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REFLEXÃO AMÉRICA LATINA O Capitalismo, suas Contradições e o Imperialismo Valter Borges dos Santos 1 Resumo As grandes transformações ocorridas no século XX, contribuíram para acirrarem mais ainda as dificuldades, já grandes, dos países latino-americanos. O desenvolvimento do capitalismo gerou em seu seio um sem número de contradições que, aliado ao imperialismo, patrocinou o aprofundamento da miséria, sofrimento e decadência da América Latina. Destacamos que o capitalismo e o imperialismo contribuíram, sim, para a situação terceiro-mundista do considerado subcontinente. A instabilidade patrocinada pelo capital, que se desdobram em muito sofrimento, desigualdades, injustiças, provocaram miséria, fome e empobrecimento intelectual e cultural, além do seqüestro de terras e mentes, fazendo dos latino-americanos uma região castigada pela selvageria do capitalismo e do exacerbado fascínio pelo imperialismo. Palavras chaves: Transformações no século XX; America Latina, Capitalismo, Imperialismo Introdução O capitalismo, em sua práxis, está fundado em três pontos principais: concentração de renda e terra; exploração de mão de obra; consumismo. Esses fatores, articulados durante a história, em diversos contextos, locais e épocas, produziram muita miséria, dor, sofrimento, além de indignação, revolta e desejo legítimo de liberdade. Na América Latina, a história não foi diferente. Longe do centro do poder político e econômico, sofreu com as atrocidades advindas, primeiramente, da colonização européia, que introduziu seu domínio, com as armas, produzindo muita violência, com a finalidade de explorar o máximo que puder das novas terras. 1 Licenciando em Ciências Sociais pela UMESP. Pólo Mauá. Matrícula 190.964

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REFLEXÃO AMÉRICA LATINA

O Capitalismo, suas Contradições e o Imperialismo

Valter Borges dos Santos1

Resumo

As grandes transformações ocorridas no século XX, contribuíram para acirrarem mais ainda as dificuldades, já grandes, dos países latino-americanos. O desenvolvimento do capitalismo gerou em seu seio um sem número de contradições que, aliado ao imperialismo, patrocinou o aprofundamento da miséria, sofrimento e decadência da América Latina. Destacamos que o capitalismo e o imperialismo contribuíram, sim, para a situação terceiro-mundista do considerado subcontinente. A instabilidade patrocinada pelo capital, que se desdobram em muito sofrimento, desigualdades, injustiças, provocaram miséria, fome e empobrecimento intelectual e cultural, além do seqüestro de terras e mentes, fazendo dos latino-americanos uma região castigada pela selvageria do capitalismo e do exacerbado fascínio pelo imperialismo.

Palavras chaves: Transformações no século XX; America Latina, Capitalismo, Imperialismo

Introdução

O capitalismo, em sua práxis, está fundado em três pontos principais: concentração de renda e terra; exploração de mão de obra; consumismo. Esses fatores, articulados durante a história, em diversos contextos, locais e épocas, produziram muita miséria, dor, sofrimento, além de indignação, revolta e desejo legítimo de liberdade. Na América Latina, a história não foi diferente. Longe do centro do poder político e econômico, sofreu com as atrocidades advindas, primeiramente, da colonização européia, que introduziu seu domínio, com as armas, produzindo muita violência, com a finalidade de explorar o máximo que puder das novas terras.

1 Licenciando em Ciências Sociais pela UMESP. Pólo Mauá. Matrícula 190.964

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Novas formas de exploração

É notório a todos que a América Latina foi vitimada pela imposição européia de sua cultura, religião, além de modelos políticos que visavam a implantação de sistemas de exploração, escravidão e domínio das mentes. Portanto, desde o século XVI os latino-americanos foram obrigados à viver sob coação e exploração. Os feudos, capitais hereditárias, sesmarias, foram formas de governos, que associada à religião da época (catolicismo português e espanhol) impôs o domínio de poucos sob uma multidão incalculável que, consideradas selvagens, sem alma, e, portanto, sujeitos aos dominadores, não visão dos colonizadores.

Essa imposição foi fundamentada na necessidade de extrair riquezas das terras latino-americanas a fim de sustentar a luxúria européia, enriquecendo aquelas nações, com o roubo das riquezas. A América Latina, desde o século XVI passou a sofrer contínuas ingerências e intervenções dos países europeus, que, em sua ânsia imperialista/colonialista “estuprou” com violência as nações ameríndias, capturando suas terras, sua gente e suas mentes, num carrossel de matança, escravidão, exploração dos bens naturais, deixando um rastro de morte, fome, desrespeito, e roubo, aliás, muito roubo: de terras, bens e pessoas. Com o chamado darwinismo social, tiravam africanos de suas terras, e plantavam nas terras latino-americanas a fim de, junto com o trabalho forçado indígena, multiplicar a produção, com mão de obra escrava, a fim de produzir riquezas. Ocupavam os espaços, levando riquezas para suas nações. A partir do século XIX, com a revolução industrial, velhas formas de exploração foram adaptadas pelo mercado e o neoliberalismo, que no seu âmago, trouxe novas formas de expansão.

Transformações?

A situação colonial que a América latina foi vitimada, persistiu por mais de três séculos, quando os movimentos de independência passaram a acontecer. Inevitavelmente, em pouco tempo, todos os países buscariam e conseguiriam sua liberdade, não só política, mas econômica, também. A sustentabilidade deveria ser abalizada pela reforma agrária, de forma a expelir a concentração de terras, cujos donos exploravam os trabalhadores nativos. Então, os burgueses, a igreja e o Estado, articularam de forma que a concentração de riqueza perdurasse e perpetuasse nas mãos de poucos. Assim a transição do feudalismo ao capitalismo, da revolução comercial à grande indústria; a revolução burguesa no sentido econômico e político, formaram monopólios, fizeram com que as terras continuassem, de alguma forma, no poder desses poucos, onde se acirrava a concorrência capitalista, com poucas empresas comandando setores inteiros de produção.

Assim, a revolução industrial, não foi uma revolução para o bem de todos, inclusive dos pobres, mas uma revolução burguesa, que visava, com seus conceitos, a contínua exploração de mão de obra, o enriquecimento de poucos, e conseqüentemente a miséria.

O capitalismo e o imperialismo estão, na verdade, intimamente ligados e relacionados. O capitalismo se utilizava do imperialismo para expandir sua dominação dos mercados, e na busca por mão de obra escrava (barata), bens e terras. Entretanto, na procura por expansão de mercados, não sendo mais contidos por Estados, estes

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passaram a servir o capitalismo, na busca por mais mercados. Assim, todos os países fazendo a mesma coisa, no capitalismo, uma crise era eminente, principalmente por conta da necessidade de re-divisão inter-imperialista do mundo, quando, por conta disso, estouraram a 1ª Grande Guerra Mundial.

Assim, se instalou crises generalizadas, insatisfações e o crescimento da hegemonia norte-americana, em paralelo a tudo isso a ascensão do comunismo.

O capitalismo se fortalecia com o fordismo e seus conceitos de produção em grande escala, o que se fazia necessário a busca de mais mercado, e, conseqüente mão de obra barata. Somando-se isso ao nacionalismo dos países europeus, que buscavam refrear a expansão norte-americana e de seus vizinhos, crescia o protecionismo, impedindo a expansão capitalista, assim inicia-se a briga por espaços e estados, estourando a 2ª grande guerra, principalmente com a força do nacionalismo alemão.

Após a 2ª guerra mundial, houve a divisão do mundo em duas partes, comunistas e capitalistas, “forças ocultas”, procuravam minar as forças dos países que resistiam ao capitalismo e eram simpáticos ao socialismo. Mesmo aqueles que não optaram pelo modelo alternativo do socialismo, quando pretendiam sua emancipação eram tidos como tais, e apresentados de forma negativa, através da mídia.

O capitalismo e o imperialismo são duas faces da mesma moeda: de um lado, poder, de outro, a riqueza. A resistência a essa “dupla dinâmica”, fez explodir no mundo todo lutas por mais independência, pois, os países pobres, escravizados pelo capitalismo, portanto, explorados ao estremo, passaram a reagir e desejar novo modelo de sistema econômico e político, que viabilizasse mais dignidade ao ser humano explorado e excluído desse sistema.

A América Latina, vítima desse sistema mundial excludente, perdeu e perde muito com a exploração de suas riquezas, terras e gentes.

Dominação e exploração estão na veia do capitalismo que abriu vários fossos de desigualdades sociais, auxiliados pelo imperialismo das grandes potências. Esses compravam produtos baratos e revendiam a preços exorbitantes, deixando cada vez mais pessoas na marginalidade.

Assim, mais detidamente, nos países latino-americanos, todos os movimentos de independência política e financeira eram considerados “comunistas”, portanto, na visão capitalista, marginais, pois estavam desestabilizando os interesses do capital.

Quando os interesses do capital ficaram prejudicados, o Estado, à serviço do capital, influenciaram direta ou indiretamente nos governos, intervindo na forma de Golpes de Estado, que estouraram por todos, ou, pelo menos na maioria, dos países latino-americanos. A finalidade era proteção ao capital, e a perpetuação da exploração de mão de obra, com a finalidade de concentrar mais capital, explorando os trabalhadores, que não podiam usufruir do fruto de seu trabalho, uma vez que, sua produção, era direcionada a outros mercados.

Assim temos a parceria Estado-Capital, e posteriormente, a submissão do Estado ao capitalismo, inclusive ao capital financeiro, onde ficaram sujeitos às oscilações do movimento do capital.

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Eis o retrato da geopolítica latino-americano!! Reduzidos e submetidos à colônia do capital e imperialismo estadunidense.

Continente de reações

A exclusão provocada pelo interesse do capital, provocava o interesse dos povos dominados uma solução através da exigência do reconhecimento do interesse humano, pois havia uma reação a favor do capital em detrimento do ser humano. Uma das bases para a independência é a reforma agrária, que dava condições de sustentabilidade e distribuía mais a renda.

Assim, propostas de superação dos problemas gerados pelos interesses do capital, que provoca a fome, subdesenvolvimento, exclusão e desnutrição, em detrimento dos interesses do ser humano, analisando, como forma de superação, a necessidade de implantação da reforma agrária.

Num dominado e domesticado para o capitalismo e imperialismo excludente o tema da fome era inevitável. E a pergunta era patente por que existem tantos famintos? Josué de Castro denunciou “a apropriação injusta e ilegal da generosidade e abundância dos recursos da natureza..”. (que é) ... “responsável pelo subdesenvolvimento, gerador de miséria e a fome” (CASTRO, Ana M., 2008)

Falta de vontade política, governos cujas práticas voltadas para o capital, falta de formação humana, e a voracidade do capital articulado pelo latifundiário perpetuava a miséria, que gera violência.

Não é uma questão nova, veja: a apropriação das terras por grandes latifundiários desde os tempos da colonização; expropriação das terras pelos colonizadores; resultou na expulsão dos pobres; produzindo, conseqüente, exclusão social; motivado pelo interesse do capital. Hoje, há grandes latifundiários que não querem uma reforma para acabar com a fome; não querem perder poder político, nem a valorização da mão-de-obra; muito menos produzir de forma a ajudar a acabar com a fome; nem perder as terras. Além disso, temos a questão do imperialismo estadunidense amparado pelo capital; o uso da terra para fins de capital e interesses externos; provocando mais pobreza, exclusão e fome.

Agora, também, grandes multinacionais e governos de países desenvolvidos fazem de tudo para explorar a riqueza de países subdesenvolvidos.

A Revolução Cubana se deu num contexto local, conjugado pela tirania dos regimes ditatoriais apoiados pelos EUA, resultando numa reforma agrária sem precedentes na história latino-americana. Os EUA não aceitava a soberania cubana, nem os ideais de reforma agrária, e, com o desrespeito político americano forçou uma reação de Cuba em favor do lado comunista. “... A revolução exprimiu dramaticamente aas contradições não resolvidas entre os Estados Unidos e os demais países da região” (BANDEIRA, 2008), provocando um impacto extremamente político na região, resultando no rompimento com a política estadunidense para a América Latina

Reações como as cubanas, foram exemplos de tentativas de superação do capital selvagem, entretanto as sanções impostas reduziam sua visibilidade.

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Com Estados enfraquecidos um processo de integração latino-americana iniciou-se, desagradando os interesses imperialistas norte-americanos.

A necessidade natural de uma sociedade nacional é a constituição da Nação-Estado, e, posteriormente, na conseqüente conquista dessa unidade fundamental que é o processo de integração. Muitos desafios são sentidos nessa questão. Temos, assim, a realidade da formação da sociedade nacional, suas origens e transformações, crises e dilemas. Essa formação está entrelaçada com questões como Estado-Nação; democracia-ditadura; dualismo estrutural antigo insuperável, arcaico-moderno, que resultam em miséria, violência, autoritarismo, tirania. Produzindo uma América Latina precária, provisória, inacabada, mestiça, exótica, deslocada, fora do lugar, folclórica. Nações sem povo, nem cidadãos; apenas indivíduos e população.

Urge a metamorfose da raça em povo; ou da população de trabalhadores em povo de cidadãos. Deve-se considerar, também, a problemática história da “Terra e Liberdade”, que, na colonização, desenvolveu-se longo processo de monopolização de propriedade e exploração da terra. Então, o problema agrário está, também, na base da questão nacional, cuja população foi desalojada de suas terras. Assim, a luta pela terra, ganha, junto com outros pontos, lugar na relação de problemas da Questão Nacional da América Latina. Então, temos as seguintes dificuldades: (1) articulações das regiões com a nação; (2) desigualdades sociais, culturais e outras; (3) metamorfose da população em povo; e, (4) problema agrário.

A nação não se delimita na fronteira, mas por relações internas e externas. A fronteira não está na geografia, mas na sociedade, Estado, história. Porto Rico revela a tendência forte do que são as relações dos Estados Unidos com os países latino-americanos. Há outros estados associados, que definem-se como soberanos, independentes, aliados, parceiros do EUA, mas podem ser, na verdade, Estados-Livres-Associados.

“Uma sociedade vive uma situação colonial quando é governada em função dos interesses econômicos de classes dominantes de uma sociedade estranha” (MARTÍNEZ PEÁES, 1979, p. 574). Eles são empurrados, não desenvolvidos, por forças externas, que não são emanados ou construídos por eles próprios. A quinta fronteira está nas relações econômicas, políticas, militares, culturais. Não tem pátria, associam aqui e acolá, conforme o movimento do capital. As forças externas (grandes) quando encontram reverberação interna (pequenos), dominam. Poeticamente, a quinta fronteira vai longe: cerca, canal, dívida, invasão, mar. Ela tem muitas formas, está sempre na história e no imaginário dos povos da América Latina.

Conclusão

Embora, inconclusivo, parece haver tendências fortes de emancipação do imperialismo norte-americano, onde, fortaleceria o Estado-Nação latino-americanos e suas relações internas e externas com países circunvizinhos, onde, a integração teria efeito fortalecedor, e, o desenvolvimento auto-sustentável, seria uma realidade.

Por enquanto a resistência do povo encontra forças em suas próprias raízes para, de fato, demonstrar que suas fronteiras estão sendo invadidas e exploradas, sem seu

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consentimento. Essas relações externas de exploração e domínio são como um “corpo estranho”, que precisa ser expelido, nas relações sul-americanas. A integração é uma questão de tempo, não sem muito derramamento de sangue. Haja vista os esforços venezuelanos contra ALCA e pró ALBA, cujos desdobramentos foram a resistência do capital representado pelo imperialismo norte-americano tentando impedir essa integração.

Mauá,19 de abril de 2010