REFLEXÕES

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REFLEXÕES Mt, 10:34 a 37. Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. Porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; E assim os inimigos do homem serão os da sua própria casa. Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim.” Quando miro os olhos de meus filhos... Lembro-me de como meu pai me olhava. E sua austeridade absoluta refletia retidão incorruptível, fé inabalável. Fé... Não em um Deus antropomorfo, a nos aguardar para o juízo final. Mas fé na consciência universal da necessidade irrefutável de se lutar por um mundo melhor. Um mundo onde deva imperar a Liberdade, a Igualdade, a Fraternidade. E em toda a sua vida, não tive sequer um vislumbre da possibilidade dele amar à sua esposa ou aos seus filhos mais que à verdade e à retidão. Tempo em que espancar um filho, por mais constrito que pudesse se apresentar um coração de pai traduzia a coragem necessária para o despertar da verdade. Já não espancamos nossos filhos. E parece-me, infelizmente, que não despertamos mais para as verdades também. Creio que aprendemos a amar mais ao pai ou à mãe que à verdade. Creio que aprendemos a amar mais ao filho que à verdade. Aprendemos a amar mais ao amigo que à verdade. A amar mais ao cargo que à verdade. Ao partido político... Ao lucro. Sensei Vânia.

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REFLEXESMt, 10:34 a 37.No penseis que vim trazer paz terra; no vim trazer paz, mas espada.Porque eu vim pr em dissenso o homem contra seu pai, a filha contra sua me, e a nora contra sua sogra;E assim os inimigos do homem sero os da sua prpria casa.Quem ama o pai ou a me mais do que a mim no digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim no digno de mim.Quando miro os olhos de meus filhos...Lembro-me de como meu pai me olhava.E sua austeridade absoluta refletia retido incorruptvel, f inabalvel.F... No em um Deus antropomorfo, a nos aguardar para o juzo final.Mas f na conscincia universal da necessidade irrefutvel de se lutar por um mundo melhor. Um mundo onde deva imperar a Liberdade, a Igualdade, a Fraternidade.E em toda a sua vida, no tive sequer um vislumbre da possibilidade dele amar sua esposa ou aos seus filhos mais que verdade e retido.Tempo em que espancar um filho, por mais constrito que pudesse se apresentar um corao de pai traduzia a coragem necessria para o despertar da verdade.J no espancamos nossos filhos.E parece-me, infelizmente, que no despertamos mais para as verdades tambm.Creio que aprendemos a amar mais ao pai ou me que verdade.Creio que aprendemos a amar mais ao filho que verdade.Aprendemos a amar mais ao amigo que verdade.A amar mais ao cargo que verdade.Ao partido poltico... Ao lucro.

Sensei Vnia.Aprendi muito com meu pai. Ensinou-me o valor da integridade e da busca pela verdade a qualquer custo, a qualquer preo. Entretanto... Nunca estaremos prontos, no mesmo? Os ltimos acontecimentos me chocaram profundamente. Por atos de outros e, principalmente, pelos meus prprios. Disse-me certo dia um ancio: - O orgulho de hoje ser, inexoravelmente, a vergonha do amanh. Confesso terem se passado anos at que entendesse com profundidade tal afirmativa.Se ontem me orgulhei da coragem de dizer-te verdades, hoje me envergonho da forma como foram ditas. Afinal, sensei, chegaste antes. Onde a reverncia?Vi jovens tratarem pessoas como coisas descartveis. Talvez papis o sejam, pessoas jamais. No tiraria a espada de um guerreiro, dissera-te. Porm a procura pela verdade me incitar sempre a exigir o fio de sua espada. Que fazes tu, Mulher de Atenas, nessa luta inglria? Por mais forte que sejas, vislumbrei em teu olhar certa fragilidade. E me emocionei, creia. No pude deixar de notar leve intumescncia em teus ps cansados... E me preocupei com uma possvel cardiopatia iminente. Cuida da tua sade, Sensei.A despeito de teus defeitos, e todos os temos, jamais poderia deixar de reconhecer tua dedicao, teu amor pelo trabalho. Isso, ningum poder tirar de ti.

Sensei Vnia, perdoa-me pela irreverncia e pelo estender das palavras. Neste momento, por mais que eu relute, as palavras parecem distorcer meus pensamentos, minhas emoes.Aceita esta poesia de Gibran como um singelo tributo tua luta:Ento um erudito disse: Fala-nos da Conversa.E ele respondeu, dizendo:Vs falais quando deixais de estar em paz com os vossos pensamentos, e quando j no conseguis lidar com a solido do vosso corao, viveis com os lbios e o som uma diverso e um passatempo.E, em muita da vossa conversa, o pensamento fica amordaado.Pois o pensamento um pssaro do espao que numa gaiola de palavras pode abrir as asas mas no pode voar.H muitos de entre vs que procurais a conversa com medo de estardes sozinhos.O silncio da solido revela aos vossos olhos os vossos eus despidos e eles querem escapar.E h aqueles que falam, e sem conhecimento ou premeditao revelam uma verdade que nem eles prprios entendem.E h aqueles que tm a verdade dentro de si, mas no a dizem por palavras.E no seio destes que o esprito habita em silncio rtmico.Quando encontrais o vosso amigo na rua ou no mercado, deixai que o vosso esprito conduza os vossos lbios e dirija a vossa lngua.Deixai que a voz dentro da vossa voz fale ao ouvido do vosso ouvido, pois a vossa alma guardar a verdade do vosso corao tal como se guarda o sabor do vinho.Quando j se esqueceu a cor e j no temos a taa.Sinop, maio 2014.Milton M C Cmera.