Raizes Do Brasil-Resenha
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Nome: Rogério Batista de Souza Reis Contato: [email protected] em Gestão de Políticas Públicas – Each/USPFormação Econômica e Social do Brasil
Resenha do livro Raízes do Brasil
Esta obra tem por objetivo nos mostrar como ocorreu a formação das cidades e
quais fatores contribuíram e/ou dificultaram tal acontecimento. Também trata do tráfico
e comércio de escravos. Mais adiante, veremos uma comparação entre o modo de
acupação espanhol e o português e, por fim, analisaremos como se deu a formação do
sistema patrimonialista em nosso país.
Logo de início, Sérgio Buarque afirma que nossas bases coloniais foram
formadas fora do meio urbano e que as cidades eram apenas dependências daquelas. As
profissões liberais e a política eram exercidas por filhos de fazendeiros, que acabaram
por ser responsáveis pelo desenvolvimento urbano que, futuramente, terminaria por
arruinar o modelo anterior de funcionamento do Estado e suas bases econômicas,
devido à ideais de cunho liberal. Junto à essas medidas, foi instituída a lei Eusébio de
Queirós, que seria determinante para o fim da escravidão, demonstrando os preceitos
liberais que faziam parte mo mundo urbano daquele período. Apenas em Pernambuco as
bases
coloniais tiveram o início de sua formação em meios urbanos em detrimento do meio
rural.
Por outro lado, mesmo após a lei Eusébio de Queirós os escravos continuaram a
vir para o Brasil, de maneira ilegal, mas de forma decrescente por mais algum tempo. O
tráfico era possível devido à corrupção que havia entre fiscais que eram responsáveis
coibir tais ações. Segundo Sérgio Buarque (p. 76), fazendo referências à palavras de
Mauá, a fundação do Banco do Brasil pode ter sido realizada para movimentar os
recursos do tráfico de escravos que estavam parados devido sua supressão do mesmo. E
desta maneira, o modelo econômico de base escrava estava chegando ao seu final.
A preferência dos senhores de engenho pelo mundo rural em detrimento do
urbano se dava pelo fato de que em suas terras, os senhores possuiam total domínio,
todos lhe obedeciam, tiravam seu sustento e, também, lá possuiam pessoas que
exerciam todo tipo de atividades; ou seja: um pequeno Estado independente dentro de
outro, onde prevalecia somente sua autoridade e vontade. Esta é uma cópia do modelo
antigo de propriedade, onde desde os escravos até os filhos dos senhores representam
uma família, o prolongamento de um corpo que é, por sua vez, subordinado ao patriarca.
Devido ao fato dessas fazendas possuírem os tipos de atividades que eram necessárias à
sobrevivências das pessoas, as áreas urbanas eram pouco frequentadas.
Dentro deste tipo de propriedade o poder destes senhores não possuía limites,
sendo por esse motivo que eles tinham preferência por esse regime. Por outro lado, com
a ascenção das profissões liberais e do mundo urbano, os personagens com maior
capacidade para assumirem essas funções eram os próprios senhores e seus
descendentes; e foi o que ocorreu. Este modelo de funcionamento dos engenhos, onde o
senhor possui poder ilimitado dentro de suas possessões perante seus escravos, família e
todos que residiam em suas posses, será utilizado como parâmetro para a formação
das instituições urbanas, onde as relações pessoais possuem primazia em detrimentos
das impessoais. E dessa forma podemos observar a formação de novas estruturas, mas
com modelos de funcionamento arcaicos devido à seus ocupantes. Neste período,
também fazia parte dos pensamentos destas pessoas que os trabalhos manuais eram
pouco dignificantes, ao contrário dos trabalhos intelectuais e do espírito.
As primeiras ideias republicanas, expressadas em forma de vários movimentos
realizados no século XIX, eram realizadas por aristocratas que possuiam propriedades
que funcionavam de acordo com este modelo arcáico o qual estes próprios
revolucionários criticavam.
Segundo Sérgio Buarque (p.89), pelo fato de não haver uma burguesia urbana,
esta (cidade) passou a ser dominada pelos senhores de terras, que por sua vez, mantendo
suas bases e mentalidade agrárias e, estando a frente de instituições que lhes conferiam
mais poderes, as terras passaram a ser concentradas nas mãos desta mesma classe,
mantendo um sistema senhorial do mundo rural tanto nas fazendas como nas cidades.
Em seguida, podemos observar que a colonização portuguesa não tinha como
objetivos a formação de cidades porque delas advinham instituições de poder local, o
que poderia ser responsável pela perda de controle de Portugal sobre sua colônia, ou no
caso, o Brasil. Desta maneira, enquanto o país possuísse bases agrárias, os senhores
continuariam tendo total controle e poder sobre essas propriedades, estando livres do
meio de dominação que representavam as cidades. Por outro lado, aqui no Brasil, os
responsáveis por assumirem as funções do mundo urbano foram os mesmos senhores de
engenhos e seus decendentes, ou seja: os meios de dominação permaneceram nas mãos
dos mesmos personagens que já os possuia, não alterando a situação vigente.
A colonização realizada pelos espanhois foi diferente da realizada pelos
portugueses. Os portugueses queriam manter sua colônia alienada para continuarem
dependentes, em algum aspécto, mantendo a metrópole como seu centro pensante. Já os
espanhois, procuraram estabelecer seus domínios através da criação de cidades, e para
tal feito, procuravam os melhores locais já existentes em termos de habitação, transporte
e recursos disponíveis. Seu estabelecimento era bem planejado. A diferença entre os
dois modos de colonização também pode ser observado no número de centros
educacionais de ensino superior implantados, que são em número bem maior em vários
países de dimensões muito inferiores ao Brasil, demonstrando a intenção de alienação
pretendida por Portugal. A vida intelectual na américa portuguesa era atrasada em
comparação à América espanhola.
Os bandeirantes, através de suas incursões ao interior, difundiam a língua tupi e
as crianças iam às escolas para aprender o português. O povoamento do interior do país
só ocorreu de fato no período do ouro, em Minas Gerais.
Este modelo de Estado formado por este patriarcalismo estava em desacordo
com o que deveria ser. Segundo Sérgio Buarque (p. 141), o Estado nasce para impor
limites aos excessos praticados pelas famílias; fato não verificado aqui. Este autor ainda
observa que na antiguidade, nas corporações de ofício, havia uma divisão natural e
hierarquica entre mestre e aprendiz, mas estes trabalhavam juntos e compartilhavam do
mesmo padrão de vida (sendo bom ou mal). Na modernidade, após a revolução
industrial, esta relação de pessoalidade desapareceu e emergiu a de impessoalidade, com
uma separação entre patrões e empregados, o que fez nascer uma divisão entre
classes.
No Brasil há dificuldade de desvincular os valores familiares das funções
públicas. Segundo este autor, os homens públicos de sucesso são aqueles que foram
mandados para outros lugares para se capacitarem e que acabaram perdendo esses
valores. Este autor ainda cita que Joaquim Nabuco compartilha desta mesma idéia. Para
este autor, nossas instituições públicas são tomadas pelos governantes como algo de
interesse próprio, com finalidades paticulares, diferentemente do ideal de burocracia
expressa por
Weber.
E finalizando, o modelo de governantes que se moldou a partir de tais costumes
ficou caracterizado pela cordialidade, que trata de situações que deveriam ser de
interesse geral da mesma maneira como tratariam de seus problemas pessoais, mas
sempre mantendo as relações de poder intacta, na qual se encontram acima dos demais.
Este tipo de relação pessoal se encontra até na religiosidade da população, que trata de
maneira muito íntima até santos de sua devoção. Assim, como observações realizadas
por estrangeiros, nas quais se atentam para a necessidade de fazerem amizades antes de
fazerem negócios, este tipo de atitudes são comuns em outras esféras, como nas
estatais. Desta maneira o homem cordial abrange, em seu círculo familiar, tanto as
relações de cunho particular como as de finalidade pública, não permitindo que Estado
exerça sua função que é, segundo Sérgio Buarque, “a superação dessa ordem doméstica
e familiar e que faz do indivíduo um cidadão portador de direitos e deveres perante o
Estado.” (p. 141)