Recomendação para Uso de Esterqueiras para Armazenagem de Dejetos Suínos

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0,1,67e5, $*5,&8/785$ 3(&8É5, $%$67(&,0(172 Comunicado 361 Técnico ISSN 0100-8862 Maio/2004 Concórdia, SC Recomendações para uso de Esterqueiras para Armazenagem de Dejetos de Suínos Airton Kunz 1 Paulo Armando V. de Oliveira 2 Martha Mayumi Higarashi 3 Vicente Sangoi 4 Introdução Os dejetos produzidos pela atividade suinícola têm causado uma série de problemas ambientais devido a seu alto potencial poluidor. Várias alternativas de manejo e tratamento deste sub-produto da atividade têm sido desenvolvidas e testadas no sentido de mitigar seus efeitos sobre o meio ambiente. A utilização de esterqueiras para armazenagem de dejetos de suínos se coloca como uma alternativa de baixo custo frente a outras alternativas, visando impedir que o dejeto percole ou lixivie pelo solo e seja carreado para os cursos d´água subterrâneos e superficiais. Sistemas de Armazenagem de Deje- tos de Suínos - Esterqueiras As esterqueiras constituem-se em depósitos que têm por objetivo principal a armazenagem dos dejetos líquidos provenientes de sistemas de produção de suínos. Estes sistemas devem ser dimensionados para um período mínimo de estocagem de 120 di- as (levando-se em conta a legislação do estado de Santa Catarina), condições estas que permitem uma pequena estabilização do dejeto. As esterqueiras são abastecidas diariamente, permanecendo o material em fermentação até sua retirada. Quando podem ser utilizadas As esterqueiras podem ser utilizadas quando o produtor possuir área suficiente (própria ou de ter- ceiros) para aplicação no solo, sendo os critérios utilizados altamente variáveis e geralmente bastan- te questionados. O estado de Santa Catarina por exemplo através da Instrução Normativa número 11 (veja http://www.fatma.sc.gov.br), limita sua aplicação a 50m 3 /ha/ano. Características As esterqueiras, geralmente, são de formato cilínd- rico, trapezoidal ou retangular. As de formato cilíndrico proporcionam melhor distribuição de carga nas paredes laterais, sendo menos suscetíveis a rachaduras, en- quanto que as retangulares e trapezoidais apresentam como grande vantagem a facilidade na sua construção. É altamente recomendável que as esterqueiras sejam revestidas internamente para impedir a infiltração do dejeto no solo. Este procedimento é recomendado mesmo em solos com grande capacidade de imper- meabilização, como solos argilosos, pois os riscos am- bientais associados à possibilidade de contaminação do solo e água são muito altos quando consideram-se as características do dejeto suíno. Os materiais mais comuns utilizados para revesti- mento são pedras argamassadas, alvenaria de tijolos, 1 Químico Ind., D.Sc. Embrapa Suínos e Aves. 2 Eng. Agríc., Ph.D. Embrapa Suínos e Aves. 3 Química, D.Sc. Embrapa Suínos e Aves. 4 Técnico de Nível Superior I. Embrapa Suínos e Aves.

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Documento de autoria da EMBRAPA com recomendações de construção e uso de esterqueiras para o tratamento e inativação biológica de dejetos suínos.

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  • 0,1,67e5,' $*5,&8/785$

    3(&85, $%$67(&,0(172 Comunicado 361Tcnico ISSN 0100-8862Maio/2004Concrdia, SC

    Recomendaes para uso deEsterqueiras para Armazenagemde Dejetos de Sunos

    Airton Kunz1

    Paulo Armando V. de Oliveira2

    Martha Mayumi Higarashi3

    Vicente Sangoi4

    Introduo

    Os dejetos produzidos pela atividade suincola tmcausado uma srie de problemas ambientais devidoa seu alto potencial poluidor. Vrias alternativas demanejo e tratamento deste sub-produto da atividadetm sido desenvolvidas e testadas no sentido de mitigarseus efeitos sobre o meio ambiente.

    A utilizao de esterqueiras para armazenagem dedejetos de sunos se coloca como uma alternativa debaixo custo frente a outras alternativas, visando impedirque o dejeto percole ou lixivie pelo solo e seja carreadopara os cursos dgua subterrneos e superficiais.

    Sistemas de Armazenagem de Deje-tos de Sunos - Esterqueiras

    As esterqueiras constituem-se em depsitos quetm por objetivo principal a armazenagem dos dejetoslquidos provenientes de sistemas de produo desunos. Estes sistemas devem ser dimensionadospara um perodo mnimo de estocagem de 120 di-as (levando-se em conta a legislao do estado deSanta Catarina), condies estas que permitem umapequena estabilizao do dejeto. As esterqueiras soabastecidas diariamente, permanecendo o material emfermentao at sua retirada.

    Quando podem ser utilizadas

    As esterqueiras podem ser utilizadas quando oprodutor possuir rea suficiente (prpria ou de ter-ceiros) para aplicao no solo, sendo os critriosutilizados altamente variveis e geralmente bastan-te questionados. O estado de Santa Catarina porexemplo atravs da Instruo Normativa nmero 11(veja http://www.fatma.sc.gov.br), limita sua aplicao a50m3/ha/ano.

    Caractersticas

    As esterqueiras, geralmente, so de formato cilnd-rico, trapezoidal ou retangular. As de formato cilndricoproporcionam melhor distribuio de carga nas paredeslaterais, sendo menos suscetveis a rachaduras, en-quanto que as retangulares e trapezoidais apresentamcomo grande vantagem a facilidade na sua construo.

    altamente recomendvel que as esterqueirassejam revestidas internamente para impedir a infiltraodo dejeto no solo. Este procedimento recomendadomesmo em solos com grande capacidade de imper-meabilizao, como solos argilosos, pois os riscos am-bientais associados possibilidade de contaminaodo solo e gua so muito altos quando consideram-seas caractersticas do dejeto suno.

    Os materiais mais comuns utilizados para revesti-mento so pedras argamassadas, alvenaria de tijolos,

    1Qumico Ind., D.Sc. Embrapa Sunos e Aves.2Eng. Agrc., Ph.D. Embrapa Sunos e Aves.3Qumica, D.Sc. Embrapa Sunos e Aves.4Tcnico de Nvel Superior I. Embrapa Sunos e Aves.

  • 2 Recomendaes para uso de Esterqueiras para Armazenagem de Dejetos de Sunos

    lonas de PVC ou PEAD. As duas primeiras podem apre-sentar uma maior durabilidade, no entanto, a presenade rachaduras um problema que frequentementeacomete este tipo de esterqueira causando vazamentoe contaminao ambiental. O revestimento com lonasplsticas apresenta uma maior rapidez e facilidade deimplantao, no sendo necessrios grandes investi-mentos para operacionalizar o sistema.

    Localizao e dimensionamento deesterqueiras

    A localizao da esterqueira deve obedecer a legis-lao ambiental vigente em cada estado do Brasil. AFigura 1, mostra as principais distncias que devem serobservadas para a construo da esterqueira tomando-se como base o Estado de Santa Catarina.

    Em terrenos onde existir a possibilidade de infil-trao, um sistema de drenagem deve ser construdopara evitar-se problemas nas esterqueiras. Quando oterreno apresentar pedras, cascalhos ou qualquer outroobjeto perfurocortante e o depsito for revestido comlona plstica, uma camada de terra de cerca de 10 cmdeve ser colocada no leito e nas paredes objetivandoevitar-se a perfurao da lona.

    A rea do entorno da esterqueira deve ser isoladapara evitar a ocorrncia de acidentes com animaisou mesmo pessoas. As guas de chuva devem serdesviadas para que seja impedida sua entrada naesterqueira pois isto causar uma excessiva diluiodos dejetos incrementando sensivelmente os custos dearmazenagem e transporte.

    Para o correto dimensionamento da esterqueira con-siderar a capacidade de produo de dejetos (Tabela 1).

    Tabela 1 Volume de dejetos produzidos de acordocom o tipo de granja por dia.

    Tipo de granja Nvel de diluioPouca Mdia Muita

    Ciclo completo (l/matriz) 100 150 200UPL (l/matriz) 60 90 120UT (l/animal) 7,5 11,2 15Fonte: Perdomo et al. (1999).Onde: UPL: Unidade produtora de leites e UT: Unidade determinaoObs: A ttulo de licenciamento alguns estados utilizam dadosque podem diferir da tabela acima, sugere-se consultar o rgoambiental estadual.

    De posse desses dados, calcula-se o volume daesterqueira pela equao:

    V= Vd x Ta

    Onde: V = Volume da esterqueira (em m3)

    Vd = Volume de dejetos produzido (em m3/dia)

    Ta = Tempo de armazenamento (ex.: o estadode Santa Catarina estipula um mnimo de 120 dias).

    A ttulo de ilustrao, para um produtor que possuium rebanho de 200 animais em uma unidade determinao, com um nvel mdio de diluio, o volumeda esterqueira pode ser calculado multiplicando-se onmero de animais (200) pelo volume do dejeto poranimal (0,0112 m3/dia) e pelo tempo de armazena-mento na esterqueira (ex.: 120 dias). Isto totalizauma esterqueira com capacidade de armazenamentode 268,8 m3, que pode ser aproximado a 270 m3.

    recomendado que a esterqueira tenha uma pro-fundidade mnima de 2,5 m, para que se tenha con-dies anaerbias, permitindo uma pequena estabili-zao dos dejetos durante o tempo de armazenamento,haja vista que a matria orgnica mais rapidamenteestabilizada nestas condies. Quando o revestimentoda esterqueira for de lona plstica deve-se consideraruma relao de 1:1 entre a profundidade e a inclinaodo talude (para outras relaes se faz necessrio umestudo de solo) (Figura 2).

    Custos para construo

    O custo para construo de uma esterqueira podesofrer variaes em funo do volume e do materialempregado. A Tabela 2, apresenta alguns dadoscomparativos, com valores aproximados, para con-struo de uma esterqueira com capacidade de 100 m3

    utilizando-se diferentes materiais.

  • Recomendaes para uso de Esterqueiras para Armazenagem de Dejetos de Sunos 3

    Figura 1 Distncias mnimas requeridas para instalao de esterqueirase pocilgas segundo a legislao vigente no estado de SantaCatarina (para outros estados sugere-se consultar o rgoestadual de proteo ambiental).

    Figura 2 Corte esquemtico de uma esterqueira revestidacom lona plstica ( aconselhvel manter a relaocomprimento (A) x largura (B) de 2 a 3:1).

  • 4 Recomendaes para uso de Esterqueiras para Armazenagem de Dejetos de Sunos

    Tabela 2 Custo aproximado para uma esterqueira de 100 m3 com 3 diferentes materiais.

    Tipo de esterqueira Custo aproximado (R$)

    Alvenaria com vigas, pilares e piso de 6.550,00concreto armado (0,10 m e res. 18 Mpa)Blocos de Concreto 0,20m x 0,20m x 0,40m), 11.056,00vigas de baldrame , intemediria e viga derespaldo, piso em concreto armado (0,10 m e res. 18 Mpa),pilares de concreto armado (0,15m x 0,15m)PVC ou PEAD (0,8 mm de espessura) 1.950,00*mo de obra e material conforme levantamento realizado pela Embrapa Sunos e Aves, na regio deConcrdia/SC, no ano de 2003.

    Recomendaes gerais

    A utilizao de esterqueiras para armazenagem dedejetos deve ser acompanhada de algumas alteraesno manejo e instrues da granja como: troca debebedouros por modelos que diminuam o desperdciode gua, um plano de manejo de dejetos, aes parareduo da entrada de gua de chuva nas canaletas,alm de um plano agronmico para disposio dosdejetos no solo.

    Bibliografia Consultada

    AMARAL, L.L.; FERREIRA, T.F.; MOREIRA, B.C.; MAR-CHI, S.L.; PEDROSO-DE-PAIVA, D. Regularizaoambiental da atividade suincola no estado de SantaCatarina. Concrdia: EMBRAPA-CNPSA, 2003. 2p.(EMBRAPA-CNPSA. Cartilha Tcnica).

    DARTORA, V.; PERDOMO, C.C.; TUMELERO, I.V.MANEJO DE DEJETOS DE SUNOS. CONCRDIA:EMBRAPA-CNPSA, 1998, 33p. (EMBRAPA-CNPSA.BIPERS, v.7, n.11).

    PERDOMO, C.C.; OLIVEIRA, P.A.V.; KUNZ; A.Metodologia sugerida para estimar o volume e acarga de poluentes gerados em uma granja desunos. Concrdia: EMBRAPA-CNPSA, 2003, 6p.(EMBRAPA-CNPSA. Comunicado Tcnico, 332).

    PERDOMO, C.C; COSTA, R.R; MEDRI, V; MIRANDA,C.R. Dimensionamento de sistema de tratamento eutilizao de dejetos sunos. Concrdia: EMBRAPA-CNPSA, 1999. 5p. (EMBRAPA - CNPSA. ComunicadoTcnico, 234).

    PERDOMO, C.C.; OLIVEIRA, P.A.; KUNZ, A. Sistemade tratamento de dejetos sunos: Inventriotcnolgico. Concrdia: EMBRAPA-CNPSA, 2003,83p. (EMBRAPA-CNPSA. DOCUMENTOS, 85).

    OLIVEIRA, P.A.V.; MARTINS, R.R.; PEDROSO, D.;LIMA, G.J.M.M.; LINDNER, E.A.; BELLI FILHO, P.;CASTILHO JNIOR, A.B.; SILVEIRA, V.R.; BALDI-SERA, I.; MATTOS, A.C.; GOSSMANN, H.; CRIST-MANN, A.; BONETT, E.; HESS, A. Manual de manejoe utilizao dos dejetos de sunos. Concrdia:EMBRAPA-CNPSA, 1993. 188p. (EMBRAPA-CNPSA.Documentos, 27).

    ComunicadoTcnico, 361

    0,1,67e5,' $*5,&8/785$

    3(&85, $%$67(&,0(172

    Exemplares desta edio podem ser adquiridos na:Embrapa Sunos e AvesEndereo: Caixa Postal 21, 89700-000,Concrdia, SCFone: (49) 442-8555Fax: (49) 442-8559Email: [email protected]

    1a edio1a impresso (2004) tiragem: 100

    Comit dePublicaes

    Presidente: Paulo Roberto Souza da SilveiraMembros: Paulo Antnio Rabenschlag de Brum,Janice Reis Ciacci Zanella, Gustavo J.M.M. deLima, Julio Cesar P. Palhares, Ccero JulianoMonticelli.

    RevisoresTcnicos

    Ccero J. Monticelli, Julio Cesar P. Palhares

    Expediente Superviso editorial: Tnia M.B. Celant.Editorao eletrnica: Simone Colombo.Normalizao bibliogrfica: Irene Z.P. Camera.