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ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p. 2015 2197 DIVERSIDADE DE PEIXES NO RIO MUTUM E BAÍA MARGINAL NO PANTANAL – MATOGROSSENSE ATRAVÉS DA COLETA ATIVA 1 Auclar Felipe Botini , 2 Cleber Aparecido de Barros, 3 Talitha Hevilla de Souza, 4 Nadia Botini, 5 Nelson Antunes de Moura 1,2,3 Graduandos em Ciências Biológicas, Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT, Tangará da Serra – MT, Laboratório de Ictiologia e Piscicultura e-mail: ([email protected] 4 Bióloga- Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Tangará da Serra – MT 5 Doutor em Ecologia e Recursos Naturais, Departamento de Ciências Biológicas da Universidade do Estado de Mato Grosso, MT 358 Km 07, Jardim Aeroporto, 78300- 000 Tangará da Serra, MT, Brasil: Recebido em: 31/03/2015 – Aprovado em: 15/05/2015 – Publicado em: 01/06/2015 RESUMO O presente trabalho teve como objetivo avaliar a diversidade, riqueza e abundância de espécies de peixes do rio Mutum e baía Marginal, no Pantanal Mato-grossense. Capturou-se 537 indivíduos pertencentes a duas ordens, cinco famílias e 27 espécies. Foram realizadas duas coletas no mês de outubro de 2014, onde o Pantanal encontrava-se no período de enchente. Foram determinados três pontos de coleta: P1 (Baia Marginal), P2 (encontro da Baia Marginal com Rio Mutum) e P3 (no Rio Mutum), utilizando como aparato de coleta tarrafa, com malha de 12 mm, 2 m de altura e 12 metros de borda. As duas ordens coletadas foram Characiformes e Perciformes. A família mais representativa foi Characidae, com 15 espécies e a menos representativa foi a Erythrinidae, com uma espécie. A espécie que teve maior número de indivíduos foi Cyphocharax gillii. O P2 obteve o maior índice de diversidade (H’ = 1, 71), Riqueza de espécies (d= 2,23) e Abundância (362 indivíduos). A partir do índice de Equitabilidade, o P1 foi único que apresentou distribuição uniforme entre as espécies, com índice de equitabilidade de J’ = 0,6. Já os pontos 2 e 3 a espécie dominante foi Cyphocharax gilli. PALAVRAS-CHAVE: Abundância, Equitabilidade, Riqueza de espécies. FISH DIVERSITY IN RIVER MUTUM AND MARGINAL BAY IN PANTANAL - MATOGROSSENSE OVER THE ACTIVE COLLECT. ABSTRACT This study aimed to evaluate the diversity, richness and abundance of fish species in the Mutum river and Marginal bay, Pantanal of Mato Grosso. 537 individuals were captured belonging to two orders, five families and 27 species. Two samples were collect in October 2014, where the Pantanal was in the flood period. They were determined three points: P1 bay Marginal, P2 meeting of Marginal bay with river Mutum and P3 in Mutum river, using as accessory of tarrafa for collect, with a mesh of 12 mm, 2 m height and 12 meters of border. The two collected orders were Characiformes and Perciformes. The most representative family was Characidae, with 15 species and less representative was Erythrinidae with one species. The species that got the greater number of individuals was Cyphocharax gilli.

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DIVERSIDADE DE PEIXES NO RIO MUTUM E BAÍA MARGINAL NO PANTANAL

– MATOGROSSENSE ATRAVÉS DA COLETA ATIVA

1Auclar Felipe Botini, 2Cleber Aparecido de Barros, 3Talitha Hevilla de Souza, 4Nadia Botini, 5Nelson Antunes de Moura

1,2,3Graduandos em Ciências Biológicas, Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT, Tangará da Serra – MT, Laboratório de Ictiologia e Piscicultura e-mail:

([email protected] 4Bióloga- Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Tangará da Serra –

MT 5Doutor em Ecologia e Recursos Naturais, Departamento de Ciências Biológicas da Universidade do Estado de Mato Grosso, MT 358 Km 07, Jardim Aeroporto, 78300-

000 Tangará da Serra, MT, Brasil:

Recebido em: 31/03/2015 – Aprovado em: 15/05/2015 – Publicado em: 01/06/2015

RESUMO O presente trabalho teve como objetivo avaliar a diversidade, riqueza e abundância de espécies de peixes do rio Mutum e baía Marginal, no Pantanal Mato-grossense. Capturou-se 537 indivíduos pertencentes a duas ordens, cinco famílias e 27 espécies. Foram realizadas duas coletas no mês de outubro de 2014, onde o Pantanal encontrava-se no período de enchente. Foram determinados três pontos de coleta: P1 (Baia Marginal), P2 (encontro da Baia Marginal com Rio Mutum) e P3 (no Rio Mutum), utilizando como aparato de coleta tarrafa, com malha de 12 mm, 2 m de altura e 12 metros de borda. As duas ordens coletadas foram Characiformes e Perciformes. A família mais representativa foi Characidae, com 15 espécies e a menos representativa foi a Erythrinidae, com uma espécie. A espécie que teve maior número de indivíduos foi Cyphocharax gillii. O P2 obteve o maior índice de diversidade (H’ = 1, 71), Riqueza de espécies (d= 2,23) e Abundância (362 indivíduos). A partir do índice de Equitabilidade, o P1 foi único que apresentou distribuição uniforme entre as espécies, com índice de equitabilidade de J’ = 0,6. Já os pontos 2 e 3 a espécie dominante foi Cyphocharax gilli. PALAVRAS-CHAVE: Abundância, Equitabilidade, Riqueza de espécies.

FISH DIVERSITY IN RIVER MUTUM AND MARGINAL BAY IN P ANTANAL - MATOGROSSENSE OVER THE ACTIVE COLLECT.

ABSTRACT This study aimed to evaluate the diversity, richness and abundance of fish species in the Mutum river and Marginal bay, Pantanal of Mato Grosso. 537 individuals were captured belonging to two orders, five families and 27 species. Two samples were collect in October 2014, where the Pantanal was in the flood period. They were determined three points: P1 bay Marginal, P2 meeting of Marginal bay with river Mutum and P3 in Mutum river, using as accessory of tarrafa for collect, with a mesh of 12 mm, 2 m height and 12 meters of border. The two collected orders were Characiformes and Perciformes. The most representative family was Characidae, with 15 species and less representative was Erythrinidae with one species. The species that got the greater number of individuals was Cyphocharax gilli.

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The Point 2 had a higher diversity index (H '= 1, 71), Species richness (d = 2.23) and abundance (362). From the equitability index, point 1 was one that was uniformly distributed among species, with equitabilityindex J '= 0.6. Now the points 2 and 3 dominant species was Cyphocharax gilli. KEYWORDS: Abundance, Equitability, Species richness.

INTRODUÇÃO

O Pantanal é a maior planície de inundação contínua do planeta CAlHEIROS & OlIVEIRA, (2010). Localiza-se na porção central da América do Sul, extremo norte da Bacia Platina, entre os paralelos 15°45´ a 22°15 ´ de latitude Sul e os meridianos 54°45´ a 58° de longitude Oeste, ocupando no total uma área de aproximadamente 138 km² da região Centro-Oeste do Brasil. Estendendo-se também pelos territórios da Bolívia e do Paraguai (KUERTEN, 2011).

O bioma Pantanal, considerado Patrimônio Nacional pela Constituição Federal de 1988 e Reserva da Biosfera pela UNESCO no ano de 2000, é a maior área inundável do mundo, com 151.313 Km². Este fenômeno de alagamento é importante para a produtividade da pecuária e da pesca, o controle natural de queimadas e a abundância e distribuição da fauna e flora da região. A sazonalidade das inundações está diretamente relacionada ao regime de precipitação pluviométrica, entretanto há áreas que permanecem secas ou inundadas durante todo o ano (CARDOSO, 2010).

O rio Paraguai é o principal responsável pela drenagem da planície pantaneira. Sua nascente encontra-se no planalto dos Parecis, na região de Diamantino, Mato Grosso, e seus principais afluentes são os rios Jauru, Cuiabá, São Lourenço, Piquiri, Taquari, Negro, Miranda e Apa. Assim, as principais responsáveis pela inundação da planície e criação de novos habitats para os peixes, são as chuvas que ocorrem nas cabeceiras do rio Paraguai e o aumento do índice de pluviosidade local (FERNANDES et al., 2010).

Esse fenômeno contribui para uma alta diversidade biológica, tendo elevada importância para a manutenção da abundância de peixes do Pantanal (FERNANDES et al., 2010). Isto ocorre porque as planícies de inundação possuem comunidades fitoplanctônica, zooplanctônica, perifitônica e perizôonica suficientemente desenvolvidas que suportam a alimentação e o desenvolvimento de larvas e alevinos de peixes em uma produção mais elevada do que se fosse proveniente de áreas permanentemente inundadas ou apenas da produção proveniente do canal do rio (RESENDE, 2008).

Essa dinâmica do pulso de inundação é considerada a principal determinante da organização das comunidades nas planícies inundáveis, mas existem outros fatores que também influenciam na distribuição e parâmetros descritores da ictiofauna em alagados do Pantanal, dentre estes, destaca-se a distância dos rios, que são fontes de colonização (ROSA & RESENDE, 2011). Essa alteração sazonal dos níveis dos rios é dividida em quatro estações distintas: seca (de junho a setembro), enchente (de outubro a dezembro), cheia (de janeiro a março) e vazante (abril e maio) (MORAES, 2013). Essa alteração está entre os principais fatores que regem o funcionamento do sistema e garantem a biodiversidade, representada por mais de 650 espécies de aves, 80 espécies de mamíferos, 50 espécies de répteis, 2.000 espécies de plantas e mais de 260 espécies de peixes (MARQUES, 2005). No Pantanal, BRITSKI et al. (2007) assinalaram 110 espécies de Characiformes, 105 de siluriformes, 15 de Gymnotiformes, 17 de Cichlidae, 11 de

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Cyprinodontiformes e 11 espécies pertencentes a outros grupos, totalizando 269 espécies, a maior parte delas reescritas sucintamente. Assim, nesta região, há peixes detritívoros (que se alimentam de restos de animais e vegetais, encontrados no fundo dos rios), herbívoros (alimentam-se de folhas e frutos), carnívoros (que se alimentam de peixes, por exemplo) e suas variações, que são outras formas de alimentação, como, por exemplo, insetívoros, iliófagos (que se alimentam de lama), lepidófagos (que se alimentam de escamas), etc (MARQUES, 2005).

Desta forma torna-se necessário estudos em comunidades, portanto o objetivo desse estudo foi caracterizar a ictiofauna do Rio Mutum e Baía Marginal, quanto à diversidade, riqueza de espécies, equitabilidade e abundância de espécies quanto à estrutura e diversidade, riqueza de suas comunidades, visando contribuir para o conhecimento da fauna de peixes desta região do Pantanal.

MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo

A pesquisa foi realizada no distrito de Mimoso, pertencente ao município de Santo Antônio do Leverger –MT. O clima da região é caracterizado por uma estação seca e fria entre maio e setembro e uma chuvosa e quente entre outubro e abril. As temperaturas médias do ar nos meses de verão, de dezembro a fevereiro, é de 32ºC e durante o inverno o clima torna-se muito mais frio e seco na faixa de 21ºC. A média da precipitação anual da planície alagável está entre 1000 e 1400mm, com picos máximos em janeiro e mínimos em julho. A precipitação varia durante o ano, causando um ciclo regular de seca e cheia, o que torna o Pantanal um ecossistema único.

Foram realizadas duas coletas no mês de outubro de 2014, sob licença SISBIO 26784-1, em três pontos, sendo eles: P1, localizado a margem direita da baia Marginal, próximo a ponte de concreto da rodovia 456, trecho: Mimoso – Capoeirinha, nas coordenadas -16.326163, -55.831815. P2, localizado no encontro do rio Mutum com baia Marginal, nas coordenadas -16.326343, -55.832851 e P3, localizado no rio Mutum, 100 m a montante da ponte de concreto da rodovia 456, trecho: Mimoso – Capoeirinha, nas coordenadas -16.324124, -55.832572 (Figura 1).

FIGURA 1. Localização da área de coleta no distrito de Mimoso, Santo Antônio do Leverger. Fonte. Foto obtida através do ArcGIS.

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MÉTODOS

Os equipamentos utilizados foram duas tarrafas, cada uma com malha de 12 mm, 2 m de altura e 12 metros de borda. As tarrafas foram lançadas 10 vezes por coletor em cada ponto, ou seja, em cada ponto foram lançadas 20 tarrafadas. Os exemplares coletados foram armazenados em sacos plásticos e fixados em formol 10% para o transporte até o laboratório, e após dois dias foram transferidos para álcool 70%. Os exemplares coletados foram triados e identificados com apoio da chave de dicotômica BRITSKI et al., (2007), e em seguida calculado os seguintes índices:

a) Diversidade de Shannon-Wiener, este índice é apropriado para amostras de espécies de uma comunidade ou sub- comunidade de interesse, KREBS, (1989), e é estimado através da equação: H’ = Σ (pi). Ln 2 (pi), onde: H’ = diversidade de espécies (bits/indivíduo); pi = proporção da espécie i na comunidade. Sabendo-se que: pi = (ni/N), onde: ni = número de indivíduos da espécie i; N = número total de indivíduos.

b) Equitabilidade de Pielou (J’), é um índice de equitabilidade ou uniformidade, em que a uniformidade se refere ao padrão de distribuição dos indivíduos entre as espécies, é baseado em função do índice de Shannon (KREBS, 1989), sendo definido por: J’ = H’/log2 S, onde: J’ = equitabilidade (variando entre 0 e 1); H’ = diversidade de Shannon- Weaver; S = número de espécies na comunidade.

c) Riqueza de espécies ODUM, (1988): d = (S – 1) / log2 N, onde: S = número de espécies; N= número de indivíduos.

d) Similaridade de Jaccard, obtidos dos calculados, como: Jaccard: J = S12/(S1+S2-S12), onde S1 é o número de espécies da comunidade 1, S2 o número de espécies da comunidade 2 e S12 o número de espécies comuns a ambas as comunidades.

Os exemplares estão armazenados no Laboratório de Citogenética do Centro de Pesquisas, Estudos e Desenvolvimento Agro - Ambientais – CPEDA, da Universidade do Estado de Mato- Grosso (UNEMAT), campus Tangará da Serra.

RESULTADOS Foram coletadas 27 espécies, distribuídas em cinco famílias e duas ordens. A

ordem que se destacou foi Characiforme, com 21 espécies agrupadas em quatro famílias, Characidae, Anostomidae, Curimatidae e Erythrinidae, seguida pela ordem Perciforme, com 6 espécies alocadas na família Cichlidae, representada na tabela abaixo (Quadro 1).

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QUADRO 1. Lista das espécies coletadas nos três pontos amostrais, distrito de Mimoso – MT.

O ponto com maior abundância de indivíduos foi o P2, no encontro da Baia

Marginal com rio Mutum, com 362 indivíduos coletados (67,4%), seguido pelo P3, no rio Mutum, com 167 indivíduos (31%), e o P1, na baia Marginal teve a menor abundância com 8 indivíduos (1,4%), (Figura 2).

ORDEM FAMÍLIA GENÊRO ESPÉCIE Número de exemplares

CHARACIFORME Characidae Astyanax assuncionensis 04 Metynnis maculatus 23 mola 55 Acestrorhynchus pantaneiro 02 Piabucus melanostoma 01 Poptella paraguayensis 69 Roeboides bonariensis 04 Serrasalmus marginatus 01 maculatus 02 Tetragonopterus argenteus 15 Triportheus sp. 03 Ctenobrycon alleni 01 Gymnocorymbus ternetzi 02 Charax leticiae 01 Catoprion mento 06 Curimatidae Cyphocharax gillii 286 Steindachnerina nigrotaenia 01 Anostomidae Schizodon borellii 08 Leporinus friderici 01 lacustris 01 Erythrinidae Hoplias malabaricus 05 PERCIFORME Cichlidae Mesonauta festivus 06 Crenicichla semifasciata 02 lepidota 01 Satanoperca papaterra 34 Cichlasoma dimerus 02 Bujurquina vittata 01 Total 537

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FIGURA 2. Abundância absoluta de indivíduos capturados por ponto de coleta.

Na ordem Characiforme a família que se destacou foi Characidae, com 15 espécies, seguida por Anostomidae com 3 espécies, Curimatidae com 2 espécies e Erythrinidae com 1 espécie. Já na ordem Perciforme a família Cichlidae foi representada por 6 espécies, representado na Figura 3.

FIGURA 3. Frequência absoluta das 5 famílias coletadas.

A distribuição de abundâncias das espécies na comunidade mostrou que poucas espécies foram muito abundantes, algumas com abundâncias intermediárias e a maioria com baixa abundância, sendo que 77,78% das espécies capturadas apresentaram abundância inferior a 9 indivíduos, e somente 22,22% das espécies

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foram representadas por 15 ou mais indivíduos (Figura 4). A família Characidae foi a que apresentou maior abundância de espécies, porém, a família com maior abundância de indivíduos coletados foi a Curimatidae, destacando a espécie Cyphocharax gillii.

FIGURA 4. Abundância absoluta das vinte e sete espécies coletadas nos três pontos

amostrais, no distrito de Mimoso - Mato Grosso.

Índice de diversidade (H’) de espécies

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Os três pontos amostrais apresentaram baixa diversidade de espécies. O ponto com o maior índice de Diversidade de Shannon-Wiener (H’), foi o P2 com H’ = 1, 71, seguido pelo P3 com, H’ = 1,33, e o P1 teve o menor índice com, H’ = 1,21 (Figura 5).

FIGURA 5. Índice de diversidade de Shannon - Wiener (H') dos três pontos de

coleta.

Considera-se alta diversidade os valores acima de 3,0, média entre 3,0 e 2,0, baixa entre 2,0 e,10 e muito baixa inferior a 1,0. Desta forma, os 3 pontos amostrados apresentaram baixa diversidade, pois os valores variaram entre 2,0 e 1,0.

Índice de Equitabilidade ou Uniformidade (J’)

O P1, apresentou um índice de equitabilidade de J’ = 0,6 (Figura 6). Portanto, no ponto amostrado na baia Marginal a distribuição entre as espécies é uniforme, uma vez que o índice de equitabilidade de Pielou (J’) indica o grau de distribuição dos indivíduos no seu habitat e determina que resultados acima de 0,5 indicam uma distribuição uniforme entre as espécies. Apesar da complexidade da comunidade, os indivíduos encontram-se bem distribuídos. O P2, apresentou J’ = 0,39 (Figura 6). Ou seja, no encontro da baia Marginal com rio Mutum a distribuição entre as espécies não é uniforme, sabendo que valores de equitabilidade abaixo de 0,5 significa que existe a dominância de uma ou mais espécies na comunidade estudada. O P3, apresentou J’ = 0,34 (Figura 6). Assim da mesma forma que no P2, no P3, a distribuição entre as espécies não é uniforme, demonstrando que existe a dominância de uma ou mais espécies na comunidade estudada.

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FIGURA 6. Índice de Equitabilidade de Pielou (J'), dos três pontos amostrados.

Através do índice de equitabilidade, foi possível notar que nos pontos 2 e 3 houve a dominância de uma espécie, pois, resultados de equitabilidade abaixo de 0,5 representam uma distribuição não uniforme na comunidade estudada. A espécie dominante no P1 e P2 foi Cyphocharax gillii (Figura 7).

FIGURA 7. Frequência absoluta das espécies coletadas no P1 e P2. Destacando a

espécie Cyphocharax gillii.

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Índice de Riqueza das espécies (d)

O índice mostrou que o ponto com maior riqueza foi o P2 (d = 2,23), seguido pelo P3 (d = 1,76) e o P1 com menor riqueza de espécies (d = 1) (Figura 8). Como se sabe, a riqueza de espécies é muito dependente do tamanho da amostra e, portanto, o usuário deve padronizar o esforço amostral das coletas a priori (no campo). No presente trabalho não foi possível padronizar o tamanho das amostras, devido a metodologia utilizada.

FIGURA 8. Índice de Riqueza dos três amostrados. As espécies Cichlasoma dimerus e Charax leticiae, foram capturadas somente no P1. Já as espécies, Triportheus sp, Piabucos melanostoma, Serrasalmus marginatus, Roeboides bonariensis, Ctenobrycon alleni, Gymnocorymbus ternetzi, Crenicichla semifasciata, Crenicichla lepidota, Metynniis mola, foram capturadas somente no P2. As espécies, Astyanax assuncionensis, Leporinus friderici, Leporinus lacustris, Bujurquina vittata, Steindachnerina nigrotaenia só foram capturadas no P3.

Índice de Similaridade de Jaccard (J) O Índice de Similaridade de Jaccard leva em conta a relação existente entre o

número de espécies comuns e o número total de espécies encontradas quando se comparam duas amostras. A similaridade entre os pontos apresentou uma alternância, sendo baixa entre os pontos 1 e 2 (J = 9,09%), e 1 e 3 (J = 11,11%) e média entre os pontos 2 e 3 (J = 36%) (Figura 9). O índice de similaridade do ponto 2 em relação ao ponto 3 é de 36%, significando que menos da metade das espécies são comuns às comunidades.

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FIGURA 9. Índice de Similaridade de Jaccard (J), dos três pontos amostrados.

As espécies similares no ponto 2 e 3 foram: Acestrorhynchus pantaneiro, Tetragonopterus argenteus, Catoprion mento, Schizodon borellii, Poptella paraguayensis, Mesonauta festivus, Satanoperca papaterra, Metynniis maculatus, Cyphocharax gillii.

DISCUSSÃO A ordem Characiformes representa o maior grupo de peixes da América do

Sul, com mais de 1100 espécies conhecidas neste continente e apresenta variabilidade adaptativa a diversidade de habitat na região neotropical MELO et al., (2005). No presente trabalho a dominância da ordem é evidente tanto na Baia quanto no Rio.

Os resultados desse estudo demonstraram que a família Characidae’ se destacou na ordem Characiforme, para BRITSKI (1972), a destacada participação da família Characidae, entre os Characiformes, é decorrente da ampla distribuição de suas espécies em água doce, além desta família incluir a maioria das espécies de peixes de águas interiores do Brasil.

Segundo TRINDADE (2010) uma interessante medida em estudo de comunidade de peixes, se refere ao número de famílias e ao número de espécies por família, poucas famílias reúnem a maioria das espécies.

Dentre o total de espécies capturadas Cyphocharax gillii, foi a mais abundante em número e biomassa, assim como SACCOL (2008), que obteve em seu trabalho a espécie Cyphocharax voga dominante.

No presente trabalho o ponto com maior diversidade de espécies, e número de indivíduos foi o P2, com 20 espécies coletadas e 362 indivíduos. Para SHIMA et al., (2008), isto ocorre por que os ambientes não são homogêneos no tempo e no espaço, e dada a importância do ambiente na caracterização do nicho ecológico, distintas interações entre as espécies ocorrem paralelamente a essas dimensões.

As tentativas de resposta para os padrões que a explicam são numerosos e ainda estão longe de terminarem. Um dos principais fatores responsáveis por

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tamanha riqueza em espécies no globo é a complexidade estrutural do habitat, principalmente em ambientes tridimensionalmente complexos tais como florestas tropicais e áreas alagadas (SILVEIRA, 2010). O índice de equitabilidade ou uniformidade, demonstrou que nos pontos 2 e 3 a distribuição não foi uniforme, pois os resultados foram menores que 0,5. De acordo com SILVA et al., (2011), a equitabilidade varia entre 0 e 1, e é considerada alta quando maior que 0,5.

Quando se tem um baixo valor de equitabilidade significa que existe a dominância de uma ou mais espécies na comunidade estudada, enquanto equitabilidade alta significa distribuição uniforme entre as espécies na amostra e demonstra que, apesar da complexidade da comunidade, os indivíduos encontram-se bem distribuídos. A espécie dominante nessas duas comunidades foi Cyphocharax gillii. Já no P1 a distribuição foi uniforme, pois o resultado da equitabilidade foi superior a 0,5, demonstrando que não houve dominância de nenhuma espécie na comunidade.

No presente estudo o ponto com maior riqueza e diversidade foi o P2, onde o mesmo era um ambiente muito heterogêneo e com grande disponibilidade de abrigos, embaixo das macrófitas aquáticas. Segundo TRINDADE, (2010) um parâmetro importante que deve ser levado em consideração na estruturação da ictiofauna em relação à distribuição longitudinal é a cobertura vegetal.

Para BAGINSKI et al, (2010), a riqueza e a abundância diminui no pantanal no período de seca, e isto pode ter sido refletido neste trabalho que foi realizado no mês de outubro onde índices de riqueza e diversidade não foram tão altos.Através do baixo índice de similaridade de Jaccard entre os pontos amostrados, ficou claro que as comunidades de peixes habitam diferentes habitats no ecossistema.

Por mais que existiam espécies em comum, as assembléias de cada um desses pontos são diferentes, isso é verificado pelos baixos valores de similaridade obtidos entre os pontos (bem inferiores a 50%), provavelmente refletindo as diferentes características ambientais.

CONCLUSÕES

Embora somente um tipo de arte de pesca (Tarrafa) tenha sido utilizado, os indivíduos coletados demonstraram como está estruturada a assembléia. Este estudo, além de importante, serve como base para o conhecimento das espécies de peixes que compõe a comunidade local. Desta forma, estudos como este podem amparar a realização de trabalhos mais específicos, tendo em vista a importância do local e a escassez de estudos de sua ictiofauna.

Os indivíduos capturados pertenceram em sua maioria à ordem Characiformes, seguidos por Perciformes, fato esperado para regiões neotropicais.

AGRADECIMENTOS

Agrademos aos professores Nelson Antunes de Moura e Patrícia Campos, pelo comprometimento da ida a campo, e ao professor Akikazu Pereira Takeuchi pelo auxilio na coleta. E a escola Rural Santa Claudina, pela disponibilidade do alojamento.

REFERÊNCIAS BAGINSKI, L.J. et al. A dimensão espacial e temporal da diversidade de peixes da zona litoral vegetada de lagoas marginais da planície de inundação do rio Cuiabá, Pantanal, Brasil. Biota Neotropica , v. 7, n. 3, p. 1-6, 2010.

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