Reflexoes_ativismo, Redes Sociais e Educacao
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Universidade Federal da Bahia
reitora
dora leal rosa
vice-reitor
luiz rogrio Bastos leal
editora da Universidade Federal da Bahia
diretora
Flvia Goulart Mota Garcia rosa
conselho editorial
alberto Brum novaesangelo szaniecki Perret serpa
caiuby alves da costacharbel nin el-hani
cleise Furtado Mendesdante eustachio lucchesi ramacciotti
evelina de carvalho s hoiselJos teixeira cavalcante Filho
Maria vidal de negreiros camargo
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nelson de luca Pretto
salvadoredUFBa
2013
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essa licena permite que outros remixem, adaptem e criem obras derivadas sobre sua obra sendo vedado o uso com fins comerciais. as novas obras devem conter a meno aos autores e tambm
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editora filiada a
Pretto, nelson de luca.reflexes : ativismo, redes sociais e educao / nelson de luca Pretto. - salvador :
edUFBa, 2013.252 p.
isBn 978-85-232-1048-9
1. educao - efeito das inovaes tecnolgicas. 2. comunicao na cincia. 3. redessociais on line. 4. Publicaes cientficas. 5. Professores - atividades polticas. 6. cidadania. i. ttulo.
cdd - 371.334
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Para meus filhos, uma desde sempre, minha querida nanna, e outros desde alguns anos, mas to igualmente queridos: davi, arthur e rodrigo. os tempos com eles so sempre animados, animadores e de aprendizagens.
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SUMRIO
Prefcio / 11
Refletindo... nota introdutria / 15
Espaos de inveno e criao coletiva / 19
Frias, cinema e educao / 22
Deixem minha internet em paz / 24
Nasceu no ENEM / 28
Webcurrculo: construindo um ecossistema pedaggico / 30
Os descaminhos das polticas pblicas de tecnologia da informao no Brasil / 33
Amlgama cultural / 37
A banda larga no Brasil estreita / 40
Dos livros didticos aos recursos educacionais abertos / 45
Do analgico ao digital, criar o que interessa / 49
O saber da cidade (do saber): arquitetura, cincia e educao / 53
Tablets, computadores e a escola / 58
Quero ser um aliengena / 62
Personagem de 2011: o ativista / 65
Cultura digital em alta / 67
Do uca s tabuletas: onde est a banda larga? / 70
Nas redes e na rua / 73
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Crise (permanente) na cultura / 76
Edies universitrias e as tecnologias da informao e comunicao: impactos e perspectivas / 79
A moa do computador / 83
Abrigos que abrigam / 87
Hackers e desenvolvimento cientfico brasileiro / 89
A SBPC e a cincia na Bahia / 92
O que fizeram com a autoridade do professor? / 94
Livros didticos: de novo?! / 97
O fim da educao / 99
Conexes e complexidade / 102
Programe ou ser programado / 104
O sonho no acabou / 107
Angola, Brasil e os desafios educacionais / 109
Um jeito hacker de ser / 111
Ode aos amigos e amizade / 113
A imagem dos hackers / 115
Professor em rede / 118
Professores hackers produzindo materiais educacionais abertos / 121
As conferncias nacionais, a cincia e a tecnologia / 123
Salve o velho rdio / 127
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Escolas espremidas / 129
A teia da cultura e a educao / 131
Cincia e tecnologia para o futuro / 133
A nudez explcita do ensino do pas / 135
Um ambiente inteiro / 137
Revoluo da cultura digital / 139
Irec (software) livre? / 141
Fator uaauu na educao / 143
Ativismo para um mundo melhor / 146
Lngua culta, Caetano e educao / 148
Parabns mr. Darwin / 150
Darwin, cincia e tecnologia / 153 proibido proibir... / 156
A fora da juventude / 158
Crise na FACED e nos Tabuleiros Digitais / 160
Paidois e medois / 164
Educao, comunicao e cultura / 166
Lixo, barulho e educao / 169
A escola do asfalto / 171
UFBA: o desafio do dilogo / 173
Das pedagogias da assimilao s pedagogias da diferena / 176
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A linguagem dos jovens na contemporaneidade: aplausos ou censura? / 179
Tv digital: situao e perspectiva / 185
A vida no Orkut: narrativas e aprendizagens nas redes sociais / 190
O pub mais antigo da Inglaterra (do mundo?!) / 193
Viagens / 194
ENTREVISTAS
O futuro do pas agora tramita no senado: Plano Nacional de Educao / 203
Por uma tica hacker / 210
Ativistas de garagem: tica hacker / 216
Incluso digital: polmica contempornea / 220
Conectar igualdade: computadores no modelo 1 a 1 / 225
Incluso digital: desafios / 235
Educao no uma coisa fechada / 238
Referncias / 247
O autor / 251
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Prefcio
o livro reflexes, ativismos, redes sociais e educao desenvolve-se ao
longo dos textos que do forma e expresso voz social e interventiva de nel-
son Pretto, em matrias fundamentais como as polticas de educao e ino-
vao pedaggica, o papel das tecnologias de informao na construo das
aprendizagens colaborativas para sociedade digital e a abertura da escola s
redes sociais de conhecimento e cultura.
a presente obra resulta da reunio dos artigos e entrevistas publicados
em jornais e revistas nos ltimos anos, aos quais o autor acrescenta ainda al-
guns textos inditos e outros que s tiveram divulgao acadmica no mbito
do grupo de pesquisa educao, comunicao e tecnologias.
em cada uma das partes e no seu todo estamos face a uma publicao
desafiante, incmoda tambm para os menos atentos aos processos da mu-
dana educacional, sustentada na viso crtica do presente e nas antecipaes
do futuro, as quais se projetam na promoo das competncias para as prticas
de inovao na educao e nas formas de construo dos cenrios emergentes
para a cidadania digital.
a diversidade dos tempos e contextos da escrita dos textos que integram
o livro convida-nos a fazer a leitura atravs de travessias temticas nas mlti-
plas paisagens do pensamento do autor e da sua capacidade para nos conduzir
para os territrios de problematizao da mudana nas polticas e nas prticas
sociais da educao.
sem pretendermos fazer um mapeamento exaustivo das travessias nas
mltiplas paisagens textuais, assinalamos alguns dos temas, necessariamente
sempre em aberto, pois os textos convocam, em permanncia, a nossa ateno
para novos sentidos de leitura.
no texto espaos de inveno e criao coletiva, o autor desenvolve a pro-
blematizao da refundao do pensamento educacional para a inovao, no
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enquadramento emergente do contributo do coletivo para a andaimagem so-
cial na construo das aprendizagens e do conhecimento em rede.
em tablets, computadores e a escola destacada a urgncia da definio
de uma poltica para a utilizao das tecnologias de informao na educao,
a qual se espera que no seja centrada na tendncia para a disponibilizao
administrativa dos meios, mas sim como instrumentos para pensar, aprender
e construir as novas redes de conhecimento. as tecnologias de informao s
podero constituir instrumentos para a educao e a aprendizagem no mo-
mento em que abandonarmos a viso limitadora do folclore em torno da tec-
nologia, e nos concentrarmos no potencial das tecnologias de informao para
enriquecer os contextos de interao e experincia do conhecimento, e, assim,
as transformarmos em ferramentas da inteligncia dedicadas aos processos
sociais e cognitivos da aprendizagem individual e coletiva.
e como a inovao em educao no se faz com mais tecnologia, mas
sim com a integrao desta nos processos de mediao da comunicao e das
aprendizagens, em particular, na mediao das aprendizagens colaborativas e
no dilogo entre os espaos formais e informais, assinalamos o texto das pe-
dagogias da assimilao s pedagogias da diferena. neste texto apresentada
de forma notvel, pela clareza e pertinncia, a e-educao como um projecto
pedaggico em rede e integrador da diversidade cultural e das experincias de
conhecimento. citando o autor ...e-educao rede e comunicao ou o esta-
belecimento de conexes que respeitem os ns interconectados como elemen-
tos fundantes elementos de valor que considerem a diferena como estru-
turante, e no como algo que tem de ser trabalhado e transformado no igual.
a sociedade em rede e a escola em rede no podem estar separadas, pelo
contrrio, so expresses da globalizao cultural iniciada com a internet e que
hoje se manifesta nas redes sociais e de partilha, nas comunidades virtuais,
nos blogues e nos espaos de construo coletiva das novas narrativas de co-
nhecimento na Web. neste sentido, a vida no orkut narrativas e aprendi-
zagens, explora os novos desafios e direes para a escola, no s atravs da
diluio das fronteiras entre os espaos de aprendizagem formal e informal,
mas tambm na mobilizao das prticas de comunicao digital para o enri-
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quecimento dos contextos das aprendizagens escolares e da criao das narra-
tivas de conhecimento.
no podemos deixar de sublinhar ainda as reflexes sobre a implemen-
tao dos projetos mobilizadores, como o que foi realizado com o Uca (Um
computador por aluno), passando, necessariamente, pelo movimento dos re-
cursos educacionais abertos, o papel dos hackers no desenvolvimento do sof-
tware livre, os cenrios para a educao como espao de formao de valores,
da colaborao e da tica, e as novas dimenses da literacia digital que se es-
tendem programao.
seguindo o projeto de travessia no sequencial, detemo-nos na expresso
de felicidade e carinho das crianas que ttulo do texto olha a moa do com-
putador. a disponibilizao de computadores portteis no mbito do projeto
Uca criou uma nova centralidade da escola na vida das crianas e permitiu-
-lhes, tambm, uma nova centralidade no mundo e na globalizao das redes
de aprendizagem e conhecimento. , de forma inequvoca, uma mensagem de
que a mudana possvel e est em curso.
estamos perante uma rede de reflexes e propostas para a mudana e a
inovao ancoradas em escritos que afirmam uma interveno continuada no
desenvolvimento do pensamento para a educao e a sociedade. , assim, uma
contnua aproximao ao tempo futuro que se afirma na postura interventiva
do autor nas suas propostas para enfrentar os desafios para a educao na so-
ciedade digital.
lisboa, janeiro de 2013
Paulo Maria Bastos da Silva Diasreitor da Universidade aberta, Portugal
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Refletindo... nota introdutria
o contrabaixista ron carter dizia que sua funo num quinteto de jazz (e ele foi o contrabaixista do quinteto de Miles davis) era tocar sempre a nota que impedisse os ou-tros msicos do grupo de tocar a nota que eles imagina-vam que iam tocar, obrigando-os sempre a encontrar uma nota inesperada.
carlito azevedo, O Globo, 2012, pag. 5
sou assim como professor! Quando tudo est indo bem, procuro deses-
tabilizar o aluno, o colega, ou, mais frequentemente, eu mesmo. Penso que o
importante sempre buscar a tal nota inesperada!
esse livro isso. Um conjunto de textos procura de desestabilizar o ins-
titudo, porque, ele tambm, est em profundo e constante movimento. em
rebulio permanente.
os blogs explodiram. tomaram conta da internet e, devagarinho, pero no
mucho, tomaram conta das nossas vidas. os dispositivos mveis foram pos-
sibilitando que escrevssemos, fotografssemos, videografssemos, tudo ao
mesmo tempo, aqui, ali, agora e logo depois. e tudo foi/vai para a rede.
J disseram, e no me lembro mais quem foi e resisti em dar um googla-
da pare tentar localizar! que os blogues terminaram se constituindo no gran-
de rascunho dos jornalistas para a coluna no jornal impresso do dia seguinte.
Pode ser. Pode ser um mero rascunho, mas j um texto que faz barulho. Que
repercute e que, ele em si, j a noticia, e no nosso caso, na acadmia, j a pri-
meira reflexo sobre o tema escolhido. isso em algumas reas tem um nome e
na cincia se constitui ou pelo menos deveria se constituir em um mtodo
de investigao e de socializao do conhecimento. no campo da informtica
chamado de rFc, do ingls Request For Comments, ou pedidos para coment-
rios. desta forma, podemos mais abertamente, aprofundar nossas reflexes,
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frutos das pesquisas cientficas ou mesmo da nossa vivncia cotidiana a par-
tir dos comentrios e contribuies trazidas pelos colegas, como explicito um
pouco mais no texto A imagem dos hackers neste livro.
Paralelo a isso, ao longo de toda a minha vida acadmica e ativista volto
a isso j, j! sempre acreditei e trabalhei para que os professores fossem, efe-
tivamente divulgadores da cincia e, mais do que tudo, atuassem de forma ati-
vista politicamente, expondo-se e expondo suas ideias a cerca de suas reas de
atuao. essa luta em defesa de uma maior valorizao da divulgao cientfica
no , obviamente, uma luta somente minha. Muitos outros colegas atuam de
forma intensa nesse campo e, seguramente como resultado disso, hoje o nosso
currculo lattes, que se constituti no verdadeiro orkut da academia, j intro-
duziu uma aba especfica para o registro das aes de divulgao cientfica dos
pesquisadores brasileiros.
o Brasil vem crescendo em termos de produo cientfica e isso pode ser me-
dido, em parte obviamente, pele crescimento do nmero de artigos cientficos pu-
blicados. em 2011 foram publicados 35 mil, levando o Brasil 13 posio mundial
no nmero de publicaes ocupando apenas a 35 posio no ranking de impacto
da pesquisa.1 se j publicamos bastante artigos acadmicos, penso que temos que
intensificar nossa produo visando a divulgao cientfica dessa produo.
assim, a divulgao cientifica tem, no meu entendimento, uma dupla
funo: a de socializar o que se pesquisa no pas e, com essa divulgao, con-
tribuir com a formao cientifica da juventude brasileira. esse tem sido, sem-
pre, o meu principal propsito: interferir na formao da juventude e, princi-
palmente, na construo de polticas pblicas que possam contribuir para a
formao da cidadania.
esse livro que voc tem hoje nas mos ou na tela, fruto desta minha ao
ativista. ao longo do tempo, sistematicamente, escrevo em jornais, revistas, si-
tes, falo em rdio e televiso, escrevo blogs, pessoais ou institucionais, de ma-
neira a no esperar apenas a escrita de artigos cientficos ou livros para por na
rua as minhas ideias. ideias que, obviamente, no so s minhas, pois so fruto
1 Matria Novo mapa da cincia destaca o Brasil na Folha de so Paulo, em 18.10.2012. . acesso em: 18 out. 2012.
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do nosso cotidiano no grupo de pesquisa educao, comunicao e tecnolo-
gias (Gec) e de todas as inmeras atividades que participo no Brasil e fora dele.
os textos aqui reunidos vm de diferentes fontes e caractersticas. como
afirmei, alguns deles foram publicados no centenrio jornal A Tarde de salva-
dor/Bahia. outros, publicados em diversos jornais e revistas pelo pas a fora.
tambm tenho uma coluna mensal no Terra Magazine, coordenado pelo jorna-
lista Bob Fernandes, e as reflexes de l tambm esto aqui. outros ainda, so
textos que escrevi e que no publiquei ou apenas usei parte deles para reflexes
no grupo. Por fim, temos um conjunto de entrevistas, algumas delas enviadas
por escrito por e-mail e que, na verdade, so quase-artigos, j que demandam
uma produo escrita e intelectual similar produo de artigos, s que com
uma linguagem mais fluda, digamos assim.
em 2008 publiquei, pela Papirus, o primeiro conjunto destes meus textos
num livro intitulado Escritos sobre Educao, Comunicao e Cultura. la estavam
reunidos artigos que produzi desde os meus primeiros momentos de vida aca-
dmica e ativista, em 1986. so textos que incluram as primeiras reflexes como
professor do ensino mdio em salvador e Feira de santana, membro da diretoria
do sindicato dos Professores do estado da Bahia (sinPro-Bahia), professor do
instituto de Fsica da UFBa, at o ano de 2007, quando j era diretor da Faculda-
de de educao da Universidade Federal da Bahia, juntamente com a colega Mary
arapiraca. Foram anos de muita riqueza existencial, pois ficamos, eu e Mary, por
dois mandatos, de 2000 a 2004 e de 2004 a 2008, na liderana de uma unidade da
UFBa com caractersticas muito peculiares, num momento de grande rebulio na
universidade pblica brasileira, a partir da determinao do presidente luis incio
lula da silva de ampliar o ensino superior pblico, ao, obviamente, que teve e
tem sempre o meu total respaldo, mas que, pela forma como foi conduzida, tanto
localmente na UFBa como no Brasil, me pareceu muito equivocada, como poder
ser visto em alguns dos textos que aqui esto.
a sada da Papirus e a vinda para a edUFBa representa tambm um for-
talecimento poltico e de investigao que tem caracterizado os nossos mo-
vimentos desde sempre, mas que no tnhamos respaldo institucional nem
tcnico para realiza-lo. refiro-me especificamente ideia da produo cien-
tifica das universidades em especial as pblicas, financiadas com recursos
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pblicos ser publicada em revistas e editoras que tenham a poltica de aces-
so aberto como sendo sua marca. isso est acontecendo com a edUFBa. vem
acontecendo com uma serie de outras editoras e revistas acadmicas e esse
um movimento que queremos fortalecer. a Papirus, enquanto uma editora co-
mercial, foi muito importante para os meus primeiros anos de vida acadmica.
Mas agora no quero mais abrir mo desta perspectiva aberta de divulgao da
nossa produo cientfica. e a edUFBa entrou de corpo e alma nessa filosofia
isso tem possibilitado que toda a sua produo esteja disponvel livremente
para o acesso da populao, fortalecendo, assim, a perspectiva de divulgao
cientifica e de democratizao do conhecimento que tem caracterizado o nos-
so trabalho acadmico ao longo dos anos.
Gostaria tambm de deixar o meu especial agradecimento aos jornalistas
albensio Fonseca, Fred Furtado, Barbara coelho, esteban torre, leila Mesyn-
gier, Patrcia cornils e tatiana Mendona pela importante interlocuo que ge-
raram as entrevistas aqui reproduzidas. agradeo tambm aos jornais a tarde e
correio* e ao terra Magazine, pelo publicao de minhas reflexes.
o livro pronto para ser degustado e antropofagicamente consumido:
remixado, remasterizado, reutilizado, de muitas e milhares maneiras poss-
veis. isso o que queremos e mais ainda, conforme a licena Creative Commons
aponta, queremos que todo o uso que dele for feito, resulte tambm em produ-
es livres e abertas dentro dessa mesma perspectiva. assim, podemos fazer e
implantar aquilo que tem sido o meu mais novo mantra acadmico e ativista:
estabelecermos um circulo virtuoso de produo de culturas e conhecimentos.
o caminho est aberto. resta-nos, com vigor, alegria e disposio, per-
corre-lo, convidando mais e mais colegas e amigos para esse caminhar. o meu
especial e carinhoso minha querida ivone que, com ateno e preciso, revisa
tudo o que escrevo.
leia o livro na ordem que desejar e espero que a cada texto possa lhe pro-
vocar a pensar e encontrar uma nota inesperada para essa sinfonia existen-
cial que a humanidade e os processos educativos.
Que as leituras sejam as mais diversas e boas.
Nelson Prettosalvador, outubro de 2012
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Espaos de inveno e criao coletiva
as frias escolares da meninada podem ser uma boa oportunidade para
que pensemos um pouco mais sobre as possibilidades que advm de um slido
conhecimento cientfico e tecnolgico, construdo a partir do envolvimento
dos jovens na criao e nas invenes, aparatos tcnicos e tecnolgicos.
Penso que essa formao tem que se dar na escola, mas tambm fora dela,
em outros espaos que, dialogando intensamente com ela, constituam um am-
biente mais amplo, no que denomino de um ecossistema pedaggico pblico
para a educao. Para isso se configurar, necessrio se faz que se espalhem pais
afora, espaos formativos prenhes de criatividade, inspirado na poltica dos
Pontos de cultura,1 onde a criao nasce de baixo, com apoio financeiro e ar-
ticulador do poder pblico. espaos para a inveno e criao coletiva, envol-
vendo jovens e adultos, transformando radicalmente a maneira de se ensinar
e aprender.
a ideia a de se ter em todos os bairros de todas as cidades, integran-
do o sistema pblico de educao, cincia e tecnologia, laboratrios hackers
(hackerslab ou hackerspaces) nos moldes do que j vem existindo em diversos
pases, inclusive no Brasil. em so Paulo, o Garoa hacker club2 pode ser um
exemplo de iniciativa bem sucedida nesta linha. a turma tem feito um impor-
tante trabalho de pesquisa e desenvolvimento, com a criao de diversos pro-
jetos, entre os quais as impressoras 3d, que podem revolucionar, num futuro
bem prximo, a produo industrial. nos estados Unidos, proliferam experi-
ncias e no s para a garotada, mas tambm para jovens profissionais que,
articulados em torno de projetos coletivos e colaborativos, ocupam garagens
e prdios antigos, instalando ali laboratrios hackers para desenvolver cin-
1 Poltica pblica do Ministrio da cultura na gesto de Gilberto Gil / Juca Ferreira (2003/2010).
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cia e tecnologia. trago aqui apenas dois exemplos no campo da biotecnologia:
o diYbio3 e o Genspace,4 que buscam integrar em rede bilogos, amadores e
profissionais, com o objetivo de promover a cincia cidad. tudo isso est for-
temente calcado no que vem sendo conhecido como a cultura hacker, respon-
svel pela criao, nada mais, nada menos, do que a prpria rede internet.
importante pensar, ainda, na criao e ampliao de museus de cincia
e tecnologia com uma concepo que v alm do observar fenmenos e equi-
pamentos. esses espaos precisam ser tambm lugares para o fazer cincia,
como o o projeto Universo da criana e do adolescente (Unica), na cida-
de do saber5 em camaari/Bahia. Um Museu tecnolgico interativo de cincia
que encanta crianas, jovens e adultos. como era, mesmo de forma precria, o
Museu de cincia e tecnologia, implantado em salvador/Bahia no governo de
roberto santos (1975/1979), no Parque de Pituau (Boca do rio), criado mesma
poca.
alis, merece destaque o ocorrido na primeira semana do ltimo ms de
2012, quando a Universidade do estado da Bahia (UneB) concedeu a roberto
santos o ttulo de doutor honoris causa. eu l estava para prestigiar o colega e
ex-reitor da UFBa, professor que tanto insiste no que ele denomina de ensino
prtico das cincias. os discursos de todas as autoridades da UneB, desde o
Magnfico reitor at a ltima das falas que celebravam o homenageado, exalta-
vam as qualidades e feitos de roberto santos, incluindo a criao do Museu de
cincia e tecnologia. todavia, para meu espanto, omitiam solenemente o fato
de que aquele Museu, palco de minhas aulas e passeios com alunos e filhos,
estar hoje sob os cuidados da prpria UneB, mas totalmente abandonado. esse
abandono resultado de histrica picuinha poltica dos primeiros governos
ps-1979, sendo vtima de descaso inclusive do atual governo, que o transferiu
solenemente para a prpria UneB. esta l instalou a Pr-reitora de extenso e,
dessa forma, conclui o seu desmanche! hoje, restam ali a locomotiva na frente
e a pobre rotativa ao fundo, marcando uma poca passada onde o deslocamen-
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to se dava pelas linhas frreas e as informaes chegavam unicamente impres-
sas pelos linotipos.
a Bahia carece de muito mais nesta rea. incompreensvel no termos
um planetrio, que possibilitaria crianas, jovens e adultos se deliciarem com
o estudo dos cus; um aqurio municipal, no s em salvador, mas em outras
regies de um to rico litoral como o baiano. Penso tambm no valor de um
Museu do cacau cabruca no sul da Bahia conheci Barro Preto, pequena cida-
de ao lado de itabuna onde o esse tipo de cultivo sem destruio da mata nativa
ainda forte, e ela ainda l est, forte e exuberante, que poderia, ao mesmo
tempo que ali se instalasse um museu, receber fortes incentivos para o cha-
mado turismo rural, to presente e valorizado em diversos pases do mundo.
na regio do semirido, interessante se pensar em um Museu do Feijo
e, para alm dele, em tantas outras culturas que seriam, consequentemente,
fortalecidas.
certamente, roberto santos e todos ns! sairia mais cheio de jbilo
das homenagens que lhe foram prestadas se as autoridades presentes houves-
sem anunciado a deciso poltica de imediata recuperao do Museu de cin-
cia e tecnologia da Boca do rio.
ainda h tempo para tal!
Publicado no Terra Magazine em 25 de dezembro de 2012.
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Frias, cinema e educao
Boa parte da nossa juventude est de frias (menos ns da UFBa que por
conta da ltima greve continuamos a labutar num difcil semestre de vero!).
essa turma de frias quer se divertir e ir ao cinema sempre muito bom. Mas
isso, alm de caro, esbarra em outro problema: a falta de opo.
das cerca de 2.500 salas de exibio no Brasil, 61% esto hoje ocupadas
com o filme hobbit. em outros momentos esse ndice j foi maior para um
nico filme. hoje, 81% das salas esto com filmes estrangeiros, enquanto 60
nacionais aguardam sua vez para chegar telona das salas escuras, segundo
entrevista do novo secretrio do udio visual do Ministrio da cultura (Minc),
leopoldo nunes.
no comeo deste ms, em cachoeira, a Universidade Federal do recnca-
vo da Bahia (UFrB) promoveu o (muito bacana!) iii cachoeira doc,6 organizado
pelas professoras amaranta cesar e ana rosa Marques. num dos debates que
l ocorreram, silvio da-rin, ex-secretrio do audiovisual do Minc, afirmou
que de 1995 para c cerca de 855 filmes brasileiros foram lanados, sendo que
somente 50 atingiram mais de 1 milho de assistentes, e todos esses ligados a
msica ou futebol.
obvio que isto indica a necessidade de fortes investimentos na formao
de plateias. Formao essa que tarefa das polticas pblicas e dos governan-
tes, mas tambm papel de educadores e pais.
insisto na ideia de que as escolas se constituem em privilegiados espaos
para esta tarefa. assistir um bom filme , muitas vezes, muito mais rico do
que horas de aulas do tipo distribuio de informao ou contedo! o sistema
educacional pblico, com prdios escolares espalhados por todos os cantos do
pas, se beneficiados com recursos para sua qualificao arquitetnica, pode-
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riam implantar, paulatinamente, espaos para exibio que atenderiam no s
os estudantes, mas toda a comunidade.
a programao para essas novas salas de exibio j est disponvel, pelo
menos para os primeiros passos. refiro-me ao projeto Programadora Brasil,7
programa da mesma secretaria do audiovisual do Ministrio da cultura
(Minc), coordenado pela cinemateca Brasileira. o seu catlogo j conta com
cerca de 825 filmes nacionais e a expectativa deles de se chegar a 4 mil daqui
a dois anos. hoje esto cadastrados 1.625 pontos de exibio espalhados por
850 dos cerca de 5.500 municpios brasileiros. ainda pouco, certamente, mas
um bom comeo.
em salvador, dos 23 pontos de exibio, apenas um dentro de uma esco-
la, a escola municipal eugenia anna dos santos, que integra o terreiro il ax
po afonj, sob a liderana de Me stella de oxssi.
trazer para as escolas e universidades a prtica cotidiana de se assistir a
um bom filme um importante passo na construo da cidadania e isso no
algo que pode esperar um amanh distante.
Publicado no Correio de 22 de dezembro de 2012.
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Deixem minha internet em paz
encerra-se hoje (14.12.12) em dubai (emirados rabes Unidos) a confe-
rncia Mundial sobre telecomunicaes internacionais (Wcit) da Unio in-
ternacional de telecomunicaes (Uit).8 a Uit a agncia especializada da
onU para as tecnologias de informao e comunicao, congrega 193 pases e
mais 700 representantes do setor privado, incluindo as principais empresas de
telefonia do mundo. apesar de frequentemente negado, um dos objetivos des-
ta reunio foi a regulamentao da internet, especialmente no quesito neu-
tralidade da rede.
Movimentos ativistas em todo o mundo, e aqui no Brasil de forma bas-
tante intensa, protestam com a incluso da internet no chamado regulamen-
to internacional de telecomunicaes e defendem que aquele no o frum
adequado para esta discusso e que se deve garantir a liberdade da web, sendo
para tal necessria a neutralidade no tratamento dos pacotes de informao
que circulam pela rede.9
a internet nasceu nos idos dos anos 60/70 do sculo passado, basica-
mente a partir de trs pontos que me parecem bsicos para compreenso da
sua importncia no mundo contemporneo. o primeiro, no necessariamente
nesta ordem, que ela foi e continua sendo fruto de um trabalho coletivo e
colaborativo, envolvendo gentes e organismos em todo o mundo. Foram nos
laboratrios e garagens das universidades americanas que jovens hackers co-
mearam a trocar cdigos e, com isso, estabelecer os primrdios do que veio a
ser chamado de internet. Um segundo aspecto que, na montagem desta rede,
os dados trafegavam em pacotes, em pequenas unidades de zeros e uns (0 e
1), com total liberdade. e por ltimo, e aqui para mim o mais importante, ela
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essencialmente uma rede que conecta o diferente. ou seja, no importa o
sistema operacional que voc esteja usando, seja linux, Mac ou Windows; no
importa se voc est em um computador de mesa, notebook, tablet ou smar-
tfone, o que ela procura estabelecer, atravs de protocolos de comunicao,
uma conversa entre esses equipamentos, possibilitando que eles se falem. Para
ns da educao, esse aspecto importante do ponto de vista tcnico para
o funcionamento da rede propriamente mas, muito alm, tem um enorme
valor do ponto de vista filosfico, pois, em um mundo onde os processos de
globalizao tendem a ser cada vez mais homogeneizantes, pensar em fortale-
cer o diferente mais do que bsico, crucial.
Portanto, defender a neutralidade da rede condio sine qua non para
que esses princpios possam continuar valendo e, nesse sentido, esta tem sido
a luta da sociedade civil brasileira na defesa da aprovao no congresso nacio-
nal do Marco civil da internet, que uma espcie de constituio da internet.
ele comeou a ser discutido h mais de trs anos, num amplo e democrtico
processo liderado pela secretaria de assuntos legislativos do Ministrio da
Justia. depois de consultas e debates abertos, uma proposta foi enviada ao
congresso nacional no ano de 2009. o Projeto de lei que tramita com o nme-
ro 5.403/01 tem como relator o deputado alessandro Molon (Pt-rJ), que, para
elaborar o seu relatrio, promoveu audincias pblicas em diversas cidades
brasileiras. antes disso, o projeto ficou em consulta pblica no portal e-demo-
cracia10 tendo recebido mais de 12 mil acessos e 374 contribuies. Finalmente
o relator apresentou o seu trabalho durante o iii Frum da internet no Brasil,
em recife, no ms de julho passado.11
depois de todo esse processo, o lobby das empresas de telecomunica-
es e da indstria do entretenimento e do copyright tenta barrar a aprovao
do Marco civil, com o objetivo de incluir na lei a possibilidade de quebra da
neutralidade da rede. ao longo de todos esse processo muito se tem produzido
no sentido de alertar a populao sobre o risco de se transformar a internet
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em algo que s possibilitar acesso pleno aos contedos para aqueles que tem
maior poder aquisitivo e podem pagar por conexes privilegiadas.12
se voc ler esse texto em um dia posterior a esta sexta feira 14 de dezem-
bro, j estar com informaes sobre quais foram as posies na Uit sobre a
internet. Porm, no custa registrar o depoimento de Joana varon, do centro
tecnologia e sociedade da Fundao Getlio vargas/rio de Janeiro, que est em
dubai, postado no site observatrio da internet.13
ela se pergunta: a internet est sob ameaa frente s decises dessa reu-
nio da Uit?. sua resposta: Dado o atual estgio de indefinio do texto e o
escopo que o tratado pode atingir, dependendo das terminologias adotadas, in-
felizmente, eu diria que: sim!. e seja qual for a deciso final por aqui, a questo
sobre qual o frum mais apropriado para tratar da governana da rede de for-
ma inclusiva, multissetorial e em respeito aos direitos humanos fundamentais
permanece em aberto. enquanto essa questo no for resolvida, mais ameaas
viro.
Mais ameaas viro e toda ateno pouco! Por isso, importante regis-
trar outra iniciativa que o projeto freenetfilm14 que ser lanado neste sbado
(15/12), no rio de Janeiro. a prpria Joana varon uma das coordenadoras do
projeto que consiste na construo de uma plataforma de produo colabora-
tiva para a realizao de um longa-metragem que trate das questes ligadas s
liberdades na sociedade e na rede, numa iniciativa conjunta do centro de tec-
nologia e sociedade da Fundao Getlio vargas, instituto Brasileiro de defesa
do consumidor, instituto nupef e intervozes.
a histria de internet feita por todos ns, pesquisadores, cientistas, pro-
fessores, alunos, ativistas, enfim, por toda a sociedade e, no Brasil, essa hist-
ria est sendo reconstruda em outra iniciativa, desta vez do ncleo do Futu-
ro na Universidade de Braslia (n-FUtUros/UnB), que na verdade me parece
meio parado, mas que deveria receber um gs pela sua importncia, que o
12 veja no link a seguir um bom vdeo explicativo de como isso funciona: .
13 #observatrio da internet.br ().
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+20internet.br.15 no site esto registrados os principais acontecimentos nes-
tes 20 anos de internet no Brasil. Para contribuir um pouco com essa escrita,
tambm postei no nosso projeto rede de intercmbio de Produo educativa
(riPe)16 um depoimento que dei Web tv a tarde, com um pouco da histria
da construo da internet na Bahia.
so, portanto, muitas histrias e muitas lutas e para isso se concretizar,
mais do que tudo urgente que deixem minha internet em paz!
Publicado no Terra Magazine em 1 de dezembro de 2012.
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Nasceu no Enem
ao longo dos ltimos dias, o exame nacional do ensino Mdio (enem)
tomou conta das conversas aqui e ali. Foram cerca de 5,8 milhes de estudantes
brasileiros inscritos no exame deste ano. em salvador, da ordem de 420 mil.
Mais de 45 universidades pblicas o adotam como forma de ingresso, ao me-
nos que parcialmente, como no caso da Universidade Federal da Bahia (UFBa),
que o usa para a primeira fase das licenciaturas e bacharelados.
do ponto de vista organizacional, um grande avano a existncia de um
exame nacional que substitua os tradicionais e superados vestibulares. Faci-
lita a vida dos estudantes, diminui os custos, possibilita a mobilidade de um
estado para outro e, ao mesmo tempo, viabiliza a elaborao de importantes
bancos de dados nacionais para avaliao do ensino superior no pas.
ao mesmo tempo, no deixa de ser preocupante o fato de que, a exemplo
do que se dava com o vestibular, o eneM termina impondo ao ensino mdio
uma padronizao exagerada que faz o sistema educacional brasileiro funcio-
nar na base dos cursinhos preparatrios, centrado numa lgica que vai se im-
pondo no mundo todo, a dos exames nacionais e dos ranqueamentos de insti-
tuies, professores e estudantes. antes, cursinhos para os vestibulares, hoje,
para o enem, com aules e tudo.
no entanto, o que me chamou ateno nas matrias que se seguiram ao
dia dos exames foi o nascimento do beb de Pmela de oliveira, 17 anos, em
plena prova, em uma escola de sidrolndia/Mato Grosso do sul. entrevistada, a
jovem afirmou que no sabia que estava grvida!
ter um filho no meio de uma prova no algo to estranho assim, uma
vez que j assistimos, lamentavelmente bem verdade, partos acontecerem
em situaes as mais inusitadas possveis. o que causou estranhamento foi
o fato do Ministro da educao, alosio Mercadante, telefonar para a estudan-
te, to logo soube do ocorrido, comunicando que ela teria outra oportunidade
agora em dezembro (o que previsto legalmente), e anunciando consider-la
um smbolo do enem (aspeado em o Globo de 5.11.12).
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a situao merece destaque pelo que tem de inusitado e preocupante,
para alm do ponto de vista de polticas pblicas educacionais e, por isso, j
suscita reflexo.
ora, a jovem afirmou que estava grvida e no sabia. supondo-se verda-
deira essa verso da garota, revela clara deficincia das polticas pblicas de
sade, de educao e da situao das escolas em particular; significa que os
professores com ela no dialogavam; que ela no havia feito nenhum exame
pr-natal; que sua famlia e ela mesma! no tinha a menor noo do que es-
tava acontecendo com seu corpo, com a sua vida. tenho visto que o Ministrio
da sade vem atuando intensamente na questo da gravidez na adolescncia,
mas os nmeros so ainda assustadores. segundo a organizao Mundial da
sade, 22% dos adolescentes fazem sexo pela primeira vez aos 15 anos de idade
e a dra albertina duarte, da casa do adolescente/sP, afirma (dados de 2009)
que a cada 18 minutos uma menina de 10 a 14 anos d luz uma criana. Pa-
ralelo a isso, algo que nos parece bastante bvio constatado pelos dados do
iBGe de 2010:17 quanto mais escolarizadas, mais as mulheres evitam a gravidez
na adolescncia. Portanto, esse no um tema que possa passar despercebido,
nem da jovem, nem das autoridades, e muito menos das polticas pblicas.
Por outro lado, se a jovem, sabendo-se grvida, omitiu tal fato organiza-
o do enem e, ao dar a luz, afirmou publicamente que nada sabia as respeito
do seu estado, configura-se aqui mais uma importante questo para reflexo.
ora, se nada a impediria de fazer o enem grvida, o fato de ter mentido ao ser
questionada acerca da sua gravidez deixa evidente a existncia de importantes
questes subjetivas. Mais uma vez constatamos o flanco deixado pelas polti-
cas pblicas a merecer discusso, o que deixo a cargo dos profissionais da rea.
desse modo, de forma diametralmente oposta em relao ao Ministro,
penso que essa jovem que pariu no meio do exame, longe de ser tomada como
um smbolo do enem, configura emblemtico fracasso das polticas pblicas
sociais no pas, a reclamar urgentes redirecionamentos.
Publicado em A Tarde de 12.11.12.
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Webcurrculo: construindo um ecossistema pedaggico
acontece de amanh (segunda, 12.11.12) at a quarta-feira prxima, na
PUc de so Paulo, o iii seminrio Web currculo,18 evento que vem trazendo, ao
longo dos ltimos anos, importantes especialistas do Brasil e do mundo para
refletir sobre aspectos do currculo num mundo 2.0.
as questes contemporneas ligadas aprendizagem, aos possveis usos
dos computadores, tablets e todos os aparatos tecnolgicos nas escolas e a im-
portncia da produo de recursos educacionais abertos, so apenas alguns dos
inmeros temas que estaro presentes nas discusses durante esses trs dias.
insisto sempre em todos os lugares onde escrevo e falo, sobre a impor-
tncia do fortalecimento dos professores para o enfrentamento deste desafio.
no acredito que o professor seja resistente s mudanas, desde que lhes se-
jam dadas as condies para tal. os mesmos foram levados a estranhar todas
as possibilidades mais radicais de transformao da escola em funo das suas
permanentes precrias condies de trabalho, formao e salrio. a superao
desta situao demanda aes em torno das polticas pblicas que compre-
endam a educao como sendo muito mais ampla do que apenas o prprio (e
complexo!) campo educacional. necessrio se faz pensar a educao fortemen-
te articulada com a cultura, com as telecomunicaes, cincia e tecnologia, s
para falarmos em algumas reas.
seguramente os convidados do Uruguai e de Portugal traro dados das re-
alidades de l para mostrar-nos como esto enfrentando os desafios. do Uru-
guai, penso que a questo mais forte a iniciativa de introduzir os computa-
dores portteis em todas as escolas do pas com o intuito de, tambm, ensinar
a meninada as linguagens de programao, como me disse o prprio Miguel
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Brechner, responsvel pelo Plano ceibal (Conectividad Educativa de Informti-
ca Bsica para el Aprendizaje en Lnea), a iniciativa socioeducativo do governo
uruguaio. ele estar no evento e deve contar mais um pouco disso tudo, como
j defendeu tambm em livro, douglas rushkoff no seu pequeno e excelente
Programe ou ser Programado, ainda no traduzido no Brasil, mas amplamente
disponvel nas redes.
de Portugal vem o professor Paulo dias, professor da Universidade do
Minho e atual reitor da Universidade aberta de l, que falar sobre a apren-
dizagem colaborativa, tema por demais caro a nosotros, pela importncia da
colaborao no mundo contemporneo.
tenho insistido enfaticamente nesta perspectiva colaborativa da educa-
o que vem se perdendo a cada dia. trago aqui uma frase do steven levy, que
conta a histria dos hackers, aqueles que com seu trabalho intenso e no encai-
xotado nas grades curriculares tradicionais, ajudaram a inventar nada mais
nada menos do que a prpria internet: o que os hackers querem essencial-
mente tomar as mquinas em suas mos para melhorar as prprias mquinas
e o mundo, afirma steven levy logo na abertura do livro, j traduzido para o
portugus.
insisto em me inspirar nos hackers e lhe proponho: substitua hackers por
professores e a frase continua valendo, quem sabe at mais do que no original.
isso tudo porque vivemos um mundo profundamente transformado pela
presena marcante das tecnologias digitais, que tm possibilitado a interao
entre o local e o no-local de forma intensa e quase instantnea. a aproxima-
o das pessoas e das diversas reas do conhecimento corresponde, de forma
quase que definitiva, a uma relao mais intensa da educao com a cultura,
especialmente a cultura digital, transformando professores e alunos, mais do
que sempre o foram, em fazedores do seu prprio tempo. a escola precisa pas-
sar a se constituir em um ecossistema pedaggico de produo de culturas e
conhecimentos e no ser um mero espao de consumo de informaes.
a montagem de uma agenda afirmativa para a insero do pas com auto-
nomia e independncia num projeto de sociedade (do conhecimento) muito
importante e, para tanto, fundamental a ampliao do acesso dos professo-
res e alunos nesse mundo tecnolgico. necessrio se faz polticas de acesso
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banda larga que, tambm elas, superem a viso exclusiva de estmulo ao con-
sumo de informaes. premente a montagem de um efetivo Plano nacional
de Banda larga que de conta da perspectiva que aqui advogamos que a de for-
talecer as escolas enquanto produtoras de conhecimentos e culturas. ou seja,
queremos uma conexo decente para que possamos produzir conhecimentos e
inclu-los de forma plena no ciberespao. Por isso a importncia da campanha
por uma banda larga pblica e de qualidade no Brasil.
tablets, computadores portteis e celulares dos prprios alunos e pro-
fessores, todos se conectando simultaneamente, s se constituiro, efetiva-
mente, em instrumentos de produo de culturas e de conhecimentos se as
conexes disponveis forem efetivamente de qualidade e no os tais 20% ofe-
recidos pelas operadoras, conforme anunciado recentemente.
alm disso, a perspectiva de produo de conhecimentos tem que supe-
rar a ideia de simples tradues de contedos produzidos alhures.
so inmeras experincias que abordam esta questo e o prprio Minis-
trio da educao (Mec) tem estimulado a produo de muito material de for-
ma descentralizada, por exemplo, atravs dos projetos da Universidade aberta
do Brasil. cabe, mais do que tudo, por todo esse material disponvel na rua e
na rede para que possa ser amplamente utilizado por professores e alunos em
todos os nveis da educao.
a educao no mundo de hoje, trazendo para si todos os espaos de
aprendizagem, no pode ficar indiferente e se furtar ao exame das possibili-
dades de uso do computador e da internet, enquanto elementos estruturantes
de novos processos educacionais, novas linguagens e novas formas de se fazer
cincia e cultura.
Publicado no Terra Magazine em 11 de novembro de 2012.
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Os descaminhos das polticas pblicas de Tecnologia da Informao no Brasil
a situao educacional brasileira para ficarmos apenas no nosso caso
complexa e demanda um olhar mais amplo para todo o sistema. Gostaria de
focar nesse texto o uso das tecnologias na educao bsica, obviamente no
deixando de concentrar meu olhar para as condies de formao e trabalho
dos professores e a relao destes com as tecnologias digitais de informao e
comunicao.
de uma maneira bastante equivocada, a meu ver, o Mec praticamente in-
terrompeu o Programa Um computador por aluno (Uca), sem nem mesmo
ter sido possvel se fazer uma profunda avaliao do que significaram os cinco
anos do projeto no Brasil. as cinco primeiras escolas entraram no experimento
inicial no ano de 2007 e a constatao deste abandono, entre tantas outras que
bem conhecemos por estarmos envolvidos no programa, est no prprio site
oficial do Uca: a ltima notcia publicada , pasmem, do final de 2010!
alis, parece que esta tem sido uma estratgia poltica do governo dilma:
mantem as polticas e projetos, sem dizer que acabaram, mas no d fora su-
ficiente aos mesmos para que possam ser alavancados para outros patamares.
outro exemplo evidente disso o programa telecentrosBr, objeto de contun-
dente crtica durante o ltimo Frum da internet no Brasil,19 acontecido em
recife em inicio de julho passado e que j mencionei em outro texto.20
desde o incio do Programa Uca, foi institudo um Grupo de traba-
lho (GtUca) com renomados colegas, profissionais especializados no tema,
cuja proposta era a de atuar, em teoria, em trs frentes: formao, avaliao
e pesquisa. Muito aconteceu ao longo deste perodo, mais escolas entraram
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20 a banda larga no Brasil estreita, p. 40.
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no Programa, passamos de piloto para pr-piloto, foi realizada uma consulta
de preos para que os estados e municpios pudessem adquirir eles prprios
mais computadores, mas, o que se observou ao longo destes anos diferente
de outros pases latino-americanos , que o programa, efetivamente, s de-
colou onde, de fato, os professores e as secretarias municipais de educao o
assumiram como deles.
em parceria com o cnPq foi lanado um edital para realizao de pesqui-
sas, estando as mesmas em andamento, sem resultados para serem analisados
e considerados. do GtUca no se viu nada de concreto alm da formao dos
professores para utilizarem o computador, formao essa que muito deixou a
desejar, sendo por demais criticada em funo de perspectiva instrumental de
uso das mquinas. enquanto isso, uma fenomenal burocracia faz daqueles que
tentam trabalhar na formao dos professores, verdadeiros escravos de formu-
lrios on-line e papis impressos a serem enviados para Braslia.
Quase nada foi socializado, no se avaliou o pouco divulgado (inclusive
a pesquisa encomendada para a Fundao Pensamento digital)21 e, com isso,
gerou-se uma frustrao enorme nos alunos, professores e pesquisadores que
estudam o tema. no uma frustrao romntica, de quem tem uma paixo
inexplicvel pela tecnologia, mas uma frustrao pela inadequada e equivo-
cada conduo de uma poltica pblica que poderia estar fazendo diferena na
busca de uma radical transformao da educao pblica no pas.
Um dado curioso na questo a posio da mdia em relao ao progra-
ma. to logo e, de fato, de forma inesperada o Mec anunciou a compra de
tablets para os professores do ensino mdio, observou-se uma crtica genera-
lizada sobre a iniciativa.
de forma correta, questionou-se a no continuidade do Uca e a falta de
avaliao do que esse programa significou. Mas, o mais interessante de tudo,
foi a crtica feroz feita por jornais e jornalistas ao fato de se estar propondo
a compra de tablets para os professores, sem uma necessria preparao dos
mesmos para o uso dos equipamentos. Muito curiosa essa argumentao uma
vez que, certamente, no me consta que os jornalistas tenham tido cursos para
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poderem usar smartfones, tablets, notebooks e outros aparatos tecnolgicos
contemporneos. o que se v e no s no caso dos jornalistas, mas de toda
a populao que esses apetrechos digitais vo sendo incorporados vida
cotidiana de cada cidado e, assim, de forma quase automtica, no seu exerc-
cio profissional. estaro esses jornalistas achando que ns, os professores, no
somos capazes de utilizar esses equipamentos sem um curso de como mexer o
dedinho para a busca de uma informao ou para a escrita de um texto?
Qualificar o trabalho cotidiano dos professores fundamental se temos
como meta modificar a realidade educacional do pas. essa qualificao pas-
sa por compreender que a presena das tecnologias digitais importante para
que o professor entenda o seu uso e de que forma elas passaram a modificar a
maneira como se faz cincia e como se d o pensar contemporneo. o que se
viu, na formao proposta e praticamente a nica ao alm da distribuio
dos computadores e da encomenda das pesquisas via o cnPq foi uma forma-
o centrada numa logica instrumental sobre o uso das mquinas. e no isso
o que mais precisamos. esse aprendizado prtico, operacional, se dar quase
de forma automtica se tivermos professores fortalecidos enquanto intelectu-
ais que, de fato, necessitam ser.
assim, a questo de fundo no compreender as tecnologias digitais
como meras ferramentas auxiliares dos processos educacionais, o que, lamen-
tavelmente, parecer estar sendo o comum. Busca-se, o tempo todo, quando se
fala de tecnologias e educao, embarcar pedagogia no equipamento. Quero
dizer com isso que insiste-se na ideia de que precisamos de um equipamento
pedaggico e no simplesmente de um computador, tablet, mquina fotogr-
fica digital e todas as demais tecnologias, desde o lpis, para que esses equipa-
mentos possam, ao serem utilizados na escola por professores qualificados, se
constiturem em equipamentos de produo de conhecimentos e de culturas
e no em meros reprodutores de cursos preparados alhures. (dizem por a que
uma das ideias do Mec pagar a traduo de um curso no sei de onde para
embarcar nos tablets que iro para os professores do ensino mdio no novo
programa!)
claro que essa perspectiva mais ampla demanda uma formao do pro-
fessor para alm do simples ensino de tcnicas para usar os equipamentos.
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demanda uma formao que inclua, tambm, lhe possibilitar adentrar plena-
mente no universo da cibercultura e, para tal, nada melhor do que viabilizar
que os mesmos possam ter acesso aos equipamentos para que possam soltar
a sua imaginao, navegar na rede e, tambm, se perder por este universo de
imagens e informao. isso, certamente, colocar os professores mais antena-
dos com o que acontece no mundo, no pas e em sua cidade, ao tempo em que
podero, com o auxlio e o estmulo dos seus jovens alunos, contribuir com a
escrita da histria do nosso planeta.
Uma poltica com esta perspectiva, no deixa de lado os j instalados e
precrios laboratrios de informtica, os computadores portteis do modelo
1 a 1 (Uca), o apoio constituio de bibliotecas e tudo mais que possa estar
presente na escola, transformando-a naquilo que denomino de um ecossiste-
ma pedaggico, rico em cincia e cultura, pleno de criao e de ativismo, tanto
dos professores como dos alunos.
Publicado no Terra Magazine em 10 de agosto de 2012.
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Amlgama cultural
a produo artstica em todos os nveis, com todas as linguagens e supor-
tes, sempre ocupou um lugar de destaque na sociedade, demandando apoio de
polticas pblicas consistentes. em tempos de crise, mexer com a cultura algo
temerrio e que reverbera de forma imediata e negativa na sociedade. Portugal
e a crise do projeto da comunidade europeia que o digam! as reaes vm de
todos os lados, porque sem cultura no h vida.
na nossa Bahia dos anos 50 do sculo passado, o reitor edgard santos per-
cebeu que uma universidade com vocao para as artes e cultura poderia aqui
ser implantada e se consolidar como um baluarte desta terra. trouxe para c
figuras notveis em todas as linguagens. ainda vivi um pouco daquela eferves-
cncia, que ainda perdurou at os anos 70. lembro fortemente da convivn-
cia com valter smetak e sua harley-davidson preta circulando da Federao
para a escola de Msica, no canela. eu estava sempre nas segundas da reito-
ra da UFBa para ver os concertos com o prprio smetak e seus instrumentos
malucos, ou outros concertos sob a regncia de lindemberg, Widmer e Bastia-
nelli. no teatro, sabamos de Martins Gonalves, mas acompanhvamos Pos-
si neto, othon Bastos, harildo deda, nilda spencer, lia Mara e tantos outros.
ouvamos falar da marcante presena de lina Bo Bardi e o seu Museu de arte
Moderna (MaM) debruado na baia de todos os santos. na dana, lembro bem
dos festivais no teatro castro alves (tca), de lia robatto, cleide Morgam, car-
mem Paternostro, dulce aquino, e tantas outras, tantos outros e tantas coisas
mais. e o instituto cultural Brasil alemanha (icBa) bombava.
J mais adiante, vivi um tempo no qual, no Pelourinho, havia tambm o
Maciel. lugar de gente rica, rica porque apesar de suas precarssimas condi-
es de vida, sabiam, como sempre o fizeram, criar, e criar muito. convivi com
haidil linhares e tantos outros colegas no instituto do Patrimnio artstico e
cultural do estado da Bahia (iPac), onde ajudvamos a intensificar os proces-
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sos criativos dos moradores do centro histrico. nesta poca, falo do final dos
anos 70, o olodum comeava a bater os seus primeiros tambores ali na quadra
do teatro Miguel santana. e clarindo j estava por l, no cantinho do terreiro,
com a sua cantina da lua. e ele continua por l... do outro lado da praa, tinha
o centro de estudos afro-orientais da Universidade Federal da Bahia (ceao/
UFBa), hoje tem a oi Kabum.
o tempo passou.
no final do sculo passado, assistimos invaso dos computadores e
chegada da internet, com a UFBa de novo na liderana. os computadores e
a internet tomaram conta de vrios espaos e tempos, tudo ficou ao mesmo
tempo, aqui e agora, como cantam os tits.
a arte se transformou, continua a se transformar e a modificar as nossas
vidas. essa a funo da arte, a funo da escola, escrita com esse e mais-
culo, sim senhor! seja a escola formal, seja a escola do cotidiano das cidades.
Um salto no tempo e voltamos ao centro histrico de salvador/Bahia, que
floresce com o trabalho de jovens artistas que, reunidos pela oi Kabum, fazem
no Pelourinho digital muitas artimanhas. algumas delas podem ser vistas no
catlogo da exposio Toque para Mover Sentidos. ele fruto de um trabalho
que relaciona, de forma intensa e criativa, cultura e tecnologia, tecnologia e
(in)formao, produo descentralizada e colaborativa, convergncia de meios
e linguagens, num caldeiro rico de produo colaborativa. Fazendo educao.
Processos criativos que usam computadores e internet para se fazer outra
arte. Para se fazer mais arte.
toque para mover sentidos22 resultado de um processo. processo e
produto, materializado nas cinco instalaes interativas e quatro sites criados
pelos jovens sobre artistas que habitam o centro histrico de salvador, mas
que ainda no habitavam o ciberespao.
Quando vi pela primeira vez esses trabalhos expostos ali no terreiro de
Jesus, aqui em salvador/Bahia, lembrei imediatamente do compositor G. M.
Koenig, entrevistado por steven holtzman para o seu livro Digital Mantras.
ele afirmava que o computador no foi criado para que fizssemos a mesma
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msica, s que melhor. Para ele, a tecnologia veio para fazermos outra msica,
outras artes. e eu complemento: outras educaes.
isso que essa turma vem aprontando. outra arte, outra educao, outra
presena no Pelourinho e na cidade, outra cidadania. ou melhor, assumindo,
de fato, sua cidadania plena.
como me dizem isabel, Juliana e todos os envolvidos nos projetos da oi
Kabum, o que os une que eles esto centrados na produo colaborativa, a
partir de linguagens e meios tecnolgicos. e fico feliz porque tudo isso feito
com uso pleno e exclusivo de softwares livres e, mais interessante ainda, com
o uso do arduino, um hardware tambm livre, que est se constituindo como
uma nova etapa da nossa luta pelas liberdades na produo de cultura, da cin-
cia, da tecnologia e da educao.
isso que essa turma vem aprontando. outra arte, outra educao, outra
presena no Pelourinho e na cidade, outra cidadania. ou melhor, assumindo,
de fato, sua cidadania plena.
a exposio j est aberta no oi Kabum do terreiro de Jesus.
a expectativa de que essa amlgama toda lhe possibilite, inspirado nela,
compreender a riqueza dos processos criativos e a sua importncia para a edu-
cao e a cidadania.
aproveite.
Publicado no catlogo da exposio Toque para mover sentidos e tambm numa verso reduzida no jornal A Tarde de 07 de agosto de 2012.
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A banda larga no Brasil estreita
e vamos lutar que essa peleja arretada demais, bradou no microfone
Be tibiria, ativista conhecida dos movimentos telecentros pelo Brasil a den-
tro. era praticamente a ltima fala no encerramento o ii Frum da internet no
Brasil,23 promovido pelo comit Gestor da internet, o (cGi.Br).24
durantes os ltimos trs dias estiveram reunidos em recife/Pernambuco
ativistas, militantes, empresrios, acadmicos, polticos e representantes do
governo Federal para discutir o presente e o futuro da internet no pas. entre os
inmeros temas presentes alguns merecem destaque: o Marco civil da inter-
net, que tramita no congresso nacional, o Plano nacional de Banda larga, que
no decola, e as polticas de incluso digital do governo federal, em dificul-
dades por conta das incertezas quanto ao futuro do programa telecentrosBr.
com relao a este ltimo, o que se pode observar e a existncia de uma
enorme crise entre os membros da sociedade civil que tocam o Programa e o
governo. a criao do telecentrosBr foi recebida com alegria no inicio do go-
verno dilma justo por colocar, sob a batuta de uma nova secretaria no Minist-
rios das comunicaes a de incluso digital todos os programas e iniciati-
vas que estavam dispersos no governo. Mas, logo, logo, a crise se instalou, alis,
como tambm na cultura com os Pontos de cultura. segundo os presentes no
Frum, a relao entre a rede de formadores do Programa e o governo federal
est deteriorada pela falta de dilogo e explicitao das propostas.
como resultado das muitas discusses ocorridas em todas as salas e pisos
do centro de convenes do recife, uma carta foi elaborada e, pelo ttulo, perce-
bemos o tamanho do problema: Quadro crtico nas polticas de comunicao e
cultura digital resultado das opes do Governo Federal.25 essa, bem verdade,
23 .
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uma crise de dilogo e de negociao com a sociedade civil, dificuldade essa
que vem sendo observada em diversas outras reas como tambm na cultura
e educao. tenho insistido desde muito, e o momento propcio para repetir,
que no podemos confundir dilogo com pacincia de ouvir! a frase caiu como
luva na crise estabelecida no campo da cultura digital no governo dilma.
o documento aprovado tece duras crticas forma como o Ministrio
das comunicaes vem tratando os projetos de incluso digital, ora adiando
a continuidade do pagamento dos bolsistas, ora introduzindo novas exign-
cias, no dando garantias da continuidade do projeto. segundo o documento
aprovado,26
[...] aps menos de dois anos de funcionamento estamos sendo surpreendidos com a morosidade da entrega dos equipamentos e da conexo em banda larga e [] com a interrupo de entrada de novos monitores. inadmis-svel que tomadas de deciso desta importncia sejam feitas de forma unilateral desrespeitando convnios assi-nados entre a secretaria de incluso digital e as institui-es conveniadas, alm do rompimento de um processo histrico de discusses e construes democrticas pelo direito ao acesso informao. (Petio..., 2012)
alm desse documento, tambm foram aprovadas a carta da cultura e a
carta de olinda, esta ltima com uma contundente manifestao em defesa
da clere aprovao do Projeto de lei n 2.126/11, conhecido como Marco civil
da internet, em tramitao na cmara dos deputados.
com relao Banda larga, o que se tem observado a inexistncia de um
plano efetivo e, o que pior uma deficiente infraestrutura de conexo para o
acesso internet, em praticamente todo o Brasil, sendo mais grave a situao
do norte e nordeste. alis, o que mais se ouviu das falas dos representantes do
governo no Frum eram afirmaes do tipo melhor essa banda ruim do que
nada para quem j no tinha nada!, o que provocou ira de muitos.
26 os documentos esto disponveis no site do ii Frum da internet no Brasil em .
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segundo a carta do Frum,
[...] o Programa nacional de Banda larga tem sido cons-trudo a partir de uma aliana com as grandes empresas do setor, com graves prejuzos ao interesse pblico. es-sas opes, alis, tm sido a marca principal das polticas nessa rea: privilegia-se a lgica de mercado e de amplia-o do consumo, sem estabelecer uma perspectiva de ga-rantia de direitos.(carta..., 2012, p. 31)
Mais do que isso, indica o documento,
[...] o debate sobre o regime de prestao de servios da banda larga e sobre o fim das concesses de telefonia fixa tem sido feito sem referncia a um projeto estratgico de telecomunicaes, e h o risco de decises do Governo Federal implicarem numa doao de mais de r$ 60 bi-lhes em bens pblicos para as atuais concessionrias de telefonia, colocando em risco a estrutura pblica de tele-comunicaes. (carta..., 2012, p. 32)
Por outro lado, foi recebida com certo entusiasmo a presena do deputa-
do alessandro Mlon (Pt-rJ) que foi ao Frum apresentar as modificaes que
foram por ele introduzidas no projeto original construdo pelo Ministrio da
Justia a partir da realizao de um conjunto de consultas pblicas ao longo
de mais de trs anos. na cmara dos deputados o Projeto de lei (Pl) n 2.126/11
passou a ser examinado tendo como relator o deputado Mlon que props a
realizao de mais audincias pblicas, promovidas oficialmente pela cma-
ra dos deputados em todo o Brasil, de forma a receber mais sugestes para a
construo do seu substitutivo, ora em consulta pblica na pgina do e-demo-
cracia.27 at s 18 horas as sugestes podem ser apresentadas no site e espera-se
que o mesmo possa ser votado ainda na semana que vem, antes do recesso par-
lamentar. com a hashtag #euqueromarcocivil j percebe-se na rede um intenso
movimento da sociedade civil, pedindo clere aprovao do projeto.
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Uma das maiores vitrias dos movimentos em defesa da internet foi a
garantia da neutralidade da rede como um princpio, com a excluso de um
indicativo que pedia uma regulamentao posterior, presente no projeto origi-
nal e que, certamente, daria margens a mais presso contraria a to necessria
neutralidade da rede.
Uma carta pedindo a clere aprovao do Marco civil foi lida pelo pro-
fessor e ativista da Universidade Federal do aBc (UFaBc) srgio amadeu na
plenria de encerramento, com a presena do prprio deputado Moln, e est
disponvel na rede para que seja encaminhada camara. a carta com a petio
para ser assinada, manifesto direto:
[...] a internet encontra-se sob ataque. em vrios pases, grandes corporaes e segmentos retrgrados da mquina estatal querem restringir as possibilidades democrticas que a internet nos trouxe, bloquear o compartilhamento de bens culturais e impedir a livre criao de contedos, plataformas e tecnologias. (carta..., 2012, p. 27)
no admissvel que os controladores da infraestrutura fsica da inter-
net imponham qualquer tipo de filtragem ou interferncia poltica, econmi-
ca, comercial, cultural, religiosa, comportamental, por origem ou destino dos
pacotes de dados que transitam na internet.
alm disso, afirma:
estamos preocupados com as presses dos grupos eco-nmicos internacionais para que se efetive a remoo de contedos da rede sem ordem judicial efetiva. inacei-tvel que os provedores sejam transformados em poder judicirio privado e sejam instados a realizar julgamen-tos sem o devido processo legal, sem a garantia do direito constitucional de ampla defesa. repudiamos a instala-o de um estado policialesco e da censura instantnea. reivindicamos que o governo envie para o parlamento a lei de reforma dos direitos autorais. temos certeza que necessrio a atualizao desta legislao para adequ-la realidade das redes digitais e as prticas sociais cotidia-nas. defendemos a modernizao e os avanos tecnolgi-
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cos contra o obscurantismo que tenta impor velhos mo-delos de negcios em detrimento s inovadoras prticas de desenvolvimento, produo, circulao e distribuio de informao. (carta..., 2012, p. 27-28)
ao mesmo tempo, outra boa noticia neste campo foi o positivo resultado
de um planetrio lobby exercido por milhares de cidados de todo o mundo
que enviaram ao Parlamento europeu uma petio com mais de 2,8 milhes
de assinatura contrria a implantao do tratado internacional para o comr-
cio denominado de acta (acordo comercial anticontrafaco, em ingls Anti-
-Counterfeiting Trade Agreement).
o ii Frum da internet no Brasil levou para recife uma centena de cida-
dos preocupados com o presente e o futuro da internet, por ela ser, mais do
que tudo, mais um dos direitos humanos fundamentais. Por isso, no pode-
mos simplesmente deixa-la sem uma vigilncia permanente sob o risco de a
vermos aprisionada, destruindo tudo o j construdo de forma colaborativa e
aberta, trazendo inclusive um novo novos modo operandis da prpria socie-
dade. como bem disse Be, reproduzindo uma espcie de slogan presente nos
documentos do Frum, ta peleja arretada.
Publicado no Terra Magazine de 6 de julho de 2012.
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Dos livros didticos aos recursos educacionais abertos
na Bahia temos uma expresso para designar uma coisa que acontece
desde muito: de hoooje... Pois de hoooje que a temtica do livro didtico
faz parte das discusses educacionais como sendo um dos pontos cruciais das
polticas pblicas. Parece incrvel, mas verdade. os livros didticos termi-
naram se constituindo como os quase nicos formadores de muitos e mui-
tos professores espalhados por esse enorme Brasil. eles tambm quase que se
constituem nas sequencias das aulas e, por isso mesmo, terminaram se confi-
gurando como os prprios currculos. e, por ltimo, e certamente no menos
importante, corresponde a um enorme, enorme mercado para as editoras. a
produo de livros didticos corresponde a 37% dos ttulos, 51% do fatura-
mento e 56% dos exemplares produzidos em 2008 afirmam as pesquisadoras
carolina rossini e cristiana Gonzalez no livro Recursos Educacionais Abertos
(rea): prticas colaborativas e politicas pblicas, por mim organizado em con-
junto com a prpria carolina rossini e Bianca santana, recentemente lanado.
como visto, um filo no desprezvel.
as pesquisadoras analisam a poltica do livro didtico no Brasil a partir
das pesquisas realizadas pelo grupo Grupo de Pesquisa em Polticas Pblicas
para o acesso informao da Universidade de so Paulo (Gpopai),28 com foco
nos Programas nacional do livro didtico (Pnld), do livro didtico para o en-
sino Mdio (PnleM) e o do livro didtico para Jovens e adultos (Pnld eJa).
discusso antiga que eu mesmo j analisei e que deu muita confuso! no
meu livro A Cincia nos livros didticos e que foi objeto dos nossos encontros
sobre o livro didtico na Bahia. esses encontros foram promovidos pelo ins-
tituto de Fsica e Faculdade de educao da UFBa nos anos 1984 e 1985. existe
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um vdeo bem antigo, produzido ainda em vhs, sobre esses encontros e voc
pode v-lo em nossa plataforma riPe.29
Para carolina rossini e cristiana Gonzalez, um dos maiores problemas
da poltica do livro didtico brasileira est justamente na sua concepo, que
possui uma fragilidade estrutural: as duas fases do processo de produo do
livro didtico a elaborao do contedo e a produo industrial do livro em si
so tratadas de forma conjunta pelo Programa. e, alm disso, tudo sustentado
pela poltica de direitos autorais, garantindo que o contedo produzido para
os livros didticos adquiridos pelo Pnld seja de propriedade das editoras que
os comercializam. com isso, surge uma srie de efeitos negativos sobre o pr-
prio programa, com consequncias para o mercado e para o acesso ao material
didtico. Para as autoras isso provoca o aumento dos custos de distribuio, a
reduo do poder de negociao do governo e o aumento do preo pago pelos
livros. Fora todos os demais problemas, incluindo a a baixa remunerao dos
autores, ainda temos a altssima concentrao empresarial, com as editoras,
praticamente todas, concentradas na regio sudeste. em nosso livro REA: pr-
ticas colaborativas e polticas pblicas, apresentamos os dados dessa concentra-
o: de 1998 a 2006, cerca de 86% das aquisies foram de editoras sediadas
em so Paulo, e cerca de 96% na regio sudeste. bvio que sem mencionar
nenhum dos inmeros outros problemas causados por essa nefasta concentra-
o podemos perceber que o custo de distribuio fica enorme nestas con-
dies (de 1998 a 2006, o Fnde gastou cerca de r$ 618,4 milhes de reais com
distribuio, o que representa cerca de 14% dos gastos com a compra de livros,
que foi de r$ 4.472,9 milhes, segundo dados do iPea), conforme indicam
carolina rossini e cristiana Gonzalez.30
em paralelo a essa discusso sobre o livro didtico produzido e distribu-
do em grande escala, cresce em todo o mundo a ideia de uma produo des-
centralizada de materiais cientficos e culturais que possam ser utilizados na
educao. refiro-me aos denominados recursos educacionais abertos (rea),
conceito cunhado pela Unesco desde incio dos anos 2000, a partir de diver-
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30 . acesso em: 18 abr. 2013.
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sas conferncias internacionais com o objetivo de fortalecer polticas pblicas
e prticas que garantam a produo e uso de mais e diversificados materiais
educacionais.
neste ms de junho, de 20 a 22 (2012), acontece em Paris o congresso Mundial sobre recursos educacionais abertos (rea), uma promoo da Unes-
co que contar com a presena de ministros de educao e outras autoridades
governamentais de vrios pases, dentro os quais uma significativa delegao
brasileira.
estaremos por l lanando tambm as verses em ingls e espanhol desse
nosso livro, no qual buscamos ampliar o debate incluindo a discusso sobre
os usos da internet nas escolas, a democratizao do acesso internet e aos
recursos educacionais para as populaes de menor renda, entre outros temas.
o livro, desde a sua concepo at agora, na sua publicao, foi produzido de
forma colaborativa a partir de uma chamada na comunidade rea Brasil. todo
o processo de produo foi aberto, com intensivo uso de softwares e fontes
livres. na prpria forma de produo e distribuio do livro adotamos uma po-
ltica aberta. alm da verso impressa (editada pela casa de cultura de digital
e edUFBa), o livro est disponvel em um site na internet31 de forma que todo
o contedo pode ser baixado, utilizado e remixado vontade. ali se encontra
a verso completa do livro, diagramado com formato livro, em pdf, e tambm
cada captulo separadamente, tanto em um formato fechado, como o pdf, como
num aberto, em odt open document template que possibilita o intensivo uso
e a remixagem do contedo apresentado.
a editora da UFBa (edUFBa) tem sido pioneira na poltica de acesso
aberto no pas, tendo implantado, desde o ano passado, o repositrio institu-
cional32 da Universidade Federal da Bahia onde esto disponveis mais de 200
livros para serem baixados integralmente. a editora, juntamente com as edito-
ras da Fiocruz e da Unesp, faz parte do pioneiro projeto do scielo livros.33 essa
outra iniciativa que merece nossa ateno pois se constitui, efetivamente,
num avano na democratizao do acesso ao conhecimento.
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ao contrrio da concentradssima poltica de distribuio dos livros did-
ticos, acompanhamos em todo o mundo um intenso movimento na busca de
uma produo de conhecimentos e culturais mais decentralizada, fortalecen-
do com isso a comunidade cientfica e a sociedade, com uma maior democra-
tizao do acesso ao conhecimento.
esses so passos importantes, sem dvida, mas muito mais ainda precisa
ser feito.
Publicado no Terra Magazine de 1 de junho de 2012.
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Do analgico ao digital, criar o que interessa
Minha ltima coluna, ms passado intitulada Mudanas radicais na
educao: criar, criar, criar..., tratava do tema da criao cientfica por parte de
jovens e das necessrias e urgentes transformaes na educao. o tema
rendeu alguns comentrios e gostaria de us-los para abrir esse meu escrito
sobre as criaes digitais. Parto, assim, das criaes analgicas, aquelas feitas
com materiais concretos, para chegar ao trabalho com as tecnologias digitais,
que ganham espao no mundo contemporneo.
tenho insistido na necessidade de discutirmos mais enfaticamente o en-
sino das cincias a partir do desenvolvimento de projetos que faam sentido
para a meninada. as teorias cientficas modernas so mais do que importan-
tes, mas, o que quero enfatizar, que no nos interessa fazer a juventude deco-
rar meia dzia de frmulas se ela no compreender o significado de cada uma
das peas dessa engrenagem chamada conhecimento humano e interpretao
da natureza. em ltima instncia, o que importa compreender que uma for-
mula a representao matemtica de um modelo, de um fenmeno. ou pelo
menos uma tentativa disso!
to logo o artigo foi publicado e replicado, recebi comentrios, um de-
les foi o do arquiteto e colega Paulo ormindo, professor da UFBa e presidente
do instituto dos arquitetos da Bahia (iaB). Paulo me dizia que seu pai o
intelectual baiano thales de azevedo insistia que toda criana deveria fa-
zer seu prprio brinquedo. e ele no ficou apenas no discurso, me diz Paulo
ormindo:
encomendou no interior uma completa mesa de carpin-teiro para ns fazermos nossos brinquedos. nela eu fiz meus primeiros mveis modernistas. Meus irmos tha-les Filho e Firmo fizeram carrinhos de rolim para eles
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e colegas e at um kart. Meu irmo caula, Jos roberto, [um executivo] que mora nos estados Unidos h 30 anos, tem em seu basement uma completa marcenaria onde ele faz esquadrias e mveis [...].
Pois eu tambm j fiz muito carrinho de rolim e lembro-me da pequena
oficina atrs da porta do meu quarto, em salvador, que me permitia fazer mi-
nhas artimanhas e bugigangas.
esta habilidade de construir coisas do fazer , que no se distingue
do pensar que Mathew crawford aborda no livro The Case for working with your
hands, onde destaca a importncia de se recuperar a habilidade de trabalhar
com as mos.
destes trabalhos manuais acredito que podemos passar para as criaes
digitais, num pulo. evidente que estas ltimas so de natureza diferente, mas
guardam entre si muito do que tenho sempre dito: so estimuladoras do criar.
criar em vez de somente reproduzir.
Penso ser importante destacar o recente trabalho da fotgrafa paulista/
baiana isabel Gouveia na conduo da oi Kabum! escola de arte e tecnologia
de salvador. sou certo de que esse apenas um pequenssimo exemplo do que
acontece por esse Brasil e pelo mundo. Foi aberta na semana passada a expo-
sio toque para mover sentidos,34 com instalaes interativas, realizadas a
partir de oficinas com os jovens do projeto Pelourinho digital. os temas foram
acessibilidade, meio ambiente, arte colaborativa e processos poticos permea-
dos pelas tecnologias digitais.
o conjunto muito interessante, mas quero aqui destacar o videogame
sem limites, criado por Jadilson Machado e isabela cristina. eles programaram
computadores, rodando software livre, gravaram vdeos e criaram algo muito
bacana. Para jogar, sentamos em uma cadeira de rodas e nos movimentamos
por imagens das ruas (reais) da nossa pobre e abandonada salvador. imaginem
o sofrimento de um cadeirante para superar todos os obstculos dos inmeros
buracos dos passeios do terminal da Frana, em salvador (passeios o nome
que se d, aqui na Bahia, s caladas a do sul). Pois o tal jogador-cadeirante vai
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tentando superar todos os obstculos para chegar ao seu objetivo e, na maioria
das vezes, no consegue, seja pela dificuldade do jogo, seja pela falta de acessi-
bilidades de nossas cidades. de um lado, a bela criao/programao da turma
jovem. de outro, as dificuldades dos cadeirantes em se locomoverem nas cida-
des que pouco favorecem a mobilidade.
outro resultado daquele trabalho foi a criao coletiva de sites para proje-
tos e pessoas que so a marca da nossa Bahia, e do Pelourinho particularmente,
e que ainda no estavam presentes no ciberespao. Graas ao trabalho desses
jovens j caram na rede a associao de Mamulengos da Bahia, o genial cria-
dor de instrumentos musicais Bira reis, a maga dos cabelos e da cultura afro
nega Jh e o grupo de rap nova saga, integrado por moradores do Pelourinho.35
do Pelourinho damos outro pulo, desta vez para a virada digital,36 que
est acontecendo desde hoje (sexta feira, 11 de maio de 2012) em Paraty/rio de
Janeiro. durante os trs dias da virada digital, estaro acontecendo palestras,
debates, oficinas e intervenes sobre a cultura digital, passando pela discus-
so sobre a hackers clubes, cincia de Garagem, tv digital, economia solid-
ria e software livre, entre tantos outro temas.
Juntando todas essas coisas, o que vamos encontrar em Paraty uma
mostra das possibilidades de integrao entre os trabalhos manuais com os
digitais, mostrando-nos que, de fato, no uma coisa no lugar da outra, mas
um conjunto de aes articuladas e articuladoras que podem fazer a diferena
se, de fato, queremos construir um Brasil onde todos tenham oportunidades de
criar. criar com as mesmas mos e imaginao que alm de manipular a ma-
deira dos carrinhos de rolim, manipulam os dispositivos digitais como fonte
e princpio para a criao.
Podemos assim, utilizando potencialmente os dispositivos digitais, para
a criao em diversos mbitos (polticos, sociais, educacionais), pensar em
35 associao Mamulengos da Bahia, por anderson dos santos, ana Paula oliveira, diego alves, Jean henrique chagas e rogrio de souza ; Banda nova saga, por alisson Ferreira, andreza leite, diego santos, Jssica larissa cabral e Marina lima ; Bira reis, por leonardo dias, rebeca valverde, regina silva da conceio e silas Moraes ; e, negra Jh, por Brenda Gomes da silva, cleberson carlos oliveira, evandro rocha, Pedro sepulveda e tale santana
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uma cidadania plena. Fora isso, estaremos to somente brincando de formar
cidados. estaremos formando apenas mais consumidores que nem mesmo
vo compreender o que se est consumindo.
Publicado no Terra Magazine de 11 de maio 2012. Colaborou Marilei Fiorelli.
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O saber da cidade (do saber): arquitetura, cincia e educao
equipamentos urbanos so, por sua prpria natureza, equipamentos que
educam. seja por sua funo social um teatro, uma praa, um abrigo , seja
por sua prpria arquitetura. essa segunda dimenso, que muito me encanta,
deixo para os arquitetos. Fico s nos exemplos mais bvios, aqueles da for-
mao esttica do cidado ao olhar uma praa, um teatro, um parque; aquela
formao que lhe permite, ao observar (atentamente) uma avenida, verificar
a sua urbanizao, as pistas de rolamento que possibilitam a passagem de carros
e, qui, bicicletas e pedestres, estes favorecidos por generosos espaos. tudo
isso, do ponto de vista pedaggico, muito importante para a formao da ci-
dadania e essa uma importante relao da educao com a arquitetura. se
fssemos aqui avanar neste aspecto da questo, teramos que convidar ur-
banistas, planejadores urbanos, arquitetos, engenheiros, socilogos, gegra-
fos, artistas e tantos outros profissionais que, em conjunto com cada cidado,
poderiam pensar melhor as nossas cidades e os equipamentos urbanos nelas
implantados. sem dvida, para os espaos educacionais e culturais, este um
importante debate que no deveria ser deixado de lado pelos polticos que ado-
ram construir estes tipos de equipamentos urbanos, como se bastasse sair por
ai simplesmente reproduzindo projetos desenhados Brasil a fora e a dentro.
Quero aqui me concentrar no primeiro aspecto que destaquei: a funo
social de um equipamento urbano de uso pblico e coletivo. Mais especifica-
mente, vou escolher alguns desses equipamentos como as escolas e os centros
culturais ou equivalentes. levo meu olhar para a cidade do saber,37 instalada
em camaari/Bahia, que me encantou desde o primeiro momento, tanto pelo
seu conjunto espacial c