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Universidade Presbiteriana Mackenzie 1 DAS ORIGENS DA COLONIZAÇÃO AO CYBERSPACE: UM ESTUDO DE COMO A LIBERDADE PERMEIA A HISTÓRIA NORTE-AMERICANA Regina Paula Ambrogi (IC) e Vera Lúcia Harabagi Hanna (Orientadora) Apoio: PIVIC Mackenzie Resumo A presente pesquisa, situada no âmbito dos estudos histórico-culturais, investiga o conceito de liberdade (do inglês freedom, liberty) desde as origens da colonização norte-americana até os tempos atuais, no espaço cibernético. Trata-se de um estudo analítico-expositivo acerca do caráter do uso do termo liberdade, inerente ao período de formação da sociedade norte-americana (séculos XVII, XVIII) quando da chegada dos primeiros colonos, fundadores das bases da sociedade norte-americana. Este trabalho visa a demonstrar, por meio da análise dos discursos de posse dos presidentes norte- americanos ao longo do tempo, além da análise de outros produtos culturais, que a ideologia liberal, ao contribuir para a formação daquele país, deu origem a comportamentos, atitudes, maneiras de pensar e agir que, presentes, na contemporaneidade, em diversas manifestações culturais, são observadas, igualmente, no ensino de língua inglesa-cultura americana, utilizando-se o espaço cibernético. O que passa a ser posto em discussão na sociedade do século XXI, da qual a internet é peça chave, não são mais os conceitos em si, mas como eles, embora muitas vezes antigos, continuam a emergir, repaginando-se constantemente. Conceitos antigos, como o ideal de liberdade para um povo, remodelam-se, sem perder suas bases fundadoras, na velocidade de sua época. Estudos sobre a cultura cibernética no século XXI apontam para o entendimento do conhecimento como a emergência continuada de uma inteligência coletiva, ou seja, o conhecimento atual seria derivado de uma forma mais livre e coletiva de aprendizado. Palavras-chave: liberdade, cultura norte-americana, espaço cibernético Abstract This dissertation, situated in the ambit of historical and cultural studies, investigates the concept of liberty (freedom and related terms) since the origins of North-American colonization until the present time on the cybernetic space. It is concerned of an analytical-expositive study about the nature of the usage of the term liberty, starting as of the period of that society’s foundation (centuries XVII, XVIII) when the first settlers arrived, founders of the North-American society’s basis. The objective of this study is to demonstrate by means of the analysis of the North-American President’s Inaugural Addresses throughout history, and by the analysis of other cultural products, that the liberal ideology contributed to the foundation of the society triggering behaviors, attitudes, ways of thinking and acting which, being present in contemporaneity in diverse cultural manifestations, are equally observed in the teaching of the English language-culture, by means of the cyberspace. What starts to be discussed in the XXI century‘s society, from which the Internet is a key tool, are not the concepts themselves, but in which way those concepts, though many times ancient, continue to emerge, repaginating themselves continuously. Bygone concepts, as the ideal of liberty for a people, recast themselves, without losing their prime basis, at their time’s speed. Studies about the cybernetic culture in the XXI century aim to the understanding of knowledge as the continuing emergence of a collective intelligence, in other words, the current knowledge would be derived from a freer and more collective way of learning. Key-words: liberty, North-American culture, cyberspace

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Em parceria com a Professora Helena Abascal, publicamos os relatórios das pesquisas realizados por alunos da fau-Mackenzie, bolsistas PIBIC e PIVIC. O Projeto ARQUITETURA TAMBÉM É CIÊNCIA difunde trabalhos e os modos de produção científica no Mackenzie, visando fortalecer a cultura da pesquisa acadêmica. Assim é justo parabenizar os professores e colegas envolvidos e permitir que mais alunos vejam o que já se produziu e as muitas portas que ainda estão adiante no mundo da ciência, para os alunos da Arquitetura - mostrando que ARQUITETURA TAMBÉM É CIÊNCIA.

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DAS ORIGENS DA COLONIZAÇÃO AO CYBERSPACE: UM ESTUDO DE COMO A LIBERDADE PERMEIA A HISTÓRIA NORTE-AMERICANA

Regina Paula Ambrogi (IC) e Vera Lúcia Harabagi Hanna (Orientadora)

Apoio: PIVIC Mackenzie

Resumo

A presente pesquisa, situada no âmbito dos estudos histórico-culturais, investiga o conceito de liberdade (do inglês freedom, liberty) desde as origens da colonização norte-americana até os tempos

atuais, no espaço cibernético. Trata-se de um estudo analítico-expositivo acerca do caráter do uso do termo liberdade, inerente ao período de formação da sociedade norte-americana (séculos XVII, XVIII) quando da chegada dos primeiros colonos, fundadores das bases da sociedade norte-americana. Este trabalho visa a demonstrar, por meio da análise dos discursos de posse dos presidentes norte-americanos ao longo do tempo, além da análise de outros produtos culturais, que a ideologia liberal, ao contribuir para a formação daquele país, deu origem a comportamentos, atitudes, maneiras de pensar e agir que, presentes, na contemporaneidade, em diversas manifestações culturais, são observadas, igualmente, no ensino de língua inglesa-cultura americana, utilizando-se o espaço cibernético. O que passa a ser posto em discussão na sociedade do século XXI, da qual a internet é peça chave, não são mais os conceitos em si, mas como eles, embora muitas vezes antigos, continuam a emergir, repaginando-se constantemente. Conceitos antigos, como o ideal de liberdade para um povo, remodelam-se, sem perder suas bases fundadoras, na velocidade de sua época. Estudos sobre a cultura cibernética no século XXI apontam para o entendimento do conhecimento como a emergência continuada de uma inteligência coletiva, ou seja, o conhecimento atual seria derivado de uma forma mais livre e coletiva de aprendizado.

Palavras-chave: liberdade, cultura norte-americana, espaço cibernético

Abstract

This dissertation, situated in the ambit of historical and cultural studies, investigates the concept of liberty (freedom and related terms) since the origins of North-American colonization until the present time on the cybernetic space. It is concerned of an analytical-expositive study about the nature of the usage of the term liberty, starting as of the period of that society’s foundation (centuries XVII, XVIII) when the first settlers arrived, founders of the North-American society’s basis. The objective of this study is to demonstrate by means of the analysis of the North-American President’s Inaugural Addresses throughout history, and by the analysis of other cultural products, that the liberal ideology contributed to the foundation of the society triggering behaviors, attitudes, ways of thinking and acting which, being present in contemporaneity in diverse cultural manifestations, are equally observed in the teaching of the English language-culture, by means of the cyberspace. What starts to be discussed in the XXI century‘s society, from which the Internet is a key tool, are not the concepts themselves, but in which way those concepts, though many times ancient, continue to emerge, repaginating themselves continuously. Bygone concepts, as the ideal of liberty for a people, recast themselves, without losing their prime basis, at their time’s speed. Studies about the cybernetic culture in the XXI century aim to the understanding of knowledge as the continuing emergence of a collective intelligence, in other words, the current knowledge would be derived from a freer and more collective way of learning.

Key-words: liberty, North-American culture, cyberspace

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INTRODUÇÃO

A liberdade é algo a ser atingindo e conquistado. A maioria dos povos e indivíduos lutou

muito ao longo dos tempos para alcançar sua tão sonhada liberdade. Mas o que é a

liberdade afinal? Ela é a mesma coisa para todos? Todos os cidadãos de diferentes povos e

culturas do mundo definem a liberdade da mesma maneira?

Quando se pensa em liberdade nos Estados Unidos da América (EUA) invariavelmente uma

ideia percorre a mente das pessoas “A América é a terra da liberdade!”. O que nem sempre

ocorre, no entanto, é o questionamento do que é a liberdade para os norte-americanos, ela

é o mesmo que para os demais povos? Como era ser livre na América que se formava há

quatro séculos atrás? Qual caminho essa ideia percorreu até chegarmos à atualidade e

adentrarmos o espaço da internet, onde vigora a cibercultura atual?

Para que seja possível iniciar o entendimento da questão, faz-se necessário voltar às

origens dos EUA, à colonização sofrida por suas terras (séculos XVII, XVIII), seus

imigrantes, suas ideias religiosas, políticas, conflitos, soluções, discursos, em fim, à base da

América Moderna.

Os objetivos dessa investigação são os de conduzir uma breve investigação, por meio do

estudo histórico-crítico do Liberalismo Clássico (laissez-faire), ou do Liberalismo de

Mercado, praticado desde a época da colonização norte-americana, com a finalidade de

entender sua contribuição na fundação daquela sociedade. Desejamos traçar possíveis

ligações do liberalismo com os comportamentos, atitudes, maneiras de pensar e agir dos

norte-americanos ao longo da História até chegarmos à atualidade, com a finalidade de que

possamos delinear possíveis conexões entre o liberalismo e as manifestações culturais da

atualidade, presentes no cyberspace (espaço cibernético).

Tal liberalismo é tido como defensor das liberdades individuais, limitador constitucional e

fiscal do governo, defensor do direito à propriedade, protetor dos direitos civis e assegurador

da igualdade perante a lei. Como tal, pode ter deixado um legado cultural de busca e luta

pela liberdade no imaginário e senso comum do povo norte-americano, sob a forma de

ideias e modos de pensar, tal qual “A América é a terra da Liberdade!”, que permeia não

somente o pensamento dos norte-americanos em relação ao seu próprio país, mas também

o imaginário dos estrangeiros.

Os objetivos específicos dessa investigação são os de contextualizar historiograficamente a

ideia de liberdade na sociedade norte-americana que se formava, além do de pontuar como

essa ideia tornou-se um conceito de efeitos sociais e culturais na comunidade, quando essa

criava uma identidade própria, após a independência. Pretendemos, também, conectar a

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ideia de liberdade à cultura cibernética (cyberculture), intrinsecamente livre em seu princípio

de constituição.

O propósito da presente investigação é ressaltar que uma análise volumosa como a feita

aqui é facilitada pela internet que disponibiliza ferramentas de busca e acesso a documentos

originais de maneira mais livre. Anteriormente tais pesquisas só eram viáveis in locus, sendo

onerosas e difíceis para a maioria dos pesquisadores.

Buscamos, com isso, propor uma reflexão acerca das possibilidades de uso do espaço

cibernético, além das informações ali disponíveis, no ensino de língua estrangeira. A

tentativa da universalização dos saberes será interpretada como um resultado da

necessidade de manutenção da liberdade alcançada pelos povos, sobretudo no século XXI,

usando-se como um dos meios mais democráticos de comunicação, expressão e pesquisa:

o espaço cibernético.

REFERENCIAL TEÓRICO

A primeira parte da presente investigação apresentou uma contextualização histórica do

objeto de estudo por meio da análise de documentos históricos e discursos políticos da

época da chegada dos primeiros colonizadores às terras norte-americanas. Serão

apresentados os discursos proferidos a bordo dos navios que traziam os colonos, a bordo

do Arbela, WINTHROP (1630) faz emprego de termos relacionados à liberdade, e no navio

Mayflower (1620), no qual todos os peregrinos assinaram um pacto de boa convivência na

colônia; ambos revelando a visão puritana que predominaria nos assentamentos, bem como

sua visão de liberdade. Para essa contextualização, houve a análise crítica de fatos

históricos norte-americanos considerados relevantes levantados do livro História dos

Estados Unidos – das origens ao século XXI, dos autores KARNAL, PUDY, FERNANDES e

MORAIS (2008).

Na segunda etapa do presente trabalho foram destacados os diferentes grupos sociais que

habitavam a colônia inglesa ressaltando-se que a liberdade almejada não era igual para

todos que habitavam a América do Norte. Tais distinções podem ter acelerado a

necessidade de liberdade em relação à metrópole, quando há a comparação entre as

Américas do norte e do sul. Mulheres, afro-descendentes, povos indígenas e homens não

livres não tiveram os mesmo direitos que os WASP (white, Anglo-Saxon, protestant),

conforme os estudos do historiador norte-americano Frank Tannenbaum (KARNAL (2008)

apud TANNENBAUM) vieram a ressaltar e embasar essa etapa da investigação. Em um

estudo sobre a liberdade não poderia faltar pelo menos em uma breve análise das palavras

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de MARTIN LUTHER KING (1964) e seu discurso “Eu tenho um sonho“ (“I have a dream.”),

um verdadeiro marco na luta da liberdade dos afro-americanos.

Em seguida, foram trazidos episódios marcantes no processo de independência das

colônias e no período da Revolução Americana. O principal discurso analisado foi o de

PATRICK HENRY (1775) conhecido por “Dêem-me a liberdade ou dêem-me a morte!”

(“Give Me Freedom Or Give Me Death!”), sendo outra importante publicação estudada o

panfleto “O bom senso” (“Common Sense”), atribuído a THOMAS PAINE (1776).

Outras análises introduzidas brevemente foram as da DECLARAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA

(1776) e da CONSTITUIÇÃO AMERICANA (1787) e suas Emendas (1789), conhecidas

como Declaração de Direitos dos Cidadãos. Os três são comumente considerados como

Alvarás da Liberdade (“Charters of Freedom”) na História norte-americana e por isso não

poderiam estar ausentes do presente estudo.

Na etapa de análise, o conceito de liberdade é aplicado ao objeto de estudo, havendo o

levantamento de termos atinentes nos discursos de posse de todos os presidentes norte-

americanos da História. Procuramos o registro do emprego da palavra “liberdade”,

principalmente sob a forma de três termos em língua inglesa (liberty, freedom and free),

sendo os dois primeiros respectivamente o substantivo “liberdade” e o terceiro o adjetivo

“livre” ou o verbo “liberar”, em língua portuguesa.

No corpus da presente investigação foram levantados os termos atinentes nos cinquenta e

seis discursos de posse (Inaugural Words Addresses) de todos os presidentes norte-

americanos que discursaram ao assumir o cargo; ou seja, desde 1789, quando George

Washington pronunciou suas palavras inaugurais, até 2009, no discurso de posse do último

presidente eleito, Mr. Barack Obama, utilizando-se uma ferramenta de busca disponibilizada

on-line pelo jornal norte-americano THE NEW YORK TIMES (1851).

MÉTODO

O método utilizado na presente pesquisa envolveu uma abordagem predominantemente

qualitativa e seguiu etapas de contextualização histórica da ideia de liberdade encontrada

sob a forma de três vocábulos em língua inglesa (liberty, freedom and free). Na primeira

etapa houve a contextualização histórico-social da ideia de liberdade nas sociedades norte-

americanas incipientes por meio da análise dos discursos da época da colonização havendo

o estabelecimento de relação entre os textos de pessoas viventes na época colonial, como

discursos e pregações, com os metarrelatos de historiadores da cultura norte-americana.

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Sempre que possível, foram utilizados os textos originais na investigação, todos os excertos

em língua inglesa em que figuravam os termos pesquisados foram transcritos para o corpus

da pesquisa, tendo a autora traduzido o trecho para o português, constando, assim, tanto o

original em língua inglesa quanto a tradução para a análise do leitor. Isso durante a presente

etapa e as demais subsequentes. Embora tenhamos trabalhado com muitos discursos orais,

todos os trechos analisados foram extraídos de transcrições escritas oficiais do governo

norte-americano em língua original, e nunca dos áudios originais, por essa razão na foram

feitas notas de “informação verbal” como consta na norma 5.5 de citações NBR 10520:1998,

da ABNT.

Na segunda etapa, estabelecemos a contextualização histórico-social da ideia de liberdade

nas sociedades norte-americanas influenciada pelas ideias iluministas independentistas, a

análise dos discursos da época da independência foi utilizada para justificar a

contextualização histórica do conceito, além de estabelecermos relação entre os textos de

pessoas viventes na época da independência, como discursos dos presidentes, com os

metarrelatos de historiadores citados anteriormente da cultura norte-americana.

Já na etapa final, tratamos de contextualizar histórico-socialmente a ideia de liberdade nas

sociedades norte-americanas nos séculos XX e XXI por meio da análise dos discursos

políticos dos presidentes e demais produções consideradas relevantes. Estabelecemos a

relação entre o conceito de liberdade analisado no corpus da investigação com o a visão de

liberdade no espaço da internet e da cibercultura atual, pelo viés do ensino de inglês como

língua estrangeira.

Os termos liberty, freedom e free - respectivamente em português, os dois primeiros

equivalem ao substantivo “liberdade”, e o terceiro, mais comumente equivale ao adjetivo

“livre”, ou ao verbo “libertar” - foram procurados nos discursos de posse de todos os

presidentes norte-americanos, fazendo-se uso de uma ferramenta disponibilizada pelo jornal

norte-americano The New York Times, acessível por meio da rede mundial de

computadores no site:

http://www.nytimes.com/interactive/2009/01/17/washington/20090117_ADDRESSES.html.

A ferramenta trás uma linha temporal com as fotos dos presidentes, assim como as datas e

um mapa que analisa a linguagem utilizada por cada um deles em seus discursos de posse.

Tal mapa é interativo contendo em maior escala a palavra mais utilizada por cada um dos

eleitos em seus respectivos discursos. Isso quer dizer que a(s) palavras(s)

proporcionalmente maiores são as que mais foram empregadas por aquele presidente

naquele dado discurso.

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Ao se passar o cursor do mouse por sobre o termo procurado, o número de vezes que

aquela palavra foi empregada no discurso fica evidente, sendo que quando se clica na

palavra, o texto original, com o termo selecionado destacado, fica disponível ao leitor. Além

disso, ainda constam na página o discurso do presidente na íntegra e um pequeno resumo

de como as palavras inaugurais ficaram conhecidas na História daquele país.

É importante ressaltar que embora tenha havido a leitura integral dos discursos de posse, a

presente investigação focalizou no uso da ferramenta como um recurso para agilizar o

acesso aos termos atinentes aqui investigados, o que quer dizer que alguns deles podem ter

apresentado falhas, tanto em relação ao número exato de ocorrências, quanto por parte da

representação gráfica disponibilizada pelo jornal The New York Times. Por essa razão, não

foi feita uma abordagem quantitativa de análise de dados nessa pesquisa, embora tenha

sido elaborada uma tabela constando um levantamento do número de termos relacionados à

liberdade encontrados nos discursos de posse.

Sempre que possível, essas falhas foram corrigidas, porém devido ao grande número de

discursos analisados e devido ao fato da seleção utilizada pela ferramenta revelar as

palavras mais empregadas em cada discurso e não, necessariamente, cada vez que o

termo foi empregado, houve, assim, maior concentração na análise dos textos em que o

gráfico não disponibilizava nenhum dos termos buscados na pesquisa.

Não foram detalhados todos os termos mais empregados em cada um dos discursos de

posse, nem tão pouco foram transcritas cada uma das frases em que figuravam os termos

atinentes a essa pesquisa. Foram ressaltados os aspectos considerados mais importantes

tanto da transcrição do discurso proferido, quanto do momento histórico pelo qual passava

cada um dos presidentes. Excertos contendo quaisquer dos três termos atinentes foram

empregados, a qualquer momento, tanto no corpus da análise, quanto ao longo do texto em

si, assim como nas epígrafes de cada capítulo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Por se tratar inicialmente de um assentamento britânico, tornou-se imprescindível voltar ao

contexto sócio-cultural da Inglaterra e a sua “modernidade política” para o início do

entendimento da jornada em busca da liberdade que os britânicos faziam rumo à

desconhecida América. Buscamos procurar os termos pesquisados “liberdade e livre” em

língua portuguesa, liberty, freedom and free, em língua inglesa, no referencial teórico

levantado, trabalhando-se tanto com textos originais em inglês quanto com textos em língua

portuguesa.

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Com respaldo nas ideias do historiador KARNAL (2008), chegamos a conclusão de que a

ação dos monarcas britânicos modernos não considerava se o que faziam era moralmente

correto ou não e de que a ideia de liberdade, no que viria a ser futuramente os EUA, foi

trazida da metrópole, a Inglaterra. Pela visão do historiador, a modernidade política britânica

era a própria liberdade dos homens.

Nos mais tenros primórdios da civilização norte-americana, em um dos primeiros

documentos de que se tem conhecimento, em sua célebre tese, o governador John

Winthrop, em 1630, a bordo do navio Arbela, proclama aos colonos a bordo, suas ideias de

liberdade, as quais começariam a permear toda a cultura do incipiente país. Conhecido

como “A Model of Christian Charity”, em português “Um modelo de caridade Cristã”, o

vocábulo free – livre – aparece relacionado a conceitos religiosos do puritanismo e aos

preceitos morais de como deveria ser o comportamento esperado na colônia.

Na contramão dos pensamentos da modernidade política britânica, em seu discurso com

intenções de moralizar a vida nos assentamentos, WINTHROP (1630) destaca que a terra

onde iriam desembarcar era dada aos colonos, por serem um povo eleito e escolhido por

Deus. Sua tese é inteiramente baseada em versículos extraídos da Bíblia, como ficou

evidenciado em um trecho original do discurso, o qual fala do amor de Deus de natureza

divina e espiritual, livre, ativo, forte e corajoso.

Chegamos a conclusão de que pela visão puritana, desde o começo, a liberdade norte-

americana seria justificada por Deus, por Seu amor incondicional e pelos preceitos morais

da Bíblia. Para ser liberto do jugo, o povo deveria tentar se parecer a Deus e a Seu amor.

Ao longo da analise dos dados, pretendemos traçar um paralelo entre as ideias trazidas à

colônia norte-americana, como as de Winthrop, e as ideias dos norte-americanos de hoje.

As ideias de Winthrop sintetizam muito do que é o espírito libertário norte-americano até

hoje, podendo ser descrita como a ciência de que a liberdade tem seu preço e de que esse

preço é alto. Para ser livre não bastam direitos, há muitos deveres. Um deles é a

perseverança, outro a força para lutar contra as adversidades, outros são a permanência e o

trabalho ativo, em outras palavras, valores tipicamente puritanos.

Tal relação pode ser feita quando analisamos as palavras de nosso contemporâneo e

especialista em liberdade, Dr. Ebeling, extenso palestrante sobre temas de mercado livre,

presidente da FEE (Foundation for Economic Education). Ele explicita o que é a liberdade

para os norte-americanos de hoje, ao fazer exatamente um paralelo entre o destino dos

antepassados que nasciam na América (do Norte), como no caso dos imigrantes que lá

chegavam, há cerca de quatro séculos, e a liberdade: “América! Por mais de duzentos anos

a palavra tem representado esperança, oportunidade, uma segunda chance e liberdade. Na

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América o nascimento acidental de um homem não serviu como um peso inescapável que

ditava o destino de uma pessoa ou o de sua família.” (EBELING, 2010, grifo e tradução

nossa).

Para conseguirmos traçar a ponte entre o passado e o presente, torna-se imperativo

destacar, brevemente, um outro ponto relevante para a presente investigação: a questão do

dialogismo inerente à linguagem. Ao analisarmos as palavras de Ebeling, a tese de Winthrop

baseada na Bíblia, ou os demais discursos políticos a serem mencionados ao longo deste

estudo, invariavelmente seremos remetidos à questão do dialogismo, de Mikhail Bakhtin, e a

ideia de que o dialogismo é constitutivo da linguagem, conforme lembrado por Fiorin em

Polifonia Textual e Discursiva:

Bakhtin, durante toda a sua vida, foi fiel ao desenvolvimento de um conceito: o dialogismo. Sua preocupação básica foi a de que o discurso não se constrói sobre o mesmo, mas se elabora em vista do outro. Em outras palavras, o outro perpassa, atravessa, condiciona o discurso do eu. (FIORIN, 2003, p. 29).

As pessoas a bordo do navio Arbela queriam um recomeço, estavam cansadas do jugo da

realeza britânica e viam na empreitada a chance de reiniciarem suas vidas, apesar de todos

os riscos. O discurso de Winthrop foi elaborado em vista deles, homens que estavam

cansados de lutar por sua liberdade religiosa em terras britânicas, governada por monarcas

de ideias modernas, alheios ao moral. Winthrop, por seu lado, era um puritano que queria a

ordem, o trabalho árduo e o respeito às suas crenças nos assentamentos, por isso o alto

teor moralizante de seu discurso. O discurso não foi construído entorno de si mesmo, ele

certamente foi perpassado por outros discursos que vieram antes dele, por exemplo, o

discurso bíblico já mencionado.

Igualmente, uma vez proferido, o discurso de Winthrop tornou-se passível de ser

atravessado por discursos posteriores. Da mesma forma, o discurso de Ebeling traz em si as

vozes de outros discursos, podendo ser traçadas conexões entre o passado e o presente.

Por essa visão, podemos aventar a possibilidade do discurso de Winthrop ajudar a difundir o

conceito de liberdade, que perpassaria o seu tempo e sociedade e chegaria à atualidade, na

voz polifônica de outros discursos, como no discurso de Ebeling.

Karl Mannheim, conhecido sociólogo judeu que participou de um grupo de estudos

coordenado por Georg Lukács – filósofo de grande importância no cenário intelectual do

século XX -, em seu livro Ideologia e Utopia afirma ser imprescindível compreendermos a

relatividade das significações produzidas ao longo da História, como fica evidente no trecho:

Temos que compreender, de uma vez por todas, que todas as significações que constituem nosso mundo são simplesmente uma estrutura historicamente determinada e em contínuo desenvolvimento, e

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na qual o homem se desenvolve, e essas significações de nenhuma maneira são absolutas. (MANNHEIM, 1976)

A investigação levou em conta tal viés, o da relatividade das significações produzidas, para

investigar a trajetória do conceito de liberdade ao longo da História norte-americana. Temos

a consciência de que as significações são intrinsecamente relativas e circunscritas a seus

contextos históricos e ideológicos, sendo por essa razão, trazidos a essa investigação,

mesmo que de maneira breve, os contextos históricos de produção dos materiais

selecionados.

Com tal entendimento, um último ponto é primordial de ser lembrado, o fato de a cultura, a

partir da pós-modernidade, diferir em muito da cultura em momentos anteriores. A

professora da USP e pesquisadora Cevasco, citando Jameson, esclarece que a cultura na

pós-modernidade passa a ser vista em um sentido mais amplo, como um organismo

complexo em expansão:

[...] a cultura se expande de forma prodigiosa por todo o domínio do social, de tal forma que tudo em nossa vida social – do valor econômico ao poder do Estado [...] – pode ser chamado de cultural em um sentido original e ainda não teorizado. (CEVASCO, 2003, p. 03).

Por essa visão, podemos dizer que a produção cultural na pós-modernidade passa a ser

quase tudo o que é produzido. Assim sendo, os relatos históricos e seus discursos, que

estão inseridos dentro da produção cultural de um povo, devem ser entendidos de acordo

com o momento histórico em que ocorreram, e não, levando em consideração a visão mais

ampliada que temos em relação a eles, na pós-modernidade. Foi por esse viés conduzida a

investigação acerca da liberdade para os norte-americanos ao longo de nossa investigação.

Pudemos concluir que a liberdade que era almejada pelos colonos norte-americanos não

abarcava todos os segmentos sociais como uma primeira análise poderia levar a supor. As

mulheres, os escravos, de qualquer origem, mas predominantemente de origem indígena ou

africana; além dos que não pertenciam ao grupo conhecido por WASP ficariam

marginalizados do sonho norte-americano de liberdade até o século XX.

Ao adentrarmos no tipo de colonização recebida nas Américas, a generalização de que os

colonos católicos que habitaram a América Latina eram predominantemente ladrões sem

escrúpulos tem sua contrapartida na generalização de que os colonos da América do Norte

eram todos puritanos, religiosos, tementes a Deus. Embora atualmente se saiba que nem os

católicos da Península Ibérica nem os ingleses foram os pioneiros nas Américas, havendo

registro de passagens de franceses, holandeses, vikings e dos próprios indígenas nativos

das terras, os primeiros colonos que se estabeleceram em terras norte-americanas não

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eram tão semelhantes entre si quanto o rótulo de “puritanos” tenta englobar. Isso quer dizer

que os preceitos morais que os regiam também eram divergentes, incluindo-se aí ideias em

relação à liberdade. Havia em terras norte-americanas, por exemplo, o grupo dos religiosos

quakers, mais liberais, que acreditava ser cada homem sacerdote de si mesmo, oferecendo

terras gratuitas e liberdade religiosa a seus adeptos.

As análises da luta pela liberdade para muitos excluídos como os afrodescendentes norte-

americanos, assim como para os diversos povos indígenas que habitavam a região, ou para

as mulheres norte-americanas, por si só resultariam em um projeto investigativo extenso em

que figurariam publicações de alta relevância para os estudos culturais norte-americanos

acerca do tema da liberdade. Os quatro séculos que permaneceram à margem da

sociedade libertária que ajudaram a fundar, com seu trabalho árduo e pouco valorizado, são

espelhados nos atuais conflitos sociais da sociedade norte-americana, embora a eleição do

primeiro presidente de origem africana no começo do século XXI. Mr. Barack Hussein

Obama II, quadregésimo-quarto presidente eleito, em 2008, teve como um dos motes de

sua campanha “Eu tenho um sonho” proveniente do discurso de Martin Luther King, além do

uso da internet – considerado decisivo para sua eleição.

MARTIN LUTHER KING JR. (1963) em franca luta pelos direitos civis fez o discurso que

pode-se afirmar ser libertário e de cunho significativo para a ideia de liberdade na cultura

norte-americana, “Eu tenho um sonho” (“I have a dream.”), discurso no qual revisita

passagens fundadoras da ideia de liberdade para o povo norte-americano, ao citar discursos

e passagens importantes da cultura pregressa, e lança bases para futuras revisitações,

como a de Mr. Obama.

Voltando a 1775, o político PATRICK HENRY (1775) dirigiu-se ao presidente da Convenção

da qual participava, no discurso conhecido por suas palavras finais “Dêem-me a liberdade

ou dêem-me a morte!” (Give Me Freedom or Give Me Death!). Há o emprego do advérbio

“livremente” (freely) uma vez; cinco vezes o substantivo “liberdade”, sendo duas delas o

vocábulo freedom e mais três vezes liberty; além de uma vez o adjetivo “livre” (free), em

uma fala de apenas 1.216 palavras. Mais uma vez, e isso parece ser uma constante desde o

início da colonização norte-americana, os preceitos puritanos e a crença na sina de povo

eleito por Deus ajudam a justificar o levante militar que seria responsável pela Guerra da

Independência e colocaria. Os futuros EUA em posição de lutar por outras de suas

liberdades conquistadas ao longo dos séculos: sua liberdade econômica e sua soberania

nacional.

Na visão de Henry, a guerra já havia começado, ele questiona seus compatriotas quanto ao

preço que vinham pagando para terem aquela falsa sensação de paz e liberdade,

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defendendo o direito de luta armada para alcançarem a liberdade da metrópole com as

ilustres palavras que imortalizariam seu discurso: “Dêem-me a liberdade ou dêem-me a

morte!”.

O panfleto “Bom Senso” (“Common Sense”) atribuído a PAINE (1776), fez com que o autor

ficasse conhecido mundialmente como responsável pela sistematização do sentimento dos

colonos em relação aos abusos e desmandos da metrópole nas terras americanas. Há o

emprego da palavra “liberdade” por meio dos termos atinentes liberty e freedom por dezoito

vezes ao longo da publicação, além de mais seis empregos da palavra “livre” sob forma do

vocábulo free. A reiteração dos termos ao longo do documento, assim como a relevância

histórica que lhe é dado faz com que o panfleto possa ser considerado importante na

fundação do ideal de liberdade para o povo norte-americano.

A DECLARAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA (1776) é um documento de 1.322 palavras, no qual

o termo free (adjetivo livre) é utilizado por quatro vezes e a palavra liberty (substantivo

liberdade) é empregada mais uma vez em seu curso. O documento assegura que todos os

homens foram criados iguais e que foram dotados por Deus de certos “Direitos inalienáveis”,

dentre os quais estão o direito a “Vida, a Liberdade e a busca da Felicidade”. O trecho é um

dos mais utilizados em discursos políticos norte-americanos desde sua publicação, estando

constantemente presentes nos discursos de posse dos presidentes do país. É um fragmento

sempre lembrado em manifestações de defesa aos direitos dos cidadãos e civis, citado em

produções cinematográficas ou televisivas, em suma, não seria leviano afirmar que se trata

de um dos trechos mais empregados na cultura-alvo quando em defesa ao direito alienável

à liberdade de um cidadão norte-americano.

A CONSTITUIÇÃO AMERICANA (1787) contém sete artigos, divididos em seções, sendo

que ao longo do documento é empregada uma vez a palavra “livre”, na forma do vocábulo

free, e outra vez o termo “liberdade” sob a forma de liberty, logo em seu início. No

documento, a ideia da liberdade é associada a uma benção, divina, portanto, - um preceito

puritano - adquirida pelos que lutaram contra a Grã-Bretanha, sendo assegurada como um

direito aos cidadãos norte-americanos. A constituição é a mesma desde 1787, sendo que

modificações a ela são feitas por meio de Emendas que totalizam vinte e sete até o presente

momento. Nessas emendas os termos atinentes (free, freedom, liberty) procurados nesta

investigação foram empregados outras vezes. O cunho Bill of Rights, ou Declaração de

Direitos dos Cidadãos, foi o nome que as dez primeiras Emendas à Constituição receberam.

Os três documentos mais importantes para a liberdade dos cidadãos norte-americanos

(Charters of Freedom), aqui mencionados, podem ser facilmente acessados virtualmente por

qualquer interessado em História ou por qualquer outro motivo, sendo inclusive possível o

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acesso aos documentos originais na íntegra presentes no Arquivo Nacional dos Estados

Unidos, assegurando que qualquer cidadão norte-americano tenha a liberdade de ciência de

seus direitos, a qualquer momento.

Os estudos acerca da liberdade enveredam, dessa maneira, por outros caminhos que

esbarram na educação que o povo norte-americano vêm recebendo ao longo do tempo. Tal

constatação poderia levar a supor que internet e a produção cultural ali disponibilizada

atuam como força motriz para assegurar a liberdade amplamente discutida e defendida na

sociedade norte-americana ao longo dos cinco séculos de sua existência.

Quando se vive em um mundo praticamente globalizado, no qual pode-se chegar a qualquer

país em questão de horas por avião, ou em questão de segundos, bastando um click no

mouse de sua internet, muitas vezes as origens das ideias e nações que as impulsionaram

ficam perdidas no mar dos metarrelatos da história, como se os historiadores e seus

protagonistas deixassem nada mais do que suas impressões sobre o momento histórico

relatado. Análises mais atentas e pesquisas das origens das ideias, porém, fazem com que

percebamos que elas sempre permearam a nossa cultura e amoldaram nossa maneira de

pensar, sem que tenhamos nos atentado a elas.

Com efeito, o que passa a ser posto em discussão na sociedade do século XXI da qual a

internet é peça chave, não são mais os conceitos em si, mas que eles, embora muitas vezes

antigos, continuam a emergir repaginando-se constantemente. Eles remodelam-se na

velocidade de uma sociedade global em que a comunicação passa a ser concebida de

maneira mais livre. Em outras palavras, poder-se-ia dizer que o conhecimento é o velho

“Bom Senso” de Paine, todavia sob outra forma, uma forma libertária e coletiva de

construção e remodelação do conhecimento disseminado pelo mundo virtual e o espaço

cibernético.

Dos cinquenta e seis discursos de posse dos presidentes norte-americanos analisados, em

catorze não foram encontrados nenhum dos termos atinentes investigados nessa pesquisa,

quando feito o uso da ferramenta disponibilizada pelo jornal. Isso significa dizer que da

totalidade de discursos, em vinte e cinco por cento deles não teria sido empregado nenhum

termo aqui investigado (liberty, freedom ou free) e, na maioria absoluta deles, ou setenta e

cinco por cento, pelo menos um dos termos foi encontrado.

De acordo com o gráfico interativo do jornal The New York Times, nos seguintes discursos

dos presidentes, em ordem cronológica, não constariam nenhum termo atinente à liberdade

aqui selecionado: nas palavras inaugurais de George Washington (1793), de James

Madison (1813), de James Monroe (1817 e 1821), de Martin Van Buren (1837), de Abraham

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Lincoln (1861 e 1865), de Ulysses S. Grant (1869 e 1873), de Grover Cleveland (1885), de

William Howard Taft (1909) e de Franklin D. Roosevelt (1933, 1937 e 1945).

A análise dos textos na íntegra, porém, revelou que os discursos da grande maioria destes

presidentes continham os termos atinentes investigados, ou outros a eles relacionados. Em

somente três discursos, ao final, não foI encontrado nenhum dos termos aqui investigados

relacionados à liberdade. Foram eles os discursos de segunda posse de George

Washington (1793) e de Abraham Lincoln (1865), além das primeiras palavras inaugurais de

Franklin D. Roosevelt (1933). Isso quer dizer que em somente três pronunciamentos

inaugurais ao longo de toda a História do país, respectivamente, em dois discursos de posse

de reeleição e em apenas um discurso de posse ocorrida pela primeira vez, não foram

mencionados nenhum dos termos relacionados à liberdade, aqui investigados.

Isso faz com que a porcentagem de discursos inaugurais dos presidentes norte-americanos

que não continha nenhum dos termos atinentes aqui investigados caia de vinte e cinco para

apenas cerca de cinco por cento (5,3%), ou seja, uma quantidade mínima. Se for levado em

consideração o fato de que todos os três presidentes empregaram ao menos um dos termos

em discursos inaugurais anteriores ou subsequentes, a porcentagem cai para 0%. Isso

equivaleria dizer que absolutamente todos os presidentes norte-americanos em algum de

seus pronunciamentos de posse empregaram, ao menos uma vez, termos atinentes à

liberdade em seus pronunciamentos inaugurais como presidentes da nação. Um

levantamento mais detalhado dos termos encontrados está na tabela abaixo:

Presidente: Termos atinentes em número mínimo de vezes Anos de mandato liberty/liberties free freedom outros

Barack Obama 2009-presente 2 2 3 -

George W. Bush 2005-2009 15 7 27 - George W. Bush 2001-2005 1 1 5 liberator

William J. Clinton 1997-2001 2 3 2 - William J. Clinton 1993-1997 1 1 3 -

George Bush 1989-1993 1 9 6 -

Ronald Reagan 1985-1989 1 3 14 freed Ronald Reagan 1981-1985 3 2 8 freeing

Jimmy Carter 1977-1981 2 1 4 -

Gerald R. Ford 1974-1977 não houve pronunciamento

Richard M. Nixon 1973-1974 - - 4 - Richard M. Nixon 1969-1973 - 2 2 -

Lyndon B. Johnson 1963-1969 6 1 2 -

John F. Kennedy 1961-1963 1 5 4 -

Dwight D. Eisenhower 1957-1961 - 6 11 freely

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Dwight D. Eisenhower 1953-1957 - 21 10 -

Harry S Truman 1945-1953 4 11 13 freely

Franklin D. Roosevelt 1945 - - 1 -

Franklin D. Roosevelt 1941-1945 1 3 6 freely (2)

Franklin D. Roosevelt 1937-1941 1 1 - -

Franklin D. Roosevelt 1933-1937 - - - -

Herbert Hoover 1929-1933 2 1 6 -

Calvin Coolidge 1923-1929 3 3 6 -

Warren G. Harding 1921-1923 4 2 5 -

Woodrow Wilson 1917-1921 1 3 2 - Woodrow Wilson 1913-1917 2 - - -

William Howard Taft 1909-1913 1 3 2

Theodore Roosevelt 1901-1909 - 2 - freemen/ freely

William McKinley 1901-1901 1 3 4 William McKinley 1897-1901 1 11 1

Grover Cleveland 1893-1897 - 4 - -

Benjamin Harrison 1889-1893 - 7 - -

Grover Cleveland 1885-1889 - 1 - freemen/freedman

Chester A. Arthur 1881-1885 não houve pronunciamento

James A. Garfield 1881 5 4 7 -

Rutherford B. Hayes 1877-1881 - 3 - -

Ulysses S. Grant 1873-1877 - 1 - - Ulysses S. Grant 1869-1873 - - - -

Andrew Johnson 1865-1869 não houve pronunciamento Abraham Lincoln 1865 -

Abraham Lincoln 1861-1865 1 1 - -

James Buchanan 1857-1861 20 9 - -

Franklin Pierce 1853-1857 1 - 3 -

Millard Fillmore 1850-1853 não houve pronunciamento

Zachary Taylor 1849-1850 1 - - freeman

James K. Polk 1845-1849 - 14 - freed

John Tyler 1841-1845 não houve pronunciamento

William Henry Harrison 1841 20 11 1 -

Martin Van Buren 1837-1841 1 2 - - Andrew Jackson 1833-1837 4 - - -

Andrew Jackson 1829-1833 2 2 - -

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John Quincy Adams 1825-1829 - - 5 -

James Monroe 1821-1825 1 2 James Monroe 1817-1821 3 3 - -

James Madison 1813-1817 - 1 - liberality James Madison 1809-1813 2 - 1 -

Thomas Jefferson 1805-1809 3 - - -

Thomas Jefferson 1801-1805 3 3 4 -

John Adams 1797-1801 4 - - -

George Washington 1793-1797 - - - - George Washington 1789-1793 3 2 - -

CONCLUSÃO

Se for levado em consideração o fato de que todos os três presidentes empregaram ao

menos um dos termos em discursos inaugurais anteriores ou subsequentes, a porcentagem

cai para 0%. Sendo assim, absolutamente todos os presidentes da nação empregaram, em

algum de seus pronunciamentos de posse, ao menos uma vez, termos atinentes à liberdade

em seus pronunciamentos inaugurais.

Em nenhum discurso de nenhum presidente que tenha governado o país por somente uma

vez faltou o emprego dos termos atinentes à liberdade aqui investigados, fato também

extremamente relevante e significativo para essa investigação. Igualmente quando

analisados os documentos da História do país mais comumente citados em livros por

historiadores, os termos atinentes à liberdade, aqui investigados, figuram massivamente,

tanto em documentos oficiais do Governo, quanto em suas leis, quanto em discursos civis e

políticos, como também na produção cultural; em suma, em todas as instâncias da nação.

Tais indicativos somados, sustentam a possibilidade de aventarmos uma afirmação mais

categórica em relação ao assunto, como: o ideal de liberdade permeia a sociedade norte-

americana em sua totalidade, desde suas mais tenras bases.

Podemos afirmar, com toda a convicção, que sem o uso da internet e sem o acesso às

informações disponibilizadas na rede, a presente investigação seria quase impossível de ser

realizada em apenas um ano. Para se ter acesso aos discursos de todos os presidentes

norte-americanos na íntegra, os pesquisadores teriam que se dirigir aos EUA e marcar

audiências nas bibliotecas públicas, necessitando muitas sessões para se poder fazer o

levantamento dos termos atinentes feitas aqui por meio de uma ferramenta interativa

disponibilizada no espaço cibernético. Os custos seriam exorbitantes.

Logicamente que também poderiam ser encontrados livros, confiáveis, portanto, contendo

todos os documentos. Tais livros não contariam, porém, com as ferramentas de busca

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contidas nos softwares atuais e também contidas no site interativo do Jornal The New York

Times, que por meio da busca das palavras, agilizam o acesso ao termo procurado. Isso

significa dizer que os recortes aqui trazidos levariam muito mais tempo para serem feitos,

uma vez que o acesso às sentenças exatas em que os termos atinentes figuravam em cada

discurso, só seria possível quando feita a leitura de todas as palavras de cada discurso.

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