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Relaes entre crianas e adultos na Educao Infantil
Iza Rodrigues da Luz1 Universidade Federal de Minas Gerais/ Ncleo de Estudos e
Pesquisas sobre a Infncia e a Educao Infantil
Apresentao
Caras professoras2 falar sobre o tema das relaes entre crianas e adultos na Educao
Infantil importante dada a sua relao com as temticas mais gerais do processo de
desenvolvimento das crianas e das finalidades dessa etapa da educao. Em tempos em
que a mdia traz de forma recorrente episdios de violncia entre alunos e destes com
professores como um problema das escolas de Ensino Fundamental e Mdio, resta-nos
interrogar se a Educao Infantil tambm enfrenta questes parecidas. Devemos
destacar que na sociedade contempornea a violncia tem estado presente
cotidianamente na vida de uma grande parcela da populao e assombrado os que
estariam mais distantes. As questes ligadas a esse fenmeno chegam s diversas
instituies sociais e inclusive as creches e pr-escolas. As crianas tomam
conhecimento de relatos de crimes, assaltos, assassinatos que so veiculados pela
televiso, ou mesmo presenciam esses fatos em seus locais de moradia. Desse modo,
preciso refletir e colocar em ao estratgias que possibilitem uma ao educativa que
auxiliem as crianas a lidar com as diversas formas de violncia. Alm disso, bastante
comum ouvirmos queixas sobre mordidas, empurres e outros comportamentos de
enfrentamento entre as crianas que so interpretadas pelos adultos como indisciplina e
at mesmo como violncia. Problematizar essa interpretao pode auxili-la, professora,
na conduo diante de tais comportamentos e ajud-la a pensar em formas mais
construtivas de promover a resoluo de conflitos e as relaes entre as crianas de
modo geral. Para enriquecer a reflexo sobre as relaes que se estabelecem nas
instituies de Educao Infantil consideramos importante trabalhar com os conceitos
de indisciplina, violncia e agressividade.
As pesquisas indicam uma utilizao indiscriminada dos termos indisciplina e violncia
no ambiente escolar. Apesar disso, os estudiosos defendem o emprego do conceito de 1 Agradeo a leitura e as sugestes dos professores da Universidade Federal de Minas Gerais Isabel de Oliveira e Silva, Lincoln Coimbra Martins e Luiz Alberto Oliveira Gonalves, assim como das pesquisadoras e bolsistas do Ncleo de Estudos e Pesquisas sobre a Infncia e a Educao Infantil da mesma Universidade NEPEI. 2Escolhemos adotar o feminino da palavra professor devido prevalncia de mulheres em exerccio docente na Educao Infantil.
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indisciplina somente para os comportamentos que desrespeitam as regras criadas
estritamente para garantir as condies necessrias realizao do trabalho pedaggico.
Destaca-se que os estudos sobre a indisciplina e/ou violncia escolar tm sido feitos no
Ensino Fundamental e Mdio e que na Educao Infantil no possvel utilizar o termo
violncia se estivermos nos referindo ao comportamento das crianas. Isto porque a
intencionalidade uma qualidade da ao violenta. Isto , preciso que o autor tenha
conscincia de que a sua ao pode causar danos ou prejuzos a outras pessoas. Alm
disso, os estudiosos chamam a ateno para a dimenso moral da violncia, que s pode
ser assim entendida quando quem age consegue reconhecer o certo e o errado na
vida e nas relaes com outras pessoas.
Desse modo a realizao de atos violentos pressupe que a pessoa j tenha desenvolvido
a capacidade de compreender e interpretar as situaes vividas. Por essas caractersticas
que definem o ato violento (ou a violncia), e considerando o desenvolvimento das
crianas na faixa etria de 0 (zero) a 5 (cinco) anos, no h como dizer que essas
crianas agem de forma violenta. Pois, mesmo que a vontade de incomodar ou
machucar possa estar presente nos motivos da criana, elas no conseguem avaliar de
forma completa as possveis consequncias de seus atos. Alm disso, no possuem
controle completo do prprio comportamento, estando mais suscetveis as reaes
provocadas pelas emoes. Devemos, ainda, lembrar que diferentemente das crianas
maiores e dos adultos, nessa faixa etria de 0 (zero) a 5 (cinco) anos, as crianas ainda
no tm completamente desenvolvida a linguagem. Por essa razo a emoo ainda
traduzida basicamente por meio de gestos. Esse entendimento coloca em questo
tambm a atitude de qualificar o comportamento das crianas de indisciplina, pois para
isso teramos que assegurar que elas j possussem pleno entendimento das regras de
convivncia social adotadas pelas instituies de Educao Infantil.
Os estudos pioneiros do psiclogo suo Jean Piaget alertam para o fato de a criana ir
construindo progressivamente sua moralidade, portanto, na Educao Infantil
complicado falarmos de indisciplina e violncia. J que esses conceitos tratam
respectivamente do desrespeito a regras e da inteno de prejudicar outro ser humano e
que as crianas atendidas pela Educao Infantil esto se inserindo no mundo da
moralidade e construindo paulatinamente as noes de certo e errado. Portanto, no
possvel cobr-las por agirem de determinado modo j que entre as finalidades dessa
etapa da educao est a promoo do desenvolvimento social a ajuda para que essas
crianas possam construir relaes com os outros de forma respeitosa.
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Outro conceito comumente utilizado nas escolas e em outros contextos para definir
determinados comportamentos das crianas o de agressividade. No entendimento do
psicanalista ingls Donald Woods Winnicott a agressividade vista como nossa energia
para ir ao encontro do mundo e do outro, como uma tendncia inata ao movimento, a
ao. As pessoas so ento desafiadas cotidianamente a encontrar meios de exercer sua
agressividade, o que pode ser feito, por exemplo, atravs das atividades de trabalho e
das brincadeiras. Sendo assim, a agressividade no est associada a comportamentos
negativos, ruins. Entretanto, essa mesma energia que nos pe em movimento pode
passar a ter outra funo quando no estamos nos sentindo bem conosco, com nosso
mundo interno. Nessas situaes a agressividade pode ser utilizada de modo a
hostilizar os que esto a nossa volta e nesse sentido que pode ser tida como um
sinnimo do conceito de violncia. Mesmo com essa segunda finalidade os atos de
agressividade hostis podem ser vistos como um pedido de socorro por parte da criana.
Como uma tentativa de encontrar no ambiente algo que lhe ajude a restaurar um
equilbrio interior perdido. Tendo como referncia essas diferenciaes seria mais
apropriado dizer que as crianas da Educao Infantil apresentam comportamentos
agressivos hostis e no comportamentos violentos ou mesmo comportamentos de
indisciplina.
O fato do comportamento das crianas no poder ser interpretado como violncia ou
indisciplina no diminui a importncia de se discutir esses temas na Educao Infantil,
j que as crianas podem, e so como j indicaram vrias pesquisas, vtimas de aes
violentas por parte dos adultos que deveriam educ-las. Ao agirem assim, esses adultos
no s desrespeitam os vrios direitos das crianas, como perpetuam modelos de ao
violentos que so extremamente danosos para o desenvolvimento dessas crianas.
Considerando essas idias, no presente texto temos como objetivo refletir sobre as
relaes entre crianas e adultos a partir das temticas da violncia, indisciplina e
agressividade. Inicialmente veremos as indicaes das Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educao Infantil que se relacionam a esses temas. Depois trazemos aspectos
tericos que ajudam a compreend-los melhor. Aps estas reflexes apresentamos
propostas e sugestes de atividades e experincias que possam lhe ajudar professora, a
criar um ambiente onde as relaes entre voc e as crianas, e delas entre si, possam
ocorrer de forma mais respeitosa e saudvel. Para concluir, sugerimos algumas leituras
sobre o desenvolvimento infantil e sobre os temas da violncia, indisciplina e
agressividade.
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Diretrizes
Um primeiro aspecto a ser destacado nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educao Infantil, estabelecidas pela Resoluo da Cmara de Educao Bsica do
Conselho Nacional de Educao CEB/CNE N 05, de 17 de dezembro de 2009, a
concepo de criana e de seu processo de desenvolvimento que deve orientar as
propostas pedaggicas. No Art. 4, a criana, tida como centro do planejamento
curricular, compreendida como um sujeito histrico e de direitos, que por meio das
interaes, relaes e prticas cotidianas que vivencia, constri sua identidade pessoal e
coletiva, assim como constri sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo
cultura. Esse processo de construo de sentido para o mundo fsico e social ocorre
atravs de diversos comportamentos, destacando-se: brincar, imaginar, fantasiar,
desejar, aprender, observar, experimentar, narrar, questionar.
Essa concepo sobre a criana e o modo como se desenvolve fortalece o lugar da
instituio de Educao Infantil como um ambiente privilegiado de trocas e relaes.
Onde as experincias particulares vividas no ambiente familiar podem ser ampliadas e
enriquecidas pelas interaes com outras crianas, adultos e objetos que no faziam
parte do cotidiano das crianas. A participao nesse novo ambiente vai tambm
influenciar o desenvolvimento da prpria identidade, sendo esse tambm um dos
objetivos da Educao Infantil. Ao acentuar a condio da criana como sujeito de
direitos as Diretrizes chamam a ateno para a legitimidade da presena da criana nas
instituies de Educao Infantil pelos benefcios que essa experincia pode trazer para
ela e no somente para que as necessidades de suas famlias sejam atendidas. Esse um
aspecto central e que a professora deve levar em considerao quando pensa nas
interaes que desenvolve com a criana nesse espao.
Ao longo da Resoluo outros aspectos complementam o Art. 4, reforando que as
propostas pedaggicas devem respeitar princpios ticos, polticos e estticos (Art. 6) e
que devem garantir o cumprimento das funes sociopoltica e pedaggica das
instituies de Educao Infantil, em especial por oferecer condies e recursos para
que as crianas usufruam seus direitos civis, humanos e sociais (Art. 7, inc. I). Ao tratar
do objetivo central das propostas pedaggicas garantir a criana acesso a processos de
apropriao, renovao e articulao de conhecimentos e aprendizagens de diferentes
linguagens as Diretrizes vo novamente evidenciar a necessidade de assegurar o
direito proteo, sade, liberdade, confiana, ao respeito, dignidade,
brincadeira, convivncia e interao com outras crianas. (Art. 8). Destaca-se aqui a
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importncia de que as relaes entre adultos e crianas sejam pautadas pelo respeito,
ficando explicitamente condenadas aes violentas, de negligncia, repreenso ou
castigo que possam causar prejuzos fsicos e psicolgicos as crianas (Art. 8, 1, inc.
X). O respeito aos direitos das crianas se coloca como algo central a ser contemplado
nas aes pedaggicas das instituies. Suas funes de cuidado e educao que so
compartilhadas e complementares a ao das famlias (Art. 7, inc. II) devem romper
com as vrias formas de relaes de dominao. Entre elas se destacam a que se
alimenta da diferena de idade, exigindo que as professoras estejam atentas para que os
comportamentos e atitudes exigidos dos adultos no se imponham sobre as necessidades
das crianas. Um exemplo disso pode ser a exigncia de que as crianas permaneam
quietas e caladas por longos perodos de tempo sem o envolvimento com atividades de
seu interesse. Esse controle j possvel e esperado por parte dos adultos pode ser motivo
de muita tenso e desgaste para as crianas. O respeito s especificidades das crianas
um meio de romper com o adultocentrismo largamente difundido na nossa sociedade.
Esse adultocentrismo se expressa quando o modo de se comportar do adulto
considerado o jeito mais correto e superior de lidar com a realidade. Por essa razo, a
principal tarefa educativa seria lapidar as crianas para que seu comportamento
inquieto, ilgico, desordenado, desse lugar ao controle do comportamento, uso da razo
e ordem presentes no comportamento adulto. Os estudos da sociologia da infncia
alertam o quanto esse adultocentrismo pode impedir que reconheamos a criana como
um sujeito pleno, que tem um modo particular de lidar com a realidade e que no
inferior ao do adulto. Esse alerta deve est presente cotidianamente nas instituies de
Educao Infantil. As atividades e rotinas devem ser planejadas de modo a assegurar
que essas aes sejam promotoras do processo de desenvolvimento dessas crianas,
considerando seus interesses, desejos e capacidades atuais, aes que devem ter sentido
para essas crianas e no para os adultos ou para o modelo de adulto que se pretende
atingir. Com isso no estamos dizendo que os adultos no devam colocar limites a ao
das crianas, quando essas se colocam em risco ou desrespeitam outras pessoas. O que
se coloca como relevante o modo como esse limite deve ser colocado. O dilogo, a
explicao, a indicao de como a criana deve agir em determinada situao, deve ser
o ponto de partida dessa atitude educativa. Uma criana que machuca o colega, por
exemplo, pode ser convidada a ajudar na limpeza de um corte ou arranho, para que
compreenda melhor as conseqncias de sua ao. Novamente as estratgias devem ser
pensadas considerando o momento de cada criana e no somente o ideal de adulto ou
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de disciplina da instituio. O objetivo de garantir igualdade de ateno e tratamento as
crianas pode auxiliar as instituies a romperem com as relaes de dominao
socioeconmica, tnico-racial, de gnero, regional, lingustica e religiosa (Art. 7, inc.
V). Ressalta-se aqui a necessidade de que as atividades, materiais e procedimentos
desenvolvidos nas instituies promovam a auto-estima das crianas. Nesse sentido
destaca-se a exigncia de que as condies particulares das crianas, como o sexo e cor
da pele, sejam foco de trabalhos que ajudem a enriquecer seu desenvolvimento.
Meninos e meninas precisam receber estmulos para desenvolver suas vrias
habilidades, sejam elas relativas ao movimento ou cuidado com o corpo. Pesquisas
evidenciam que as instituies tendem a repetir os modelos da sociedade quanto ao que
adequado aos meninos e as meninas. Estimulando nos meninos as brincadeiras de
movimento e luta e nas meninas as brincadeiras de cuidados com a casa e com o corpo.
As relaes de dominao tnico-racial tambm merecem destaque. As crianas
aprendem a se valorizar e se respeitar por meio das relaes com as outras pessoas. A
professora deve manter uma vigilncia atenta para que suas atitudes transmitam as
crianas o sentimento de que so aceitas e valorizadas, independentemente da cor de sua
pele. Pois, o modo como toca, conversa e escuta a criana pode faz-la se sentir aceita
ou rejeitada. Alm disso, importante que os materiais utilizados tambm no
reproduzam um ideal de beleza nico, em geral o da cor da pele branca e cabelos lisos,
que possa causar constrangimento as crianas que no tm essas caractersticas. Essa
ateno ao modo como as prticas pedaggicas devem acontecer so reforadas nos
incisos do Art. 9. Destacando-se a garantia de que as experincias promovam o
conhecimento de si e do mundo por meio da ampliao de experincias sensoriais,
expressivas, corporais que possibilitem movimentao ampla, expresso da
individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da criana (inc. I); e ampliem a
confiana e a participao das crianas nas atividades individuais e coletivas (inc. V).
A adoo da noo de criana e de processo de desenvolvimento colocada pelas
Diretrizes fortalece a importncia das instituies de Educao Infantil como contextos
privilegiados de desenvolvimento. No entanto, para que isso acontea necessrio
mudar as formas de relao entre adultos e crianas, seja na famlia ou na escola. Os
adultos so responsveis pelos cuidados e pela educao das crianas. Mas, preciso
lembrar que isto no retira dos meninos e das meninas, sua condio de sujeitos de
direitos que devem ser ouvidos e terem suas necessidades respeitadas no processo
educativo.
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Destaques
Compreendendo a criana como um sujeito scio-histrico que se desenvolve a partir
das relaes que vivencia, destacamos a seguir o modo como o conceito de
agressividade participa do processo de desenvolvimento infantil.
Os bebs nascem com a capacidade de tornar-se um ser social em todos os sentidos,
bastando que lhe deem as condies para desenvolver essa capacidade. A funo do
meio ambiente (a famlia, em primeiro lugar, e depois a pequena "sociedade" em que a
criana cresce) de proporcionar ao novo indivduo suficiente estabilidade e
confiabilidade para que ele se sinta seguro de si e, em consequncia, seja capaz de
perceber o outro e de devolver-lhe o que recebeu. Quando aqueles que cuidam da
criana atrapalham seu desenvolvimento, interferem demais (invadindo) ou de menos
(abandonando), surgem s doenas. Nessa concepo de desenvolvimento a
"agressividade" tida como o impulso para agir, para ir em busca de algo, para sair do
lugar. sinnimo de iniciativa, de energia empregada num movimento ou do uso livre
da capacidade de desejar e tentar alcanar a coisa desejada. Nesse sentido, ela
fundamental no desenvolvimento saudvel da criana. Alm dessa primeira funo, a
agressividade pode se transformar em hostilidade, quando a criana no se sente bem
consigo mesma e demonstra isso machucando outras pessoas ou a si mesma. Esses atos
so um pedido de socorro para que as outras pessoas possam ajud-la a modificar seus
sentimentos ruins. Nessas situaes a agressividade pode ser tida como um sinnimo
da violncia, se o autor pode distinguir o certo do errado e tem conscincia dos
danos que pode causar as outras pessoas.
Retomando a definio trazida anteriormente de restringir o conceito de indisciplina aos
comportamentos que dificultam o exerccio da prtica pedaggica; vale destacar que os
prprios autores alertam para o fato de o conceito ser traduzido de modo particular em
cada contexto escolar. As regras so socialmente construdas e isso faz com que um
mesmo comportamento seja avaliado de modo diferente conforme o lugar em que
acontea. No que se refere Educao Infantil, esse alerta se torna ainda mais
contundente, pois primeiramente devemos pensar nos objetivos dessa etapa da educao
e na adequao dos modelos pedaggicos que utiliza. Estudos indicam que muitas
instituies de Educao Infantil importaram o modelo pedaggico tradicional das
outras etapas da educao. Colocando como comportamento ideal das crianas o mesmo
esperado de um bom aluno que deve permanecer quieto e calado. A adoo desse
modelo complicada se considerarmos a necessidade de promover o desenvolvimento
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integral das crianas. O uso do corpo e da linguagem deve ser amplamente estimulado
visto que so ferramentas essenciais apreenso do mundo fsico e social. Alm disso,
as crianas devem contar com o apoio dos adultos e das outras crianas para
progressivamente aprenderem a coordenar e dirigir voluntariamente seus
comportamentos.
O entendimento do conceito de agressividade na forma proposta neste texto compartilha
dessa idia da criana como um ser ativo no seu processo de desenvolvimento que lana
mo dos recursos de que possui para se relacionar com o mundo e as pessoas que esto
sua volta. Quando essas relaes vo bem e conseguem propiciar criana a sensao
de que ela amada, o ambiente permite que a criana vivencie a sensao de segurana.
Esse sentimento possibilita criana encontrar formas construtivas para lidar com a
raiva, a frustrao, o medo etc. Um dos principais mecanismos para fazer isso so as
brincadeiras de faz-de-conta onde as crianas podem exercer suas fantasias de
destruio de modo inofensivo. Entretanto quando a criana no est se sentindo em
segurana, ela tem dificuldades em aceitar seus sentimentos negativos e sente a
necessidade de externar seu mal-estar para que algum lhe ajude a conter-se, para que
ela no coloque em risco seu prprio corpo e sua frgil personalidade que est em
construo.
A professora de Educao Infantil deve estar atenta para diferenciar a agressividade
espontnea, que coloca a criana em constante movimento e atividade, da agressividade
hostil presente nos comportamentos em que a criana machuca os colegas ou a si
mesma. Por exemplo, o beb que comea a morder os objetos e acaba tambm
mordendo o colega, pode estar fazendo isso por ainda no diferenciar o que pode e o
que no pode ser mordido. Como ele ainda no tem plena conscincia de seu corpo ele
tambm no tem como se colocar no lugar do outro e saber que ir causar dor e
desconforto. Portanto, a conduta deve ser de ajud-lo a fazer essa distino, indicando o
que pode e o que no pode ser mordido. J se outra criana maior, que j tem noo do
que pode ou no ser mordido, morde um colega preciso que a professora procure
investigar junto com a criana as razes dessa conduta, mostrando-lhe formas
alternativas de resolver os conflitos, demonstrar a raiva, a insatisfao. Uma
possibilidade de ajuda oferecer a essa criana atividades em que possa descarregar sua
energia sem machucar os colegas as atividades motoras so propicias a essa funo
pular corda, saltar pneus, danar, subir e descer escadas etc. preciso tambm que a
professora ajude a criana a nomear seus sentimentos e emoes, perguntando se ela
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estava com raiva, se estava nervosa etc.; e tambm que apresente a criana o dilogo
como a principal ferramenta de negociao entre as pessoas. A professora pode
inclusive apresentar para a criana possveis frases para que ela falasse para o colega de
seus sentimentos/emoes ou mesmo ajudar a criana a ter essa conversa com o colega,
se ela assim desejar. A noo da infncia como uma fase de descoberta da cultura deve
contemplar tambm o mundo da moralidade, compreendendo que as crianas aprendem
o que certo e errado e o modo como devem se comportar atravs das experincias que
vivem. Portanto, fundamental propiciar momentos em que sejam trabalhadas as
noes de eu-outro, meu-seu, certo-errado, cooperao, colaborao. A grande temtica
dos direitos humanos pode servir de eixo condutor de vrias atividades, j que
contemplam os temas maiores das relaes democrticas e respeitosas entre as pessoas.
O respeito diversidade e a considerao da riqueza que ela proporciona ajuda a
construir um ambiente cooperativo. O modo de prevenir a agressividade hostil
justamente oferecer um ambiente em que a criana se sinta segura e respeitada e tenha
liberdade para demonstrar sua raiva e insatisfao.
As reflexes acima reforam a importncia das relaes entre adultos e crianas e
indicam o quanto essas interaes podem promover ou dificultar o desenvolvimento das
crianas. Como vimos, a agressividade hostil pode ser resultado de interaes de m
qualidade vivenciadas pelas crianas. Essas interaes tanto podem acontecer no
ambiente familiar quanto nas instituies de Educao Infantil e nos dois casos
preciso uma interveno dessas instituies.
No caso de suspeita de que a criana esteja sendo vtima de violncia no ambiente
familiar, as instituies devem se portar conforme indicado na Constituio Federal de
1988 e no Estatuto da Criana e do Adolescente (Lei 8069 de 13 de julho de 1990) -
ECA. A garantia da proteo dos direitos das crianas e adolescentes como dever do
Estado e da famlia aparecem nesses instrumentos legais e indicam o imperativo de
denunciar a suspeita ou confirmao de maus tratos e demais violncias contra as
crianas. Como colocado pelo art. 13 do ECA a instituio deve comunicar suas
suspeitas ao Conselho Tutelar do municpio. Considerando o pblico atendido pela
Educao Infantil essa denncia se coloca como ainda mais necessria, visto que nos
anos iniciais as crianas so totalmente dependentes dos cuidados dos adultos, no
tendo fora fsica, compreenso e mesmo condies financeiras para se afastar
voluntariamente de um agressor.
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Cabe destacar que as denncias ao Conselho Tutelar podem ser feitas de forma
annima, garantindo a segurana de quem prestou essa informao.
Merece especial ateno nesse texto, as ocorrncias de maus tratos no interior das
instituies de Educao Infantil. Para tratarmos desse tema voltaremos a falar de
violncia e disciplina. Muitas ocorrncias de violncia contra as crianas ocorrem
porque a professora acredita est fazendo o que melhor para a criana, tendo como
base um modelo disciplinar que prega a necessidade da obedincia a qualquer custo.
Uma criana que obrigada a ficar ao lado da professora porque bateu em um colega,
est sendo castigada e esse ato pode ser interpretado como uma violncia fsica e
psicolgica contra essa criana. Entretanto, se a professora estiver somente preocupada
em manter a disciplina na sua sala de aula, pode considerar que essa atitude
importante para que essa criana aprenda a controlar seus movimentos e a no
desobedecer. Aqui vemos novamente o adultocentrismo em cena e a desconsiderao
das necessidades da criana. Esse castigo pode criar um desgaste fsico e emocional
para essa criana. Ao se sentir desconfortvel, ela provavelmente vai novamente repetir
o comportamento agressivo hostil contra o colega, j que no foi ajudada a entender e
resolver a situao de outro modo. Diante do novo episdio de bater no colega a
professora pode repetir o mesmo castigo, ou vari-lo deixando essa criana sem o seu
tempo de parque, por exemplo, e assim o ciclo de castigos ser mantido.
Abrir os olhos e a percepo fundamental, professora, se quisermos de fato promover
uma educao respeitosa, que retire o grande poder dos adultos sobre as crianas.
Somos fisicamente mais forte e temos como principal tarefa servir de exemplo para o
comportamento dessas crianas. Se ao agirmos nos utilizamos de meios violentos para
educ-las, o que poderemos esperar do comportamento delas? Essas reflexes devem
ser feitas diariamente para que consigamos quebrar com as armadilhas dos modelos
autoritrios de educao das crianas. Esses modelos entendiam e defendiam as
punies e os castigos como ferramentas eficazes na formao de pessoas dceis e
obedientes. O mais difcil de romper com esses modelos que eles estariam justificados
por um ideal nobre tornar a criana um adulto de bem. Portanto, cabe novamente
questionar e refletir sobre as regras e normas das instituies de Educao Infantil,
lembrando que devem promover o desenvolvimento integral das crianas, no momento
presente e no pelo que futuramente elas devam ser. Esse objetivo maior invalida as
aes disciplinares que exijam controle corporal e da fala. Desse modo fundamental a
avaliao cotidiana das atitudes dos adultos com as crianas para que esses modelos
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violentos sejam banidos das instituies de Educao Infantil. Tendo em vista todas as
reflexes acima, passemos ento s propostas concretas de atuao no cotidiano das
creches e pr-escolas.
Sugestes de Aes, Propostas, Projetos
Neste tpico resolvemos dividir as sugestes em trs partes: a) orientaes gerais de
organizao das prticas pedaggicas nas instituies de Educao Infantil; b) sugestes
para o trabalho com crianas de 0 a 3 anos; c) sugestes para o trabalho com crianas de
4 e 5 anos.
Orientaes gerais
Considerando o modo como compreendemos a agressividade, antes de apresentar
sugestes de prticas diretas com as crianas consideramos importante tratar de aspectos
gerais do modo de organizao das instituies de Educao Infantil que podem
contribuir para o desenvolvimento scio-afetivo das crianas e para a promoo de seu
desenvolvimento moral.
O estabelecimento de um ambiente de confiana fundamental para a tranqilidade e
bem-estar daqueles que partilham um mesmo espao. Tornar a instituio de Educao
Infantil um lugar agradvel para os adultos e crianas um primeiro passo para
fortalecer o trabalho educativo que acontece. Como estamos falando de um sentimento,
o modo de garantir a ocorrncia e manuteno dele se d por meio das relaes que se
estabelecem entre as crianas e delas com os adultos. Uma relao para propiciar
segurana precisa contar com os ingredientes do respeito, da ateno e do cuidado.
Considerando as especificidades da infncia e o direito proteo que essa etapa exige,
os adultos devem garantir que as relaes vivenciadas no ambiente das instituies
ocorram do melhor modo possvel. Para tanto devem estar constantemente atentos
postura corporal, modulao de voz e utilizao da linguagem oral. O modo como
nos comunicamos com o outro ajuda bastante na promoo de uma relao respeitosa e
cuidadosa, portanto devemos buscar a proximidade com a criana, tentar falar no tom
mais baixo possvel e escolher palavras que possam facilitar o entendimento do que
queremos dizer. Agindo desse modo as professoras oferecem s crianas modelos de
relao que podem servir de inspirao para as relaes que as crianas desenvolvem
com as demais crianas e adultos. Esses princpios podem inclusive ser trabalhados e
ensinados por meio de atividades que promovam a cooperao e a colaborao.
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Outro item que pode auxiliar o estabelecimento de um ambiente de confiana a
familiaridade com os espaos e tempos da instituio. Esse um aspecto relevante e que
por vezes mal compreendido. A organizao das atividades nas instituies de
Educao Infantil deve seguir uma rotina que auxilie as crianas a antecipar os eventos
e com isso minimizar a ansiedade diante do desconhecido. Entretanto, o
estabelecimento da rotina no pode engessar as interaes e se impor aos ritmos e
especificidades das crianas. A utilizao dos espaos e a realizao das atividades
devem acontecer de forma prazerosa e possibilitar o aproveitamento de situaes
inusitadas que podem enriquecer o processo de aprendizagem das crianas. Para isso
preciso que o tempo pensado pelo adulto seja flexvel de modo a respeitar o ritmo das
crianas. Um exemplo do que estamos falando pode ser a hora do descanso momento
planejado para que as crianas durmam, em geral depois do almoo e na troca de turno
de alguns profissionais. No razovel que o sono seja uma atividade imposta s
crianas, portanto apesar de planejar esse momento preciso que se tenham outras
opes para as crianas que por ventura no tenham sono ou no queiram permanecer
deitadas. Se no houver essa flexibilidade um momento que poderia ser de grande
relaxamento para a criana poder se transformar em tenso e desconforto.
desejvel que tambm se minimize a rotatividade de professoras que lidam
diretamente com as crianas. A convivncia diria favorece o estabelecimento de
vnculos e trocas afetivas saudveis entre as crianas e os adultos responsveis pela sua
educao. Conhecendo de modo particular cada criana as professoras podem
desenvolver estratgias mais adequadas para a sua educao. Sendo assim, quando no
possvel manter o mesmo profissional, essa troca deve ser feita com a informao s
crianas sobre os motivos que levaram a sada da professora. Essa mesma ateno deve
orientar a organizao da jornada de trabalho dos profissionais que atendem os bebs e
as crianas que ficam nas instituies em horrio integral. Deve-se minimizar a
rotatividade dos adultos para garantir o estabelecimento de relaes mais estveis com
os bebs e as crianas. As instituies devem tambm ter no planejamento do horrio de
trabalho das professoras momentos de formao continuada e planejamento das
atividades, garantindo com isso a sade e satisfao das mesmas com o ambiente de
trabalho. A ateno as condies de trabalho das professoras pode facilitar bastante o
trabalho que elas desenvolvem diretamente com as crianas. Sentindo-se valorizadas e
respeitadas podero tambm promover esses sentimentos nas crianas.
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O nmero de crianas por adulto outro fator relevante na criao de um ambiente de
segurana e proximidade. O Parecer CNE/CEB N 20/2009, publicado no Dirio Oficial
da Unio do dia 11/11/2009, recomenda, no caso de agrupamento de crianas por faixa
de idade, a proporo de 6 a 8 crianas por professora (no caso de crianas de zero e um
ano), 15 crianas por professora (no caso de criana de dois e trs anos) e 20 crianas
por professora (nos agrupamentos de crianas de quatro e cinco anos). As instituies
que trabalham em turno integral precisam aumentar o nmero de adultos e de
preferncia prever a existncia de duas professoras por turma para garantir que a
realizao das atividades de higiene e alimentao aconteam de forma tranquila.
O acesso das famlias ao espao da instituio tambm favorece o estabelecimento de
um ambiente de confiana. Percebendo que seus familiares podem transitar pela
instituio e que valorizam este espao, as crianas podem se sentir mais motivadas a
permanecer nesse ambiente. Esse acesso deve ser privilegiado no momento de ingresso
e adaptao das crianas na instituio. O momento de adaptao fundamental para
um bom vnculo da criana com a instituio e a professora, portanto, deve ser
planejado de modo a contemplar as necessidades, anseios e sentimentos dos bebs,
crianas e de seus familiares. Sendo assim no possvel pensar um tempo rgido para
que um familiar acompanhe o beb ou a criana nos primeiros dias. J so conhecidas as
estratgias do familiar da criana permanecer perodos de tempo na instituio que
progressivamente vo sendo diminudos. Aqui, novamente cabe o alerta quanto a
procedimentos rgidos que ignoram ou menosprezam os choros e demais expresses dos
bebs e crianas no perodo de adaptao. Nas instituies que zelam pelos direitos das
crianas no h lugar para antigas crenas de que os bebs devem ficar chorando
sozinhos sem aconchego para que se acostumem com o lugar e no fiquem
manhosos, Ou seja, no h justificativa para negligenciar a expresso da criana e no
auxili-la nesse momento delicado. E no caso de no acolher o beb, a professora est
agindo de modo violento, desrespeitando os direitos de segurana e sade desse beb.
Resta ainda destacar que mesmo depois do perodo de adaptao importante manter o
acesso das famlias nas instituies de preferncia com a realizao de atividades
coletivas entre crianas, professoras e familiares.
A capacidade de brincar j est presente desde o nascimento e se estende por toda a
nossa vida, sendo na infncia o principal meio de construo de conhecimentos e
apropriao da cultura. A brincadeira deve ser estimulada e integrada em todo o
cotidiano do trabalho das instituies de Educao Infantil. Ressalta-se que alm de
-
planejar e estimular brincadeiras compatveis com a faixa etria das crianas deve-se
planejar tempos e espaos para a brincadeira livre, entendida como aquela que as
crianas escolhem o qu e como fazer. O ato de brincar j em si uma atividade que
promove o desenvolvimento, portanto, no preciso que as professoras fiquem
preocupadas em tornar essa atividade pedaggica atravs de perguntas ou intervenes
que direcionem o comportamento das crianas. Deve-se, entretanto, manter um olhar
atento que garanta uma interveno rpida no caso de algum acidente ou na ocorrncia
de brigas e discusses entre as crianas. Outro item de destaque, em especial no que diz
respeito ao tema da agressividade uma crena de que no se devem permitir
brincadeiras de lutas e combates entre as crianas e em especial entre os meninos
porque isso seria um estmulo violncia. Conforme dito anteriormente a brincadeira
um dos modos de manifestar a agressividade de forma construtiva, portanto, no h
porque proibir as lutas e combates j que atravs delas as crianas podem liberar energia
sem machucar o outro. Ressalta-se a necessidade de que as crianas sejam percebidas
como sujeitos que partilham com os outros seres humanos todos os sentimentos e
emoes, tanto as consideradas positivas, como as consideradas negativas. Essa
percepo auxilia os adultos a no condenarem as expresses de raiva e frustrao e a
ajudarem as crianas a encontrar formas construtivas para essas expresses.
Outro aspecto que merece ser ressaltado a necessidade de trabalhos individualizados
com as crianas nas instituies de Educao Infantil. Como cada criana tem um
percurso nico importante que as professoras estejam atentas as necessidades
singulares que precisam ser trabalhadas de modo particular. Pensando especificamente
na situao de crianas que apresentem uma grande frequncia de comportamentos
agressivos contra os colegas fundamental que se busque conhecer as motivaes dessa
criana e que se encontre alternativas que lhe auxilie a modificar sua conduta. Uma
criana com a linguagem oral pouco desenvolvida pode recorrer somente aos gestos
para retirar os brinquedos da mo dos colegas. Agindo assim pode acabar sendo
rejeitada e excluda do grupo. Nesse caso a professora precisa intervir ajudando essa
criana a se comunicar melhor para que ela consiga interagir de forma mais saudvel
com as outras crianas. Para tanto pode usar atividades de dramatizao e reconto de
histrias tanto para promover a linguagem oral como para estimular os valores de
cooperao e solidariedade. Tenho como exemplo o relato de uma professora de
Educao Infantil ao perceber que uma das crianas estava sendo rejeitada pelos
colegas. Em vez de pedir diretamente para que a turma aceitasse e acolhesse a criana
-
rejeitada, ela contou uma histria para a turma. Nessa histria uma criana expressava o
quanto se sentia triste porque no era convidada pelos colegas de escola para participar
das brincadeiras. Com essa histria as crianas se sensibilizaram e passaram a incluir
aquela que estava sendo discriminada pelo grupo.
Por fim, nessas orientaes gerais, destaca-se a novamente a necessidade de abolir os
castigos fsicos e as humilhaes do ambiente das instituies de Educao Infantil. Se
quisermos promover um ambiente de confiana incompatvel expor as crianas a
situaes que provoquem desconforto e mal-estar, especialmente perante os colegas.
Essa questo bastante sria e fere frontalmente a concepo da criana como um ser
de direito, como cidad. No incomum ouvirmos ou presenciarmos crianas que
desobedeceram as ordens da professora sendo colocadas de p, ou sentadas em um lugar
mais afastado da sala ou do ptio para pensar no que fizeram, ou mesmo serem
humilhadas perante os colegas com afirmaes do tipo: Fulano um beb gente, ainda
no sabe calar o tnis. Esse tipo de atitude desrespeitosa por parte da professora pode
no s estigmatizar essa criana perante os colegas como dificultar o seu envolvimento
nas demais tarefas da instituio. O sentimento de inadequao proveniente desse tipo
de castigo e humilhao pode fazer com que a criana repita o padro de conduta
indesejado, j que no ajudada a agir de forma diferente. Outras formas de violncia
mais silenciosas podem acontecer na rotina dos bebs. Temos como exemplo os
momentos de alimentao e higiene, quando so obrigados a comer alimentos que no
querem ou permanecer muito tempo com as roupas molhadas e sujas. A situao nesses
casos ainda mais preocupante porque os bebs so completamente indefesos,
dependendo inteiramente dos cuidados de outras pessoas. Destaca-se aqui a necessidade
de que as professoras compreendam as diversas linguagens dos bebs e crianas e em
especial o papel e lugar das emoes. A importncia de reconhecer e escutar o choro das
crianas, acolhendo e respeitando essa forma de manifestao exige que a professora
consiga controlar suas prprias emoes. A teoria do psiclogo francs Henri Wallon
pode ajudar nesta tarefa. Ela nos adverte sobre o poder de contgio das emoes e sobre
a necessidade de interromper o estado alterado de percepo que ela acarreta se
quisermos desenvolver alguma atividade cognitiva. Portanto, cabe a professora ajudar a
criana a sair do estado emocional alterado e recobrar sua estabilidade. Nesse sentido,
se corrobora a necessidade de momentos coletivos de formao continuada que
garantam s professoras reflexes sobre seus prprios comportamentos. Essas
consideraes nos colocam novamente as concepes de disciplina e violncia, pois o
-
uso dos castigos geralmente est apoiado em um modelo disciplinar rgido em que a
criana deve obedecer a todas as ordens dos adultos. Ao agir conforme esse modelo a
professora, s vezes at de modo inconsciente, se torna violenta, j que desrespeita os
direitos e necessidades dos bebs e crianas. Alm disso, conforme colocamos no incio
desse texto, as crianas j so expostas cotidianamente a modelos violentos de
relacionamento, por essa razo a instituio deve promover e apresent-las outras
formas de relao. A professora deve sempre ter em mente que por meio das
interaes que a criana constri o conhecimento sobre o mundo e sobre si mesma. Por
isso, o modo como as relaes ocorrem na instituio uma das principais ferramentas
de formao das crianas e bebs. Isso coloca a relevncia de que as crianas no sejam
expostas a modelos violentos nesses ambientes, j que diante dessas experincias podem
acabar aprendendo que esse o modo como tambm devem agir e resolver seus
conflitos. Relembramos, novamente, como destacado nas Diretrizes, o compromisso
tico das professoras e gestoras em garantir e promover a implementao dos direitos
sociais e civis das crianas dentro e fora das instituies. Ao perceber que um beb ou
uma criana esteja sendo vtima de violncia no ambiente familiar, a professora e/ou
gestora deve comunicar o Conselho Tutelar do municpio.
Sugestes para o trabalho com crianas de 0 a 3 anos
Um primeiro aspecto necessrio no trabalho com essa faixa etria modificar antigas
crenas de que at o surgimento da linguagem os bebs no teriam inteligncia, ou no
seriam inteligentes. Jean Piaget nos mostra com uma riqueza de detalhes o quanto o
desenvolvimento se incrementa e se enriquece no primeiro ano de vida, possibilitando
aos bebs avanos na compreenso do mundo, das pessoas e de si mesmo. Essa viso
acentua a necessidade de um cuidado atento e respeitoso que possibilite ao beb a
sensao de que est constantemente amparado e seguro. De modo prtico isso pode ser
atingido com uma resposta dos adultos s necessidades de alimentao e higiene quando
estiverem causando desconforto ao beb. Nos primeiros anos de vida importante
manter um padro de comportamento que interprete as expresses sonoras e fsicas do
beb e lhe oferea o cuidado adequado: troca de fralda, substituio de roupa, oferta de
alimento etc. Alm disso, com o incremento das habilidades motoras importante que
esse beb tenha oportunidades de exercitar essas habilidades. Promover oportunidades
de deslocamento seguro e contato com objetos auxilia a progressiva construo que o
beb faz do mundo objetivo e de si mesmo como um objeto separado desse mundo. No
ambiente da Educao Infantil, que recebe as crianas desde os primeiros meses de
-
idade, os rituais de higiene e alimentao merecem, portanto toda a ateno da
professora, j que sua funo est muito alm da satisfao fsica dessas necessidades,
contribuindo efetivamente no desenvolvimento desses bebs. Perceber a importncia
desses momentos e realiz-los com a ateno devida significa colocar em prtica a viso
da indissociabilidade do cuidado e da educao, o que se faz imperativo nesse momento
da vida dos bebs. O toque, o acolhimento e o afago so aliados do processo de
desenvolvimento sendo to educativos quanto oferta de um brinquedo ou a leitura de
uma histria.
Estimular a expresso dos bebs e crianas por diversas linguagens facilita o
desenvolvimento scio-afetivo e moral. O conforto proporcionado pelas cantigas de
ninar que tm uma funo tanquilizadora para os bebs pode inspirar vrias atividades
com essa faixa etria. O estmulo aos movimentos tambm pode ser desenvolvido com
msicas mais didticas que tm em suas letras referncias diretas s partes do corpo,
como com msicas clssicas e populares que tenham ritmo agradvel e convidem s
crianas e bebs ao movimento e dana. A leitura e dramatizao de histrias tanto
auxiliam na aquisio e incremento da linguagem verbal como na insero na cultura,
ajudando-os a reconhecerem os valores e comportamentos estimulados pelo grupo onde
vivem. Todas essas atividades podem auxiliar os bebs e as crianas a se sentirem
respeitados, amados e acolhidos, facilitando, portanto seu processo de desenvolvimento
scio-afetivo e de construo de sua personalidade. Desse modo, a instituio possibilita
a expresso da agressividade de forma construtiva, o que pode minimizar a necessidade
de comportamentos agressivos hostis por parte das crianas. Ainda assim, a professora
deve estar preparada e aberta para lidar com a ocorrncia de comportamentos agressivos
hostis, buscando compreender esses comportamentos e auxiliando a criana a encontrar
outras formas de manifestar sua agressividade. Lembramos que a qualificao do
comportamento como agressivo uma atitude da professora ou do adulto que est
interagindo com a criana, pois ela mesma ainda no tem plena compreenso de si e do
outro. Vejamos um exemplo: um beb est sentado ao lado de outro e ao pegar um
boneco de borracha que faz barulho, bate com esse boneco no cho e depois no colega
algumas vezes. O adulto ao ver essa ao quem interpreta e qualifica esse
comportamento como uma agresso ao colega, pois o beb provavelmente s est
interessado na mudana de sons que ocorre quando deixa de bater o boneco no cho e
bate com o boneco no colega. Mesmo considerando o ponto de vista do beb, a
professora deve intervir na situao explicar a ele que a sua ao pode incomodar o
-
colega e que ele no deve repeti-la. Pode inclusive oferecer outros objetos, como uma
cadeira, para que o beb possa bater o boneco e perceber as mudanas de sons. Resta-
nos explicitar que a interpretao do comportamento influencia no modo como os
adultos interagem com os bebs e crianas. Portanto, uma interpretao equivocada que
considerasse que o beb sabe o que est fazendo e tentou machucar o colega,
poderia fazer com que a professora olhasse para o beb e se comunicasse com ele de
forma grosseira. Passando a impresso de que ele fez algo errado e que deve ser
repreendido por isso. Agindo assim, a professora pode perder a oportunidade de
enriquecer os conhecimentos do beb e ainda faz-lo sentir-se mal. Por isso, insistimos
na relevncia de buscar compreender a motivao dos comportamentos de bebs e
crianas considerando suas especificidades.
As dramatizaes de histrias se constituem em elemento que pode contribuir bastante
para o desenvolvimento moral das crianas. Vygotsky j nos alertou para a importncia
da brincadeira do faz-de-conta como um exerccio dos papis sociais e das regras
inerentes a eles. Com os bebs j possvel familiariz-los com essa linguagem
oferecendo espetculos de teatro. Instituies italianas j desenvolvem essa atividade h
alguns anos e evidenciaram o interesse dos bebs desde os 6, 7 meses para os
espetculos teatrais. Com as crianas de 2 e 3 anos j possvel inclusive fazer
pequenas dramatizaes, respeitando o ritmo e envolvimento delas. A possibilidade de
vivenciar os personagens oferece as crianas um modo de se aproximar dos valores
culturais e do ponto de vista dos outros, o que contribui bastante para seu
desenvolvimento moral. Alm disso, por meio das dramatizaes as crianas podem
exercitar sua capacidade destrutiva, se permitindo exteriorizar os sentimentos ruins e
angstias que podem lhe causar sensaes desagradveis. As possibilidades da
linguagem teatral so muitas e se estendem para a prxima faixa etria.
Lembramos, que conforme a teoria de desenvolvimento moral de Piaget por volta dos
2 anos que a criana inicia sua relao com o mundo das regras e normas. O acesso
linguagem verbal inaugura um novo universo que amplia sobremaneira a relao da
criana com a cultura, portanto, todas as formas de enriquecer e aprimorar essa
poderosa forma de comunicao e expresso so vlidas.
Sugestes para o trabalho com crianas de 4 e 5 anos.
O incremento das capacidades motoras e lingusticas ocorrido nos trs primeiros anos
pode ser potencializado no trabalho com as crianas de 4 e 5 anos. A advertncia s
professoras dessa fase no perder de vista o fato de que essas crianas continuam
-
necessitando e utilizando os movimentos e brincadeiras como modos predominantes de
relao com o mundo e a cultura. O fato de j estarem atentas ao mundo das regras e
normas acentua a possibilidade de envolver as crianas na definio dos modos de
funcionamento da instituio. Essa participao pode ocorrer tanto no mbito da turma,
estabelecendo as regras vlidas para as atividades que acontecem no grupo; como pode
envolver todas as crianas da instituio, para estabelecer regras gerais que valem em
todos os espaos. Essa participao oferece criana a possibilidade de ampliar seu
ponto de vista e reconhecer as necessidades das outras pessoas. O fato de ter ajudado a
construir uma regra, torna a criana mais comprometida com seu cumprimento.
Outra tarefa importante auxiliar as crianas a reconhecerem e nomearem seus
sentimentos. Devemos lembrar que como recm-chegadas cultura ainda no
conseguem compreender e nomear o que sentem. Uma tarefa digna de ateno ajudar
a criana a expressar o que est sentindo. No momento que ela consegue fazer isso
interrompe a descarga de energia prpria das emoes e pode ento recuperar sua
estabilidade emocional.
O processo de desenvolvimento uma teia que vai sendo construda a partir de nossas
experincias com as outras pessoas e com os objetos. Nossas capacidades afetivas
(relativas s emoes, sentimentos, valores, crenas), motoras (relativas ao
movimentos) e cognitivas (relativas a inteligncia, conhecimento e compreenso do
mundo) so os instrumentos que possibilitam essas experincias. Ao mesmo tempo, as
experincias promovem modificaes em cada uma dessas esferas, ampliando,
reduzindo, ou mesmo cristalizando nossas capacidades afetivas, motoras e cognitivas.
Sendo assim, as instituies de Educao Infantil devem continuar valorizando a
diversidade de linguagens das crianas de 4 e 5 anos, entendendo que sua finalidade
promover o desenvolvimento em todas as suas esferas e no somente na dimenso
cognitiva. A ateno aos comportamentos e relaes que a criana vivencia se afigura
como central nessa viso, j que o conhecimento do mundo no ocorre de modo
dissociado do autoconhecimento.
Jean Piaget j defendia que as atividades escolares acontecessem por meio do trabalho
em grupo e do autogoverno. Essas ferramentas podem auxiliar a criana em seu
desenvolvimento moral promovendo a internalizao das regras e a construo do
sentimento de justia. Conforme sua teoria at aproximadamente os 2 (dois) anos a
criana desconhece o mundo das regras, estando no estgio denominado de anomia.
Este termo refere-se ao desconhecimento da existncia das regras e leis; ou seja, nesses
-
primeiros anos a criana sequer tem conscincia de que existem leis e regras a serem
seguidas. Com o uso da linguagem a criana inicia seu contato com as regras e comea
a distinguir progressivamente o que considerado certo e errado na cultura onde vive.
Num primeiro momento a criana acredita que as regras tm fora por virem de um
agente externo de maior autoridade, como os adultos ou mesmo Deus. Depois com a
maior convivncia com outras crianas e adultos em situaes diversificadas que sejam
reguladas por normas e regras, a criana passa a compreender que as regras so criadas
pelas pessoas e que podem mudar conforme o lugar e as situaes. Esse perodo que se
estende at os 11, 12 anos denominado de heteronomia. Com a adolescncia pode ter
incio o terceiro estgio, denominado de autonomia, quando conseguimos entender as
regras e normas, ter conscincia do valor relativo delas e fazer a opo consciente de
adot-las pelo seu valor intrnseco, ou seja, por compreender que ela traz benefcios.
Essa viso acentua a importncia das escolas contriburem para o desenvolvimento
moral das crianas ajudando-as a construrem as noes de certo e errado e a
internalizarem os valores presentes em nossa cultura O sentimento de justia
acompanha essa evoluo do desenvolvimento moral, no estgio da heteronomia o
julgamento das aes est atrelado as suas consequncias sem levar em considerao a
intencionalidade do autor. Por exemplo, se perguntarmos a uma criana de 4, 5 anos de
idade o que deve acontecer com um menino que quebrou sem querer 10 pratos e um
menino que quebrou por querer 1 prato, provavelmente ela ir nos dizer que o que
quebrou dez pratos deve receber um castigo maior, desconsiderando o fato de essa ao
ter acontecido por acidente e no por vontade do menino. A transio desses estgios
no acontece de forma espontnea e as crianas s chegaro ao estgio da autonomia se
tiverem experincias sociais que favoream o autogoverno, tambm chamado de
autocontrole. Sendo assim, o estmulo e a possibilidade de exerccio da autonomia
devem estar presentes no ambiente das instituies de Educao Infantil desde os
primeiros anos das crianas, podendo ser incrementado nessa faixa etria de 4, 5 anos.
A organizao do material pessoal nos momentos de chegada e sada da instituio
uma atividade que pode ser estimulada desde as crianas de 2, 3 anos. A escolha de
atividades e de parceiros pode fazer parte da rotina das crianas de 4 e 5 anos. Os jogos
com regras podem auxiliar o desenvolvimento moral, facilitando a compreenso e
internalizao das normas. Auxiliam tambm na aprendizagem do modo como lidar
com os sentimentos de orgulho, em geral provenientes das vitrias, como com a
frustrao, que costuma acompanhar as derrotas. Retomando diretamente o tema da
-
agressividade, os jogos podem servir como outra modalidade de expresso da
agressividade. A garra, a disposio e o envolvimento exigido nas situaes de
competio possibilitam a criana manifestar sua fora atravs dos movimentos e
palavras. Ressalta-se que as professoras podem desenvolver tarefas tanto com jogos j
disponveis na cultura, como desenvolver novos jogos com as crianas. Os jogos que
envolvem a aquisio de conhecimentos so boas ferramentas para trabalhar no s o
desenvolvimento afetivo e motor, mas tambm o desenvolvimento cognitivo.
Considerando as possibilidades j descritas das dramatizaes, vale reafirmar a
possibilidade de desenvolver essas atividades com a faixa etria de 4, 5 anos. Nessa
idade j possvel incrementar as representaes trabalhando no s com a atuao
direta das crianas, mas tambm com a criao e confeco de figurinos, msicas,
cenrios e adaptaes de textos. O encanto despertado pelas leituras das histrias
clssicas pode ser bastante aproveitado para propiciar s crianas a troca de papis,
saindo do lugar de expectadores para o lugar de atores e produtores. Essa atividade um
bom exemplo do conceito de criana como protagonista de seu processo de
desenvolvimento, conforme defendido nas Diretrizes.
Finalizamos nossas sugestes reiterando que o aspecto mais central da educao
ofertada nas instituies de Educao Infantil est nas relaes estabelecidas entre as
professoras e as crianas. As reflexes sobre os conceitos de disciplina, violncia e
agressividade auxiliam a pensar o modo como essas relaes se concretizam no
cotidiano das instituies. Acreditamos que todas as posturas e atividades recomendadas
precisam ser primeiramente discutidas pelo grupo de professoras. O efeito dessas
atividades e posturas depender da avaliao e compreenso das professoras sobre a
validade dessas aes no processo educativo. O protagonismo das crianas, em
momento algum, prescinde do protagonismo das professoras como principais
mediadoras da cultura no espao da instituio. Portanto, da sua atuao, professora,
depende a implementao do que sugerimos. As aes devem ser acompanhadas por
momentos coletivos de reflexo e anlise, que auxiliem as necessrias adaptaes as
questes trazidas pela realidade de cada instituio.
Reflexes e Indagaes
O estudo do desenvolvimento scio-afetivo das crianas e em especial das
manifestaes de agressividade ainda um desafio para os estudiosos das diversas reas
das cincias humanas. Compreender melhor esses temas requer a abertura para as
experincias concretas que esses sujeitos vivenciam nos diferentes contextos, em
-
especial, nas instituies de Educao Infantil. Deste modo todos so convidados a
contribuir na melhor compreenso do comportamento infantil, sendo que a observao e
escuta atenta das crianas so elementos essenciais nessa tarefa. Portanto, o que
trouxemos aqui no deve ser tomado como verdade nica e fechada, mas sim inspirar
novas reflexes e indagaes sobre o modo como ocorrem as relaes entre crianas e
adultos.
Um melhor conhecimento das idias dos autores aqui citados pode auxiliar nessa
permanente construo de saberes sobre o comportamento infantil e sobre as relaes
entre crianas e adultos. Para um contato inicial sugerimos a leitura dos livros:
Henri Wallon: uma concepo dialtica do desenvolvimento infantil, de Isabel Galvo
(Petrpolis: RJ, Vozes, 1995);
Piaget, Vygotsky, Wallon: Teorias psicogenticas em discusso, de Yves de La Taille,
Marta Kohl Oliveira e Heloisa Dantas (So Paulo: Summus, 1992);
Vygotsky - Aprendizado e desenvolvimento, um processo socio-histrico, de Marta
Kohl Oliveira (So Paulo: Scipione, 1993).
Para conhecer mais especificamente o tema do desenvolvimento moral e da
agressividade sugerimos a leitura do livro de Jean Piaget, O julgamento moral na
criana (So Paulo: Mestre Jou, 1977); e da coletnea de artigos de Donald Woods
Winnicott, Privao e Delinquncia, (Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1994).
O entendimento das temticas da violncia e da disciplina tambm se coloca como uma
questo para a Educao Infantil j que permeia as relaes que acontecem em todas as
instituies sociais. Para tanto sugerimos a leitura do livro A sndrome do medo
contemporneo e a violncia na escola, organizado por Luiz Alberto Oliveira Gonalves
e Sandra de Ftima Pereira Tosta (Belo Horizonte: Autntica, 2008).
A relao dessas temticas com os estudos da sociologia da infncia podem ser melhor
compreendidas com a leitura do nmero especial da revista Educao e Sociedade
(Volume 26, nmero 91, 2005) que apresenta vrios artigos dessa recente rea da
sociologia. Entre as contribuies dos diversos artigos destacamos os que auxiliam a
compreender melhor as armadilhas do adultocentrismo, a pensar a organizao dos
tempos e espaos nas instituies de Educao Infantil, a incluir as crianas nas
pesquisas, e a pensar a relao com as crianas deficientes.
Essas leituras acima indicadas possibilitam uma melhor compreenso das crianas e da
infncia e das potencialidades e dificuldades das relaes entre crianas e adultos. Nesse
sentido podem auxiliar na construo de novas formas de interao entre adultos e
-
crianas e dos adultos entre si, que sejam mais democrticas e respeitosas. Esse o
principal desafio dos familiares e professoras responsveis pela educao das crianas
nos primeiros anos de vida, j que esse um perodo especial no desenvolvimento
scio-afetivo e que a atitude dos adultos fundamental para assegurar a sade e bem-
estar das crianas.