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0 ÁREA TEMÁTICA: GESTÃO DE PESSOAS O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO CORPORATIVA NO BRASIL AUTORA BÁRBARA BEATRIZ FREITAG Universidade de São Paulo [email protected] RESUMO Um novo contexto empresarial proporcionou o surgimento da Universidade Corporativa (UC) para desenvolver e educar os empregados e stakeholders para alcançarem as estratégias organizacionais. O propósito desse estudo foi verificar o desenvolvimento da Educação Corporativa (EC) no campo da Administração no Brasil entre 1999 e 2009, considerando os periódicos nacionais de maior pontuação no sistema Qualis-CAPES, o banco de teses da CAPES e os anais dos eventos da ANPAD. Além disso, buscou-se identificar a inserção das UCs no meio corporativo por meio da pesquisa para o Guia Exame e Você S/A - As Melhores Empresas Para Você Trabalhar, edições 2008 e 2009. Esse estudo tem caráter teórico-empírico e foi composto de análise documental, temporal e bibliométrica. A revisão da literatura tratou de EC e do campo de estudo em Administração no Brasil. O resultado foi de 19 publicações e 104 teses e dissertações sobre EC entre 1999 e 2009. No meio corporativo nacional, mais de uma centena de organizações adota a EC a mais de cinco anos. Pôde-se constatar que a EC encontra-se em estágio de desenvolvimento no Brasil. Não envolver dados primários e utilizar somente as ferramentas de busca online dos meios selecionados, foram as limitações desse estudo. Palavras-chave: Educação Corporativa. Universidade Corporativa. Produção Acadêmica. ABSTRACT A new business context made possible to Corporate University to rise as the alternative to develop and proportionate education to employees and to stakeholders to achieve their organizational strategies. The purpose of this study was to verify the development of Corporate Education (CE) on brazillian business field between 1999-2009, considering the national periodics with higher degree on Qualis-CAPES System, the CAPES bank of thesis and the Anais of ANPAD events. More after, it intended to identify the insertion of corporate universities on corporate field trough research on Guia Exame e Você S/A - As Melhores Empresas Para Você Trabalhar, 2008 - 2009 editions. This study is characterized as theoretichal and empirical and envolved documental , temporal and bibliometrical analysis. The literature review was focused on CE and Brazillian Administration study field. The result was of 19 publications and 104 thesis and dissertations on CE between 1999 and 2009. At the national corporate field, more than one hundred organizations uses CE for more than five years. It was possible to conclude that CE finds is in a development state in Brazil. Not to envolve primary data and use only tools of online research in the means selected, was this study limitations. Key-words: Corporate Education. Corporate University. Academic Production.

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ÁREA TEMÁTICA: GESTÃO DE PESSOAS

O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO CORPORATIVA NO BRASIL AUTORA BÁRBARA BEATRIZ FREITAG Universidade de São Paulo [email protected]

RESUMO

Um novo contexto empresarial proporcionou o surgimento da Universidade Corporativa (UC) para desenvolver e educar os empregados e stakeholders para alcançarem as estratégias organizacionais. O propósito desse estudo foi verificar o desenvolvimento da Educação Corporativa (EC) no campo da Administração no Brasil entre 1999 e 2009, considerando os periódicos nacionais de maior pontuação no sistema Qualis-CAPES, o banco de teses da CAPES e os anais dos eventos da ANPAD. Além disso, buscou-se identificar a inserção das UCs no meio corporativo por meio da pesquisa para o Guia Exame e Você S/A - As Melhores Empresas Para Você Trabalhar, edições 2008 e 2009. Esse estudo tem caráter teórico-empírico e foi composto de análise documental, temporal e bibliométrica. A revisão da literatura tratou de EC e do campo de estudo em Administração no Brasil. O resultado foi de 19 publicações e 104 teses e dissertações sobre EC entre 1999 e 2009. No meio corporativo nacional, mais de uma centena de organizações adota a EC a mais de cinco anos. Pôde-se constatar que a EC encontra-se em estágio de desenvolvimento no Brasil. Não envolver dados primários e utilizar somente as ferramentas de busca online dos meios selecionados, foram as limitações desse estudo.

Palavras-chave: Educação Corporativa. Universidade Corporativa. Produção Acadêmica.

ABSTRACT A new business context made possible to Corporate University to rise as the alternative to develop and proportionate education to employees and to stakeholders to achieve their organizational strategies. The purpose of this study was to verify the development of Corporate Education (CE) on brazillian business field between 1999-2009, considering the national periodics with higher degree on Qualis-CAPES System, the CAPES bank of thesis and the Anais of ANPAD events. More after, it intended to identify the insertion of corporate universities on corporate field trough research on Guia Exame e Você S/A - As Melhores Empresas Para Você Trabalhar, 2008 - 2009 editions. This study is characterized as theoretichal and empirical and envolved documental , temporal and bibliometrical analysis. The literature review was focused on CE and Brazillian Administration study field. The result was of 19 publications and 104 thesis and dissertations on CE between 1999 and 2009. At the national corporate field, more than one hundred organizations uses CE for more than five years. It was possible to conclude that CE finds is in a development state in Brazil. Not to envolve primary data and use only tools of online research in the means selected, was this study limitations. Key-words: Corporate Education. Corporate University. Academic Production.

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1. INTRODUÇÃO

Um novo contexto empresarial fez com que surgisse a preocupação com a gestão de

pessoas por competências e não mais a gestão de pessoas por cargos, como tradicionalmente era praticada pelas empresas. Essa transição da gestão por qualificação para o cargo para a gestão por competências teve início nos anos 1990, com a aceleração da concorrência, a lógica da atividade de serviços, o trabalho intermitente e informal e a baixa previsibilidade de negócios e atividades (EBOLI, 2008).

É nesse contexto empresarial, que requer novas e mais complexas competências, que surgiu a Universidade Corporativa (UC) como um “guarda-chuva estratégico” para desenvolver e educar os empregados e stakeholders a fim de alcançar as estratégias empresariais da organização (MEISTER, 1999).

A educação é um instrumento necessário às mudanças crescentes e ao desenvolvimento do país (EBOLI, 2008). Considerando a pesquisa como um motor do ensino por destacar e sistematizar o conhecimento tornando-o público, surgiu o interesse de desenvolver esse estudo, com o propósito principal de verificar o desenvolvimento do tema Educação Corporativa (EC) nas pesquisas no campo de Administração no Brasil na última década (1999 a 2009), tomando como base os periódicos nacionais de maior pontuação no sistema Qualis-CAPES, o banco de teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e os anais dos congressos da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (ANPAD). Além disso, buscou-se, de forma secundária, identificar a inserção das UCs no meio corporativo por meio de dados da pesquisa para o Guia Exame e Você S/A - As Melhores Empresas Para Você Trabalhar (MEPT), edições 2008 e 2009.

Dessa forma, este trabalho foi dividido em cinco partes: introdução, exposição da teoria que deu suporte ao estudo, apresentação da metodologia que foi aplicada na pesquisa, apresentação com análise dos resultados e as considerações finais.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Nesse trabalho, recebeu suporte teórico o seu tema principal que foi Educação Corporativa (EC) e o campo de estudo em Administração no Brasil.

2.1. EDUCAÇÃO CORPORATIVA

A Universidade Corporativa (UC) surge no final do século XX na forma de uma

organização de ensino estabelecida e gerida por outra organização, onde exerce o papel de guarda-chuva estratégico para desenvolver e educar os empregados e membros envolvidos nessa cadeia produtiva de modo a cumprir com as estratégias organizacionais. As forças que sustentaram o seu aparecimento foram, em essência, cinco: organizações flexíveis, era do conhecimento, rápida obsolescência do conhecimento, empregabilidade e educação para a estratégia global (MEISTER, 1999).

Eboli (2008) com base nos preceitos de Meister (1999) propõe que as experiências de implantação de projetos de UC tendem a se organizar em torno de sete princípios, tais como:

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competitividade, perpetuidade, conectividade, disponibilidade, cidadania, parceria e sustentabilidade. E traz a seguinte definição para um Sistema de Educação Corporativa (SEC):

É um sistema de formação de pessoas pautado pela gestão de pessoas com base em competências, devendo, portanto, instalar e desenvolver nos colaboradores internos e externos as competências consideradas críticas para a viabilização das estratégias de negócio, promovendo um processo de aprendizagem ativo e permanente, vinculado aos propósitos, valores, objetivos e metas empresariais (EBOLI, 2008, p.181).

Souza (1999) afirma que as empresas mais bem-sucedidas trouxeram a escola para

dentro da empresa ao perceber que o diferencial decisivo da competitividade reside na capacitação de seus talentos em todos os níveis, quer sejam internos à empresa ou parte de sua cadeia produtiva. Nesse sentido, Eboli (2008) complementa citando que os SECs têm desempenhado papel estratégico na construção da competitividade empresarial por meio do desenvolvimento das competências humanas atreladas às competências empresariais.E defende que a missão de uma UC é formar e desenvolver talentos por meio da promoção da gestão do conhecimento organizacional (geração, assimilação, difusão e aplicação) através de aprendizagem ativa e contínua da gestão dos negócios.

Eboli (2004), retrata que o número de organizações que adotam um modelo de UC nos Estados Unidos cresceu de 400 em 1998 para mais de 2000 em seu estudo publicado em 2004, incluindo os mais variados setores produtivos, dentre os quais se destacam: automobilístico, tecnologia de ponta, saúde, serviços financeiros, telecomunicações e varejo.

No Brasil, Eboli (2004) esclarece que a adoção do conceito de UC começou na década de 90, com o advento de um mercado cada vez mais globalizado, pressionando assim as organizações a investir na qualificação de seus colaboradores e a se comprometer com seus desenvolvimento contínuo, como um elemento-chave na criação de diferencial competitivo, tendo como marco o lançamento do livro da Jeanne Meister, pela Makron Books em 1999 intitulado Educação corporativa: a gestão do capital intelectual através das universidades corporativas.

Aproximadamente, cem organizações brasileiras ou multinacionais, tanto no campo público quanto no privado no Brasil, já implementaram sistemas educacionais pautados pelos princípios e práticas de UC (EBOLI, 2004). Uma amostra delas pode ser observada na Tabela 1:

Tabela1: Distribuição das Universidades Corporativas Brasileiras por Estado

ESTADO Nº % UNIVERSIDADES CORPORATIVAS São Paulo 36

69,2 ABN AMRO, Abril, Accor, Alcatel, Alcoa, Ambev, Amil,

BankBoston, Bic, Bristol, Carrefour, Elektro, Embraer, Facchini, Ford, GM, Globo, Illy Café, McDonald’s, Metrô, Microssiga, Motorola, Natura, Nestlé, Orbital, Sabesp, Serasa, Siemens, Tam, Transportadora Americana, Ultragás, Unimed, UniDistribuição, Unisys, Visa, Volkswagen

Rio de Janeiro 5 9,6 BNDES, Embratel, Leader Magazine, Petrobrás, Souza Cruz Distrito Federal 4 7,6 Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Correios, Eletronorte Minas Gerais 3 5,7 Algar, Fiat, Martins do Varejo Santa Catarina 2 3,8 Datasul, Tigre Paraná 1 1,9 Kraft Foods Rio Grande do Sul 1 1,9 Renner Total 52 100

Fonte: Brandão (2006, p.26).

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Apesar desse cenário de crescimento, vale explicitar os principais desafios a serem enfrentados pelas UCs no Brasil de acordo com Eboli (2004): criar uma conexão entre Educação Corporativa e Gestão do Conhecimento, estender as ações educacionais aos demais públicos (cadeia produtiva e comunidade), mensurar adequadamente os resultados obtidos, promover o envolvimento da média / alta gerência e promover o envolvimento dos stakeholders.

A EC integra conhecimentos de produção científica de vários campos do conhecimento, tais como Administração, Educação e Psicologia, que por sua vez, foram fontes de inspiração teórica e prática, também, para a antiga área de Treinamento e Desenvolvimento (T&D), de acordo com Brandão (2006 apud Amaral, 2003). Nesse sentido, para fins desse estudo, cabe verificar como está o campo de estudo em Administração no Brasil.

2.2. O CAMPO DE ESTUDO EM ADMINISTRAÇÃO NO BRASIL A compreensão do estudo científico é necessária para todo o tipo de pesquisa

acadêmica. A longa discussão sobre ciência passa sempre pelo conhecimento da realidade. Minayo (1994) define ciência como a forma hegemônica de construção da realidade, fruto da ciência, as questões técnicas e tecnológicas moldam o desenvolvimento industrial e estabelecem uma linguagem fundamentada em conceitos, métodos e técnicas para a compreensão do mundo, das coisas, dos fenômenos, dos processos e das relações.

Oliveira (2007) afirma que o posicionamento epistemológico, ou a predisposição de gerar conhecimento, implica buscar, na filosofia da ciência, a objetividade do conhecimento científico, realizando estudos, observações experimentos e análises através das teorias e conhecimentos já existentes em confronto com a realidade.

Machado-da-Silva, Cunha e Amboni (1990) e Bertero e Keinert (1994), afirmam que a produção brasileira tem uma inclinação predominantemente acadêmica no que se refere ao estado da arte em Administração. Na pesquisa acadêmica no Brasil, de acordo com Tinoco (2005), os últimos anos foram marcados por uma série de balanços retrospectivos que visavam analisar a qualidade da produção nacional publicada sobre Administração.

Observando, especificamente, o campo da produção acadêmica sobre Administração, pode-se verificar que há estudos em suas mais diversas áreas de concentração, como o de Vieira (2003) que verificou as publicações na área de Marketing, no período de 1990 a 1999 nos periódicos Revista de Administração da Universidade de São Paulo (RAUSP) e Revista de Administração de Empresas (ERA) e nos anais do Encontro da ANPAD (ENANPAD), encontrando 272 artigos sobre o tema. Sobre finanças, Leal, Oliveira e Soluri (2003), pesquisaram 25 anos de publicações, de 1974 a 2001, na Revista de Administração Contemporânea (RAC), RAE, RAUSP, Revista Brasileira de Educação (RBE) e Revista Brasileira de Mercado de Capitais (RBMEC), encontrando 551 artigos nesses periódicos e 264 nos anais do EnANPAD. E sobre recursos humanos, Caldas e Tinoco (2004) pesquisaram a produção acadêmica nos anos 1990 encontrando 290 artigos nos anais do EnANPAD.

Estudos em subáreas mais específicas da Administração, também foram desenvolvidos por Rodrigues Filho (2004), que estudou as publicações sobre Administração Estratégica no Brasil na perspectiva de Habermas entre 1997 e 2001, nos anais do EnANPAD, encontrando 185 artigos. Sobre Gestão Ambiental, Jabbour, Santos e Barbieri (2008) investigaram a produção entre 1996 e 2005 nos periódicos RAE, RAEE, RAUSP, RAP, REAd e RAC resultando em 41 publicações, sendo que, em uma década foram publicados 4 artigos em cada RAUSP, RAC e RAE, 12 na RAP, 15 na Revista Eletrônica de Administração - REAd e 2 na RAE-eletrônica. Estudos sobre Responsabilidade Social também foram analisados por Moretti

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e Campanario (2009), em que durante o período de 1997 a 2007 nos anais do EnANPAD encontraram 216 artigos sobre o tema.

Em áreas específicas de recursos humanos, também foi desenvolvida esse tipo de investigação, resultando nos trabalhos de Medeiros et. al (2003) sobre a pesquisa de comprometimento organizacional, que no período de 1993 a 2001 nos anais do EnANPAD correspondeu a 34 artigos. O estudo de Loiola e Bastos (2003) sobre aprendizagem organizacional no período de 1997 a 2001, analisando a produção acadêmica na RAE, RAC, Organizações e Sociedade (O&S), RAUSP, EnANPAD e Business Association of Latin American Studies Conference (BALAS), resultando em 43 publicações. E, por fim, o estudo de Santos et. al (2007), sobre educação a distância no período de 1997 a 2007 na base Cielo que apresentou 27 publicações sobre o tema.

Essas produções acadêmicas adotaram diversas formas de análise, considerando suas referências, citações, metodologias de estudo, instituições de origem dos autores, séries históricas, meios de publicação. Pode-se visualizar uma concentração das pesquisas nos periódicos RAE e RAC e nos anais do EnANPAD. Esses estudos, geraram críticas aos desenvolvimento acadêmico do tema verificado e agendas de desenvolvimento do mesmo.

No que se refere à qualidade, Machado-da-Silva, Cunha e Amboni (1990), destacam à época que a produção científica nacional em Administração é caracterizada por um tom prescritivista. Em termos de referencial teórico, Machado-da-Silva et. al. (2008) observam que há uma crescente valorização dos artigos nacionais publicados em periódicos os quais consideram-nos como trabalhos em versão definitiva. Na contramão desse processo, ele verificou que as citações nacionais utilizadas como referência na produção científica em Administração, consideram, em grande parte, os artigos publicados em anais de congressos da ANPAD.

Machado-da-Silva (2009) afirma que qualidade é a palavra-chave do momento atual de desenvolvimento da produção científica brasileira e que incrementos constantes e substanciais do nível de qualidade dos trabalhos acadêmicos produzidos nos campos da Administração nacionais são necessários e prementes, mesmo que para isso seja preciso diminuir quantitativamente a produção. E isso se refere, tanto aos trabalhos em processo de construção, que são aqueles presentes em congressos acadêmicos, como aos artigos publicados em periódicos científicos.

O campo de estudo em Administração no Brasil, segundo Bertero, Caldas e Wood Jr. (1999), encontra-se em um processo de construção. A quantidade de publicações nacionais cresce a cada ano. Entretanto, há que se atentar para a qualidade e relevância tanto prática quanto teórica para o estado da arte desse campo do conhecimento.

3. METODOLOGIA A metodologia empregada nesse estudo seguiu a seguinte estrutura: delineamento

metodológico, demarcação da população e amostra, seguido do procedimento de coleta e análise de dados.

3.1. DELINEAMENTO METODOLÓGICO O presente estudo apresenta um caráter teórico-empírico de natureza qualitativa,

composto de análise documental e pesquisa quantitativa por meio de análise temporal em

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séries históricas e análise bibliométrica. Sendo, o caráter teórico representado pelo resgate bibliográfico acerca do tema principal que foi Educação Corporativa e sobre o campo de estudo em Administração no Brasil. E o empírico, pelas demais técnicas anunciadas.

A natureza qualitativa desse estudo é evidenciada pelo intuito de compreender as relações e atividades humanas no contexto estudado e os significados que as motivam, de acordo com Minayo e Sanches (1993), a partir do qual foi realizada uma análise subjetiva da situação encontrada.

A análise documental, segundo Bruyne, Herman e Schoutheete (1977), é marcada nesse estudo pelo modo de coleta que foi realizado em fontes públicas em relatórios pertinentes à situação estudada e pelo tipo de informação analisada que pode ser atributos, comportamentos, evoluções ou tendências. Para Godoy (1995), a pesquisa documental é apropriada, entre outras coisas, por ser um estudo de longos períodos de tempo, em que se buscou identificar evolução ou tendências no comportamento de um fenômeno social.

No que se refere à análise temporal, foi considerada a série histórica na década de 1999 a 2009. Referente ao caráter quantitativo, na bibliometria, Alvarenga (1998), cita que os resultados encontrados refletem aspectos quantitativos de campos do conhecimento, apresentando, por exemplo, ângulos de produtividades de autores ou de fontes discursivas e constatações de regularidades que podem resultar em fatos históricos no processo de evolução de uma disciplina. Segundo Macias-Chapula (1998), a pesquisa bibliométrica pode ser caracterizada quanto ao objeto de estudo e ao método empregado. Sendo o primeiro, relativo a livros, documentos, artigos, autores, etc. E o último, ao ranking, à freqüência e à distribuição.

3.2. POPULAÇÃO E AMOSTRA A investigação teve uma parte principal dirigida ao meio acadêmico e um secundária,

referente ao meio corporativo. Dessa forma, inicialmente, para a parte em que se estudou a produção acadêmica, optou-se por estabelecer os critérios de seleção dos meios de publicação que fariam parte da análise na séria histórica de 1999 a 2009.

Alguns critérios estabelecidos para esse estudo foram: a inserção do periódico no Sistema Qualis-Capes; possuir conceito “A1, A2 e B1”, ser de origem nacional e da área de concentração de Administração, Ciências Contábeis e Turismo. Além desses periódicos, optou-se por tomar como fonte de dados, também, o Banco de Teses da CAPES, para verificar a realização de pesquisas sobre o tema, e os Anais dos congressos da ANPAD, devido à sua representatividade para o campo de estudo em Administração no Brasil.

Então, o universo desse estudo sobre a produção acadêmica incluiu, em uma primeira fase, a busca por artigos, resenhas e documentos nos 38 periódicos nacionais classificados pelo Qualis-CAPES, de acordo com as atualizações de 2009 desse sistema, e distribuídos como: A1 (1 periódico), A2 (15 periódicos) e B1 (22 periódicos). A lista dos periódicos pesquisados consta no quadro 1.

Na segunda fase, buscaram-se teses e dissertações no Banco de Teses da CAPES (2010). E, por fim, na terceira fase, foram resgatados artigos nos anais dos nove congressos da ANPAD (2010): EnANPAD - Encontro da ANPAD, EnEO - Encontro de Estudos Organizacionais, Simpósio, EnADI - Encontro de Administração da Informação, 3Es - Encontro de Estudos em Estratégia, EMA - Encontro de Marketing, EnAPG - Encontro de Administração Pública e Governança, EnGPR - Encontro de Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho e EnEPQ - Encontro de Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade.

Diante do proposto, a seleção das fontes de pesquisa das publicações caracterizou-se como intencional e não-probabilística.

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Quadro 1: Periódicos Nacionais Qualis A1, A2 e B1. Fonte: WebQualis (2010). A segunda parte desse estudo, referente ao meio corporativo foi desenvolvida por

meio de dados da pesquisa para o Guia Exame e Você S/A - As Melhores Empresas Para Você Trabalhar, edições 2008 e 2009. Foram usados os dados da pesquisa de clima organizacional elaborada com a metodologia do Programa de Gestão de Pessoas (Progep), ligado à Fundação Instituto de Administração (FIA), para a lista das melhores empresas para trabalhar, anteriormente mencionada. Esta pesquisa, segundo Veloso et. al (2007), apresenta um caráter quantitativo e é um levantamento anual sobre clima organizacional realizado com mais de 500 empresas e mais de 140 mil empregados. Ela consolida as percepções dos empregados de acordo com a escala Likert e as categoriza em quatro estratos: identidade; satisfação e motivação; aprendizado e desenvolvimento, e liderança. Neste estudo, diante do propósito de

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identificar a inserção da EC no mercado, foram analisadas as respostas dadas pelas empresas nos anos de 2008 e 2009 às perguntas de classificação referentes à adoção de um modelo de EC , aos setores e ao número de empregados.

3.3. PROCEDIMENTO PARA COLETA E ANÁLISE DOS DADOS Nos periódicos, teses, dissertações e anais de congressos apresentados foi realizada a

análise temporal no interstício de 1999 a 2009, em que foram utilizados os seguintes termos de busca no título das publicações para a construção da amostra dessa pesquisa: educação corporativa, universidade corporativa, sistema de educação corporativa, centro de formação, líder educador, Chief Learning Officer e desenvolvimento por competência. Diante disso, pôde-se verificar a utilização do método de coleta documental e da busca manual nos sites dos periódicos, banco de teses e dos eventos dentro do período especificado.

Optou-se por realizar a coleta de dados nos meios explicitados, por meio da versão online disponível em cada meio. Cabe esclarecer que o processo de busca envolveu duas fases, a inicial em que se utilizou o mecanismo de busca de cada site na opção de buscar palavra-chave. Em seguida, nos documentos encontrados, foi realizada a busca pelos termos supracitados nos títulos dos documentos, de modo a selecionar apenas os que estavam explicitando o assunto desse estudo em seu título empregando um dos termos supracitados.

As publicações coletadas seguindo o processo de coleta explicitado e, portanto, constituintes da amostra dessa pesquisa, foram analisadas bibliometricamente, segundo o método de freqüência: os autores, as instituições de origem destes, as referências e os periódicos. Exclusivamente, dos artigos encontrados na primeira fase referente aos periódicos nacionais qualis A1, A2 e A3. As publicações encontradas no Banco de Teses da CAPES e nos anais dos congressos da ANPAD foram contabilizadas apenas pela sua freqüência e distribuição no tempo analisado. Esse procedimento se explica devido ao propósito de, na primeira fase, conhecer as publicações que estão sendo aprovadas nos periódicos de maior pontuação nacionais, consideradas por Machado-da-Silva et. al. (2008) como trabalhos em versão definitiva e, na segunda fase, verificar a realização de pesquisas em nível de mestrado e doutorado e, publicações em congressos, que são classificados por Machado-da-Silva (2009) como trabalhos em processo de construção.

Não foi possível aplicar métodos estatísticos mais complexos devido ao tamanho da massa de dados que foi encontrada. Portanto, utilizou-se a análise por triangulação de dados, devido às diversas fontes utilizadas. Os resultados obtidos foram apresentados por cada meio em que foram encontrados e com a distribuição por ano.

Os dados referentes ao meio corporativo foram apresentados de forma agregada e comparados aos disponibilizados pela fundamentação teórica apresentada sobre a EC e o campo de estudo de Administração.

Esse estudo teve como limitação o fato de utilizar, exclusivamente, as ferramentas de busca por palavra-chave dos sites de cada meio de publicação selecionado e a opção por não aplicar técnicas estatísticas mais elaboradas, devido à pequena massa de dados encontrada.

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS Nos 38 periódicos nacionais classificados pelo sistema Qualis-CAPES em 2009 como

A1, A2 e B1, foi possível encontrar no período de 1999 a 2009, cinco publicações que

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continham os termos referentes à EC em sua identificação. Na tabela 2, foi possível verificar como maior freqüência de origem das publicações a

USP e a UNB, concentradas no periódico B1 RAE, a partir da segunda metade da década analisada e RAC na primeira metade. Mas não foi encontrada publicação referente a esse tema nos demais periódicos do universo de análise.

Tabela 2: Publicação sobre EC nos periódicos nacionais

ANO QUANT. / PER. AUTOR INSTITUIÇÃO TIPO

1999 - - - -

2000 - - - -

2001 1 – RAC 1 USP Artigo

2002 - - - -

2003 1 – RAC 1 UNB Resenha

2004 - - - -

2005 1 – ERA 1 USP Documento

2006 1 – ERA 1 PUC Minas-Betim e UFMG Artigo

2007 - - - -

2008 - - - -

2009 1 – ERA 3 2 – UNB

1 – Inst. Assist. e Coop. Téc. DF

Artigo

Total 5 / 2 B1 7 5 3

Fonte: Autoria própria. Das cinco publicações encontradas, apenas uma apresentou mais de um autor e em

todas elas, os autores foram diferentes, demonstrando uma freqüência muito baixa de publicação por autor no período analisado, haja vista que em dez anos, cada um publicou uma vez nos periódicos e tema analisados. Pode-se constatar que foi uma ocorrência baixa de publicação ao comparar com os resultados da pesquisa sobre gestão ambiental, que também é um tema específico, uma subárea de Administração, e que foi estudada por Jabbour, Santos e Barbieri (2008) no período de 1996 a 2005, nos periódicos RAE, RAEE, RAUSP, RAP, REAd e RAC encontrando 41 publicações. E, também, ao comparar com o trabalho de revisão da produção acadêmica sobre Educação a Distância, que é um tema próximo a EC, pesquisado enter 1997 e 2007 na base Cielo, onde apresentou 27 publicações sobre o tema.

Nas publicações encontradas foi possível analisar as referências utilizadas e verificar a maior ocorrência dos autores: Abbad, G. D. S. sobre avaliação de treinamentos; Borges-Andrade, J. E. sobre avaliação de treinamentos; Eboli, M. sobre EC e UC; Greenspan, A. sobere educação e economia; Gutierrez, L. H. S. sobre recursos humanos; Meister, J. sobre EC.

De acordo com a análise das referências pôde-se verificar que as pessoas mais consultadas sobre EC e UC são Eboli, M. e Meister, J. Outras referências que vem sendo

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freqüentemente utilizadas, também, são referentes à avaliação de treinamentos, demonstrando uma tendência para os estudos que investiguem os processos de avaliação de resultados dos SECs.

Diante do pequeno número de publicações nos periódicos analisados, optou-se por verificar a existência de estudos cujo propósito de investigação seja a EC, portanto, pesquisou-se no Banco de Teses da CAPES, teses e dissertações sobre o tema e o resultado encontrado consta na tabela 3.

Tabela 3: Teses e Dissertações sobre EC (Banco de Teses da CAPES)

Ano EC UC Demais termos Total

1999 - - - -

2000 3 - - -

2001 1 3 - -

2002 2 4 - -

2003 7 4 - -

2004 4 5 - -

2005 6 8 - -

2006 4 7 - -

2007 7 9 - -

2008 8 6 - -

2009 12 4 - -

Total 54 50 - 104

Fonte: Autoria própria. Nessa fase, os resultados foram mais animadores, pois demonstraram que no período

analisado, houve ocorrência anual de investigações sobre EC e um crescimento na produção acadêmica nos últimos anos, totalizando em 104 trabalhos. Também, foi possível verificar que os termos mais utilizados para identificação dos estudos sobre EC são educação corporativa e universidade corporativa, sendo que ambos são adotados, praticamente, na mesma proporção. Esse resultado reforça a afirmativa de Bertero, Caldas e Wood Jr. (1999) de que o campo de estudo em Administração no Brasil, encontra-se em processo de construção.

Os demais termos de busca: SEC, Chief Learning Officer, líder educador, centro de formação e desenvolvimento por competência, não foram encontrados nas palavras-chaves nos mecanismos de busca e nem constaram nos títulos das produções estudadas.

Diante da quantidade de estudos sendo realizados em nível de mestrado e doutorado no país sobre EC e como eles não foram encontrados publicados nos periódicos de maior pontuação no sistema Qualis-CAPES, optou-se por verificar a ocorrência de publicações nos

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anais dos congressos da ANPAD, devido à sua representatividade para os estudos em Administração. O resultado dessa busca pode ser visualizado na Tabela 4.

Tabela 4: Produção acadêmica sobre EC em anais de eventos da ANPAD

ANO QUANT. EVENTOS (9)

1999 - -

2000 1 - UC EnANPAD

2001 1 – UC EnANPAD

2002 - -

2003 1 - UC EnANPAD

2004 1 – EC 1 – UC EnANPAD

2005 1 – EC EnANPAD

2006 2 – EC 1 – UC EnANPAD

2007 1 - UC EnGPR

2008 - -

2009 2 – EC 2 – EC

EnANPAD EnGPR e EnGPQ

Total 14 3

Fonte: Autoria própria. Analisando a produção acadêmica sobre EC nos eventos da ANPAD foi possível

verificar uma constância de publicação no EnANPAD, pois somente em quatro anos não consecutivos não ocorreu publicação sobre o tema nesse evento. Entretanto, quanto aos demais eventos, encontrou-se uma publicação em 2009 no EnGPQ e uma por edição do EnGPR, totalizando em 14 trabalhos publicados.

Esse resultado, já foi melhor se comparado ao dos periódicos, se comparado ao trabalho de Caldas e Tinoco (2004) sobre a produção acadêmica de RH nos anos 1990 nos anais do EnANPAD em que foram encontrados 290 trabalhos para a área de concentração como um todo. Cabe, também, comparar esse dado com o resultado obtido na pesquisa de Medeiros et. al (2003), sobre a produção acadêmica acerca de comprometimento organizacional nos anais do EnANPAD, resultando em 34 trabalhos. Mas, o resultado torna-se, ínfimo se comparado aos 216 trabalhos publicados no EnANPAD sobre Responsabilidade Social (RS) no período de 1997 a 2007 (MORETTI, CAMPANARIO, 2009). Esse dado é oportuno, pois RS também é um estudo classificado como subárea de RH, tal como EC.

A Tabela 5 sintetiza as três fases dessa investigação referente à produção acadêmica sobre EC e proporciona a interpretação de que há estudos e pesquisas sendo desenvolvidos acerca desse tema no campo da Administração, o que pode ser visualizado na ocorrência de teses e dissertações. Entretanto, pode-se observar que essa produção não está sendo veiculada nos periódicos de maior pontuação no sistemas Qualis-CAPES e, apenas, uma parte dessas pesquisas estão sendo apresentadas nos eventos da ANPAD.

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Tabela 5: A produção acadêmica sobre EC no Brasil

ANO 1ª FASE (QUALIS)

2ª FASE (CAPES)

3ª FASE (ANPAD)

1999 - - -

2000 - 3 1

2001 1 4 1

2002 - 6 -

2003 1 11 1

2004 - 9 2

2005 1 14 1

2006 1 11 3

2007 - 16 1

2008 - 14 -

2009 1 16 4

Total 5 104 14 Fonte: Autoria própria.

O resultado de 5 publicações em periódicos e 14 em anais de congresso, ou seja, 19

publicações ao todo em uma década é uma taxa pequena de produção, se comparada com a pesquisa de Loiola e Bastos (2003) sobre aprendizagem organizacional no período de 1997 a 2001 com base na RAE, RAC, O&S, RAUSP, EnANPAD e BALAS, onde encontrou-se 43 trabalhos.

Isso permite e gera questionamentos acerca da qualidade das pesquisas que estão sendo produzidas sobre EC ou da importância e relevância desse tema para o meio acadêmico, como hipóteses a serem verificadas futuramente como forma de explicar a pouco ocorrência desse tema nas publicações de maior representatividade no Brasil. Haja vista, que as pesquisas realizadas em nível de teses e dissertações vistas nesse estudo não estão sendo aceitas para publicação nos meios de maior rigor ou não estão sendo enviados para tal, o que seria uma incoerência no processo de gestão do conhecimento, ao não disponibilizar o acesso ao conhecimento produzido e reforçaria a afirmação de Machado-da-Silva, Cunha e Amboni (1990) e Bertero e Keinert (1994), de que a produção brasileira tem uma inclinação predominantemente acadêmica no que se refere ao estado da arte em Administração.

Tendo verificado o desenvolvimento entre 1999 e 2009 da produção acadêmica sobre EC no Brasil, coube, também, verificar o cenário atual dessa subárea de recursos humanos no meio corporativo. Para tanto, tomou-se como base os dados da pesquisa para o Guia Exame e Você S/A - As Melhores Empresas Para Você Trabalhar, edições 2008 e 2009 que, de forma agregada, deram origem à Tabela 6.

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Tabela 6: EC nas 150 Melhores Empresas Para Você Trabalhar 150 Melhores Empresas para Você

Trabalhar 2008 2009

Adotam EC 146 142 Adotam EC a mais de 5 anos 98 106 Porte (por nº de empregados) Médio e Grande Médio e Grande

Setores

Química e Petroquímica, Serviços Financeiros, Serviços Diversos, Serviços Públicos, Automotivo, Comércio Varejista, Telecomunicações,

Metalurgia e Siderurgia, Indústrias Diversas, Alimentos, Bebidas e Fumo, Bancário, Construção, Cooperativas, Eletroeletrônicos, Farmácia, Higiene e Limpeza, Mecânica, Papel e Celulosa, Plásticos e Borracha, Química e Petroquímica, Serviços de Saúde, Serviços de Transporte, Tecnologia e

Computação. Fonte: Autoria própria.

No meio corporativo foi possível verificar segundo dados do MEPT 2008 e 2009 que mais de uma centena de organizações, integrantes do grupo das 150 melhores empresas para você trabalhar, já adotam um modelo de EC a mais de cinco anos e são de médio e grande porte. Esse dado é oportuno, pois, conforme Souza (1999), as empresas bem-sucedidas trouxeram a escola para dentro da empresa, e esses dados mostram a EC sendo aplicada num grupo seleto de empresas, que são estudadas pelo mercado como benchmarking o que pode auxiliar no desenvolvimento desse tema tanto no meio corporativo como no acadêmico. Outro ponto relevante é o propósito dos SECs de construção da competitividade empresarial por meio do desenvolvimento das competências humanas atraledas às competências empresariais (EBOLI, 2008), que parece que vem sendo aplicado por essas organizações, dada a classificação como melhores para se trabalhar.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Esse estudo teve o propósito de verificar o desenvolvimento do tema Educação

Corporativa nas pesquisas no campo de Administração no Brasil na última década (1999 a 2009), com base nos periódicos nacionais de maior pontuação no sistema Qualis-CAPES, o banco de teses da CAPES e os anais dos congressos da ANPAD. Além disso, buscou-se, de forma secundária, identificar a inserção das UCs no meio corporativo por meio de dados da pesquisa para o Guia Exame e Você S/A - As Melhores Empresas Para Você Trabalhar, edições 2008 e 2009.

Na revisão da literatura, foram pesquisados dois grandes temas, o primeiro sendo EC e tendo com principais contribuições a produção de Meister, J. e Eboli, M. que são as referências no assunto. E, no segundo momento, fez-se uma explanação sobre o campo de estudo em Administração no Brasil, que reuniu opiniões de críticos renomados no meio acadêmico e trabalhos de revisão de literatura, todos nacionais devido ao tema daquele tópico, em que foi possível verificar uma concentração das fontes de pesquisa nos periódicos RAE e RAC e nos anais do EnANPAD.

Na pesquisa realizada nos periódicos e nos anais dos congressos da ANPAD, obteve-se o resultado de 5 publicações em periódicos e 14 em anais de congresso, ou seja, 19 publicações ao todo sobre EC em uma década, o que considerou-se nesse estudo como uma taxa pequena de produção, se comparada com a pesquisa de Loiola e Bastos (2003) sobre aprendizagem organizacional no período de 1997 a 2001 com base na RAE, RAC, O&S, RAUSP, EnANPAD e BALAS, onde constaram 43 trabalhos, além de outros trabalhos que também foram comparados na análise desse estudo.

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Diante das 104 teses e dissertações encontradas sobre EC no período analisado e da baixa taxa de publicação nos meios selecionados, fica um hiato e a preocupação com a qualidade das pesquisas desenvolvidas. Haja vista, que a grande parte dos trabalhos realizados em nível de mestrado e doutorado vistos nesse estudo não estão sendo aceitos para publicação nos meios de maior rigor e representatividade ou não estão sendo enviados para tal, o que seria uma incoerência no processo de gestão do conhecimento, ao não disponibilizar o acesso ao conhecimento produzido por meio de publicação, reforçando, assim, a afirmação de Machado-da-Silva, Cunha e Amboni (1990) e Bertero e Keinert (1994), de que a produção brasileira tem uma inclinação predominantemente acadêmica no que se refere ao estado da arte em Administração.

Constatou-se que, mesmo sendo pequena, a publicação sobre EC no Brasil está concentrada nos periódicos RAE e RAC e nos anais do EnANPAD, que são meios tradicionais de publicação sobre administração no Brasil, conforme pôde ser verificado nos trabalhos de estado da arte condensados na revisão teórica deste estudo, os dois primeiros para trabalhos já no formato definitivo e o último para trabalhos em construção conforme Machado-da-Silva (2009). Tal cenário pode evidenciar uma aceitação pelo meio acadêmico referente ao assunto EC, mas, também, torna-se curioso devido ao fator concentração, pois já que esse tema é oriundo de várias áreas do conhecimento (BRANDÃO, 2006) e dentro de uma organização ele interage com o todo, fica incoerente com seu perfil não encontrá-lo nos demais periódicos analisados. O que leva a constatar que, tal como o campo da Administração, a EC encontra-se em estágio de desenvolvimento no Brasil (Bertero, Caldas e Wood Jr.,1999).

No meio corporativo foi possível verificar, segundo dados do MEPT 2008 e 2009, que mais de uma centena de organizações, integrantes do grupo das 150 melhores empresas para você trabalhar, já adotam um modelo de EC a mais de cinco anos, sendo que elas são de médio e grande porte e oriundas de diversos setores da indústria e de serviços, mostrando sua presença no meio corporativo e sua versatilidade. Esse dado é oportuno, pois mostra a EC sendo aplicada num grupo seleto de empresas, que são estudadas pelo mercado como benchmarking, o que pode auxiliar no desenvolvimento desse tema tanto no meio corporativo como no acadêmico, ou seja, as empresas bem-sucedidas trouxeram a escola para dentro da empresa (SOUZA, 1999).

Este estudo apresentou como limitações, o fato de não utilizar dados de fontes primárias, ter utilizado as ferramentas de busca online nos sites dos periódicos, banco de teses e eventos selecionados. Como estudos futuros, sugere-se repetir esse processo investigativo, mas com o universo de pesquisa maior, envolvendo os demais estratos de classificação de periódicos do sistema Qualis-CAPES, de modo a verificar em qual nível de rigor está concentrada a maior parte das publicações sobre EC em periódicos.

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