Reflexoes Para Uma Informatica Educativa

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SOFTWARE : REFLEXÕES PARA UMA INFORMÁTICA EDUCATIVA Silvia Sales de Oliveira aluna da Faculdade de Educação – UFC RESUMO O presente artigo pretende discutir, fundamentado nas experiências do mini-curso Informática Educativa para os alunos do Instituto de Educação do Ceará: a importância, natureza, tipologia do software educativo; as concepções de aprendizagem que estão presentes nos software e uma reflexão sobre critérios qualitativos para análise de um software. Além de um pequeno resgate de como a Informática Educativa está sendo encarada atualmente na escola e na formação do professor. INFORMÁTICA EDUCATIVA SOFTWARE EDUCATIVO – ANÁLISE DE SOFTWARE EDUCATIVO – FORMAÇÃO DE PROFESSORES INTRODUÇÃO Este artigo representa o trabalho de culminância da disciplina Estágio Prático de Ensino na Escola de 2º grau – áreas: Didática e Fundamentos da Educação (PC095 e PC096) da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará, ministrada pelos professores Luiz Botelho e Jackline Rabelo, no período letivo de 2000.1. Esta disciplina tem como objetivo proporcionar para os alunos de pedagogia, da Faculdade de Educação/UFC, a possibilidade de fazer a prática de ensino no 2º grau em instituições de nível médio que formam para o magistério ou pedagógico. Este estágio foi realizado no Instituto de 1

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SOFTWARE : REFLEXÕES PARA UMA INFORMÁTICA EDUCATIVA

Silvia Sales de Oliveiraaluna da Faculdade de Educação – UFC

RESUMO

O presente artigo pretende discutir, fundamentado nas experiências do mini-curso Informática Educativa para os alunos do Instituto de Educação do Ceará: a importância, natureza, tipologia do software educativo; as concepções de aprendizagem que estão presentes nos software e uma reflexão sobre critérios qualitativos para análise de um software. Além de um pequeno resgate de como a Informática Educativa está sendo encarada atualmente na escola e na formação do professor. INFORMÁTICA EDUCATIVA – SOFTWARE EDUCATIVO – ANÁLISE DE SOFTWARE EDUCATIVO – FORMAÇÃO DE PROFESSORES

INTRODUÇÃO

Este artigo representa o trabalho de culminância da disciplina Estágio Prático de Ensino na Escola de 2º grau – áreas: Didática e Fundamentos da Educação (PC095 e PC096) da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará, ministrada pelos professores Luiz Botelho e Jackline Rabelo, no período letivo de 2000.1.

Esta disciplina tem como objetivo proporcionar para os alunos de

pedagogia, da Faculdade de Educação/UFC, a possibilidade de fazer a prática de ensino no 2º grau em instituições de nível médio que formam para o magistério ou pedagógico.

Este estágio foi realizado no Instituto de Educação de Fortaleza e a regência foi feita através de um mini-curso de 12 horas/aula na Faculdade de Educação/UFC, durante três sábados seguidos. Cada equipe propunha um tema de mini-curso, divulgava na escola e os alunos se inscreviam.

Este estágio orientado passou por momentos pontuais: estudo e discussão de textos, relativos ao programa em sala de aula; formação das equipes e escolha do tema para o mini-curso; planejamento e estruturação do projeto para o mini-curso; estudo do tema relativo ao mini-curso e preparação do mesmo; realização do mini-curso; avaliação do mini-curso, do trabalho do grupo e pessoal; confecção do artigo.

Diante da observação da rapidez de como as novas tecnologias, principalmente o computador, estão sendo inserida na dinâmica de ensino, tanto de escolas particulares como em pública, e a falta de formação dos professores para esta nova área de conhecimento. Propomos o mini-curso sobre Informática Educativa onde discutimos, através de

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dinâmicas e leitura de textos, as diferentes formas de como o computador pode ser usado na escola; os diferentes tipos de software educativos, concepções teóricas que os fundamentam e análise de alguns; pesquisa na Internet e como esta pode ser utilizada com fins educacionais. Este foi realizado na Sala Multimeios (ambiente computacional de estudo e pesquisa) da Faced/UFC.

Tendo como base a prática realizada no mini-curso, este artigo tenta fazer uma reflexão mais teórica sobre os software educativos, as concepções de aprendizagem que estes possuem, tipos de software e pontuar critérios para análise de um software educativo.

O QUE SÃO SOFTWARE EDUCATIVOS?

Cada vez mais é visível a presença dos computadores nas escolas e uso destes no processo de ensino e aprendizagem. Na maioria dos casos, a base deste trabalho é a utilização de software educativos que já possuem um mercado comercial bem significativo. Isto é, estes determinam as possibilidades de uso dos computadores na educação.

Os software educativos são software pensados, programados e implementados com objetivos educativos – fora e dentro da escola.

Na escola, o uso do computador deve ter como objetivos promover a aprendizagem dos alunos e ajudar na construção do processo de conceituação e no desenvolvimento de habilidades importantes para que eles participem da sociedade do conhecimento e não simplesmente facilitar o processo de aprendizagem dos mesmos. A seleção do software deve ser feita pelo indivíduo que está em contato direto com o processo ensino e aprendizagem – o professor da

disciplina, pois é ele quem vai identificar atributos para as suas necessidades como: compatibilidade com os conteúdos e contextos abordados, faixa etária e objetivos educacionais.

Podemos classificar a qualidade de software em externa e interna. A qualidade externa é visível aos usuários e a qualidade interna é a qualidade pertinente aos desenvolvedores do programa. Podemos, então, dizer que a qualidade pode ser mediada durante o processo de engenharia de software e depois do software estar pronto

É necessário para avaliar a qualidade de um software o conhecimento sobre o usuário, a clientela, e os objetivos a serem atingidos, bem como, a própria visão que temos de como ocorre a aprendizagem, e de como deve ser a postura do professor e alunos neste processo.

CONCEPÇÕES DE APRENDIZAGEM

Através da análise de um software educativo podemos identificar características da concepção de aprendizagem que o fundamenta, pois o caráter educativo é posterior a um estudo sobre como o sujeito aprende e constrói seu conhecimento.

Por muito tempo as teorias da aprendizagem vêm sendo estudadas e desenvolvidas. Essas teorias são alicerces para a prática educativa em todos os seus níveis. Isto é, as concepções de homem, de criança, de jovens, de como estes aprendem, da relação com a informação, e outros, permeiam a educação, desde a dinâmica na sala de aula até o planejamento e confecção de software educativos.

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Behaviorismo e Neo-behaviorismo

No Behaviorista (comportamentalismo), principalmente representado pelos estudos de Skinner, a aprendizagem é definida como uma mudança observável no comportamento do indivíduo, estando relacionada com a apropriação e demonstração de comportamentos. A estrutura interna do raciocínio e do processo de aprendizagem é considerada irrelevante.

O processo de instrução é visto como uma estruturação do ambiente para um novo comportamento a ser aprendido. Nesta perspectiva, a função da escola é o treinamento para que os comportamentos sejam condicionados: reforço positivo para comportamento esperado e o negativo para o não esperado. São os “condicionamentos operantes” que reforçam o comportamento e controlam as atitudes externamente.

A aprendizagem só ocorre através da memorização da informação, do dado emitido externamente. Esta informação não é processada, ela só é apenas memorizada através da repetição e retenção, não sendo possível, assim, a resolução de problemas.

Um exemplo deste tipo de estratégia de aprendizagem são as instruções programadas: informações breves, testadas no final de cada bloco de informação e feedback imediato sobre a resposta do aluno, que podemos observar em vários software. No neo-behaviorista(Gagné), a aprendizagem é um processo que permite os organismos vivos modificarem seus comportamentos de modo rápido e mais ou menos permanente, uma mudança interna.

Visão Cognitivista (Bruner)

Nesta perspectiva, o crescimento intelectual depende do domínio de certas técnicas e não pode ser compreendido isoladamente. Estabelece estágios de desenvolvimento mental que se relacionam com a forma de representar o mundo.

Visão Contrutivista (Piaget)

Do ponto de vista construtivista, a aprendizagem ocorre através do processamento das informações pelos esquemas mentais e incorporação das mesmas.

Segundo Piaget, o desenvolvimento é determinado pela maturação biológica, que oferece suporte a aprendizagem através da experiência física com os objetos e o contato social. É sempre a busca de um equilíbrio (assimilação e acomodação) devido o desequilíbrio de uma nova descoberta.

O indivíduo, quando colocado em contato com o ambiente físico e social, está diante de problemas que tiram do equilíbrio o organismo. Desta forma, ele está em constante mudança, isto é adaptando-se ao meio. O processo de adaptação engloba dois processos: assimilação e acomodação.

A assimilação é o processo que têm como finalidade solucionar uma determinada situação através da utilização de estruturas mentais já definidas. Porém, no processo de assimilação, muitas vezes, o indivíduo tenta solucionar problemas novos com base em estruturas antigas e não obtém êxito pois este problema requer novas estratégias. O indivíduo, então, irá modificar suas estruturas antigas para a solução de um problema ou situação que foi definida por Piaget como acomodação.

Estes dois processos, assimilação e acomodação, são complementares e perpassam por toda a vida do indivíduo

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de forma bem dinâmica. Possibilitando o crescimento, desenvolvimento pessoal, social e adaptação intelectual.

Nesta abordagem, o “erro” é considerado uma etapa da construção do conhecimento, é através do erro que o indivíduo, também, desequilibra, rever suas estruturas e as transforma. Desta forma, um software, que se diz construtivista deve permitir o indivíduo aprender através do erro. Além disso, o feedback do erro deve ser analisado, pois se o software não oferece um feedback imediato e subjetivo, só fornece resposta curta ao estímulo, não dando continuidade ao processo, podemos o considerar como não aconselhável.

Seguindo a visão piagetiana as informações são recebidas através da percepção e transformadas em conceitos ou construções que são organizadas em estruturas coerentes. O desenvolvimento é abordado através da maturação biológica e a aprendizagem ocorre sob duas formas: desenvolvimento da inteligência e aquisição de novas respostas.

TIPOS DE SOFTWARE EDUCATIVO

Segundo Valente, os software educativos podem ser classificados de acordo com seus objetivos pedagógicos. Podendo ser classificados em tutoriais, aplicativos, programação, aplicativos, exercícios e prática, multimídia e Internet, simulação, modelagem e jogos.

Tutoriais - software no qual a informação é organizado de acordo com uma seqüência pedagógica particular e apresentada ao estudante, seguindo essa seqüência ou então o aprendiz pode escolher a informação que desejar. Além disso, possui, também, como características:

- pode ser considerado um livro eletrônico animado ou um vídeo interativo;- prévia organização e definição da informação disponível ao aluno;- o computador assume a postura de máquina de ensinar;- a interação do aprendiz com o computador se resume na leitura de textos ou escolha da leitura dos mesmos ou outras informações.

Nesta perspectiva, o software é fechado, não permitindo que o aluno verifique o processo, mas somente o produto final. O software, assim, não possibilita saber se o aluno assimilou aqueles conhecimentos ou não.

Exercícios e prática:- enfatizam a apresentação das

lições ou exercícios;- o aprendiz assume a posição de

somente passar de uma atividade para outra e o resultado pode ser avaliado pelo computador;

- atividades que se centram no fazer, memorizar informações, não tendo a preocupação de como o aluno está compreendendo o que está fazendo.

Programação - é o software onde o aprendiz programa o computador. A realização de um programa exige que o aprendiz processe informação, transforme-a em conhecimento que, de certa maneira, é explicitada no programa. A programação tem, também, como características:- para programa, o programador se

utiliza de conceitos estratégicos;- baseado em resolução de

problemas;- o aluno processa a informação,

transformando-a em conhecimento.

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Aplicativos – são programas (processadores de texto, planilhas eletrônicas, gerenciadores de banco de dados) não voltados para aplicações direcionadas a educação, mas que de acordo com a forma de utilização pode ser bem aproveitada para o utilização na escola. Como por exemplo os processadores de texto, pois quando o aprendiz está escrevendo um texto, usando um processados de texto, a interação como o computador é mediada pelo idioma natural e pelos comandos do processador de texto.

Uso de Multimídia e Internet - na multimídia existe a combinação de textos, imagens, animação, sons etc. Tanto o uso de sistemas multimídias prontos e da Internet são atividades que auxiliam o aprendiz a adquirir informação, mas não a compreender ou construir conhecimento. Podemos considerar, também, outros aspectos:

- o papel do aprendiz pode se restringir em escolher opções oferecidas pelo software;

- não oferece a oportunidade do aluno compreender e aplicar significativamente as informações apresentadas;

- o aluno pode utilizar informações, mas pode não a compreender ou construir conhecimento com as informações obtida.

Simulação - são software que

simulam fenômenos no computador.

Modelagem - são software onde o modelo do fenômeno é criado pelo aprendiz, que utiliza os recursos computacionais para implementá-lo.

Jogos - jogos que possuem um fim educacional, estes tentam desafiar e motivar o aprendiz, envolvendo-o em uma competição com a máquina ou com colegas

Segundo Vieira, o software educativos podem ser classificados, também, quanto ao nível de aprendizagem do aluno em:

- Seqüencial: tem o objetivo de apenas transferir a informação, na perspectiva do ensino como apresentador de conteúdos e o aluno, numa posição passiva, deve memorizar e repetir as informações apresentadas.

- Relacional: a aquisição de certas

habilidades é o objetivo principal do ensino, possibilitando o aluno relacionar com outros fatos ou outras informações. O aluno é parte central deste processo, podendo haver um certo isolamento.

- Criativo: está relacionado com a criação de novos esquemas mentais, possibilitando haver a interação entre pessoas e tecnologia. O aluno assume, assim, uma posição mais participativa e ativa.

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AVALIAÇÃO DE SOFTWARE EDUCATIVO

Avaliar um Software Educativo significa analisar as possibilidades de como este pode ter um uso educacional, como ele pode ajudar o aluno no processo de construção do seu conhecimento e na modificação da sua compreensão do mundo, elevando sua capacidade de participar da realidade em que está inserido.

No processo de análise de um software é importante observar a natureza do software, as concepções de aprendizagem que o software se fundamenta, a proposta pedagógicos e aspectos técnicos.

No trabalho na escola, o professor deve ter claro alguns aspectos que determinam a qualidade de um software. Para quando estiver em uma situação de escolha do software adequado para determinada situação, ter parâmetros de qualidade bem definidos, para poder comparar e distingir um software adequado ou não às suas necessidade e objetivos. Pensando nisso, buscamos pontuar alguns aspectos importantes na análise de um software educativo:

Nome e AutorMarca e IdiomaConteúdos abordadosPúblico alvoDocumentação

1. Ficha técnica clara e objetiva2. Manual do professor com sugestões para o uso3. Ajuda on-line

Aspectos Pedagógicos

1. Facilidade no acesso às informações 2. Adequado a faixa etária3. Clareza nas informações

4. Forma de exercíciosInterface

1. Facilidade de uso2. Interatividade com o usuário3. Qualidade de áudios, gráficos e animações4. Recursos de avançar e recuar5. Adaptação ao usuárioConteúdos1. Fidelidade ao objeto2. Coerência de apresentação do conteúdo3. Correção dos exercícios4. Organização dos conteúdos 5. Promove a criatividade e motivação do usuário

Feedback1. Qualidade da motivação2. Forma de feedbackAspecto Técnico

1. Instalação2. Manipulação3. Apresentação visual4. Controle dos comandosAvaliação

1. Forma de avaliação2. Tempo destinado a respostas3. Forma de correção do erro4. Orientação em caso de erroAspectos Gerais

1. Alcança os objetivos propostos2. Contribui para a aprendizagem Dos conteúdos apresentados3. Preço compatível

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer da realização do mini-curso, percebemos de como a formação dos professores, em todos os níveis, está longe da realidade e dinâmica da escola, principalmente no que diz respeito as novas tecnologias e a assimilação do computador pela mesma.

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O professor, cada vez mais, precisa se atualizar e buscar novos meios para o processo de ensino e aprendizagem. E o computador deve ser encarado como uma ferramenta ao seu trabalho. No entanto, o que se encontra, entre os professores ainda, é muita resistência, medo da máquina e de que ela possa substituí-lo. Isto tudo devido a falta de conhecimento nessa área e prática na utilização da máquina. Com isto, a prática da informática na escola, muitas vezes, perde seu aspecto pedagógico.

Somente a colocação de laboratórios nas escolas, com máquinas potentes, não garante que a Informática Educativa acontece. É necessário se investir, principalmente, na formação do professor ou na sua capacitação nessas

novas habilidades. Além disso, a escola precisa se reestruturar para contemplar esta nova perspectiva de ensino, pois o que está sendo feito é vestir uma roupagem moderna numa estrutura velha, que não contempla pontos básicos, como por exemplo, maior flexibilidade dos horários para haver a interdiciplinariedade.

O que buscamos com o mini-curso foi discutir pontos básicos da Informática Educativa com os alunos do Instituto para que eles comecem a se interessar por esta área. E no artigo, direcionei mais para a reflexão sobre o software educativo, sua importância, natureza, tipologia e análise, contribuindo, assim para que o professor possa ter uma visão mais crítica na análise de um software educativo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMPOS, Gilda H. Bernardino de, Ana Regina Rocha – Avaliação da qualidade de Software Educacional – Em Aberto, Brasília, ano 12, n. 57, jan./mar. 1993.

OLIVEIRA, Celina Couto – Avaliação de Software Educativo – Tec. Educ, Rio de Janeiro- v.16 (77): 50-54, Jul./Ago 1987

VALENTE, José Armando (org) – O computador na sociedade do conhecimento – Campinas, SP: Unicamp/NIED, 1999;

VIEIRA, Fábia Magali Santos – Avaliação de Software Educativo: Reflexões para uma Análise Critérios Internet:www.edutecnet.com.br/edmagali2.htm

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