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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA PÂMELA INGRID SIMIONI COSTA RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO LOCAL DE TRABALHO CUIABÁ-MT 2019

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA

PÂMELA INGRID SIMIONI COSTA

RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO

LOCAL DE TRABALHO

CUIABÁ-MT

2019

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PÂMELA INGRID SIMIONI COSTA

RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO

LOCAL DE TRABALHO

Dissertação apresentada à Coordenação do Programa

Pós-Graduação em Sociologia da Universidade

Federal de Mato Grosso/MT, como requisito para a

obtenção do título de Mestre em Sociologia.

Linha de pesquisa: Sociedade, Cultura e Poder.

Eixo temático: Ensino, Socialização Profissional

Ciência e Tecnologia.

Orientador: Prof. Dr. Hidelberto de Sousa Ribeiro

CUIABÁ-MT

2019

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À minha maior inspiração acadêmica e da

vida: vó Nena.

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AGRADECIMENTOS

Para mim, a parte mais complexa dessa dissertação consistiu em elaborar os

agradecimentos. Ao oposto da ausência, eles são muitos e profundos. Em primeiro lugar,

agradeço a todos os professores, colegas e demais profissionais do Programa de Pós-Graduação

em Sociologia desta universidade.

Agradeço ao meu orientador, professor Hidelberto, que desde o início acreditou no meu

projeto e na minha capacidade. Ainda que não fosse sua área de pesquisa, tão pouco minha área

de formação, juntos construímos este trabalho. Em curtos encontro e largas discussões por e-

mail, ele me deu todo o suporte necessário para que a pesquisa fosse desenvolvida. Não posso

deixar de citar a professora Marilene, que em mais de uma oportunidade contribuiu com este

trabalho e se mostrou confiante em mim.

Agradeço à banca, composta pelos professores Francisco e Gislaine, que prontamente

aceitaram ao convite e tanto contribuíram para que o trabalho se aperfeiçoasse.

Agradeço ao Hospital Santa Rosa, na figura da sra. Mara, por autorizar a execução dessa

pesquisa. Alongo este agradecimento à Juliana, Karina e Rosangela, que se colocaram à

disposição para me ajudar, além de todos os sujeitos que participaram desta pesquisa.

Agradeço aos meus amigos e familiares que compreenderam minhas ausências e minhas

mudanças. Em especial, agradeço à minha mãe e aos meus irmãos, Soraya, Thômaz e Nathália,

que nunca pouparam amor e carinho, dando todo o suporte para que eu concluísse esta etapa.

Razões do meu ser, não existem palavras que expressem minha gratidão por existirem em minha

vida.

Estendo, ainda, um agradecimento específico à minha mãe de coração, Dorit, que desde

o início dessa caminhada me apoiou, me preparando para o processo seletivo e me

acompanhando ao longo desta jornada. Como mãe postiça e grande exemplo acadêmico, me

inspirou a chegar aqui.

Por fim e enfim, agradeço ao meu esposo, Thiago, por tanta coisa que este breve espaço

não é capaz de contemplar. Agradeço por divagar comigo em longas conversas filosóficas na

sacada, por me acalmar nos momentos de estresse, por cuidar do almoço enquanto eu escrevia,

por me incentivar a me desconstruir e ir além. Obrigada por ser o melhor parceiro que esta

mestranda poderia ter.

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“Nenhuma sociedade que esquece a arte de

questionar pode esperar encontrar respostas para

os problemas que a afligem”.

Zigmunt Bauman

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RESUMO

Resumo. Esta dissertação tem como tema o estudo “das relações entre diferentes gerações no

locus de trabalho”, sendo o objeto de estudo a Geração Z e as demais gerações. Em vista disso,

o problema que buscamos responder é: se no Hospital Santa Rosa ocorrem conflitos entre a

Geração Z e demais gerações e quais os motivos que levam ao desencadear destes conflitos.

Para isso, o objetivo geral é analisar os motivos dos conflitos entre a Geração Z e as demais no

ambiente de trabalho desenvolvido no Hospital Santa Rosa, localizado em Cuiabá. Já os

objetivos específicos são: identificar os principais pontos de convergências e divergências, no

ambiente de trabalho, entre a Geração Z e as demais gerações; analisar como os valores

comportamentais da Geração Z acabam sendo implicados nas relações sociais no trabalho;

trabalhar as características das relações sociais entre as gerações neste locus; discutir a trajetória

de formação pessoal e profissional das demais gerações que trabalham diretamente com a

Geração Z e se isso tem relação com a aceitação ou não de indivíduos que fazem parte dessa

Geração. A metodologia utilizada é a qualitativa e o procedimento de pesquisa é entrevista

semiestruturada em profundidade. No primeiro capítulo, trabalhamos com categorias que

permeiam as gerações, à luz de autores como Mannheim (1952), Foracchi (1982), Eisenstadt

(1976) e Oliveira (2016), bem como uma leitura histórica das gerações. Discutimos, ainda,

conceitos sobre identidade, habitus e inconsciente, trazendo Hall (2003, 2006), Woodward

(2014), Bourdieu (1983) e Lacan (1998). No segundo capítulo, são trabalhados os conceitos de

modernidade e pós-modernidade, a fim de mostrar nesses períodos históricos as implicações

socioculturarais nos locais de trabalho, em especial, para a Geração Z. Para isso, nos pautamos

em autores como Harvey (2008), Jamerson (1997), Lyotard (2000), Giddens (1991, 2011) e

Bauman (1998, 2001, 2004, 2007, 2011), nos clássicos Marx (s/d) e Durkheim (1999) para

embasar o estudo a respeito das relações de trabalho e Hamel (2009), entre outros, para elucidar

essas relações no tangente à Geração Z. No terceiro capítulo, discutimos os resultados das

entrevistas, mostrando as diferenças e igualdades no comportamento pessoal e profissional das

gerações entrevistadas. Em geral, quase que em sua totalidade e independente da geração, os

entrevistados reconhecem o elogio e o feedback como as mais importantes formas de se

reconhecer um bom profissional – o que vai ao encontro da característica mais citada como a

mais importante em um líder. Ao analisarmos os motivos que geram os conflitos entre esses

indivíduos, em termos rasos, a indisciplina do jovem frente às normas causa inquietação em

seus líderes. Pela visão do jovem, os mais velhos se incomodam quando um indivíduo mais

novo domina mais um assunto e ensina-o. Ainda que as relações se afirmem boas e fluídas, com

espaço para diálogo, feedbacks e perguntas, dois pontos se mostram como origem dos conflitos:

a inversão do processo de transmissão cultural e o questionamento, através do contato original,

dos antigos valores profissionais.

Palavras-chave: Geração Z. Relações sociais. Conflito geracional. Gerações.

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ABSTRACT

Abstract. This dissertation has as its theme the study "of the relations between different

generations in the working locus", being the object of study the Generation Z and the other

generations. In view of this, the problem that we seek to answer is: if in Santa Rosa Hospital

there are conflicts between Generation Z and other generations and what are the reasons that

lead to the unleashing of these conflicts. For this, the general objective is to analyze the reasons

of the conflicts between Generation Z and the others in the work environment developed in the

Santa Rosa Hospital, located in Cuiabá. The specific objectives are: to identify the main points

of convergence and divergence, in the work environment, between Generation Z and the other

generations; to analyze how the behavioral values of Generation Z end up being implicated in

social relations at work; to discuss the characteristics of the social relations between the

generations in this locus; to discuss the personal and professional formation trajectory of the

other generations that work directly with Generation Z and whether this is related to the

acceptance or not of individuals that are part of this Generation. The methodology used is

qualitative and the research procedure is a semi-structured interview in depth. In the first

chapter, we worked with categories that permeate the generations, in the light of authors such

as Mannheim (1952), Foracchi (1982), Eisenstadt (1976) and Oliveira (2016), as well as a

historical reading of the generations. We also discussed concepts about identity, habitus and

unconscious, with Hall (2003, 2006), Woodward (2014), Bourdieu (1983) and Lacan (1998).

In the second chapter, the concepts of modernity and postmodernity were debated in order to

show in these historical periods the socio-cultural implications in the workplaces, especially for

Generation Z. For this, we followed authors such as Harvey (2008), Jamerson (1997), Lyotard

(2000), Giddens (1991, 2011) and Bauman (1998, 2001, 2004, 2007, 2011), in the classics Marx

(s/d) and Durkheim (1999) to support the study of word’s relations and Hamel (2009), among

others, to elucidate these relations about Generation Z. In the third chapter, we discusses the

results of the interviews, showing the differences and equalities in the personal and professional

behavior of these generations. In general, almost in their entirety and independent of generation,

respondents recognize praise and feedback as the most important ways to recognize a good

professional - which meets the most cited characteristic as the most important in a leader.

Analyzing the motives of the conflicts between these individuals, in shallow terms, the youth's

indiscipline towards norms causes restlessness in their leaders. From the young's view, the older

ones are annoyed when a younger individual dominates some subject and teaches it. Although

the relations are good and fluid, with space for dialogue, feedback and questions, two points

appear as the source of the conflicts: the inversion of the process of cultural transmission and

the questioning, through the original contact, of the old professional values.

Key-words: Generation Z. Social relations. Generational conflicts. Generations.

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LISTA DE ABREVIATURAS

AEE - Atendimento Educacional Especializado

CIEE - Centro de Integração Empresa-Escola

TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TA - Termo de Assentimento

ONU - Organização das Nações Unidas

UE - União Europeia

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 11

1. CONCEPÇÕES DE GERAÇÕES .................................................................................... 17

1.1. Histórico do conceito de gerações segundo Mannheim ........................................ 20

1.2. Compreendendo o comportamento das gerações nos contextos sociais .............. 30

1.3. O processo histórico e suas implicações na formação das gerações ........................ 35

1.4. A Geração Z ................................................................................................................. 43

2. AS RELAÇÕES SOCIAIS NA SOCIEDADE PÓS-MODERNA .............................. 46

2.1. A formação do Ser na pós-modernidade ................................................................... 47

2.2. As relações sociais na pós-Modernidade ................................................................... 53

3. RELAÇÕES ENTRE AS GERAÇÕES MODERNAS E PÓS-MODERNA ............. 62

3.1. Análise das entrevistas aos olhos de Mannheim ................................................... 64

3.2. As características de Hamel nos entrevistados ...................................................... 69

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 79

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 84

ANEXOS ................................................................................................................................. 90

ANEXO A ............................................................................................................................ 90

ANEXO B ............................................................................................................................ 93

ANEXO C ............................................................................................................................ 96

ANEXO D ............................................................................................................................ 99

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INTRODUÇÃO

A escolha do objeto deste estudo (formação, características das gerações e conflito entre

elas no local de trabalho) se deu pelas situações vivenciadas por mim dentro do meu ambiente

de trabalho. Por mediar relações através do departamento de recursos humanos de uma empresa

na área da saúde, observei as dificuldades nas relações entre a Geração Z e as gerações mais

velhas. Sendo a problemática das gerações de grande relevância para as Ciências Sociais, optei

pelo mestrado nessa área.

Durante minha Graduação em Administração de Empresas, percebi que precisaria

também estudar conhecimentos que fazem parte do currículo das Ciências Sociais,

principalmente da Sociologia. Para mim, esses conhecimentos seriam fundamentais para

entender melhor o processo histórico que leva à formação das gerações, devido ao cenário atual.

Esse campo de conhecimento, ao meu ver, é o que mais contribui para o entendimento dos

valores, da educação e do processo de formação de regras que orientam os comportamentos das

gerações passadas e das atuais. Para os administradores empresariais e gestores que lidam

diariamente com todos os tipos de pessoas, é importante que entendam os indivíduos com os

quais interagem, sejam seus superiores ou subordinados, colegas, clientes, parceiros ou

fornecedores.

Como percebia divergências e conflitos entre as gerações, busquei leituras sobre o

assunto, a fim de compreender esses sujeitos. Nesse caminho, encontrei muitos estudos a

respeito das gerações X e Y1, principalmente em relação às suas características e aos

comportamentos profissionais. Os textos abordavam tanto os aspectos profissionais (como são

esses profissionais, suas motivações e ambições), quanto os valores desses sujeitos que se

expressam em termos de hábitos de consumo.

Contudo, no contexto atual, outra geração tem sido objeto de atenção: os jovens da

Geração Z2. São estes os novos consumidores e futuros profissionais que estarão no centro das

organizações e que merecem ser conhecidos e entendidos, visto que suas diferenças em relação

às gerações de seus pais exigirão adaptações por parte das empresas – seja no que oferecem aos

“consumidores da Geração Z”, seja no que esperam destes enquanto trabalhadores.

1 Geração X é aquela composta pelos nascidos entre o início dos anos 60 até o final dos anos 70 e a Geração Y é

integrada pelos nascidos entre 1980 até o final dos anos 90 (OLIVEIRA, 2016). 2 A Geração Z é considerada aquela formada pelos nascidos a partir dos anos 2000 até os dias atuais (OLIVEIRA,

2016). Para nós, conforme será exposto no capítulo 1, baseados nas teorias abordadas, entederemos Geração Z

como os nascidos a partir de 1997.

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Sidnei Oliveira (2012), um estudioso dos conflitos de gerações no Brasil, traz em sua

obra “Gerações” duas características que considera fundamentais e que fazem parte do

comportamento da Geração Z: conectados e relacionais, isto é, os hábitos e comportamentos

desses jovens são relacionais e estão interligados via universo virtual. Para esse autor, isso

acontece porque esses jovens já nascem em um mundo cuja internet é acessível aos

consumidores, que estão amplamente conectados uns aos outros, fazendo pouca questão de se

desligarem desse universo virtual – isso os torna, mais do que seus antecessores, seres

relacionais.

A este respeito, Gary Hamel (2009), especialista em administração de negócios, define

esta população de jovens como sendo a Geração do Facebook, do online, do agora. São pessoas

que, desde muito novas, iniciam suas relações por meio das redes sociais virtuais (Twitter,

Facebook, Instagram, Snapchat, YouTube) e, por isso, são considerados os nativos digitais,

segundo o autor. Ele ainda defende que as empresas não estão preparadas para receber estes

jovens e futuros profissionais, que possuem características muito específicas (as quais

trataremos no referencial teórico) advindas desse contexto virtual de suas relações e, por isto,

Hamel está em pesquisa para descobrir como os gestores deverão lidar com essas peculiaridades

da nova geração profissional.

Nesse sentido, é importante avaliar o contexto social no qual esses indivíduos estão se

formando. Os jovens da Geração Z estão crescendo em um mundo que, na concepção do

sociólogo Zigmunt Bauman (2001), tornou-se um mundo líquido3, atual momento da sociedade.

Ele defende, em diversas obras, que estamos vivendo em uma época de incerteza e de

insegurança, na qual as tradições antigas e laços afetivos deram espaço a um mundo fluído.

Esse contexto de grande volatilidade, vinculado a pais protetores e a anos de estabilidade

econômica, está proporcionando um ambiente favorável para a terceirização do processo de

socialização4 das crianças.

Nessa conjuntura, é necessário que as organizações iniciem um processo visando

conhecer os profissionais que já estão chegando ao mercado de trabalho, em especial a Geração

Z, e, assim, evitar conflitos no local de trabalho com outras gerações. Com base nisso, nossa

pesquisa foi realizada em um hospital (particular) da cidade de Cuiabá-MT, por ter em seu

quadro de funcionários representantes da Geração Z atuando profissionalmente e em interação

3 Para Bauman (2001), o mundo líquido é definido pela sua flexibilidade, falta de instituições rígidas, laços frágeis

e sentimentos voláteis, isto é, uma sociedade mutável e adaptável conforme as pressões sob ela exercidas, assim

como faz um líquido. 4 Processo de transmissão da herança cultural, na definição de Eisenstadt (1976).

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com as demais gerações, a fim de conhecermos as características desses novos atores sociais e

dos demais profissionais, bem como identificarmos os motivos que levam ao desencadear de

conflitos geracionais nesse ambiente de trabalho.

Por tudo isso, a Sociologia se torna uma importante área de conhecimento para as

organizações: por meio dela, é possível entender os grupos sociais que se interagem, evitando

conflitos desnecessários, provendo o que as pessoas precisam e querem, desenvolvendo talentos

e preparando melhores líderes. Consequentemente, uma pesquisa sobre a Geração Z de Cuiabá

proverá informações significativas para os gestores e proprietários de empresas locais, que,

muito em breve, se já não estão, deverão enfrentar o desafio de se adaptar para receberem esses

profissionais que possuem diferentes características daqueles de outras gerações.

Já no âmbito acadêmico, compreender a Geração Z e seus reflexos no mercado de

trabalho é importante para que registros sobre esses fatos sejam feitos, repensados e

posteriormente repassados, a fim de que os futuros sociólogos, administradores, psicólogos e

afins entendam as mudanças ocorridas ao longo das gerações e os porquês de suas

características. Ademais, pensamos que a interdisciplinaridade pode abrir espaço para pesquisas

de ambas as áreas, Administração e Sociologia, o que se mostra ainda mais interessante para o

universo acadêmico, visto que é isto o proposto neste estudo.

Isso nos levou à leitura Karl Mannheim (1893-1947), um dos primeiros sociólogos a

trabalhar com a categoria gerações, cujas pesquisas resultaram em conceitos como gerações e

unidade geracional, fundamentais para entender os processos comportamentais dos jovens.

Suas experiências de intelectual e judeu perseguido por nazistas o levaram a enveredar por

diversos ideais políticos e assuntos relativos à sociologia da cultura e do conhecimento. Por

isso, Mannheim acreditava ser fundamental a discussão dos assuntos que causassem angústia

às pessoas – para ele, não havia sentido para as Ciências Sociais buscarem respostas às

perguntas que não eram feitas pelos indivíduos (FREIXO, LECCARDI, 2010; SCOTT, 2017).

Dentre as perturbações que Mannheim pesquisou, a questão sociológica das gerações

foi trabalhada em sua obra “The sociological problem of generations” (1952). Abordando

conceitos como grupos concretos, unidade de geração e da própria geração em si (os quais

explicaremos ao longo do capítulo 1), o autor se tornou referência na sociologia clássica quando

o assunto é juventude e gerações (FREIXO, LECCARDI, 2010; SCOTT, 2017).

O senso comum traz a definição de geração baseada apenas no aspecto cronológico, ou

seja, para pertencer à determinada geração basta o indivíduo nascer nas datas pré-estabelecidas

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por alguns autores contemporâneos5. Entretanto, para a sociologia clássica de Mannheim, essa

definição vai um pouco além do mero detalhe temporal.

A ausência dos pais em casa durante o período fundamental da socialização do indivíduo

(período em que a criança absorve os hábitos culturais e forma, aos poucos, sua identidade6) é

uma realidade contemporânea. Quer seja pela necessidade de trabalho exigida aos profissionais

do mundo moderno, quer seja pela impaciência em educar, ao estarem com suas crianças, esses

adultos atendem aos desejos dos mais novos e evitam as correções necessárias, como forma de

suprir essa falta de convivência efetiva, conforme nos fala Mário Sérgio Cortella (2009) em um

documentário sobre a Geração Z. Sendo assim, grande parte dos jovens dessa geração cresce

na desordem do mundo líquido sem seus principais orientadores por perto7, restando às

próximas formas de inserção social (escola e trabalho) o papel de reguladoras e transmissoras

dos valores sociais.

Em vista disso, Cortella (2016) ressalta que isso acontece devido ao fato desses jovens

já estarem em processo de iniciação da carreira profissional ou já estarem atuando. Nesse

sentido, o que se observa nos primeiros contatos com trabalhadores jovens no ambiente de

trabalho é que nem a família, nem a escola, foram eficientes na transmissão dos valores morais

necessários ao estabelecimento de uma consciência social e, assim, fazer valer a “solidariedade

orgânica” tão defendida por Durkheim. Portanto, os conflitos geracionais8, (ou choque de

gerações) que deveriam acontecer nos primeiros contatos sociais (FORACCHI, 1982), foram

postergados para o último estágio de inserção social – o trabalho.

Se a cooperação é gerada pela divisão do trabalho, como defendia Durkheim, é natural

que os indivíduos que não absorveram a herança cultural nas primeiras formas de inserção

social terão de fazê-la no momento em que permearem o mundo profissional. É nesse ponto

que, tal como o autor, entendemos que o trabalho é fundamental na relação indivíduo-sociedade

na sociedade moderna. Uma vez que os primeiros adultos responsáveis pela transmissão

cultural foram ineficazes nesse processo, as organizações deverão desempenhar tal papel por

meio dos adultos presentes no ambiente de trabalho.

5 Sidney Oliveira (2012, 2016), por exemplo, traz em seu livro “Gerações – Encontros, desencontros e novas

perspectivas” uma tabela estabelecendo as datas de nascimento para cada geração, desde a Belle Époque

(1920/1930) até a Geração Z (2000/2010), junto com algumas características de cada uma. 6 EISENSTADT, 1976. 7 Eisenstadt (1976) defendeu que “a criança deve, necessariamente, aprender seu comportamento segundo o

comportamento de um determinado adulto, mais velho que ela” (EISENSTADT, 1976, p. 06), e que os pais são os

pioneiros nessa transmissão cultural. 8 “O conflito de gerações nada mais seria senão a luta de uma geração com os valores básicos que não sabe ou não

quer preservar” (FORACCHI, 1982, p. 25). Para a autora, a raiz desse tipo de conflito se dá na cobrança de uma

geração mais velha sobre uma mais nova, em relação à “fidelidade” às questões que definiram aquela enquanto

geração.

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Nesse cenário é que o professor da London Business School, Hamel, iniciou sua pesquisa

sobre as questões profissionais acerca dos indivíduos da Geração Z. Em um artigo publicado

em 2009 no Wall Street Journal, ele defendeu que esta geração exigirá consideráveis adaptações

por parte das organizações e seus gestores, visto que suas particularidades9 entram em conflito

direto com o atual modelo de trabalho. O autor listou doze características desses jovens, que

estão relacionadas à vida profissional.

Isto posto, entendemos que a questão sociológica fundamental, que aparece nesse

contexto, é compreender como se dão as relações de trabalho entre essas gerações, em um

momento de grandes transformações culturais, dentro do ambiente de trabalho.

A partir da minha formação acadêmica e de algumas situações vividas em alguns

ambientes de trabalho, surgiram questionamentos acerca das diferenças entre as gerações e

como elas causam conflitos. Seja em pontos mais paupáveis, como a forma de se vestir e o

linguajar, seja em aspectos intangíveis, como a maneira dinâmica em realizar mais de uma

atividade, o jovem da Geração Z leva para este ambiente características que causam

inquietações em seus colegas pertencentes a outras épocas. Baseando-nos nisso, o problema

desta pesquisa consiste em: se no Hospital Santa Rosa10 ocorrem conflitos entre a Geração Z e

demais gerações e quais os motivos que levam ao desencadear destes conflitos?

Como forma de responder a esse problema da pesquisa, o objetivo geral é analisar os

motivos dos conflitos entre a Geração Z e as demais no ambiente de trabalho desenvolvido no

Hospital Santa Rosa. Já os específicos são: a) Identificar os principais pontos de convergências

e divergências, no ambiente de trabalho, entre a Geração Z e as demais gerações; b) Analisar

como os valores comportamentais da Geração Z acabam sendo implicados nas relações sociais

no trabalho, c) Trabalhar as características das relações sociais entre as gerações neste locus e

d) Discutir a trajetória de formação pessoal e profissional das demais gerações que trabalham

diretamente com a Geração Z e se isso tem relação com a aceitação ou não de indivíduos que

fazem parte dessa Geração.

Para responder ao problema desta pesquisa, bem como atingir aos objetivos geral e

específicos, partimos de uma metodologia qualitativa, visto que se tratam de respostas acerca

dos significados e das percepções dos sujeitos dessas gerações. Como técnica para a coleta de

9 Foracchi (1982) defende que o questionamento incisivo em relação às normas e tradições antigas é a principal

característica da juventude moderna. 10 Segundo o CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola) de Cuiabá, são quatro os hospitais que têm jovens

dessa geração atuando profissionalmente. Contudo, somente o Hospital Santa Rosa atendeu ao nosso pedido de

autorização para executar a pesquisa.

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dados, utilizamos a entrevista semiestruturada e a executamos com dois grupos diferentes:

primeiro, os jovens da Geração Z e depois com os indivíduos das demais gerações.

Em vista disso, no primeiro capítulo, discutimos conceitos relacionados à problemática

das gerações, trazendo à luz as categorias geração, geração enquanto realidade, situação de

geração, unidade de geração, contato original, grupo concreto, grupo etário e tantas outras

necessárias para uma compreensão clara da pesquisa. Para isso, buscamos relacioná-las ao

processo histórico e como isso interferiu diretamente no comportamento e nos valores morais

das várias gerações que se formaram ao longo desse período.

Feito isso, no segundo capítulo discutimos os conceitos de modernidade e pós-

modernidade, importantes para uma melhor compreensão do objeto de estudo desta pesquisa, a

Geração Z. Para isso, centramos nossa atenção nos principais teóricos que trabalham esses

conceitos. Como já citado, entender o contexto no qual o indivíduo se torna sujeito social é

fundamental para que se compreenda suas motivações e seus comportamentos, de forma a nos

auxiliarem nas respostas de nossos objetivos.

No terceiro capítulo, fazemos a análise do material colhido nas entrevistas, momento

em que aplicamos a metodologia escolhida, bem como buscamos relacioná-la às motivações e

às justificativas para tal, e das técnicas de pesquisa utilizadas. Relacionamos, ainda, as teorias

de Mannheim, expostas no subitem 1.1 e de Hamel, no subitem 2.2, às respostas coletadas nos

questionários socioeconômico e sobre as relações. Em outros dizeres, nesse capítulo analisamos

os significados apreendidos nessas conversas, para que possamos responder ao problema de

nossa pesquisa.

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1. CONCEPÇÕES DE GERAÇÕES

Este capítulo discute a problemática histórico-social que envolve a formação das

gerações. Para tal, centramos nossa análise nos principais teóricos que trabalham esse tema.

Dedicamos o subitem 1.1 à análise do sociólogo Mannheim, por ser considerado um clássico

deste tipo de estudo: um dos primeiros teóricos a trabalhar com tal temática, é um dos autores

mais citados no que se refere a tal assunto. Dele, partimos para as teorias mais recentes como

as de Hamel e Oliveira. Em vista disso, neste capítulo será apresentada uma análise histórico-

social dos conceitos acerca de gerações, permeando as teorias até chegar à Geração Z, objeto

desta pesquisa.

Assim, se a marca da modernidade era a permanência, ou seja, a temporalidade –

impactando diretamente na durabilidade dos valores morais e nas regras comportamentais –, ao

contrário, a pós-modernidade11, para autores como Harvey (2008), Jamerson (1997) e Lyotard

(2000), se caracteriza como uma época de visíveis e rápidas mudanças que ocorrem na

sociedade. Estas mudanças se dão em múltiplas instâncias como na política, arte, economia,

ciência, técnica, educação, relações humanas, entre outras. Nesse sentido, esses teóricos

caracterizam a pós-modernidade como um processo histórico em que os indivíduos agem mais

pautados pelo desejo, instinto, prazer. Isto é, agem pela “des-razão”, além disso são afeitos ao

individualismo, consumismo, à burla dos valores, são narcisistas ao extremo e não estão

preocupados com o outro.

Para esses autores, a pós-modernidade tem provocado grandes revoluções tecnológicas

que afetaram e continuam afetando diretamente o estilo de vida e as dinâmicas sociais. Exemplo

disso é a tecnologia de informação, que parece nos dar a impressão de que o mundo ficou menor.

Com essa tecnologia, criou-se o telefone móvel, o celular, embrião do pensamento online na

sociedade, dando a impressão que um mesmo indivíduo pode estar em vários lugares e em

movimento, embora distante de um telefone fixo. Assim, bastavam alguns números para que

ele fosse encontrado. A esse respeito, Stabile (1999) afirma que

[...] o pós-modernismo é imprecisamente identificado como uma época

histórica – a sociedade pós-industrial, pós-fordista ou mesmo pós-capitalista

– onde o consumo passou à frente da produção, tornando a luta de classe

(sociedade dividida entre trabalhadores e capitalistas) um conceito obsoleto,

fazendo com que “as pessoas não se identifiquem mais como classe, mas sim,

11 Não há um consenso da data exata que defina a pós-modernidade. Grande parte dos teóricos associa este período

à década de 1980, pelas revoluções sociais que nela ocorreram, em especial a queda do Muro de Berlim (1989),

por sua simbologia de liberdade.

Page 19: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

18

através de identidades mais particulares, ou seja, de pequenos grupos”

(STABILE, 1999, p. 147).

É nesse contexto das revoluções tecnológicas que ocorreram grandes mudanças sociais,

que também modificaram valores e acabaram afetando diretamente algumas dinâmicas

comportamentais, os valores individuais e grupos sociais, influenciando diferentes grupos e

instituições, a exemplo, o casamento. A esse respeito, Bauman (2011, 2007, 2004, 2001) afirma

que a legalização jurídica e moral do divórcio trouxe uma extensa facilidade para os indivíduos.

A instituição família também foi alterada em sua essência, gerando discussões a respeito de

seus formatos e suas responsabilidades nesse novo contexto.

Entre os grupos sociais que foram afetados pelas revoluções sociais e tecnológicas,

temos as gerações, foco deste estudo. Esse termo traz divergências em relação ao seu conceito,

já que comumente são classificadas apenas pela idade, ou seja, os indivíduos são separados em

grupos de acordo com suas datas de nascimento. A esse respeito, Sidnei Oliveira (2016) expõe

a seguinte tabela:

TABELA 1 – DIVISÃO CRONOLÓGICA DAS GERAÇÕES

NOME PERÍODO

Nascidos nas décadas CENTRO DA GERAÇÃO

Belle Époque 1920 / 1930 75 anos

Baby Boomers 1940 / 1950 60 anos

Geração X 1960 / 1970 45 anos

Geração Y 1980 / 1990 22 anos

Geração Z 2000 / 2010 10 anos

Fonte: OLIVEIRA (2016, p. 30)

Segundo o autor, essa é a classificação mais disseminada e mais aceita. A problemática

das gerações é de grande relevância nas Ciências Sociais, segundo Mannheim (1952), um dos

primeiros sociológos a estudar essa questão, hoje visto como um clássico dessa problemática.

Mannheim afirma que o conceito mais prudente de geração vai além da data de nascimento.

Os conflitos entre esses grupos, isto é, entre as gerações, merecem a atenção da

academia, uma vez que interferem na dinâmica social. Foracchi12 (1982), ao compartilhar das

ideias de Mannheim (1952), afirma que os conflitos insurgidos entre as gerações decorrem da

12 Marialice Mencarini Foracchi (1929-1972) foi uma importante socióloga brasileira e grande disseminadora das

obras de Mannheim, especialmente no que tange o assunto juventude, gerações e movimentos juvenis (nota sobre

a autora no livro “Mannheim”, coleção “Grandes Cientistas Sociais”, 1982).

Page 20: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

19

transmissão da herança cultural. Outro autor considerado clássico da Sociologia da Juventude

é Eisenstadt13 (1976), que também defende um olhar minucioso sobre o encontro desses

diferentes grupos etários, da estrutura social, bem como dos valores e das tradições – valores

que só podem ser transmitidos se a criança recebê-los de um adulto.

Um dos problemas que apare ao se estudar a problemática da gerações é a questão

social. Por isso, além dos estudos dos autores anteriormente apresentados, podemos citar, ainda,

os de Durkheim (1999). Considerado um dos fundadores da Sociologia, que levanta a questão

a respeito da inserção social no trabalho como um “último estágio” deste processo, este autor

entende que os primeiros contatos sociais dos indivíduos são realizados pela família nuclear,

tese também defendida por outros pesquisadores que discutem o tema.

Entretanto, autores contemporâneos que estudam os jovens, como Cortella (2009),

consideram que os primeiros conflitos geracionais, que deveriam ocorrer na família e na escola,

são postergados, a ponto de serem desencadeados no local de trabalho. Assim, resta a este

ambiente a função de transmissor cultural, ou seja, buscar adequar os jovens às perspectivas da

lógica capitalista.

Ao falarmos de geração, não podemos deixar de lado a perspectiva de Mannheim, para

quem é fundamental nos distanciarmos do pré-conceito cronológico (exclusivamente). Nesse

sentido, para pertencer a uma mesma geração, os indivíduos nascidos no mesmo período, devem

vivenciar a mesma realidade histórico-social, assim como processam o ritmo biológico da vida

humana (FORACCHI, 1982). Ainda pensando nesse universo, é importante que façamos uma

diferenciação entre situação de geração e geração enquanto realidade, pois, mesmo pertencendo

à mesma situação de geração, dois indivíduos podem não partilhar da mesma geração enquanto

realidade.

Ao trabalhar o fenômeno sociológico das gerações, Mannheim entende que isso é uma

questão inerente à cultura, visto que o curso da história humana se dá de forma contínua e as

tradições só puderam ser registradas e repassadas uma vez que existiam grupos mais novos que

as recebiam e as entregavam aos próximos “novos nascidos” (FORACCHI, 1982;

MANNHEIM, 1974). No entanto, é evidente que, ao entrar em contato com determinado

aspecto cultural, cada indivíduo, apesar de pertencer a mesma geração, processa mentalmente

esses dados com base em suas estruturas psíquicas. Logo, as mudanças de gerações são

fundamentais para que exista, de fato, um processo de transformação na herança sociocultural

13 Schmuel Eisenstadt (1923-2010).

Page 21: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

20

a ser disseminada de geração em geração – caso contrário, “qualquer padrão social fundamental

(atitude ou tendência individual) provavelmente se perpetuaria” (FORACCHI, 1982, p. 75).

Eisenstadt esmiúça a questão sociológica das gerações enquanto grupos etários em sua

obra “De geração em geração” (1976), discutindo, ainda, a importância da transmissão da

herança cultural por meio das gerações. Ao longo de seu livro, o sociólogo mostra a importância

dos grupos etários na constituição da estrutura social e destaca que alguns papéis sociais são,

necessariamente, exercidos pelos atores que pertencem a determinado grupo etário. Em sua

concepção, defende, ainda, que a convivência de indivíduos de diferentes idades é essencial

para que os papéis desempenhados pelos mais velhos14 sejam ensinados aos mais jovens

enquanto processo formativo.

Baseada em Eisenstadt (1976), Foracchi (1972), outra estudiosa da problemática das

gerações no Brasil, também defende que os jovens devem aprender com os adultos e que os

pais são os primeiros responsáveis pela transmissão dos costumes e valores para o indivíduo

(FORACCHI, 1972). Ou seja, é na família nuclear15 que a criança absorve as primeiras

atividades que dela serão exigidas enquanto indivíduo social e aprende a lidar com frustrações

e gratificações da vida social (FORACCHI, 1972). Os agentes sociais encontram sua primeira

forma de identificação nos adultos (pais ou, na ausência, os responsáveis) com os quais

estabelecem os primeiros laços afetivos – Eisenstadt enfatiza a importância do amor

paterno/materno enquanto primeiro modo de gratificação pelas lições compreendidas pela

criança durante o processo de incorporação da cultura (EISENSTADT, 1976).

1.1. Histórico do conceito de gerações segundo Mannheim

Mannheim afirma que a compreensão do conceito de geração é fundamental para o

entendimento dos movimentos intelectuais e sociais. Para ele, uma geração é definida por um

grupo de indivíduos que é exposto aos mesmos processos histórico-sociais enquanto partilha

do mesmo ritmo biológico. Evidente que Mannheim (1952) não dispensava a validação das

idades, uma vez que estas estão diretamente ligadas ao ritmo biológico, mas não somente este

é capaz de resolver o conceito. Para o autor, era importante compreender os processos histórico-

sociais, visto que estes afetavam diretamente a vida dos indivíduos em camadas mais profundas

14 Para a concepção de mais velhos, Foracchi usa o termo adultos. 15 Por “família nuclear”, os autores Eisenstadt e Foracchi endentem como sendo a família formada pelos pais e

filhos.

Page 22: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

21

do seu ethos16. Em sua principal obra sobre o assunto17, ele trabalhou outras categorias que são

indispensáveis para as discussões sobre gerações.

Os grupos concretos são aqueles formados por indivíduos que compartilham dos

mesmos objetivos específicos, de forma que há consciências destes. Esses grupos podem ser

constituídos por vínculos de proximidade, definidos como “grupos comunitários”

(Gemeinschaftsgebilde), como é o caso da família. Outra possiblidade são os grupos formados

por indivíduos que possuem laços racionais, chamados de “grupos associativos”

(Gesellschaftsgebilde), tendo como exemplo a seita (MANNHEIM, 1952). Olhando por esse

aspecto, as gerações não são grupos concretos por si só, mas podem vir a constituir como tais

em casos específicos, como será tratado mais adiante.

Mannheim (1952) comparava a categoria “geração” à “posição de classe”

(Klassenlage), ou seja, uma série de atos e valores transmitidos, quer pela educação, quer pela

convivência, e que vai desenhando na mente dos indivíduos pertencentes aos grupos suas

formas de se comportar e agir. Ao tomar como exemplo a posição de classe, Mannheim leva

em consideração a “situação” (Lagerung) que determinado grupo de indivíduos ocupa na

estrutura social (nos termos econômicos e de poder), carregando consigo a consciência das

possibilidades e das pressões advindas dessa posição, ainda que o indivíduo não queira ou aceite

ser parte daquele grupo. Da mesma forma, as gerações também são grupos que ocupam certas

“situações” na estrutura social, mas não nas tangentes econômicas e de poder, como ocorre com

a posição de classe.

A situação (social) da geração envolve a posição que certo grupo possuí frente aos

processos histórico-sociais, juntamente aos processos biológicos da vida humana (vida, morte,

envelhecimento):

A situação da geração está baseada na existência de um período limitado de

vida, e o envelhecimento. Os indivíduos que pertencem à mesma geração, que

nasceram no mesmo ano, são dotados, nessa medida, de uma situação comum

na dimensão histórica do processo social (MANNHEIM, 1952, p. 71, grifo

nosso).

Assim, para Mannheim, o fator cronológico por si só não é capaz de definir uma geração,

uma vez que não leva em consideração a interação social entre os indivíduos e a continuidade

histórica da estrutura social, fatores fundamentais para o entendimento de uma dinâmica social.

16 Para sociologia, ethos é o conjunto de comportamentos e hábitos atribuídos à traços em níveis mais profundos

dos costumes de uma sociedade. Aristóteles (citado por SPINELLI, 2009, p. 10) tomou o termo ethos acerca de

“uma sabedoria ancestral, edificada no tempo”. 17 The sociological problem of generations (1952).

Page 23: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

22

Em vista disso, pertencer à mesma geração é proporcionar aos indivíduos o

compartilhamento da mesma situação (social) frente aos processos histórico-sociais, de tal

forma que os restringe a determinadas vivências e os pré-dispõe a um certo tipo de pensamento

e de ação (MANNHEIM, 1952). Exemplo disso é a geração dos nascidos no período do Regime

Militar no Brasil (1964-1985), que vivenciou crescer em um ambiente socialmente censurado,

sob risco de severas punições em caso de “descumprimento da ordem”. Por isso, é natural que,

certos grupos, sejam indivíduos que valorizem a disciplina, que pensem e ajam de forma

disciplinada. Essa é a “tendência inerente” que Mannheim (1952) entende como parte de uma

situação social – “qualquer situação dada, então, exclui um grande número de modos possíveis

de pensamento, experiência, sentimento e ação, e restringe o campo de auto-expressão aberto

ao indivíduo a certas possibilidades circunscritas” (MANNHEIM, 1952, p. 72).

Os acontecimentos histórico-sociais fazem parte da vida de qualquer indivíduo de

determinada sociedade, porém, a absorção dessas experiências será diferente para cada um, se

considerarmos as situações vividas. Tomando o Regime Militar como exemplo, é fato que as

experiências vividas pelos jovens nesse período eram diferentes dos mais velhos. Nesse sentido,

há de se levar em consideração que os valores da juventude em cada época são, inerentemente,

a rebeldia e o questionamento (FORACCHI, 1972), e, portanto, aqueles que passaram por tal

fase durante um período de grande repressão social, assimilaram o Regime Militar de forma

diferente de seus pais e avós, adultos à época.

Com base nas experiências dos jovens, Mannheim (1952) levanta cinco características

fundamentais de uma sociedade que convive, em sua dinâmica, com o fenômeno das gerações.

Para esse autor, o que se percebe nesse tipo de sociedade é que:

a) novos participantes do processo cultural estão surgindo enquanto;

b) antigos participantes daquele processo estão continuamente desaparecendo;

c) os membros de qualquer uma das gerações apenas podem participar de uma

seção temporalmente limitada do processo histórico,

d) é necessário, portanto, transmitir continuamente a herança cultural

acumulada e;

e) a transição de uma para outra geração é um processo contínuo

(MANNHEIM, 1952, p. 74).

O primeiro item refere-se ao nascimento de novos indivíduos como o ponto de partida

para o entendimento do processo. Isso esclarece que a cultura não é transmitida pelos mesmos

sujeitos sociais ao longo da história, há constantemente o surgimento de novos grupos etários

nesse processo.

Page 24: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

23

Com o nascimento de novos indivíduos, a forma com a qual estes entram em contato

com a herança cultural varia, inclusive pelo conteúdo pertencente à cultura de cada época. Isso

implica dizer que o contato original18, quando ocorre, muda de acordo com o momento histórico

em que acontece, de maneira que os sujeitos elaborem tal conteúdo de maneiras distintas, bem

como o modifiquem de diferentes formas (MANNHEIM, 1952).

O contato original é fundamental no processo de mudança social quando um indivíduo

é forçado a sair do grupo social e a entrar em um novo. Um dos entrevistados, por exemplo,

mudou-se para Cuiabá por circunstâncias decorrentes de seu trabalho e teve que se adaptar à

cultura local, deixando algumas essências de sua origem paranaense para trás.

No caso das gerações, para Mannheim, diferentemente de contextos individuais,

trabalha-se o contato original não como acontecimento da vida individual, mas sim a entrada

de novos sujeitos no processo histórico-cultural em um novo contexto. Isso os obriga a repensar

seus antigos valores e modos de agir. Ou seja, os contatos originais, se pensarmos em termos

de fundamentação antropológica, são os próprios novos indivíduos em que o estranho tem que

se tornar familiar e o familiar que se tornar estranho. Assim, Mannheim expôs dois tipos de

contatos originais: o primeiro refere-se a uma mudança nas relações sociais, enquanto o

segundo – mais radical – ao estar implicado em fatores vitais leva a mudanças de uma geração

para outra.

Nesse sentido, a entrada de um novo participante no processo cultural dialeticamente

traz consigo uma nova ação em relação à herança cultural que está sendo transmitida para ele

(MANNHEIM, 1952). Voltando ao exemplo dos indivíduos que foram jovens durante a

Ditadura Militar no Brasil, parte deles recebeu de seus pais a herança da disciplina enquanto

comportamento necessário para o estabelecimento da ordem e, concordando ou não, executava-

a, haja vista as consequências que poderia sofrer. Porém, ao repassarem para seus filhos essa

ideia, e estes, por sua vez, ao vivenciarem uma juventude em uma época tão sui generis, reagiam

de forma diferente à tentativa de imposição de tal herança.

Historicamente, as mudanças comportamentais que ocorrem entre as gerações são partes

de processos sociais que visam garantir a existência do contato original por razões biológicas

(do nascimento). Ao mesmo tempo, permite que a diversidade cultural provoque nessas

gerações o desencadear de novos valores morais e formas de agir nesses indivíduos e, assim,

evita a perpetuação de padrões sociais. Isso para Mannheim, significa que:

18 Define-se contato original como “encontrar alguma coisa de modo novo” (MANNHEIM, 1952, p. 74). Em

outras palavras, é o primeiro contato de um indivíduo ou grupo de indivíduos com algum padrão de

comportamento. No caso da problemática das gerações, trata-se de novos indivíduos no contexto histórico.

Page 25: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

24

Se o processo cultural sempre fosse conduzido e desenvolvido pelos mesmos

indivíduos, [...] qualquer padrão social fundamental (atitude ou tendência

individual) provavelmente se perpetuaria – o que, em si, é uma vantagem, mas

não se considerarmos os perigos resultantes da unilateralidade (MANNHEIM,

1952, p. 75).

É evidente que o contato de novos indivíduos com a herança cultural que lhes é

transmitida, vai aos poucos sendo modificada. Isto é um processo natural do ser humano, que

gera certa “perda” nos padrões comportamentais acumulados, sendo outros incorporados.

Contudo, esse mecanismo possibilita que as sociedades aprendam e desejem novos padrões,

bem como esqueçam aqueles que não são mais necessários nos novos contextos histórico-

sociais (MANNHEIM, 1952).

O segundo fator fundamental das gerações é oposto ao primeiro: enquanto este trata do

surgimento de novos indivíduos no processo de transmissão cultural, aquele trabalha o

constante desaparecimento dos participantes anteriores. Assim, se um é necessário para que os

sujeitos aprendam novos padrões, o outro é importante para que os antigos valores morais se

tornem recordações (MANNHEIM, 1952).

Mannheim (1952) mostra que há duas formas dessas recordações se tornarem parte do

comportamento presente. Ou seja, é quando “todos os dados psíquicos e culturais apenas

existem realmente na medida em que são produzidos e reproduzidos no presente: daí a

experiência somente ser relevante ao ser concretamente incorporada ao presente”

(MANNHEIM, 1952, p. 76).

O primeiro modo está estruturado na consciência tendo por base acontecimentos

reconhecidos pela memória humana e que permitem aos indivíduos organizarem suas novas

ações conforme os ensinamentos registrados e assimilados. Exemplo disso são os novos

profissionais contratados de uma organização, que costumam se moldar conforme o

comportamento daqueles que estão há mais tempo nesse ambiente.

A segunda forma consiste naquilo que Mannheim (1952) definiu como “padrões

inconscientemente ‘condensados’, meramente ‘implícitos’ ou ‘virtuais’”. Pierre Bourdieu19

(1983) definiu os comportamentos incorporados à vida dos indivíduos de habitus. Para esse

autor, habitus são aqueles padrões que se aprende e se executa sem tomar consciência das

motivações e das origens. A respeito do conceito de habitus, o autor define como

[...] um sistema de disposições duráveis e transponíveis que, integrando todas

as experiências passadas, funciona a cada momento como uma matriz de

19 Pierre Bourdieu (1930-2002).

Page 26: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

25

percepções, de apreciações e de ações – e torna possível a realização de

tarefas infinitamente diferenciadas, graças às transferências analógicas de

esquemas que permitem resolver os problemas da mesma forma, às correções

incessantes dos resultados obtidos, dialeticamente produzidas por esses

resultados (BOURDIEU, 1983, p. 65).

Por outro lado, Sigmund Freud20, pesquisador da Psicanálise e reconhecido

mundialmente por levantar questões a respeito do inconsciente humano, defendia que o

indivíduo é capaz de registrar conteúdos de acontecimentos reais diretamente na parte

inconsciente de sua memória e usá-lo como base para futuros comportamentos. Assim como

Freud, Mannheim (1952) mostrou ser possível que o indivíduo, de forma inconsciente,

selecione os dados memorizados nessa parte da memória e converta-os em ações.

No processo de transmissão cultural, os comportamentos “condensados” são repassados

de forma inconsciente e somente se tornarão conscientes no momento em que os contatos

originais demandarem uma reflexão por parte do indivíduo, ou seja

Estamos diretamente conscientes, em primeiro lugar, daqueles aspectos da

nossa cultura que se tornaram passíveis de reflexão; estes abrangem apenas

aqueles elementos que durante o desenvolvimento se tornaram, de algum

modo, problemáticos (MANNHEIM, 1952, p. 77).

No entanto, Mannheim vai além ao expor que mesmo aqueles padrões que emergiram à

consciência e foram problematizados podem retornar “a uma região intocada e não-

problemática de vida vegetativa”.

A medida que o indivíduo envelhece, novas experiências tomam conta de sua

consciência, submergindo as antigas à inconsciência. As memórias que ele adquiriu

pessoalmente, convertem-se em padrões de comportamentos cada vez mais condensados. Para

que esses padrões sejam questionados, sofram reflexão e sejam alterados por novas experiências

convertidas em novos padrões condensados, é fundamental para as gerações que este indivíduo

desapareça e um novo nasça – o constante devir da realidade.

O terceiro fato fundamental às gerações trata de um ponto que envolve os dois

supracitados: os sujeitos de qualquer geração só podem participar de uma parte

cronologicamente limitada do processo histórico-social. Isso implica dizer que justamente pelo

desaparecer de antigos indivíduos e aparecer de novos, nenhum deles poderá presenciar todos

os acontecimentos da sociedade – seja por motivos de situação geográfica ou pelos processos

biológicos. Como já citado, o jovem que vivenciou a ditadura de maneira diferente do velho

não só pelo ritmo biológico, mas também pelos níveis que se tinha de consciência, por exemplo,

20 Sigmund Freud (1856-1939).

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26

quando ocorreu o golpe pela tomada do poder – alguns jovens não haviam nascido, logo não

presenciaram tal acontecimento. Da mesma forma, ao fim do Regime, alguns indivíduos não

estavam mais vivos e, portanto, não vivenciaram o encerramento daquele governo.

Nesse terceiro fato, para melhor ser compreendido, necessitamos dos conceitos de

“situação similar” e “estratificação da experiência” (Erlebnisschichtung). Estar “situado

similarmente” significa dizer que os indivíduos estão “numa posição para experienciar os

mesmos acontecimentos e dados, etc” (MANNHEIM, 1952, p. 79-80) e possam partilhar da

“mesma” consciência estratificada. Em outras palavras, os jovens brasileiros das décadas de

1970 e 1980 não compartilharam uma “situação similar” com os jovens do México, pois ser

cronologicamente contemporâneo não significa, necessariamente, processar os mesmos

acontecimentos histórico-sociais de forma parecida – é por isso que definir uma geração apenas

com base no ano de nascimento é demasiado vago para compreende-la.

É importante ressaltar que para que exista uma situação que seja determinante para a

constituição de uma geração, não se pode esquecer o fator biológico (juventude e velhice),

somado aos processos históricos. É evidente que as experiências dialeticamente acumuladas

pelos indivíduos mais velhos de uma sociedade os farão absorver os novos eventos históricos

diferentemente dos sujeitos que possuem pouca bagagem inconsciente, por exemplo.

O quarto fator diz respeito ao processo de transmissão cultural, fundamental às

gerações. É importante para este fator que indivíduos nasçam e morram, compondo diferentes

“situações similares”, resultando numa somatória de experiências importantes para que os

padrões não se perpetuem, que sejam questionados e modificados ao serem repassados pelas

gerações.

Uma vez que nenhuma geração é eterna, há a constante necessidade de se transmitir a

cultura para as novas gerações, para que ela não fique sem referência. Para Mannheim, os mais

velhos transmitem de forma automática aos novos indivíduos “modos tradicionais de vida,

sentimentos e atitudes” (MANNHEIM, 1952, p. 81) e isso faz parte da vida em sociedade. Há,

evidentemente, os conteúdos conscientemente transmitidos, mas assim como Freud, Mannheim

defendia que a memória inconsciente que se transmite é a mais importante na formação do ser.

Devido a isso as experiências que ocorrem na infância tendem-se a cristalizar-se como “a visão

natural de mundo” – e por isso Freud afirmava que as fases da primeira infância construiriam

as primeiras estruturas da personalidade do indivíduo (CARVALHO, 2018).

Essas experiências são assimiladas sem que o indivíduo as questione. Por estar em

formação, a consciência demora a trazer para si algumas questões e problematiza-las, o que,

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27

segundo Mannheim (1952), costuma ocorrer por volta dos 17 anos – momento em que inicia a

“experimentação pessoal com a vida” (MANNHEIM, 1952 p. 82).

Para Foracchi (1972), a juventude tem por si a essência da rebeldia. É inerente a esse

grupo etário questionar atitudes cristalizadas na sociedade e trazer ideias que coloquem em

movimento a estrutura social. Assim, as gerações estão em uma constante troca: os mais velhos

ensinam os mais jovens e vice-versa.

O quinto e último fator fundamental às gerações diz respeito a transição que

continuamente ocorre entre elas. Entre os mais jovens e os mais velhos há uma geração

“intermediária”, responsável socialmente por mediar a transição (MANNHEIM, 1952). Logo,

quanto mais dinâmica for uma sociedade, maior será a interação entre os grupos etários e mais:

a recepção das influências dos novos indivíduos passa a ser mais flexível por parte das gerações

mais antigas. Exemplo das tecnologias que, em uma sociedade pós-moderna altamente

dinâmica como a atual, são intensamente utilizadas por indivíduos que, até a fase adulta, não

imaginavam trocar fotos em tempo real com pessoas situadas em qualquer lugar do globo.

Situados em relação aos fenômenos fundamentais às gerações, é necessário que alguns

conceitos sejam esclarecidos para que a leitura histórica das gerações (próximo subitem) se

desenhe de forma coerente. Isso porque uma geração não pode ser considerada geração

unicamente pelo fator cronológico, ou seja, pelo ano de nascimento comum dos indivíduos,

como já dito anteriormente. No entanto, dentro do universo geracional, existem níveis de

proximidade entre sujeitos pertencentes a um mesmo grupo geracional.

Por isso, de acordo com Mannheim (1952) e Foracchi (1972), o conceito de “situação

de geração” é extremamente importante por se tratar da problemática do compartilhamento de

um mesmo fato. Ou seja, é crucial que os indivíduos também estejam situados na mesma região

histórica e cultural. Isso implica dizer que os jovens nascidos na década de 1980 nos Estados

Unidos não partilharam da mesma situação de geração que os jovens nascidos na mesma época,

porém no México – historicamente, os anos e grandes acontecimentos mundiais são os mesmos,

contudo, a cultura é completamente diferente, trazendo consigo, por exemplo, habitus

diferentes.

Outro conceito de fundamental importância nessa análise diz a respeito à concepção de

gerações concebidas enquanto realidade. Nesse sentido, para que um grupo se constitua como

tal, é necessário a concretude da “participação no destino comum dessa unidade histórica e

social” (MANNHEIM, 1952, p. 85-86). Em outras palavras, para que os indivíduos constituam

tal grupo, é preciso que não só a unidade histórica e cultural seja partilhada, como também eles

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28

estejam expostos ao que Mannheim (1952) chamou de “sintomas sociais e intelectuais de um

processo de desestabilização dinâmica”.

Voltando ao exemplo dos jovens da década de 1980 no México, todos eles partilhavam

a mesma situação enquanto geração, por estarem situados histórica e culturalmente na mesma

região. Entretanto, os jovens que residiam em grandes centros urbanos vivenciaram

acontecimentos políticos e sociais de forma diferente dos jovens que residiam no campo.

Continuando essa linha de raciocínio, é possível imaginar que, então, o último nível de

entrelaçamento geracional é a geração enquanto realidade, onde o vínculo concreto existe

graças à exposição aos sintomas sociais. Dessa forma, todos os jovens, hoje, são do mesmo

grupo geracional – de fato, sim. Contudo, Mannheim (1952) explorou mais um conceito, o de

unidade de geração, a fim de mostrar os vínculos entre os sujeitos sociais quando ainda mais

estreitos.

Mannheim (1952) entende por unidade de geração o grupo em que os indivíduos

compartilham não só da mesma situação histórica, cultural e social, mas também quando

elaboram suas experiências obtidas através dessas exposições de forma comum. Por isso o

vínculo entre esses grupos se torna mais forte: é através desses dados mentais comuns que os

sujeitos se socializam e se aproximam. Vale salientar neste ponto que a unidade de geração não

é um grupo que se situa geograficamente no mesmo local, mas sim que compartilham dos

mesmos significados – principalmente no momento atual, que a internet faz esse papel de

encurtar distâncias geográficas. Em outras palavras, é possível que um jovem mato-grossense

partilhe da mesma unidade de geração, por exemplo, se suas compreensões políticas

equivalerem às de um jovem paulistano – desde que a situação histórica, cultural e social sejam

as mesmas.

As unidades de geração não são um grupo concreto, elas apenas nascem de um. Ou

seja, é possível que os jovens exemplificados anteriormente sejam filiados ao mesmo partido

político (grupo concreto), de onde suas ideias políticas fomentaram e, tão logo, ambos

pertencem a mesma unidade de geração. Assim, ainda que o partido deixe de existir enquanto

grupo concreto, os dois jovens podem continuar a partilhar da mesma unidade de geração, se

seus ideais políticos ainda forem os mesmos.

Trazendo para a realidade objeto de nossa pesquisa, os jovens aprendizes que trabalham

no hospital estudado constituem um grupo concreto, do tipo associativo, já que partilham dos

mesmos objetivos, isto é, trabalhar por necessidade. Ao partilharem da mesma situação

histórica, cultural e social, também pertencem à mesma unidade de geração. Por outro lado, os

Page 30: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

29

adultos que trabalham pelo mesmo motivo, ainda que convivam com esse grupo de jovens, não

se enquadram na mesma unidade de geração.

É evidente que diferentes grupos etários partilhem das mesmas ideias, como, no

exemplo usado, as políticas. Podem, inclusive, participarem do mesmo partido político.

Contudo, uma vez que suas situações históricas e sociais são diferentes, além do ritmo

biológico, não é possível categorizá-los como pertencentes a mesma unidade de geração.

Portanto, só podem constituir tal grupo aqueles indivíduos que já pertençam a mesma situação

de geração e, ainda assim, também constituam um grupo concreto – a exemplo, o partido

político.

No entanto, o ritmo acelerado de mudanças sociais e culturais trazidos pelo avanço da

tecnologia alterou atitudes básicas responsáveis por processar os impulsos coletivos de um

grupo, fazendo com que a maneira de integrar à consciência os dados históricos mudasse.

Mannheim (1952) afirmava que esse fato é considerado como “realização das potencialidades”,

isto é

Como resultado de uma aceleração no ritmo de transformação social e

cultural, as atitudes básicas precisam se modificar tão rapidamente que a

adaptação e modificação latente e contínua dos padrões tradicionais de

experiência, pensamento e expressão deixa de ser possível, fazendo então com

que as várias fases novas de experiência sejam consolidadas em alguma outra

situação [de geração], formando um novo impulso claramente distinto e um

novo centro de configuração (MANNHEIM, 1952, p. 92).

Para esse Mannheim, isso resulta um “novo estilo de geração ou de uma nova enteléquia

de geração” (MANNHEIM, 1952, p. 92). Explicando melhor, o contato original com as

tecnologias de informação como a internet, por exemplo, se deu em diversos momentos para

diferentes grupos etários, sendo alguns desde a primeira infância e outros ao fim da vida. Assim,

uma unidade de geração pode se perceber enquanto tal, de forma consciente, executando

atitudes similares – como é o caso do Movimento de Associações Estudantis, primeira metade

do século XIX, ou produzir suas ideias de forma inconsciente, ainda que iguais, porém sem se

perceberem como uma unidade de geração.

Isso tudo significa que quanto mais rapidamente uma sociedade se transforma, maiores

serão as diferenças de atitudes e de comportamentos entre as gerações, fazendo com que o

choque entre elas seja cada vez maior. No caso de comunidades que não são tão afetadas por

essas mudanças aceleradas, não há uma distinção de ações tão evidente, portanto, o choque é

menor. Não quer dizer que não sejam diferentes entre si, mas o ritmo lento faz com que as novas

gerações se modifiquem de forma mais contínua, sem uma ruptura brutal.

Page 31: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

30

Uma vez que os grupos etários acabam por estarem muito próximos cronologicamente,

fazer uma distinção clara e objetiva é tão complexo quanto. Desta forma, ao não se perceberem

como um grupo com enteléquias originais, esses indivíduos se aproximam de outros grupos –

mais velhos ou mais novos – que já tenham desenvolvido uma forma satisfatória de agir em

determinadas situações. A medida em que isso ocorre, os impulsos e tendências de uma geração

tendem a se esconderem às sombras daquelas da geração mais velha ou mais nova cuja

associação foi feita.

Ainda de acordo com Mannheim (1952), experiências cruciais de grupo podem agir

como “agentes cristalizadores”, fato que é característico da vida cultural, uma vez que

elementos considerados desvinculados do contexto dos jovens são sempre atraídos por

configurações mais aperfeiçoadas, mesmo quando o impulso tateante e informe difere em

muitos aspectos da configuração que o atrai. Deste modo, os impulsos e tendências peculiares

a uma geração podem permanecer obscuros em razão da existência da forma definida de outra

geração à qual eles se vincularam.

Compreender que o ritmo de mudanças políticas, culturais e sociais das gerações não

precisa ser paralelo ao ritmo biológico é fundamental para que o pesquisador das gerações não

cometa o equívoco de determinar comportamentos brutalmente divergentes, pois não é decisivo

que cada geração possua todos os impulsos opostos aos da anterior.

1.2. Compreendendo o comportamento das gerações nos contextos sociais

Marialice Foracchi, assim como Mannheim, considerou de extrema importância o

estudo histórico dos fatores políticos, culturais e sociais para que se analisasse uma geração,

pois entendia que o fator biológico por si só não era determinante para as mudanças

comportamentais. Nesse sentido, Mannheim considerava um grande equívoco investigar o

comportamento dos jovens apenas sob o ponto de vista da abordagem naturalista do ritmo

biológico da vida, optando somente por uma análise cronológica dos nascimentos para

determinar o comportamento humano. Em vista disso, esses teóricos defendiam que o fator

biológico por si só proporciona a possibilidade de uma proximidade nos comportamentos (ou

enteléquias) das gerações, mas é a estrutura política, cultural e social a responsável por dar

respostas consistentes a respeito das gerações ao pesquisador.

Nesse sentido, compreender as identidades coletivas é essencial para se entender as

gerações. Para Kathryn Woodward (2014), a problemática da identidade se dá pela diferença:

o indivíduo, além de ser o que é, é também aquilo que não é, em outras palavras, para ser

Page 32: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

31

brasileiro, o sujeito não é mexicano. Portanto, ao ser considerado da geração X21, por exemplo,

o indivíduo não é da geração Y – seja em função de seus padrões de comportamento, seja pela

adesão ao grupo etário ao qual pertence. Ao realizar afirmações acerca de identidade,

Woodward (2014) toma como ponto crucial em suas pesquisas a mesma análise de grupos que

Mannheim (1952) e Foracchi (1972) fizeram em suas averiguações, ou seja, a investigação

histórica.

Contudo, vale ressaltar que antes de entrar nesse debate, Woodward considera

fundamental esclarecer a concepção de identidade, e o faz dizendo a noção de identidades está

associada ao circuito da cultura, uma problemática que foi também objeto de pesquisas de

pesquisadores como: Paul du Gay, Stuart Hall, Linda Janes, Hugh Mackay e Keith Negus,

citados por Woodward (2014), conforme figura a seguir.

Figura 1 – O circuito da cultura, segundo du Gay et al (1997)

Fonte: SILVA; HALL; WOODWARD (2014)

Com base nessa concepção, Woodward (2014) afirma que a representação como

significação/sistemas simbólicos, é um processo cultural, o qual é responsável pela construção

de identidades individuais e coletivas. Woodward (2014) e Hall (1997) defendem a ideia de que

para compreender os sistemas de representação, “é necessário analisar a relação entre cultura e

significado” e que, para tal entendimento, é preciso ter “ideia sobre quais posições-de-sujeito

eles produzem e como nós, como sujeitos, podemos ser posicionados em seu interior”

(WOODWARD, 2014, p. 17).

Essas representações, sem nos darmos conta, muitas vezes se introjeta no imaginário

como ideologia, como é o caso da influência da cultura norte-americana na década de 1970, no

21 Seguiremos nesta dissertação as nomenclaturas de gerações conforme exposto na tabela de Sidney Oliveira

(2016), contudo, faremos uma classificação conforme os acontecimentos históricos ocorridos no Brasil – assunto

do próximo subitem.

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32

Brasil. A influência da cultura americana estava arraigada em diversos aspectos daquela

sociedade, mesmo assim, foi aceita e incorporada à brasileira sem as devidas críticas aos

impactos que ela provocaria na vida dos brasileiros. As propagandas de produtos que faziam

parte do consumo da sociedade Norte-Americana, como a Coca-Cola, eram amplamente

disseminadas nos televisores brasileiros, a tal ponto da Banda Musical Legião Urbana lançar a

música Geração Coca-Cola (1984)22, na qual descreve características de uma geração que teve

sua adolescência fortemente influenciada pela cultura dos Estados Unidos23. Assim, os

indivíduos foram marcados e tiveram, em parte, suas identidades “construídas” sob os

significados produzidos pela mídia24 da época.

Em outros dizeres, é com essa perspectiva histórico-social que a canção de Renato

Russo e Dado Villa-Lobos ganha sentido: os sujeitos daquela geração (Coca-Cola) se percebiam

através das propagandas enquanto um determinado grupo com aqueles comportamentos ditados

nos anúncios. Ou, como era o caso dos autores da letra, se sentiam diferentes justamente por

não se identificarem com aquele grupo (marcação da identidade coletiva pela diferença, como

já debatido por nós através da afirmação de Woodward).

A característica mais constante da juventude de acordo com Foracchi (1972) e Oliveira,

(2016), é a rebeldia e, quando não o é, busca aproximar-se de quem rompa com o tradicional.

Ser jovem implica em ser rebelde e questionar os padrões culturais que os mais velhos buscam

transmitir. No mundo contemporâneo, essas mudanças ocorrem com frequência e criam novos

comportamentos, de forma a gerar um novo grupo de indivíduos que compartilhem desses

mesmos novos comportamentos – as gerações.

No contexto da globalização, Woodward (2014), assim como Giddens (1991), afirma

que a “crise de identidade” é um debate em alta. Isso porque a globalização trouxe o passageiro,

isto é, aquilo que tem curta durabilidade, o que alguns sociólogos definem como pós-moderno.

Nesse sentido, a pós-modernidade trouxe uma série de mudanças culturais e sociais, situação

que, de acordo com Woodward (2014, citando ROBINS, 1997) e Bauman (1998, 2001), é

resultado dos questionamentos da sociedade moderna em relação às antigas estruturas do

estado, da sociedade, das tradições, e das instituições) que entraram em colapso. Essas

identidades, uma vez questionadas, sob o efeito da globalização, se tornam mais homogêneas e

22 Escrita por Dado Villa-Lobos (1965-) e Renato Russo (1960-1996). 23 Análise feita pelos alunos da Universidade de Brasília, Amanda Camylla e Thiago Dornelles (2010), disponível

no site http://historiadoraprendiz.blogspot.com. 24 Um tipo de sistema simbólico, segundo Bourdieu (1983).

Page 34: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

33

distantes das identidades locais (comunidade). Assim, a busca pelas certezas antigas,

constituídas no passado, é uma maneira de reafirmar tais identidades das gerações.

Em vista disso, Woodward defende a tese de que o passado é, de fato, fundamental na

construção e afirmação da identidade, seja coletiva ou individual, pois é nele que, ao questionar

os aspectos dela no presente, buscaremos as respostas. Novamente, a investigação histórica da

cultura e da sociedade é de grande importância para o fenômeno das gerações, pois uma vez

que não somos capazes de “conhecer todas aquelas pessoas que partilham de nossa identidade

nacional, devemos ter uma ideia partilhada sobre aquilo que a constitui” (WOODWARD, 2014,

p. 24). O mesmo ocorre com as gerações, daí a necessidade compreensão dos processos

históricos, tão fundamentais para a identificação do sujeito enquanto parte de uma situação de

geração, como Mannheim (1952) defendia. Bauman (2001) afirma que a modernidade líquida

é um tempo de incerteza e de fluidez, sendo assim, a busca pelo passado, real ou não, é capaz

de proporcionar alguma segurança em relação a identidade, seja ela individual ou coletiva.

Hall (2003) afirma que o sujeito sempre fala “a partir de uma posição histórica e cultural

específica”. Para ele, há duas formas diferentes de se pensar identidade cultural: a primeira é a

busca de um grupo social pela verdade de seu passado único e partilhado e a segunda, é a

constante transformação do passado, fazendo da identidade uma questão de “ser” e tornar-se”

– isto é, questionando a identidade, a reconstruímos.

Esse sociólogo defende que a segunda forma era mais coerente, visto que a realidade é

um constante devir e, portanto, a identidade não é fixa, é fluída (tornar-se, como dizia). Na

mesma linha de pensamento, Mannheim (1952) e Eisenstadt (1976) também defendiam que as

heranças culturais sofrem modificações e constituem novos significados para as novas gerações

(grupos etários).

Para Bourdieu (1983) e Goffman (2009), os diferentes campos sociais nos quais estamos

inseridos, exigem de nós representações de diferentes papéis sociais. Ainda que tenhamos a

(falsa) ideia de que somos os mesmos indivíduos em todos os momentos, Hall (1997) afirmava

que somos posicionados de diferentes formas, conforme a ocasião ou lugar. Já para Woodward

(2014) e Bourdieu (1983), como cada campo demanda diferentes recursos (capitais) simbólicos,

o indivíduo utiliza com maior ênfase aqueles que forem mais valiosos em determinado campo

A vida pós-moderna apresenta, constantemente, novas possibilidades, com base nas

mudanças econômicas (foco na produção de serviços, mulheres no mercado de trabalho),

sociais (elevadas taxas de divórcio, lares chefiados por mães ou pais solteiros) e culturais

(pluralidade de gênero e religiosa). Porém, ao assumir as diferentes identidades sociais que nos

são demandadas, Woodward (2014) afirma que elas podem entrar em conflito, por exemplo,

Page 35: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

34

como ser uma mãe presente o dia todo e ser um sujeito assalariado. Há, ainda, os conflitos entre

a identidade escolhida pelo sujeito e as normas sociais – espera-se, socialmente, que as mães

sejam heterossexuais e divergir desse padrão pode ser considerado como “desviante”.

Os novos movimentos sociais esbarraram nas questões de identidade uma vez que

buscaram a liberdade para determinados grupos. Para Woodward (2014), esses fatos emergiram

no ocidente nos anos 60 e questionaram fatores como as lealdades políticas baseadas nas classes

sociais e atravessaram para o contexto das identidades particulares. Esses movimentos

propiciaram aos indivíduos uma liberdade cada vez maior para construir sua própria identidade,

independente do que a construção social lhes impõe.

Ao pensar no particular, é inevitável trazer os psicanalistas Freud e Lacan. O sujeito

inicia a construção da sua identidade a partir da internalização das visões exteriores que ele tem

de si mesmo, principalmente no que Lacan (1998) nomeou de estádio do espelho. Ocorrendo

na primeira infância (até os 18 meses), o indivíduo tem a primeira compreensão de

subjetividade ao perceber-se como um ser distinto de sua mãe. Ao afirmar isso, Lacan

complementa que o sujeito constrói sua identidade a partir de um contínuo processo de

identificação com o exterior – ele procura constantemente se compreender por meio de sistemas

simbólicos e se identificar com as formas pela qual é visto pelos outros (externos ao “eu”

interior).

Para Oliveira (2016), os conflitos entre as gerações nascem no momento em que os

comportamentos se chocam. Evidente, os interesses e as prioridades mudam conforme o ritmo

biológico acontece e é por isso que a identidade do grupo vai se transformando à medida que o

tempo passa – os indivíduos passam por diferentes ciclos ao longo da vida, nos quais habitam

campos diferentes, compartilham de relacionamentos diferentes e buscam objetivos diferentes.

“Um ciclo é um acontecimento com duração mensurável e etapas definidas de início e,

principalmente, de fim” (OLIVEIRA, 2016, p. 64).

Para o autor acima citado, o ser humano passa por três ciclos, baseados nos seus

interesses. O primeiro deles ocorre desde o nascimento, quando o principal objetivo do sujeito

é adquirir habilidades novas, que sustentem sua sobrevivência, como reclamar por alimento

(choro), buscar pelo alimento (caminhar) e se comunicar (falar). Até final dos anos 70, era nos

primeiros vinte anos de vida que o indivíduo investia toda sua energia física e mental em

adquirir conhecimentos novos e, no caso do jovem, principalmente aqueles advindos das novas

experiências. Ele se desenvolvia enquanto sujeito individual e coletivo, usando a comunicação

aprendida (língua materna e outras, por exemplo) para se relacionar com outros indivíduos e,

naturalmente, se aproximar daqueles que buscam os mesmos objetivos. Esse ciclo tem seu auge

Page 36: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

35

na metade da vida do indivíduo – cerca de trinta e cinco anos, quando a expectativa de vida era

de sessenta e cinco anos.

O segundo ciclo envolve as consequências das escolhas feitas na primeira fase do ciclo

anterior (OLIVEIRA, 2016). O sujeito passa a assumir as responsabilidades de suas escolhas e

começa a desenvolver a maturidade para se tornar um ser independente de seus tutores. Esse

ciclo, que tinha seu auge aos quarenta anos, em média, prepara o indivíduo para os riscos de

suas atitudes e cristaliza na consciência as consequências de suas escolhas, de forma que ele

passa a criar um arsenal de experiências conscientes e inconscientes que o ajudarão nas futuras

decisões.

O terceiro e último ciclo nasce no auge dos primeiros dois e alcança sua plenitude na

última década de vida, que era por volta dos cinquenta anos, quando as experiências

cristalizadas na psique orientarão o indivíduo a decidir formas de aproveitar os recursos

adquiridos e a medir suas escolhas. Após dimensionar tudo o que já aprendeu, o sujeito

direciona sua energia física para o aproveitamento do que conquistou até então. O declínio desse

ciclo vem, justamente, com o declínio da energia física – que, em termos cronológicos, ocorre

com a proximidade da morte.

Enfim, Oliveira (2016) afirma que com a melhoria na qualidade dos serviços de saúde

oferecidos, rede de saneamento básico expandida e as novas opções de tratamentos para

patologias crônicas, a expectativa de vida do ser humano aumentou cerca de trinta anos

(OLIVEIRA, 2016). As gerações Baby Boomers e X passaram a vislumbrar uma vida acima de

setenta anos, podendo permanecer no trabalho por mais tempo e, consequentemente, manter

sua juventude, em quesitos materiais, por mais tempo – a aquisição de novas e mais completas

tecnologias é o principal exemplo (OLIVEIRA, 2016). Isso levou a uma prolongação dos ciclos

descritos anteriormente, cujos, no passado, se encerravam aos sessenta e cinco anos, expectativa

máxima de vida. Contudo, a consequência desse processo acarretou em uma prorrogação do

segundo ciclo para os filhos daquelas gerações, os jovens da geração Y – e as mudanças na

forma de relação entre os grupos etários foram significativas (BAUMAN, 2011).

1.3. O processo histórico e suas implicações na formação das gerações

Como colocado anteriormente, as gerações são comumente divididas por suas décadas

de nascimento (tabela 1, página 18), contudo, para a sociologia do desenvolvimento, são os

processos históricos que separam umas das outras. Para fins metodológicos, a Geração Z, objeto

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36

de nosso estudo, é constituída por jovens que nasceram a partir de 1997, ano em que a internet

se tornou acessível para os consumidores finais25. De acordo com Sidnei Oliveira, “a internet é

um marco definitivo no comportamento global da sociedade e, certamente, a principal

ferramenta de transposição de comportamentos entre os diversos países e culturas”

(OLIVEIRA, 2016, p. 38). No entanto, antes de trabalharmos o contexto dessa tecnologia, é

fundamental que façamos uma análise da historicidade das gerações passadas e como essas

participaram do processo de transmissão cultural.

Começamos pela classificação proposta por Oliveira (2016), na qual este teórico

qualifica a primeira como Geração Belle Époque, aquela em que os jovens teriam nascidos entre

1920 e 1939. O grande acontecimento dessa época foi a Primeira Guerra Mundial, iniciada em

1914. Como neste estudo entendemos ser importante demarcar os períodos de formação das

gerações com base em acontecimentos históricos, indivíduos que nasceram entre o início da

Primeira e da Segunda Guerra serão considerados desta geração.

Nesse período, nasceram aqueles que seriam responsáveis por repovoar o país após os

grandes conflitos mundiais, os quais dizimaram grande parte da população. Em meio aos

acontecimentos globais, o Brasil também viveu uma série de embates internos: a Revolta do

Forte (1922), uma revolta militar causada pelo descontentamento destes com o monopólio

político pelas oligarquias (os grandes fazendeiros da política “café-com-leite”), a derrota do

Marechal Hermes da Fonseca (1910-1914)26 e as fraudes eleitorais corridas na República Velha.

Eles objetivavam o fim desse sistema e, dois anos depois, inspiraram a Coluna Prestes (1924),

outra revolta militar – a cultura militar tinha grande influência nestes jovens.

Com a ida dos homens às Guerras, as mulheres tiveram que assumir suas posições de

trabalho, fosse para sustentar a família, fosse para manter os negócios (RIBEIRO, JESUS,

2016). O que era para ser temporário, tornou-se uma necessidade constante: os homens

voltaram mutilados e as mulheres passaram a se dividir entre as responsabilidades domésticas

e as fora de casa. Contudo, as condições de emprego feminino eram muito aquém do que se

conhece hoje e elas apenas exerciam profissões com a finalidade de suprir as necessidades

financeiras da família caso seus maridos não tivessem condições (RIBEIRO, JESUS, 2016).

Ao assumir a presidência27 em 1930, Getúlio Vargas (1930-1945) faz uma série de

mudanças nas leis, inclusive, na trabalhista. Nesse sentido, uma das primeiras medidas de seu

25 DIANA, Daniela Toda Matéria. História da Internet. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/historia-

da-internet. Acesso em 20/08/2017. 26 O Marechal Hermes da Fonseca Fonseca (1855-1923) perdeu a eleição, em 1914, para Venceslau Brás (1914-

1918), representante das oligarquias. 27 Período da história brasileira conhecido como Era Vargas, entre 1930 e 1945.

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37

governo foi à criação da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) em 1943. No que diz

respeito à legislação dessas questões, Vargas cria o Ministério do Trabalho (1931), institui o

voto universal, secreto e também o feminino (1932), além de regulamentar o trabalho feminino,

ainda que com ressalvas, na promulgação a Segunda Constituição da República (1934). Nesse

mesmo ano, Vargas é reeleito indiretamente e, em 1937, em parceria com junto aos militares,

efetivaram o primeiro golpe militar, dissolvendo o congresso e os partidos políticos,

implantando a Ditadura Vargas.

É fundamental compreender que os indivíduos da Geração Belle Époque passaram por

acontecimentos importantes, em especial, as grandes guerras mundiais, períodos ditatoriais, que

impactaram diretamente de maneira psicológica na construção de suas personalidades.

Mannheim (1952) afirma que é justamente a forma como eles absorvem esses processos

históricos e os elaboram em suas consciências, de maneira comum, que os torna parte de uma

mesma geração. Portanto, comportamentos como o casamento precoce e a criação de famílias

com muitos filhos são intrínsecos desses indivíduos.

Após a Geração Belle Époque, surge a Geração Baby Boomers, cuja Oliveira (2016)

afirma ser constituída por indivíduos nascidos entre as décadas de 1940 e 1950. Após quinze

anos do fim da Primeira Guerra, inicia-se, na Alemanha, uma perseguição aos judeus, que

acarretou no que ficou conhecido por holocausto28, iniciando uma grande migração destes pelo

mundo. Com o início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), em praticamente sua metade

(1942), o Brasil entra no conflito, declarando guerra à Alemanha e Itália.

Quando se fala em guerra, é importante compreender que, por mais distante que o

indivíduo esteja daquela realidade, ela tem impactos decisivos na vida das populações, afetando

substancialmente o contexto do qual participa. Em períodos de guerras, as forças armadas

enviam tropas para as áreas de conflitos e nesse processo muitas mortes são inevitáveis. Com

isso, muitas famílias perdem seus parentes e, por vezes, essas mortes acarretam em déficits nas

populações de muitas cidades e/ou comunidades. Além disso, a economia de diversos países

envolvidos nos conflitos se voltam para produzir os recursos necessários para garantir que as

forças armadas executem suas funções. Isso também gera uma perda de parte ou da totalidade

das reservas financeiras e acúmulo de dívidas públicas dos envolvidos nesses conflitos, ainda

que os efeitos não sejam tão imediatos, logo eles estarão sendo sentidos no dia-a-dia dos

cidadãos.

28 Holocausto diz respeito ao extermínio de milhões de judeus (um genocídio), organizado de forma sistemática e

patrocinado pelo Estado Nazista, comandado por Adolf Hitler (1889-1945).

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38

No Brasil, ao fim da Segunda Guerra, ocorreu a deposição de Getúlio Vargas, após um

Golpe Militar, chegando ao fim a Era Vargas. Com sua queda, sobe ao poder o General Eurico

Gaspar Dutra, eleito presidente do Brasil para o período 1946-1951, com a promulgação da

quarta Constituição do país. No exterior, iniciava-se a Guerra Fria, período marcado pelas

constantes disputas entre os Estados Unidos e a União das Repúblicas Socialistas Soviética

(URSS) pela hegemonia mundial. Este período também ficou conhecido pela disputa entre o

bloco capitalista liderado pelos Estados Unidos e o bloco socialista liderado pela URSS – essa

disputa influenciou no comportamento de várias gerações, inclusive pelas histórias em

quadrinho que circulavam na maior parte do mundo, na qual o herói era americano e o vilão,

era o socialista. Em decorrência dessa disputa internacional, no Brasil, Dutra decreta, em 1947,

a extinção do Partido Comunista Brasileiro (PCB), elevando a tensão política no país.

Nas eleições presidenciais de 1950, Getúlio (1951-1954) foi eleito pelo povo e retorna

à presidência, fruto das atitudes adotadas por ele em seu primeiro mandato, como a instituição

da CLT. Contudo, a instabilidade política de Getúlio fora aumentando em decorrência das

corrupções reveladas, e apesar do apoio popular, os militares iniciaram uma manobra para a

deposição do mesmo. Em 1954, Vargas comete suicídio, após uma grande pressão de políticos

e militares para que ele renunciasse.

Em 1955, Juscelino Kubitchek (1956-1961) fora eleito presidente e, assim, inicia-se seu

plano de construção de Brasília, para a retirada da capital do país do Rio de Janeiro. Em 1961,

Jânio Quadros (1961) assume em janeiro e renuncia em agosto, fazendo com que seu vice, João

Goulart (1961-1964), assumisse, gerando um desconforto nas Forças Armadas e agravando

ainda mais a instabilidade política do país.

Esse cenário confuso e conflituoso levou à instituição do sistema parlamentarista como

uma moeda de negociação com os militares, para que Goulart pudesse assumir a presidência.

Ele tentou instituir reformas, porém, os militares faziam forte oposição às suas medidas. Essas

divergências políticas acarretaram em uma considerável instabilidade econômica do país. Em

1963, por exemplo, a inflação chegou a 73,5%. Indivíduos que, nesse período, realizavam

compras de suprimentos para suas famílias, por exemplo, passaram a estocar alimentos, com

medo dos futuros preços (OLIVEIRA, 2016). Aqueles que passavam por sua primeira infância,

guardavam em seus inconscientes a lembrança de seus pais organizando a dispensa com muitos

produtos.

Em decorrência de tudo isso é que Oliveira (2016) define a Geração X, considerando os

indivíduos nascidos nas décadas de 1960 e 1970. No entanto, há de se ressaltar que na década

de 1960, iniciavam-se os “anos rebeldes”, momento em que os então jovens da Geração Baby

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39

Boomers passaram a contestar a cultura militar, discutir a diversidade social e as famílias

iniciadas por eles quiseram ser diferentes. É nesse processo que vai ocorrer, em 1964, o Golpe

Militar no país. Desde então, os direitos políticos foram suspensos, dando início à Ditadura

Militar29 no Brasil. Disso, podemos afirmar que se os jovens da Geração Baby Boomers tinham

suas personalidades formadas tendo como referencias os conflitos internacionais, os sujeitos da

Geração X cresceriam em um cenário com muita censura e ordem militar, constituindo seres

com aspectos disciplinares muito enraizados em que o medo era evidente (OLIVEIRA, 2016).

Como parte das práticas disciplinares do Regime Militar, o General e Presidente

Humberto de Alencar Castelo Branco (1964-1967), determinou a cassação de líderes políticos

como Jânio Quadros, João Goulart e Juscelino Kubitchek e extinguiu todos os partidos,

decretando o bipartidarismo. Em vista disso, apenas dois partidos foram tidos como legais: a

Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido de apoio ao governo e Movimento Democrático

Brasileiro (MDB), a oposição. Castelo Branco tomara medidas para conter a inflação e o

pagamento das dívidas exteriores do país, que afetaram apoiadores do golpe e causou

descontentamento.

Durante o do Regime Militar, o General Humberto de Alencar Castelo Branco foi

substituído pelo General Artur da Costa e Silva (1967-1969). Este encarregou-se de endurecer

ainda mais o controle militar sobre a sociedade ao promulgar uma nova constituição, que

permitia uma repressão ainda maior contra os opositores do Regime. É nesse contexto que é

decretado o Ato Institucional nº. 5, que concedia plenos poderes ao Presidente por tempo

indeterminado.

Com eleições suspensas, as revoltas se instituíam nas ruas e os civis clamavam por seus

direitos, principalmente de liberdade. O governo militar respondia agressivamente, com

prisões, torturas e ainda mais censuras. Os indivíduos que passavam pela infância nesse período,

cristalizavam comportamentos de disciplina e por vezes não obtinham explicações dos motivos

pelos quais eram reprimidos (OLIVEIRA, 2016).

Oliveira (2016) afirma que os sujeitos da Geração X tiveram que amadurecer cedo, pois

as falhas poderiam implicar em graves consequências. Na escola, precisavam de boas notas e

foram estimulados a trabalhar desde cedo – seja ajudando os pais no pequeno negócio, seja

buscando sustento para se manter próximo a uma universidade e conquistar o diploma de ensino

superior (OLIVEIRA, 2016).

29 O período da Ditadura Militar se entendeu entre 1964 a 1985.

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40

Ainda segundo esse autor, quando estes indivíduos alcançaram a vida adulta, o regime

ditatorial havia terminado, contudo a instabilidade econômica persistia. Com a inflação diária

no governo de José Sarney (1985-1990) nos anos seguintes à queda da ditadura, os sujeitos da

geração X começavam a replicar o comportamento de seus pais: as compras de suprimentos

eram grandes, a disciplina econômica era fundamental e economizar era imprescindível.

Foram anos de reestabelecimento e a intensa influência da política e do capitalismo

americano no Brasil fazia com que o ritmo acelerado do desenvolvimento fosse indispensável.

Assim, esses indivíduos compreenderam a necessidade do trabalho. Evidentemente, eles

passaram a gozar dos frutos de suas profissões e buscaram se dedicar ao máximo para prover

condições melhores para suas famílias – escolas particulares para seus filhos, uma casa em um

bairro seguro para seus esposos (as).

A década de 1970 trouxe significativas alterações nas dinâmicas familiares (RIBEIRO,

JESUS, 2016). Com a necessidade de aumentar a renda familiar e garantir estabilidade

econômica, além de suprir as demandas de consumo (influência capitalista americana), as

mulheres entraram no mercado de trabalho formal. As mulheres da Geração X foram

estimuladas, desde novas, a exercerem uma profissão.

Visto que os esposos estavam em processo de trabalho também, a educação de seus

filhos fora terceirizada. Aquelas que tinham condição, passaram os cuidados maternos para uma

outra mulher, contratada, ou para a escola particular. Outras, passaram para o parente mais

próximo ou para a creche da rede pública.

Apesar das dificuldades, essa geração de mulheres decidiu se profissionalizar,

melhorando suas qualificações através dos estudos. Diferente das mulheres das épocas de

guerra, essa geração entrou para disputar com os homens e não para substituí-los. Assim,

comportamentos como a postergação do casamento e da maternidade são encontrados nesses

indivíduos, que passaram a priorizar as carreiras profissionais.

Para Oliveira (2016), esses jovens foram criados com muita disciplina e “replicavam”

(e ainda replicam) isso no ambiente de trabalho. Para eles, se dedicar a empresa e “vestir sua

camisa” é fundamental para uma carreira bem-sucedida, galgando posições cada vez mais altas

na hierarquia empresarial. Ser pontual, cumprir a carga horária e, por vezes, excedê-la, não

confrontar o chefe e executar suas ordens são características desse grupo etário. Uma vez que

queriam prover o melhor para seus filhos, ser um workaholic30 era necessário.

30 Do inglês: viciado em trabalho; trabalhador compulsivo.

Page 42: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

41

Sobre a problemática temporal das gerações, Oliveira (2016) afirma que os indivíduos

da Geração Y são aqueles nascidos nas décadas de 1980 e 1990. Se ainda nos anos de 1980

eram sentidos os impactos decorrentes da Ditadura, isso foi sendo amenizado a partir de 1985,

ao fim do Regime Militar, quando a inflação chegou a mais de 200% ao ano.

Consequentemente, aqueles indivíduos que nasceram a partir de 1986 não conviveram com um

regime cuja marca era a intensa censura. Apesar da instabilidade econômica, eles tinham mais

liberdade – a mulher já estava no mercado de trabalho, o sistema de eleições estava se

regularizando e os direitos civis começam a voltar. Em 1989, ocorreu a primeira eleição pós-

ditadura, elegendo Fernando Collor (1990-1992) como presidente.

Por terem sofrido com o Regime Militar, a desordem política e econômica, os pais dos

indivíduos da geração Y optaram por facilitar o mundo para estes (OLIVEIRA, 2016). Em

relação aos três ciclos já explicados anteriormente, a partir dos anos noventa do século passado,

ocorreu uma antecipação e um prolongamento do ciclo do aproveitamento para estes sujeitos,

que passaram a gozar dos recursos conquistados por seus pais antes mesmo de tê-los

(OLIVEIRA, 2016).

A televisão já era uma realidade desde da década de 1950, estando cada vez mais

presente nas casas de muitos, a partir dos anos noventa praticamente se estendeu a todas a

residências trazendo todos os tipos de informações. Essa tecnologia trouxe consigo um

comportamento social típico do capitalismo – o consumismo. Segundo o Instituto Nacional de

Geografia e Estatística (IBGE), num estudo publicado em 2010, 56,10% dos domicílios tinham

uma televisão em 1980.

De acordo com Oliveira (2016), com esse dispositivo tecnológico, as indústrias

passaram a instigar o consumismo através dos comerciais. As crianças da geração X que

cresceram com uma televisão à disposição, foram doutrinadas com anúncios que diziam que

bastava querer para conseguirem. Contudo, a economia da época não permitia que seus pais

não esquecessem suas bicicletas Caloi31. As propagandas durante a ditadura passaram uma

imagem equivocada do milagre econômico, pois, ainda que a taxa de crescimento do PIB

(Produto Interno Bruto) chegasse a 14%32, as diferenças microeconômicas se atenuavam.

Sendo assim, ao se tornarem pais, aqueles que sofreram durante os anos de Ditadura

Militar por não receberem dos seus próprios pais o que queriam, desejaram proporcionar isso a

seus filhos – e isso gerou uma série de comportamentos nos jovens da Geração Y.

31 Referência à campanha publicitária da marca de bicicletas Caloi, que marcou a época, por disseminar o slogan

“Não esqueça a minha Caloi”. 32 Fonte: Apêndice Estatístico em Giambiagi et. All (2005) citado por Veloso, Villela e Giambiagi (2008).

Page 43: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

42

Para Oliveira (2016), grande parte dos jovens pertencentes a Geração Y cresceu com

seus pais trabalhando em período integral fora de casa, indo para escola desde cedo e sendo

criados por terceiros. Uma alternativa encontrada pelos pais para superar suas ausências, foi dar

presentes e, dessa forma, acabaram estimulando seus filhos ao consumismo. Ao recompensar

os filhos com presentes ou facilidades – quartos individuais, mais de uma televisão na casa,

vídeo game, outras coisas, esses pais geraram filhos que não conseguem enfrentar as

dificuldades do dia a dia.

Ainda de acordo com Oliveira, (2016), por estarem no mercado de trabalho e, ao mesmo

tempo, ausentes em grande parte do dia da presença dos filhos, os pais passaram a perceber um

aumento na competitividade e decidiram que seus filhos precisariam estar preparados em

diversas alternativas de conseguir possíveis empregos. Por isso, investiram nos estudos como a

graduação, a pós-graduação, o inglês como segundo idioma, entre outros.

Desde cedo, esses pais apostaram suas expectativas nos indivíduos da Geração Y, para

que estes trabalhassem mais e em melhores empregos, conquistassem mais recursos e tivessem

melhores condições de vida. Contudo, o conflito entre as expectativas dos pais e as facilidades

com que proviam as exigências de seus filhos acabaram causando nestes, atualmente já adultos,

a ansiedade. Com esta, a angústia e/ou a depressão também emergiram nesses indivíduos, já

que não conseguem enfrentar as dificuldades que lhes aparecem.

Em outros dizeres, Oliveira (2016), descreve a Geração Y como aquela constituída por

indivíduos altamente ansiosos e inconstantes. Para esse autor, os pais destes incentivavam os

filhos a estudar com a finalidade de adquirirem recursos financeiros para terem o que aqueles

não tiveram e ainda poderem prover condições ainda melhores para seus filhos. Entretanto, ao

proporcionarem facilidades como bens materiais em forma de recompensa por suas ausências,

os pais contribuíram para o desencadear de conflitos internos, isto é, a massiva ansiedade nesses

indivíduos.

A modernidade revolucionou muitas coisas, em especial, as tecnologias da informação

– o que nos trouxe à pós-modernidade. Neste período, a abundância de informações, que nem

sempre passam pelo crivo da pesquisa, faz-se verdade para os indivíduos. Isso nos evidencia

que a inserção da internet no dia-a-dia das pessoas foi decisiva para mudanças no

comportamento dos indivíduos de várias gerações, principalmente daqueles que nasceram em

um mundo já dominado por essa tecnologia.

Page 44: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

43

A partir de 1997, com a internet acessível ao consumidor final33, foi possível o

rompimento das barreiras. O acesso às informações entre classes sociais, fez com que a classe

trabalhadora também tivesse acesso a uma série de informações que antes era privilégio das

classes dominantes – assim como a televisão à sua época, a internet passou a ser um sonho e

logo ficou acessível para a maioria dos brasileiros (OLIVEIRA, 2016). Como já citado, para

fins desse trabalho, consideramos a Geração Z os nascidos a partir desse marco histórico,

portanto:

TABELA 2 – GERAÇÕES POR ACONTECIMENTO

NOME ACONTECIMENTOS

Belle Époque Primeira Guerra a Segunda

Guerra

Baby Boomers Segunda Guerra a Golpe

Militar

Geração X Ditadura Militar

Geração Y Pós-ditadura à massificação

da internet

Geração Z Massificação da internet

Fonte: Desenvolvida pelos autores.

1.4. A Geração Z

Pode-se afirmar que os indivíduos da Geração Z nasceram em um mundo considerado

por muitos teóricos como pós-moderno34, um contexto em constantes e aceleradas mudanças.

Decorrentes do avanço das tecnologias, tem-se a impressão de que o mundo ficou menor e essas

mudanças acabam interferindo diretamente nos valores e comportamentos dos indivíduos.

Nesse processo, sendo as sociedades repletas de tecnologias acessíveis a grande maioria de suas

populações, seus gestores acharam por bem institucionalizar direitos relacionados ao uso de

33 Até então, era um recurso de grandes companhias e do governo. 34 O termo “pós-modernismo” é definido por David Harvey (2008) como uma “condição histórico-geográfica” que

não diretamente oposta ao modernismo, implica na volatilidade de conceitos e rompimento com o antigo, e que se

espanta por sua “total aceitação do efêmero, do fragmentário, do descontínuo e do caótico” (p. 49), partes da

modernidade.

Page 45: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

44

certas tecnologias como computadores e celulares para consulta em salas de aulas. Em muitas

cidades e comunidades, foram instalados pontos de internet em lugares públicos.

Essa impressão de liberdade ao extremo resultou no que Bauman (1998, 2007, 2011)

define como modernidade líquida – momento em que as relações são voláteis, as inseguranças

crescentes e a fluidez do mundo cada vez mais incerta. Com mais de uma geração em cena,

devido ao aumento da expectativa de vida, as gerações passam a disputar, ainda, pelos mesmos

recursos e por espaços semelhantes no ambiente de trabalho. Compreender esse cenário é

fundamental para que se entenda a que circunstâncias se desenvolvem estes indivíduos, quais

suas influências e como seus pais (os primeiros adultos responsáveis por isso) transmitem a

cultura para eles.

Em relação a essa discussão Hall (2006) discute a questão da identidade na pós-

modernidade afirmando que esse período é questionador. Para Harvey e Bauman, os

fundamentos antigos que conceituavam a categoria identidade foram se esvaindo, caindo por

terra. Sabe-se atualmente que a identidade não é imutável, fixa, e não é dada como única –

Goffman (2009) debateu sobre as diferentes identidades que assumimos em diferentes campos.

Evidente, os indivíduos que nascem nesse contexto de fluidez, constituirão identidades distintas

para os campos – e culturas – com os quais interagem.

Nascidos e criados em um mundo volátil, os indivíduos da Geração Z absorveram os

valores da fluidez para si. Bauman (2001, 2011) afirmava que esses princípios estão tão

emaranhados no comportamento desses jovens que diversos aspectos da vida foram

modificados. O exemplo mais trabalhado pelo autor é o casamento, cuja instituição se desfez

da “eternidade” e se substituiu pela praticidade do “ir e vir”. Oliveira (2016) sustenta a

perspectiva de Bauman: o divórcio trouxe os benefícios de se romper o que não era bom,

contudo, o aumento da expectativa de vida fez com que o “até que a morte os separe” não

chegasse tão rápido quanto se pretendia.

Banhados pelas ideias pós-modernas, os indivíduos enquanto pais, transmissores da

cultura, criam seus filhos com uma flexibilidade nunca vista antes e Oliveira (2016), assim

como Bauman (2001, 2011), Cortella (2016) e tantos outros autores contemporâneos atribuem

esse fato à alta disponibilidade do mundo virtual. Era comum que a criança socializasse com

vizinhos e com os colegas de escola, pela proximidade e facilidade, entretanto, a internet

encurtou as distâncias permitindo que as amizades fossem construídas a longos quilômetros.

Oliveira (2016) expõe o lado ruim desse contexto mostrando que a capacidade de se relacionar

face-a-face deixou de ser desenvolvida e colocou os indivíduos em posições de seres mais

“virtualmente sociais”.

Page 46: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

45

No passado, a mãe estava presente na maior parte da criação de seus filhos, os quais

absorviam a ideia de normalidade desse contexto, assim como observavam os pais saindo para

trabalhar e retornando ao final do dia – fato que era usado como justificativa para os privilégios

dados aos “homens da casa” (OLIVEIRA, 2016). Com as liberdades advindas das revoluções

modernas, as mães passaram a trabalhar e os filhos se depararam com uma realidade na qual

seu desenvolvimento era guiado por outros indivíduos que não seus pais.

Nascidos em um contexto em que a liberdade é cada vez maior e as minorias

privilegiadas economicamente alcançam mais direitos, os indivíduos da Geração Z têm cada

vez mais acesso a diversas informações também. Oliveira (2012) afirma que ao mesmo tempo

que isso é bom, pois têm conhecimento de assuntos diferentes, culturas distantes e

acontecimento em tempo real, é também perigoso no sentido em que a atenção pode ser dispersa

mais facilmente.

Embora existam pesquisas que discutem as características dessa geração e do tempo em

que ela vive, o ambiente de trabalho ainda é um campo a ser explorado. Oliveira (2016) mostra

que os gestores precisarão se adequar a esses novos profissionais, que chegam tão logo ao

mercado de trabalho e com características fluídas e diferentes de seus antepassados. Hamel

(2009) defende a mesma ideia e, com sua pesquisa, concluiu doze características desses jovens,

que ele classifica como nativos digitais, justamente pela familiaridade que esses têm com o

mundo virtual (as apresentaremos no próximo capítulo).

Em síntese, neste capítulo trabalhamos o processo de formação das gerações e as

principais categorias que envolvem a problemática das gerações, pautados por autores como

Mannheim, Foracchi, Oliveira, Eisenstadt e Hamel. Os conceitos foram expostos de forma a

clarear a visão do leitor para a análise dos processos histórico-sociais que também foram

abordados neste capítulo. Após a elucidação das principais categorias juntamente à

historicidade de cada geração, trabalharemos os conceitos relativos à modernidade e pós-

modernidade, que representam o momento histórico envolto ao nosso objeto de pesquisa e da

categoria relações sociais no trabalho, ambiente no qual executaremos nossa pesquisa. No

capítulo a seguir, vamos trabalhar os impactos provocados pela sociedade pós-moderna na

formação do Ser e nas relações sociais.

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46

2. AS RELAÇÕES SOCIAIS NA SOCIEDADE PÓS-MODERNA

A fim de mostrar os impactos que a pós-modernidade tem na formação do jovem da

Geração Z, abordaremos essa categoria como fundamento central deste capítulo. Para tanto,

faremos um diálogo com a modernidade, de forma que possamos construir os impactos

políticos, econômicos e sociais sobre o comportamento dos indivíduos pós-modernos e objetos

deste estudo. Evidente, transcorreremos sobre as implicações decorrentes dos avanços

tecnológico que, ao aproximar gerações e países, faz com que os valores morais e os

comportamentos sejam renovados ou modificados a todo momento.

Partimos da premissa que nosso objeto de pesquisa nasce e cresce em um espaço de

tempo considerado pós-moderno, baseados nos recortes cronológicos como Bauman e Harvey

sobre essa categoria. Em outras palavras, nosso objeto de estudo desenvolve suas relações em

um contexto cuja tecnologia da informação surge e desaparece rapidamente, como jamais visto

antes. Por isso, estenderemos aqui discussões dos conceitos embasados em autores como

Bauman, Giddens e Harvey. Trabalharemos, ainda, a categoria das relações sociais, para que

possamos compreender como elas se dão no ambiente de trabalho pós-moderno.

A fim de entendermos melhor a formação profissional e pessoal da Geração Z, é

fundamental que analisemos a construção histórica do momento em que estes indivíduos

desenvolvem suas identidades. O advento da tecnologia, por exemplo, transformou a vida dos

indivíduos, facilitando postos-chaves da sociedade, como é o caso dos relacionamentos

(BAUMAN, 2001, 2004, 2007, 2011).

De acordo com Bauman, a flexibilidade a que estão submetidos os sujeitos da

modernidade líquida foi vantajosa: aqueles casamentos que se pautavam em agressões físicas e

abusos psicológicos ganharam a oportunidade de “se encerrar”. No entanto, por outro lado, a

facilidade de se obter o divórcio acarretou uma volatilidade das relações: o esforço que se

investia para que funcionasse não era mais necessário e bastava um querer para que tudo

acabasse (BAUMAN, 2001, 2004, 2007, 2011).

Como toda mudança temporal, a modernidade líquida provocou significativas mudanças

nos valores que, até então, eram considerados enraizados na cultura ocidental. Aspectos antes

considerados indiscutíveis, passaram a ser o centro de grandes debates políticos e sociais, como,

por exemplo, a definição de família. A liberdade de expressão e o espaço do mundo virtual

permitiram que pessoas silenciadas por suas posições (sociais ou econômicas) ganhassem voz

e arguissem com os até então dominantes dos espaços de discussões.

Page 48: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

47

Para Giddens (1991), a modernidade abalou as estruturas sólidas das sociedades

ocidentais e levantou questionamentos sobre a concretude do passado – mas, como afirma

Bauman (2001, 2011), a liberdade tem seu preço e ela vem com a insegurança. O que antes era

alcançável, não pela disponibilidade, mas pela certeza de quais passos eram necessários para se

alcançar, tornou-se incerto para muitos (BAUMAN, 2001, 2011).

A modernidade foi um momento da História em que ocorreu uma série de mudanças em

relação ao passado. Tomando como referências os estudos de Bauman (2001) e Giddens (1991),

dialeticamente pode-se afirmar que a modernidade guerreou com as tradições antigas e gerou

rupturas bruscas e definitivas – especialmente no tangente às relações sociais, como defende

Bauman (2001).

Nessa perspectiva, a modernidade foi apenas um caminho para a pós-modernidade, onde

os sujeitos passam para uma nova mudança, a aproximação com o individualismo: “A pós-

modernidade, por outro lado, vive num estado de permanente pressão para se despojar de toda

interferência coletiva no destino individual” (BAUMAN, 1998, p. 26).

Ainda que não exista um consenso sobre a cronologia da modernidade e da pós-

modernidade – ou se, de fato, já estamos nesse tempo, uma coisa é fato: o embrião do

individualismo cultuado na era pós-moderna foi gerado na liquefação das relações modernas.

Separar esses tempos é descontinuar uma construção histórica necessária para a compreensão

dos comportamentos pós-modernos.

O paradoxo da modernidade acentua-se na pós-modernidade. A liberdade, a seu próprio

preço, busca estabelecer-se como um valor sólido para os recém-nascidos nesse mundo.

Contudo, a insegurança nada a braçadas ao lado da liberdade, gerando desconforto em

diferentes aspectos da sociedade – o mal-estar que Bauman (1998) defende existir na pós-

modernidade.

2.1. A formação do Ser na pós-modernidade

Existem diferentes datas para demarcar a pós-modernidade, diferindo de autor para

autor. Bauman, por exemplo, demarca esse período como tendo início com a queda do Muro de

Berlim em 1989, justamente pela representação desse evento – a solidez da intolerância vivida

no passado não teria mais espaço nesse novo contexto, a liberdade viria para ficar e a história

teria um recomeço. Para Harvey, é um processo histórico-geográfico, contínuo à modernidade,

que aceitou o “caos” instaurado pelo desabamento dos sólidos antigos, das tradições enraizadas

Page 49: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

48

e dos valores até então disseminados, num “processo sem-fim de rupturas e fragmentações

internas no seu próprio interior” (HARVEY, 2008, p. 12).

De fato, datar um contexto torna-se complexo, pois não se trata de uma virada de chave,

mas de um processo que teve início há muito tempo e, por muito tempo ainda, esteve em

construção e disseminação até ser totalmente visível. A modernidade fora assim. Bauman

(2001) e Giddens (1991) trazem em suas obras que a modernidade foi questionadora – para

romper com o antigo isso fora necessário.

Por meio da análise histórica se faz um caminho essencial para a compreensão dos

períodos moderno e pós-moderno. O primeiro teve suas raízes na ruptura com o pensamento

medieval e a ascensão do Modo de Produção Capitalista, momento em a Ciência, isto é, o

conhecimento cientifico, se mostra por meio de muitas descobertas e teorias. Nesse contexto, a

Revolução Industrial ocorrida no Século XVIII trouxe significativas mudanças não só para o

pensamento moderno, como também para a rotina diária dos indivíduos. Mudando-se de uma

produção manufatureira para a industrial, aqueles que não se adaptaram à velocidade das

transformações tecnológica como consequência não conseguiam emprego, portanto, eram

excluídos do mercado de trabalho.

Bauman (2001) mostra que uma das grandes características da modernidade era a

solidez, a permanência das tradições, principalmente em termos de valores. Trouxe à luz o

homem como dono de si, dono de seu destino e não mais Deus. Com isso, estabeleceu-se uma

nova dinâmica entre o ser e o conhecimento. Por outro lado, como bem demonstra Lyotard

(1985), esse período tinha seu esgotamento em si mesmo, levando à formação de um novo

modelo de sociedade, a chamada Pós-Moderna. Contudo, com as revoluções das máquinas e da

informática, a produção do conhecimento foi se transformando em produção de informações –

ou bits (GIDDENS, 1991).

Os resultados disso tudo foram máquinas aperfeiçoadas, e, nesse caso, a concretude do

conhecimento adquirido e sua origem pouco importa, o fundamental é que haja quantidade para

ser disponibilizada na rede. São essas particularidades de um segundo momento da

modernidade, que Bauman (2007) sugere ser a responsável pela liquidez dos tempos modernos.

Liquidez em termos de defasagens das máquinas, uma vez que surgem outras mais eficientes,

com mais potência e capacidade de armazenamento ou produtividade, causando aquilo que

Harvey (2008) denominou de desemprego estrutural. Ou seja, o indivíduo que não acompanha

o avanço do conhecimento é um forte candidato ao desemprego.

Já Giddens (1991) enfatiza a ruptura, por ele denominada de “descontinuidade”, que a

modernidade possibilitou quando comparada aos modos de vida do passado. De forma muito

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49

mais rápida que os processos do passado, a modernidade subsumiu as instituições que regiam

a vida até então e deu espaço para novas formas sociais – em que as mudanças são tanto extensas

(mundo global) quanto intensas (transformações no íntimo do ser):

Os modos de vida colocados em ação pela modernidade nos livraram, de uma

forma bastante inédita, de todos os tipos tradicionais de ordem social. Tanto

em extensão, quanto em intensidade, as transformações envolvidas na

modernidade são mais profundas do que a maioria das mudanças

características dos períodos anteriores. No plano da extensão, elas serviram

para estabelecer formas de interconexão social que cobrem o globo; em termos

de intensidade, elas alteraram algumas das características mais íntimas e

pessoas de nossa existência cotidiana (GIDDENS, 1991, p.21).

Hall (2006), ao discutir sobre o caráter da mudança na modernidade tardia35, apresenta

uma citação de Marx e Engels (2006) que vai ao encontro dos pensamentos de Bauman e

Giddens sobre esse momento histórico: “O revolucionamento permanente da produção, o abalo

contínuo de todas as categorias sociais, a insegurança e a agitação sempiternas distinguem a

época da burguesia de todas as outras” (MARX; ENGELS, 2006, p. 28-29).

Vale ressaltar que embora alguns trabalhos de Marx e Engels (2006) tratem da

modernidade em si, em um período tão diferente do qual vivemos, não podemos negar o quão

atual são suas afirmações acerca da individualidade. As mudanças que se iniciaram nessa era

ganham ainda mais espaço na pós-modernidade. Além disso, é preciso lembrar das proporções:

a tecnologia da nova era encurta caminhos e derruba barreiras, fazendo com que as mudanças

ocorridas em um local do globo tão logo sejam sentidas a quilômetros, por outras sociedades.

Giddens pondera, ainda, a respeito das características envolvidas no processo de

descontinuidade entre passado e a modernidade. A primeira delas é “[...]o ritmo da mudança

nítido que a era da modernidade põe em movimento [...]” (GIDDENS, 1991, p. 12). Como já

discutido ao longo desse trabalho, esse período traz consigo a necessidade de mudanças em

ritmos extremos, exigindo dos indivíduos uma capacidade de adaptação maior que no passado.

A segunda é “o escopo da mudança” (GIDDENS, 1991, p.12). A globalização conectou

diversas áreas do mundo, fazendo com que mudanças sociais antes restritas, passassem a

contagiar outros indivíduos.

A terceira característica é a “[...] natureza intrínseca das instituições modernas”

(GIDDENS, 1991, p. 12). O passado era composto por formas sociais muito distintas do que se

encontra na modernidade, ainda mais na pós-modernidade. As relações virtuais, amplamente

35 De acordo com Hall (2006), a modernidade tardia consiste no período pós anos sessenta. Se pensarmos nos

recortes de Bauman e Harvey, pouco antes da pós-modernidade.

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50

difundidas e aceitas nessa sociedade, constituem uma forma de se relacionar jamais vista na era

moderna (BAUMAN, 2001).

Assim, Giddens (1991) esboça seu pensamento acerca da era moderna, demonstrando a

sua capacidade de ser ao mesmo tempo positiva e negativa. Tal como ele, Bauman (2001)

defende que esse período foi de rupturas em seu princípio e que as facilidades advindas desse

processo volatilizaram as instituições modernas. Ao se buscar a principal característica da era

moderna e consequentemente, da Pós-Moderna, chegamos à conclusão que é a constante

necessidade de mudanças. O que se altera, contudo, é a velocidade e a proporção de tais

mudanças.

Portanto, a pós-modernidade não poderia ser considerada se não passássemos por um

processo de mudança – a transição entre moderno e pós-moderno. Baseados nisso, autores como

Bauman, Giddens e Lyotard trazem em suas obras a leitura da era moderna para a compreensão

do pós-moderno. As inseguranças, os riscos e o paradoxo de um período que tanto oferece, mas

que tanto priva, permanecem constantes nesse novo momento da sociedade e que têm se

mostrado mais complexo no que tange as relações.

A globalização tem sua parcela de responsabilidade nas mudanças mais íntimas do ser

humano. No passado, o conteúdo educacional oferecido aos indivíduos era restritamente

advindo dos familiares mais próximos e da escola – instrumentos fundamentais para a

transmissão da cultura, conforme discutido no capítulo 1. Com as conexões virtuais e os

dispositivos (cada vez mais) móveis, as ideias pertencentes a outras sociedades passaram a estar

disponíveis para todos, a qualquer momento. Desta forma, como nos trazem os autores, o fluxo

de informações está cada vez maior, possibilitando aos indivíduos bases mais extensas para a

argumentação.

Para Giddens, alguns fatores são considerados impulsionadores da globalização. A

“ascensão da tecnologia das comunicações e da informação” (GIDDENS, 2011, p. 104)

encabeça a lista, visto sua grande influência no processo. Após a Segunda Guerra Mundial, o

crescente aumento na expansão das telecomunicações permitiu que o fluxo de informações

galgasse extensões jamais imagináveis – o ao vivo passou a ser online, em qualquer lugar do

globo. Indo ao encontro do conceito de pós-modernidade de Harvey (2008), as distâncias

geográficas foram aproximadas pelas tecnologias.

Os fatores econômicos também promovem o crescimento da globalização (GIDDENS,

2011). As mudanças de uma produção agrícola e artesã para uma produção industrial já havia

transformado padrões sociais. Com as revoluções tecnológicas, a economia mundial tem

migrado para “atividades que não têm peso ou são intangíveis”, segundo Quaah (1999, citado

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51

por GIDDENS, 2011). Com o crescimento do uso das tecnologias, a produção de produtos e

serviços baseados em informações tem se tornado o centro econômico – Giddens (2011)

exemplifica com os softwares e outros serviços online.

De acordo com esse autor, outro fator de grande impulso à globalização são as mudanças

políticas. Com a derrocada do comunismo soviético, os países até então pertencentes àquele

bloco passaram a interagir com outros e, tão logo, a aderir a modelos econômicos e políticos

mais difusos no ocidente. Outro aspecto importante “foi o crescimento de mecanismos

internacionais e regionais de governo” (GIDDENS, 2011, p.110). O surgimento da Organização

das Nações Unidas (ONU) e a União Europeia (UE), por exemplo, demonstra um avanço para

uma política mais global, na qual Estados-Nações arguem e criam diretrizes de forma conjunta.

Por fim, o crescimento de organizações não governamentais e governamentais internacionais

reafirma a tendência de ações que abranjam diferentes países em prol de um mesmo objetivo.

A globalização tende a acelerar as mudanças, ao mesmo tempo que aproxima os lugares

e os indivíduos. Dos paradoxos que a modernidade – e podemos afirmar, a pós-modernidade –

nos impõe, a questão da identidade merece destaque nessa dissertação. Com as distâncias

geográfica reduzidas, as influências culturais passaram a chegar a locais antes tão

incomunicáveis.

Para Bauman (1998), o jogo da vida de homens e mulheres na pós-modernidade se torna

ainda mais complexo, justamente pela volatilidade das regras desse jogo. O que antes era claro

e bem definido, assumiu obscuridade e flexibilidade. O grande jogo foi fragmentado em vários

pequenos jogos, os quais devem ser disputados vez a vez e com cautela, sempre atentos às novas

regras.

Já para Oliveira (2016), as fases pelas quais os indivíduos passam ao longa da vida

sofreram transformações incisivas nas gerações mais novas – a fase das consequências, por

exemplo, foi retardada. Na atualidade, os indivíduos postergam o momento de lidar com as

consequências, pois é o momento em que as escolhas do passado encontram o presente e, para

os indivíduos mais novos, essa tensão deve ser adiada, uma vez que outros jogos estão em

andamento (BAUMAN, 1998).

Nesse cenário de instabilidade dos valores e das regras sociais, os indivíduos que estão

em construção das suas identidades são diretamente afetados. Bauman (1998) discute sobre a

identidade fixa e volátil na pós-modernidade, visto ser um momento de recorte, se eximindo do

passado e do futuro. Logo, a identidade do sujeito passa a ser volátil, pois fixa-la seria

descumprir as regras contemporâneas.

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52

De acordo com o autor, o indivíduo moderno adia o embate entre o passado e o presente:

“[...] a identidade durável e bem costurada já é uma vantagem; crescentemente, e de maneira

cada vez mais clara, ela se torna uma responsabilidade. O eixo da estratégia da vida pós-

moderna não é fazer a identidade deter-se – mas evitar que se fixe” (BAUMAN, 2001, p.

114, grifo nosso).

Ernest Laclau (1990, citado por HALL, 2006), com base neste contexto, discute o

conceito de “deslocamento” na modernidade tardia. Para ele, as sociedades tardiamente

modernas não possuem um centro único e bem definido, responsável por articular e organizar,

por meio de uma única “lei”, o sistema social. Ele defende que houve um deslocamento deste

centro não para outro, mas para outros – o que ele chama de “pluralidade de centros”. Neste

caso, Laclau enxerga nessas sociedades uma característica fundamental, que de acordo com ele

é da diferença, na qual os antagonismos geram diversas “posições de sujeito”.

Com todas as possibilidades ofertadas pela pós-modernidade, os indivíduos passaram a

buscar recursos para alcançarem o que antes não era, se quer, uma possibilidade (OLIVEIRA,

2016), recursos esses que serão empregados no consumo e, assim, se satisfazer da grande

quantidade de produtos ofertados. Na ânsia de possuírem objetos desejados e inovadores, os

indivíduos se obrigam a alavancar a produção para acumularem capital e poderem dispôs desses

desejos.

A esse respeito Oliveira (2016) afirma, ainda, que a pós-modernidade trouxe consigo

uma tendência tóxica para os jovens: os pais que ontem não tinham condições e hoje as têm,

buscam proporcionar a seus filhos tudo o que desejavam e não podiam ter. Não obstante, o mar

de possibilidades dessa era intoxica os mais velhos também, que longe de optarem pela

aposentadoria e aproveitarem o que construíram, permanecem no mercado de trabalho a fim de

manterem seus poderes de compra.

Nesse sentido, é inevitável citar a ascensão do capitalismo como um aspecto de grande

influência na construção da identidade do sujeito moderno e pós-moderno. Com a sucumbência

dos modelos de produção antigos e a Revolução Industrial, as sementes do consumismo tiveram

seus primeiros brotos logo mais. Para Bauman (2001, 2011), a revolução tecnológica (e, como

já explanado, as mudanças nos modelos econômicos) apresentou ao indivíduo um universo de

novos produtos e serviços, alguns estrategicamente elaborados para reafirmar a flexibilidade

pós-moderna.

A esse respeito, temos como exemplo o serviço de streaming Netflix. Um software

(produto intangível) criado para fornecer aos indivíduos o serviço de séries e filmes on demand,

ou seja, quando eles quiserem. No passado, quando a televisão tomou as casas da sociedade, as

Page 54: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

53

famílias se organizavam e se reuniam, em horários específicos, alterando suas rotinas, para que

pudessem assistir a determinado filme ou programa. Com a vida fragmentada e o ritmo

acelerado da pós-modernidade, isso não é mais possível – com os pais o dia todo fora de casa e

os filhos em intensos fluxos de estudo, o programa antes familiar, passou a ser individual.

A fragmentação é um aspecto moderno que se acentua na pós-modernidade, de mãos

dadas à flexibilidade. Em terrenos incertos, tudo está em constante mudança e a volatilidade

permeia as ações humanas, em âmbitos econômicos, políticos e sociais. Não por menos, as

relações sociais receberam uma atenção especial de Bauman em diversas obras, que buscou

explanar de forma mais minuciosa as grandes mudanças que aquelas sofreram no mundo

moderno e, tão logo, pós-moderno.

2.2. As relações sociais na pós-Modernidade

A pós-modernidade sucumbiu os valores antigos e trouxe novos costumes às sociedades.

As novas regras do jogo se alteram a todo momento, demandando dos indivíduos uma grande

capacidade de adaptação. As identidades têm sofrido mudanças também e, consequentemente,

as formas de se olhar para o outro.

Diversos aspectos da vida humana foram afetados por essas mudanças, mas para esta

pesquisa daremos ênfase às relações sociais: “Todas as relações fixas e congeladas, com seu

cortejo de vetustas representações e concepções, são dissolvidas, todas as relações recém-

formadas envelhecem antes de poderem ossificar-se. Tudo que é sólido de desmancha no ar

[...]” (MARX e ENGELS, 2006, p. 29). Novamente, o embrião da pós-modernidade já era

visível aos olhos de Marx e Engels: o individualismo estava por vir.

De acordo com Bauman (1998, 2001, 2004), ao mesmo passo que a modernidade

liquefez os valores, ela também volatilizou as relações entre os indivíduos. Com o advento da

liberdade trazida ao final da era moderna e enraizada na pós-moderna, a estratificação social

passou a se pautar no grau de liberdade (para escolher seu próprio itinerário) que cada indivíduo

tem (BAUMAN, 1998). Assim, para pertencer a uma alta posição na hierarquia dessa nova

sociedade, o ser social abre mão de suas seguranças para ser livre em suas escolhas – mas com

ressalvas.

Bauman (1998), tomando como referência Freud, afirma que a civilização36 somente

seria construída através da renúncia ao instinto, uma vez que ela é um acordo entre as partes,

36 Bauman substitui a categoria “civilização” por “modernidade”, com isso valorizando essa segunda categoria.

Page 55: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

54

no qual existe uma troca tácita entre os valores da sociedade e as vontades do indivíduo.

Contudo, a pós-modernidade trouxe o valor da liberdade individual como soberano, fazendo

estremecer o alicerce das relações sociais: as normas coletivas sobressaem os instintos

individuais.

Os mal-estares da modernidade provinham de uma espécie de segurança que

tolerava uma liberdade pequena demais na busca da felicidade individual. Os

mal-estares da pós-modernidade provêm de uma espécie de liberdade de

procura do prazer que tolera uma segurança individual pequena demais

(BAUMAN, 1998, p. 10).

Isso mostra que as dúvidas em relação ao outro pairam no ar, fazendo com que os

indivíduos, antes munidos das regras sociais para se relacionarem, sofram com a interminável

dúvida de como construir uma relação sólida em meio ao mundo líquido. É preciso que ele entre

em questionamento frequentemente, mas não se estabeleça em uma constância, sendo essa um

valor veementemente negado na sociedade pós-moderna:

No mundo moderno, notoriamente instável e constante apenas em sua

hostilidade a qualquer coisa constante, a tentação de interromper o

movimento, de conduzir a perpétua mudança a uma pausa, de instalar uma

ordem segura contra todos os desafios futuros, torna-se esmagadora e

irresistível (BAUMAN, 1998, p. 21).

Os homens e mulheres pós-modernos querem liberdade, mas não ao preço de suas

próprias seguranças. Na incessante busca por algo sólido, de acordo com Silva, Hall e

Woodward (2014), esses indivíduos buscam na nostalgia do passado alguma certeza para

enfrentarem o presente (BAUMAN, 1998). Contudo, as possibilidades oferecidas pela era

moderna os seduzem a buscar novas aventuras “e, de um modo geral, a qualquer fixação de

compromisso, preferem ter opções abertas” (BAUMAN, 1998, p. 23). Eis o paradoxo dessa era:

a assídua busca por algo pelo qual não se dispõe a pagar.

Nesse sentido, Bauman, entende que as relações sociais passam a ter outro sentido na

pós-modernidade: elas se tornaram possibilidades, tal qual os produtos no mercado. Essa era

proporciona o direito à degustação de indivíduos e de experiências, permitindo que o descarte,

ao fim do processo de experimentação, seja uma opção tão autorizada socialmente quanto a

aceitação.

No mundo pós-moderno de estilos e padrões de vida livremente concorrentes,

há ainda um severo teste de pureza que se requer seja transposto por todo

aquele que solicite ser ali admitido: tem de mostrar-se capaz de ser seduzido

pela infinita possiblidade e constante renovação promovida pelo mercado

Page 56: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

55

consumidor, de se regozijar com a sorte de vestir e despir identidades, de

passar a vida na caça interminável de cada vez mais intensas sensações e cada

vez mais inebriante experiência (BAUMAN, 1998, p. 23)

Isso pressupõe que para os indivíduos suportarem as mudanças que acontecem

diariamente, eles assumem suas identidades conforme a próxima experiência que buscarão –

seja um novo relacionamento, seja um novo trabalho.

De acordo Sell (2015), Durkheim37, em sua teoria sociológica, concebeu o trabalho

como uma atividade fundamental para se estabelecer uma relação estável entre indivíduo-

sociedade. Nesse sentido, Durkheim (1999) entende que o trabalho é um meio fundamental para

o estabelecimento de regras e de valores morais para a convivência social que não permearam

a consciência individual e naquelas que estão fora de instituições como a família e a escola,

responsáveis pela transmissão das primeiras formas de ver o mundo, dos valores e de regras

morais, questões que ele considerou necessárias à inserção social. Esse pensamento foi,

também, defendido por pelos autores Eisenstadt (1976) e Foracchi (1972).

No livro “Da divisão do trabalho social” (1999), Durkheim discorreu sobre o assunto e

seus impactos na sociedade moderna. Assim como esse sociólogo, Eisenstadt também discutiu

sobre a importância social da divisão geral do trabalho, porém enquanto distribuição de papéis

segundo o critério idade.

Para tratar da divisão social do trabalho, Durkheim explicou que as sociedades

primitivas eram regidas pela consciência coletiva38 presentes em cada uma delas – a exemplo,

as sociedades tribais, nas quais as regras morais e a religião eram impostas aos indivíduos de

acordo com o que o grupo decidiu como “correto” (DURKHEIM, 1999; SELL, 2015).

Durkheim (1999) e Sell (2015) compartilham da ideia de que nas sociedades em que a

consciência coletiva sobrepõe a individual, elas possuem aquilo que Durkheim definiu como

solidariedade mecânica39, natural nas sociedades. Em relação a isso, Durkheim ainda tratou do

direito repressivo como uma característica importante nessas sociedades: para ele, este formato

de direito é regido pela punição dos indivíduos que descumprem as normas sociais aceitas e

impostas pelo coletivo.

37 Considerado por muitos sociólogos o pai da Sociologia enquanto ciência acadêmica, Émile Durkheim (1858-

1971) compõe o tripé essencial da sociologia clássica, ao lado de Karl Marx e Max Weber (THOMPSON citado

por SCOTT, 2017; SELL, 2015). 38 Por “consciência coletiva”, Durkheim entende como “O conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média

dos membros de uma mesma sociedade forma um sistema determinado que tem vida própria; [...] ela é, por

definição, difusa em toda a extensão da sociedade” (DURKHEIM, 1999, p. 50). 39 São as organizações com diferenciação mínima nas funções sociais, indivíduos semelhantes entre si e há

segmentação dessa população com às exteriores – fatores geradores da solidariedade mecânica (DURKHEIM,

1999; SELL, 2015).

Page 57: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

56

Já nas sociedades modernas, de acordo com Durkheim, há a predominância da

solidariedade orgânica40, em vista disso defende que tal fato se dá porque os indivíduos

reconhecem a interdependência uns dos outros (DURKHEIM, 1999 citado por SELL, 2015).

Ou seja, para que o organismo social funcione, o trabalho precisa ser dividido para que cada

um exerça sua colaboração com o meio da maneira mais eficaz possível e, assim, o sistema

opere em sua totalidade.

Eis aí o ponto no qual o sociólogo tratou que, neste modelo de solidariedade, é

fundamental a instituição do direito restitutivo, que nada mais é que a punição aqueles que

cometem algum tipo de infração. Assim, o direito restitutivo é uma lei e o “[...] objetivo da lei

é restabelecer a ordem das coisas [...]” (SELL, 2015, p. 88) se faz presente – o indivíduo não

mais é punido pela sua singularidade, apenas há um conjunto de normas para que as

consciências individuais não entrem em conflito entre si e prejudiquem a coesão social.

A fim de evitar a força do direito restitutivo, a família tem papel fundamental no

processo de formação moral dos indivíduos. Isso de acordo com Durkheim41, a família é a

primeira forma de inserção social do indivíduo. Em um segundo momento, a escola (em seus

diferentes níveis) desempenha esse papel por ser o momento em que a criança/adolescente irá

interagir com outros fora do contexto familiar. Por fim, o autor francês defendeu que o trabalho

é a terceira forma de integração do indivíduo com o corpo social.

Por outro lado, Marx (s/d) ressalta que o trabalho é um aspecto indispensável para a

economia, à medida que é a forma de prover aos indivíduos os instrumentos necessários para a

satisfação de suas necessidades. Além disso, ele afirma que “o trabalho é um processo de que

participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano com sua própria ação

impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza” (MARX, s/d, p. 367).

Portanto, o ser “supera sua condição de ser apenas natural e cria uma nova realidade: a vida

social” (SELL, 2015, p. 51).

De acordo Marx (s/d), para que o processo de trabalho se desenvolva, o indivíduo deve,

necessariamente, se relacionar com outros. Assim, tal processo se torna um fenômeno social,

dado que as interações entre os indivíduos geram aquilo que chamou de relações de produção.

Era com os olhos voltados para tal afirmação que Marx defendia que a leitura das relações

sociais se dava através da análise da evolução das forças produtivas.

40Ao contrário da solidariedade mecânica, a orgânica acontece devido ao fortalecimento das consciências

individuais, pois é a divisão do trabalho que gera a coesão social (DURKHEIM, 1977). 41 Esse problemática foi discutida durante as aulas da Disciplina de Teoria Social Clássica do Programa de Pós-

Graduação em Sociologia, na Universidade Federal de Mato Grosso, em 2017.

Page 58: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

57

Após anos de tradição do pensamento escolástico, a herança cultural transitada de

geração em geração recebeu um grande impacto a partir da Revolução Francesa (1789-1799).

Nesse processo, tem destaque o uso da razão, enquanto pressuposto básico para a produção do

conhecimento, quebrando os princípios antigos, além de imprimir uma busca incessante pela

liberdade das minorias e sociedades mais democráticas.

Nesse sentido, Bauman (2001) e Giddens (1991) afirmam que a sociedade antiga foi

fundada em instituições e costumes sólidos que permaneceram por muito tempo rígidos e

inalterados. No entanto, a exigência de liberdade gerou uma luta árdua pela quebra de

paradigmas e desmoronou as “[...] lealdades tradicionais, os direitos costumeiros e as

obrigações que atavam pés e mãos [...]” (BAUMAN, 2001, p. 96). Assim, o mundo entrou em

desordem e a sociedade passou a se basear em sentimentos líquidos, fragilizando as relações

sociais como um todo.

Com as revoluções tecnológicas dos últimos 50 anos, as relações de trabalho se

alteraram significativamente. O que necessariamente deveria ser discutido dentro do ambiente

de trabalho, ocupou espaço na rede social Whatsapp – as falas dos entrevistados a serem

discutidas no capítulo três deste trabalho mostram que tal ambiente virtual se tornou uma rede

social de trabalho. Portanto, deixou-se de limitar os assuntos restritos ao trabalho dentro daquele

ambiente e mais, dentro do horário comercial.

Oliveira (2016) discute a incidência do uso dos celulares no local de trabalho,

especialmente pela Geração X, considerados Workaholic que é:

[...] uma gíria em inglês que significa alguém viciado em trabalho;

um trabalhador compulsivo e dependente do trabalho. As pessoas viciadas

em trabalho sempre existiram, porém esse número está crescendo muito e se

tornando um fenômeno em todo o mundo.

O mundo corporativo atual é feito, muitas vezes, de indivíduos motivados pela

alta competitividade, vaidade, ganância, necessidade de sobrevivência ou

ainda alguma necessidade pessoal de provar algo a alguém ou a si mesmo, e

essas pessoas acabam se tornando viciados no trabalho para atingir seus

objetivos pessoais.

Um indivíduo workaholic geralmente não consegue se desligar do trabalho,

mesmo fora dele, e muitas vezes deixa de lado seu parceiro, filhos, pais,

amigos e família, e seus amigos acabam sendo apenas os que convivem no

ambiente de trabalho. Esse tipo de pessoa sofre e acaba tendo uma qualidade

de vida muito ruim, pois as pressões do dia-a-dia e a auto-estima exagerada

fazem com que este tipo de profissional tenha insônia, mau-humor, impotência

Page 59: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

58

sexual, atitudes agressivas em situações de pressão e pode chegar a causar

depressão, entre outros efeitos nocivos42.

Para esses indivíduos, os horários comerciais podem ser ultrapassados quando

necessário, visto que seu envolvimento com o trabalho vai além do que rege o próprio contrato

– é o senso de responsabilidade com o todo, os entrevistados mais velhos reafirmaram isso.

Com a expansão do capitalismo e todas as possibilidades da era pós-moderna, as

gerações que deveriam se aposentar recusam-se a fazê-lo, pois precisam manter seu poder

aquisitivo (OLIVEIRA, 2016; BAUMAN, 2011). Somado a isso, encontramos um ambiente

competitivo, que incita o jovem da Geração Z a se dedicar cada vez mais em se preparar para o

mercado de trabalho. Isso nos leva a uma situação inusitada: poucas saídas do mercado, muitas

entradas para acontecer.

Outra mudança que a pós-modernidade trouxe, foi a necessidade de mudanças

constantes em praticamente todas as instituições sociais, e isso se aplica também às relações de

trabalho. Para Oliveira (2016), com as possibilidades de experimentação, os indivíduos pós-

moderno não mais estabelecem relações duradouras em seus empregos, especialmente os mais

jovens, que constroem suas (diversas) identidades baseadas nos valores da era pós-moderna.

Assim, o indivíduo se veste de uma identidade de acordo com a experiência empregatícia que

ele pretende experimentar. Os dados demonstram que os jovens do final da Geração Y e da

Geração Z permanecem em seus empregos por até quatro anos ou enquanto suas atividades

forem se renovando (fato que se confirma nas entrevistas dessa pesquisa).

Ao passo que os modelos de pureza de cada era se alteram, na modernidade e na pós-

modernidade se estabeleceu, tacitamente, que os impuros são aqueles que não flexibilizaram

suas identidades – a intolerância ao concreto se reafirma enquanto valor nessa sociedade).

Segundo Bauman (1998), os atores sociais pós-modernos devem se desafiar a se volatilizarem

em prol de não se concretizarem como o que ele chama de consumidores falhos.

Afastemo-nos do conceito de consumidor de produtos e serviços, apenas. Façamos uma

leitura mais profunda do seguinte parágrafo:

Uma vez que o critério da pureza é a aptidão de participar do jogo consumista,

os deixados de fora como um “problema”, como a “sujeita” que precisa ser

removida, são consumidores falhos – pessoas incapazes de responder aos

atrativos do mercado consumidor porque lhes faltam os recursos requeridos,

pessoas incapazes de ser “indivíduos livres” conforme o sendo de “liberdade”

42 A esse respeito ver O que é Workaholic, disponível em: <https://www.significados.com.br/workaholic/>.

Acesso em 29/10/2019.

Page 60: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

59

definido em função do poder de escolha do consumidor (BAUMAN, 1998, p.

24).

A contemporaneidade, de acordo Bauman (1998), exige que atores sociais consumam

identidades, experiências e relações, de tal forma que aqueles que não o fazem, enquadram-se

na “sujeira da modernidade”. Assim, a individualidade se tornou um valor exaltado – o

indivíduo tem o direito de se aproximar e se afastar quando quiser, em prol das experiências

que ele desejar.

Em uma relação na qual os sujeitos envolvidos transitam entre suas identidades, a

solidez dos acordos implícitos (e, por vezes, explícitos) se dissipam. À vista disso, a opção do

descarte de uma relação se tornou difusa e comumente aceita na sociedade moderna. Por um

lado, como Bauman defende em diversas obras, há positividade nesse processo: relações tóxicas

e opressivas encontraram a possibilidade (e, em alguns casos, o apoio jurídico e moral) de se

esgotarem. Entretanto, a liberdade de escolha também vem dotada de uma embriagante

flexibilidade – os esforços não precisam mais consumir a liberdade individual, o sujeito pode

se permitir o descarte.

É com base nas perspectivas desse cenário volátil que o professor da London Business

School, Hamel, iniciou sua pesquisa sobre as questões profissionais acerca dos indivíduos da

Geração Z. Em um artigo publicado em 2009 no Wall Street Journal, ele defendeu que esta

geração exigirá consideráveis adaptações por parte das organizações e seus gestores, visto que

suas particularidades43 entram em conflito direto com o atual modelo de trabalho. O autor listou

doze características44 desses jovens, que estão relacionadas à vida profissional:

1) “Todas as ideias competem no mesmo patamar”: no mundo virtual, todas

as ideias publicadas disputam em igualdade por um espaço e todas têm a

oportunidade de ganhar seguidores.

2) “Contribuição conta mais do que credencial”: esses jovens não estão

preocupados com títulos e currículos. Para eles, o que importa é a sua

capacidade de contribuir com o meio, por meio dos conteúdos das

publicações.

3) “Hierarquias são naturais, não impostas”: a internet permite que o respeito

seja conquistado e não imposto. Em fóruns virtuais, aqueles que apresentam

respostas mais resolutivas ganham o respeito e admiração dos demais.

4) “Líderes servem, não presidem”: os seguidores são conquistados por

aqueles que são altruístas e possuem argumentos credíveis e experiência.

Tornam-se seguidos os que mais servirem ao meio.

43 Foracchi (1982) defende que o questionamento incisivo em relação às normas e tradições antigas é a principal

característica da juventude moderna. 44 Tradução própria, confome artigo do Wall Street Journal online, escrito por Gary Hamel em 24 de março de

2009, em sua coluna “manegement 2.0”. Disponível em: <http://blogs.wsj.com/management/2009/03/24/the-

facebook-generation-vs-the-fortune-500/?mg=id-wsj>. Acesso em: 18 out. 2016.

Page 61: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

60

5) “As tarefas são escolhidas, não impostas”: os nativos virtuais optam por

colaborar com o meio, trabalhar em projetos, escrever para um blog ou

participar de fóruns. Eles escolhem o que desejam fazer.

6) “Grupos se auto definem e se auto organizam”: assim como as tarefas são

escolhidas, as pessoas de sua convivência também são. No mundo online, o

jovem não precisa lidar com quem não gosta pois ele escolhe quem irá seguir

e quem irá segui-lo.

7) “Recursos são atraídos, não alocados”: na web, os recursos não são

impostos – o jovem se atrai por projetos e ideias que sejam importantes para

ele. Nesse mundo, ele escolhe como e onde investe seu tempo.

8) “O poder vem por meio do compartilhamento de informação, não da

mentalidade de escassez”: nesse universo, ganha notoriedade e poder de

influência aquele que doar o que sabe.

9) “As opiniões se acumulam e as decisões são julgadas pelos seus colegas”:

as ideias publicadas ganham seguidores, que as discutem, compartilham e

podem causar rupturas com as opiniões das instituições off-line.

10) “Os usuários podem vetar muitas das políticas decididas”: não importa

quem é o criador da comunidade, para estes jovens, importa que eles são os

donos dela.

11) “As recompensas intrínsecas possuem mais valor”: o dinheiro continua

importante, mas não tanto quanto o prazer aplicado em algo e o

reconhecimento por isto.

12) “Hackers são heróis”: a comunidade online gosta daqueles que questionam

o autoritarismo e as regras, pois não gostam de imposições45.

Em relação a isso, Giddens (1991) defende que a pós-modernidade rompeu os laços com

as tradições e a proteção oferecidos às comunidades pequenas, dando espaço às inseguranças e

incertezas advindas de um mundo globalizado e protagonizado por grandes organizações. É

neste contexto em que os sistemas abstratos46 ganham a confiança antes gerada pelas relações

de parentesco, comunidade local, religiões e tradições. Portanto, é importante compreender que

o jovem da Geração Z não está sendo educado com embasamento nestes aspectos, mas sim em

um mundo mais abstrato, volátil e inseguro.

Pelas características expostas por Hamel (2009), é possível encontrar os traços dos

principais aspectos da pós-modernidade já se enraizando nas identidades do jovem enquanto

ser social. Pela possibilidade de igualdade ofertada pelas redes sociais, graças à expansão das

tecnologias e da globalização, os indivíduos contemporâneos demandam que suas vontades e

opiniões sejam escutadas, pela maior quantidade de pessoas possível. Isto posto, em seu

ambiente de trabalho não há de ser diferente: o jovem refuta a ideia de não ser escutado.

Ainda em relação às redes sociais, o compartilhamento de conhecimento se equivale ao

das opiniões, fazendo com que o jovem defenda a ideia de que é mais válido compartilhar e

45 Texto original disponível na coluna do autor no site do Wall Street Journal, tradução nossa. 46 Por sistemas abstratos entende-se aqueles sistemas com os quais interagimos diariamente, mas os quais não

precisamos conhecera fundo o modo como funcionam – exemplo: internet (GIDDENS, 1991).

Page 62: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

61

contribuir com o meio do que guardar para si tudo o que sabe. Com essa base, o indivíduo pós-

moderno vai além: ele quer ser reconhecido pelo que faz e pelo que sabe.

É fato que as relações de trabalho se alteraram e, no ritmo desenfreado de mudanças que

a era moderna impõe, continuarão a mudar. Entender as causas que levam os indivíduos desse

tempo a serem consumidores de identidades e se estabelecerem em um contínuo processo de

questionamento é a forma mais segura que os líderes têm de se prepararem para desenvolver

seres sociais da melhor maneira possível (OLIVEIRA, 2016).

Ao elucidar sobre o assunto em sua obra “Mentoria”, Oliveira (2015) discute o papel

fundamental do professor, no primeiro momento, em desenvolver seres aptos a se tornarem

sociais. Contudo, no tangente ao trabalho, o autor debate a importância de um líder na vida

profissional do jovem – fato reconhecido pelos líderes da nossa pesquisa. Paralelo à defesa do

papel do professor, ele defende, ainda, que é preciso que os mais velhos assumam suas

responsabilidades enquanto agentes no processo de desenvolvimento dos mais novos para os

sistemas sociais.

Compreender a modernidade e a pós-modernidade é de fundamental importância para a

leitura histórica das gerações, assim como para o entendimento do processo de construção da

identidade do jovem Z. Dessa forma, buscamos apresentar nesse capítulo autores e teorias que

alicercem o leitor sobre os conceitos presentes na era pós-moderna, bem como as teorias acerca

das relações sociais, incluindo as relações de trabalho. Com as exposições feitas até aqui,

caminharemos para o próximo capítulo, em que discutiremos sobre os dados coletados junto

aos jovens da Geração Z e os indivíduos mais velhos pertencentes a outras gerações, a fim de

que possamos entender o processo relacional no local de trabalho entre estas gerações no

Hospital Santa Rosa, sediado em Cuiabá-MT.

Page 63: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

62

3. RELAÇÕES ENTRE AS GERAÇÕES MODERNAS E PÓS-MODERNA

Neste capítulo, analisaremos os dados coletados das entrevistas de campo realizadas no

Hospital Santa Rosa, a fim de entendermos por que se dão os conflitos entre gerações dentro

do ambiente de trabalho pós-moderno. Retomando nossos objetivos específicos propostos,

nossa análise se centrou, inicialmente, na busca dos principais pontos de convergência e

divergência entre a Geração Z e as demais gerações no ambiente de trabalho. Outro ponto a ser

discutido é como os valores comportamentais da Geração Z implicam as relações sociais no

trabalho e as características das relações sociais entre as gerações neste locus. Visto que o quarto

objetivo se trata da investigação sobre a trajetória de formação pessoal e profissional das

gerações mais velhas, já fizemos tal análise no item 1.3.

Com a finalidade de facilitar a compreensão do leitor, separamos este capítulo em dois

subitens: o primeiro tratará das análises com base nos conceitos de Mannheim (1952). Portanto,

traremos os conceitos do item 1.1 e os aplicaremos nas respostas das entrevistas, seja no

questionário socioeconômico, seja no questionário sobre as relações. O segundo trabalhará

especificamente as respostas da segunda parte do questionário, analisando-as conforme as

características de Hamel (2009), apresentadas no item 2.2, páginas 59 e 60, em citação direta.

Para viabilizar o nosso recorte enquanto objeto de estudo, embora Mannheim refute o

recurso puramente cronológico para demarcar as gerações, achamos por bem definir um espaço

de tempo para a pesquisa. Portanto, para fins metodológicos, nos apoiamos no acontecimento

histórico que foi o surgimento da internet, fato que modificou as relações sociais (foco da nossa

pesquisa). Assim, a disseminação da internet para os consumidores finais, em 1997, será nosso

critério de definição para a Geração Z.

Dessa forma, o recorte do nosso objeto de estudo se pautou nas seguintes características:

a) indivíduos nascidos a partir do ano de 1997, que b) estejam em processo de trabalho na

instituição escolhida (Hospital Santa Rosa), que c) atuem como menor aprendiz, estagiário ou

efetivo e d) desenvolvam interações com as gerações mais velhas.

Por estudarmos relações entre gerações, foi importante, ainda, definirmos um recorte

para as demais gerações que interagem com nosso objeto de estudo, a Geração Z. Assim sendo,

com base no recorte citado no parágrafo imediatamente anterior, por “demais gerações”

entendemos todos os nascidos antes de 1997. Salientamos que as separações dessas gerações

estão baseadas nos dados expressos na tabela 2 (página 43).

Page 64: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

63

Visto que buscamos compreender como se dão os conflitos geracionais dentro de um

contexto social (ambiente de trabalho) específico e local, de maneira a proporcionar o

embasamento para estudos futuros e possíveis tomadas de decisões por parte dos gestores, a

pesquisa proposta tem sua natureza na aplicação47.

Uma vez que nosso problema e nossos objetivos estão voltados à captação de uma

realidade social – as relações entre gerações no ambiente de trabalho –, deixamos claro não ser

cabível a mensuração (quantificação) desses significados, em função da subjetividade em jogo

e tão presentes nas relações sociais. Isto posto, nesta pesquisa cabe a metodologia qualitativa.

Como nos trazem Deslandes, Gomes e Minayo (2009, p.21), a pesquisa qualitativa

[...] se ocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode

ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos

significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das

atitudes (grifo nosso).

Ainda a este respeito, Lüdke e André (1986) entendem que a metodologia qualitativa

permite o levantamento de informações que outro tipo de metodologia não permite. Nesse

processo, muitas informações vêm à tona por meio da metodologia qualitativa, pois nesta estão

envolvidos procedimentos de pesquisa, como a etnografia e o estudo de caso, que “[...] vêm

ganhando crescente aceitação na área de educação, devido principalmente ao seu potencial para

estudar as questões relacionadas à escola” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 13).

Seguindo o raciocínio das autoras, nos reportamos a Durkheim, por este nos alertar para

a complexidade das relações sociais no ambiente de trabalho, similar às interações na escola.

Portanto, podemos concluir que ambos os tipos de pesquisa são interessantes para nossos

objetivos. Contudo, o prazo instaurado para a nossa pesquisa não nos permitiu uma etnografia

como as autoras defendem, pois exige um espaço de tempo maior para a coleta de dados.

Como nos mostra Oliveira (2008)48, algumas técnicas são mais utilizadas, contudo,

optamos pelo instrumento da entrevista semiestruturada. Lüdke e André (1986, p. 34) defendem

que a vantagem dessa técnica “[...] é que ela permite a captação imediata e corrente da

informação desejada, praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os mais variados

tópicos”. Deslandes, Gomes e Minayo (2009, p.65) aprofundam:

47 “Pesquisa aplicada: objetiva gerar conhecimento para a aplicação prática dirigidos à solução de problemas

específicos. Envolve verdades e interesses locais” (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 51). 48 “[...] algumas técnicas para coleta de dados, dentre as quais, destacamos: a Observação participante, a Entrevista

e o Método da história de vida” (OLIVEIRA, 2008, p. 8).

Page 65: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

64

A entrevista como fonte de informação pode nos fornecer dados secundários

e primários de duas naturezas: [...] b) os segundos – que são objetos principais

da pesquisa qualitativa – referem-se a informações diretamente construídas no

diálogo com o indivíduo entrevistado e tratam da reflexão do próprio sujeito

sobre a realidade que vivencia. Os cientistas sociais costumam denominar

esses últimos de dados “subjetivos”, pois só podem ser conseguidos com a

contribuição da pessoa. Constituem uma representação da realidade: ideiais,

crenças, maneiras de pensar; opiniões, sentimentos, maneiras de sentir;

maneiras de atuar; condutas; projeções para o futuro; razões conscientes ou

inconscientes de determinadas atitudes e comportamentos (grifo nosso).

Após a revisão bibliográfica apresentada nos capítulos anteriores e as escolhas do

procedimento metodológico, formulamos os questionários disponíveis no anexo D. Separamos

os questionários conforme os grupos já esboçados, a fim de utilizarmos uma linguagem mais

específica para cada um. Entretanto, buscamos manter perguntas similares para que pudéssemos

realizar uma análise comparativa e respondermos ao primeiro objetivo específico.

Por fim, seguimos todos os trâmites exigidos atualmente pelo Comitê de Ética em

Pesquisa Científica (CEP), como o Termo de Consentimento para pesquisa com seres humanos,

conforme a Resolução CNS 466/12. Em vista disso, a cada entrevistado foi entregue um Termo

de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), desde que tivesse idade acima da maioridade

legal. Quando menor de idade, entregamos tal documento a seu representante legal, assim como

o Termo de Assentimento (TA) para o menor, elaborado em linguagem específica e acessível

para a população em questão, tal como consta nos modelos disponíveis nos anexos que vão do

A ao C.

Respeitando as normas supracitadas e visando manter o sigilo das identidades dos

entrevistados, atribuímos a eles nomes de acordo com a geração às quais pertencem. Portanto,

os indivíduos entrevistados pertencentes à Geração Z serão identificados pela letra Z, seguido

de um número. Por exemplo: Z1, Z2, Z3, Z4, Z5, Z6 e Z7. O mesmo critério coube às outras

duas gerações em análise, ou seja, as gerações X e Y, de modo que os entrevistados aparecerão

identificados como X1, X2, X3, Y1 e Y2.

3.1. Análise das entrevistas aos olhos de Mannheim

Para nos alinharmos às categorias de análise do primeiro capítulo, traçamos um perfil

dos nossos entrevistados. Para isso, junto ao questionário sobre as relações, incluímos um

questionário de perfil socioeconômico. Assim, foi possível agrupá-los de acordo com as

categorias apresentadas por Mannheim (1952).

Page 66: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

65

Com base nas respostas desse questionário, chegamos a uma das conclusões: o grupo

de jovens entrevistados partilha da mesma situação de geração, isto é, está condições de fazer

parte da Geração Z. Isto porque podem ser agrupados tanto em termos de ritmo biológico

(idades muito próximas), bem como vivem o mesmo processo histórico. Este feito os leva a

desenvolverem valores morais, comportamentos sociais e até formas de linguagem similares

entre si49.

De acordo com as falas dos líderes, quando confrontadas com as falas dos próprios

jovens, estes trabalham por necessidade. Sendo este um objetivo específico comum a estes

sujeitos, podemos afirmar que eles participam do mesmo grupo concreto do tipo associativo.

Retomando este conceito de Mannheim (1952), este é composto por indivíduos que,

conscientemente, partilham do mesmo objetivo. Somando isto ao fato de partilharem da mesma

situação de geração, podemos categorizá-los enquanto unidade de geração também.

Ainda sobre os jovens, é possível classificá-los em geração enquanto realidade. Isso

porque, além dos fatores supracitados, esses indivíduos compartilham de sintomas sociais e

intelectuais similares. Assumimos isso com base nas respostas do questionário socioeconômico,

que os situa de forma muito próxima – exceto por um único jovem que já possuí formação

superior, todos os demais concluíram o ensino médio. Portanto, além dos aspectos sociais,

podemos afirmar, de forma objetiva, que os jovens se aproximam intelectualmente50.

Em relação aos indivíduos mais velhos, encontramos representantes de duas gerações,

a X e a Y. Percebemos comportamentos próprios de cada geração, posto que os indivíduos de

cada uma partilham de aspectos cronológicos, históricos e comportamentais muito parecidos.

Podemos situar, por exemplo, que temos duas situações de geração: X e Y, uma vez que

possuem o mesmo ritmo biológico e dimensão histórica entre si.

Temos, ainda, a formação de um grupo concreto do tipo associativo, pois todos os

indivíduos adultos compartilham do mesmo objetivo específico: carreira. Em todas as falas, a

evidência de que trabalham por construção de carreira profissional foi a mais frequente –

associada a outros fatores. Aqueles que trabalham também por necessidade, podem se encontrar

no mesmo grupo concreto dos jovens.

Contudo, indo mais a fundo, apenas os entrevistados X2 e X3 pertencem à mesma

unidade de geração e geração enquanto realidade. Na primeira categoria, apenas esses

49 A questão da linguagem apareceu no decorrer das falas. O uso de gírias (menos formal) e as falas mais receosas

(tímidas) foram observadas quando o entrevistado era jovem. 50 É importante que os fatores individuais sejam postos de lado, como, por exemplo, quociente de inteligência e

notas escolares, jutamente por se tratar de um estudo sobre gerações (grupos).

Page 67: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

66

indivíduos partilham do mesmo ritmo biológico, vivenciam a mesma dimensão histórica,

possuem o mesmo objetivo específico (logo, mesmo grupo concreto associativo). Na segunda,

além da dimensão histórica e ritmo biológico, compartilham dos mesmos sintomas sociais e

intelectuais.

Na página 22 desta dissertação, trazemos uma citação direta de Mannheim (1952, p. 74)

sobre as características fundamentais de uma sociedade que possui o fenômeno das gerações.

Assumindo o ambiente de trabalho enquanto uma dinâmica social, é possível encontrarmos

essas características neste locus.

A primeira delas, “novos participantes do processo cultural estão surgindo”

(MANNHEIM, 1952, p. 74), implica, neste ambiente, a entrada de novos profissionais na

organização. Isso significa que as rotinas, antes exercidas por determinado grupo de indivíduos,

logo serão praticadas por novos sujeitos. Estes, inclusive, podem não ter praticado nenhuma

delas antes – este fenômeno, como já definimos, trata-se do contato original. Portanto, o que

em contextos mais abrangentes significa transmitir a cultura, aqui é visto como transmissão de

conhecimento – mentoria profissional, como Oliveira (2015) define este processo. Em alguns

casos, pode implicar a transmissão da cultura organizacional.

Grande parte dos entrevistados da Geração Z apresenta, em suas falas, o processo de

aprendizagem com os mais velhos com os quais interage no trabalho. O entrevistado Z1, por

exemplo, traz o seguinte:

[...] eu aprendo muita coisa. Eu era cru de conhecimento, depois que eu entrei

aqui... Ih, aprendi muita coisa, cresci muito [...] eu entrei e assim, foi ela que

me acolheu, me mostrou tudo e tal [...] por isso que eu falo que gosto de

trabalhar aqui. Porque ela me ensina muita coisa, muita coisa mesmo. Assim,

as coisas que ela faz, ela sempre faz questão de me mostrar (informação

verbal)51.

Por outro lado, os indivíduos mais velhos saem do mercado de trabalho constantemente.

Isso nos leva à segunda característica – “antigos participantes daquele processo estão

continuamente desaparecendo” (MANNHEIM, 1952, p.74). No contexto de uma sociedade

ampla, isso significa o fim do ritmo biológico – a morte. No recorte do ambiente de trabalho,

associamos essa interrupção à aposentadoria.

A todo momento, indivíduos chegam à idade necessária para se aposentar. Com isso, a

entrada de novos profissionais se faz necessária, pois a mão-de-obra precisa ser substituída.

51 Z1, Entrevistado. Entrevista VI. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1

arquivo .mp3 (20 minutos e 13 segundos).

Page 68: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

67

Assim como na primeira característica, aqui tratamos da transmissão de conhecimento

profissional, mas com o olhar voltado para quem entrega esse conhecimento.

A respeito do papel do líder de jovem, por exemplo, os entrevistados X1 e Y2 trazem as

seguintes falas, respectivamente:

Eu acho que de orientação, de estar observando se eles estão seguindo um bom

caminho, se estão fazendo corretamente as coisas, orientá-los de forma

correta, tanto no sentido negativo, quanto no positivo [...] porque isso traz o

crescimento. Acho que é isso, a gente tem que buscar ensinar. Esse é o

principal papel (informação verbal)52.

[...] no início eu fui mais incisiva, porque eu precisava treiná-la e capacitar

[...] amanhã ou depois ela não vai me ter ali. Então eu preciso que ela

caminhe com as pernas dela sozinha. [...] Por ela ser uma menor, sempre tinha

aquele status de não dar a ela tanta responsabilidade, até da minha chefe eu

ouvi isso uma vez. Até eu chegar na minha chefe e fazer ela entender que a

menor precisa sim ter responsabilidade, porque é pra vida dela (informação

verbal)53.

Para todos, o papel do líder de um jovem é ensiná-lo. Este é o curso da transmissão

cultural: dos mais velhos para os mais novos. A segunda fala simbólica do entrevistado X1 traz,

ainda, que estes mesmos adultos já estiveram na posição de novo profissional: “tem uns que

falam “ah, vou perder meu tempo ensinando, eu já falei dez vezes”, então não têm a paciência

de ensinar. Eles não lembram quando eles começaram no primeiro emprego” (informação

verbal)54.

Pensando nisso, temos a terceira característica a qual traz um fator importante: a

limitação do tempo que se tem para fazer essa transmissão – “os membros de qualquer uma das

gerações apenas podem participar de uma seção temporalmente limitada do processo histórico”

(MANNHEIM, 1952, p.74). Trazendo para a realidade deste estudo, a transmissão de

conhecimento profissional, portanto, só poderá ser realizada entre essas gerações por um espaço

de tempo limitado (ou pelo ritmo biológico – morte – ou pela aposentadoria).

Na fala do entrevistado Y2 citada acima, isso fica evidente. Este reconhece que o jovem

profissional que trabalha com ela, para o qual ela lega o conhecimento, não a terá para sempre.

52 X1, Entrevistado em. Entrevista I. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1

arquivo .mp3 (27 minutos e 03 segundos). 53 Y2, Entrevistado. Entrevista V. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1

arquivo .mp3 (26 minutos e 43 segundos). 54 X1, Entrevistado em. Entrevista I. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1

arquivo .mp3 (27 minutos e 03 segundos).

Page 69: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

68

Isso se deve às duas primeiras características, pois, enquanto indivíduos adultos saem do

mercado, sujeitos jovens entram.

Por consequência, temos as últimas características. A quarta diz que “é necessário,

portanto, transmitir continuamente a herança cultural acumulada” (MANNHEIM, 1952, p.74).

Em termos de mercado de trabalho isso é bem evidente, pois, como já dito, enquanto mais

velhos aposentam, novos profissionais entram. Se olharmos pelo fenômeno das gerações, esse

é um processo constante. Desta forma, a transmissão não pode sessar.

A relação dos entrevistados Y2 e Z1 traz isso na fala de ambos. O jovem Z1 reconhece

que seu líder busca transmitir conhecimento constantemente para ele:

ela sempre senta comigo e fala “a gente tem tal demanda pra fazer, vem cá

que eu vou te ajudar”, aí ela me passa. Aí, às vezes, eu tô com alguma dúvida

e ela fala “oh, bebê, vem cá que eu vou te ajudar”. Aí ela me explica de novo.

[...] ela sempre pergunta “você tá com alguma dúvida?”, aí eu vou e falo. Ela

me ensina de novo (informação verbal)55.

O entrevistado Y2 confirma: “ [...] ela tem total liberdade pra tirar dúvidas, até porque

eu cobro muito isso dela. [...] Então eu deixo isso bem claro pra ela “me pergunta a mesma

coisa 10 vezes, mas não faça errado” [...] eu desenvolvo” (informação verbal)56.

O processo de transmissão cultural é contínuo porque indivíduos surgem e indivíduos

desaparecem. Contudo, não há uma interrupção bruta: não se substituem todos os indivíduos da

Geração X de uma vez. De acordo com Mannheim (1952), há uma geração intermediária,

responsável socialmente pelo intermédio. No caso deste estudo, temos a Geração Y.

Os entrevistados X3, Y2 e Z1, por exemplo, participam do mesmo setor. Retomando o

segundo parágrafo da página 27, é possível evidenciá-lo nas falas de ambos os entrevistados

citados. No que diz respeito à mediação de gerações, o entrevistado Y2 nos conta como causou

uma mudança no pensamento do entrevistado X3 sobre o entrevistado Z1:

Por ela ser uma menor, sempre tinha aquele status de não dar a ela tanta

responsabilidade, até da minha chefe eu ouvi isso uma vez. Até eu chegar na

minha chefe e fazer ela entender que a menor precisa sim ter responsabilidade,

porque é pra vida dela (informação verbal)57.

55 Z1, Entrevistado. Entrevista VI. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1

arquivo .mp3 (20 minutos e 13 segundos). 56 Y2, Entrevistado. Entrevista V. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1

arquivo .mp3 (26 minutos e 43 segundos). 57 Y2, Entrevistado. Entrevista V. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1

arquivo .mp3 (26 minutos e 43 segundos).

Page 70: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

69

Conforme nos traz Mannheim (1952), quanto mais dinâmica uma sociedade é, mais

flexível os mais velhos são em relação à influência dos mais jovens. Percebemos isto na fala do

entrevistado X3:

Eu me sinto mais tranquila falando com quem é mais jovem do que com uma

pessoa mais madura, dentro da relação de trabalho. Porque eu sinto, assim,

que ele vai olhar pra mim e me criticar “ah, mas você não conhece?”, porque

tem algumas coisas da tecnologia que eu ainda sou só o básico. Então tem

algumas coisas que eu busco ajuda do setor de tecnologia que tem mais jovens

e eu me sinto muito tranquila com eles (informação verbal)58.

3.2. As características de Hamel nos entrevistados

Em 2009, Hamel publicou um artigo em sua coluna do Wall Street Journal no qual

expôs 12 características da nova geração de profissionais. Nos baseamos nelas para elaborar a

segunda parte do nosso questionário, a fim de captarmos significados acerca de alguns assuntos

do universo profissional, como hierarquia, conflitos, relações, liderança, entre outros.

A essência das características que Hamel aborda diz respeito à igualdade de direitos.

Para eles, as lideranças são conquistadas, as tarefas são escolhidas e aqueles que fecham o

conhecimento para si não têm espaço. Algumas das características são resultados do universo

virtual: em um mundo sem barreiras, feito por avatares59, os indivíduos não são separados por

idade ou nacionalidade, eles se agrupam pelas ideias.

Dito isso, utilizamos como um dos critérios de análise das ideias a reincidência dos

significados capturados nas respostas dadas pelos entrevistados. Visto que buscamos realizar

um comparativo do que se percebe entre os jovens da Geração Z e os adultos das demais

gerações, agrupamos as respostas dessa forma. Assim, podemos perceber a diferença entre os

grupos de gerações objetos deste estudo.

Em todas as respostas dos indivíduos das gerações mais velhas, encontramos a

reincidência da palavra “necessário” quando o assunto é hierarquia e normas no ambiente de

trabalho. Quando questionados sobre isso, todos defendem a necessidade de uma hierarquia

bem definida, que sirva de referência para os colaboradores buscarem ajuda e apresentarem

seus resultados.

58 X3, Entrevistado. Entrevista III. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1

arquivo .mp3 (68 minutos e 38 segundos). 59 “Avatar é a manifestação corporal de alguém no espaço cibernético”. A esse respeito ver O que é Avatar,

disponível em: <https://www.significados.com.br/avatar/>. Acesso em 25/01/2019.

Page 71: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

70

Aparecem, ainda, a importância das normas para a delimitação das atividades de cada

um e a especificação das responsabilidades atribuídas a cada cargo. O entrevistado X1 diz que

“tem hora que é necessário, até porque pra você poder ensinar, pra você ter uma referência.

Assim como eu tenho minha gestora como referência, eles têm que ter eu, ou algum outro colega

que possa ensinar”60.

Apesar de encontrarmos nas falas a necessidade das hierarquias e normas como forma

de orientação para o colaborador, dois dos entrevistados falaram sobre elas não serem tão

engessadas. O entrevistado X3, por exemplo, disse que o “O ideal seria que não precisasse ter

isso, de ter que responder pra um chefe, pra outro chefe, mas é necessário dentro da

organização” (informação verbal)61. O entrevistado Y1 reafirma o pensamento:

[...] acho que a gente precisa ter uma referência de hierarquia e normas como

referência também. Mas não acho que é o tipo de coisa que precisa ser

engessado. Norma, no sentido de ter alguma coisa organizada e ter regras, mas

não significa que eu precise me sentir num exército. Hierarquia a mesma coisa

(informação verbal)62.

Não muito diferente foram as respostas dos entrevistados da Geração Z. Dos sete

entrevistados, todos defenderam a necessidade das hierarquias e das normas para a boa

organização do ambiente de trabalho. O entrevistado Z3 acredita que as regras servem para

mediar as relações entre as gerações (informação verbal)63, o que vai ao encontro das falas dos

entrevistados Z2 e Z7, respectivamente:

Eu acho que a partir da hierarquia sob as normas de trabalho, eu acho que faz

do ambiente de trabalho um lugar melhor (informação verbal)64.

Não só pra preservar o ambiente de trabalho, mas sim manter o ambiente bem

assim, com um certo respeito e uma melhor convivência (informação

verbal)65.

60 X1, Entrevistado. Entrevista I. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1 arquivo

.mp3 (27 minutos e 03 segundos). 61 X3, Entrevistado. Entrevista III. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1

arquivo .mp3 (68 minutos e 38 segundos). 62 Y1, Entrevistado. Entrevista IV. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1

arquivo .mp3 (49 minutos e 34 segundos). 63 Z3, Entrevistado. Entrevista VIII. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1

arquivo .mp3 (15 minutos e 22 segundos). 64 Z2, Entrevistado. Entrevista VII. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1

arquivo .mp3 (21 minutos e 39 segundos). 65 Z7, Entrevistado . Entrevista XII. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1

arquivo .mp3 (13 minutos e 20 segundos).

Page 72: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

71

Ao realizarmos uma leitura das respostas de todos os entrevistados, notamos uma

homogeneidade no que se espera das hierarquias e normas, independente da geração a qual

pertença: busca-se ordem através das regras que definem quem são os líderes e quais são os

trabalhos de cada um.

Ao recorrermos às características encontradas por Hamel (2009), descartamos a terceira

que versa sobre o mesmo assunto, visto que, na amostra entrevistada, nenhum dos jovens da

Geração Z trouxe significados que remetam às “hierarquias naturais” citadas por Hamel. Ainda

é possível refutar parcialmente a quinta característica, visto que todos falam da importância em

ter as atividades especificadas – contrário às “tarefas escolhidas”.

Quando questionados sobre as relações entre jovens e mais velhos no ambiente de

trabalho, em geral, todos consideram suas relações “boas” e “tranquilas”. Os indivíduos das

gerações X e Y trazem em seus discursos a importância de direcionar e guiar os jovens-

aprendizes em seus primeiros trabalhos. Todos afirmam, ainda, que dão liberdade para que os

jovens se sintam à vontade para perguntar ou fazer alguma crítica, acreditam que os jovens, de

fato, sentem isso, mas a posição hierárquica interfere causando certo receio (informação

verbal)66. Entretanto, algumas falas chamaram atenção: o entrevistado X2 afirma que

Trabalhar com o menor hoje em dia não é tão fácil quanto a gente acha. Porque

hoje em dia os jovens não se apegam, não é como antigamente, na nossa época,

que a gente trabalhava pra estudar, casar, constituir família. E hoje, não. Hoje

eles trabalham pensando no hoje. A responsabilidade se tornou pra eles algo

muito vulnerável, então tudo bem estar aqui hoje e estar em outro lugar

amanhã. Eu vejo o jovem hoje assim, ele não tem objetivo futuro, ele só tem

o hoje. É aquele “o amanhã a Deus pertence” (informação verbal)67.

É interessante perceber que nessa fala fica evidente aquilo que sempre foi uma das

preocupações nos estudos de Bauman: a fluidez das relações modernas. Os indivíduos das

gerações passadas buscavam eram empregos sólidos, que os proporcionassem longas carreiras

no mesmo local de trabalho e estabilidade financeira (OLIVEIRA, 2016). Entretanto, os jovens

que se constroem no mundo líquido buscam satisfação em exercer uma atividade que traga

prazer (OLIVEIRA, 2016) e, portanto, não há compromisso com determinada organização e,

sim, com seus objetivos pessoais. O entrevistado X3 segue o pensamento:

66 X3, Entrevistado. Entrevista III. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1

arquivo .mp3 (68 minutos e 38 segundos). 67 X2, Entrevistado. Entrevista II. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1

arquivo .mp3 (47 minutos e 33 segundos).

Page 73: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

72

Mas eu vejo, assim, que os jovens, quando a gente fala, essa geração Y e Z já

né, que já estamos contratando os Z né, a gente vê uma grande dificuldade.

São jovens, extremamente antenados, o tempo inteiro com o celular,

tecnologia, e aí essa questão de regras fica um pouco difícil de se cumprir. O

que você percebe, de alguns mesmo, você vê diferenças de um e outro, que

são da mesma idade, mas você percebe criação, educação, em casa, diferentes.

Então aí você também percebe isso, que hoje o jovem, assim, ele tá difícil de

ser educado dentro de casa, então ele quer já mandar, quer ter as próprias

atitudes e tomar as decisões dele bem mais cedo [...]. Então no trabalho,

principalmente a gente trabalhando com jovem aprendiz, eu falo sempre pro

gestor, quando ele contrata um menor aprendiz pro setor dele: “olha, ele é

como se fosse um filho nosso aqui dentro, a gente orienta, a gente cuida, a

gente ensina, então a gente tem que estar sempre de olho”. É meio que um pai

e uma mãe também (informação verbal)68.

Retomando a fala de Cortella (2016), evidencia-se a necessidade de os profissionais

mais velhos agirem, ainda, como educadores desses jovens. O entrevistado Y1, por exemplo,

traz em sua fala a responsabilidade dos líderes em educar esses indivíduos: “isso vem pro

ambiente de trabalho, porque a gente termina de criar essas meninas com o pai e com a mãe”

(informação verbal)69.

Os jovens da Geração Z confirmam o sentimento dos mais velhos em relação às dúvidas:

todos os entrevistados afirmam que se sentem à vontade para tirar dúvidas com seus líderes e

seus colegas mais velhos. O entrevistado Z3, inclusive, afirma que os mais velhos são

acolhedores com os jovens, dando apoio quando necessário. Todos confirmam, também, que se

tratam de relações “tranquilas”. O entrevistado Z4 diz:

[...] eu particularmente gosto mais de trabalhar com os mais velhos.

Totalmente tranquilos de falar. O jovem, qualquer coisinha, já tem alteração

hormonal (risos), aumenta o tom de voz. Agora, os mais velhos, não – têm

alguns que são meio alterados, né, mas a maioria é bem tranquila. É a geração,

né, dos jovens, mais agitados, mais “eu sei”, “eu quero fazer assim, “é assim

que faz”. Essa é uma característica dessa geração (informação verbal)70.

Contudo, três entrevistados disseram existir certa resistência por parte dos mais velhos

em relação a eles, especialmente nos primeiros contatos. O entrevistado Z1, por exemplo, disse

que existem situações em que os demais colaboradores preferem lidar com sua líder, pois se

68 X3, Entrevistado . Entrevista III. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1

arquivo .mp3 (68 minutos e 38 segundos). 69 Y1, Entrevistado. Entrevista IV. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1

arquivo .mp3 (49 minutos e 34 segundos). 70 Z4, Entrevistado. Entrevista IX. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1

arquivo .mp3 (13 minutos e 22 segundos).

Page 74: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

73

trata de uma pessoa mais velha, ainda que o Z1 saiba como proceder. O Z2 e o Z3 também

afirmam a resistência, mais especificamente no começo da relação.

No que tange o acompanhamento das atividades, o cenário é bem difuso, fazendo-nos

pensar que depende da natureza da atividade exercida por cada um. Para os entrevistados da

Geração X, o que importa são os resultados finais e no prazo, sendo as atividades acompanhadas

de maneira mais distante, mas sempre se pondo à disposição do subordinado. Já para os

indivíduos da Geração Y, as atividades devem ser acompanhadas mais de perto – a palavra

“conferir” aparece com frequência na resposta da entrevistada Y2, mas a mesma justifica que

essa cobrança se deve ao fato de mexerem com documentos que vão, principalmente, para a

diretoria.

Dos sete jovens Z, apenas um se manifestou contrário ao acompanhamento mais

próximo, alegando preferir o formato mais distante pelo costume, visto que sua líder trabalha

em um setor distante e possui várias atividades. Os demais afirmam preferir um

acompanhamento próximo, de forma que possam tirar dúvidas e mostrar seus resultados. Nesse

ponto, as ideias se encontram com as da Geração X, que defende essa postura mais próxima.

Quando o assunto é reconhecimento, exceto por um entrevistado, todos os demais

afirmam que o elogio é a melhor forma de reconhecer um bom profissional. Retomando Hamel

(2009), confirmamos a característica 11, a qual versa que os jovens da Geração Z dão mais

valor para as recompensas intrínsecas – assim como os profissionais mais velhos. Os

entrevistados X1 e Z1 afirmam, respectivamente:

Eu acho que todos são importantes. No caso do menor, o financeiro a gente

acaba não podendo alterar o valor, porque é um valor fixo já determinado.

Mas eu acho que o elogio é um fator importante, porque incentiva, eles ficam

mais animados no trabalho, não só eles, pra todo mundo é importante

(informação verbal, grifo nosso)71.

Eu acho que é mais a pessoa te chamar e falar, te elogiar. Eu gosto de receber

elogio assim. Por isso que toda vez que alguém fala que eu tô fazendo um

trabalho bacana, eu fico bem feliz, porque eu vejo a minha evolução, de quem

não tinha nenhum conhecimento pra hoje, então eu acho que essa parte [de

reconhecimento], o reconhecimento do chefe, é bom, é muito bom

(informação verbal)72.

71 X1, Entrevistado. Entrevista I. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1 arquivo

.mp3 (27 minutos e 03 segundos). 72 Z1, Entrevistado. Entrevista VI. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1

arquivo .mp3 (20 minutos e 13 segundos).

Page 75: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

74

O entrevistado X3 defende que o elogio e o feedback são necessários e que uma

promoção de cargo ou salário, por si só, não incentiva tanto o colaborador. Novamente, as ideias

em relação a um tópico (reconhecimento) se encontram: todos se sentem motivados por um

elogio, independente da geração. Isso nos faz pensar que os valores financeiros não são

princípios dessas gerações entrevistadas, que ultrapassam classificações econômicas, visto que

os entrevistados possuem diferentes rendas familiares. Dois dos jovens citam, ainda, que através

do feedback eles conseguem monitorar seu crescimento profissional.

Em relação ao perfil de liderança, a quarta característica de Hamel (2009) foi

evidenciada, novamente, em todas as falas: os profissionais reconhecem no líder a orientação

como característica fundamental, ou seja, o indivíduo que se faz participativo nas atividades e

guia sua equipe. Um aspecto citado por eles é a necessidade de feedbacks, pois isto torna as

equipes mais coesas e aproxima o líder de seus subordinados.

Nas respostas dos sujeitos mais velhos, a frequência de significados voltados para a

orientação é maior, pois todos colocam em suas falas a importância do líder ter uma boa

comunicação e servir de orientador, principalmente:

Eu acho que de orientação, de estar observando se eles estão seguindo um bom

caminho, se estão fazendo corretamente as coisas, orientá-los de forma

correta, tanto no sentido negativo quanto no positivo, tá chamando, tá falando

o que eles estão fazendo de bom e o que não estão fazendo de bom, porque

isso traz o crescimento. Acho que é isso, a gente tem que buscar ensinar. Esse

é o principal papel (informação verbal, grifo nosso)73.

Nas falas dos jovens, essa característica também aparece com frequência, reafirmando

a teoria de Hamel (2009). As falas dos entrevistados Z3 e Z1 realçam a importância do líder ser

parte da equipe tanto quanto seu subordinado:

O líder tem a função que está ali, acima de todos da equipe, mas ele não deve,

tipo, levantar o nariz, como se fosse um ser superior no setor. Não. Eu acho

que quanto mais parte da equipe ele fizer, com todos ali que estão sob o seu

comando, melhor a equipe trabalha (informação verbal)74.

Eu acho que a questão de ele se impor e falar assim “não, eu tô aqui, você

pode contar comigo” [...] Então, assim, toda vez que ela diz “eu preciso disso”,

eu acho que isso é característica de líder, né. É dizer “eu preciso de você aqui,

eu preciso que você faça isso pra mim” [...] Eu acho que liderança é isso. As

73 X1, Entrevistado. Entrevista I. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1 arquivo

.mp3 (27 minutos e 03 segundos). 74 Z3, Entrevistado. Entrevista VIII. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1

arquivo .mp3 (15 minutos e 22 segundos).

Page 76: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

75

pessoas sempre dizem que tem diferença entre líder e chefe, porque o chefe

manda, o líder tá ali, mas ele fala “eu sou líder, mas eu vou te ajudar, você tá

com alguma dúvida? Eu te ajudo”. Acho que é isso (informação verbal)75.

Ao relacionarmos os significados apresentados pelos entrevistados neste assunto,

encontramos sinergia de ideias com as respostas do que eles mais valorizam como

reconhecimento. Em suma maioria, os indivíduos esperam essa comunicação (feedback) por

parte dos líderes e enxergam tal feito como a principal forma de reconhecer um bom

profissional. Para os que já são líderes de equipe, é o que eles afirmam fazer, e os jovens

confirmam a aplicação dessa ideia – de fato, há a rotina de feedbacks em todas as equipes

envolvidas neste estudo.

Sobre as redes sociais, as opiniões se divergem entre as gerações mais velhas e a

Geração Z. Para aquelas, não há problema ter colegas de trabalho em suas redes sociais, e todos

afirmaram tê-los. Notam-se significados de cautela em todas as falas, como ser mais

observador, ter limites e a rede social ser algo pessoal. O entrevistado X3, entretanto, afirmou

que seu superior já o questionou sobre uma publicação, e, desde então, passou a ser mais

expectador. Essa fala vai ao encontro de uma importante colocação do entrevistado Y1:

Nenhuma menor nunca me adicionou em nenhuma rede social. Eu acho assim,

que eles não se sentem tão à vontade. Porque eu acho que, hoje, as pessoas

pregam muito [...] que as redes sociais são vitrines, não vou dizer pra você que

eu não me preocupo, o diretor do hospital me tem nas redes sociais, mas eu

não me preocupo só por ele. Eu não sei quem mais está vendo, eu acho que a

gente tem que ter o mínimo de postura, bom senso [...]. E eu acho que os

menores não têm muito filtro, elas colocam o que elas quiserem. E eu acho

que como existe essa cobrança de postura em rede social, eu ainda acho que

eles têm essa coisa de “não posso adicionar minha chefe, minha chefe não

pode ver”. Eu acho que o menor ainda pensa que tem problema, mas eu acho

que é porque a gente cobra, coloca muito isso na cabeça deles e a gente tem

isso, têm alguns gestores que fazem isso (informação verbal)76.

Fato esse que se confirma na fala dos mais jovens. Dos sete, apenas um (o que possui

mais tempo de serviço no hospital) afirmou ter seu líder nas redes sociais. Todos os demais

afirmaram não ter seus líderes e outros colegas, pois acreditam que as redes fazem parte do seu

lado pessoal e que não há motivo para interação fora do local de trabalho. Uma das falas que

75 Z1, Entrevistado. Entrevista VI. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1

arquivo .mp3 (20 minutos e 13 segundos). 76 Y1, Entrevistado. Entrevista IV. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1

arquivo .mp3 (49 minutos e 34 segundos).

Page 77: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

76

nos chamaram a atenção foi do entrevistado Z6: “Eu acho que não dá muito certo, porque aí

acaba pegando muita intimidade, aí atrapalha, eu acho que atrapalha” (informação verbal)77.

Em alguns aspectos, as representações e significados se encontram, contudo, existem

motivos que levam essas gerações a entrarem em conflito dentro do ambiente de trabalho.

Todos os entrevistados relataram algum conflito, vivenciado por si ou por um colega, entre

jovens e mais velhos em relações profissionais.

Para a maior parte dos indivíduos das gerações mais velhas, os conflitos se dão pelo

descumprimento de normas por parte dos jovens. Há afirmações sobre a falta de

comprometimento deles, o que os leva a cometerem erros, contudo, um outro motivo apontado

foi a não receptividade com críticas e a recusa em ser cobrado.

É importante que observemos a divergência nas afirmações dos jovens e suas atitudes:

quando confrontados sobre a importância das hierarquias e normas, todos afirmaram serem

essencial para a ordem do ambiente de trabalho. Entretanto, os líderes em unanimidade

disseram que os jovens têm dificuldade de cumprir as normas, em sua maioria. Aqui se faz

necessária uma investigação mais a fundo, para compreender o que os jovens entendem por

ordem.

O entrevistado X2 relatou a resistência que os mais velhos têm com a inovação trazida

pelo jovem e que isso já foi motivo de conflito que aquele teve que mediar. Fato este que vai

ao encontro das falas dos jovens entrevistados. Em sua maioria, eles afirmaram que os conflitos

ocorrem pela divergência na forma de execução da tarefa, justamente pela conjuntura em que

o mais velho determina a forma de executar uma atividade e o jovem inova, seja para executar

de melhor maneira ou mais rapidamente, ainda que o resultado final se apresente o mesmo:

Tem uma recepcionista que tá aí já faz um tempão e eu acho que ela não vai

muito com a minha cara. Ela estava liberando visita e ela não sabia como que

ela achava o paciente, porque ela tinha que fazer uns negócios lá pra achar e

ela não estava conseguindo achar. Aí eu peguei e ensinei ela. Aí ela começou

a me tratar mal porque eu ensinei ela, ela ficou me tratando super mal a manhã

inteira. Aí muitas vezes eu sei fazer a coisa que a pessoa não sabe, mas eu fico

meio assim de ajudar, vai que a pessoa fica meio assim “ah, que que ela quer

me ensinar? Eu trabalho aqui há mais tempo”. Aí eu fico na minha. Os colegas

mais velhos ficam meio assim porque eu sou nova e eles trabalham ali há mais

tempo (informação verbal)78.

77 Z6, Entrevistado. Entrevista XI. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1

arquivo .mp3 (09 minutos e 46 segundos). 78 Z6, Entrevistado. Entrevista XI. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1

arquivo .mp3 (09 minutos e 46 segundos).

Page 78: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

77

As diferenças de conhecimento, dá muito choque. Porque eu sempre fiz assim,

por que ele vem fazer de outro jeito? Muita resistência. A pessoa mais velha,

imagina ela pedir pra um jovem ensina-la? Complicado, bem difícil. Aqui isso

se tornou bem comum, porque a área de T.I. aqui é só jovens e a gente depende

deles. Eu mesma não sei, sei o básico do computador (informação verbal)79.

Os motivos dos conflitos têm sua natureza no fluxo que Eisenstadt (1976) apresenta

como normal na transmissão da cultura: o mais velho ensina o mais novo. Contudo, com a

fluidez dos tempos e o massivo acesso às informações por parte dos jovens, além do domínio

técnico das tecnologias, o fluxo pode se inverter. O entrevistado X2 traz em diferentes respostas

a versatilidade do jovem e seu empenho em buscar informações, diferentemente dos mais

velhos que acabam por se acomodarem, já que realizam a mesma função há tempos e esta

sempre dá certo.

Além da inversão do fluxo natural da transmissão cultural (do mais velho para o mais

jovem), temos, ainda, a divergência de valores. Como já exposto, os adultos das gerações mais

velhas buscavam empregos sólidos, ou seja, visavam uma carreira longa na mesma empresa,

subindo hierarquicamente. Já os jovens trazem toda a liquidez do mundo pós-moderno para as

relações do universo profissional: o real comprometimento é consigo mesmo. O individualismo

da era pós-moderna se faz presente no perfil do jovem trabalhador.

Como Bauman e Giddens defendem, a pós-modernidade sucumbiu os valores antigos e

mesmo em aspectos cotidianos, como o caso do fluxo de transmissão de conhecimento, é

possível encontrar a inversão do trânsito de informações. O cenário moderno fomentou tal fato,

e a disposição das tecnologias permitiu que aqueles que detêm a facilidade de lidar com elas

possam instruir aqueles que não possuem domínio sobre o manuseio dos novos dispositivos

tecnológicos.

Com evidência, nem todas as características apresentadas por Hamel (2009) se aplicam

aos jovens da Geração Z que desenvolvem processos de trabalho em Cuiabá. Das 12,

encontramos concretamente nas respostas a evidência de metade e, portanto, não podemos

afirmar a validade das demais nesta amostra entrevistada.

As segunda e oitava características (de Hamel) aparecem em diferentes falas dos

sujeitos, inclusive de gerações distintas. Eles reconhecem a importância de dividir conteúdos e

conhecimentos, contudo há uma divergência: para uma parte, os mais velhos tendem a segurar

79 X2, Entrevistado. Entrevista II. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa. Cuiabá, 2018. 1

arquivo .mp3 (47 minutos e 33 segundos).

Page 79: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

78

para si o que sabem, mas o entrevistado Z4 afirma que os mais jovens são resistentes em

compartilhar conhecimento.

Neste capítulo, apresentamos os dados coletados na pesquisa de campo, com as

entrevistas realizadas com os profissionais do Hospital Santa Rosa que atendiam aos requisitos

esboçados no início deste capítulo. Portanto, foi possível compreender os motivos que levam

ao desencadear de conflitos entre a Geração Z e as demais gerações quando em processo de

trabalho, além de uma análise comparativa entre os valores de cada grupo geracional.

Realizamos as análises por meio de duas teorias, Mannheim (1952) e Hamel (2009), podendo

avaliar com olhares mais minuciosos as relações entre os objetos deste estudo.

Assim, a pesquisa apresentada trouxe respostas ao nosso problema. Embasados nas

teorias apresentadas ao longo desta dissertação, juntamente aos dados coletados, pudemos

construir o conhecimento acerca da amostra estudada, bem como atingir os objetivos geral e

específicos.

Page 80: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

79

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A nossa dissertação surgiu de motivações advindas do meu processo de trabalho e das

relações que intermediava, assim como os conflitos que eu gerenciava. Pautados nessas

experiências e nas leituras de matérias, trabalhos acadêmicos e livros, percebemos a

importância que as Ciências Humanas e Sociais têm para a Administração, em especial para a

Gestão de Recursos Humanos.

Nos centramos em responder o nosso problema de pesquisa: se no Hospital Santa Rosa

ocorrem conflitos entre as gerações e os motivos pelos quais se dão. Para viabilizar tal processo,

optamos pela metodologia qualitativa, por meio de entrevistas semiestruturadas com dois

grupos de indivíduos – a Geração Z e as demais gerações. Assim, dois questionários com as

mesmas indagações foram elaborados, mas com linguagens adequadas para cada grupo.

O nosso objetivo geral, analisar os motivos que levam ao desencadear de conflitos,

demandou quatro objetivos específicos para que fosse possível tal análise, sendo eles: a)

identificar os principais pontos de convergências e divergências, no ambiente de trabalho, entre

a Geração Z e as demais gerações; b) analisar como os valores comportamentais da Geração Z

implicam as relações sociais no trabalho, c) trabalhar as características das relações sociais entre

as gerações neste locus e d) discutir a trajetória de formação pessoal e profissional das demais

gerações que trabalham diretamente com a Geração Z e se isso tem relação com a aceitação ou

não de indivíduos que fazem parte dessa Geração.

Visto que todo profissional é um Ser cuja formação da identidade vem de um processo

de construção histórica, influenciado pelos demais seres com os quais socializa e dos quais

recebe valores, conhecer essa trajetória é fundamental para a compreensão dele enquanto

profissional. Sendo um ambiente de trabalho composto por diferentes Seres, advindos de

diferentes origens, situações socioeconômicas e estrutura familiar, é preciso que os líderes,

especialmente os envolvidos na gestão direta dos Recursos Humanos, se disponham a olhar

para este profissional enquanto indivíduo social.

Portanto, a leitura histórica das gerações é um processo necessário para a compreensão

das características e significados que cada uma carrega. Como defendido por Mannheim (1952),

uma divisão puramente cronológica ignora os fatores que, de fato, influenciam na formação do

inconsciente do indivíduo e, consequentemente, sua personalidade. Ao pensarmos em geração

enquanto grupo social, distanciar-nos da divisão por idade nos permite avaliar o contexto

histórico no qual aquele grupo se formou.

Page 81: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

80

Ao retomarmos os conceitos do primeiro capítulo, é observável a ênfase que os

acontecimentos históricos recebem dos autores Mannheim (1952), Foracchi (1972, 1982) e

Eisenstadt (1976). Hall (1997, 2003, 2014) e Woodward (2014) também se atêm a eles, quando

nos mostram que a identidade do sujeito se dá pela diferença e, logo, aquela se pauta nas

características do outro formadas a partir da internalização que os indivíduos fazem dos fatos

que vivenciou.

Em todas as categorias referentes à problemática das gerações, Mannheim (1952)

imputa a elas os acontecimentos históricos, somados a outros fatores, como a situação

econômica, por exemplo. Portanto, para uma compreensão mais próxima da realidade, olhar

para o passado é necessário para compreender o presente. Hall (2003) e Woodward (2014)

esboçam essa perspectiva quando nos falam sobre a posição histórica do sujeito e defendem

que uma das maneiras de se pensar em identidade cultural é a partir da busca de um grupo pelo

seu passado único e partilhado.

Adotando a historicidade como percurso fundamental para a compreensão dos novos

indivíduos (os jovens da Geração Z), olhar para as gerações passadas (Belle Époque, Baby

Boomers, X e Y) foi o trajeto que percorremos no subitem 1.3. Após caminharmos pelos

acontecimentos vivenciados pelos mais velhos, seja em nível mundial ou nacional,

identificamos pontos que os fizeram pensar e agir.

Ao entendermos os fatos que levaram os pais dos jovens da Geração Z a cristalizarem

determinados habitus, pudemos, então, analisar como estes atuaram na transmissão cultural

para os mais novos. Contudo, fez-se necessário olhar, ainda, para o cenário atual. Além das

atitudes intrínsecas dos pais, foi preciso compreender o ambiente pós-moderno, que demanda,

frequente e rapidamente, mudanças nos comportamentos dos indivíduos.

Mais do que nunca, no ambiente de trabalho, as tecnologias da informação se fazem

presente de forma recorrente e em grande parte das atividades. As documentações, antes feitas

via papel, hoje passam por sistemas e e-mails, possibilitando que vários profissionais tenham

acesso ao mesmo documento simultaneamente. Isso modificou a forma de trabalhar e, assim

como no universo pessoal, modificou as relações.

Sendo os indivíduos das gerações mais antigas influenciados pelo Regime Militar,

enfatizando que os pais dos jovens da Geração Z formaram suas personalidades nesse período,

é possível compreender porque “ordem” e “disciplina” aparecem em seus discursos. Contudo,

a liberdade advinda da era pós-moderna, fomentada pelas tecnologias, exige flexibilidade dos

sujeitos e, portanto, aquelas categorias passam por dificuldade de se instalarem enquanto valor

para os jovens contemporâneos.

Page 82: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

81

Ao definir o mundo como “líquido”, Bauman (2001) nos demonstra que a ruptura com

os valores e tradições antigas trouxe a flexibilidade como principal valor na modernidade.

Entretanto, as mudanças tecnológicas e o advento da internet acarretaram em uma excessiva

demanda de mudanças e adaptações por parte dos indivíduos. Em meio a esse “caos”, como

define Harvey (2008), a pós-modernidade e as facilidades de todas as revoluções supracitadas

introjetaram o individualismo como principal valor nessa era.

Somado aos pais que buscam compensar suas ausências dentro de casa através de

presentes materiais – estimulando o consumismo, como nos diz Cortella (2016), temos o fato

de que aqueles procuram, ainda, proporcionar a seus filhos tudo aquilo que não tiveram em suas

juventudes. Nesse sentido, Oliveira (2016) enxerga um cenário inóspito para o amadurecimento

dos jovens da Geração Z, pois seus pais promovem um ambiente favorável à postergação da

fase das consequências.

Em um contexto tão propício ao consumismo e individualismo, as responsabilidades

necessárias nas interações sociais são deixadas de lado. Eximindo-se dessa função de

transmissores da cultura, os pais repassam essa função para a escola, que, por sua vez, acaba

deixando para o ambiente de trabalho.

Assim como defendem Marx (s/d) e Durkheim (1999), o trabalho tem uma função

social. Portanto, o que os indivíduos da Geração Z absorveram enquanto valores nas primeiras

interações sociais, é carregado para dentro do ambiente profissional. Dessa forma, os traços de

individualismo e, por vezes, egoísmo aparecem no desempenhar de suas funções.

Além das afirmações dos autores que estudam gerações e pós-modernidade,

encontramos essas características nas entrevistas realizadas. Os conflitos existentes entre os

jovens da Geração Z e das demais ocorrem no Hospital Santa Rosa devido à falta de

compromisso, em termos amplos. A dificuldade desses jovens em aceitar as regras e cumprir

os horários faz com que seus líderes, pertencentes às gerações mais velhas, os percebam como

egoístas em relação ao trabalho – realizam suas atividades a seu próprio tempo.

Entretanto, vale salientar, que outro motivo de conflito entre os grupos é a dificuldade

que os indivíduos mais velhos têm em receber orientações e ajudas dos mais novos. Retomando

Eisenstadt (1976), sendo o processo natural de transmissão aquele que parte do adulto, uma

alteração no fluxo gera incômodo – conforme os exemplos relatados pelos entrevistados – por

parte do adulto.

Portanto, podemos afirmar que os motivos dos conflitos entre as gerações mais velhas

(X e Y) e a geração mais nova (Z) têm origem em dois fatores: [1] a inversão do processo de

transmissão cultural, pois hoje os jovens também transmitem informações aos mais velhos e [2]

Page 83: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

82

o choque de valores entre essas gerações. Isso porque o adulto profissional tenta transmitir ao

jovem valores como comprometimento com normas, por exemplo, e o jovem refuta tal valor.

Retomando a categoria “contato original”, podemos afirmar que ao realizar esse contato

com alguns valores do mundo profissional, os jovens os questionam, ainda que não seja de

forma verbal. Como Mannheim (1952) defendeu, é nesse contato que tradições antigas e

comportamentos são questionados e modificados, como os profissionais mais novos têm feito.

As revoluções tecnológicas trouxeram grandes mudanças para as sociedades pós-

modernas e as facilidades do mundo virtual volatilizaram as relações sociais. Posto que as

gerações são grupos que, ao mesmo passo do ritmo biológico, também vivenciam os mesmos

processos histórico-sociais, essas mudanças na forma de se relacionar afetaram diretamente a

formação social dos jovens da Geração Z.

Visto que o trabalho possui sua função social e, logo, demanda que relações ocorram

dentro deste ambiente, as mudanças incorporadas pelos novos atores sociais são

experimentadas pelos indivíduos mais velhos dentro do ambiente profissional também.

Portanto, conflitos que, no passado, eram vivenciados dentro de casa apenas, ganharam espaço

no mundo do trabalho.

Em relação às características abordadas por Hamel (2009), é preciso que o estudioso das

gerações não assuma essas características como verdade ao estudar um grupo de jovens da

Geração Z. Isso porque este estudo mostrou que algumas das características podem não ser

presentes em determinado grupo, como é o caso da amostra estudada.

Podemos sugerir que isso se dá pelo fato de Hamel (2009) ter aplicado sua pesquisa a

jovens americanos, expostos a fatores socioeconômicos diferentes dos estudados nesta

dissertação. Como já abordado, com base nas categorias de Mannheim (1952), nem todo

indivíduo que pertence a uma geração específica partilhará das mesmas características

necessárias para serem da mesma unidade de geração.

Após as entrevistas e a análise das categorias, podemos afirmar que os conflitos

existentes merecem a atenção da academia, pois envolvem inversão no fluxo de processos

sociais (transmissão cultural) e questionamento dos valores no processo de contato original.

Ainda se faz necessário investigar a representação para esses jovens de algumas categorias,

como “ordem” e “hierarquia”, conforme apresentamos no capítulo três.

A fim de tornar este conhecimento acessível para todos os envolvidos, nos preocupamos

em usar uma linguagem de fácil compreensão, além de explicar conceitos da forma mais clara

possível. Assim, buscamos torná-la acessível, principalmente, ao nosso objeto de estudo: os

jovens da Geração Z.

Page 84: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

83

Esperamos que nossa pesquisa contribua com a academia, de forma a fomentar outras

pesquisas, e enriqueça o currículo das Ciências Humanas e Sociais, bem como da

Administração. Também esperamos que ela se faça um instrumento para a Gestão de Recursos

Humanos, abrindo os horizontes para a gestão dos conflitos geracionais. Por fim, ansiamos que

esta dissertação inspire jovens e adultos, de diferentes gerações, a se auto conhecerem e a

conhecerem seus pares, aprimorando a convivência em diversas esferas da vida humana.

Page 85: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

84

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econômico brasileiro (1968-1973): uma análise empírica. In: Revista Brasileira de Economia.

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<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71402008000200006>.

X1, Entrevistado. Entrevista I. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa.

Cuiabá, 2018. 1 arquivo .mp3 (27 minutos e 03 segundos).

X2, Entrevistado. Entrevista II. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa.

Cuiabá, 2018. 1 arquivo .mp3 (47 minutos e 33 segundos).

X3, Entrevistado. Entrevista III. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa.

Cuiabá, 2018. 1 arquivo .mp3 (68 minutos e 38 segundos).

Y1, Entrevistado. Entrevista IV. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa.

Cuiabá, 2018. 1 arquivo .mp3 (49 minutos e 34 segundos).

Y2, Entrevistado. Entrevista V. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa.

Cuiabá, 2018. 1 arquivo .mp3 (26 minutos e 43 segundos).

Z1, Entrevistado. Entrevista VI. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa.

Cuiabá, 2018. 1 arquivo .mp3 (20 minutos e 13 segundos).

Z2, Entrevistado. Entrevista VII. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa.

Cuiabá, 2018. 1 arquivo .mp3 (21 minutos e 39 segundos).

Page 90: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

89

Z3, Entrevistado. Entrevista VIII. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa.

Cuiabá, 2018. 1 arquivo .mp3 (15 minutos e 22 segundos).

Z4, Entrevistado. Entrevista IX. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa.

Cuiabá, 2018. 1 arquivo .mp3 (13 minutos e 22 segundos).

Z5, Entrevistado. Entrevista X. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa.

Cuiabá, 2018. 1 arquivo .mp3 (13 minutos e 54 segundos).

Z6, Entrevistado. Entrevista XI. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa.

Cuiabá, 2018. 1 arquivo .mp3 (09 minutos e 46 segundos).

Z7, Entrevistado. Entrevista XII. [set. 2018]. Entrevistadora: Pâmela Ingrid Simioni Costa.

Cuiabá, 2018. 1 arquivo .mp3 (13 minutos e 20 segundos).

Page 91: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

90

ANEXOS

ANEXO A

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA

MESTRADO EM SOCIOLOGIA

TERMO DE ASSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Convidamos você para participar da pesquisa RELAÇÕES DE TRABALHO ENTRE

GERAÇÕES EM AMBIENTE HOSPITALAR: GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES,

sob a responsabilidade da pesquisadora Pâmela Ingrid Simioni Costa, e orientação do prof.

Dr. Hidelberto de Sousa Ribeiro.

O objetivo principal da pesquisa é analisar os motivos que levam ao desencadear de

conflitos entre a geração z (jovens nascidos a partir do ano de 1997) e as demais quando em

processo de trabalho nos hospitais particulares da capital cuiabana. Junto a este objetivo,

pretende-se identificar os principais pontos de igualdade e diferença entre as gerações mais

antigas e a geração z, compreender os valores da geração z implicados nas relações de trabalho

e entender a trajetória de formação pessoal e profissional das gerações que convivem com a

geração z no ambiente de trabalho.

A pesquisa tem como justificativa as experiências em gestão de conflitos da

pesquisadora e os fundamentos teóricos da sociologia, somados a importância de se

compreender as gerações e suas relações e conflitos para fins acadêmicos e empresariais.

A sua participação não é obrigatória sendo que, a qualquer momento da pesquisa, você

poderá desistir e retirar seu assentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo para sua relação

com a pesquisadora, com a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) ou com a instituição

privada com a qual você trabalha.

Primeiro você responderá a algumas perguntas sobre idade, gênero, renda familiar e

escolaridade. Essas informações são importantes para o questionário de perfil da população,

nada que identifique você será realmente usado nessa pesquisa.

Enquanto você responde, gravaremos o áudio de toda a entrevista, mas não se preocupe,

esses áudios serão usados apenas para a transcrição da pesquisa, exclusivamente. Após a

Page 92: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

91

transcrição, todos os áudios serão deletados. A pesquisadora aplicará o questionário na sala de

reuniões do Hospital Santa Rosa e, portanto, acompanhará todo o processo.

Sua participação é voluntária e se dará por meio de responder um questionário de

opinião. Haverá 10 (dez) questões abertas e você deverá dizer o que pensa sobre cada assunto

e responder conforme opinião própria. As suas respostas serão de uso exclusivo dessa pesquisa

e serão vistas somente pela pesquisadora e pelo prof. Dr. Hidelberto, orientador da pesquisa. O

tempo máximo de duração de cada entrevista é de 30 (trinta) minutos.

Os riscos decorrentes da sua participação na pesquisa são mínimos e se restringem a

responder à algumas perguntas, mas caso você não se sinta à vontade, poderá se negar a

responder a qualquer momento e a qualquer pergunta. Em contrapartida, o benefício indireto

para você será a sua colaboração para uma melhor compreensão das relações de trabalho entre

diferentes gerações, ampliando a produção de conhecimento sobre o assunto para a academia.

Além disso, diretamente, você se beneficiará também de uma melhor compreensão dos colegas

com quem trabalha, possibilitando evitar conflitos e desenvolver melhor suas relações, pois

você terá acesso aos resultados da pesquisa, quando concluída.

Se depois de assentir em sua participação, você desistir de continuar participando, você

tem o direito e a liberdade de retirar seu assentimento em qualquer fase da pesquisa, seja antes

ou depois da coleta dos dados, independente do motivo e sem nenhum prejuízo à sua pessoa.

Você não terá nenhuma despesa e também nenhuma remuneração. Os resultados da pesquisa

serão analisados e publicados, mas sua identidade não será divulgada, sendo guardada em sigilo.

Para qualquer outra informação, você poderá entrar em contato com o pesquisador no

endereço Rua das Imbuias, nº 80 – Condomínio Alphaville I, pelo telefone (65) 99984-8762 ou

ainda pelo e-mail [email protected] ou com o orientador prof. Dr. Hidelberto de

Sousa Ribeiro no endereço Avenida Valdon varjão, nº 6.390 – Barra do Garças, pelo telefone

(66) 99988-1492 ou pelo e-mail [email protected].

A pesquisa só será iniciada após a aprovação da mesma pelo Comitê de Ética em

Pesquisa.

O Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Área das Ciências Humanas e

Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso (CEP Humanidades) é um colegiado

interdisciplinar e independente que visa garantir a ética nas pesquisas acadêmicas através do

cumprimento das resoluções estabelecidas por lei. O CEP Humanidades é coordenado pela

profa. Dra. Rosangela Kátia Sanches Mazzorana Ribeiro e encontra-se no Instituto de Educação

da UFMT-Cuiabá, 1º andar, sala 31, no telefone (65) 3615-8935 e no e-mail

[email protected].

Page 93: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

92

Assentimento pós–informação

Eu, ________________________________________________________________, fui

informado (a) sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboração, e

entendi a explicação. Por isso, eu concordo em participar do projeto, sabendo que não vou

ganhar nada e que posso sair quando quiser. Este documento é emitido em duas vias que serão

ambas assinadas e terão todas as páginas rubricadas por mim e pelo pesquisador, ficando uma

via com cada um de nós. A pesquisadora garante que a qualquer momento posso solicitar e terei

acesso a este termo.

_______________________________ ________________________________

Assinatura do participante Assinatura do pesquisador

responsável

Data: ____/ _____/ ______

Page 94: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

93

ANEXO B

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA

MESTRADO EM SOCIOLOGIA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Convidamos o (a) seu (sua) filho (a) para participar da pesquisa RELAÇÕES DE

TRABALHO ENTRE GERAÇÕES EM AMBIENTE HOSPITALAR: Geração Z e

demais gerações, sob a responsabilidade da pesquisadora Pâmela Ingrid Simioni Costa, e

orientação da Prof. Dr. Hidelberto de Sousa Ribeiro.

O objetivo principal da pesquisa é analisar os motivos que levam ao desencadear de

conflitos entre a geração z (jovens nascidos a partir do ano de 1997) e as demais quando em

processo de trabalho nos hospitais particulares da capital cuiabana. Junto a este objetivo,

pretende-se identificar os principais pontos de igualdade e diferença entre as gerações mais

antigas e a geração z, compreender os valores da geração z implicados nas relações de trabalho

e entender a trajetória de formação pessoal e profissional das gerações que convivem com a

geração z no ambiente de trabalho.

A pesquisa tem como justificativa as experiências em gestão de conflitos da

pesquisadora e os fundamentos teóricos da sociologia, somados a importância de se

compreender as gerações e suas relações e conflitos para fins acadêmicos e empresariais.

A participação do (a) seu (sua) filho (a) é voluntária e precisa da sua permissão para que

ele (a), colaborador do Hospital Santa Rosa, seja entrevistado (a) e responda às perguntas do

questionário conforme opinião própria. A participação dele (a) não é obrigatória sendo que, a

qualquer momento da pesquisa, o (a) senhor (a) ou seu (sua) filho (a) poderá desistir e o (a)

senhor (a) retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo para sua relação ou

do (a) seu (sua) filho (a) com a pesquisadora, com a Universidade Federal de Mato Grosso

(UFMT) ou com a instituição privada com a qual ele (a) trabalha.

Primeiro ele (a) responderá algumas perguntas sobre idade, gênero, renda familiar e

escolaridade. Essas informações são importantes para o questionário de perfil da população,

nada que identifique seu (sua) filho (a) será realmente usado nessa pesquisa.

Enquanto você responde, gravaremos o áudio de toda a entrevista, mas não se preocupe,

esses áudios serão usados apenas para a transcrição da pesquisa, exclusivamente. Após a

Page 95: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

94

transcrição, todos os áudios serão deletados. A pesquisadora aplicará o questionário na sala de

reuniões do Hospital Santa Rosa e, portanto, acompanhará todo o processo.

A participação dele (a) é voluntária e se dará por meio de responder um questionário de

opinião. Haverá 10 (dez) questões abertas e ela (a) deverá dizer o que pensa sobre cada assunto

e responder conforme opinião própria. As respostas dele (a) serão de uso exclusivo dessa

pesquisa e serão vistas somente pela pesquisadora e pelo prof. Dr. Hidelberto, orientador da

pesquisa. O tempo máximo de duração de cada entrevista é de 30 (trinta) minutos.

Os riscos decorrentes da participação do (a) seu (sua) filho (a) na pesquisa são mínimos

e se restringem a responder à algumas perguntas, mas caso ele (a) não se sinta à vontade, ele

(a) poderá se negar a responder a qualquer momento e a qualquer pergunta. Em contrapartida,

o benefício indireto para ele (a) será a sua colaboração para uma melhor compreensão das

relações de trabalho entre diferentes gerações, ampliando a produção de conhecimento sobre o

assunto para a academia. Além disso, diretamente, ele (a) se beneficiará também de uma melhor

compreensão dos colegas com quem trabalha, possibilitando evitar conflitos e desenvolver

melhor suas relações, pois ele (a) terá acesso aos resultados da pesquisa, quando concluída.

Se depois de consentir em sua participação, o senhor (a) e seu (sua) filho (a) desistirem

de consentir, têm o direito e a liberdade de retirarem seus consentimentos em qualquer fase da

pesquisa, seja antes ou depois da coleta dos dados, independente do motivo e sem nenhum

prejuízo às suas pessoas. O (a) senhor (a) e seu (sua) filho (a) não terão nenhuma despesa e

também não receberão nenhuma remuneração. Os resultados da pesquisa serão analisados e

publicados, mas A identidade dele (a) não será divulgadas, sendo guardada em sigilo.

Para qualquer outra informação, o (a) senhor (a) e seu (sua) filho (a) poderão entrar em

contato com a pesquisadora no endereço Rua das Imbuias, nº 80 – Condomínio Alphaville I,

pelo telefone (65) 99984-8762 ou ainda pelo e-mail [email protected] ou com o

orientador prof. Dr. Hidelberto De Sousa Ribeiro no endereço Avenida Valdon Varjão, nº 6.390

– Barra do Garças, pelo telefone (66) 99988-1492 ou pelo e-mail [email protected].

A pesquisa só será iniciada após a aprovação da mesma pelo comitê de ética em

pesquisa.

O Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Área das Ciências Humanas e

Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso (CEP Humanidades) é um colegiado

interdisciplinar e independente que visa garantir a ética nas pesquisas acadêmicas através do

cumprimento das resoluções estabelecidas por lei. O CEP Humanidades é coordenado pela

profa. Dra. Rosangela Kátia Sanches Mazzorana Ribeiro e encontra-se no Instituto de Educação

Page 96: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

95

da UFMT-Cuiabá, 1º andar, sala 31, no telefone (65) 3615-8935 e no e-mail

[email protected].

Consentimento Pós–Informação

Eu, ___________________________________________________________, fui informado

(a) sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da colaboração do (a) meu (minha)

filho (a), e entendi a explicação. Por isso, eu concordo em permitir que meu (minha) filho (a)

_______________________________________ participe, sabendo que ele (a) não vai ganhar

nada e que pode sair e retirar seu consentimento quando quiser. Este documento é emitido em

duas vias que serão ambas assinadas e terão todas as páginas rubricadas por mim e pelo

pesquisador, ficando uma via com cada um de nós. A pesquisadora garante que a qualquer

momento posso solicitar e terei acesso a este termo.

__________________________________ ________________________________

Assinatura do Responsável Legal Assinatura do Pesquisador Responsável

Data: ____/ _____/ ______

Page 97: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

96

ANEXO C

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA

MESTRADO EM SOCIOLOGIA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Convidamos o (a) senhor (a) para participar da pesquisa RELAÇÕES DE

TRABALHO ENTRE GERAÇÕES EM AMBIENTE HOSPITALAR: Geração Z e

demais gerações, sob a responsabilidade da pesquisadora Pamela Ingrid Simioni Costa, e

orientação da Prof. Dr. Hidelberto de Sousa Ribeiro.

O objetivo principal da pesquisa é analisar os motivos que levam ao desencadear de

conflitos entre a geração z (jovens nascidos a partir do ano de 1997) e as demais quando em

processo de trabalho nos hospitais particulares da capital cuiabana. Junto a este objetivo,

pretende-se identificar os principais pontos de igualdade e diferença entre as gerações mais

antigas e a geração z, compreender os valores da geração z implicados nas relações de trabalho

e entender a trajetória de formação pessoal e profissional das gerações que convivem com a

geração z no ambiente de trabalho.

A pesquisa tem como justificativa as experiências em gestão de conflitos da

pesquisadora e os fundamentos teóricos da sociologia, somados a importância de se

compreender as gerações e suas relações e conflitos para fins acadêmicos e empresariais.

A sua participação não é obrigatória sendo que, a qualquer momento da pesquisa, você

poderá desistir e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo para sua

relação com a pesquisadora, com a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) ou com

instituição privada com a qual o senhor (a) trabalha.

Primeiro o (a) senhor (a) responderá a algumas perguntas sobre idade, gênero, renda

familiar e escolaridade. Essas informações são importantes para o questionário de perfil da

população, nada que identifique o (a) senhor (a) será realmente usado nessa pesquisa.

Enquanto você responde, gravaremos o áudio de toda a entrevista, mas não se preocupe,

esses áudios serão usados apenas para a transcrição da pesquisa, exclusivamente. Após a

transcrição, todos os áudios serão deletados. A pesquisadora aplicará o questionário na sala de

reuniões do Hospital Santa Rosa e, portanto, acompanhará todo o processo.

Page 98: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

97

Sua participação é voluntária e se dará por meio de responder um questionário de

opinião. Haverá 11 (onze) questões abertas e você deverá dizer o que pensa sobre cada assunto

e responder conforme opinião própria. As suas respostas serão de uso exclusivo dessa pesquisa

e serão vistas somente pela pesquisadora e pelo prof. Dr. Hidelberto, orientador da pesquisa. O

tempo máximo de duração de cada entrevista é de 30 (trinta) minutos.

Os riscos decorrentes da sua participação na pesquisa são mínimos e se restringem a

responder à algumas perguntas, mas caso o (a) senhor (a) não se sinta à vontade, poderá se

negar a responder a qualquer momento e qualquer pergunta. Em contrapartida, o benefício

indireto para o (a) senhor (a) será sua colaboração para uma melhor compreensão das relações

de trabalho entre diferentes gerações, ampliando a produção de conhecimento sobre o assunto

para a academia. Além disso, diretamente, o (a) senhor (a) se beneficiará de uma melhor

compreensão dos colegas com quem trabalha, possibilitando evitar conflitos e desenvolver

melhor suas relações, pois o (a) senhor (a) terá acesso aos resultados da pesquisa, quando

concluída.

Se depois de consentir em sua participação o senhor (a) desistir de continuar

participando, tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em qualquer fase da

pesquisa, seja antes ou depois da coleta dos dados, independente do motivo e sem nenhum

prejuízo à sua pessoa. O (a) senhor (a) não terá nenhuma despesa e também nenhuma

remuneração. Os resultados da pesquisa serão analisados e publicados, mas sua identidade não

será divulgada, sendo guardada em sigilo.

Para qualquer outra informação, o (a) senhor (a) poderá entrar em contato com o

pesquisador no endereço Rua das Imbuias, nº 80 – Condomínio Alphaville I, pelo telefone (65)

99984-8762 ou ainda pelo e-mail [email protected] ou com o orientador prof. Dr.

Hidelberto de Sousa Ribeiro no endereço Avenida Valdon Varjão, nº 6.390 – Barra do Garças,

pelo telefone (66) 99988-1492 ou pelo e-mail [email protected].

A pesquisa só será iniciada após a aprovação da mesma pelo Comitê de Ética em

Pesquisa.

O Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Área das Ciências Humanas e

Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso (CEP Humanidades) é um colegiado

interdisciplinar e independente que visa garantir a ética nas pesquisas acadêmicas através do

cumprimento das resoluções estabelecidas por lei. O CEP Humanidades é coordenado pela

profa. Dra. Rosangela Kátia Sanches Mazzorana Ribeiro e encontra-se no instituto de educação

da UFMT-Cuiabá, 1º andar, sala 31, no telefone (65) 3615-8935 e no e-mail

[email protected].

Page 99: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

98

Consentimento Pós–Informação

Eu, ________________________________________________________________, fui

Informado (a) sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboração, e

entendi a explicação. Por isso, eu concordo em participar do projeto, sabendo que não vou

ganhar nada e que posso sair quando quiser. Este documento é emitido em duas vias que serão

ambas assinadas e terão todas as páginas rubricadas por mim e pelo pesquisador, ficando uma

via com cada um de nós. A pesquisadora garante que a qualquer momento posso solicitar e terei

acesso a este termo.

_______________________________ ________________________________

Assinatura do participante Assinatura do Pesquisador Responsável

Data: ____/ _____/ ______

Page 100: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

99

ANEXO D

I- DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

1.Instituição de trabalho:

2. Nome (opcional):

II- DADOS PESSOAIS – PERFIL SÓCIO ECONOMICO

3. Sexo: Masculino ( ) Feminino ( ) Outros ( )

4. Idade:______anos

5. Estado Civil: Solteiro (a) ( ) Casado(a) ( ) Separado(a) ( ) Divorciado(a) ( )

Viúvo(a) ( ) Vivo com companheira ( ) Vivo com companheiro ( )

6. Estado de origem: _____ e Município de origem:__________________________________

7. Em seu município de origem você morava na região: Urbana ( ) Rural ( )

8. Em que localidade da cidade você mora?

Bairro na periferia da cidade ( ) Bairro na região central da cidade ( ) Condomínio

residencial fechado ( ) Conjunto habitacional (CDHU, COHAB, Cingapura, BNH, etc.) ( )

Favela / Cortiço ( ) Região rural (chácara, sítio, fazenda, aldeia, etc.) ( ) Outro(

) Onde: ____________________________

9. Com quem você mora? (Múltipla escolha) Pais ( ) Cônjuge( ) Companheiro

(a) ( )

Filhos ( ) Sogros ( ) Parentes ( ) Amigos ( ) Empregados domésticos ( )

Outros ( ) _________________________________________

10. Qual o seu grau máximo de escolaridade? Ensino fundamental completo ( ) Ensino

médio completo ( ) Ensino superior completo ( ) Especialização ( )

Outro ( ) _______________________

11. Cargo: Menor aprendiz ( ) Estagiário ( ) Contrato temporário ( ) Efetivo ( )

12.Há quanto tempo trabalha? ________________ 13. Qual setor?______________________

14.Qual é a sua renda familiar mensal?

De 01 a 03 salários mínimo ( ) De 3 a 6 salários mínimos ( )

De 6 a 9 salários mínimos ( ) Mais de 10 salários mínimos ( )

15.Grau máximo de escolaridade da mãe?

Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino fundamental completo ( )

Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo ( )

Ensino superior incompleto ( ) Ensino superior completo ( )

Especialização ( ) Mestrado ( )

Doutorado ( ) Pós-Doutorado ( ) Desconheço ( )

16. Grau máximo de escolaridade do pai?

Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino fundamental completo ( )

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Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo ( )

Ensino superior incompleto ( ) Ensino superior completo ( )

Especialização ( ) Mestrado ( )

Doutorado ( ) Pós-Doutorado ( ) Desconheço ( )

ROTEIRO PARA ENTREVISTA – GERAÇÃO Z

1) O que você acha de hierarquia e normas no trabalho? Você acha necessário ou acha

que daria certo se não tivesse?

2) Como é a sua relação com os seus colegas de trabalho mais velhos/mais novos?

3) E a sua relação com o seu chefe, como é?

4) Você se sente à vontade para tirar dúvidas ou fazer sugestões para seu chefe?

5) Quais as características você reconhece em um líder?

6) Você prefere que seu chefe acompanhe suas atividades de maneira mais próxima?

7) Você já entrou em conflito com o seu chefe ou com algum colega de trabalho mais

velho/novo? Se sim, como você reagiu? Se não, por que não?

8) Na sua opinião, qual a melhor forma de reconhecer um bom profissional?

Financeiro, benefícios, elogios, destaque, promoção de cargo?

9) Você se relaciona com seus colegas de trabalho e seu chefe nas suas redes sociais

ou prefere separar o pessoal do profissional?

10) Na sua concepção quais são as principais causas ou motivos de conflitos entre

jovens e mais velhos no local de trabalho?

ROTEIRO PARA ENTREVISTA – DEMAIS GERAÇÕES

1) O que você acha de hierarquia e normas no trabalho? Você acha necessário ou acha

que daria certo se não tivesse?

2) Como é a sua relação com os seus colegas mais novos?

3) E a sua relação com seu subordinado, como é? (somente para o chefe)

4) Você acha que seu colega/subordinado se sente à vontade para tirar dúvidas com

você ou fazer sugestões?

5) Quais as características você reconhece em um líder? E quais características você

reconhece em um bom profissional?

6) Você acha que seu subordinado/colega tem essas características?

7) Você prefere acompanhar as atividades do seu subordinado de maneira mais

próxima? (somente para o chefe)

Page 102: RELAÇÕES ENTRE A GERAÇÃO Z E DEMAIS GERAÇÕES NO …

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8) Você já entrou em conflito com o seu subordinado ou com algum colega de trabalho

mais novo? Se sim, como você reagiu? Se não, por que não?

9) Na sua opinião, qual a melhor forma de reconhecer um bom profissional?

Financeiro, benefícios, elogios, destaque, promoção de cargo?

10) Você se relaciona com seus colegas de trabalho nas suas redes sociais ou prefere

separar o pessoal do profissional?

11) Na sua concepção quais são as principais causas ou motivos de conflitos entre

jovens e mais velhos no local de trabalho?