomas, os valores de potencial zeta tornaram-se positivos, sugerindo

Tabela I- Tamanho médio e polidispersidade dos CPTs formados com diferentes relações

mássicas (pDNA:protamina).

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58

a incorporação deste complexo binário aos lipossomas, em comportamento

similar ao observado no trabalho de Rosada et al (2012), utilizando os mesmos

lipossomas, porém com outro peptídeo.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Po

ten

cial

Ze

ta (

mV

)

Relação Mássica (pDNA:protamina)

1:0,5

1:0,7

1:0,9 1:1

1:1,5

5.3 Caracterização Físico-Química dos Complexos Formados com a

Proteína TRP3

5.3.1 Expressão e Purificação da Proteína Recombinante TRP3

Foi implementada em nosso laboratório a metodologia de expressão,

purificação e análise de proteínas recombinantes produzidas em E. coli e

desenvolvido originalmente pela aluna Marianna Favaro em sua dissertação de

mestrado (Favaro, 2012). A Figura 15 mostra um gel SDS-PAGE (13,5%)

Figura 14. Determinação do potencial zeta dos CPTs formados a partir da combinação do

CBs (relações mássicas variadas) com o lipossoma catiônico. EPC/DOPE/DOTAP (volume

fixo).

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59

indicando a proteína TRP3 (18,6 KDa) corretamente expressa em E. coli

(linhagem BL21(DE3)) e purificada em um único passo através de

cromatografia de afinidade em íon metálico imobilizado (IMAC) utilizando-se

coluna contendo a resina Ni-NTA. Após a purificação, foi sempre realizado um

processo de diálise em tampão Hepes 40 mM pH 7,3 de forma a favorecer a

estabilidade da proteína para os demais ensaios.

M 1 2 3

17 kDa

25 kDa

5.3.2 Caracterização dos Complexos Binários (CBs, pDNA:TRP3)

O primeiro ensaio realizado foi o de migração em gel de agarose com o

objetivo de avaliar a interação entre a TRP3 e o pDNA, utilizando diferentes

relações mássicas, de forma a comparar com os resultados obtidos utilizando-

se a proteína protamina. De maneira geral, observa-se que a partir da relação

mássica 1:5 ocorre condensação do pDNA e alteração no padrão de migração

do pDNA no gel de agarose (0,8%) (Figura 16).

Figura 15. Gel SDS-PAGE (13,5%) mostrando a expressão da TRP3 em E.coli BL21 (DE3) e

a purificação por cromatografia de afinidade Ni-NTA. Legenda: (M) Marcador de massa

molecular; (1) Fração solúvel contendo a proteína; (2) Fração de eluição com 500 mM de

imidazol (concentrada); (3) Fração de eluição com 500 mM de imidazol.

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60

M pDNA 1:0.5 1:1 1:2 1:5 1:30 1:60

TRP3

A Figura 17 apresenta o perfil do diâmetro médio dos complexos

formados pela interação do pDNA com a TRP3 em diferentes relações

mássicas (pDNA:TRP3). As medidas de tamanho de partículas foram

realizadas em triplicata e indicam que, em baixas quantidades de TRP3 (1:0,5

à 1:4), o complexo possui um tamanho relativamente pequeno (<200 nm). A

partir da relação 1:5 há aumento de tamanho do complexo formado,

provavelmente devido a região de isoneutralidade que leva a agregação como

dito anteriormente. Aumentos sucessivos de TRP3 em combinação com o DNA

indicam que, nas relações 1:30 e 1:60, o complexo formado obteve tamanhos

médios menores que 100 nm, evidenciando a capacidade acentuada de

condensação do matérial genético por parte da TRP3. Estes resultados estão

de acordo aos obtidos anteriormente com a mesma proteína (TRP3) pelo nosso

grupo de pesquisa cujo trabalho se encontra em fase de submissão para

publicação em revista científica.

Figura 16. Análise da interação do pDNA com a TRP3 (CBs) pelo ensaio de retardo em gel

de agarose (0,8%). Foram estudadas seis relações mássicas pDNA:TRP3 (1:0,5; 1:1; 1:2; 1:5;

1:30 e 1:60), como mostrado na legenda do gel.

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61

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

Diâ

me

tro

dio

(n

m)

Relação Mássica (pDNA:TRP3)

1:0,5 1:11:2

1:4

1:51:8

1:30 1:60

A Figura 18 apresenta o perfil de potencial zeta dos CBs (pDNA:TRP3)

na diferentes relações mássicas estudadas. Na formação dos complexos,

foram combinados 1 µg de pDNA com quantidades crescentes de TRP3 (1 µg,

4 µg, 30 µg e 60 µg). As medidas do potencial zeta foram feitas em triplicata e

indicam que, ao se adicionar quantidades crescentes da proteína ao pDNA,

ocorre uma inversão de valores negativos para valores positivos de potencial

zeta a partir da relação mássica 1:8. Além disso, observa-se que a partir da

relação anteriormente citada os valores tendem a continuar positivos

adicionando-se quantidades maiores de proteína.

Figura 17. Determinação do diâmetro médio, em número, do complexo binário (CBs)

pDNA:TRP3 em várias relações mássicas. Os números próximos a cada ponto indicam as

relações mássicas (pDNA:TRP3) estudadas.

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62

-25

-20

-15

-10

-5

0

5

10

15

20

25P

ote

nci

al Z

eta

(m

V)

Relação Mássica(pDNA:TRP3)

1:4

1:81:30

1:60

5.3.3 Caracterização dos Complexos Pseudo-Ternários (CPTs,

pDNA:TRP3:Lipossoma)

Assim como foi feito com a protamina, foi avaliada a capacidade do

lipossoma de incorporar os CBs (pDNA:TRP3) para a formação dos CPTs

(pDNA:TRP3:lipossoma), através do ensaio de migração em gel de agarose

(0,8%). O pDNA livre migra em direção ao pólo positivo, gerando dois tipos de

bandas, como pode ser observado na Figura 19. Nota-se que o lipossoma foi

capaz de incorporar os CBs nas várias relações mássicas pDNA:TRP3

estudadas (1:1; 1:4, 1:30 e 1:60). Em todas as relações mássicas de

pDNA:TRP3 usadas foram adicionadas quantidades fixas de lipossomas (15 µl

na concentração de 2,4 mM) para a formação do CPT, assim como foi feito

quando utilizamos a protamina como agente condensador do pDNA.

Figura 18. Determinação do potencial zeta dos CBs (pDNA:TRP3) para diferentes relações

mássicas (1:4, 1:8, 1:30 e 1:60), mostrando a mudança para valores positivos a partir da

relação 1:8. O ensaio foi feito em triplicata.

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63

pDNA 1:1 1:4 1:30 1:60

A Figura 20 apresenta a distribuição dos tamanhos dos complexos

pseudo-ternários formados pela combinação do pDNA:TRP3 (diferentes

relações mássicas) com o lipossoma. Pode-se observar que não houve

alterações significativas nos tamanhos dos complexos pseudo-ternários

formados, independentemente das relações mássicas de pDNA:TRP3 usadas

em combinação com o lipossoma. A Tabela II mostra com mais detalhes os

valores obtidos dos tamanhos de partículas pseudo-ternárias, variando a

relação mássica do CB (pDNA:TRP3), e também os valores de

polidispersidade. Podemos observar que os valores de polidispersidade

encontrados foram baixos, evidenciando a homogeneidade da solução

contendo os complexos.

Figura 19. Análise da incorporação do complexo binário (pDNA:TRP3) pelos lipossomas em

gel de agarose (0,8%) para a formação dos CPTs. pDNA (Controle positivo) e as 4 relações

mássicas estudadas do complexo pDNA:TRP3 (1:1; 1:4; 1:30; 1:60).

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64

0

20

40

60

80

100

120

140

160D

iâm

etr

o M

éd

io (n

m)

Relação Mássica (pDNA:TRP3)

1:1

1:41:30

1:60

Relação Mássica

(µg/µg)

Diâmetro Médio

(nm)

Polidispersidade

(PDI)

1:1 134,4 ± 7,7 0,336 ± 0,013

1:4 106,0 ± 1,1 0,337 ± 0,085

1:30 101,0 ± 0,3 0,260 ± 0,008

1:60 90,5 ± 1,9 0,315 ± 0,051

Lipossoma Vazio 96,4 ± 0,4 0,115 ± 0,011

Figura 20. Distribuição dos tamanhos, em número, dos complexos pseudo-ternários (CTPs)

formados pela combinação do pDNA:TRP3 em relações mássicas variadas (1:1, 1:4, 1:30 e

1:60) com o lipossoma (quantidade fixa).

Tabela II - Tamanho médio e polidispersidade dos CPTs formados com diferentes relações

mássicas (pDNA:TRP3).

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65

A Figura 21 mostra o perfil de potencial zeta dos complexos pseudo-

ternários formados pela combinação dos complexos binários pDNA:TRP3, em

relações mássicas variadas (1:1, 1:4, 1:30 e 1:60), com o lipossoma catiônico

(quantidade fixa). Pode-se observar que, em todas as relações mássicas

estudadas para a formação do complexo pseudo-ternário, foram obtidos

valores positivos deste complexo o que demonstra sua viabilidade para as

transfecções in vitro. Além disso, em relações mássicas baixas (1:1 e 1:4),

nota-se que a carga superficial do CPT formado pela combinação com o

lipossoma manteve valores mais altos (>+30 mV) quando comparados a

relações mássicas maiores do complexo binário (1:30 e 1:60). Vale ressaltar

ainda que na relação 1:60 o valor do potencial zeta obtido para o complexo foi

menor (+11,9 mV) que o obtido nas demais relações mássicas estudadas.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Po

ten

cial

Ze

ta (

mV

)

Relação Mássica (pDNA:TRP3)

1:1

1:4

1:30

1:60

Figura 21. Medidas do potencial zeta dos complexos pseudo-ternários (CTPs) formados a

partir da combinação do pDNA:TRP3 (relações mássicas variadas) com o lipossoma catiônico

(quantidade fixa).

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66

5.4 Ensaios de Transfecção em Células de Mamífero (HeLa)

Foram realizados ensaios de transfecção dos complexos binários e

pseudo-ternários (utilizando-se as proteínas protamina e TRP3) em células

HeLa buscando-se correlacionar os parâmetros físico-químicos obtidos nos

estudos anteriores com a eficiência de entrega gênica in vitro. Assim, a

eficiência de transfecção é aqui apresentada na forma de porcentagem de

células transfectadas, assim definidas por expressarem a proteína verde

fluorescente (GFP), cujo gene está inserido no pDNA entregue às células

("gene repórter") pelos diferentes vetores estudados. A quantificação da

transfecção foi realizada por citômetria de fluxo e os ensaios foram feitos

sempre em triplicata (Figura 22).

0

5

10

15

20

25

30

lula

s Tr

ansf

ect

adas

(%

)

0,5

14,4

0,4

11,7

0,7

12,5

0,3

10,0

0,6

25,3

13,7

24,6

11,1

23,2

Figura 22. Eficiência de transfecção das células HeLa utilizando-se os complexos binários

pDNA:protamina (1:0,1; 1:0,5 e 1:1,5) e pDNA:TRP3 (1:1; 1:30 e 1:60), e complexos pseudo-

ternários nas mesmas relações avaliadas para o complexo binário. Os complexos pDNA:Lipossoma

e pDNA:lipofectamina incluídos como controles. Os ensaios foram realizados em triplicata.

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67

Vale ressaltar que, em todos os complexos (CBs, CPTs, Lipossoma e

Lipofectamina) utilizados neste ensaio, foi usada a quantidade fixa de 1 µg de

pDNA. Dessa maneira em cada ”poço”, contendo 50.000 células, havia 1 µg de

material genético. Pelos resultados obtidos, nota-se que o complexo binário

pDNA:protamina nas relações mássicas usadas (1:0,1; 1:0,5 e 1:1,5) não foi

capaz de transfectar eficientemente as células, o que é demonstrado pela baixa

expressão do gene repórter GFP. Podemos notar que quando foi adicionado o

lipossoma para a formação do complexo pseudo-ternário (1:0,1) foi obtido um

número levemente superior de células transfectadas (14,4%) quando

comparado aos outros complexos do mesmo tipo e também ao complexo

pDNA:lipossoma (11,1%), ainda que esse resultado não seja estatisticamente

significativo.

Estes resultados não estão completamente em acordo com os obtidos

por Chen et al. (2011), onde a combinação da protamina com o DNA mostrou

uma atividade de transfecção muito baixa, mas quando combinada com os

lipossomas catiônicos, aumentou consideravelmente (37 vezes) a eficiência de

transfecção em células A549. Outro estudo realizado por Dokka et al. (2000)

avaliou a eficiência de transfecção de lipoplexos combinados com protamina e

DEAE-dextran em macrófagos. Os resultados obtidos mostraram que a

protamina sozinha ou em combinação com a DEAE-dextran não teve nenhum

efeito significativo na transfecção gênica. Por outro lado, foi demonstrado que a

protamina aumentou efetivamente a atividade de transfecção em combinação

com todos os agentes lipossomais testados, sugerindo que, devido a sua

versatilidade e simplicidade, poderia ser usada como um adjuvante em uma

variedade de protocolos para transferência gênica. Outro trabalho desenvolvido

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68

por Yuan et al. (2010) mostrou que a combinação de nanopartículas lipídicas

aniônicas com protamina e DNA (LN:protamina:DNA) aumentou a eficiência de

transfecção mesmo na presença de soro, com uma expressão gênica (gene

repórter Luciferase) de 72 horas. Nesse mesmo estudo, relatou-se que o

complexo binário DNA:protamina foi capaz de transfectar razoavelmente as

células, entretanto, a relação mássica usada (1:2) foi maior em comparação a

usada neste trabalho. Além disso, existe a diferença entre a expressão dos

genes repórteres GFP e LUC (Luciferase) que deve ser levada em

consideração, de modo que o LUC possui como característica uma maior

sensibilidade, devido a sua detecção ser baseada na relação enzima/substrato

(Van Gaal et al., 2011). De maneira geral, a melhor eficiência de transfecção

dos complexos LPD (Lipídio:protamina:DNA) em relação aos lipoplexos

(lipídios:DNA) é atribuída a maior capacidade fusogênica dos LPDs, fenômeno

relacionado a maior interação dos lipídios celulares aniônicos e catiônicos

devido a ausência de competição com DNA dentro do envelope lipídico e ao

menor número de camadas do lipídio que precisa ser retirada (Caracciolo et al.,

2011).

Ao analisarmos os complexos (CB e CPT) formados pela proteína TRP3

desenvolvida pelo grupo, podemos observar que a TRP3 em combinação com

o pDNA (CB) na relação 1:1 não foi capaz de transfectar eficientemente as

células (0,1%). Já na relação 1:30, houve um ligeiro aumento da transfecção

(0,6%). Entretanto, ao adicionarmos uma quantidade maior da proteína (60 μg),

foi verificada uma melhora significativa na transfecção das células (13,6%).

Esta melhora significativa da eficiência de transfecção na relação 1:60 foi

observada mesmo constatando que este complexo possui potencial zeta menor

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(+11,2 mV) quando comparado ao complexo na relação 1:30 (+18 mV). Em

relação ao tamanho dos complexos nas mesmas relações, não houve diferença

significativa do diâmetro médio (1:30/65,5 nm e 1:60/75,83 nm). Estes

resultados sugerem que o potencial zeta positivo apesar de ser importante para

a transfecção, não necessariamente precisa ter um valor muito elevado para

uma eficiente transfecção. Esse fato pode ser evidenciado pela constatação

que o CB na relação 1:60 foi capaz de transfectar eficientemente as células

mesmo possuindo valor de potencial zeta menor em comparação ao CB na

relação 1:30. Neste sentido, somos levados a inferir que a superioridade de

transfecção do complexo na relação 1:60 provavelmente se deve à facilitação

do tráfego intracelular proporcionado pela maior relação DNA:TRP3.

Ao adicionar-se lipossoma aos CBs, houve aumento da eficiência de

transfecção das células em todas as relações mássicas estudadas (1:1, 1:30 e

1:60) em comparação aos complexos binários nas mesmas relações, sendo

alcançados valores de eficiência de 10,0%, 25,3% e 24,6%, respectivamente.

Analisando-se os CPTs nas duas relações com maior eficiência de transfecção

(1:30 e 1:60), nota-se novamente que o valor mais elevado do potencial zeta

(1:30/+25,7 mV; 1:60/+11,9 mV) não proporcionou um efetivo aumento da

eficiência dos complexos. Os valores de diâmetro médio dos complexos nas

relações 1:30 e 1:60 foram ligeiramente diferentes, sendo obtidos valores de

101 nm e 90,5 nm, respectivamente. Vale destacar que o CPT na relação 1:60

não foi capaz de atingir níveis de transfecção maiores do que os encontrados

na relação 1:30. Portanto, os dados físico-químicos referentes aos CPTs

sugerem, assim como aos CBs, que um valor positivo de potencial zeta é

importante para a viabilização na transfecção. No entanto, valores positivos

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70

mais elevados não necessariamente levam a um aumento da eficiência da

transfecção.

Em relação ao tamanho, podemos deduzir que valores iguais ou menores

que 100 nm são responsáveis por aumento da eficiência do processo de

transfecção. Isso fica mais evidente comparando-se os valores apresentados

na Tabela 2. Já o lipossoma complexado diretamente com o pDNA foi capaz

de transfectar 11% das células, e a lipofectamina, 23,2%. Esses resultados de

transfecção utilizando a TRP3 em combinação ao lipossoma indicam que o

CPT formado em relação aos CBs e ao lipossoma foi capaz de melhorar a

eficiência de transfecção das células, provavelmente explorando a capacidade

dos lipossomas de melhorar a entrada na célula e facilitar o escape

endossomal e a capacidade da TRP3 de condensar o pDNA, além de facilitar o

tráfego intracelular e a entrada no nucleo. Estes resultados obtidos são

concordantes aos obtidos por Yamano et al. (2011), onde foi demonstrado que

a combinação do lipídio FuGene com uma sequência modificada do peptídeo

TAT foi capaz de aumentar a eficiência de transfecção em cinco linhagens

celulares testadas, quando comparada ao lipídio e ao peptídeo administrados

sozinhos. Os autores sugerem que essa melhora na eficiência do complexo

ternário se deve a condensação do material genético por parte do peptídeo,

similar ao uso da protamina, o que levou ao aumento do potencial zeta,

diminuição do tamanho das partículas e melhora na absorção do complexo

pela via da endocitose. Outro trabalho, desenvolvido por Del Pozo Rodrígues

et al. (2009), mostrou que a adição do peptídeo SAP (Sweet Arrow Peptide) ao

DNA, com posterior incorporação em nanopartículas de lipídios sólidos (SLN)

foi capaz de aumentar a eficiência de transfecção em células HEK293 e

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ARPE-19 comparado aos vetores SLN:DNA. Esse aumento da transfecção,

pelos complexos SAP:DNA:SLN é explicado pelo aumento da entrada destes

vetores nas células por endocitose do tipo caveolae/raft ao invés da endocitose

por clatrina. A combinação de peptídeos com lipossomas também foi estudada

por Rosada et al. (2012), onde foi desenvolvida uma vacina de DNA contra a

tuberculose. Nesse estudo, foi demonstrado que a complexação de um

peptídeo sintético, contendo sinal de localização nuclear, com o DNAhsp65, e

posteriormente incorporação dentro das estruturas lipossomais, proporcionou

efeitos terapêuticos maiores que quando comparados ao lipossoma/DNAhsp65

ou apenas o DNA. Ademais, foi notada uma efetiva redução da quantidade de

DNAhsp65 administrada através de uma rota indolor nos animais. Outra

abordagem interessante foi a estudada por Cheng et al. (2013) onde os

pesquisadores desenharam e sintetizaram quatro pequenos peptídeos

conjugados com uma cadeia de colesterol para formar complexos com a

capacidade de formar vesículas similares aos lipossomas para entrega gênica.

Os resultados mostraram que o complexo anfifílico peptídeo-colesterol formado

foi capaz de se auto agregar dentro de micelas catiônicas em baixas

concentrações (<85µg/mL). Além disso, as micelas formadas aumentaram a

densidade da carga catiônica e condensaram mais eficientemente o DNA, o

que levou a um aumento da expressão gênica tanto nas células HEK-293 e

MCF-7.

5.4.1 Estudos de Citotoxicidade

No desenvolvimento de um novo vetor de entrega gênica, outros

fatores são importantes além da eficiência de entrega gênica. Um destes

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fatores é a toxicidade. Para avaliar se os complexos estudados levam ao

aumento da morte celular in vitro, foram realizados ensaios de viabilidade

celular depois do tratamento com os complexos estudados (Figura 23).

Analisando-se os resultados, pode-se observar que os complexos binários

(CBs) formados pela protamina (1:0,1; 1:0,5 e 1:1,5) não tiveram efeito

significativo sobre a viabilidade celular. Quando se incorporou o lipossoma para

a formação dos CPTs, houve uma diminuição de aproximadamente 25% da

viabilidade nas relações (1:0,1 e 1:0,5), e de 36% na relação 1:1,5. Ao

analisarmos os complexos formados pela TRP3, podemos inferir que apenas a

TRP3 em combinação com o pDNA (complexo binário) na relação 1:1 não teve

efeitos significativos na viabilidade celular (99,4%). Em relações maiores da

proteína (1:30 e 1:60), houve uma ligeira diminuição da viabilidade, para 92,9%

e 93,3% respectivamente.

0

20

40

60

80

100

120

Via

bil

idad

e C

elu

lar

(%) 100

74,7

98,9

75,8

99,3

73,2

97,9

63,5

99,4

70,6

92,9

45,4

93,3

32,9

83,3

Figura 23. Ensaio de citotoxicidade de todos CBs, CPTs, lipossoma e lipofectamina, usando

tanto a protamina como a TRP3 como agente condensador do material genético. As barras de

erros indicam o desvio entre ensaios realizados em triplicata.

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O complexo pDNA:lipossoma foi responsável por uma diminuição de

25% da viabilidade das células, o que já é significativo em se pensando em

futura utilização (estudos) in vivo desses complexos. Entretanto, foi observado

que os complexos pseudo-ternários, em todas as relações mássicas de

pDNA:TRP3 (1:1, 1:30 e 1:60), causaram uma diminuição da viabilidade das

células, mesmo comparada ao complexo pDNA:lipossoma. Assim, diante dos

resultados obtidos para a transfecção, foi verificado que o complexo pseudo-

ternário contendo a TRP3 na relação 1:30 foi que obteve a maior eficiência de

transfecção (25,3%). Entretanto, também foi constatada uma maior morte

celular, sendo obtidos valores de viabilidade de 45,4%, o que é um fator

negativo tendo-se em vista uma possível aplicação in vivo destes complexos.

Ainda nesse sentido, é notável a eficiência razoável e baixa citotoxicidade do

complexo binário pDNA:TRP3 na relação mássica 1:60.

5.4.2 Efeito da Dose do CPT (1:30) sobre a Transfecção e a Citotoxicidade

Foram realizados ensaios de transfecção utilizando-se diferentes

dosagens do CPT (pDNA:TRP3 na relação mássica 1:30), buscando-se avaliar

a melhor dose onde fosse obtida menor citotoxicidade com a maior eficiência

de transfecção (Figura 24). A análise dos dados permite inferir que há um

aumento da porcentagem de células transfectadas a medida que se aumenta a

dosagem testada (1,5 µg; 1 µg; 0,8 µg; 0,5 µg e 0,3 µg). A Figura 25 mostra o

nível de citotoxicidade desses CPTs estudados nas várias dosagens testadas.

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74

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

lula

s T

ran

sfe

cta

da

s (%

)34,7

27,7

22,7

10,0

4,3

10,5

Os ensaios de citotoxicidade nas diferentes dosagens dos CPTs

revelaram que, de maneira semelhante à eficiência de transfecção, houve uma

tendência ao aumento da morte das células quando aumentamos a dosagem

dos complexos. Assumindo-se uma porcentagem máxima de morte celular

aceitável de aproximadamente 10%, apenas a dosagem de 0,3 µg enquadrou-

se nessa faixa de valores, com uma eficiência de transfecção de 4,3%. Esse

valor de eficiência de transfecção é de aproximadamente um terço do valor

obtido para o complexo binário pDNA:TRP3 na relação mássica 1:60, que

apresentou níveis similares de citotoxicidade.

Figura 24. Ensaio de transfecção em célula HeLa utilizando-se diferentes dosagens (1,5 µg,

1,0 µg, 0,8 µg, 0,5 µg e 0,3 µg) dos CPTs contendo a proteína TRP3 na relação 1:30. O

experimento foi realizado em triplicata e as barras de erro indicam o desvio padrão.

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75

0

20

40

60

80

100

120

Via

bil

ida

de

Ce

lula

r (%

)

30,437,4

46,5

74,2

89,9

73

100

5.4.3 Avaliação do Tráfego Intracelular dos Complexos (CBs e CPTs)

Para conhecermos melhor os mecanismos relacionados a maior

eficiência de transfecção de alguns complexos com a TRP3 usando 1µg de

DNA (padrão) (CBs/1:60 e CPTs/1:30), foram realizados ensaios de

transfecção usando-se duas drogas, a cloroquina e o nocodazol. A primeira

constitui-se de uma base fraca usada no tratamento contra a malária. Outra

função desempenhada pela cloroquina é capacidade de se acumular nas

vesículas lisossomais, impedindo a acidificação dos mesmos, levando também

à expansão do volume e fragilização da membrana, facilitando assim o

rompimento das vesículas. Neste sentido, este composto é muito utilizado na

área de terapia gênica para investigar o aprisionamento de complexos no

interior de endossomas e lisossomas. Vale ressaltar que o escape endossomal

Figura 25. Ensaio de citotoxicidade em célula HeLa utilizando-se diferentes dosagens (1,5 µg,

1,0 µg, 0,8 µg, 0,5 µg e 0,3 µg) dos CPTs contendo a proteína TRP3 na relação 1:30. O

experimento foi realizado em triplicata e as barras de erro indicam o desvio padrão.

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é uma das barreiras críticas para uma eficiente entrega gênica. Já o Nocodazol

é uma droga que atua na despolimerização da rede de microtúbulos. Desse

modo, é possível se avaliar a contribuição da rede de microtúbulos para o

tráfego intracelular dos complexos formados. Os resultados referente as

transfecções usando a cloroquina são mostrados na Figura 26.

0

50

100

150

200

250

300

350

400

Efic

iên

cia

de

Tra

nsf

ecç

ão r

ela

tiva

(%

)

100

300

100 100

216

135

Podemos observar pelos resultados que a cloroquina promoveu um

aumento mais acentuado (3 vezes) na eficiência de transfecção no CB (1:60)

quando comparado ao CPT (2 vezes) e ao complexo pDNA:lipossoma (apenas

35%). Esses dados corroboram com os encontrados na literatura que apontam

os lipossomas como facilitadores do escape endossomal, devido a sua

capacidade fusogênica com membranas (Akita et al., 2004). Seguindo este

raciocínio, nossos resultados indicam que a cloroquina melhorou pouco a

Figura 26. Ensaio de transfecção usando a droga cloroquina para se avaliar o envolvimento

dos endossomas na eficiência de transfecção de células HeLa. Os resultados dos complexos

com a cloroquina mostrados sempre foram comparados em relação ao mesmo complexo sem

a droga, justamente por isso estes são considerados 100%. Os complexos usados foram: CB

(1:60), CPT (1:30) e DNA:lipossoma. Os experimentos foram realizados em triplicata.

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eficiência de transfecção quando utilizamos o complexo pDNA:lipossoma. No

entanto, no caso do CB (1:60) observou-se uma melhora significativa na

eficiência de transfecção quando foi utilizada a cloroquina, sugerindo que a

proteína por si não é eficiente em facilitar o escape endossomal, mesmo

contendo uma sequência de histidinas. Em relação ao CPT, foi observado uma

melhora na eficiência de transfecção que tende a um valor intermediário ao

encontrado nos outros dois complexos (CB e pDNA:lipossoma), sugerindo um

efeito combinado entre TRP3 e lipossoma. Portanto, os resultados indicam

alteração do tráfego intracelular dependendo da composição dos complexos. A

adição do lipossoma ao complexo binário, formando os complexos pseudo-

ternários, parece facilitar o escape endossomal, levando a maior eficiência de

transfecção e, também, maior citotoxicidade.

De forma a avaliarmos o envolvimento dos microtúbulos na transfecção

dos diferentes complexos estudados, foram realizados ensaios de transfecção

usando o Nocodazol (Figura 27). Podemos observar que, através da utilização

do Nocodazol, houve uma diminuição de 92% da eficiência de transfecção do

CB (1:60), o que sugere uma elevada dependência dos microtúbulos no tráfego

intracelular do complexo utilizando TRP3. Este fato sugere que a elevada

capacidade de transferência do material genético por parte do CB (1:60) se

deve a um conjunto de fatores como a compactação e carga positiva da

partícula, como mostrado através dos ensaios mostrados anteriormente, mas

também devido ao rápido transporte do pDNA pela rede de microtúbulos,

facilitando o tráfego intracelular. Em relação ao CPT (1:30) não foi notado

diferença significativa em relação a eficiência de transferência do material

genético. Já quando analisamos o complexo pDNA:lipossoma, notamos que o

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Nocodazol foi responsável por um aumento de duas vezes na eficiência. Essa

diferença entre as eficiências de transfecção dos complexos na presença do

Nocodazol mais uma vez indica rotas e interações distintas durante o tráfego

intracelular dos diferentes complexos. É possível que, no caso do lipossoma, a

rede de microtúbulos funcione como uma barreira física ao tráfego intracelular,

diferentemente do que acontece quando a TRP3 está exposta no complexo

(caso do CB), o que pode facilitar o movimento pelo interior das células através

da rede de MTs pela interação com dineínas.

0

50

100

150

200

250

Efic

iên

cia

de

Tran

sfec

ção

Rel

ativ

a (%

)

100100 100

201,7

93,5

8

Figura 27. Ensaio de transfecção utilizando a droga nocodazol para se avaliar o envolvimento

dos microtúbulos na eficiência de transfecção de células HeLa. Os complexos usados foram:

CB (1:60), CPT (1:30) e DNA:lipossoma. Os dados obtidos do CB (*) foram obtidos pela

aluna Marianna Favaro (Favaro, 2012). Os experimentos foram realizados em triplicata.

* *

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79

5.4.4 Acessibilidade ao DNA presente nos CBs e CPTs usando a TRP3

Foi realizado um estudo de acessibilidade ao pDNA incorporado aos

CBs (1:60) e CPTs (1:30) utilizando também a TRP3 para avaliar se a diferença

nas eficiências de transfecção poderiam estar relacionadas ao pDNA

empacotado ou exposto para a ação de nucleases. Os resultados são

mostrados na Figura 28.

0

10

20

30

40

50

60

CB (1:30) CB (1:60) CPT (1:30) CPT (1:60) DNA:lipossoma

Flu

ore

scê

nci

a R

ela

tiv

a(%

do

co

ntr

ole

)

7,9 7,2 8,3 7,2

53,4

Podemos observar pelos resultados que não houve diferença

significativa em relação à acessibilidade ao DNA presente tanto nos CBs

quanto nos CPTs. Isso, entretanto, indica uma capacidade acentuada da TRP3

em condensar e compactar o pDNA (CBs e CPTs), sendo obtidos valores de

acessibilidade menores aos encontrados para o complexo pDNA:lipossoma

(53,4%). Esses resultados indicam que, além das diferenças relativas ao

Figura 28. Ensaio de Acessibilidade ao DNA feito através do Kit de quantificação de DNA fita

dupla (PicoGreen Quant-iT, Invitrogen). Os resultados comparam a intensidade de

fluorescência do DNA presente nos CBs e CPTs em relação ao DNA livre, usado como

controle do experimento.

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tráfego intracelular comentadas acima, a presença da proteína TRP3 nos

complexos aumenta o grau de proteção do pDNA contra a degradação por

nucleases durante o tráfego intracelular, o que está reportado ser um dos

fatores a afetar a eficiência de transfecção (Azzoni et al. 2007).

5.4.5 Estudo da Morfologia dos Complexos

Foi feita uma análise morfológica das estruturas formadas a partir da

complexação inicial do pDNA com a TRP3 para a formação dos complexos

binários (CBs), seguido pela adição do lipossoma para a formação dos

complexos pseudo-ternários (CPTs) (Figura 29). As condições detalhadas para

a formação desses complexos foram descritas anteriormente, de modo que são

as mesmas usadas para os ensaios de transfecção. A técnica utilizada para a

detecção das imagens foi a do tipo negativa (negative staining), utilizada em

vários trabalhos do mesmo tipo (Espín et al., 2011; Yuan et al., 2010; Peng et

al., 2012)) para a visualização de partículas através da microscopia eletrônica

de transmissão (MET). Podemos observar nas micrografias que os CBs (A e

B) formados apresentam morfologia aproximadamente esférica, apresentando

certo grau de agregação e polidispersidade. Esses resultados usando a TRP3

como agente condensador estão em acordo com os obtidos por Villaverde e

colaboradores (2011), onde foram estudadas duas proteínas de fusão (HKRN e

HNRK) para estudos de entrega gênica. Neste caso, os pesquisadores

estudaram a arquitetura das proteínas e suas interações com o DNA e

observaram que as partículas formadas (complexos binários) tinham tamanho

de aproximadamente 80 nm e imagens de MET semelhantes às obtidas neste

trabalho. Ao analisarmos as micrografias dos CPTs (C e D) é possível observar

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partículas de variada morfologia, desde estruturas esféricas até estruturas

alongadas. Vale ressaltar que nestes complexos é possível a visualização de

um halo ao redor do complexo da ordem de 4 nm, que acreditamos ser o

lipossoma catiônico, visto que e metodologia usada para a produção do

lipossoma catiônico é unilamelar (Balbino, 2012) com estruturas mais

uniformes. Esses resultados, portanto, indicam que o complexo binário

contendo pDNA e TRP3 foi encapsulado em uma estrutura unilamelar.

100 nm100 nm

100 nm 100 nm

A B

C D

6. Conclusões

Diante dos resultados obtidos podemos tirar as seguintes conclusões:

Figura 29. Microscopia eletrônica de transmissão dos complexos binários (CBs) nas

relações 1:30 (A) e 1:60 (B), e dos complexos pseudo-ternários (CPTs) nas relações 1:30 (C)

e 1:60 (D). As setas vermelhas mostram o halo do lipossoma formado nos CPTs. As escalas

de barras indicam 100 nm em todas as micrografias (A, B, C e D).

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6. Conclusões

Os resultados obtidos nos levam as seguintes conclusões enumeradas a

seguir:

1) A protamina como agente condensador do DNA não foi capaz de melhorar a

eficiência de transfecção mesmo quando combinada ao lipossoma catiônico

para a formação dos complexos pseudo-ternários (várias relações estudadas);

2) Ao utilizarmos a TRP3 como agente condensador do pDNA, foi observado

que a proteína em combinação com o DNA (CB) na relação 1:60 foi capaz de

efetuar uma transfecção eficiente, obtendo valores semelhantes ao complexo

pDNA:Lipossoma mas com menor citotoxicidade;

3) Ao adicionarmos o lipossoma para a formação dos complexos pseudo-

ternários (CPTs) foram obtidos valores muito melhores de transfecção, tanto na

relação 1:30 como na 1:60, evidenciando o efeito sinérgico do lipossoma e da

TRP3 na superação das barreiras intracelulares para expressão gênica;

4) Foi observado que o valor de potencial zeta positivo, apesar de ser

importante para a entrada na célula (interação eletrostática), não precisa ser

necessariamente elevado para que o complexo proporcione uma alta eficiência

de transfecção;

5) O tamanho dos complexos se mostrou de extrema importância no processo

de transfecção, sugerindo a utilização de vetores com tamanhos iguais ou

menores que 100 nm;

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6) Os ensaios de transfecção utilizando o Nocodazol sugerem que os

microtúbulos desempenham um papel importante no transporte intracelular de

cargas da periferia ao núcleo da célula;

7) As transfecções utilizando a cloroquina demonstraram que os CBs têm

maiores dificuldades de realizar o escape endossomal, de forma que sem esta

barreira o CB (1:60) seria provavelmente o melhor sistema da entrega;

8) O ensaio de acessibilidade indicou que os CBs e CPTs formado pela TRP-3

(1:30 e 1:60) não apresentaram grandes diferenças em relação ao pDNA

exposto a ação de nucleases;

9) Os ensaios de citotoxicidade revelaram que a TRP3 em combinação direta

ao pDNA tem um baixo efeito na morte das células, entretanto em combinação

ao lipossoma, que já possui alta toxicidade, acentuou ainda mais a morte

celular;

10) Assim, podemos concluir que os CPTs formado pela combinação da TRP3

com o lipossoma catiônico apesar de alcançar uma alta eficiência de

transfecção, causa efeitos citotóxicos elevados nas células, o que

impossibilitaria a aplicação in vivo. Dessa forma acreditamos que seria mais

interessante à utilização unicamente da TRP3 para a formação de um vetor

não viral eficiente e com baixa citotoxicidade nas células.

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7. Sugestões para Continuação dos Trabalhos

Tendo em vista os resultados obtidos ao logo do trabalho, mais

especificamente em relação à alta eficiência de transfecção dos CPTs usando

a TRP3 como agente condesador e, também, a alta taxa de morte celular, seria

interessante usar outra molécula que pudesse intercalar a interação entre a

TRP3 e o lipossoma catiônico. Assim, recentemente o grupo tem trabalhado

com nanopartículas de prata em combinação com a protamina para a produção

de vetores não virais para entrega gênica. Os resultados iniciais mostraram que

o complexo formado (pDNA:protamina:Nanopartículas) foi capaz de promover a

transferência do material genético com baixo efeito na viabilidade celular.

Nesse sentido, visando unir as duas estratégias, de modo a aumentar a

eficiência de transfecção minimizando os efeitos na morte celular, uma ideia

interessante seria produzir um complexo formado pelo pDNA, TRP3,

nanopartículas de prata e lipossoma catiônico. Vale ressaltar que as interações

eletrostáticas de cada molécula permitiriam essa formação, visto que as

nanopartículas possuem cargas negativas e os lipossomas cargas positivas.

Outra possibilidade seria tentar otimizar a composição do lipossoma, de forma

a tentar reduzir a citotoxicidade dos CPTs. Essa estratégia deveria ser pensada

com calma em conjunto com o grupo da Professora Dra. Lucimara da Unicamp

com grande experiência no assunto.

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