Reforma Protestante

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Reforma Protestante Reforma Protestante O início da época moderna foi marcado por uma profunda alteração na cristan dade, abalando o poderio quase incon- testável da Igreja Católica. O contexto do Renascimento Cultural permitiu um ambiente de críti- ca e contestação à hegemonia da Igreja desencadean- do a Reforma Protestante, em 1517. Muitas pessoas alimentavam a esperança de poder encontrar uma religião que fosse mais voltada para o lado espiritual e se preocupasse menos com os valores materiais. A Igreja Católica ao longo da Idade Média, tor- nara-se uma vitrine de problemas, permitindo a exposi- ção de suas falhas e absurdos. Qualquer estopim pode- ria desencadear a opção por uma nova religião que ali- mentasse os espíritos sedentos de voltar ao Cristianis- mo na sua pura essência. Como se recorda, a Igreja de Roma inaugurou sua meteórica ascensão nos escombros do glorioso im- pério Romano. Deixou de ser religião perseguida para ganhar o status de Igreja oficial de um império em franca decadência. A conversão ao catolicismo não impediu a destruição de Roma império, mas permitiu que a Igreja sobrevivesse nas cinzas do um império que se foi. “Que diria Jerônimo se pudesse ver o leite da Virgem exibido por dinheiro, recebendo tanta veneração quanto o corpo consagrado de Cristo. (...) Aqui temos o capuz de São Francisco, ali a saia de Nossa Senhora, ou o pente de Santa Ana...e tudo pela avareza dos padres e hipocrisia dos monges que brincam com a credulidade do povo” Erasmo de Roterdã. O Elogio da Loucura. Pois a palavra de Deus não pode ser recebida e honrada por quaisquer obras, mas tão somente pela fé. Lutero Neste detalhe de A Nave dos Loucos, pintado na década de 1740 o pecado da luxúria é simbolizado por uma freira e um monge que tentam morder um bolo pendurado a sua frente.

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ReformaProtestante

O início da época moderna foi marcadopor uma profunda alteração na cristandade, abalando o poderio quase incon-

testável da Igreja Católica. O contexto doRenascimento Cultural permitiu um ambiente de críti-ca e contestação à hegemonia da Igreja desencadean-do a Reforma Protestante, em 1517. Muitas pessoasalimentavam a esperança de poder encontrar umareligião que fosse mais voltada para o lado espiritual ese preocupasse menos com os valores materiais.

A Igreja Católica ao longo da Idade Média, tor-nara-se uma vitrine de problemas, permitindo a exposi-ção de suas falhas e absurdos. Qualquer estopim pode-ria desencadear a opção por uma nova religião que ali-mentasse os espíritos sedentos de voltar ao Cristianis-mo na sua pura essência.

Como se recorda, a Igreja de Roma inaugurousua meteórica ascensão nos escombros do glorioso im-pério Romano. Deixou de ser religião perseguida paraganhar o status de Igreja oficial de um império em francadecadência. A conversão ao catolicismo não impediu adestruição de Roma império, mas permitiu que a Igrejasobrevivesse nas cinzas do um império que se foi.

“Que diria Jerônimo se pudesse ver o leite da Virgem exibido por dinheiro, recebendo tantaveneração quanto o corpo consagrado de Cristo. (...) Aqui temos o capuz de São Francisco, ali a

saia de Nossa Senhora, ou o pente de Santa Ana...e tudo pela avareza dos padres e hipocrisia dosmonges que brincam com a credulidade do povo”

Erasmo de Roterdã. O Elogio da Loucura.

Pois a palavrade Deus não pode

ser recebida ehonrada por

quaisquer obras,mas tão somente

pela fé.Lutero

Neste detalhe deA Nave dosLoucos, pintadona década de1740 o pecado daluxúria ésimbolizado poruma freira e ummonge quetentam morderum bolopendurado a suafrente.

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eDurante a Idade Média a Santa Sé teve a regalia

de ser a única instituição centralizada, num mundodividido e fragmentado. O título de Idade da Fé,atribuído a Idade Média, já dispensa maiorescomentários.Vimos por diversas vezes que a Igrejatornou-se uma instituição de natureza supranacional,influenciando na maneira de agir e pensar das pessoas.O ensino tradicional restrito aos mosteiros, permitiuaos padres o controle do pensamento, impondo oteocentrismo como referência de padrão de comporta-mento.

“A Igreja estruturou-se como um verdadeiroEstado, sua força e influência tornaram-na a maiorproprietária de terras da Europa. Lembra-se que nessaépoca a terra era a principal fonte de riqueza. Oparticularismo medieval dobrava-se ao universalismocatólico. Enfim a influência da Igreja foi marcantena vida medieval: a elaboração da cultura desenvol-veu um espaço mental em que o conhecimento domundo e de si mesmo pressupunha a tarefa de encon-trar em toda parte a ordem de Deus. E tal atitudemental se refletia no esforço por simbolizar, por or-denar a natureza, o espaço e o tempo, segundo as leisde Deus.” 1

Enquanto a Europa vivesse retraída nos feudos,não haveria instituição capaz de ofuscar a autoridadeda Igreja. Os problemas começaram a surgir após oséculo XI, em 1054. As discordâncias entre Roma eConstantinopla provocaram o primeiro rompimento dacristandade no “Cisma do Oriente”. Para sorte da SantaSé, a nova Igreja Ortodoxa teve sua área de influênciarestrita ao Oriente, pouco repercutindo no mundo oci-dental. No que se refere aos dogmas, havia pouca di-ferença entre as duas igrejas, contribuindo paraminimizar o impacto do Cisma do Oriente.

A partir do surgimento das monarquias, a Igre-ja Católica se viu prejudicada nas suas pretensões po-líticas. Reagindo aos monarcas, o papa Inocêncio IIIafirmava no século XIV que: “Deus criador do mun-do, pôs no firmamento dois grandes astros para o ilu-minar - o Sol, que presidia o dia, e a Lua, que presi-dia a noite. Na Terra, instituiu duas altas dignidades:o Papado, que reina sobre as almas, e a realeza, quedomina os corpos. Mas a primeira é bem superior àsegunda.” Mas apesar da retórica arrogante, o papaesbarrava na mudança irreversível da ordem políticafeudal. As monarquias nasceram à revelia da vontadeda Igreja, que se viu impotente para reverter a centra-lização política em curso no Ocidente.

CONTESTAÇÕES E HERESIAS

O luxo e riqueza dos clérigos contrastavam bru-talmente com o padrão de vida da maioria das pesso-as. A amargura dos cristãos que se sentiam traídos, foicanalizada para a crença nas inúmeras seitas heréticasque surgiram no final da Idade Média.

As doutrinas rebeldes reinterpretavam o pen-samento oficial da Igreja, expressando uma visão desociedade mais justa e livre das desigualdades sociais.Buscavam inspiração no estudo do cristianismo na suaforma original, ressaltando as idéias de igualdade pe-rante a Deus. Na Inglaterra, em meados do século XIV,destacou-se o teólogo John Wycliffe, professor da uni-versidade de Oxford.

Procurando desvincular os homens da tutela daIgreja, pregou um ritual mais simples rejeitando asmissas pomposas. Para ele, o caminho para a salvaçãopassava antes de tudo, pela fé em Deus.

“Hoje, os bisposse preocupam

apenas emapascentar-se a si

próprios, deixam ocuidado do

rebanho a Cristo”.Erasmo

O papa Leão Xocupava o tronopontifício nomomento emque eclodiu aReformaProtestante.Quadro deRafael.

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Nas suas acusações à Igreja, o teólogoWyclife traçava um paralelo entre asuntuosidade das roupas eclesiásticas

e a simplicidade das roupas de Jesus Cristo. Sua pre-gação da igualdade dos homens foi entendida, ao péda letra, por uma multidão de camponeses, dissemi-nando a revolta em várias regiões da Inglaterra. Apressão dos nobres que se viram atingidos pelas re-voltas, levou Wyclife à Inquisição. Diante da Igrejateve de se retratar e negar o que tinha pregado anteri-ormente.

Como se não bastasse, nessa mesma época,houve a Peste Negra e a Guerra dos Cem Anos e asinúmeras revoltas camponesas devastando ocontinente europeu. Na Inglaterra, a Guerra das DuasRosas levaria o país à discórdia durante três décadas.No Oriente, os turcos avançavam chegando às portasde Constantinopla. Diante de tantos problemas a IgrejaCatólica explicava que os horrores eram castigo deDeus.

A pregação pouco convincente dos padres,despertou a busca de outras doutrinas que explicassemde forma coerente as tragédias da época. Disseminaram-se pregadores messiânicos que percorriam ruas e vilasanunciando a chegada do Anticristo. A arte do períodonão fugiu à regra; pinturas abordaram cenas do infernoinfestado de pecadores. Os quadros retratavammonstros alados atacando os corpos inertes, incapazesde reagir às agressões. O pessimismo generalizadocontribuiu para desgastar a imagem da Igreja juntoaos fiéis.

Nesse universo de tantas incertezas, a Igreja

teria de se contentar com os fiéis que acatavam a palavraeclesiástica sem contestação. Um grupo enorme deovelhas desgarradas descambou para os braços dasheresias e religiões alternativas. Havia também aspessoas que se desiludiam com todas as religiões,optando pelo mergulho nas orgias e práticaspermissivas. Esses seriam personagens do livroDecameron de Boccacio.

Ao invés de coibir as heresias, a prática deexcomungar os hereges distanciava a Igreja dos fiéis,impedindo-a de resgatar a cristandade rebelde. Odescontrole da Santa Sé se refletia na perseguição aosclérigos que manifestavam um comportamento crítico.

Bispos famosos, como Savanarola, foramjulgados sem direito a defesa e queimados em praçapública, para deleite dos católicos fanáticos.

As revoltas camponesas da Baixa Idade Média tiveram, com freqüência,um aspecto herético. Esses movimentos prenunciavam a inquietação populartão característica da Reforma Alemã. Em muitos casos, combinavam crençasheréticas com o ódio às autoridades da Igreja e o protesto contra asdesigualdades e injustiças econômicas e sociais. Esses movimentos de protestopopulares e heréticos tomavam, com freqüência, a doutrina aceita pela Igrejaoficial e reinterpretavam para expressar sua visão de uma sociedade onde areligião assegura a justiça aos pobres e oprimidos. A Igreja pregava, por exemplo,que no futuro o mundo acabaria e Cristo voltaria para julgar finalmente todos oshomens.

Os escolhidos por Cristo seriam chamados de santos e reinariam comele nos céus. Mas os reformadores medievais, muitos oriundos dos segmentosmais pobres da sociedade européia e seguidos por eles, interpretavam essadoutrina como significado que Cristo condenaria os ricos e os proprietários,estabelecendo uma nova sociedade na qual os pobres herdariam a terra. Durantemil anos, um milênio, os pobres governariam o reino de Cristo.O milenarismo,como é chamada essa interpretação radical do Juízo Final, dava aos seusseguidores a justificação religiosa para atacar as instituições estabelecidas e acorrupção”. 2

A Peste Negrana visão de umpintor do séculoXIV

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“A sociedade rural da Alta Idade Médiapermitia o desabrochar deuma cristandade comu-nitária fortemente domi-nada pela hierarquiaeclesiástica e pelas aba-dias. Pelo contrário, aascensão da burguesia e doartesanato e geral-mentedo elemento laico, numacivilização mais urbana, oaparecimento do luxo, aafirmação de um certosentimento nacional, ageral confusão dos espíritosnum clima de insegurança,em suma, os defeitos da Igreja engendraram, nofinal da Idade Média, uma espécie de anarquismocristão. Numa atmosfera de confusão de hierarquiase dos valores, os fiéis não distinguiram mais tãonitidamente como no passado o sacro do profano, opadre do leigo.(...)

Desse modo, o domínio da fé achava-seinvadido por uma vaga de elementos profanos. Essainvasão, da qual poucos tinham consciência, nãoera aliás possível senão no interior de uma sociedadeainda completamente penetrada de preocupaçõesreligiosas. Mas, num ambiente desses, a figura dopadre poderia conservar sua originalidade e aquelaauréola de solidão constitutiva de sua força” 3

A VENDA DE INDULGÊNCIAS

A carência de recursos provocada pela diminui-ção das rendas feudais levou a Igreja ao desespero.Para cobrir a lacuna, os padres preparavam objetos queeram vendidos como se fossem relíquias sagradas. Es-candalosamente enganavam as pessoas vendendo su-postos espinhos da coroa de Cristo, ossos do jumentodo Messias, o manto da Virgem Maria e migalhas dopão da Última Ceia.

A Igreja se aproveitava da ignorânciageneralizada e a confiança que muitas pessoasdepositavam na sinceridade de seus propósitos.Segundo a doutrina de 1517, Jesus Cristo e os santos

haviam realizado inúmeras boas ações. Sendoassim, era dever da Igreja Cató-lica usar o crédito excedentedessas atitudes transferindo-asa quem quisesse adquirir operdão. Movidas pela crença,centenas de pessoascompravam indulgências com oobjetivo de assegurar um lugarno Purgatório ou no Paraíso.Animado pelo sucesso da em-preitada, o papa ampliou a ven-da , com o objetivo de utilizar o

dinheiro na reforma da Catedral Basílica de São Pedro,em Roma.

A prática de conceder indulgências era antiga.Desde as Cruzadas eram concedidas com o intuito defacilitar a ida de cavaleiros para o Oriente. A vendapropriamente dita se deu a partir do século XV, credi-tando à Igreja Católica um comércio de retorno garan-tido e seguro. A grande quantidade de tragédias doséculo anterior havia semeado o terreno fértil para onegócio prosperar. A Igreja chegava ao cúmulo de di-vidir parte do lucro com os nobres que faziam o papelde intermediários junto a população camponesa. Nasregiões mais atrasadas o papa “pintava e bordava”,ajudado pela ignorância e o desespero das pessoasque não conseguiam discernir o certo do errado.

Na hora de vender a mercadoria do perdão aIgreja montava um esquema espetacular, articulando aida de vários padres e bispos que, só pela presença emsi, já intimidava os habitantes das pequeninas aldeias.

Diante dos padres, os fiéis confessavam ospecados, ouvindo em seguida “Que Nosso Senhor Je-sus Cristo se apiede de ti e te absolva pelos méritosde Sua Santíssima Paixão. E eu, por sua autoridadee a de seus benditos apóstolos Pedro e Paulo e dosantíssimo Papa, a mim concedida e transmitida nes-tas partes, absolvo-te, primeiro de todas as censuraseclesiásticas, seja qual for o modo com que incorres-te nelas, e em seguida de todos os teus pecados, trans-gressões e excessos, por mais enormes que sejam.

Gravura deDürer retrata avenda deindulgências

Esta gravura domestre alemãoDürer mostraEsrasmoTrabalhando emsua escrivaninha.

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E até dos que são reservados ao julgamentoda Santa Sé; e, até onde se estenderem as chaves daSanta Igreja, redimo-te de todo o castigo que mere-ças no purgatório em nome delas, e te reintegro nossantos sacramentos da Igreja.(...) Em nome do Pai,do Filho e do Espírito Santo.” - bispo Tetzel. Alema-nha 1517. 4 Como se verá em seguida, foi numa des-sas festas da indulgência que Lutero encontraria o ter-reno ideal para lançar as 95 Teses.

A REFORMA NA ALEMANHA

A Alemanha ou Sacro Império RomanoGermânico, era uma das áreas com maior influência daIgreja. A região encontrava-se profundamente divididaem vários principados e feudos. A inexistência de umpoder centralizado permitiu à Santa Sé coagir váriossegmentos da população, cobrando impostosexorbitantes. A conduta da Igreja provocou insatisfa-ção em todas as classes sociais. A nobreza protestavacom o interesse de se apoderar das terras do clero, aburguesia não aceitava a doutrina da usura, os prínci-pes viam na autoridade eclesiástica um freio às suasambições políticas. Desprezando esse emaranhado deinteresses, o papa Leão X determinou, em 1517, a vendadas “cartas do perdão” aos alemães necessitados. Foiaí que encontraram um poderoso inimigo, na figura domonge Martinho Lutero.

Mas quem era de fato Lutero? O que ele preten-dia?

Filho de uma família de razoável condição soci-al, ele completou seus estudos, em 1505. Com muitoesforço, formou-se em Filosofia. Ao fazer uma viagemquase morreu por causa de um violento temporal. Diantedo susto prometeu a Deus que se escapasse da morte,se tornaria padre. Logo em seguida foi admitido na or-dem de Santo Agostinho, de Erfurt. Logo cedo se tornouum teólogo de muito talento, chamando a atenção pelaqualidade de seus escritos.

Nos textos colocava a Igreja em xeque revelandouma faceta de ambição e despudor de padres e clérigos.Escrevia com a autoridade de quem convivia com aintimidade da Igreja Católica e sabia de seus inúmerosproblemas. Nas suas obras apelava ao papa, pedindo-lhe que punisse os religiosos corruptos. Inicialmenteignorado pela Igreja, suas obras foram discutidas emuniversidades e mosteiros chamando a atenção da San-ta Sé. Em 1518, escreveu o livro, Apelo ao futuroconcílio, criticando ostensivamente o comércio da fé.O tom arrogante de suas palavras tornou-o porta-vozdos grupos insatisfeitas com a Igreja.

Nesse mesmo ano um grupo de religiosos visi-tou a cidade de Lutero com oobjetivo de vender as indulgências.Na frente da catedral se depararamcom um cartaz que explicitava as 95Teses. O documento era a síntesedos princípios luteranos. O conteú-do do manifesto afrontava publica-mente a Igreja deixando-a expostaà chacota dos inimigos. Ao ser in-formado do episódio, o papa LeãoX ordenou que o monge fosse aRoma no prazo de dois meses, paraser julgado pela Câmara Apostóli-ca. Acobertado por vários nobres,Lutero se encheu de coragem enca-rando a briga com a Igreja.

O Tempo da História

1517

LUTERO ATACA A IGREJACOM AS 95 TESES

1520

LUTEROÉ EXCOMUNGADO NORTE X SUL

PROTESTANTES X CATÓLICOS

GUERRA NA ALEMANHA 1555

PAZ DE AUGSBURGO

No início do séculoXVI, muitos padres e

freiras tinhamconcubinas e filhos

ilegítimos, perdendo orespeito de amplos

setores da população.

Reformadoresalemães, entreeles Lutero(extremaesquerda)

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Se Roma assim acredita e ensina com oconhecimento dos papas e cardeais (que

eu espero não seja o caso),então nestes escritos decla-ro livremente que o verda-deiro Anticristo está senta-do no templo de Deus e rei-na em Roma - essa Babilôniatinta de roxo - e que a CúriaRomana é a Sinagoga deSatanás... Se a fúria dos ro-manos assim continuar, nãohaverá outro remédio senãoos imperadores, reis e prín-cipes, rodeados de força earmas, atacarem estas pes-tes do mundo, e não maisresolver o assunto com pa-lavras e sim com aespada...Se nós abatemos osladrões com a forca, os sal-teadores com a espada, e oshereges com o fogo, por quenão atacarmos em armas es-

ses senhores da perdição, esses cardeais, esses papas,e toda essa cloaca da Sodoma romana que corrompemsem cessar a Igreja, e lavarmos as mãos com seu san-gue?5 Com essas palavras, o monge alemão, tornavaimpossível a conciliação com a Igreja.

As 95 Teses provocaram entusiasmo e polêmi-ca, levando o próprio Erasmo de Roterdã a escreveruma carta levantando uma série de dúvidas sobre aseriedade do que Lutero escrevia. Em resposta, o mon-ge alemão afirmava que: “o justo viverá pela fé, quedepende da vontade de Deus. Deus é soberano, por-tanto o homem não é livre. Deus concede a quem lheapraz a graça de crer em Cristo. Aqueles a quem recu-sa essa graça não acreditam e caem em danação. Taldestino foi fixado por Deus para toda a eternidade.Existe, pois, uma predestinação: de uns para a salva-ção, de outros para a danação.”

Na essência Lutero defendia:

A convicção de que a fé é o único meio de chegar à salvação. Negava os sacramentos, o jejum, as peregrinações, a caridade e as boas ações Pregava a livre- interpretação da Bíblia Nenhum padre poderia se interpor entre Deus e os homens. Condenava as indulgências Condenava a ostentação de poder e riqueza que a Igreja desfrutava. Pregava a realização da missa em língua nacional Condenava o celibato. Negava o culto das imagens sacras e a adoração aos santos. Propunha que a confissão dos fiéis se realizasse diretamente com Deus. Não aceitava o dogma da transubstanciação

Nesta gravura de1534 da traduçãopara o alemão doAntigo Testamentofeita por Lutero, oCriador, envoltoem rico mantosupervisiona aCriação. A únicaversão da Bíbliaautorizada pelaIgreja Romana eraa imprecisa - eininteligível para ohomem comum -Vulgata latina. Em1573, 500 milexemplares daBíblia de Lutero játinham sidoimpressos.

Todos os cristãossão verdadeiramente

do estamentoespiritual.

Lutero

Existe, pois, uma predestinação: de uns para asalvação, de outros para a danação.” O tema dapredestinação foi o ponto fraco da teologia luterana,pois não contemplava os fiéis com a idéia exata docaminho a seguir para se obter a salvação. Para osespíritos mais inquietos, pairava a dúvida se estavamincluídos no seleto grupo de pessoas escolhidas porDeus, com livre ingresso no Paraíso. A brigadesencadeada com a Igreja desviou a atenção para afragilidade do tema. Mais tarde Calvino completariade maneira mais objetiva, quais seriam os indícios depredestinação no indivíduo.

Em 1520, o papa acuado excomungava Lutero,que se negou a pedir perdão. A nobreza do norteinstigada pelo príncipe Frederico da Saxônia embar-cou na briga, escondendo o monge rebelde num cas-telo até que os ânimos se acalmassem. O impasseevolui para o início de uma guerra civil dividindo aAlemanha em dois grupos: o norte, combatendo emnome de Lutero, e o sul defendendo a Igreja Católica.Durante 25 anos as forças combateram sem chancede vitória. O equilíbrio de forças inviabilizou uma so-lução militar para o problema.

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No meio da confusão milhares de camponesesse rebelaram, invadindo castelos e saqueandopropriedades. A Alemanha se viu em dois conflitossimultâneos - nobres contra Igreja e camponesescontra os nobres. Cobrado a se posicionar, Luterocondenou a Guerra Camponesa, afirmando que “Deusprefere o pior dos governos, e não aceita a melhor dasrebeliões, por mais justo que sejam os motivos da ralé.”Condenando a rebelião camponesa,atendia ao apelo da nobreza quehavia lhe apoiado quandoenfrentara o papa. Inquirido pelolíder rebelde Tomás Munzer, Luterotentou maquiar sua opinião atacan-do os príncipes que massacravamos camponeses. Mesmo assim nãofoi muito convincente. Na carta es-crita a Munzer, percebe-se claramente sua preferênciapelos poderosos, que aliás, nunca foi segredo paraninguém.

Em 1555, Igreja e príncipes chegaram a umacordo com a assinatura da “Paz de Augsburgo”. Emnome dos católicos, o imperador Carlos V, do SacroImpério, reconhecia o direito dos príncipes escolhe-rem a religião que achassem mais conveniente. Emconseqüência, o norte da Alemanha se converteu aoProtestantismo, enquanto o sul permaneceu fiel à au-toridade da Igreja Católica. A nova Igreja, maissimplificada, encontraria inúmeros seguidores em di-versas regiões da Europa, espalhando-se depois, peloresto do mundo. Pelo lado político, os alemães nãotiveram muito que comemorar pois, a Reforma contri-buiu para agravar o lado feudal da Alemanha. Issoprejudicou a unidade nacional que tardaria muitosséculos, concretizando-se apenas em 1870.

A REFORMA NA FRANÇA E NASUÍÇA - O CALVINISMO

Por volta de 1530, os meios acadêmicos de Parisdespertariam para as idéias de Lutero. O país já serevelara potencialmente explosivo, após a eclosão demovimentos de rua envolvendo a população mais hu-milde. Um exemplo dessa atitude popular foi a revoltade Lyon, em 1529, só contida após uma violenta re-pressão. Desenvolvendo uma política religiosa ambí-gua, a monarquia francesa permitiu a expansão dasidéias protestantes. Foi nesse contexto que sobressaiua pregação do teólogo João Calvino

A conversão ao protestantismo ocorreu após amorte do pai, excomungado por ordem da Igreja, de-pois de uma confusa questão financeira envolvendodois bispos da vila de Noyon. O pai de Calvino era umconhecedor das leis contábeis e trabalhava para aIgreja fazendo balancete das contas eclesiásticas.

A exposição do pai à condenação pública, de-terminada pela Igreja, contribui para Calvino se atirarcom afinco nos estudos da teologia luterana. Nas pre-gações e textos publicados, após 1533, já era notória aveia protestante do teólogo francês. Daí foi para o exíliona Suíça, onde conheceu em Genebra, Ulrich Zwinglio.

O teólogo suiço reunia emGenebra um séqüito de fiéis

seguidores. Defendia concepções teológicas muito pa-recidas com a doutrina luterana. Pregava a salvaçãopela fé, a contestação do celibato, a valorização dasEscrituras, a negação do culto aos santos sintonizando-se com o pensamento luterano. Mas a discordânciaquanto à importância do batismo e das ceias simbólicasimpediu a fusão das duas teologias.

A postura mais radical de Zwinglio, atraiu a fúriados católicos suíços, que não aceitavam suas prega-ções. Foi morto numa batalha quando 700 protestantesenfrentaram 8 mil católicos. Lutero ao comentar o fatodizia:“Zwinglio teve a morte de um assassino. Ele ame-açou com a espada e teve o salário merecido.”

Nesta pinturafrancesa de1564, umacongregaçãoouve, emLyon, osermão de umpregadorcalvinista

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O exílio de Calvino na Suíça se deu em meio aesses acontecimentos, repercutindo na sua maneira dever a religião. Havia na população um clima de insatis-fação generalizada em relação, à pretensão do SacroImpério incorporar a região. Nas cidades de Genebra,Basiléia, Lausane e Berna, cresciam os protestos daburguesia contra as iniciativas de anexação territorial.Aproximando-se dos burgueses, o teólogo Calvinoseria elevado a condição de porta-voz da nova religiãoque nascia na Suíça.

O Calvinismo incorporou a essência da teologialuterana defendendo a livre-interpretação da Bíblia, con-denando o culto dos santos e a rejeição do celibato.Porém, no ponto essencial - a predestinação - Calvinofoi muito mais longe que Lutero. Preocupado com afragilidade da concepção luterana, dedicou-se aencontrar uma fórmula que facilitasse a compreensãodo tema. O grande saque de Calvino foi vincular apredestinação do indivíduo ao trabalho. As pessoasque trabalhassem com honestidade estariammanifestando um sinal de Deus. A equivalência dessa

predestinação tenderia ao êxito material, desfrutado napassagem pela Terra.

Como a Suiça influenciou as suas concepções?A localização privilegiada dos cantões suíços tornou aregião, uma das áreas mais desenvolvidas da Europa.Suas estradas eram caminho obrigatório para osviajantes. O comércio desenvolveu as cidades eaumentou a população urbana. O desenvolvimento ate-nuou a influência da Igreja Católica, semeando o cami-

nho para Calvino pregar as vantagens de sua revolu-cionária teoria. A concepção calvinista depredestinação se encaixava perfeitamente nos planosda burguesia. A concepção católica da usura era umfreio ao crescimento das atividades financeiras. Nocalvinismo, a burguesia encontraria o porto seguro deuma religião que premiava o lucro e o sucesso comer-cial.

Em 1547, Calvino afirmava que: “Por decretode Deus, para manifestação de sua glória, algunshomens e anjos são predestinados à vida eterna eoutros são predestinados à morte eterna. Aqueles dogênero humano que estão predestinados à vida foramescolhidos para a glória com Cristo por Deus, antesde efetuada a criação do mundo, segundo suafinalidade eterna e imutável, e secreta deliberação earbítrio de sua vontade, por manifestação de sua livregraça e amor, sem qualquer previsão de sua fé ouboas obras, ou de perseverança em ambas, ouqualquer outra coisa na criatura como as condiçõesou causas que o levassem a isso, e tudo para louvorde sua gloriosa graça. Foi do agrado de Deus que,de acordo com o insondável desígnio de Sua própriavontade, pela qual Ele distribui ou nega mercês, comolhe apraz, para a glória de Seu soberano poder sobreas suas criaturas, dispensar o resto da humanidade,condená-la à desonra e à ira por seu pecado, paralouvor de Sua gloriosa justiça.” 6

Em Genebra, o reformador uniu Estado e a Igrejanuma só instituição. Exercendo o governo da cidadeperseguiu as pessoas que rejeitaram o Calvinismo.Nesse aspecto, foi tão cruel com seus inimigos quantoa intolerante Igreja Católica. Na sequência detalhoupadrões de comportamento que se tornaram parâmetrosda predestinação.

A rígida teoria de Calvino limitava a prática se-xual, determinava padrões de vestuário e ensinava re-gras de alimentação. Alimentava a idéia que a condutamodesta deixava as pessoas mais perto de Deus.Contemplava também os burgueses, evitando desper-dício e concentrando mais as pessoas no trabalho.Independente do mérito, o calvinismo renovou oluteranismo, imprimindo uma consistência inexistentena doutrina original. Por isso mesmo, tornou-se a reli-gião mais seguida, dentre todas as vertentes daReforma.

O Tempo da História

1517

LUTEROPUBLICAAS 95TESES

1540

CALVINISMONA SUIÇA

1534

INGLATERRA

ATO DE SUPREMACIA

1545 CONCÍLIO DE TRENTO ECONTRA-REFORMA

1563

Discussão entrecatólicos eprotestantes naConfissão deAugsburgo, em1530.

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A REFORMA NA INGLATERRA

Nesse país as querelas religiosas forammarcadas por episódios de novela envolvendo o rei, arainha e uma linda cortesã. Tudo começou quandoHenrique VIII pediu ao papa, a anulação do seu casa-mento com a rainha espanhola, Catarina de Aragão. Aunião que já durava dez anos, foi fragilizada pela au-sência de um herdeiro, colocando em risco a sucessãoreal. Em condições normais o pedido seria logo aten-dido, porém a Igreja identificada com os interesses damonarquia espanhola, rejeitou o pleito do rei inglês.Revoltado por não ter sido contemplado, Henrique VIIIrompeu espetacularmente com a Igreja Católica, fun-dando em seguida o Anglicanismo.

Apesar do clima de suspense, a questão apre-sentava uma complexidade que extrapolava a trama defolhetim. A verdade é que, desde a Ordem Feudal, opaís se viu submetido à interferência direta da IgrejaCatólica. Em conseqüência, mantinha a posse de qua-se 1/3 das terras inglesas, obtidas através de doaçõesdos senhores feudais.

Nessas regiões eram cobrados exorbitantesimpostos, transferidos em seguida, para os cofres deRoma. A drenagem de recursos para a Igreja, privava amonarquia de uma importante fonte de renda, prejudi-cando a economia inglesa.

A oposição aos abusos da Igreja unia todas asclasses que pretendiam dar um basta, interrompendoo longo período de usurpação. A todos esses fatoressomava-se a nacionalidade espanhola de Catarina deAragão, pois uma eventual morte do rei, permitiria àEspanha disputar o trono da Inglaterra.

Ao rejeitar o pedido de divórcio, o papa Cle-mente VII agia politicamente, pois era aliado daEspanha católica. Era seu empenho evitar qualqueratitude que prejudicasse o trono espanhol. Porém, des-sa vez, o “tiro sairia pela culatra”, pois o episódio serviude pretexto para Henrique VIII outorgar o Ato de Su-

premacia, em 1534. Com essa medida, os bens da IgrejaCatólica foram confiscados, ao mesmo tempo, em quenascia a Igreja Anglicana, completamente submetida àautoridade real.

Por ironia do destino, Henrique VIII que haviasido coroado pelo papa como “Defensor da Fé”, termi-nou sendo protagonista do rompimento com a IgrejaCatólica. De uma só vez o rei ampliou sua autoridade econfiscou terras para, em seguida, vendê-las aos bur-gueses e nobres. A arrecadação de impostos permitiumaior estabilidade à monarquia, desfrutada com muitacompetência por Henrique VIII.

No aspecto teológico, muitos ingleses foram lu-dibriados pela nova religião, que parecia romper com ocatolicismo. O problema é que faltava consistência àreforma inglesa. O nascimento do Anglica-nismo se deramais por motivações políticas do que ambições religio-sas. A Igreja Anglicana se revelara extremamente ambí-gua em seus fundamentos. O Ato dos Seis Artigos, de1539, reafirmava todos os dogmas católicos, discordan-do apenas da autoridade papal. A imprecisão anglicanaera sua pior propaganda. O meio-termo e a indefiniçãode princípios, estimularam o aparecimento de outras re-ligiões, reivindicadoras da paternidade do protestan-tismo, a exemplo do Presbiterianismo e Puritanismo.

Os reinadosseguintes colheram osfrutos da contradição.Eduardo VI, filho deHenrique VIII, aproximou-sedo calvinismo. Maria Tudor,em 1553, reconciliou-se como papa em Roma,restaurando o catolicismo.Em seguida, Elisabethescolheria o Anglicanismocomo religião oficial. Seussucessores, da dinastiaStuart, desencadeariam umapolítica ostensiva derepressão aos protestantes.Em resposta, puritanos epresbiterianos procuraram oexílio na América do Norte.

Passou-se otempo de calar,chegou o tempo

de falar, como diza Bíblia.

Lutero

No quadro,Henrique VIII , reida Inglaterra.

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O primeiro sinal de reaçãoda Igrejaocorrereu em 1536, quan-

do o papa Paulo III reuniu o clero para dis-cutir as questões que feriam os dogmas daIgreja. Realizou-se o famoso Concílio deTrento, em 1537, com a fina flor dahierarquia católica. Ao mesmo tempo emque a Igreja Católica reunia os cardeais, areligião protestante disseminava seus fru-tos pelo continente inteiro. A polêmicamarcou os debates do início ao fim.Contudo, a Igreja saiu fortalecida do epi-sódio, pronta para enfrentar a Reforma Pro-testante.

No plano ideológico, a Igreja Cató-lica mudou muito pouco. Os cardeais nãoaceitaram a livre interpretação da Bíblia,reiterando o papel intermediário da Igreja.Foi mantida a exigência da penitência e aênfase nos sete sacramentos, vinculandoa salvação à obediência aos mandamen-tos. Proibiram a venda das indulgênciasressaltando porém, o direito da IgrejaCatólica perdoar os fiéis em nome de Deus.

O Concílio de Trento elaborou umalista de livros perigosos - Índex, com o in-tuito de expurgar a literatura nociva aocatolicismo. Criada de forma aleatória, alistagem incluía uma ampla variedade deobras literárias, vitimando autores quenunca haviam se posicionado contra osdogmas católicos.

Fogueiras queimaram em praçaspúblicas centenas de livros,evidenciando o lado mais bestialdo convívio humano. Nos paí-ses católicos os opositoresforam perseguidos interrogadose torturados. Muitos se exilavamem outros países, procurandoabrigo onde houvesse um míni-mo de tolerância religiosa. Masa fogueira não queimou somen-te livros. Diversas pessoas fo-ram condenadas nos terríveisTribunais da Inquisição.

A Inquisição atuou de forma maisrigorosa na Itália, Espanha e Portugal,lugares onde a Santa Sé tinha mais força epoder. Na península Ibérica, os judeus setornaram o alvo preferido. Obrigados à con-versão em massa, recebiam o alcunha decristãos-novos. Para servir de guia aosinquisidores, foi elaborado o manual dasfeiticeiras, objetivando identificar desviosde comportamento nas mulheres de “pos-tura duvidosa”. Centenas de mulheresforam condenadas à morte na fogueira,acusadas de bruxaria e pacto com odemônio.

A Contra-Reforma elevou oprestígio da “Companhia de Jesus” comoreferência de moral e retidão. A ordemreligiosa fundada pelo espanhol Inácio deLoyola, em 1540, tornou-se a vanguardada Igreja desempenhando o papel desoldados de Cristo.

O próprio Inácio “durante 15 anosaté sua morte, comandou os jesuítas numaespetacular cruzada para defender e pro-pagar a religião católica através do mun-do. Mais do que qualquer outro grupo, osjesuítas simbolizaram a nova atitude dareforme militante que iria dominar aIgreja. Empreenderam com disciplinadofervor uma ampla variedade de ativida-des que iam da pregação pública e deobras de caridade ao ensino de jovens, àconversão de pagãos e ao combate à he-resia.

Para cumprir essas tarefas, os je-suítas criaram uma organização excepci-onalmente eficiente, na qual todas as ou-tras considerações - inclusive as ascéticas

A IGREJACATÓLICA E ACONTRA-REFORMA.

Cardeais da Igreja Católicareunidos no Concílio de Trento.

a

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e sobrenaturais - eram subordinadas à ne-cessidade primordial de ação. Instituídadentro dos princípios militares que Inácioaprendera na mocidade, a Companhia deJesus impunha uma disciplina rígida a to-dos os seus participantes, que para todosos fins práticos viviam sob o absoluto do-mínio do Geral”. 7 Os jesuítas correram omundo pregando a palavra de Deus, pro-pagando a mensagem da Igreja Católica.Na América recém-descoberta, dezenas dejesuítas vieram com a disposição deenfrentar as adversidades e catequizar osíndios.

A Contra-Reforma conseguiu, aofinal, garantir a unidade da Igreja que estavadesnorteada pela ação fulminante daReforma Protestante. Apesar de ferida emseus brios, a Igreja renasceria mais humildee mais arrogante no discurso. A disputapelos fiéis colocou as duas Igrejas em pólosopostos. Em nome de Deus, católicos eprotestantes perseguiram, julgaram e ma-taram centenas de inocentes.

Na época da Contra-Reforma desenvolveu-se oBarroco. Dentre os artistas destacou-se Rembrandt.

Acima, o quadro A Ronda Noturna.

1 In. Aquino, Denise e Oscar. História das Sociedades. Vol 1. Ao Livro Técnico Editora. Pág378.2 In. Perry, Marvin. Civilização Ocidental. Uma História Concisa. Martins Fontes Editora.

Pág 291/292.3 In. Delameau, Jean. Nascimento e Afirmação da Reforma. Pioneira Editora. Nova Clio.

Pág 70.4 In. Seffner, Fernando. Da Reforma à Contra-Reforma. Atual Editora. Pág 22/23.5 In. Lutero. Epítone. 1520. Pág 1520. In Seffner, Fernando. op cit pág 38.6 In. Confissão de Westminster, 1547. Apud Seffner Fernando. Op. Cit. Pág 58.7 In. Simon, Edith, A Reforma. Coleção Time-Life. José Olympio Editora. Pág 105.