RB 01 00 Desemprego Hoje

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Parte 1 - Cap.1 - Desemprego Hoje Tradução de: Antonio Russo Nesta página você pode ler o livro, em Inglês, de graça: http://www.robotswillstealyourjob.com/read Esta tradução mantém o espírito do autor original - Federico Pistono - estando disponível sob a mesma licença de uso: "Eu acredito fortemente que toda a informação deve ser livre, então eu decidi lançar meu livro sob uma licença: http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/3.0/deed.pt_BR" Desemprego Hoje Costumamos ter uma noção de quão bem (ou mal) as coisas estão ao ler as notícias e, ao olhar para o mundo à nossa volta. Vemos como vivemos, falamos com os nossos vizinhos, lemos jornais, blogs, tweets, e assistimos TV. Muito poucas pessoas encontram o tempo para verificar por si próprios as tabelas compridas e chatas do Factbook da OCDE, ou estatísticas do Departamento de Trabalho dos EUA . As colunas de negócios em jornais são muitas vezes cheias de jargão financeiro, que realmente não incentivam uma compreensão clara para aqueles que não estão familiarizados com os meandros do sistema econômico. Como resultado, a maioria das pessoas não tem a menor ideia sobre o que está realmente acontecendo. Um rápido olhar sobre as recentes estatísticas sobre o crescimento do emprego nos Estados Unidos e na Europa deveria deixar-nos um pouco preocupados, para dizer o mínimo. Em julho de 2011, o governo dos Estados Unidos divulgou um relatório mostrando que 117 mil novos postos de trabalho foram criados naquele mês, e o New York Times apresentou uma manchete com título promissor "EUA tem um forte crescimento sólido em julho" [1] . Mas, uma feia verdade estava escondida por trás desse véu de falsa esperança. Um crescimento de 117 mil postos de trabalho não foi ainda suficiente para compensar o crescimento da população (cerca de 130 mil pessoas todos os meses), e muito menos fazer diferença sobre os 12,3 milhões de

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Robôs Vão Roubar O Seu Emprego Mas Tudo BemComo sobreviver ao colapso econômico e ser feliz

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Parte 1 - Cap.1 - Desemprego Hoje Tradução de: Antonio Russo Nesta página você pode ler o livro, em Inglês, de graça: http://www.robotswillstealyourjob.com/read Esta tradução mantém o espírito do autor original - Federico Pistono - estando disponível sob a mesma licença de uso: "Eu acredito fortemente que toda a informação deve ser livre, então eu decidi lançar meu livro sob uma licença: http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/3.0/deed.pt_BR"

Desemprego Hoje Costumamos ter uma noção de quão bem (ou mal) as coisas estão ao ler as notícias e, ao olhar para o mundo à nossa volta. Vemos como vivemos, falamos com os nossos vizinhos, lemos jornais, blogs, tweets, e assistimos TV. Muito poucas pessoas encontram o tempo para verificar por si próprios as tabelas compridas e chatas do Factbook da OCDE, ou estatísticas do Departamento de Trabalho dos EUA . As colunas de negócios em jornais são muitas vezes cheias de jargão financeiro, que realmente não incentivam uma compreensão clara para aqueles que não estão familiarizados com os meandros do sistema econômico. Como resultado, a maioria das pessoas não tem a menor ideia sobre o que está realmente acontecendo. Um rápido olhar sobre as recentes estatísticas sobre o crescimento do emprego nos Estados Unidos e na Europa deveria deixar-nos um pouco preocupados, para dizer o mínimo. Em julho de 2011, o governo dos Estados Unidos divulgou um relatório mostrando que 117 mil novos postos de trabalho foram criados naquele mês, e o New York Times apresentou uma manchete com título promissor "EUA tem um forte crescimento sólido em julho" [1] . Mas, uma feia verdade estava escondida por trás desse véu de falsa esperança. Um crescimento de 117 mil postos de trabalho não foi ainda suficiente para compensar o crescimento da população (cerca de 130 mil pessoas todos os meses), e muito menos fazer diferença sobre os 12,3 milhões de

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empregos perdidos durante a recessão de 2008-2009. Mais tarde no artigo, descobrimos mais algumas coisas. O número oficial para a taxa de desemprego foi de 9,1%, o que já é incrivelmente alto, mas ele fica ainda mais preocupante quando se considera que um adicional de 8,4 milhões de pessoas estavam trabalhando em tempo parcial porque não conseguiu encontrar um emprego de tempo integral, e 1,1 milhão estavam tão desanimados que tinham deixado por completo de procurar trabalho . Se incluirmos essas pessoas, a medida mais ampla de desemprego foi de 16,1% em julho de 2011. Por favor, tome um momento e pense nisso a fundo. Os Estados Unidos da América, possivelmente o país mais rico do mundo, teve uma taxa de desemprego de 16,1% no recente julho de 2011. Como se isso não bastasse, verifica-se que apenas 58,1% da população estava trabalhando, o nível mais baixo em quase três décadas [2]. Laura D'Andrea Tyson, professor na Haas School of Business da Universidade da Califórnia, Berkeley, calculou que, mesmo que se pudesse de alguma forma criar 208 mil novos empregos por mês, a cada mês, pelo futuro próximo, ainda assim, levaria até 2023 para preencher esse gap [3]. Em janeiro de 2012, graças aos esforços enormes, tanto do setor privado e do governo , a taxa de desemprego caiu para 8,3% [4] Um consolo muito leve, considerando que as pessoas empregadas a tempo parcial por razões econômicas, marginalmente ligados à força de trabalho, os trabalhadores desencorajados, e os desempregados de longa duração mudou muito pouco ao longo do ano. Para tornar as coisas ainda piores, a taxa de participação da força de trabalho é de 63,7%, o seu nível mais baixo desde 1983, quando as mulheres não tinham entrado na força de trabalho em grande número, e está caindo de forma consistente a cada ano. [5] Os economistas Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee do MIT fazem uma análise lúcida do problema em seu livro "Race Against The Machine": como a Revolução Digital está acelerando Inovação, impulsionando a Produtividade, e transformando de forma irreversível o Emprego e a Economia [6], que lida com a atual crise de desemprego e tenta oferecer algumas soluções, principalmente através da reforma da educação, do sistema de incentivos econômicos, e promovendo o empreendedorismo. Embora eu concorde com a sua análise, acho que suas soluções são limitadas à forma como as coisas têm trabalhado até agora. Eles parecem estar assumindo que o sistema de incentivos econômicos, o que motiva as pessoas e a própria natureza humana são quase imutáveis. De acordo com Voltaire, "O trabalho nos poupa de três males: tédio, vício e necessidade", e ter um emprego tem sido, sem dúvida, a força motriz para combatê-los até agora. No entanto, eu desafio a suposição de que esta é a única maneira que nós podemos fazer isso, e vamos explorar por quê nos próximos capítulos. Outros autores têm abordado a mesma questão. Jeremy Rifkin foi um dos primeiros a considerar seriamente este problema. Em 1995 ele publicou O Fim do Trabalho: O Declínio da força de trabalho global e o Crepúsculo da Era Pós Mercado [7] ,onde ele previu que o desemprego mundial aumentaria na medida em que a tecnologia da informação eliminaria dezenas de milhões de postos de trabalho na indústria transformadora, agricultura, e setores de serviços. Ele traçou o impacto devastador da automação nos empregados de chão de fábrica, varejo e atacado: "Apesar de uma pequena elite de dirigentes de empresas e trabalhadores do conhecimento colher os benefícios da economia mundial de alta tecnologia, a classe média norte-americana continua a encolher e local de trabalho torna-se cada vez mais estressante " [8]. Embora ele possa ter tomado alguns dos detalhes de forma errada, o esquema geral é tão preciso que parece quase profético. Nos últimos 20 anos temos assistido ao progressivo desaparecimento da classe média norte-americana, com o aumento dos custos e rendimentos mais baixos [9] [10], enquanto os americanos mais ricos têm acumulado mais riqueza do que nunca antes na história. Para se ter uma ideia da quantidade desproporcional da riqueza gerada pelo sistema, como é desigualmente distribuída, e exatamente como vem se tornando cada vez pior desde 1979, vejamos os seguintes gráficos [11].

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Figura 1.1 : rendimento médio domiciliar, antes dos impostos Como você pode ver na Figura 1.1, a renda média das famílias se manteve praticamente a mesma para bem mais de 80% da população, enquanto o top 1% experimentou um aumento enorme, especialmente a partir de 1994. Ainda mais reveladora é a mudança na proporção de renda, calculado após impostos (Figura 1.2).

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Figura 1.2 : Mudança na participação da renda 1979-2007, calculada após os impostos

Figura 1.2: Mudança na participação da renda 1979-2007, calculada após os impostos. Os 80% de renda menor, têm realmente visto uma diminuição substancial da renda, enquanto o topo dificilmente foi afetado. O que é ainda mais preocupante é a distorção na percepção pública desse fenômeno, mesmo após a eclosão mundial do Movimento "Occupy". Um artigo de 2011 do Professor Michael Norton de Harvard e do Professor da Universidade de Duke, Dan Ariely, chamado Construindo uma América melhor - Um quintil de riqueza a cada vez, mostra o quão distorcida é a nossa percepção [12]

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Figura 1.3 : Construindo uma América melhor - Uma quintil de riqueza de cada vez, Michael I. Norton, Dan Ariely. Jornal “Perspectives on Psychological Science”. A história provou que Rifkin estava certo. A classe média está desaparecendo, os mais ricos estão ficando mais ricos, e não temos ideia de quão ruim a situação realmente é. A questão é, está Rifkin certo também quanto ao trabalho e automação? Martin Ford comentou sobre este assunto, utilizando sua perspectiva empresarial e de engenharia de software. Seu livro de 2009 As luzes do túnel: Automação, Tecnologia Aceleração e a Economia do Futuro, tem como objetivo mostrar como a automação, inevitavelmente, levará ao desemprego estrutural, e milhões de pessoas, tanto trabalhadores qualificados e não qualificados, em breve se encontrarão fora da força de trabalho , com pouca ou nenhuma chance de conseguir voltar. Ford, desde então, escreveu vários artigos nos principais sites de notícias, trazendo, assim, a questão do desemprego tecnológico de volta aos olhos do público. Ele também foi uma fonte de inspiração para mim quando eu decidi escrever este livro. No entanto, como acontece com o livro de Brynjolfsson, eu não acho que suas soluções sejam viáveis; nem, na maior parte dos casos, desejáveis. Todos esses autores identificaram um problema real e tentaram propor soluções viáveis usando seus conhecimentos, habilidades, análise e expertise. Mas à medida em que eu lia os seus livros, eu senti que havia algo faltando. Algo não estava sendo levada em conta. Eu senti que eles estavam tentando encontrar soluções num contexto em que as soluções estavam longe de ser encontradas. Antes de continuar, vamos ser claros sobre algo. Todos os autores que acabei de mencionar são profissionais altamente qualificados e inteligentes, com muito mais experiência acadêmica e de trabalho do que eu. Isso não está em questão. Mas eles não nasceram em uma cultura em que as coisas mudaram drasticamente em apenas alguns anos.

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Eles tiveram de se adaptar à idéia de mudança rápida, eles não nasceram em uma geração que criou esta enorme mudança acelerada. Eu tive a sorte de fazer parte dessa geração. Eu vi o nascimento e ascensão do movimento livre "open source" se tornar uma das maiores forças do planeta. Os sonhos que eu tinha quando eu era uma criança, de pequenos grupos de pessoas dedicadas e inteligentes mudando o mundo, tornaram-se realidade. Foi emocionante testemunhar esses eventos, que estão se tornando ainda mais onipresentes, e como o seu aumento desenfreado aterroriza o "status quo" e excita os revolucionários. Talvez eu esteja errado e tudo isso venha da minha ignorância arrogante e feliz da juventude. Mas talvez haja algo de verdade que me transcende como pessoa e fala através de mim. É a inteligência coletiva de todas as pessoas com quem tenho conversado, todos os livros que li, as experiências que tive no organismo cibernético sempre conectado conhecido como a Internet. Não tenho a pretensão de ser a voz da minha geração, ou de toda a Web, para esse assunto. Mas é inegável que essas inteligências me moldaram, me influenciaram e me dirigiram ao longo dos anos. E agora eu estou simplesmente remixando o que eu recebi. Esta é a evolução social: copie, transforme e combine. [13] No entanto, há também outra possibilidade. É perfeitamente concebível que estejamos todos errados, eu e esses autores. Os economistas e analistas proeminentes podem estar certos. Pode ser que nós não entendamos alguns conceitos econômicos básicos, e que nossas análises não sejam nada mais do que uma falácia, que poderia ser facilmente resolvida, obtendo nossos dados corretamente e estudando o passado um pouco mais. Afinal, temos visto o desemprego flutuar para cima e para baixo durante centenas de anos, apenas para voltar a níveis familiares, sem qualquer alteração substancial na estrutura da economia. Quando as novas tecnologias aparecem, ciclicamente nos deslocamos de um setor para outro, criando novos postos de trabalho, e tudo funciona muito bem. Os economistas têm um nome para esse fenômeno, que nos leva de volta a um tempo longínquo. Então, antes de eu ir mais longe, deixe-me lhe contar uma história.

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blog. NOTAS [1] US Posts Stronger Solid Growth in July, Mokoto Rich, 2011. The New York Times. http://www.nytimes.com/2011/08/06/business/economy/us-posts-solid-job-gains-amidfears. html?pagewanted=all [2] Private Sector Up, Government Down, David Leonhardt, 2011. The New York Times. http://economix.blogs.nytimes.com/2011/08/05/private-sector-up-government-down/ [3] Jobs Deficit, Investment Deficit, Fiscal Deficit, Laura D’Andrea Tyson, 2011. The New York Times. http://economix.blogs.nytimes.com/2011/07/29/jobs-deficit-investment-deficit-fiscaldeficit/ [4] The Employment Situation, 2012. Bureau Of Labor Statistics http://www.bls.gov/news.release/pdf/empsit.pdf [5] Civilian Labor Force Participation Rate. Bureau of Labor Statistics. http://data.bls.gov/timeseries/LNS11300000 [6] Race Against The Machine: How the Digital Revolution is Accelerating Innovation, Driving Productivity, and Irreversibly Transforming Employment and the Economy, Erik Brynjolfsson and Andrew McAfee, 2011. Digital Frontier Press. http://raceagainstthemachine.com [7]The End of Work Website, Jeremy Rifkin. http://www.foet.org/books/end-work.html [8] The End of Work, Wikipedia. http://en.wikipedia.org/wiki/The_End_of_Work [9] A rough 10 years for the middle class, Annalyn Censky, 2011. CNNMoney. http://money.cnn.com/2011/09/21/news/economy/middle_class_income/index.htm [10] 22 Statistics That Prove That The Middle Class Is Being Systematically Wiped Out Of Existence In America, Michael Snyder, 2010. Business Insider. http://www.businessinsider.com/22-statistics-that-prove-the-middle-class-is-beingsystematically- wiped-out-of-existence-in-america-2010-7 [11] US Congressional Budget Office, 2011. Graphics adapted from Mother Jones.

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http://motherjones.com/politics/2011/02/income-inequality-in-america-chart-graph [12] Building a Better America – One Wealth Quintile at a Time, Michael I. Norton, Dan Ariely. Journal Perspectives on Psychological Science. http://pps.sagepub.com/content/6/1/9 [13] I highly recommend the four-part video series Everything is a Remix by Kirby Ferguson, one of the best piece of work I have ever seen on this subject. http://www.everythingisaremix.info

Postado há 6th November 2014 por ProsperoClaudio