ReCRIA #2

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A segunda edição da revista eletrônica da CRIA UFMG Jr. tem como tema o contraste, em todas as suas formas. Nossos repórteres e colaboradores abordam o assunto em 12 matérias diferentes, que vão de reflexões à atualidades. Aproveite a leitura - e o visual - e descubra cada um desses contrastes.

Transcript of ReCRIA #2

  • Temas costumam limitar. Festas, desles de moda, programas de TV,

    sites, so submetidos a restries quando devem seguir um tema. A

    ReCRIA uma revista temtica e, portanto, estaria sujeita mesma

    premissa. Mas como moderar uma publicao que carrega a

    importncia dada liberdade de se reinventar no prprio nome?

    Como conter mentes criativas afoitas para transbordar nas linhas de

    texto e de cores?

    No limitamos. Escolhemos um tema que extrapola, um tema plural

    em suas formas: o substantivo vido de ser qualicado, o adjetivo

    espreita de ser atribudo a algo, o verbo que convida ao. Escolhe-

    mos o contraste, em todas as suas exes. A ReCRIA contrastante

    porque recriar contrastar. A cada nova edio reinventamos a

    revista que j existia. Afrontamos o desconhecido trazendo boas

    novas. Vamos de encontro at mesmo ao conhecido, criando novas

    verses do que estava banalizado. Traduzimos as particularidades

    de quem nos cerca nessas pginas, que tambm so nicas. Nem

    sempre explcito, ele pode estar sutilmente presente na relao de

    duas matrias - humanas ou jornalsticas.

    O contraste pode ainda ser veemente, marcante como a disparidade

    entre a unio de todas as cores e a ausncia delas. Ele aparece assim

    nos estilos de escrita variados de nossos reprteres, na abundncia

    de pautas, na diversidade de traos dos nossos criativos. Pessoal e

    impessoal, retr e moderna, densa e minimalista, essa ReCRIA feita

    de uma innidade de contrastes.

    Substantive-se. Adjetive-se. Contraste para se ReCRIAr.

  • NDICEPLANEJAMENTO: CENRIOS E REFLEXES

    CONTRASTE

    Portfolio school

    next

    AL?

    CTRL C CTRL V

    ARTESANATO DIGITAL

    PAPO DE REDAO

    10 restaurantes, 10 reais

    querido eu

    efervescncia cultural

    9

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    12

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    40

    47

  • C O L A B O R A D O R E S

    D i r e t o r d e A r t eR C C O M U N I C A O

    JULIANA CUNHAR e p r t e rF O L H A D E S . PA U L O

    EDUARDO NORONHAC o o r d e n a d o r d e c o n t e d oR C C O M U N I C A O

    JOHNATAN FERREIRAC i n e c l u b e M e s a R e d o n d a

  • 9ReCria

    apenas o simples comunicar para se tornar um relacionamento.

    Assim, como em todo relacionamento onde queremos encantar e queremos a ateno de nosso par em ns, as marcas comearam a fazer de tudo para agradar a seus consumidores. E ns publicitrios camos com a incumbncia de falar o que esses consumidores querem ouvir. Se por um lado realmente as grandes marcas conseguiram construir reputaes slidas e relacionamentos duradouros a partir desse tipo de comunicao, por outro dizer o que as pessoas querem ouvir se tornou um caminho fcil para atrair a ateno de um consumidor cada vez mais disperso. A facilidade de entender esse consumidor atravs das redes sociais e a abundncia de relatrios de tendncias, por exemplo, nos permitiram uma compreenso muito maior sobre o que precisvamos dizer.

    Esse entendimento, porm, est colocando muito o foco no que o consumi-dor quer ouvir e pouco no que as marcas tm para dizer. Ao saber o que falar ao

    pblico, estamos usando em demasia os mesmos garotos propaganda, o mesmo tom de humor, entre outros. Nossa comunica-o, aos poucos, est se tornando memti-ca: saber o que o consumidor quer ouvir est nos levando a um lugar comum.

    Nesse cenrio, funo do planeja-mento saber mediar essa relao com as vontades do consumidor. Se hoje possvel ter uma viso muito mais detalhada sobre o que os mais diversos pblicos buscam em um relacionamento com uma marca, precisamos saber nos diferenciar. Mais do que entender o cenrio e o mercado, preciso entender a prpria marca.

    O planejamento precisa entregar mais do que a aliana entre estratgia e criativi-dade, que j commoditiy para a funo. Buscar no consumidor, ou no mercado, ou ainda na prpria cultura as referncias que tornem a comunicao das marcas mais inovadora j no mais o suciente para se destacar. preciso, nesse relacionamento, car um pouco introspectivo e, assim, trazer algo novo, reinventar e reconquistar, de tempos em tempos, as pessoas que quere-mos por perto.

    por JOS EDUARDO NORONHA arte PEDRO DE ALBERGARIA

    uito tem se falado, nos ltimos anos, sobre como a comunicao das marcas com seus consumidores/ pblicos deixou de ser

    9ReCria

  • ReCria10

    Estudos sugerem que a obesidade seja uma doena social, contagiosa. Ao conviver com gordos, o objeto de nossa investigao se acha bem na ta e libera o chocolate. Resul-tado: ca gordo, mas segue se sentindo magro desde que seus pares estejam ainda mais redondos. Nosso segundo objeto de estudo mais preocupante: se sente iletrado em alguns meios, mas quase um Raymond Williams em outros. Se permanece nos meios em que se sente inteligente, h um ganho de autoestima, a contentamento do sujeito consigo mesmo vai l para cima. No entanto, emburrece aos poucos, vai relaxando, folgando um cinto imaginrio. Como podemos observar, tudo na vida se resolve na base do contraste, menos o seguinte dilema: melhor ser o barrigu-do entre modeletes; o burrinho entre cultos ou o obesinho entre mrbidos; o sabidinho entre as antas?

    por JULIANA CUNHA arte RODRIGO SPOTORN

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  • 11ReCria

    Estudos sugerem que a obesidade seja uma doena social, contagiosa. Ao conviver com gordos, o objeto de nossa investigao se acha bem na ta e libera o chocolate. Resul-tado: ca gordo, mas segue se sentindo magro desde que seus pares estejam ainda mais redondos. Nosso segundo objeto de estudo mais preocupante: se sente iletrado em alguns meios, mas quase um Raymond Williams em outros. Se permanece nos meios em que se sente inteligente, h um ganho de autoestima, a contentamento do sujeito consigo mesmo vai l para cima. No entanto, emburrece aos poucos, vai relaxando, folgando um cinto imaginrio. Como podemos observar, tudo na vida se resolve na base do contraste, menos o seguinte dilema: melhor ser o barrigu-do entre modeletes; o burrinho entre cultos ou o obesinho entre mrbidos; o sabidinho entre as antas?

    por JULIANA CUNHA arte RODRIGO SPOTORN

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  • ReCria12

    PORTFOLIO SCHOOL

    Ad School, Creative Circus, Brainco e tantas outras, oferecem cursos com durao de um ou dois anos em diversas reas: redao, direo de arte, Design, Ilustrao, Fotograa e Mdias Digitais. Para ingressar, normalmente os candidatos passam por uma entrevista e devem apresentar seu portfolio. Se voc ainda no tem nada para mostrar, no se preocupe. Nesses casos, comum que o candidato receba um brieng e tenha que desenvolver uma campanha como forma de teste. Os selecionados que se matriculam como redatores - recm-formados ou prossionais do mercado - tem aulas focadas no seu campo, que vo desde Gramtica, TV e Rdio, passando por Poesia e Criao Publicitria. Aqueles que optam por direo de arte aprendem, alm da manipu-lao de softwares, sobre Histria do Design, Pensamento Estratgico, Fotograa, Tipograa e diversos outros tpicos da rea. A teoria aplicada em projetos feitos com briengs de clientes reais, que so desenvolvidos como uma demanda dentro de uma agncia. Os estudantes trabalham em duplas de criao e idealizam a campanha, procuram ilustradores e fotgrafos, e executam a pea, para ento defend-la para um professor. Este ltimo est presente em todas as fases de orientao do trabalho e representa o cliente no momento da defesa, sendo o respon-svel por apontar erros e acertos, e ensinar o que pode ser melhorado. Esse professores, em sua maioria, so prossionais atuantes no mercado publicitrio, por isso tambm servem como contatos prossionais para os alunos. Ao longo de dois anos, os estudantes tem a oportunidade de construir networking com futuros colabora-dores, com grandes nomes da publicidade que costumam palestrar nas escolas e com colegas de sala e professores, que podero indic-los para a vaga dos sonhos. Ao nal do curso, o estudante sai com um certicado de concluso e, se ele se esforar o bastante, um portfolio que abrir portas em importantes agncias. O custo da escola de cerca de 35.000 dolares, um investimento revertido em melhores oportunidades de emprego. Na Portfolio School W+F12 a relao entre estudantes e prossionais do mercado ainda mais prxima: a escola ca dentro da W+F Portland, agncia sede da mundialmente renomada Wieden+Kennedy. Todos os anos, so

    selecionados 13 estudantes de diversas formaes - publicitrios, pintores, fotgrafos - que, ao longo de 13 meses, tm a oportunidade de trabalhar para clientes reais, orientados por prossionais da W+F. Aqueles que se destacam podem passar de estudantes a contratados da agncia. A experincia em uma Portfolio School no est to distante da realidade dos brasileiros. Ricardo Scharappe, 40 anos, foi para a Portfolio Center (Atlanta, Georgia) aos 27 anos para estudar redao, quando j era um prossional atuante. "Eu precisava de um impulso na carreira. J havia trabalhado em algumas agncias, mas sendo sempre um dos principais criativos, ou seja, sem ningum que me puxasse para cima.", declara o proprietrio da Agncia Fuego, de Curitiba. Ricardo lembra que antes da Portfolio School j tinha bons trabalhos, mas seu portfolio ainda no era surpreendente. O desejo de crescer rapidamente o motivou a procurar o curso. "Os dois anos nos EUA serviram para me dar uma melhor dimenso do que era uma boa ideia e de como chegar at ela. Ganhei segurana, maturidade e experincia de vida", arma o atual diretor nanceiro do Clube de Criao do Paran e diretor adjunto do Sinapro-PR. Marcelo Ramos, 37 anos, tambm passou pela Portfolio Center e chegou a trabalhar por um ano na Califrnia aps terminar seu curso de Design na escola. Formado em Comunicao Social pela PUC-Rio, Marcelo dene a experin-cia na Portfolio School como "um divisor de guas. Me trouxe muita conana e bagagem. Quando voltei meu portfolio abriu muitas portas, tive propostas de vrias agncias grandes em So Paulo: F/Nazca, DM9, DPZ, Almap". O aprendizado lhe rendeu trabalhos em vrias agncias de design, propaganda e eventos e, inclusive, um convite para dar aula na Miami Ad School/ESPM: "as bases do Portfolio Center acabaram gerando espontneamente um mtodo de atuao multidisciplinar, abrindo muitas oportunidades e frentes de trabalho". Hoje em dia, Marcelo Ramos Head of Art da Dream Factory Entretenimento, agncia respon-svel por grandes eventos como o Rock in Rio. Porfolio Schools podem no ser o nico caminho com destino a um portfolio consistente e a uma carreira de sucesso, mas com certeza so um grande atalho.

    por JULIA AMARAL arte PEDRO PINHO

    No que faculdade, mestrado, cursos, ps-doutorado, MBA no sejam importantes, mas eles so de pouca serventia se no resultarem em um portfolio de qualidade. Essa a verdade que impera em grande parte das agncias publicitrias. No por acaso que, nos Estados Unidos, passar por uma Portfolio School quase um pr-requisito para se conseguir um bom emprego. Com o propsito de fortalecer o portflio de quem passa por elas, Porfolio Schools como Miami

    UM BOM PORTFOLIO TUDO.

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    PORTFOLIO SCHOOL

    Ad School, Creative Circus, Brainco e tantas outras, oferecem cursos com durao de um ou dois anos em diversas reas: redao, direo de arte, Design, Ilustrao, Fotograa e Mdias Digitais. Para ingressar, normalmente os candidatos passam por uma entrevista e devem apresentar seu portfolio. Se voc ainda no tem nada para mostrar, no se preocupe. Nesses casos, comum que o candidato receba um brieng e tenha que desenvolver uma campanha como forma de teste. Os selecionados que se matriculam como redatores - recm-formados ou prossionais do mercado - tem aulas focadas no seu campo, que vo desde Gramtica, TV e Rdio, passando por Poesia e Criao Publicitria. Aqueles que optam por direo de arte aprendem, alm da manipu-lao de softwares, sobre Histria do Design, Pensamento Estratgico, Fotograa, Tipograa e diversos outros tpicos da rea. A teoria aplicada em projetos feitos com briengs de clientes reais, que so desenvolvidos como uma demanda dentro de uma agncia. Os estudantes trabalham em duplas de criao e idealizam a campanha, procuram ilustradores e fotgrafos, e executam a pea, para ento defend-la para um professor. Este ltimo est presente em todas as fases de orientao do trabalho e representa o cliente no momento da defesa, sendo o respon-svel por apontar erros e acertos, e ensinar o que pode ser melhorado. Esse professores, em sua maioria, so prossionais atuantes no mercado publicitrio, por isso tambm servem como contatos prossionais para os alunos. Ao longo de dois anos, os estudantes tem a oportunidade de construir networking com futuros colabora-dores, com grandes nomes da publicidade que costumam palestrar nas escolas e com colegas de sala e professores, que podero indic-los para a vaga dos sonhos. Ao nal do curso, o estudante sai com um certicado de concluso e, se ele se esforar o bastante, um portfolio que abrir portas em importantes agncias. O custo da escola de cerca de 35.000 dolares, um investimento revertido em melhores oportunidades de emprego. Na Portfolio School W+F12 a relao entre estudantes e prossionais do mercado ainda mais prxima: a escola ca dentro da W+F Portland, agncia sede da mundialmente renomada Wieden+Kennedy. Todos os anos, so

    selecionados 13 estudantes de diversas formaes - publicitrios, pintores, fotgrafos - que, ao longo de 13 meses, tm a oportunidade de trabalhar para clientes reais, orientados por prossionais da W+F. Aqueles que se destacam podem passar de estudantes a contratados da agncia. A experincia em uma Portfolio School no est to distante da realidade dos brasileiros. Ricardo Scharappe, 40 anos, foi para a Portfolio Center (Atlanta, Georgia) aos 27 anos para estudar redao, quando j era um prossional atuante. "Eu precisava de um impulso na carreira. J havia trabalhado em algumas agncias, mas sendo sempre um dos principais criativos, ou seja, sem ningum que me puxasse para cima.", declara o proprietrio da Agncia Fuego, de Curitiba. Ricardo lembra que antes da Portfolio School j tinha bons trabalhos, mas seu portfolio ainda no era surpreendente. O desejo de crescer rapidamente o motivou a procurar o curso. "Os dois anos nos EUA serviram para me dar uma melhor dimenso do que era uma boa ideia e de como chegar at ela. Ganhei segurana, maturidade e experincia de vida", arma o atual diretor nanceiro do Clube de Criao do Paran e diretor adjunto do Sinapro-PR. Marcelo Ramos, 37 anos, tambm passou pela Portfolio Center e chegou a trabalhar por um ano na Califrnia aps terminar seu curso de Design na escola. Formado em Comunicao Social pela PUC-Rio, Marcelo dene a experin-cia na Portfolio School como "um divisor de guas. Me trouxe muita conana e bagagem. Quando voltei meu portfolio abriu muitas portas, tive propostas de vrias agncias grandes em So Paulo: F/Nazca, DM9, DPZ, Almap". O aprendizado lhe rendeu trabalhos em vrias agncias de design, propaganda e eventos e, inclusive, um convite para dar aula na Miami Ad School/ESPM: "as bases do Portfolio Center acabaram gerando espontneamente um mtodo de atuao multidisciplinar, abrindo muitas oportunidades e frentes de trabalho". Hoje em dia, Marcelo Ramos Head of Art da Dream Factory Entretenimento, agncia respon-svel por grandes eventos como o Rock in Rio. Porfolio Schools podem no ser o nico caminho com destino a um portfolio consistente e a uma carreira de sucesso, mas com certeza so um grande atalho.

    por JULIA AMARAL arte PEDRO PINHO

    No que faculdade, mestrado, cursos, ps-doutorado, MBA no sejam importantes, mas eles so de pouca serventia se no resultarem em um portfolio de qualidade. Essa a verdade que impera em grande parte das agncias publicitrias. No por acaso que, nos Estados Unidos, passar por uma Portfolio School quase um pr-requisito para se conseguir um bom emprego. Com o propsito de fortalecer o portflio de quem passa por elas, Porfolio Schools como Miami

    UM BOM PORTFOLIO TUDO.

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  • ReCria14por AUGUSTO DRUMOND E PEDRO PINHO fotos PEDRO PINHO arte IDGIE PENA

    "Eu acho que nunca havia contado isso pra ningum" disse Colby Satterthwaite, de 26 anos. Essa frase poderia surgir em vrios contextos. Uma conversa entre pai e lho, entre melhores amigos ou ainda entre namorados. Porm, no foi esse o caso. O trecho citado vem uma conversa online entre dois completos desconhecidos. Se encontravam em pases diferentes, vivendo vidas completamente desconexas, at que uma conversa de Chatroulette os aproximou, mesmo que apenas por trinta minutos. O que leva algum a abrir sua vida para um estranho? Uma gerao que cresceu com acesso Internet est cada vez mais acostumada com relaes que provavelmente nunca sairo da tela de um computador. Que sentimento esse que faz com que os jovens se comportem de maneira to diferente no mundo virtual e no mundo real? Tomando como ferramenta o site de relacionamento Chatroulette, dois reprteres experimentam esse tipo de relacionamento.

    ReCria14

  • 15ReCriapor AUGUSTO DRUMOND E PEDRO PINHO fotos PEDRO PINHO arte IDGIE PENA

    "Eu acho que nunca havia contado isso pra ningum" disse Colby Satterthwaite, de 26 anos. Essa frase poderia surgir em vrios contextos. Uma conversa entre pai e lho, entre melhores amigos ou ainda entre namorados. Porm, no foi esse o caso. O trecho citado vem uma conversa online entre dois completos desconhecidos. Se encontravam em pases diferentes, vivendo vidas completamente desconexas, at que uma conversa de Chatroulette os aproximou, mesmo que apenas por trinta minutos. O que leva algum a abrir sua vida para um estranho? Uma gerao que cresceu com acesso Internet est cada vez mais acostumada com relaes que provavelmente nunca sairo da tela de um computador. Que sentimento esse que faz com que os jovens se comportem de maneira to diferente no mundo virtual e no mundo real? Tomando como ferramenta o site de relacionamento Chatroulette, dois reprteres experimentam esse tipo de relacionamento.

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  • 21ReCriapor LARISSA CAMPOS arte IDGIE PENA 21ReCria

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    Afonso Pena

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    Afonso Pena

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    uem copiou quem? uma pergunta bem difcil de se responder na atualidade. Costumava ser relativamente simples delimitar a noo de originalidade de uma obra. Uma pintura de Monet no era a original, a menos que tivesse sido pintada pelo prprio punho do artista. Com a fotograa, essa diferenciao se torna um pouco mais difcil. O original um negativo, mas, cada impresso o original, completa-mente el ao negativo. Comeava assim a diculdade. Tudo ca mais difcil ainda quando se toma como exemplo o meio virtual. Qual arquivo o verdadeiro? Onde est a originalidade?

    Na moda, no diferente. Estilistas so, ou deveriam ser, antenas que recebem todo tipo de referncia esttica traduzindo as mesmas em roupas. Fotgrafos de moda absorvem essas referncias, produzindo imagens pra vender um produto, um sentimento, um conceito. Tais imagens se

    tornaro referncias estticas para outros estilistas do futuro (ou do presente!). Dcil parar esse processo e dizer, com certeza, de onde veio tal saia, ou tal ngulo. Tudo uma reedio, um retweet, uma adaptao.

    Essa discusso se torna ainda mais presente no atual cenrio de disseminao da informao. O estilista olhou pra uma certa imagem obscura de dcadas passadas para criar sua coleo. O problema que, qualquer um com um computador tem acesso mesma imagem. Quem acompanha esse universo frequentemente se pega fazendo o papel de detetive, descobrindo de onde veio aquela barra, o original daquele sapato, etc.

    Frequentemente surgem polmicas sobre a campanha x, que copiou o fotgrafo y. Determinado estilista copiou algum movimento da arte. Qual o resultado desses questionamentos? Ser que tudo j foi criado? possvel, hoje em dia, criar algo que ningum, em lugar nenhum, tenha visto? Quem nunca pensou, ao ver algo "novo", que j havia pensado naquela idia?

    Claro, ningum se interessaria por ver eternas cpias exatas de tudo. H um impulso pelo novo, pela originalidade. No h nada de errado em ter inspiraes e o conceito de originalidade mudou. O segre-do estaria na re-edio, na recriao e na reproduo.

    Em 2008, Jum Nakao e Paula Limena apresentaram a exposio (Re)Produzir. A mostra consistia na exposio de looks de estilistas consagrados, como Isabela Capeto, Ronaldo Fraga, Marcelo Sommer, Tu Duek e Fbia Berseck, entre outros.

    Porm, no era uma mera exposio de moda. Esses looks estavam expostos em estaes do metr, onde eram oferecidos gratuita-mente moldes das roupas, que qualquer transeunte poderia pegar e reproduzir sozinho, usando o molde para costurar um vestido idntico ao original. Esses moldes tambm estavam disponveis na internet, onde muitos zeram o download, cortaram tecido e costuraram para si prprios roupas (caras) de estilistas famosos. Que diferena haveria entre o vestido costurado em casa e o vestido que seria vendido na loja? Nenhu-ma. Ou melhor, quase nenhuma. Algum poderia adaptar o molde, cortar num tecido diferente, adicionar outras partes, uma estampa, enm, as possibilidades so muitas. Essa diferena gera o novo, o inusitado. A exposio foi um incentivo criatividade e apropriao livre de concei-tos.

    Embora seja divertido procurar imagens antigas que foram copiadas, essa mesma cpia que gera a originalidade. Contrastar o novo com o velho, mudar aqui e ali, adicionar e subtrair, no seria essa uma denio de criao? Criar "a partir de" e "olhando para" pode, de fato, trazer coisas muito originais.

    Atire a primeira pedra quem nunca fez uma foto igual ao fotgrafo famoso, quem nunca usou um vestido da mesma forma que viu na revista, quem nunca reproduziu. Essa defesa pela originalidade, pelo nunca antes visto utpica. A gerao jovem atual cresceu sendo bombardeada por inmeras referncias na internet e em outros canais. Ningum comeou do zero, todos buscaram inspirao em outros lugares. Se voc um

    Q

    timo ilustrador, criador, fotgrafo, ou estilista, d-lhe muito tumblr na vista e muito pinterest na cabea pra voc chegar onde voc chegou. E no h absolutamente nada de errado com isso.

    Em suma, pode copiar. Pode olhar, pode tocar, pode comprar. O mundo um grande creative commons. Algum j chegou antes de voc e algum vir depois de voc.

    A tela nunca est em branco.CTRL CCTRL V

    por PEDRO PINHOarte PEDRO PINHO

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    uem copiou quem? uma pergunta bem difcil de se responder na atualidade. Costumava ser relativamente simples delimitar a noo de originalidade de uma obra. Uma pintura de Monet no era a original, a menos que tivesse sido pintada pelo prprio punho do artista. Com a fotograa, essa diferenciao se torna um pouco mais difcil. O original um negativo, mas, cada impresso o original, completa-mente el ao negativo. Comeava assim a diculdade. Tudo ca mais difcil ainda quando se toma como exemplo o meio virtual. Qual arquivo o verdadeiro? Onde est a originalidade?

    Na moda, no diferente. Estilistas so, ou deveriam ser, antenas que recebem todo tipo de referncia esttica traduzindo as mesmas em roupas. Fotgrafos de moda absorvem essas referncias, produzindo imagens pra vender um produto, um sentimento, um conceito. Tais imagens se

    tornaro referncias estticas para outros estilistas do futuro (ou do presente!). Dcil parar esse processo e dizer, com certeza, de onde veio tal saia, ou tal ngulo. Tudo uma reedio, um retweet, uma adaptao.

    Essa discusso se torna ainda mais presente no atual cenrio de disseminao da informao. O estilista olhou pra uma certa imagem obscura de dcadas passadas para criar sua coleo. O problema que, qualquer um com um computador tem acesso mesma imagem. Quem acompanha esse universo frequentemente se pega fazendo o papel de detetive, descobrindo de onde veio aquela barra, o original daquele sapato, etc.

    Frequentemente surgem polmicas sobre a campanha x, que copiou o fotgrafo y. Determinado estilista copiou algum movimento da arte. Qual o resultado desses questionamentos? Ser que tudo j foi criado? possvel, hoje em dia, criar algo que ningum, em lugar nenhum, tenha visto? Quem nunca pensou, ao ver algo "novo", que j havia pensado naquela idia?

    Claro, ningum se interessaria por ver eternas cpias exatas de tudo. H um impulso pelo novo, pela originalidade. No h nada de errado em ter inspiraes e o conceito de originalidade mudou. O segre-do estaria na re-edio, na recriao e na reproduo.

    Em 2008, Jum Nakao e Paula Limena apresentaram a exposio (Re)Produzir. A mostra consistia na exposio de looks de estilistas consagrados, como Isabela Capeto, Ronaldo Fraga, Marcelo Sommer, Tu Duek e Fbia Berseck, entre outros.

    Porm, no era uma mera exposio de moda. Esses looks estavam expostos em estaes do metr, onde eram oferecidos gratuita-mente moldes das roupas, que qualquer transeunte poderia pegar e reproduzir sozinho, usando o molde para costurar um vestido idntico ao original. Esses moldes tambm estavam disponveis na internet, onde muitos zeram o download, cortaram tecido e costuraram para si prprios roupas (caras) de estilistas famosos. Que diferena haveria entre o vestido costurado em casa e o vestido que seria vendido na loja? Nenhu-ma. Ou melhor, quase nenhuma. Algum poderia adaptar o molde, cortar num tecido diferente, adicionar outras partes, uma estampa, enm, as possibilidades so muitas. Essa diferena gera o novo, o inusitado. A exposio foi um incentivo criatividade e apropriao livre de concei-tos.

    Embora seja divertido procurar imagens antigas que foram copiadas, essa mesma cpia que gera a originalidade. Contrastar o novo com o velho, mudar aqui e ali, adicionar e subtrair, no seria essa uma denio de criao? Criar "a partir de" e "olhando para" pode, de fato, trazer coisas muito originais.

    Atire a primeira pedra quem nunca fez uma foto igual ao fotgrafo famoso, quem nunca usou um vestido da mesma forma que viu na revista, quem nunca reproduziu. Essa defesa pela originalidade, pelo nunca antes visto utpica. A gerao jovem atual cresceu sendo bombardeada por inmeras referncias na internet e em outros canais. Ningum comeou do zero, todos buscaram inspirao em outros lugares. Se voc um

    Q

    timo ilustrador, criador, fotgrafo, ou estilista, d-lhe muito tumblr na vista e muito pinterest na cabea pra voc chegar onde voc chegou. E no h absolutamente nada de errado com isso.

    Em suma, pode copiar. Pode olhar, pode tocar, pode comprar. O mundo um grande creative commons. Algum j chegou antes de voc e algum vir depois de voc.

    A tela nunca est em branco.CTRL CCTRL V

    por PEDRO PINHOarte PEDRO PINHO

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    PEDRO HMC, 27 ANOS, DESIGNER POR FORMAO E

    ROTEIRISTA DO FURO MTV DESDE 2010. EM ENTREVISTA

    PARA A RECRIA, ELE FALA COMO COMEOU A CARREIRA

    DE ROTEIRISTA, COMO FOI MUDAR A SUA REA DE

    ATUAO PROFISSIONAL E COMO TRABALHAR NA MTV

    E NOS BASTIDORES DE PRODUO DO FURO MTV, COM

    DANI CALABRESA E BENTO RIBEIRO.

    por DEBORA VIEIRA arte PEDRO PINHO

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    PEDRO HMC, 27 ANOS, DESIGNER POR FORMAO E

    ROTEIRISTA DO FURO MTV DESDE 2010. EM ENTREVISTA

    PARA A RECRIA, ELE FALA COMO COMEOU A CARREIRA

    DE ROTEIRISTA, COMO FOI MUDAR A SUA REA DE

    ATUAO PROFISSIONAL E COMO TRABALHAR NA MTV

    E NOS BASTIDORES DE PRODUO DO FURO MTV, COM

    DANI CALABRESA E BENTO RIBEIRO.

    por DEBORA VIEIRA arte PEDRO PINHO

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    O contraste no surge de partes simplesmente diferentes, opostas. Dizemos que algo contrastante quando situaes com as mesmas condies geram resultados distintos. Para comprovar essa ideia, fui a 10 restaurantes, disposta a gastar at 10 reais em cada

    um deles. Uma igualdade, a da verba, gerou o contraste, das refeies.

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  • ReCria38

    4 Almoos e refresco vontade..............10,00TOTAL....................................................................10,00

    4 Pastis................................................................8,00Refresco 300 ml................................................1,802 Balas...................................................................0,20TOTAL...................................................................10,00

    Espetinho de frango........................................3,50Espetinho de boi...............................................3,50gua.........................................................................2,00TOTAL.......................................................................9,00

    Self-service..........................................................8,08gua.........................................................................1,90TOTAL.......................................................................9,98

    Almoo s/ balana c/ refresco.............vv.......8,00Chocolate..............................................................2,00TOTAL....................................................................10,00

    Quarteiro............................................................5,50Batata grande.....................................................3,00TOTAL......................................................................8,50

    2 fatias de pizza e 1 suco..........................10,00TOTAL..................................................................10,00

    RestauranteUniversitrio UFMG

    gua........................................................................3,59gua........................................................................3,59Garom..................................................................0,71TOTAL......................................................................7,89

    Cachorro-quente c/ 1 refrigerante..........3,50Cachorro-quente c/ 1 refrigerante..........3,506 Paoquinhas...................................................3,00TOTAL..................................................................10,00

    Poro de mandioca........................................7,00Cerveja...................................................................3,00TOTAL...................................................................10,00

    ReCria38

  • 39ReCria

    4 Almoos e refresco vontade..............10,00TOTAL....................................................................10,00

    2 fatias de pizza e 1 suco..........................10,00TOTAL..................................................................10,00

    RestauranteUniversitrio UFMG

    gua........................................................................3,59gua........................................................................3,59Garom..................................................................0,71TOTAL......................................................................7,89

    Cachorro-quente c/ 1 refrigerante..........3,50Cachorro-quente c/ 1 refrigerante..........3,506 Paoquinhas...................................................3,00TOTAL..................................................................10,00

    Poro de mandioca........................................7,00Cerveja...................................................................3,00TOTAL...................................................................10,00

    39ReCria

  • ReCria40

    inco anos. Certamente o que entendo de mim hoje imensamente

    diferente do que foi h cinco anos e abismalmente diferente do que

    imaginei me tornar depois de 1.825 dias vividos. - M.L. 19 anos

    Eu diria que, apesar de j terem se passado

    cinco anos, eu ainda consigo lembrar, com exa-

    tido, da quase inexistente presena de responsabilidade em que se resumia a minha vida. Era acordar, ir para o colgio, voltar, dormir, decidir entre Malhao e CSI e comeava tudo de novo. Eu ainda posso sentir o cheiro do colgio novo: cheiro de mudana, de (re)comeo. De medo. Naquela poca eu acabava de desistir de Direito e comeava a pensar em Design. H cincos anos eu acredita-va que o socialismo era, sim, possvel e ainda comia, todos os dias, a comida quentinha da mame. Provavelmente, se voc me perguntasse, h cinco anos, como seria o futuro, eu te responderia que, talvez, eu tivesse optado por CSI. Quanto ao resto: tudo permaneceria seguindo a mesma linha. a que a gente se engana. Uma hora ou outra pra no dizer em todas elas a mudana aparece e, de repente, muda tudo... - L.D.S - 20 anos

    H 5 anos eu s tinha uma lha. Mor-vamos em outra casa e eu ainda no fazia o curso dos meus sonhos. Naquela poca minha me ainda estava viva e eu pesava 64 quilos a mais. H 5 anos eu achava que a morte era uma coisa distante. Mas so nesses momentos que a vida vem e mostra a que veio. De

    repente, a mudana inevitvel. L.S. - 35 anos.

    O propsito dessa coluna foi realizar um experimento sobre autoconhecimento. A proposta foi reunir cartas de diversas pessoas, algumas discorrendo sobre o passado, como as apresentadas no incio da matria, outras endereadas aos pr-prios autores, com o intuito de serem lidas em cinco anos. Como contedo, as primeiras deveriam fazer uma reexo sobre o passado e as mudanas que culminaram no presente. As ltimas, por sua vez, deveriam apresentar pondera-es e expectativas para o futuro.

    Se existe uma palavra que resume o con-tedo de todas as cartas recebidas Construo. Construo de personali-dade, de carreira, de vida. E, tambm, construo dos prximos anos, sejam eles os primeiros vividos como adulto ou os ltimos como tal. Apesar de cada carta possuir o seu prprio foco, foi possvel dividi-las em cinco temas: Sude e Morte, Autoestima, Responsabilidades, Sonhos e Amor. Todas as cartas recebidas abordam situaes e projees que se encaixam em cada um desses tpicos. Para facilitar a compreenso e racionali-zar alguns pontos considerados emocio-nais e muito abstratos, os tpicos e as cartas foram apresentados em porcenta-gens.

    Escrever uma carta para o futuro como pisar no vazio e redigir mentiras. No-verdades que sero registradas como rearmao da minha existncia momentnea e das esperanas e sonhos criados

    pelo que j vivi.- M.L. 19 anos.

    por MARINA DAYRELL arte BRUNA SANCHEZ

    ReCria40

  • 41ReCria

    inco anos. Certamente o que entendo de mim hoje imensamente

    diferente do que foi h cinco anos e abismalmente diferente do que

    imaginei me tornar depois de 1.825 dias vividos. - M.L. 19 anos

    Eu diria que, apesar de j terem se passado

    cinco anos, eu ainda consigo lembrar, com exa-

    tido, da quase inexistente presena de responsabilidade em que se resumia a minha vida. Era acordar, ir para o colgio, voltar, dormir, decidir entre Malhao e CSI e comeava tudo de novo. Eu ainda posso sentir o cheiro do colgio novo: cheiro de mudana, de (re)comeo. De medo. Naquela poca eu acabava de desistir de Direito e comeava a pensar em Design. H cincos anos eu acredita-va que o socialismo era, sim, possvel e ainda comia, todos os dias, a comida quentinha da mame. Provavelmente, se voc me perguntasse, h cinco anos, como seria o futuro, eu te responderia que, talvez, eu tivesse optado por CSI. Quanto ao resto: tudo permaneceria seguindo a mesma linha. a que a gente se engana. Uma hora ou outra pra no dizer em todas elas a mudana aparece e, de repente, muda tudo... - L.D.S - 20 anos

    H 5 anos eu s tinha uma lha. Mor-vamos em outra casa e eu ainda no fazia o curso dos meus sonhos. Naquela poca minha me ainda estava viva e eu pesava 64 quilos a mais. H 5 anos eu achava que a morte era uma coisa distante. Mas so nesses momentos que a vida vem e mostra a que veio. De

    repente, a mudana inevitvel. L.S. - 35 anos.

    O propsito dessa coluna foi realizar um experimento sobre autoconhecimento. A proposta foi reunir cartas de diversas pessoas, algumas discorrendo sobre o passado, como as apresentadas no incio da matria, outras endereadas aos pr-prios autores, com o intuito de serem lidas em cinco anos. Como contedo, as primeiras deveriam fazer uma reexo sobre o passado e as mudanas que culminaram no presente. As ltimas, por sua vez, deveriam apresentar pondera-es e expectativas para o futuro.

    Se existe uma palavra que resume o con-tedo de todas as cartas recebidas Construo. Construo de personali-dade, de carreira, de vida. E, tambm, construo dos prximos anos, sejam eles os primeiros vividos como adulto ou os ltimos como tal. Apesar de cada carta possuir o seu prprio foco, foi possvel dividi-las em cinco temas: Sude e Morte, Autoestima, Responsabilidades, Sonhos e Amor. Todas as cartas recebidas abordam situaes e projees que se encaixam em cada um desses tpicos. Para facilitar a compreenso e racionali-zar alguns pontos considerados emocio-nais e muito abstratos, os tpicos e as cartas foram apresentados em porcenta-gens.

    Escrever uma carta para o futuro como pisar no vazio e redigir mentiras. No-verdades que sero registradas como rearmao da minha existncia momentnea e das esperanas e sonhos criados

    pelo que j vivi.- M.L. 19 anos.

    por MARINA DAYRELL arte BRUNA SANCHEZ

    inco anos. Certamente o que entendo de mim hoje imensamente

    diferente do que foi h cinco anos e abismalmente diferente do que

    imaginei me tornar depois de 1.825 dias vividos. - M.L. 19 anos

    Eu diria que, apesar de j terem se passado

    cinco anos, eu ainda consigo lembrar, com exa-

    tido, da quase inexistente presena de responsabilidade em que se resumia a minha vida. Era acordar, ir para o colgio, voltar, dormir, decidir entre Malhao e CSI e comeava tudo de novo. Eu ainda posso sentir o cheiro do colgio novo: cheiro de mudana, de (re)comeo. De medo. Naquela poca eu acabava de desistir de Direito e comeava a pensar em Design. H cincos anos eu acredita-va que o socialismo era, sim, possvel e ainda comia, todos os dias, a comida quentinha da mame. Provavelmente, se voc me perguntasse, h cinco anos, como seria o futuro, eu te responderia que, talvez, eu tivesse optado por CSI. Quanto ao resto: tudo permaneceria seguindo a mesma linha. a que a gente se engana. Uma hora ou outra pra no dizer em todas elas a mudana aparece e, de repente, muda tudo... - L.D.S - 20 anos

    H 5 anos eu s tinha uma lha. Mor-vamos em outra casa e eu ainda no fazia o curso dos meus sonhos. Naquela poca minha me ainda estava viva e eu pesava 64 quilos a mais. H 5 anos eu achava que a morte era uma coisa distante. Mas so nesses momentos que a vida vem e mostra a que veio. De

    repente, a mudana inevitvel. L.S. - 35 anos.

    O propsito dessa coluna foi realizar um experimento sobre autoconhecimento. A proposta foi reunir cartas de diversas pessoas, algumas discorrendo sobre o passado, como as apresentadas no incio da matria, outras endereadas aos pr-prios autores, com o intuito de serem lidas em cinco anos. Como contedo, as primeiras deveriam fazer uma reexo sobre o passado e as mudanas que culminaram no presente. As ltimas, por sua vez, deveriam apresentar pondera-es e expectativas para o futuro.

    Se existe uma palavra que resume o con-tedo de todas as cartas recebidas Construo. Construo de personali-dade, de carreira, de vida. E, tambm, construo dos prximos anos, sejam eles os primeiros vividos como adulto ou os ltimos como tal. Apesar de cada carta possuir o seu prprio foco, foi possvel dividi-las em cinco temas: Sude e Morte, Autoestima, Responsabilidades, Sonhos e Amor. Todas as cartas recebidas abordam situaes e projees que se encaixam em cada um desses tpicos. Para facilitar a compreenso e racionali-zar alguns pontos considerados emocio-nais e muito abstratos, os tpicos e as cartas foram apresentados em porcenta-gens.

    Escrever uma carta para o futuro como pisar no vazio e redigir mentiras. No-verdades que sero registradas como rearmao da minha existncia momentnea e das esperanas e sonhos criados

    pelo que j vivi.- M.L. 19 anos.

    por MARINA DAYRELL arte BRUNA SANCHEZ

  • ReCria42

    entre 18 e 22 anos tenham afastado a sim-ples considerao do evento da morte e a substitudo pela vontade e vigor de viver uma nova fase. bastante perceptvel o teor sonha-dor e otimista presente nas projees escritas pela maioria dos jovens que participaram da matria.

    Caso a maioria das expectativas que tenho hoje se frustrem, no tenha esta carta como um atestado de fracasso, mas sim, uma oportu-nidade de reetir e se reencontrar. Anal, ainda temos muito tempo para recomear. - G.C.B. 19 anos.

    No preciso nem dizer que voc j precisa estar formada (decida-se logo entre Jornalismo e Relaes Pblicas!!!) A. A. 19 anos

    Espero que at agora voc tenha se acostu-mado vida adulta, que tenha uma conta no banco que no seja a que o seu pai abriu para voc aos 13 anos e tenha aprendido a pagar os boletos em dia. A.L.P. 18 anos

    No que concerne responsabilidade, 98% das cartas apresentam projees e cobranas acerca

    No mais, espero ter sade. E um plano de sade. - M.L. 19 anos.

    A preocupao com a sade e com a morte, seja ela fsica ou psicolgica, no escolheu idade para se apresentar. O tema foi tratado logo no primeiro pargrafo da carta enviada por G.A.M.R, de 20 anos: Estimado G., primei-ramente, espero que voc ainda esteja vivo! Isso mesmo... Embora isso parea um pouco macabro, o mundo em que eu vivo hoje me d ampla abertura para dizert esse tipo de coisa. So tantos os fatores que nos tornam, cada vez mais, vulnerveis hoje em dia, que eu acho extremamente oportuno esperar isso.

    O receio da espera pelo m da vida tambm perpassa grande parte das reexes levanta-das por V.L.. Estarei com 63 anos. (...) Estarei viva? (...) Na verdade, esses cinco anos so o comeo dos anos que me restam: 25? 30? A sensao da implacabilidade do tempo cons-tante.

    Apesar de ser o o condutor de reexo dos trechos mencionados, o reconhecimento e a preocupao com a chegada da morte s apa-receram em 10% das cartas. Nos outros 90% , a morte parece no ser um dos assuntos princi-pais na vida dos autores. Talvez, a jovialidade e a esperana comuns s pessoas que possuem

    ReCria42

  • 43ReCria

    de um amadurecimento prossional e pessoal. Diante disso, os temas mais abordados e rela-cionados responsabilidade foram a capacida-de de tomar decises, a conquista da indepen-dncia nanceira e o planejamento do futuro prossional.

    bastante perceptvel a conscincia dos auto-res para o peso e a importncia de suas aes. No intuito de alcanar seus objetivos e concre-tizar sonhos, a maioria das pessoas empregou um tom bastante rme na realizao da auto-cobrana.

    De antemo, tenha cincia que escrevo esta carta com profunda conana que voc no tenha perdido a vergonha na cara e esteja con-cluindo seu mestrado neste ano. Pelo amor de Deus, no esteja morando com os seus pais. Eles j te aguentaram por muito tempo na vida, d a eles um descanso. G.B. 19 anos

    J perdeu aqueles to sonhados quilos? Parou de desgostar da sua viso no espelho? Aprendeu a construir um conceito de voc que

    as outras pessoas no conseguem atrapalhar ou destruir? (A.L.P.- 18 anos) Outro assunto bastante abordado foi a autoes-tima. Cerca de 45% das cartas apresentam alguma preocupao ou cobrana de mais amor prprio no futuro. CURIOSO notar que o ema-grecimento foi uma das solues mais aponta-das como indispensveis na construo dessa sensao de bem-estar consigo mesmo, como evidenciado na carta de L.B. de 20 anos: Pelo bem da sua sade psicolgica e fsica, espero que sua autoestima tenha melhorado e voc se sinta uma pessoa mais conante, com 20 quilos a menos, no mnimo.

    Diante desses relatos, intrigante pensar em como, s vezes, as pessoas tm conscincia de seus problemas e, tambm, de possveis solu-es ecazes. Entretanto, muitas delas no parecem procurar por essas respostas no presente, mas apenas almejam que, em um futuro prximo, cada uma dessas pendncias seja resolvida.

    Outro fato ainda mais desconcertante a con-tradio que algumas cartas parecem ter em

    43ReCria

  • ReCria44

    relao ao que conhecido sobre a gerao Y. esperado que os recm-adultos perten-centes essa gerao ao menos, teoricamente sejam portadores de uma alta auto-estima, contrariando a gerao

    anterior. No entanto, o teor das cartas recebidas nos faz ree-tir sobre esse evidente para-doxo entre ser a gerao da autovalorizao e se mostrar to frgil e sem conana em si prprio.

    Ao me questionar sobre meus desejos e sonhos para o futuro, percebi que so vontades de anos. (...) Fiquei me perguntan-do porque ainda no estou correndo atrs de alguns deles. S.S. 22 anos.

    Se tratando de sonhos, podemos dizer que somos quase to diferentes quanto as nossas personalidades. Mas o que qualica um desejo como sonho? O simples fato de querermos, ainda que seja algo emocional, material ou pros-sional?

    Existe sonho de carreira, sonho de famlia, sonho de conhecer lugares e pessoas novas, sonho de amor, sonho de consumo. So tantas variedades de sonhos que nos perdemos em meio a eles e, s vezes, se torna difcil denir qual o seu grande sonho, a sua grande meta. A diversidade de sonhos presente nas cartas evidente. H os que sonham com a cons-truo de uma famlia, como o

    estudan-te M.L., de

    19 anos: O meu maior sonho ser pai, j h um tempo, mas sou consciente de que a insta-bilidade pode gerar sofrimen-to aos meus herdeiros.

    Outrossim, existem os que sonham com as realizaes prossionais: Tem feito a sua parte em continuar o caminho que traamos at o emprego dos nossos sonhos? L.R.V. 18 anos. Estarei sendo muito utpica se disser que j planejei toda a estrutura do meu consultrio? T.S. 17 anos.

    Ao contrrio da constatao reali-zada anteriormente quanto

    autoestima, a maioria dos autores se mostrou disposto a correr atrs de seus objetivos. Independente da rea a qual pertence o sonho, cerca de 96% das cartas apresenta um pensamento de agilidade e execuo de atividades que, segundo os prprios escrito-res, podem levar realizao de suas aspiraes.

    Por m, estando tudo bem ou recomeando agora, lembre-se de nunca se acomodar, de nunca desistir dos seus ideais (...). Sempre tenha em mente o quanto voc j batalhou para estar onde est. Se hoje eu j me orgulho disto, imagina o quanto voc j no progrediu nesses cinco anos. G.B. - 18 anos.

    Espero que, com 27 anos, eu j tenha encontrado o homem com quem vou me casar, juntar, para construir uma famlia. J vai estar na hora, n? Porque se com 22 anos eu j no aguento mais dramas de amor, imagina com 27? L.C.R., 22 anos.

    Apesar de ser o ltimo tema

    Abordado nessa matria, o amor superou todos os outros assuntos abordados e apare-ceu em 99% das cartas. Na maioria delas, ainda que haja inmeras projees acerca do campo prossional, o amor aparece como um equil-brio indispensvel relao do indivduo com o mundo, como vericamos na carta de G.B., de 18 anos,: Espero tambm que no tenha se afundado no trabalho e nas responsabilidades: de nada adiantar alcanar nossos sonhos se no tivermos algum para compartilharmos nossas alegrias.

    Ainda dentro do tema amor, curioso notar as diferentes concepes de amor empregadas pelos autores das cartas. Grande parte deles deseja e, me arrisco a dizer, prev a construo de uma vida amorosa slida dentro dos prxi-mos cinco anos. Um aspecto interessante que, quando se trata de amor, na maioria das cartas, as perguntas sobre o futuro foram logo substitudas por armaes, como se tivsse-

    mos a certeza da concretizao de nossos sonhos amorosos. Pelo menos, o que parece permear os pensamentos de F.B., de 19 anos,: Mas casada voc j deve estar, n? Sabia. Voc sempre quis casar cedo. Casar pra vida inteira. Com um marido do tipo eterno. E a vocs moram juntos, num apartamentinho pequeno e aconchegante. ...como nos planos.

    Em contrapartida, tambm h casos em que o autor no escreve projees de grande solidez, mas, sim, questiona o seu eu cinco anos mais velho, sobre questes bsicas de amor, comuns juventude. essa a abordagem empregada por A.L.P., de 18 anos, ao discorrer sobre a sua vida amorosa: Conseguiu dizer oi ao amor platnico? Conversou com ele, viu se era tudo aquilo mesmo que voc pensava? Se sim, deu certo? Ou foi s mais um menino que a gente nunca teve, ou mais um pra no ligar depois?.

    Aps esses dois meses de trabalho, incluindo a desco-berta da pauta, as discusses com a equipe de redao, o recebimento das cartas e a leitura das mesmas, muitas reexes acerca das concep-es de futuro foram realiza-das. Atravs desse processo, pude aferir que, grande parte do meu pblico-alvo possui uma enorme relutncia em compartilhar os seus sonhos e as suas projees para o futuro. H cartas que chegaram at mim graas vontade dos envolvidos em participar. Outras foram recolhidas com

    muito custo e insistncia. Uma vez em minha posse, algumas cartas revelaram intimidades, desejos, fraquezas, sonhos e opinies de seus autores. Em outros casos, a manifestao dos anseios mais profundos foi substituda pela superciali-dade e pela leve abordagem do futuro.

    Por m, dedico a ltima coluna dessa matria s citaes mais interessantes e reexivas encontradas nas cartas (alm de todas as mencionadas ao longo da matria). Pois, inde-pendente da abordagem

    profunda ou supercial 100% das cartas recebidas apresentam uma caracterstica em comum: Os conselhos do eu de hoje para o eu em cinco anos. Sei que difcil surrupiar a memria, mas faa um esforo e engane-a. Encha-a de novos poemas, novos amigos, novas experincias que te faro um bem innitamente maior do que lembranas e pessoas vazia. A.L.P. 18 anos. No se esquea nunca de guar-dar um dinheirinho na poupana,

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  • 45ReCria

    relao ao que conhecido sobre a gerao Y. esperado que os recm-adultos perten-centes essa gerao ao menos, teoricamente sejam portadores de uma alta auto-estima, contrariando a gerao

    anterior. No entanto, o teor das cartas recebidas nos faz ree-tir sobre esse evidente para-doxo entre ser a gerao da autovalorizao e se mostrar to frgil e sem conana em si prprio.

    Ao me questionar sobre meus desejos e sonhos para o futuro, percebi que so vontades de anos. (...) Fiquei me perguntan-do porque ainda no estou correndo atrs de alguns deles. S.S. 22 anos.

    Se tratando de sonhos, podemos dizer que somos quase to diferentes quanto as nossas personalidades. Mas o que qualica um desejo como sonho? O simples fato de querermos, ainda que seja algo emocional, material ou pros-sional?

    Existe sonho de carreira, sonho de famlia, sonho de conhecer lugares e pessoas novas, sonho de amor, sonho de consumo. So tantas variedades de sonhos que nos perdemos em meio a eles e, s vezes, se torna difcil denir qual o seu grande sonho, a sua grande meta. A diversidade de sonhos presente nas cartas evidente. H os que sonham com a cons-truo de uma famlia, como o

    estudan-te M.L., de

    19 anos: O meu maior sonho ser pai, j h um tempo, mas sou consciente de que a insta-bilidade pode gerar sofrimen-to aos meus herdeiros.

    Outrossim, existem os que sonham com as realizaes prossionais: Tem feito a sua parte em continuar o caminho que traamos at o emprego dos nossos sonhos? L.R.V. 18 anos. Estarei sendo muito utpica se disser que j planejei toda a estrutura do meu consultrio? T.S. 17 anos.

    Ao contrrio da constatao reali-zada anteriormente quanto

    autoestima, a maioria dos autores se mostrou disposto a correr atrs de seus objetivos. Independente da rea a qual pertence o sonho, cerca de 96% das cartas apresenta um pensamento de agilidade e execuo de atividades que, segundo os prprios escrito-res, podem levar realizao de suas aspiraes.

    Por m, estando tudo bem ou recomeando agora, lembre-se de nunca se acomodar, de nunca desistir dos seus ideais (...). Sempre tenha em mente o quanto voc j batalhou para estar onde est. Se hoje eu j me orgulho disto, imagina o quanto voc j no progrediu nesses cinco anos. G.B. - 18 anos.

    Espero que, com 27 anos, eu j tenha encontrado o homem com quem vou me casar, juntar, para construir uma famlia. J vai estar na hora, n? Porque se com 22 anos eu j no aguento mais dramas de amor, imagina com 27? L.C.R., 22 anos.

    Apesar de ser o ltimo tema

    Abordado nessa matria, o amor superou todos os outros assuntos abordados e apare-ceu em 99% das cartas. Na maioria delas, ainda que haja inmeras projees acerca do campo prossional, o amor aparece como um equil-brio indispensvel relao do indivduo com o mundo, como vericamos na carta de G.B., de 18 anos,: Espero tambm que no tenha se afundado no trabalho e nas responsabilidades: de nada adiantar alcanar nossos sonhos se no tivermos algum para compartilharmos nossas alegrias.

    Ainda dentro do tema amor, curioso notar as diferentes concepes de amor empregadas pelos autores das cartas. Grande parte deles deseja e, me arrisco a dizer, prev a construo de uma vida amorosa slida dentro dos prxi-mos cinco anos. Um aspecto interessante que, quando se trata de amor, na maioria das cartas, as perguntas sobre o futuro foram logo substitudas por armaes, como se tivsse-

    mos a certeza da concretizao de nossos sonhos amorosos. Pelo menos, o que parece permear os pensamentos de F.B., de 19 anos,: Mas casada voc j deve estar, n? Sabia. Voc sempre quis casar cedo. Casar pra vida inteira. Com um marido do tipo eterno. E a vocs moram juntos, num apartamentinho pequeno e aconchegante. ...como nos planos.

    Em contrapartida, tambm h casos em que o autor no escreve projees de grande solidez, mas, sim, questiona o seu eu cinco anos mais velho, sobre questes bsicas de amor, comuns juventude. essa a abordagem empregada por A.L.P., de 18 anos, ao discorrer sobre a sua vida amorosa: Conseguiu dizer oi ao amor platnico? Conversou com ele, viu se era tudo aquilo mesmo que voc pensava? Se sim, deu certo? Ou foi s mais um menino que a gente nunca teve, ou mais um pra no ligar depois?.

    Aps esses dois meses de trabalho, incluindo a desco-berta da pauta, as discusses com a equipe de redao, o recebimento das cartas e a leitura das mesmas, muitas reexes acerca das concep-es de futuro foram realiza-das. Atravs desse processo, pude aferir que, grande parte do meu pblico-alvo possui uma enorme relutncia em compartilhar os seus sonhos e as suas projees para o futuro. H cartas que chegaram at mim graas vontade dos envolvidos em participar. Outras foram recolhidas com

    muito custo e insistncia. Uma vez em minha posse, algumas cartas revelaram intimidades, desejos, fraquezas, sonhos e opinies de seus autores. Em outros casos, a manifestao dos anseios mais profundos foi substituda pela superciali-dade e pela leve abordagem do futuro.

    Por m, dedico a ltima coluna dessa matria s citaes mais interessantes e reexivas encontradas nas cartas (alm de todas as mencionadas ao longo da matria). Pois, inde-pendente da abordagem

    profunda ou supercial 100% das cartas recebidas apresentam uma caracterstica em comum: Os conselhos do eu de hoje para o eu em cinco anos. Sei que difcil surrupiar a memria, mas faa um esforo e engane-a. Encha-a de novos poemas, novos amigos, novas experincias que te faro um bem innitamente maior do que lembranas e pessoas vazia. A.L.P. 18 anos. No se esquea nunca de guar-dar um dinheirinho na poupana,

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  • ReCria46

    a gente nunca sabe quando ns duas vamos precisar!- E.R. 19 anos.

    Agora, s um lembrete nal: I.D.M., vo-c j esteve entre a vida e a morte duas vezes, no mnimo querida, e, se Deus ainda te quer por aqui, porque existe algum propsito muito especial. Ento, mostre-se. I.D.M. 18 anos.

    Ps: Nunca se esquea de mim! Suas origens e seu passado explicam muito o que voc no seu presente!- G.A.M.R. 20 anos.

    Espero que tenhamos conseguido cumprir a maior parte desses objetivos, se faltou alguma coisa, e claro, em con-junto com as novas metas que certa-mente surgiram, escrevamos mais uma para daqui cinco anos e, quando chegar a hora, voltamos a nos falar para acerta-mos os ponteiros.- V.L. 19 anos.

    Que voc j tenha entendido que precisa deixar de achar que as coisas que voc quer no so to importantes a ponto de no correr atrs delas! A.O., 19 anos.

    Na verdade, preciso de tempo! De mais do que os cinco anos at 2017, mas que estes cinco anos sejam muito proveitosos. Que eu possa, daqui a cinco anos, abraar a mim mesma. V.L., 58 anos.

    *Os nomes dos autores foram suprimi-dos a pedido da grande maioria.** Devido grande quantidade de cartas recebidas e aos limites da revis-ta, no foi possvel publicar trechos de todas as cartas. No entanto, todo o material recebido foi incluso nas por-centagens.

    As dcadas de 60 e 70 foram de extrema importncia para o cinema mundial. Novas ondas se formavam e com criatividade se afastavam de algumas estticas que at ento dominavam. Esse dito cinema moderno, sado de duas guerras mundiais e que clamava por reformulaes de valores, era delineado por pases como Frana, Japo, Itlia, Alemanha, Brasil e Tchecoslovquia. Mais do que prosseguimento, pelo formalismo de muitos longas e pela abordagem que eles seguiam, por vezes expressavam um verdadeiro rompimento. Mas o contraponto se torna tambm conveniente quando analisamos o cinema Hollywoodiano, que do desenvolvimento de sua narrativa clssica e da construo de sua poderosa indstria edicada por comdias mudas, westerns e noirs, comeou a sofrer um afastamento de suas convenes antes estabelecidas e dialogar com os modernis-mos europeus. A dcada de 70 revolucionou Hollywood. Toda a efervescncia cultural do nal dos anos 60 foi incorporada pelo cinema de forma expressiva. Muitos dos jovens que frequentavam as escolas de cinema nos EUA, compartilhavam das mesmas ideias revolucionrias que pipocaram no contexto da contracultura. Todos eles escutaram Bob Dylan, Jimi Rendrix, The Beatles, Rolling Stones e Janis

    por JOHNATAN FERREIRAarte MARIA LCIA DE ALMEIDA

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  • 47ReCria

    a gente nunca sabe quando ns duas vamos precisar!- E.R. 19 anos.

    Agora, s um lembrete nal: I.D.M., vo-c j esteve entre a vida e a morte duas vezes, no mnimo querida, e, se Deus ainda te quer por aqui, porque existe algum propsito muito especial. Ento, mostre-se. I.D.M. 18 anos.

    Ps: Nunca se esquea de mim! Suas origens e seu passado explicam muito o que voc no seu presente!- G.A.M.R. 20 anos.

    Espero que tenhamos conseguido cumprir a maior parte desses objetivos, se faltou alguma coisa, e claro, em con-junto com as novas metas que certa-mente surgiram, escrevamos mais uma para daqui cinco anos e, quando chegar a hora, voltamos a nos falar para acerta-mos os ponteiros.- V.L. 19 anos.

    Que voc j tenha entendido que precisa deixar de achar que as coisas que voc quer no so to importantes a ponto de no correr atrs delas! A.O., 19 anos.

    Na verdade, preciso de tempo! De mais do que os cinco anos at 2017, mas que estes cinco anos sejam muito proveitosos. Que eu possa, daqui a cinco anos, abraar a mim mesma. V.L., 58 anos.

    *Os nomes dos autores foram suprimi-dos a pedido da grande maioria.** Devido grande quantidade de cartas recebidas e aos limites da revis-ta, no foi possvel publicar trechos de todas as cartas. No entanto, todo o material recebido foi incluso nas por-centagens.

    As dcadas de 60 e 70 foram de extrema importncia para o cinema mundial. Novas ondas se formavam e com criatividade se afastavam de algumas estticas que at ento dominavam. Esse dito cinema moderno, sado de duas guerras mundiais e que clamava por reformulaes de valores, era delineado por pases como Frana, Japo, Itlia, Alemanha, Brasil e Tchecoslovquia. Mais do que prosseguimento, pelo formalismo de muitos longas e pela abordagem que eles seguiam, por vezes expressavam um verdadeiro rompimento. Mas o contraponto se torna tambm conveniente quando analisamos o cinema Hollywoodiano, que do desenvolvimento de sua narrativa clssica e da construo de sua poderosa indstria edicada por comdias mudas, westerns e noirs, comeou a sofrer um afastamento de suas convenes antes estabelecidas e dialogar com os modernis-mos europeus. A dcada de 70 revolucionou Hollywood. Toda a efervescncia cultural do nal dos anos 60 foi incorporada pelo cinema de forma expressiva. Muitos dos jovens que frequentavam as escolas de cinema nos EUA, compartilhavam das mesmas ideias revolucionrias que pipocaram no contexto da contracultura. Todos eles escutaram Bob Dylan, Jimi Rendrix, The Beatles, Rolling Stones e Janis

    por JOHNATAN FERREIRAarte MARIA LCIA DE ALMEIDA

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    Em contrapartida, Hollywood enfrentava uma grande crise com os estdios que manipulavam as produes de forma intensa, mas que se denhavam em proble-mas nanceiros. Depois de A Novia Rebelde, o nmero de pessoas que iam ao cinema diminuiu bastante. Os Estados Unidos tinham entrado diretamente na Guerra do Vietn. E verdadeira incerteza tomou conta dos investimentos da indstria cinematogrca. Era necessrio novas mentes. Novos criadores. Pessoas que viam cinema e ansiavam por faz-lo. Em certos aspectos, a revoluo contracultural conquistou algumas vitrias e nesse cenrio que o conservadorismo de Hollywood se recuou. Contexto que comeou a ser construdo na dcada anterior, do escalafobtico e afetado Banquete de Sangue de 1963 que evocou de forma direta o horror sangrento, Meu dio Ser Sua Herana e McCabe and Mrs. Miller - que zeram reavaliaes radicais do western americano, alm de The Wild Wings, Bonny Clyde, A Primeira Noite de um Homem e Easy Rider que em 69 se tornou um verdadeiro vulco em erupo. Inmeros fatores auxiliaram para que a renovao de Hollywood acontecesse: da Nouvelle Vague na Frana emergncia da New World Pictures no cenrio cinematogrco americano em 1970, se tornando posteriormente uma das mais importantes produtoras independentes da poca que apoiava os jovens talentosos que iam surgindo, de Coppola Scorsese. Dessa forma, Hollywood se entregou. Tudo o que vinha se reprimindo at a, todo o sexo, toda a violncia, toda a linguagem adulta e desbocada se libertou. Eram novos tempos. Era, de certa forma, uma Nova Hollywood. Fala-se muito do elo criado por essa nova gerao de diretores que uniram e integraram as convenes de gneros hollywoodianos s inovaes e inventivi-dades estilsticas de cunho formalista que pipocaram na Europa. Nomes como Brian De Palma, Francis Ford Coppola, Martin

    Peter Bogdanovich, William Friedkin, Sidney Lumet e Terrence Malick despontavam na mdia e alguns conseguiram de forma nica domar os estdios da poca. Todos consumiam cinema de forma frentica, quase da mesma forma que muitos deles se drogavam. Viram lmes de Grith, De Mille, Jacques Tourneur. Veneravam Hitchcock, proclamavam Samuel Fuller, adoravam John Ford, Howard Hawks, Raoul Walsh. Tinham acabado de assistir os lmes do Godard, Truaut e Chabrol. Essa gerao tinha o cinema e somente ele como ltro. Com suas devidas e claras excees, eles no se preocupavam muito com nenhum conceito romancista de literatura, nem com os aspectos da pintura, tampouco criavam a sua viso de mundo embasado por algum conceito dramatr-gico. Brian De Palma no tirava da cabea Um Corpo que Cai e Psicose ao compor seus exageros imagticos e excentricidades atmosfricas. Scorsese provavelmente pensava em Rastros de dio e Quimono Escarlate quando fazia seus lmes que transpunham todas as neuroses da mente humana atravs dos miserveis, marginais e desajustados. Pode-se falar que houve uma substi-tuio da imagem do poderoso Estdio que antes imperava na estabilidade do cinema clssico, pela gura do Diretor, o autor criativo e ousado por trs das cmeras. Pelo menos a maioria dos valores e anseios retratados nos lmes correspondiam claramente s questes da juventude na poca num cinema nem um pouco enges-sado, e que ainda gritava doloroso, confuso, energtico e inventivo naquele mundo extremamente bagunado. Mais tarde Steven Spielberg movimentava a indstria com o blockbuster Tubaro em 1975, Rocky lanado um ano depois, ganhava um Oscar e dissemina as sementes para o cinema Reaganiano da dcada de 80 claramente conservador. Por m, George Lucas concebe Star Wars em 1977. E com enorme sucesso de bilheteria e um baixssimo custo de produo, o lme ressuscita de vez o poder dos estdios que novamente pegaram as rdeas, colocando m nessa era do cinema Hollywoodiano conhecida tambm como a dos movie brats.

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