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RELAÇÃO ENTRE A QUALIDADE VISUAL DA PAISAGEM E A BIODIVERSIDADE DA MEIOFAUNA EM PRAIAS ARENOSAS Gabriela Félix de Souza Itajaí 2014

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RELAÇÃO ENTRE A QUALIDADE VISUAL DA PAISAGEM E A BIODIVERSIDADE DA MEIOFAUNA EM PRAIAS

ARENOSAS

Gabriela Félix de Souza

Itajaí 2014

GABRIELA FÉLIX DE SOUZA

RELAÇÃO ENTRE A QUALIDADE VISUAL DA PAISAGEM E A

BIODIVERSIDADE DA MEIOFAUNA EM PRAIAS ARENOSAS

“Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação

em Ciência e Tecnologia Ambiental, como parte dos

requisitos para obtenção do grau de Mestre em Ciência e

Tecnologia Ambiental.

Linha de Pesquisa: Estratégias para Gestão Ambiental

Orientadora: Dra. Rosemeri Carvalho Marenzi

Coorientador: Dr. Sérgio Antônio Netto

Itajaí

2014

À minha mãe Janice Félix,

a quem devo tudo.

AGRADECIMENTOS

Algumas pessoas foram essenciais para realização deste trabalho, gostaria de lembrá-los aqui e

agradecer por terem contribuído ou amenizado essa difícil jornada.

À minha orientadora Rosemeri Marenzi, por sua dedicação, paciência, sabedoria e por ter me

orientado com tanto carinho.

Ao meu coorientador e mentor Sérgio Netto, sou muito grata pelo incentivo, pelos puxões de

orelha e não tenho palavras para agradecer e expressar sua importância em minha vida

acadêmica.

Ao professor Marcus Polette, pela confiança depositada permitindo que eu fizesse parte deste

projeto.

A el estimado profesor Daniel Conde, tengo mucho que agradecer por toda su ayuda en la

UdelaR y en todo lo que precisaba.

Aos professores Paulo Ricardo Pezzuto e Marcelo Dutra da Silva por aceitarem fazer parte desta

banca.

À CAPES, por ter me concedido a bolsa durante o período sanduíche no Uruguai.

Aos meus amigos do Laboratório de Ciências Marinhas da UNISUL, principalmente Aline

Meurer, Beatriz Melchioretto, Camila Patrício e Monica Citadin.

Aos meus companheiros do Laboratório de Conservação e Gestão Costeira da UNIVALI,

especialmente Amanda Lima, Denise Viana e Hélia Farias.

À melhor turma do PPGCTA, especialmente Ana, Anelise, Angélica, Eduardo, Gustavo,

Mariana, Regina e Solange.

À Oc. Camila Longarete, por suas valiosas e incansáveis contribuições.

Aos meus amigos que souberam compreender minha misantropia.

À minha família, meu abrigo, meu socorro, minha força.

Ao Agustín, por ter me auxiliado na amostragem no Uruguai e por ser o maior presente que eu

poderia receber deste mestrado.

Por último e especialmente gostaria de agradecer à minha mãe. Muito obrigada por me apoiar

sempre. Por ser meu exemplo de bondade, generosidade e por me ensinar a perdoar todos os

dias. Por me dar forças de todas as maneiras possíveis, por me ensinar a ver o mundo com

outros olhos, por me fazer perceber que este trabalho, apesar de seu valor acadêmico, é somente

uma etapa de tantas outras que estão por vir em minha vida.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Localização das áreas de estudo em Balneário Camboriú e Montevidéu ................. 15

Figura 2: Fluxograma de procedimentos metodológicos ......................................................... 18

Figura 3: Representação de uma fotografia com a malha de 0,5 x 0,5 cm utilizada no estudo 22

Figura 4: Representação dos locais amostrais da biodiversidade nas áreas de estudo; cada

círculo representa uma réplica da fauna ................................................................................... 25

Figura 5: Porcentagem (± erro padrão) de gênero (a) e faixa etária (b) dos avaliadores da

qualidade visual da paisagem em Balneário Camboriú e Montevidéu ..................................... 28

Figura 6: Porcentagem (± erro padrão) de grau de instrução dos avaliadores da qualidade

visual da paisagem em Balneário Camboriú e Montevidéu ..................................................... 29

Figura 7: Valoração média (± erro padrão) das unidades de paisagem em Balneário Camboriú

e Montevidéu ............................................................................................................................ 30

Figura 8: Exemplos de paisagens de menor valor (esquerda) e maior valor (direita) em

Balneário Camboriú e Montevidéu........................................................................................... 33

Figura 9: Análise de proximidade (MDS) evidenciando a distribuição dos elementos da

paisagem nas praias em Balneário Camboriú e Montevidéu .................................................... 34

Figura 10: Valores médios (± intervalo de confiança de 95%) de riqueza de elementos de

paisagem e sua diversidade (Shannon-Wiener) das praias em Balneário Camboriú e

Montevidéu ............................................................................................................................... 35

Figura 11:Análise de proximidade (MDS) dos dados derivados da meiofauna nas praias em

Balneário Camboriú e Montevidéu........................................................................................... 37

Figura 12: Valores médios (± intervalo de confiança de 95%) obtidos através da análise de

variância unifatorial (ANOVA) dos descritores da estrutura da meiofauna riqueza (S),

densidade (N) e diversidade (ES51, H’) nas praias em Balneário Camboriú e Montevidéu ... 38

Figura 13: Tamanho médio do grão e seleção em milímetros (± erro padrão) do sedimento das

praias de Balneário Camboriú e Montevidéu ........................................................................... 39

Figura 14: Tamanho médio do grão e seleção em milímetros (± erro padrão) do sedimento das

sub-unidades classificadas em qualidade visual baixa, média e alta ........................................ 40

Figura 15:Análise de próximidade (MDS) dos dados derivados da meiofauna e das sub-

unidades classificadas em qualidade visual baixa, média e alta ............................................... 40

Figura 16: Valores médios (± intervalo de confiança de 95%) obtidos através da análise de

variância unifatorial (ANOVA) dos descritores da estrutura da meiofauna riqueza (S),

densidade (N) e diversidade (ES51, H’) nas sub-unidades classificadas em qualidade visual

baixa, média e alta .................................................................................................................... 41

Figura 17: Valores médios (± intervalo de confiança de 95%) obtidos através da análise de

variância unifatorial (ANOVA) dos índices de diversidade trófica e índice de maturidade nas

sub-unidades classificadas em qualidade visual baixa, média e alta ........................................ 42

Figura 18: Modelo conceitual da relação entre qualidade visual da paisagem e urbanização . 43

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Dados provenientes da regressão linear múltipla realizada com as praias

urbanizadas a) Central e Pocitos e semiurbanizadas b) Buraco e Carrasco respectivamente .. 31

Tabela 2: Modelos de equação para praias urbanizadas e semiurbanizadas obtidos através da

análise de regressão linear múltipla .......................................................................................... 32

Tabela 3: Valores de R e níveis de significância das comparações par-a-par entre os elementos

da paisagem das praias de Balneário Camboriú e Montevidéu na análise de similaridade

(ANOSIM). Valores em negrito indicam diferenças significativas ......................................... 35

Tabela 4: Resultados da análise permutacional univariada (PERMANOVA) utilizando

distância Euclidiana para avaliar diferença nos descritores da estrutura da paisagem, riqueza e

diversidade de Shannon-Wiener, entre as praias em Balneário Camboriú e Montevidéu ....... 36

Tabela 5: Valores de R e níveis de significância das comparações par-a-par da estrutura da

meiofauna das praias de Balneário Camboriú e Montevidéu na análise de similaridade

(ANOSIM). Valores em negrito indicam diferenças significativas ......................................... 38

LISTA DE APÊNDICES

Apêndice A: Questionário para valoração da qualidade visual da paisagem ........................... 60

Apêndice B: Local de residência dos avaliadores .................................................................... 61

Apêndice C: Avaliação da qualidade visual da paisagem por gênero e grau de instrução dos

avaliadores ................................................................................................................................ 62

Apêndice D: Lista de Nematoda ............................................................................................... 63

SUMÁRIO

1 Introdução ....................................................................................................................... 11

2 Área de Estudo ................................................................................................................ 15

3 Procedimentos Metodológicos ....................................................................................... 18

3.1 Avaliação da qualidade visual da paisagem .............................................................. 19

3.1.1 Classificação da paisagem .................................................................................. 19

3.1.2 Representação das unidades de paisagem .......................................................... 20

3.1.3 Valoração da paisagem ....................................................................................... 21

3.1.4 Tratamento de dados da paisagem ...................................................................... 23

3.2 Indicador de biodiversidade: a meiofauna ................................................................. 24

3.2.1 Processamento das amostras ............................................................................... 25

3.2.2 Tratamento de dados da meiofauna .................................................................... 26

3.3 Relação entre qualidade visual da paisagem e biodiversidade .................................. 26

4 Resultados ....................................................................................................................... 28

4.1 Qualidade visual da paisagem .................................................................................... 28

4.1.1 Perfil dos avaliadores.......................................................................................... 28

4.1.2 Valoração da paisagem ....................................................................................... 29

4.1.3 Estrutura da paisagem ......................................................................................... 34

4.2 Indicador de biodiversidade: a meiofauna ................................................................. 36

4.3 Sedimento .................................................................................................................. 39

4.4 Relação entre qualidade visual da paisagem e biodiversidade .................................. 39

4.4.1 Sedimento ........................................................................................................... 39

4.4.2 Meiofauna e qualidade visual da paisagem ........................................................ 40

5 Discussão ......................................................................................................................... 43

5.1 A qualidade visual da paisagem ................................................................................. 43

5.2 Relação entre a qualidade visual da paisagem e a biodiversidade ............................. 46

6 Conclusões e Recomendações ........................................................................................ 49

6.1 Conclusões ................................................................................................................. 49

6.2 Recomendações ......................................................................................................... 49

Referências .............................................................................................................................. 52

Apêndices ................................................................................................................................. 59

RESUMO

A falta de planejamento e a urbanização da zona costeira tornaram as praias arenosas como uma

das áreas mais críticas à perda da sua qualidade ambiental. Embora existam diversas

ferramentas para gestão de praias, nenhuma utiliza em conjunto indicadores de biodiversidade

e de qualidade visual de paisagem como subsídio para a tomada de decisão. No entanto, a busca

pelas zonas litorâneas é em grande parte devido a integridade ambiental proporcionada por estes

indicadores. Como parte integrante do Projeto Gestão de Praias Arenosas Urbanas, Brasil e

Uruguai, este estudo objetivou analisar a relação entre qualidade visual da paisagem e a

biodiversidade das praias Central e do Buraco, em Balneário Camboriú, Brasil, e de Pocitos e

Carrasco, em Montevidéu, Uruguai. A avaliação da qualidade visual da paisagem foi realizada

por meio do método misto, ou seja, um conjunto de fotografias foi apresentado a diferentes

usuários das praias, dos quais deram notas nas escalas de 1 a 5. Posteriormente, foi realizado o

estudo da participação de cada componente da paisagem. Como indicador da biodiversidade foi

utilizado a meiofauna, conjunto de animais bênticos de tamanho reduzido (entre 63 e 500 µm).

Foram definidas unidades de paisagem de acordo com as semelhanças dos fatores físicos

(naturais ou antrópicos). Dessa forma, foram tomadas amostras de meiofauna na porção

intermediária da praia, replicadas em cada unidade de paisagem. Para o estudo da relação da

qualidade visual e biodiversidade, foram selecionadas duas sub-unidades de paisagem

valoradas em diferentes classes (baixa, média e alta) e relacionadas com a fauna. A análise da

qualidade visual mostrou que praias onde dominam elementos paisagísticos naturais, ainda que

eventualmente mais homogêneos, foram maior avaliadas pelos usuários. A artificialização da

praia incrementa a heterogeneidade da paisagem e também o número de elementos detratores

da qualidade visual, resultando em queda de sua valoração. No entanto, uma vez urbanizada, a

presença de serviços e infraestrutura aumenta novamente a valoração da praia, ainda que em

um patamar inferior ao daquelas onde os elementos naturais são dominantes. A meiofauna

diferiu entre as praias estudadas, mas suas características estruturais e funcionais não mostraram

relação significativa com a qualidade visual da paisagem. A ausência de relação observada entre

qualidade visual e biodiversidade pode ter ocorrido tanto em função de fatores metodológicos,

como pela própria desconexão entre estética e diversidade biológica. É esperado que os

resultados deste trabalho possam estimular novos estudos sobre a artificialização e

biodiversidade nas zonas costeiras do Brasil e Uruguai, podendo servir de base para o

desenvolvimento de estratégias de conservação e gestão costeira.

Palavras-chave: Praias arenosas. Qualidade visual da paisagem. Biodiversidade. Meiofauna.

Gestão de praias.

ABSTRACT

Lack of planning and urbanization of costal zones has turned sandy beaches into one of the

most critical problems involving loss of environmental quality. Although there are diverse tools

for managing beaches, biodiversity indicators and visual quality of the landscape are never

utilized as a resource for decision making. In spite of this, the suitability of coastal areas is

determined largely through these environmental integrity indicators. As part of the Urban Sandy

Beaches' Management Project of Brazil and Uruguay, this study aims to analyze the relationship

between visual quality of the landscape and the biodiversity from Central and Buraco beaches

in Balneário Camboriú, Brazil, and Pocitos and Carrasco beaches in Montevideo, Uruguay. The

evaluation of the visual quality of the landscape was made by the mixed method; that is, a set

of photographs was presented to different beach visitors, who rated them from 1 to 5.

Subsequently, a study was conducted involving each component of the landscape. Small

benthic animals (between 63 and 500 µm; also referred to as Meiofauna) were used as a

biodiversity indicator. First, several areas of the landscape were defined according to their

commonly shared characteristics: physical factors (natural or anthropogenic). From there,

meiofauna samples were collected from the middle section of the studied beach and replicated

in each landscape unit. To measure the relationship between the visual quality and biodiversity,

two sub-units categorized in different classes (low, medium and high) were selected in relation

to their existing fauna. The analysis of the visual quality showed that beaches dominated by

natural landscape elements, even if eventually more homogeneous, were evaluated as better by

users. The artificiality of a beach increases the heterogeneity of the landscape, causing

decreasing visual quality, resulting in a decrease of valuation. However, once urbanized, the

presence of businesses and infrastructure increases the valuation of the beach again, albeit to a

less extent than those beaches where the natural elements predominate. The meiofauna differed

between studied beaches, even though their structural and functional characteristics showed no

significant relationship with the visual quality of the landscape. The lack of an observed

relationship between visual quality and biodiversity may have occurred due to methodological

factors, as well as a possible disconnection between aesthetics and biological diversity. It is

hoped that the results of this research may stimulate further studies on the artificiality and

biodiversity in coastal areas of Brazil and Uruguay, and serve as basis for developing better

strategies for conservation and coastal management.

Keywords: Sandy beaches. Visual quality of the landscape. Biodiversity. Meiofauna. Beach

management.

11

1 INTRODUÇÃO

Os atrativos da zona costeira são diversos, não só pelos recursos disponíveis, mas

também pelo fato de constituírem localizações privilegiadas para a implantação de indústrias,

moradias e ainda para a atividade turística. Por esse motivo, a complexidade das diversas

situações de ocupação costeira contribui para o desenvolvimento de conflitos, o que torna ainda

mais difícil a gestão deste espaço (Silva, 2002). A zona costeira é alvo constante dos mais

diversos tipos de pressão humana. A abundante disponibilidade de recursos em associação a

possibilidade de boa qualidade de vida, torna a zona costeira muito valorizada ao mesmo tempo

em que ocasiona uma série de impactos ao ambiente como um todo (Schlacher et al., 2008).

40 % da população urbana do planeta vive na zona costeira; 56% das cidades com uma

população de mais de 1 milhão e 70% das cidades com uma população de mais de 3 milhões

estão localizados nestas regiões. Tudo isso faz com que uma significativa (se não a maior) parte

do potencial econômico mundial esteja concentrada na zona costeira (UNESCO, 2014).

A zona costeira é amplamente dominada por praias arenosas (McLachlan & Brown,

2006). Além de sua reconhecida importância ecológica, as praias arenosas possuem ainda

grande valor econômico através do turismo (Jędrzejczak, 2004). As praias são espaços

multifuncionais onde muitas atividades humanas são desenvolvidas (Ariza, et al., 2008;

Jimenez et al., 2007; Rubio, 2005). 25% dos hotéis de todo mundo estão localizados nestas

áreas (Gormsen, 1997). Além disso, a flutuação populacional, em especial durante os períodos

de verão impõem muitos desafios para gestão destas áreas.

As praias arenosas são ambientes relativamente simples, governadas pela ação de ondas,

marés e movimentos do sedimento (Gheskiere al., 2005). Apesar da aparência improdutiva que

as praias carregam, estes habitats suportam ricas e densas populações de animais e vegetais,

como invertebrados bênticos, bactérias, diatomáceas e algas (McLachlan & Brown, 2006).

Essas populações são abundantes e desempenham um papel importante no funcionamento

ecológico da praia, como produtores primários, decompositores e ainda alguns desses grupos

são consumidos por peixes e aves (Gheskiere et al., 2005).

A gestão de praias é geralmente focada em maximizar a experiência recreativa para os

seus usuários. No entanto, essas atividades potencialmente resultam em intervenções

humanas (Defeo et al., 2009). Engordamento (Speybroeck et al., 2006), limpeza mecânica

(Dugan et al., 2003), emparedamento (Dugan et al., 2008) e destruição de dunas para construção

de infraestrutura turística (Nordstrom, 2000; Nordstorm, Lampe & Vandemark, 2000) são

alguns dos exemplos destas intervenções. Além da transformação na paisagem, essas alterações

12

eventualmente podem alterar a biodiversidade e comprometer a própria característica ou

qualidade da praia (Dugan et al., 2008).

De forma geral, o turismo e a urbanização de praias arenosas ocasiona um impacto na

qualidade visual da paisagem. Construções na orla como prédios, ruas, rodovias e calçamentos

afetam profundamente as características da paisagem. A paisagem pode ser definida como tudo

que está no domínio do visível, materializada no componente sociocultural, econômico e

técnico (Silva, Zampieri & Loch, 1999). Paisagens representam a interação dinâmica de

processos naturais e culturais agindo no ambiente (Burgess et al., 2012). Uma mesma paisagem

pode ter diferentes interpretações, uma vez que sua avalição depende do olhar do observador,

cuja opinião está sujeita a cultura, educação e também a fatores externos como cor, ângulo e

outros (Scandiuzii, 2012). Ao mesmo tempo, a paisagem possui um conjunto de características

físicas e biológicas que a caracterizam e podem indicar, por exemplo, padrões de qualidade

ambiental.

A qualidade visual da paisagem, ou seja, o potencial cênico paisagístico, é definido com

base em várias características, como por exemplo a grandeza, a ordem, a integridade,

diversidade e ainda, está intimamente ligada com a qualidade ambiental (Costa, 2011). A

qualidade visual é um elemento fundamental na vida das pessoas em qualquer parte do mundo.

Além disso, é responsável por atrair ou repelir visitantes para zona costeira em geral e praias

arenosas em particular. Portanto, a aplicação de técnicas que permitam sua avaliação é de suma

importância, para que dessa forma, seja possível garantir seu manejo dentro da zona costeira

(Mathews et al., 2004; Rangel-Buitrago et al., 2012).

Com base na percepção de cada um é possível fazer a valorização ou avaliação da

paisagem. A forma mais simples de avaliação da qualidade visual da paisagem é através do

método direto, onde o valorador classifica a paisagem por meio de observação no local ou por

um substituto, como fotografias (Costa, 2011). Outro método utilizado para avaliação da

qualidade visual da paisagem é o método indireto, que é caracterizado pela desagregação da

paisagem e de seus componentes ou das categorias estéticas (elementos da paisagem) de acordo

com diferentes juízos de valor e segundo critérios de pontuação e classificação estabelecidos

por especialistas (Pires, 2005). No método misto a valoração é feita de forma direta e,

posteriormente é realizado através de análises estatísticas, o estudo da participação de cada

componente ou elemento no valor total da paisagem. Este método busca efetivar a avaliação do

valorador do método direto, frente à subjetividade manifestada através desta avaliação

(Marenzi, 1996).

13

Algumas características são responsáveis por influenciar profundamente a qualidade

visual da paisagem. Elementos como forma, linha, cor, textura, escala, espaço e também os

componentes da paisagem, sejam eles naturais, como água, solo, vegetação, ou artificiais, como

construções e outras estruturas que alteram a qualidade visual da paisagem (Pires, 2005).

O impacto do turismo e da urbanização não se limita apenas aos impactos diretos de sua

utilização, como pisoteio sobre as dunas e presença de carros (Barreto & Santos, 2010;

Mclachlan & Brown, 2006), mas também ao conjunto de medidas de gestão para organizar e

manter a praia (Gheskiere et al., 2005). Como por exemplo, a utilização de máquinas para

limpeza de areia. Essa retirada de detritos pode afetar profundamente a produção, composição

e funcionamento das associações que habitam a praia ou dependem dela (Gheskiere et al., 2006;

Willmott & Smith, 2003). A limpeza também pode alterar o transporte de areia e ainda a

estabilização de dunas (Gheskiere et al., 2005).

A fauna de invertebrados associados aos sedimentos é possivelmente um dos grupos

mais afetados pelo turismo massivo, urbanização e artificialização de praias arenosas

(Belpaeme et al., 2005; Dugan et al., 2003; Gheskiere et al., 2005). A meiofauna compreende

um grupo particular de invertebrados bênticos que possuem tamanho dentro do intervalo entre

63 e 500 μm podendo apresentar densidades em praias arenosas na ordem de 106 indivíduos/m²

(Giere, 2009). Habitam todos os tipos de sedimento, ocorrendo em todos os hábitats do planeta

e representam o mais diverso dos componentes da biota marinha (Giere, 2009). Dentre os

grupos que compõem a meiofauna, destaca-se o filo Nematoda por sua representativa

abundância no ambiente (Somerfield et al., 2003).

Além da importância ecológica como elo de transferência de energia entre produtores e

consumidores, bem como participação ativa nos processos de mineralização da matéria

orgânica, este grupo representa ainda um importante indicador de alterações ambientais (Netto

et al., 2007). Vários autores atentam para o fato de que em praias urbanizadas, com algumas

atividades que podem interferir no bentos, a biodiversidade desses organismos é inferior a

ambientes não urbanizados (Belpaeme et al., 2005; Dugan et al., 2003; Willmott & Smith,

2003).

Diante disso é possível hipotetizar que paisagens mais urbanizadas e artificializadas

possivelmente possuem mais elementos detratores da paisagem e menor valoração. Uma vez

que as áreas de praias urbanizadas possuem menor diversidade de organismos bênticos do que

aquelas que não são artificializadas, é possível hipotetizar também que as unidades de paisagem

maior valoradas possuem uma maior biodiversidade. Neste estudo, foi relacionada a qualidade

visual da paisagem, especificamente das praias arenosas, com um indicador de biodiversidade,

14

a meiofauna. Buscando responder duas questões: 1- praias arenosas com distintos graus de

urbanização possuem valoração distinta? 2- as unidades de paisagem das praias mais valoradas

são aquelas que exibem maior biodiversidade? Para isso foram definidos como objetivos

específicos:

• Valorar a qualidade visual da paisagem de praias arenosas urbanas e semiurbanas;

• Quantificar a biodiversidade das praias arenosas urbanas e semiurbanas por meio do

estudo da meiofauna bêntica;

• Relacionar a biodiversidade da meiofauna com as unidades de paisagem valoradas

em diferentes classes de qualidade.

Este estudo compõe o trabalho conjunto entre a Universidade do Vale do Itajaí

(UNIVALI – Brasil) e a Universidad de la Republica Uruguay (UDELAR – Uruguai), com

apoio da CAPES, no intuito de entender e comparar os processos de gestão aos quais estão

sujeitas as praias no Brasil e Uruguai. Existem diversas ferramentas para gestão de praias,

contudo, este é um dos primeiros trabalhos que buscam relacionar estética e biodiversidade.

Esses dois indicadores – qualidade visual e biodiversidade – são chaves, uma vez que a grande

busca pelas zonas litorâneas é em grande parte devido a integridade ambiental proporcionada

por eles.

15

2 ÁREA DE ESTUDO

As áreas estudadas foram as praias Central e Buraco, localizadas no município de

Balneário Camboriú (SC, Brasil) e as praias de Pocitos e Carrasco, em Montevidéu (Uruguai)

(Figura 1).

Fonte: Elaboração da autora, 2014.

Para o Projeto Gestão de Praias Arenosas, no qual este estudo faz parte, foram

selecionadas as praias Central e Pocitos por se tratarem de praias com estágio de urbanização

semelhante, e onde o turismo é uma das atividades econômicas principais, associadas ao poder

paisagístico de suas praias (ECOPLATA, 2012). Com o intuito de adicionar uma maior

heterogeneidade paisagística, optou-se ainda por incluir mais duas praias próximas a primeira,

com diferentes níveis de urbanização: Praia do Buraco em Balneário Camboriú e Praia de

Carrasco em Montevidéu.

Figura 1: Localização das áreas de estudo em Balneário Camboriú e Montevidéu

16

Balneário Camboriú está localizado no litoral Centro-Norte do estado de Santa Catarina.

Possui uma população residente de 124.557 pessoas (IBGE, 2014) e 99,21% de sua economia

atribuída ao setor terciário relacionado aos serviços de turismo; a cidade dispõe de 30,3% dos

seus domicílios enquadrados na categoria de uso ocasional, evidenciando ser um município

urbano e turístico altamente procurado nos meses de veraneio (Flores et al, 2012; IBGE, 2011).

A Praia Central está localizada no centro do município, limitada ao sul pela Foz do Rio

Camboriú e ao norte pelo Canal do Marambaia. Por sua facilidade de acesso, esta praia se

desenvolveu rapidamente como um dos principais balneários do estado de Santa Catarina

(Bombana, 2010). Possui 6,8 km de extensão e é a mais frequentada de Balneário Camboriú

por turistas e moradores, pois é onde ficam localizados os bares e restaurantes (Ministério das

Cidades, 2009), bem como edifícios residenciais e comerciais que imprimem uma ocupação

verticalizada. A praia Central é considerada dissipativa semiexposta, com orientação Noroeste-

Sudeste em forma de uma baía. Possui baixa energia de onda com sedimento fino e lama,

proveniente do rio Camboriú. Embora seja considerada semiexposta, possui sua extremidade

norte mais exposta quando comparada a extremidade sul considerada protegida (Klein &

Menezes, 2001).

A praia do Buraco está situada a 3,5 km ao norte do centro de Balneário Camboriú.

Possui o mar agitado, com característica refletiva (Silveira et al., 2011). Seu acesso é feito

através de uma passarela de madeira ou pelo empreendimento hoteleiro localizado no centro da

praia. Cabe ressaltar que ao longo de 1 km de extensão, o resort é a única estrutura de

urbanização presente na praia (Piatto & Polette, 2012).

Montevidéu é a capital do Uruguai, localizada em frente ao Rio da Prata. Possui uma

população residente de 1.319.108 pessoas, o que concentra mais de 40% da população do país

(INE, 2011). Possui o turismo como uma das suas principais atividades econômicas e as praias

um dos locais mais procurados. Suas praias, por consequência de uma gestão adequada, contam

com uma boa infraestrutura de guarda-vidas e vigilância.

A praia de Pocitos é uma das principais praias de Montevidéu (IMM, 2011), sendo a

mais visitada por turistas e por moradores, como consequência de sua ótima infraestrutura,

grande diversidade de entretenimento, como bares e restaurantes, e pela facilidade de acesso.

Além disso, esta praia possui a certificação ISO 14001 (Souto, 2010), sendo esta atribuída a

formalização do compromisso em prover infraestrutura básica de serviços, associada aos

objetivos de conservação e manutenção da qualidade ambiental objetivados pela norma

(Baratella, 2013). A praia de Pocitos é delimitada por dois promontórios chamados de Trouville

e Kibón, que se localizam na costa leste de Montevidéu. Possui cerca de 1 km de extensão, e é

17

caracterizada como dissipativa intermediária. Desde a década de 70 são realizados

engordamentos de praia na tentativa de ganhar extensão praial (Gutiérrez, 2010).

A praia de Carrasco fica localizada em um tradicional bairro de Montevidéu, a 15 km

do centro da cidade. Carrasco era originalmente um resort a beira mar e ao longo dos anos se

converteu em um dos bairros mais caros da cidade (INE, 2011), predominantemente residencial.

Sua orientação é a sudoeste de Montevidéu e faz divisa com o departamento de canelones. A

praia Carrasco é considerada dissipativa intermediária e assim como Pocitos, localiza-se em

frente ao rio da Prata.

18

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para o desenvolvimento do trabalho foram adotados os procedimentos metodológicos

de acordo com o fluxograma apresentado na Figura 2.

Figura 2: Fluxograma de procedimentos metodológicos

Fonte: Elaboração da autora, 2014.

19

3.1 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE VISUAL DA PAISAGEM

3.1.1 CLASSIFICAÇÃO DA PAISAGEM

Foram definidas três unidades de paisagem em cada uma das praias estudadas. As

unidades de paisagem foram determinadas tendo como base suas características físicas naturais

e/ou antrópicas. A escolha destas unidades teve como objetivo replicar a paisagem das praias,

avaliando toda sua diversidade paisagística. Abaixo estão descritas as principais características

de cada unidade de paisagem encontrada nas praias.

3.1.1.1 UNIDADES DE PAISAGEM DA PRAIA CENTRAL

Unidade de paisagem 1: Trecho com edificações, presença de infraestrutura urbana

(ponte). Presença de vegetação de morro e também um molhe.

Unidade de paisagem 2: Paisagem caracterizada por edificações em praticamente toda

sua extensão. Maior concentração de usuários na praia, bem como seus utensílios de praia.

Arborização frequente.

Unidade de paisagem 3: Trecho onde há menos edificação. Vegetação de morro

representativa na paisagem e resquícios de vegetação de restinga. Maior extensão de faixa de

areia.

3.1.1.2 UNIDADES DE PAISAGEM DA PRAIA DO BURACO

Unidade de paisagem 1: Trecho sem urbanização e intensa presença de vegetação de

morro. Nesta área observa-se também um costão.

Unidade de paisagem 2: Única parte da praia com edificação. Observa-se também

infraestrutura de praia.

Unidade de paisagem 3: Trecho bem semelhante a unidade 1, porém se difere por ser

uma parte da praia mais exposta com uma maior visibilidade da praia Central. Também possui

vegetação de morro e costão.

20

3.1.1.3 UNIDADES DE PAISAGEM DA PRAIA DE POCITOS

Unidade de paisagem 1: Caracterizada por uma faixa de areia mais estreita, pela

presença mais representativa do calçadão. Pouca ou nenhuma presença de vegetação. Acúmulo

de resíduos por ser uma porção da praia mais abrigada.

Unidade de paisagem 2: Porção da praia onde a faixa de areia é mais extensa. Presença

maciça de edificação. Possui também elementos de recuperação de dunas e maior concentração

de arborização. Nessa região da praia há mais usuários e utensílios de praia.

Unidade de paisagem 3: Caracterizada pela presença de cascalho. Possui vegetação de

restinga alterada e molhe.

3.1.1.4 UNIDADES DE PAISAGEM DA PRAIA DE CARRASCO

Unidade de paisagem 1: Paisagem com pouca ou nenhuma vegetação, caracterizada pela

presença mais representativa do calçadão e matacões para protegê-la da maré alta. Faixa de

areia mais estreita.

Unidade de paisagem 2: Porção mais urbanizada da praia. Paisagem com algumas

edificações.

Unidade de paisagem 3: Área da praia sem urbanização em sua paisagem. Presença

representativa de vegetação de restinga.

3.1.2 REPRESENTAÇÃO DAS UNIDADES DE PAISAGEM

Após a definição das unidades de paisagem percorreu-se as praias para realizar o

levantamento fotográfico. Para isso, com fins de réplicas, cada unidade de paisagem foi dividida

em duas sub-unidades, onde em cada sub-unidade foram tiradas quatro fotografias. Portanto,

em cada unidade de paisagem, foram tiradas oito fotografias, totalizando 24 fotografias por

praia, num total de 96 fotografias nas quatro praias. Cada sub-unidade foi fotografada em quatro

orientações já pré-estabelecidas: de frente para o mar, de costas, e em ambas as laterais, para

que dessa forma a paisagem ficasse caracterizada nos principais ângulos visualizados pelos

usuários das praias.

Realizou-se o levantamento fotográfico aproximadamente ao meio-dia durante o mês de

janeiro de 2014, e em dias com condições climáticas semelhantes, para evitar possíveis

sombreamentos em função dos edifícios. Para obtenção das fotografias foi utilizada uma câmera

Nikon P520.

21

3.1.3 VALORAÇÃO DA PAISAGEM

A valoração da qualidade visual da paisagem foi obtida por meio do método misto. Este

método consiste, primeiramente, numa avaliação direta de valoradores, sendo no caso do

presente estudo, usuários da praia. Após essa avaliação direta, foi realizada uma segregação dos

componentes e através de uma análise de regressão linear múltipla, o estudo da participação de

cada componente da paisagem, conforme Marenzi (1996).

Após a definição das unidades de paisagem e do levantamento fotográfico, foi elaborado

um questionário (Apêndice A) com algumas perguntas que possibilitassem traçar o perfil do

entrevistado. Dados pessoais, entre os quais: nome, idade, gênero e escolaridade foram

tomados, juntamente com as notas nas escalas de 1 (qualidade muito baixa), 2 (qualidade baixa),

3 (qualidade média), 4 (qualidade alta) e 5 (qualidade muito alta) para cada fotografia. Esta

escala foi utilizada conforme recomenda Jordana (1992).

A coleta de informações foi efetuada de janeiro a fevereiro de 2014, período de maior

frequência de turistas nestas praias. Foram dadas orientações aos participantes acerca da

necessidade de ser considerado o conteúdo da paisagem e não a técnica fotográfica. Em cada

praia foi apresentado um conjunto de 24 fotografias a 100 usuários de cada praia, presentes nos

locais, totalizando 400 valoradores no presente estudo.

Tendo em vista que optou-se por trabalhar inicialmente com um número mínimo de 400

valoradores, após os resultados das valorações foi possível verificar a eficiência dessa

amostragem em função do que seria o número ideal de participantes necessários para a

valoração de cada foto. Para isso, com base nos dados: maior variância das valorações,

desejável nível de confiança de 95% e grau de liberdade (n-1) utilizou-se a fórmula indicada

por Steel & Torrie (1960). Através disso, com 400 valoradores chegou-se a um erro amostral

de 12,53%.

Para a segregação dos componentes da paisagem, utilizou-se o software Arcgis. Cada

fotografia medindo 10x15 cm foi posta sob uma malha quadricular de 0,5 x 0,5 cm (ferramenta

Grids), totalizando 600 quadrículas, contendo um conjunto de elementos da paisagem,

conforme Marenzi (1996). Procurou-se considerar todos os elementos encontrados nas

fotografias utilizadas, definindo-os e discriminando-os conforme as suas características visuais

e efeito de percepção causado. Os elementos da paisagem ou variáveis, determinadas nas

fotografias foram: céu; água, considerando o mar; areia, no caso a superfície arenosa existente

nas praias; cascalho, considerando a superfície de areia com cascalho presente em algumas

praias; edificação, as construções existentes na orla; infraestrutura urbana, considerando todas

22

as infraestruturas presentes na paisagem, pontes, placas, pontos de ônibus; infraestrutura de

praia, abrangendo quiosques, guarda-vidas, serviços de lazer; calçadão, correspondendo à

construção presente na orla da praia destinada a pedestres, ciclistas e outras atividades a beira

mar; estradas, referente as ruas; veículos, correspondendo aos veículos de modo geral; elemento

humano, imagens com presença de pessoas; elemento animal, aves e outros animais

encontrados na praia; resíduos, referente a lixo e outros resíduos descartados; matacão,

corresponde as rochas presentes na praia; utensílios de praia, refere-se aos utensílios dos

usuários de praia, como guarda-sol e cadeira; costão, áreas de rochedos encontrados na costa

marinha; ilha; equipamentos náuticos, correspondendo à utilitários de navegação, caiaque,

pranchas e botes; marcas de veículos, correspondendo as marcas de rodas de veículos deixados

na superfície arenosa da praia; morro referente a floresta ombrófila densa nos diversos estágios

de regeneração; arborização urbana; vegetação de restinga; vegetação de restinga alterada;

elemento de recuperação, refere-se as diferentes espécies vegetais plantadas na orla com intuito

de tentar recuperar dunas. Posteriormente, foi contabilizado o número de quadrículas atingido

pelo conjunto de cada elemento ou variável. Quando mais de uma variável ocorreu na mesma

quadrícula, prevaleceu a variável que ocupou o maior espaço, conforme Figura 3.

Figura 3: Representação de uma fotografia com a malha de 0,5 x 0,5 cm utilizada no estudo

Fonte: Elaboração da autora, 2014.

Posteriormente, com o levantamento por meio da contagem de variáveis em cada uma

das 96 fotografias, foram elaboradas matrizes de dados que possibilitaram a aplicação de

análises de regressão linear múltipla, conforme abaixo:

23

Y= b0 + b1x1, + b2x2 + b3x3 + ....bn Xn+ e

A análise de regressão linear múltipla possibilita a previsão de valores de uma ou mais

variáveis de resposta (Dependentes - Y) por meio de um conjunto de variáveis explicativas

(Independentes - X). Através desta análise foi possível estimar o valor de cada variável com

base num conjunto de outras variáveis. Quanto mais significativo for o peso de uma variável

isolada, ou de um conjunto de variáveis explicativas, mais se poderá afirmar que alguns fatores

afetam mais o comportamento de uma variável do que outros (Kasznar & Gonçalves, 2007).

No caso específico de valoração da paisagem, a variável dependente "Y" refere-se às

classes de avaliações das fotos, a partir da relação de duas ou mais variáveis independentes "X",

que corresponde as variáveis ambientais, cujos valores são conhecidos. O tipo de informação

obtida acerca de "Y" pode indicar em que grau as variáveis "X" estão relacionadas com as

variáveis de "Y" ou a elaboração de uma equação de prognóstico que permita, através de valores

conhecidos de "X", predizer o correspondente de "Y" (Marenzi, 1996).

Neste caso, o conjunto de dados utilizados nas matrizes referem-se as variáveis

independentes (céu, água, areia, cascalho, edificação, infraestrutura urbana, infraestrutura de

praia, calçadão, estrada, veículo, elemento humano, elemento animal, resíduos, matacão,

utensílios de praia, costão, ilha, equipamentos náuticos, marcas de veículos, morro, arborização

urbana, vegetação de restinga, restinga alterada, elemento de recuperação) ou (X1, X2...) e às

médias das classes de valoração da paisagem obtidas por meio do método direto, correspondem

a variável dependente (Y).

3.1.4 TRATAMENTO DE DADOS DA PAISAGEM

Para análise de qualidade visual primeiramente foi calculada a média das avaliações das

fotografias. Apesar das avaliações terem sido efetuadas por meio de valores inteiros (1 a 5), as

médias por fotografia resultaram em dados fracionados. Assim, para facilitar o reconhecimento

destes dados nas respectivas classes, necessários para as análises de resultados e conclusões,

aproximou-se seus valores com base em Marenzi (1996), sendo utilizado o seguinte critério:

classe 1 – valores de 1,00 a 1,79; classe 2 - 1,80 a 2,59; classe 3 - 2,60 a 3,39; classe 4 - 3,40 a

4,19; classe 5 - 4,20 a 5,00.

Posteriormente foi aplicada uma análise de regressão linear múltipla com os elementos

da paisagem presentes nas fotografias, utilizando o pacote estatístico STATISTICA 10.0.

24

Utilizando as variáveis independentes da matriz de regressão linear múltipla, foi

possível analisar a estrutura da paisagem. Para isso, os dados foram transformados em log (x+1)

e realizada uma análise de proximidade em escala multidimensional (MDS) com o auxílio do

software PRIMER 6.0 (Plymouth Routines In Multivariate Ecological Research) e utilizando

uma matriz de distância Euclidiana. O MDS permite a visualização das amostras no espaço,

onde a distância entre as amostras corresponde a dissimilaridades das mesmas. A exatidão da

análise de proximidade é avaliada pelo stress. Para confirmar as diferenças significativas de

paisagem nas praias, foi utilizado uma análise de similaridade ANOSIM, também com auxílio

do PRIMER 6.0.

Os descritores da estrutura da paisagem riqueza (S) e diversidade de Shannon-Wienner

(H’) foram calculados com o software PRIMER 6.0 e as diferenças entre os descritores e as

praias foram verificadas com uma análise permutacional univariada com o auxílio do pacote

PERMANOVA 6 (Permutational multivariate analysis of variance), onde foi utilizado a matriz

de distância Euclidiana. Para todos os testes, um subconjunto de 9999 permutações foi utilizado.

3.2 INDICADOR DE BIODIVERSIDADE: A MEIOFAUNA

Amostras para a meiofauna foram tomadas na porção intermediária de cada uma das

praias, correspondendo a zona de retenção descrita por Salvat (1964). O esquema amostral

seguiu a mesma configuração e localização da etapa de representação na análise da qualidade

visual da paisagem - cada praia foi dividida em 3 unidades de paisagem e cada unidade

novamente dividida em 2 sub-unidades (Figura 4). Em cada sub-unidade foram tomadas 4

amostras para a meiofauna com um corer de 3,5 cm de diâmetro e 5 cm de altura (24 amostras

por praia, num total de 96 amostras). As amostras foram acondicionadas em potes de vidro

etiquetados externa - e internamente e fixadas com formalina 10%. Em cada sub-unidade

também foi tomada uma amostra de sedimento para análise granulométrica, totalizando 24

amostras de sedimento.

25

Figura 4: Representação dos locais amostrais da biodiversidade nas áreas de estudo; cada círculo

representa uma réplica da fauna

Fonte: Imagem de satélite Google Earth, 2014.

3.2.1 PROCESSAMENTO DAS AMOSTRAS

O processamento da meiofauna iniciou-se com a lavagem em água corrente do

sedimento em peneiras de 63 μm de acordo com Somerfield et al. (2003). Após a lavagem em

água corrente, os materiais retidos na menor malha foram submetidos à flotação com auxílio de

sílica coloidal (Ludox®TM-50) diluída à gravidade específica de 1, 15g.cm-3. A cada 50

minutos o sobrenadante foi peneirado novamente em malha de 63 µm, lavado em água corrente

e transferido para outro frasco com formalina 4%. A sílica coloidal remanescente foi devolvida

ao becker para que o processo fosse repetido por mais duas vezes a fim de maximizar a extração

da meiofauna.

A extração da amostra por flotação baseia-se na suspensão da fauna em um fluido denso

com gravidade específica perto daquela dos animais. Deste modo, os animais apresentam

flutuabilidade neutra e permanecem em suspensão, enquanto os componentes do sedimento

apresentam flutuabilidade negativa e afundam lentamente. Ao término do processo de flotação,

as amostras contendo a meiofauna foram novamente lavadas com água e transferidas para

blocos cavados contendo glicerol (5% glicerina, 45% água e 50% álcool) e aquecidas a 60ºC

em uma placa aquecedora para que a água e o álcool evaporassem.

As amostras foram cuidadosamente retiradas dos blocos e transferidas a lâminas

previamente carimbadas com parafina (Fonseca & Netto, 2006). Cada lâmina recebeu uma

lamínula e foi submetida a aquecimento para adesão. Para leitura das lâminas foi utilizado

26

microscópio binocular. A identificação da meiofauna foi feita no menor nível taxonômico

possível. Os Nematoda foram identificados em nível de gênero com auxílio de chaves de

identificação. A granulometria da fração areia foi determinada pelo método de peneiramento

(Suguio, 1973), com malhas de peneiras (-1,5Φ à 5Φ) a intervalos de 1Φ(phi).

3.2.2 TRATAMENTO DE DADOS DA MEIOFAUNA

Para os dados de biodiversidade, inicialmente foram analisadas as densidades dos

grupos meiofaunais e a verificação dos indivíduos dominantes. Posteriormente foi realizada

uma análise de proximidade em escala multidimensional (MDS). Os dados foram

transformados em raiz quarta e foi utilizada a matriz de distância Bray-curtis. Para confirmar

as diferenças significativas foi realizada uma análise de similaridade (ANOSIM). A partir da

análise de variância unifatorial (ANOVA) e com o auxílio do pacote estatístico STATISTICA

10.0, foi possível verificar as diferenças entre os descritores da estrutura da fauna nas diferentes

praias analisadas, número de indivíduos por 10 cm² (N), número de espécies (S), índice de

diversidade de Shannon-Wienner. A granulometria da fração de areia foi obtida com auxílio do

software Sysgran.

3.3 RELAÇÃO ENTRE QUALIDADE VISUAL DA PAISAGEM E BIODIVERSIDADE

Para relacionar a qualidade visual da paisagem com a biodiversidade, foram

selecionadas de praias distintas duas sub-unidades que receberam as notas mais baixas,

enquadrando-se na classe de qualidade visual baixa, duas sub-unidades que receberam notas

mais próximas da média, pertencentes a classe de qualidade visual média e duas sub-unidades

que receberam as notas mais altas, pertencendo dessa forma a classe de qualidade visual alta.

Amostras da fauna destas mesmas sub-unidades foram selecionadas para análise da relação.

Inicialmente foi realizada uma análise de proximidade (MDS) com os dados derivados

da fauna e as classes de qualidade visual destas sub-unidades, os dados foram transformados

em raiz quarta e foi utilizada a matriz de distância Bray-curtis. A significância das diferenças

foi testada com uma análise permutacional univariada (PERMANOVA) utilizando uma matriz

de similaridade de Bray-Curtis. Os descritores da estrutura da Meiofauna e do grupo Nematoda

riqueza (S), densidade (N) e diversidade (ES51, H’) foram tomados com o auxílio do PRIMER

6.0 e foram realizadas análises de variância unifatorial (ANOVA).

27

Os Nematoda foram agrupados de acordo com sua estrutura trófica (Wieser, 1953). Esta

classificação pode revelar a estratégia alimentar dos indivíduos através da morfologia da

cavidade bucal. A partir desta classificação foram determinados os valores de diversidade

trófica (IDT, Heip et al., 1985). O índice de diversidade trófica (IDT) é baseado na proporção

de cada um dos quatro tipos alimentares de Nematoda presente em cada amostra. Os valores

originais do IDT variam de 0,25 (maior diversidade trófica) até 1.0 (menor diversidade trófica).

No entanto, a fim de melhor representar as alterações observadas o IDT foi modificado para 1-

ITD, onde 1 representa maior valor para diversidade trófica (Netto & Valgas, 2010).

Como descritores funcionais da meiofauna, além da diversidade trófica, os Nematoda

foram classificados quanto à escala colonizador-persistente (Bongers, 1991), para posterior

utilização do índice de maturidade (IM; Bongers, 1991). O índice de maturidade (MI) é

derivado das características da história de vida dos gêneros de Nematoda que são classificados

ao longo de uma escala c-p (colonizadores – persistentes) de 1 a 5. Valores próximo a 1 indicam

o predomínio de formas colonizadoras extremas, que tem como características o ciclo de vida

muito curto (horas), elevada taxa de reprodução, habilidade elevada da colonização e maior

tolerância a perturbações. Já valores próximos de 5, sugerem assembleias dominadas por

persistentes, que apresentam ciclo de vida longo (dias/meses), baixa habilidade de colonização,

prole pouco numerosa, sensível a perturbações ambientais (Bongers, 1991).

28

4 RESULTADOS

4.1 QUALIDADE VISUAL DA PAISAGEM

4.1.1 PERFIL DOS AVALIADORES

A proporção de homens e mulheres que participou da valoração diferiu entre as praias

analisadas. Em todas as praias, o número de avaliadores mulheres foi maior do que de homens

(Figura 5a), entretanto, a proporção de gêneros foi relativamente constante entre as praias.

A faixa etária que predominou nas praias foi de 15 a 29 anos. Seguido de 30 a 44 anos,

45 a 59 e maiores de 60 anos, em ordem decrescente, respectivamente (Figura 5b).

Figura 5: Porcentagem (± erro padrão) de gênero (a) e faixa etária (b) dos avaliadores da qualidade

visual da paisagem em Balneário Camboriú e Montevidéu

a) b)

Fonte: Elaboração da autora, 2014.

Com relação ao grau de instrução do público entrevistado (Figura 6) é possível verificar

que nas três praias, Central, Buraco e Pocitos, o terceiro grau (completo ou incompleto)

prevaleceu, diferente de Carrasco, onde a maioria possuiu apenas o segundo grau.

29

Figura 6: Porcentagem (± erro padrão) de grau de instrução dos avaliadores da qualidade visual da

paisagem em Balneário Camboriú e Montevidéu

Fonte: Elaboração da autora, 2014.

Na praia Central, apenas 11, dos 100 entrevistados eram de Santa Catarina. Na praia do

Buraco a maioria eram Argentinos (20%), mas destaca-se a presença de turistas de outras partes

do país. Na praia de Pocitos a maioria era de Montevidéu (64%), seguido da Argentina e Brasil.

Em Carrasco, a maioria era de Montevidéu (76%), seguido de outros departamentos do Uruguai.

Os gráficos do local de residência dos avaliadores podem ser observados no Apêndice B.

4.1.2 VALORAÇÃO DA PAISAGEM

As três unidades de paisagem da praia do Buraco foram avaliadas com qualidade alta.

Central e Carrasco obtiveram duas unidades com qualidade alta e uma com média (Figura 7). Já

Pocitos foi a praia com pior classificação, onde duas unidades obtiveram classificação média e

uma baixa. Considerando a praia na sua totalidade, Pocitos obteve a pior classificação, Central

e Carrasco obtiveram classificação média e Buraco classificação alta. As avaliações exibiram

tendência semelhante quando considerados distintos gêneros, grau de instrução e faixa etária

(Apêndice C). Alguns exemplos de valorações contrastantes podem ser observados na Figura

8.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

Central Buraco Pocitos Carrasco

Po

rcen

tage

m d

e av

alia

do

res

1º grau

2º grau

3º grau

30

Figura 7: Valoração média (± erro padrão) das unidades de paisagem em Balneário Camboriú e

Montevidéu

Fonte: Elaboração da autora, 2014.

Além da avaliação direta, a avaliação mista também foi empregada para validar a

valoração da paisagem e entender a importância de cada elemento ou variável da paisagem.

Dois modelos de regressão foram obtidos (Tabela 1), um para as praias que sofreram processo

de urbanização (Central e Pocitos) e outro para semiurbanizadas (Carrasco e Buraco). Estes

modelos poderão ser utilizados para avaliação da qualidade visual de paisagem em praias com

estágio de urbanização semelhante (Tabela 2).

31

Tabela 1: Dados provenientes da regressão linear múltipla realizada com as praias urbanizadas a)

Central e Pocitos e semiurbanizadas b) Buraco e Carrasco respectivamente

a)

R= ,91824322 R²= ,84317061 Adjusted R²= ,84261308 F(17,4782)=1512,3 p<0,0000 Erro estimado ,30020

Variáveis

independentes

Beta Erro padrão

de Beta

B Erro padrão

de B

t(4789) Nível de p

Intercept -9,52353 0,601706 -15,8276 0,000000

Água 0,984997 0,059290 0,01679 0,001011 16,6133 0,000000

Areia 1,983256 0,074720 0,02737 0,001031 26,5426 0,000000

Cascalho 1,385526 0,064932 0,02159 0,001012 21,3381 0,000000

Céu 2,010640 0,099412 0,02012 0,000995 20,2253 0,000000

Edificação 1,521047 0,091546 0,01675 0,001008 16,6152 0,000000

Infraestrutura

de praia 0,666735 0,022964 0,03266 0,001125 29,0335 0,000000

Infraestrutura

urbana 0,183811 0,015099 0,01229 0,001010 12,1737 0,000000

Calçadão 0,790638 0,056587 0,01381 0,000989 13,9721 0,000000

EH 0,204732 0,023736 0,01099 0,001275 8,6253 0,000000

EA -0,194376 0,006533 -0,19093 0,006418 -29,7515 0,000000

Resíduos 0,512384 0,028692 0,01901 0,001064 17,8584 0,000000

Matacão 0,607215 0,023932 0,02740 0,001080 25,3724 0,000000

Molhe 0,488664 0,025964 0,01975 0,001049 18,8205 0,000000

Utensílios de

praia 0,321714 0,025092 0,01466 0,001143 12,8213 0,000000

Morro 1,093506 0,040354 0,02711 0,001001 27,0976 0,000000

Arborização

urbana 0,430685 0,031413 0,01605 0,001171 13,7104 0,000000

Restinga

alterada 0,683182 0,035783 0,01930 0,001011 19,0925 0,000000

b) R= ,62866290 R²= ,39521704 Adjusted R²= ,39395419 F(10,4789)=312,95 p<0,0000 Erro estimado ,37236

Variáveis

independentes

Beta Erro padrão

de Beta

B Erro padrão

de B

t(4789) Nível de p

Intercept 2,562540 0,066976 38,2605 0,000000

Céu 0,723006 0,032092 0,005489 0,000244 22,5289 0,000000

Edificação -0,007235 0,017150 -0,000332 0,000788 -0,4219 0,673142

Infraestrutura

de praia

0,117593 0,012354 0,003664 0,000385 9,5184 0,000000

Calçadão -0,459972 0,018329 -0,014373 0,000573 -25,0956 0,000000

EH -0,352268 0,029993 -0,028583 0,002434 -11,7448 0,000000

Matacão -0,425305 0,018956 -0,020341 0,000907 -22,4362 0,000000

Utensílios de

praia

0,295336 0,029007 0,040929 0,004020 10,1815 0,000000

Morro 0,740626 0,031535 0,004283 0,000182 23,4857 0,000000

Arborização

urbana

0,650093 0,024304 0,137153 0,005128 26,7483 0,000000

Restinga

alterada

-0,165251 0,011815 -0,003724 0,000266 -13,9860 0,000000

Fonte: Elaboração da autora, 2014.

32

Tabela 2: Modelos de equação para praias urbanizadas e semiurbanizadas obtidos através da análise de

regressão linear múltipla

Praias urbanizadas

Avaliação = (-9,52353 + 0,01679 . Água + 0,02737 . Areia + 0,02159 . Cascalho + 0,02012 . Céu + 0,01675 .

Edificação + 0,03266 . Infraestrutura de praia + 0,01229 . Infraestrutura urbana + 0,01381 . Calçadão + 0,01099 .

EH – 0,19093 . EA + 0,01901 . Resíduos + 0,02740 . Matacão + 0,1975 . Molhe + 0,01466 . Utensílios de praia +

0,02711 . Morro + 0,01605 . Arborização urbana + 0,01930 . Restinga alterada

Praias Semiurbanizadas

Avaliação = (2,562540 + 0,005489 . Céu – 0,000332 . Edificação + 0,003664 . Infraestrutura de praia – 0,014373

. Calçadão – 0,028583 . EH – 0,020341 . Matacão + 0,040929 . Utensílios de praia + 0,004283 . Morro + 0,137153

. Arborização urbana – 0,003724 . Restinga alterada

Fonte: Elaboração da autora, 2014.

O modelo das praias Central e Pocitos incorporou 17 variáveis independentes: água,

areia, cascalho, céu, edificação, infraestrutura de praia, infraestrutura urbana, calçadão,

elemento humano, elemento animal, resíduos, matacão, molhe, utensílios de praia, morro,

arborização urbana, restinga alterada. A regressão apresentou um coeficiente de correlação (r)

de 91,82, indicando que as variáveis independentes expressas pelos elementos da paisagem se

correlacionam bem com a classe de qualidade visual. O coeficiente de determinação (r²) indicou

que o modelo ajustado explicou a variabilidade da variável classe de qualidade visual em 84%

nestas praias.

Nas praias Buraco e Carrasco as 10 variáveis independentes significativamente

incorporadas ao modelo foram: céu, edificação, infraestrutura de praia, calçadão, elemento

humano, matacão, utensílios de praia, morro, arborização urbana, restinga alterada. Nestas

praias o modelo exibiu menores valores de coeficiente de correlação (r=62,87) e de

determinação (r2= 39,40%).

33

Figura 8: Exemplos de paisagens de menor valor (esquerda) e maior valor (direita) em Balneário

Camboriú e Montevidéu

Fonte: Elaboração da autora, 2014.

34

4.1.3 ESTRUTURA DA PAISAGEM

Os resultados da análise de proximidade (MDS) dos elementos da paisagem (Figura 9)

mostraram que houve distinção entre as praias, entretanto, como pode ser observado na Figura

9, as praias Central, Pocitos e Carrasco apresentam maior similaridade entre si, quando

comparadas a praia do Buraco.

Figura 9: Análise de proximidade (MDS) evidenciando a distribuição dos elementos da paisagem nas

praias em Balneário Camboriú e Montevidéu

Fonte: Elaboração da autora, 2014.

Os resultados da análise de similaridade (ANOSIM) confirmaram que a paisagem das

praias difere significativamente (Rglobal=0,272, p=0,0001; Tabela 3). Os resultados mostraram

ainda, através de valores de estatística R, que maiores diferenças ocorreram entre as praias

Pocitos e Buraco (R=0,516) e as menores entre as praias Central e Pocitos (R=0,13).

35

Tabela 3: Valores de R e níveis de significância das comparações par-a-par entre os elementos da

paisagem das praias de Balneário Camboriú e Montevidéu na análise de similaridade (ANOSIM).

Valores em negrito indicam diferenças significativas

Praias R Nível de significância

Central, Pocitos 0,13 0,001

Central, Buraco 0,264 0,001

Central, Carrasco 0,218 0,001

Pocitos, Buraco 0,516 0,001

Pocitos, Carrasco 0,147 0,002

Buraco, Carrasco 0,407 0,001 Fonte: Elaboração da autora, 2014.

As análises de riqueza (S) e diversidade (H´) mostraram que a estrutura da paisagem

entre as praias urbanizadas e semiurbanizadas diferem significativamente (Figura 10). As

praias Central e Pocitos exibiram um número de elementos de paisagem significativamente

maior do que a praia do Buraco (Figura 10 e Tabela 4). A praia Carrasco, por outro lado,

mostrou uma riqueza de elementos com valores intermediários (Figura 10 e Tabela 4). Já a

diversidade de elementos de paisagem mostrou duas situações distintas, com Central e Pocitos

significativamente maior que Buraco e Carrasco.

Figura 10: Valores médios (± intervalo de confiança de 95%) de riqueza de elementos de paisagem e

sua diversidade (Shannon-Wiener) das praias em Balneário Camboriú e Montevidéu

Fonte: Elaboração da autora, 2014.

Por meio da análise permutacional univariada (PERMANOVA) foi possível confirmar

a significância das diferenças da riqueza (S) (p=0,012) e diversidade de Shannon-Wiener (H´)

(p=0,001) na estrutura da paisagem entre as praias analisadas (Tabela 4). As praias Central e

Pocitos exibiram maior riqueza de elementos da paisagem que Buraco (Figura 10; Tabela 4). A

riqueza de elementos de Carrasco foi intermediária entre as praias, e deste modo esta praia não

36

diferiu das demais. A diversidade por sua vez foi igual nas praias Central e Pocitos e maior do

que nas praias semiurbanizadas.

Tabela 4: Resultados da análise permutacional univariada (PERMANOVA) utilizando distância

Euclidiana para avaliar diferença nos descritores da estrutura da paisagem, riqueza e diversidade de

Shannon-Wiener, entre as praias em Balneário Camboriú e Montevidéu

Riqueza de paisagem df SS MS F P(MC)

Praias 3 94,531 94,531 6,25 0,012

Praias comparadas t P(MC)

Central, Pocitos 0,7746 0,481

Central, Buraco 4,787 0,007

Central, Carrasco 1,769 0,135

Pocitos, Buraco 4,9735 0,013

Pocitos, Carrasco 2,0386 0,109

Buraco, Carrasco 0,92272 0,435

Diversidade de

paisagem df SS MS F P(MC)

Praias 3 2,0802 0,69341 21,452 0,001

Praias comparadas t P(perm) P(MC)

Central, Pocitos 9,4601E-3 1 0,993

Central, Buraco 8,3125 0,114 0,004

Central, Carrasco 7,6942 0,089 0,003

Pocitos, Buraco 4,5938 0,087 0,011

Pocitos, Carrasco 4,6856 0,098 0,004

Buraco, Carrasco 0,47203 0,588 0,636

Fonte: Elaboração da autora, 2014.

4.2 INDICADOR DE BIODIVERSIDADE: A MEIOFAUNA

A meiofauna coletada nas praias foi composta por 4009 indivíduos, distribuídos entre

oito taxas meiofaunais. Os Copepoda e Nematoda dominaram numericamente as amostras de

meiofauna (36,87% e 36,44%, respectivamente). Oligochaeta (16,56%), Polychaeta (5,34%)

foram os próximos grupos mais abundantes. Os demais (Acarina, Ostracoda e Turbellaria)

constituíram, em conjunto, apenas 4,79% dos indivíduos coletados. Valores de densidade total

da meiofauna oscilaram entre 0 e 322 inds.10cm-2.

37

Com relação aos Nematoda, com densidade entre 0 e 110 inds.10cm-2, os gêneros mais

abundantes foram Microlaimus (50,31%), Theristus (12,87%) e Ascolaimus (12,53%). A lista

completa de gêneros de Nematoda encontrados está disponível no Apêndice F.

O resultado da análise de proximidade (MDS) dos dados derivados da meiofauna

mostrou que sua estrutura foi claramente distinta entre as praias analisadas (Figura 11). A

análise mostrou ainda que a fauna do Buraco foi mais homogênea, quando comparada a Pocitos,

Central e Carrasco.

Figura 11:Análise de proximidade (MDS) dos dados derivados da meiofauna nas praias em Balneário

Camboriú e Montevidéu

Fonte: Elaboração da autora, 2014.

Os resultados da análise de similaridade (ANOSIM) confirmaram a significância das

diferenças na estrutura da meiofauna entre algumas praias (Rglobal=0,565, p=0,0001; Tabela 5).

Os resultados mostraram ainda que as maiores diferenças na meiofauna ocorreram entre as

praias Pocitos e Central (R=0,512) e as menores nas praias Central e Carrasco (R=0,167).

38

Tabela 5: Valores de R e níveis de significância das comparações par-a-par da estrutura da meiofauna

das praias de Balneário Camboriú e Montevidéu na análise de similaridade (ANOSIM). Valores em

negrito indicam diferenças significativas

Praias R Nível de significância

Pocitos, Central 0,512 0,001

Pocitos, Carrasco 0,268 0,001

Pocitos, Buraco 0,509 0,001

Central, Carrasco 0,167 0,001

Central, Buraco 0,531 0,001

Carrasco, Buraco 0,427 0,001 Fonte: Elaboração da autora, 2014.

A riqueza (S), densidade (N) e diversidade (ES51 e H’) da meiofauna foram

significativamente maiores na praia do Buraco, seguidos por Central e Pocitos (Figura 12).

Entretanto, as praias Central e Pocitos não apresentaram diferenças significativas para todos os

descritores. A praia Carrasco apresentou menores valores para riqueza (S) e diversidade (ES51

e H’).

Fonte: Elaboração da autora, 2014.

Figura 12: Valores médios (± intervalo de confiança de 95%) obtidos através da análise de variância

unifatorial (ANOVA) dos descritores da estrutura da meiofauna riqueza (S), densidade (N) e diversidade

(ES51, H’) nas praias em Balneário Camboriú e Montevidéu

39

4.3 SEDIMENTO

De modo geral, os sedimentos das praias foram similares, exceto a do Buraco. A praia

Central, Pocitos e Carrasco oscilaram entre areia fina e média, moderadamente selecionada ou

bem selecionada. Já a praia do Buraco foi caracterizada pela presença de areia média e grossa

bem selecionada (Figura 13).

Figura 13: Tamanho médio do grão e seleção em milímetros (± erro padrão) do sedimento das praias de

Balneário Camboriú e Montevidéu

Fonte: Elaboração da autora, 2014.

4.4 RELAÇÃO ENTRE QUALIDADE VISUAL DA PAISAGEM E BIODIVERSIDADE

Como descrito na metodologia, a relação da qualidade visual da paisagem com a

biodiversidade foi avaliada apenas nas sub-unidades que receberam as notas mais baixas, mais

próximas da média, e aquelas que receberam as notas mais altas.

4.4.1 SEDIMENTO

Os sedimentos, quando classificados de acordo com as classes de valoração, foram em

média homogêneos. Os sedimentos da classe baixa e média oscilaram entre areia fina e média,

moderadamente selecionada. Já a classe alta oscilou entre areia média e grossa, bem selecionada

(Figura 14).

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

1,6

Central Buraco Pocitos Carrasco

Praias

Média

Seleção

40

Figura 14: Tamanho médio do grão e seleção em milímetros (± erro padrão) do sedimento das sub-

unidades classificadas em qualidade visual baixa, média e alta

Fonte: Elaboração da autora, 2014.

4.4.2 MEIOFAUNA E QUALIDADE VISUAL DA PAISAGEM

O resultado da análise de ordenamento (MDS) dos dados derivados da meiofauna

classificados de acordo com a qualidade visual da paisagem é mostrado na Figura 15. A análise

mostrou uma relativa distinção da meiofauna nas diferentes classes de qualidade visual. No

entanto, os resultados da PERMANOVA não detectaram diferenças significativas (PseudoF=

1,64 e P(MC) =0,085).

Figura 15:Análise de próximidade (MDS) dos dados derivados da meiofauna e das sub-unidades

classificadas em qualidade visual baixa, média e alta

Fonte: Elaboração da autora, 2014.

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

Baixa Média Alta

Classe

Média

Seleção

41

Os descritores da meiofauna e dos Nematoda, riqueza (S), densidade (N) (Figura 16) e

diversidade (ES(51) e H’), também não diferiram significativamente entre as diferentes classes

de qualidade da paisagem (todos os valores de F <1,2 e valores de p >0,05).

Além das características estruturais, buscou-se avaliar ainda a possível relação funcional

entre indicadores da biodiversidade e qualidade visual da paisagem. Tanto os índices de

diversidade trófica como índice de maturidade não diferiram entre as classes de paisagem

valoradas (Figura 17).

Figura 16: Valores médios (± intervalo de confiança de 95%) obtidos através da análise de variância

unifatorial (ANOVA) dos descritores da estrutura da meiofauna riqueza (S), densidade (N) e diversidade

(ES51, H’) nas sub-unidades classificadas em qualidade visual baixa, média e alta

Fonte: Elaboração da autora, 2014.

42

Figura 17: Valores médios (± intervalo de confiança de 95%) obtidos através da análise de variância

unifatorial (ANOVA) dos índices de diversidade trófica e índice de maturidade nas sub-unidades

classificadas em qualidade visual baixa, média e alta

Fonte: Elaboração da autora, 2014.

43

5 DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo mostraram que as preferências paisagísticas foram sensíveis

à presença de intervenção humana, levando a maior valoração das praias com baixos níveis de

urbanização. Contudo, uma vez urbanizadas, a presença de infraestrutura e serviços nas praias

mostrou-se um fator importante na avaliação (Figura 18). Embora a presença de vegetação ou

outros organismos possa eventualmente influenciar a valoração da paisagem, quando

relacionamos a qualidade visual das praias estudadas à biodiversidade da meiofauna, os

resultados não mostram uma relação direta.

Figura 18: Modelo conceitual da relação entre qualidade visual da paisagem e urbanização

Fonte: Elaboração da autora, 2014.

5.1 A QUALIDADE VISUAL DA PAISAGEM

A qualidade visual da paisagem e o turismo estão intimamente relacionados. Esta

relação, no entanto, não é simples, e por vez é paradoxal. Diversos estudos (e.g. Micallef et al.,

1999; Unal & Williams, 1999) têm apontado que uma alta qualidade visual é uma das principais

características procuradas por turistas. Ao mesmo tempo, as próprias transformações advindas

do turismo tendem a aumentar o número de elementos detratores da qualidade visual da

paisagem. Portanto, o tênue equilíbrio entre paisagem e turismo deve ser gerido com cuidado.

De forma geral, os resultados das análises da qualidade visual das praias arenosas estudadas

mostraram a preferência dos usuários por paisagens naturais. As praias com baixos níveis de

urbanização, como a do Buraco, receberam maiores avaliações de qualidade visual, em

44

contraste com as praias urbanizadas, como Pocitos, pior avaliadas. De fato, muitos estudos

envolvendo preferências paisagísticas já haviam relatado consistentemente que as pessoas

tendem a valorar ambientes naturais melhor do que aqueles urbanizados (e.g Bobrowski et al.,

2010; Kaplan & Kaplan, 1982; Kearney et al., 2008; Marenzi, 1996).

Neste trabalho, as avaliações da qualidade visual da paisagem foram obtidas através da

percepção dos usuários das praias. Devido a subjetividade dos métodos de percepção, optou-

se, como em outros trabalhos (Arriaza et al., 2004; Herzog, 1989; Lothian, 2004; Schirpkea,

2013) também utilizar um método quantitativo dos elementos da paisagem, em conjunto com o

qualitativo. Os resultados, no entanto, mostraram que o método direto, mais subjetivo, não

diferiu significativamente neste estudo, onde segundo o método misto, obteve-se a mesma

valoração. Marenzi (1996) também verificou esta semelhança, o que indica que as equações

obtidas da análise de regressão podem ser utilizadas em ambientes de características similares,

sem necessidade de recorrer a avaliadores.

Uma mesma paisagem está sujeita a diferentes interpretações, uma vez que sua

avaliação depende do olhar do observador, cuja opinião igualmente depende de uma série de

fatores culturais (Priego et al., 2008). Além disso, a percepção da paisagem é também

condicionada por fatores inerentes ao próprio indivíduo, além de fatores cognitivos (Jordana,

1992). Portanto, a idade, grau de instrução, sexo, local de origem, entre outros fatores, podem

efetivamente influenciar nas preferências visuais (Ergin et al., 2006; Ode et al., 2009;

Svobodova et al., 2012.). Neste estudo, no entanto, os resultados não mostraram diferenças

significativas quanto as preferências paisagísticas nas diferentes idades, graus de instrução,

profissão e entre outras características dos avaliadores. Essa homogeneidade nos resultados

possivelmente reflete o método utilizado, que optou pela utilização de usuários que estavam

nas próprias praias avaliadas. Uma vez que os avaliadores estavam nesses locais provavelmente

por possuir afinidades e preferências, este fato pode ter influenciado na avaliação positiva das

praias.

Através da análise de regressão linear múltipla foi possível constatar quais elementos

contribuíram na avaliação das praias. A presença de elementos naturais como morro e

arborização urbana contribuiu positivamente na avaliação das praias. O mesmo foi observado

em estudo realizado na Espanha (Arriaza et al., 2004), onde conforme aumentava o número de

elementos naturais, como presença de morro, a percepção da qualidade visual também

aumentava. Por outro lado, os elementos artificiais influenciaram negativamente na avaliação

da qualidade visual, como presença de edificação e calçadão.

45

A praia que recebeu menor valoração média foi a praia de Pocitos, no Uruguai. A

qualidade visual da paisagem consiste na relação entre as características da paisagem e a

influência dessas características sobre os usuários (Daniel, 2001). Algumas características de

paisagem são conhecidas como detratores de qualidade visual. Certos tipos de construções e

atividades humanas são responsáveis muitas vezes, por prejudicar as características visuais

locais (Pires, 2005; Watts, 2005). Este foi o caso de Pocitos, em especial a unidade 1, valorada

com qualidade visual baixa. Além de tipicamente muito urbanizada, a elevada presença de

resíduos nesta unidade, como plásticos e outros materiais descartados, foi determinante para a

baixa avaliação. Esta tendência de baixa avaliação associada às praias com elevado grau de

artificialização foi também descrita por Rangel-Buitrago et al. (2012).

Uma tendência similar foi observada nas praias Central e Carrasco, onde as unidades

que possuíram maior urbanização e concentração de usuários foram aquelas unidades menor

valoradas. No entanto, a praia Central de Balneário Camboriú e Carrasco de Montevidéu,

atingiram, considerando todas as unidades, uma valoração média. Estas praias, apesar de

possuírem várias características consideradas detratoras da qualidade visual, ainda exibem mais

elementos naturais que Pocitos, como morro, arborização ou restinga. Além disso, as praias

Central e Carrasco também possuem uma alta disponibilidade de infraestrutura e serviços aos

usuários, o que incrementou suas classificações. Cervantes et al., (2008) em um estudo em

praias urbanizadas no México e Estados Unidos também registrou uma melhor avaliação em

praias onde há maior disponibilidade de infraestrutura e serviços.

Todas as unidades de paisagem da praia Buraco, em Balneário Camboriú, foram

amplamente dominadas por elementos paisagísticos naturais. Com exceção de uma discreta

infraestrutura disponibilizada por um hotel na unidade 2, a praia Buraco não possui paisagem

urbanizada, predominando em sua paisagem terrestre a Mata Atlântica. Esta foi a praia melhor

avaliada no estudo. Como também observado por Duvat (2013) em algumas praias francesas,

os elementos paisagísticos naturais são os mais apreciados e seu predomínio sobre a

urbanização eleva a avaliação da qualidade visual pelos usuários.

Em síntese, os resultados deste estudo referentes a paisagem mostraram claramente que

praias onde dominam elementos paisagísticos naturais, ainda que eventualmente mais

homogêneos, são mais bem avaliadas por usuários. Paisagens com maior diversidade de

elementos eventualmente podem ser maior valoradas, por apresentar partes diferenciadas com

distintos componentes visuais e com ausência de monotonia (Pires, 2005). Em praias arenosas,

entretanto, a artificialização por meio da urbanização incrementa a heterogeneidade na

paisagem e o número de elementos detratores da qualidade visual, resultando em queda de sua

46

valoração pelos usuários. No entanto, uma vez urbanizada, a presença de serviços e

infraestrutura aumenta novamente a valoração da praia, mas ainda num patamar inferior ao

daquelas onde os elementos naturais são dominantes.

5.2 RELAÇÃO ENTRE A QUALIDADE VISUAL DA PAISAGEM E A BIODIVERSIDADE

Biodiversidade é um termo genérico e que pode ser aplicado a diferentes grupos de

organismos em diferentes situações. Alguns trabalhos já tentaram mostrar uma provável relação

entre a estética, conceito eminentemente cultural, e a diversidade biológica (e.g. Gobster et al.,

2007; Kurz & Baudains, 2012; Qiu et al., 2013; Williams & Cary, 2002). Padrões de riqueza

de organismos, no entanto, não são lineares – um dado ambiente que apresenta maior riqueza

de um dado grupo não apresentará, necessariamente, maior riqueza de todos os grupos

biológicos. A escolha da espécie, associação ou grupo alvo é, portanto, um fator chave na

avaliação entre a estética e a diversidade biológica.

Neste estudo, dois aspectos foram fundamentais para a escolha da meiofauna como

indicador da biodiversidade das praias arenosas. O primeiro é que o indicador não deveria

influenciar a própria estética praial. Isso ocorreria, por exemplo, se os bioindicadores fossem

aves ou vegetação, que eventualmente poderiam influir de modo positivo ou negativo na

qualidade visual da praia. A meiofauna, por seu tamanho microscópico, se encaixa

perfeitamente neste quesito, não influenciando na valoração da estética do ambiente. Um

segundo aspecto refere-se a necessidade do grupo biológico escolhido indicar de fato a

qualidade ambiental do local. Também neste ponto a meiofauna é amplamente utilizada como

um indicador de qualidade ambiental em diversos tipos de ambientes (e.g. Alves et al., 2013;

Carriço et al., 2013; Gheskiere et al., 2005).

Como esperado, a meiofauna das praias analisadas foi significativamente distinta. A

meiofauna da praia do Buraco, com característica refletiva (Silveira et al., 2011), exibiu riqueza,

densidade e diversidade significativamente maiores que as demais praias, de características

dissipativas. Assim como a macrofauna, também é conhecido que a composição e distribuição

da meiofauna é dependente da morfodinâmica da praia (e.g. Alves & Pezzuto, 2009; Gheskiere

et al., 2004, 2005; Maria et al., 2013). No entanto, a relação entre a valoração das unidades de

paisagem e a biodiversidade insere outro fator além da morfodinâmica, pois misturou sub-

unidades de praias distintas (por exemplo, Buraco e Carrasco).

Os resultados da relação da qualidade visual da paisagem com a biodiversidade

apontaram para uma tendência de separação da estrutura da meiofauna nas diferentes classes

47

(baixa, média e alta), especialmente entre a baixa e as demais, como observada na análise de

proximidade. No entanto, não foi detectada no presente estudo qualquer tipo de diferença

significativa estrutural ou funcional da meiofauna entre as diferentes classes de qualidade

visual.

É possível que a ausência de clara relação entre a qualidade visual da paisagem com a

biodiversidade, deva-se a um conjunto de fatores metodológicos no processo de valoração

ambiental. Na metodologia deste estudo, todos eram usuários diretos das praias e portanto, isso

pode ser um fator que tenha influenciado na avaliação positiva desses locais. Um segundo ponto

importante foi que as valorações da qualidade visual e da biodiversidade foram realizadas quase

concomitantemente. O resultado foi que muitas das unidades valoradas foram classificadas

como média e alta, e poucas como classe baixa. Isso acabou por gerar um desbalanceamento

do desenho amostral, levando a necessidade de selecionar as unidades de paisagem avaliadas

nos seus extremos e amostras da fauna destes mesmos locais. Dessa forma, os resultados da

relação entre qualidade visual e biodiversidade acabaram por ficar reduzidos a 1/3 da sua

totalidade.

É particularmente difícil estabelecer comparações com outros trabalhos que relacionam

a qualidade visual da paisagem com a biodiversidade. A maioria dos estudos envolvendo este

tipo de relação utilizou a vegetação como indicador de biodiversidade, e se o indicador de

biodiversidade tem a capacidade de alterar a valoração da paisagem, é de se esperar que haja

uma relação entre paisagem e biodiversidade. Apesar disso, os resultados de alguns trabalhos

mostram que a relação entre estética e biodiversidade pode ser complexa. Qiu et al. (2013)

encontraram uma relação negativa entre diversidade e estética e observou que os locais mais

selvagens, que possuíam biodiversidade mais alta, receberam avaliações menores. Willliams &

Cary (2002) também encontraram a mesma tendência em seu trabalho envolvendo 36

fotografias e 1000 moradores do sudeste da Austrália, onde foi maior a preferência por espécies

de vegetação com baixo valor ecológico. Por outro lado, em outros estudos envolvendo áreas

verdes, as pessoas responderam positivamente ao aumento dos níveis de biodiversidade (Irvine

et al., 2010; Schipperijn et al., 2010).

Não há nenhuma evidência de que a qualidade ecológica é um indicador negativo de

preferência paisagística, como já sugerido por Gobster (1995). Entretanto ficou claro no

presente estudo, que a preferência paisagística por certos locais avaliados em classes de

qualidade visual baixas ou altas, não tem relação direta com sua biodiversidade ou saúde

ambiental. A qualidade visual da paisagem nem sempre reflete a saúde do ecossistema (Gobster

et al., 2007). Gramados bem cuidados, as geleiras do ártico, uma floresta de Pinus, são alguns

48

dos exemplos de paisagens com alto valor paisagístico, mas que não representam locais com

alta biodiversidade. Por outro lado, paisagens como planícies podem ser percebidas como pouco

atraentes por não serem reconhecidas diretamente sua diversidade biológica (Gobster et al.,

2007).

Se não há restrições metodológicas, ou se as restrições existentes não foram suficientes

para alterar a ausência de relação observada entre qualidade visual e biodiversidade, podemos

concluir que a relação pode simplesmente não existir. É possível que não exista relação direta

(ou indireta) entre a biodiversidade (riqueza de espécies, diversidade, densidade) e estética

(qualidade visual alta ou baixa). Há diversos exemplos de locais monótonos em relação a

elementos paisagísticos e aparentemente sem beleza cênica e elevada biodiversidade. Ao

mesmo tempo, locais com elevada biodiversidade não são necessariamente feios. A ausência

de uma relação direta, linear, simplesmente implica que, do ponto de vista do manejo, a

biodiversidade necessita ser levada em conta. Também implicaria que paisagens de baixa

qualidade visual e mais artificiais tem menor biodiversidade? Não necessariamente. Talvez

poderia significar que, do ponto de vista da biodiversidade, os pesos dados às características

que definem a qualidade visual, necessitem ser reavaliados.

49

6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

6.1 CONCLUSÕES

Intervenções por meio de planos de manejo e do uso de ferramentas de apoio à gestão

adquirem particular importância para os ecossistemas como praias arenosas. Via de regra, os

processos de gestão desses ambientes costeiros a nível nacional, não incluem análises conjuntas

de biodiversidade e qualidade visual de paisagem, personificados nos sistemas de certificação

de praias. Contudo, a complexa relação entre as percepções da paisagem, qualidade visual e

biodiversidade é um fator crucial na gestão e conservação destes ecossistemas e deve ser

levadas em consideração na gestão de praias. Além disso, e principalmente, a biodiversidade

por si, independente da qualidade visual, deveria ser aspecto primário para mecanismos de

gestão.

O presente estudo mostrou uma análise de qualidade visual da paisagem relativamente

consistente. Praias que possuíam mais elementos naturais foram melhor valoradas. Contudo,

praias urbanizadas apesar dos componentes artificializados que diminuíam sua avaliação,

obtiveram classificação geral média. Uma das razões aqui apresentadas é que, uma vez

urbanizada, a presença de serviços e infraestrutura aumenta a valoração da praia.

Existe um grande potencial na ferramenta que relaciona a qualidade visual com a

biodiversidade, entretanto este foi um dos primeiros trabalhos realizados em praias arenosas,

que são ambientes muito heterogêneos e de difíceis comparações. A metodologia desenvolvida

mostrou que houve um esforço amostral que poderia ter sido mais otimizado se o levantamento

de biodiversidade fosse realizado posteriormente à valoração da qualidade visual da paisagem,

onde seriam direcionadas amostragens específicas para cada classe obtida. É possível que se

realizadas as adequações sugeridas nas recomendações deste estudo, seja encontrada uma

relação direta entre a qualidade visual da paisagem e a biodiversidade.

6.2 RECOMENDAÇÕES

Com base na obtenção dos resultados e conclusão, recomenda-se para futuros trabalhos

algumas adaptações na metodologia, assim como sugestões para o projeto Gestão de Praias

Arenosas Urbanas Brasil e Uruguai. Além disso, sugere-se também medidas que possam

auxiliar em processos de gestão de praias:

50

Para a relação da qualidade visual da paisagem com a biodiversidade, é importante

inicialmente avaliar a paisagem. Uma vez definidas as classes obtidas das avaliações, deve

então ser realizada a amostragem da biodiversidade nesses locais.

Para análise da qualidade visual da paisagem, propõe-se não utilizar somente usuários

das praias, mas também provenientes de outros locais do município, bem como utilizar os

mesmos usuários para as diversas praias, comparando os resultados entre as mesmas.

Para o projeto Gestão de Praias Arenosas Urbanas Brasil e Uruguai, sugere-se que seja

realizada a relação entre qualidade visual da paisagem e biodiversidade utilizando outros

indicadores de qualidade ambiental, desde que não influenciem na paisagem, por exemplo o

macrobentos e o microbentos. Além disso, seria interessante também avaliar o processo de

enriquecimento orgânico de praias com diferentes estágios de urbanização, através de análises

geoquímicas, como o carbono e nitrogênio. Faz-se necessária também uma análise comparativa

com maior variabilidade de paisagens de praias, priorizando a comparação entre praias com

similar morfodinâmica.

A quantificação e descrição da biodiversidade devem ser incluídas como premissa

básica nos processos de gestão de praias.

A utilização da análise da qualidade visual da paisagem deve ser incluída como

ferramenta nos processos de gestão de praias.

A percepção dos usuários, por meio da participação pública deve ser considerada um

critério importante nos processos de gestão de praias.

Ressalta-se a importância de priorizar uma gestão de praias a nível local, que leve em

consideração as características de cada ambiente em conjunto com o perfil e anseio dos

usuários.

Por fim, recomenda-se que o poder público de Balneário Camboriú e Montevidéu levem

em consideração que a gestão das Praias, principalmente de Central e Pocitos deve priorizar a

conservação dos elementos naturais da paisagem, como a vegetação de restinga. Por outro lado,

51

é preciso buscar medidas para conservar as praias com menores níveis de urbanização, como

Buraco e Carrasco, a fim de que não percam a sua qualidade paisagística.

52

REFERÊNCIAS

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59

APÊNDICES

60

APÊNDICE A: QUESTIONÁRIO PARA VALORAÇÃO DA QUALIDADE VISUAL

DA PAISAGEM

Você está participando de uma pesquisa, onde os dados serão utilizados em uma dissertação

de mestrado. O objetivo desta pesquisa é analisar a relação da qualidade visual da paisagem e

da biodiversidade, como valores de qualidade ambiental de praias arenosas urbanas e

semiurbanas no Brasil e Uruguai.

Nome ...................................................................................................................

Cidade .................................................. Estado ..............................................

Estado civil ..............................................Sexo ...................................................

Escolaridade ........................................Idade .................................................

Avaliação das fotografias

• As fotografias recebidas deverão ser avaliadas dentro da Classe de

Qualidade de I a 5.

• Para facilitar a sua avaliação, recomenda-se selecionar uma ou algumas

fotos que você considere como paisagem de qualidade muito alta e outras com

qualidade muito baixa para posteriormente selecionar as intermediárias. Todas

as fotos deverão ser avaliadas.

• Você poderá manipular as fotos livremente, a fim de ter segurança na

sua avaliação.

• LEMBRE-SE: Você deverá avaliar o conteúdo da paisagem na

fotografia e não a técnica fotográfica.

• Solicita-se seriedade na sua avaliação, agradecendo-se a sua

colaboração.

CLASSES DE QUALIDADE

Classe 5 - Paisagem de Qualidade Muito Alta (ótima)

Classe 4 - Paisagem de Qualidade Alta (boa)

Classe 3 - Paisagem de Qualidade Média (regular)

Classe 2 - Paisagem de Qualidade Baixa (ruim)

Classe I - Paisagem de Qualidade Muito Baixa (péssima)

Fonte: Elaboração da autora, 2014.

Foto Classe Foto Classe

1 13

2 14

3 15

4 16

5 17

6 18

7 19

8 20

9 21

10 22

11 23

12 24

61

APÊNDICE B: LOCAL DE RESIDÊNCIA DOS AVALIADORES

Local de residência dos avaliadores da qualidade visual da paisagem em Balneário Camboriú e

Montevidéu

Fonte: Elaboração da autora, 2014.

62

APÊNDICE C: AVALIAÇÃO DA QUALIDADE VISUAL DA PAISAGEM POR

GÊNERO E GRAU DE INSTRUÇÃO DOS AVALIADORES

Avaliação da qualidade visual por gênero (± erro padrão) das unidades de paisagem em Balneário

Camboriú e Montevidéu

Fonte: Elaboração da autora, 2014.

Avaliação da qualidade visual por grau de instrução (± erro padrão) das unidades de paisagem em

Balneário Camboriú e Montevidéu

Fonte: Elaboração da autora, 2014.

0

1

2

3

4

5

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inin

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culin

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Mas

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Central Buraco Pocitos Carrasco

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Média de Unidade 1

Média de Unidade 2

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3ºgrau

1ºgrau

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3ºgrau

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3ºgrau

1ºgrau

2ºgrau

3ºgrau

Central Buraco Pocitos Carrasco

Cla

sses

de

qu

alid

ade

Média de Unidade 1

Média de Unidade 2

Média de Unidade 3

63

APÊNDICE D: LISTA DE NEMATODA

Família Gênero

Anoplastomidae Anoplostoma

Axonolaimidae

Apodontium

Ascolaimus

Chromadoridae

Actinonema

Chromadorina

Chromadorita

Hypodontolaimus

Karkinochromadora

Neochromadora

Prochromadora

Comesomatidae Sabatiera

Cyatholaimidae

Paracantonchus

Paracyatholaimus

Pomponema

Desmodoridae

Catanema

Desmodora

Molgolaimus

Spirinia

Enchelidiidae Eurystomina

Leptolaimidae Leptolaimus

Linhomoeidae

Eleutherolaimus

Metadesmolaimus

Microlaimidae

Bolbolaimus

Microlaimus

Monhysteridae Thalassomonhystera

Monoposthiidae

Monoposthia

Nudora

Onchalaimidae

Viscosia

Oncholaimus

Rhabditidae Rhabdits

Selachinematidae Halichoanolaimus

Siphonolaimidae Siphonolaimus

Thoracostomopsidae

Enoploides

Enoplolaimus

Epacanthion

Xyalidae

Daptonema

Prorhynchonema

Pseudosteineria

Theristus

Xenolaimus

Sphilophorella

Trichoteristus Fonte: Elaboração da autora, 2014.